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verve
Revista Semestral do Nu-Sol — Núcleo de Sociabilidade Libertária
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP
25
2014
VERVE: Revista Semestral do NU-SOL - Núcleo de Sociabilidade Libertária/
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP.
Nº25 (Maio 2014). São Paulo: o Programa, 2014 - semestral
ISSN 1676-9090
Editoria
Nu-Sol
Conselho Editorial
Conselho Consultivo
ISSN 1676-9090
verve
verve
Drogas-Nocaute 2
153 Drugs-Knockout 2
Edson Passetti & Acácio Augusto
resenhas
Um arquivo sobre a educação e a cultura anarquista no Brasil
189 An archive of the anarchist education and culture in Brazil.
Lúcia Bruno
Notas
1
Este artigo, assim como o que foi publicado na revista verve nº 24,
2013, “Roberto das Neves: um cidadão do Mundo”, é resultado de minha
participação no Projeto MOSCA – Movimento Social Crítico e Alternativo
– Memórias e Referências, projeto de investigação e desenvolvimento
tecnológico financiado pela FCT. [Esta é a 1ª parte do artigo completo. A
2ª parte será publicada em verve nº 26 (N.E.)].
2
Luís Portela e Edgar Rodrigues. Na Inquisição do Salazar. Rio de Janeiro,
Editora Germinal, 1957, pp. 51-52.
3
Idem, pp. 208-209.
4
Edgar Rodrigues. Lembranças Incompletas. Guarujá (SP), Editora Opús-
culo Libertário, 2007, pp. 24-25.
5
Idem, pp. 25-26.
6
Entrevista de Edgar Rodrigues ao autor em 12 de março de 2007. Rio de
Janeiro, p. 1.
7
Idem.
Resumo
Primeira parte da biografia política do pesquisador, arquivista
e historiador autodidata e anarquista Edgar Rodrigues. Relata
sua vida e militância em fuga da ditadura de Salazar para o
Brasil e, após uma década no Rio de Janeiro, o envolvimento
com o movimento anarquista e suas ações de resistência à
ditadura civil-militar de 1964 no Brasil.
Palavras-chave: anarquismo no Brasil; arquivos operários;
resistência a ditaduras
Abstract
The article is the first part of the political biography of the
anarchist teacher, archivist and autodidact historian Edgar
Rodrigues. It recounts his life and militancy while escaping
Salazar’s dictatorship and, after ten years in Rio de Janeiro,
his involvement with the local anarchist movement and
his resistance acts against the 1964’s civilian-military
dictatorship.
Keywords: anarchism in Brazil; workers archives; resistances
against dictatorships.
A todos aqueles que não estão mais entre nós para contar esta e
outras histórias.
“Lembra daquele tempo
Que sentir era
A forma mais sábia de saber
E a gente nem sabia?”
(Alice Ruiz)
Notas
1
Juscelino Kubischeck governou de 1956 a 1961.
2
Jânio Quadros governou em 1961 e João Goulart, de 1961 a 1964.
3
Heloísa Buarque de Hollanda. Impressões de Viagem. Tese de Doutorado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1978.
4
Tania Coelho dos Santos. “A mulher Liberada e a Difusão da Psicanálise”
in Sérvulo Augusto Figueira (org.). O Efeito Psi. Rio de Janeiro, Campus,
1988, pp. 103-120.
5
Luiz Carlos Maciel. Anos 60. Porto Alegre, L&PM, 1987, p. 7.
6
O PNA era um programa de alfabetização vinculado ao Ministério
da Educação criado em 1961, no governo João Goulart. Após ter sido
experimentado em Pernambuco, foi trazido para o Rio de Janeiro, onde deu-
se prioridade às regiões mais pobres do estado, como a Baixada Fluminense.
Neste Programa, disputavam a hegemonia política o Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e a Ação Popular (AP), corrente cristã muito presente
naquele momento no movimento estudantil, tal como ocorria na UNE.
7
Sobre o conceito de Reparação, aprovado pela Assembleia Geral da ONU
em 2005, que aponta para a investigação, averiguação, publicização e responsa-
bilização dos crimes cometidos e para medidas que possam impedir e, mesmo,
garantir a não repetição de tais crimes perpetrados pelo Estado, ver: Cecília
Coimbra. “Reparação e Memória” in Cadernos AEL: Anistia e Direitos Humanos.
Campinas, UNICAMP/IFCH/AEL, v. 13, n. 24/25, 2008, pp. 13-38.
8
O Grupo Tortura/RJ, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Políticos de São Paulo e o Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional
(CEJIL) foram os peticionários desta ação.
9
Para uma análise mais detalhada sobre os limites desta Comissão Nacional
e das estaduais, ver: Cecília Coimbra. “Comissão Nacional da Verdade:
acordos, limites e enfrentamentos” in Alexandra Maria Campelo Ximendes,
Carolina dos Reis e Rafael Wolski de Oliveira (orgs.). Entre Garantia
de Direitos e Práticas Libertárias. Porto Alegre, Conselho Regional de
Psicologia, 2013, pp. 35-42.
10
Importante apenas levantar, pois não é tema deste pequeno artigo, as medi-
das repressivas que vêm sendo massivamente tomadas pelos governos estadual
e municipal do Rio de Janeiro com o apoio do governo federal no sentido de
criminalizar e reprimir com mais competência os “vândalos” e “baderneiros”,
tendo em vista as grandes manifestações de junho de 2013 e os investimentos
internacionais ligados à FIFA, ao banco Itaú e à AMBEV, dentre outros. O
AI-5 da Copa, como está sendo conhecido, vem se implementando no Rio
de Janeiro. Exército e Força Nacional farão o controle da cidade do Rio, con-
siderada “área de segurança nacional” a partir de maio de 2014. Já em 24 de
março de 2014, às vésperas dos 50 anos do golpe, acordo entre os governos do
estado e o federal decide que, até 10 de abril, as tropas militares do Exército e
da Força Nacional, cerca de 4000 homens, desembarcarão “no conjunto de 15
favelas, onde vivem quase 130 mil pessoas”. Cf. “Beltrame confirma que Exér-
cito ocupará o Complexo da Maré” in O Globo. Rio de Janeiro, 24/03/2014.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/beltrame-confirma-que-exerci-
to-ocupara-complexo-da-mare-11966328 (acesso em: 24/03/2014).
Resumo
Análise-depoimento acerca dos 50 anos do Golpe Civil-Militar
de 1964. Afastado do saudosismo conservador, o artigo retoma
eventos do dia do golpe e a tomada do CACO pelos militares.
Questiona a continuidade da censura e da tortura mesmo na
democracia. Alerta para a retomada necessária dessa memória,
desviando-se dos acordos e concessões da Comissão Nacional da
Verdade e suas correlatas estaduais. Afirma a continuidade do
vigor político dos que enfrentaram o golpe para construção de
outros mundos sem cair da chantagem do possível.
Palavras-chave: resistências, ditadura civil-militar, memória.
Abstract
The article is an analysis-testimony of the 50th anniversary of
the civilian-military coup d’état of 1964. Moving apart from
the conservative nostalgia, the text goes through events which
took place in the coup’s day and the occupation of the CACO
by the military. The article problematizes the continuity
of censorship and torture even in a democracy. It also alerts
to the necessity of not conceding to negotiations such as the
ones hold by the National and State Truth Commissions. At
last, the article stands for the political vitality of who fought
the dictatorship aiming the construction of new worlds
without falling in the blackmailing of the possible choices.
Keywords: resistances, civil-military dictatorship, memory.
assoalho
ou o baralho da vida
Apesar do apelido pejorativo para quem possui o rosto
comprido e largo, aquele rosto nem se assemelha a um
cavalo. Entretanto, a alcunha pegou, alcunha que se repetia
para alguns outros “marginais” com uma cara comprida.
O apelido “fazia” o delinquente na imprensa policial. O
nome verdadeiro pouco importava, a alcunha ao partir
de alguma característica criava uma intimidade junto ao
público dos meios de comunicação, predominantemente
jornais e rádio. “Mineirinho”, “Paraibinha”, “Micuçu”,
“Buck Jones”, “Bidu”, “Miguelzinho”, “Caveirinha”, “Rei
dos Bodes”. O termo Cara de Cavalo apelidava várias
pessoas que nas notícias apareciam como uma só, sob
a mesma alcunha. Ao menos três nomes receberam o
mesmo apelido de Manoel Moreira: Ivan Timóteo14;
Gerson Andrade Duque15 e Jorge Gama da Silva16. Outros
nem eram identificados, ficando a alcunha. Dentre estes
sem nome, um apareceu como integrante do “Bando de
Laerte”, em 1957, e outro como integrante do “Bando do
Mineirinho”, inimigo público nº 1 de 1961.
“Cadeia é prêmio para o pistoleiro louco. Não estou
caçando Mineirinho para prender. Cadeia não adianta
para bandidos dessa espécie. Mineirinho terá o mesmo
fim de Cara de Cavalo, Carioquinha e China Maconheiro,
será fuzilado!” 17 – disse ao Última Hora (UH) o delegado
Werther Losso de Nilópolis, conhecido como o “limpador
de cidades” e que se empenhava a fundo na caçada ao
pistoleiro.
Nas notícias da perseguição policial a Manoel Moreira, os
crimes atribuídos a todos os Caras de Cavalo que circularam
Notas
1
Hélio Oiticica. Poema Cara de Cavalo. São Paulo, 1968. Disponível em:
http://www.itaucultural.org.br (acesso em: 06/02/2014).
2
O Dia, 05/10/1964.
3
Diário de Notícias, 05/10/1964.
4
Jornal do Brasil, 05/10/1964.
5
Brigitte Bardot, ícone do cinema francês dos anos 1960, morou em uma
praia na região de Búzios em janeiro de 1964 e projetou o lugar como um
ponto turístico mundial. Recentemente foi homenageada com uma estátua
em tamanho natural para enfeitar a orla.
6
Diário de Notícias, 04/10/1964.
7
Hélio Oiticica. Texto de 1968 para o catálogo da Exposição de Hélio em
Londres. WhiteChapel, 1969. Disponivel em: http://www.itaucultural.org.
br (acesso em: 06/02/2014).
8
Hélio Oiticica realizou duas obras para homenagear Cara de Cavalo: B33
Caixa Bólide 18 Homenagem a Cara de Cavalo Poema-Caixa 2 em 1966, e
Bólide 56 Bólide-Caixa 24 CaraCara Cara de Cavalo em 1968. Importante
lembrar que a imagem da bandeira “Seja Marginal, Seja Herói” não é de Cara
de Cavalo, mas de um bandido que morreu às margens do riacho Timbó após
uma perseguição policial. Os jornais noticiaram que ele se suicidou para não
ser preso. Hélio trabalhou com a ideia do suicídio como meio de escapar da
prisão e fez o Bólide B44 Caixa-Bólide 21 Caixa Poema 3 com a imagem do
suicida em que perguntava “Porque a impossibilidade?”. Publicou um texto
sobre os dois bandidos na coluna de arte de Frederico Morais no Diário de
Notícias, “Heróis e Anti-Heróis”, em 10/04/1968.
9
Hélio Oiticita, 1969, op. cit.
10
“Gangster sanguinário fuzilou ‘rei’ dos caçadores de bandidos” in A Notícia,
28/08/1964.
11
Jornal do Brasil, 28/08/1964.
12
O Dia, 31/08/1964.
13
A Notícia, 04/08/1964.
14
Última Hora, 22/02/1961.
15
Última Hora, 09/10/1962.
16
Última Hora, 09/10/1963.
17
Última Hora, 05/10/1961.
18
Jornal do Brasil, 02/09/1964.
19
A Notícia, 09/09/1964.
20
Correio da Manhã, 15/09/1964.
21
Última Hora, 02/09/1964.
22
João do Vale e Sivuca. “Depoimento de Sivuca” in Otávio Ribeiro. Barra
Pesada. Codecri, Rio de Janeiro, 1985, p. 214
23
A Notícia, 29/08/1964.
24
Diário de Notícias, 29/08/1964.
25
Diário de Notícias, 06/11/1962.
26
Jornal do Brasil, 29/08/1964.
27
Idem.
28
Jornal do Brasil, 31/08/1964.
29
Idem.
30
A Notícia, 06/09/1964.
31
Hélio Oiticica, 1968, op. cit.
32
Jornal do Brasil, 05/10/1964.
33
Jornal do Brasil, 04/12/1966.
34
Jornal do Brasil, 6 de julho de 1957.
35
Márcia Costa. São Paulo e Rio de Janeiro: a constituição do Esquadrão da Morte.
São Paulo, Clacso, p, 9. Disponível em: http://portal.anpocs.org/portal/
index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=5205&Itemid=359
(acesso em: 08/02/2014).
36
Última Hora, 11/05/1957.
37
Última Hora, 29/06/1959.
38
Última Hora, Hora H. “A polícia de Lacerda” in Hora H.,11/10/1960.
39
Última Hora, 04/09/1964.
40
Jornal do Brasil, 09/05/1964.
41
Correio da Manhã, 04/09/1964.
42
O Dia, 04/09/1964.
43
Última Hora, 02/09/1964.
44
Última Hora, 03/09/1964.
45
Diário de Notícias, 03/09/1964.
46
Idem.
47
Última Hora, 17/10/1961.
48
Jornal do Brasil, 03/09/1964.
49
Pela data, a gestão de Amaury Kruel citada deve provavelmente ser a de
chefe de polícia que ele ocupou durante o Estado Novo.
50
Jornal do Brasil, 05/09/1961.
51
Última Hora, 05/10/1961.
52
Jornal do Brasil, 21/08/1963.
53
Depoimento do Tenente Erimá Moreira. Disponível em: http://www.
institutojoaogoulart.org.br/video.php?id=254 (acesso em: 08/02/2014).
54
Martha Huggins. Policia e Política Relações Estados Unidos e América Latina.
Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo, Cortez, 1998, p. 9.
55
Idem, p. 113.
56
“Conexão Americana: EUA treinaram mais de 100 mil policiais no
Brasil” - Entrevista com Martha Huggins in Folha de São Paulo - Caderno
Mais, 23/08/1998. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/
fs23089805.htm (acesso em: 08/02/2014).
57
Disponível em: http://www.revistabrasileiros.com.br/2014/01/24/
comissao-nacional-da-verdade-faz-diligencia-em-antiga-vila-militar-no-
rio/#.UzgZukZOXMx (acesso em: 06/02/2014).
58
Sobre caso Aurora Maria Nascimento Furtado (Lola), ver: http://www.
comissaodaverdade.org.br/caso_integra.php?id=20 (acesso em: 06/02/2014).
59
Hélio Oiticica, 1968, op. cit.
60
A Notícia, 01/09/1964.
61
Jornal do Brasil, 09/09/1964.
62
João do Vale e Sivuca, 1985, op. cit., p. 215.
63
“Hino da Escuderia LeCocq” in R. S. Rose. The unpast: Elite Violence and
Social Control in Brazil, 1954-2000. Ohio University Press, 2005, p. 257.
Disponível parcialmente em: http://books.google.com.br/ (acesso em:
04/02/2014).
64
Hélio Oiticica, 10/04/1968, op. cit. [Grifos do autor].
65
O Dia, 05/10/1964.
66
João do Vale e Sivuca, 1985, op. cit., p. 219.
Resumo
Quase 50 anos atrás, Hélio Oiticica homenageou com duas
obras de arte o seu amigo Cara de Cavalo, um bandido
morto pela polícia em 1964, depois de uma caçada humana
espetacular. Este artigo investiga o contexto deste assassinato,
focando na polícia brasileira que estava sendo reformada desde
antes do golpe civil militar de 1964, a fim de combater os
“inimigos internos”, esquerdistas ou bandidos comuns, como
parte de uma política de segurança internacional para conter
o comunismo.
Palavras-chave: polícia, segurança internacional, golpe civil-
militar de 64.
Abstract
Almost fifty years ago, Helio Oiticica homaged with two works
of art his friend Cara de Cavalo, a bandit killed by the police
in 1964 after a spectacular manhunt. This article investigates
the context of this killing focusing the brazilian police that
had been remodeled since before the civil military coup d’état
of 64 in order to combat the ‘internal enemies’, leftlists or
common outlaws, as part of an internacional security policy of
communist contention.
Keywords: police, international security, civil military coup
d’état of 64.
joseph déjacque
I.
Teríamos até o presente momento examinado a
questão em seu todo? Teria ela sido considerada numa
visão abrangente, e profundamente esmiuçada? Não que
eu saiba. Então, tentemos fazer com que algumas luzes
penetrem nessas trevas.
II.
Por volta do fim do século XVIII, os colonos rebeldes
fizeram uma Constituição que, é verdade, libertava
as colônias inglesas do vampirismo da metrópole, e
nisso eles estavam certos. Mas políticos tradicionalistas
III.
Já há muito tempo existe antagonismo entre o Sul e o
Norte, ou seja, entre os homens que desejam perpetuar e
ampliar a escravidão dos africanos, e aqueles que querem
restringi-la, aniquilá-la, e seus intrépidos companheiros
IV.
A República americana, tão revestida de instituições
monárquicas, mas baseada no protestantismo em religião, e
no liberalismo em política, ou seja, no princípio de negação
do absolutismo autoritário, pertence fatalmente ao estado
de progresso filosófico e social, ou correria risco de suicídio.
Nada mais natural que ela seja o pesadelo dos partidários
da eterna e absoluta Autoridade, das quais os célebres
filhos de Loyola são os táticos universais, os generais em
comando, os Reverendos Pais e Tutores. Assim, não é de
hoje que essa corja católica e inquisitorial trabalha pela
perda desse simulacro da República. Os Jesuítas sabem
que a escravidão é a lepra viva que deve destruí-lo, caso o
Norte não a arranque de seus flancos empregando o ferro
e a chama, o pensamento e a ação libertários. Desse modo,
eles se estabeleceram de longa data em todos os cantos e
recantos da União. No Sul, como em 1792 na Vendeia3,
como antes das Jornadas de Junho por toda a França, eles
atiçam o fogo da guerra civil, e impulsionam os estados
agrícolas à Secessão, os exploradores à Reação.
Espojando-se no arsenal da intriga e da calúnia, eles
enchem seus odres de duas caras e os esvaziam aos poucos,
nos ouvidos daqueles que funcionam como para-raios
V.
Americanos, atenção: abram os olhos e os ouvidos. É a
Companhia de Jesus, essa temível organização tenebrosa,
cujo princípio é transformar qualquer indivíduo ou nação
em cadáver, um corpo maquinal do qual ela se reserva ser a
força motriz; foi ela, não duvidem, que incubou e fez eclodir
o acontecimento da Secessão e o governa em proveito
próprio. São suas mãos que detêm os fios que movimentam
os fantoches democrata-escravagistas, os cavalheirescos
chicoteadores de negros, os reacionários tanto do Sul
quanto do Norte, os renegados do partido republicano-
abolicionista, os ponderadores políticos, os governantes em
expectativa, assim como, entre outros, Lamartine-Seward6,
esse ministro-sirene do futuro gabinete, destinado a
adormecer ou extraviar a opinião popular que se manifestou
triunfante na última eleição presidencial. A Companhia de
Jesus, através do instrumento do confessionário, onde vêm
se ajoelhar milhares de criados irlandeses, sabe tudo o que
acontece em suas casas burguesas, e através das relações
dessas mulheres e das operárias da mesma nação com seus
amantes ou maridos, também o que está acontecendo na
mansarda e na oficina do proletário. A metade dos seus
empregados de escritório ou loja é formada de irlandeses,
animais católicos, e que se prestam como espiões da
Companhia de Jesus. Bom número de franceses de todas
as classes se alista nas seções dessa sociedade de malfeitoria
secreta. Os padres jesuítas levaram quase três quartos de
século para tramar sua rede e com ela já cobriram a União.
Agora, como autoritários caçadores de pássaros, imaginem
o que eles não farão brilhar a seus olhos, pobres americanos,
para aprisioná-los como andorinhas? Vocês esvoaçam ao
redor do perigo e nem parecem desconfiar disso.
VI.
Os filhos da Grã-Bretanha, essa terra do livre exame,
os emigrados do outro século para o solo da América,
não podendo suportar por mais tempo o jugo vexatório
da autoridade metropolitana, dilaceraram pela palavra e a
espada o velho pacto ao qual os tinham amarrado os pais
legais da mãe-pátria: eles proclamaram a independência e
a união das colônias insurgidas. A República do pavilhão
constelado de estrelas foi inaugurada por esses descendentes
de regicidas, sobre os trapos da Constituição real lacerada
e lançada aos quatro ventos. Foi desde então que a raça
das Missões Jesuíticas encaminhou-se para esse jovem
rebento de liberdade para aí tomar posição, e na época da
maturidade da árvore, devorar seus frutos como um verme
roedor. A escravidão dos negros existia na Constituição
real: vergonhosamente, a Constituição republicana a
manteve, para não melindrar os preconceitos sórdidos de
muitos patrícios, proprietários de hilotas7, e formar com
todos os Estados um feixe capaz de resistir à invasão, caso
a coroa da Inglaterra persistisse em querer recuperar suas
possessões perdidas. A hora do abolicionismo universal
só ressoava fracamente no relógio das consciências. A
Revolução francesa ainda não tinha agitado seu archote
de igualdade sobre o Mundo!
VII.
Os jesuítas, que vigiam atentamente qualquer
pulsação do Progresso para sufocá-la, sabem que o
partido republicano-negro, uma vez engajado na via da
VIII.
Americanos, esse é o plano dos jesuítas. Eu o denuncio
a vocês. Vocês são homens para desmanchá-lo? Temo que
não. Como o povo de França, vocês admiram os espertos,
os smarts; os políticos de vocês, tanto aqueles que querem
defender quanto os que querem violar a Constituição,
são aqui, como na França no 02 de dezembro [de
1851], personagens desconsiderados, inimigos ambos da
liberdade industrial e intelectual do proletariado. A sua
Constituição e suas assembleias legislativas lhes impõem
vergonha e miséria, as leis sobre os escravos fugitivos e
do domingo e as leis protetoras dos [privilégios] do
Rico e atentatórias aos direitos dos Pobres. Gemendo
sob os sofrimentos que os massacram, vocês ainda não
entenderam qual é o remédio. Que pena! Como há dez
anos seus irmãos do velho continente – vocês têm nove
chances contra uma de cair na armadilha que espreita
seus passos! É provável que não sigam o conselho que
lhes dou. Nessa questão, como na questão greves. Ainda
desta vez devo ter pregado no deserto. Não faz mal, o
que não está maduro, amadurecerá, a ideia semeada não
está perdida para a colheita. A boa palavra, que hoje se
chama Socialismo, mas que antigamente se chamava
Cristianismo, não saiu triunfante do deserto? Mais de um
profeta precedeu o Messias!...
Profetas da Nova Ciência, não cansemos de professá-la.
Ela já teve seu Jordão, o Sena! Onde foi batizada em Junho
de 184814!... Se, por infelicidade, eu tiver que presenciar
ainda o sucesso deste outro golpe de Estados dos jesuítas,
que os democrata-escravagistas levem a melhor e violem
a União; pois bem, eu vou me consolar imaginando que os
jesuítas, que são seus diretores ocultos, no final das contas
IX.
Mas para voltar à questão americana. Não há nada
simples no mundo, tudo é composto; e os complôs dos
jesuítas são como qualquer outra coisa. Os jesuítas não
são gente de ter apenas uma corda em seu arco, uma
única flecha em sua aljava. Caso a corda do golpe de
Estado arrebente, se eles não conseguirem fazer com
que os conjurados escravistas tomem a capital federal,
e se fracassarem em seu projeto de apelo ao Povo, eles
irão lançar mão da Secessão, e usarão sem escrúpulos essa
corda. Uma vez inteiramente operada a divisão entre o Sul
e o Norte, seria necessário que eles fossem muito inábeis
para não conseguir organizar enquanto monarquia os 14
Estados sulistas, e garantir para essa monarquia a aliança
da França imperial e de todas as outras nações católicas
sobre as quais exercem controle: até mesmo a aliança
comercial da Inglaterra. Ali, nesse regaço do escravagismo,
em meio a seus caros filhos, os fazendeiros, seus esforços
seriam infalivelmente coroados de sucesso, a menos que
a insurreição servil entrasse em jogo, e que armada com
a tocha e o gládio, ela também redigisse, com traços de
sangue e chama, sua Declaração de Independência, a
X.
Expus a situação. Mostrei os perigos. Vejamos quais
são os meios de conjurá-los.
XI.
O proletário branco é o irmão natural do escravo ne-
gro, deve-lhe seu apoio, e ele seguramente o daria se não
estivesse aprisionado pela Constituição. Não há dúvida
que se tomássemos cada americano em separado e pergun-
tássemos sua opinião sobre a escravidão, a grande maioria
responderia com sua condenação; e isso não somente no
Norte, mas também no Sul. Apenas a violência e a astú-
cia governamentais impedem que tanto o Norte quanto o
Sul a manifestem. No Norte, pelos editos dos governantes
oriundos da intriga e da corrupção, e que relegam à con-
dição de párias os homens de cor livres, visando alimentar,
na plebe branca, preconceitos absurdos, tornando-a mo-
ralmente escrava, para governá-la mais facilmente e para a
perpetuidade; de maneira que, nos próprios Estados livres,
o proletário branco não ousa tratar como igual seu irmão,
o proletário negro, com medo de atrair a reprovação dos
gentlemen, a acusação de seus patrões e senhores de todo
tipo; de forma absolutamente igual àquele que, liberado de
toda superstição em Deus, não deixa de ir ao templo, para
um casamento, batismo ou enterro, temendo ser notado
pelos detentores do capital, de todos os tiranos políticos e
religiosos, e de ser, como ateu, privado de seu ganha-pão.
XII.
Falou-se de Plebiscito, de apelo ao Povo. Pois bem, isso
que acabei de propor, minha solução, também é o apelo ao
Povo: não um apelo ao povo efêmero, mas permanente;
não um simples plebiscito por um sim ou um não num
compromisso redigido arbitrariamente pelos mandarins
revestidos das insígnias da autoridade: mas o Povo (e
não mais desta vez a plebe, como indica claramente a
palavra plebiscito) na posse imediata e constante de sua
inalienável, sua imprescritível soberania: ou seja, o próprio
povo votando universal e diretamente todas as leis sob
inspiração de minha an-árquica iniciativa.
Com o que estão atualmente ocupadas as assembleias
legislativas representativas? Com seus interesses
particulares e não com os do povo. Com o que poderiam
se ocupar as assembleias legislativas universais e diretas
senão, direta e universalmente com os interesses do povo
e não com os de uma casta? Então, não haveria mais na
República o temor de interesses seccionais; apenas o
interesse geral faria lei; o interesse soberano de cada um,
XIII.
Neste solo que não me viu nascer e no qual a ira contra
a Autoridade me fez buscar um refúgio; vivendo em teu
meio, povo americano, que eu gostaria que fosse menos
religioso e mais socialista; eu, homem livre do globo, e
me considerando em qualquer lugar como em minha
pátria, tentei nas páginas precedentes esclarecê-lo sobre
os perigos que o ameaçam; tentei iniciá-lo um pouco nas
ideias de liberação que vicejam na Europa. Fiz o que ditou
minha consciência, o que me impôs o dever. Homens de
meu continente lhe trouxeram, outrora, o apoio de suas
espadas; voluntário da Revolução universal também
coloco minha arma, minha pluma, a serviço de sua causa.
Que hoje ela possa pesar tanto quanto o gládio pesou
Notas
1
Artigo publicado na edição n. 27 de Le Libertaire, lançado em 04 de fevereiro
de 1861. O texto é uma conclamação aos trabalhadores estadunidenses, negros
e brancos, à luta pela democracia direta e contra o imobilismo conservador
do sistema político e econômico estadunidense às vésperas, e já no contexto
do início da guerra entre os Estados do norte e do sul dos EUA. A chamada
Guerra de Secessão começou pouco depois, no dia 15 de abril, quando tropas
do sul atacaram o forte Sumter, em Charleston, na Carolina do Sul. A guerra
civil terminou em junho de 1865, após a morte de aproximadamente oitocentas
mil pessoas, com a vitória do norte. Déjacque retornou à França no final da vida,
mas desapareceu sem deixar vestígio (N.E.).
2
Déjacque refere-se a execução do abolicionista branco americano John
Brown, morto por enforcamento em 1859 após ter liderado uma revolta de
negros na Virginia contra a escravidão (N.T.).
3
O autor faz menção à guerra civil que aconteceu entre 1791 e 1796
na Vendeia, ou Vendée em francês, na costa da região do Loire entre
contrarrevolucionários e as tropas da Primeira República Francesa (N. E.).
4
Déjacque se refere ao conflito conhecido como Chouannerie, rebelião de
caráter monarquista contra a Revolução Francesa, iniciada por volta de 1792
e que foi coligada ao levante monarquista da Vendeia (N.E.).
5
Déjacque elabora várias comparações à situação dos EUA com a da França
revolucionária do final do século XVIII, a de 1848 e a do período do Golpe
de Estado de Luís Napoleão, em 1851. O autor não se alonga na explicação
desses fatos históricos, provavelmente por supô-los conhecidos aos seus
leitores. Por isso, tais analogias serão detalhadas, em nota, ao longo do texto
(N.E.).
6
Déjacque refere-se a William Seward (1801-1872), governador de Nova
Iorque, senador e secretário de Estado no governo de Abraham Lincoln que
foi um dos mais destacados opositores à escravidão no Partido Republicado.
É provável que Déjacque compare Seward a Alphonse de Lamartine (1790-
1869), poeta e diplomata francês que participou da experiência republicana
de 1848 e foi opositor ao golpe de Luís Napoleão (N.E.).
7
O autor usa a expressão “hilota” como sinônimo para “escravo”, pois
assim eram nomeados os escravos entre os espartanos na Grécia Antiga
(aproximadamente do século IX a.C. ao I a.C), ainda que em Esparta essas
pessoas fossem propriedade da pólis e não de indivíduos (N.E.).
8
Expressão derivada de “setembristas” (“septembriseus”), nome dado aos
participantes dos massacres dos prisioneiros políticos em setembro de 1792
(N.T.).
9
O autor faz menção ao período de radicalização política e social dentro
do processo revolucionário francês que se iniciou com o golpe sans-culotte
contra os grupos da burguesia girondina e a promulgação de uma nova
constituição em 24 de junho de 1793 que procurou aprofundar a declaração
de direitos de 1789. Nos meses que se seguiram, o grupo reunido nos
Comitês de Salvação da Pública, liderados por Maximilien Robespierre
(1758-94) e Louis-Antoine de Saint-Just assumiram relevo até controlarem
o Estado iniciando o período conhecido como “Terror” a partir de outubro
desse mesmo ano até meados de 1794, com a execução de ambos na
guilhotina (N.E.).
10
O autor faz referência ao golpe de Estado de Luis Napoleão Bonaparte,
ocorrido no dia 02 de dezembro de 1851, que levou à dissolução da Segunda
República Francesa e posterior estabelecimento do Segundo Império (N.E.).
11
Referência do autor a Loius Capet, ou Luís XVI, rei francês condenado à
guilhotina pela Convenção em 1793 (N.E.).
12
O autor faz menção ao fato de que o golpe de Estado de Luis Napoleão,
com a dissolução da Assembleia Nacional e posterior autonomeação como
Resumo
Joseph Déjacque conclama nesse artigo, escrito em 1861
quando vivia nos EUA, os trabalhadores americanos, brancos
e negros, a levantarem-se contra a deriva conservadora que
havia tomado o republicanismo estadunidense, lutando contra
a escravidão e abraçando a democracia direta como meio para
evitar a tirania e o retorno da monarquia associada à prédica
e à ação política religiosas.
Palavras-chave: libertarismo, Estados Unidos, abolicionismo
antiescravagista.
Abstract
Joseph Déjacque acclaims in this article, written in 1861
while living in the USA, the American workers, both white
and black, to stand against the conservative derive of the
American republicanism, fighting the slavery and embracing
the direct democracy as a means to avoid the tyranny and the
return of the monarchy associated with the religious preaching
and political activism.
Keywords: libertarism, United States, antislavery
abolitionism.
cartografias da interiorização
penitenciária no estado de são paulo
Prefeitos e prisões
Diante do grande projeto do governo estadual de
interiorização da questão penitenciária, havia a necessidade
de conseguir apoio ou adesão dos prefeitos dos pequenos
municípios do interior diante da nova realidade que se
instalara no país após a Constituição de 1988 – com a
maior autonomia política (sem contrapartida econômica)
que é oferecida aos pequenos municípios brasileiros.
Em relação ao posicionamento político referente à
interiorização penitenciária, os prefeitos poderiam ser
organizados em dois grandes grupos10: aqueles favoráveis
ao processo (que acreditavam que a nova economia
promovida pela penitenciária em seu município poderia
reverter o quadro de estagnação econômica), e aqueles
contrários, por acreditarem que a penitenciária agravaria a
situação de insegurança no município.
Com a ampliação do uso da palavra insegurança para além
da questão criminal, pode-se considerar como alguns de seus
significados: incerteza, ausência de garantia contra arbitra-
riedades, sensação de proximidade do perigo, hesitação, falta
de convicção. No sentido jurídico, a falta de garantias de di-
reitos fundamentais produz insegurança ou medo (de não se
ter acesso à saúde, de faltar trabalho, de não se ter onde mo-
Conclusão
O processo de interiorização das penitenciárias paulistas
revela diversas contradições, dentre elas, as formas de exe-
cução de algumas políticas de Estado na gestão da miséria,
ou de como ele promove usos diferenciados do território
paulista, aprofundando desigualdades socioespaciais pelo
planejamento territorial e organização espacial do sistema
penitenciário paulista.
Por um lado, temos um território extremamente fluido e
moderno, aquele conectado aos grandes fluxos nacionais e
internacionais e priorizado para receber os “investimentos
e obras” nobres do Estado. Por outro, temos uma grande
região estagnada economicamente, constituída por centenas
de pequenos municípios do interior cujos territórios têm
Notas
1
Os 10 municípios são, em ordem alfabética: Campinas, Osasco, Ribeirão
Preto, São José dos Campos, Franca, Guarulhos, Santos, São José do Rio
Preto, São Paulo e Sorocaba, onde foram presas 43.713 pessoas de um total
de 89.245 em todo o estado de São Paulo.
2
São exemplos de programas onde apareceram essas entrevistas o “Profissão
Repórter: o dia da visita em presídios” e o “Fantástico” de 21/01/2007,
exibidos pela Rede Globo, e o programa “Plano de arborização urbana do
município de Sorocaba”, exibido pela Sorocaba TV Web.
3
“Somente este ano, 405 encarcerados escaparam em 52 fugas de delegacias.
Só de tentativas foram 44. Em 1998 os resgates livraram 145 homens e
ajudaram 2.301 condenados a fugir. Dos estabelecimentos penais escaparam
5.888 detentos no ano passado em todo o Estado. E até maio deste ano
mais 1.832 presos estavam foragidos. Foi-se o tempo que era seguro
morar próximo a uma delegacia. (...) Na Casa de Detenção, a mais lotada
do sistema, os sete mil presidiários estão saindo pelo ladrão, literalmente.
Tudo porque de 51.021 presidiários no início do governo Covas, em 1995,
o número saltou para 73.315, um crescimento de 43,69%. Com isso, a
situação, que já não era das melhores, se agravou nos últimos seis meses
quando a população carcerária bateu recordes históricos no Estado (...)”. Cf.
Luisa Alcade. “Saindo pelo ladrão. Superlotação carcerária ameaça implodir
sistema em São Paulo. Fugas aumentam e aterrorizam população” in Istoé
Independente. São Paulo, 25/08/1999.
4
Quase todas as emissoras de televisão reproduzem esse discurso de defesa
do aprisionamento como medida de controle da violência, como se pode
observar nos programas sensacionalistas “Cidade Alerta” (Rede Record)
e “Brasil Urgente” da Rede Bandeirantes de Televisão, por exemplo. No
discurso inflamado e diário dos apresentadores desses programas, violência
torna-se sinônimo de “crimes de sangue”, principalmente aqueles tipificados
no Código Penal Brasileiro como os homicídios e latrocínios, ignorando-se
outras expressões da violência (discursiva, simbólica, estrutural, econômica),
a partir de uma seletividade dos crimes que serão mostrados ou ocultados do
grande público, já que se tratam de programas de grande audiência nacional.
5
Cf. Eugênio Raul Zaffaroni. O inimigo no direito penal. Tradução de Sérgio
Lamarão. Rio de Janeiro, Revan, 2007.
6
Pode-se consultar o posicionamento oficial do governo estadual no site
da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo.
Disponível em: http://www.sap.sp.gov.br/ (acesso em: 01/02/2013).
7
Milton Santos. O Espaço Dividido. Os Dois Circuitos da Economia Urbana
dos Países Subdesenvolvidos. Tradução de Myrna T. Rego Viana. São Paulo,
EDUSP, 2004.
8
Loïcq Wacquant. “Prisões: a miséria atrás das grades” in Revista Mais
Humana. Niterói, v. 2, 2001. Disponível em: www.maishumana.com.br/
loic2.htm (acesso em: 23/08/2013).
9
Loïcq Wacquant. “A criminalização da pobreza” in Revista Mais Humana.
Niterói, 1999. Disponível em: www.maishumana.com.br/loic1.htm (acesso
em: 23/08/2013).
10
Uma análise acerca da política local, do uso da mídia e da produção
intencional do medo pode ser conhecida, com mais detalhes, no artigo de
Eda Góes. “A presença e a ausência da população penitenciária em pequenas
e médias cidades do interior paulista: dilemas de uma história recente” in
Projeto História. São Paulo, PUC-SP, n. 38, 2009.
11
Definição construída durante o desenvolvimento da tese de doutorado:
James Humberto Zomighani Jr. Desigualdades espaciais e prisões na era da
globalização neoliberal: fundamentos da insegurança no atual período. Tese
de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, 2013.
12
Muitos jovens desses pequenos municípios que receberam as novas
penitenciárias passaram a nutrir o desejo de trabalhar como agentes
penitenciários como seu projeto de futuro, em vista dos salários em média
duas vezes maiores do que aqueles pagos pelo comércio e serviços locais.
13
Como os recursos do programa “Bolsa Família”, por exemplo, que
passariam a ser gastos pelas famílias dos condenados no comércio local.
14
“Originadas da expansão da cafeicultura, essas cidades possuem economia
baseada principalmente na agricultura. No núcleo urbano, a prefeitura é
quase sempre o principal empregador. A instalação de presídios trouxe nova
oportunidade de emprego e elevou a renda em circulação nas cidades. O
estímulo à economia foi evidente para os moradores”. Cf. “Presídios geram
negócios e empregos no interior de SP” in Jornal Valor Econômico. São Paulo,
07/12/2012.
15
Entrevista realizada com Talita Alessandra em 02/04/2014. Estudante
de jornalismo e moradora do município de São Paulo, realizou visitas a um
parente que se encontrava preso na Penitenciária de Hortolândia, na região
de Campinas, interior do estado de São Paulo.
16
“Nos fins de semana, as mulheres de presos lotam Balbinos. Elas gastam
entre R$100 e R$200. Montam na cidade o ‘jumbo’, formado de alimentos,
refrigerantes, cigarros e produtos de limpeza. E têm de cozinhar nas
pousadas, que oferecem fogão a R$3, jantar a R$5 e cama a R$15. A maioria
vem de excursão, cuja passagem de ida e volta custa R$70 para quem parte de
São Paulo”. Cf. Eduardo Nunomura. “Presídios causam inchaço em cidades
em SP” in O Estado de São Paulo. São Paulo, 28/10/2007. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,presidios-causam-inchaco-
de-cidades-em-sp,71877,0.htm (acesso em: 05/11/2007).
17
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo analisou, entre 1997 e
2006, processos de prestação de contas do Poder Executivo estadual que
totalizaram gastos de R$711 milhões para construção ou reforma de
unidades penitenciárias localizadas em 68 municípios paulistas.
18
Constituição Brasileira de 1988. Título II, Capítulo I, Artigo 5º, XLVII,
“d” “Não haverá penas de banimento”. Ou ainda, no documento da Secretaria
de Administração Penitenciária, onde constam os “Direitos e deveres dos
presos”, em sua Seção I, Artigo 23, item III consta como direito dos presos
“o de receber visitas”.
19
Unidades para presos que cumprem pena em regime semi-aberto, e que
podem ter autorização para saída a trabalho.
20
Constituição Brasileira de 1988. Título II, Capítulo I, Artigo 5º, XLVI “A
lei regulará a individualização da pena”.
21
“Quando o companheiro da gente é preso, somos presas junto e submetidas
às mesmas humilhações. Funciona do mesmo jeito, nos tratam como
animais”. Depoimento de esposa de um preso condenado ao jornal SPresso
em 01 abril de 2014. Disponível em http://spressosp.com.br/2014/04/cada-
visita-e-um-estupro/ (acesso em: 02/04/2014).
22
“Com base no princípio da regionalização das unidades prisionais e sob
os aspectos técnicos, ambientais e de segurança, a administração desta
Secretaria, verificou a necessidade de que tais prisões sejam edificadas
em municípios estratégicos, para que abriguem presos que se encontram
recolhidos nas Cadeias Públicas próximas, bem como, recolham outros que
Resumo
A interiorização do sistema penitenciário configura-se, desde os
anos 1990, como uma nova forma de gestão territorial da mi-
séria pelo Estado de São Paulo. Os grandes deslocamentos dos
presos e de suas famílias, que se configuram em nova forma de
banimento – nova característica da penitenciária paulista no
período contemporâneo – aprofundam desigualdades socioespaci-
ais e agudizam a situação de dor e pobreza das famílias dos con-
denados, uma vez que também são punidas pela nova geometria
do sistema penitenciário paulista.
Palavras-chave: sistema penitenciário paulista, banimento,
famílias dos prisioneiros.
Abstract
The migration of the penitentiary system to the countryside,
since the 1990s, becomes a new form of territorial management
of misery by the state of São Paulo. The large displacements of
the inmates and their families – that are configured in a new
form of banishment, new feature of São Paulo facilities in the
comtemporary period, sociospatial inequalities expanding and
sharpening the situation of pain and poverty of families of
inmates, they are also punished by the new geometry of the São
Paulo prision system.
Keywords: São Paulo penitentiary system, banishment, families
of prisoners.
eliana pougy
Notas
1
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.
Brasília, Secretaria de Educação Fundamental, MEC/SEF, 1998; Brasil.
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, Secretaria
de Educação Fundamental, MEC/SEF, 2000.
2
Alfredo Veiga-Neto e Márcia Corcini Lopes. “Inclusão e
Governamentalidade” in Educação e Sociedade. Campinas, v. 28, n. 100 -
Especial, 2007, pp. 947-963.
3
Julio Groppa Aquino e Cyntia Regina Ribeiro. “Processos de
Governamentalização e a Atualidade Educacional: a liberdade como eixo
problematizador” in Educação e Realidade. Porto Alegre, UFRGS, n. 32, v.
2, 2009, pp. 57-71.
4
Maria Giceli Cervi e Luiz Guilherme Augsburger. “Gestão democrática
escolar: escola e sociedade de controle” in verve. São Paulo, Nu-Sol, n. 24,
2013, pp. 79-91.
5
Michel Foucault. Os anormais. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo,
Martins Fontes, 2002; Michel Foucault. História da sexualidade I: a vontade
de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon
de Albuquerque. Rio de Janeiro, Graal, 2009; Michel Foucault. “Crise da
medicina ou crise da antimedicina” in verve. Tradução de Heliana Conde.
São Paulo, Nu-Sol, n. 18, 2010, pp. 167-194.
6
O Brasil é o segundo consumidor mundial no uso de Ritalina em crianças
na idade escolar. Essa droga é recomenda para tratar Dislexia, Transtorno
do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno
Opositivo-Desafiador (TOD) – diagnósticos “comuns” em crianças e jovens
das escolas brasileiras. Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/
noticias/2013/08/05/ritalina-e-os-riscos-de-um-genocidio-do-futuro
(acesso em: 10/07/2013).
7
Edson Passetti. “Poder e anarquia: apontamentos libertários sobre o atual
conservadorismo moderado” in verve. São Paulo, Nu-Sol, v. 12, 2007, pp. 11-
41. Para implicação dessa noção no governo dos transtornos, ver: Leandro
Alberto de Paiva Siqueira. O (in)divíduo compulsivo: uma genealogia na
fronteira entre a disciplina e o controle. Dissertação de Mestrado. São Paulo,
PEPG Ciências Sociais, PUC-SP, 2009.
8
Michel Foucault. O nascimento da biopolítica. Tradução de Eduardo
Brandão. São Paulo, Martins Fontes, 2008.
9
Edson Passetti e Acácio Augusto. Anarquismos e educação. São Paulo,
Autêntica, 2008; Helena Singer. República de Crianças: sobre Experiências
Escolares de Resistência. Campinas, Mercado de Letras, 2010.
10
O homeschooling, ou ensino domiciliar, é o processo de ensino formal
realizado no domicílio do estudante, em geral executado por um familiar que
resida no mesmo local que ele, numa forma de resistência à educação formal
regulada pelo Estado. O unschooling é um método educacional e filosófico
que rejeita qualquer tipo de educação sistematizada, seja ela institucional
ou domiciliar. Os praticantes do unschooling acreditam que as crianças são
capazes de aprender a todo momento e em todas as situações, motivadas
pelo interesse próprio da idade.
11
Ver blog de Helena Singer: http://portaldoeducador.org/helena-singer/
(acesso em: 12/09/2013).
12
Ver vídeo de divulgação da educação democrática. Disponível em: http://
escolapoliteia.com.br/2012/descubra-educacao-democratica/ (acesso em:
03/10/2013).
13
Brasil. Brincar para todos. Brasília, MEC/SEE, 2005; Brasil. Critérios para
um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças.
Brasília, MEC/SEB, 2009; Brasil. Escola que protege: enfrentando a violência
contra crianças e adolescentes. Brasília, MEC, SECAD, 2007; Brasil. As metas
do Plano Nacional de Cultura. São Paulo, Instituto Via Pública/Brasília,
MinC, 2012; Brasil. Orientações técnicas-serviços de acolhimento. Brasília,
MDS, 2009; Brasil. Programa Município Educadores Sustentáveis / Ministério
do Meio Ambiente. Programa Nacional de Educação Ambiental. Brasília,
Ministério do Meio Ambiente, 2005; CE (Conselho da Europa). Livro
Branco sobre Diálogo Intercultural. Brasil, 2009; CGLU. Cidades e Governos
Locais Unidos – Comissão de Cultura. Agenda 21 da cultura. Brasil, 2008;
UCLG – United Cities and Local Governments. Culture and sustainable
development: examples of institutional and proposal of a new cultural profile.
Barcelona, 2012; UCLG. Culture: fourth pilar of sustainable development.
Barcelona, 2010; UNESCO Convenção sobre a proteção e promoção da
diversidade das expressões culturais. Brasil, 2006; UNESCO. Cultura de paz:
da reflexão à ação; balanço da Década Internacional da Promoção da Cultura de
Paz e Não Violência em Benefício das Crianças do Mundo. Brasília, UNESCO/
São Paulo, Associação Palas Athena, 2010; UNESCO. Governança da
cultura em países em desenvolvimento. Paris, 2005.
14
A Pedagogia Multicultural também captura práticas educativas propostas
pela pedagogia de Paulo Freire, para quem escolas multiculturais eram
imprescindíveis. Para tanto, é necessário que professores e estudantes
encontrem-se naquilo que Freire chamou de Círculo de Cultura, onde
acontece o diálogo autêntico e a síntese cultural – ou o reconhecimento do
outro e o reconhecimento de si no outro. Segundo Freire, somente num
círculo de cultura é possível a educação como prática da liberdade e é somente
nele que o mundo pode ser relido em profundidade crítica. Esse círculo,
entretanto, não é um local tranquilo, controlado, uma vez que as consciências
são comunicantes e comunicam-se na oposição.
15
Ver: http://mapadobrincar.folha.com.br/ (acesso em: 11/09/2013);
http://www.territoriodobrincar.com.br/ (acesso em: 10/01/2014); http://
revistaescola.abril.com.br/brincadeiras-regionais/ (acesso em: 10/01/2014);
http://www.projetobira.com/ (acesso em: 10/01/2014);
16
Disponível em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/
unesco-resources-in-brazil/publications/ (acesso em: 15/08/2013); http://
portalyah.com/ (acesso em: 07/11/2013).
17
Ver Maria Ângela Barbato Carneiro e Janine J. Dodge. A descoberta do
brincar. São Paulo, Melhoramentos/Boa Companhia, 2007.
18
Essa afirmação foi feitas por Godard ao final da série de doze
documentários France, tour, détour, deux enfants que realizou em 1978 em
parceria com sua mulher Anne-Marie Miéville para a Antenne 2. Neles,
Godard conversa com duas crianças, um menino e uma menina, e avalia os
efeitos dos comandos da televisão em suas vidas.
19
Ver Julio Groppa Aquino. “Jovens ‘indisciplinados’ na escola: quem são?
Como agem?” in Simpósio Internacional do Adolescente. São Paulo, 2005.
Disponível em: http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=MSC0000000082005000100002&lng=en&nrm=abn (acesso em:
08/01/2014).
20
Para Foucault, a liberdade não é uma essência ou um atributo de um
Eu transcendental, mas sim uma ação contingente, ou seja, “emerge de um
processo histórico variável de negociação muito específico sobre diversas
racionalizações éticas que, por sua vez, operam por um padrão cultural de
racionalidades localizado e específico. Portanto, pelo fato dessas ‘práticas
de liberdade’ serem inerentemente relacionais (e, portanto, reversíveis),
contingentes e altamente contextualizadas, elas não estão suscetíveis
a nenhum tipo de definição inequívoca sobre o que ‘liberdade’ possa ser.
Nenhuma governamentalidade pode congelar nossas negociações sobre
a liberdade: não pelo fato do eu ser o epítome ou o lugar de alguma
resistência transcendental já pressuposta por todas as formas de ação
governamental, mas porque nunca nenhum regime de governo poderá
suprimir o inesperado e as relações sempre mutáveis constitutivas da nossa
experiência de liberdade, nem a condição de sua própria contingência como
um regime particular de governo. É assim que nós podemos entender
melhor Foucault quando afirma que não há melhor garantia da liberdade
do que ela mesma” (Sébastien Malette. “Foucault para o próximo século:
ecogovernamentalidade” in Revista Ecopolítica. São Paulo, Nu-Sol, v.1,
2011. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/ecopolitica/
article/view/7654 (acesso em: 10/07/2013).
21
Ver Michelle Perrot (org.). História da vida privada 4. – Da Revolução
Francesa à Primeira Guerra. Tradução de Denise Bottmann e Bernardo
Joffily. São Paulo, Companhia das Letras, 2010.
22
A arte/educação vem sendo proposta nos últimos trinta anos, no Brasil,
principalmente por Ana Mae Barbosa (A imagem no ensino da arte. São
Paulo, Perspectiva, 2002), com base nas propostas pedagógicas de Paulo
Freire, John Dewey, Robert Read, Michael Parsons e Elliot Eisner.
23
A didática lúdica vem sendo proposta nos últimos trinta anos, no Brasil,
principalmente por Tisuko Kishimoto (O jogo e a educação infantil. São
Paulo, Pioneira, 1994), com base, principalmente, na psicologia de Jean
Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon e Donald Winnicott, na filosofia de
Huizinga e de Walter Benjamin e na sociologia de Gilles Brougère.
24
Resiliência é um conceito proveniente da física que define a flexibilidade
dos materiais após uma relação de tensão ou apreensão e seu retorno ao
estado anterior. Adaptado para a psicologia com base na teoria ecológica
do desenvolvimento humano, criada pelo psicólogo russo Bronfenbrenne,
o conceito de passou a ser definido como a capacidade de um indivíduo
de se adaptar frente às adversidades da vida por meio do apoio dos outros
e, principalmente, da consciência desse apoio. Cf. José Tavares (org.).
Resiliência e educação. São Paulo, Cortez, 2001.
25
Disponível em: http://conane.org/manifesto-por-uma-nova-educacao/
(acesso em: 10/07/2013).
26
Ver Salete Oliveira. “Política e resiliência – apaziguamentos distendidos”
in Revista Ecopolítica. São Paulo, Nu-Sol, v. 4, 2012. Disponível em: http://
revistas.pucsp.br/index.php/ecopolitica/article/view/13067/9568 (acesso
em: 10/01/2014).
Resumo
O presente artigo visa mostrar como os dispositivos democrático,
inclusivo, lúdico e artístico da educação planetária vêm
produzindo uma autoritária pacificação de embates e conflitos
e, consequentemente, a manutenção da hierarquia social.
Palavras-chave: educação planetária, dispositivo lúdico e
artístico, sociedade de controle.
Abstract
This article aims to show how the democratic, inclusive,
playful and artistic dispositives of the planetary education are
producing authoritative pacification of conflicts and clashes,
thus maintaining social hierarchy.
Keywords: planetary education, ludic and artistic device,
society of control.
Finalmente, ouçam!
drogas-nocaute 21
Cena 1: Perspectiva
Salete:
O controle das drogas é fundamental para a saúde da po-
pulação.
Flávia:
O uso de substâncias que alteram a percepção e a conduta
de um indivíduo tem uma implicação coletiva que deve ser
conhecida, regulada e utilizada.
Salete:
De fato, as pesquisas científicas recentes aproximam o fun-
cionamento do cérebro ao vício.
Acácio:
O investimento moderno da ciência sempre esteve dire-
cionado para extrair uma positividade dessa relação e dar
utilidade ao uso de drogas.
Gus:
Hoje em dia os cientistas associam o vício aos efeitos pro-
dutivos das drogas.
Sofia:
A dopamina, substância responsável pela ativação da sen-
sação de prazer no cérebro é também responsável por in-
tensificar a retenção de informações na memória.
Acácio:
O que é vício? Você responderá que é uma conduta conde-
nável moralmente, mas diante das constatações mais recentes
da ciência, o vício, mais uma vez, se transformará em virtude.
Sofia:
Vício é virtude, quando o que se convencionou chamar de
droga vira medicamento.
Acácio:
Com uma diferença, agora não é mais para a cura. É para
intensificar produtividades.
Sofia:
Vale a pena dopar-se para produzir mais, na empresa, na
universidade, nos laboratórios, nos institutos, enfim, o cas-
tigo permanece para quem desafia a conformação da moral.
Salete:
Estamos num tempo em que há mais dopados do que dro-
gados.
Gus:
Estamos num eterno retorno do que, num momento é ví-
cio, e em outro, virtude, cura, utilidade, lucro, prazer mo-
Leandro:
Nunca vivemos, como hoje em dia, sob tantas regulamen-
tações de condutas condenáveis e prescrições para a boa
conduta.
Judson:
Eu só sei uma coisa, em todas as culturas há evidências de
usos de substâncias que levam a estados alterados. Experi-
menta-se para lidar com o sobrenatural e o real, a partir do
que a natureza oferece.
Flávia:
Somos curiosos.
Acácio:
Olha-se para o mundo a partir de um ponto de vista. O
mundo não é uma explicação a partir do enunciado socrá-
tico “conhece-te a ti mesmo”. O mundo existe a partir de
perspectivas e não enquanto vontade e representação.
Salete:
O mundo existe antes e depois da filosofia. Está além e aquém
das explicações, prescrições, conservações e representações.
Sofia:
Até mesmo o que chamam de mundo não deve ser visto
a partir da Terra, da eloquência da razão, dos efeitos do
monoteísmo ou do paganismo...
Gus:
A vida acontece quando provoca transformações. E cada
um pode atiçar transformações em si, em volta de si, contra
si e contra todos.
Sofia:
A vida é muito mais do que o fato biológico.
Salete:
Só para falar de uma cultura que nos inventou, a dos gregos,
antes de pretenderem criar uma verdade que convencesse a
todos,
Leandro:
argumentando que era uma verdade desinteressada, por não
pertencer a um grupo específico, mas destinada à humanidade,
Salete:
pronunciavam verdades a partir de uma perspectiva que
não desconhecia o combate entre as verdades. Não preten-
diam, ainda, serem os donos do mundo. Cuidavam de si e
inventavam maneiras livres de existir.
Judson:
Mas, minha cara, havia escravos, era uma existência aris-
tocrática...
Salete:
Mas, meu caro, isso é ciência da história... O que eu dis-
se é que os livres se libertaram do monarca; o que estou
dizendo é que precisamos inventar uma vida liberada dos
monarcas, tenham eles o nome de rei, povo, lei, pai, ser
superior, humano ou demasiado humano.
Judson:
Não ser escravo dos outros, nem escravo de si mesmo!
Gus:
Os gregos cuidavam do corpo e da mente no gymnasio, no
banquete, nas guerras, nas convivências, nos cuidados com
a cidade, e provavam da natureza sabores surpreendentes.
Acabaram experimentando o trágico.
Acácio:
Se você quiser chamar isso de saúde, eu compreenderei, da
mesma maneira que entendo a encenação grega em Roma
e o surgimento das perversões, das depravações.
Judson:
Note, meu caro, que agora a tal da verdade desinteressada
encontra o território fértil para justificar prisões, proibi-
ções, corrupções, tiranias, e a desinteressada busca pelo me-
lhor governo. Criaram o drama.
Flávia:
Idade das trevas anunciada, ora como saída da caverna pla-
tônica, ora como Idade Média, para o equilíbrio e a sobrie-
dade do Renascimento e do Iluminismo.
Lili:
Que porra de aula de geografia é essa?!
Judson:
Inconformados, alquimistas e feiticeiras abalavam o verda-
deiro e o falso nos mostrando, mais uma vez, a diversidade
em conhecer.
Sofia:
As feiticeiras curavam e prognosticavam com suas poções,
a partir do passado o que seria o presente imediato. Os al-
quimistas buscavam pelo phármakon, a partir do presente,
a vida eterna.
Mayara:
Os historiadores remontavam o passado para justificar o
presente e o futuro. Os filósofos arriscavam justificar o pre-
sente e anunciar o futuro. A grande guerra contra os deuses
se transformou em guerra permanente entre os homens.
Salete:
E agora você perguntará: com quem estava a verdade?
Acácio:
Qual o uso das drogas?
Judson:
O que é droga?
Flávia:
Quanto nisso tudo não houve uma droga de vida?
Leandro:
Quanto de droga não está com quem comanda?
Acácio:
O que estamos fazendo de nós mesmos?
Gus:
O que fizemos de nós mesmos?
Sofia e Flávia:
“As pessoas inteligentes e desinteressadas poderiam pergun-
tar-se: uma vez que as leis penais se mostram impotentes,
por que não tentar, mesmo que a título de experiência,
Todos:
o método anarquista?”2.
Cena 2: Pó de pirlimpimpim
Lili:
“Não é fácil lidar com o pó de pirlimpimpim. Deu uma pitada
a cada um, e mandou que o cheirassem. Todos o cheiraram
— sem espirrar, porque não era rapé. Só Emília espirrou.
A boneca espirrava com qualquer pó que fosse desde o dia
em que viu tia Nastácia tomar rapé. Assim que cheiraram
o pó de pirlimpimpim, que é o pó mais mágico que as fadas
inventaram, sentiram-se leves como plumas, e tontos, com
uma zoeira nos ouvidos. As árvores começaram a girar-
lhes como dançarinas de saiote de folhas e depois foram se
apagando. Parecia sonho”3.
Cena 3: Crack
Gus:
“Eu devia para o cara (...). Você tem que zerar a conta. Ou
paga direto com a vida. Dez anos no craque. Já fiz cinco tra-
tamentos. Minha mãe reza e chora. Se descabela, a infeliz. De
joelho me pede. Lá vou eu para clínica. Fico numa boa. Mas
dou umas recaídas (...). Se você pára a fissura te pega (...). O
craque. Você não consegue largar. É diferente porque ele você
ama. Só dez segundinhos porra. Te bate no pulmão. O bruto
soco na cabeça. E o mágico tuimmm! A gente que fuma tá
sempre ligadão. Você fica o tal. Com uma força maior. Olho
de vidro, o polegar chamuscado (...). Daí o Buba veio com essa
pressão na minha cabeça (...). O traficante você conhece logo.
Tem sangue no olho. Sou pilantra. Mas não sou do crime.
Veja, tirei cursinho e tudo. Com ofício e registro na carteira.
Mais de uma firma importante. Essa foi a última roubada que
eu entrei fundo. Juro por meu Jesus Cristinho (...). O Buba
meteu a peça de guerra na minha mão. E passou a fita:
Judson:
Seguinte o lance, mano. Esse aí vai pagar é com a vida.
Certo, soldado? (...).
Gus:
E boto a arma pro safado:
— A ordem veio do comando. Vamo até ali que a gente
acerta.
Sabe o que fez o merdinha? Encarou feio, sem piscar. Tive
que dar nele (...). Uai, nem raspou, de levinho, a única bala.
Daí me apavorei. Tô fora (...). Nem eu acredito. Desta vez
era outra voz (...).
— Cê tá livre. Tá limpo com a zona! (...). Foi a mãe. Zerou
direto a dívida com o Buba. Agora, vida nova. Ei, você aí, ó
cara? Tem um craquinho aí?”.4Tuiiiimmmmm!!!
Todos:
Tuiiiimmmmm!!!
Cena 4: Ayuasca
Acácio:
“Imediatamente depois da cerimônia de posse, Roosevelt
apareceu na sacada da Casa Branca usando vestes cor de
púrpura dos imperadores romanos (...), cuinchou para con-
vocar os integrantes de seu gabinete e determinar a posição
que cada um deles ocuparia.
Sofia:
Os membros do gabinete chegaram apressados, grunhindo
e cuinchando como porcos que eram.
Gus:
Uma bicha velha conhecida pela polícia do Brooklyn como
‘Ana Punheta” foi nomeada para Chefe de Estado Maior,
de modo que os oficiais mais jovens do departamento fo-
ram sujeitados a indignidades impronunciáveis nos ba-
nheiros do Pentágono (...).
Judson:
Uma travesti gostosona recebeu o posto de bibliotecária do
Congresso. Imediatamente mandou barrar o sexo masculi-
no das premissas —
Flávia:
um professor de filologia de renome mundial saiu com o
maxilar quebrado por um sapatão brutamontes quando
tentou entrar na biblioteca. A biblioteca virou local de or-
gias lésbicas, que ela chamou de Rituais das Virgens Ves-
tais (...).
Lili:
O ‘Magrinho do Metrô’, um trombadinha, assumiu o cargo
de Subsecretário de Estado e chefe do cerimonial e causou
ruptura diplomática com a Inglaterra quando o embaixa-
dor inglês ‘deu em cima dele’(...).
Acácio:
Esse é um termo de trombadinha para dizer que o assal-
tado ficou de pau duro quando seus bolsos estavam sendo
vasculhados (...).
Leandro:
Lonnie, o Cafetão tornou-se embaixador geral e saiu em
viagem junto com 50 ‘secretários’ para exercer sua função
execrável.
Flávia:
Uma drag queen, conhecida como ‘Eddie a Dama’, enca-
beçou a Comissão de Energia Nuclear e convocou os fí-
sicos para um coral masculino que se apresentava como
“Os Garotos Atômicos”.
Sofia:
Em resumo, homens que tinham ficado de cabelos brancos
e perdido os dentes no cumprimento do serviço leal a seu
país foram demitidos, sumariamente nos termos mais de-
pravados possíveis — como:
Leandro:
‘Está despedido, seu velho fodido’.
Lili:
‘Tira essa bunda preguiçosa daqui agora mesmo’.
Sofia:
(...) Arruaceiros e desqualificados do mais desprezível cali-
bre tomaram conta dos cargos mais altos (...).
Mayara:
Secretário do tesouro: ‘Mike Tabaína’, um viciado em he-
roína das antigas.
Lili:
Diretor do FBI: um empregado de uma sauna turca espe-
cializado em massagens nada éticas (...).
Leandro:
Secretário da Agricultura: ‘Luke Bagre’, um garoto de rua
de Bucetavillem no Alabama, que passara 20 anos bêbado
de tintura de ópio e extrato de limão.
Gus:
Ministro para o Reino Unido: ‘Wilson Banha’, que conse-
guiu seu dinheiro para comprar barbitúricos fazendo chan-
tagem com pessoas que tinham fetiche por pés e andavam
em lojas de calçados.
Acácio:
Chefe dos Serviços de Correio: ‘Moleque Pó de Ópio’, (...)
trapaceiro das favelas. Atualmente trabalha em uma rotina
chamada ‘Tirando do olho’ — planta-se uma catarata falsa
no olho do selvagem...
Salete:
Selvagem é como os trapaceiros dizem trouxa (...).
Lili:
Quando a Suprema Corte barrou algumas das legislações
perpetradas por essa corja, Roosevelt forçou os integrantes do
augusto tribunal, um por um, sob a ameaça de rebaixamento
imediato ao posto de Atendente de Banheiro Congressional,
a manter relações com um babuíno de bunda roxa, de modo
que homens veneráveis e honrados se submeteram aos cari-
nhos de um símio lascivo e rosnento,
Sofia:
enquanto Roosevelt e sua esposa biscate e o puxa-saco ve-
terano Harry Hopkins, fumando um cachimbo coletivo de
haxixe, assistiam à cena lamentável com arroubos de gar-
galhadas obscenas.
Flávia:
O ministro Blackstrap sucumbiu diante de uma hemorragia
retal ali mesmo, mas Roosevelt só riu e disse, bem grosseiro:
Mayara:
Tem muito mais no lugar de onde isso aí veio.
Sofia:
Hopkins, incapaz de se controlar, rolou no chão em con-
vulsões sicofânticas, repetindo sem parar:
Leandro:
Você está me matando chefe, você está me matando (...).
Mayara:
A melhor coisa para a indisposição é um pau de babuíno
no cu. Certo Harry?
Leandro:
Certo, chefe. Eu não uso outra coisa (...).
Acácio:
Roosevelt então indicou o babuíno para substituir o minis-
tro Blackstrap, ‘adoentado’.
Gus:
Então, dali em diante, os processos da Corte Suprema pas-
saram a ser conduzidos com um símio aos berros que ca-
gava e mijava e se masturbava em cima da mesa e que, com
boa frequência, pulava em cima de algum dos ministros e o
deixava em frangalhos.
Lili:
As vagas assim criadas eram invariavelmente preenchidas
por símios, de modo que, com o passar do tempo, a Suprema
Corte veio a ser constituída por 9 babuínos de bunda roxa;
Sofia:
e Roosevelt, alegando ser o único capaz de interpretar suas
decisões, assim ficou com o controle do mais alto tribunal
do país.
Leandro:
(...) E finalmente, [eu mandei] colocar uma escavadeira
mecânica nos andares, de modo que os legisladores mais
obstinados eram enterrados vivos (...).
Sofia:
Os sobreviventes tentaram dar continuidade a seu trabalho
na rua, mas foram presos por vadiagem e mandados para o
reformatório como mendigos comuns (...).
Acácio:
Então Roosevelt entregou-se a uma conduta tão vil e de-
senfreada que dá vergonha até de falar.
Sofia:
Instituiu uma série de concursos com o intuito de promul-
gar os atos e instintos mais baixos de que a espécie humana
é capaz.
Lili:
Houve o Concurso do Ato mais Ofensivo, o Concurso do
Truque mais Baixo, A Semana do Abuso Sexual Infantil,
a Semana de Entregar seu Melhor Amigo — dedos-duros
profissionais não podiam se inscrever.
Sofia:
Exemplos de inscritos: o drogado que roubou um suposi-
tório de ópio da bunda da avó;
Lili:
o capitão do navio que vestiu roupas de mulher e correu
para o primeiro bote salva-vidas (...).
Flávia:
Aliás, Roosevelt fora acometido de ódio tal pela espécie que
desejava degradá-la a ponto de não mais ser reconhecida”5.
Cena 4: Cocaína
Salete e Gus:
No motel.
Gus:
“Alex, Marquinhos, a Vendedora De Roupas Jovens Da
Boutique De Roupas Jovens e a Secretária Loura, Bronze-
ada Pelo Sol, entraram na suíte Escort do Motel Le Petit
Palais.
Leandro:
Alex tirou a roupa e mostrou o seu pau duro (...). A Ven-
dedora De Roupas Jovens Da Boutique De Roupas Jovens
exclamou:
Lili:
Nossa!
Gus:
A Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, riu.
Mayara:
A Vendedora De Roupas Jovens Da Boutique De Roupas
Jovens segurou o pau de Alex.
Lili:
Alex lambeu a orelha da Vendedora De Roupas Jovens Da
Boutique De Roupas Jovens.
Gus:
Marquinhos tirou um saquinho de cocaína do bolso. A
Vendedora De Roupas Jovens Da Boutique De Roupas
Jovens exclamou:
Lili:
Oba!
Leandro:
Alex tirou a blusa jovem da Vendedora De Roupas Jovens
Da Boutique De Roupas Jovens.
Gus:
A Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, apertou um inter-
ruptor e as luzes estroboscópicas da suíte Escort do Motel
Le Petit Palais se acenderam. A Vendedora De Roupas Jo-
vens Da Boutique De Roupas Jovens tirou a calça jovem, a
calcinha jovem e o sutiã jovem.
Leandro:
Marquinhos se ajoelhou no chão espelhado da suíte Escort
do Motel Le Petit Palais e desenhou um pênis usando a
cocaína.
Gus:
A Vendedora De Roupas Jovens Da Boutique De Roupas
Jovens, Alex e a Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, ri-
ram.
Lili:
Alex lambeu a língua da Vendedora De Roupas Jovens Da
Boutique De Roupas Jovens.
Gus:
A Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, fez um strip-tease
sob as luzes estroboscópicas da suíte Escort do Motel Le
Petit Palais.
Leandro:
Marquinhos cheirou um dos escrotos do pênis de cocaína
desenhado no chão espelhado da suíte Escort do Motel Le
Petit Palais e tirou a roupa.
Gus:
Alex agarrou a Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, por trás
e esfregou seu pau duro na bunda dela (...).
Gus:
A Vendedora De Roupas Jovens Da Boutique De Roupas
Jovens cheirou o outro escroto do pênis de cocaína dese-
nhado no chão espelhado da suíte Escort do Motel Le Petit
Palais e exclamou:
Lili:
Iurrúúú!
Leandro:
Marquinhos agarrou a Secretária Loura, Bronzeada Pelo
Sol, pela frente e esfregou seu pau duro nas coxas dela.
Gus:
Enquanto Alex esfregava seu pau duro na bunda dela (...).
Lili:
A Vendedora De Roupas Jovens Da Boutique De Roupas
Jovens agarrou Marquinhos, por trás, e esfregou sua boceta
na bunda dele (...).
Gus:
As caixas de som, no teto da suíte Escort do Motel Le
Petit Palais, emitiam a música (...)”6.
Gus:
“Haverá ainda pequenos bares vagabundos
Com carnes de Extremo-Oriente
Para abrigar o ano novo.
Judson:
Pequenos bares com marinheiros lendários
Cujos cachimbos consumirão antigos venenos
Leandro:
Bares leves inflados de fumaça
Pequenos bares evanescentes à claridade da aurora.
Judson:
Bares onde o sol e seu trajeto brilham
Na profunda laca avermelhada das taças;
Salete:
Bares repletos da animação das mesas, e vidraças mortas
Onde estudantes não meterão o nariz.
Judson:
Pois haverá outros venenos a corroer
A Árvore Viva de nossas fibras prestes a eclodir,
Sofia:
Há vinhos não secretados por vinhas terrestres
tão violentos quanto catástrofes.
Judson:
Salve, ó bar que nos fornece venenos
E misérias, e dores e sustos
Flávia:
Lançando-nos na nudez de nossas almas
Em cais inacessíveis aos tormentos.
Judson:
Um silêncio te guarda e nos protege
Silêncio onde não vem se perder a medicina,
Lili:
Um silêncio que nos cura na morfina
Sem receitas, nem decretos”7.
Judson:
“Acendo um cigarro ao pensar em escrev[er]
Mayara:
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Judson:
Sigo o fumo como uma rota própria,
Gus:
E gozo, num momento sensitivo e competente,
Judson:
A libertação de todas as especulações
Sofia:
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de
estar mal disposto”8.
Cena 6: Heroína
Acácio:
“Charlie Parker tocava pra caralho e sabia disso. Ele deve-
ria estar muito feliz, afinal ganhava a vida fazendo o que
gostava, tinha uma mulher bonita, inteligente e carinho-
sa, além de ser o melhor de todos — o Bird. Todo mun-
do amava o Bird. Mas, não (...). Charlie Parker queria algo,
um troço além dos sentidos, além da própria vida. E todo dia
Charlie Parker acordava já pensando em algo. E o modo mais
simples de esquecer algo era fumando um cigarro (...). Charlie
Parker bebia álcool e, quando ficava bêbado, era como se algo
estivesse com ele. Mas para eliminar mesmo a ânsia por algo,
nem que fosse, por algumas horas, Charlie Parker se picava
com heroína (...). Charlie Parker achava que Dizzy [Gilles-
pie] tinha algo e, por isso, Dizzy não precisava beber, nem
fumar, nem se picar com heroína (...). A música bastava para
Dizzy (...). Charlie Parker parou de fumar, de beber, de se pi-
car, e desceu ao inferno. E no inferno da abstinência não havia
algo, nem música (...). Até que um dia desses, por aí, Charlie
Parker, abstêmio, coitado, não aguentou, fumou um cigarro,
Cena 7: Cultura
Sofia:
“Frustra-me que se examine sempre o problema das drogas
exclusivamente em termos de liberdade ou de proibição.
Eu penso que as drogas deveriam tornar-se elemento de
nossa cultura (...). Devemos estudar as drogas. Devemos
experimentar as drogas. Devemos fabricar boas drogas —
suscetíveis de produzir um prazer muito intenso (...). As
drogas já fazem parte da nossa cultura. Da mesma forma que
há boa música e má música, há boas e más drogas. E, então,
da mesma forma que não podemos dizer somos ‘contra’ a
música, não podemos dizer que somos ‘contra’ as drogas”10.
Salete:
“Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amar-
gas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas,
dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais
fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Flávia:
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou
dizer: E daí? Eu adoro voar! Não me dêem fórmulas certas,
porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o
que esperam de mim, porque vou seguir meu coração.
Salete:
Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser
igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela
metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão.
Flávia:
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma
pra sempre”11.
Gus:
“O combate é de todas as coisas pai, de todas rei, e uns
ele revelou deuses, outros, homens; de uns fez escravos, de
outros livres (...). Lembrar-se sempre do dito de Herácli-
to, que morte de terra é tornar-se água, morte de água é
tornar-se ar, de ar fogo, [de fogo ar, de ar água, e de água,
tornar-se terra]”12.
Cena 9: A Lei
Salete:
“Toda ciência temerária dos homens não é superior ao co-
nhecimento imediato que eu posso ter de meu ser. Eu sou
o único juiz do que está em mim (...).
Leandro:
Não é por amor à humanidade que você delira, é pela tra-
dição da imbecilidade. Sua ignorância do que é um ser hu-
mano só é igual à tolice que te limita.
Flávia:
Eu faço votos que sua lei recaia sobre seu pai, sua mãe, sua
mulher, seus filhos e toda sua posteridade. E agora engula
tua lei.
Judson:
Deixemos que os perdidos se percam: temos mais o que
fazer que tentar uma recuperação impossível e ademais
inútil, odiosa e prejudicial. Enquanto não conseguirmos
suprimir qualquer uma das causas do desespero humano,
Mayara:
O inferno já é deste mundo e há homens que são desgraça-
dos, fugitivos do inferno, foragidos destinados a recomeçar
eternamente sua fuga (...).
Leandro:
Há homens que sempre se perderão. Pouco importa os
meios para perder-se: a sociedade nada tem a ver com isso
(...). Ela nada pode, ela perde seu tempo, ela apenas insiste
em arraigar-se na sua estupidez (...).
Todos:
Por enquanto, não nos suicidaremos. Esperando que nos
deixem em paz”13.
Mayara:
“Desde 4 de outubro de 1830, a Câmara Municipal do Rio de
Janeiro, no parágrafo 7° da postura que regulamenta a venda
de gêneros e remédios pelos boticários, estabelecia que:
Judson:
É proibida a venda e uso do pito de pango, bem como a
conservação dele em casas públicas. Os contraventores
serão multados em 20$000 e os escravos e mais pessoas,
que dele usarem, em três dias de cadeia.
Acácio
Observe-se a coincidência: a primeira lei mundial con-
tra a maconha é promulgada no mesmo ano da morte da
Sofia:
“A legislação sobre comércio de narcóticos (Lei 4294/1921)
foi assim recebida pela cronista Crisanthème, pseudônimo
da escritora Cecília Bandeira de Melo Rebelo de
Vasconcelos, em uma de suas crônicas semanais publicadas
no jornal O País do Rio de Janeiro, e em São Paulo pelo
Correio Paulistano [Diz aí madame Crisanthème]:
Gus:
‘Uma lei benfazeja: Raia sobre nós a esperança de vermos
afastado de nosso céu o terrível ciclone que ameaçava truci-
dar uma boa parte de nossa população. O uso da morfina e da
cocaína entrara nos hábitos de nossa mocidade chic, que prin-
cipiava a ingeri-las por simples curiosidade, por simples imi-
tação aos tarados de outras terras e acabava avassalada pelo
pavoroso vício que a estiolava, maltratava e assassinava’”15.
Leandro:
“O capital compr[a] a força de trabalho do indivíduo livre,
que, além de vendê-la, vendia a si mesmo, sua mulher, e seus
filhos. [O capital] é ao mesmo tempo individualista e autori-
tário.
Flávia:
As altas taxas de mortalidade infantil, [na Europa, no fi-
nal do século XIX] deviam-se, principalmente, ao fato de as
mães trabalharem fora de casa. Esse desleixo se revela[va]
na alimentação inadequada ou insuficiente e no emprego de
narcóticos.
Judson:
(...) Além disso, as mães (...) se torna[va]m estranhas aos
próprios filhos, e intencionalmente os deixa[va]m morrer
de fome ou os envenena[va]m”16.
Lili:
“Além dos escritores, figuras políticas, advogados e nobres,
operários ingleses e mulheres que trabalhavam em ateliês
franceses e austríacos tomavam e comiam, diariamente,
derivados do ópio. O láudano era ministrado por mães e
enfermeiras às crianças agitadas, recebendo o nome de ‘benção
de mãe’”17.
Gus:
“Caro Sr. Steve Jobs
Alô [aqui é] Albert Hofmann, grande inventor do LSD,
em meu aniversário de 101 anos. Eu tomei conhecimento
por relatos da mídia que você considera que o LSD te aju-
dou criativamente no desenvolvimento dos computadores
da Apple e em tua busca espiritual. Estou interessado em
saber mais sobre como o LSD foi útil para você”18.
Lili:
“Hassan Sabá introduziu o Cannabis em seu bando (...). A
rapidez e o júbilo com que matavam seus inimigos cristãos fi-
zeram da seita o mais temido bando de degoladores na Pérsia
e na Síria. Como foi Hassan quem difundiu o Cannabis, este
se tornou conhecido como haxixe, ou seja, dádiva de Hassan.
Judson:
E como os homens de Hassan geralmente estavam ‘altos’
de haxixe, tornaram-se conhecidos como ‘os homens sob a
influência do haxixe’, ou em árabe, no singular hashshashin.
A palavra sobrevive até hoje em várias formas e em várias
línguas, inclusive o inglês assassin [ou o português assassino],
com suas desagradáveis conotações”19.
Leandro:
“O ‘problema de nervos’ surgiu como tema de estudo duran-
te inquérito de morbidade referida, quando foram entrevis-
Salete:
Tenho excesso de trabalho... Tomo remédio pra nervo... Eu
tomo o Lexpiride (...).
Lili:
Tenho esgotamento, problema de nervo. Eu trabalho, mas se
puxar muito num dia, no outro não valho mais nada. Sinto
o corpo pesado, machucado. Cansaço no corpo... O médico
falou que é nervo. Se ficar sem o Valium (10 mg.) de tarde
me ataca os nervos demais., não passo sem não (...).
Salete:
Eu me dei com o remédio. O médico mesmo me dis-
se: pode ir tomando ou parando de tomar por sua conta.
Quando estiver atacada, volta a tomar. [Improvisação sobre
a obrigatoriedade de receitas médicas e funcionamento de
postos de saúde]
Mayara:
A última vez que fui [ao médico] já tem dois anos e ele
falou: Você se dando com o remédio não precisa vir mais,
não precisa trocar.
Gus:
O que nós [eu e a patroa] já tomou de remédio pra nervo
dava pra encher uma picape... (...).
Sofia:
Sarar não sara... Só fica mais ou menos com o remédio.
Sempre volta [o problema] e tem que comprar outra vez
(...). Resolve, mas não pode parar nunca com os remédios.
Acácio:
Pobrema de nervo... Pobrema de cérebro. Eu tenho uma
bolsa cheinha de capas de remédio de nervo que eu tomo
Gus:
Lá no canavial, agora nóis fuma crack.
Leandro:
“Há quase vinte anos, acompanho estarrecido a crescente
marcha da nova frenologia dos distúrbios mentais. Especi-
ficamente, o desenvolvimento do que parte dos psiquiatras
e neuropsicólogos denominam de Transtorno do Déficit
de Atenção e Hiperatividade, o TDAH. (...)
Mayara:
Programas de difusão e tratamento do TDAH vêm sendo
criados, tendo como premissa que a hiperatividade infantil
é uma doença orgânica e que precisa ser medicada (...).
Flávia:
As empresas Jansen-Cilag, Elli Lilly, Novartis e
GlaxoSmithKline, que comercializam os medicamentos
Concerta, Straterra, Ritalina e Dexedrina (...), financiam
as pesquisas clínicas de associações que afirmam seguir,
dentre os valores que norteiam seus programas, a ética na
pesquisa e universalização dos conhecimentos”21.
Sofia:
“Estas drogas, usadas especialmente no tratamento de
TDAH, são utilizadas com a finalidade de melhorar a ca-
pacidade cognitiva de estudantes e pesquisadores. Trazem,
segundo os cientistas, um problema especial: seu efeito de
longo prazo (que se diz ainda desconhecido) e uma possível
concorrência desleal entre os estudantes [e pesquisadores] que
usam e os que não usam. Em suma: capitalismo, competição
e competência!”22.
Acácio:
“As portas se abrem para novas modalidades de denúncia. O
currículo Lattes do seu colega está engordando e os pontos da
carreira dele estão ultrapassando os seus? Ele pode estar usan-
do drogas para acelerar a capacidade cognitiva, enquanto você
fica no cafezinho. Nem todos são neuroéticos como você”23.
Lili:
“O governo da Grã-Bretanha anunciou sua intenção de
aumentar o número de castrações químicas (tratamento
com drogas inibidoras da libido) para pessoas que tenham
cometido algum crime sexual (...). Para a melhor defesa
da sociedade esta castração química deverá ser consentida
pelo libidinoso. Opa!”24.
Leandro:
“A vida produtiva neoliberal exige provas, comprovações,
certificações, prêmios, reconhecimentos aos mais simples
empregados e aos mais refinados cientistas e artistas.
Sofia:
Surpresa, a mídia científica denuncia que os cérebros estão
se dopando. Medicada desde criança anuncia-se uma ge-
ração de amantes do emprego, do salário, da disposição a
participar de qualquer convocação. Democratas, dopadas e
produtivas, essas pessoas dão corpo ao atual conformismo”25.
Judson:
“O discurso neurobiológico afirm[a] que é no córtex pré
-frontal que se situa o órgão moral, subsidiando pesquisas
recentes para instituir o que vem sendo chamado na área
de ponta a neurociência a ciência da moral.
Leandro:
Mais uma vez a psiquiatria segue como operadora de me-
diações para uma nova linguagem. Nenhuma ciência ou
conhecimento é neutro.
Salete:
Ninguém pesquisa apartado do modo como toca na pró-
pria vida”26.
Judson:
“Cidade de Hamburgo, Alemanha, Segunda Guerra
Mundial. No meio de uma madrugada o escritor João
Guimarães Rosa desperta com uma vontade imensa de
fumar e nota que seu maço havia acabado. Sai e anda,
inúmeras, infindáveis quadras para conseguir cigarro. Ao
encontrá-lo já fuma um ali mesmo. Ao retornar para casa,
depara-se com os escombros do prédio onde morava. Ele
fora bombardeado e todos que ali residiam estavam mortos.
Os anos se passaram; Guimarães Rosa jamais deixou de
fumar. E toda vez que alguém o advertia ou o repreendia
dizendo que ele ainda morreria deste vício, Rosa divertido
e lépido respondia: Foi um cigarro que salvou a minha
vida”27.
Acácio:
“Acho que beber é uma questão de quantidade, por isso
não há equivalente com a comida (...). A bebida é uma
questão... Entendo que não se bebe qualquer coisa. Quem
bebe tem sua bebida favorita, mas é nesse âmbito que ele
entende a quantidade.
Gus:
Zomba-se muito dos drogados, ou dos alcoólatras [meu
caro Gilles Deleuze], porque eles dizem: ‘Eu controlo, paro
de beber quando quiser’. Zombam deles, porque não se en-
tende o que querem dizer (...).
Acácio:
Quando se bebe, se quer chegar ao último copo. Beber é,
literalmente, fazer tudo para chegar ao último copo. É isso
que interessa (...). Eu tive a sensação de que isso me aju-
dava a fazer conceitos, é estranho, a fazer conceitos filo-
sóficos. Ajudava, depois percebi que já não ajudava, que
me punha em perigo, não tinha vontade de trabalhar se
bebesse. Então se deve parar. É simples”28.
Sofia:
“Agora acontece que as tartarugas são as grandes admi-
radoras da velocidade, como é natural (...). Os cronópios
sabem e cada vez que encontram uma tartaruga, puxam a
caixa de giz colorido e na lousa redonda da tartaruga dese-
nham uma andorinha”29.
Gus:
“Diz o Corpus hipocrático que ‘são drogas as substâncias
que atuam esfriando, aquecendo, secando, umedecendo,
contraindo, relaxando ou fazendo dormir’. No entanto,
para chegar a uma definição tão secularizada os gregos
percorreram um longo caminho. Na Odisséia, quando He-
lena serviu o nepenthés, diz o poeta que ‘a mistura de alguns
fármacos é saudável e a de outros, mortal’.
Lili:
Phármakon é remédio e tóxico; não uma coisa ou outra,
mas as duas (...). Ao mesmo tempo, drogas são também
os filtros das feiticeiras, assim como o conjunto da maté-
ria médica vegetal. Lendo com atenção a Teofrasto se nota
que a origem deste conceito [de phármakon] provém das
Salete:
O grego compreendeu que certas substâncias participam de
ambos os estatutos, de modo que não cabia considerá-las
só benignas ou só danosas. Daí que em Homero a mesma
palavra nomeie tanto as poções benéficas de Helena e
Agamede, quanto as misturas malignas de Circe.
Flávia:
A toxidade de um fármaco é a proporção concreta entre
dose ativa e dose letal; por isso nenhuma propriamente dita
pertence ao inócuo ou apenas ao curativo. Como dirá mui-
to mais tarde Paracelso, sola dosis facit venenum [apenas a
dose faz o veneno]”30.
Leandro:
“Baudelaire praticamente encerrou qualquer debate sobre
a imaginação estimulada ou não do artista sob o efeito de
drogas ao alertar que elas só produzem estados de espírito
interessantes em pessoas interessantes, porque imagina-
ções grosseiras produzem visões grosseiras”31.
Sofia:
“Cães ladram contra o que eles não conhecem”32.
Gus:
Porra meu, já não sei se esta é primeira vez, a quarta? É um
quarto no quarto andar? Por que me deixam aqui sozinho,
sem ao menos um quarto de LSD? (Pausa) Sem você! (Pausa)
Você gostou quando eu trouxe felicidade no meio da ditadura?
(Pausa) Eu tentei ser comum. Eu quero... Arranjar emprego,
sem LSD. Vou abandonar a construção de minha espaçonave.
Acácio:
Eu nem sei mais se aguentarei tanta solidão. De que vale querer
mudar o mundo, quando ele não muda? Devo permanecer
mudo gritando contra tudo? Derrubar hierarquias, muros,
abrir o mar. Eles não entendem; me prendem, me medicam,
me calam. Não uso drogas, não bebo, nem fumo. (Pausa) Até
quando ficarei neste falanstério? Isso é um falanstério?
Gus:
É preciso voar.
Acácio:
Voar é para o pássaro.
Gus:
Viajar.
Acácio:
Não me mascaro.
Gus:
Meu corpo trespassado.
Acácio:
Dormir e não sonhar.
Gus:
Um lampião apagado.
Acácio:
Andar sem parar.
Gus:
Voar. Não serei seu prisioneiro.
FIM
Notas
1
Aula-teatro 15 do Nu-Sol. Pesquisa: Acácio Augusto, Aline Santana, Ana
Salles, Andre Degenszjan, Beatriz Scigliano Carneiro, Edson Passetti, Eliane
K. Carvalho, Gustavo Ramus, Gustavo Simões, Lúcia Soares, Luíza Uehara,
Maurício Freitas, Salete Oliveira, Thiago Rodrigues. Com: Acácio Augusto,
Eliane K. Carvalho (Lili), Flávia Lucchesi, Gustavo Simões (Gus), Judson
Cabral (convidado), Leandro Siqueira, Mayara de Martini Cabeleira, Salete
Oliveira e Sofia Osório. Produção gráfica: Andre Degenszjain. Operadora
de luz: Helena Wilke. Sonofonia: Vitor Osório (convidado). Violão e
música incidental: Wander Wilson Chaves Jr. (convidado). Ambientação:
Edson Passetti.
2
Errico Malatesta. “Uma proposição que não será aceita” in Edson Passsetti.
Das fumeries ao narcotráfico. Tradução de Dorothea V. Passetti. São Paulo,
Educ, 1991, pp. 145-146.
3
Monteiro Lobato. Reinações de Narizinho. São Paulo, Brasiliense, 1959,
pp. 248-249.
4
Dalton Trevisan. O maníaco do olho verde. Rio de Janeiro, Record, 2008,
pp. 7-11.
5
William Burroughs. Cartas do yage. Tradução de Bettina Becker. Porto
Alegre, LP&M, 2008, pp.60-65.
6
André Sant’Anna. Sexo. Rio de Janeiro, 7 Letras, 2001, pp. 75-76.
7
Antonin Artaud. “Bar” in Revista Libertárias, nº 2. Tradução de Martha
Gambini, 1997, p. 80.
8
Fernando Pessoa. “Tabacaria” in Obra poética. Rio de Janeiro, Ed. Nova
Aguilar, 1987, p. 300.
9
André Sant’Anna. “Bird e algo” in Inverdades. Rio de Janeiro, 7 Letras,
2009, pp. 35-36.
10
Michel Foucault. “Michel Foucault, uma entrevista: sexo, poder e política”
in verve. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento. São Paulo, Nu-Sol,
v. 5, 2004, pp. 264-265.
11
Este texto é geralmente atribuído a Clarice Lispector. Embora o
encontremos em diversos endereços eletrônicos com sua assinatura, não há
referência confiável de que seja de sua autoria.
12
Heráclito de Éfeso. Os pré-socráticos. Tradução de José Cavalcante de
Souza et alli. São Paulo, Nova Cultural, 1999, pp. 93 e 95.
13
Antonin Artaud. “Segurança pública – a liquidação do ópio” in Escritos de
Antonin Artaud. Tradução de Cláudio Willer. Porto Alegre: L&PM, 1983,
pp. 23-26.
14
Luiz Mott. “A maconha na História do Brasil” in Anthony Henman e
Oswaldo Pessoa Júnior (orgs.). Diamba Sarabamba. São Paulo, Ground,
1986, p. 131.
Beatriz Scigliano Carneiro. Vestígios dos venenos elegantes. Dissertação de
15
26
Salete Oliveira. “Psiquiatrização da ordem e abolicionismo penal:
neurociências, psiquiatria e direito” in Revista ponto-e-vírgula. São Paulo,
PEPG Ciências Sociais/PUC-SP, n. 4, 2008, pp. 09-10.
27
Nu-Sol. “Brevíssima história” in Flecheira Libertária 106. São Paulo, 2009.
28
Gilles Deleuze. “Letra B de beber” in Abecedário. Disponível em: http://
br.geocities.com/polis_contemp/deleuze_abc.html#beber (acesso em:
12/03/2010).
29
Julio Cortázar. História de cronópios e de famas. Tradução de Gloria
Rodríguez. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1977, p. 157.
30
Antonio Escohotado. Historia de las drogas, vol. 1. Madrid, Alianza
Editorial, 1998, p. 137.
31
Edson Passetti. Das fumeries ao narcotráfico. São Paulo, Educ, 1991, p. 89.
32
Heráclito de Éfeso, 1999, op. cit., p. 98..
12 e 13 de maio
19h30
Tucarena, PUC-SP
[R. Monte Alegre, 1024]
www.nu-sol.org
verve
Resenhas
um arquivo sobre a educação e a cultura
anarquista no brasil
LÚCIA BRUNO
NU-SOL
Publicações do Núcleo de Sociabilidade Libertária, do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.
hypomnemata, boletim eletrônico mensal, desde 1999;
flecheira libertária, semanal, desde 2007;
Aulas-teatro
Emma Goldman na Revolução Russa, maio e junho de 2007;
Eu, Émile Henry, outubro de 2007;
FOUCAULT, maio de 2008;
estamos todos presos, novembro de 2008 e fevereiro de 2009;
limiares da liberdade, junho de 2009;
FOUCAULT: intempéries, outubro de 2009 e fevereiro de 2010;
drogas-nocaute, maio de 2010;
terr@, outubro de 2010 e fevereiro de 2011;
eu, émile henry. resistências., maio de 2011;
LOUCURA, outubro de 2011;
saúde!, maio e outubro de 2012;
limiares da liberdade, maio e agosto de 2013;
anti-segurança, outubro/novembro de 2013 e fevereiro de 2014;
drogas-nocaute 2, maio de 2014.
DVDs e exibições no Canal Universitário/TVPUC
ágora, agora, edição de 8 programas da série PUC ao vivo; exibição de set a
out/2007, jan a mar/2008 e fev a abr/2009.
os insurgentes, edição de 9 programas; exibição de abr a jun/2008, jun a
ago/2008 e dez/2008 a fev/2009.
ágora, agora 2, edição de 12 programas; exibição de set a dez/2008, abr a
jun/2009 e jun a out/2009.
ágora, agora 3, edição de 7 programas; exibição de out a nov de 2010.
carmem junqueira-kamaiurá — a antropologia MENOR, exibição de out
a nov/2010, 2011 e 2012.
ecopolítica-ecologia, exibição em ago/2012.
ecopolítica-segurança, exibição em nov/2012.
ecopolítica-direitos, exibição em abr/2013.
Vídeos
Libertárias (1999); Foucault-Ficô (2000); Um incômodo (2003); Foucault,
último (2004); Manu-Lorca (2005); A guerra devorou a revolução. A guerra
civil espanhola (2006); Cage, poesia, anarquistas (2006); Bigode (2008);
Vídeo-Fogo (2009).
CD-ROM
Um incômodo, 2003 (artigos e intervenções artísticas do Simpósio Um
Incômodo).
Coleção Escritos Anarquistas, 1999-2004
29 títulos.
202
verve
r
recomendações para colaborar com verve
Identificação:
Notas explicativas:
203
25
2014
Citações:
I) Para livros:
204
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Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. Rua Ministro Godói,
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