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Motrivivência v. 26, n. 42, p.

222-237, junho/2014

http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2014v26n42p222

AS DIRETRIZES DO NASF E A PRESENÇA


DO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Jessica Félix Nicácio Martinez1


Ana Márcia Silva2
Maria Sebastiana Silva3

RESUMO

Texto que discute a participação do profissional em Educação Física no programa Núcleo


de Apoio à Saúde da Família (NASF), com enfoque na cidade de Goiânia (Brasil). Estudo
de metodologia de revisão bibliográfica e documental que encontrou os seguintes
resultados: a presença desse profissional em 49,2% das equipes do NASF no Brasil;
uma diversidade de denominações para o profissional; e no caso de Goiânia (Brasil),
os profissionais atuantes recebem menor remuneração que os demais profissionais da
equipe multidisciplinar de saúde, apesar de terem uma valoração bastante positiva de
seu trabalho por parte dos demais profissionais, assim como da gestão.

Palavras-chave: Saúde Pública; Núcleo de Apoio à Saúde da Família; Educação Física.

1 Doutoranda em Ciências da Saúde. Professora da Faculdade de Educação Física da UFG, Goiás, Brasil.
E-mail: jessicafelix01@yahoo.com.br
2 Doutora em Ciências Humanas. Professora da Faculdade de Educação Física da UFG, Goiás, Brasil.
E-mail: anamarcia@pq.cnpq.br
3 Doutora em Nutrição. Professora da Faculdade de Educação Física da UFG, Goiás, Brasil.
E-mail: maria2593857@hotmail.com
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INTRODUÇÃO em três momentos: i) pré-análise – nesta


fase, selecionamos os documentos oficiais
Em 2008, o Ministério da Saúde que tratam da Educação Física no NASF e
publica portaria que institui o programa as produções acadêmicas sobre o tema nas
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) principais bases de dados do campo da
(BRASIL, 2008) e na sequência torna públi- saúde e da Educação Física. As produções
co o documento intitulado de Diretrizes foram selecionadas a partir das seguintes
do NASF (BRASIL, 2009), atualizando-o
palavras-chaves: atividade física, exercício
posteriormente com uma redefinição de
físico, práticas corporais e Educação Física e
parâmetros e modalidades (BRASIL, 2012).
seus diferentes intercruzamentos com saúde
Embora este não seja o primeiro documen-
pública, saúde coletiva, Sistema Único de
to a balizar as atividades que podem vir
Saúde (SUS) e serviço público de saúde. Se-
a ser desenvolvidas pelo profissional de
Educação Física, é o texto oficial que vai lecionamos aquelas produções acadêmicas
sistematizar reflexões em torno do trabalho que possuíam relação direta com a reflexão
específico desse profissional no âmbito da sobre a Educação Física no NASF. Após essa
saúde pública brasileira, formalizada no seleção inicial, estabelecemos um contato
referido programa. exaustivo com o conteúdo analisado, con-
Considerando esses elementos e a siderando as normas de validade qualitativa
recente presença da Educação Física no (exaustividade, representatividade, homoge-
Sistema Público de Saúde é que se desenvol- neidade e pertinência) e buscando respon-
veu este estudo de metodologia de revisão der às indagações iniciais; ii) exploração do
bibliográfica e documental. Objetivou-se material – nesta fase, ocorreu a operação
neste texto, destacar os conceitos e princí- de codificação propriamente dita, na qual
pios centrais das diretrizes que orientam o buscamos “reduzir” o material analisado às
trabalho no NASF e estabelecer um diálogo suas expressões significativas. As unidades
com outras produções acadêmicas e refle- de registro e contexto foram recortadas do
xões que tratam da temática no campo da material para, em seguida, serem visuali-
Educação Física. Objetivou-se, também,
zadas com mais clareza em sua repetição
fazer uma análise dos dados da presença
e significado. No final, foi realizado um
do profissional de Educação Física nos
processo de classificação elencando as ca-
NASFs brasileiros, com foco sobre proces-
tegorias empíricas e/ou teóricas advindas da
so de implantação do NASF na cidade de
análise, e, iii) tratamento e interpretação dos
Goiânia (Brasil) em seus desafios iniciais e
conformação do corpo de profissionais do resultados obtidos – buscamos compreen-
campo que dele participam. der o significado das informações obtidas
Os procedimentos metodológicos por meio da presença ou freqüência de
seguiram as orientações da técnica de núcleos de sentido. Retornou-se às questões
Análise Temática, a qual segundo Minayo e objetivos da pesquisa em um processo
(2010) é uma das mais adequadas formas dialético de (re)construção do material
de investigação qualitativa do material empírico coletado com novas mediações
sobre saúde. Essa técnica foi organizada (MINAYO, 2010).
224

Um perfil do profissional de Educação profissional por 100.000 habitantes. Apesar


Física no NASF no Brasil disso, os dados indicam que o profissional
de Educação Física encontra-se entre as
Em pesquisa sobre a inserção do cinco profissões mais contratadas para
profissional de Educação Física no NASF, trabalhar no NASF.
Santos (2012) observou que esse profissio- Dados de 2013 do Ministério da
nal está presente em média em 49,2% das Saúde4 apontam que há 1031 profissionais
equipes no Brasil. Identificou, também, de Educação Física trabalhando no NASF
diferenças expressivas entre as regiões do em todo o país e continua sendo uma das
Brasil, chegando a percentuais superiores cinco profissões mais contratadas para atuar
a 75% nos Estados do Acre e Paraná e ne- nesse programa.
nhum no Distrito Federal. Contudo, há uma No quadro abaixo estão apresen-
baixa representatividade profissional quanto tados os dados atuais do percentual de
à cobertura da população pela estratégia profissionais que compõem o NASF nas
da Saúde da Família, não chegando a um suas duas modalidades no país:

Quadro 1: Distribuição dos profissionais que trabalham no NASF.

% NASF I com profissional % NASF II com profissional


Profissionais
na equipe na equipe
Fisioterapeuta Geral 86,0% 75,4%
Psicólogo Clínico 85,5% 77,1%
Nutricionista 79,9% 60,9%
Assistente social 67,9% 42,5%
Fonoaudiólogo 47,3% 24,8%
Profissional de Educação Física na
41,7% 17,8%
saúde
Farmacêutico 41,1% 20,8%
Avaliador Físico 7,6% 10,8%
Fonte: Ministério da Saúde (2013).

Como identificamos no quadro estão sendo utilizadas no NASF fornecendo


acima, há duas denominações diferentes um panorama mais completo da questão.
para um profissional que deve ter formação Abaixo, apresentamos em forma de quadro
em nível superior no campo da Educação as diversas denominações utilizadas para o
Física. Este dado nos estimulou a dar maior registro do profissional de Educação Física
visibilidade às diversas denominações que no NASF.

4 Os dados apresentados foram sistematizados e gentilmente cedidos às pesquisadoras pela Coordenação Geral
de Gestão da Atenção Básica (Departamento de Atenção Básica/Secretaria de Atenção à Saúde/Ministério da
Saúde) em Junho de 2013.
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Quadro 2: Denominações Profissionais para o campo da Educação Física no NASF.

Denominação Número absoluto


Profissional de EF na saúde 762
Avaliador Físico 183
Preparador Físico 38
Professor de EF no Ensino Superior 25
Professor de EF no Ensino Médio 12
Técnico de desporto individual e coletivo (exceto futebol) 08
Ludomotricista 03
Fonte: Brasil (2013).

As diferentes formas de registrar o por esse profissional na saúde pública, por


profissional de Educação Física na criação exemplo, possibilitando o cadastro em
do NASF em 2008 indicavam as tensões atividade educativa/orientação em grupo
quanto à centralidade do trabalho deste e visita domiciliar. Frente a esta situação e,
profissional na saúde. Importante lembrar talvez, como uma busca por superar essa
que, segundo a Classificação Brasileira de fragmentação da Educação Física, foi publi-
Ocupação (CBO), os profissionais de Educa- cada a portaria nº 256, em 11 de março de
ção Física no NASF podem ser cadastrados 2013, criando a CBO provisória 2241E1 de
como: avaliador físico; ludomotricista; “profissional de educação física na saúde”.
preparador de atleta; preparador físico; Sobre o perfil desses profissionais
técnico de desporto individual e coletivo que estão atuando no NASF em todo país,
(exceto futebol); técnico de laboratório e os dados de pesquisa realizada por Santos
fiscalização desportiva (BRASIL, 2008). (2012) são expressivos. Foram entrevistados
Segundo as elaborações de Bueno por telefone 296 profissionais de Educação
(2012), essas definições tiveram interferên- Física que trabalham no NASF em todo o
cia do Conselho Federal de Educação Física país. Na entrevista foram consideradas as
quando ocorreu a atualização da CBO em condições de trabalho, formação profissio-
2002. A autora também argumenta que após nal e atividades desenvolvidas. Os resul-
a criação do NASF não é possível cadastrar tados indicam que há predominância do
os profissionais como “professor de Educa- gênero masculino (53,4%), com média de
ção Física no ensino superior” ou “professor idade de 32,3 anos (±7,4). A grande maioria
de Educação Física no ensino médio”. Essas (74,7%) possui formação em licenciatura
CBOs eram vinculadas à educação, sendo plena, sendo que 55,1% realizaram seu
as únicas formas de registro da Educação processo formativo em instituições particu-
Física antes da atualização da CBO. Ade- lares de ensino. A maioria dos entrevistados
mais, a autora ressalta que os procedimentos (55,7%) possui pós-graduação em Educação
vinculados à CBO “professor de Educação Física e Saúde.
Física no ensino superior” estão muito mais Em se tratando de informações re-
condizentes com o trabalho desenvolvido lativas às condições de trabalho, a mesma
226

pesquisadora identificou que há prevalência ou pública. A responsabilidade pelas con-


de trabalho com carga horária de 40 horas tratações é das Organizações Sociais, as
semanais, contudo 11,5% relataram carga quais são instituídas por área programática,
horária inferior. No entanto, 76,4% pos- com diferenças nos processos de seleção
suem vínculo empregatício precarizado, e contratação de profissionais (XAVIER;
especialmente pela flexibilidade da forma ESPÍRITO-SANTO, 2011).
de contratação dos profissionais, e apenas Apesar das poucas investigações so-
23,6% são estáveis. Ademais, 57,8% dos bre a implantação do NASF no país, chama
entrevistados possuíam outro vínculo pro- atenção o processo de precarização e flexi-
fissional. A maioria dos profissionais relatou bilização do trabalho a partir da contratação
não possuir condições mínimas para o dos profissionais por Organizações Sociais,
trabalho (56,4%), quando considerados os a qual camufla a privatização do setor, como
recursos materiais e estrutura física; infor- indicam as elaborações de Pinto (2000).
maram, no entanto, que houve capacitação Ademais, em um clima de insegurança no
pedagógica e avaliação da gestão municipal trabalho, os profissionais acabam buscando
(75,7%) (SANTOS, 2012). outros vínculos empregatícios, fato que
Na pesquisa de Mendonça (2012), gera sobrecarga de trabalho e dificuldades
identificou-se a importância do vínculo na construção de projetos mais permanen-
empregatício para a continuidade do traba- tes e adequados aos fins propostos. Esses
lho, qualidade das atividades e saúde dos elementos parecem ser fundamentais para
profissionais. No caso dos trabalhadores considerarmos as determinações estruturais
de Educação Física do NASF de Londrina/ que impactam no trabalho, reflexões neces-
PR, investigou-se que os mesmos tinham sárias sobre a função social da Educação
um contrato emergencial de 60 dias e uma Física na Saúde Pública.
jornada de trabalho de 40 horas. O autor
salienta que esse tipo de contratação ocor-
reu porque uma Organização da Sociedade As diretrizes do NASF e o trabalho dos
Civil de Interesse Público (OSCIP), a qual profissionais de Educação Física
era responsável pelas contratações dos pro-
fissionais de saúde, estava envolvida com Para Pedrosa e Leal (2012, p.247),
denúncias de corrupção, o que resultou em a percepção dos profissionais enfermeiros
rompimento de contrato com o município e médicos da estratégia Saúde da Família
e insegurança para os trabalhadores. Além (ESF) de Porto Velho/RO com relação ao
disso, seis dos dez profissionais de Educação trabalho dos profissionais de Educação
Física do NASF de Londrina/PR investigados Física vinculados ao NASF está representa-
tinham dupla jornada de trabalho exercendo da, principalmente, pela “amenização dos
outra atividade remunerada, em geral, em efeitos de doenças crônico-degenerativas
empresas privadas. (como hipertensão e diabetes)”. Os autores
De forma similar, no município do chamam atenção para o desconhecimento
Rio de Janeiro, os pesquisadores analisaram dos profissionais sobre as políticas e progra-
que o processo de contratação de profissio- mas nacionais de saúde, inclusive sobre a
nais de Educação Física não foi transparente criação do NASF.
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Contribui para tal dificuldade, a saúde, privilegiando na organização do


interpretação desses profissionais de que o processo de trabalho as ações específicas
NASF atuaria, em última instância, junto a do campo profissional. Com a demanda
um grande contingente de usuários do SUS. elevada de usuários por unidade de saú-
Os autores analisaram que a portaria que de, provavelmente, o trabalho coletivo
criou o NASF (BRASIL, 2008) dá margem de planejamento e avaliações das ações
para essa interpretação dos profissionais. com a equipe NASF, bem como com as
Nesse sentido, não é de se surpreender equipes de ESF, pode estar comprometido
que muitos profissionais da ESF esperassem provocando ações cada vez mais isoladas.
que a equipe NASF assumisse as demandas Observou-se, também, que os pro-
do território a partir das especialidades fissionais de Educação Física do NASF de
profissionais, reforçando os processos de Londrina/PR realizavam um trabalho, na
encaminhamento e de ações curativas maioria das vezes, com pouca integração
(PEDROSA; LEAL, 2012). com as equipes de Saúde da Família. O
A publicação das Diretrizes do autor argumenta a necessidade de formação
NASF parece estar suprindo em parte essa permanente no próprio trabalho e da mu-
lacuna, pois identificamos trechos do referi- dança da concepção curativa das equipes
do texto com uma orientação muito clara de de Saúde da Família. Também relataram
que o processo de trabalho dos profissionais dificuldades para utilização de salas, ma-
do NASF deve ser desenvolvido por meio do teriais e veículos da unidade de saúde
apoio matricial, com espaços coletivos de (MENDONÇA, 2012). De forma similar, os
discussões e planejamento (BRASIL, 2009). profissionais de Educação Física do NASF
Contudo, essa orientação parece ter poucas do norte do Paraná também mencionaram
repercussões na realidade de trabalho da como principal dificuldade do trabalho, a
maioria das equipes de ESF, exigindo dos falta de espaço físico para desenvolvimento
profissionais do NASF uma leitura cuidado- das atividades (SOUZA; LOCH, 2011).
sa dos processos de trabalho das equipes e Nas “Diretrizes do NASF” identi-
do território a fim de compreender as dificul- ficou-se que a compreensão do eixo das
dades e buscar seu enfretamento conjunto. Práticas Corporais/Atividade Física (PCAF)
Em pesquisa realizada com profis- no contexto do SUS é ressignificada à luz
sionais de Educação Física que trabalham da concepção de saúde como produção
no NASF no norte do Paraná, foi verificado social. Com efeito, a demarcação conceitual
que a maioria dos profissionais trabalha- e política expõe, nos parágrafos iniciais do
va com grupos nas unidades de saúde e documento, os desafios para o campo da
apenas um trabalhava oferecendo, exclu- Educação Física em integrar uma equipe
sivamente, apoio às equipes de ESF. Esses multiprofissional a partir dessa perspectiva.
profissionais davam suporte, em média, Um trecho do documento ressalta os con-
para cinco unidades de saúde fixas a partir ceitos mencionados:
de um trabalho por escala (SOUZA; LOCH,
(...) entendendo a produção da saúde
2011). Com efeito, é possível que a maio- como resultante dos determinantes e
ria desses trabalhadores esteja assumindo condicionantes sociais da vida, é que o
diretamente os grupos das unidades de eixo das PCAF, nos termos previstos na
228

PNPS [Política Nacional de Promoção O corpo cultural, repleto de símbolos


da Saúde] se ressignifica, vislumbrando e signos, que o torna único ao mesmo
novas possibilidades de organização e tempo em que lhe inclui na identidade
de manifestação (BRASIL, 2009, p.144). de um determinado grupo ou coletivo
social, como bem define a Antropolo-
gia, que afirma não existir natureza hu-
Também é importante lembrar que a
mana independente da cultura (BRASIL,
concepção de saúde como produção social 2009, p.144).
aparece na PNPS em 2006 e é reiterada
neste documento em 2009, afirmando a Apesar das perspectivas progressis-
complexidade do tema e, talvez, a dificul- tas indicadas nas políticas públicas brasilei-
dade de apropriação dessa concepção nas ras e nos marcos legais que tratam das PCAF,
práticas de saúde.
em uma investigação com profissionais de
Outros aspectos conceituais são
Educação Física do NASF de Londrina/PR,
problematizados de forma crítica e con-
observou-se que suas concepções se susten-
tundente nas Diretrizes do NASF. Nestas
tam a partir de uma visão comportamental
Diretrizes, o conceito de “atividade física”5
e biológica do processo saúde-doença, na
é questionado como sinônimo de movimen-
to, equiparação conceitual tradicional na qual as mudanças passam invariavelmente
saúde. Os autores do referido documento pela responsabilidade individual dos sujei-
problematizam a limitação do termo ao tos pela sua saúde (MENDONÇA, 2012).
enfocar apenas a dimensão fisiológica do Para o autor, o processo de trabalho
ser humano, em geral, “biometricamente do profissional de Educação Física no NASF
avaliado”. Nesse sentido, acrescentam que reflete as dificuldades do processo formativo
“a concepção biológica de corpo parece não com ênfase, de forma geral, na dimensão
ser suficiente para responder às questões biológica dos sujeitos em detrimentos de
oriundas dos elementos determinantes da análises que considerem os aspectos filo-
saúde [...]” (BRASIL, 2009, p.144). As ques- sóficos, históricos e sociais da relação entre
tões conceituais e seus desdobramentos pro- atividade física e saúde. Na investigação com
fissionais também vêm sendo pesquisadas profissionais de Educação Física do NASF
e debatidas buscando superar alguns dos de Londrina/PR foi observado que a maioria
reducionismos presentes no campo acadê- das ações realizadas tem como objetivo o
mico e a construção de novos consensos aprimoramento das capacidades físicas e a
(LAZZAROTTI FILHO et al., 2010).
repetição dos movimentos, “sem que haja
Na tentativa de superar os limites
um espaço de criação, reflexão e contex-
conceituais apresentados, identificou-se nas
tualização das propostas” (MENDONÇA,
“Diretrizes do NASF” a apresentação de uma
2012, p. 129).
concepção de corpo no âmbito das PCAF:

5 Esse conceito é definido em sua acepção clássica como qualquer movimento produzido pela musculatura
esquelética que produza gasto energético acima dos níveis de repouso, recomendação quase universalmente
preconizada por diversas organizações, governos e centros de pesquisa (BRASIL, 2009).
V. 26, n° 42, junho/2014 229

Além das atividades com grupos, os enfatizar somente o tratamento e a preven-


profissionais de Educação Física do NASF ção de doenças por meio da prática regular
do norte do Paraná também realizavam de exercícios físicos, mas deve prescindir do
“mini-palestras” sobre a “importância trabalho coletivo na elaboração de projetos
da prática da atividade física”. Entre as com corresponsabilidades com as equipes
atividades “prescritas” estão as atividades de ESF no atendimento aos usuários.
aeróbicas e os exercícios resistidos, em me- Nas Diretrizes do NASF, os autores
nor proporção atividades de alongamento, indicam como princípios que orientam
coordenação motora e atividades lúdicas, a atuação profissional “a compreensão e
com uso de materiais alternativos como contextualização histórica dos fenômenos,
pesos com garrafa pet e cabo de vassouras. conceitos e determinações que envolvem a
As atividades ocorriam de duas a três vezes prática de atividade física na contempora-
por semana com aproximadamente uma neidade [...] todas imbricadas nas relações
hora de duração, sendo organizadas em sociais”. Recomendam que os profissionais
partes, a saber: aquecimento, treinamento de Educação Física valorizem as manifesta-
específico e relaxamento/alongamento. A ções da cultura corporal em um contexto de
maioria dos participantes era mulheres e “formação crítica do sujeito, da família [...]”,
idosos, usualmente com alguma patologia. os quais possam superar o “aprisionamento
Os autores chamam atenção para que o técnico-pedagógico dos conteúdos clássicos
trabalho no NASF não tenha apenas um da Educação Física” (BRASIL, 2009, p.144).
direcionamento “clínico”, lembrando que Ações “tradicionais” do campo da
as ações não devem privilegiar apenas Educação Física como “avaliação física e
populações adoecidas (SOUZA; LOCH, prescrição de exercícios” também foram
2011, p. 8/9). mencionadas pontualmente no referido do-
Em uma pesquisa realizada na cumento, desde que não provoquem “filas”
Academia Carioca no município do Rio de e/ou não demandem a maior parte do tempo
Janeiro foi identificado que o profissional do profissional (BRASIL, 2009, p.149). Nota-
de Educação Física, no contexto da Atenção -se que este elemento representou uma das
Básica, faz uso de protocolos médicos- dificuldades relatadas pelo profissional da
-centrados em uma abordagem biológica e Academia Carioca. O enfoque dos autores
medicalizada. Identificou-se a priorização das Diretrizes do NASF parece estar nas
dos atendimentos para grupos com hiper- ações coletivas, com grupos e junto com a
tensão e diabetes, vinculados ao programa equipe multiprofissional do que em ações
HIPERDIA. As dificuldades relatadas pelo individuais, ainda que estas não sejam
profissional foram a grande demanda de descartadas, mas avaliadas junto com as
trabalho e a falta de trabalhadores, as quais equipes de saúde da família.
acarretaram “filas de espera” de usuários Nessa trilha, os autores chamam
para participação nas atividades (XAVIER; atenção nas Diretrizes do NASF para a de-
ESPÍRITO-SANTO, 2011). finição do público alvo ou prioridade das
Pedrosa e Leal (2012) discutem que ações, a qual deve considerar a análise de
a inserção dos profissionais de Educação saúde do território realizada de forma con-
Física no serviço público de saúde não pode junta com a equipe NASF e da estratégia da
230

Saúde da Família; a eleição de critérios que sobreposição de ações e potencializar as


não excluam faixas etárias e/ou estigmati- já existentes (BRASIL, 2009).
zem sujeitos por suas condições de saúde, Nesse sentido, as “Diretrizes do
por exemplo, diabéticos e/ou hipertensos; NASF” apresentam reconhecimento da
que favoreça o maior número de pessoas; importância da promoção da saúde na cons-
que extrapolem os espaços de saúde, identi- trução das PCAF articulada na compreensão
ficando lugares no território que expressem dos aspectos culturais, históricos, políticos,
identidade do grupo e facilitem o acesso econômicos e sociais do “espaço-território”,
das pessoas às atividades. Neste contexto, valorizando a realidade local como “prin-
destaca-se a relevância do planejamento cípios da atuação profissional do NASF”
participativo das ações, dentre as quais se para a construção de ações em saúde, em
podem considerar, os desejos e aspirações especial das PCAF (BRASIL, 2009, p.145).
dos sujeitos, por meio de propostas de per- Há no mencionado documento, a
tencimento coletivo e evitar imposição de reiterada alusão à promoção da saúde como
ações/modelos (BRASIL, 2009). perspectiva orientadora do trabalho a ser
desenvolvido no NASF. Com efeito, os au-
No citado documento, o conceito de
tores salientam a diferença entre promoção
território é entendido como “elemento vivo
da saúde e prevenção de doenças, como se
e multidimensional, que deve ser captado e
pode verificar no trecho abaixo:
compreendido em todas as suas nuances”
(BRASIL, 2009, p.151). Essa concepção foi promover significa fomentar, desen-
muito difundida nos serviços públicos de volver algo que possibilite a escolha,
saúde, em especial na Atenção Básica, ape- a autonomia e a coresponsabilidade
sar da compreensão limitada do conceito à dos sujeitos envolvidos na construção
coletiva de modos de viver melhor. Já
dimensão gerencial e das dificuldades das a prevenção caracteriza-se por impedir
equipes de saúde em concretizar processos que algo aconteça, não importando o
de territorialização na realidade de traba- momento (BRASIL, 2009, p.148).
lho. Considerando esta limitação, talvez os
profissionais do NASF possam colaborar Na pesquisa de Mendonça (2012,
em resgatar essa acepção ampliada, contri- p.128) com profissionais de Educação Fí-
buindo para efetivar esse processo junto às sica que trabalham no NASF em Londrina/
equipes de ESF. PR, foi identificado que há uma confusão
Avalia-se que há um especial desafio conceitual entre promoção da saúde e
para a Educação Física em buscar integrar as prevenção de doenças. Vários profissionais
ações no território com espaços já consoli- apresentaram um entendimento de promo-
dados do esporte, lazer e da escola, assim ção da saúde “com base na responsabili-
como os projetos mais recentes como a dade individual”. O autor argumenta que
Academia da Saúde e o Programa Saúde na esta concepção do processo saúde-doença
Escola. Nas Diretrizes do NASF identificou- está atrelada a disseminação dos estudos
-se o favorecimento de ações intersetoriais, epidemiológicos e da concepção biológica
em especial, articuladas aos programas e deste processo. Com efeito, apenas um pro-
projetos federais de atividade física com fissional, dos dez investigados, apresentou
foco em escolares com objetivo de evitar uma concepção de promoção da saúde
V. 26, n° 42, junho/2014 231

considerada “ampliada”, segundo o autor, as mudanças necessárias. Na totalidade da


a partir das definições ensejadas pela Carta realidade social, os trabalhadores possuem
de Ottawa. autonomia relativa para provocar mudanças
Identificou-se nos estudos certa no seu trabalho, pois os elementos fundantes
perspectiva comportamental e biologicista do modo de produção capitalista – divisão
do processo saúde-doença relacionados à social do trabalho e a propriedade privada
perspectiva de responsabilização individual dos meios de produção (NETTO; BRAZ,
pela saúde; ações que visavam ao aprimora- 2010) – mantêm-se intactos. Os profissionais
mento das capacidades físicas e a repetição de Educação Física, enquanto parte da classe
dos movimentos (MENDONÇA, 2012); uso trabalhadora, necessitam se apropriar desses
de protocolos médicos-centrados em uma conhecimentos para que seja possível ter
abordagem biológica e medicalizante; e a uma ação crítica sobre o mundo, individual
priorização de grupos por critérios como e coletivamente, compreendendo também
patologia ou ciclo de vida, por exemplo, seus próprios limites para desencadear pro-
hipertensos, diabéticos ou idosos (XAVIER; cessos emancipatórios na vigência do modo
ESPÍRITO-SANTO, 2011). de produção capitalista.
Retomando à reflexão sobre a fun- Apesar da pequena quantidade de
ção social da Educação Física na Saúde produções acadêmicas sobre o trabalho do
Pública observou-se, a partir das pesquisas profissional de Educação Física no NASF no
relatadas sobre a implantação do NASF e país, observou-se que em todas as pesquisas
da análise das suas Diretrizes, que existem encontradas há debate em torno da necessi-
outros elementos importantes da realidade dade de mudanças na formação acadêmica
concreta de trabalho que devem ser consi- para qualificar, de uma forma geral, o traba-
derados na questão anunciada. Além dos lho na saúde pública, tema pouco abordado
aspectos vinculados à precarização e a nos cursos de graduação (ANJOS: DUARTE,
flexibilização do trabalho, identificou-se a 2009; BRUGNEROTTO; SIMÕES, 2009).
reprodução dos conceitos hegemônicos do Para Pedrosa e Leal (2012, p. 249),
modelo biomédico na maioria das equipes é necessária uma análise da qualidade da
de Saúde da Família e também nos pro- formação profissional para atender ao perfil
fissionais de Educação Física. Ora, como exigido para atuação nas novas estratégias
uma proposta considerada de mudança de de ação para a promoção da saúde e da
modelo tecnoassistencial, como é o caso da aproximação dos profissionais que já atuam
estratégia Saúde da Família, irá se efetivar no setor. O autor também chama atenção
se os trabalhadores da saúde não tiverem para necessidade de análises mais profun-
uma formação sólida para compreender das sobre a “atuação prática” e do estímulo
as relações sociais que determinam não para participação em eventos do campo da
só a condição de fragilidade da política saúde. Além disso, também problematiza as
social brasileira e o processo saúde-doença responsabilidades dos gestores em promo-
dos seres humanos, mas também de suas ver maior capacitação, informação e comu-
consciências sobre o mundo? Com efeito, nicação sobre políticas públicas de saúde.
tornam-se inócuas propostas que delegam De forma similar, Santos (2012) sa-
exclusivamente aos próprios trabalhadores lienta que a Educação Física possui pouca
232

“experiência prática” nos serviços públicos O autor propõe que os conhecimentos da


de saúde e enfrenta o desafio na definição Saúde Coletiva precisam ser incorporados
do seu papel profissional e das competên- na graduação como tema “transversal com
cias necessárias para atuação junto ao SUS. potencial transformador das práticas de
A autora também contextualiza algumas educação física”, não somente no formato de
uma disciplina (MENDONÇA, 2012, p.130).
iniciativas do governo federal, tais como
o Programa Nacional de Reorientação da
Formação Profissional em Saúde (PRO- A Educação Física no serviço público de
-SAÚDE) e o Programa de Educação pelo Saúde de Goiânia
Trabalho em Saúde (Pet-Saúde), na indução
de mudanças na formação, em nível de De acordo com dados oficiais da
graduação e pós-graduação, dos cursos do Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia,
campo da saúde, os quais devem atender existem, atualmente, 30 profissionais de
às necessidades da população brasileira e Educação Física contratados pela aludida
do SUS. Secretaria (SECRETARIA MUNICIPAL DE
Souza e Loch (2011, p.9), apesar de SAÚDE DE GOIÂNIA, 2012) no município.
reconhecerem algumas mudanças na forma- Praticamente um terço destes trabalhadores
(21 profissionais) está vinculado aos servi-
ção, atribuem algumas dificuldades relatadas
ços de saúde mental de Goiânia/GO, em
pelos profissionais de Educação Física do
especial nos diferentes Centros de Atenção
NASF do norte do Paraná “a presença de
Psicossocial (CAPS). Os outros trabalhado-
currículos generalistas superficiais”. Tais cur- res estão vinculados a Distritos Sanitários,
rículos, não sustentariam uma intervenção Centro de Atenção Integral à Saúde (CAIS)
profissional sólida, pois formam “professo- e ao Centro de Referência em Atenção à
res” para atuar na escola e “profissionais” Saúde da Pessoa Idosa (CRASPI).
para atuar fora deste ambiente. Com efeito, As primeiras contratações de pro-
admitem que a formação para intervenção fissionais de Educação Física no serviço
profissional na saúde pública ainda precisa público de saúde de Goiânia/GO datam de
ser consolidada e sugerem “a divisão entre 2002, com a entrada de quatro profissionais,
licenciatura e bacharelado como uma alter- segundo o documento analisado. Observa-se
nativa para melhor caracterizar o campo de que desses quatro trabalhadores citados,
dois possuem como cargo a denominação
intervenção para cada habilitação”.
de “profissional de educação II”, o qual se
Corroborando com Quint et al.
supõe o vínculo destes profissionais com
(2005), Mendonça (2012) argumenta que os a secretaria de educação e uma possível
pressupostos da Saúde Coletiva e das teorias transferência para a secretaria da saúde. No
progressistas da Educação Física podem total de profissionais contratados pela secre-
ampliar novos horizontes para o trato com taria de saúde apenas dois trabalhadores
o conhecimento e orientação da prática pe- possuem esse cargo, o restante (28) exerce o
dagógica em unidades de saúde da família. cargo de “analista em cultura e desportos”6,

6 Esses cargos não possuem correspondência com as possibilidades de registro da Educação Física segundo a
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
V. 26, n° 42, junho/2014 233

com diferenças salariais importantes por processo seletivo dos profissionais do NASF
conta dos diferentes cargos. ocorreu “internamente”, os atuais vínculos
Em investigação realizada em 2009 profissionais se mantiveram produzindo
com os profissionais que compuseram a desigualdades salariais importantes.
equipe de implantação do NASF em Goiâ- Em pesquisa recente, MARTINEZ
nia/GO, foi identificada que a representação (2014) observou que na identificação do
que aquela equipe tinha sobre o trabalho do perfil sócio-profissional dos trabalhadores
profissional de Educação Física indicava um do NASF os profissionais de Educação Fí-
duplo papel. A dupla representação consis- sica são aqueles com salários mais baixos
tia de um educador e de um profissional da da equipe multidisciplinar, inclusive com
saúde. Uma responsabilidade na orientação importantes desigualdades entre eles. A
sobre a prática de exercícios físicos para as mesma pesquisa identificou que as diferen-
equipes de ESF e a população; e a contribui- ças salariais entre os profissionais podem
ção na redução de doenças e agravos não ser compreendidas pela impossibilidade
transmissíveis (MARTINEZ; PELLIZZARO; do recebimento da gratificação, pois um
SILVA, 2009). dos professores manteve vínculo emprega-
Nesse aspecto, os sujeitos que cons- tício com a Secretaria de Educação mesmo
truíram o projeto de implantação do NASF trabalhando na saúde.
em Goiânia argumentaram que a opção por Ainda que pesem essas desigualda-
esse profissional decorreu da compreensão des, a contratação efetiva dos profissionais
de que é um profissional da saúde e da do NASF de Goiânia garante trabalho com
educação, transitando em ambas as áreas, mais estabilidade e qualidade do que outros
o que o aproxima do modelo de ação do estudos relataram. Esta condição de traba-
NASF. Além disso, nessa mesma pesquisa lho não está dada a outros profissionais de
(MARTINEZ; PELLIZZARO; SILVA, 2009) a Educação Física em outros NASFs do país,
equipe de implantação do NASF argumen- os quais estão submetidos a processos de
tou da importância das ações com as PCAF precarização e flexibilização dos contratos,
num conjunto grande de doenças não trans- em especial, a partir das Organizações So-
missíveis, justificando a importância desse ciais, conforme mencionamos acima.
profissional na equipe multidisciplinar. Nesse estudo citado, identificou-se
Em Goiânia/GO, o NASF foi im- que, antes da implantação do NASF, a ação
plantado apenas na região noroeste, a qual mais comum desenvolvida nos serviços
conta com quatro professores de Educação públicos de saúde da região noroeste era
Física trabalhando nos serviços públicos a atividade de “caminhada com grupo”. O
de saúde. Desses, três estão vinculados ao trabalho estava centrado no apoio a grupos
NASF e um ao CAIS Cândida de Moraes. de caminhada e educativos, principalmente,
Os três professores que estão trabalhando àqueles dirigidos a pessoas com obesidade
no NASF possuem lotação no Distrito Sa- e/ou hipertensão e diabetes em projeto
nitário Noroeste, conforme o documento conhecido como “HIPERDIA”. Na região,
citado acima. Dois deles exercem o cargo porém, encontram-se outros equipamentos
de “analista em cultura e desportos” e um de lazer que desenvolvem ações relativas
de “profissional de educação II”. Como o à Educação Física como Clube do Povo,
234

ligado à Secretaria de Esporte e Lazer, e o referência ao mesmo profissional de Edu-


Centro de Referência em Assistência Social cação Física no âmbito da saúde, o que
(CRAS), os quais possuem profissional de indica uma fraca consolidação dos concei-
Educação Física atuando regularmente. tos (BOURDIEU, 2011), característica de
Martinez (2014) menciona que com o tra- um campo ainda recente, especialmente
balho do NASF na região houve projetos no que se refere à sua inserção no serviço
de território com trabalhadores da ESF e público de saúde.
adolescentes, além da previsão de ações no As Diretrizes do NASF orientam
programa Academia da Saúde em processo critérios para definição do público alvo
de implantação no município. O estudo das atividades que não devem prescindir
destaca, ainda, por parte de outros membros da análise do território; da localização de
da equipe multidisciplinar e da gestão do espaços comunitários onde já ocorram ati-
NASF uma valoração muito positiva aos pro- vidades ou que possam ser utilizados para
fissionais de Educação Física na participação esse fim; da identificação e compreensão
no processo de implantação, construção da das manifestações da cultura corporal
presentes no grupo social característico do
dinâmica de trabalho e encaminhamento
território. Além disso, é necessário superar
das demandas provenientes de todo serviço
práticas conservadoras que não garantem a
público da região.
participação dos sujeitos na construção, pla-
Nesse contexto, parece importante
nejamento e avaliação das propostas, como
problematizar que o trabalho com grupos já
salientam vários autores com contribuições
constitui como prática de alguns profissio-
importantes no campo da saúde pública
nais de Educação Física do NASF no país,
(VASCONCELOS, 2007; STOTZ, 2007).
de acordo com os estudos apresentados.
Identificou-se nos estudos sobre a
Observou-se, contudo, uma tendência nesse Educação Física no NASF em diferentes
trabalho que indica uma priorização da regiões do país uma compreensão do
especificidade profissional, exemplificada processo saúde-doença com predomínio
pela investigação com profissionais do biologicista, uma responsabilização indivi-
norte do Paraná (SOUZA; LOCH, 2011) dual pela saúde e uma ênfase em ações que
que pode estar desarticulada da reflexão visavam ao aprimoramento das capacidades
e do planejamento coletivo do trabalho. físicas e à repetição dos movimentos. O
Assumir os grupos nas unidades de saúde uso de protocolos médicos-centrados foi
pode gerar um trabalho isolado do profis- frequente, assim como, a priorização de gru-
sional de Educação Física, desintegrado do pos por critérios como patologia ou idade.
trabalho, dos projetos da equipe NASF e Nessa questão, Goiânia difere dos demais
do trabalho conjunto com as equipes de relatos encontrados, buscando constituir
Saúde da Família. suas referências de trabalho no âmbito da
Saúde Coletiva, com participação efetiva e
qualificada em todo o trabalho da equipe
CONSIDERAÇÕES FINAIS multidisciplinar desde sua implantação até
o enfrentamento das demandas cotidianas.
Os dados apontam uma diversidade É comum entre todos esses estudos
muito grande de denominações que fazem relatados, indicações de forte precarização
V. 26, n° 42, junho/2014 235

do trabalho profissional em Educação Física BUENO, A. X. Entre o fazer e o registrar


com pouca estabilidade de emprego, dupla da Educação Física no NASF: a relação
jornada de trabalho e remuneração abaixo conflitante entre a Classificação
dos demais profissionais que compõem as Brasileira de Ocupações e os
equipes multidisciplinares em saúde. Dado procedimentos possíveis de registro
importante, que precisa ser adequadamente pelo profissional de Educação Física.
enfrentado, sobretudo pelo poder público, 106f. Dissertação (Mestrado em Ciências
em busca pela dignidade do trabalho e do Movimento Humano) – Programa
oferta de serviço qualificado e competente de Pós-graduação em Ciências do
à população brasileira. Movimento Humano, Universidade
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processo de trabalho dos profissionais
redefini os parâmetros de vinculação
de Educação Física nos Núcleos de
dos Núcleos de Apoio à Saúde da
Apoio à Saúde da Família – NASF.
Família (NASF) modalidades 1 e 2 às
equipes de Saúde da Família ou equipes Dissertação (Mestrado em Saúde
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V. 26, n° 42, junho/2014 237

THE GUIDELINES OF THE NASF AND THE PRESENCE OF THE PHYSICAL EDUCATION
PROFESSIONAL

ABSTRACT

The aim of the article is talk about the participation of professional in Physical Education
at the Center for Health Care of the Family (NASF) program, focus on the city of
Goiania (Brazil). The method of study was a literature and document review. The results
indicated that 49.2% of the NASF teams in Brazil with the participation of a professional
physical education, however there is a diversity of denominations for professional. In
Goiania (Brazil) it was observed that working professionals receive less pay than other
professionals in the multidisciplinary team, despite having a very positive evaluation
of his work by other professionals, as well as management.

Key-words: Public Health; Center for Health Care of the Family; Physical Education.

Recebido em: fevereiro/2014


Aprovado em: junho/2014

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