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Marcelo A. Tomim
Sumário
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Lista de Figuras
Segurança em sistemas elétricos de potência (SEPs) refere-se ao grau de risco associado à habilidade
de um sistema de suportar distúrbios, também chamados de contingências, sem que o suprimento de
energia seja interrompido [1]. Relacionados à segurança dos sistemas estão os termos confiabilidade
e estabilidade. Um sistema é dito confiável quando a sua operação ocorre de forma segura durante a
maior parte do tempo. Logo, a principal distinção entre segurança e confiabilidade está na duração
do período de observação. Embora estabilidade seja pré-requisito tanto para a segurança como para
a confiabilidade, um sistema pode ser estável após uma contingência, só que inseguro do ponto de
vista dos limites operativos físicos dos equipamentos. Além disto, deve-se considerar que situações
de perigo para a sociedade podem ser ocasionadas por condições pós-contingência inaceitáveis.
Desta forma, torna-se imprescindível, durante a avaliação da segurança de sistema, analisar,
primeiramente, se o sistema atingirá uma nova condição operativa após um distúrbio, independente-
mente do seu grau de severidade. Caso isto ocorra, o sistema é dito estável. Subsequentemente, a
condição pós-contingência deve ser avaliada do ponto de vista da segurança para equipamentos e
sociedade como um todo. Se um sistema se mostra estável e seguro durante um longo período de
operação, este é também considerado confiável.
Nas seções seguintes, serão discutidos, mais aprofundadamente, alguns aspectos relacionados à
estabilidade dos sistemas elétricos de potência. Conceitos de estabilidade e suas classificações serão
abordados, assim como as escalas de tempo de interesse para cada tipo. Com estas considerações
feitas, far-se-á uma reflexão sobre modelos para os sistemas elétricos de potência adequados para a
avaliação da estabilidade.
Outros
Geradores
Sistema
Sistemas
de
Adjacentes
Transmissão
Regulador de Controle de
Velocidade Tensão
Potência Exportações
Gerada Importações
Sinais de Controle de
Geração Centro de Operação Frequência
do Sistema do Sistema
dos sistemas de transmissão em corrente contínua, entre outros elementos FACTS1 . As cargas,
apesar de não estarem representadas explicitamente nesta ilustração, podem ser consideradas como
sorvedouros de potência dentro do bloco que representa o sistema de transmissão.
As plantas de geração são normalmente interconectadas através de um ou mais sistemas de
transmissão, de forma a aumentar a redundância de suprimento das cargas pelo parque gerador,
composto pelo agrupamento de todas as plantas geradoras de um sistema. Dentro de cada planta
geradora, cada gerador é dotado de controles individuais de tensão e velocidade. O controle de
tensão tem por responsabilidade manter níveis de tensão aceitáveis de operação tanto para geradores
como para cargas. Para isto, são controlados os níveis de excitação aplicados aos circuitos de campo
dos geradores. Para a manutenção dos níveis de tensão, no entanto, existem outros elementos de
rede, normalmente ligados ao sistema de transmissão, capazes de também controlar a tensão, tais
como, transformadores com tapes variáveis, compensadores síncronos e estáticos, entre outros
elementos FACTS.
O controle de velocidade, por sua vez, atua diretamente nas turbinas, que se encontram acopladas
diretamente aos geradores, de forma a controlar a rotação das mesmas e consequentemente as
frequências das tensões induzidas pelos geradores elétricos. Estas turbinas podem ser hidráulicas,
térmicas ou eólicas. Cada tipo de turbina apresenta características próprias de operação e controle.
Com uma visão mais global do sistema, encontra-se o Centro de Operação do Sistema (COS).
Os operadores no COS, através de sistemas de controle e aquisição de dados (sistemas SCADA2 ),
tem como avaliar as condições operativas do sistema e atuar nos elementos de controle disponíveis
no sistema de forma a reestabelecer condições adequadas de operação quando necessário ou de
acordo com o planejado. Um exemplo de ação de comando do COS pode ser o redespacho de certas
plantas de geração de forma a restabelecer fluxos de transferência entre sistemas ou frequência de
operação dos mesmos.
1
Do inglês, Flexible Alternate Current Transmission Systems.
2
Do inglês, Supervisory Control and Data Acquisition.
1.2 Introdução a Estabilidade em Sistemas de Potência 9
10−7 10−6 10−5 10−4 10−3 10−2 10−1 100 101 102 103 104 105
Fenômenos de
Ondas
Fenômenos
Eletromagnéticos
Fenômenos
Eletromecânicos
Fenômenos
Termodinâmicos
µs ms s minutos horas
Estabilidade Angular
Esta forma de estabilidade está relacionada à habilidade das máquinas síncronas conectadas a um
sistema de manter sincronismo após uma perturbação. Esta habilidade depende da capacidade de
cada uma das máquinas de alcançar o equilíbrio entre conjugados mecânico, imposto pela turbina,
e eletromagnético, imposto pelo sistema elétrico. A perda de sincronismo pode ocorrer entre uma
máquina e o sistema ou entre grupos de máquinas, que mantém sincronismo de forma isolada [1, 4].
Esta forma de estabilidade pode ser observada para pequenas e grandes perturbações. Para
pequenas perturbações, as condições iniciais são fundamentais, devido a alterações marginais das
mesmas nesta situação. Este tipo de instabilidade para pequenas perturbações pode ter causas
locais ou globais. Localmente, as unidades geradoras apresentam modos de oscilação naturais
com relação ao sistema elétrico como um todo. Estes modos de oscilação tem íntima relação com
a capacidade de transmissão do sistema no ponto de conexão da planta geradora, assim como os
controladores de tensão e despacho da usina. Globalmente, este tipo de instabilidade pode nascer
de interações entre grupos de geradores distantes no sistema. Por isto, este tipo de instabilidade
apresenta, normalmente, impacto sistêmico. Os mecanismos destas interações, ditas interárea, são
bastante complexos e bastante distintos dos modos locais de oscilação das unidades geradoras. Estas
oscilações interárea podem ser impactadas por características de carga, capacidade de transmissão
entre grupos de geradores, além das características de controle de tensão dos grupos geradores,
entre outros.
1.3 Classificação de Estabilidade em Sistemas de Potência 11
Estabilidade
em Sistemas
Estabilidade de Potência Estabilidade
Angular de Frequência
Pequenas
Curto Prazo
Perturbações
Curto
Prazo
Grandes Pequenas
Perturbações Perturbações
Curto Curto
Prazo Prazo
Longo Longo
Prazo Prazo
Estabilidade de Tensão
Este tipo de estabilidade representa a habilidade de um dado sistema elétrico de manter tensões
constantes em todas as suas barras após ser submetido a um distúrbio de uma condição operativa
inicial. Esta forma de estabilidade depende, basicamente, da capacidade do sistema em restaurar
o equilíbrio entre demanda e geração do sistema. A instabilidade de tensão pode ocorrer na
forma de redução ou crescimento progressivo da tensão em algumas barras do sistema [1]. O
termo colapso de tensão é comumente utilizado para caracterizar uma situação de instabilidade
acompanhada de uma sequência de eventos (ex., abertura de linhas de transmissão, perda de geração
e transformadores, etc.) seguida de diminuição anormal da tensão ou ocasionando um blecaute
[1, 4].
O mecanismo da instabilidade de tensão está intimamente ligado ao comportamento das cargas.
Por exemplo, na ocorrência de uma perturbação que tende a diminuir a tensão do sistema, a potência
consumida pelas cargas tem a tendência de ser reestabelecida devido a atuação de reguladores de
tensão em sistemas de distribuição, atuação de transformadores com tapes variáveis sob carga,
ajuste da carga pelo escorregamento nos motores de indução, termostatos, etc. A tensões mais
baixas, as correntes tendem a aumentar, de forma a reestabelecer as potências. Uma consequência
12 Capítulo 1. Introdução a Estabilidade em SEPs
Estabilidade de Frequência
Este tipo de estabilidade está relacionado à habilidade do sistema manter frequência constante após
um distúrbio que ocasione um desequilíbrio significativo entre geração e carga do sistema. Depende
da capacidade do sistema manter o equilíbrio entre carga e geração com o mínimo de desligamento
não intencional de carga. Instabilidade ocorre na forma de oscilações sustentadas de frequência
que ocasionam o desligamento de geradores e corte de carga. Em sistemas de grande porte, uma
consequência de tal comportamento pode ser a separação do sistema em ilhas elétricas. Nesta
situação, ilhas podem ser analisadas à luz da estabilidade de frequência separadamente. Geralmente,
instabilidade de frequência está associada a respostas e controle de equipamentos mal coordenados
ou insuficiência de reserva de geração [1].
As excursões de frequência, decorrentes de tais desequilíbrios entre carga e geração, tornam
ativos equipamentos, normalmente não modelados em estudos convencionais de estabilidade
angular e de tensão. Outro aspecto importante é que as constantes de tempo destes equipamentos
podem variar de frações de segundos a dezenas de minutos. Desta forma, estabilidade de frequência
pode ser considerada também de curto e longo prazo. No curto prazo, por exemplo, uma ilha com
deficit de geração e corte de carga por sub-frequência insuficiente pode-se instabilizar em questão
de segundos. No longo prazo, no entanto, controladores associados a ciclos térmicos em usinas
termelétricas convencionais e nucleares devem ser levados em consideração [1].
Em ilhas com carência de geração, primeiramente, a energia cinética das massas dos conjuntos
1.4 Análise de Segurança em Sistemas Elétricos de Potência 13
turbina-gerador supre a carga, reduzindo assim as suas velocidades. Com a redução da velocidade
do gerador, há uma redução da frequência elétrica do sistema. Subsequentemente, esta variação de
frequência excita os sistemas de regulação primária, que procuram reajustar a frequência através
do aumento da potência injetada nas turbinas. Por isto, é essencial a disponibilidade de geradores
que não estejam operando nos seus limites. A este conjunto de geradores dá-se o nome de reserva
girante. Esta reserva, no entanto, pode não ser suficiente caso não seja rápida o bastante para
não permitir a redução demasiada da frequência. Caso a frequência atinja valores muito baixos,
as proteções de sub-frequência das turbinas (ex., a vapor) podem desligar unidades geradoras e
agravar ainda mais o deficit de geração. Outro aspecto importante que pode ajudar decisivamente
na recuperação da frequência de uma ilha elétrica com carência de geração é a implementação de
esquemas de alívio de carga por sub-frequência. Assim o desequilíbrio entre carga e geração pode
ser rapidamente corrigido, sem que o sistema inteiro sofra um blecaute. Em ilhas com excesso de
geração ocorre um aumento da frequência, devido à redução dos conjugados elétricos induzidos
nos geradores, que tendem a frear as turbinas. Para os conjuntos turbina-gerador esta redução de
carga é conhecida como alívio ou perda parcial de carga. A estabilidade da frequência, nestas
situações, depende da capacidade dos geradores suportarem as perdas parciais de carga resultantes
do ilhamento. Esta capacidade é uma característica dependente do tipo de turbinas e a sua fonte
primária associada. Por exemplo, como descrito em [4], é recomendado, para algumas turbinas
a vapor, que uma perda parcial de carga deva ser seguida de rápida diminuição da potência de
entrada (ex., combustível) assim como redução da entrada de água da caldeira e, se existente, o
acionamento do desvio (bypass) do superaquecedor e turbina diretamente ao condensador [6].
Análise de Segurança Estática: determina se a condição pós-falta não viola limites operativos
tanto de equipamentos individuais como do sistema como um todo.
Análise de Segurança Dinâmica: determina se a transição entre condições operativas é viável
dinamicamente.
Dentro de um ciclo de análise de segurança de sistemas elétricos de potência, primeiro é
realizada a análise de segurança estática. Caso sejam identificadas violações críticas de limites
na condição de regime permanente do sistema pós-distúrbio, a análise de segurança dinâmica
torna-se desnecessária, independentemente do seu resultado. Caso contrário, quando a condição
pós-distúrbio é viável, deve-se analisar dinamicamente se a transição entre a condições pré e
pós-distúrbio é factível.
Desta forma, fica explicada a necessidade de avaliação da estabilidade tanto em regime per-
manente como em regime transitório. Estes tópicos serão discutidos com maior detalhamento ao
longo dos capítulos subsequentes.
2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
dx
= f (x, y, u, t) (2.1a)
dt
0 = g (x, y, u, t) (2.1b)
iT
Onde, x = x1 x2 · · · xn ∈ Rn
h
→ vetor com variáveis de estado
iT
y = y1 y2 · · · yq ∈ Rq
h
→ vetor com variáveis algébricas
iT
u = u1 u2 · · · um ∈ Rm
h
→ vetor com variáveis de entrada
f : Rn+q+m+1 → Rn → função vetorial dos estados do sistema
g: Rn+q+m+1 → Rq → função vetorial algébrica do sistema
t∈R → tempo
O sistema de equações algébrico-diferenciais (2.1) associado a um sistema dinâmico determina
as relações existentes entre variáveis de estado, variáveis algébricas e eventuais funções forçantes
ou de entrada. Neste caso, a função vetorial f possui n componentes e relaciona as demais variáveis
com suas respectivas taxas de variação, enquanto a função vetorial g caracteriza restrições que
devem ser respeitadas em todo o instante de tempo t.
Adicionalmente, como o sistema de equações algébrico-diferenciais (2.1) apresenta uma depen-
dência explícita do tempo t, este sistema é dito não-autônomo. Quando função f e g independem
16 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
do tempo t o sistema é dito autônomo e pode ser reescrito como dado em (2.2) . Para sistemas
autônomos, como é o caso dos sistemas elétricos de potência, o comportamento dinâmico dos
mesmos depende exclusivamente do estado do sistema [7].
dx
= f (x, y, u) (2.2a)
dt
0 = g (x, y, u) (2.2b)
Nos sistemas autônomos em que a função vetorial f é linear, o sistema de equações (2.2) pode
ser reescrito como em (2.3), onde A representa a matriz de estados ou de evolução do sistema de
dimensão n × n, B a matriz de entrada ou controle do sistema de dimensão n × m.
dx
= Ax + Bu (2.3)
dt
Para sistemas dinâmicos representados como dado em (2.2) ou (2.3), um ponto de equilíbrio
é definido para condições em que as derivadas associadas às variáveis de estado x são nulas. Em
termos de movimento, nos pontos de equilíbrio o sistema se encontra ou parado ou com velocidade
constante. Em um ponto de equilíbrio, portanto, são válidas as seguintes expressões para as
representações não-linear e linear, respectivamente.
f (x0 , y0 , u0 ) = 0
(não-linear) A x0 + B u0 = 0 (linear) (2.4a)
g (x0 , y0 , u0 ) = 0
Nas expressões dadas em (2.4), x0 representa um ponto de equilíbrio para uma dada condição
das entradas em u0 . É importante ressaltar que para sistemas não-lineares mais de um ponto de
equilíbrio é possível, enquanto para o caso linear existe apenas uma única solução x0 , dada uma
entrada u0 , caso a matriz de estados A for não-singular.
ε
ε
δ
δ
x0
x(t0 ) x(t0 )
ε
ε
δ
δ
x0
x(t0 ) x(t0 )
x0 deve ser um ponto de mínimo da função V(x) de Lyapunov. A condição imposta por este teorema
é mais facilmente entendida se a função de Lyapunov V(x) for vista como uma função de energia
(como será em muitos casos). Neste caso, sabe-se de antemão que um sistema estável sempre
tende à condição de mínima energia. Este teorema também passa a noção de estabilidade local
ou para pequenas perturbações de um determinado sistema dinâmico, como será detalhado na
seção 2.4.
Já o Teorema 2.2 amplia a região de estabilidade em torno do ponto de equilíbrio x0 , caso este
seja estável. Este teorema estabelece que a energia aplicada inicialmente num sistema dinâmico,
dada por V(xi ), não pode ser superior à energia associada ao ponto de equilíbrio x00 mais próximo
de x0 . Assim, a energia V(x00 ) = Vcr pode ser considerada crítica e limítrofe para que o sistema
mantenha a estabilidade na vizinhança de x0 . Este teorema pode ser ilustrado através da Figura 2.2,
onde a região de atração do ponto de mínimo x0 é limitada pelo ponto de máximo (ou de inflexão)
x00 mais próximo. Neste exemplo, para qualquer condição inicial xi , suficientemente próxima de
x0 , tende para x0 , caso a taxa de variação da energia no tempo seja negativa (V̇(xi ) < 0). Para a
situação em que V̇(xi ) = 0, a energia não se alteraria e a trajetória do sistema no espaço de fases
tenderia a um ciclo limite.
Teorema 2.2 — Condição II. Se existir uma função escalar positiva definida V(x) na vizinhança
do ponto de equilíbrio x0 de ẋ = f(x) e V̇(x) < 0, então o sistema é assintoticamente estável em
18 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
V(x)
V(x00 ) = Vcr
V(xii )
V(xi )
V̇(xii ) < 0
V̇(xi ) < 0
V(x0 )
xi x0 x00 xii x
onde Vcr = V(x00 , x0 ) é o valor da função de Lyapunov no mais próximo ponto de equilíbrio x00 .
dθ
= ω [rad/s] (2.5a)
dt
dω
J = T a [N.m] (2.5b)
dt
Dado que o conjugado acelerante do pêndulo está associado à componente Pt da força peso P,
tangencial à trajetória da massa m, o conjugado acelerante assume o valor dado em (2.6).
Portanto, substituindo (2.6) em (2.5b) resulta no modelo matemático do pêndulo, como descrito
em (2.7).
dθ
= ω [rad/s] (2.7a)
dt
dω
J = −mgl sen θ [N.m] (2.7b)
dt
2.3 Análise de Estabilidade do Pêndulo 19
g
l
θ
Pt
θ
Pr
P = mg
As condições de equilíbrio para o pêndulo são aquelas que anulam as derivadas, ou seja, ω0 = 0
e θ0 = kπ, onde k ∈ Z. Note, que para o pêndulo há infinitos pontos de equilíbrio possíveis.
Como se pode observar, o sistema dinâmico do pêndulo apresenta característica não-linear e
necessita de técnicas numéricas para sua solução. No entanto, sua estabilidade pode ser avaliada
baseando-se apenas no sistema de equações diferenciais que o modela e suas características
energéticas.
Análise Energética
Levando em consideração que a energia E em um sistema mecânico rotacional é dada através da
integral do conjugado em função do ângulo θ percorrido (E = T dθ), pode-se obter a energia no
R
dω
Z Z
J dθ = −mgl sen θ dθ [J] (2.8)
dt
A expressão (2.9) representa uma soma de energias que ao serem integradas a partir de uma
condição inicial qualquer (θi , ωi ) resulta em parcelas de energia aplicada ao sistema, como mostrada
em (2.10).
1 2
J ω − ωi 2 − mgl (cos θ − cos θi ) = 0
[J] (2.10)
2
Analisando-se (2.10), nota-se que a primeira parcela está relacionada à variação de energia
cinética, enquanto a segunda está associada à variação de energia potencial do pêndulo. Assim,
pode-se definir as grandezas ∆Ec e ∆E p associados às energias cinética e potencial, respectivamente.
20 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
1 2
J ω − ωi 2
∆Ec = Ec (ω) − Ec (ωi ) = (2.11a)
2
∆E p = E p (θ) − E p (θi ) = −mgl (cos θ − cos θi ) (2.11b)
Reescrevendo (2.10) em função das variações de energia definidas acima, resultando numa
relação de balanço de energia no pêndulo. A relação, dada em (2.12), mostra que as variações
de energia cinética e potencial se complementam, isto é, o acréscimo em uma delas implica em
redução na outra.
De outra forma, (2.12) pode, ainda, ser reescrita como em (2.13a) abaixo. Nesta expressão,
fica claro que como não foi considerada nenhuma forma de perda por atrito ou outra força externa
aplicada não há acréscimos ou reduções de energia no sistema. Ou seja, a soma das energias
cinética e potencial inicial deve ser idêntica à soma de energias em qualquer condição expressa por
(θ, ω), como mostrado em (2.13b).
1 2 1
Jω − mgl cos θ = Jωi 2 − mgl cos θi [J] (2.13a)
2 2
Ec (ω) + E p (θ) = Ec (ωi ) + E p (θi ) [J] (2.13b)
Pode-se, então, definir a função de energia V(θi , ωi ) que depende das condições iniciais do
sistema, como dada em (2.14). Esta função de energia é uma função escalar a duas variáveis,
cuja forma e suas curvas de nível ou equipotenciais podem ser observadas nas Figuras 2.4 e
2.5, respectivamente. Para o traçado destas curvas foram considerados os parâmetros m = 1[kg],
l = 0,5[m] e g = 10[m/s2 ].
1 2
V(θ, ω) = Ec (ω) + E p (θ) = Jω − mgl cos θ (2.14)
2
2.3 Análise de Estabilidade do Pêndulo 21
Dado o caráter conservativo do sistema do pêndulo, que não apresenta perdas, pode-se garantir
que as trajetórias do sistema no plano ω × θ ficam confinadas às equipotenciais da função de energia
V(θ,ω).
A seguir serão analisadas algumas situações específicas com relação à estabilidade do sistema
à luz da energia em função das condições iniciais adotadas. Valores numéricos adotados estão
associados às curvas apresentadas nas Figuras 2.4 e 2.5.
Pontos estacionários:
Os pontos estacionários do sistemas são aqueles nos quais a energia não varia com as variáveis
de estado. Matematicamente, esta condição
equivale a dizer que o gradiente da função de energia
se anula, ou seja, ∇V(θ,ω) = ∂V ,
∂θ ∂ω
∂V
= (0, 0). Para a função de energia V(θ,ω) dada em (2.14),
tem-se:
∂V
= m g l sen θ = 0
θ = k π (k ∈ Z)
∂θ
⇒
∂V ω = 0
= Jω= 0
∂ω
Para a primeira volta do pêndulo, portanto, existem dois pontos estacionários: (θ0 ,ω0 ) = (0,0) e
(θ1 ,ω1 ) = (π,0). A energia nos pontos estacionários, por sua vez, são dadas por V(θ0 ,ω0 ) = −mgl e
V(θ1 ,ω1 ) = mgl.
De forma a possibilitar a classificação dos pontos estacionários em pontos de mínimo, máximo
ou de de sela, verifica-se a expansão de V(x0 + ∆x) na sua série de Taylor até o segundo termo,
como mostrado abaixo, onde H(x0 ) representa a matriz hessiana com as derivadas de segunda
22 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
Calculando-se então a hessiana para (θ0 , ω0 ) = (0,0), tem-se a hessiana H(0,0) positiva definida,
caracterizando (θ0 , ω0 ) como um ponto de mínimo e, portanto, estável. Já para (θ1 , ω1 ) = (π,0),
a hessiana H(π,0) mostra-se indefinida, caracterizando um ponto de sela e, consequentemente,
instável. Pelos gráficos mostrados nas Figuras 2.4 e 2.5, nota-se que o ponto de mínima energia
encontra-se, de fato, em (0,0), enquanto o ponto de sela em (π,0).
mgl 0 −mgl 0
" # " #
H(0,0) = H(π,0) =
0 J 0 J
Cada um dos pontos estacionários podem ser observados na Figura 2.6, onde pode-se claramente
observar que o ponto (0,0) caracteriza a situação em que o pêndulo está repouso na posição mais
baixa possível, e por isto associada à mínima energia. No ponto (π,0), no entanto, o pêndulo se
encontra na posição mais alta possível e maior energia potencial armazenada.
Massa solta do repouso:
Nesta situação (θi , ωi ) = (α, 0), levando V(α, 0) ser puramente de origem potencial como verificado
abaixo.
1 2
V(α,0) = Jω − mgl cos θ = −mgl cos α (2.16)
2
Empregando o Teorema 2.2, verifica-se que para garantir estabilidade em torno do ponto de
equilíbrio (θ0 , ω0 ) = (0,0), a energia inicial do sistema V(α,0) não pode superar a energia do ponto
estacionário de máxima energia Vcr = V(π,0) = mgl, ou seja, α deve ser tal que V(α,0) < Vcr .
Assim, verifica-se a seguinte inequação em α.
Neste caso, basta que −π < α < π para que o sistema se uniformemente estável.
2.4 Estabilidade para Pequenas Perturbações 23
~
P
g
g
m
~
P
(a) Estável (b) Instável
r
2mgl
ω=± (cos θ − cos α) (2.17)
J
Note que ω ∈ R apenas se cos θ ≥ cos α, ou seja, θ ≤ α, considerando que 0 ≤ θ < 2π. Portanto,
para qualquer posição α de soltura do pêndulo, o ângulo θ será sempre inferior ou igual ao ângulo
inicial α. Cada valor de α, define uma equipotencial específica na função energia do sistema,
como mostrado Figura 2.5. Além do mais, as trajetórias no plano θ × ω não podem apresentar
energia superior à máxima energia que pode ser injetada no sistema tende a V(π,0) = mgl. No
caso específico da Figura 2.5, as equipotenciais associadas a esta situação estão confinadas dentro
da região definida pela equipotencial cuja energia equivale a 5[J]. Portanto, o sistema se mostra
uniformemente estável, segundo o critério de Lyapunov, para as condições em que a massa é solta
do repouso.
(2.18).
x = x0 + ∆x (2.18a)
y = y0 + ∆y (2.18b)
u = u0 + ∆u (2.18c)
Substituindo, então, as expressões (2.18) na definição do sistema de equações diferenciais
autônomo (2.2), resulta em (2.19), dado que x0 representa uma grandeza constante.
d∆x
= f (x0 + ∆x, y0 + ∆y, u0 + ∆u) (2.19a)
dt
0 = g (x0 + ∆x, y0 + ∆y, u0 + ∆u) (2.19b)
Como assume-se que a perturbação considerada é suficientemente pequena, utiliza-se para
aproximar a função perturbada f (x0 + ∆x, y0 + ∆y, u0 + ∆u) a sua série de Taylor truncada no seu
termo de primeira ordem, como mostrado abaixo.
∂f ∂f ∂f
f (x0 + ∆x, y0 + ∆y, u0 + ∆u) ≈ f (x0 , y0 , u0 ) + ∆x + ∆y + ∆u (2.20a)
∂x 0 ∂y 0 ∂u 0
∂g ∂g ∂g
g (x0 + ∆x, y0 + ∆y, u0 + ∆u) ≈ g (x0 , y0 , u0 ) + ∆x + ∆y + ∆u (2.20b)
∂x 0 ∂y 0 ∂u 0
Onde,
∂ f1 ∂ f1 ∂ f1
∂ f1 ∂ f1 ∂ f1
···
∂x ∂x2 ··· ∂xn
∂y
1 ∂y2 ∂yq
∂ f21 ∂ f2 ∂ f2 ∂ f2 ∂ f2 ∂ f2
∂f
··· ∂f
∂y ∂y2 ··· ∂yq
= ∂x. 1 ∂x2 ∂xn
= 1
∂x 0 .. .. .. ..
∂y 0 ... .. .. ..
. . . . . .
∂ fn ∂ fn ∂ fn
∂ fn
∂ fn ∂ fn
∂x1 ∂x2 ··· ∂x n
0 ∂y1 ∂y2 ··· ∂yq 0
∂ f1 ∂ f1 ∂ f1
∂g1 ∂g1 ∂g1
∂u ∂u2 ··· ∂um
∂x ∂x2 ··· ∂xn
∂ f21 ∂ f2 ∂ f2
∂g1 ∂g2 ∂g2
∂f
··· ∂g
2 ···
= ∂u. 1 ∂u2 ∂um
= ∂x. 1 ∂x2 ∂xn
∂u 0 .. .. .. ..
∂x 0 .. .. .. ..
. . . . . .
∂ fn ∂ fn ∂ fn
∂g ∂gq ∂gq
q
∂u1 ∂u2 ··· ∂u
0 ∂x1 ∂x2 ··· ∂x
m n 0
d∆x
= A ∆x + B ∆u (2.21)
dt
!−1 !−1
∂f ∂f ∂g ∂g ∂f ∂f ∂g ∂g
A= − B= − (2.22)
∂x 0 ∂y 0 ∂y 0 ∂x 0 ∂u 0 ∂y 0 ∂y 0 ∂u 0
2.4 Estabilidade para Pequenas Perturbações 25
Avi = λi vi (2.24a)
AT wi = λi wi (2.24b)
AV = VΛ =⇒ Λ = V−1 AV (2.25a)
−1
AT W = WΛ Λ = WT AT WT
=⇒ (2.25b)
onde
h i h i
Λ = diag (λ1 , . . . , λn ) V = v1 . . . vn W = w1 . . . wn (2.26)
V−1 = WT (2.27)
Λ = V−1 AV = WT AV (2.29)
∆x = Vz (2.30)
Ou seja,
dz −1 dz
= V AV z =⇒ = Λz (2.31)
dt dt
O sistema de equações diferenciais modal obtido em (2.31) apresenta como matriz de transição
de estados, a matriz de autovalores de A, que é diagonal. Por este motivo, as variáveis modais
contidas em z não apresentam acoplamento entre si e podem ser solucionadas de forma também
independente. As equações diferenciais modais implicitamente definidas em (2.31) são mostradas
em (2.32a), enquanto sua soluções são dadas em (2.32b). Note que zk (0) representa a condição
inicial da k-ésima variável modal.
dzk
= λk z k (2.32a)
dt
zk (t) = zk (0)eλk t (2.32b)
A relação entre as condições iniciais modais, resumidas em z(0) e as condições iniciais das
variáveis de etado linearizadas do sistema, x(0) é dada através da matriz de autovetores à esquerda
WT , de acordo com (2.30) e (2.27).
z(0) = V−1 ∆x(0) = WT ∆x(0) (2.33)
Escrevendo as relações definidas em (2.32b) de forma matricial e combinando com (2.33),
obtém-se as seguintes relações, onde a matriz eΛt = diag eλ1 t , eλ2 t , . . . , eλn t .
Ou seja, nota-se que a variável de estado xk (t) apresentará maior influência do modo oscilatório
m quanto maior o módulo de vmk , referente ao k-ésimo elemento do m-ésimo autovetor vm . Para os
casos em que o elemento vmk for complexo, sua magnitude representa a intensidade de impacto
enquanto o ângulo indica a fase introduzida ao modo. Normalizando-se o autovetor vm , este
representa o mode shape do modo oscilatório associado ao autovalor λm .
Em análises de estabilidade de sistemas elétricos de potência o mode shape apresenta papel
importante para identificar a influência de modos oscilatórios em variáveis de estado de interesse.
Uma outra forma de avaliar o impacto dos modos oscilatórios nas variáveis de estado pode ser
extraída de (2.35), que é reescrita a seguir de forma mais detalhada, onde wkm representa o m-ésimo
elemento do k-ésimo autovetor à esquerda wk .
Pn Pn Pn
Pk=1 vk1 wk1 eλk t Pk=1 vk1 wk2 eλk t . . . Pk=1 vk1 wkn eλk t ∆x1 (0)
n v w eλk t n λk t . . . n λk t
k=1 k2 k1 k=1 vk2 wk2 e k=1 vk2 wkn e ∆x2 (0)
∆x(t) = .. .. .. .. ..
(2.39)
. . . . .
Pn λk t n λk t . . . n λk t ∆x (0)
k=1 vkn wk1 e k=1 vkn wk2 e k=1 vkn wkn e
P P
n
Ao se aplicar uma perturbação na condição inicial ∆xm (0) = 1 e mantendo todas as outras nulas,
verifica-se que a variável de estado ∆xm (t) pode ser obtida através do somatório apresentado em
(2.40).
n
vkm wkm eλk t
X
∆xm (t) = (2.40)
k=1
Nota-se que neste somatório, cada modo oscilatório é agora ponderado pelo produto de elemen-
tos de autovetores à direita e à esquerda associados a um mesmo modo. Desta forma, o produto
vkm wkm mede o grau de influência do modo de oscilação k na variável de estado ∆xm . Define-se,
então, os fatores de participação do modo k como dado em (2.41).
pkm = vkm wkm (2.41)
Para um determinado modo oscilatório k, pode-se obter todos os fatores de participação deste
modo em todas as variáveis de estado através da multiplicação elemento a elemento dos autovetores
associados ao modo k, como indicado abaixo.
vk1 wk1 pk1
v w p
k2 k2 k2
vk ◦ wk = . ◦ . = . (2.42)
.. .. ..
vkn wkn pkn
28 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
Como mostrado em [3, 4], os fatores de participação podem também ser utilizados em análises
de sensibilidade de modos oscilatórios com relação a determinados elementos da matriz de estado A.
Esta característica pode ser identificada através da própria relação entre autovalores e autovetores,
dada em (2.24), e repetida a seguir, por conveniência.
Avk = λk vk
Multiplicando a expressão acima por wTk , pela esquerda, nota-se que, de acordo com (2.28), o
autovalor λk pode ser relacionado diretamente aos seus autovetores à direita e à esquerda associados,
como mostrado abaixo.
(2.45)
Na prática, os fatores de participação são muito utilizados na identificação de variáveis de
estados mais indicadas para aplicação de controle que resultem maiores alterações nos modos de
oscilação pouco amortecidos ou instáveis.
∆θ 0 1
" # " #
x= A=
∆ω ξ2 0
Note que a matriz A apresenta um único elemento dependente da posição inicial do pêndulo,
ξ2 . Os autovalores associados à matriz A, por sua vez, devem satisfazer a relação det(A−λI) = 0,
2.5 Mode Shapes e Fatores de Participação 29
λ2 − ξ2 = 0
Verifica-se que existem dois autovalores distintos λ1,2 = ±ξ, associados a matriz A. Como
para cada autovalor distinto λk existe um autovetor vk , calcula-se, na sequência, cada um
separadamente.
Autovetor a direita v1 associado a λ1 = ξ : O autovetor v1 deve ser tal que atenda a seguinte
expressão:
−ξ 1 v11 0
" #" # " #
Av1 = λ1 v1 =⇒ =
ξ2 −ξ v12 0
Verifica-se que as soluções das equações acima devem satisfazer v12 = ξv11 . Adotando,
então, v11 = 1, obrigatoriamente, v12 = ξ. Logo, o autovetor v1 , associado a λ1 = ξ, pode
ser definido como abaixo.
1
" #
v1 = (2.46)
ξ
ξ 1 v21 0
" #" # " #
Av2 = λ2 v2 =⇒ =
ξ2 ξ v22 0
Por sua vez, as soluções das equações acima devem satisfazer v22 = −ξv21 . Adotando
v21 = 1 leva a v22 = −ξ. Logo, o autovetor v2 , associado a λ2 = −ξ, pode ser definido
como abaixo.
1
" #
v2 = (2.47)
−ξ
1 1
" #
V= (2.48)
ξ −ξ
1 1 1ξ
T
W = (2.49)
2 1 − 1ξ
30 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
• Caso ξ2 < 0: Relativo aos pontos de equilíbrio √ onde cos θ0 > 0. Logo, θ0 = 2πk com
k ∈ Z. Nestes pontos de√equilíbrio, ξ = ± j g/l ∈ C, ou seja, ξ é um número imaginário
puro. Definindo α = g/l, a solução (2.50) pode ser simplificada como dada abaixo.
Nota-se que o sistema é uniformemente estável em torno no ponto de equilíbrio, dado que
∆θ(t) oscila dentro da faixa [−∆θ(0), ∆θ(0)] e ∆ω(t) entre [−α, α].
• Caso ξ2 > 0: Relativo aos pontos de equilíbrio√onde cos θ0 < 0. Logo, θ0 = (2k − 1)π
com k ∈ Z. Nestes pontos de equilíbrio, ξ = ± g/l ∈ R. Neste caso, as soluções (2.50)
apresenta exponenciais positivas e negativas. Desta forma as variáveis de estado ∆θ(t) e
∆ω(t) não são limitadas e, portanto, instáveis.
Finalmente, pode-se notar que as conclusões acerca da estabilidade dos pontos de equilíbrio
do pêndulo forma idênticas, seja pela análise para pequenas perturbações, seja pela análise
energética, desenvolvida na seção 2.3.1.
Problemas
Problema 2.1 Seja o sistema dinâmico de segunda ordem representado pelas equações diferenciais
abaixo.
dδ
=ω
dt
dω 1
= (α − 2 sen δ)
dt 10
a) Encontre os pontos de equilíbrio deste sistema para 0 < δ < π, para α = 1, e avalie a
estabilidade de cada ponto de equilíbrio encontrado.
b) Repita o item (a) para α = 1,5.
c) Repita o item (a) para α = 2,5.
Problema 2.2 Seja o sistema mecânico ilustrado na Figura P.2.1. Este sistema consiste em duas
hastes rígidas de comprimento a e b que podem girar livremente em torno do ponto O. As
extremidades das hastes, opostas ao ponto O, são conectadas através de uma mola, cuja constante
de elasticidade é k em [N/m]. Considerando a = 0,8 [m], b = 1 [m] e k = 2 [N/m]:
a) Modele matematicamente o problema através das variáveis de estado θ e ω = dθ dt , conside-
rando que a haste b permanece fixa e a haste a seja acionada por um conjugado constante T m
no sentido anti-horário, em torno do ponto O.
2.6 Problemas 31
Tm a
k
O b
Problema 2.3 Seja o sistema rotacional ilustrado na Figura P.2.2 composto por uma barra rígida
fixada a um substrato que permite o movimento de rotação e uma massa M acoplada à extremidade
oposta da barra, através de uma haste também rígida. Assumindo que a barra possua comprimento
l e massa m e que um conjugado externo constante T ext seja aplicado à barra, responda a sequintes
questões:
a) Escreva as equações diferenciais que governam este sistema, empregando a posição angular
θ e sua velocidade angular ω como variáveis de estado.
b) Encontre os pontos de equilíbrio deste sistema para −π/2 ≤ θ < π/2.
c) Encontre a relação de energias para o sistema.
d) Avalie a estabilidade local para cada ponto do item ((b)), segundo critério de Lyapunov.
e) Supondo que a massa fosse desconectada temporariamente do braço mecânico, qual seria
o máximo tempo tc para que esta fosse novamente acoplada ao braço, de forma a garantir
estabilidade do sistema. Assuma que, inicialmente, a barra se encontra em repouso na posição
θi = −π/2 [rad]. Durante este processo assuma também que T ext = 25 [N · m] e o peso da
barra é insignificante.
g = 10 [m/s2 ] T ext
l = 1 [m]
m = 0,25 [kg]
l, m
M = 5 [kg]
M T ext = 25 [N · m]
θ
Problema 2.4 Sejam os sistemas dinâmicos descritos na forma ẋ = Ax, cujas matrizes de transição
de estados A são dadas abaixo. Calcule as respostas dinâmicas dos sistemas, indicando se o sistema
32 Capítulo 2. Estabilidade de Sistemas Dinâmicos
Problema 2.5 Para as matrizes de transição de estado dadas em Problema 2.4, obtenha os autoveto-
res (a direita) e mostre suas relações com os autovalores associados.
3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
Dωr
Te
ωr T t
A equação (3.8) é conhecida como equação de oscilação das máquinas elétricas. Como será
observado ao longo do texto, esta equação será fundamental para a avaliação da estabilidade em
sistemas elétricos de potência.
Finalmente, como de praxe em análise de sistemas elétricos de potência, resta ainda normalizar
as grandezas reais empregadas até o momento. Para a normalização de (3.8), utiliza-se as seguintes
relações de unidades, onde ωrB e T B representam valores base de velocidade do rotor e de conjugado
mecânico, respectivamente.
ω = ωrB ω pu [rad/s] (3.9)
pu
Tm = T B Tm [N.m] (3.10)
pu
Te = T B Te [N.m] (3.11)
Aplicando-se as relações acima em (3.8) obtém-se (3.12), dada abaixo.
JωrB dω pu DωrB pu
! !
pu pu
= Tm − Te − ω [p.u.] (3.12)
TB dt TB
O conjugado base T B e a velocidade base do rotor ωrB , por sua vez, relacionam-se com a
potência base da máquina PB através de (3.13) abaixo.
PB = ωrB T B [W] (3.13)
Utilizando-se, então, (3.13) para reescrever (3.12) obtém-se (3.14) já dada por unidade.
2
JωrB dω pu Dω2rB pu
pu pu
= T m − T e − ω [p.u.] (3.14)
PB dt PB
ea
if d
gq
ec kq
a
q
q
(a) Ponto de vista construtivo (b) Ponto de vista dos eixos magnéticos
Gerador Síncrono
A interação entre os campos magnéticos produzidos pelo sistema de excitação e pela reação de
armadura nos geradores síncronos induz o conjugado elétrico que equilibra o conjugado mecânico
produzido pela máquina primária. Neste sentido, torna-se fundamental a compreensão dos fenô-
menos que regem estas interações dentro das máquinas síncronas de forma a auxiliar avaliações
subsequentes sobre a estabilidade eletromecânicas dos sistemas elétricos de potência.
1
Esta distribuição é obtida através técnicas de enrolamento abordadas em [10, 11].
3.2 Gerador Síncrono 37
λa f
Ea
A tensão ea induzida na fase a é obtida através da lei de Lenz-Faraday, que determina que a
tensão é igual ao contrário da variação do fluxo enlaçado pela referida bobina, como denotado em
(3.22). Ou seja, a tensão induzida deve ser tal que, caso uma corrente fosse produzida por esta
tensão, o fluxo produzido pela corrente deveria contrariar a variação do fluxo original
dλa f
ea = − = ωLa f i f d sen ωe t [V] (3.22)
dt
Dado que a tensão ea apresenta comportamento senoidal, da mesma forma que o fluxo enlaçado
λa f , pode-se calcular o valor eficaz de ea como dado em (3.23). Note que a tensão eficaz induzida
na fase a depende no nível de excitação do campo2 , dado pela magnitude de i f d .
ωr La f
Ea = √ ifd [V] (3.23)
2
Como pode-se observar a partir de (3.21) e (3.22), ambas as grandezas ea e λa f são funções
senoidais no tempo. Portanto, pode-se analisar a relação entre elas através de fasores. Considerando
o fasor do fluxo enlaçado λa f na referência, pode-se concluir que o fasor E a , associado à tensão de
fase ea , encontra-se 90° atrasado com relação a λa f , como mostrado na Figura 3.3. Desta forma,
tem-se as seguintes expressões fasoriais.
La f i f d ◦
λa f = √ 0 [Wb.e] (3.24a)
2
ωr La f
E a = − j √ i f d = − jEa = − jωr λa f [V] (3.24b)
2
Assumindo, agora, que o gerador síncrono seja conectado a uma carga equilibrada com impe-
dância Z, como ilustrado na Figura 3.4, um conjunto de correntes também trifásico e equilibrado
passam a fluir pelo estator. Os fasores associados às correntes em cada fase do gerador são expressas
abaixo.
Ea
Ia = [A] (3.25a)
Z
Eb
Ib = = I a −120◦ [A] (3.25b)
Z
Ec
Ic = = I a 120◦ [A] (3.25c)
Z
2
A magnitude da corrente de campo, i f d , também pode ocasionar saturação do circuito magnético do campo,
tornando a relutância R maior e, consequentemente, reduzindo o valor da indutância La f [10, 11].
38 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
Ib
Z
Eb
B φf d
θe = ωe t
Ea
Ia
Z
Ec Z
C
Ic
φbs
φf d
θe = ωet
φas
φcs
Figura 3.5 – Fluxos de reação de armadura produzidos no estator.
Na medida em que correntes fluem pelas fases do estator, fluxos magnéticos φas , φbs e φcs
são produzidos pelas fases a, b e c, respectivamente. Estes fluxos, por sua vez, alteram o fluxo
magnético resultante no interior da máquina. Esta parcela de fluxo magnético devido à circulação
de corrente pela armadura é chamado de fluxo de reação de armadura.
Esta alteração do campo no interior da máquina pode ser medido para cada fase independente-
mente. Como ilustrado na Figura 3.5, a influência das reações de armadura de todas as fases na fase
a pode ser calculada através de projeções dos fluxos magnéticos φas , φbs e φcs no eixo magnético
da fase a. Neste caso, tendo em vista a defasagem angular de 120° entre as fases, o fluxo enlaçado
pela fase a devido à reação de armadura é dado por (3.26).
φbs φcs
= Na φas − − [Wb.e] (3.26)
λas
2 2
Os fluxos φas , φbs e φcs , no entanto, dependem da posição do rotor, dado que para cada valor
de θ, cada fase percebe um circuito magnético distinto, com sua respectiva relutância, devido à
saliência do rotor. Uma prática comumente utilizada na análise de máquinas síncronas consiste
em considerar que o fluxo de reação de armadura em cada uma das fases pode ser decomposto
3.2 Gerador Síncrono 39
Eixo
Direto (d)
φad
θe
φas
φaq
Eixo em
Quadratura (q)
Figura 3.6 – Fluxo de reação de armadura da fase a decomposto em componentes nos eixos direto
e em quadratura.
F MM ad F MM aq
φas = φad + φaq = + [Wb] (3.27)
Rd Rq
Note que em (3.27) cada parcela de fluxo está associada a componentes de força magnetomotriz
correspondentes, F MM ad e F MM aq . Por sua vez, cada componente de força magnetomotriz
relaciona-se a uma componente de corrente correspondente, I ad ou I aq , em fase com as direções d e
q, respectivamente. Procedendo de forma similar para as fases b e c, os fluxos devido às reações de
armadura em cada uma das fases, pode ser reescrito como em (3.28).
Na Na
! !
φas = I ad + I aq [Wb] (3.28a)
Rd Rq
Na Na
! !
φbs = I bd + I bq [Wb] (3.28b)
Rd Rq
Na Na
! !
φcs = I cd + I cq [Wb] (3.28c)
Rd Rq
A soma das componentes de corrente I ad e I aq , por sua vez, devem resultar na corrente I A , que
circula pela fase a. Esta propriedade é expressa por (3.29).
I A = I ad + I aq [A] (3.29)
Substituindo, então, φas , φbs e φcs , dados em (3.28), em (3.26), o fluxo enlaçado total da fase a,
40 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
Na 2 Na 2
! !
λas = I ad + I aq +
Rd Rq
1 Na 2 1 Na 2
! !
− I bd − I bq + (3.30)
2 Rd 2 Rq
1 Na 2 1 Na 2
! !
− I cd − I cq
2 Rd 2 Rq
Já que as correntes das fases a, b e c possuem magnitudes iguais e só se diferenciam pelas fases,
como mostrado em (3.25), pode-se reescrever (3.30) como abaixo.
Na 2 Na 2
λas = I ad + I aq +
Rd Rq
Na 2 Na 2
− I ad −120◦ − I aq −120◦ + (3.31)
2Rd 2Rq
Na 2 Na 2
− I ad 120◦ − I aq 120◦
2Rd 2Rq
Na 2 Na 2 1 1 3 Na 2 3 Na 2
! !
λas = I ad + ◦
I aq · 1 − −120 − 120 = ◦ I ad + I aq (3.32)
Rd Rq 2 2 2 Rd 2 Rq
Definindo as indutâncias Lad e Laq , dadas em (3.33), permite reescrever (3.32) como em (3.34).
3 Na 2 3 Na 2
! !
Lad = Laq = (3.33)
2 Rd 2 Rq
Pode-se observar na Figura 3.7, o fluxo enlaçado λas é resultado de uma combinação linear das
correntes I ad e I aq através das indutâncias associadas aos eixos d e q, Lad e Laq , respectivamente.
Fisicamente, o fluxo enlaçado λas é uma consequência direta do campo girante no interior da
máquina, devido à reação de armadura.
Como o fluxo enlaçado λas varia senoidalmente na fase a, uma segunda componente de tensão
E as é induzida nesta mesma fase, que pela lei de Lenz-Faraday aplicada a fasores, resulta em (3.35).
Assim a tensão de reação de armadura na fase a, E as , pode ser finalmente escrita como mostrado
em (3.37).
A fase a, no entanto, também sofre influência do campo magnético produzido pelo circuito
de campo, como descrito por (3.24). Logo, pelo princípio de superposição, a tensão induzida
3.2 Gerador Síncrono 41
Eixo
Direto (d)
λad = Lad I ad
λas
Eixo em
λaq = Laq I aq Quadratura (q)
Figura 3.7 – Componentes de fluxo enlaçado associados à reação de armadura da fase a do gerador
síncrono.
q I ad
I aq
E ad
E aq
if d
θe = ωe t
Figura 3.8 – Estator representado como dois circuitos, um que induz fluxo no eixo d e outro no
eixo q.
Na Figura 3.9 são ilustrados diagramas fasoriais para a máquina alimentando cargas indutiva e
capacitiva. Para a carga indutiva, a corrente I a se encontra defasada da tensão interna E a por um
ângulo ϕ. Assumindo que a posição do eixo d é conhecida, pode-se decompor I a em I ad e I aq nos
42 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
seus respectivos eixos. As componentes de fluxo λad e λaq são então calculadas individualmente,
através de Lad I ad e Laq I aq , respectivamente. O fluxo enlaçado de reação de armadura na fase a,
λas , é, então obtido da soma fasorial dos fluxos em cada eixo, λad e λaq . Finalmente, a tensão
induzida E as = − jωλas , devido à reação de armadura, é obtida através da lei de Lenz-Faraday
aplicada a fasores (vide (3.24)). Aplicando-se (3.39), obtém-se E ar , a tensão resultante na fase a.
Processo análogo é aplicado para a obtenção do diagrama fasorial da máquina suprindo uma carga
capacitiva. Pode-se notar, ainda, que para a carga indutiva, o fluxo de reação de armadura tende a
reduzir o fluxo estabelecido pelo circuito de excitação, por isto este tipo de carga é conhecida por
desmagnetizar a máquina. O contrário é observado para a carga capacitiva, onde se nota um reforço
no campo de excitação promovido pela reação de armadura.
Até o momento apenas aspectos de magnetização da máquina foram considerados. No entanto,
os condutores que compõe os enrolamentos apresentam resistência e nem todas as linha de fluxo
produzidas pelo circuito de excitação enlaçam o estator e vice-versa. Esta última característica
introduz o efeito chamado de dispersão de linhas de campo, também responsável por quedas de
tensão na máquina. Portanto, descontando da tensão resultante E ar as quedas de tensão devido à
resistência e à indutância de dispersão obtém-se (3.40).
V φ = E ar − Ra I a − jXl I a (3.40)
Define-se, então, duas novas reatâncias, Xd e Xq , como sendo as reatâncias síncronas de eixo
direto e eixo em quadratura, respectivamente.
Desta forma, pode-se, finalmente, reescrever a tensão terminal, por fase, da máquina síncrona
de polos salientes em função de grandezas nos eixos direto e em quadratura como dado abaixo.
Para a montagem de um circuito equivalente por fase para a máquina síncrona de polos salientes,
soma-se e se subtrai o termo jXq I ad de (3.43), que permite escrever (3.44).
Como, tanto E a como o fasor j(Xd − Xq )I ad estão alinhados com o eixo q, define-se E q como
sendo uma parcela de tensão alinhada com o eixo q. Assim (3.44) pode ser reescrita como em
(3.45). Esta expressão permite representar a máquina síncrona de polos salientes através do circuito
equivalente ilustrado na Figura 3.10.
V φ = E q − Ra I a − jXq I a (3.45a)
E q = E a − j(Xd − Xq )I ad (3.45b)
Adotando a tensão terminal da máquina como referência, pode-se traçar o diagrama fasorial
de tensões dada a condição de carga da máquina. Enquanto o gerador estiver suprindo uma carga
indutiva, a corrente de fase I a estará defasada com relação à tensão terminal V φ , como indica a
Figura 3.11(a). Com a corrente I a conhecida, traça-se E q = V φ + Ra I a + jXq I a , obtida de (3.45a).
A tensão E q define a posição do eixo q e, consequentemente, do rotor, alinhado com o eixo d. A
3.2 Gerador Síncrono 43
E as = − jωλas
Eixo q
λad = Lad I ad I ad λa f
Eixo d
λar
ϕ
I aq
E ar Ia
λas λaq = Laq I aq
Ea
ϕ
E as
I aq
Ia
λaq λas λar
Ea
E ar
(b) Carga capacitiva
Figura 3.9 – Diagrama fasorial para gerador síncrono de polos salientes operando sob carga.
jXq Ra
Ia
Eq
Ea Vφ
−
+
j(Xd − Xq )I ad
Figura 3.10 – Circuito equivalente por fase da máquina síncrona de polos salientes.
44 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
tensão interna E a , induzida pela excitação, por sua vez, pode ser obtida a partir de (3.45b), onde
E a = E q + j(Xd − Xq )I ad . As componentes de corrente nos eixos dq, de acordo com o diagrama
fasorial dado na Figura 3.11(a), podem ser obtidas através de rotação de ângulo δ, como mostrado
abaixo.
O raciocínio para um máquina síncrona suprindo uma carga capacitiva é o mesmo descrito
acima, com a diferença que a corrente agora é avançada com relação à tensão terminal, como
ilustrado na Figura 3.11(b).
Adicionalmente, as expressões (3.44) e (3.45) que descrevem o comportamento elétrico da
máquina síncrona de polos salientes em regime permanente, podem tanto ser utilizadas com
grandezas reais por fase (tensões e correntes) como grandezas por unidade.
Pe = P3φ + Ra Ia 2 (3.47)
A relação entre as potências ativa e reativa do gerador síncrono de polos salientes com as
tensões terminal V φ e interna E a pode ser obtida através da expressão para a potência aparente no
terminal da máquina, dada abaixo.
∗
S 3φ = V φ I a [p.u.] (3.48)
Adotando tensões e correntes no sistema referencial dq, como mostrado na Figura 3.11(a),
pode-se considerar E a = Ea , I a = Iaq + jIad e V φ = Vφq + jVφd . Estas considerações permitem
reescrever (3.48) como denotado em (3.49).
S 3φ = Vφq + jVφd · Iaq − jIad = Vφq Iaq + Vφd Iad + j Vφd Iaq − Vφq Iad (3.49)
Separando (3.49) em partes real e imaginária, resulta nas potências ativa e reativa fornecidas
pela máquina, como definidas em (3.50).
De forma a relacionar a potência aparente P3φ e Q3φ com as variáveis internas da máquina,
deve-se primeiramente encontrar relações das correntes Iad e Iaq em função das tensões terminal
V φ e interna E a . A expressão fasorial (3.43), ilustrada através do diagrama fasorial ilustrado na
Figura 3.11(a), pode ser decomposta nos eixos direto e em quadratura, resultando as relações de
correntes e tensões dadas em (3.51).
Eixo d
Ea
j(Xd − Xq )I ad Eixo q
Eq
jXq I aq
I aq jXq I a
δ Ra I a
jXd I ad
Vφ
ϕ
Ia
I ad
I ad Ia j(Xd − Xq )I ad Eixo q
Eq
ϕ I aq jXq I aq
δ jXq I a
Vφ Ra I a
Resolve-se, então, o sistema de equações (3.51) para as magnitudes das correntes Iad e Iaq em
função das tensões interna e terminal da máquina, como mostrado abaixo.
Ea − Vφq Xq + Ra Vφd
Iad = − (3.52a)
Ra 2 + Xd Xq
Ea − Vφq Ra − Xd Vφd
Iaq = (3.52b)
Ra 2 + Xd Xq
Substituindo as correntes Iad e Iaq , dadas acima, nas equações de potência P3φ e Q3φ , dadas em
(3.50), resulta:
Substituindo, então, as relações dadas acima em (3.54), resulta nas relações (3.53), que denotam
explicitamente a dependência entre potências, tensões terminal Vφ e interna Ea , assim como ângulo
de carga δ.
E a Vφ Vφ 2 1 1
!
P3φ ≈ sen δ + − sen (2δ) (3.56a)
Xd 2 Xq Xd
E a Vφ Vφ 2 1 1 Vφ 2 1 1
! !
Q3φ ≈ cos δ − + + − cos (2δ) (3.56b)
Xd 2 Xq Xd 2 Xq Xd
Para o caso do gerador de polos lisos, onde Xd ≈ Xq , (3.56a) pode ser mais uma vez simplificada,
resultando (3.57) abaixo.
E a Vφ
P3φ ≈ sen δ (3.57a)
Xd
Vφ
Q3φ ≈ Ea cos δ − Vφ (3.57b)
Xd
3.2 Gerador Síncrono 47
P3φ
Polos Lisos
Polos Salientes
Relutância
Figura 3.12 – Característica de potência versus ângulo de carga do gerador síncrono (Ra ≈ 0).
A Figura 3.12 ilustra o comportamento da potência entregue pelo gerador síncrono, tanto de
polos salientes como de polos lisos, com resistência de armadura ignorada. A diferença básica entre
as características de potência versus ângulo de carga reside no fato dos geradores de polos salientes
apresentarem uma componente de conjugado adicional associado à tendência do campo resultante
se alinhar com a direção de relutância mínima, ou seja, o eixo direto. Por este motivo, este termo é
conhecido como potência de relutância ou saliência. É importante notar que para os geradores de
polos salientes o máximo ângulo de carga ocorre para valores inferiores aos 90°, observados para o
gerador de polos lisos. Em contraposição a este efeito, observa-se que o valor máximo de potência
desenvolvida pelo conjunto turbina gerador aumenta, para geradores de polos salientes.
Como observado na seção 3.2.2, a potência desenvolvida pelo conjunto turbina/gerador depende,
dentre outras variáveis, do ângulo δ de carga do gerador, medido com relação à fase da tensão
terminal da máquina. Neste caso, assume-se que a tensão de referência apresenta frequência angular
constante ωe0 . Neste caso, o ângulo elétrico θe percorrido pela tensão interna da máquina pode ser
visualizado através do diagrama fasorial ilustrado na Figura 3.13.
Tendo em vista que a máquina síncrona em questão pode ser dotada de p polos, a relação entre
o ângulo mecânico θr percorrido pelo rotor, e o ângulo elétrico θe , percorrido pelas tensão interna,
48 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
Eixo q
Ea
Eixo d
θe
δ Vφ
ωe0 t
ref.
2
!
θr = θe [rad] (3.59)
p
dθr 2 dδ
! !
= ωr = ωe0 + [rad/s] (3.60)
dt p dt
Pode-se, então, concluir que a taxa de variação do ângulo de carga está diretamente ligada ao
desvio de velocidade angular, dado em (3.6), como mostrado em (3.61).
dδ p p p
= ωr − ωe0 = (ωr − ωr0 ) = ω [rad/s] (3.61)
dt 2 2 2
pu
p ω = ωrB ω . Esta última relação quando
Utilizando grandezas por unidade, pode-se escrever
aplicada em (3.61) resulta em (3.62), onde ωB = 2 ωrB corresponde ao valor base de frequência
angular elétrica.
dδ p
= ωrB ω pu = ωB ω pu [rad/s] (3.62)
dt 2
Combinando, finalmente, (3.62) com (3.18), resulta o sistema de equações diferenciais não-
lineares dado em (3.63). Este sistema caracteriza o acoplamento eletromecânico existente entre
o sistema elétrico e à massa girante associada ao conjunto turbina/gerador. Este acoplamento é
realizados pela indução magnética que ocorre no interior da máquina síncrona.
dδ
= ωB ω [rad/s]
dt
(3.63)
dω 1
= Pm − Pe − Dω [p.u./s]
dt 2H
3.2 Gerador Síncrono 49
λb
λas (t) λc
λa
λb f (t)
λa f 0 λc f (t)
θ
λb f 0 θ
θ
λc f 0
Figura 3.14 – Conservação de fluxo nas fases de um gerador síncrono sob curto-circuito trifásico.
λa f (0+) = λa f 0 = N s φ f
λa f (t) = N s φ f cos θ
1
λb f (t) = N s φ f cos(θ − 120◦ ) =⇒ λb f (0+) = λb f 0 = − N s φ f (3.64)
2
◦ 1
λc f (t) = N s φ f cos(θ + 120 )
λc f (0+) = λc f 0 = − N s φ f
2
Como nos instantes subsequentes ao curto-circuito o rotor continua girando, o circuito de
excitação continua a enlaçar campo nas fases. Então, para que os fluxos nas fases sejam conservados,
fluxos extras na armadura devem surgir de forma a cancelar o fluxo enlaçado do campo após o
curto-circuito, como denotado em (3.65). Note que os fluxos de reação de armadura, λas , λbs e λcs ,
são o resultado da circulação de correntes com componentes contínuas (CC) e alternadas (CA) no
estator, como também pode ser observado na Figura 3.14.
Os fluxos de reação de armadura, por sua vez, influenciam também os circuitos de excitação e
enrolamentos amortecedores presentes no rotor da máquina. De forma a verificar esta influência,
pode-se calcular as projeções dos fluxos de reação de armadura na direção do eixo magnético do
circuito de excitação. As projeções de cada uma das componentes CA e CC são apresentadas
em (3.66) e (3.67), respectivamente. Pode-se observar que a componente de fluxo CA do estator
50 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
i
λ λR (t) i
i f d (t)
i f d0 ikd (t)
Figura 3.15 – Conservação de fluxo no rotor de um gerador síncrono sob curto-circuito trifásico.
produz um novo campo girante no interior da máquina de mesma velocidade do rotor, induzindo,
portanto, um novo campo CC no rotor com tendência de desmagnetização do circuito de excitação.
Já a componente CC de fluxo do estator é vista pelos circuitos do rotor como variantes no tempo.
ROT OR 3
λCA (t) = −λa f (t) cos θ − λb f (t) cos θ − 120◦ − λc f (t) cos θ + 120◦ = − N s φ f (3.66)
2
ROT OR 3
λCC (t) = λa f 0 cos θ + λb f 0 cos θ − 120◦ + λc f 0 cos θ + 120◦ = N s φ f cos θ (3.67)
2
Analogamente ao que ocorre no estator, os circuitos do rotor também devem conservar seus
fluxos enlaçados iniciais nos instantes subsequentes ao curto-circuito. Por este motivo, as influências
do estator no rotor dever ser compensadas individualmente por cada enrolamento do rotor. Ou seja,
o fluxo λR , dado em (3.68) e ilustrado na Figura 3.15(a), deve ser induzido nos circuitos do rotor de
forma a cancelar a reação de armadura do curto-circuito. Para que isto ocorra, correntes de mesma
característica devem ser sobrepostas às existentes antes do curto, como mostram as Figuras 3.15(b)
e 3.15(c) para o circuito de excitação ( f d) e um enrolamento amortecedor (kd).
ROT OR ROT OR 3 3
λR = −λCA (t) − λCC (t) = N s φ f − N s φ f cos θ (3.68)
2 2
Após algum tempo durante o curto-circuito, no entanto, a energia contida nos fluxos capturados
nos diversos enrolamentos da máquina passa a ser dissipada através das resistências dos mesmos.
Desta forma, durante o curto, observa-se o decaimento exponencial destes fluxos iniciais de acordo
com as constantes de tempo de cada circuito. Os fluxos capturados pelo estator decaem de acordo
com a constante de tempo de armadura T a , que depende da natureza do curto, distância elétrica
do gerador, carregamento da máquina, etc. Além das componentes de corrente CC presentes no
estator, as componentes CA do rotor, produzidas pelas anteriores, também decaem com a mesma
constante de tempo de armadura T a .
As componentes CA de fluxo de reação de armadura no estator e componentes CC associadas no
rotor, interagem com dinâmicas associadas a constantes de tempo intimamente ligadas ao circuito
de excitação e aos enrolamentos amortecedores. Desta forma, em regime permanente, restam
apenas componentes CA do estator e componentes CC do rotor.
correntes, principalmente as do estator, torna-se fundamental verificar que para diferentes períodos
do curto-circuito, os caminhos dos fluxos magnéticos produzidos pela reação de armadura mudam
de meio.
Antes da aplicação do curto-circuitos nos terminais da máquina, a máquina opera em regime
permanente. Neste regime de operação, o fluxo resultante no interior da máquina é decomposto em
suas componentes de eixo direto e de eixo em quadratura, como detalhado em seção 3.2.1. Esta
decomposição pode ser vista no interior da máquina através da Figura 3.16(a). A componente de
eixo direto atravessa toda a extensão do polo e a relutância do circuito se resume àquela associada
ao entreferro, caso o material não esteja saturado. Como definido anteriormente, associada a esta
relutância define-se a reatância síncrona de eixo direto Xd . Já a componente de campo do eixo em
quadratura, atravessa a região interpolar, onde o entreferro é mais pronunciado, principalmente
nas máquinas de polos salientes. Nestas condições define-se a reatância síncrona de eixo em
quadratura Xq . Geralmente, verifica-se que Xd é superior a Xq .
Imediatamente após a aplicação do curto-circuito, como foi observado na seção anterior, o fluxo
tanto nos eixos direto como em quadratura devem se conservar durante o período sub-transitório
do curto. Durante este período, tanto os enrolamentos amortecedores como o circuito de excitação
impedem a penetração do fluxo de reação de armadura devido ao curto no interior da máquina.
Isto decorre diretamente da conservação do fluxo no interior da máquina. Como a resistência
dos enrolamentos amortecedores é muito superior àquela observada no circuito de excitação, a
energia contida nos enrolamentos amortecedores é dissipada mais rapidamente. Este processo é
caracterizado pelas constantes de tempo sub-transitórias de curto-circuito, T d00 e T q00 , associadas aos
enrolamentos amortecedores definidas para cada eixo. De acordo com [9, 12], T d00 e T q00 equivalem a
35 ms, em média, ou seja, em torno de dois ciclos em 60 Hz.
Na medida em que a energia nos enrolamentos amortecedores é dissipada, o efeito de repulsão
ao fluxo de reação de armadura é reduzido. Com isto, o fluxo penetra na região onde estão alojados
os enrolamentos amortecedores. No entanto, o circuito de excitação, cuja resistência é muito
inferior àquela observada nos enrolamentos amortecedores, ainda se encontra ativo, impedindo a
variação do fluxo no seu interior. O intervalo de tempo no qual o circuito de excitação impede que
o fluxo de reação de armadura altere significativamente o fluxo resultante no polo é denominado
período transitório e é caracterizado pela constante de tempo transitória de curto-circuito de eixo
direto T d0 , que pode assumir valores entre 0,4 s a até 3,3 s [9, 12]. Para o eixo em quadratura, no
entanto, o processo depende do tipo de rotor, devido à ausência de circuito de excitação no eixo em
quadratura. Os rotores de polos lisos são normalmente construídos com material ferromagnético
não- laminado (inteiro), ao contrário dos rotores com polos salientes. Esta característica dos polos
lisos permite a indução de correntes parasitas nas mais diferentes direções dentro do rotor, cujas
dinâmicas são de difícil modelagem. Para a caracterização de correntes parasitas com dinâmicas
distintas, tipicamente, considera-se um enrolamento amortecedor de eixo em quadratura adicional,
com constante de tempo superior àquela utilizada para o período sub-transitório. Esta, por sua vez,
é denominada constante de tempo transitória de curto-circuito de eixo em quadratura T q0 , que pode
variar em torno de 0,15 s até 1 s [4]. No caso de polos salientes, como ilustrado na Figura 3.16(c),
normalmente não se considera o efeito transitório, apenas sub-transitório.
Com relação às reatâncias vistas durante o período sub-transitório, pode-se observar a Fi-
gura 3.16(b). Nesta ilustração, nota-se que as linhas de campo associadas à reação de armadura,
devido à repulsão gerada pelos enrolamentos amortecedores, são forçadas a circular pelo ar. Neste
caso, as relutâncias vistas pelas linhas de campo são muito maiores que àquelas observadas em
regime permanente. Ou seja, durante o período sub-transitório, as reatância equivalentes da máquina
são reduzidas consideravelmente. Estas reatâncias é denominadas reatâncias sub-transitórias de
eixo direto (Xd00 ) e de eixo em quadratura (Xq00 ). Tipicamente, Xd00 Xd e Xq00 Xq e, devido a
similaridade entre as relutâncias observadas tanto pelo eixo direto como pelo eixo em quadratura,
52 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
Período sub-transitório (T d00 e T q00 ): A corrente no estator é função da tensão terminal da má-
00
quina e da tensão sub-transitória E assumida constante.
00
V φ = E − Ra I a − jXd00 I d − jXq00 I q (3.69)
Desconsiderando a saliência sub-transitória, ou seja, Xd00 ≈ Xq00 , a corrente no estator é dada
por
00
V φ = E − Ra I a − jXd00 I a (3.70)
00
Relacionando E com a tensão interna de regime permanente Ea , originada pelo campo da
máquina, vem:
00
E − Ra I a − jXd00 I d − jXq00 I q = E a − Ra I a − jXd I d − jXq I q
00
E a = E + j Xd − Xd00 I d + j Xq − Xq00 I q
(3.71)
Período transitório (T d0 e T q0 ): A corrente no estator é função da tensão terminal da máquina e
0
da tensão transitória E assumida constante.
0
V φ = E − Ra I a − jXd0 I d − jXq0 I q (3.72)
0
Relacionando E com a tensão interna de regime permanente Ea , originada pelo campo da
máquina, vem:
0
E a = E + j Xd − Xd0 I d + j Xq − Xq0 I q
(3.73)
No caso da máquina de polos salientes Xq0 = Xq , enquanto que Xq0 ≥ Xd0 , independentemente
0
da construção do rotor. Assim, a relação da tensão transitória E com a tensão interna de
0
regime permanente Ea , é dada por (3.74). Nesta expressão, nota-se que ambos os fasores E
e E a devem estar alinhados com o eixo em quadratura, já que jI d também está.
0
E a = E + j Xd − Xd0 I d
(3.74)
3.2 Gerador Síncrono 53
V φ = E a − Ra I a − jXd I a (3.76)
Exemplo 3.1 — Correntes de curto-circuito com máquina em vazio. Assumindo, por exem-
plo, uma máquina de polos salientes operando em vazio submetida a um curto-circuito trifásico
franco em seus terminais. Excluindo-se a componente CC com decaimento associado à cons-
tante de tempo da armadura (T a ), a magnitude da corrente de curto-circuito pode ser escrita
como mostrado em (3.77). Nesta expressão são explicitadas as componentes sub-transitória (I000 ),
transitória (I00 ) e de regime permanente (I0 ), associadas às suas respectivas constantes de tempo.
− Tt0 − Tt00
Im (t) = I0 + I00 e d + I000 e d (3.77)
Como a máquina de polos salientes opera em vazio na condição pré-falta (antes do curto-
circuito), só existe fluxo no eixo direto (devido à excitação). Logo, a reação de armadura,
durante o curto só atua sobre o eixo direto (assumindo Ra ≈ 0). Assim I q = 0 (inclusive durante
00 0
o curto) e E = E = E a , devido à condição pré-falta.
Para o cálculo das correntes I0 , I00 e I000 , sabe-se que em t = 0+, a corrente na armadura é
determinada pela reatância sub-transitória Xd00 , como mostrado abaixo.
Ea
= I0 + I00 + I000
Xd00
Para um tempo bastante superior ao período sub-transitório (T d00 ) só que ainda pequeno
com relação à constante transitória (T d0 ), ou seja T d00 t < T d0 , a corrente é determinada pela
reatância transitória Xd0 , como mostrado abaixo.
Ea
= I0 + I00
Xd0
Ea Ea
I000 = −
Xd00 Xd0
Ea Ea
I00 = 0 −
Xd Xd
Ea
I0 =
Xd
3.2 Gerador Síncrono 55
Ea Ea Ea − Tt0 Ea Ea − Tt00
! !
Im (t) = + 0 − e d + 00 − 0 e d (3.78)
Xd Xd Xd Xd Xd
i00
cc
Componente Subtransitória (T d00 )
icc
t[s]
j(Xq − Xq0 )I aq
Ea
j(Xd − Xd0 )I ad
d
I aq α 0
E jXq0 I aq
δ
δ0
ϕ
Vφ jXd0 I ad
Ra I a
Ia
I ad
Resolvendo o sistema de equações (3.79) para as correntes Iaq e Iad obtém-se (3.80).
jXd0 Ra
Ia
0
E Vφ
Figura 3.19 – Circuito equivalente por fase da máquina síncrona segundo o modelo transitório
clássico.
Eq0 Vφ Vφ 2 1 1
!
P3φ = sen δ − − sen(2δ) (3.83)
Xd0 2 Xd0 Xq0
A característica de potência elétrica pode ser obtida a partir de (3.55), trocando as reatâncias
de regime permanente pelas de regime transitório, assim como a tensão interna Ea pela tensão
transitória E 0 e ignorando a resistência de armadura Ra . O resultado é mostrado em (3.85).
E 0 Vφ
P3φ = sen δ0 (3.85)
Xd0
Na expressão acima nota-se que o ângulo de potência não mais representa a posição do eixo
q com relação à referência do terminal, como também ilustra o diagrama fasorial mostrado em
0
Figura 3.18. No entanto, considerando-se que a diferença angular α entre E a e E permanece
praticamente constante durante o período transitório da máquina, as variações de δ e δ0 podem ser
consideradas idênticas, como mostra (3.86).
dδ dδ0
δ = δ0 + α =⇒ = (3.86)
dt dt
Para o cálculo das condições iniciais, inicia-se com o cálculo da corrente de armadura I a .
P3φ − jQ3φ 1,00 − j0,50
Ia = = = 1,0164 −26,57◦ [pu]
Vφ 1,10
Com a corrente I a , calcula-se a tensão E q , cuja fase define a posição do eixo q do gerador,
ou seja, δ0 .
Logo δ0 = 0,6705 [rad] = 38,42◦ . Com a posição do eixo q definida pode-se encontrar as
componentes Id e Iq da corrente de armadura I a como mostrado a seguir.
A tensão transitória, por sua vez, é calculada através da relação (3.73). Considerando os fasores
0
no sistema referencial qd, onde E a = Ea , E = Eq0 + jEd0 , I q = Iq e I d = jId , pode-se obter a
seguinte expressão complexa.
0
E = Eq0 + jEd0 = Ea + Xd − Xd0 Id − j Xq − Xq0 Iq
Com a condição inicial estabelecida pode-se então obter as potências elétricas desenvolvidas
pela máquina nos períodos transitório P0e (δ) e de regime permanente Pe (δ). Como a resistência da
armadura foi ignorada, estas potências são obtidas através de (3.83) e (3.56a), respectivamente.
Eq0 Vφ Ed0 Vφ Vφ 2 1 1
!
P0e (δ) = sen δ + cos δ − − sen(2δ) =
Xd0 Xq0 2 Xd0 Xq0
= 5,135 sen (δ) − 1,038 sen (2δ) − 1,506 cos (δ) [pu]
Ea Vφ Vφ 2 1 1
!
Pe (δ) = sen δ + − sen(2δ) =
Xd 2 Xq Xd
= 1,588 sen (δ) + 0,01384 sen (2δ) [pu]
3.3 Problemas 59
0
Considerando o modelo clássico, calcula-se E como mostrado a seguir.
0
E = V φ + jXd0 I a = 1,10 + j0,23 · 1,0164 −26,57◦ = 1,2226 9,85◦
Desta forma δ00 = 0,1719 [rad] = 9,85◦ e E 0 = 1,22 [pu]. Assim a característica de potência
elétrica para o modelo clássico resulta na expressão abaixo, onde α = δ0 − δ00 = 0,4986 [rad].
E 0 Vφ
Pclass = sen δ0 = 5,847 sen δ0 = 5,847 sen (δ − 0,4986) [pu]
e 0
Xd
8
Pe
P0e
(118,53◦ ; 6,10)
6 Pclass
e
Pm
Pe [pu]
2 (89,00◦ ; 1,59)
0
0 30 60 90 120 150 180 210
δ [◦ ]
Problemas
Problema 3.1 Seja um gerador acoplado a uma turbina operando em regime permanente nominal,
quando a carga do gerador é reduzida em 20%. Adotando D igual a 2 pu, responda:
a) Calcule a velocidade angular de regime permanente após a perturbação, indicando se ocorre
redução ou aumento de velocidade.
b) Dado que 95% do valor de regime permanente da velocidade é atingido em 30 s, estime o
valor da constante de inércia H. (Considere ln (0,05) = −3)
Problema 3.2 Seja o circuito magnético equivalente ilustrado na Figura P.3.1. Sabendo-se que este
circuito é sujeito a perturbações de tensão (e) na forma de degraus, calcule a indutância equivalente
do circuito, vista pelos terminais, para os instantes imediatamente após uma perturbação e para o
regime permanente.
60 Capítulo 3. Modelos Matemáticos para Estabilidade Angular
rs Ls
Para a condição nominal de operação do gerador de Angra II com a tensão terminal constante,
descrito acima, calcule:
a) Corrente de armadura, tensão interna e ângulo de carga da máquina.
b) Corrente de armadura nos eixos direto e em quadratura.
c) Tensão terminal nos eixos direto e em quadratura.
d) Tensão subtransitória nos eixos direto e em quadratura.
e) Tensão transitória nos eixos direto e em quadratura.
f) Escreva as equações diferenciais desta máquina para variações lentas.
g) Escreva as equações diferenciais desta máquina para o período transitório.
h) Calcule as condições iniciais da máquina empregando o modelo clássico transitório.
i) Considerando um curto-circuito trifásico franco aplicado nos terminais da máquina e remo-
vido após 100 ms:
i) Calcule a corrente subtransitória durante o curto-circuito.
ii) Calcule a corrente transitória durante o curto-circuito.
iii) Calcule a corrente de regime permanente de curto-circuito.
iv) Estime o desvio velocidade angular percentual do rotor e o ângulo de carga no momento
da remoção do curto.
Problema 3.5 Repita o Problema Problema 3.4 para uma máquina da usina hidrelétrica de Tucuruí
de 390 MVA, 60 Hz, cujos parâmetros elétricos são dados abaixo.
Problema 3.6 Repita o Problema Problema 3.4 com a máquina de Angra II despachada em
1200 MW com fator de potência 0,95 capacitivo.
Problema 3.7 Repita o Problema Problema 3.5 com a máquina de Tucuruí despachada em 300 MW
com fator de potência 0,95 capacitivo.
4. Sistemas Máquina contra Barra Infinita
Como discutido na seção 1.4, estudos de estabilidade angular de sistemas elétricos de potência
podem se dividir em, basicamente, dois tipos: estabilidade em regime permanente e transitória.
O primeiro tipo parte de uma condição de regime permanente, caracterizada por uma situação
em que as variáveis de estado e controle de um sistema podem ser considerados constantes, para
efeito de análise [2].
Caso mudanças ou variações sejam promovidas às variáveis de estado do sistema, diz-se o
sistema sofreu uma perturbação. No contexto da estabilidade em regime permanente pretende-se
avaliar o comportamento dinâmico do sistema frente a pequenas perturbações. Esta perturbações são
consideradas pequenas caso seja possível a análise do sistema (não-linear) através linearizações em
torno de condições de regime permanente de interesse. Variações de parâmetros de controladores e
variações incrementais de carga ao longo de um dia podem ser consideradas pequenas perturbações.
Desta forma, um sistema de potência operando em uma dada condição operativa será conside-
rado estável em regime permanente, caso o ponto de equilíbrio original do sistema seja praticamente
reestabelecido após uma variação incremental em uma ou várias de suas variáveis de estado.
Por outro lado, para uma análise da estabilidade transitória, o sistema é analisado quando
submetido a uma perturbação de grande impacto, como, por exemplo, um curto-circuito seguido
da abertura de uma linha de transmissão ou perda de uma unidade geradora. Nestas situações o
sistema será avaliado transitoriamente estável, caso seja capaz de manter o sincronismo entre todas
as máquinas conectadas à rede durante o período que decorre a primeira oscilação de potência
no sistema. Sincronismo, neste sentido, representa a característica dos geradores conectados a
uma determinada rede equilibrarem conjugados elétricos e mecânicos, não necessariamente na
frequência nominal, possibilitando assim a transferência de energia às cargas.
Mais especificamente, neste capítulo será analisado o problema da estabilidade angular em
sistemas com uma máquina síncrona e uma barra infinita ou outra máquina síncrona, como o
ilustrado na Figura 4.1, para os quais os conceitos de estabilidade em regime permanente e
transitório serão estudados em detalhe. A barra infinita, usualmente, representa um sistema de
grande porte cujas magnitude de tensão e frequência permanecem constantes. Considerando o
sistema dotado de reatância equivalente XT H e a tensão da barra infinita V ∞ , pode-se relacionar a
62 Capítulo 4. Sistemas Máquina contra Barra Infinita
Vφ V∞
jXT H
∞
V t = V ∞ + jXT H I a (4.1)
Nota-se que (4.5) está relacionada à energia cinética absorvida ou entregue pelo sistema
combinado do gerador e turbina. Pode-se observar que variações positivas de velocidade (ω2 > ω1 )
requerem que a integral da potência acelerante Pa (δ) em função do ângulo δ seja também positiva, e
vice-versa. Para a análise da estabilidade do sistema segundo o critério de Lyapunov (teoremas 2.1
e 2.2), considera-se então a função (4.6), onde δ0 representa o ângulo de carga do gerador na
condição operativa sob estudo. Note que para uma condição de equilíbrio inicial V(δ0 , 0) é nula.
Z δ
V(δ, ω) = H ωB ω2 − Pa (δ) dδ (4.6)
δ0
4.1 Critério das Áreas Iguais 63
Exemplo 4.1 — Verificação dos Pontos de Estacionários de V(δ, ω). De acordo com o Te-
orema 2.1, a função de Lyapunov V(δ, ω) deve ser tal que os pontos de equilíbrio (δ0 ,0) do
sistema (4.2) devem também ser pontos estacionários de V(δ, ω). Esta condição é constatada
verificando-se que o gradiente ∇V(δ, ω) abaixo se anula exatamente nos pontos de equilíbrio de
(4.2).
∂V
= −Pa (δ) = 0 =⇒ Pm = Pe (δ)
∂δ
∂V
= 2ωB H ω = 0 =⇒ ω=0
∂ω
Deve-se também garantir que a função de Lyapunov é sempre estacionária ou decrescente,
ou seja, V̇(δ, ω) ≤ 0. Neste caso, tem-se:
dV ∂V dδ ∂V dω
= + =
dt ∂δ dt ∂ω dt
= −Pa (δ) ωB ω + ωB ω Pa (δ) − D ω = −ωB D ω2 < 0
Pode-se observar que como D ≥ 0, a taxa de variação de energia do sistema dada por V̇(δ, ω)
é sempre não-crescente.
Por último, a função V(δ, ω) deve ser positiva definida em pelo menos um ponto de equilíbrio
de (4.2). Para isto, verifica-se se a matriz hessiana H(δ, ω) abaixo apresenta valores principais
positivos em (δ0 ,0).
∂2 V ∂2 V
" dPa # " dPe
0 0
#
∂δ2 ∂δ∂ω − dδ
H(δ, ω) = = = dδ
∂2 V ∂2 V 0 2ωB H 0 2ωB H
∂ω∂δ ∂δ2
Para que a matriz hessiana seja positiva definida no ponto de equilíbrio (δ0 ,0), a variação da
potência elétrica Pe (δ) do gerador com relação ao ângulo de carga δ deve ser positiva, ou seja,
dPe
dδ δ0
> 0. Como visto na seção 3.2.6, a condição de equilíbrio que satisfaz esta condição é
aquela com menor ângulo para uma mesma potência mecânica Pm . Esta taxa de variação da
potência com relação ao ângulo é denominada coeficientes de potência sincronizante, como
definido em Definição 4.1.1.
Desta forma, considera-se (δ0 ,0) um ponto de equilíbrio estável, com coeficiente de potência
sincronizante positivo e, (δmax ,0) um ponto de equilíbrio instável, associado a um coeficiente de
potência sincronizante negativo.
há duas possibilidades para o ângulo de carga, δ01 e δ02 , para um mesmo valor de potência
elétrica sincronizada com o sistema. Esta potência elétrica, por sua vez, é idêntica à potência
Pm desenvolvida pela máquina primária quando o sistema opera em regime permanente.
Primeiramente, assume-se que o ângulo de carga seja δ0 . Caso ocorra um aumento lento e
suficientemente pequeno potência desenvolvida pela turbina, a máquina sofre uma aceleração
correspondente. Esta aceleração, por sua vez aumenta a velocidade angular da máquina e,
consequentemente, o ângulo de carga. Como a máquina operava, inicialmente, nas proximidades
de δ0 , ocorre um aumento na potência elétrica fornecida pelo gerador. Como ambas as potências,
mecânica e elétrica, apresentam tendência idênticas (de aumento), a aceleração da máquina
eventualmente cessa e o gerador passa a fornecer uma potência superior no fim do processo de
tomada de carga. Nota-se, portanto, que o sistema apresentou um comportamento estável, já
que permaneceu operando nas intermediações de δ0 .
Assume-se agora que a máquina opere com ângulo de carga δmax . Se o mesmo aumento lento
e suficientemente pequeno seja produzido na potência desenvolvida pela turbina, a máquina sofre,
novamente, uma aceleração. Esta aceleração, por sua vez, causa um aumento na velocidade
da máquina e, consequentemente, no seu ângulo de carga. No entanto, como a máquina
operava, inicialmente, nas proximidades de δmax , ocorre um decréscimo na potência elétrica
fornecida pelo gerador, com um aumento do ângulo de carga. Este efeito intensifica a aceleração
experimentada pelo gerador, que move rapidamente para longe do ponto de equilíbrio inicial,
associado a δmax . Nota-se, portanto, que o sistema apresentou um comportamento instável, já
que não permaneceu nas intermediações de δmax .
Pode-se concluir então que, para o sistema máquina-barramento infinito, o sistema é estável
em regime permanente caso o coeficiente de potência sincronizante da máquina seja positivo.
Caso o coeficiente de potência sincronizante for negativo, o sistema se apresenta instável.
P3φ
P s (δmax ) < 0
Pm
P s (δ0 ) > 0 δmax
0 δ0 90 180 δ[◦ ]
Pa (δ) ao longo de qualquer trajetória entre (δ0 , 0) e (δmax , 0), como mostrado em (4.8), deve ser
sempre negativa para que o sistema seja estável.
Z δmax
Pa (δ) dδ < 0 (4.8)
δ0
De forma a ilustrar esta característica, assume-se que uma perturbação temporária seja aplicada
ao sistema (por exemplo, um curto-circuito nos terminais do gerador). Assim, pode-se considerar
dois períodos distintos para o cálculo da integral acima: um durante a perturbação e outro após
pos
a eliminação da perturbação, caracterizados por Pdur a (δ) e Pa (δ), respectivamente. Neste caso,
adotando δc como o ângulo do rotor no momento da eliminação da perturbação (por exemplo, após
uma aceleração da máquina), a integral acima pode ser reescrita da seguinte forma:
Z δc Z δmax
pos
Pdur
a (δ) dδ + Pa (δ) dδ < 0
δ0 δc
Portanto, para que a condição de estabilidade de Lyapunov seja respeitada, a soma das integrais
pos
de Pdur
a (δ) e Pa (δ) com relação a δ deve ser negativa. Além disto, como cada integral representa
uma área no plano P × δ, pode-se ainda estabelecer a seguinte desigualdade:
onde,
Z δc
A1 (δ0 , δc ) = Pdur
a (δ) dδ
δ0
Z δmax
pos
A2 (δc , δmax ) = Pa (δ) dδ
δc
ou seja, passa a devolver ao sistema a energia cinética adquirida durante o curto-circuito. O desvio
de velocidade ω, durante este período de desaceleração, pode ser obtido novamente a partir de (4.5),
tomando-se ω1 = ωc , resultando (4.11). A energia de desaceleração pós-falta é genericamente
caracterizada pela área A2 (δc , δ2 ), que é função do ângulo δc , observado no instante da eliminação
do curto-circuito, e do ângulo δ2 , resultado da desaceleração da máquina. A área A2 (δc , δ2 ) é
também ilustrada no plano P-δ na Figura 4.3(a).
Z δ2
2 2
H ωB ω2 − ωc = − Pe (δ) − Pm dδ = −A2 (δc , δ2 ) (4.11)
δc
Na Figura 4.3(a) é ilustrada uma situação em que a área aceleração A1 (δc ) é totalmente
compensada pela área de desaceleração A2 (δc , δ2 ), dado que δ2 < δmax . Caso o tempo de duração
do curto-circuito aumente, o ângulo δc também aumenta, assim como a área de aceleração A1 (δc ),
que, consequentemente, requer uma área de desaceleração A2 (δc , δ2 ) ainda maior. Logo, nota-se
que o ângulo δc pode crescer até no máximo o valor δcr , quando δ2 = δmax , e a área de aceleração A1
se iguala exatamente à área de desaceleração A2 disponível no sistema. Este valor δcr é conhecido
como ângulo crítico de aceleração e está associado ao tempo crítico de aceleração tcr . Esta situação
limite de eliminação do curto-circuito é ilustrada na Figura 4.3(b). Para esta situação crítica, o valor
δcr pode ser obtido através de (4.13), fazendo δ2 = δmax e δc = δcr , resultando (4.14).
Caso o tempo de duração do curto seja superior ao tempo crítico tcr , a área de desaceleração A2
torna-se negativa para ângulos δ2 > δmax . Neste caso, o desvio de velocidade ω2 , obtido através de
(4.12), nunca se anula, tornando a taxa de variação do ângulo δ sempre positiva instabilizando o
sistema. Esta situação é ilustrada na Figura 4.3(c). Quando ângulo relativo entre o gerador e a barra
infinita cresce indefinidamente, conclui-se que o gerador perde o sincronismo com a barra infinita.
Dado o ângulo crítico δcr pode-se calcular um tempo crítico aproximado tcr tomando que
durante o curto a potência acelerante é igual à potência aplicada pela turbina, ou seja, Pa (δ) = Pm .
Nesta caso, o desvio de velocidade ω(t) e o ângulo δ(t) podem ser obtidos por meio de integração
da equação de oscilação, dada em (4.2), no tempo, como mostrado abaixo.
Z t
Pm Pm t
ω(t) = ω(0) + dt = (4.15)
0 2H 2H
t
ωb Pm t ωb Pm t2
Z
δ(t) = δ0 + dt = δ0 + (4.16)
0 2H 4H
4.1 Critério das Áreas Iguais 67
Como o ângulo crítico δcr = δ(tcr ), pode-se calcular o tempo crítico tcr através (4.17) abaixo.
s
2
ωb Pm tcr H (δcr − δ0 )
δcr = δ0 + =⇒ tcr = 2 (4.17)
4H ωb Pm
68 Capítulo 4. Sistemas Máquina contra Barra Infinita
P3φ P3φ
A2
A2
Pm Pm
A1 A1
δ0 δc δ2 δmax δ δ0 δcr δmax δ
tc tcr
t t
P3φ
A2
Pm
A1
δ0 δc > δcr δ2 δ
t > tcr
(c) Instável
Exemplo 4.2 — Aplicação em Sistema Máquina - Barra Infinita. De forma a ilustrar o crité-
rio de igualdade de áreas, considera-se um gerador síncrono hidráulico com polos salientes
conectado diretamente a uma barra infinita. O parâmetros do gerador são: Xd = 0,93 [pu],
Xd0 = 0,30 [pu], Xq = 0,69 [pu], Xq0 = Xq . Assumindo que o gerador opere entregando potência
ativa P3φ = 1,00 [pu] e potência reativa Q3φ = 0,50 [pu] com tensão terminal Vφ = 1,10 [pu].
Para o cálculo das condições iniciais, inicia-se com o cálculo da corrente de armadura I a .
P3φ − jQ3φ 1,00 − j0,50
Ia = = = 1,0164 −26,57◦ [pu]
Vφ 1,10
Com a corrente I a , calcula-se a tensão E q , cuja fase define a posição do eixo q do gerador,
ou seja, δ0 .
Logo δ0 = 0,4176 [rad] = 23,93◦ . Com a posição do eixo q definida pode-se encontrar as
componentes Id e Iq da corrente de armadura I a .
A tensão transitória de eixo em quadratura, Eq0 , é calculada através da relação (3.74), que na
forma algébrica, ao longo do eixo q, resulta
Eq0 Vφ Vφ 2 1 1
!
Pe (δ) = sen (δ) − − sen(2δ) =
Xd0 2 Xd0 Xq0
1,2407 · 1,10 1,102 1 1
!
= sen (δ) − − sen(2δ) =
0,30 2 0,30 0,69
= 4,549 sen (δ) − 1,14 sen (2δ) [pu]
ao ângulo que satisfaz Pe (δmax ) = Pm , só que na região onde Pe (δ) é decrescente com δ. Pode
ser encontrado que δmax = 2,9941 [rad] = 171,55◦ .
Z δmax
A2 (δcr ) = 4,549 sen (δ) − 1,14 sen (2δ) − 1,0 dδ =
δcr
= δcr + 4,549 cos (δcr ) − 0,5699 cos (2δcr ) + 2,051
Substituindo cos(2δcr ) = 2 cos2 (δcr ) − 1 na expressão acima obtém-se uma equação quadrá-
tica em cos(δcr ), como pode ser observado abaixo.
Logo, δ0 = 0,2171 [rad] = 12,44◦ , e E 0 = 1,2661 [pu]. A potência elétrica, por sua vez, é
dada abaixo.
E 0 V∞ 1,2661 · 1,10
Pe (δ) = 0 sen(δ) = sen(δ) = 4,642 sen (δ) [pu]
Xd 0,30
Para a aplicação do critério das áreas iguais, ambas as áreas A1 (δcr ) e A2 (δcr ) devem ser
recalculada com a nova função Pe (δ). Para o cálculo de A2 (δcr ), o ângulo δmax pode ser calculado
por simetria, já que Pe (δ) é puramente senoidal. Neste caso, δmax = π − δ0 = 2,9245 [rad] =
167,56◦ .
Z δcr
A1 (δcr ) = (1,0) dδ = δcr − 0,2171
δ0
Z δmax
A2 (δcr ) = 4,642 sen (δ) − 1,0 dδ = δcr + 4,642 cos (δcr ) + 1,609
δcr
A solução da equação acima é δcr = 1,975 [rad] = 113,2◦ , que possibilita o cálculo do novo
tempo crítico através (4.17), resultando tcr = 0,3863 [s].
4.1 Critério das Áreas Iguais 71
Comparando-se o resultado o tempo crítico obtido com ambos os modelos, pode-se notar
que o modelo clássico, apesar de sua simplicidade, fornece resultados com uma apreciável
precisão, apesar das diferenças observadas entre as potências elétricas obtidas com cada um dos
modelos.
Exemplo 4.3 — Aplicação em sistema radial conectado a barra infinita. Nesta aplicação,
deseja-se analisar a estabilidade angular transitória de um sistema radial que conecta um gerador
síncrono a um sistema de grande porte, representado por uma barra infinita, através de um
transformador elevador e duas linhas de transmissão paralelas, como ilustrado na Figura 4.4(a). O
gerador síncrono é considerado de polos salientes e apresenta os mesmos parâmetros empregados
na seção anterior: Xd = 0,93 [pu], Xq = 0,69 [pu], Xd0 = 0,30 [pu], Xq0 = Xq e resistência
desprezível. A condição operativa do sistema é definida através da potência ativa despachada
no gerador P3φ = 1,00 [pu] e sua tensão terminal Vφ = 1,10 [pu]. A tensão da barra infinita é
considerada V∞ = 1,00 [pu].
Primeiramente, deve-se estabelecer as condições iniciais do gerador, calculando-se a corrente
drenada do terminal do gerador, que, por sua vez, é definida pela rede. Como a potência ativa no
terminal do gerador foi especificada (P3φ = 1,00 [pu]), pode-se calcular a defasagem angular θ
entre tensões das barras 1 e 3, a partir da expressão de potência dada a seguir:
P3φ XT + X2LT
Vφ V∞ 1,00 · 0,30
P3φ = XLT
sen θ =⇒ sen θ = = = 0,2727
XT + Vφ V∞ 1,10 · 1,00
2
Resultando, θ = 0,2762 [rad] = 15,83◦ . A corrente no gerador pode, então, ser calculada
através da lei de Ohm aplicada ao sistema radial, como se segue.
Pela fase da tensão E q , conclui-se que o ângulo de carga inicial δ0 = 0,6929 [rad] = 39,70◦ .
Com o ângulo δ0 pode-se escrever a corrente no sistema referencial qd, como em (3.46).
Logo, Iq = 0,6452 [pu] e Id = −0,7883 [pu]. Para o cálculo da tensão interna E a , aplica-se
(3.45b). Como se sabe que tanto E a como E q se encontram alinhados com o eixo q, pode-se
escrever (3.45b) no sistema referencial dq, no qual E a = Ea , E q = Eq e I d = jId .
A tensão transitória de eixo em quadratura, Eq0 , é calculada através da relação (3.74), que na
forma algébrica, ao longo do eixo q, pode ser escrito como dado abaixo, dado que Xq0 = Xq .
Finalmente, a potência mecânica desenvolvida pela turbina deve suprir tanto a potência nos
terminais da máquina como suas perdas ôhmicas, como indicado abaixo.
1 2 3
Vt = 1,1 pu V∞ = 1,0 pu
(a) Pré-falta
1 2 3
V∞ = 1,0 pu
V∞ = 1,0 pu
(c) Pós-falta
Condição Pré-falta: Nesta condição o sistema opera integralmente como indica a Fi-
pre
gura 4.4(a). Neste caso o sistema pode ser equacionado como em (4.19a), onde XT H representa
a reatância equivalente do sistema na condição pré-falta e calculada em (4.19b).
pre
V φ = V ∞ + jXT H I a (4.19a)
pre XLT
XT H = XT + = 0,30 [pu] (4.19b)
2
Condição durante falta: Nesta condição o sistema opera com uma de suas linhas de
transmissão em curto, como ilustrado em Figura 4.4(b). Para esta condição, considera-se uma
reatância de curto X f = 0,01 [pu] conectando a barra 2 à terra como ilustrado em Figura 4.5(a).
Neste caso, de forma a se obter um sistema radial novamente para emprego da relação de
potência previamente estabelecida em (3.82), calcula-se o equivalente de Thévenin visto do
ponto de conexão do gerador como ilustrado na Figura 4.5(b).
XLT 0,34
Xf ·2 0,01 · 2
XTdur
H = XLT
= 0,34
= 0,1394 [pu]
Xf + 2 0,01 + 2
Xf
0,01
VTdur = V∞ = · 1,00 = 0,0556 [pu]
H XLT 0,34
Xf + 2 0,01 + 2
Pdur
e (δ) = 0,1571 sen (δ) − 0,001651 sen (2δ) (4.25)
jXLT
1
jXT 1
jXTdur
H
3
Ia 2 Ia XLT
Xf · 2
XTdur
H =
dur X f + X2LT
Vφ jX f jXLT V∞ Vφ VT H
Xf
VTdur
H =
V∞
XLT
Xf + 2
Condição Pós-falta: Para a eliminação da falta, a linha de transmissão com defeito é aberta
através da abertura de seus disjuntores, fazendo com que o sistema passe a operar com apenas
uma das linhas de transmissão. Nesta situação, de forma análoga à condição pré-falta, a relação
pos
entre tensões da rede conectada ao gerador é dada por (4.26), onde XT H = XT + XLT = 0,47 [pu].
0 pos pos
V ∞ = E − j Xd0 + XT H I d − j Xq0 + XT H I q
(4.26)
pos
Substituindo, então, Eq0 = 1,2424 [pu], Ed0 = 0, V∞ = 1,00 [pu], Xd0 + XT H = 0,77 [pu] e
0 pos
Xq + XT H = 1,16 [pu], a característica de potência do gerador conectado ao sistema radial em
função do ângulo de carga δ é dado abaixo.
pos
Pe (δ) = 1,613 sen (δ) − 0,2183 sen (2δ) (4.28)
pre pos
Critério das Áreas Iguais: Com as características de potência Pe , Pdur
e e Pe , dadas por
(4.22), (4.25) e (4.28), respectivamente, pode-se calcular expressões para as áreas de aceleração
e desaceleração do gerador em função do ângulo crítico δcr , que iguala os valores das mesmas,
como ilustrado na Figura 4.6.
A área de aceleração é calculada a partir de δ0 = 0,6929 [rad] até δcr como indicado abaixo,
com Pm = 1,00 [pu].
Z δcr
Pm − Pdur
A1 (δcr ) = e (δ) dδ = δcr + 0,1571 cos (δcr ) − 0,0008256 cos (2δcr ) − 0,8136
δ0
4.1 Critério das Áreas Iguais 75
A área de desaceleração, por sua vez, é obtida a partir de δcr até δmax . O ângulo δmax ocorre
pos
quando Pe (δmax ) = Pm , ou seja, δmax = 2,6154 [rad] = 149,85◦ .
Z δmax
pos
A2 (δcr ) = Pe (δ) − Pm dδ = δcr + 1,613 cos (δcr ) − 0,1092 cos (2δcr ) − 1,166
δcr
Igualando-se então a área A1 (δcr ) e a área A2 (δcr ), obtém-se a seguinte equação que permite
o cálculo do ângulo crítico δcr .
Através de solução numérica obtém-se o ângulo crítico δcr = 1,3979 [rad] = 80,09◦ .
Ignorando-se, então, a potência Pdur
e , pode-se calcular o tempo crítico aproximado empregando-
se de (4.17), repetida abaixo por conveniência.
s
4 H (δcr − δ0 ) 4 · 8 · (1,3979 − 0,6929)
r
tcr ≈ = = 0,2446 [s] (4.29)
ωB Pm 376,99 · 1,00
P3φ
A2
Pm
A1
Figura 4.6 – Critério das área iguais aplicado ao sistema radial conectado a barra infinita.
Exemplo 4.4 — Aplicação em sistema radial conectado a barra infinita - Modelo Clássico.
De forma a comparar os resultados obtidos com diferentes modelos para as máquinas síncrona,
a aplicação da Exemplo 4.3 será refeita agora empregando-se o modelo transitório clássico,
0
composto pela tensão transitória E em série com a reatância transitória de eixo direto Xd0 .
Neste caso o sistema pode ser analisado diretamente dos circuitos equivalentes monofásicos
apresentados nas Figuras 4.7(a), 4.7(c) e 4.7(e). Como o gerador, neste caso, pode ser incluído
diretamente no circuito, pode-se calcular os equivalentes vistos pela tensão transitória em cada
período pré, durante e pós-falta como indicados na Figuras 4.7(b), 4.7(d) e 4.7(f).
76 Capítulo 4. Sistemas Máquina contra Barra Infinita
jXLT XLT
j Xd0 + XT +
jXd0 1
jXT 2
3
2
0
E
0 jXLT V∞ E V∞
jXLT
X f XLT
jXd0 j Xd0 + XT + XLT +2X f
1
jXT
3
2
0 2X f V ∞
E
0
jX f jXLT V∞ E 2X f +XLT
0 0
E V∞ E V∞
Para cada situação ilustrada na Figura 4.7, pode-se então calcular a característica de potência
associada como mostrado a seguir:
Condição pré-falta:
pre XLT
XT H = Xd0 + XT + = 0,6000 [pu] (4.30)
2
pre E0 V∞
Pe (δ) = pre sen(δ) = 2,113 sen (δ) (4.31)
XT H
4.1 Critério das Áreas Iguais 77
X f XLT
XTdur 0
H = Xd + XT + = 0,4394 [pu] (4.32)
XLT + 2X f
2X f V∞
VTdur
H = = 0,0556 [pu] (4.33)
2X f + XLT
E 0 VTdur
H
Pdur
e (δ) = sen(δ) = 0,1603 sen (δ) (4.34)
XTdur
H
Condição pós-falta:
pos
XT H = Xd0 + XT + XLT = 0,7700 [pu] (4.35)
pos E 0 V∞
Pe (δ) = pos sen(δ) = 1,646 sen (δ) (4.36)
XT H
A área de desaceleração, por sua vez, é obtida a partir de δcr até δmax . O ângulo δmax ocorre
pos
quando Pe (δmax ) = Pm , ou seja, δmax = 2,4887 [rad] = 142,59◦ .
Z δmax
pos
A2 (δcr ) = Pe (δ) − Pm dδ = δcr + 1,646 cos (δcr ) − 1,181
δcr
Igualando-se então a área A1 (δcr ) e a área A2 (δcr ), obtém-se a equação que permite o cálculo
do ângulo crítico δcr .
Resolvendo então a expressão acima para o ângulo crítico tem-se δcr = 1,1940 [rad] =
68,41◦ . Ignorando-se, então, a potência Pdur
e , pode-se calcular o tempo crítico aproximado
empregando-se de (4.17), repetida abaixo por conveniência.
s
4 H (δcr − δ0 ) 4 · 8 · (1,1940 − 0,4931)
r
tcr ≈ = = 0,2439 [s] (4.37)
ωB Pm 376,99 · 1,00
Note que o resultado obtido com o gerador representado através do modelo transitório
clássico resultou um tempo crítico de 243,91 [ms], enquanto que o sistema com o gerador
representado pelo seu modelo de polos salientes resultou 244,62 [ms], como mostra (4.29). A
proximidade entre os tempos críticos obtidos ratifica a validade do modelo clássico para análise
transitória da estabilidade, apesar de sua simplicidade.
78 Capítulo 4. Sistemas Máquina contra Barra Infinita
P3φ
A2
Pm
A1
Figura 4.8 – Critério das área iguais aplicado ao sistema radial conectado a barra infinita com
modelo clássico para o gerador.
A relação de tensões dada por (4.38) é equivalente a uma máquina síncrona com tensão terminal
igual a V ∞ e reatâncias equivalentes de eixo direto e quadratura idênticas a Xd + Xeq e Xq + Xeq ,
respectivamente. Desta forma, ignorando as resistências do sistema, a potência ativa entregue pela
máquina (3.56a) pode ser reescrita como em (4.39), onde o ângulo δ agora representa a defasagem
angular entre a tensão interna da máquina (eixo q) e a tensão da barra infinita V ∞ .
E a V∞ V∞ 2 1 1
!
Pe (δ) = sen δ + − sen (2δ) (4.39)
Xd + Xeq 2 Xq + Xeq Xd + Xeq
Problemas
Problema 4.1 Seja o gerador da UHE Itaipu conectado a um sistema de grande porte, representado
por um barramento infinito, como ilustrado na Figura P.4.1. Considerando a condição operativa
indicada abaixo responda as seguintes questões:
a) Calcule a tensão interna do gerador operando regime permanente.
b) Calcule a característica de potência elétrica do gerador em regime permanente.
c) Calcule a característica de potência elétrica transitória do gerador.
d) Escreva as equações diferenciais de oscilação associadas ao sistema, indicando o significado
físico de cada variável de estado empregada, assim como as unidades adotadas, para a análise
de um curto-circuito trifásico franco nos terminais do gerador.
e) Calcule o desvio de frequência crítico do gerador para o curto-circuito trifásico franco nos
terminais do gerador.
f) Calcule o ângulo crítico do gerador para o distúrbio anterior.
g) Calcule o tempo crítico de eliminação de falta para o distúrbio anterior.
Problema 4.2 Repita Problema 4.1 empregando o modelo clássico para o gerador. Compare e
discuta os resultados.
Problema 4.3 Seja o sistema radial mostrado na Figura P.4.2, dotado de um turbogerador conectado
a um sistema de grande porte, representado por um barramento infinito, através de um transformador
elevador e duas linhas de transmissão em paralelo. As reatâncias mostradas no diagrama unifilar
são dadas por unidade na base de 2220 MVA e 24 kV. Considerando o gerador modelado através
do modelo clássico e o sistema operando em regime permanente nas condições indicadas abaixo,
responda as seguintes questões:
Vt V∞
2220 MVA, 24 kV, 60 Hz (LT 1) j0,5 p.u.
Xd = 1,81 p.u., Xq = 1,79 p.u.
Xd0 = 0,30 p.u., Xq0 = 0,50 p.u. GS (LT 2) j0,93 p.u. ∞
H = 3,5 s, D = 0 j0,15 p.u.
P→
Q9
Problema 4.4 Repita Problema 4.3 empregando o modelo completo. Compare e discuta os resulta-
dos.
5. Estabilidade Angular em Sistemas Multi-Máquinas
Neste capítulo serão discutidas as generalizações pertinentes aos modelos dos sistemas elétricos de
potência, de modo que mais que dois ou mais geradores possam ser considerados nos estudos de
estabilidade em regime permanente e transitória.
Neste contexto, serão discutidos equivalentes de usinas geradoras, generalização das relações
de potência nos diversos geradores conectados a uma rede passiva qualquer. Especificamente
relacionado ao problema da estabilidade em regime permanente, serão discutidas a linearização e
identificação de modos oscilatórios dos associados aos sistemas multi-máquina.
De forma a simplificar a formulação do problema, subsequentemente, será utilizado apenas o
modelo clássico para caracterização dos geradores.
O sistema que transmite a energia gerada pelos geradores até as cargas é composto, basicamente,
por barramentos em subestações interconectados através de linhas de transmissão e transforma-
dores. Este sistema pode ser visto como um conjunto de nós interligados através de ramos, que
representam as linhas e transformadores. A partir dos modelos π de regime permanente utilizados
para caracterizar relações de tensão e corrente nos referidos equipamentos e também elementos de
84 Capítulo 5. Estabilidade Angular em Sistemas Multi-Máquinas
derivação (tais como banco de capacitores e reatores) monta-se uma matriz de admitância nodal
YBB do sistema com dimensão n × n. Esta matriz relaciona as tensões nodais do sistema, contidas
no vetor VB , e a injeções de corrente nos nós correspondentes, contidas no vetor IB , como mostrado
abaixo. Maiores detalhes sobre a aplicação do método nodal para solução de redes elétricas,
recomenda-se [2].
IB = YBB VB (5.2)
onde,
In Vn
Descrevendo as tensões na sua forma polar e admitâncias na forma cartesiana, potência aparente
S k pode ser decomposta nas suas componentes ativa (Pk ) e reativa (Qk ), como mostrado em (5.5).
n
X
Pk = Vk Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm ) (5.5a)
m=1
Xn
Qk = Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm ) (5.5b)
m=1
∼ p
jXgk
Ek
k
Rede c
YBB
Pc + jQc
m
jXgm
q
∼ Em
k
+ykp −ykp
+yl
l
YBB YBG
p
−ykp +ykp
YGB YGG
Figura 5.1 – Montagem da matriz de admitância aumentada para estudos clássicos de estabilidade.
(azul) inserção de geradores (vermelho) inclusão de cargas.
Com a inclusão dos geradores e cargas na matriz de admitância nodal YBB , as barras do sistema
podem ser eliminadas através da redução de Kron [2]. Este procedimento é ilustrado através da
partição da matriz de admitância como mostrado na Figura 5.1(b). A formulação da redução dos nós
do sistema, contidos na matriz YBB , com dimensão n × n, pode ser realizada através da montagem
das matrizes auxiliares YBG , YGB e YGG , com dimensões n × g, g × n e g × g, respectivamente,
onde g representa o número de geradores representados no sistema. A matriz YGG está associada
às barras internas dos geradores e será sempre diagonal com g elementos. As matrizes YBG e YGB
representam as interconexões entre o sistema e as barras internas dos geradores.
86 Capítulo 5. Estabilidade Angular em Sistemas Multi-Máquinas
Por esta razão, estas últimas matrizes possuem apenas g elementos, associados a cada um dos
geradores em questão. Além disto, as matrizes YBG e YGB são, por construção, transpostas uma da
outra. Matematicamente, a partição da matriz de admitância do sistema pode ser representada como
mostrado em (5.7), onde VB representam vetores associados a tensões e injeções de corrente nodais
das barras do sistema, enquanto EG e IG representam vetores com as tensões internas e injeções de
corrente dos geradores.
YRED EG = IG (5.8a)
−1
YRED = YGG − YGB YBB YBG (5.8b)
A partir da nova matriz de admitâncias nodais reduzida YRED , pode-se obter as potências
Pek em cada gerador em função dos seus ângulos de potência, associados às tensões internas dos
geradores, a partir de (5.5a), como mostrado em (5.9), onde YRED (k,m) = GRED RED
km + jBkm .
g
Ek Em GRED RED
X
Pek = km cos δ km + Bkm sen δ km (5.9)
m=1
Por último, mas não menos importante, deve-se exprimir as potências elétricas Pek , em cada
gerador k, em função das variáveis de estado do sistema. Como Pek , dado em (5.9), depende das
diferenças angulares δkm entre tensões internas dos geradores k e m, estas são expressas através a
partir de diferenças entre as variáveis de estado adotadas, como mostrado em (5.11) e ilustrado na
Figura 5.2.
Ek
δkm
Em
δkr
δmr
ref.
δr
Er
Figura 5.2 – Diferenças angulares entre geradores em função das variáveis de estado.
4 2
6
1 5
G2
j0,05
j0,05
j0,16 L1
j0,05
j0,10
j0,05
G3 j0,05
7
L2
3
j0,10
j0,25 j0,20
9 8
BASE N◦
GERADOR Xd [pu] Xd0 [pu] H [s] D [pu]
[MVA] Unidades
G1 1,05 0,35 3,0 1,0 35 3
G2 0,85 0,21 7,0 0,8 75 4
G3 0,70 0,18 8,0 0,5 50 2
L1 200 0,0
L2 200 0,0
Y c = PcV− jQ
2
c
CARGA Pc [pu] Qc [pu] Vc [pu] c
[pu]
L1 2,0 0,0 1,0 2,0
L2 2,0 0,0 1,0 2,0
5.2 Aplicação em Sistemas Multi-Máquinas 89
PG QG PC QC Shunt
Barra Tipo V [pu] θ [◦ ]
[MW] [Mvar] [MW] [Mvar] [Mvar]
1 PV 1,0500 10,2322 80,00 30,7096 0,00 0,00 0,00
2 PV 1,0000 1,3985 230,00 -6,7692 200,00 0,00 0,00
3 Vθ 1,0000 0,0000 90,00 -7,7485 200,00 0,00 0,00
4 PQ 1,0126 3,7517 0,00 0,0000 0,00 0,00 0,00
5 PQ 1,0069 2,5310 0,00 0,0000 0,00 0,00 0,00
6 PQ 1,0026 1,5446 0,00 0,0000 0,00 0,00 0,00
7 PQ 1,0006 0,9081 0,00 0,0000 0,00 0,00 0,00
8 PQ 1,0047 1,6925 0,00 0,0000 0,00 0,00 0,00
9 PQ 1,0047 1,6925 0,00 0,0000 0,00 0,00 0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 -j9,67 j6,67
2,00-
2 j16,67 j40,00
j70,95
2,00-
3 j6,25 j40,00 j10,00
j61,81
4 j6,67 -j36,67 j20,00 j10,00
5 j20,00 -j45,00 j25,00
6 j16,67 j6,25 j25,00 -j67,92 j20,00
7 j40,00 j40,00 j20,00 -j105,00 j5,00
8 j10,00 j10,00 j5,00 -j29,00 j4,00
9 j4,00 -j4,00
Tabela 5.8 – Matriz de admitâncias nodais com curto-circuito X f =0,001 p.u. na barra 6.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 -j9,67 j6,67
2,00-
2 j16,67 j40,00
j70,95
2,00-
3 j6,25 j40,00 j10,00
j61,81
4 j6,67 -j36,67 j20,00 j10,00
5 j20,00 -j45,00 j25,00
6 j16,67 j6,25 j25,00 -j1067,9 j20,00
7 j40,00 j40,00 j20,00 -j105,00 j5,00
8 j10,00 j10,00 j5,00 -j29,00 j4,00
9 j4,00 -j4,00
90 Capítulo 5. Estabilidade Angular em Sistemas Multi-Máquinas
Tabela 5.9 – Matriz de admitâncias nodais pós-falta com eliminação do curto e abertura da LT 6-7.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 -j9,67 j6,67
2,00-
2 j16,67 j40,00
j70,95
2,00-
3 j6,25 j40,00 j10,00
j61,81
4 j6,67 -j36,67 j20,00 j10,00
5 j20,00 -j45,00 j25,00
6 j16,67 j6,25 j25,00 -j47,92
7 j40,00 j40,00 -j85,00 j5,00
8 j10,00 j10,00 j5,00 -j29,00 j4,00
9 j4,00 -j4,00
G1 G2 G3
G1 G2 G3
G1 G2 G3
Cálculos Preliminares
Assumindo o gerador G3 como referência angular.
dδ13
= ωB (ω1 − ω3 ) [rad/s]
dt
dδ23
= ωB (ω2 − ω3 ) [rad/s]
dt
dω1 1
= (Pm1 − Pe1 − D1 ω1 ) [p.u./s]
dt 2H1
dω2 1
= (Pm2 − Pe2 − D2 ω2 ) [p.u./s]
dt 2H2
dω3 1
= (Pm3 − Pe3 − D3 ω3 ) [p.u./s]
dt 2H3
Pe1 = G11 E1 2 + E1 E2 (G12 cos δ12 + B12 sen δ12 ) + E1 E3 (G13 cos δ13 + B13 sen δ13 )
Pe2 = G22 E2 2 + E2 E1 (G21 cos δ21 + B21 sen δ21 ) + E2 E3 (G23 cos δ23 + B23 sen δ23 )
Pe3 = G22 E3 2 + E3 E1 (G31 cos δ31 + B31 sen δ31 ) + E3 E2 (G32 cos δ32 + B32 sen δ32 )
δ12 = δ13 − δ23
δ31 = −δ13
δ21 = δ23 − δ13
δ32 = −δ23
pre
Pe1 = 0,1125 cos(δ13 ) + 0,5925 sen(δ13 ) + 0,2478 cos(δ13 − δ23 ) + 1,29 sen(δ13 − δ23 ) + 0,0402
pre
Pe2 = 0,6736 cos(δ23 ) + 3,0126 sen(δ23 ) + 0,2478 cos(δ13 − δ23 ) − 1,29 sen(δ13 − δ23 ) + 1,5892
pre
Pe3 = 0,1125 cos(δ13 ) + 0,6736 cos(δ23 ) − 0,5925 sen(δ13 ) − 3,0126 sen(δ23 ) + 0,3204
Pdur
e1 = 0,0072 cos(δ13 ) + 0,1090 sen(δ13 ) + 0,0101 cos(δ13 − δ23 ) + 0,1206 sen(δ13 − δ23 ) + 0,0009
Pdur
e2 = 0,0710 cos(δ23 ) + 0,7065 sen(δ23 ) + 0,0101 cos(δ13 − δ23 ) − 0,1206 sen(δ13 − δ23 ) + 0,2136
Pdur
e3 = 0,0072 cos(δ13 ) + 0,0710 cos(δ23 ) − 0,1090 sen(δ13 ) − 0,7065 sen(δ23 ) + 0,0572
pos
Pe1 = 0,2451 cos(δ13 − δ23 ) + 1,2891 sen(δ13 − δ23 ) + 0,1113 cos(δ13 ) + 0,5795 sen(δ13 ) + 0,0392
pos
Pe2 = 0,2451 cos(δ13 − δ23 ) − 1,2891 sen(δ13 − δ23 ) + 0,6757 cos(δ23 ) + 3,0130 sen(δ23 ) + 1,5894
pos
Pe3 = 0,1113 cos(δ13 ) + 0,6757 cos(δ23 ) − 0,5795 sen(δ13 ) − 3,0130 sen(δ23 ) + 0,3228
Problemas
Problema 5.1 Seja o sistema radial que conecta duas máquinas síncronas como ilustrado na Figura
P.5.1. Tomando que o gerador (GS) opera despachado com potência de 1,0 [p.u.] e tensão terminal
de 1,09 [p.u.], enquanto o motor (MS) opera com tensão terminal de 0,98 [p.u.], responda:
92 Capítulo 5. Estabilidade Angular em Sistemas Multi-Máquinas
a) Escreva o modelo do sistema para o período transitório, empregando o modelo clássico para
as máquinas síncronas.
b) Assumindo que ocorre um curto-circuito trifásico franco nos terminais do motor, calcule
o ângulo relativo crítico entre o gerador e o motor e o tempo crítico de falta. Considere o
sistema retorna às suas condições pré-falta após o defeito ser eliminado.
c) Repita o item anterior para um curto-circuito monofásico de impedância 0,01 [p.u.].
V1 V2
1,09 θ 0,98 0◦
j0,3
Xd0 = 0,10 p.u. Xd0 = 0,15 p.u.
GS MS
H=8s H=5s
Problema 5.2 Repita o Problema 5.1 considerando que o motor síncrono seja substituído por um
equivalente de rede com reatância 0,15 [p.u.]. Assuma que na condição pré-falta a tensão V 2 seja
0,98 [p.u.].
Problema 5.3 Seja o sistema com dois geradores mostrado na Figura P.5.2. As reatâncias mostradas
no diagrama unifilar são dadas por unidade na base de 100 MVA. O sistema sofre um curto-circuito
trifásico franco na barra 2 que é eliminado através da abertura de uma das linhas do circuito duplo
indicado. Considerando ambos os geradores não controlados e o sistema operando em regime
permanente na condição pré-falta indicada, responda as seguintes questões:
V1 V2 V3
75 MVA 1,00 0◦ 0,9836 −27,23◦ 1,00 0◦ 283 MVA
Xd = 1,80 p.u. Xd = 0,95 p.u.
Xd0 = 0,23 p.u. 225 MW j0,40 p.u. 225 MW Xd0 = 0,25 p.u.
G1 G2
H = 3,833 s 62,69 Mvar j0,20 p.u. 62,69 Mvar H = 6,228 s
D = 0,5 p.u. j0,40 p.u. D = 0,5 p.u.
N=4 N=1
220 Mvar
Pc = 450 MW
Qc = 120 Mvar
Problema 5.4 Seja o sistema com dois geradores mostrado na Figura P.5.3. As reatâncias mostradas
no diagrama unifilar são dadas por unidade na base de 100 MVA. O sistema sofre um curto-circuito
trifásico franco na barra 2 que é eliminado através da abertura da linha 1-2. Considerando o sistema
operando em regime permanente na condição pré-falta indicada, responda as seguintes questões:
a) Encontre a admitância equivalente da carga e do banco de capacitores conectada à barra 2.
b) Calcule os parâmetros dos geradores equivalentes das plantas geradoras G1 e G2, na base do
sistema.
c) Calcule as tensões transitórias dos geradores G1 e G2.
d) Calcule as expressões da potência elétrica transitória dos geradores em função do ângulo
relativo δ12 para a condição pós-falta.
e) Escreva as equações de oscilação do sistema para o período durante a falta.
f) Calcule o valor δ12 para o instante 100 ms após a aplicação do curto-circuito.
g) Descreva, qualitativamente, empregando também equações, como o critério de áreas iguais
pode ser empregado neste sistema para o cálculo do ângulo crítico de falta.
h) Calcule o tempo crítico do curto-circuito trifásico franco na barra 2, empregando o procedi-
mento do item anterior.
V1 V2
0,9976 6,2155◦ 0,9972 5,0636◦
256 MVA 15 MVA
j0,10 p.u.
Xd = 1,863 p.u. j0,08 j0,09 Xd = 0,99 p.u.
Xd0 = 0,3430 p.u. Xd0 = 0,2880 p.u.
G1 G2
H = 3,02 s H = 2,467 s
D = 0,0 p.u. D = 0,0 p.u.
N=1 N = 15
j0,06 p.u. j0,04 p.u.
V3
1,00 0◦
180 Mvar
Pc = 400 MW
Qc = 150 Mvar
Problema 5.5 Seja o sistema com dois geradores mostrado na Figura P.5.4. As reatâncias mostradas
no diagrama unifilar são dadas por unidade na base de 100 MVA. O sistema sofre um curto-circuito
94 Capítulo 5. Estabilidade Angular em Sistemas Multi-Máquinas
trifásico franco próximo à barra 2 que é eliminado através da abertura da linha 2-4. Considerando
o sistema operando em regime permanente na condição pré-falta indicada, responda as seguintes
questões:
a) Calcule os parâmetros dos geradores equivalentes das plantas geradoras G1 e G2, na base do
sistema.
b) Calcule as tensões transitórias dos geradores G1 e G2.
c) Calcule as potências mecânicas que cada uma das turbinas acopladas aos geradores G1 e G2
desenvolvem.
d) Calcule as expressões da potência elétrica transitória dos geradores em função do ângulo
relativo δ12 para as condições pré, durante e pós-falta.
e) Escreva as equações de oscilação do sistema para os períodos pré, durante e pós-falta.
f) Calcule o valor δ12 para o instante 200 ms após a aplicação do curto-circuito.
g) Escreva as equações de oscilação equivalentes deste sistema para a condição durante falta,
adotando como variáveis de estado δ12 e ω12 = ω1 − ω2 .
h) Estime o tempo crítico do curto-circuito trifásico franco na barra 2.
2 4
115 MVA j0,08
Xd = 0,92 p.u.
0
Xd = 0,31 p.u. G2
H = 5,64 s 50 Mvar
N=1 j0,20 p.u.
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task force on stability terms and definitions. IEEE Transactions on Power Systems, v. 19, n. 3,
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