Direito Sanitário Tempus - Actas de Saúde Coletiva
A Judicialização da Saúde no Brasil
The legalization of health in Brazil La legalización de la salud en Brasil Maria dos Remédios Mendes Oliveira method used followed two complementary ways: (1) survey of bibliographic references RESUMO that talked about the subject. (2) Observation with the practice of mediation flows care of Este artigo trata de uma descrição analítica lawsuits in the Federal District. The conclusion do fenômeno da Judicialização na Saúde, is that the mediation can be a means of reducing crescente nos Tribunais pelas demandas de legal disputes among citizens in pursuit of their acesso às ações e serviços de saúde. E descreve rights and the state as a provider of these rights. um instituto jurídico pouco utilizado no Brasil como alternativa para possível diminuição Keywords: Health Policy; Health Rights; desse fenômeno – a mediação. O método Democracy; Mediation. adotado seguiu dois caminhos complementares: (1) levantamento das referencias bibliográficas RESUMEN que versassem sobre o tema, (2) observação da prática de mediação nos fluxos de atendimento Este artículo es una descripción analítica das demandas judiciais na Defensoria Pública del fenómeno de la judicialización de la Salud, do Distrito Federal. Conclui-se que a mediação en los tribunales por la creciente demanda de pode ser um meio de reduzir os conflitos acceso a los servicios y acciones de salud. Y judiciais entre os cidadãos em busca dos seus describe una entidad legal raramente utilizado direitos e o Estado como provedor desses en Brasil como una alternativa a la posible direitos. reducción de este fenómeno - la mediación. El método seguido dos vías complementarias: (1) Palavras chave: Política de Saúde; Direito las encuestas de referencias bibliográficas que à Saúde; Democracia; Mediação. versassem sobre el tema, (2) la observación de la práctica de la mediación flujos de asistencia ABSTRACT de los litigios en la Defensoría Pública del Distrito Federal. Llegamos a la conclusión de This article is about an analytical description que la mediación puede ser un medio de reducir of the phenomenon of Judicialization in las disputas legales entre los ciudadanos en Health, by increasing demands in court actions ejercicio de sus derechos y el Estado como and access to health services. And it describes proveedor de estos derechos. a juridic aim litte used in Brazil as alternative to possible reducing this phenomenon. The Palabras clave: Política de Salud; Derechos
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de Salud; Democracia; Mediación. Este paradoxo faz com que o país esteja ao mesmo tempo entre os melhores do mundo e INTRODUÇÃO os piores. Mesmo alcançando a sexta posição (2011) na economia mundial, com um Produto O fenômeno da judicialização da saúde no Interno Bruto (PIB) considerável, estando, Brasil, sem dúvida, é um dos temas de maior portanto, no conjunto composto por EUA, destaque atualmente, sempre presente e de forma Japão, Alemanha, França, Itália, ainda assim crescente nos debates envolvendo a academia, o direito a saúde não vem sendo assumido operadores do direito, a máquina estatal e a plenamente pelo Estado e os diferentes própria sociedade civil. A Constituição Federal governos2. de 1988 estabelece, no art. 196, que a saúde é “direito de todos e dever do Estado”. Institui Há uma lacuna entre o que expressa a Carta também o “acesso universal e igualitário às Magna e as demandas reais no cotidiano dos ações e serviços para sua promoção, proteção indivíduos, famílias e comunidades, sobretudo e recuperação”1. no tocante as necessidades de ações e serviços de saúde, levando o cidadão a procurar a via Portanto, a partir da Constituição Federal, judicial para prevalecer o seu direito e obrigar a prestação do serviço público de saúde não o Estado a assegurá-lo. A partir da constatação mais estaria restrita aos trabalhadores inseridos dessa contradição, vários grupos sociais vêm no mercado formal, mas sim, a todos os buscando na Justiça o apoio no tocante a essas brasileiros, que, consequentemente, passaram a brechas entre o direito ideal e sua materialização ser titulares do direito a saúde, universalizado, no mundo real. cabendo ao Estado concretizar sua execução, através de políticas públicas, planejamento, Os fundamentos e alternativas legais para ações e serviços, executados pelos seus órgãos. que o cidadão proponha ações judiciais com o objetivo de obter medicamentos e outros Segundo Sousa2, em países como o Brasil, serviços de saúde, em face dos poderes as questões básicas como a da igualdade dos públicos, permitem uma reflexão mais acurada cidadãos diante da lei e a da necessidade de desse fenômeno. incluir os excluídos na comunidade de direitos seguem pendentes, na medida em que o país A Constituição Federal1, em seu artigo continua enfrentando, simultaneamente, os 5º, inciso XXV, prevê que a lei não excluirá antigos e novos desafios que se apresentam no da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou desenvolvimento da cidadania. ameaça de direito. Portanto, essa prerrogativa constitucional e de ordem fundamental, garante Para Fleury3, estas contradições inerentes a todo e qualquer cidadão o acesso irrestrito à à cidadania são responsáveis por distintos justiça. desenvolvimentos destes direitos, tanto no tempo quanto no conteúdo e extensão, Não resta dúvida, posto que notório, que envolvendo um processo contínuo de a realidade nacional não reflete fielmente o redefinição da própria concepção de cidadania. disposto na Constituição Federal, por diversos
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e variados motivos, ou seja, a ausência de administração pública exige que a gestão da informação principalmente da população mais saúde seja exercida com presteza, perfeição carente, acerca de seus direitos, pela inércia do e rendimento funcional, consistente na busca Estado na promoção da justiça assegurando de resultados práticos de produtividade, de Defensores Públicos a essa grande demanda economicidade, com a conseqüente redução de a custas processuais e o mais grave de todos, desperdícios do dinheiro público e rendimentos a morosidade da solução do conflito. Esses típicos da iniciativa privada, sendo que, nessa problemas tornam muitas das vezes, inviáveis situação, o lucro é do povo; quem ganha é o o acesso à justiça e, consequentemente, o bem comum. efetivo exercício da cidadania. Nesse sentido, o excesso gera como Apesar das dificuldades, percebe-se que é consequência um grande impacto nos recursos crescente o aumento das demandas judiciais no público e fere a igualdade de acesso à saúde Brasil, com ênfase ao acesso a medicamentos pública por todos. Conforme menciona não fornecidos pelo sistema SUS e outros Barroso4 há casos, em que se revela a concessão serviços de saúde, conforme dados do Conselho de privilégios a alguns jurisdicionados em Nacional de Justiça (CNJ), o que representa detrimento da generalidade da cidadania, que um enorme avanço ao efetivo exercício da continua dependente das políticas universalistas cidadania, pois garante que o Estado cumpra implementadas pelo Poder Executivo. com as decisões judiciais favoráveis, em que pese o impacto significativo nos gastos Sem dúvida, percebe-se que a judicialização públicos na questão da saúde. do acesso à saúde compromete a universalização da saúde, pois estabelece desigualdades entre Cabe ao Poder Público zelar pela saúde os cidadãos e dificulta ainda a eficácia das da população. O Estado brasileiro tem como políticas públicas de saúde. dever não apenas a garantia do acesso aos bens e serviços da saúde, mas também, a proteção A JUDICIALIZAÇÃO E AS da saúde da população. O ingresso de ações INSTITUIÇÕES PÚBLICAS judiciais é uma forma que os cidadãos encontram ENVOLVIDAS NESSE FENÔMENO: O para garantir seus direitos, sendo, portanto, STF E O CNJ legítima uma ação judicial que vise obrigar O acesso a medicamentos e outros serviços o poder público a fornecer um medicamento de saúde pela via judicial, fez surgir no Brasil, contemplado em suas políticas públicas como já se frisou, o fenômeno da judicialização, previamente elaboradas e não disponível no que expõe limites e possibilidades estatais e Sistema Único de Saúde - SUS, posto que vise instiga a produção de respostas efetivas pelos a garantir um direito fundamental. agentes públicos, do setor de saúde e da justiça. Se é verdade que há excessos, também Segundo afirma Marques: é verdade que incumbe ao Poder Judiciário tutelar os direitos fundamentais do cidadão. O exercício do direito à saúde, positivado em A eficiência, enquanto um dos princípios da
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nosso ordenamento jurídico com a Constituição indispensáveis ao seu pleno exercício. de 1988, vem ganhando contornos nunca vistos, compelindo magistrados, promotores § 1º. O dever do Estado de garantir a de justiça, procuradores públicos, advogados, saúde consiste na formulação e execução entre outros operadores do direito, a lidarem de políticas econômicas e sociais que com temas oriundos do Direito Sanitário e visem à redução de riscos de doenças e da política pública de saúde, nos três níveis de outros agravos e no estabelecimento de governo, e, também, compelindo gestores de condições que assegurem acesso públicos de saúde a lidarem com a garantia universal e igualitário às ações e aos deste direito social, em cada caso individual serviços de saúde prestados pelo Estado, apresentado, através de uma determinação seja por meio da administração direta oriunda do Poder Judiciário que, muitas vezes, como pela administração indireta6. contrasta com a política estabelecida em A Constituição Federal de 1988 e toda matéria de assistência à saúde e com a própria legislação infraconstitucional enfatiza o dever lógica de funcionamento do sistema político. do Estado de garantir ao cidadão os serviços de (p. 11)5. saúde, provocando intensos debates a questão O envolvimento efetivo das instituições da intervenção judicial e a eficiência do Estado públicas e do próprio Poder Judiciário, como responsável direto pela garantia de uma certamente trará importantes avanços nesta saúde de qualidade e acessível. questão da judicialização da saúde, levando Nos dias 27 a 29 de abril, e 4, 6 e 7 de maio de o cidadão cada vez mais a ter uma saúde de 2009, o Presidente do Supremo Tribunal Federal qualidade. (STF), ministro Gilmar Mendes, convocou Os artigos 6º e 196 da CF/1988 asseguram, Audiência Pública, onde foram ouvidos 50 respectivamente, a saúde como direito social especialistas, entre advogados, defensores e estabelece esse direito como fundamental e públicos, promotores e procuradores de justiça, que será assegurado pelo Estado, através de magistrados, professores, médicos, técnicos de políticas públicas e econômicas eficazes1. Com saúde, gestores e usuários do Sistema Único de o fito de regulamentar o artigo 196 e seguintes Saúde. da CF/1988, foi criada a Lei nº 8.080 - Lei Durante a realização da referida Audiência Orgânica da Saúde - instituiu o SUS e dispôs Pública discutiu-se a necessidade dos Ministros acerca de suas características, custeio. da Corte, Magistrados e Procuradores No caput de seu artigo 2º e § 1º, a referida dos Estados, gestores e interessados, de Lei, assevera o dever do Estado em promover compartilhar conhecimento técnico e do próprio a assistência devida à saúde: funcionamento do sistema SUS, capacitando- os para uma melhor atuação em suas áreas. Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo Outro ponto que se destaca da audiência o Estado prover as condições pública, é o aprimoramento dos bancos de
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dados do próprio Ministério da Saúde e, relação ao direito a saúde e outros serviços de principalmente das Secretarias Estaduais responsabilidade do Poder Público não é tanto e Municipais, tornando-o mais acessível e o de justificá-los, mas o de protegê-los e uma transparente. das maneiras encontradas para discutir com maior profundidade o tema, foi a realização É majorante o entendimento no STF da de audiências públicas, onde se pode ouvir necessidade de qualificação de todos os uma quantidade maior de agentes envolvidos agentes envolvidos, pois só assim o Brasil terá e se tirar conclusões. Apreciando a Ação de como garantir aos cidadãos políticas públicas Descumprimento de Preceito Fundamental, realmente eficazes. Portanto, a iniciativa assim decidiu: de realização de Audiências Públicas pelo STF e os esclarecimentos prestados pela EMENTA: Arguição de descumprimento de sociedade foram de grande importância para os preceito fundamental. A questão da legitimidade julgamentos dos processos de competência da constitucional do controle e da intervenção do Presidência que versam sobre o direito à saúde. poder judiciário em tema de implementação de políticas públicas, quando configurada hipótese A Atuação do STF de abusividade governamental. Dimensão política da jurisdição constitucional atribuída Criado após a proclamação da República, ao STF. Inoponibilidade do arbítrio estatal à o Supremo Tribunal Federal (STF) exerce efetivação dos direitos sociais, econômicos uma longa série de competências, as quais e culturais. Caráter relativo da liberdade de estão descritas no art. 102 da atual CF, sendo conformação do legislador. Considerações em sua função institucional fundamental ser o torno da cláusula da “reserva do possível”. guardião da Constituição, apreciando casos Necessidade de preservação, em favor dos que envolvam lesão ou ameaça a esta última1. indivíduos, da integridade e da intangibilidade do núcleo consubstanciador do “mínimo Enquanto guardião da CF, como já se frisou, existencial”. Viabilidade instrumental da cabe a STF, em última análise, decidir acerca arguição de descumprimento no processo de do direito à saúde, posto que, reconhecido concretização das liberdades positivas (direitos formalmente como um direito humano constitucionais de segunda geração)8. fundamental à preservação da vida e dignidade humana. Não resta dúvida, pelo que se expôs da grande importância do STF na questão da Diante de tantas celeumas criadas judicialização da saúde, como Instância maior considerando as recentes decisões prolatadas do Poder Judiciário e de socorro a tantos por juízes e Tribunais Estaduais e Federais, brasileiros e brasileiras que vivem a mercê da cabe ao STF, encontrar ferramentas eficazes inércia do Poder Público e de suas políticas que venham a proporcionar um entendimento ineficazes, no sentido de garantir a todos uma mais condizente com o contexto atual7. saúde de qualidade, conforme preceitua a Portanto, o problema atual do STF em CF/1988.
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Ademais, percebe-se que está crescendo o do Judiciário e as ações podem ser solicitadas grupo daqueles que consideram os princípios por qualquer pessoa, com ou sem advogado. constitucionais e as normas sobre direitos É da competência do CNJ manter o bom sociais como fonte de direitos e obrigações funcionamento da Justiça brasileira e, para isso, e admitem a intervenção do Judiciário em o órgão desenvolve ferramentas eletrônicas e caso de omissões constitucionais. Por outro promove parcerias para garantir agilidade e lado, os contrários a intervenção do Poder transparência nas atividades1. Judiciário, temem que, como os juízes não são especialistas na questão, pode ocorrer Todas as ações promovidas pelo Conselho que as decisões tomadas ocasionem impactos são destinadas a instruir o cidadão, para que ele desfavoráveis e resultados insatisfatórios, pois conheça seus direitos perante a Justiça e possa em muitas delas se premia o individual, em fiscalizar o seu cumprimento. Na questão da detrimento do coletivo. judicialização da saúde e da distribuição de medicamentos, tem por competência, como se A atuação do CNJ frisou, a transparência nas decisões do Poder Judiciário e, por consequência atuando em O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é defesa da sociedade. o órgão do Poder Judiciário encarregado de controlar a atuação administrativa e financeira Além dessas atividades, o CNJ estabelece dos demais órgãos daquele poder, bem como resoluções e recomendações, no sentido de de supervisionar o cumprimento dos deveres contribuir para com o aprimoramento das funcionais dos juízes, nos termos do § 4º do atividades desenvolvidas e como reflexo de sua art. 103-B da CF/1988. participação nas audiências públicas realizadas pelo STF, no ano de 2010, o CNJ editou em O Conselho foi criado pela Emenda 30 de março do mesmo ano a Resolução nº 31, Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de que diz: 2004, que incluiu o artigo 103-B na CF/1988. Desde a data em que foi criado, o CNJ Resolução n. 31. Recomenda aos Tribunais desenvolve ações e projetos destinados a a adoção de medidas visando melhor subsidiar garantir o controle administrativo e processual, os magistrados e demais operadores do direito, a transparência e o desenvolvimento do para assegurar maior eficiência na solução das Judiciário1. demandas judiciais envolvendo a assistência à saúde9. Com sede em Brasília/DF, tem competência para atuar em todo o território nacional. Entre Percebe-se que o CNJ, não só está os trabalhos desenvolvidos pelo CNJ, consta preocupado com a atuação dos juízes e o julgamento de processos relacionados a Tribunais, mas também com as decisões, pois questões administrativas do Judiciário. em alguns casos premia-se o individual em detrimento do coletivo, causando, com isso, um Recebe reclamações, petições eletrônicas forte impacto financeiro nas contas públicas. ou representações contra membros ou órgãos
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Na visão do presidente do CNJ, quando for possível a cobertura em programas ministro Ayres de Britto é necessário um cobertos por políticas públicas; aprofundamento maior de cada caso, pois se percebe que em muitos deles, o processo está f) Os Tribunais devem incluir a legislação instruído apenas com o receituário médico e relativa ao direito sanitário como matéria no para evitar injustiças e a decisão venha a onerar programa dos cursos da carreira da magistratura, demasiadamente os cofres públicos, uma vez conforme a Resolução nº 75/2009 do Conselho que o cumprimento de decisões judiciais para Nacional de Justiça (CNJ) fornecimento de medicamentos, insumos e g) Os Tribunais devem promover visitas serviços de saúde acarreta gastos elevados e dos magistrados, para fins de conhecimentos não programados, comprometendo a equidade, técnicos, aos Conselhos Municipais e Estaduais que poderiam ser evitados. de Saúde, bem como às unidades de saúde Para tanto, o CNJ recomenda aos Tribunais pública ou conveniadas com o SUS9. de Justiça dos Estados e aos Tribunais Regionais Ressalte-se, ainda, a importante Federais, para orientarem seus magistrados, no iniciativa do CNJ, através de seu presidente, seguinte: recomendando a todas as Escolas de formação a) Os Tribunais devem celebrar convênios e aperfeiçoamento de Magistrados, federais e com entidades para que os Juízes possam ter estaduais, que estabeleçam políticas específicas acesso a técnicos (médicos e farmacêuticos) de qualificação voltadas para o Direito Sanitário que lhes possam auxiliar na apreciação de e mais: questões clínicas relativas à saúde. Que incorporem o Direito sanitário b) Os juízes devem instruir os processos nos programas dos cursos de formação, que lhes chegam tanto quanto possível com vitaliciamento e aperfeiçoamento de relatórios médicos contendo a descrição magistrados e que promovam a realização de da doença, inclusive com a aposição da seminários para estudos e mobilização na área Classificação Internacional de Doenças (CID). da saúde, congregando magistrados, membros do Ministério Público e gestores, no sentido de c) Devem os magistrados ouvir os gestores propiciar maior entrosamento sobre a matéria9. do Sistema Unificado de Saúde (SUS) antes da aplicação de medidas de urgência. Assim, entende-se que o CNJ contribui com a questão da judicialização da saúde no Brasil, d) Os magistrados devem verificar junto assumindo papel importante da concretização à Comissão Nacional de Ética em Pesquisas do Direito Sanitário, pois suas recomendações (CONEP) se os requerentes fazem parte de e resoluções visam minimizar os efeitos das programas de pesquisa experimental dos decisões que, na maioria das vezes levam a laboratórios farmacêuticos. resultados insatisfatórios na questão da saúde como direito de todos. e) Determinar a inscrição dos requerentes
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A MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA Além da quantidade e da complexidade À JUDICIALIZAÇÃO NA SAÚDE a demora é um dos aspectos estatisticamente mais preocupante, fazendo do Judiciário lento Mesmo após a realização da audiência e distante do seu objetivo de garantir a justiça. pública da saúde, realizada pelo STF, bem É urgente a necessidade de oferecer solução a como as recomendações do CNJ no ano de este grande problema, não só pelos problemas 2012, o fenômeno da judicialização da saúde, endêmicos da justiça, mas pela eficácia ainda persiste, ocasionando o abarrotamento demonstrada nas alternativas extrajudiciais na de ações nos Tribunais e segundo Souza10, esse resolução dos conflitos. fenômeno provoca aumento de estrutura, custas para operacionalização da máquina judiciária, Em países europeus, a exemplo da Espanha, o sem que corresponda com a diminuição do Real Decreto-ley 5/2012, institui e regulamenta tempo de tramitação do processo. o instituto da mediação como forma de garantir aos cidadãos o pleno exercício do direito No ano de 2010 foram levantadas pelo fundamental de acesso a justiça de forma plena. Fórum Nacional da Saúde (FNS), 240.980 A Comunidade Autônoma de Cantabria ao ações ajuizadas e em tramitação. Esse dado nos estabelecer a “Ley de Mediación de Cantabria” faz refletir sobre a necessidade de se estabelecer por meio da “Ley 1/2011, de 28 de marzo”, como de forma sistematizada um mecanismo aplicação supletiva no âmbito dos conflitos extrajudicial de resolução de conflitos na sanitários, estabelecendo os princípios: saúde, de maneira célere, consensual, de Igualdade entre as partes e imparcialidade forma a reduzir a judicialização dos conflitos do mediador; neutralidade; autonomia da sanitários. vontade e livre disposição; confidencialidade; informalidade; boa fé e respeito mútuo. A intensa judicialização dos conflitos, dos Também foi criada e regulamentada a mais simples aos mais complexos, não aflinge atividade profissional de Mediador, a forma somente o sistema judiciário brasileiro, mas de fiscalização, estabelecendo os requisitos também, os mais variados sistemas, notadamente mínimos para a instauração e desenvolvimento o europeu, impulsionando a criação e regulação do procedimento13. de institutos que proporcionem aos cidadãos a resolução extrajudicial dos conflitos sociais. Nas disposições adicionais do Real Decreto Cayón11 afirma que um dos maiores desafios Ley, foi estabelecido que as administrações das sociedades contemporâneas é facilitar aos públicas devem incluir a Mediação como seus cidadãos o acesso a justiça. procedimento prévio ao processo, tanto na esfera judicial e extrajudicial, trazendo Há por parte da sociedade, um grande importantes inovações no direito espanhol13. descontentamento quanto a administração da justiça, pois muito embora, os litígios nos Para Souza10, vários fatores contribuem para tribunais se avolumem, tendem a eternizar-se a intensa judicialização dos conflitos sanitários com consideráveis gastos processuais12. no Brasil e não há uma sistematização legal do sistema sanitário, interferindo na sua
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estrutura organizativa e causando falha na No Brasil, o Estado de Mato Grosso, gestão administrativa, o que impulsiona a conta com um projeto de implantação de um confecção de políticas públicas por meios método consensual de solução de conflito de de atos infralegais, tornando sua efetividade natureza extrajudicial e de caráter público vulnerável e precária, ausência de políticas a ser desenvolvido, onde os conflitos serão públicas que atendam a necessidade da pacificados pelas próprias partes, mediante população, a execução ineficiente das políticas diálogo, possibilitando ao cidadão participar públicas existentes, orçamentos públicos ativamente na solução de um conflito limitados, além de outras situações que levam sanitário, bem como, inseri-lo não somente na o cidadão ao Poder Judiciário para a efetivação administração da justiça, mas também garantir do direito à saúde. cumprimento à diretriz da participação da comunidade quanto ao Sistema Único de A intensa judicialização dos conflitos Saúde, além de incentivá-lo a participar numa sanitários, quando se pleiteia ações e serviços perspectiva coletiva. de saúde, como forma de garantir e efetivar o direito subjetivo à assistência da saúde pública, Afirma Souza: como se apresenta na realidade, destaca Delduque e Marques14 um modelo, Alternative Que não se trata de um projeto único,
Dispute Resolutions-ADR, que trata de um absoluto, pronto e acabado, mas de uma proposta/
conjunto de instrumentos de gestão de conflitos contribuição apresentada pelo Poder Judiciário
sociais e de resoluções das controvérsias que se objetivando que a pacificação dos conflitos
apresentam como alternativa a judicialização. aconteça ordinária e preferencialmente no âmbito
da administração pública, sendo a via judicial Existem no Estado brasileiro ensaios de acionada quando a resolução extrajudicial da mediação nos conflitos sanitários, de forma não controvérsia reste inviável após uma fracassada sistematizada. A mediação é um procedimento tentativa de solução amistosa, sendo, dessa consensual de solução de conflitos, por meio forma, o ponto de partida para discussão e do qual uma terceira pessoa imparcial e enfrentamento de uma questão que não pode escolhida ou aceita pelas partes, age no sentido mais perdurar. (p.25)10. de encorajar e facilitar a resolução de uma divergência. As pessoas envolvidas nesse Por outro lado, é permitir que resolva o conflito são as responsáveis pela decisão que conflito onde deve ser ordinariamente resolvido, melhor as satisfaça. ou seja, no âmbito da administração pública, com participação ativa pelos responsáveis em Assim, a mediação representa um executar as políticas públicas de saúde, bem mecanismo de solução de conflitos pelas como, com a participação do cidadão nessa próprias partes, que, movidas pelo diálogo, estrutura, tornando o processo mais legítimo encontram uma alternativa ponderada, eficaz e, assim, cumprir o preceito constitucional da e satisfatória, sendo o mediador a pessoa que participação popular. auxilia na conciliação desse diálogo. Havendo controvérsias nas discussões,
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uma terceira pessoa, neutra e imparcial, será 7.497 atendimentos, destes, apenas 567 foram convocada para atuar pelas vias da conciliação; peticionados judicialmente, constatando e, outra via seria a instalação de Unidades assim a eficácia da mediação como alternativa de Gestão de Conflitos (UGC) no âmbito eficaz para a solução dos conflitos sanitários, da estrutura organizacional da Secretaria de atendendo a necessidade do cidadão de forma Estado de Saúde. Não implicando na extinção célere e eficiente15. ou exclusão da primeira pela implantação e consolidação da segunda, podendo atuar as Como os pacientes procuram a Defensoria duas formas complementarmente10. Pública logo após a negativa de seu pleito pela Secretaria de Saúde, quando há uma EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS NO significativa demora no atendimento ou BRASIL: ESTUDO DE CASO NO orientados pelo médico que os atendeu, a DISTRITO FEDERAL mediação evita que o paciente que aguarda na fila o seu atendimento seja passado para A Defensoria Pública do Distrito Federal trás pelo adquirente do serviço de saúde por vem desenvolvendo uma prática, extrajudicial, decisão judicial. bastante positiva de solução de conflitos sanitários, através de um fluxo entre a A Defensoria Pública do Distrito Federal Defensoria Pública e a Secretaria de Saúde, com o objetivo de criar uma Câmara de com a finalidade de se evitar a judicialização15. Mediação de Solução dos Conflitos na Saúde tem promovido reuniões com representantes Segundo dados da Defensoria Pública do da Secretaria de Saúde e Procuradoria Geral, Distrito Federal, do número de atendimentos e órgãos distritais, que em conjunto sugerem ao de ações ajuizadas, dezenove são patrocinados gestor público sua regulamentação, propondo, pela Defensoria Pública. Como forma de se inclusive, Minuta de Decreto, criando a Câmara evitar a judicialização, a Defensoria Pública Permanente Distrital de Mediação em Saúde vem exercendo a mediação entre o cidadão – CAMEDIS, que seria a responsável pela e a Secretaria de Saúde, através de contatos mediação relativa às demandas por serviços telefônicos, e-mails e envio de ofícios, nos ou produtos de saúde oferecidos pelo Sistema quais expõe a situação do cidadão, seu direito, Único de Saúde (SUS) no Distrito Federal15. a obrigação do Poder Público e, finalmente, enfatiza os benefícios de uma solução extrajudicial para ambas as partes15. CONCLUSÃO Mesmo sem um modelo sistematizado para a pacificação dos conflitos, a mediação O artigo teve como desafio maior refletir é efetivada diminuindo de forma expressiva acerca da judicialização da saúde no Brasil, a judicialização dos conflitos sanitários do em face da enorme quantidade de demandas Distrito Federal. Conforme estatística do judiciais e a inércia do Estado em implementar Núcleo de Saúde da Defensoria Pública, de e sistematizar a Mediação como novo janeiro a agosto de 2012, foram realizados mecanismo de solução de conflitos da saúde.
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O acesso aos serviços de saúde, insertos de bens e pela injustiça. na Constituição Federal de 1988 como direito fundamental e subjetivo de todos os cidadãos, Finalmente, aponta-se a Mediação, é um dever do Estado, que deve provê-los de que se implementada e sistematizada forma eficiente. Para tanto, o Estado precisa adequadamente, como forma de solução de dispor, não só de recursos para garantir o acesso conflitos extrajudicial, com a participação dos aos serviços de saúde aos cidadãos, mas também interessados, certamente seria uma importante de um planejamento adequado. Além desses meio de soluções de conflitos de forma célere, dois importantes fatores, temos uma máquina posto que fundamentada no diálogo e na Estatal bastante burocratizada e ineficiente, solidariedade entre os envolvidos, em busca de levando os cidadãos a se socorrer do Judiciário uma eficaz solução. para que este atue e não seja conivente com REFERÊNCIAS essa gritante inconstitucionalidade que causa um problema social significativo. Sarlet I. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal Assim, a questão da judicialização da de 1988 . 2. ed. Porto Alegre: Livraria do saúde no Brasil, acabou ganhando contornos Advogado; 2002. p. 60 e relevância, exigindo uma profunda reflexão acerca do tema, como forma de apontar Romero LC et al. Avaliação das atividades causas e possíveis soluções, inclusive, com a do legislativo na área de saúde pública (1995- participação do STF, STJ, CNJ e a sociedade. 1996). Brasília: Senado Federal;1998. p. 7-8. O debate histórico e de grande importância aconteceu a partir da convocação de audiências Delduque MC. Observar para participar: públicas pelo STF e CNJ em 2010, para a world wide web como instrumento para se discutir com os interessados os rumos acompanhar a produção legislativa em saúde da judicialização no Brasil. Apesar das no Brasil. In Estudos de Direito Sanitário: a recomendações e conclusões dessas audiências, produção normativa em Saúde. Luiz C.Romero a judicialização ainda preocupa bastante, e M.Celia Delduque (orgs). Brasília: Senado especialmente quando se percebe a quantidade Federal; 2011. p. 157-62. de demandas e o tempo que o Judiciário leva para julgá-las. Bartolomei CE, et al. Saúde, direito de todos e dever do Estado. Senatus. 2005; 4(1): 60-5. Apesar das críticas da busca cada vez maior pelo Judiciário para solução dos conflitos Gunther H. Pesquisa qualitativa Versus relativos aos serviços da saúde, os conflitos de Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão?. interesses, devem ser entendidos como forma de Psicologia: Teoria e Pesquisa.2006; 22(2): acesso à justiça, pois induz o cidadão comum a 201-10 exercer a sua cidadania, conhecer seus direitos, prerrogativas e liberdades, visando a paz social Aragão J. Introdução aos estudos em uma sociedade marcada pela concentração quantitativos utilizados em pesquisas
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científicas. Revista Práxis. 2011;6: 59-62.
Delduque MC, Marques SB. A produção
Legislativa em Saúde entre 2007 e 2010: Resultados Preliminares do Observatório da Saúde no Legislativo. Produção normativa em saúde: políticas setoriais e regulação. Brasília: Senado Federal; 2012. p.295-302.
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o aborto no Brasil: avanços e desafios para o campo da saúde coletiva. Cad.Saúde Pública. 2009; 25(Suppl. 2):193-204.
Artigo apresentado em: 13/03/2013
Artigo aprovado em: 25/03/2013 Artigo publicado no sistema em: 02/04/2013