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Polígrafo

Primeira Parte: Aspectos Gerais da Psicologia de Joanna De Ângelis.............5


1 – Estrutura e dinâmica da Psique..............................................................5
Vida Desafios e Soluções página 84~99.....................................................5
Análise do Inconsciente..........................................................................5
Processo de Individuação........................................................................8
Os Arquétipos.........................................................................................9
Homem e Seus Símbolos..........................................................................10
2 – O Si-Mesmo /Self / Superconsciente....................................................11
O Ser Consciente página 113...................................................................11
O Despertar do Espírito página 110~113.................................................12
Superconsciente...................................................................................12
Autodescobrimento página 64.................................................................13
O Subconsciente..................................................................................13
Autodescobrimento página 76~79............................................................13
Força Criadora.....................................................................................14
Autodescobrimento página 164~167........................................................15
Conquista Do Si...................................................................................15
Vida: Desafios e Soluções página 100~108..............................................16
O Despertar Do Si................................................................................16
O Encontro Do Eu Com A Grande Personalidade.....................................19
3 – Sombra e Autodescobrimento................................................................19
Dias Gloriosos página 215.......................................................................19
A Sombra página 144..............................................................................20
O Homem Integral páginas 17~20............................................................20
A Ansiedade.........................................................................................20
4 – Culpa....................................................................................................21
Momentos de consciência páginas 44~48................................................21
Culpa E Consciência............................................................................21
Desperte e Seja Feliz páginas 58~61........................................................22
Culpa E Consciência............................................................................22
O Despertar do Espírito páginas 42~46...................................................24
Necessidade Da Culpa..........................................................................24
O Despertar do espírito páginas 141~147................................................25
Relacionamentos com parceiros ou cônjuges........................................25
5 – Mecanismos De Defesa..........................................................................27
O Ser Consciente páginas 103~110.........................................................27
Compensação.......................................................................................27
Deslocamento.......................................................................................28
Projeção................................................................................................29
Introjeção.............................................................................................29
Racionalização......................................................................................29
Aula Expositiva........................................................................................30
6 – Pensamentos e Formas Mentais............................................................30
Plenitude páginas 77~88.........................................................................30
VIII— Caminhos Para A Saúde.............................................................30
Dias Gloriosos página 25.........................................................................35
Nos Domínio da Mediunidade – André Luiz página 45 capítulo 5.............35
2

Nos Domínio da Mediunidade – André Luiz página 117 capítulo 13.........35


Vida: Desafios e Soluções páginas 50~51.................................................35
Hábitos mentais...................................................................................35
Autodescobrimento páginas 29~32..........................................................36
O Pensamento......................................................................................36
7 – Imaginação / Imagens / Fantasia.........................................................37
Plenitude páginas 131~133.....................................................................37
XIV — Libertação do Sofrimento...........................................................37
Aula Expositiva........................................................................................38
8 - relação Mitos Arquétipos......................................................................38
O Homem Integral páginas 43~52............................................................38
Mitos....................................................................................................38
A Busca Da Realidade..........................................................................40
Polígrafo Próprio......................................................................................42
9 – Funções da Consciência........................................................................42
Momentos de consciência páginas 50~54................................................42
Maturidade e Consciência....................................................................42
10 – Os Complexos Familiares....................................................................43
O Homem Integral páginas 89~93............................................................43
Mecanismos de evasão.........................................................................43
Autodescobrimento páginas 159~163......................................................45
Triunfo Sobre O Ego.............................................................................45
Amor, Imbatível Amor páginas 79~83......................................................46
Feridas E Cicatrizes Da Infância...........................................................46
O Ser Consciente páginas 110~113.........................................................48
Medo E Morte.......................................................................................48
Reminiscências e Conflitos Psicológicos..................................................49
11 – A Paternidade Divina: O Conceito de Daimon......................................50
Polígrafo Próprio......................................................................................50
12 – Origem do Sofrimento e as 4 Verdades de Buda..................................50
Plenitude páginas 11-19-29 e 73.............................................................50
Página 11.............................................................................................50
II— Análise dos Sofrimentos Página 19.................................................50
III— Origens do Sofrimento Página 29..................................................51
VII— Motivos de Sofrimentos Páginas 73..............................................51
Desperte e Seja feliz página 124...............................................................52
Polígrafo Próprio......................................................................................52
13 – Os Caminhos Para Superar o Sofrimento............................................52
Plenitude páginas 41-49-77 e 89.............................................................52
IV — Cessação do Sofrimento Página 41...............................................52
V — Caminhos para a Cessação do Sofrimento página 49..................53
VIII— Caminhos para a Saúde página 77.............................................53
IX — Processo de Autocura pagina 89..................................................53
14 – Emoções e Sofrimentos.......................................................................54
Vida: Desafios e soluções páginas 55~58.................................................54
Sensações e emoções............................................................................54
Autodescobrimento páginas 145~158......................................................55
O Amor.................................................................................................55
Os Sofrimentos.....................................................................................56
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Estar E Ser...........................................................................................57
Abnegação E Humildade.......................................................................58
Ensaio para Uma Teoria Espírita do Sentimento......................................59
15 – Relacionamento – Anima e Animus.....................................................59
O Despertar do Espírito páginas 133~152...............................................59
Relacionamentos Familiares.................................................................60
Relacionamentos Com Parceiros Ou Cônjuges......................................62
Relacionamentos Sociais......................................................................64
Amor, Imbatível Amor páginas 15~34......................................................66
Amor E Eros.........................................................................................67
Desejo E Prazer....................................................................................68
Sexo E Amor.........................................................................................69
Medo De Amar......................................................................................70
Casamento E Companheirismo.............................................................71
Momentos de Saúde páginas 120~123.....................................................72
Segunda Parte: Psicopatologias e Psicoterapia de Joanna de Ângelis..........73
1 – Sexualidade...........................................................................................73
Amor, Imbatível Amor..............................................................................74
O Despertar do Espírito páginas 64~69...................................................74
Sexolatria.............................................................................................74
O Despertar do Espírito páginas 83~91...................................................76
Sublimação Da Função Sexual.............................................................76
O Homem Integral páginas 109~113........................................................78
Plenificação Interior..............................................................................78
2 – Depressão e Síndrome de Pânico...........................................................80
Amor, Imbatível Amor páginas 195~198..................................................80
Sindrome De Pânico.............................................................................80
Autodescobrimento páginas 124~128......................................................81
Pânico..................................................................................................81
Artigo Sobre o Assunto............................................................................82
3 – Características Inibidoras......................................................................83
Amor, Imbatível Amor páginas 163~185..................................................83
Timidez.................................................................................................84
Inibição................................................................................................85
Angústias.............................................................................................87
Abandono De Si Mesmo........................................................................88
Amor, Imbatível Amor páginas 202~221..................................................90
Desajustamento...................................................................................91
Afetividade Perturbada.........................................................................92
Busca de Si Mesmo..............................................................................93
Autoconfiança e Auto-Renovação..........................................................95
Momentos de Consciência páginas 26~30................................................96
Comportamento e Consciência.............................................................96
4 – Ressentimento e Exaltação e Outros.....................................................98
Autodescobrimento páginas 118~121......................................................98
Insatisfação..........................................................................................98
Autodescobrimento páginas 135~138......................................................99
O Ressentimento..................................................................................99
Desperte e Seja Feliz páginas 43~47......................................................100
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Reclamações Indevidas.......................................................................100
Momentos de Saúde páginas 56~59.......................................................101
Insatisfação E Utopias........................................................................101
Momentos de Saúde 74~57....................................................................102
A Tragédia Do Ressentimento.............................................................103
O Ser Consciente páginas 73~88...........................................................104
Problemas Humanos..........................................................................104
Gigantes Da Alma...............................................................................105
Ressentimento....................................................................................105
Ciúme.................................................................................................106
Inveja.................................................................................................107
Necessidade De Valorização................................................................107
Mudanças...........................................................................................110
5 – Doenças Psicossomáticas....................................................................110
O Despertar do Espírito.........................................................................110
Artigo Sobre O Assunto..........................................................................110
6 - O Ser Consciente : Etapas e Métodos...................................................110
O ser Consciente páginas 9~13..............................................................110
O Ser Consciente................................................................................110
Autodescobrimento páginas 91~94........................................................112
Plenitude: A Meta.............................................................................112
7 – Imaginação Ativa.................................................................................113
Aula Expositiva......................................................................................114
8 – Sonhos................................................................................................114
Obras Completas Carl Gustav Jung Volume XVI página 133.................114
Polígrafo Próprio.................................................................................114
Texto sobre o Assunto............................................................................114
O Homem e Seus Símbolos.................................................................114
9 – Técnicas de Joanna de Ângelis............................................................114
A partir dos CD’s...................................................................................114
10 – Amorterapia......................................................................................114
Amor, Imbatível Amor páginas 238~255................................................114
Amorterapia.......................................................................................115
Amor-Perdão......................................................................................116
Amor Que Liberta...............................................................................118
Amor De Plenitude..............................................................................119
Desperte e Seja Feliz páginas 107~110..................................................120
Auto-Realização..................................................................................120
Desperte e Seja Feliz páginas 131~136..................................................121
Amorterapia.......................................................................................121
Momentos de saúde páginas 44~48.......................................................123
Culpa e Consciência...........................................................................123
11 – Jesus Como Paradigma de Saúde.....................................................124
Jesus e Atualidades página 10...............................................................124
Jesus E Atualidade.............................................................................124
Autodescobrimento páginas 88~91........................................................125
Terapia Da Esperança........................................................................125
Desperte e Seja feliz página 15...............................................................127
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Primeira Parte: Aspectos Gerais da Psicologia de Joanna De Ângelis

1 – Estrutura e dinâmica da Psique

Vida Desafios e Soluções página 84-99

DESCOBRINDO O INCONSCIENTE

Análise do Inconsciente. Processo de individuação.


Os Arquétipos.

Análise do Inconsciente

O eminente psicanalista Carl Gustav Jung estabeleceu que o


Inconsciente é um verdadeiro oceano, no qual se encontra a consciência
mergulhada quase totalmente.

É como um iceberg, cuja parte visível seria a área da


consciência, portanto, apenas cinco por cento do volume daquela
montanha de gelo ainda pouquíssimo conhecida.

A Consciência, ainda segundo o mesmo estudioso, pode ser


Comparada a uma rolha flutuando no enorme oceano.

Tem-se, dessa forma, uma idéia do que significava o inconsciente


para o ilustre psiquiatra, que o fora antes de dedicar-se à Psicanálise.

Nas suas investigações profundas, procurou detectar sempre a


presença do Inconsciente, que seria responsável por quase todos os atos
e programas da existência humana, desde os fenômenos automatistas
mais primitivos, que lhe dariam início, até as inúmeras manifestações
de natureza consciente.

Indubitavelmente, nesse oceano encontram-se guardadas todas as


experiências do ser, desde as suas primeiras expressões, atravessando
os períodos de desenvolvimento e evolução, até o momento da lucidez
do pensamento lógico, no qual hoje transita com vistas ao estágio mais
elevado do pensamento cósmico para onde ruma.

E muito difícil dissociar-se o Inconsciente das diferentes


manifestações da vida humana, porquanto ele está a ditar, de forma
poderosa, as realizações que constituem os impulsos e atavismos
existenciais.

Indispensável, porém, ter-se em mente a presença do Espírito, que


transcende aos efeitos e passa a exercer a sua função na condição de
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inconsciente, depósito real de todas as experiências do larguíssimo


trajeto antropológico-sociológico-psicológico, de que se faz herdeiro nos
sucessivos empreendimentos das reencarnações.

O ego participa de todo esse processo como a pequena parte da


psique que é autoconsciente, que se identifica consigo mesma. E o eu,
que se conhece na condição de ser, de área própria de energias, que são
totalmente diversas dos outros. É a parte pequena de nós que se
apercebe das coisas e ocorrências, a personalidade, numa visão que
seja detectada pela consciência.

Invariavelmente o eu pensa somente em si, não compreendendo a


imensidade do Inconsciente, que é o eu total, dando margem a
situações curiosas, quando as pessoas se referem a acontecimentos que
nunca atribuem a si mesmas, informando que não foram elas, isto é, o
seu consciente que realizou determinados labores e teve tais ou quais
comportamentos, o que as surpreende sempre.

Toda vez que a mente consciente dá-se conta de que o inconsciente


se encontra envolvendo-a, é tomada por certas expressões de
deslumbramento ou choque, já que é a totalidade, o oceano incluindo o
iceberg, que vem a tona.

Para Sigmund Freud, tanto quanto para Gustav Jung, o


Inconsciente somente se expressa através de símbolos, e esses símbolos
podem e devem ser buscados para conveniente interpretação através
dos delicados mecanismos dos sonhos e da Imaginação Ativa, de modo
a serem entendidas as suas mensagens.

As manifestações oníricas oferecem conteúdos que necessitam ser


interpretados, a fim de facilitarem o desenvolvimento do indivíduo.
Mediante a Imaginação Ativa — tenha-se em conta que não se trata de
ficção no seu sentido convencional, mas de uma forma criativa do
pensamento — é possível entrar-se no arcabouço dos registros e
depósitos do Inconsciente, abrindo-lhe as comportas para uma
equilibrada liberação, que irá contribuir grandemente para a conduta
salutar do indivíduo, proporcionando-lhe uma existência equilibrada.

Permitimo-nos, porém, acrescentar que, também através da


concentração, da oração, da meditação, e durante alguns transes nas
tentativas das experiências mediúnicas, o Inconsciente faculta a
liberação de várias das impressões que nele jazem, dando origem aos
fenômenos anímicos, estudados cuidadosamente pelo nobre Codificador
do Espiritismo, com muita justiça, um dos identificadores dos arquivos
do Inconsciente, embora sob outra designação.

Nesse extraordinário oceano, ainda segundo os nobres


psicanalistas referidos, formidandas forças estão trabalhando, ora em
favor, ora contra o ser, que necessita decifrar todos esses enigmas de
7

modo a conseguir sua realização interior quanto exterior. Nele se


encontram em depósito os mitos e as fantasias, as lendas e superstições
de todos os povos do passado e do presente, e, no seu mais profundo
âmago, nascem ou dormem as personalidades paralelas que se
incorporam à existência individual gerando conflitos e transtornos
neuróticos.

O objetivo, porém, da interpretação dessas mensagens, conforme o


pensamento dos citados mestres, não é resolver imediatamente os
distúrbios de natureza neurótica, e sim utilizar de forma conveniente as
suas forças portadoras de energia de crescimento, de elevação, de
conhecimento e de libertação.

O grande desafio da existência humana está na capacidade de


explorar esse mundo desconhecido, dele retirando todos os potenciais
que possam produzir felicidade e auto-realização.

Os indivíduos normalmente se movimentam na vida em estado


quase de sono, sem dar-se conta do que acontece à sua volta, sem
conscientizar-se das ocorrências nem dos seus mecanismos.

Raramente se detêm na reflexão, considerando os objetivos e


necessidades da vida em si mesma. Tudo se lhes sucede de maneira
automática, fortuitamente, vitimados que se encontram pelos
mecanismos fisiológicos em predomínio, até mesmo por ocasião das
manifestações de natureza psicológica, o que é lamentável.

Em razão disso, vivem inconscientemente, longe da realidade,


dispersos, acumulando conflitos e deixando-se arrastar pelos instintos
que neles são dominantes.

A existência humana é uma aprendizagem valiosa que não pode ser


desperdiçada de maneira vulgar ou vivida utopicamente, qual se fosse
uma viagem ao país da ilusão, no qual tudo tem lugar de maneira
atemporal, mecânica, destituída de sentido ou de razão.

A marcha do processo da evolução é ascensional, e o ser deve, a


cada dia, armazenar experiências criativas quanto iluminativas, que
Lhe ampliarão o campo de desenvolvimento, levando-o na direção da
sua fatalidade cósmica, que é a liberdade total, a plenitude.

Enquanto no corpo, naturalmente sofrerá as conseqüências,


positivas ou negativas, dos seus próprios atos, que são os construtores
do seu futuro. Por isso mesmo cabe-lhe viver conscientemente, desperto
para a realidade do existir.

Eis por que a concentração é-lhe de valor inestimável, por


propiciar-lhe encontrar-se com os arquivos que lhe guardam as
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impressões passadas que geram dificuldades ou problemas no


comportamento atual.

Em um nível mais profundo, a meditação é-lhe o instrumento


precioso para a auto-identificação, por facultar-lhe alcançar as
estruturas mais estratificadas da personalidade, revolvendo os registros
arcaicos que se lhe transformaram em alicerces geradores da conduta
presente.

Por outro lado, a oração, além de lenir-lhe os sentimentos,


suavizando as aflições, contribui para a elaboração dos fenômenos da
Imaginação Ativa, liberando impressões que, por associação, ampliar-
lhe-ão o campo do entendimento da realidade, exumando fantasmas e
diluindo-os, ressuscitando traumas que podem ser sanados e ficando
com um campo mais livre de imagens perturbadoras, para os
mecanismos automatistas dos sonhos.

Embora toda essa contribuição valiosa apresentada pela


Psicanálise, proporíamos o desdobramento consciente da personalidade,
isto é, do Espírito, nas suas viagens astrais, através das quais
experimenta sempre, quando lúcido, maior liberdade, assim podendo
superar as seqüelas dos graves conflitos das reencarnações passadas,
em depósito no Inconsciente.

Esse mergulho consciente nas estruturas do eu total, faculta a


liberação das imagens conflitantes do passado espiritual e do presente
próximo, ensejando a harmonia de que necessita para a preservação da
saúde então enriquecida de realizações superiores.

Enquanto o indivíduo não descobre a realidade do seu


Inconsciente, pode permanecer na condição de vítima de transtornos
neuróticos, que decorrem da fragmentação, do vazio existencial, da falta
de sentido psicológico, por identificar apenas uma pequena parte
daquilo que denomina como realidade.

Percebe-se em isolamento, sem direção própria para a solução dos


vários problemas que o afligem e, com isso, foge para os estados de
neurotização nos quais se realiza.

Essa queda emocional faz que desapareça o sentido de


religiosidade, porquanto, ainda conforme a análise dos citados
investigadores, no Inconsciente é que estariam a presença e o
significado de Deus, do Espírito, das percepções em torno da
Divindade...

Para os citados mestres, quando o ser demora-se ignorando as


possibilidades do Inconsciente, rompe as ligações com o seu eu
profundo, portanto, com os mecanismos que o levariam à compreensão
de Deus, da alma e da vida imortal.
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Certamente aí encontramos a presença do Espírito, nos refolhos do


ser, impregnado pelas lembranças que não chegam à consciência atual,
mas que afetam o comportamento de maneira indireta, proporcionando
estados inquietadores e desconhecidos da estrutura do ego.

A sua auto-identificação, o autodescobrimento permite o


conhecimento das necessidades de progresso, ao tempo que desarticula
as dificuldades que foram trabalhadas pelas experiências negativas das
existências transatas, cujos resíduos continuam produzindo distonias.

Somente quando se passa a viver a compreensão da realidade


interior, descobrindo-se e conservando-se desperto para a ação do
pensamento lógico e consciente, é que se liberam os efeitos danosos do
passado e se estabelecem novas normas de conduta para o futuro.

Adquire-se então liberdade para a ação criativa, sem as amarras


da culpa, que sempre se estabelece depois de qualquer atitude
irregular, de toda ação prejudicial.

O ser é manifestação do Pensamento Divino, que o criou para a


vigorosa realização de si mesmo.

Desse modo, é necessário deixar de ignorar o seu mundo interior, o


seu Inconsciente, mergulhando no abismo de si mesmo e auto-
revelando-se sem traumas ou choques, sem ansiedades ou
inquietações, em um processo de individuação.

Toda essa energia de que é portador o Inconsciente pode ser


canalizada para a edificação de si mesmo, superação dos medos e
perturbações, dos fantasmas do cotidiano, que respondem pela
insegurança e pelo desequilíbrio emocional do indivíduo.

Com perspicácia admirável Jung estabeleceu que em todas as


criaturas estão presentes muitos símbolos, que dormem no seu
Inconsciente, num grande pluralismo, que deve ser controlado até
atingir um sentido de unidade, de unificação dos termos opostos em
uma única manifestação de equilíbrio.

Utilizou-se, assim, das expressões yin e yang presentes na


existência humana de todos, numa representação do masculino (Yang)
e do feminino (Yin). O primeiro é ativo, dinâmico, forte, rico de
movimento, de calor, a claridade; o outro é passivo, repousante, frágil,
sem muita atividade, frio, a sombra...

Esses aparentes opostos produzem conflitos, porque, no momento


em que se pensa algo fazer, de imediato uma idéia surge em sentido
contrário no íntimo para não o realizar; deseja-se prosseguir e, ao
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mesmo tempo, parar; o desafio surge para tentar conquistas, enquanto


outra parte trabalha para permanecer sem novas experiências.

São, sem dúvida, as expressões do masculino e do feminino


latentes no ser.

Na antiguidade, o misticismo oriental, em forma de sabedoria,


trabalhava a pessoa para saber conduzir uma e outra força com
equilíbrio, permitindo que haja predomínio desta ou daquela, conforme
a situação, terminando pela produção do equilíbrio, que é o resultado
da harmonia de controle, nos momentos adequados, por tal ou qual
manifestação interior.

Nessa fase, a de harmonia, é possível separar-se o que é bom do


que é mau, o justo do arbitrário, identificando os opostos e dando um
sentido de perfeito equilíbrio a si mesmo, em identificação com o
Cosmo.

Não será esse o momento da aquisição do pensamento cósmico,


quando o Psiquismo Divino se desenvolve no ser humano e ele pode
exclamar, qual o fez Jesus Cristo:

— Eu e o Pai somos Um!

Jung ainda pôde identificar a dualidade existente nas criaturas, a


que deu as denominações de animus e anima, que estão sempre
presentes nos sonhos.

O animus como sendo a representação masculina nas atividades


oníricas das mulheres e o anima, nas dos homens, como simbolismo
presente das mulheres, que repetem os grandes vultos mitológicos,
históricos, religiosos, presentes nas estórias, fantasias e mitos dos
povos de todas as épocas, proporcionando associações e vivências
psicológicas, conforme a estrutura interior de cada qual.

Concordando com o pensamento do admirável investigador da


psique humana, somente nos encorajaríamos a propor que, nessas
representações oníricas, muitas das personagens animus e anima, são
as reminiscências, as revivescências das vidas anteriores arquivadas no
Inconsciente de cada um, graças ao perispírito ou corpo intermediário
entre o Espírito e a matéria.

Jesus, por exemplo, harmonizava as duas naturezas, o animus,


quando era necessário usar da energia e vontade forte para invectivar
os hipócritas e lutar sem receio pelo ideal do amor, e anima, quando
atendia os infelizes que O buscavam, necessitados de entendimento e
auxilio.
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Ninguém, como Ele, conseguiu essa perfeita identificação do yang e


do yin, provando ser o Espírito mais elevado que Deus ofereceu ao
homem para servir-lhe de modelo e guia, conforme responderam os
Mensageiros da Humanidade a Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos,
na questão número 625.

Por excelência, nesse esforço profundo de auto-identificação, o


amor deve ser trabalhado conscientemente, a fim de desenvolver-se, já
que é inerente à natureza humana, proveniente de toda a Natureza, que
é Obra do Amor de Deus, que a impregnou desse sentimento,
estruturando-a na vibração de harmonia que prevalece, mesmo quando
se enfrentam os reflexos dos contrários.

Esse arquétipo do pensamento junguiano — o amor —faz parte da


imensa listagem que foi preparada para traduzir as imagens ínsitas no
Inconsciente humano, mas que muitos psicanalistas advogam poder ser
ampliada de acordo com a aptidão de cada pessoa, tendo em vista as
suas próprias experiências na área dos sonhos, crescendo cada vez
mais, de modo a atender a todas as necessidades de formulação, sem
que se fique aprisionado em uma faixa estreita de representações.

Do Inconsciente para o consciente, para a individuação, é que o ser


pode harmonizar-se, conquistar a sua paz e saúde total.

Processo de Individuação

As multifárias experiências da reencarnação deixam no ser


profundo infinitas características, que poderíamos denominar como
sendo os arquétipos junguianos.

Heranças ancestrais, que se transformam em material volumoso no


Inconsciente, ditando os processos de evolução das ocorrências no ser e
que o propelem para as diferentes atitudes comportamentais do
cotidiano.

Todos os indivíduos são os somatórios de suas existências


transatas, em que as diversas personalidades constroem a sua
realidade pensante, com toda a carga de conflitos e lutas vivenciados
que os assinalaram profundamente.

Poder mergulhar nesse oceano tumultuado de atividades vividas é


a proposta em favor da sua conscientização.

A fim de lograr o êxito, cada qual se deve considerar único,


diferente, não obstante com todas as analogias que são comuns aos
demais membros da imensa família humana.
12

Normalmente, o indivíduo toma como padrões e procura


assemelhar-se àqueles que lhe parecem melhores, verdadeiros modelos,
esquecendo-se que se toma impossível conseguir resultados positivos,
nesse tentame, porque, à medida que imita outros perde a sua
identidade, o seu caráter, amoldando-se a fórmulas e ídolos falsos, que
também lutam e disfarçam as suas necessidades na exteriorização da
personalidade.

O grande trabalho psicológico de crescimento do ser reside na


busca de si mesmo. Embora parecido com outros, qual ocorre com o
material físico que a todos constitui, cada pessoa é diferente da outra.
Psicologicamente, existem no Inconsciente todos os símbolos das
diferentes culturas, que se mesclam, formando a realidade individual.

Todavia, é indispensável buscar a individuação, isto é, a sua


legitimidade, construindo-se idealmente e assumindo-se com os valores
que lhe são peculiares, intransferíveis.

Nesse processo, deve operar a transformação moral do si,


descobrindo tudo aquilo que lhe é perturbador e tentar superar, por
eliminação, sem que esse esforço gere trauma ou insatisfação, assim
diluindo as condensações das vivências anteriores, através da
conscientização da sua integridade interior em harmonia com as suas
manifestações exteriores.

Esse processo pode durar toda a existência, o que é muito


saudável, porque o ser se descobre em constante renovação para
melhor, liberando-se das cargas negativas que lhe ditavam as reações e
lhe produziam problemas em forma de distúrbios íntimos, afetando-lhe
a conduta.

Tomar-se um ser total, original, único, é a proposta da


individuação, que liberta a consciência das constrições mais vigorosas
do Inconsciente dominador.

É indispensável, dessa forma, enfrentar o Inconsciente com


serenidade, descobrindoo e integrando-o à consciência atual, pelos
melhores caminhos que estejam ao alcance.

Cada ser encontra a sua própria rota, que deve seguir


confiadamente, trabalhando-se sempre, sem culpa, sem ansiedade, sem
receios injustificáveis, sem conflitos responsáveis por remorsos...

Embora pertencente a determinado grupo social, deve encontrar os


seus próprios interesses, mantendo, simultaneamente, os valores e
qualidades que são inerentes a todos, de forma que não se aliene do
contexto no qual se movimenta e deve viver.
13

Por mais se assemelhem os indivíduos, cada ser possui a sua


própria estrutura psicológica, sempre resultante das experiências
vivenciadas nas diferentes existências físicas.

Eis por que, somente a reencarnação explica essa multiplicidade de


conteúdos psicológicos nas criaturas, tomando-as distintas umas das
outras, já que procedendo do mesmo tronco, cada uma viveu situações
mui especiais e diferentes.

Buscando a individuação, percebe-se que as contribuições do


mundo exterior imprimem, no ser, valores que não são verdadeiros para
o seu nível de maturidade, e que somente possuem legitimidade aqueles
que lhe procedem do âmago, do seu Inconsciente, agora em sintonia
com a consciência lúcida.

Isso oferece muita tranqüilidade, porque permite identificar que


não se toma necessário, para obter o triunfo, ser igual a ninguém,
símile de outrem ou cópia dos modelos que se exibem na mídia, nos
sucessivos festivais da ilusão e dos tormentos generalizados.

Cada ser possui uma infinita riqueza no seu mundo interior, que é
a herança divina nele jacente, que agora desperta e toma-lhe a
consciência, libertando-o dos atavismos perturbadores.

A psique humana, que se constrói como resultado dos símbolos


universais existentes, dilata-se na individuação que aguarda ser
alcançada por todos os seres pensantes, por outro lado, meta da
reencarnação: a conquista do Si, a elevação do Espírito, pairando sobre
os destroços das experiências malogradas, transformadas em
edificações de paz.

Os Arquétipos

O conceito de arquétipo, adotado por Jung, já era conhecido desde


Philo Judaeus, referindo-se à Imago Dei, que seria a imagem divina que
existe no ser humano.

Irinaeus, por sua vez, segundo Jung, afirmava que O criador do


mundo não formou estas coisas diretamente de si mesmo, mas as
copiou de arquétipos exteriores.

Em realidade, o arquétipo procede da proposta platônica em tomo


do mundo das idéias, primordial e terminal, de onde tudo se origina e
para onde tudo retorna.
14

Jung utilizou-se do pensamento platônico para referir-se a imagens


universais, que são preexistentes no ser — ou que procedem do
primeiro ser — desde os tempos imemoriais.

Permanecem esses símbolos no Inconsciente humano,


independendo de quaisquer outras construções psicológicas, dando-lhe
semelhança e até uniformidade de experiência, tomando-se uma
representação que perdura imaginativamente.

Tais imagens são comuns a todos os povos e características da


espécie humana desde os seus primórdios, que surgem
espontaneamente e têm várias configurações nos mitos e símbolos de
todas as culturas.

A palavra arquétipo se origina do grego arkhe, que significa o


primeiro, e typon, que significa marca, cunho, modelo, sendo, por isso
mesmo, as marcas ou modelos primordiais, iniciais, que constituem o
arcabouço psicológico do indivíduo, facultando a identificação da
criatura humana. Existem no ser como herança, como parte integrante
do seu processo de evolução.

Muitas vezes esses arquétipos surgem nos sonhos como imagens


preexistentes, liberando-se do Inconsciente.

No entanto, nem todos os símbolos são procedentes dos arquétipos,


porque podem ter origem na própria energia do indivíduo, nas suas
atuais fixações, traumatismos psicológicos, conflitos, frustrações,
ansiedades e desejos.

Diferem, os arquétipos, dessa energia inerente ao ser, porque os


primeiros têm um caráter universal, enquanto os outros são
individuais.

Em se considerando a universalidade dos arquétipos, há uma


grande variedade de símbolos que foram classificados por Jung, e
posteriormente pelos seus discípulos e sucessores.

No entanto, não podem ter um número fixo, porque sempre estão a


apresentar-se com características individuais, em variações naturais,
decorrentes de padrões e sinais de cada personalidade.

Jung asseverou que o termo alma, adotado pelas religiões,


apareceu naturalmente, em razão do arquétipo, que tem a sua
contrapartida psicológica.

Na mulher, a alma seria masculina, de existência interior, que se


casa com Cristo, no conceito da união paulina e do matrimônio religioso
da mulher com Jesus, enquanto que, no homem, é feminina, como
15

sendo a sua musa inspiradora, responsável pela beleza poética, literária


e artística em geral.

Essa representação psicológica aparece nos sonhos como anima


para os homens e animus para as mulheres.

Se um indivíduo tem um sonho com o demônio, não significaria


necessariamente que estivesse em contato com ele, mas com o
arquétipo símbolo do mal, que existe no inconsciente de todos os povos
desde a sua origem e permanece através dos milênios.

Assim também o anjo, o amor, o ódio e outros são símbolos que


sempre existiram no íntimo dos seres e que se transmitem através do
Inconsciente coletivo, exercendo um papel preponderante na linguagem
onírica e no comportamento existencial.

Eles surgem e preponderam na vida psicológica dos indivíduos,


sem que os mesmos se dêem conta, aparecendo, inclusive, nos
acontecimentos banais, comuns do dia-a-dia.

Quando alguém se refere a outrem, exaltando-lhe o estoicismo


ou citando a covardia, está identificando o arquétipo que vive no
seu próprio inconsciente e tem um caráter geral, comum a todos os
demais.

Assim sendo, sempre é encontrado nos outros aquilo que jaz na


própria pessoa, o que lhe facilita o reconhecimento.

As criaturas são todas multidimensionais, possuindo


características comuns, resultado da perfeita reunião dos arquétipos
que constituem cada individualidade. Isto faculta a compreensão da
outra, a sua identificação em valores, qualidades e sentimentos.

Normalmente esses arquétipos aparecem envoltos em símbolos


místicos, divinos, com características de realidade ou em forma de
fantasias, que os sonhos desvelam de maneira determinante.

Concordando, em parte, com o eminente mestre, agregaríamos que


muitos símbolos, que se apresentam como arquétipos, provêm de um
outro tipo de herança primordial: a da experiência de cada Espírito pelo
imenso oceano das reencarnações.

Graças às mesmas, são transmitidas as vivências de uma para


outra etapa, prevalecendo como determinantes do comportamento
aquelas que foram mais vigorosas, assim estabelecendo, no
Inconsciente individual e profundo, símbolos que emergem no sonho ou
durante a lucidez como conflitos variados, necessitados de liberação.
16

O processo da reencarnação explica a presença dos arquétipos no


ser humano, porque ele é herdeiro das suas próprias realizações através
dos tempos, adquirindo, em cada etapa, valores e conhecimentos que
permanecem armazenados nos refolhos do ser eterno que e.

Enquanto o insigne mestre situa todos os deuses e gênios, heróis e


modelos do Panteão grego, inclusive os de outros povos, como sendo a
presença dos símbolos geradores dos arquétipos, o estudo das
reencarnações demonstra que, mesmo em forma de símbolos, algumas
das lendas e mitos presentes na história dos povos são resultantes da
inspiração espiritual, de insights experimentados por inúmeras
pessoas, assim também confirmando a preexistência do Espírito ao
corpo e a sua sobrevivência à morte.

Esses tipos primordiais, retiradas às indumentárias das lendas,


que pertencem ao desenvolvimento do pensamento nos seus variados
níveis de crescimento até alcançar o racional, o lógico, existiram, não
somente na imaginação, mas como realidade que a fantasia adornou e
perpetuou em figurações mitológicas.

Certamente, como afirma Jung, esses arquétipos aparecem nos


sonhos como personalidades divinas, religiosas, portadoras de
conteúdos transcendentais e se apresentam como sobrenaturais,
invencíveis.

Em muitas circunstâncias, porém, são encontros com seres


transpessoais, que sobrevivem à morte e que habitam, não só o mundo
das idéias, da concepção platônica, mas o da energia, precedente ao
material, ao orgânico, que é causal e atemporal.

Podemos, portanto, em uma visão transpessoal dos


acontecimentos, associar os arquétipos a outro tipo de realidade vivida
e ínsita no Inconsciente profundo — o Espírito — ditando os
comportamentos da atualidade, que são as experiências espirituais,
parapsíquicas e mediúnicas.

Aprofundar a busca no oceano do Inconsciente para eliminar os


conflitos decorrentes das várias ocorrências passadas — as atuais e as
das reencarnações anteriores — conseguir a individuação, eis a meta
que aguarda aquele que deseja estar desperto, consciente da sua
realidade e que luta em favor da sua iluminação interior e felicidade
total.
17

Homem e Seus Símbolos

Livro da editora Nova Era, capítulo 3 (POLÍGRAFO PRÓPRIO)

2 – O Si-Mesmo /Self / Superconsciente

O Ser Consciente página 113

REFERENCIAIS PARA A IDENTIFICAÇÃO DO SI

Inevitavelmente, as pessoas necessitam de experienciar algumas


dessas escamoteações do ego, seus jogos, por falta de estrutura
psicológica para suportar a realidade, a verdade.

O mecanismo de fuga pode constituir uma necessidade de reprimir


algo para cuja manifestação o ser não se sente preparado.

E sempre um risco intentar-se, de inopino, empurrar o indivíduo


para o encontro claro e imediato com o si, face à sua ausência de
valores íntimos para reconhecer-se frágil — sem deprimir-se,
necessitado — sem insegurança em relação ao futuro, aturdido — sem
esperança...

O ser psicológico é, estruturalmente, a soma das suas emoções e


conquistas, que caracterizam a individualidade pessoal no processo de
evolução.

A libertação, portanto, dos complexos artifícios de fuga, dar-se-á


mediante terapias adequadas, que facultarão o amadurecimento
psicológico para a auto-estima e o enfrentamento da realidade
suportável.

Qualquer tentativa de esgrimir a verdade — afinal, a verdade de


cada qual — pode resultar em conflito mais grave.

A queda da máscara desnuda o indivíduo e nem sempre ele


deseja ser visto como é — mesmo porque se ignora —, podendo
sofrer um choque com o descobrimento prematuro ou alienar-se,
por saber-se identificado de forma inadequada, desagradável.

A verdade é absorvida, a pouco e pouco, através da identificação


dos valores reais em detrimento dos aparentes, do descobrimento do
significado da existência e da sua finalidade.
18

Os convites existenciais que propelem para o exterior, para a


aparência, modelam a personalidade impondo inúmeros mecanismos de
sobrevivência do ego, aos quais o indivíduo se aferra, permanecendo
ignorante quanto à sua realidade e aos relevantes objetivos da vida.

As ilusões, desse modo, são comensais da criatura, que se


apresenta conforme gostaria de ser e não de acordo com o si, o eu
profundo, o que é. Extirpá-las é condenar o outro ao desamparo,
retirar-lhe as bengalas psicológicas de apoio.

Isto não significa apoio aos comportamentos falsos, às


personalidades estereotipadas, antes é respeito ao direito de cada um
viver como pode, e não consoante gostaria de ser.

Imprescindível que se seja leal, honesto para consigo mesmo,


desvelando-se e trabalhando-se interiormente.

A experiência de identificação do si é um passo avançado no


processo de autodescobrimento, de auto-amadurecimento.

Essa busca interior expressa-se como uma forma de insatisfação


em relação ao já conseguido — os valores possuídos não preenchem
mais os espaços interiores, deixando vazios emocionais; uma
necessidade de aprimoramento psicológico, superando os formalismos
os modismos, o estatuído circunstancial, nos quais a forma é mais
importante do que o conteúdo, o exterior é mais relevante que o interior;
uma consciência lúcida, que desperta para os patamares
superiores da existência física; uma incontida aspiração pelas
conquistas metafísicas, face à vigência permanente do fenômeno tia
morte em ameaça contínua, pois que a transitoriedade da experiência
física se apresenta de exíguo tempo, facultando frustração; uma
imperiosa busca de paz desvestida de adornos e de condicionais, e um
amplo anseio de plenitude.

Com estes referenciais há uma inevitável autopenetração


psicológica, uma busca do si, do autoconhecimento, a fim de bem
discernir o que se anseia e para que, o que se possui e qual a sua
aplicação, a análise do futuro e como se apresentará.

A emersão do si, predominando no indivíduo, é característica de


cristificação, de libertação do deus interno, de plenitude.

Quando começa, uma transformação psicológica se opera


automaticamente, a escala de valores se altera e o comportamento
muda de expressão.

A saúde emocional e mental se estabelece, ensejando uma visão


correta em torno dos acidentes orgânicos, que não mais desequilibram,
19

e o fenômeno morte se torna perfeitamente natural, sem fantasmas


apavorantes ou anelos de antecipação.

Ocorre uma plena harmonia entre o viver —existência física — e a


Vida — realidade total.

O self, em razão do processo reencarnatório, fica imerso na névoa


carnal, adormecido pelos tóxicos e vapores da indumentária física sob a
pressão das experiências humanas, dos relacionamentos sociais, nos
quais a astúcia e não a sabedoria, a simulação e não a honestidade, a
falácia e não o silêncio promovem o indivíduo, granjeiam lugar de
destaque na comunidade.
Essa conduta irregular, tal critério, são impeditivos para a
liberação do si.

Campeiam as psicopatologias como efeito da atitude do ego em


relação ao eu, estando a exigir maior conhecimento das necessidades
legítimas.

A conquista do self é processo que se deve começar imediatamente,


recorrendo-se às terapias próprias e, simultaneamente, aos recursos da
oração, da meditação, das ações edificantes.

Cada logro enseja a ambição de alcançar novo patamar, que se


torna um desafio atraente, estimulador.

Ninguém, pois, pode deter-se nos níveis inferiores de consciência,


relegando a plano secundário o si, a realidade ambicionada.

O Despertar do Espírito página 110~113

Superconsciente

Todas as aspirações do ser humano, seu futuro, suas conquistas


a serem realizadas, o seu céu, encontram-se esculpidos no
superconsciente, mesmo que adormecidas, em estado de
inconsciência.

Área nobre do ser é o fulcro da inspiração divina, onde se


estabelecem os paradigmas orientadores do processo da evolução.

Sede física da alma reencarnada, responde pelos sutis processos da


transformação dos instintos em inteligência, e dessa em angelitude,
passo que será conquistado mediante esforço pessoal e intuição
20

espiritual dos objetivos mais significativos do transcurso existencial


pelo corpo físico.

O superconsciente é também conhecido como inconsciente


superior, de onde dimanam as funções parapsíquicas superiores assim
como as energias espirituais.

Equipado com chips ultra-sensíveis, aí se encontram os tesouros da


vida transpessoal, na qual o trânsito entre as esferas orgânica e
psíquica se faz mais livre e amplamente.

A fim de poder manifestar o colossal tesouro de energias que


detecta, o organismo reveste-o de células, favorecendo a
intercomunicação dos dois campos nos quais se movimenta o Espírito:
o material e o espiritual.

Irradiando-se do chakra coronário por sucessivas emissões de


ondas-pensamento, através dos exercícios de concentração, meditação e
prece, desenvolve-se, abrindo os registros para a captação de outras
mentes que se lhe cruzam no mundo extracorpóreo.

Favorecendo a paranormalidade humana, o superconsciente é o


núcleo onde têm lugar os fenômenos mediúnicos, por facultar a
decodificação da mente que se lhe direciona, assim transformando-a em
palavras, projeções ideoplásticas, manifestações artísticas, culturais,
materiais.

Laboratório vivo do Espírito, que no seu campo imprime as


necessidades futuras, quanto no inconsciente guarda as memórias de
todos os atos transatos, seu potencial é ainda muito desconhecido,
merecendo que nele se aprofundem as sondas da investigação, a fim de
melhor e com sábia maneira poder utilizá-lo com proficiência.

Tendo na epífise ou pineal o veículo para as manifestações


psíquicas superiores, mediante exercícios mentais e morais amplia a
capacidade de registro do mundo ultrasensível, que se exterioriza
através dos equipamentos de alta potência energética de que se
constitui.

Por outro lado, é o celeiro do futuro do ser, por estar em ligação


com o Psiquismo Cósmico, do qual recebe forças específicas para o
desenvolvimento intelecto-moral, da afetividade, das expressões sexuais
encarregadas da perpetuação da espécie, do equilíbrio da
hereditariedade, de outros fenômenos que afetarão o comportamento
psicológico.

À medida que o ser se conscientiza do potencial elevado que lhe


dorme em germe no superconsciente, mais pode utilizá-lo a serviço da
vida, crescendo no rumo da identificação com Deus.
21

Redes de fibras nervosas muito delicadas conduzem as energias


que se exteriorizam da pineal e se expandem por todo o cérebro,
facultando que ocorram os fenômenos espirituais. Essas energias
irrigam de vitalidade as demais glândulas endócrinas, estabelecendo
circuitos especializados, que beneficiam o organismo em geral.

Intuição, inspiração superior, psicofonia, psicografia traduzem a


plena sintonia entre os Espíritos e os homens, como resultado da
identificação entre o seu superconsciente e as mentes desvestidas de
matéria.

De forma análoga, irradiações de teor pestífero e perturbador,


procedentes de fontes mentais degeneradas, sincronizam com o
inconsciente inferior dos indivíduos, no qual estão gravadas as
experiências inditosas que geraram vítimas, ora alucinadas, que
retornam para provocar reabilitação e reajustamento, fazendo-o
psiquicamente, por meio de fixações mentais saturadas de ódios e
ressentimentos que produzem patologias obsessivas de variada espécie.

Uma vida mental e moral saudável, assinalada por hábitos


edificantes, amplia a capacidade do superconsciente ou Self, para que
os laboratórios celulares produzam irradiações específicas portadoras
de equilíbrio e paz.

O cultivo de um campo com carinho e sementes selecionadas


responde com farta colheita de flores e sazonados frutos, enquanto que
deixado ao abandono ou ao descaso, restitui a indiferença com que é
tratado através de cardos e abrolhos, ou aridez e morte...

O cérebro é central de força que, somente a pouco e pouco vem


sendo descoberto, jazendo ignorado na sua quase totalidade, em
especial no que diz respeito aos fenômenos psicológicos, parapsíquicos e
mediúnicos.

Somente a epífise ou pineal, situada no cérebro por cima e atrás


das camadas ópticas, constitui, por si mesma, um incomparável
santuário, que vela as funções sexuais durante a infância, e, na
puberdade, experimenta significativas alterações na forma e na função;
torna-se, a partir daí, um escrínio de luz, um lótus de mil pétalas que
se abrem como antenas ultra-sensíveis em direção das Esferas
espirituais de onde procede a vida, desempenhando papel fundamental
nas experiências espirituais do ser humano.

É natural, portanto, que o superconsciente seja um enigma a ser


decifrado, por significar na sua essência o fulcro de ligação mais
eloqüente do Espírito com o corpo, mantendo a programação das
22

futuras conquistas que devem ser conseguidas ao ritmo da alegria e da


saúde.

Autodescobrimento página 64

O Subconsciente

Consideremos o subconsciente como parte do inconsciente, que


pode aflorar à consciência, com os seus conteúdos, alterando o
comportamento do individuo.

Ele é o arquivo próximo das experiências, portanto, automático,


destituído de raciocínio, estático, mantendo fortes vinculações com a
personalidade do ser.

É ele que se manifesta nos sonhos, nos distúrbios neuróticos, nos


lapsos orais e de escrita — atos falhos tomando-se, depois de Freud e
seus discípulos, mais tarde dissidentes, Jung e Adler, responsável
também pela conduta moral e social.

Os pensamentos e atos — logo após arquivados no subconsciente —


programam as atitudes das pessoas.

Assim, quando se toma conhecimento de tal possibilidade, elege-se


quais aqueles que devem ser acionados.
— no campo moral e social — para organizar ou reprogramar a
existência.

Autodescobrimento página 76~79

Força Criadora

No inevitável processo da evolução do ser, o despertar da


consciência abre-lhe as percepções para a realidade de si mesmo, e o
conseqüente entendimento dos objetivos da existência corporal.

Imediatamente, a necessidade do autoconhecimento constitui-lhe


um desafio que deve ser vencido a esforço tenaz, porquanto lhe
propiciará a identificação dos recursos intelecto-morais disponíveis e
dos prejuízos comportamentais que decorrem dos vícios e paixões
primitivas, remanescentes dos níveis de sono e de indiferença ora
ultrapassados.
23

Conhecidos os próprios limites íntimos e as ricas possibilidades


diante de si, ampliam-se-lhe os horizontes do discernimento e as opções
pela libertação dos atavismos perniciosos, ensejando-o avançar, mesmo
sob a imposição de sacrifícios.

Afinal, sacrificar-se pelo bem e pela plenitude é uma preferência


feliz, já que o sofrimento resultante constitui experiência valiosa para
novas e futuras realizações.

Avaliados os obstáculos impeditivos ao crescimento íntimo, fácil se


torna investir coragem e decisão, a fim de extirpar a carga de
inferioridade que, por sua vez, embora proporcione sensações de prazer,
também fomenta infortúnio, insatisfação, ansiedade, tormento — sofri-
mentos, pois, inecessários, por serem destituídos de valor, de edificação
real.

Nesse empenho, ressumam os resíduos enfermiços decorrentes das


fixações perversas, que o idealismo purifica mediante novos
contingentes mentais de concentração e esperança nas virtudes.

A resolução para o autoconhecimento faz-se acompanhar do desejo


de transmutar os sentimentos servis em emoções sutis, que
compensam a ausência dos choques da brutalidade, dos anelos que se
concentram na região do baixo ventre, sincronizados na área sacral.

Transmutando as energias deletérias em outras carregadas de


aspirações criativas — reprodução biológica consciente e responsável,
arte, cultura, ação enobrecedora — o ser diafaniza-se, saindo dos
impulsos da animalidade para as conquistas da angelitude.

Durante esse comenos, na luta que se trava, a seiva do amor passa


a nutrir com vigor o candidato, tornando-se-lhe, quando canalizada
para as finalidades santificadoras, o recurso mantenedor das aspirações
ditosas.

Na sua primeira manifestação, o amor deflui do instinto da posse,


do uso do prazer egoísta, atravessando um período de inferioridade, não
obstante, rompendo as algemas nas quais se ergastula, para alterar o
conteúdo que exterioriza e vai sublimando.

Na sua expressão de primarismo ele é todo sensação impetuosa, na


qual a satisfação dos instintos torna-se meta a alcançar, aí
permanecendo o tempo que corresponda à conquista da lucidez, ao
despertar da consciência, que então elege outras expressões de
felicidade, mais consentâneas com a paz, fora do vaivém do gozo-
cansaço, prazer-arrependimento, satisfação-frustração, incessante
tormento.
24

Duas circunstâncias propelem a criatura ao avanço iluminativo: a


insatisfação sistemática, que passa a considerar outras formas de bem-
estar — amizade, serviço fraternal, interesse comunitário — ensejando o
abandono paulatino dos velhos e arraigados hábitos para as novas
experiências da solidariedade, do progresso do grupo social, da beleza.

O segundo instrumento propiciador do avanço é a reencarnação, na


qual os impulsos de crescimento espiritual — após o cansaço nos
patamares da perturbação — propelem para a vivência dos princípios
morais e as transmutações pessoais, intransferíveis.

Nesse estágio medial do amor, robustecem-se os impulsos de


elevação e ele se espraia sem exigência, todo doação, semelhante a um
perfume no ar, cuja origem permanece desconhecida.

A fase superior é assinalada pela paz íntima, que não necessita de


retribuição, nem se entorpece sob as chuvas da ingratidão.

Enternecedor, torna-se agente anônimo da felicidade dos outros,


porque está enriquecido da harmonia geradora de emoções
transcendentes, que dispensam o contato físico, a presença, a relação
interpessoal.

O amor é o poder criador mais vigoroso de que se tem notícia


no mundo.

Seu vigor é responsável pelas obras grandiosas da humanidade.

Na raiz das realizações dignificadoras ele se encontra presente,


delineando os projetos e impulsionando os idealistas à sua execução.

Alenta o indivíduo, impulsiona-o para a frente e faz-se refúgio para


a vitória sobre as dificuldades.

No amadurecimento psicológico do ser, ei-lo (o amor) direcionando


todos os ideais e sustentando, em todos os embates, aquele que lhe
permite desabrochar, qual lótus esplendente sobre as águas turvas e
paradas do charco no qual pousa em triunfo...

A sua irradiação acalma, dulcifica, sustenta, porque se origina


em Deus, a Fonte Geradora da Vida.

Nas faixas iniciais do seu desenvolvimento pede socorro, enquanto


afirma que o oferece; deseja receber, embora aparente contribuir; quer
satisfazer-se sempre, não obstante dê a impressão de agradar...

Trabalhado pela consciência, torna-se equânime, dando e


recebendo; espraiando-se e recolhendo; permutando...
25

Por fim, alcança a plenitude criadora e esquece-se de si mesmo,


para atender, iluminar e seguir adiante.

Sem essa força criadora instalada na consciência lúcida de quem


não se autodescobre, a permanência nas paixões anestesiantes e no
jogo forte dos instintos é imperativa.

Todo o curso da evolução (tomada de consciência) tem como


estrutura o autoconhecimento — que proporciona o auto-amor — passo
decisivo para que essa força criadora desabroche com todas as
potências que lhe são pertinentes.

Sob o seu pálio, o sofrimento se descaracteriza e perde o conteúdo


atormentante que o assinala, passando a ser um élan de alegria e de
felicidade.

São Francisco de Assis, amando, não se dava conta dos problemas


orgânicos que nele se instalaram.

Santa Josefa Meléndez, amando, superava as perseguições


espirituais que tentavam martirizá-la, perseverando alegre e confiante
na libertação pela morte.

Os grandes e amorosos missionários do mundo jamais se deram


conta das doenças, perseguições e conflitos geradores de sofrimentos,
que recebiam como estímulos para prosseguirem.

Além deles, milhões de pessoas anônimas que alcançaram a


maturidade psicológica — a consciência desperta — entregam-se ao
nobre afã, sem interesse de retribuição ou de aplauso, profundamente
pacificadas pela força criadora máxima, que é o amor.

Autodescobrimento página 164~167

Conquista Do Si

Todo o empenho humano para um correto amadurecimento


psicológico objetiva a conquista do Si, a harmonia do eu profundo em
relação à sua realidade, à compreensão do divino e do humano nele
existentes, descobrindo a sua causalidade e entregando-se à fatalidade
(de forma consciente) do processo de evolução, que não cessa.

Trata-se de um imenso programa de conquistas plenificadoras, que


foram iniciadas no período de consciência de sono, passando pelos
26

diversos níveis de progresso e autodescobrimento de forma gratificante


e pacífica, sem qualquer tipo de violência.

À medida que vão sendo fixados’ os patamares a alcançar, mais


amplas perspectivas de triunfo se dilatam no ser, que se identifica com
a vida e alça-se aos valores mais expressivos que passa a descobrir e a
ter necessidade de vivenciar.

O ego é produção do estado de consciência, portanto,


transitório, impermanente.

Abandonando as regiões sombrias dos conflitos degenerativos, nos


quais o ser se demora por largo tempo, eis que começa a fruir o bem-
estar sem receio e a alegria sem inseguranças, libertado dos
conturbadores prêmios e castigos referentes aos atos praticados, a que
estava condicionado pelas imposições sociais e religiosas.

O ego, nesse comenos, cede lugar a outras conquistas que repartem


júbilos enquanto compartem identificações realizadoras, e a ausência de
angústias como de incertezas favorece a visão lúcida do sentido
existencial da vida.

Nesse processo de crescimento, de descobertas valiosas, podem


ocorrer vários desvios e insucessos psicológicos, como mecanismos de
saudosismo dos dias de inquietação e incertezas sobre os recentes
avanços, como fenômenos naturais para a fixação das novas e
relevantes conquistas.

A larga adaptação no vale produz choques desagradáveis quando o


ser se instala na montanha, até que logre aclimatar-se.

Essa é uma ocorrência comum a todas as formas de vida, a todos os


seres vivos.
A ânsia de crescimento não tem limite.

O desconhecimento dos potenciais que podem ser movimentados,


para o tentame e para a realização, é que constitui impedimento para os
indivíduos inábeis e imaturos psicologicamente.

Essa luta que o ego trava, no campo das paixões onde se


movimenta, alimenta-o e vicia o ser, que se compraz nas imposições que
se permite graças às sensações fortes, recheadas de compensações
imediatas, características do período primário da evolução.

Dessa forma, não se dá conta, imediatamente, das emoções


luarizadoras, desacostumado às suas manifestações, adaptando-se ao
psiquismo da mudança das planícies constritivas para os planaltos
refazentes.
27

Empreendimento de alto significado para o ser inteligente, propõe


esforço e decisão para eleger entre o que se tem e aquilo que se aspira,
que pode ser alcançado, eliminando os condicionamentos inquietadores
mediante a assimilação de novos, que os substituem, libertadores.

O ser humano é herdeiro da sua história antropológica, fixado nos


atavismos das experiências vivenciadas durante as fases primevas do
seu desenvolvimento.

Por ser, igualmente, psicológico, desdobra todos os potenciais que


possui em latência e arrebenta as amarras ancestrais, a fim de libertar
o eu adormecido, escravizado aos instintos.

Impõe-se, para o cometimento, todo um curso largo de realizações


pessoais, íntimas, de análise e avaliação de conteúdos, para a eleição
daqueles que são imprescindíveis à vitória, em detrimento dos demais,
que se apresentam afugentes.

Disciplinando-se a mente e a vontade, compreendendo-se que a


proposta da Vida é a marcha para a Unidade,

— sem perda de quaisquer valores conquistados — o Si desenvolve-


se, enquanto o ego desagrega-se.

Nas fases primeiras esse ego desempenha papéis relevantes, tais: o


da preservação da Vida, dos direitos ao prazer (transitórios), do
atendimento das necessidades (fisiológicas), dos valores pessoais.

Infelizmente, fixa-se, constritor, e passa à condição de algoz,


dominando as paisagens do ser e sombreando-as para permanecer em
predomínio.

Elastecendo-lhe a visão e apontando-lhe o Si, reage com violência e


estertora-se à medida que perde espaço psicológico, até ser
ultrapassado em vitória culminante.

É semelhante ao heróico triunfo dos pândavas sobre os kauravas,


cuja história mística narra o Mahabarata, o incomparável poema da
Índia, constituído por duzentos mil versos, dos quais apenas a metade é
conhecida.

Trata-se da luta entre primos e parentes outros no campo de


batalha da consciência: as virtudes (poucas) e os vícios (muitos), em
sucessivas pelejas até o momento da vitória dos primeiros.
28

O ser humano sempre buscou as cumeadas da sensibilidade


altruística, conquistando o Espírito, nele real, mediante a superação
dos implementos materiais que lhe servem de fator preponderante para
o desenvolvimento dos valores preciosos que nele dormem — herança
transcendente da sua origem divina, espiritual.

A libertação do eu profundo ocorre à medida que se desenfeixa dos


desejos — raga (as paixões) do conceito budista — a fim de alcançar a
realização interior.

Preocupado com a etapa terminal do processo da evolução e com


profunda visão psicológica, Allan Kardec interrogou os Mensageiros
Nobres que o assistiam, na elaboração da Doutrina Espírita:

— O que fica sendo o Espírito depois da sua última reencarnação?


E eles responderam: “Espírito bem-aventurado; puro Espírito”.

O Si profundo, pleno, é semelhante à transparência que o diamante


alcança após toda a depuração transformadora que sofre no silêncio da
sua sutilização molecular, libertando-se de toda imperfeição interna
porque passa e de toda a ganga que o reveste.

Essa conquista é o imenso desafio da evolução dos seres.

Vida: Desafios e Soluções página 100~108

O Despertar Do Si

A fase inicial da vida, sob qualquer aspecto considerado, é a do


sono. Por isso mesmo, o psiquismo “dorme no mineral, sonha no
vegetal, sente no animal, pensa no homem”, conforme sintetizou com
muita propriedade o eminente filósofo espírita Léon Denis, e prossegue,
com a imensa capacidade da intuição, no anjo, adquirindo novas
experiências sem cessar, infinitamente.

O ser está fadado à perfeita sintonia com a Consciência Cósmica,


que nele dorme, aguardando os fatores que lhe propiciem o
desenvolvimento, o contínuo despertar.

Despertar, portanto, é indispensável, abandonando o letargo que


procede das faixas por onde transitou, libertando-se do marasmo, em
forma de sono da consciência, para as realidades transcendentes,
desapegando-se das constrições que impedem a marcha, escravizando o
Si nas paixões remanescentes, adormecidas, por sua vez, no
29

inconsciente profundo, que prossegue enviando mensagens pessimistas


e perturbadoras.

Conscientizar-se do que é, do que necessita fazer, de como


conseguir o êxito, constitui, para o ser, chamamento urgente, como
contribuição valiosa para o empenho na inadiável tarefa da revolução
íntima transformadora.

Não poucas vezes encontramos no comportamento humano as


referências ao dormir, estar dormindo, adormecido, caracterizando
estados existenciais das criaturas.

Certamente, de fato, a maioria está adormecida para as próprias


realidades, para os desafios da evolução, para as conquistas do Si.

Imediatamente apaixonada por interesses mesquinhos,


mergulhada em sombras ou fascinada pelo doentio narcisismo, prefere
permanecer em estado de consciência de sono, a experimentar o
despertamento para a lucidez, portanto, para os compromissos em
relação à vida e ao crescimento interior, que se lhe apresenta como um
verdadeiro parto, no que tem razão.

Despertar para a realidade nova da vida é como experimentar um


parto interior, profundo, libertador, dorido e feliz.

Outras vezes, alguns que pretendem o acordar da consciência


buscam os gurus famosos em cada época, a fim de que eles pensem e
ajam sem o esforço pessoal dos que se fazem seus discípulos (chelas),
desse modo estimulando-lhes a paralisia dos braços e do corpo em
longos quão improdutivos estados de meditação prolongada, em fugas
inoportunas aos labores edificantes da vida atual, sempre desafiadora e
exigente.

Constitui, essa conduta, uma forma de transferência de


responsabilidade para longe dos compromissos graves do próprio
esforço, que é a única maneira de cada qual encontrar-se com sua
realidade e trabalhá-la, ampliando-lhe a capacidade de
desenvolvimento.

Felizmente, chega-se ao momento em que os verdadeiros mestres e


guias ensinam os caminhos, porém exigem que os aprendizes avancem,
conquistando, eles próprios, as distâncias, particularmente aquelas
íntimas que os separam do imperecível Si.

A Psicologia, por seu turno, convida o indivíduo a avançar sem a


utilização de novas bengalas ou de dependências de qualquer natureza,
a fim de ser livre. É compreensível que, em determinados momentos,
durante a aprendizagem, a iniciação, o candidato se apóie naqueles que
30

os instruem, liberando-se, a pouco e pouco, de forma a conquistar o seu


próprio espaço.

As revoluções do pensamento têm sido muito velozes e se


acentuam nesta última década, prenunciadora de uma Nova Era da
Consciência, quando os horizontes se farão mais amplos e a
compreensão da criatura se tomará mais profunda, particularmente em
tomo do Si, do Espírito imortal.

Todas as correntes da atual filosofia, com raras exceções e


experimentos das Doutrinas Psíquicas e Parapsíquicas, como ocorre em
algumas outras áreas, convergem para o ser permanente e real, aquele
que atravessa o portal da morte e volve ao proscênio terrestre em nova
experiência iluminativa.

Como conseqüência, a busca da Realidade vem sendo orientada


para o mundo interior, no qual o ser mergulha com entusiasmo e
sabedoria, superando os imperativos das paixões perturbadoras, das
sensações mais primitivas a que se vinculava.

Essa proposta é muito antiga, porque as necessidades humanas


também o são.

Pode-se, porém, arrolar no Evangelho de Jesus, que é considerado


um verdadeiro tratado de psicoterapia e deve ser relido com visão nova
e profunda por todos, particularmente conforme vem ocorrendo com a
Psicologia e as demais Doutrinas do psiquismo; refere-se, inúmeras
vezes, ao estar dormindo, ao dormir, tanto quanto ao despertar.

Quando Jesus foi visitar Lázaro, que parecia morto, acercou-se do


túmulo, informou que o amigo dormia e mandou abrir-lhe o túmulo na
rocha, convidando-o a que despertasse e saísse das sombras.

Escutando-lhe a voz que ressoou na acústica da alma, o


cataléptico despertou e retomou a consciência, vindo para fora do
sepulcro, sem a necessidade de qualquer milagre.

Jesus percebera que a morte não lhe arrebatara o Espírito, nem


rompera os liames vigorosos do perispírito, portanto, estava vivo ainda,
porém dormindo.

Tratava-se de um sono orgânico provocado pela catalepsia, porque


Lázaro já houvera despertado para a Realidade, razão pela qual ele pôde
ouvir o chamado de retorno.(*)

Seguindo as pegadas de Jesus, o Apóstolo Paulo repetiu a proposta


do despertamento inúmeras vezes, em situações diferenciadas, de
acordo com o estado de adormecimento em que se encontravam os seus
ouvintes ou interessados na sua mensagem.
31

Numa carta que dirigiu aos Romanos, conforme capítulo treze, no


seu versículo onze, depois de algumas considerações escreveu o
desbravador das gentes:

Digo isto, porque sabeis o tempo, que já é hora de vos despertardes


do sono... (1) que retém as pessoas distraídas e distanciadas da
Verdade, em permanente indecisão, ou em exigências infindáveis, ou
em discussões inúteis, ou em buscas infrutíferas, sem aprofundamento
de nenhuma causa, todos mecanismos escapistas para abraçar o
conhecimento libertador.

O estado de sono é paralisia da alma, peso na consciência


individual e prejuízo na coletiva, que compraz, no entanto, a todos
quantos fogem, consciente e inconscientemente, dos compromissos
mais graves para com o Si, assim como em referência à sociedade que
exploram e perturbam com a sua dependência.

Ainda examinando a problemática do sono, exclamou, em outra


carta, que dirigiu aos Efésios, o libertador das gentes, com energia e
vitalidade: Desperta, tu que dormes, e levanta-te entre os mortos. (2)

Evidentemente o apelo é dirigido àqueles que, embora vivendo, são


mortos para a realidade do Si, permanecendo em estado de hibernação
dos valores admiráveis da sua imortalidade.

Transitam, pelo mundo, os mortos para as emoções superiores,


encharcados das paixões a que se aferram em terrível estado de
intoxicação, padecendo-lhes as injunções martirizantes.

São cadáveres que respiram, em uma alegoria evangélica.

Sempre que convidados ao direcionamento superior, aos ideais de


enobrecimento, ao agigantamento dos valores éticos, escusam-se e
recusam cooperar, afirmando que a vida tem outros objetivos,
empanturrando-se de alimentos e gozos, que logo passam, deixando-os
sempre vazios e esfaimados.

O seu despertar é sempre doloroso, porque se lhes toma difícil


abandonar os hábitos doentios e adotar novos comportamentos, que a
princípio se fazem incomuns, incompletos, sem sentido.

Quando está desperto, lúcido para os objetivos essenciais da


existência, ergue-se, o indivíduo, e sai do meio dos outros que estão
mortos para a realidade.
32

Por sua vez, prosseguindo na mesma terapia, o renovado Apóstolo


Pedro, compreendendo e digerindo o que lhe aconteceu, voltou-se para
os que o seguiam e admoestou com simplicidade:
Tenho por justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos
com recordações...(3)

Vale se considere o corpo como um tabernáculo, no qual é possível


a sublimação dos sentidos, tornando-se necessário despertar os demais,
mediante recordações de tudo quanto aconteceu e está esquecido; de
todas as ocorrências de vida, que agora jazem no olvido; de todos os
valores que significaram esperança e dignidade e estão ao abandono.
Mediante esse volver a viver — o recordar — é possível um saudável
despertar e um tranqüilo viver.

Examinando-se imparcialmente essas propostas de


despertamento, compreende-se que o problema é urgente, embora o
tempo que vem transcorrendo desde as advertências existentes em
todas as Doutrinas de dignificação humana.

Chama, porém, a atenção, a própria experiência de Pedro, nos


momentos que antecederam a traição do Amigo e a inolvidável tragédia
do Calvário, sendo advertido carinhosamente:...

Esta noite antes de o galo cantar três vezes me negarás... (4)


prenunciando-lhe a defecção, por estar ainda adormecido para a
grandiosidade de comportamento junto ao Benfeitor, quando fosse
convidado ao testemunho — que é sempre prova de maioridade
psicológica e existencial.

Parecia impossível que se concretizasse esse prognóstico, no


entanto o mesmo sucedeu com a riqueza de detalhes com que foi
anunciado, chamando o inadvertido ao verdadeiro despertar, que o fez
autodoar-se até o momento final...

Prosseguindo-se em uma releitura do Evangelho de Jesus, o


discurso está exarado sempre em advertências aos adormecidos, seja
pelo sono fisiológico, seja pelo sono moral, seja pelo sono intelectual.

Destaque-se mais uma vez que, quando Jesus se encontrava em


comunhão com Deus, pouco antes das humilhações a que seria
submetido, por três vezes saiu de Si e foi visitar os companheiros que
deveriam estar em vigília e todos dormiam, anestesiados pela
indiferença ou pela inconseqüência do seu estado de consciência.

Convidados ao despertamento nas repetidas oportunidades, por fim


foram deixados, porque já era tarde, não mais adiantava acordá-los.
33

O desafio do sono é muito grande, face ao largo período de


permanência nas faixas primárias do processo da evolução, pelo qual
passa o ser no seu crescimento espiritual.

O inconsciente está no comando das sensações e das emoções,


deixando pouco espaço para a consciência, a lucidez dos atos.

Não obstante, quando Jesus informou a Pedro sobre a negação e o


cantar do galo, pôde-se inferir que o inconsciente estava representado
pela figuração da ave que faz barulho, que desperta, e isso se daria
somente quando o remorso lhe assomasse à lucidez invigilante.

O despertar é inadiável, porque liberta e concede autoridade para o


discernimento.

De tal forma se apresenta à capacidade de entender, que uma


visão otimista e clara se toma à base do comportamento psicológico,
portanto, do mecanismo íntimo para a aquisição da felicidade.

Essa realização não se dá somente quando tudo parece bem, mas


sim, quando sucedem ocorrências que são convencionalmente
denominadas como infortúnios.

Diante de tais fatos, ao invés de haver uma revolta ou desespero,


na serenidade do estar desperto, interroga-se: O que me está desejando
dizer este fenômeno perturbador?

Tratando-se de uma enfermidade, um desgaste físico, emocional


ou psíquico, uma perda de valores amoedados ou de um trabalho, que é
o sustento da existência, pergunta-se:

Isto que me está acontecendo, que significado tem para o meu


progresso? Qual ou quais as razões destas mensagens?

E penetrando-se com harmonia e sincero desejo de autodescobrir-


se, de identificar o fator desequilibrante, a consciência identifica a
causa real e trabalha-a, administrando a distonia profunda que se
exterioriza na forma intranqüilizadora.

Tal comportamento proporciona segurança, fixação no ideal,


harmonia, equilíbrio.

Quando não está desperto, o indivíduo se transfere de uma para


outra dependência, buscando guias e condutores que lhe diminuam o
esforço para pensar, e passem a assumir responsabilidades que lhe
dizem respeito.
34

No mergulho do Si nasce a coerência para com a vida e suas


possibilidades, trabalhando pela libertação de todos os vínculos
escravistas.

Nem busca modelos pré-fabricados, nem formas unívocas que


sirvam para todos.

Cada ser possui as suas características e recursos, o que não


estimula ao individualismo perverso, antes à aquisição da própria
identidade. Não obstante, há um Guia e Modelo, cuja vida exemplar tem
resistido a todos os vendavais do tempo e a todas as críticas ácidas
quão demolidoras de muitos pensadores, que é Jesus, o verdadeiro
divisor de águas da História.

Psicologicamente completo e desperto, tornou-se o maior exemplo


de Consciência plena que se conhece no processo da evolução do ser,
ensinando sem presunção, amando sem qualquer capricho, imolando-
se sem qualquer mecanismo masoquista.

Portador de saúde por excelência, jamais se Lhe registrou qualquer


tipo de distúrbio, como exaltação ou como depressão, mesmo nos
momentos mais difíceis de uma trajetória assinalada pela
incompreensão dos Seus coevos.

Simples e desataviado, Seu comportamento era otimista, rico de


beleza e de ternura, demonstrando inequivocamente a Sua ascendência
moral e intelectual.

Sempre desperto, Jesus é o exemplo máximo da conquista do Si.

(*) João: 11:11:


(1) Romanos: 13:11;
(2) Efésios: 5:14
(3) II Pedro: 1:13;
(4) Mateus: 26:34.
Notas da Autora espiritual.

O Encontro Do Eu Com A Grande Personalidade

Revista Reencarnação Nº 415 (Saúde Mental, Uma Visão Espírita)


35

3 – Sombra e Autodescobrimento

Dias Gloriosos página 215

A Sombra página 144

A busca do Símbolo – Edward Whitmont, ed. Cultrix

O Homem Integral páginas 17~20

A Ansiedade

Não se deixando vitimar pela rotina, o homem tende, às vezes, a


assumir um comportamento ansioso que o desgasta, dando origem a
processos enfermiços que o consomem.

A ansiedade é uma das caracteríscas mais habituais da conduta


contemporânea.

Impulsionando ao competitivismo da sobrevivência e de uma


sociedade eticamente egoísta, predomina a insegurança no mundo
emocional das criaturas.

As constantes alterações da Bolsa de Valores, a compressão dos


gastos, a correria pela aquisição de recursos e a disputa de cargos e
funções bem remunerados, geram, de um lado, a insegurança
individual e coletiva.

Por outro, as ameaças de guerras constantes, a prepotência de


governos inescrupulosos e chefes de atividades arbitrários quão
ditadores; os anúncios e estardalhaços sobre enfermidades
devastadoras; os comunicados sobre os danos perpetrados contra a
ecologia, prenunciando tragédias iminentes; a catalogação de crimes e
violências aterradoras respondem pela inquietação e pelo medo que
grassam em todos os meios sociais, como constante ameaça contra o
ser e o seu grupo, levando-os a permanentes ansiedades que deflui das
incertezas da vida.

Passando, de uma aparente segurança, que era concedida pelos


padrões individualistas do século XIX, no apogeu da industrialização,
para o período eletrônico, a robotização ameaça milhões de empregados,
que temem a perda de suas atividades remuneradas, ao tempo em que
o coletivismo, igualando os homens nas aparências sociais, nos
costumes e nos hábitos, alija os estímulos de luta, neles instalando a
36

incerteza, a necessidade de encontrar-se sempre na expectativa de


notícias funestas, desagradáveis, perturbadoras.

Esvaziado de idealismo e comprimido no sistema em que todos


fazem a mesma coisa, assumem iguais composturas, passando de uma
para outra pauta de compromisso com ansiedade crescente.

A preocupação de parecer triunfador, de responder de forma


semelhante aos demais, de ser bem recebido e considerado, é
responsável pela desumanização do indivíduo, que se torna um
elemento complementar no grupamento social, sem identidade, nem
individualidade.

Tendo como modelo personalidades extravagantes, que ditam


modas e comportamentos exóticos, ou liderado por ídolos da violência,
como da astúcia dourada, o descobrimento dos limites pessoais gera
inquietação e conflitos que mal disfarçam a contínua ansiedade
humana.

A ansiedade tem manifestações e limites naturais, perfeitamente


aceitáveis.

Quando se aguarda uma notícia, uma presença, uma resposta,


uma conclusão, é perfeitamente compreensível uma atitude de
equilibrada expectativa.

Ao extrapolar para os distúrbios respiratórios, o colapso periférico,


a sudorese, a perturbação gástrica, a insônia, o clima de ansiedade
torna-se um estado patológico a caminho da somatização física em
graves danos, para a vida.

O grande desafio contemporâneo para o homem é o seu


autodescobrimento.

Não apenas identificação das suas necessidades, mas,


principalmente, da sua realidade emocional, das suas aspirações
legítimas e reações diante das ocorrências do cotidiano.

Mediante o aprofundamento das descobertas íntimas, altera-se a


escala de valores e surgem novos significados para a sua luta, que
contribuem para a tranqüilidade e a autoconfiança.

Não há, em realidade, segurança enquanto se transita no corpo


físico.

A organização mais saudável durante um período, debilita-se em


outro, assim como os melhores equipamentos orgânicos e psíquicos
sofrem natural desgaste e consumpção, dando lugar às enfermidades e
à morte, que também é fenômeno da vida.
37

A ansiedade trabalha contra a estabilidade do corpo e da emoção.

A análise cuidadosa da existência planetária e das suas finalidades


proporciona a vivência salutar da oportunidade orgânica, sem o apego
mórbido ao corpo nem o medo de perdê-lo.

Os ideais espiritualistas, o conhecimento da sobrevivência à morte


física, tranqüilizam o homem, fazendo que considere a transitoriedade
do corpo e a perenidade da vida, da qual ninguém se eximirá.

Apegado aos conflitos da competição humana ou deixando-se


vencer pela acomodação, o homem desvia-se da finalidade essencial da
existência terrena, que se resume na aplicação do tempo para a
aquisição dos recursos eternos, propiciadores da beleza, da paz, da per-
feição.

O pandemônio gerado pelo excesso de tecnologia e de conforto


material nas chamadas classes superiores, com absoluta indiferença
pela humanidade dos guetos e favelas, em promiscuidade assustadora,
revela a falência da cultura e da ética estribadas no imediatismo
materialista com o seu arrogante desprezo pelo espiritualismo.

Certamente, ao fanatismo e proibição espiritualista de caráter


medieval, que ocultava as feridas morais dos homens, sob o disfarce da
hipocrisia, o surgimento avassalador da onda de cinismo materialista
seria inevitável.

No entanto, o abuso da falsa cultura desnaturada, que pretendeu


solucionar os problemas humanos de profundidade como reparava os
desajustes das engrenagens das máquinas que construiu, resultou na
correria alucinada para lugar nenhum e pela conquista de coisas mor-
tas, incapazes de minimizar a saudade, de preencher a solidão, de
acalmar a ansiedade, de evitar a dor, a doença e a morte...

Magnatas, embora triunfantes, proíbem que se pronuncie o nome


da morte diante deles.

Capitães de monopólios recusam-se a sair à rua, para evitarem


contágio de enfermidades, e alguns impõem, para viver, ambientes
assepsiados, tentando driblar o processo de degeneração celular.

Ases da beleza cercam-se de jovens, receando, a velhice, e utilizam-


se de estimulantes para preservarem o corpo, aplicando-se massagens,
exercícios, cirurgias plásticas, musculação, e, não obstante,
acompanham a degeneração física e mental, ansiosos, desventurados.
38

Propalando-se que as conquistas morais fazem parte das


instituições vencidas - matrimônio, família, lar - os apaniguados da
loucura crêem que aplicam, na velha doença das proibições passadas,
uma terapêutica ideal. E olvidam-se que o exagero de medicamente
utilizado em uma doença, gera danos maiores do que aqueles que eram
sofridos.

A sociedade atual sofre a terapia desordenada que usou na


enfermidade antiga do homem, que ora se revela mais debilitado do que
antes.

São válidas para este momento de ansiedade, de insatisfação, de


tormento, as lições do Cristo sobre o amor ao próximo, a solidariedade
fraternal, a compaixão, ao lado da oração, regeneradora de energias
otimistas é da fé propiciadora de equilíbrio e paz para uma vida
realmente feliz, que baste ao homem conforme se apresente, sem as
disputas conflitantes do passado, nem a acomodação coletivista do
presente.

4 – Culpa

Momentos de consciência páginas 44~48

Culpa E Consciência

A culpa surge como forma de catarse necessária para a libertação


de conflitos.

Encontra-se esculpida nos alicerces do espírito e manifesta-se em


expressão consciente ou através de complexos mecanismos de
autopunição inconsciente.

Suas raízes podem estar fixadas no pretérito:

— erros e crimes ocultos que não foram justiçados


— ou em passado próximo, nas ações da extravagância ou da
delinqüência.

Geradora de graves distúrbios, a culpa deve ser liberada, a fim de que


os seus danos desapareçam.

Arrepender-se de comportamentos equivocados, de práticas


mesquinhas, egoísticas e arbitrárias é perfeitamente normal.

A sustentação, porém, do arrependimento, além de ser


inoperante, apenas proporciona prejuízos que respondem por
numerosos conflitos da personalidade.
39

O arrependimento tem como finalidade dar a perceber a dimensão


do delito, do gravame, de modo que o indivíduo se conscientize do que
praticou, formulando propósitos de não-reincidência.

A permanência na sua análise, a discussão íntima em torno do


que deveria, ou não, ter feito naquela ocasião, transforma-se em cravo
perturbador fincado no painel da consciência.

Há pessoas que se atormentam com a culpa do que não fizeram,


lamentando não haverem fruído tudo quanto o momento passado lhes
proporcionou.

Outras, amarguram-se pela utilização indevida ou pelo uso


inadequado da oportunidade, todas, no entanto, prosseguindo em ação
negativa.

*
Seja o que for que fizeste, ou deixaste de fazer, a recordação, em
culpa, daquele instante, de maneira alguma te ajudará.

Não poderás apagar o erro lamentando-o, por mais te demores


nesta atitude, tampouco experimentarás recompensas reter-te na
lembrança do que poderias ter feito e deixaste de realizar.

A aparente compensação que experimentes, enquanto assim


permaneças, é neurótica, pois que voltarás às mesmas reminiscências
que se transformarão em cáustico mental no futuro.

Tudo quanto invistas para anular o passado, removê-lo ou deixá-lo


à margem, será inútil.

O que está feito ou aquilo que ficou para realizar, constituem


experiências para futuras condutas.

Águas passadas não movem moinhos — firma o brocardo popular,


com sabedoria.

As lembranças negativas entorpecem o entusiasmo para as ações


edificantes, únicas portadoras de esperança para a liberação da culpa.

Há pequenas culpas que resultam da educação deficiente,


neurótica, do lar, igualmente perturbadoras, mas de pequena monta.

A existência terrena é toda uma oportunidade para enriquecimento


contínuo.

Cada instante é ensejo de nova ação propiciadora de crescimento,


de conhecimento, de conquista.
40

Saber utilizá-lo é desafio para a criatura que anela por novas


realizações.

Desse modo, quem se detém nas sombrias paisagens da culpa


ainda não descobriu a consciência da própria responsabilidade perante
a vida, negando-se a bênção da libertação.

De alguma forma, quem cultiva culpa, não deseja libertar-se, em


tal postura comprazendo-se irresponsavelmente.

Sai da forma do arrependimento e age de maneira correta,


edificante.

Reabilita-te do erro, através de ações novas que representem o teu


atual estado de alma.

Detém a onda dos efeitos perniciosos com a diluição deles nas


novas fronteiras do bem.

A soma das tuas ações positivas quitará o débito moral que


contraíste perante a Divina Consciência, porquanto o importante
não é a quem se faz o bem ou o mal, e sim, a ação em si mesma em
relação à harmonia universal.

Allan Kardec, interessado na que estão, interrogou os


Embaixadores Espirituais e recebeu deles a segura resposta, conforme o
número 835 de O Livro dos Espíritos:

— Será a liberdade de consciência uma conseqüência da de pensar?

— A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem,


como todos os outros pensamentos.

Como conseqüência, a culpa deve ser superada mediante ações


positivas, reabilitadoras, que resultarão dos pensamentos íntimos,
enobrecedores.

O Despertar do Espírito páginas 42~46

Necessidade Da Culpa

A culpa sempre se encontra esculpida no inconsciente como uma


necessidade de punição, através de cujo mecanismo o ego se liberta do
delito.

Originada na conceituação ancestral de pecado — herança atávica


do pecado original, que seria a desobediência de Adão e Eva, os
arquétipos ancestrais do ser humano, a respeito da Árvore da sabedoria
41

do Bem e do Mal —tem sido, através do processo da evolução, um


agente cruel punitivo, que vem desequilibrando o seu mecanismo
psicológico.

Desse modo, a consciência de culpa torna-se tortura lúcida ou


não para o emocional, gerando tormentos que poderiam ser evitados se
outros processos houvessem sido elaborados para facultar a reparação
do erro.

Por isso mesmo, ao invés de pecado ou culpa, surge o conceito de


responsabilidade, mediante a qual a colheita se deriva da semeadura,
sem qualquer expressão castradora do discernimento nem fatalista do
sofrimento.

Não obstante a anuência com esse contributo psicoterapêutico


valioso, a culpa lúcida, bem absorvida, transforma-se em elemento
positivo no que tange ao acontecimento malsucedido.

A simplificação psicológica do ato infeliz, diminuindo-lhe a


gravidade e não lhe concedendo o valor que merece — nem mais nem
menos do seu conteúdo legítimo — pode conduzir à irresponsabilidade,
à perda de discernimento dos significados éticos para o comportamento,
gerando insensibilidade, desculpismo, falta de esforço para a aquisição
do equilíbrio saudável.

Existe a culpa tormentosa, aquela que se mascara e adormece no


inconsciente profundo, trabalhando transtornos de consciência, ante a
consideração do ato ignominioso não digerido.

No entanto, pode-se considerá-la numa outra expressão, que


seria uma avaliação oportuna sobre o acontecimento, tornando-se
necessidade reparadora, que propele ao aloperdão, como ao autoperdão.

Essa conscientização do gravame equipa os instrumentos morais


da personalidade, no Eu superior, para mantê-lo vigilante, precatando-o
de futuras flutuações comportamentais e deslizes ético-morais.

Por outro lado, desperta a consciência para estar atenta ante as


ocorrências nos momentos infelizes, isto é, naqueles, nos quais, o
cansaço, o estresse, a saturação, o mal-estar, a irritação estejam
instalados no organismo.

Esse é o momento perigoso, a hora errada para tomar decisões,


assumir responsabilidades mais graves. O seu significado terapêutico
propõe limites geradores de sensibilidade para perceber, orientar e viver
a conduta edificante.
42

Poderemos encontrar esse tipo de culpa não perturbadora na


primeira infância, quando medra a faculdade de discernir nos seus
primórdios, favorecendo a criança com a noção do que deve em relação
àquilo que não convém ser realizado, mais ou menos a partir dos três
anos.

Se o indivíduo não possui interiormente, nele esculpido, um


código moral para o comportamento, vagueia entre a irresponsabilidade,
as psicopatias pessoais e as sociopatias no grupo no qual se encontra.

A culpa terapêutica evita que o paciente se lhe agarre


transformando-a em necessidade de reparação do delito, assim
derrapando em situação patológica.

Trata-se apenas de uma plena conscientização de conduta, com


vistas à vigilância emocional e racional para os futuros cometimentos.

Identificada, surge o imperativo do autoperdão, através do qual a


racionalização do ato abre campo para o entendimento do fato menos
feliz, sem punição, nem justificação doentia, mas, simplesmente,
digestão psicológica do mesmo.

Após o autoperdão, surgem os valores da reabilitação, que facultam


o enfrentamento das conseqüências desencadeadas pelo ato praticado.

Necessário seja entendido que o autoperdão, de forma alguma anula a


responsabilidade do feito perturbador. Antes faculta avaliação
equilibrada da sua dimensão e dos recursos que podem e devem ser
movimentados para minimizar-lhe ou anular-lhe as conseqüências.

Considerada a ação sob a óptica da culpa saudável, não será


factível de introjetá-la, evitando que se transforme em algoz interior,
que ressurgirá quando menos seja esperado.

Ademais, esse trabalho de identificação da culpa contribuirá para a


compreensão da própria fragilidade do ego, dos fatores que o propelem
as condutas doentias, assim como à lucidez de como pode auto-amar-se
e amar às demais pessoas e expressões vivas da Natureza.

Quando se foge a esse compromisso de avaliação do erro,


estagiando-se no patamar transitório da culpa terapêutica, o
inconsciente elabora instrumentos punitivos que estabelecem os meios
cruéis para a regularização, a recomposição do quadro alterado pelos
danos que lhe foram impostos.

Assim trabalhada, a culpa não se converte em ressentimento contra


a vítima que foi ferida, nem se traveste de necessidade de serem
exteriorizadas a raiva e a animosidade contra as demais pessoas.
43

Aqueles que se não conscientizam do erro e preferem ignorá-lo,


soterram-no no inconsciente, que o devolve de maneira inamistosa,
irônica, quase perversa contra tudo e contra todos.

O ato de perdoar não leva, necessariamente, à idéia de anuência


com aquilo que fere o estatuto legal e o código moral da vida, mas
proporciona a compreensão exata da dimensão do gravame e dos
comportamentos a serem adotados para que ele desapareça, devolvendo
à vida a harmonia que foi perturbada com aquela atitude.

É inevitável o arrependimento que a culpa proporciona, mas


também faculta o sofrimento expiatório em relação ao engano, fase
inicial do processo de reparação.

Não será necessário que se prolongue por um largo período esse


fenômeno emocional, a fim de que não se transforme em masoquismo
desnecessário e perturbador, gerando autocompaixão, autopunição.

As fronteiras entre uma culpa lúcida e aqueloutra punitiva são


muito sutis, e quando não recebem uma análise honesta, confundem-se
em um tumulto entre o desejo de ser livre e de ficar aprisionado até a
extinção do mal praticado.

Tem ela o objetivo de proporcionar o exercício da honestidade para


com o Si, evitando autojustificação, transferência de responsabilidade,
indiferença diante do acontecimento.

O Eu superior é o fiel para delimitar as linhas de comportamento


entre uma e outra conduta, por ter um caráter universalista, que
trabalha pela harmonia geral.

O Despertar do espírito páginas 141~147

Relacionamentos com parceiros ou cônjuges

Os relacionamentos de qualquer natureza dependem sempre do


nível de consciência daqueles que estão envolvidos.

Havendo maturidade psicológica e compreensão de respeito pelo


outro, facilmente se aprofundam os sentimentos, mantendo-se
admirável comunhão de interesses e afinidades, que mais se
intensificam, à medida que as circunstâncias permitem o entrosamento
da convivência.
44

Quando se trata de um relacionamento que envolve a comunhão


sexual e os interesses se mesclam com os desejos de posse e de prazer
hedonista, a convivência tende a desmistificar o encantamento inicial,
dando lugar a futuros desinteresses, ressentimentos e, não raro, ódios e
desejos de vingança, o que é sempre muito lamentável.

Sob o influxo da libido, a busca do relacionamento com parceiros,


conjugais ou não, é normalmente feita sob paixão e irreflexão.

A conquista do outro se torna fator essencial para a harmonia


momentânea do indivíduo.

Todos os sentimentos são acionados e a criatividade se desenvolve,


de modo a propiciar apenas a meta anelada.

Conseguido o objetivo, diminui lentamente o prazer da convivência,


que cede lugar ao tédio, à falta de diálogo, à morte da comunicação,
intercâmbio esse que é fator essencial para um relacionamento
agradável, mesmo quando não plenificador.

Centralizando os objetivos da existência no sexo, muitas pessoas


acreditam que somente ao encontrarem alguém capaz de as
completarem, é que terão conseguido o momento culminante da jornada
humana.

Esquecem-se, no entanto que, passadas as novidades, tudo se


transforma em rotina, especialmente quando os interesses egóicos
recebem primazia e se fazem responsáveis pelas motivações do eventual
encontro.

Porque são destituídos de maturidade e respeito humano


profundo, essas relações são sempre efêmeras e deixam sinais de
amargura, quando não se facultam terminar com rancores danosos
para a emoção de algum dos envolvidos, ou não produzem maior
dilaceração na alma de ambos.

Qualquer tipo de relacionamento deve ter como estimuladores a


amizade, o desejo honesto de satisfações recíprocas, sem que haja
predominância de uma vontade sobre a individualidade de outrem.

Pela necessidade de conviver, a amizade desempenha um papel


fundamental em qualquer tipo de conduta, abrindo espaço para uma
gentil identificação de propósitos e de permuta de valores, que
constituem elementos de intercâmbio sempre feliz, facultando o
crescimento dos interesses humanos e das realizações que
proporcionam bem-estar.
45

Indubitavelmente, esse sentimento pode originar-se no inicial


interesse da libido que desperta para a busca de outro ser, na
necessidade de companheirismo, na ânsia normal de amar e de ser
amado, no prazer do intercâmbio pela palavra, pelos ideais, pelas metas
existenciais...

No entanto, a compreensão dos direitos do outro deve prevalecer


como normativa de bom relacionamento, a fim de que não advenham as
imposições infantis do egocentrismo, das chantagens emocionais, dos
pieguismos desagradáveis.

Todo relacionamento deve enriquecer aqueles que se encontram


envolvidos, porquanto produzem identificação de metas e meios para
serem conseguidos.

É natural que o céu de qualquer relacionamento nem sempre


seja tranqüilo, particularmente quando são parceiros que comungam
mais profundamente as expressões do amor, trabalhando em favor da
família, mantendo a estrutura do lar, o equilíbrio dos filhos e de outros
familiares.

Não obstante, as nuvens das incompreensões logo são aclaradas


pelo sol da razão que chega através dos diálogos saudáveis, facultando
o entendimento daquilo que permaneceu obscuro.

A fidelidade no relacionamento com parceiro conjugal ou não,


quando há compromisso sexual, é preponderante, porque demonstra a
autenticidade do sentimento que a ambos envolve.

Quando se apresentam falsas necessidades de novas


experiências, defrontam-se transtornos emocionais, insegurança
psicológica, debilidade de caráter ou futilidade ante a vida... A
promiscuidade de qualquer natureza é sempre síndrome de
desequilíbrio emocional e de primarismo moral.

A vida é feita de conquistas, e a monogamia representa um


momento culminante da evolução sócio-moral, quando os homens e
mulheres compreenderam a necessidade do respeito mútuo, sem
privilégios para um ou para outro sexo em predomínio aviltante sobre o
parceiro.

O indivíduo, quando opta por um relacionamento com outrem,


desejando maior intimidade - e a comunhão sexual representa o
instante máximo de entendimento entre duas pessoas, sem o que as
frustrações se fazem de imediato -deve pautar a sua conduta em linhas
de equilíbrio e dignidade, de modo a proporcionar àquele a quem busca
a segurança psicológica para uma convivência confiante, relaxada,
tranqüila, sem o que sempre haverá desconfiança e ansiedade
trabalhando perturbadoramente no convívio.
46

Faltando esses valores, que são imprescindíveis para que se


estabeleçam e permaneçam os momentos de prazer e de paz, há
somente predominância de paixões asselvajadas, no primarismo dos
instintos de posse e de gozo, que produzem incêndios de sensações sem
compensação emocional profunda e tranqüilizante.

Mesmo quando os parceiros se comprazem e se sentem


harmonizados, o medo de amar em profundidade manifesta-se de
maneira falsa, disfarçado sob a justificação de que o matrimônio é
escravidão, encarceramento, perda de liberdade...

O raciocínio infantil peca por falta de estrutura de lógica,


porquanto, toda vez que se ama a outrem e se mantém um sentimento
honesto, a liberdade, que antes era total, agora se expressa através da
compreensão de que aquele que o acompanha faz parte do programa da
sua existência, queira-o ou não, exceção feita, quando esse convívio é
aventureiro, sem profundidade, destituído de moralidade e de saúde
emocional.

Os indivíduos neuróticos, psicóticos, porque desconhecedores do


Si profundo que são, transferem as suas inseguranças e desequilíbrios
para quem lhes comparte a existência, não desejando vincular-se-lhe, o
que lhes impõe responsabilidade, antes desejando dominar e ser livres
quão irresponsáveis, transferindo as suas cargas de desajustes para os
ombros de quem os ama ou por eles se interessa.

Essa conduta diz respeito também àqueles que acreditam que


não merecem a felicidade, que se encontram no mundo para sofrer e
que perderam o paraíso, atirados a este mundo de pesadelos e de
amarguras...

Tal conduta masoquista e mórbida necessita de terapia conveniente


e cuidadosa antes de ser encetada a busca de relacionamentos exitosos,
porque qualquer tentativa nesse sentido já se assinala como fracassada,
em razão da ausência de compreensão do direito que todos têm de ser
felizes, mesmo na Terra, já que a felicidade total não sendo do mundo,
conforme acentuou Jesus, tem as suas raízes nas experiências de
evolução no mundo, que é a abençoada escola das almas.

As castrações psicológicas, heranças dos sentimentos de culpa e


de pecado, que provêm do passado, têm perturbado mais a
Humanidade do que as guerras cruéis, que têm por meta o extermínio
de povos e de raças, porquanto, na raiz desses conflitos, aqueles que os
desencadeiam são psicopatas, vitimados por insânia visível ou
virulentamente mantida nos arcabouços do inconsciente que os
comanda nas atitudes e decisões infelizes.
47

Todo fomentador de luta insana é desvairado em si mesmo,


embora a máscara com que disfarça a hediondez, e não conseguindo
fugir da culpa que o persegue, procura atirá-la naqueles a quem
combate em mecanismo doentio de transferência.

A afetividade é passo avançado no processo dos relacionamentos,


principalmente quando se trata daquele que mantém comunhão sexual.

Todo relacionamento conjugal ou compromisso emocional com


parceiro afetivo é um investimento emocional, correndo o risco de não
se coroar da satisfação que se espera auferir. Isto porém ocorre em
todos os fenômenos da vida humana e social. Quando os resultados não
são opimos, fica a valiosa lição da aprendizagem para futuros e
melhores tentames de felicidade.

O risco em qualquer empreendimento sempre constitui um


desafio para o crescimento interior, sem o qual nenhuma tentativa é
realizada para o desenvolvimento intelecto-moral do ser.

Qualquer experiência encetada nunca está assinalada


antecipadamente pela exatidão dos resultados positivos e exitosos.

Um relacionamento conjugal, mesmo sem o vínculo matrimonial,


porém responsável, une duas pessoas em uma, sem retirar os valores
individuais de cada qual.

A identificação faz-se lenta e seguramente à medida que se vão


conhecendo os interesses e comportamentos que possuem,
trabalhando-se para a harmonização de conduta, mesmo quando não se
apresentem equivalentes.

Manter-se a própria individualidade, sem ruptura da


personalidade do outro, é atitude de segurança no convívio de duas
pessoas que se amam.

Em um relacionamento feliz, a pessoa nunca se encontra


autodefensiva, mas auto-receptiva, sabendo que todos os fenômenos daí
decorrentes são aprendizagens para futuros comportamentos.

Tratando-se de duas pessoas que se aproximam, é totalmente


improvável que sejam iguais, no sentido de serem destituídas de
personalidade, e que tenham sua forma de ser e de encarar a vida, não
sendo obrigadas a mudar de conduta, somente porque se vinculem a
outrem.

Ocorre que a presença do amor faz que as diferenças de opinião e


de comportamento diminuam as distâncias, preencham os abismos de
separação, colocando pontes de afinidades e de interesses.
48

Desde que não haja a paixão de um impor a sua forma de pensar


e de agir sobre o outro, nenhuma diferença constitui impedimento,
quando são respeitados os direitos de continuar a viver conforme
melhor aprouver, sem agredir a quem comparte a convivência.

Quando, porém, os indivíduos se escondem de si mesmos e


buscam os relacionamentos com o pensamento de se manterem
silenciosos e ocultos, sem que pensem em repartir os espaços interiores
da afetividade plena, a dissolução do vínculo afetivo logo se faz, mesmo
porque não chegou a ser realizado.

Assim, para que o relacionamento dessa natureza seja saudável,


dependerá de ambas as partes, crescendo sempre na busca do melhor
entendimento, mantendo suas próprias raízes, sem as alterar somente
porque deseja agradar o outro, o que constitui uma ilusão, já que
ninguém pode viver ao lado de outrem que somente quer ser agradado
sem o interesse de brindar o equivalente ao que recebe.

A presença da supermãe, protetora e vigilante está projetada na


esposa ou na companheira, que nunca deve aceitar essa transferência
da personalidade infantil e não desenvolvida do seu parceiro.

Num relacionamento feliz não há manipulação nem mistificação,


mas autenticidade sem agressividade e verdade sem rudeza...

Avançando na direção da meta de repartir alegrias e compartir


júbilos, os relacionamentos, conjugais ou não, serão sempre saudáveis.

5 – Mecanismos De Defesa

O Ser Consciente páginas 103~110

MECANISMOS DE FUGA DO EGO

Habituado ao não enfrentamento com o self, o ego camufla a


sua resistência à aceitação da realidade profunda elaborando
mecanismos escapistas, de forma a preservar o seu domínio na pessoa.

Desse modo, podemos enumerar alguns desses instrumentos do


ego, para ocultar-lhe a realidade, facultando-lhe a fuga do
enfrentamento com o eu profundo, tais como: compensação,
deslocamento, projeção, introspecção e racionalização.
49

Compensação

Foi o admirável pai da Psicanálise individual, Alfred Adler,


quem, percebendo que um órgão deficitário é substituído pelo seu par
— um pulmão enfermo ou um rim doente —, estabeleceu que ocorre
uma compensação correspondente na área psicológica.

Grandes ases da cultura física tornaram-se atletas, porque


buscaram compensar a fragilidade orgânica, ou algum limite,
entregando-se a extenuantes exercícios que lhes facultaram alcançar as
metas estabelecidas. O mesmo ocorre nas artes, na ciência, com muitos
dos seus paladinos.

Essa compensação se enraíza nos fulcros de algum conflito e nos


leva a exagerar determinada tendência como fenômeno inconsciente que
nos demonstra o contrário.

O excesso de devotamento a uma causa ou idéia é a compensação


ao medo inconsciente de sustentá-lo.

O fanatismo resulta da insegurança interior, não consciente, pela


legitimidade daquilo em que se pensa acreditar, desse modo
compensando-se.

Há sempre um exagero, um superdesenvolvimento compensador,


quando, de forma inconsciente se estabelece um conflito, por adoção de
uma crença em algo sem convicção.

O excesso de pudor, a exigência de pureza, provavelmente são


compensações por exorbitantes desejos sexuais reprimidos e anelos de
gozos promíscuos, vigentes no ser profundo.

Sem dúvida, não se aplica à generalidade das pessoas corretas e


pudicas, mas àquelas que se caracterizam pelo excesso, pela ênfase
predominante que dão a essas manifestações naturais.

Na compensação ocorre a formação de reação, que responde pela


necessidade de um efeito psicológico contrário.

Desse modo, as atitudes exageradas em qualquer área camuflam


desejos inconscientes opostos.

Nessa compensação psicológica, o ego exarcebado está sempre


correto e, sem piedade pela fragilidade humana, exprime-se dominador,
superior aos demais, que não raro persegue com inclemência.
50

Na distorcida visão egóica, a sua é sempre a postura certa, por


isso exagera para sentir-se aliviado da tensão decorrente da incoerência
entre o ego presunçoso e o eu debilitado.

A compensação substituta — uma deficiência orgânica propele o


indivíduo a destacar-se noutra área da saúde, sobrepondo a conquista
de realce ao fator de limite — também transfere-se para o campo
emocional, e o conflito de ordem psicológica cede lugar ao
desenvolvimento de uma outra faculdade ou expressão que se pode
destacar, anulando, ou melhor dizendo, escamoteando o ocasional
fenômeno perturbador.

Graças à compensação substituta o ego se plenifica, embora


tentando ignorar o desequilíbrio que fica sob compressão, reprimido.
Todavia, todo conflito não liberado retorna e, se recalcado, termina por
aflorar com força, gerando distúrbios mais graves.

A compensação egóica é, sem dúvida, um engodo que deve ser


elucidado e vencido.

Cada criatura é o que consegue e, como tal, cumpre apresentar-se,


aceitar-se, ser aceito, trabalhando pelo crescimento interior mediante
catarse, consciente dos conflitos degenerativos.

Todo esse mecanismo de evasão da realidade e mascaramento do


ego torna a pessoa inautêntica, artificial, desagradável pelo irradiar de
energias repelentes que causam mal-estar nas demais.

Deslocamento

A consciência exerce sobre a pessoa um critério de censura, face


ao discernimento em torno do que conhece e experiência, sabendo como
e quando se pode fazer algo, de maneira que evite culpa.

Nesse discernimento lúcido, quando surge um impulso que a


censura da consciência proíbe apresentar-se sem reservas, o ego produz
um deslocamento.

Freud havia identificado essa capacidade de censura da


consciência, que situou como superego.

Quando se experimenta um sentimento de revolta ou de


animosidade contra alguém ou alguma coisa, mas que as
circunstâncias não permitem expressar, o ego desloca-o para reações de
violência contra objetos que são quebrados ou outras pessoas não
envolvidas na problemática.
51

Na antiga arena romana ou nos atuais ringues de boxe se


traduzem esses sentimentos recalcados, contra a vítima momentânea,
deslocando a fúria oculta, que se mantém contra outrem, nesse ser
desamparado.

Subconscientemente, a pessoa que apóia o dominador e pede-


lhe para extinguir o contendor, mantém hostilidade que reprime,
impossibilitada pelas convenções sociais ou circunstanciais de
exteriorizá-la.

A hostilidade da criatura leva-a a reagir sempre através de


motivos reais ou imaginários. Um olhar, uma palavra malposta, uma
expressão destituída de mais profundo significado, são suficientes para
provocar um deslocamento, uma atitude agressiva.

Face a essa postura, há uma tendência para camuflar os


significados perturbadores da vida. Ao reprimi-los, adota-se um
comportamento agradável para o ego.

Esse mecanismo é de fácil identificação, pois que o ego procura


uma vivência de qualquer acontecimento sem sentido, para ocultar um
grave problema que não deseja enfrentar conscientemente.

Essa reação pode decorrer, também, de um ambiente hostil no


lar, onde a pessoa se acostumou a deslocar os sentimentos que
cultivou, na convivência doméstica, e não deseja reconhecer como de
natureza agressiva.

Somente uma atitude de auto-reflexão consegue despertar o


indivíduo para a aceitação consciente do seu self, sem disfarce do ego,
não deslocando reações para outrem e lutando contra as perturbações
psicológicas.

Projeção

A repressão inconsciente dos conflitos da personalidade leva o


ego a projetá-los nos outros indivíduos, nas circunstâncias e lugares,
evadindo-se à aceitação dos erros e da responsabilidade por eles.

Se tropeça em uma pedra na rua, a culpa é da administração


pública municipal; se choca com outrem, a culpa é dele...

A projeção alcança reações surpreendentes.

Um jovem esbarrou noutro na rua e reagiu, interrogando: “—


Você é cego?”, ao que o interlocutor respondeu: “— Sim, sou cego”.
52

Atropelara o invidente e se permitia o luxo de fazer-se vítima.

Há uma natural e mórbida tendência no ser humano de ignorar


certas deficiências pessoais para projetá-las nos outros.

Toda vez que alguém combate com exagerada veemência


determinados traços do caráter de alguém, projeta-se nele, transferindo
do eu, que o ego não deseja reconhecer como deficiente, a qualidade
negativa que lhe é peculiar. Torna a sua vítima o espelho no qual se
reflete inconscientemente.

Há uma necessidade de combater nos outros o que é


desagradável em si.

Pessoas existem que se dizem perturbadas pelas demais,


perseguidas onde se encontram, desgostadas em toda parte, revelando
caráter e comportamento paranóicos, assim projetando a animosidade
que mantêm por si próprias nos outros indivíduos, sob a alegação de
que não os estimam, e tentam interditar-lhes o passo, o avanço.

A projeção é facilmente identificável e pode ser combatida


mediante honesta aceitação de si mesmo, de como se é, trabalhando-se
para tornar-se melhor.

Introjeção

Outro mecanismo de disfarce do ego é a introjeção, que se


caracteriza como a conscientização de que as qualidades das pessoas
lhe pertencem.

Os valores relevantes que são observados noutrem, são traços


do próprio caráter, constituindo uma armadilha — defesa do ego.

A pessoa introjeta-se na vida dos heróis aos quais ama e com


quem se identifica, aceitando ser parecida com eles.

Assume-lhes a forma, os hábitos, os traquejos e trejeitos, o


modo de falar e de comportar-se...

Pode acontecer também que se adote o comportamento infeliz de


personagens dos dramas do cotidiano, das películas cinematográficas,
das telenovelas, das tragédias narradas pelos periódicos.

Na atualidade, ao lado dos inúmeros vícios sociais e


dependências dos alcoólicos, tabaco e drogas outras, há, também, a
dependência das telenovelas, mediante as quais as personagens,
53

especialmente as infelizes, são introjetadas nos telespectadores


angustiados.

Essa morbidez deve ser liberada e o indivíduo tem a


necessidade, que lhe cumpre atender, de assumir a realidade interior,
identificando-se numa harmoniosa combinação entre o self e o ego,
mantendo o equilíbrio emocional através do exercício de
autodescobrimento eliminando as ilusões, os romances imaginários,
pois que tais mecanismos de fuga, não obstante o momentâneo prazer
que dispensam, terminam por alienar o ser.

Racionalização

A racionalização é o mecanismo de fuga de maior gravidade


do ego, por buscar justificar o erro mediante aparentes motivos justos,
que degeneram o senso crítico, de integridade moral, assumindo
posturas equivocadas e perniciosas.

Sempre há uma razão para creditar-se favoravelmente os atos,


mesmo os mais irrefletidos e graves, através das razões apresentadas,
que não são legitimas.

Essa dicotomia — o que se justifica e o que se é — torna-se um


mecanismo perturbador, por negar-se o real a favor do que se imagina.

As razões legítimas dos hábitos e condutas são mascaradas


por alegações falsas.

Por não admitir o que se prefere fazer ou ser, e se tem em conta


de que é errado, assume-se a máscara egóica da racionalização.

Essa falta de honestidade, como expressão falsa do eu, torna-se


um desequilíbrio psicológico, que termina em perda do sentido
existencial.

Ninguém pode mudar um mal em bem, apenas porque se recusa


a aceitar conscientemente esse mal, que lhe cumpre trabalhar para
melhor, ao invés de ignorá-lo ou justificá-lo com a racionalização.

A tendência humana da escolha é sempre direcionada para o


bem. Assim, há uma repulsa natural pelo mal, que a racionalização
tenta alterar a contextura, a fim de apaziguar a consciência, gerando a
perturbação psicológica.

Essa luta, que se trava entre o intelecto e a razão, busca


justificativa para tornar o mal em um bem, que é irreal. Desse modo,
quando a pessoa age erradamente e a razão lhe reprocha, o intelecto
busca uma alegação justa para reprimir o bem e prosseguir na ação.
54

A execução supera a razão e a mente justifica o mal, do qual


surgirá um bem, para si ou para outrem, como racionaliza o ego em
desequilíbrio.

Somente uma vontade severa e nobre, exercendo sua força


sobre os mecanismos de evasão, para preservar o equilíbrio entre a
razão e o intelecto com a emoção do bem e do justo, propondo o
ajustamento psicológico do ser.
Fora disso, tais mecanismos de camuflagem da realidade
conduzem à alienação, ao sofrimento.

Pensamentos e Formas Mentais

Plenitude páginas 77~88

VIII— Caminhos Para A Saúde

O sofrimento é via de redenção espiritual, face ao incompleto


desenvolvimento moral do indivíduo.

Opção pessoal, é roteiro destituído de qualquer ação punitiva,


educando ou reeducando através dos mesmos mecanismos, graças aos
quais houve comprometimento, desvio de rota, desrespeito às leis da
vida.

A sua presença vige, enquanto se faz necessária à depuração.

As únicas exceções se apresentam nos quadros de iluminação


coletiva, quando os missionários do bem e do amor mergulham nas
sombras do mundo, a fim de clareá-las com os seus exemplos.

Não mais lhes sendo necessárias às dores físicas e morais,


elegem-nas ou aceitam-nas como holocaustos espontâneos, a fim de
ensinarem coragem, abnegação e sacrifício aos que estão na retaguarda,
comprometidos com a ignorância e a ilusão, a rebeldia e a violência, o
egoísmo e a negação do dever, todos eles geradores de sofrimentos, de
enfermidades e dores.

A saúde integral, a paz, a alegria interior resultam da lucidez


mental, que elege os atos corretos para a existência modeladora da
ascensão.
55

Enquanto não se convençam as criaturas de realizar o equilíbrio,


a homeostase ideal entre o psiquismo e o corpo físico, debater-se-ão nas
malhas de qualquer tipo de sofrimento.

Advertência ao desvio da linha de harmonia, ele se apresenta em


forma de energia comprometida, bloqueada ou desequilibrada,
facultando a instalação de doenças, de desares, de padecimentos de
qualquer natureza.

Certamente, as terapias convencionais ajudam na recuperação


da saúde, na sua relativa manutenção.

Todavia, somente os fatores internos que respondem pelo


comportamento emocional e social podem criar as condições
permanentes de bem-estar, erradicando as causas penosas,
proporcionando outras novas que compensarão aquelas, se não
superadas, promovendo o equilíbrio estrutural do ser.

Jesus sintetizou no amor a força poderosa para a anulação das


causas infelizes do sofrimento e para a sua compensação pelo bem.

Allan Kardec, através da observância das lições do Evangelho e


das diretrizes propostas pelos espíritos superiores, aludindo a Jesus,
apresentou a caridade como sendo a via real para a salvação, a
aquisição da saúde integral.

A caridade, que é o amor na sua expressão mais elevada,


para ser real exige a iluminação de quem a pratica, facultando-lhe, ao
mesmo tempo, um constante aprimoramento de propósitos que
induzem à abnegação e à vitória sobre as tendências primitivas, que
permanecem dominadoras.

Pelo seu extraordinário conteúdo emocional, a caridade dulcifica


aquele que a pratica e abençoa quem a recebe, dignificando-o,
promovendo-o e ajudando-o a superar-se.

Por isso, verdadeiramente, a sua é uma ação de profundidade,


que exige requisitos especiais, adquiridos através do esforço de
constante aprimoramento espiritual.

Buda, no passado, recomendava uma via de salvação, em oito


passos, que são indispensáveis para a iluminação pelo amor e a
plenitude pela felicidade.

A criatura humana sempre crê, até naquilo que nega.

O seu ato de negar é uma forma de crer, que defende com


entusiasmo e vigor. A negação, por isso mesmo, é um tipo de afirmação,
demonstrando a crença natural ou racional em torno da sua convicção.
56

Crer retamente, porém, é direcionar o pensamento de forma


positiva, edificante, firmando-o em propósitos saudáveis, que favorecem
a realização excelente dos postulados, nos quais se crê.

Essa é uma crença estimuladora que enriquece de beleza e


aciona os mecanismos da vida, alterando, profundamente, o
comportamento para melhor e propondo uma vivência pautada na força
da crença.

Diante de todos os enfermos que O buscavam, Jesus era


peremptório, quanto ao ato do paciente crer nEle e na recuperação da
saúde.

A Sua resposta positiva criava a reação orgânica favorável à


movimentação da energia bloqueada pelos condicionamentos doentios,
pelas seqüelas cármicas propiciadoras dos distúrbios degenerativos,
nas áreas do corpo, da mente ou da emoção.

A abertura mental e emocional do enfermo à certeza de que era


possível a recuperação, e que Jesus podia consegui-lo, proporcionava-
lhe a receptividade necessária ao imediato processo de cura.

Assim, a fé tudo pode, pois aciona inexplorados mecanismos


íntimos do homem, geradores de forças não utilizadas, modificando por
completo a paisagem interna, depois externa do ser.

“A fé remove montanhas”, acentuou Jesus. Ela é a canalização


de todas as possibilidades psíquicas alterando a ação das forças
habituais. Quando se apresenta, estimula à ação e vibra interiormente,
gerando energias que vitalizam toda a maquinaria pela qual se
movimenta.

A crença reta faculta uma visão otimista da vida, que se


enriquece de motivações, que nada perturba. Sabe esperar e estimula
ao prosseguimento da empresa, mesmo quando as circunstâncias
parecem conspirar contra, ocasionando confusão ao projeto abraçado.

Todas as conquistas da humanidade tiveram início no ato de


crer corretamente, graças ao qual se movimentavam as pessoas,
persistindo na execução dos planos mentais transferidos para a
realidade objetiva.

Nicolau Copérnico, por acreditar retamente no sistema


heliocêntrico, sofreu humilhações constantes e lutou contra o
sectarismo, a intolerância, o fanatismo e a ignorância, até provar que
estava com a razão.
57

Cristóvão Colombo, recordando-se psiquicamente das terras que


eram desconhecidas da civilização européia, apesar de desestimulado e
ironizado pelas cortes às quais pediu ajuda, e, pelos seus
contemporâneos, por crer retamente, descobriu a América, provando
que estava certo.

Crer retamente conduz ao querer retamente.

Uma das razões do sofrimento humano é o querer


equivocadamente, conforme a ilusão do prazer imediatista e alucinado,
que elege o dispensável em detrimento do essencial, de acordo com o
transitório e não com o permanente. E para lográ-lo, age segundo as
tendências negativas, comprometendo-se moral e espiritualmente.

Esse querer equivocado escraviza o ser às paixões inferiores,


cujas algemas o retêm inexoravelmente aos efeitos infelizes da eleição.

Para o seu prazer, o indivíduo quer o que não lhe convém,


permitindo que o egoísmo se sobreponha aos interesses gerais,
prejudicando todos aqueles que possam constituir-lhe impedimento ou
provocar-lhe dificuldade.

Querer retamente propõe métodos compatíveis com os objetivos


da crença anelada.

Os meios incorretos não são justificáveis quando usados para fins


nobres, porquanto degeneram os ideais que devem permanecer pulcros.

Sem o uso dos meios correspondentes, as realizações perdem a


qualidade de que se devem revestir.

As supostas facilidades muito aneladas pelas criaturas são uma


forma de evitar os meios hábeis, complexos às vezes, que compõem o
quadro do querer de maneira elevada.

Não que as realizações mais fáceis signifiquem desvio de meta.

Elas ocorrem amiúde, como é natural, não devendo tornar-se


regra geral, que desencoragem as demais que proponham esforço,
persistência e sacrifício.

Quem elege a montanha, não evita a ascensão difícil, porquanto


faz parte da aspiração que se sustenta interiormente.

O ato de querer torna menos ásperos os desafios e as


dificuldades.
58

Querendo retamente difundir a mensagem de Jesus, Paulo


aplicou os mais desgastantes esforços, padecendo enfermidades,
abandono, apedrejamento e quase morte, afirmando, confiante:

“Ai de mim se não pregar o Evangelho”, vivendo com


sacrifício o ideal que o abrasava.

A preservação do querer com retidão rechaça as propostas


ignóbeis, mesmo quando se apresentam como fórmulas salvacionistas,
solucionadoras.

O que não tem a chancela da retidão desmerece a qualidade da


ação.

Jesus sempre quis retamente e sempre assim agiu, tornando a


Sua mensagem uma luz inapagável a varar os séculos, superando
desfigurações, interpolações e adulterações lamentáveis.

Quando se crê e se quer crer retamente, fala-se com a


mesma qualidade de intenção, e essas palavras, conforme se refere
o Evangelho, exteriorizam o de que está cheio o coração.

Indispensável, portanto, a vivência íntima das aspirações


superiores, a fim de que a música da palavra traduza-as para o exterior
retamente.

A palavra é valioso instrumento de comunicação, que tem


entorpecido grandes ideais da humanidade, por não ser fiel aos
sentimentos que deveria expressar.

Fala-se por falar-se; fala-se para dissimular emoções e ideais;


fala-se com objetivos sórdidos e prejudiciais.

A palavra que liberta, igualmente faz-se meio de escravidão.

Por isso, a arte de falar impõe requisitos que são essenciais para
expressar-se retamente.

Deve-se pôr na palavra a discrição que sabe como e quando


falar, evitando gerar constrangimento e amargura.

Não faltam, no mundo, acusadores e palradores da inutilidade,


das idéias vazias de conteúdo, de ironias e sentidos dúbios.

Eles inquietam e anatematizam, infelicitam e desajustam,


dominados por idealismos falsos e paixões inferiores.
59

O falar retamente fomenta o progresso, desenvolvendo as


aspirações que se exteriorizam em ideais de liberdade e amor,
impulsionando as criaturas para a frente, para o bem.

Falando retamente, Sócrates desenvolveu a filosofia, elevando-a


as cumeadas e dignificando os princípios éticos e morais que ainda
constituem base ao idealismo, ao espiritualismo.

As boas palavras enrijecem o caráter, dulcificam o coração e


iluminam a vida.

As más, entorpecem os sentimentos, deformam a conduta e


matam os ideais de enobrecimento.

Crer, querer e falar retamente produzem uma vibração de paz


que fomenta a saúde, alterando o comportamento emocional que refaz o
equilíbrio da energia, modifica~ido o campo no qual se instalam as
enfermidades.

São, inevitavelmente, caminhos para uma existência saudável.

Logo surge o momento da ação, que equivale à diretriz do operar


retamente.

Os requisitos anteriores alcançam o seu momento máximo na


ação, sem o que, deixam de influenciar, como necessário, o
comportamento, que retrata a realidade íntima da pessoa.

A retidão impõe-se em todos os passos da existência humana.


Um coração tranqüilo é resultado de uma conduta reta e, por
conseqüência, fator basilar para uma consciência de paz.

Interdependem-se, portanto, esses elementos, para uma vida


feliz, desde que, olhar-se para trás sem remorsos, agir-se sem medo,
face aos sentimentos enobrecidos, produzem um estado de paz que
nada perturba, porque enraizada na maneira de operar, conduzindo a
caminhada retamente.

O mundo progrediu sempre graças àqueles que agem com


retidão.

Os seus exemplos de dedicação às causas dignificadoras


tornaram-se a base do processo de engrandecimento da vida e das
demais criaturas.

Conscientes das suas responsabilidades não temeram as


perseguições, as lutas ásperas, os sacrifícios, nem mesmo o holocausto,
quando este se fazia necessário, desde que permanecesse impoluto o
ideal que sustentavam. Sabiam que a morte do corpo não destrói a idéia
60

grandiosa, e que é no sangue do martirológio que a semente da verdade


germina, a fim de poder frondejar mais tarde, abençoando com flores e
frutos.

Como se medem a grandeza ou pequenez das criaturas graças


aos ideais que possuem, é na ação que se avalia a excelência das suas
aspirações, pois que aí, ao operá-las, trazê-las ao mundo objetivo, é que
elas experimentam a intensidade dos fornos onde são lançadas antes de
se tornarem realidade.

Entre companheiros doentes e em uma sociedade injusta, é um


verdadeiro desafio operar retamente.

As propostas da insensatez se multiplicam, os conchavos da


desonestidade bem urdidos e disfarçados de legais enxameiam, as
concessões morais e conivências fazem-se quase normais, dificultando a
ação correta.

Quem age com retidão parece alienado, é malvisto, tido por


excêntrico ou como se o fizesse para pretender chamar a atenção.

Há uma oposição sistemática, ancestral, arquitetada contra o


correto, de modo a impedir o desmascarar da fraude e da corrupção em
predomínio.

Operar retamente é técnica de terapia preventiva quanto


curadora para o sofrimento.

Quem não atua errado, não tem necessidade de repetir a


experiência, refazer o caminho, ressarcir débitos...

Tal ação, entretanto, começa nas pequenas decisões, nas


realizações mais simples e de aparente significação sem importância.

Tudo é importante na vida.

Os pequenos atos são preparatórios dos gestos grandiosos e das


realizações vultosas.

Manter o mesmo nível de conduta reta em uma pequena como


noutra atividade de relevo é forma de treinamento para uma vivência
equilibrada.

Viver retamente é, portanto, o passo seguinte.

As ações que se sucedem, transformam-se no modus operandi de


cada indivíduo que aí passa a ter o seu modus vivendi.

Quem age retamente, vive retamente.


61

O seu hoje representa as ações antes realizadas e o seu amanhã


defluirá das suas atividades hoje desenvolvidas.

Não se homizia no erro, não se exalta, não se deprime.

Suas horas transcorrem harmoniosas e as suas lutas, mesmo


quando desgastantes, não o infelicitam, porque elas são conquistas de
patamares mais elevados, que aguardam.

A vida adquire sentido e significação, porque não se acabando no


túmulo, amplia-se ao infinito, rica de oportunidades excelentes de
aprendizagem e plenificação.

Gandhi recomendava a igualdade racial, de deveres e direitos.

Todavia, para que os seus fossem ideais legitimamente


respeitados, vivia conforme preconizava, trabalhando no tear e
acolhendo os párias no seu ashram, a eles concedendo a mesma
consideração que dispensava a qualquer outra pessoa.

Viveu pobremente, de acordo com o que considerava as


necessidades básicas para a vida, que prescrevia para as demais
criaturas.

Jesus não tinha “uma pedra para reclinar a cabeça”, embora as


aves do céu tivessem os seus ninhos e as feras os seus covis, porque
para Ele uma só coisa era importante: dar-se, num mundo de coisas
que valem o que se lhes atribui, já que não têm valor real...

Uma vivência de tal natureza impõe um grande esforço, já que é


larga a porta que conduz à perdição.

O passo imediato é esforçar-se retamente.

Sem esforço, nenhum empreendimento se torna possível, muito


menos se faz vitorioso.

A intensidade do esforço desvela a qualidade do caráter.

Sem uma disciplina que o exercício prodigaliza, o esforço


deperece e as aspirações morrem.

Essa força, que decorre do querer, é responsável pelos resultados


das aspirações colocadas na prática.

As pessoas que não se esforçam por preservar os ideais de


enobrecimento perdem as batalhas da evolução antes mesmo de iniciá-
las, perturbando a marcha do progresso geral.
62

Afirma-se, muito, como justificativa para não se esforçar, que não


se logra manter o nível ideal necessário.

No entanto, a execução dos hábitos viciosos dá-se mediante


esforços que se incorporam ao cotidiano como fenômeno natural.

A libertação deles somente é possível através do investimento de


energias que se lhes opõem.

Não raro, os indivíduos, em razão do prazer que experimentam na


vivência viciosa, sacrificam-se, aplicando todos os valores imagináveis,
a fim de continuarem com as sensações a que se escravizam.

Quando se lhes propõem, no entanto, a mudança para as


emoções duradouras, negam-se ao esforço, por acomodação ao que já
fruem, mesmo que lhes seja desgastante.

Ninguém vive sem esforço.

Ultrapassados os limites dos fenômenos automáticos, a vida exige


o empenho da vontade, a aplicação e direcionamento das energias.

Quem se esforça em um sentido, fá-lo também em outro, se


quiser.

Esforçar-se retamente é saber aplicar a capacidade dos seus


recursos naquilo que propicia felicidade real, duradoura, sem as
aflições dos prazeres fugidios, que necessitam de repetir-se sem cessar,
não lhes aplacando a sede, antes aumentando-a, perturbadoramente.

No esforço bem dirigido as energias se retemperam e as


motivações, por serem elevadas, mais atraem a novos tentames, que se
sobrepõem aos limites e desgastes dos sofrimentos.

A mente, colocada em áreas nobres, anestesia as sensações dos


desajustes e das enfermidades, emulando na conquista da harmonia,
que se alcança mediante esforço retamente aplicado.

Das pequenas e constantes tentativas de agir corretamente se


desenvolvem as forças que serão canalizadas para os grandes
cometimentos, mesmo que desconhecidos das demais pessoas.

A constante renovação moral e todo o trabalho de alterar a


estrutura do comportamento exigem o reto esforço que leva ao êxito.

De natureza íntima, decorre do crer nas metas a alcançar, do valor


que possuem, a fim de querer com afinco, de modo a envidar a
capacidade de ação, sem o que o tentame malogra.
63

Esse esforço decorre da aplicação do pensar retamente.

O que se cultiva no pensamento transborda para a esfera


objetiva, constituindo-se elemento existencial no comportamento
humano.

O pensamento é fonte geradora e dínamo condutor da Vida para a


vida.

A energia encontra-se~presente em tudo, aguardando que o


pensamento a comande, a direcione.

No que tange aos sofrimentos, na sua multiface, a ação mental é


relevante.

Todo aquele que se deixa dirigir pelo pessimismo e pela


depressão faz quadros enfermiços, debatendo-se nas malhas de
dores perfeitamente dispensáveis.

Por um processo de natural afinidade, sintoniza com as


doenças, abrindo brechas nas próprias resistências para a
instalação de males e perturbações afugentes.

O bombardeio constante contra os sutis mecanismos da emoção e


da aparelhagem orgânica termina por desarticular-lhes o equilíbrio,
produzindo o desajustamento que facilata a penetração dos agentes
degeneradores.

A ação do pensamento reto, pelo contrário, produz o


fortalecimento do campo psicofísico, expulsando as doenças e gerando
sucessivas ondas de bem-estar, que são responsáveis pela saúde.

Acrescente-se a esse quadro a interferência dos espíritos


desencarnados no cotidiano das criaturas humanas.

Os raios mentais direcionados em um ou outro sentido


facultam a sintonia com entidades de teor vibratório
correspondente.

Não é, pois, de surpreender, o atual surto epidêmico de


obsessões, que decorre da afinidade mental e moral existente entre os
homens aturdidos e os espíritos infelizes, com os quais os primeiros
mantêm convivência ideológica.

Ideoplastias enfermiças, formas-pensamento extravagantes e


doentias terminam por criar urna psicosfera viciada que intoxica as
pessoas, aumentando o quadro das enfermidades, estas últimas de
diagnose difícil pela medicina convencional e cuja terapia terá que
64

partir do próprio paciente, através de uma radical mudança de


comportamento mental e moral, a fim de desatrelar-se das vibrações
que o envolvem.

Pensar retamente faculta harmonia psicológica e sintonia com os


benfeitores da humanidade, em cuja convivência psíquica se haurem
energias benéficas propiciadoras de saúde, que vão atuar nas causas
dos sofrimentos, alterando-lhes a vigência e os efeitos.

Quem pensa retamente encontra-se consigo mesmo, com o seu


próximo e com Deus.

O hábito saudável de pensar conduz à etapa final, que é meditar


retamente.

Fixam-se nos painéis da memória, por educação mental


perniciosa, em maior quantidade, as impressões infelizes, os atos
reprocháveis, as aspirações inferiores e, por isso, afirma-se com
leviandade que meditar é muito difícil.

Basta, porém, que se mude a direção dos hábitos mentais e se


criarão as bases da meditação.

Como não se vive sem pensar, exceção feita aos portadores de


psicopatologias graves, deve-se fazê-lo sempre de forma positiva e
otimista, gerando novo costume no campo mental até que seja
absorvido e transformado em automatismo pela repetição natural.

Por mau hábito, quando algo de negativo acontece, a pessoa se


deixa consumir, entregando-se, comentando, repetindo e fixando,
quando a atitude a tomar deveria ser totalmente oposta.

No entanto, quando algo de bom e útil acontece, raramente se


analisa, penetra e revive, logo substituindo-o por outro fato
desagradável, acostumando-se com o último em detrimento do anterior.

Natural que, desacostumado à reflexão em torno do bem e da


paz, da saúde e da alegria, tenha-se dificuldade em meditar retamente.

Nas primeiras tentativas, os arquivos da memória liberam as


impressões deprimentes, perniciosas, e o candidato desiste, quando
deveria prosseguir com esforço para liberar-se dessas e fixar novas
imagens e aspirações geradoras de saúde, de felicidade.

A concentração é a fixação da mente, por interesse ou


seleção, em qualquer pensamento, em alguma idéia especial que se
deseje analisar ou reter.
65

A meditação é a aplicação da concentração na busca de Deus,


interiormente com determinação e constância.

Seu objetivo único é o de atingir o fluxo divino e conhecer Deus


senti-lo e alimentar-se da Sua essencia.

Jesus afirmou:
“O teu olho é a luz do teu corpo.
Se o teu olho for um só, todo o teu corpo será luminoso.”

Se o indivíduo permitir-se olhar para dentro, todo ele se torna


uma só idéia visual, ao captar a luz divina, igualmente todo ele se fará
luminoso, e nenhum sofrimento o perturbará, graças à aquisição da
saúde integral.

A meditação reabastece de energias salutares, refazendo a


harmonia do psiquismo e este a do organismo físico.

Quem medita retamente, crê, quer, fala, opera, vive, esforça-se e


pensa com retidão, adquire os valores indispensáveis à salvação.

Nesse estágio a pessoa doa-se e já não mais vive,sendo o “Cristo


quem vive" nela.
Liberta-se, por fim, do sofrimento.

Dias Gloriosos página 25

Nos Domínio da Mediunidade – André Luiz pag. 45 capítulo e pag.


117 capítulo 13

Vida: Desafios e Soluções páginas 50~51

Hábitos mentais

A vida biológica, em si mesma, é resultado de automatismos,


funcionando com harmonia desde que os equipamentos orgânicos se
encontrem em ordem.

Obedecendo ao ritmo cardíaco e às reações cerebrais, todos os


fenômenos apresentam-se repetitivos, previsíveis, dentro dos atavismos
ancestrais. Sujeita aos fatores mesológicos, alimentares nutrientes, no
66

primeiro período da existência física transcorre sem alterações,


marchando inexoravelmente para a fatalidade do seu desenvolvimento.

A vida mental se inicia por vislumbres e percepções à medida


que o Espírito se assenhoreia dos equipamentos do cérebro, que lhe
decodificam as ondas do pensamento.

Dos impulsos iniciais, instintivos, até à compreensão cósmica e


toda uma larga experiência, abre as comportas da comunicação, para
tomar-se lógico, antes de alcançar a etapa superior, que é a
identificação com a Consciência Divina.

O ser humano, vitorioso nas etapas anteriores pelas quais


passou, ao atingir o momento da razão traz, ínsitos nos refolhos das
fixações da aprendizagem intelectual, os hábitos mentais. São eles que
passam a dirigir a sua conduta, porque toda a programação existencial
começa no pensamento.

É de alta relevância considerar essa questão, porquanto no


pensamento estão as ordens do que se deve realizar e como proceder à
sua execução. Deixando-se conduzir pelas manifestações primitivas,
habituais, repetem-se, sem resultados positivos, os labores que mantêm
o ser no estágio em que se encontra, sem o valor moral para alcançar
novos patamares do processo da evolução.

Desde que no pensamento está a diretriz da conduta, pensar


corretamente deve constituir o grande desafio de quem almeja o triunfo.

Em decorrência das vivências anteriores, ficaram mais


profundamente marcados os pensamentos de dor, de angústia, de
pessimismo, em razão da sua força desequilibradora. São essas
evocações inconscientes que primeiro assaltam a casa mental do
indivíduo no seu cotidiano.

Vinculado aos mecanismos repetitivos da conduta sofredora, ele


mantém as tendências para o masoquismo, cultivando, sem dar-se
conta, os hábitos mentais geradores de conflitos e de padecimentos.

Constrói a idéia, e sofre-a, de que tudo sempre lhe há de sair mal,


não se esforçando para que as suas tentativas de mudança se coroem
de resultados positivos.

Preserva conceitos destrutivos a respeito das pessoas, coisas e


acontecimentos, alimentando a fonte das irradiações mentais de cargas
pesadas quão degenerativas, que lhe impossibilitam o direcionamento
correto, franco e saudável, que recarrega de energias realizadoras os
centros da vontade então viciada.
...
67

Autodescobrimento páginas 29~32

O Pensamento

Os psicólogos organicistas estabeleceram, categóricos, que o


pensamento é exteriorização do cérebro, já que não existe função sem
órgão. Toda e qualquer manifestação funcional procede, segundo eles,
de órgãos que a elaboram.

Compreendendo e respeitando a conceituação, anuímos com o


conteúdo, não, porém, com a forma de que se reveste a tese.

Certamente há órgãos geradores de fenômenos que se apresentam


na esfera física, embora não necessariamente materiais.

Considerando as ondas de vária constituição —elétrica, magnética,


curta, ultracurta, larga, etc. — conduzindo mensagens de diferentes
teores, incontestáveis, porque captadas e utilizadas para as
comunicações, observamos que ocorrência semelhante se dá com os
raios X, que passaram das aplicações mais simples às ultra-
sonografias, as ecografias, às tomografias, às ressonâncias magnéticas,
às complexas técnicas de diagnóstico pelo poder de penetração dos
mesmos nas intimidades do organismo, desvelando as intrincadas
malhas da organização microscópica da aparelhagem física,
estabelecendo os parâmetros da saúde e da doença, que podem ser
computados, e os seus paradigmas fixados a beneficio geral.

No que concerne ao ser biológico, não se pode, seguramente,


afirmar que seja apenas a massa com que se apresenta, e, se se o fizer,
estar-se-á infirmando a realidade da energia e dos seus campos, nos
quais se aglutinam as micropartículas que constituem os
conglomerados atômicos e, por sua vez, orgânicos, resultando no
conjunto que é o corpo, conforme a constituição perispiritual de que se
utiliza, em razão da programação moral a que se submete o Espírito no
seu processo de evolução.

Desse modo, o pensamento não procede do cérebro. Este tem a


função orgânica de registrá-lo e, vestindoo de palavras, extremá-lo,
como por intermédio da arte nas suas incontáveis apresentações.

O pensamento é exteriorização da mente, que independe da


matéria e por sua vez é originada no Espírito.
68

O Espírito possui a faculdade mental que expressa o pensamento


em todas as direções, utilizando-se do cérebro humano para comunicar
suas idéias com as demais pessoas.

Por isso mesmo, analisando-o, o Prof. Mira y Lopes estabeleceu uma


linha de progressão, na escala estequiogênica, obedecendo à visão
organicista, que apesar disso não foge à realidade espiritual,
necessitando-se somente de elasticidade mental para atravessar a ponte
de ligação entre uma e outra concepção.

Segundo o emérito mestre, a primeira expressão do pensamento —


fase inicial do processo da evolução orgânica e mental — é o primário,
no qual a linguagem se apresenta de forma instintiva, sensorial, sem
comunicação intelectiva, de natureza verbal e clara. São impulsos que
decorrem das necessidades imediatas, buscando exteriorizá-las e tê-las
atendidas.

Graças às heranças genéticas, ao processo de crescimento


(filogenético) e aos fatores mesológico-sociais, o ser passa para o pré-
mágico, no qual a fantasia se apresenta em forma de imaginação rica de
mitos que se originam no medo, nas aspirações de equilíbrio, de prazer
— períodos da caverna, da palafita — para dar início aos cultos através
dos sacrifícios humanos, como forma de aplacar a ira, a fúria dos
elementos cruéis, os deuses da vingança, da inveja, do ódio, que lhe
pareciam governar a vida, a natureza, o destino.

Naturalmente, mais tarde, vem o período mágico, que se instalou na


era agrária, dando origem às grandes civilizações do passado com toda
a concepção politeísta, inspirada nos fenômenos que se enriqueciam de
idéias mitológicas, muitas das quais, na tragédia grega, oferecem campo
para as admiráveis interpretações psicanalíticas.

A próxima fase foi a de natureza egocêntrica, caracterizada pela


ambição de ser o alvo central de tudo que passa a girar em torno do
interesse do ego em detrimento da coletividade, qual ocorre na criança.

É inevitável o processo de crescimento mental e o pensamento faz-se


lógico, entendendo a realidade concreta da vida, os fenômenos e suas
leis, interpretando o abstrato de maneira fecunda e raciocinando dentro
de diretrizes equilibradas, fundamentadas na razão. A linha de
raciocínio lógico exige a formulação de dados que facultam o
estabelecimento de fatores para que a harmonia dos conteúdos seja
aceita.

Nessa fase, o pensamento se torna intuitivo, não necessitando de


parâmetros racionais, extrapolando o limite dos dados da razão, por
expressar-se de forma inusitada no campo atemporal, viajando,
concluímos nós, para a área da paranormalidade; das percepções
extrafísicas.
69

Em uma visão espírita do pensamento, a mente plasma no cérebro a


idéia, através das multifárias reencarnações, evoluindo o ser espiritual,
desde simples e ignorante, quando se manifesta por meio do
pensamento primitivo até o momento em que, desenvolvendo todas as
potencialidades que nele jazem, estas se desvelam e se fixam nos sutis
painéis da sua constituição energética.

O mecanismo filogenético é manipulado pela mente que programa a


cerebração, pela qual exterioriza o pensamento na próxima
reencarnação, tendo por base as conquistas anteriores.
À medida que o Espírito evolui, o corpo se aprimora, face às
vibrações do perispírito que o organiza e mantém. Nesse seguimento, a
organização material depende das energias espirituais, que necessitam
do processo da reencarnação como a semente precisa do solo para
desatar a vida que nela estua embrionária e o espermatozóide com o
óvulo, no reduto próprio, para liberar a vida material.

Assim, o pensamento, que procede da máquina mental, recorre ao


cérebro a fim de fazer-se entendido no atual estágio de evolução da
humanidade.

Ocorrerá, oportunamente, que o pensamento no campo intuitivo se


transmitirá de um a outro cérebro, telepaticamente, sem o impositivo da
verbalização, da expressão material: sons, cores, imagens, formas...

Disciplinar e edificar o pensamento através da fixação da mente em


idéias superiores da vida, do amor, da arte elevada, do bem, da
imortalidade, constitui o objetivo moral da reencarnação, de modo que a
plenitude, a felicidade seja a conquista a ser lograda.

Pensar bem é fator de vida que propicia o desenvolvimento, a


conquista da Vida.

7 – Imaginação / Imagens / Fantasia

Plenitude páginas 131~133

XIV — Libertação do Sofrimento


70

Diante da infinita gama dos sofrimentos que dilaceram as


criaturas, a finalidade da terapia profunda é arrancar-lhe as causas
geradoras.

Ao lado de todo o contributo ético-moral que suaviza o sofrimento


e altera-lhe a causalidade, produzindo gêneses saudáveis para o futuro,
a assistência médica, quando se tratem de questões na área da saúde
física, assim como a assistência das ciências psíquicas no
comportamento alienado ou nos conflitos da personalidade são de
relevante valor.

Seja qual for o tipo de sofrimento, as suas garras produzem


chagas de demorado processo degenerativo, que leva, às vezes, à
alucinação, ao despautério, às arbitrariedades, especialmente as
pessoas destituídas de resistências morais.

Normalmente, a sua intensidade é captada conforme a


sensibilidade de quem o experimenta.

Sofredores há, na esfera física, portadores de alta capacidade para


suportar-lhe a injunção, que, no entanto, tombam, desalentados,
quando eles se apresentam no campo moral.

A recíproca é verdadeira, consagrando os heróis das resistências


quase inacreditáveis, sob o jugo dos terríveis acúleos cravados nos
tecidos da alma.

O sofrimento está muito relacionado com o processo de evolução


espiritual.

A ampla sensibilidade faculta-lhe maior profundida emocional,


que responde pelas angústias e desagregações interiores, sem
queixumes, nem acusações.

O padecente silencia a dor e deixa-se estraçalhar interiormente,


em especial quando tomba nas aflições morais, derivadas da traição, da
injustiça, da crueldade, do abandono, do isolamento...

Se possuem fé religiosa e transferem o testemunho para o futuro


espiritual, suportam melhor as lâminas cortantes com equilíbrio,
logrando vencer a conjuntura, superando-se e saindo da crise com
amadurecimento e paz. As enfermidades de larga duração
aformoseiam-lhes o caráter e dão-lhes maior quota de amor aos
sentimentos, que transbordam de ternura.

Quando atingem aqueles que estagiam em faixas menos


evolutivas, as enfermidades brutalizam-nos e asselvajam-lhes as bases
dos sentimentos, que se desenvolviam noutra direção benéfica.
71

O espiritismo, em razão da sua complexa estrutura cultural,


científica, moral e religiosa, é a doutrina capaz de equacionar o
sofrimento, liberando as suas vitimas.

Carl Gustav Jung foi possivelmente quem melhor penetrou a


realidade do sofrimento, propondo a sua elucidação e cura. Enquanto
a preocupação geral se baseava nos resultados físicos, no bem-estar
emocional, sob a angulação médica, ele recorreu a dois métodos para
encontrar-lhe a gênese e a solução: os sonhos e a imaginação.

Embora reconhecesse que toda generalidade peca por


insuficiência de recursos para o atendimento, desde que cada caso é
específico e exige uma linguagem terapêutica especial, adotava os dois
comportamentos como método eficaz para os resultados saudáveis.

Ao mesmo tempo recomendava o apoio religioso, portador de


excelentes contribuições para a cura da alma, na qual se sediam todas
as causas dos sofrimentos.

A individuação e a marcha na direção do numinoso constituíram-


lhe valiosos mecanismos terapêuticos para os problemas dos pacientes
que o buscavam.

A promoção moral proposta pelo espiritismo e a contribuição


extraordinária que dá, através do fato de ser a alma imortal herdeira
dos próprios atos que, equivocados, são geradores de sofrimentos — e
da reencarnação — em cujos renascimentos o ser espiritual se depura,
mediante, não raro, o sofrimento — constituem terapias irrecusáveis,
no programa de eliminação da dor no homem e na Terra.

O sofrimento tem vigência transitória, por ser efeito do


desequilíbrio da energia que, direcionada para o bem e para o amor,
deixa de desarticular-se, facultando aos seres a iluminação, a
plenitude, portanto, a saúde integral, que a todos os seres do mundo
está reservada pelo Pai Criador.

Aula Expositiva

8 - relação Mitos Arquétipos


72

O Homem Integral páginas 43~52

Mitos

A história do homem é a conseqüência dos mitos e crendices


que ele elaborou para a sobrevivência, para o seu pensamento ético.

Medos e ansiedades, aspirações e sofrimentos estereotipam-se em


fórmulas e formas mitológicas que lhe refletem o estágio evolutivo, em
alguns deles perfeitamente consentâneos com as suas conquistas
contemporâneas.

As concepções indianas lendárias, as tradições templárias dos


povos orientais, recuperam as suas formulações nas tragédias gregas,
excelentes repositórios dos conflitos humanos, que a mitologia expõe,
ora com poesia, em momentos outros com formas grotescas de dramas
cruéis.

A vingança de Zeus contra Prometeu, condenado à punição


eterna, atado a um rochedo, no qual, um abutre lhe devorava o fígado
durante o dia e este se refazia à noite para que o suplício jamais
cessasse, humaniza o deus vingador e despeitado, porque o ser, que ele
criara, ao descobrir o fogo, adquirira o poder de iluminar a Terra,
tornando-se uma quase divindade, O ciúme e a paixão humana
cegaram o deus, que se enfureceu.

O criador desejava que o seu gerado fosse sempre um inocente,


ignorante, dependente, sem consciência ética, sem discernimento, a fim
de que pudesse, o todo-poderoso, nele comprazer-se.

A desobediência, ingênua e curiosa do ser criado, trouxe-lhe o


ignóbil, inconcebível e imerecido castigo, caracterizando a falência do
seu gerador.

Com pequenas variações vemos a mesma representação em


outros povos e doutrinas de conteúdo infantil, que se não dão conta ou
não querem encontrar o significado real da vida, a sua representação
profunda, castigando aqueles que lhe desobedecem e preferem a idade
adulta da razão, abandonando a infância.

O pensamento cartesiano, com o seu “senso prático”, deu-lhes


o primeiro golpe e lentamente decretou a morte dos mitos e das crenças.

Se, de um lado, favoreceu ao homem que abandonasse a


tradição dos feiticeiros, dos bichos-papões, das cegonhas trazendo
bebês, eliminou também as fadas madrinhas, os gênios bons, os anjos-
da-guarda. E quando já se acreditava na morte dos mitos,
considerando-se as mentes adultas liberadas deles, eis que a tecnologia
73

e a mídia criaram outros hodiernos: os super-homens, os Hemans, os


invasores marcianos, os homens invisíveis, gerando personagens
consideradas extraordinárias para o combate contra o mal sem trégua
em nome do bem incesante.

Concomitantemente, a robótica abriu espaços para que a


imaginação ampliasse o campo mitológico e as máquinas eletrônicas, na
condição de simuladores, produzissem novos heróis e ases vencedores
no contínuo campeonato das competições humanas.
O exacerbar do entusiasmo tornou a ficção uma realidade
próxima, permitindo que os jovens modernos confundam as suas
possibilidades limitadas com as remotas conquistas da fantasia.

Imitam os heróis das histórias em quadrinhos, tomam posturas


semelhantes aos líderes de bilheteria, no teatro, no rádio, no cinema, na
televisão e chegam a crer-se imortais físicos, corpos indestrutíveis ou
recuperáveis pelos engenhos da biônica, igualmente fabricante de seres
imbatíveis.

Retorna-se, de certo modo, ao período em que os deuses


desciam a Terra, humanizando-se, e os magos com habilidades místicas
resolviam quaisquer dificuldades, dando margem a uma cultura
superficial e vandálica de funestos resultados éticos.

A violência, que irrompe, desastrosa, arma os novos Rambos


com equipamentos de vingança em nome da justiça, enfrentando as
forças do mal que se apresentam numa sociedade injusta, promovendo
lutas lamentáveis, sem controle.

As experiências pessoais, resultado das conquistas éticas


cedem lugar aos modelos fabricados pela imaginação fértil, que
descamba para o grotesco, fomentando o pavor, ironizando os valores
dignos e desprezando as Instituições.

A falência do individualismo industrial, a decadência do


coletivismo socialista deram lugar a novas formas de afirmação, nas
quais o inconsciente projeta os seus mitos e assenhoreia-se da
realidade, confundindo-a com a ilusão.

As virtudes apresentam-se fora de moda e a felicidade surge na


condição de desprezo pelo aceito e considerado, instituindo a
extravagância - novo mito - como modelo de auto-realização, desde que
choque e agrida o convívio social.

O perdido “jardim do Éden” da mitologia bíblica reaparece na


grande satisfação do “fruto do pecado”, transformando a punição em
prazer e desafiando, mediante a contínua desobediência, o Implacável
que lhe castigou o despertar da consciência.
74

Na sucessão de desmandos propiciados pelos mitos


contemporâneos toma corpo a saudade da paz - a inocência
representativa do bem - e a experiência, demonstrando a inevitabilidade
dos fenômenos biológicos do desgaste do cansaço, do envelhecimento e
da morte, propicia uma revisão cultural com amadurecimento das
vivências, induzindo o ser a uma nova busca da escala de valores
realmente representativos das aspirações nobres da vida.
A solidão e a ansiedade que os mitos mascaram, mas não
equacionam, rompem a couraça de indiferença do homem pela sua
profunda identidade, levando-o a um amadurecimento em que o grupo
social dele necessita para sobreviver, tanto quanto lhe é importante,
favorecendo-o com um intercâmbio de emoções e ações plenificadoras.

Os mitos, logo mais, cederão lugar a realidades que já se


apresentam, no início, Como símbolos de uma nova conquista
desafiadora e que se incorporarão, a pouco e pouco, ao cotidiano,
ensinando disciplina, controle, respeito por si mesmo, aos outros, às
autoridades, que no homem se fazem indispensáveis para a feliz
coexistência pacífica.

A Busca Da Realidade

Autodescobrimento

O esforço para a aquisição da experiência da própria identidade


humanizada leva o indivíduo ao processo valioso do autodescobrimento.
Enquanto empreende a tarefa do trabalho para a aquisição dos valores
de consumo isola-se, sem contribuir eficazmente para o bem-estar do
grupo social, no qual se movimenta.

Os seus empreendimentos levam-no a uma negação da


comunidade a benefício pessoal, esperando recuperar esta dívida,
quando os favores da fortuna e da projeção lhe facultarem o desfrutar
do prazer, da aposentadoria regalada.

As suas preocupações giram em torno do imediatismo, da


ambição do triunfo sem resposta de paz interior. A sociedade, por sua
vez, ignora-o, pressentindo nele um usurpador.

De alguma forma é levado ao competitivismo individualista,


criando um clima desagradável. A sua ascensão será possível mediante
a queda de outrem, mesmo que o não deseje.

Toma-se, assim, um adversário natural. O seu produto vende na


razão direta em que aumentam as necessidades dos outros e a sua
prosperidade se erige como conseqüência da contribuição dos demais.
Não cessam as suas atividades na luta pelo ganha-pão.
75

Naturalmente, esse comportamento passa a exigir, depois de


algum tempo, que o indivíduo se associe a outro, formando uma
empresa maior ou um clube de recreação, ignorando-se interiormente e
buscando, sem cessar, as aquisições de fora.
A ansiedade, o medo, a solidão íntima, tornam-se-lhe
habituais, uma de cada vez, ou simultaneamente, desgastando-o,
amargurando-o.

O homem, pela necessidade de afirmar-se no empreendimento


a que se vincula, busca atingir o máximo, aspira por ser o número um e
logra-o, às vezes.
A marcha inexorável do tempo, porém, diminui-lhe as
resistências, solapando-lhe a competitividade, sendo substituído pelos
novos competidores que o deixam à margem.

Mesmo que ele haja alcançado o máximo, os sócios atuais


consideram-no ultrapassado, prejudicial à Organização por falta de
atualidade e os filhos concedem-lhe postos honrosos, recreações
douradas, lucros, desde que não interfira nos negócios...

Ocorre-lhe a inevitável descoberta sobre a sua inutilidade, isto


produzindo-lhe choque emocional, angústia ou agressividade
sistemática, em mecanismo de defesa do que supõe pertencer-lhe.

O homem, realmente não se conhece. Identifica e persegue


metas exteriores. Camufla os sentimentos enquanto se esfalfa na
realização pessoal, sem uma correspondente identificação íntima.

A experiência, em qualquer caso, é um meio propiciador para o


autoconhecimento, em razão das descobertas que enseja àquele que
tem a mente aberta aos valores morais, internos.

Ela demonstra a pouca significação de muitas conquistas materiais,


econômicas e sociais diante da inexorabilidade da morte, da injunção
das enfermidades, especialmente as de natureza irreversível, dos golpes
afetivos, por defrontar-se desestruturado, sem as resistências
necessárias para suportar as vicissitudes que a todos surpreendem.

O homem possui admiráveis recursos interiores não


explorados, que lhe dormem em potencial, aguardando o
desenvolvimento.

A sua conquista faculta-lhe o autodescobrimento, o encontro


com a sua realidade legítima e, por efeito, com as suas aspirações reais,
aquelas que se convertem em suporte de resistência para a vida,
equipando-o com os bens inesgotáveis do espírito.
76

Necessário recorrer a alguns valores éticos morais, a coragem


para decifrar-se, a confiança no êxito, o amor como manifestação
elevada, a verdade que está acima dos caprichos seitistas e grupais, que
o pode acalmar sem o acomodar, tranqüilizá-lo sem o desmotivar para a
continuação das buscas.
Conseguida a primeira meta, uma nova se lhe apresenta, e
continuamente, por considerar-se o infinito da sabedoria e da Vida.

É do agrado de algumas personalidades neuróticas, fugirem de


si mesmas, ignorarem-se ou não saberem dos acontecimentos, a fim de
não sofrerem.

Ledo engano! A fuga aturde, a ignorância amedronta, o


desconhecido produz ansiedade, sendo, todos estes, estados de sofri-
mento.
O parto produz dor, e recompensa com bemestar, ensejando
vida.

O autodescobrimento é também um processo de parto,


impondo a coragem para o acontecimento que libera.

Examinar as possibilidades com decisão e enfrentá-las sem


mecanismos desculpistas ou de escape, constituí o passo inicial.

Edipo, na tragédia de Sófocles, deseja conhecer a própria origem.


Levado mais pela curiosidade do que pela coragem, ao ser informado
que era filho do rei Laio, a quem matara, casando-se com Jocasta, sua
mãe, desequilibra-se e arranca os olhos.

Cegando-se, foge à sua realidade, ao autodescobrimento e perde-


se, incapaz de superar a dura verdade.

A verdade é o encontro com o fato que deve ser digerido, de


modo a retificar o processo, quando danoso ou prosseguir vitalizando-o,
para que se o amplie a benefício geral.

Ignorando-se, o homem se mantém inseguro. Evitando aceitar


a sua origem tomba no fracasso, na desdita.

Ademais, a origem do homem é de procedência divina.


Remontar aos pródromos da sua razão com serena decisão de
descobrir-se, deve ser-lhe um fator de estímulo ao tentame.O reforço de
coragem para levantar-se, quando caia, o ânimo de prosseguir, se
surgem conspirações emocionais que o intimidam, fazem parte de seu
programa de enriquecimento interior.

O auto-encontro enseja satisfações estimuladoras, saudáveis.


Esse esforço deve ser acompanhado pela inevitável confiança no êxito,
77

porquanto é ambição natural do ser pensante investir para ganhar,


esforçar-se para colher resultados bons.

Certamente, não vem prematuramente o triunfo, nem se torna


necessário. Há ocasião para semear, empreender, e momento outro
para colher, ter resposta. O que se não deve temer é o atraso dos
resultados, perder o estímulo porque os frutos não se apresentam ou
ainda não trazem o agradável sabor esperado. Repetir o tentame com a
lógica dos bons efeitos, conservar o entusiasmo, são meios eficazes para
identificar as próprias possibilidades, sempre maiores quanto mais
aplicadas.

Ao lado do recurso da confiança no êxito, aprofunda-se o


sentimento de amor, de interesse humano, de participação no grupo
social, com resultado em forma de respeito por si mesmo, de afeição à
própria pessoa como ser importante que é no conjunto geral.

Discute-se muito, na atualidade, a questão das conquistas éticas


e morais, intentando-se explicar que a falta de sentimento e de amor
responde pelos desatinos que aturdem a sociedade.

Têm razão, aqueles que pensam desta forma. Todavia, parece-


nos que a causa mais profunda do problema se encontra na dificuldade
do discernimento em torno dos valores humanos.

O questionamento a respeito do que é essencial e do que é


secundário inverteu a ordem das aspirações, confundindo os
sentimentos e transformando a busca das sensações em realização
fundamental, relegando-se a plano inferior as expressões da emoção
elevada, na qual, o belo, o ético, o nobre se expressam em forma de
amor, que não embrutece nem violenta.

A experiência do amor é essencial ao autodescobrimento, pois


que, somente através dele se rompem às couraças do ego, do
primitivismo, predominante ainda em a natureza humana.

O amor se expande como força co-criadora, estimulando todas


as expressões e formas de vida. Possuidor de vitalidade, multiplica-a
naquele que o desenvolve quanto na pessoa a quem se dirige. Energia
viva, pulsante, é o próprio hálito da Vida a sustentá-la. A sua aquisição
exige um bem direcionado esforço que deflui de uma ação mental
equilibrada.

Na incessante busca da unidade, ora pela ciência que tenta


chegar a Causalidade Universal, ou através do mergulho no insondável
do ser, podemos afirmar que os equipamentos que proporcionaram a
desintegração do átomo, complexos e sofisticados, foram conseguidos
com menor esforço, em nosso ponto de vista, do que a força interior
necessária para a implosão do ego, em que busque a plenitude.
78

A formidanda energia detectada no átomo, propiciadora do


progresso, serviu, no começo, para a guerra, e ainda constitui ameaça
destruidora, porque, aqueles que a penetraram, não realizaram uma
equivalente aquisição no sentimento, no amor, que os levaria a pensar
mais na humanidade do que em si e nos seus.
Amar torna-se um hábito edificante, que leva à renúncia sem
frustração, ao respeito sem submissão humilhante, à compreensão
dinâmica, por revelar-se uma experiência de alta magnitude, sempre
melhor para quem o exterioriza e dele se nutre.

Na realização do cometimento afetivo surge o desafio da


verdade, que é a meta seguinte.

Ninguém deterá a verdade, nem a terá absoluta. Não nos


referimos somente à verdade dos fatos que a ciência comprova, mas
aquela que os torne verazes: verdade como veracidade, que depende do
grau de amadurecimento da pessoa e da sua coragem para assumi-la.

Quando se trata de uma verdade científica, ela depende, para


ser aceita, da honestidade de quem a apresenta, dos seus valores
morais. Indispensável, para tanto, a probidade de quem a revela, não
sendo apenas fruto da cultura ou do intelecto, porém, de uma alta
sensibilidade para percebê-la. Defrontamo-la em pessoas humildes
culturalmente, mas probas, escasseando em indivíduos letrados, porém
hábeis na arte de sofismar.

A verdade faculta ao homem o valor de recomeçar inúmeras


vezes à experiência equivocada até acertá-la.

Erra-se tanto por ignorância como pela rebeldia. Na ignorância,


mesmo assim, há sempre uma intuição do que é verdadeiro, face à
presença íntima de Deus no homem. A rebeldia gera a má fé, o que
levou Nietzsche a afirmar com certo azedume: “Errar é covardia!”, face à
opção cômoda de quem elege o agradável do momento, sem o esforço da
coragem para lutar pelo que é certo e verdadeiro.

A aquisição da verdade amadurece o homem, que a elege e


habitua-se à sua força libertadora, pois que, somente há liberdade real,
se esta decorre daquela que o torna humilde e forte, aberto a novas
conquistas e a níveis superiores de entendimento.

Polígrafo Próprio
79

9 – Funções da Consciência

Momentos de consciência páginas 50~54

Maturidade e Consciência

A consciência atinge a plena conquista, quando o ser amadurece


no seu processo psicológico de evolução. Esse amadurecimento é o
resultado de um contínuo esforço em favor do autoconhecimento e da
coragem para enfrentar-se, trabalhando com esforço íntimo as
limitações e os processos infantis que nele ainda predominam.

Não sabendo superar as frustrações, fixa-as no inconsciente e


torna-se sua vítima, fugindo para os mecanismos da irresponsabilidade
toda vez que se vê a braços com dificuldades e enfrentamentos.

A imaturidade psicológica não se restringe ao período de


desenvolvimento da infância, e sim, às várias fases da vida,
considerando-se que a aprendizagem e o crescimento não cessam
nunca, tornando-se uma constante até o momento da individuação, no
qual o espírito comanda a matéria e o psíquico mantém-se em
harmonia com o físico.

Não seja de estranhar que indivíduos adultos mantenham


comportamentos infantis e que jovens se apresentem com equilibrada
maturidade.

Naturalmente, o espírito é o agente da vida e dele procedem os


valores que são ou não considerados durante a existência corporal.

O mecanismo para o amadurecimento psicológico do ser


expressa-se de maneira natural, aguardando que à vontade e o
contínuo esforço, para o reconhecimento das debilidades físicas,
emocionais e outras, facultem o ânimo para corrigi-las e superá-las.

As funções psíquicas, que Jung classificou em número de quatro


—sensorial, sentimental, intelectual e intuitiva — devem constituir um
todo harm4inico, sem predominância de alguma em detrimento de
outra, proporcionando o amadurecimento, portanto, a plena realização
da consciência.

*
80

O amadurecimento psicológico se exterioriza quando se ama,


quando se alcança esse sentimento oblativo, demonstrando a libertação
da idade infantil.

Egocêntrica e ambiciosa, a criança apega-se à posse e não doa,


exigindo ser protegida e jamais protegendo, amada sem saber amar,
nem como expressá-lo. O seu amor é possessivo e sempre se revela no
receber, no tomar. O seu tempo é presente total.

O adulto, diferindo dela, compreende que o amor é a ciência e


arte de doar, de proporcionar felicidade a outrem.

O seu tempo é o futuro, que o momento constrói etapa a etapa, à


medida que lhe amadurecem a afetividade e o psiquismo.

Enquanto o amor não sente prazer em doar, experiência o período


infantil, caracterizando-se pelo ciúme, pela insegurança, pelas
exigências descabidas, portanto, egocêntrico, impróprio.

Quem ama com amadurecimento, plenifica-se com a felicidade do


ser amado e beneficia-se pelo prazer de amar.

Já nele uma compreensão de liberdade que alcança os patamares


elevados da renúncia pessoal, em favor da ampla movimentação e
alegria do ser amado.

O que hoje não consegue, semeia em esperança para o amanhã.

O idoso amadurecido realiza-se em constantes experiências de amor e


vivência culturais, emocionais, sociais, beneficentes, livres do passado,
das reminiscências que lhe constituem prazer fruído, no entanto, sem
sentido.

Como o crescimento do homem maduro não termina, a sua


consciência promove-o à certeza de que, desvestido do corpo, ele
prosseguirá evoluindo.

Sintetizando toda a sabedoria de que era portador, Jesus, na


condição de Psicólogo Excelente, prescreveu para as criaturas humanas
a necessidade de se amarem umas às outras.

Com esta lição ímpar, não somente reformulou as propostas


egocêntricas da Lei Antiga, de reações cruéis, portanto, infantis, como
abriu perspectivas extraordinárias para a integração da criatura com o
seu Criador, o Amor Supremo.
81

Posteriormente, buscando propiciar o amadurecimento das


criaturas, Allan Kardec indagou aos Mensageiros da Luz, qual a mais
meritória de todas as virtudes e eles responderam, qual está registrado
em O Livro dos Espíritos, na resposta de número 893:

— Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam


progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência
voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da
virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do
próximo, sem pensamento oculto.
A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada
caridade.
Porquanto, através do autoconhecimento, o ser pensante
descobre as próprias imperfeições, trabalha-as, e, levado pela
necessidade gregária, sai da solidão e amua.

10 – Os Complexos Familiares

O Homem Integral páginas 89~93

Mecanismos de evasão

A larga infância psicológica das criaturas é dos mais graves


problemas, na área do comportamento humano.

Habituada, a criança, a ter as suas necessidades e anseios


resolvidos, imaturamente, pelos adultos - pais, educadores, familiares,
amigos - ou apenas atendidos pela violência do clã e da sociedade,
nega-se a crescer, evitando as responsabilidades que enfrentará.

No primeiro caso, porque tudo lhe chega às mãos de forma


fácil, dilata o período infantil, acreditando que a vida não passa de um
joguete e o seu estágio egocêntrico deve permanecer, embora a
mudança de identidade biológica, de que mal se dá conta.

Mimada, acomoda-se a exigir e ter, recusando-se o esforço bem dirigido


para a construção de uma personalidade equilibrada, capaz de
enfrentar os desafios da vida, que lhe chegam, a pouco e pouco.

Acreditando-se credora de todos os direitos, cria mecanismos


inconscientes de evasão dos deveres, reagindo a eles pelas mais
variadas como ridículas formas de atitude, nas quais demonstra a
prevalência do período infantil.
No segundo caso, sentindo-se defraudada pelo que lhe foi
oferecido com má vontade e azedume ou sistematicamente negado, a
82

criança se transfere de uma para outra faixa etária, sem abandonar as


seqüelas da sua castração, buscando realizar os desejos sufocados,
mas, vivos, quando lhe surja a oportunidade.

Em ambos acontecimentos, o desenvolvimento emocional não


corresponde ao físico e ao intelectual, que não são afetados pelos
fenômenos psicológicos da imaturidade.

Excepcionalmente, pode suceder que o alargamento do período


infantil, por privação dos sentimentos e pelas angústias, produza
distúrbios na saúde física como na mental, gerando dilacerações
profundas, difíceis de sanadas.

Na generalidade, porém, o que sucede são as apresentações de


adulto susceptível, medroso, instável, ciumento, que não superou a
crise da infância, nela permanecendo sob conflitos lastimáveis.

As figuras domésticas representadas pelo pai e pela mãe


permanecem em atividade emocional, no inconsciente, resolvendo os
problemas ou atemorizando o indivíduo, que se refugia em mecanismos
desculpistas para não lutar, mantendo-se distante de tudo quanto
possa gerar decisão, envolvimento responsável, enfrentamento.

Fugindo das situações que exigem definição, parte para as


formulações e comportamentos parasitas, buscando amparo nas
pessoas que considera fortes e são elegidas como seus heróis ou seus
superiores, porquanto, tudo que elas empreendem se apresenta coroado
de êxito.

Não se dá conta da luta que travam, das renúncias e


sacrifícios que se impõem. Esta parte, não lhe interessa, ficando
propositadamente ignorada.

Como efeito cresce-lhe a área dos conflitos, da personalidade,


com predominância da autocompaixão, num esforço egoísta de receber
carinho e assistência, sem a consciência da necessidade de retribuição.

Não lhe amadurecendo os sentimentos da solidariedade e do


dever, crê-se merecedor de tudo, em detrimento do esforço de ser útil ao
próximo e à comunidade, esquecendo-se das falsas necessidades para
tornar-se elemento de produção em favor do bem geral.

Instável emocionalmente, ama como fuga, buscando apoio, e


transfere para a pessoa querida as responsabilidades e preocupações
que lhe são pertinentes, tornando o vínculo afetivo insuportável para o
eleito.
Outras vezes, a imaturidade psicológica reage pela forma de
violência, de agressividade, decorrentes dos caprichos infantis que a
vida, no relacionamento social, não pode atender.
83

Uma peculiar insensibilidade emocional domina o indivíduo,


que se desloca, por evasão psicológica, do ambiente e das pessoas com
quem convive, poupando-se a aflições e somente considerando os
próprios problemas, que o comovem, ante a frieza que exterioriza
quando em relação aos sofrimentos do próximo.

O homem nasceu para a auto-realização, e faz parte do grupo


social no qual se encontra, a fim de promovê-lo crescendo com ele. Os
problemas devem constituir-lhe meio de desenvolvimento, em razão de
serem-lhe estímulos-desafios, sem os quais o tédio se lhe instalaria nos
painéis da atividade, desmotivando-o para a luta.

Desse modo, são parte integrante da estruturação mental e


emocional, responsáveis pelos esforços do próximo e do grupo em
conjunto, para a sobrevivência de todos.

O solitário é prejuízo e dano na economia social, perturbando


a coletividade.

Fatores que precedem ao berço, presentes na historiografia do


homem, decorrentes das suas existências anteriores, situam-no, no
curso dos renascimentos, em lares e junto aos pais de que necessita, a
fim de superar as dívidas, desenvolver os recursos que lhe são inerentes
e lhe estão adormecidos, dando campo à fraternidade que deve viger em
todos os seus atos.

Assim, cumpre-lhe libertar-se da infância psicológica, mediante


as terapias competentes, que o desalgemam dos condicionamentos
perniciosos, ao mesmo tempo trabalhando-lhe à vontade, para assumir
as responsabilidades que fazem parte de cada período do
desenvolvimento físico e intelectual da vida.

Partindo de decisões mais simples, o exercício de ações


responsáveis, nas quais o insucesso faz parte dos empreendimentos, o
homem deve evitar os mecanismos de evasão, assim como as
justificativas sem sentido, tais: não tenho culpa, não estou acostumado,
nada comigo dá certo, aí ocultando a sua realidade de aprendiz, para
evitar as outras tentativas que certamente se farão coroar de êxitos.

A experiência do triunfo é lograda através de sucessivos erros.


O acerto, nos primeiros tentames, não significa a segurança de
continuados resultados positivos.
Em todas as áreas do comportamento estão presentes a glória e
o fracasso, como expressões do mesmo empreendimento.

A fixação de qualquer aprendizagem dá-se mediante as


tentativas frustradas ou não. Assim, vencer o desafio, é esforço que
resulta da perseverança, da repetição, sem enfado nem cansaço.
84

Toda fuga psicológica contribui para a manutenção do medo da


realidade, não levando, a lugar algum. Mediante sua usança,
aumentam os receios de luta, complicam-se os mecanismos de
subestima pessoal e desconsideração pelos próprios valores.

O homem, no entanto, possuí recursos inesgotáveis que estão


ao alcance do seu esforço pessoal.

Aquele que se demora somente na contemplação do que deve


fazer, porém, não se anima a realizá-lo, perde excelente oportunidade de
desvendar-se, desenvolvendo as capacidades adormecidas que o podem
brindar com segurança e realização interior.

Todo o esforço a ser envidado, em favor da libertação dos


mecanismos de fuga, contribui para apressar o equilíbrio emocional, o
amadurecimento psicológico, de modo a assumir a sua humanidade,
que é a característica definidora do indivíduo: sua memória, seus
valores, seus atos, seu pensamento.

A fuga, portanto, consciente ou não, no comportamento


psicológico, deve ser abolida, por incondizente com a lei do progresso,
sob a qual todas as pessoas se encontram submetidas pela fatalidade
da evolução.

Autodescobrimento páginas 159~163

Triunfo Sobre O Ego

O desenvolvimento intelectual do ser nem sempre é


acompanhado pelo de natureza emocional.

A conquista do conhecimento cultural faz-se com relativa


facilidade, quando se é portador de equilíbrio mental, mediante o
estudo, o exercício, as leituras. No entanto, o amadurecimento
psicológico é mais complexo, exigindo contínua atividade moral e
cuidadosa realização pessoal.
Muitos fatores contribuem para essa ocorrência, na generalidade
dos fenômenos emocionais. Entre outros, destacamos os atavismos
culturais e sociais, no que dizem respeito à infância e aos poucos
direitos que lhe são concedidos durante a formação da personalidade da
criança.
85

Rigidez no lar, como negligência na educação, geram, na sua


psique, pavores e comportamentos esdrúxulos, que a acompanharão até
à idade adulta, tomando-a insegura, pusilânime, desorganizada,
dependente...

Toda vez que esse adulto enfrenta desafios, fugirá deles ou


procurará mecanismos escapistas para esconder os temores,
enfermando ou considerando-se incapaz, deprimindo-se.

Noutras vezes, as reações que assumirá diante das lutas a que


seja convocado, fazem-se caracterizar pelo ciúme, pela mágoa, pela
raiva, pelo ressentimento, particularidades do ser infantil não
desenvolvido, ainda imaturo.

Normalmente desamado, guarda a imagem da severidade com


que foi educado no lar e toma-se ditatorial, indiferente, impiedoso.
Reflete aí o comportamento ancestral, que os pais e familiares tiveram
para com ele e que, agora, automaticamente demonstra, escondendo os
próprios conflitos sob a máscara da dureza, da insensibilidade.

A criança insegura, que permanece no subconsciente do ser


adulto, dele faz um infeliz, porque o impele a comportamentos
ambivalentes, instáveis, ilógicos.

No intimo ele teme, e exterioriza agressividade; sente necessidade


de carinho, e desvela raiva, ódio; precisa de apoio, de amparo, no
entanto foge, isola-se... Sofre carência de afetividade, disfarçando-a
mediante bem urdida crueldade; busca compreensão, mas prossegue
agindo com inclemência.

Quase sempre esse adulto, que não amadureceu


psicologicamente, sente-se deslocado do Si profundo e do meio social
onde se encontra.

Para ocultar o desamor por si mesmo adorna-se de coisas que


chamam a atenção, e busca prazeres que lhe não saciam a fome dos
desejos.

No fundo, odeia a própria debilidade de caráter, invejando os


fortes, detestando aqueles que lhe parecem superiores, assim travando
lutas íntimas intérminas, quais atormentados Davis contra os Golias
das paixões internas, que não consegue vencer.

Identificada na infância, que não foi vivida com felicidade nem


amor, a causa da sua insegurança, os resíduos daquele período
persistem amargurando por toda a existência, caso a pessoa não se
resolva pela decisão de reencontrar-se e amar-se, enfrentando a sua
criança interior e fazendo-a crescer, realizar-se.
86

Enquanto essa providência não for tomada, a inquietação infantil


ressaltará em todos os seus atos, cada vez apresentando-se sob disfarce
diferente.

A felicidade, o equilíbrio e a auto-realização merecem todo o


investimento de esforço pessoal, de modo a erradicar esses fatores de
perturbação que ficaram ignorados, porém continuam pulsantes e
dominadores.

Costuma-se asseverar com certa realidade que, no íntimo, todos


os indivíduos são crianças carentes de amparo, de ternura, de
entendimento. Há razões subjacentes nessa afirmativa, graças à
herança psicológica infantil da insatisfação e dos medos, da crueldade e
da agressividade que ficaram estratificadas no subconsciente, sem
libertação, sem conscientização da sua realidade como ser digno.
Atemorizada, a criança, pelas recompensas e pelos castigos, ao
libertar-se da sujeição dos pais ou educadores severos, permanece
presa às regalias como ao medo das punições divinas, perdendo a
própria identidade, confundindo-se, vítima permanente de infundada
consciência de culpa, quando não a tem obnubilada temporariamente
pela presunção, pela prepotência.
Por melhor que aja, sempre se cobra mais, afirmando que se
poderia haver desempenhado com perfeição e profundidade.
Quando se equivoca, perturba-se, deixando que a criança interior
assuma o comando da sua conduta, passando a ter medo do
correspondente castigo, do qual fica à espera, em conflito.
É indispensável que se faça uma revisão desses conteúdos
psicológicos, enfrentando com amor a própria infância não superada, a
fim de diluir as fixações, mediante afirmações novas e visualizações
afáveis, amorosas, que se sobreponham às de natureza perturbadora,
crescendo, a pouco e pouco, na emoção, até atingir o amadurecimento
que lhe corresponda à idade real.

Grande número de conflitos, cujas raízes perduram no período


infantil, cede lugar à segurança de comportamento, de afetividade,
facultando o auto-amor, bem como o amor ao próximo, certamente
depois de realizar esse encontro com os temores ocultos, que não mais
se justificam, deixando de ser fantasmas invencíveis...

Esse esforço bem direcionado, graças ao autodescobrimento,


pode ser considerado um renascimento psicológico na vitoriosa
reencarnação, cuja meta é desenvolver os valores ínsitos no Espírito e
reparar as opções que geraram provas e expiações na passada
experiência carnal.
Até esse momento o ego era caprichoso, dominador, porque
permanecia com mais vigor do que o self, não se permitindo superar as
paixões primárias e alucinantes.
87

Prevalecia como fonte de auto-sustentação, escamoteando a


inferioridade através de reações intempestivas, caprichosas, como efeito
natural da má formação do caráter psicológico.

A atração do self enseja o arrebentar das algemas, no entanto a


sua conquista é interior, enriquecida de alegria e de renúncias, sem
medos, nem ambições sem significado real.

A reflexão em tomo dos objetivos da existência física é imperativo


relevante para o amadurecimento psicológico, fator indispensável para a
harmonia do indivíduo que se abre ao Si profundo.

Com essa realização, os significados das ocorrências passam a


ter profundidade, perdendo o caráter perturbador, afugente,
egocêntrico...

Decorre dessa conquista, concomitantemente, admirável


compreensão das limitações e fraquezas próprias, como das demais
pessoas, que se tornam dignas de estesia e solidariedade, face ao
desenvolvimento da consciência em nível superior.

Repartindo o sentimento latente de amor, o adulto psicológico


recebe amor, e a criança íntima, acalmada, cede lugar ao ser
desenvolvido, equilibrado, portanto saudável.

A harmonia emocional deve acompanhar a intelectual, e vice-


versa, trabalhando pelo progresso espiritual na busca da bem-
aventurança que a todos aguarda no término da jornada evolutiva, que
é a meta.

Amor, Imbatível Amor páginas 79~83

Feridas E Cicatrizes Da Infância

Tem sido estabelecido através da cultura dos tempos, que a


infância é o período mais feliz da existência humana, exatamente pela
falta de discernimento da criança, e em razão das suas aspirações que
não passam de desejos do desconhecido, de necessidades imediatas, de
ignorância da realidade.

Os seus divertimentos são legítimos, porque a eles se entrega em


totalidade, sem qualquer esforço, graças à imaginação criadora que a
transporta para esse mundo subjacente do crer naquilo que lhe parece.
Não estando a personalidade ainda formada, não há dissociação entre o
88

que tem existência real e aquilo que somente se fundamenta na


experiência mental.

A criança atravessa esse período psicologicamente feliz, sem o


saber, com as exceções compreensíveis de casos especiais, porque
tampouco sabe o que é a felicidade. Só mais tarde, na idade adulta é
que, recordando os anos infantis, constata o seu valor e pode ter
dimensão dos acontecimentos e prazeres.

Como a criança não sabe o que é felicidade, facilmente identifica-


a no divertimento, aquilo que a agrada e a distrai, os jogos que lhe
povoam a imaginação.

É na infância que se fixam em profundidade os acontecimentos,


aliás, desde antes, na vida intrauterina, quando o ser faz-se
participante do futuro grupo familiar no qual renascerá.

As impressões de aceitação como de rejeição se lhe esculpirão em


profundidade, abençoando-o com o amor e a segurança ou dilacerando-
lhe o sistema emocional, que passará a sofrer os efeitos inconscientes
da animosidade de que foi objeto.

Da mesma forma, os acontecimentos à sua volta, direcionados


ou não à sua pessoa, exercerão preponderante influência na formação
da sua personalidade, tornando-a jovial, extrovertida ou conflitada,
depressiva, insegura, em razão do ambiente que lhe plasmou o
comportamento.

Essas marcas acompanhá-la-ão até a idade adulta, definindo-lhe


a maneira de viver. Tornam-se feridas, quando de natureza
perturbadora, que mesmo ao serem cicatrizadas, deixam sinais que
somente uma terapia muito cuidadosa consegue anular.

Por sua vez, o Espírito, em processo de reencarnação,


acompanha mui facilmente os lances que precedem à futura
experiência, e porque podendo movimentar-se com relativa liberdade
antes do mergulho total no arquipélago celular, compreende as
dificuldades que terá de enfrentar mais tarde, ao sentir-se desde então
indesejado, maltratado, combatido.

Certamente, essa ocorrência tem lugar com aqueles que se vêm


impelidos ao renascimento para reparar pesados compromissos
infelizes, retornando ao seio das suas anteriores vítimas que agora os
rechaçam, o que é injustificável.
A bênção de um filho constitui significativa conquista do ser
humano, que se deve utilizar do ensejo para crescer e desenvolver os
sentimentos superiores da abnegação e do amor.
89

As reações vibratórias que podem produzir os Espíritos


antipáticos na fase perinatal, produzem, não raro, mal-estar. Não
obstante, a ternura e a cordialidade fraternal substituem as ondas
perturbadoras por outras de natureza saudável, preparando os futuros
pais para o processo de aprimoramento e de educação do descendente.

Na raiz de muitos conflitos e desequilíbrios juvenis, adultos, e até


mesmo ressumando na velhice, as distonias tiveram origem — efeito de
causa transata — no período da gestação, posteriormente na infância,
quando a figura da mãe dominadora e castradora, assim como do pai
negligente, indiferente ou violento, frustrou os anseios de liberdade e de
felicidade do ser.

Todos nascem para ser livres e felizes. No entanto, pessoas


emocionalmente enfermas, ante o próprio fracasso, transferem para os
filhos aquilo que gostariam de conseguir, suas culpas e incapacidades,
quando não descarregam todo o insucesso ou insegurança naqueles
que vivem sob sua dependência.

Esse infeliz recurso fere o cerne da criança, que se faz


pusilânime, a fim de sobreviver ou leva-a a refugiar-se no
ensimesmamento, na melancolia, sentindo-se vazia de afeto e objetivo
de vida.

Com o tempo, essas feridas pululam, impelindo a atitudes exóticas,


a comportamentos instáveis, às fugas para o fumo, a droga, o álcool ou
as diversões violentas, mediante as quais extravasam o ressentimento
acumulado, ou mergulham no anestésico perigoso da depressão com
altos reflexos na conduta sexual, incompleta, insatisfeita, alienadora...

A sociedade terá que atender à infância através de mecanismos


próprios, preenchendo os espaços deixados pela ausência do amor na
família, na educação escolar, na convivência do grupo, nas
oportunidades de desenvolvimento e de auto-afirmação de cada qual.

Para tal mister, toma-se necessário o equilíbrio do adulto, do


educador formal, que pode funcionar como psicoterapeuta, orientando
melhor o aprendiz e reencaminhando-o para a compreensão dos valores
existenciais e das finalidades da vida.

Inveja, mágoa, ciúme, instabilidade, ódio, pusilanimidade e


outros hediondos sentimentos que afligem as crianças maltratadas,
carentes, abandonadas mesmo nas casas onde moram, desde que não
são lares verdadeiros, constituem os mecanismos de reação de todos
quantos se sentem infelizes, mesmo que inconsciente-mente.

A compreensão dos direitos alheios e dos próprios deveres, o


contributo da fraternidade, a segurança afetiva, a harmonia interior, a
compaixão, a lealdade se instalarão no ser, cicatrizando as feridas, à
90

medida que o meio ambiente se transforme para melhor e o afeto dos


outros, sincero quão desinteressado, substitua a indiferença habitual.

Qualquer ferida emocional cicatrizada pode reabrir-se de um


para outro momento, porquanto não erradicada a causa
desencadeadora, os tecidos psicológicos estarão muito frágeis,
rompendo-se com facilidade, pela falta de resistência aos impactos
enfrentados.

A questão da felicidade, por isso mesmo, é muito relativa. Se a


felicidade são os divertimentos, ou é o prazer, ei-la de fácil aquisição. No
entanto, se está radicada na plenitude, muito complexa é a engrenagem
que a aciona.

De certo modo, ela somente se expressa em totalidade, quando o


artista conclui a obra a que se entrega, o santo ao ministério de amor a
que se devota, o cientista realiza a pesquisa exitosa, o pensador atinge
com a sua mensagem o mundo que o aguarda, o cidadão comum se
sente em paz consigo mesmo... O dar-se, a que se refere o Evangelho,
certamente é a melhor metodologia para alcançar-se essa ventura que
harmoniza e plenifica.

Toda vez, portanto, que alguém sinta incompletude, insegurança,


seja visitado pelos sentimentos inquietadores da insegurança, do medo,
da raiva e da inveja injustificáveis, exceção feita aos estados patológicos
profundos, as feridas da infância estão ainda abertas ou reabrindo-se, e
necessitando com urgência de cicatrização.

O Ser Consciente páginas 110~113

Medo E Morte

Os mecanismos de evasão do ego mascaram a realidade do self,


normalmente receoso de emergir e predominar, o que é a sua fatalidade.

Fatores ponderáveis, porém, respondem pelos estados fóbicos do


ser, desde os distúrbios gerados pelo quimismo cerebral, responsáveis
por desarmonias variadas, até os fenômenos de natureza psicológica,
decorrentes dos conflitos vivenciados pela mãe gestante, reacionária à
concepção, tensa ante a responsabilidade, amargurada pelas incertezas,
e os insucessos de parto, predominando os choques pós-natais quando
o ser é retirado do aconchego intra-uterino, onde se sente seguro, e
91

colocado num meio hostil no qual tudo parece ameaçar-lhe a frágil


existência.

Podem-se assinalar ainda outros fatores, quais os de natureza


psicogênica, como de caráter preponderante na formação patológica dos
comportamentos fóbicos.

A educação no lar, a mãe dominadora e o pai negligente ou


reciprocamente, não raro esmagam a personalidade do educando
durante o trânsito infantil.

São inumeráveis os fatores preponderantes como predisponentes


nas psicopatologias do medo, responsáveis por estados lamentáveis na
criatura humana.

Insinua-se o medo de forma sutil, aparentemente lógica, tomando


conta das paisagens da psique, como insegurança tormentosa povoada
de pesadelos hórridos, que levam a alucinações e impulsos
incontroláveis de fuga até mediante o concurso da morte.

Com o tempo, alternam-se as condutas no paciente:


apatia mórbida ou pavor contínuo, ambas de gravidade indiscutível.

Na psicogênese, porém, dos estados fóbicos em geral, não se pode


descartar a anterioridade existencial do ser, em espírito, peregrino que é
de inumeráveis reencarnações, cuja história traz escrita nas tecelagens
intrincadas da própria estrutura espiritual.

Comportamentos irregulares, atividades lesadoras, ações perversas


ocultas que não foram desveladas, inscrevem-se na consciência
profunda como necessidade de reparação, que ressurgem desde a nova
concepção, quando ocorrem os fatores que os despertam, permitindo-
lhes a imersão do inconsciente, e passam a trabalhar o ser real,
levando-o da insegurança inicial ao medo perturbador.

A reencarnação é método para o espírito aprender, agir, educar-se,


recuperando-se quando erra, reparando quando se compromete
negativamente.

Inevitável a sua ocorrência, ela funciona por automatismo da


Vida, impondo as cargas de uma experiência na seguinte, em
mecanismo natural de evolução.

Inscritos os códigos de justiça na consciência individual,


representando a Consciência Cósmica, ninguém se lhe exime aos
imperativos, por ser fenômeno automático e imediato.

A cada ação resulta uma reação semelhante, portadora da


mesma intensidade vibratória.
92

Quando recalcado o efeito, ele assoma, predominante, propiciando


os estados de libertação ou sofrimento, conforme seja constituído o seu
campo de energia.

O autodescobrimento é a terapia salutar para que sejam


identificadas as causas geradoras e, ao mesmo tempo, a
conscientização de quais recursos se pode utilizar para a liberação.

Conhecendo o fator responsável pelo medo, antepor-se-lhe-á a


confiança nas causas positivas, que resultarão em futuros equilíbrios
de fácil aquisição.

Ao lado das terapias acadêmicas, conforme a etiopatogenia do


medo em cada criatura, a renovação pessoal pelo otimismo, a auto-
estima, o hábito das ideações elevadas, da oração, da meditação,
constituem eficientes recursos curativos para o auto-encontro, a paz
interior.

O medo é inimigo mórbido, que deve ser enfrentado com


naturalidade através do exercício da razão e da lógica.

Entre as várias expressões de medo ressalta o da morte, herança


atávica dos arquétipos ancestrais, das religiões castradoras e
temerárias, dos cultos bárbaros, das conjunturas do desconhecido, das
imagens mitológicas que desenharam no tecido social as impressões do
temor, das punições eternas para as consciências culpadas, dos
horrores inomináveis que o ser humano não tem condições de digerir...

O pavor da morte, às vezes patológico, afigura-se tão grave, que a


criatura se mata a fim de não aguardar a morte...

Compreensivelmente, desde o momento da concepção manifesta-


se o fenômeno da transformação celular ou morte biológica.

Nesse processo de transformações incessantes, chega o momento


da parada final dos equipamentos biológicos, e tal ocorrência é
perfeitamente natural, não podendo responder pelos medos e pavores
que têm sido cultivados.

Não é a primeira vez que ocorre a morte do corpo, na vilegiatura


da evolução dos seres.

O esquecimento do fenômeno, de maneira alguma, pode ser


considerado como desconhecido pelo espírito, que já o vivenciou antes.

Um aprofundamento mental demonstra que a morte não dói, não


apavora, mas, o estado psicológico de cada um, em relação à mesma,
transfere as impressões íntimas para o exterior, dando curso às
manifestações aparvalhantes.
93

A Psicologia Transpessoal, lidando com o ser psíquico, o ser


espiritual, sabe-o em processo de evolução, entrando no corpo —
reencarnação — e dele saindo —desencarnação — da mesma forma que
o corpo se utiliza de roupas, que lhe são necessárias e dispensáveis
conforme as ocasiões.

O simples hábito de dormir, quando se mergulha na


inconsciência relativa, é uma experiência de morte que deve servir de
padrão comparativo para o fim do processo biológico.

Conforme o eu profundo considere a morte, povoando-a de


incertezas, gênios do mal, regiões punitivas ou aniquilamento, dessa
forma a enfrentará. O oposto igualmente se dá. Vestindo a morte de
esperança de reencontros felizes, de aspirações enobrecidas, de
agradável despertar, ocorrerá o milagre da vida.

O medo da morte decorre da ignorância da realidade espiritual e


do apego ao transitório físico.

Freud afirmava que o instinto da morte é superior ao de


conservação da vida, o que é perfeitamente natural, tendo-se em vista
que o corpo é fenômeno, e este passa, permanecendo a causa, que é a
energia, a vida em si mesma.

A psicoterapia preventiva, como curadora para o medo da morte,


propõe uma conduta harmônica com os níveis superiores de
consciência desperta, lúcida, avançando para a transcendência do eu,
até culminar na identificação com a Cósmica.

Pensar e agir bem.


Amar e amar-se.
Servir, como forma de ser feliz.
Vincular-se à Fonte da Vida Perene, Causal e Terminal.

Meditar, beneficiando-se com o autodescobrimento e tornando-


se um agente de esperança e de paz, eis como viver sem morrer e
morrer para perpetuar a vida.

Reminiscências e Conflitos Psicológicos


94

Manoel Philomeno de Miranda (Temas da Vida e Da Morte)

11 – A Paternidade Divina: O Conceito de Daimon

Polígrafo Próprio

12 – Origem do Sofrimento e as 4 Verdades de Buda

Plenitude páginas 11-19-29 e 73

Página 11

“Senhor!
Ajuda-me a transitar:
da treva para a luz;
da mentira para a verdade;
e da morte para a imortalidade.”

(Upanishads)

Sente-se sozinho, em silêncio.


Baixe a cabeça, feche os olhos, respire pausadamente e imagine que está
contemplando o interior e seu coração. Transfira sua mente, seus pensa-
mentos de seu corpo para seu coração. Quando expirar, diga: Senhor,
tende piedade de mim.”

(Gregório do Sinai — Mosteiro do Monte Athos — Século XIV)

II— Análise dos Sofrimentos Página 19

Buda ensinava que a única função da vida é a luta pela vitória


sobre o sofrimento. Empenhar-se em superá-lo deve ser a constante
preocupação do homem.
95

Após tentá-lo mediante o ascetismo mais austero e as disciplinas


mais rígidas, o jovem Gautama afastou-se do monastério com alguns
candidatos desanimados e foi meditar calmamente, logrando a
Iluminação.

Estabeleceu a teoria do ‘caminho do meio’ para alcançar a paz.


Nem mais a austeridade cruel, nem as dissipações comuns, mas o
equilíbrio da meditação.

Voltou-se então para a libertação dos homens e estabeleceu as


quatro Nobres Verdades: o sofrimento, suas origens, a cessação do
sofrimento e os caminhos para a libertação do sofrimento.

Segundo as suas reflexões, o sofrimento se apresenta sob três


formas diferentes: o sofrimento do sofrimento; o sofrimento da
impermanência e o sofrimento resultante dos condicionamentos.

O sofrimento do sofrimento é resultado das aflições que ele mesmo


proporciona.

A dor macera os sentimentos, desencoraja as estruturas


psicológicas frágeis, infelicita, leva a conclusões falsas e estimula os
estados de exaltação emocional ou de depressão conforme a estrutura
íntima de cada vítima.

Apresenta-se sob dois aspectos: físico e mental, na imensa área das


patologias geradoras de doenças. Nesse caso, o sofrimento é como uma
doença e resultado dela.

As doenças, porém, são inevitáveis na existência humana, . . .

III— Origens do Sofrimento Página 29

Ainda segundo o budismo, as origens do sofrimento se


apresentam através de condições internas e externas, resultando daí
outras duas ordens: as cármicas e as emoções perturbadoras.

Indubitavelmente, conforme acentua a doutrina espírita, o


homem é a síntese das suas próprias experiências, autor do seu
destino, que ele elabora mediante os impositivos do determinismo e do
livre-arbítrio.

Esse determinismo — inevitável apenas em alguns aspectos:


96

nascimento, morte, reencarnação — estabelece as linhas matrizes da


existência corporal, propelindo o ser na direção da sua fatalidade
última: a perfeição relativa.

Os fatores que programam as condições do renascimento no corpo


físico são o resultado dos atos e pensamentos das existências
anteriores.

Ser feliz quanto antes ou desventurado por largo tempo depende


do livre-arbítrio pessoal. A opção por como e quando agir libera o
espírito do sofrimento ou agrilhoa-o nas suas tenazes.

A vida são os acontecimentos de cada instante a se encadearem


incessantemente.

Uma ação provoca uma correspondente reação 1 geradora de


novas ações, e assim sucessivamente.

Desse modo, o indivíduo é o resultado das suas atividades


anteriores.

Nem sempre, porém, se lhe apresentam esses efeitos


imediatamente, embora isso não o libere dos atos praticados.

É possível que uma experiência fracassada ou danosa, funesta


ou prejudicial se manifeste a outras pessoas como ao seu autor através
dos resultados, após a próxima ou passadas algumas reencarnações.
Esses resultados, no entanto, chegarão de imediato ou . . .

VII— Motivos de Sofrimentos Páginas 73

Na busca incessante do prazer, o homem transfere-se,


exteriormente, de uma para outra sensação, sem dar-se conta de que o
desequilíbrio gerador de ansiedade é responsável pelo sofrimento que o
aturde, ameaçando-o de desespero cruel.

Enquanto não se resolva por selecionar os valores reais daqueles


aos quais atribuí significado e que são apenas fogos-fátuos, terá
dificuldade em afirmar-se e seguir uma diretriz propiciadora de paz.

Vivendo sob a injunção de uma máquina, que lhe impõe


necessidades a serem atendidas e o predispõe a falsas necessidades
perturbadoras, ele opta pelas últimas, que são produto das sensações
do ego dominador, empurrando-o para as aspirações mais grosseiras,
em detrimento daqueloutras sutis e enobrecedoras, que adquirem
97

resistência na renúncia, no esforço elevado, na abnegação, no cultivo da


vida interior, no domínio da matéria pelo espírito.

O corpo deve ser considerado um instrumento transitório para


o ser eterno, temporariamente um santuário, face à finalidade edificante
de propiciar à alma a sua ascensão, mediante as experiências
iluminativas que faculta, nos aspectos moral, espiritual, intelectual,
pelo exercício das virtudes que devem ser postas em prática, e jamais
para atendimento das sensações que lhe caracterizam a constituição
molecular.

Certamente, aqui não cabe também o comportamento asceta,


alienador, que fomenta a fuga da realidade aparente, porquanto, o
importante é a vida mental modeladora da física.

Pode-se mudar de lugar sem alterar a conduta, vivendo-se um


estado exterior e . . .

Desperte e Seja feliz página 124

A dor possui uma função especifica, extraordinária: auxiliar o


progresso da criatura humana.

As admiráveis conquistas da ciência têm tido por objeto diminuir-


lhe a intensidade ou mesmo suprimi-la.

Enfermidades cruéis têm sido debeladas, distúrbios orgânicos


de gravidade vêm recebendo valiosa contribuição para serem
reequilibrados, e não cessam os investimentos nas pesquisas, para
tornarem a existência física mais amena, agradável e enriquecedora.

Não obstante, a inferioridade moral, em predomínio, torna-se


responsável pelo surgimento de novas doenças e mais perversos
distúrbios nos complexos mecanismos do corpo somático.

Dores há que domam as paixões inferiores, que resgatam


dívidas, que reabilitam, que abençoam vidas...

Abastece-te, porém, nas Fontes Inexauríveis do Bem, e


organiza tua vida moral e mental, deforma que os teus atos sejam
produtores de harmonia pessoal e de equilíbrio, quando convidado pela
dor-reparação ao testemunho de libertação espiritual, ou diante de
qualquer expressão de sofrimento que te visite.
98

Polígrafo Próprio

13 – Os Caminhos Para Superar o Sofrimento

Plenitude páginas 41-49-77 e 89

IV — Cessação do Sofrimento Página 41

Na condição de enfermidade, o sofrimento, para ser curado,


encontra diversos meios eficazes.

Alguns o atenuam, outros são inócuos, e raros se apresentam


como de eficiência incontestável.

A cura real, porém, somente se concretizará se a terapia


extirpar-lhe as causas.

Enquanto não se extingam as suas fontes geradoras, ele se


manifestará inevitavelmente.

Desde que o mau uso da razão o origina, é indispensável agir no


fulcro do seu desencadeamento, de modo a fazer cessar energia que o
aciona e vitaliza.

Nos remos irracionais, nos quais o sofrimento resulta do


fenômeno evolutivo através do desgaste natural das formas por
desestruturação das moléculas e células, o concurso do amor humano
atenua-lhe a intensidade, alterando o campo e proporcionando lenitivo
de equilíbrio ou saúde.

O homem, que pensa, é responsável pela preservação da vida


que se manifesta em outros matizes e faz parte do conjunto que lhe
sustenta a existência, possibilitando a evolução de todos os seres e
princípios vitais.

Desse modo, os atentados e a desconsideração à ecologia se


refletem na vida humana, qual ocorre com sua preservação e cuidados.
São as ações respondendo pelos seus efeitos.

A fim de que se possa fazer cessar o sofrimento, torna-se


imprescindível à aquisição de uma consciência responsável, capaz de
remontar-lhe às origens, analisá-las e trabalhá-las com direcionamento
adredemente planejado.
99

V — Caminhos para a Cessação do Sofrimento página 49

Considerando-se que os sofrimentos são causados pelos


desconcertos do espírito, que desarmonizam o fluxo da energia,
permitindo a instalação das enfermidades físicas, mentais e morais, a
forma eficaz para que cessem deve atingir o seu fulcro gerador, graças a
cujo comportamento será interrompida a onda perturbadora.

Na mente lúcida surgirá então a tranqüilidade, encarregada de


produzir a saúde, que se irradiará por todo o organismo, produzindo o
equilíbrio.

Assim, os caminhos constituirão o seu remédio eficiente.

Enquanto não houver uma consciência de saúde real, o ser


transitará de um para outro sofrimento.

Há pessoas que, embora sem conhecimento das regras que


promovem a harmonia íntima, gozam de saúde, apresentando-se bem
dispostas e fortes.

São estes, no entanto, fenômenos automáticos do organismo, que


se contaminará ou não durante a existência, de acordo com a conduta
moral e mental que se lhe imprimam, permanecendo ou não saudáveis.

A antiga sabedoria budista estabeleceu um sistema de


meditação, através do qual a saúde se instala e o sofrimento
desaparece.

Jesus, portador de equilíbrio pleno, considerava o amor como a


causa única para a realização ideal do ser. A mutilação ou ausência do
amor a Deus, ao próximo ou a si mesmo, produz a insatisfação, o
desajuste, o desequilíbrio da energia, tornando-se fator causal de
doenças, de sofrimentos.

VIII— Caminhos para a Saúde página 77

O sofrimento é via de redenção espiritual, face ao incompleto


desenvolvimento moral do indivíduo.

Opção pessoal, é roteiro destituído de qualquer ação punitiva,


educando ou reeducando através dos mesmos mecanismos, graças aos
quais houve comprometimento, desvio de rota, desrespeito às leis da
vida.
A sua presença vige, enquanto se faz necessária à depuração. As
únicas exceções se apresentam nos quadros de iluminação coletiva,
100

quando os missionários do bem e do amor mergulham nas sombras do


mundo, a fim de clareá-las com os seus exemplos.

Não mais lhes sendo necessárias às dores físicas e morais,


elegem-nas ou aceitam-nas como holocaustos espontâneos, a fim de
ensinarem coragem, abnegação e sacrifício aos que estão na retaguarda,
comprometidos com a ignorância e a ilusão, a rebeldia e a violência, o
egoísmo e a negação do dever, todos eles geradores de sofrimentos, de
enfermidades e dores.

A saúde integral, a paz, a alegria interior resultam da lucidez


mental, que elege os atos corretos para a existência modeladora da
ascensão.

Enquanto não se convençam as criaturas de realizar o


equilíbrio, a homeostase ideal entre o psiquismo e o corpo físico,
debater-se-ão nas malhas de qualquer tipo de sofrimento. Advertência
ao desvio da linha de harmonia, ele se apresenta em forma de energia
comprometida, bloqueada ou desequilibrada, facultando a instalação de
doenças, de desates, de padecimentos de qualquer natureza.

IX — Processo de Autocura pagina 89

A criatura humana possui, inexplorados, valiosos recursos que


aguardam a canalização conveniente.

Entre eles, a bioenergia é fonte de inexauríveis potencialidades,


que o desconhecimento e a negligência direcionam em sentido
equivocado, malbaratando inconscientemente forças preciosas.

Invisível à visão comum, a irradiação bioenergética passa


despercebida, exercendo influência no inter-relacionamento pessoal,
graças ao qual provoca ondas de simpatia como de animosidade,
conforme a procedência de um indivíduo moralmente são ou enfermo.

Captada pelo perispírito, nele interfere através do campo que


exterioriza, facultando renovar as forças ou perturbá-las, de acordo com
o tipo de descargas que propicia.

Essa bioenergia é responsável pela atração interpessoal, qual


ocorre no campo molecular, celular, gravitacional, universal.

Semelhante à invisível camada magnética que envolve a Terra e


que somente é registrada por aparelhos especiais, igualmente ela é
somente percebida através da paranormalidade ou de câmeras
ultravelozes em filmes também ultra-sensíveis.
101

A sua ação, todavia, é de mais fácil registro na emotividade, nas


áreas afetadas por enfermidades, pelas reações psicológicas que
provocam nos relacionamentos humanos.

Referindo-se aos fenômenos que produzia, Jesus, o Excelso


Curador, foi peremptório, afirmando: ”Vocês podem fazer coisas maiores
do que estas”, se quiserem.

14 – Emoções e Sofrimentos

Vida: Desafios e soluções páginas 55~58

Sensações e emoções

A criatura humana é um feixe de sensações, resultado natural


dos períodos primários da evolução, em trânsito para a realidade das
emoções.

As largas experiências vividas nas faixas primitivas do passado


deixaram impressões profundas que se tomaram prevalecente exigência
no comportamento pessoal, social e principalmente psicológico.
Impulsos e reações fazem parte desse processo que estabelece os
paradigmas da conduta, quando fora do crivo da razão.

Nesse estágio da vida, nutre-se emocionalmente das sensações


objetivas, dos contatos com o mundo e suas manifestações,
comprazendo-se no jogo desmedido do querer ter, longe da aspiração de
ser.

Adormecida para as percepções mais sutis da existência,


acumula coisas e compraz-se com elas até à saturação, quando se
transfere para possuir pessoas, que não são fáceis de se deixarem
pertencer, produzindo choques emocionais, que desarticulam a
planificação interior do ambicioso.

Sentindo a frustração do desejo não transformado em prazer,


amargura-se e rebela-se, fugindo, não poucas vezes, para as libações
alcoólicas, o tabagismo ou para as drogas aditivas.

É lento o curso de mudança da faixa grosseira do imediatismo


para as sutilezas da emoção dignificada.
102

Nesse trânsito, é comum deparar-se com a fase da sensação-


emotiva, quando há um descontrole no sistema nervoso e o excesso de
emotividade domina-lhe as paisagens comportamentais.

Não acostumado às expressões da beleza, da sinceridade, do


amor, facilmente se deixa comover, derrapando no desequilíbrio
perturbador, no entanto, passo inicial para o clima de harmonia que o
aguarda.

O homem-sensação é exigente e possuidor, não se apercebendo


do valor da liberdade dos outros, que pretende controlar, nem dos
deveres para com a sociedade que se lhe não submete.

Sentindo-se marginalizado, graças à hostilidade que mantém em


relação a todos quantos se lhe não subaltemizam, volta-se contra os
estatutos vigentes e as pessoas livres, brutalizando-se e agredindo,
pelos meios ao alcance, os demais.

Ao despertar a emoção, toma-se natural à valorização do


próximo e da vida, o respeito pelos valores humanos e gerais, ao mesmo
tempo que trabalha em favor do progresso, que preza, ampliando os
horizontes de entendimento e de realização interior.

A sensação é herança do instinto dominador; a emoção é tesouro


a conquistar pelos caminhos da ascensão.

Quando desperta a consciência para a necessidade da emoção, a


única alternativa que resta é a luta por alcançá-la.

Esse empenho toma-se fácil quando o combate se inicia,


facultando o encontro com a sua realidade, energia pensante que é e
não somente grupo de células em departamentos especializados
formando o corpo.

No período da emoção, o indivíduo não está isento das


sensações, que lhe permanecem oferecendo prazeres, alegrias e
advertências, só que sob controle, em equilíbrio, orientadas e
produtivas.

Na fase da sensação, igualmente, o ser experimenta emoções


algo desordenadas e, vez que outra, propiciadoras de bem-estar, o que
lhe constitui estímulo para crescer e esforçar-se por consegui-las.

Nas diferentes psicopatologias há predominância das sensações


e grande descontrole das emoções, o que traduz o transtorno da mente,
refletindo-se no comportamento alienado.
103

Podemos encontrar raízes desse estado na estrutura do lar


desajustado, de pais imediatistas, ambiciosos, incapazes de amar, que
transmitiram aos filhos a idéia de que todo aquele que possui, vale;
enquanto que os outros existem para servir aos primeiros.

Essencialmente, porém, é o Espírito, em si mesmo, em fase de


desenvolvimento, que se revela no corpo, experimentando mais as
expressões fortes em detrimento das manifestações mais elevadas.

O esforço bem direcionado, o cultivo das idéias enobrecedoras e


o trabalho edificante promovem de uma para outra faixa todo aquele
que aspira à libertação da fase primitiva em que ainda estagia.

Autodescobrimento páginas 145~158

O Amor

Os sentimentos são conquistas nobres do processo da


evolução do ser.

Desenvolvendo-se dos instintos, libertam-se dos atavismos


fisiológicos automatistas para se transformarem em emoções que
alcançam a beleza, a estesia, à essência das coisas e da vida, quando
superiores, ou as expressões remanescentes do período primário como a
cólera, o ciúme, as paixões perturbadoras.

Na fase inicial do desenvolvimento, o ser possui as sensações


em predomínio no comportamento, que o vinculam ao primitivismo,
exteriorizando-se na forma de dor e prazer, de satisfação e de
desgosto...

As manifestações psicológicas somente a pouco e pouco se


expressam, rompendo a cadeia das necessidades físicas para se
apresentarem como emoções.

Nesse processo, o ser é prisioneiro dos desejos imediatos e


grosseiros da sobrevivência, com insight de percepção da harmonia, do
equilíbrio, das alegrias que não decorrem do estômago ou do sexo.

Lentamente, à medida que supera o egocentrismo do seu estágio


infantil, desabrocham-lhe os sentimentos de valores morais, de
conquistas intelectuais, culturais, artísticas, idealísticas.
104

O largo trânsito pelos impulsos do instinto deixa


condicionamentos que devem ser reprogramados, a fim de que as
emoções superem as cargas dos desejos e do utilitarismo ancestrais.

O primeiro, e certamente mais importante, sentimento a romper


o presídio dos instintos, é o amor.

De começo, mediante a vinculação atávica com os genitores, os


familiares, o grupo social que o protege, as pessoas que lhe propiciam o
atendimento das necessidades fisiológicas.

Logo depois, embora o desenvolvimento se faça inevitável,


apresenta-se egoístico, retributivo, ainda vinculado aos interesses em
jogo.

Somente quando canalizado pela mente e pelo conhecimento,


agiganta-se, constituindo-se objetivo do mecanismo existencial, capaz
de se libertar dos efeitos rigorosos dos instintos.

Face à própria historiografia, externa-se como desejo de posse,


na ambição pessoal para a eleição do parceiro sexual, fraternal, amigo.

Em razão disso, confunde-se, ainda hoje, o amor com os jogos


do sexo, em tormentosos conúbios, nos quais sobressaem as sensações
que os entorpecem e exaurem com facilidade.

O amor é o alicerce mais vigoroso para a construção de uma


personalidade sadia, por ser gerador de um comportamento
equilibrado,por propiciar a satisfação estética das aspirações e porque
emula ao desenvolvimento das faculdades de engrandecimento
espiritual que dormem nos tecidos sutis do eu profundo.

Se desperta paixões subalternas como o ciúme, o azedume, a


inveja, a ira, a insegurança que fomenta o medo, ainda se encontra no
primarismo dos instintos em prevalência.

Somente quando é capaz de embelezar a existência,


proporcionando vida psíquica e emocional enriquecedora, é que se faz
legítimo, com os recursos que o libertam do ego.

Predominando na fase da transição — do instinto para o


sentimento — o ego é o ditador que comanda as aspirações, que se
convertem em conflitos, por direcionamento inadequado das forças
intimas.

Sendo um dínamo gerador de energia criativa e reparadora, o


amor-desejo pode tornar-se, pela potencialidade que possui,
instrumento sórdido de escravidão, de transtornos emocionais, de
compromissos perturbadores.
105

A necessidade de controlá-lo, educando as emoções, é o passo


decisivo para alcançar-lhe a meta felicitadora.

Toda vez que gera tormento de qualquer natureza, insatisfação e


posse, prejudica aquele que o experimenta.

Para libertar-se dessa constrição faz-se imprescindível


racionalizá-lo, descondicionando-o subconsciente, retirando os estratos
nele armazenados e substituindo-os por idéias otimistas, aspirações
éticas.

Gerar pensamentos de autoconfiança e gravá-los pela


repetição; estabelecer programas de engrandecimento moral e fixá-
los; corrigir os hábitos viciosos de utilizaras pessoas como coisas,
tendo-as como descartáveis; valorizar a experiência a vivenciar,
evitando a autocompaixão, a subestima pessoal, que escondem um
mecanismo de inveja em referência às pessoas felizes, constituem
técnicas valiosas para chegar ao patamar das emoções
gratificantes.

O amor é o grande bem a conquistar, em cujo empenho todos


devem aplicar os mais valiosos recursos e esforços. Não obstante, a
larga transição no instinto pode transformá-lo em adversário, pelos
prejuízos que se originam quando se apresenta em desorganizada
manifestação.

Possuidor de uma pluralidade de interesses,expandese em


relação à Natureza, ao próximo, a si mesmo e ao Poder Criador,
abrangendo o Cosmo...

Quando alcança a plenitude, irradia-se em forma co-criadora,


em intercâmbio com as energias divinas que mantêm o equilíbrio
universal: o sentimento de amor cresce e sutiliza-se de tal forma que o
Espírito se identifica plenamente com a Vida, fruindo a paz e a
integração nela.

Os Sofrimentos

Os sofrimentos são ocorrências naturais do processo evolutivo,


constituindo desafios às resistências dos seres.

Nas faixas primárias, nas quais predominam os instintos e as


sensações, eles se manifestam em forma de agressivas dores físicas, em
razão da ausência de percepção emocional para decodificá-los e atingir
as áreas mais nobres do cérebro, igualmente limitado.
106

Desse modo, manifestam-se nas criaturas humanas, nos vários


aspectos: físicos, morais, emocionais e espirituais.

Quanto mais elevado o ser, tanto maior a sensibilidade de que é


dotado, possuindo forças para transubstanciá-los e alterar-lhes o ciclo
de dor, passando a ser metodologia de educação, de iluminação.

Inevitáveis, quando no campo físico, decorrem dos processos


degenerativos da organização celular e fisiológica, sujeita aos
mecanismos de incessantes transformações, como da invasão e
agressão dos agentes microscópicos destrutivos.

No ser bruto, expressam-se em forma de desespero e alucinação,


com altas crises de rebeldia.

À medida que a sensibilidade se lhe acentua, não obstante a força


de que se revestem, podem ser atenuados pela ação da mente sobre o
corpo gerando endorfinas, que, na corrente sanguínea, anestesiando-os,
diminuem-lhes a intensidade.

Os morais são mais profundos, abalam os sentimentos nobres,


dilacerando as fibras íntimas e provocando incontida aflição.
Impalpáveis, as suas causas permanecem vigorosas, minando as
resistências e, não raro, afetando, por somatização, o corpo.

Atuam nos sensíveis mecanismos das emoções, dando lugar a


outros distúrbios, os de natureza psicológica.

Somente urna forte compleição espiritual se lhes poderá opor,


ensejando energias próprias para suportá-los e superá-los.

A canalização correta do pensamento, isto é, a racionalização


deles e aceitação como processo transitório de evolução, torna-se-lhes a
terapia mais eficiente, por propiciar renovação íntima e equilíbrio.

Os de natureza emocional, qual sucede com os demais, têm


suas matrizes nas existências passadas, que modelam, nos complexos
equipamentos do sistema nervoso, na organização sensorial, por
intermédio da hereditariedade, a sensibilidade e as distonias que se
exteriorizam como distúrbios psicológicos, psíquicos...

Face à anterioridade das suas origens, produzem aflições no


grupo social, por motivo da alienação do paciente, agressivo ou
deprimido, maníaco ou autista, inseguro ou perseguidor.

Somem-se ao fator central, as ressonâncias psicossociais,


sócio-econômicas e as interferências obsessivas que darão lugar a
quadros patológicos complexos e graves, sem que o enfermo possa
contribuir com lucidez para a recuperação.
107

Há exceções, quando as ocorrências permanecem sob relativo


controle, facultando erradicação mais rápida.

Os de natureza espiritual têm a sua gênese total no pretérito, às


vezes somadas às atitudes irrefletidas da atualidade. Invariavelmente
trazem conexões com seres desencarnados em processos severos de
deterioração da personalidade.

Em qualquer manifestação, os sofrimentos são efeitos do


mecanismo evolutivo — desgaste dos implementos orgânicos — da
aprendizagem de novas experiências, da ascensão do ego para o Self.

Enquanto o ego predominar em a natureza humana, maior


soma deles se fará presente, face à irreflexão, à imaturidade psicológica,
ao desajuste em relação aos valores da personalidade.

Os conflitos, que decorrem de alguns sofrimentos ou que levam


a outros tipos de sofrimentos, no ego imaturo encontram mecanismos
de evasão da realidade, dando surgimento a patologias especiais.

A pretexto de ascensão moral e espiritual são engendrados


distúrbios masoquistas, fazendo crer que a eleição do sofrimento auxilia
na libertação da carne cilícios, jejuns injustificáveis, macerações,
solidão, desprezo ao corpo, castrações, etc. — refletindo, não a busca do
Si, mas um prazer degenerado, perturbador.

Outrossim, quando se impõem os mesmos métodos a outros


seres, a pretexto de salvá-los, não há saúde mental nem espiritual na
proposta, mas sim, sadismo cruel.

O amor lenifica a multidão de pecados, como acentuou Jesus,


com a Sua psicoterapia positiva.

Ele sofreu, não por desejo próprio, mas para ensinar superação
das dores, e, ao jejuar, preparou o organismo para bem suportar os
testemunhos morais.

Ele encontrava beleza e prazar nos lírios do campo, nas aves do


céu, nas redes e pérolas, sendo a Sua mensagem um hino de louvor à
vida, à saúde, ao amor.

Jamais se reportou à busca do sofrimento como recurso de


salvação.

Esse acontece por efeito da conduta humana, inevitavelmente,


não por escolha de cada um.

A vida são as expressões de grandiosa harmonia na variedade


de todas as coisas.
108

O ser humano existe, fadado para a conquista estelar. A


saúde plena e o não-sofrimento são as metas que o aguardam no
processo de conquista pelos longos caminhos de sua evolução.

A canalização da mente para o bem — o ideal, o amor — é o


antídoto para todos os sofrimentos, porquanto do pensamento para a
ação medeia apenas o primeiro passo.

Estar E Ser

Um conflito preponderante no comportamento das pessoas


imaturas psicologicamente é o medo das críticas.

Filho excedente da insegurança, esse fator negativo na


conduta humana é responsável por vários dissabores, entre os quais o
insucesso nos empreendimentos, ou mesmo a falta de estímulo para
tentá-los.

Bloqueando-se, pelo injustificável receio das opiniões alheias,


o individuo recua ante possibilidades enriquecedoras de crescimento
interior, de realização, deixando de ser feliz para estar sob tormentos
crucificadores.

Como efeito, a sua é uma conduta confusa.

Fugindo de suas dúvidas, torna-se crítico mordaz dos outros,


num processo de transferência de valores internos; procura sempre
agradar na presença e faz-se censor na ausência; insatisfeito, é rude
com as pessoas que dele dependem, e bajulador em relação aos que
acredita superiores; oculta os sentimentos, a fim de poupar-se a
comentários desagradáveis, apresentando-se dúbio e melífluo.

As suas opiniões têm por meta atender a todos, concordando


com ambos litigantes, quando for o caso. Parece um diplomata hábil,
não fossem os temores íntimos..

Seus sentimentos, que poderiam expressar-se, gratificando-se


com eles nos confrontos naturais, no êxito ou no insucesso,
permanecem-lhe como adversários que devem ser escondidos, sejam
quais forem, a fim de não ser descoberta a sua personalidade.

Gosta de opinar em assuntos que desconhece, como uma


compensação ao conflito, estando sempre no que parece, evitando
assumir o que é.

Todos que transitam em experiências humanas, durante o seu


curso estão, mas são a soma das mesmas.
109

Conscientizar-se de que se é o que se está constitui


desequilíbrio comportamental. O que se está, deixa-se, passa; o que se
é, permanece.

Pode-se nascer enfermo ou sadio, o que significaria ser.

Não obstante, através de uma boa programação mental, o ser


doente pode transformar-se em apenas estar por um período, sofrer um
tipo de conjuntura e deficiência, sendo saudável.

Da mesma forma o sadio, face à desorientação de conduta


mental, transfere para o estar com saúde, apesar das chuvas de
ansiedade.

Os sentimentos merecem análise cuidadosa, para se fazerem


positivos. Sob controle e direcionamento, as emoções se tornam agentes
de compensação, de alívio de tensões, de estímulos preciosos para as
realizações plenificadoras.

A autocrítica sincera, os exercícios mentais encorajadores, as


conversações edificantes, a naturalidade diante das censuras,
proporcionam recursos valiosos para o descobrimento do Si, dos seus
potenciais disponívei e ainda não utilizados.

Uma plena conscientização de que todas as pessoas estão sob o


exame de outras — que as criticam por inveja, por despeito, por
preguiça mental, por espírito derrotista de competição, embora diversas
o façam com sincero desejo de auxiliar, pelo direito de submeterem à
prova o que se credencia ao conhecimento público — é de grande
utilidade.

Para ser objeto de crítica, basta destacar-se, sobressair, tornar-se


um alvo.

E confortador alguém ver-se sob petardos, significando haver


rompido o escudo da mesmice, do igual a todos, do não chamar a
atenção. E ser alguém, ser especial e até ser único.

Jamais se agradará a todos os indivíduos.

Os padrões de preferência variam ao infinito, nas pessoas que


constituem a humanidade.

Há uma diferença muito expressiva de óptica emocional, de


interesses, de comportamentos, de aptidões, mesclados aos sentimentos
nobres como inferiores, que influem na análise de cada objeto, pessoa
ou acontecimento.

Como se está visto, assim também se vê.


110

Como se está analisado, da mesma forma se analisa.

Essa diferente gama de observações, no conjunto se organiza em


um painel de comportamento geral.

Muito saudavelmente age aquele que está em permanente


esforço para ser melhor, para conquistar novos patamares, reunindo os
tesouros da auto-iluminação.

Esse não teme obstáculos, não receia os outros, nem se teme.

Renova-se, melhorando o grupo social e o mundo onde está,


mas que não lhe pertence, não o detém, nem nele pára.

Segue adiante. O seu é o rumo do infinito.

Não se ofende, a ninguém magoa; não se limita, a outrem não


obstaculiza; não desanima, aos demais não perturba.

Está sempre vigilante com seus defeitos e ativo nas ações.

Psicologicamente, quando se está mal, tem-se a possibilidade


de transferir-se para o bem-estar.

Se, no entanto, se é mau, a luta para mudança de situação é


gigantesca, demorada, até ocorrer uma transformação de profundidade.

Quando se está bem, de maneira equivalente é preciso esforço


para ser bom, permanecendo útil, agradável, produtivo.

Os pessimistas e frustrados asseveram que o mundo e a


sociedade são maus, responsáveis pelas suas aflições e desditas,
quando apenas estão enfermos, em razão daqueles que aqui se
hospedam e os constituem, por enquanto, estarem distônicos e fora dos
compromissos, diante apenas de alguns que são atrasados, ignorantes e
insensíveis.

Com o esforço conjugado de todos, porém, ter-se-á uma vida


que é bênção e uma humanidade que é boa.

Abnegação E Humildade

O amadurecimento psicológico conduz o homem à verdadeira


humildade perante a vida, na condição de identificação das próprias
possibilidades, assim como das inesgotáveis fontes do conhecimento a
haurir.
111

Percebe a pequenez diante da grandeza universal, destituído de


conflitos, de consciência de culpa, de fugas do ego.

A visão intelectiva da realidade e a aquisição moral dos


recursos interiores facultam-lhe a simplicidade de coração e o respeito
cultural por todas as pessoas.

A sua lucidez trabalha pelo bem geral com naturalidade,


levando-o à abnegação e mesmo ao sacrifício, quando necessário, sem
exibicionismo ou arrogância.

Percebe que a finalidade do ser existencial é a alegria de viver


decorrente dos pensamentos e ações meritórios, o que o propele à auto-
estima e a autodescoberta constante, trabalhando-se sem fadiga nem
decepção.

Não pára na faina a examinar imperfeições, porque elabora


esquemas de incessante aprimoramento, com sede de novas conquistas
que não cessam.

A abnegação o induz às ações sacrificiais, por mais pesadas e


menos grandiosas, que executa sem pejo nem jactância.

Independem, a abnegação e a humildade, de convicções


religiosas, embora possam estas influenciar-lhes a conquista, tomando-
as acessíveis a todos os indivíduos que adquirem consciência de si.

De alta importância para o progresso da sociedade, essas


conquistas psicológicas dignificam a criatura, e promovem o grupo
social, humanizando-o cada vez mais.

Invariavelmente, quando não expressam evolução ou dela não


decorrem, são simulações dos temperamentos emocionais conflituosos,
que as utilizam para mascarar a timidez, o medo, o complexo de
inferioridade, a inveja...

Porque se sentem frustrados nas conquistas humanas, nos


desafios sociais, tais indivíduos ocultam-se na abnegação forçada,
recheada de reclamações e exigências, fingindo-se mártires
incompreendidos pelos que os cercam, perseguidos por quase todos, e
ricos de recalques.

São presunçosos na sua abnegação e ciosos dela, apresentando


propostas e comportamentos extravagantes, exibicionistas.

Ganham o céu, dizem. Isto porque não têm valores morais para
conquistar e desincumbirse dos deveres na Terra. Essa é uma conduta
psicológica irregular, alienadora.
112

Da mesma forma, decanta-se a humildade como forma de


desprezo por si mesmo, de desestima, de reação social.

Libertar-se de aparências e ser naturalmente humilde, como


Jesus Cristo ou Ghandi, não é alienarse ou ser agressivo contra as
demais pessoas e apresentar-se descuidado, sem higiene, indiferente às
conquistas do progresso.

Quem assim se comporta, desvela-se como preguiçoso e não


humilde, bem como aquele que aceita todos os caprichos que se lhe
impõem, e embora pareça, não possui a humildade real, antes tem
medo dos enfrentamentos, das lutas, sendo conivente com as coisas
erradas por acomodação, por submissão ou por projeção do ego que se
ufana de ser cordato, bom e compreensivo.

A humildade não freqüenta os mesmos campos morais da


conivência com o erro, com o mal, em silêncios comprometedores. Antes
é ativa, combatente, decidida, sendo mais um estado interior do que
uma apresentação externa.

A indiferença, não poucas vezes, assume a postura falsa de


humildade, permanecendo fria ante os acontecimentos e alienando a
criatura dos jogos humanos.

E uma forma patológica de comportamento, que perturba a


claridade do discernimento.

A abnegação nunca é triste, porque é terapêutica.

Sua medicação mostra-se na jovialidade, na alegria de viver e


na felicidade de ser útil.

Ajudar, renunciando-se, é um estado de júbilo interior para


quem o faz e não uma áspera provação, mesmo porque ela é oferecida, é
espontânea e jamais imposta.

Não se pode nunca a outrem impor abnegação, que brota dos


sentimentos mais elevados do ser.

Da mesma forma, a humildade é cativante, sem aparência.

Sente-se-lhe o perfume primeiro, para poder-se vê-la depois,


qual ocorre com as delicadas violetas...

Quando se é humilde, logra-se a pureza com o desprezo pelo


puritanismo; vive-se a sinceridade, sem a preocupação de agradar;
confia-se no sucesso das realizações, mas não se lhes impõem as
propostas.
113

Tudo transcorre em uma psicosfera de harmonia e


naturalidade.

Essas conquistas do sentimento são amigas do processo


libertador do ser de seus atavismos, das suas heranças de natureza
animal.

Se os sofrimentos as acompanham, não as degradam, antes as


aformoseiam, porque não se pode estar abnegado e humilde, mas se e
uma e outra coisa, sempre igual em todas as situações.

O amor legitima-as e irradia-se como alta realização


plenificadora do sentimento são.

Ensaio para Uma Teoria Espírita do Sentimento

Revista Reencarnação Nº 413 (Educação dos Sentimentos)

15 – Relacionamento – Anima e Animus

O Despertar do Espírito páginas 133~152

RELACIONAMENTOS
HUMANOS

Relacionamentos familiares.
Relacionamentos com parceiros ou cônjuges.
Relacionamentos sociais.

Tudo provém da Unidade e volve à Unidade.

O Universo é Uno na sua constituição, resultado do


Psiquismo Divino, que a tudo envolve e dinamiza.

As construções mais complexas são resultado do


relacionamento das partículas cujas moléculas se identificam na
mesma vibração de força cósmica, sempre constituídas de microformas
que se diluem na energia primitiva que constitui a Unidade básica.
114

Relacionam-se todos os minerais, cuja força de aglutinação


de átomos resulta na variedade infinita de formas através das quais se
apresentam, possuindo uma vibração ciclópica e especial.

De igual maneira, os vegetais se relacionam intensamente,


intercambiando vibrações específicas e pólens que os fecundam e
vitalizam, em cujo período desenvolvem espontânea sensibilidade que
capta as energias fomentadoras da vida,

O mesmo fenômeno se dá com os animais, agora mais


intensamente em razão dos instintos que os propelem aos impulsos
vitais, sem os quais se extinguiriam, necessitando-se reciprocamente, e,
ao mesmo tempo, preservando com os demais seres viventes o
ecossistema.

O ser humano de forma alguma pode viver sem os


relacionamentos que lhe constituem fatores básicos para o
enfrentamento dos desafios e o desenvolvimento dos valores que lhe
jazem interiormente de forma embrionária.

Quando alguém não mantém relacionamentos saudáveis,


encontra-se em distúrbio de comportamento que pode ter
características patológicas a caminho de agravamento.

Mesmo assim, salvadas as exceções naturais, existem


processos inconscientes de identificação com outros do mesmo nível
emocional, estruturando um tipo qualquer de relação, embora de
natureza agressiva, cruel ou dependente.

Esse mecanismo é essencial para a preservação da saúde


física, emocional e mental, em razão de estruturar o comportamento de
maneira edificante, quando realizado em equilíbrio, ou facultar
transtornos de vária ordem, se proveniente de reações geradas pela
antipatia ou pela animosidade primitiva que ainda predomina como
guia de conduta.

Quando se observa alguém ou alguma coisa, o processo é feito


de reciprocidade, porquanto aquilo ou a quem se vê, por sua vez,
observa também o observador.

Em tudo há uma resposta unitária de identificação,


trabalhando em forma de relacionamentos energéticos, vibratórios.

Sem tal ocorrência, o sentido da vida humana desapareceria e


a sobrevivência dos animais, plantas, assim como a permanência dos
minerais resultaria na forma do denominado caos do princípio.

Esse relacionamento pode ser identificado também, nas faixas


dos instintos e emoções mais nobres, como o élan vital para o processo
115

de crescimento intelecto-moral a que tudo está destinado pela


Causalidade Única.

Os relacionamentos de qualquer natureza oferecem campo


para reflexão, quando na área da consciência, por propiciar parâmetros
que facultam os comportamentos ideais, mediante análise de cada
experiência e dos resultados que ensejam.

O ser humano necessita do calor afetivo de outrem, mediante


cuja conquista amplia o seu campo de emotividade superior,
desenvolvendo sentimentos que dormem e são aquecidos pelo
relacionamento mútuo, que enseja amadurecimento e amor.

Concomitantemente, espraia-se esse desejo de manter contato


com as expressões mais variadas da vida, nas quais haure alegria e
renovação de objetivos, por ampliar a capacidade de amar e de
experienciar novas realizações.

O fluxo da vida humana se manifesta através dos


relacionamentos das criaturas umas com as outras, contribuindo para
uma melhor e mais eficiente convivência social.

Nas expressões mais primárias do comportamento, o instinto


gregário aproxima os seres, a fim de os preservar mediante a união de
energia que permutam, mesmo que sem se darem conta.

O desafio do relacionamento é um gigantesco convite ao amor,


a fim de alcançar a plenitude existencial.

É impostergável proposta de desenvolvimento do Eu superior,


no qual está a divina semente da Vida, aguardando os fatores
propiciatórios para o seu desenvolvimento, atendendo à fatalidade a que
está destinado.

Uma velha fábula conta que, numa já remota era glacial, os


porcos-espinhos sentiram-se ameaçados de destruição pelo frio que
reinava em toda parte.

Por instinto, uniram-se e conseguiram sobreviver em razão do


calor que irradiavam.

Não obstante, pelo fato de estarem muito próximos, uns dos


outros, passaram a ferir-se mutuamente, provocando reações
inesperadas, quais o afastamento de alguns deles.

Como conseqüência da decisão, todos aqueles que se


encontravam distantes passaram a morrer por falta de calor. Os
sobreviventes, percebendo o que acontecia, reaproximaram-se, agora
116

porém, conhecedores dos cuidados que deveriam manter, a fim de não


se magoarem reciprocamente.

Graças a essa conclusão feliz, sobreviveram à terrível


calamidade...

Trata-se de excelente lição para uma feliz convivência, um


produtivo relacionamento, respeitando-se sempre os valores daquele a
quem se busca, sua privacidade, seus sentimentos, suas conquistas e
prejuízos, que fazem parte da sua realidade pessoal.

Relacionamentos Familiares

A família é o laboratório de vivências das mais expressivas de


que necessita o ser humano, no seu processo de evolução, porquanto,
no mesmo clã, os indivíduos são conhecidos, não podendo disfarçar os
valores que os tipificam.

Aceitos ou repudiados por motivos que procedem de


existências pretéritas, o grupo familial faculta o romper dos laços do
egoísmo, a fim de que a solidariedade e a lídima fraternidade se
desenvolvam efusivamente.

No recesso da família renascem os sentimentos de afinidade


ou de rechaço que os Espíritos preservam de outros relacionamentos
felizes ou desventurados em reencarnações transatas, refluindo
consciente ou inconscientemente como necessidade de liberação dos
conflitos, quando forem dessa natureza, ou intensificação da
afetividade, que predispõe às manifestações mais significativas do amor
além da esfera doméstica.

O élan que se estabelece no lar tem valor decisivo, muitas


vezes, na conduta do indivíduo, onde quer que se encontre, tornando-o
inibido, introvertido ou jovial, agradável como efeito das ocorrências do
ninho doméstico.

Os Espíritos antipáticos entre si, quando se reencontram na


família, unidos pela consangüinidade, expressam essa animosidade de
muitas formas, o que gera transtornos cuja gravidade tem a dimensão
dos problemas vivenciados.

Por outro lado, quando existe compreensão e fraternidade, os


relacionamentos se fazem saudáveis e enriquecedores, ampliando os
horizontes do afeto, que se expandem em todas as direções, qual rio
generoso que se espraia em campo aberto, irrigando o solo e dando vida
mais abundante por onde passa.
117

O relacionamento no lar constitui preparação para as


conquistas da solidariedade com todos os seres, não apenas os
humanos, porquanto o desenvolvimento dos valores intelecto-morais
proporciona aspirações mais amplas que vão sendo conquistadas à
medida que o indivíduo amplia a capacidade volitiva de amar. Essa
volição propele-o à compreensão das dificuldades que os
relacionamentos às vezes enfrentam.

Somente há legítimo relacionamento, que poderá ser


considerado saudável, quando as pessoas ou os seres que inter-
cambiam as expressões de afetividade ou de interesse comum, mesmo
que discordando de idéias e posturas tomadas, agem em clima de
agradável compreensão, ensejando o crescimento interior.

Nos relacionamentos agressivos, que em muitas ocasiões


surgem no instituto da família, os opostos encontram-se em conflito
recíproco, e sentindo-se impossibilitados de amar, reagem, uns contra
os outros, deixando transparecer a presença dos sentimentos
magoados.

Quando morre a emoção do amor, dando lugar à indiferença,


é que se faz muito difícil o relacionamento, porque desaparecem as
manifestações da vida pulsante e rica de aspirações.

Mede-se o desenvolvimento e a maturidade psicológica de


uma pessoa, quando o seu relacionamento no lar é positivo, mesmo que
enfrentando clima de hostilidade ou de diferença, que o prepara
emocionalmente para outros cometimentos na convivência social.

No abismo dos conflitos que se apresentam em muitas


personalidades enfermiças, o medo de amar, a desconfiança por
saberem-se não amadas, o receio de terem identificadas as sua facetas
tormentosas, criam impedimentos a uma boa relação no lar, pórtico de
sombras que passa a ser para os futuros envolvimentos na sociedade.

A postura taciturna, constrangida, silenciosa, quase hostil, se


revela um recurso psicológico de defesa do Ego, para continuar no
comando das reações mórbidas que se negam à terapia da renovação
interior.

E tudo quanto não se renova tende a desaparecer, a extinguir-


se.

Representando a família a mais valiosa célula do organismo


social, é nela que se encontram os Espíritos necessitados de
entendimento, de intercâmbio de sentimentos e de experiências, de
forma que o lar se faz sempre a escola na qual os hábitos irão definir
todo o rumo existencial do ser humano.
118

O instinto gregário, que predomina no animal e se expande ao


ser pensante, estimula o Ego ainda não doentio à preservação do clã,
gerando apegos que constituem automático recurso de que se utiliza
para a defesa dos seus...

Os interesses gravitam em torno do grupo doméstico,


desenvolvendo a capacidade interior de zelo e proteção, que será
ampliada mais tarde para todo o grupo social onde se movimenta, e,
naturalmente, para a humanidade que lhe é a grande e legítima família.

Por serem profundos e inevitáveis os relacionamentos


domésticos, positivos ou não, apressam o desenvolvimento da
afetividade que prepondera, quando negativos, em forma reagente,
porém viva, e quando saudáveis, em mecanismos de evolução que
apressa a lídima fraternidade.

No geral, as pessoas temem os relacionamentos mais sérios,


porque não desejam ser magoadas, acreditando que não lograrão a
compreensão nem o apoio de que necessitam, preferindo uma atitude
de distância, o que tampouco as impede de experimentar outro
qualquer tipo de constrangimento.

Tal atitude, inegavelmente conflitiva, resulta em tormento


para quem assim se comporta, porque se sente expulso do contexto,
não obstante essa atitude seja de eleição própria.

Não há crescimento psicológico sem o enfrentamento de


problemas, sem o atrito das emoções, particularmente na área da
afetividade que é campo novo para o ser, quando treina mais fortes e
valiosas expressões de amor.

Quando, porém, alguém não consegue evitar os


constrangimentos domésticos, porque outrem — aquele a quem
desejaria ser simpático — se recusa à mudança de atitude hostil, é
possível tornar o problema um valioso recurso para a prática de
tolerância, tentando compreender a sua dificuldade, desculpando-o pelo
estágio primário em que ainda permanece, mas tratando de não se deter
no aparente impedimento, e crescendo sem amarras emocionais com a
retaguarda.

É verdade que não se pode impor o amor, no entanto, não


menos verdade é que a pretexto de amar, ninguém se deve deixar
permanecer estacionado no obstáculo que defronta.

À medida que se cresce, mais soma de recursos se acumula


para distendê-los àqueles que se encontram em faixas menos evoluídas,
auxiliando-os com lúcida afeição fraternal.
119

Quando não vicejam sentimentos felizes na família — que se


apresenta dispersiva ou sempre mal disposta, egoísta ou agressiva —, a
melhor terapia para um bom relacionamento é aquela que não envolve
as emoções, evitando-se dilacerações sentimentais, porquanto os menos
equipados de grandeza moral são insensíveis às palavras e aos gestos
de ternura, caracterizando-se pela forma brutal de comportamento.

Assim, então, cabe, a quem deseja o amadurecimento, a


permanência no cultivo de pensamentos salutares, estimando as boas
leituras e evitando as expressões chulas, tão do agrado dos Espíritos
mais primitivos, preservar-se do nivelamento pela vulgaridade e assim
exigindo o crescimento emocional e moral de quem lhe comparte a
convivência.

Os relacionamentos familiares são particulares testes para a


fraternidade, desde que o campo é fértil para as discussões, as
agressões, as discrepâncias, mas também para a compreensão, a ajuda
recíproca, o interesse comum, mediante cujas ocorrências, dá-se
naturalmente a integração do ser na convivência social.

Quando alguém experimenta conflito no lar e não consegue


superá-lo, o mesmo seguirá por onde for, porquanto, sendo de natureza
interior, necessita ser diluído antes que superado.

A fornalha mais preciosa para o amoldamento do caráter e da


personalidade é o lar. Quando esse falta, deixando o ser em formação
em mãos estranhas ou ao abandono, o sofrimento marca-lhe o
desenvolvimento psicológico, que passa a exigir terapia de amor muito
bem direcionada, evitando-se os apelos de compaixão, de proteção
injustificada, para se tornar natural, franco, encorajador, e que faculte
a compreensão do educando sobre o fenômeno que lhe aconteceu, mas
em realidade não lhe pode afetar a existência, desde que se trata de
uma ocorrência proposta pelas Leis naturais da Vida.

O ser humano, em qualquer fase do seu desenvolvimento na


Escola terrestre, e sempre aprendiz sensível a quem o amor oferece os
mais poderosos recursos para a felicidade ou para a desdita,
dependendo de como esse seja encaminhado.

O lar, desse modo, é oficina de crescimento moral e


intelectual, mas sobretudo espiritual, que deve ser aprimorado sempre,
abrindo espaço para tornar-se célula eficiente da sociedade.

Relacionamentos Com Parceiros Ou Cônjuges

Os relacionamentos de qualquer natureza dependem sempre do


nível de consciência daqueles que estão envolvidos. Havendo
120

maturidade psicológica e compreensão de respeito pelo outro,


facilmente se aprofundam os sentimentos, mantendo-se admirável
comunhão de interesses e afinidades, que mais se intensificam, à
medida que as circunstâncias permitem o entrosamento da convivência.

Quando se trata de um relacionamento que envolve a comunhão


sexual e os interesses se mesclam com os desejos de posse e de prazer
hedonista, a convivência tende a desmistificar o encantamento inicial,
dando lugar a futuros desinteresses, ressentimentos e, não raro, ódios e
desejos de vingança, o que é sempre muito lamentável.

Sob o influxo da libido, a busca do relacionamento com


parceiros, conjugais ou não, é normalmente feita sob paixão e
irreflexão.

A conquista do outro se torna fator essencial para a harmonia


momentânea do indivíduo. Todos os sentimentos são acionados e a
criatividade se desenvolve, de modo a propiciar apenas a meta anelada.

Conseguido o objetivo, diminui lentamente o prazer da


convivência, que cede lugar ao tédio, à falta de diálogo, à morte da
comunicação, intercâmbio esse que é fator essencial para um
relacionamento agradável, mesmo quando não plenificador.

Centralizando os objetivos da existência no sexo, muitas pessoas


acreditam que somente ao encontrarem alguém capaz de as
completarem, é que terão conseguido o momento culminante da jornada
humana. Esquecem-se, no entanto que, passadas as novidades, tudo se
transforma em rotina, especialmente quando os interesses egóicos
recebem primazia e se fazem responsáveis pelas motivações do eventual
encontro.

Porque são destituídos de maturidade e respeito humano


profundo, essas relações são sempre efêmeras e deixam sinais de
amargura, quando não se facultam terminar com rancores danosos
para a emoção de algum dos envolvidos, ou não produzem maior
dilaceração na alma de ambos.

Qualquer tipo de relacionamento deve ter como estimuladores a


amizade, o desejo honesto de satisfações recíprocas, sem que haja
predominância de uma vontade sobre a individualidade de outrem.

Pela necessidade de conviver, a amizade desempenha um papel


fundamental em qualquer tipo de conduta, abrindo espaço para uma
gentil identificação de propósitos e de permuta de valores, que
constituem elementos de intercâmbio sempre feliz, facultando o
crescimento dos interesses humanos e das realizações que
proporcionam bem-estar.
121

Indubitavelmente, esse sentimento pode originar-se no inicial


interesse da libido que desperta para a busca de outro ser, na
necessidade de companheirismo, na ânsia normal de amar e de ser
amado, no prazer do intercâmbio pela palavra, pelos ideais, pelas metas
existenciais... No entanto, a compreensão dos direitos do outro deve
prevalecer como normativa de bom relacionamento, a fim de que não
advenham as imposições infantis do egocentrismo, das chantagens
emocionais, dos pieguismos desagradáveis.

Todo relacionamento deve enriquecer aqueles que se encontram


envolvidos, porquanto produzem identificação de metas e meios para
serem conseguidos.

É natural que o céu de qualquer relacionamento nem sempre


seja tranqüilo, particularmente quando são parceiros que comungam
mais profundamente as expressões do amor, trabalhando em favor da
família, mantendo a estrutura do lar, o equilíbrio dos filhos e de outros
familiares.

Não obstante, as nuvens das incompreensões logo são aclaradas


pelo sol da razão que chega através dos diálogos saudáveis, facultando
o entendimento daquilo que permaneceu obscuro.

A fidelidade no relacionamento com parceiro conjugal ou não,


quando há compromisso sexual, é preponderante, porque demonstra a
autenticidade do sentimento que a ambos envolve.

Quando se apresentam falsas necessidades de novas


experiências, defrontam-se transtornos emocionais, insegurança
psicológica, debilidade de caráter ou futilidade ante a vida... A
promiscuidade de qualquer natureza é sempre síndrome de
desequilíbrio emocional e de primarismo moral.

A vida é feita de conquistas, e a monogamia representa um


momento culminante da evolução sócio-moral, quando os homens e
mulheres compreenderam a necessidade do respeito mútuo, sem
privilégios para um ou para outro sexo em predomínio aviltante sobre o
parceiro.

O indivíduo, quando opta por um relacionamento com outrem,


desejando maior intimidade — e a comunhão sexual representa o
instante máximo de entendimento entre duas pessoas, sem o que as
frustrações se fazem de imediato —deve pautar a sua conduta em
linhas de equilíbrio e dignidade, de modo a proporcionar àquele a quem
busca a segurança psicológica para uma convivência confiante,
relaxada, tranqüila, sem o que sempre haverá desconfiança e ansiedade
trabalhando perturbadoramente no convívio.
122

Faltando esses valores, que são imprescindíveis para que se


estabeleçam e permaneçam os momentos de prazer e de paz, há
somente predominância de paixões asselvajadas, no primarismo dos
instintos de posse e de gozo, que produzem incêndios de sensações sem
compensação emocional profunda e tranqüilizante.

Mesmo quando os parceiros se comprazem e se sentem


harmonizados, o medo de amar em profundidade manifestase de
maneira falsa, disfarçado sob a justificação de que o matrimônio é
escravidão, encarceramento, perda de liberdade...

O raciocínio infantil peca por falta de estrutura de lógica,


porquanto, toda vez que se ama a outrem e se mantém um sentimento
honesto, a liberdade, que antes era total, agora se expressa através da
compreensão de que aquele que o acompanha faz parte do programa da
sua existência, queira-o ou não, exceção feita, quando esse convívio é
aventureiro, sem profundidades destituído de moralidade e de saúde
emocional.

Os indivíduos neuróticos, psicóticos, porque desconhecedores do


Si profundo que são, transferem as suas inseguranças e desequilíbrios
para quem lhes comparte a existência, não desejando vincular-se-lhe, o
que lhes impõe responsabilidade, antes desejando dominar e ser livres
quão irresponsáveis, transferindo as suas cargas de desajustes para os
ombros de quem os ama ou por eles se interessa.

Essa conduta diz respeito também àqueles que acreditam que


não merecem a felicidade, que se encontram no mundo para sofrer e
que perderam o paraíso, atirados a este mundo de pesadelos e de
amarguras...

Tal conduta masoquista e mórbida necessita de terapia


conveniente e cuidadosa antes de ser encetada a busca de
relacionamentos exitosos, porque qualquer tentativa nesse sentido já se
assinala como fracassada, em razão da ausência de compreensão do
direito que todos têm de ser felizes, mesmo na Terra, já que a felicidade
total não sendo do mundo, conforme acentuou Jesus, tem as suas
raízes nas experiências de evolução no mundo, que é a abençoada
escola das almas.

As castrações psicológicas, heranças dos sentimentos de culpa e


de pecado, que provêm do passado, têm perturbado mais a
Humanidade do que as guerras cruéis, que têm por meta o extermínio
de povos e de raças, porquanto, na raiz desses conflitos, aqueles que os
desencadeiam são psicopatas, vitimados por insânia visível ou
virulentamente mantida nos arcabouços do inconsciente que os
comanda nas atitudes e decisões infelizes.
123

Todo fomentador de luta insana é desvairado em si mesmo,


embora a máscara com que disfarça a hediondez, e não conseguindo
fugir da culpa que o persegue, procura atirá-la naqueles a quem
combate em mecanismo doentio de transferência.

A afetividade é passo avançado no processo dos relacionamentos,


principalmente quando se trata daquele que mantém comunhão sexual.

Todo relacionamento conjugal ou compromisso emocional com


parceiro afetivo é um investimento emocional, correndo o risco de não
se coroar da satisfação que se espera auferir. Isto porém ocorre em
todos os fenômenos da vida humana e social. Quando os resultados não
são opimos, fica a valiosa lição da aprendizagem para futuros e
melhores tentames de felicidade.

O risco em qualquer empreendimento sempre constitui um


desafio para o crescimento interior, sem o qual nenhuma tentativa é
realizada para o desenvolvimento intelecto-moral do ser.

Qualquer experiência encetada nunca está assinalada


antecipadamente pela exatidão dos resultados positivos e exitosos.

Um relacionamento conjugal, mesmo sem o vínculo matrimonial,


porém responsável, une duas pessoas em uma, sem retirar os valores
individuais de cada qual. A identificação faz-se lenta e seguramente à
medida que se vão conhecendo os interesses e comportamentos que
possuem, trabalhando-se para a harmonização de conduta, mesmo
quando não se apresentem equivalentes. Manter-se a própria
individualidade, sem ruptura da personalidade do outro, é atitude de
segurança no convívio de duas pessoas que se amam.

Em um relacionamento feliz, a pessoa nunca se encontra


autodefensiva, mas auto-receptiva, sabendo que todos os fenômenos daí
decorrentes são aprendizagens para futuros comportamentos.

Tratando-se de duas pessoas que se aproximam, é totalmente


improvável que sejam iguais, no sentido de serem destituídas de
personalidade, e que tenham sua forma de ser e de encarar a vida, não
sendo obrigadas a mudar de conduta, somente porque se vinculem a
outrem.

Ocorre que a presença do amor faz que as diferenças de opinião e


de comportamento diminuam as distâncias, preencham os abismos de
separação, colocando pontes de afinidades e de interesses.

Desde que não haja a paixão de um impor a sua forma de pensar


e de agir sobre o outro, nenhuma diferença constitui impedimento,
quando são respeitados os direitos de continuar a viver conforme
melhor aprouver, sem agredir a quem comparte a convivência.
124

Quando, porém, os indivíduos se escondem de si mesmos e


buscam os relacionamentos com o pensamento de se manterem
silenciosos e ocultos, sem que pensem em repartir os espaços interiores
da afetividade plena, a dissolução do vínculo afetivo logo se faz, mesmo
porque não chegou a ser realizado.

Assim, para que o relacionamento dessa natureza seja saudável,


dependerá de ambas as partes, crescendo sempre na busca do melhor
entendimento, mantendo suas próprias raízes, sem as alterar somente
porque deseja agradar o outro, o que constitui uma ilusão, já que
ninguém pode viver ao lado de outrem que somente quer ser agradado
sem o interesse de brindar o equivalente ao que recebe.

A presença da super-mãe, protetora e vigilante está projetada na


esposa ou na companheira, que nunca deve aceitar essa transferência
da personalidade infantil e não desenvolvida do seu parceiro.

Num relacionamento feliz não há manipulação nem mistificação,


mas autenticidade sem agressividade e verdade sem rudeza...

Avançando na direção da meta de repartir alegrias e compartir


júbilos, os relacionamentos, conjugais ou não, serão sempre saudáveis.

Relacionamentos Sociais

Todo aquele que adquire madureza emocional no grupo familial e


no conjugal, está preparado para os relacionamentos em esfera mais
ampla, no agitado mundo dos interesses sociais.

Os relacionamentos sociais são de vital importância para os seres


humanos. Quem não se relaciona no grupo social desintegra a
personalidade e atormenta-se em sentido crescente.

O calor humano, no inter-relacionamento social, constitui fator


básico para o crescimento psicológico, desenvolvendo a área da
afetividade com toda a gama de sentimentos profundos que existem em
germe no imo de cada ser.

O impositivo do instinto gregário responsável de algum modo, pela


sobrevivência das espécies animais, induzindo à convivência no grupo,
desvela-se mais amplamente em emoções superiores que emulam à
espiritualização, quando os sentimentos fraternais superam os níveis
que agrilhoam o indivíduo aos automatismos primários.

O relacionamento social tem início quando o ser humano


compreende a estrutura de tudo quanto o cerca e deixa-se envolver pelo
ambiente em que vive, tomando-se parte ativa do mesmo. Relaciona-se
125

então com os minerais, desenvolve os sentimentos de respeito e de


admiração pelos vegetais, amplia a capacidade de amparo aos animais,
trabalhando pela preservação de todas as formas viventes e, por fim,
irradia-se na direção das demais pessoas como membros reais da sua
família, partes integrantes que são da sua vida.

Nos remos inferiores, o relacionamento é vivido apenas por parte


daquele que pensa e que sente racionalmente, porquanto neles, ainda
não existindo uma consciência que possa responder pelos sentimentos
que lhes são direcionados, a doação é unilateral, com uma
conseqüência sutil para quem a proporciona — o prazer de estar vivo e
partilhar de todas as formas da vida.

Nos vegetais e nos animais, no entanto, essa experiência já se faz


em dupla via, porquanto existe sensibilidade e, nos últimos, a presença
de uma percepção mais desenvolvida, que permite a captação e a
retribuição de tudo quanto lhes é direcionado.

Entre os seres humanos é que surgem os grandes desafios


psicológicos, aqueles que decorrem do nível de consciência individual,
do seu desenvolvimento de sentimentos, do estágio de maturidade em
que cada qual se encontra.

Por essa razão, é indispensável que sejam criadas emoções que


facultem união, intercâmbio, a fim de serem atingidos os objetivos
básicos da existência corporal, que são as expressões da lídima
fraternidade.

Nessa busca saudável de comunhão com os semelhantes, a alegria


se irradia em forma de otimismo e de esperança, que são fundamentais
à existência equilibrada.

Todo ser humano é portador de força criadora que se desenvolve


através do relacionamento com outro da mesma espécie. Para o êxito do
cometimento, torna-se fundamental o autodescobrimento, a fim de
serem identificados o lado negativo que faz parte da personalidade, a
face escura desse poder natural, evitando que predominem nas relações
que sejam estabelecidas.

Enquanto forem ignorados esses ângulos ainda deficientes e


perturbadores, os desentendimentos entre aqueles que se buscam,
fazem-se predominantes ao invés das identificações que os devem unir,
porque cada qual pretende impor-se sobre o outro, olvidando que nessa
atividade de relacionamentos não há valor que se sobreponha ou que se
submeta, mas que todos se encontram no mesmo patamar de interesse
e de significação estabelecendo linhas de perfeito respeito recíproco.
126

O bom relacionamento é aquele que resulta do contato que inspira,


que emula e que proporciona bem-estar, sem conteúdos temerosos ou
repulsivos, geradores de ansiedade e de mal-estar.

Cada pessoa tem algo para oferecer ao grupo social no qual se


movimenta, e esse contributo é importante para o conjunto, que o não
pode prescindir. Qualquer imposição que decorra do capricho egóico de
algum dos membros, torna-se fator de impedimento para a saudável
formação da sociedade.

É por isso que os dominadores, os poderosos, aqueles que se


impõem, tomam-se sempre temidos, mas nunca amados. As pessoas
que normalmente os cercam e os homenageiam, com as raras exceções
que se referem àqueles que se encontram no mesmo patamar de
consciência e com eles se identificam, têm interesse pela posição
efêmera de que desfrutam, pelas migalhas da projeção humana, porque
são incapazes de se fazerem notados pelas conquistas éticas, culturais
ou de qualquer outra natureza superior, rastejando no nível mais servil
e aproveitando-se daquela situação infeliz.

Desse modo, o indivíduo que admite a própria fragilidade, a sua


humanidade, e compreende a necessidade da presença de outrem para
avançar, está preparado para a convivência social, para um
relacionamento eficaz. Enquanto nele predominem a presunção e a
exclusiva auto-satisfação, defrontará muitas dificuldades para se
harmonizar na sociedade, porque não pode vencer a ambição mórbida
da autoprojeção.

Quando alguém se nega o esforço de adquirir a capacidade de


autopenetração, para que sejam identificados os problemas internos, e
se apresenta a necessidade da fuga do convívio com o grupo social para
uma existência solitária, está delineando o seu comportamento
neurótico, que o expulsa do organismo geral, a fim de que estertore na
problemática dos tormentos que se impõem, e inconscientemente neles
se compraz.

Torna-se de alto significado, para um exitoso relacionamento social,


que o indivíduo tenha a coragem de considerar a própria crueldade, os
sentimentos ambíguos, os receios interiores, as inseguranças e a
agressividade pessoal em uma análise honesta das dificuldades que lhe
são peculiares, buscando superá-las, a fim de que não haja
transferência de responsabilidade para outrem, ou consciência de culpa
quando qualquer insucesso se manifestar nos intercâmbios buscados.

Quando se é capaz de vencer as imperfeições, sem as direcionar


para os outros, tem-se condição para convívios saudáveis, harmônicos,
o que não impede a ocorrência de desajustes e incompreensões que
podem ser discutidos e diluídos, tendo-se em mira o objetivo de
construir uma boa sociedade.
127

Um relacionamento psicologicamente maduro é sempre


sustentado pela lealdade da convivência, na qual os propósitos que
vinculam os indivíduos entre si são discutidos com naturalidade e
sentimento de aprendizagem de novos recursos para o bom
desempenho social.

Sendo cada pessoa um elo da imensa corrente que deve reunir


todos os homens e mulheres, o ajustamento emocional ao grupo é
indispensável, contribuindo para o fortalecimento da estrutura
comportamental de todos.

A vida é uma mensagem de harmonia e de prazer, que emula à


conquista de novos patamares de felicidade. Sem esses instrumentos de
estimulação, os transtornos emocionais se instalam e o sentido de
júbilo cede lugar à depressão e à infelicidade, que passam a constituir o
cotidiano daquele que derrapa nas sombras dos desajustes emocionais.

Quando ocorrerem desencontros nos relacionamentos sociais,


ninguém se deve permitir a veleidade de acusar o outro; antes manter-
se consciente de que ambos se encontram com dificuldades para uma
boa identificação de interesses.

Normalmente acionadas pelos apetites sexuais, muitas pessoas


acreditam que, em qualquer relacionamento, a libido deve desempenhar
papel de alta importância, determinando a profundidade e o tempo de
manutenção da convivência, não se sentindo capazes de manter
vinculações destituídas desse tipo de jogo de prazer.

Em tais casos, a insegurança e a imaturidade do indivíduo


respondem pela forma de considerar o comportamento social, que deve
ser colocado acima das sensações rápidas do desejo carnal.

Nessas buscas, em que se caracterizam os instintos primários, os


resultados que se fruem são sempre fugidios e fastidiosos, exigindo
sempre variações novas que mais atormentam do que plenificam, por
isso mesmo, insuficientes para contribuírem em favor da construção e
preservação de um grupo social harmônico.

Mesmo quando o relacionamento tem por meta a satisfação sexual,


se não existir maturidade psicológica nos parceiros, é óbvio que,
passada a consumpção do ato, o tédio e o desinteresse dominem o
indivíduo que nele não situa a conquista de objetivos mais profundos.

A criatura humana é muito mais do que os impulsos instintivos dos


desejos servis. Espírito imortal que é, encontra-se programada para a
superação das experiências primárias vivenciadas, rumando na direção
dos sentimentos sublimes que lhe são a herança divina dormindo nos
refolhos do ser.
128

A sociedade equilibrada deve funcionar como uma orquestra


afinada executando especial obra sinfônica, na qual predomina a
harmonia dos movimentos e das notas musicais sob a regência feliz do
ideal que proporciona alegria e paz.

Para que isso seja logrado, o amor desempenha um papel especial:


o de conseguir superar as dificuldades naturais da fase inicial de
identificação, quando todos ainda não se conhecem e mantêm o
compreensível receio de suscetibilízação de um em relação ao outro, ou
de não poderem corresponder ao que de cada qual é esperado.

O amor, em qualquer situação, produz enzimas psíquicas que


contribuem eficientemente em favor do metabolismo social, produzindo
o quimismo necessário à renovação de todas as suas células e do
organismo total como efeito inevitável.

Amor, Imbatível Amor páginas 15~34

Amor e Eros. Desejo e prazer Sexo e amor.


Medo de amar. Casamento e companheirismo.

O amor é substância criadora e mantenedora do Universo,


constituído por essência divina.

E um tesouro que, quanto mais se divide, mais se multiplica, e se


enriquece à medida que se reparte.

Mais se agiganta, na razão que mais se doa. Fixar-se com mais


poder, quanto mais se irradia.

Nunca perece, porque não se entibia nem se enfraquece, desde que


sua força reside no ato mesmo de doar-se, de tornar-se vida.

Assim como o ar é indispensável para a existência orgânica, o amor


é o oxigênio para a alma, sem o qual a mesma se enfraquece e perde o
sentido de viver.

É imbatível, porque sempre triunfa sobre todas as vicissitudes e


ciladas.
129

Quando aparente — de caráter sensualista, que busca apenas o


prazer imediato — se debilita e se envenena, ou se entorpece, dando
lugar à frustração.

Quando real, estruturado e maduro — que espera, estimula, renova


— não se satura, é sempre novo e ideal, harmônico, sem altibaixos
emocionais. Une as pessoas, porque reúne as almas, identifica-as no
prazer geral da fraternidade, alimenta o corpo e dulcifica o eu profundo.

O prazer legítimo decorre do amor pleno, gerador da felicidade,


enquanto o comum é devorador de energias e de formação angustiante.

O amor atravessa diferentes fases: o infantil, que tem caráter


possessivo, o juvenil, que se expressa pela insegurança, o maduro,
pacificador, que se entrega sem reservas e faz-se plenificador.

Há um período em que se expressa como compensação, na fase


intermediária entre a insegurança e a plenificação, quando dá e recebe,
procurando liberar-se da consciência de culpa.

O estado de prazer difere daquele de plenitude, em razão de o


primeiro ser fugaz, enquanto o segundo é permanente, mesmo que sob
a injunção de relativas aflições e problemas-desafios que podem e
devem ser vencidos.

Somente o amor real consegue distingui-los e os pode unir quando


se apresentem esporádicos.

A ambição, a posse, a inquietação geradora de insegurança —


ciúme, incerteza, ansiedade afetiva, cobrança de carinhos e atenções —,
a necessidade de ser amado caracterizam o estágio do amor infantil,
obsessivo, dominador, que pensa exclusivamente em si antes que no ser
amado.

A confiança, suave-doce e tranqüila, a alegria natural e sem alarde,


a exteriorização do bem que se pode e se deve executar, a compaixão
dinâmica, a não-posse, não-dependência, não-exigência, são benesses
do amor pleno, pacificador, imorredouro.

Mesmo que se modifiquem os quadros existenciais, que se alterem


as manifestações da afetividade do ser amado, o amor permanece
libertador, confiante, indestrutível.

Nunca se impõe, porque é espontâneo como a própria vida e irradia-


se mimetizando, contagiando de júbilos e de paz.

Expande-se como um perfume que impregna, agradável,


suavemente, porque não é agressivo nem embriagador ou apaixonado...
130

O amor não se apega, não sofre a falta, mas frui sempre, porque
vive no íntimo do ser e não das gratificações que o amado oferece.

O amor deve ser sempre o ponto de partida de todas as aspirações e


a etapa final de todos os anelos humanos.

O clímax do amor se encontra naquele sentimento que Jesus


ofereceu à Humanidade e prossegue doando, na Sua condição de
Amante não amado.

Amor E Eros

O amor se expressa como sentimento que se expande, irradiando


harmonia e paz, terminando por gerar plenitude e renovação íntima.
Igualmente se manifesta através das necessidades de intercâmbio
afetivo, no qual os indivíduos se completam, permutando hormônios
que relaxam o corpo e dinamizam as fontes de inspiração da alma,
impulsionando para o progresso.

Sem ele, se entibiam as esperanças e deperece o objetivo existencial


do ser humano na Terra.

As grandes construções do pensamento sempre se alicerçam nas


suas variadas manifestações, concitando ao engrandecimento
espiritual, arrebatando pelos ideais de dignificação humana e
fomentando tanto o desenvolvimento intelectual como o moral.

Valioso veículo para que se perpetue a espécie, quando no


intercurso sexual, de que se faz o mais importante componente, é a
força dinâmica e indispensável para que a vida se alongue, etapa-a-
etapa, ditosa e plena.

Nos outros remos — animal e vegetal — manifesta-se como instinto


no primeiro e fator de sincronia no segundo, de alguma forma embriões
da futura conquista da evolução.

Adorna a busca com a melodia da ternura e encanta mediante a


capacidade que possui de envolvimento, sem agressão ou qualquer
outro tipo de tormento.

Sob a sua inspiração as funções sexuais se enobrecem e a


sexualidade se manifesta rica de valores sutis: um olhar de carinho, um
toque de afetividade, um abraço de calor, um beijo de intimidade, uma
carícia envolvente, uma palavra enriquecedora, um sorriso de
descontração, tornando-se veículo de manifestação da sua pujança,
preparando o campo para manifestações mais profundas e
responsáveis.
131

Como é verdade que o instinto reprodutor realiza o seu mister


automaticamente, quando, no entanto, o amor intervém, a sensação se
ergue ao grau de emoção duradoura com todos os componentes
fisiológicos, sem a Selvageria da posse, do abandono e da exaustão.

A harmonia e a satisfação de ambos os parceiros constituem o


equilíbrio do sentimento que se espraia e produz plenitude.

A libido, sob os seus impulsos, como força criadora, não produz


tormento, não exige satisfação imediata, irradiando-se, também, como
vibração envolvente, imaterial, profundamente psíquica e emocional.

Quando o sexo se impõe sem o amor, a sua passagem é rápida,


frustrante, insaciável...

Por outro lado, os mitólogos definem Eros, na conceituação antiga


do Olimpo grego, como sendo a divindade que representa o Amor,
particularmente o de natureza física.

Eros teria nascido do caos primitivo, portanto, espontaneamente,


como manifestação da vida afetiva. A partir do século VI a.C. passou a
ser representativo da Paixão, e teria tido uma origem diferente, uma
gênese mais poética, comparecendo como filho de Hermes e Afrodite, ou
como descendente de Cronos e Gê, ou de Zéfiro e Íris, ou ainda, de
Afrodite e Marte...Foi objeto de culto particular e especial em Téspias,
Esparta, Samos, Atenas, merecendo esse culto ser associado ao que se
dispensava a Afrodite, Cantes, Dionísio e Hércules. Por extensão,
passou a representar o desejo sexual, a função meramente decorrente
do gozo sensualista, dos prazeres e satisfações sexuais.

Posteriormente, os romanos identificaram-no como Cupido, filho de


Vênus, inicialmente representado como um adolescente, enquanto na
Grécia possuía a aparência de uma criança algo maliciosa, que se fazia
conhecer com ou sem asas, arco e flecha nas mãos. Foi tido como o
mais poderoso dos deuses durante muito tempo.

O importante, porém, é que, em nosso conceito pessoal, o amor


transcende os desejos sexuais, enquanto Enos, que pode ser portador
de sentimento afetivo, caracteriza-se pelos condimentos da libido,
sempre direcionada para os prazeres e satisfações imediatas da
utilização do sexo.

O amor é permanente, enquanto Eros é transitório. O primeiro


felicita, proporcionando alegrias duradouras; o segundo agrada e
desaparece voraz, como chama crepitante que ande e gasta o
combustível, logo se convertendo em cinzas que se esfriam...

Eros toma conta dos sentidos e responde pelas paixões


desenfreadas, pelos conflitos da insatisfação, que levam ao crime, ao
132

desar, ao desespero. Tendo, por objetivo imediato e inadiável, o


atendimento dos desejos mentais do desequilíbrio sexual, é responsável
pela alucinação que predomina nos grupos sociais em desalinho.

Assomando em catadupas de posse enceguecida, não confia,


envenena-se pelo ciúme, transtorna-se pela insegurança, fere e magoa,
derrapando em patologias sexuais devastadoras e perversões
alucinantes.

O amor dulcifica e acalma, espera e confia. É enriquecedor, e,


embora se expresse em desejos ardentes que se extasiam na união
sexual, não consome aqueles que se lhe entregam ao abrasamento,
porque se enternece e vitaliza, contribuindo para a perfeita união.

O amor utiliza-se de Eros, sem que se lhe submeta, enquanto esse


raramente se unge do sentimento de pureza e serenidade que
caracterizam o primeiro.

Os atuais são dias de libido desenfreada, de paixão avassaladora,


de predominância dos desejos que desgovernam as mentes e aturdem
os sentimentos sob o comando de Eros.

Não obstante, o amor está sendo convidado a substituir a ilusão


que o sexo automatista produz, acalmando as ansiedades enquanto
alça os seres humanos ao planalto das aspirações mais libertadoras.

Desejo E Prazer

O desejo, que leva ao prazer, pode originar-se no instinto, em forma


de necessidade violenta e insopitável, tornando-se um impulso que se
sobrepõe à razão, predominando em a natureza humana, quando ainda
primitiva na sua forma de expressão. Nesse caso, torna-se imperioso,
devorador e incessante. Sem o controle da razão, desarticula os
equipamentos delicados da emoção e conduz ao desajuste
comportamental.

Como sede implacável, não se sacia, porque é devoradora,


mantendo-se a nível de sensação periférica na área dos sentimentos que
se não deixam de todo dominar.

É voraz e tormentoso, especialmente na área genésica,


expressando-se como erotismo, busca sexual para o gozo.

Em esfera mais elevada, torna-se sentimento, graças à conquista de


algum ideal, alguma aspiração, anseio por alcançar metas agradáveis e
desafiadoras, propensão à realização enobrecedora.
133

Dir-se-á que as duas formas confundem-se em uma única, o que,


para nós, tem sentido diferente, quando examinamos a função sexual e
o desejo do belo, do nobre, do harmonioso, em comparação àquele de
natureza orgânica, erótica, de compensação imediata até nova e
tormentosa busca.

O desejo impõe-se como fenômeno biológico, ético e estético,


necessitando ser bem administrado em um como noutro caso, a fim de
se tornar motivação para t o crescimento psicológico e espiritual do ser
humano.

E natural, portanto, a busca do prazer, esse desejo interior de


conseguir o gozo, o bem-estar, que se ex t pressa após a conquista da
meta em pauta.

Por sua vez, o prazer é incontrolável, assim como não administrável


pela criatura humana.

Goethe afirmava que ele constituía uma verdadeira dádiva de Deus


para todos quantos se identificam com a vida e que se alegram com o
esplendor e a beleza que ela revela. A vida, em conseqüência, retribui-o
através do amor e da graça.

O prazer se apresenta sob vários aspectos: orgânico, emocional,


intelectual, espiritual, sendo, ora físico, material, e noutros momentos
de natureza abstrata, estético, efêmero ou duradouro, mas que deve ser
registrado fortemente no psiquismo, para que a existência humana
expresse o seu significado.

O prazer depende, não raro, de como seja considerado. Aquilo que é


bom, genericamente dá prazer, abrindo espaço para o medo da perda,
das faltas, ou para as situações em que pode gerar danos, auxiliando na
queda do indivíduo em calabouços de aflição.

Muitas pessoas consideram o prazer apenas como sendo expressão


da lascívia, e se olvidam daquele que decorre dos ideais conquistados,
da beleza que se expande em toda parte e pode ser contemplada, das
inefáveis alegrias do sentimento afetuoso, sem posse, sem exigência,
sem o condicionamento carnal.

Por uma herança atávica, grande número de pessoas tem medo do


prazer, da felicidade, por associá-lo ao pecado, à falta de mérito, que se
tornaria uma dívida a resgatar, ensejando à desgraça vir-lhe empós, ou,
talvez, como sendo uma tentação diabólica para retirar a alma do
caminho do bem.

Tal castração punitiva, que se prolongou por muitos séculos, ao ser


vencida deixou uma certa consciência de culpa, que liberada, vem
134

conduzindo uma verdadeira legião de gozadores ao desequilíbrio, ao


abuso, ao extremo das aberrações.

Como efeito secundário, ainda existem muitas pessoas que temem o


prazer ou que procuram dissimulá-lo, envolvendo-o em roupagens
variadas de desculpismos, para acalmar seus conflitos subjacentes.

Acentuamos, porém, que o prazer é uma força criadora,


predominante em tudo e em todos, responsável pela personalidade,
mesmo pela esperança. Muitas vezes, é confundido com o desejo de
tudo possuir, a fim de desfrutar, mais tarde, da cornucópia carregada
de todos os gozos, preferentemente o de natureza sexual.

Wilhelm Reich, o eminente autor da Bioenergética, centrou, no


prazer, todas as buscas e aspirações humanas, considerando que a
pessoa é somente o seu corpo, e que este é constituído por um sistema
energético, que deve ser trabalhado, sempre que a couraça bloqueie a
emoção, propondo como terapia a Teoria dos Anéis, a fim de, através
da sua aplicação nas couraças correspondentes, poder liberar a
emoção encarcerada.

Tendo, no corpo somente, a razão de ser da vida, Reich tornou-se


apologista do prazer carnal, sensual, capaz de levar ao estado de
felicidade psicológica, emocional.

A natureza espiritual do ser humano, no entanto, não mereceu


qualquer referencial de Reich, assim como de outros estudiosos do
comportamento e da criatura em si mesma, na sua complexidade,
ficando em plano secundário.

Desse modo, o desejo e o prazer se transformam em alavancas que


promovem o indivíduo ou abismos que o devoram.

A essência da vida corporal, no entanto, é a conquista de si mesmo,


a luta bem direcionada para que se consiga a vitória do Self, a sua
harmonia, e não apenas o gozo breve, que se transfere de um estágio
para outro, sempre mais ansioso e perturbador.

Sexo E Amor

Na sua globalidade, o amor é sentimento vinculado ao Self


enquanto que a busca dó prazer sexual está mais pertinente ao ego,
responsável por todo tipo de posse.

O sentimento de amor pode levar a uma comunhão sexual, sem que


isso lhe seja condição imprescindível. No entanto, o prazer sexual pode
135

ser conseguido pelo impulso meramente instintivo, sem compromisso


mais significativo com a outra pessoa, que, normalmente se sente
frustrada e usada.

Os profissionais do sexo, porque perdem o componente essencial


dos estímulos, em razão do abuso de que se fazem portadores,
derrapam nas explosões eróticas, buscando recursos visuais que lhes
estimulem a mente, a fim de que a função possa responder de maneira
positiva.

Mecanicamente se desincumbem da tarefa animal e violenta,


tampouco satisfazendo-se, porquanto acreditam que estão em tarefa de
aliciamento de vidas para o comércio extravagante e nefando da venda
das sensações fortes, a que se habituaram.

O amor, como componente para a função sexual, é meigo e


judicioso, começando pela carícia do olhar que se enternece e vibra todo
o corpo ante a expectativa da comunhão renovadora.

Essa libido tormentosa, veiculada pela mídia e exposta nas lojas


em forma de artefatos, torna-se aberração que passa para exigências da
estroinice, resvalando nos abismos de outros vícios que se lhe
associam.

Quando o sexo se apresenta exigente e tormentoso, o indivíduo


recorre aos expedientes emocionais da violência, da perseguição, da
hediondez.

Os grandes carrascos da Humanidade, até onde se os pode


entender, eram portadores de transtornos sexuais, que procuravam
dissimular, transferindo-se para situações de relevo político, social,
guerreiro, tornando-se temerários, porque sabiam da impossibilidade de
serem amados.

Quando o amor domina as paisagens do coração, mesmo existindo


quaisquer dificuldades de ordem sexual, faz-se possível superá-las,
mediante a transformação dos desejos e frustrações em solidariedade,
em arte, em construção do bem, que visam ao progresso das pessoas,
assim como da comunidade, tornando-se, portanto, irrelevantes tais
questões.

O ser humano, embora vinculado ao sexo pelo atavismo da


reprodução, está fadado ao amor, que tem mais vigor do que o simples
intercurso genital.

Sem dúvida, por outro lado, as grandes edificações de grandeza da


humanidade tiveram no sexo o seu élan de estímulo e de força.
136

Não obstante, persegue-se o sucesso, a glória efêmera, o poder para


desfrutar dos prazeres que o sexo proporciona, resvalando-se em
equívoco lamentável e perturbador.

O amor à arte e à beleza igualmente inspirou Miguel Ângelo a pintar


a capela Sistina, dentre outras obras magistrais, a esculpir la Pietá e o
Moisés; o amor à ciência conduziu Pasteur à descoberta dos micróbios;
o amor à verdade levou Jesus à cruz, traçando uma rota de segurança
para as criaturas humanas de todos os tempos...

O amor é o doce enlevo que embriaga de paz os seres e os promove


aos píncaros da auto-realização, estimulando o sexo dignificado,
reprodutor e calmante.

Sexo, em si mesmo, sem os condimentos do amor é impulso


violento e fugaz.

Medo De Amar

A insegurança emocional responde pelo medo de amar.

Como o amor constitui um grande desafio para o Self, o


indivíduo enfermiço, de conduta transtornada, inquieto, ambicioso,
vítima do egotismo, evita amar, a fim de não se desequipar dos
instrumentos nos quais oculta a debilidade afetiva, agredindo ou
escamoteando-se em disfarces variados.

O amor é mecanismo de libertação do ser, mediante o qual,


todos os revestimentos da aparência cedem lugar ao Si profundo,
despido dos atavios físicos e mentais, sob os quais o ego se esconde.

O medo de amar é muito maior do que parece no organismo


social.

As criaturas, vitimadas pelas ambições imediatistas, negociam


o prazer que denominam como amor ou impõem-se ser amadas, como
se tal conquista fosse resultado de determinados condicionamentos ou
exigências, que sempre resultam em fracasso.

Toda vez que alguém exige ser amado, demonstra


desconhecimento das possibilidades que lhe dormem em latência e
afirma os conflitos de que se vê objeto.

O amor, para tal indivíduo, não passa de um recurso para uso,


para satisfações imediatas, iniciando pela projeção da imagem que se
destaca, não percebendo que, aqueloutros que o louvam e o bajulam,
demonstrando-lhe afetividade são, também, inconscientes, que se
utilizam da ocasião para darem vazão às necessidades de afirmação da
137

personalidade, ao que denominam de um lugar ao Sol, no qual


pretendem brilhar com a claridade alheia.

Vemo-los no desfile dos oportunistas e gozadores, dos


bulhentos e aproveitadores que sempre cercam as pessoas
denominadas de sucesso, ao lado das quais se encontram vazios de
sentimento, não preenchendo os espaços daqueles a quem pretendem
agradar, igualmente sedentos de amor real.

O amor está presente no relacionamento existente entre pais e


filhos, amigos e irmãos.

Mas também se expressa no sentimento do prazer, imediato ou


que venha a acontecer mais tarde, em forma de bem-estar. Não se pode
dissociar o amor desse mecanismo do prazer mais elevado, mediato,
aquele que não atormenta nem exige, mas surge como resposta
emergente do próprio ato de amar.

Quando o amor se instala no ser humano, de imediato uma


sensação de prazer se lhe apresenta natural, enriquecendo-o de
vitalidade e de alegria com as quais adquire resistência para a luta e
para os grandes desafios, aureolado de ternura e de paz.

O amor resulta da emoção, que pode ser definida como uma


reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual
se acompanha dum estado afetivo de concentração penosa ou
agradável, do ponto de vista psicológico.

Também pode ser definida como o movimento emergente de


um estado de excitamento de prazer ou dor.

Como conseqüência, o amor sempre se direciona àqueles que


são simpáticos entre si e com os quais se pode manter um
relacionamento agradável.

Este conceito, porém, se restringe à exigência do amor que se


expressa pela emoção física, transformando-se em prazer sensual.

Sob outro aspecto, há o amor profundo, não necessariamente


correspondido, mas feito de respeito e de carinho pelo indivíduo, por
uma obra de arte, por algo da Natureza, pelo ideal, pela conquista de
alguma coisa superior ou transcendente, para cujo logro se empenham
todas as forças disponíveis, em expectativa de um prazer remoto a
alcançar.

As experiências positivas desenvolvem os sentimentos de


afetividade e de carinho, as desagradáveis propõem uma postura de
reserva ou que se faz cautelosa, quando não se apresenta negativa.
138

No medo de amar, estão definidos os traumas de infância, cujos


reflexos se apresentam em relação às demais pessoas como projeções
dos tormentos sofridos naquele período. Também pode resultar de
insatisfação pessoal, em conflito de comportamento por imaturidade
psicológica, ou reminiscência de sofrimentos, ou nos seus usos
indevidos em reencarnações transatas.

De alguma forma, no amor, há uma natural necessidade de


aproximação física, de contato e de contigüidade com a pessoa querida.

Quando se é carente, essa necessidade torna-se tormentosa,


deixando de expressar o amor real para tornar-se desejo de prazer
imediato, consumidor. Se for estabelecida uma dependência emocional,
logo o amor se transforma e torna-se um tipo de ansiedade que se
confunde com o verdadeiro sentimento. Eis porque, muitas vezes,
quando alguém diz com aflição eu o amo, está tentando dizer eu
necessito de você, que são sentimentos muito diferentes.

O amor condicional, dependente, imana uma pessoa à outra, ao


invés de libertá-la.

Quando não existe essa liberdade, o significado do eu o amo, o


transforma na exigência de você me deve amar, impondo uma resposta
de sentimento inexistente no outro.

O medo de amar também tem origem no receio de não merecer ser


amado, o que constitui um complexo de inferioridade.

Todas as pessoas são carentes de amor e dele credoras, mesmo


quando não possuam recursos hábeis para consegui-lo. Mas sempre
haverá alguém que esteja disposto a expandir o seu sentimento de
amor, sintonizando com outros, também portadores de necessidades
afetivas.

O medo, pois, de amar, pelo receio de manter um compromisso


sério, deve ser substituído pela busca da afetividade, que se inicia na
amizade e termina no amor pleno. Tal sentimento é agradável pela
oportunidade de expandir-se, ampliando os horizontes de quem deseja
amigos e torna-se companheiro, desenvolvendo a emoção do prazer pelo
relacionamento desinteressado, que se vai alterando até se transformar
em amor legítimo.

Indispensável, portanto, superar o conflito do medo de amar,


iniciando-se no esforço de afeiçoar-se a outrem, não gerando
dependência, nem impondo condições.

Somente assim a vida adquire sentido psicológico e o sentimento de


amor domina o ser.
139

Casamento E Companheirismo

O resultado natural do amor entre pessoas de sexos diferentes é o


casamento, quando se tem por meta a comunhão física, o
desenvolvimento da emoção psíquica, o relacionamento gerador da
família e o companheirismo.

O matrimônio representa um estágio de alto desenvolvimento do


Self, quando se reveste de respeito e consideração pelo cônjuge,
firmando-se na fidelidade e nos compromissos da camaradagem em
qualquer estágio da união que os vincula, reciprocamente, um ao outro
ser.

Conquista da monogamia, através de grandes lutas, o instinto vem


sendo superado pela inteligência e pela razão, demonstrando que o sexo
tem finalidades específicas, não devendo a sua função ser malbaratada
nos jogos do prazer incessante, e significa uma auto-realização da
sociedade, que melhor compreende os direitos da pessoa feminina, que
deixa de ser um objeto para tornar-se nobre e independente quanto é. O
mesmo ocorre em relação ao esposo, cabendo à mulher o devido
cumprimento dos deveres de o respeitar, mantendo-se digna em
qualquer circunstância e época após o consorcio.

Mais do que um ato social ou religioso, conforme estabelecem


algumas Doutrinas ancestrais, vinculadas a dogmas e a ortodoxias, o
casamento consolida os vínculos do amor natural e responsável, que se
volta para a construção da família, essa admirável célula básica da
humanidade.

O lar é, ainda, o santuário do amor, no qual, as criaturas se


harmonizam e se completam, dinamizando os compromissos que se
desdobram em realizações que dignificam a sociedade.

Por isso, quando o egoísmo derruba os vínculos do matrimônio por


necessidades sexuais de variação, ou porque houve um processo de
saturação no relacionamento, havendo filhos, gera-se um grave
problema para o grupo social, não menor do que em relação a si
mesmo, assim como àquele que fica rejeitado.

Certamente, nem todos os dias da convivência matrimonial serão


festivos, mas isso ocorre em todos os campos do comportamento. Aquilo
que hoje tem um grande sentido e desperta prazer, amanhã,
provavelmente, se torna maçante, desagradável. Nesse momento, a
amizade assume o seu lugar, amenizando o conflito e proporcionando o
companheirismo agradável e benéfico, que refaz a comunhão,
sustentando a afeição.
140

Em verdade, o que mantém o matrimônio não é o prazer sexual,


sempre fugidio, mesmo quando inspirado pelo amor, mas a amizade,
que responde pelo intercâmbio emocional através do diálogo, do
interesse nas realizações do outro, na convivência compensadora, na
alegria de sentir-se útil e estimado.

Há muitos fatores que contribuem para o desconcerto conjugal na


atualidade, como os houve no passado. Primeiro, os de natureza íntima:
insegurança, busca de realização pelo método da fuga, insatisfação em
relação a si mesmo, transferência de objetivos, que nunca se
completarão em uma união que não foi amadurecida pelo amor real.

Segundo, por outros de ordem psico-social, econômica,


educacional, nos quais estão embutidos os culturais, de religião, de
raça, de nacionalidade, que sempre comparecem como motivo de
desajuste, passados os momentos de euforia e de prazer.

Ainda se podem relacionar aqueles que são conseqüências de


interesses subalternos, nos quais o sentimento do amor esteve ausente.

Nesses casos, já se iniciou o compromisso com programa de


extinção, o que logo sucede. Há, ainda, mais alguns que são derivados
do interesse de obter sexo gratuitamente, quando seja solicitado, o que
derrapa em verdadeira amoralidade de comportamento.

O matrimônio, fomentando o companheirismo, permite a


plenificação do par, que passa a compreender a grandeza das emoções
profundas e realizadoras, administrando as dificuldades que surgem,
prosseguindo com segurança e otimismo.

Nos relacionamentos conjugais profundos também podem surgir


dificuldades de entendimento, que devem ser solucionadas mediante a
ajuda especializada de conselheiro de casais, de psicólogos, da religião
que se professa, e, principalmente, por intermédio da oração que
dulcifica a alma e faculta melhor entendimento dos objetivos
existenciais.

Desse modo, a tolerância toma o lugar da irritação, a compreensão


satisfaz os estados de desconforto, favorecendo com soluções hábeis
para que sejam superadas essas ocorrências.

É claro que o casamento não impõe um compromisso irreversível, o


que seria terrivelmente perturbador e imoral, em razão de todos os
desafios que apresenta, os quais deixam muitas seqüelas, quando não
necessariamente diluídos pela compreensão e pela afetividade.

A separação legal ocorre quando já houve a de natureza emocional,


e as pessoas são estranhas uma à outra.
141

Ademais, a precipitação faz com que as criaturas se consorciem não


com a individualidade, o ser real, mas sim, com a personalidade, a
aparência, com os maneirismos, com as projeções que desaparecem na
convivência, desvelando cada qual conforme é, e não como se
apresentava no período da conquista.

Essa desidentificação, também conhecida como o cair da máscara,


causa, não poucas vezes, grandes choques, produzindo impactos
emocionais devastadores.

O ser amadurecido psicologicamente procura a emoção do


matrimônio, sobretudo para preservar-se, para plenificar-se, para
sentir-se membro integrante do grupo social, com o qual contribui em
favor do progresso. A sua decisão reflete-se na harmonia da sociedade,
que dele depende, tanto quanto ele se lhe sente necessário.

Todo compromisso afetivo, portanto, que envolve dois indivíduos,


torna-se de magna importância para o comportamento psicológico de
ambos. Rupturas abruptas, cenas agressivas, atitudes levianas e
vulgaridade geram lesões na alma da vítima, assim como naquele que
as assume.

Momentos de Saúde páginas 120~123

A compreensão divina paira sobre mim e toma-me.

Dulcifico-me e acalmo-me.

Percebo o mundo e as criaturas de forma positiva e fraternal.

Torno-me mais criativo e saudável, relacionando-me bem com o


meu próximo.

Dilata-se-me o entendimento e vivo em paz comigo e com os outros.

A compreensão é faculdade que melhor contribui para o êxito do


relacionamento humano, por facultar à outra pessoa a vigência dos
seus valores positivos e perturbadores. Ela reflete o grande
desenvolvimento espiritual pelo que concede a quem lhe busca apoio,
orientação, quando em conjunturas difíceis.

A compreensão abre o leque da fraternidade ensejando recursos


terapêuticos necessários, conforme o caso que lhe chegue ao
142

conhecimento. Sem anuir a todas propostas, ou sem rejeição adrede


estabelecida, favorece a percepção do que se apresenta, na forma como
se manifesta.

Levado pelo instinto gregário, e porque sociável, o ser humano


necessita de convívio, intercâmbio saudável, a fim de receber e propiciar
estímulos que levam ao desenvolvimento.

Por inúmeros fatores, a compreensão humana em torno das


limitações e problemas dos outros diminui, escasseia, tornando-se
necessária e sendo rara.

Na imperiosa ânsia de estabelecer comunicação, os indivíduos


buscam-separa o relacionamento e anseiam por desvelarem-se uns aos
outros. No entanto, grassa nos corações um grande medo de se
deixarem identificar.

O que são, constitui-lhes tesouro afugente e temem vê-lo atirado fora.


A forma de ser difere da imagem que exteriorizam e receiam perdê-la,
naturalmente porque não se esperam receber compreensão.

O mundo está repleto de pessoas surdas que conversam; de


convivências mudas, que se expressam.

Fala-se muito sobre nada e dialoga-se em demasia sobre coisa


nenhuma, resolvendo-se uma larga fatia de problemas, que
permanecem...

Quando alguém se te acerque e fale, procura ouvi-lo e registrar-lhe a


palavra. Talvez não tenhas a forma ideal para dar-lhe, nem disponhas
do que ele espera de ti. Muitas vezes, ele não aguarda muito e somente
fala por falar.

Concede-lhe atenção e o estimularás, facultando-lhe sentir-se alguém


que desperta interesse.

Se ele resolve confiar em ti e se desvela, respeita-lhe a problemática e


ajuda-o, caso tenhas como fazê-lo.

Por tua vez, vence o medo de te revelares. Certamente, não abdicarás


da prudência nem do equilíbrio; no entanto, é saudável dialogar,
descerrar painéis escondidos pelo ego ou mascarados para refletirem
imagens irreais.
143

Na tua condição de criatura humana frágil, a convivência honesta


com outras pessoas contribuirá eficazmente para a tua harmonização
íntima.

Assim, torna-te compreensivo, paciente, um terapeuta fraternal.

Não cries estereótipos, nem fixes pessoas a imagens que resultam de


momentos.

Todos estamos em contínuas transformações, e nem sempre se é hoje


o que ontem se aparentava. Novas experiências e lições vieram juntar-se
à pessoa de antes, qual ocorre contigo. É o inexorável imperativo do
progresso em ação.

Compreendendo o teu próximo e relacionando-te com ele, serás mais


bondoso para contigo; percebendo-lhe a fragilidade, serás mais
atencioso para com os teus limites e buscarás crescer, amando e
amando-te mais.

Segunda Parte: Psicopatologias e Psicoterapia de Joanna de Ângelis

1 – Sexualidade

Amor, Imbatível Amor

Ver página 66 deste polígrafo

O Despertar do Espírito páginas 64~69

Sexolatria
144

Freud, com muito acerto, descobriu na libido a resposta para


inúmeros transtornos psicológicos e físicos, psiquiátricos e
comportamentais que afligem o ser humano.

Baseando-se nas heranças antropológicas, o insigne mestre


vienense estabeleceu os paradigmas da psicanálise, fundamentados nos
mecanismos do sexo e toda a sua gama de conflitos não exteriorizados.

Examinando a sociedade como vítima da castração religiosa


ancestral, decorrente das inibições, frustrações e perturbações dos seus
líderes, que através de mecanismos proibitivos para o intercâmbio
sexual, condenavam-no como instrumento de sordidez, abominação e
pecado, teve a coragem intelectual e científica de levantar a bandeira da
libertação, demonstrando que o gravame se encontra mais na mente do
indivíduo do que no ato propriamente dito.

Referindo-se à intolerância judaica, a respeito da higiene pelo lavar


das mãos e do rosto antes da refeição, que era tida como regra
fundamental de comportamento, assim tornando imunda a ação que
não se submetia a tal usança, o Apóstolo dos gentios, exclamou com
veemência: —Eu sei e estou certo no Senhor Jesus, que nenhuma coisa
é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda;
para esse é imunda. (Romanos; 14-14).

Por extensão, pode-se afirmar que o comportamento imundo não é


o do sexo propriamente dito, porém de quem o vive, conforme o seu
estágio de evolução e dos seus sentimentos.

Posteriormente, a questão do sexo se tornou uma verdadeira


ditadura da libido, merecendo de alguns discípulos do nobre psiquiatra-
psicanalista, reações especiais quais ocorreu com Carl Gustav Jung,
Alfred Adler, Erich Fromm e outros, que ampliaram o conceito,
apresentando novas excelentes vertentes da proposta inicial.

Outros mais, no entanto, continuaram com a mesma conduta do


Pai da Psicanálise, tornando-se-lhe, cultural-mente filhos e netos de
eleição.

São os casos dos eminentes Wilhelm Reich e seu discípulo


Alexander Lowen, que deram prosseguimento ao profundo estudo da
libido, criando, o primeiro, a terapia bioenergética, enquanto o segundo
ampliou a técnica dos exercícios para a libertação dos conflitos e dos
problemas orgânicos, derivados das perturbações sexuais.

Certamente, uma vida saudável é aquela na qual todas as funções


orgânicas funcionam normalmente, como decorrência do equilíbrio
psicológico, que faculta alegria de viver e realização plena.
145

O indivíduo é a medida das suas realizações interiores e de toda a


herança que carrega no seu inconsciente, o que equivale dizer, que é o
resultado inevitável da sua longa jornada evolutiva, na qual, passo a
passo, se liberta do instinto, mediante o uso correto da razão, desta
passando para a intuição.

O homo sapiens alcançou o homo tecnológicus e este ascende para


o homo noeticus, quando então, haverá predomínio da vida
parapsíquica, conduzindo-o a estados especiais de comportamento.

A contribuição de Freud para a libertação da criatura humana,


arrancando-a da hipocrisia vitoriana e clerical anteriores, dando-lhe
dignidade, é de valor inestimável. No entanto, o ser humano não é
somente um animal sexual, mas um Espírito imortal em trânsito por
diversas faixas do processo antropológico na busca da sua integração
no pensamento cósmico.

O predomínio, por enquanto, da sua natureza animal por cima da


natureza espiritual, é transitório, decorrente da larga jornada que se
iniciou como psiquismo embrionário, atingindo o patamar de Espírito
inteligente no rumo da angelitude.

Departamento de alta magnitude do corpo físico, o aparelho


genésico, em razão da elevada finalidade a que se destina — a de
reprodução — está fortemente vinculado aos mecanismos da mente e da
emoção, sobretudo, dos comportamentos transatos, que geram as
conseqüências inevitáveis do bem ou mal funcionamento dos seus
mecanismos, ora na busca do prazer, vezes outras para a perpetuação
da espécie, noutros momentos para a completude hormonal, e, por fim,
para a realização total.

Emparedado em preconceitos doentios, vitimado por castrações de


mães impiedosas ou superprotetoras e de pais violentos, de famílias
arbitrárias, de meios sociais mórbidos, a criança não se desenvolve com
o necessário equilíbrio emocional, escondendo a própria realidade em
atitudes incompatíveis com a saúde mental e emocional, tombando
posteriormente em situações vexatórias, inibitórias, aberrantes ou
tormentosas.

Face à inibição de que é vítima, o indivíduo passa a ignorar o


próprio corpo, quando não ocorre detestá-lo em conseqüência da
incompreensão dos seus mecanismos, vivendo emparedado em cela
estreita e afugente, que termina por gerar grandes confusões no
comportamento psicológico e na saúde física.

Somatizando os conflitos não digeridos, elabora enfermidades de


grave curso, que não encontram solução, exceto quando são realizadas
as terapias convenientes, orientadas para o rumo dos fatores
responsáveis pelos transtornos.
146

O conhecimento do próprio corpo, sua identificação com as funções


de que se constitui, o uso equilibrado das suas possibilidades,
contribuem para uma existência harmônica, ampliando o quadro da
auto-realização e do bem-estar, que são metas próximas para todos os
seres humanos mergulhados na indumentária carnal.

A existência terrestre não tem a finalidade punitiva que se acentuou


por muitos séculos, em condutas perversas e infamantes por parte da
Divindade, que mais se apresentava como algoz impenitente,
comprazendo-se na desdita das suas criaturas, que almejando pela
felicidade das mesmas.

O que tem faltado é a conveniente orientação educacional para a


vida sexual, assim como o equilíbrio por parte dos religiosos e
educadores, líderes de massas e agentes multiplicadores sociais, que
sempre refletem as próprias dificuldades de relacionamento e vivência
sexual, abrindo espaços para que múltiplas correntes de condutas, não
poucas vezes exóticas, assumam cidadania, mais perturbando os
indivíduos em geral, e particularmente as gerações novas, porque
desequipadas de esclarecimento.

Arrebentadas as amarras da proibição, o ser humano vem


tombando na permissividade, como efeito da demorada castração a que
foi submetido anteriormente.

Pareceria que a denominada liberação sexual contribuiria para que


as criaturas se realizassem mais e se encontrassem mais equilibradas
emocionalmente, o que não vem ocorrendo.

Da mesma forma que o impedimento não produziu pessoas


saudáveis, a libertinagem em voga não tem conseguido harmonizá-las,
favorecendo, pelo contrário, mais devastadoras condutas e vivências em
clãs, grupos isolados, bem como na sociedade como um todo, que se
encontra desorientada.

O sexo, convenha-se considerar por definitivo, existe em função da


vida e não esta em dependência exclusiva dele. O ser humano, dessa
forma, necessita do sexo, mas não deve viver em sua dependência
exclusiva.

Outras finalidades existenciais servem-lhe de objetivo,


impulsionando-o a uma vida feliz e plena, através dos ideais e metas
que cada qual se impõe, tornando a função sexual complementar, não
indispensável.

A questão, portanto, não está em atitude de abstinência física,


quanto se pensou durante muitos séculos, nem no abuso das atividades
da pélvis, através dos movimentos libertadores, como sugerem alguns
147

bioenergeticistas. Porém, em um saudável direcionamento das funções


com finalidade salutar.

Os dias hodiernos, em que o sexo se transforma em motivo


essencial da existência humana, têm produzido mais angustiados e
insatisfeitos do que se poderia imaginar, dando margem ao surgimento
de ansiosos e frustrados que, considerando a existência como meio para
alcançar orgasmos continuados, conduzem ao uso de bebidas
alcoólicas, de drogas aditivas e outras estimulantes e responsáveis pela
capacidade da função, que deverá sempre ser espontânea e criativa
através do amor.

Constitui o amor o mais maravilhoso élan para a vida sexual, ao


invés do barateamento da função, que se vem tornando tormentosa
idolatria.

Há uma tendência psicológica no ser humano para, quando sai da


escravidão e não sabe usar a liberdade, cair na libertinagem dos
costumes, na qual se torna mais servo do que senhor, mais limitado do
que independente, mais infeliz do que antes.

E compreensível que se aspire e se viva em liberdade, pois a vida e o


amor são dádivas de libertação, jamais de coerção e de sofrimento. O
mal uso dessa liberdade é que responde pelas conseqüências
lamentáveis da desarmonia, porque atenta contra os limites que são
impostos, como recurso de equilíbrio para a própria existência.

E fácil observar-se nos animais da escala evolutiva quando se


buscam, que estimulados pelas necessidades procriativas, exercem o
sexo sem tormento, sem culpa, que são sempre resultados da emoção
humana desequilibrada.

A vida em liberdade é aquela que, quando a desfrutamos, faculta os


mesmos direitos aos outros seres; que não afronta as leis naturais; que
se compraz na realização integral.

Face, portanto, a quaisquer conflitos que se apresentem no


comportamento psicológico do indivíduo, a eleição de prioridades para
uma existência digna contribui positivamente para a liberdade e a
felicidade pessoal.
148

O Despertar do Espírito páginas 83~91

Sublimação Da Função Sexual

O sexo, no ser humano, em razão do seu atavismo de instinto


básico da evolução, constitui-se um espinho cravado nas carnes da
alma.

Persistente e responsável pela reprodução animal, desempenha


papel fundamental no complexo mente-corpo, tornando-se responsável
por incontáveis patologias psicofísicas e desintegração na área da
personalidade.

Os estudos cuidadosos de Freud trouxeram ao conhecimento geral


os conflitos e torpezas, os tormentos e desaires, as aspirações e
construções do belo, do nobre e do bom, como também as tragédias do
cotidiano que se encontram enraizadas na área da função sexual, por
milênios considerada degradante, corruptora, posteriormente
pecaminosa e imunda, recebendo em todo lugar tratamento cruel e
merecendo punições selvagens, por ignorância da energia de que é
portadora e do alto significado de que se reveste.

Mais tarde, outros estudiosos seriamente preocupados com o ser


humano aprofundaram a sonda da observação na libido e ampliaram o
campo de conceituações, facultando interpretações valiosas em favor da
saúde mental e emocional das criaturas humanas.

As religiões que, no passado, se faziam responsáveis pela


orientação filosófica e comportamental das massas e dos indivíduos,
mediante austeridade injustificável, decorrente de pessoas sexualmente
enfermas, tornaram-se responsáveis pelas castrações e submissões
punitivas a que o sexo foi submetido, permitindo-se-lhe a consideração
de elemento reprodutor, mas vedando-lhe ou tentando impedir-lhe as
expressões de prazer e de compensação hormonal.

É inevitável ter-se em conta que, mesmo se considerando a


necessidade da alimentação, que é imprescindível à existência física, o
paladar deve propiciar prazer, sem que, com isso, se decomponha o
sentido da nutrição orgânica. E do ser animal, como do vegetal, a
adaptação aos fatores que lhe propiciem desenvolvimento, que é
essencial à vida. Constituído por sensações e emoções, o ser humano
frui o prazer de forma diferente dos demais animais, que não têm
discernimento racional e cujas vidas são também resultado de
condicionamentos.
149

O prazer, portanto, está associado a toda e qualquer conduta


humana, apresentando-se sob variada conceituação ou forma com que
seja identificado.

Enquanto no passado a função sexual era propositadamente


ignorada ou escondida, na atualidade já não se pode manter o mesmo
comportamento ilusório, que oculta a hipocrisia no trato com as
questões fundamentais da existência humana.

A denominada liberação sexual, demasiadamente difundida se, por


um lado, fez um grande bem à sociedade, convidando-a a reflexão em
torno da sua predominância em a natureza, que não pode ser negada,
por outra forma, trouxe também tremendo desafio comportamental
ainda não absorvido corretamente no relacionamento entre os
indivíduos, gerando crises e perturbações igualmente graves, que têm
infelicitado enormemente a maioria dos relacionamentos de toda
natureza.

Da submissão escravagista do pretérito, passou-se com rapidez


para a liberação irresponsável, que responde por novos tormentos que
estiolam muitas vidas e produzem dilacerações profundas no ser.

As velhas conceituações teológicas e pretensiosamente moralistas


aturdiram a humanidade, que se libertou do totalitarismo das
imposições religiosas ortodoxas e saltou para o prazer desmedido com
avidez inimaginável, desorganizando a estrutura emocional do ser, que
não estava preparado para os cometimentos da libertinagem.

Esse esforço pela libertação sexual dos absurdos impostos pelas


castrações morais e pelo fanatismo religioso, nos tempos modernos
encontrou em Rousseau o seu primeiro pensador partidário, quando
propôs a doutrina do retorno à Natureza, formulando edificantes
postulados educacionais — embora ele próprio fosse um pai incapaz de
cuidar dos filhos, que internou em um Orfanato — abriu perspectivas
novas para a comunhão sexual, além da sua função meramente
reprodutora.

Posteriormente, os seus seguidores e outros pugnaram pelo retorno


ao romantismo e aos prazeres hedonistas vividos pelos gregos e
romanos do passado ou pela efervescência renascentista, estimulados
pelo teatro, mais recentemente também pelo rádio, a televisão e os
tormentos de pós-guerras, que atiraram os seres humanos na busca
exacerbada do gozo, quando constataram a falência das convicções
religiosas e a falácia de muitas das suas teses de conveniência, sem
valor real de profundidade.

Com os movimentos hippie, punk e tantos outros que invadiram a


sociedade, tomando conta, particularmente, das mentes jovens, a
revolução sexual esqueceu de que a função do prazer físico não pode ser
150

dissociada da contribuição do amor, que nele sincroniza as emoções,


que são os reflexos psicológicos do conúbio orgânico e a harmonia
espiritual de ambos os parceiros.

Merece sejam sempre consideradas no capítulo das relações


sexuais, as necessidades de caráter psicológico da criatura e não
apenas a busca física para saciá-la biologicamente.

São exatamente os conflitos emocionais — medo, castração, culpa,


autopunição —, geradores de insegurança, que exercem fundamental
importância no relacionamento dos parceiros. Além disso, a busca de
alguém ideal, que possa completar espiritualmente o outro, evitando
frustrações do sentimento, transcende o prazer físico puro e simples.

A identidade sincronizada, face ao entendimento e à compreensão


afetuosa entre os indivíduos que se buscam, representa poderoso
mecanismo que faculta a plenificação que resulta da comunhão sexual.
A satisfação biológica da função, sem o contributo emocional, além
de ser profundamente frustrante, produz culpa e desinteresse futuro.

Tentando-se fugir de ambos os conflitos, busca-se insensatamente


o álcool e a droga aditiva, que pareceriam estimular e encorajar a novos
relacionamentos, tornando-os, no entanto, mais dolorosos e
perturbadores. A médio e longo prazo, ambos recursos terminam por
prejudicar terrivelmente a função sexual, que também se expressa pela
imaginação que, nessa circunstância, estará sob injunção angustiante.

Todos os artifícios disponíveis para o intercâmbio sexual


compensador cedem lugar aos sentimentos de amor, de camaradagem,
de alegria em compartir e repartir emoções, o que evita a extroversão de
um sobre a inibição do outro.

O sexo, com a sua finalidade dignificante de facultar a procriação,


seja de natureza física, seja artística, cultural, comportamental,
também desempenha papel relevante na construção espiritual do ser
humano.

As suas energias, que ainda permanecem pouco identificadas,


podem e devem ser canalizadas igualmente para fins mais sutis e
elevados, enriquecedores da vida, mediante a sublimação e a
transmutação. Não se trata da interrupção ou da anulação da faculdade
de expressar a função sexual, mas de canalizá-la com segurança em
direção mais fecunda e criativa na área dos sentimentos e da
inteligência.

Freud reconheceu essa necessidade de sublimação do instinto


sexual orientado para o bem-estar social, e acrescentamos, também
espiritual da própria criatura assim como da Humanidade.
151

O ascetismo e o misticismo tentaram sem resultado saudável, com


as exceções compreensíveis, esse empreendimento que, de alguma
forma, em razão da metodologia castradora deixou marcas mais
afugentes que positivas tanto no organismo individual quanto no social.
Essas energias sexuais somadas e bem canalizadas ofereceram
incomparável contribuição à cultura da sociedade em todos os tempos,
reconhece o eminente mestre vienense.

A sublimação ou transmutação das energias sexuais pode ser


realizada mediante a introspecção, a fixação nos objetivos íntimos
acalentados sem violência nem rebeldia pelos impulsos fisiológicos,
orientando-os de forma saudável e substituindo-os pelas reflexões em
torno do seu aproveitamento na construção dos ideais pelos quais se
anela.

Todos os místicos buscaram esse élan com a Divindade, desde


tempos imemoriais, denominando o êxtase como samadi, bem-
aventurança, nirvana, plenitude... Através dessa experiência profunda,
há uma completa conquista psicológica de felicidade.

Certamente, essa sublimação impõe expressivo contingente de


renúncia, de vontade de consegui-la e de perseverança na conquista do
objetivo. Para alguns, pode ser uma forma de sofrimento, porém, sem
masoquismo, porquanto o objetivo não é sofrer, mas libertar-se de
qualquer injunção que acarrete padecimento.

Nessa fusão, que é resultado da sublimação, a personalidade


desaparece no Ser estrutural, no Self, que passa a conduzir o
comportamento psicológico sem conflito, unindo as duas polaridades —
masculina e feminina — através das quais se expressa o sexo, em uma
unidade harmônica.

Essa integração das duas polaridades não impede que se possa


manter um exercício saudável da função sexual e, ao mesmo tempo, a
sua canalização mística, interior, sem atropelos ou tormentos, que
levariam a liberar-se da sua exclusiva finalidade orgânica, ampliando-a,
desse modo, de forma expressiva na sua capacidade criativa. Pode,
portanto, apresentar-se entre aqueles que superem a função sexual —
não a exercendo — e aqueloutros que, embora vivenciando-a, também
elegem a sublimação, experimentando momentos de alta identificação
com a Divindade.

No aspecto do autodescobrimento, o indivíduo desenvolve a vida


interior que requer as energias do sexo como sustentáculo vigoroso para
os empreendimentos emocionais e espirituais a que se afervora.

Além desse aspecto e vivência interior da sublimação, existe outro


método para ser percorrido, qual seja o da substituição do prazer sexual
por outras expressões de gozo e de alegria, nas quais, os sentidos físicos
152

se relaxam e se renovam, e se apresentam desde as coisas mais simples


até as mais complexas e elevadas, mediante a contemplação da
natureza na sua grandiosa simplicidade e grandeza até as mais altas
manifestações da arte e da cultura...

Também pode-se incluir nesse desempenho o aumento do


círculo da afetividade, no qual o intercâmbio emocional, estético e
fraternal, derivado do amor, proporciona renovação de entusiasmo e de
estímulos para a continuação da experiência evolutiva, emulando para
a perfeita identificação com o seu próximo e o grupo social com o qual
se encontra envolvido. Noutro aspecto, o empenho em entregar-se às
criações da cultura, da ciência, da arte, da religião, dos objetivos sociais
e de solidariedade, consegue contribuir com eficiência para o êxito do
programa da sublimação.

Essa necessidade de sublimar e transubstanciar as energias


sexuais, pode igualmente ser considerada como terapia preventiva,
considerando-se as ocorrências de enfermidades impeditivas do
exercício da função sexual, o envelhecimento, o equilíbrio existencial,
que inevitavelmente ocorrem no percurso da existência física, podendo
então ser transferidas para expressões de outros níveis além do físico,
proporcionando outros tipos de prazer, quais o emocional, o espiritual,
o humanitário.

Quando o indivíduo se dedica à sublimação e transubstanciação


das energias sexuais, o seu amor se amplia, irradiando-se sem pressão
ou constrangimento sobre as demais pessoas, que o sentem
experimentando agradável sensação de bem-estar e enriquecendo-se de
júbilo ante o seu contato. Com essa conquista, experimenta-se
incomparável alegria de viver, tornando a existência um verdadeiro hino
de louvor às Fontes Inexauríveis da Criação, de onde tudo e todos
procedem.

Observa-se, nesse contexto, que os santos e missionários do amor


em todos os campos do conhecimento, a fim de realizarem as tarefas
que se impuseram ou às quais ainda se propõem, normalmente
exaustivas e desgastantes, são tomados, invariavelmente, de grande
compaixão pelas demais criaturas vegetais, animais e humanas.

Jesus, como exemplo máximo, sempre que atendia as multidões,


socorria-as com infinita compaixão pelas suas necessidades, suas
aflições, suas lutas... e repletava-as de paz e alegria. Quem mantivesse
com Ele qualquer tipo de contato transformava-se, porque o Seu
irradiante amor como luz não ofuscante penetrava-lhe os escaninhos
mais secretos e sombrios, alterando-lhe as estruturas.

A energia sexual, pela sua constituição íntima, é criativa, não


apenas das formas físicas, mas principalmente das expressões da
beleza, da cultura e da arte. À medida que é expandida, mais sublime
153

se torna, quando direcionada pelo amor; mesmo que, na sua primeira


fase, tenha conotação carnal, vai-se depurando e sublimando até
adquirir um sentido de liberdade, de auto-realização, facultando ao ser
amado a felicidade, mesmo que seja compartida com outra pessoa.

Nesse cometimento, portanto, de sublimação e trans-mutação das


energias sexuais, o cuidado a ser mantido diz respeito à superação de
qualquer sentimento de culpa ou de condenação aos impulsos
orgânicos, a fim de que seja evitada a inibição, tornando-se uma
repressão inconsciente, fator de graves perturbações nos propósitos
estabelecidos.

O que se deseja, nesse grande desafio de plenificação, é a utilização


correta das energias da alma, que vertem através do corpo e se
encarregam de manter-lhe o equilíbrio.

Em outros casos de abuso das forças genésicas, pelo transbordar


da função sexual, a própria natureza cobra o imposto do mau uso,
perturbando-a, frustrando-lhe o prazer ou talando-a psicologicamente,
o que conduz a transtornos psicopatológicos de lamentável curso.

O Homem Integral páginas 109~113

Plenificação Interior

Problemas sexuais

Herança animal predominante em a natureza humana, o


instinto de reprodução da espécie exerce um papel de fundamental
importância no comportamento dos seres. Funcionando por impulsos
orgânicos nos irracionais, expressa-se como manifestação propiciatória
à fecundação nos ciclos orgânicos, periódicos, em ritmos equilibrados
de vida.

No homem, face ao uso, que nem sempre obedece à finalidade


precípua da perpetuação das formas, experimenta agressões e desvios
que o desnaturam, tornando-se, o sexo, fator de desditas e problemas
da mais variada expressão.

Face à sensação de prazer que lhe é inata, a fim de atrair os


parceiros para a comunhão reprodutora, torna-se fonte de tormentos
que delineiam o futuro da criatura.

Considerando-se a força do impulso sexual, no comportamento


psicológico do homem, as disjunções orgânicas, a configuração
154

anatômica e o temperamento emocional tornam-se de valor


preponderante na vida, no inter-relacionamento pessoal, na atitude
existencial de cada qual.

A sua carga compressiva, no entanto, transferese de uma para


outra existência corporal, facultando um uso disciplinado, corretor, em
injunções específicas, que por falta de esclarecimento leva o indivíduo a
uma ampla gama de psicopatologias destrutivas na área da
personalidade.

Com muita razão, Alice Bailey afirmava, diante dos fenômenos


da alienação mental, que eles podem ser ”... de natureza psicológica,
hereditários por contatos coletivos e cármicos”. Introduzia, então, o
conceito cármico, na condição de fator desencadeante das enfermidades
a expressar-se nas manifestações da libido, de relevante importância
nos estudos freudianos.

O conceito, em torno do qual o homem é um animal sexual,


peca, porém, pelo exagero. Naturalmente, as heranças atávicas
impõem-lhe a força do instinto sobre a razão, levando-o a estados
ansiosos como depressivos. Todavia, a necessidade do amor é-lhe
superior. Por falta de uma equilibrada compreensão da afetividade,
deriva para as falazes sensações do desejo, em detrimento das
compensações da emoção.

Mais difícil se apresenta um saudável relacionamento afetivo do


que o intercurso apressado da explosão sexual, no qual o instinto se
expressa, deixando, não poucas vezes, frustração emocional. Passados
os rápidos momentos da comunhão física, e já se manifestam à
insatisfação, o arrependimento, os conflitos perturba-dores...

A falta de esclarecimento, no passado, em torno das funções do


sexo, os mistérios e a ignorância com que o vestiram, desnaturaram-no.

A denominada revolução sexual dos últimos tempos,


igualmente, ao demitizá-lo, abriu espaços de promiscuidade para os
excessivos mitos do prazer, com a conseqüente desvalorização da
pessoa, que se tornou objeto, instrumento de troca, indivíduo
descartável, fora de qualquer consideração, respeito ou dignidade.

A sociedade contemporânea sofre, agora, os efeitos da liberação


sem disciplina, através da qual a criatura vive a serviço do sexo, e não
este para o ser inteligente, que o deve conduzir com finalidades
definidas e tranqüilizadoras.

As aberrações se apresentam, neste momento, com cidadania


funcional, levando os seus pacientes a patologias graves que alucinam,
matam e os levam a matarse.
155

A consciência deve dirigir a conduta sexual de cada indivíduo,


que lhe assumirá as conseqüências naturais.

Da mesma forma que uma educação castradora é responsável


por inúmeros conflitos, a liberativa em excesso abre comportas para
abusos injustificáveis e de lamentáveis efeitos no psiquismo profundo.

A vida se mantém sob padrões de ordem, onde quer que se


manifeste. Não há, aí, exceção para o comportamento do homem. Por
esta razão, o uso indevido de qualquer função produz distúrbios,
desajustes, carências, que somente a educação do hábito consegue
harmonizar.

Afinal, o homem não é apenas um feixe de sensações, mas,


também, de emoções, que pode e deve canalizar para objetivos que o
promovam, nos quais centralize os seus interesses, motivando-o a
esforços que serão compensados pelos resultados benéficos.

Exclusão feita aos portadores de enfermidades mentais a se


refletirem na conduta sexual, o pensamento é portador de insuspeitável
influência, no que tange a uma salutar ou desequilibrada ação
genésica.

O mesmo fenômeno ocorre nas mais diferentes manifestações da vida


humana. Mediante o seu cultivo, eles se exteriorizam no
comportamento de forma equivalente.

A vida, portanto, saudável, na área do sexo, decorre da


educação mental, da canalização correta das energias, da ação física,
pelo trabalho, pelos desportos, pelas conversações edificantes que
proporcionam resistência contra os derivativos, auxiliando o indivíduo
na eleição de atitudes que proporcionam bem-estar onde quer que se
encontre.

As ambições malconduzidas, toda frustração decorrente do


querer e não poder realizar, dão nascimento ao conflito. O conflito, por
sua vez, quando não equacionado pela tranqüila aceitação do fato,
sobrepondo a identidade real ao ego dominador e insaciável, termina
por gerar neuroses. Estas, sustentadas pela insatisfação, transmudam-
se em paranóia de catastróficos resultados na personalidade.

Considerado na sua função real e normal, o sexo é santuário


da vida, e não Paul de intoxicação e morte.

Estimulado pelo amor, que lhe tem ascendência emocional,


propicia as mais altas expressões da beleza, da harmonia, da realização
pessoal; acalma, encoraja para a vida, tornando-se um dínamo gerador
de alegrias.
156

Os problemas sexuais se enraízam no espírito, que se aturde


com o desregramento que impõe ao corpo, exaurindo as glândulas
genésicas e exteriorizando-se em funções incorretas, que se fazem
psicopatologias graves, a empurrar a sua vítima para os abismos da
sombra, da perversidade e do crime.

A liberação das distonias sexuais, mais perturbam o ser, que se


transfere de uma para outra sensação com sede crescente,
mergulhando na promiscuidade, por desrespeito e desprezo a si mesmo
e, por extensão, aos outros. A sua é uma óptica desfocada, pela qual
passa a ver o mundo e as demais pessoas na condição de portaoras dos
seus mesmos problemas, só que mascaradas ou susceptíveis de viverem
aquela conduta, quando não deseja impor a sua postura especial como
regra geral para a sociedade.

Sob conflito psicológico, o portador de problema sexual, ou de


outra natureza, não se aceita, fugindo para outros comportamentos
dissimuladores; ou quando se conscientiza e resolve-se por vivê-lo,
assume feição chocante, agressiva, como uma forma de enfrentar os
demais, de maneira antinatural, demonstrando que não o digeriu nem o
assimilou.

Toda exibição oculta um conflito de timidez ou inconformação,


de carência ou incapacidade.

Uma terapia psicológica bem cuidada atenua o problema


sexual, cabendo ao paciente fazer uma tranqüila auto-análise, que lhe
faculte viver em harmonia com a sua realidade interna, nem sempre
compatível com a sua manifestação externa.

Não basta satisfazer o sexo - toda fome e sede, de momento,


saciadas, retornam, em ocasião própria -mas, harmonizar-se,
emocionalmente, vivendo em paz de consciência, embora com alguma
fome, perfeitamente suportável, ao invés do constante conflito da
insatisfação decorrente da imaginação fértil, que programa prazeres
contínuos e elege companhias impossíveis de conseguidas em qualquer
faixa sexual que se estagie.

Ninguém se sente pleno, no mundo, acreditando-se haver


logrado tudo quanto desejava.

A aspiração natural e calma para atingir um próximo patamar,


faz-se estímulo para o progresso do indivíduo e da sociedade.

Os problemas sexuais, por isto mesmo, devem ser enfrentados


sem hipocrisia, nem cinismo, fora de padrões estereotipados por falsa
moralidade, tampouco levados a conta de pequeno significado. São
dificuldades, e, como tais, merecem consideração, tempo e ação
especializada.
157

2 – Depressão e Síndrome de Pânico

Amor, Imbatível Amor páginas 195~198

Sindrome De Pânico

Em 1980 foi estabelecido como sendo uma entidade específica,


diferente de outros transtornos de ansiedade, aquele que passou a ser
denominado como síndrome de pânico, ou melhor elucidando, como
transtorno de pânico, em razão de suas características serem diferentes
dos conhecidos distúrbios.

A designação tem origem no deus Pan, da Mitologia grega,


caracterizado pela sua fealdade e forma grotesca, parte homem, parte
cabra, e que se comprazia em assustar as pessoas que se acercavam do
seu habitat, nas montanhas da Arcádia, provocando-lhes o medo.

Durante muito tempo, esse distúrbio foi designado indevidamente


como ansiedade, síndrome de despersonalização, ansiedade de
separação, psicastenia, hipocondria, histeria, depressão atípica,
agorafobia, até ser estudado devidamente por Sigmund Freud, ao
descrever uma crise típica de pânico em uma jovem nos Alpes Suíços.

Anteriormente, durante a guerra franco-austríaca de 1871, o Dr.


Marion Da Costa examinou pacientes que voltavam do campo de
batalha apresentando terríveis comportamentos psicológicos, com crises
de ansiedade, insegurança, medo, diarréia, vertigens e ataques, entre
outros sintomas, e que foram denominados como coração irritável, por
fim tornando-se conhecido como Síndrome de Da Costa, pela valiosa
contribuição que ele ofereceu ao seu estudo e terapia.

A síndrome de pânico pode ocorrer de um para outro momento e


atinge qualquer indivíduo, particularmente entre os 10 a 40 anos de
idade, alcançando, na atualidade, expressivo índice de vítimas, que
oscilam entre 1% e 2% da população em geral.

Na atualidade apresenta-se com alta incidência, levando grande


número de pacientes a aflições inomináveis.

Existem fatores que desencadeiam, agravam ou atenuam essa


ocorrência e podem ser catalogados como físicos e psicológicos.
158

Já não se pode mais considerar como responsável pelos distúrbios


mentais e psicológicos uma causa unívoca, porém, uma série de fatores
predisponentes como ambientais, especialmente no de pânico.

Entre os primeiros se destacam os da hereditariedade, que se


responsabilizam pela fragilidade psíquica e pela ansiedade de
separação. Tais fatores genéticos facultam o desencadear da
predisposição biológica para a instalação do distúrbio de pânico. Por
outro lado, os conflitos infantis, geradores de insegurança e ansiedade,
facultam o campo hábil para a instalação do pânico, quando se dá
qualquer ocorrência direta ou indireta, que se responsabiliza pelo
desencadeamento da crise.

Acredita-se que a responsabilidade básica esteja no excesso de


serotonina sobre o Sistema Nervoso Central, podendo ser controlada a
crise mediante aplicação de drogas específicas tais clonazepam, não
obstante ainda seja desconhecido o efeito produzido em relação a esse
neuro-receptor.

O surto ou crise é de efeitos alarmantes, por transmitir uma


sensação de morte, gerando pavor e desespero, que não cedem
facilmente.

A utilização de palavras gentis, os cuidados verbais e emocionais


com o paciente não operam o resultado desejado, em razão da
disfunção orgânica, que faculta a instalação da ocorrência, embora
contribuam para fortalecer no enfermo a esperança de recuperação e
poder trabalhar-se o psiquismo de forma positiva, que minora a
sucessão dos episódios devastadores.

Não raro, o paciente, desestruturado emocionalmente e


vitimado pela sucessão das crises, pode desenvolver um estado
profundo de agorafobia ou derrapar em alcoolismo, toxicomania,
como evasões do problema, que mais o agravam, sem dúvida.

É uma doença que se instala com mais freqüência na mulher,


embora ocorra também no homem, e não se trata de um problema
exclusivamente contemporâneo, resultado do estresse dos dias atuais,
em razão de ser conhecida desde a Grécia antiga, havendo sido, isto
sim, melhor identificada mais recentemente, podendo ser curada com
cuidadoso tratamento psiquiátrico ou psicológico, desde que o paciente
se lhe submeta com tranqüilidade e sem a pressa que costuma
acompanhar alguns processos de recuperação da saúde mental.

O distúrbio de pânico encontra-se enraizado no ser que


desconsiderou as Soberanas Leis e se reencarna com predisposição
fisiológica, imprimindo nos gens a necessidade da reparação dos
delitos transatos que permaneceram sem justa retificação, porque
desconhecidos da Justiça humana, jamais porém, da divina e da
159

própria consciência do infrator. Por isso mesmo, o portador de distúrbio


de pânico não transfere por hereditariedade necessariamente a
predisposição aos seus descendentes, podendo, ele próprio não ter
antecessor nos familiares com essa disfunção explícita.

Indispensável esclarecer que, embora a gravidade da crise, o


distúrbio de pânico não leva o paciente à desencarnação, apesar de dar-
lhe essa estranha e dolorosa sensação.

Autodescobrimento páginas 124~128

Pânico

No imenso painel dos distúrbios psicológicos o medo avulta,


predominando em muitos indivíduos e apresentando-se, quando na sua
expressão patológica, em forma de distúrbio de pânico.

O medo, em si mesmo, não é negativo, assim se mostrando quando,


irracionalmente, desequilibra a pessoa.

O desconhecido, pelas características de que se reveste, pode


desencadear momentos de medo, o que também ocorre em relação ao
futuro e sob determinadas circunstâncias, tomando-se, de certo modo,
fator de preservação da vida, ampliação do instinto de autodefesa. Mal
trabalhado na infância, por educação deficiente, o que poderia tomar-se
útil, diminuindo os arroubos excessivos e a precipitação irrefletida,
converte-se em perigoso adversário do equilíbrio do educando.

São comuns, nesse período, as ameaças e as chantagens afetivas:


Se você não se alimentar, ou não dormir, ou não proceder bem, papai e
mamãe não gostarão mais de você... ou O bicho papão lhe pega, etc. A
criança, incapaz de digerir a informação, passa a ter medo de perder o
amor, de ser devorada, perturbando a afetividade, que entorpece a
naturalidade no seu processo de amadurecimento, tomando o
adolescente inseguro, e um adulto que não se sente credor de carinho,
de respeito, de consideração.

A deformação leva-o às barganhas sentimentais — conquistar


mediante presentes materiais, bajulação, anulando a sua
personalidade, procurando agradar o outro, diminuindo-se e
supervalorizando o afeto que anela.

A pessoa é, e deve ser, amada, assim como é. Naturalmente, todo o


seu empenho deve ser direcionado para o crescimento interior, o
160

desenvolvimento dos recursos que dignificam: não invejando quem lhe


parece melhor — pois alcançará o mesmo patamar e outros mais
elevados, se o desejar — nem se magoando ante a agressividade dos que
se encontram em níveis menores.

Por outro lado, face às ameaças, o ser permanece tímido,


procurando fazer-se bonzinho, não pela excelência das virtudes, ruas,
por mecanismo de sobrevivência afetiva.

O medo, assim considerado, pode assumir estados incontroláveis,


causando perturbações graves no comportamento.

Os fatores psicossocíais, as pressões emocionais influem,


igualmente, para tomar o indivíduo amedrontado, especialmente diante
da liberação sexual, gerando temores injustificáveis a respeito do
desempenho na masculinidade ou na feminilidade, que propiciam
conflitos psicológicos de insegurança, a se refletirem na área
correspondente, com prejuízos muito sérios.

Bem canalizado, o medo se transforma em prudência, em equilíbrio,


auxiliando a discernir qual o comportamento ético adequado, até o
momento em que o amadurecimento emocional o substitui pela
consciência responsável.

Confunde-se o pânico como expressão do medo, quando irrompe


acompanhado de sensações físicas:

- disritmia cardíaca, sudorese, sufocação, colapso periférico produzindo


algidez generalizada. Essa sensação de morte com pressão no peito e
esvaecimento das energias que aparece subitamente, desencadeada sem
aparente motivo, têm outras causas, raízes mais profundas.

Na anamnese do distúrbio de pânico, constata-se o fator genético


com alta carga de preponderância e especialmente a presença da
noradrenalina no sistema nervoso central. É, portanto, uma disfunção
fisiológica. Predomina no sexo feminino, especialmente no período pré-
catamenial, o que mostra haver a interferência de hormônios, sendo
menor a incidência durante a gravidez.

Sem dúvida, a terapia psiquiátrica faz-se urgente, a fim de que


determinadas substâncias químicas sejam administradas ao paciente,
restabelecendo-lhe o equilíbrio fisiológico.

Invariavelmente atinge os indivíduos entre os vinte e os trinta e


cinco anos, podendo surgir também em outras faixas etárias,
desencadeado por fatores psicológicos, requerendo cuidadosa terapia
correspondente.
161

Há, entretanto, síndromes de distúrbio de pânico que fogem ao


esquema convencional. Aquelas que têm um componente paranormal,
como decorrência de ações espirituais em processos lamentáveis de
obsessão.

Agindo psiquicamente sobre a mente da vítima, o ser espiritual


estabelece um intercâmbio parasitário, transmitindo-lhe
telepaticamente clichês de aterradoras imagens que se vão fixando, até
se tomarem cenas vivas, ameaçadoras, encontrando ressonância no
inconsciente profundo, onde estão armazenadas as experiências
reencarnatórias, que desencadeadas emergem, produzindo confusão
mental até o momento em que o pânico irrompe incontrolável,
generalizado. Dá-se, nesse momento, a incorporação do invasor do
domicilio mental, que passa a controlar a conduta da vítima, que se lhe
submete à indução cruel.

Cresce assustadoramente na sociedade atual essa psicopatologia


mediúnica, que está requerendo sérios estudos e cuidadosas pesquisas.

As terapias de libertação têm a ver com a transformação moral do


paciente, a orientação ao agente e a utilização dos recursos da
meditação, da oração, da ação dignificadora e beneficente.

Quando a ingerência psíquica do agressor se faz prolongada,


somatiza distúrbios fisiológicos que eliminam noradrenalina no sistema
nervoso central do enfermo, requerendo, concomitantemente, a terapia
especializada, já referida.

Mediante uma conduta saudável de respeito ao próximo e à vida, o


indivíduo precata-se da interferência perniciosa dos seres espirituais
perturbadores, adversários de existências passadas, que ainda se
comprazem na ação perversa. Esse sítio que promovem, responde por
inúmeros fenômenos de sofrimento entre os homens.

Não sendo a morte do soma o aniquilamento da vida, a essência que


o vitaliza — o Eu profundo — prossegue com suas conquistas e
limitações, grandezas e misérias. Como o intercâmbio decorre das
afinidades morais e psíquicas, fácil é constatar-se as ocorrências que se
banalizam.

O medo, portanto, necessita de canalização adequada, e o distúrbio


do pânico, examinada a sua gênese, merece os cuidados competentes,
sendo passíveis de recuperação ambos os fenômenos psicológicos
viciosos, a que o indivíduo se adapta, mesmo sofrendo.
162

Artigo Sobre o Assunto

3 – Características Inibidoras

Amor, Imbatível Amor páginas 163~185

Timidez. Inibições. Angustia. Abandono De Si Mesmo.

O processo da evolução ântropo-sociológica do ser humano não se


fez acompanhar pelo desenvolvimento psicológico, que deveria, pelo
contrário, precedê-lo.

Sendo um ser essencialmente constituído pela energia pensante, ela


teria predominância no comportamento, imprimindo suas necessidades
mais vigorosas, que se transfeririam para o cérebro, por ela modelado,
passando a conduzir a maquinaria física, como conseqüência das suas
expressões psicológicas. Não obstante, em razão da sua estrutura
original, simples, destituída de complexidades, esse desabrochar de
valores tornase lento, fixando cada conquista, de forma que a próxima
se apóie na anterior que lhe passa a constituir alicerce psíquico.

Os sentimentos, por isso mesmo, surgem, a pouco e pouco,


arrebentando a concha na qual se aprisionam em latência,
apresentando-se como impulsos e tendências que se comportarão no
futuro como hábitos estruturados, formadores de novos campos
vibratórios a se tornarem ação.

O desconhecimento de determinadas experiências inibem-no


psicologicamente, permitindo que verdadeiros algozes psicológicos
tomem campo no comportamento, que se transformam em conflitos
perturbadores, inibidores, trabalhando para a formação de existências
fragmentadas.

Às vezes se apresentam difíceis de remoção imediata, exigindo


terapia demorada e grande esforço do seu portador, caso esteja
realmente interessado na conquista da saúde emocional.

Ao invés de assim agir, pelo contrário, o indivíduo refugia-se na


distância, evitando compromissos sociais e emocionais que acredita não
saber administrar, tornando a situação mais complexa na razão direta
em que evita os contatos saudáveis, que podem arrancá-lo da situação
alienante.
163

Desequipado de coragem e de estímulos para vencer-se e superar os


algozes, mais se aflige, reflexionando negativamente, e deixando-se
embalar pelas mórbidas idéias da autocomiseração ou da revolta, da
auto-punição ou do pessimismo, que passam a constituir-lhe
companheiros constantes da conduta interior, que externa como
amargura, insegurança, mal-estar.

Os mecanismos da evolução constituem força propulsionadora do


desenvolvimento dos germes que dormem em latência, aguardando os
fatores propiciatórios ao seu desempenho.

A princípio, de forma incipiente, depois com mais vigor, por fim,


com espontaneidade, que se torna característica da personalidade,
abrindo mais espaços para a aquisição dos valores mais elevados da
inteligência e do sentimento.

Para a eficiência do afã deve ser empreendida uma bem direcionada


luta interior, firmada em propósitos de relevância em relação ao futuro,
e de superação das marcas do passado.

A constituição de cada indivíduo mantém os sinais de todo o


processo de crescimento, tal como ocorre com todos os seres em a
Natureza.

Na botânica, a cor das folhas e flores, o sabor dos frutos, mesmo


que da mesma espécie, expressam as características do solo no qual se
encontram. O mesmo ocorre entre os animais, que são resultado das
condições climáticas e ambientais, da alimentação e do tratamento que
recebem, variando de expressões conforme os lugares onde se
movimentam.

Muitos caracteres psicológicos têm a ver com os fatores mesológicos


e suas implicações na conduta.

Assim, os algozes psicológicos que afetam a um expressivo número


de pessoas, aguardam decisão e ajuda para arrebentarem as suas
amarras retentivas, que impedem a plenificação da criatura.

Timidez

Um relacionamento infantil insatisfatório com a família,


particularmente em referência à própria mãe que se apresente
castradora ou se torne superprotetora, termina por impedir o
desenvolvimento psicológico saudável do indivíduo, que estabelece um
mecanismo de timidez a fim de preservar-se dos desafios que o
surpreendem a cada passo.
164

Submetido a uma situação constrangedora por impositivo materno,


que não lhe permite espaço para autenticidade, sente-se castrado nas
suas aspirações e necessidades, preferindo sofrer limitação a assumir
atitudes que lhe podem causar mal-estar e aflições. Por outro lado,
superprotegido, sente anulada a faculdade de discernimento e ação,
toda vez que defronta uma situação que exige valor moral e coragem.

Refugiando-se na timidez, disfarça o orgulho e o medo de ser


identificado na sua impossibilidade de agir com segurança, protegendo-
se das incomodidades que, inevitavelmente, o surpreendem.

Como conseqüência, o desenvolvimento da libido faz-se incompleto,


dando nascimento a limitações e receios infundados quanto à própria
atividade sexual, o que se pode transformar em conflito de maior
profundidade na área do relacionamento interpessoal, assim como na
auto-realização.

A timidez pode apresentar-se como fenômeno psicológico normal,


quando se trata de cuidado ante enfrentamentos que exigem
ponderação, equilíbrio e decisão, dos quais resultarão
comprometimentos graves no grupo social, familiar, empresarial, de
qualquer ordem. Poder-se-ia mesmo classificá-la como um mecanismo
de prudência, propiciador de reflexão necessária para a adoção de uma
conduta correta.

Igualmente, diante de situações e pessoas novas, em ocorrências


inesperadas que exigem uma rápida resposta, temperamentos existem
que se precatam timidamente, sem que haja, de forma alguma,
exteriorização patológica na conduta, tornando-se, portanto, normal.

Todavia, quando se caracteriza como um temor quase exagerado


ante circunstâncias imprevistas, produzindo sudorese, palpitação
cardíaca, colapso periférico das extremidades, torna-se patológica,
exigindo conveniente terapia psicológica, a fim de ser erradicada ou
diluída a causalidade traumática, através de cujo método, e somente
assim, advirá a superação do problema.

O indivíduo tímido, de alguma forma, é portador de exacerbado


orgulho que o leva à construção de comportamento equivocado. Supõe,
inconscientemente, que não se expondo, resguarda a sua realidade
conflitiva, impedindo-se e aos outros impossibilitando uma identificação
profunda do seu Self.

Noutras vezes, subestima-se e a tudo aquilo quanto poderia induzi-


lo ao crescimento psicológico, à aprendizagem, a um bom
relacionamento social, e torna-se um fardo, considerando que as
interrogações que poderia propor, os contatos que deveria manter, não
são importantes. Na sua óptica psicológica distorcida, o que lhe diz
respeito não é importante, tendo a impressão de que ninguém se
165

interessa por ele, que as suas questões são destituídas de valor, sendo
ele próprio desinteressante e sem significado para o grupo social.

A timidez oculta-o, fazendoo ausente, mesmo quando diante dos


demais.

De certo modo, a timidez escamoteia temperamentos violentos, que


não irrompem, produzindo distúrbios externos, porque se detêm
represados, transformando-se em cólera surda contra as outras
pessoas, às vezes contra si próprio.

É de considerar-se que essas são reações infantis, face ao não


desenvolvimento e amadurecimento psicológicos.

Nesse quadro mais grave, o conflito procede de experiência


pretérita, que teve curso em vida passada, quando o paciente se
comprometeu moralmente e asfixiou, no silêncio íntimo, o drama
existencial, que embora desconhecido das demais pessoas, se lhe
gravou nos recessos do ser, transferindo-se de uma para outra
reencarnação, como mecanismo de defesa em relação a tudo e a todos
que lhe sejam estranhos.

No íntimo, o orgulho dos valores que se atribui e a presença da


culpa esculpida no inconsciente geraram-lhe o clima de timidez em que
se refugia, dessa forma precatando-se de ser acusado, o que lhe
resultaria em grave problema para a personalidade.

A timidez é terrível algoz, por aprisionar a espontaneidade, que


impede o paciente de viver em liberdade, de exteriorizar-se de maneira
natural, de enfrentar dificuldades com harmonia interna,
compreendendo que toda situação desafiadora exige reflexão e cuidado.

Uma vida saudável caracteriza-se também pela ocorrência de


receios, quando se apresentam problemas que merecem especial
atenção.

Como todos desejam alcançar suas metas, que são o sentido


existencial a que se afervoram, a maneira cuidadosa e tímida, não
agressiva nem precipitada, expressa oportuno mecanismo de
preservação da intimidade, da realidade, do processo de evolução.

A ausência da timidez não significa presença de saúde psicológica


plena, porque, não raro, outros algozes do comportamento desenham
situações também críticas, que necessitam ser orientadas corretamente.

Nesse sentido, a extroversão ruidosa, a comunicabilidade excessiva,


constituem fenômeno perturbador para o paciente que pretende, dessa
maneira, ocultar os seus sentimentos conflitivos, desviando a atenção
da sua realidade para a aparência, ao mesmo tempo diluindo a
166

necessidade de valorização, por saber-se conhecido, desejado, face ao


comportamento irrequieto que agrada ao grupo social com o qual
convive.

Realizando-se, por sentir-se importante, descarrega os medos na


exteriorização de uma alegria e jovialidade que não são autênticas.

Observando-se tal conduta, logo se perceberá uma grande excitação


e preocupação em agradar, em chamar a atenção, em tornar-se o centro
de interesse de todos, dificultando a comunicação natural do grupo.

Esse tipo de exibicionismo é pernicioso, porque o paciente distrai os


outros e continua em tensão permanente, o que se lhe torna um estado
normal, no entanto, enfermiço.

A timidez pode ser trabalhada também, mediante uma auto-análise


honesta, de forma que o paciente deva considerar-se alguém igual aos
outros, como realmente é, nem melhor, nem pior, apenas diferente pela
estrutura da personalidade, pelos fatores sociais, econômicos,
familiares, com os quais conviveu e que o modelaram.

Ademais, deve ter em vista que é credor de respeito e de carinho


como todas as outras pessoas, que tem valores, talvez ainda não
expressados, merecendo, por isso mesmo, fruir dos direitos que a vida
lhe concede e lhe cumpre defender.

Toda fuga leva a lugar nenhum, especialmente no campo


emocional. Somente um enfrentamento saudável com o desafio pode
libertar do compromisso, ao invés de transferi-lo para outra ocasião, em
que lhe serão acrescidos os inevitáveis juros, que resultam do
adiamento, quando, então, as circunstâncias serão diferentes e já terão
ocorrido significativas alterações.

Uma preocupação que deve vicejar no íntimo de todos os


indivíduos, tímidos ou não, é que não se deve considerar sem
importância ou tão significativo que lhe notarão a presença ou a
ausência.

Assim, uma conduta tranqüila, caracterizada pela autoconfiança e


naturalidade nas várias situações proporciona bem-estar e conquista da
espontaneidade.
167

Inibição

A timidez excessiva disfarça o orgulho domina-dor.

Algumas vezes, esse estado decorre de um mecanismo inibitório


fixado na personalidade, que se transformou em comportamento
doentio.

O indivíduo que se atormenta, vitimado pelo complexo de


inferioridade, mesmo que camuflado, evita chamar a atenção, embora
interiormente viva um vulcão de ansiedades e aspirações que asfixia
aflitivamente, tomando posições isolacionistas, de onde observa o
mundo exterior e as outras pessoas, considerando-as levianas, porque
alegres; insensatas, porque espontâneas, ou exibicionistas, porque
extrovertidas.

Experimentando a castração emocional que o impede


momentaneamente de viver o clima social em que se encontra, sente-se
rejeitado, quando é ele próprio quem se recusa a participar das
atividades nas quais todos se encontram.

Não apenas isso, mas também se utiliza do falso recurso de


justificação, supondo-se isolado, porquanto ninguém se interessa pela
sua pessoa, quando, em verdade, por sua vez, tampouco se empenha
em tomar conhecimento do que se passa fora de si, ou mesmo
demonstrar qualquer interesse pelo seu próximo.

Como é natural, não se apresentando receptivo, em razão do


respeito que todos se devem mutuamente, as outras pessoas poupam-
se ao prazer, ou não prazer de buscá-lo para manter qualquer tipo de
intercâmbio fraternal ou afetivo.

A inibição, essa resistência psicológica íntima, a pessoas,


acontecimentos e condutas, é causa de muitos males na área da
emoção. Empurra o paciente para reflexões pessimistas e
autodestrutivas como forma de auto-realização doentia.

Sentindo-se não aceito, acumula azedume e atormenta-se,


frustrando as inumeráveis possibilidades de alegria e comunicação.

Quase sempre esse estado mórbido decorre de uma infância infeliz,


na qual conviveu com pais autoritários, familiares rebeldes e agressivos,
sentindo-se empurrado para o ensimesmamento, face ao receio de ser
punido por qualquer coisa acontecida, mesmo quando não a houvesse
praticado, assumindo postura de vítima que se esforça para agradar
sempre, estar permanentemente bem com todos, sem ser incomodado
pelas ocorrências ou pelas criaturas.
168

Essa conduta também expressa alta dose de egoísmo, que se impõe


fórmulas de vivência individualista, reacionária contra tudo quanto lhe
parece ambiente hostil e de difícil penetração.

Não possuindo resistência psicológica para sobrepor-se à


severidade doméstica, recua para a interiorização, dando asas à
imaginação pessimista e perturbada, naufragando no estado de
inibição.

Outras vezes, a conduta insensível dos pais, especialmente da mãe


— com quem mais se convive no período infantil — fez o atual paciente
sentir-se rejeitado, transformado em incômodo que era para os
genitores, como se a sua presença lhes constituísse um fardo,
eliminando-o, pela indiferença, do grupo familiar.

Essa mesma ocorrência pode também originar-se no convívio com


outros adultos e apresentar as suas primeiras marcas no
relacionamento com outras crianças que, incapazes de compreender a
ocorrência, criticam, expulsam dos seus folguedos, agridem todos
aqueles que as desagradam... Ante essa reação dos companheiros de
jogos e brincadeiras, agravam-se os conflitos, que se transformarão em
conduta de inibição enfermiça.

O ser existencial, todavia, é, antes de quaisquer outras


considerações, um Espírito imortal, herdeiro de todas as realizações que
lhe assinalam a marcha ancestral.

Viajor de muitas experiências em roupagens carnais diferentes e


múltiplas, é o arquiteto de glórias e desaires através do comportamento
ético-moral, social, religioso, político, artístico e de qualquer outra
natureza, por cujas faixas transitou no curso da sua evolução.

Conforme se haja conduzido em uma etapa, transfere para a outra


os conteúdos que lhe servirão de alicerce para a formação da
personalidade. Por outro lado, o renascimento em lares afetuosos ou
agressivos, gentis ou indiferentes, entre expressões de bondade ou de
acusação, resulta das ações anteriormente praticadas, que ora lhe
cumpre reparar, caso hajam sido infelizes e prejudiciais, ou mais
crescer, em razão dos procedimentos enobrecedores.

Assim, recuando à concepção fetal, encontra-se o ser pleno,


indestrutível, herdeiro de si mesmo, trabalhador incansável do próprio
progresso, que lhe cumpre conquistar a esforço pessoal.

Assim considerando, os fatores hereditários e mesológicos,


psíquicos e físicos, sociais e emocionais que o compõem estruturando-
lhe a personalidade, delineando-lhe a existência humana, têm as suas
matrizes fixadas nas atividades desenvolvidas anteriormente.
169

Aluno da vida, promoção ou recapitulação, reprovação na classe em


que estuda na valiosa escola terrestre, dependem exclusivamente do
próprio empenho.

Não obstante, o avanço do conhecimento, nas áreas da ciência e da


tecnologia, muito tem contribuído para minimizar e mesmo eliminar os
fatores traumáticos das reencarnações anteriores, principalmente em
razão dos avanços das doutrinas psíquicas, descobrindo o ser
transpessoal, viajor entusiasta da imortalidade.

A valiosíssima contribuição de diferentes psicoterapias modernas


constitui bênção para os transtornos psicológicos e psiquiátricos da
mais variada ordem, não devendo permanecer esquecidos os fatores que
desencadearam as ocorrências que precedem ao berço.

Desde o período perinatal, a partir da concepção, que os


implementos do pretérito se esculpem no ser em formação, modelando-
o conforme as matrizes que se lhe encontram no cerne espiritual.

Por outro lado, além das psicoterapias acadêmicas que auxiliam na


libertação dos fenômenos de inibição, o interesse do paciente é de
grande valia, mesmo durante o processo de reconquista da saúde.

Inicialmente deve ser estabelecido o veemente desejo de sentir-se


bem, liberando-se da perturbadora sensação de permanente mal-estar a
que está acostumado.

Para tanto, a substituição de pensamentos negativos,


autopunitivos, autodepreciativos, por outros de ordem emuladora ao
progresso e a alegria, torna-se de vital importância. Logo depois, a
consideração em torno de que todos se apresentam conforme lhes é
possível, não lhe cabendo a vacuidade de colocar-se na posição de
vítima, em que se compraz, tendo as outras pessoas como suas
adversárias, com ou sem razão.

O problema conflitivo se encontra no indivíduo e não no mundo


exterior. Quando ele se harmoniza, consegue enfrentar as mais hostis
situações como sendo desafios que o incitam ao crescimento interior, ao
amadurecimento psicológico, porque a existência humana, em verdade,
não é como aprazeria a cada um, mas conforme a estrutura dos
acontecimentos e dos impositivos da sociedade, na qual todos se
encontram envolvidos.

Ainda aí, no processo de autoterapia, é essencial o desenvolvimento


da tolerância para considerar as pessoas como seres em crescimento,
com dificuldades no trato consigo mesmas e não como criaturas
especiais, eleitas, modelos, que devem constituir o melhor exemplo,
embora a si se permita a justificativa de manter-se recluso nas idéias e
comportamentos esdrúxulos.
170

Cada indivíduo é um universo de emoções, de conquistas, de


valores por descobrir, merecendo investimentos de alto significado.

O desenvolvimento psicológico do ser humano é processo lento, que


deve apresentar-se seguro, sem oscilações, vencendo as diferentes
etapas e fixando-as no comportamento~ a fim de que se estabeleçam
novos patamares que devem ser conquistados.

Esse campo experimental, no qual a emoção se engrandece


saudavelmente, é fértil em oportunidades criativas e compensadoras,
porquanto, a inevitável busca do prazer, da harmonia, se transformam
em razões emuladoras para o sucesso.

Angústias

O filósofo Kierkegaard considera a angústia como sendo uma


determinação que revela a condição espiritual do homem, caso se
manifeste psicologicamente de maneira ambígua e o desperte para a
possibilidade de ser livre.

A angústia é a terrível agonia que limita o ser na estreiteza das


paredes da insatisfação, face à falta de objetivo e de essencialidade da
existência.

Resultado de inúmeros desconfortos morais, expressa-se em


desinteresse doentio e afugente, que punge o ser, levando-o a graves
transtornos psicológicos.

Radicada no Espírito, exterioriza-se como ressentimento da vida,


processo de desestruturação da personalidade, azedume e infelicidade.

Na infância, sem dúvida, se encontram os fatores que produziram o


amargor, quando a rejeição dos pais e familiares conspirou contra o
amadurecimento emocional, alardeando pessimismo em torno da
criança, que foi brutalizada, desestimulada de promover qualquer
reação em favor de si mesma e dos valores que se lhe encontravam
adormecidos, suprimindo-lhe o direito a uma existência saudável.

A morte dos objetivos existenciais deu-se, a pouco e pouco, graças


aos espículos das injustiças implacáveis que a desnortearam quando
ainda em formação, apresentando-lhe sempre a sua incapacidade para
triunfar, a ausência de recursos para merecer respeito e consideração, a
insistente e rude violação dos seus direitos como ser humano.
171

Sentindo-se desrespeitada e odiada, não tendo espaço para a


catarse dos dramas íntimos que se lhe desenhavam nos painéis da
mente, deslocou-se do mundo infantil iluminado, refugiando-se na
caverna sombria da amargura, que passou a comandar as suas
aspirações, embora de pequena monta, terminando por turbar-lhe as
paisagens do sentimento e da emoção.

À medida que se foram estabelecendo os contornos e conteúdos da


amargura, os resíduos psíquicos pessimistas se acumularam em forma
de toxinas que passaram a envenenar-lhe os comandos mentais,
entorpecendo-lhe os neurotransmissores e perturbandolhe as
comunicações.

Ainda aí se podem contabilizar, nesse doloroso processo de


instalação da angústia, os efeitos do comportamento desastroso em
existência transata, quando malbaratou as oportunidades felizes que
lhe foram concedidas pela Vida, ou as utilizou indevidamente,
produzindo desaires e desconforto, quando não gerando desgraça de
efeitos demorados.

Essas vítimas, tornaram-se cobradores inconseqüentes daquele que


delinqüiu, hoje reencarnando-se na condição de pais e demais
familiares, que se atribuíram, embora inconscientemente, os direitos de
rejeição ao ser que a Divindade lhes confiou para o processo de
crescimento e de reparação, nesse complexo e extraordinário movimento
que é a vida.

Trazendo esculpida no inconsciente profundo a culpa, após um


despertar doloroso para a realidade, o Espírito, que se reconhece
indigno de auto-estima, mergulha no abismo da autopunição sem dar-
se conta, tornando-se angustiado e, sobretudo, magoado em relação a
todos e a tudo.

A culpa não diluída é terrível flagício que dilacera o ser, seja


conscientemente ou não, impondo a necessidade da reparação do dano
causado. Por isso mesmo, o perdão ao mal de que se foi objeto ou
àquele que o infugiu é de relevante importância. Não porém, apenas a
quem agride, acusa ou malsina, mas também, e principalmente, a si
mesmo. E indispensável que o indivíduo se permita o direito do erro,
considerando, entretanto, o dever da reparação, mediante cujo esforço
supera o constrangimento que a Consciência do equívoco lhe impõe.

Não se trata de uma atitude permissiva para novos equívocos, e


sim, de um direito de ser humano que e, de lograr sucesso ou desacerto
nos empreendimentos que se permite, aprendendo mediante a
experimentação, que nem sempre se faz coroar de êxito. Não obstante,
quando se tem consciência do gravame, com habilidade e interesse, é
possível transformá-lo em bênção, porquanto, através dele, se aprende
como não mais agir.
172

Não sendo assim conduzida, a ação tomba, em algum tipo de


processo perturbador, como o de natureza angustiante.

A óptica do paciente angustiado é distorcida em relação à realidade,


porque as suas lentes estão embaçadas pelas manchas morais dos
prejuízos causados a outras vidas, tanto quanto em razão das injunções
dolorosas a que se sentiu relegado.

Somente através do esforço bem direcionado em favor do


reequilíbrio e utilizando-se de terapia específica, é que se torna possível
à libertação do estertor da angústia, restabelecendo o comportamento
saudável, recuperando os objetivos existenciais perdidos em razão do
estabelecimento de novos programas de vida.

Acostumado à rejeição, e somando sempre os valores negativos que


defronta pela jornada, o indivíduo enfermo estabelece o falso conceito
da irreversibilidade do processo, negando-se o direito de ser feliz,
felicidade essa que lhe parece utópica.

Adaptado emocionalmente ao cilício do sofrimento interno, qualquer


aspiração libertadora assume proporções difíceis de serem
ultrapassadas. Não obstante, o amor desempenha papel fundamental
nesse contubérnio, transformando-se em terapia eficiente para o
condito desesperador.

Despertando para a afetividade, que lhe foi negada, e que brota


inesperadamente na área dos sentimentos profundos, é possível ao
paciente arregimentar poderes, energias para romper o círculo de força
que o sitia, propondo-lhe uma releitura existencial e emulando-o ao
avanço.

O amor preenche qualquer vazio existencial, por despertar emoções


inusitadas, capazes de alterar a estrutura do ser.

Quando asfixiado, continua vibrando até o momento em que


irrompe como força motriz indispensável ao crescimento interior que
faculta amadurecimento e visão correta das metas a serem alcançadas.

Concomitantemente, o auxilio especializado de profissional


competente torna-se essencial, contribuindo para a recomposição das
paisagens emocionais danificadas.

o esforço pessoal, no entanto, é fator preponderante para o sucesso


da busca da saúde psicológica.

Apesar de todo o empenho, porém, convém considerar-se que


surgem momentos na vida, nos quais, episódios de angústias se
apresentam, sem que se torne abalada à harmonia emocional.
173

Desde que se façam controláveis e superados a breve tempo,


expressam fenômeno de normalidade no transcurso da existência
humana, porquanto, num comportamento horizontal, sem as
experiências que se alternam, produzindo bem ou mal-estar, não se
podem definir quais são as diretrizes de uma conduta realmente
saudável e digna de ser conseguida.

Toda fixação que se torna monoideísta, eliminando a polivalência


dos inúmeros fenômenos que fazem parte do mecanismo da evolução,
transforma-se em transtorno do comportamento, que conduz a
patologias variadas, dentre as quais, a amargura, que se expressa como
força autopunitiva, mecanismo psicótico-maníaco-depressivo que, não
cuidado no devido tempo, sempre culmina em mal de conseqüências
irreversíveis.

Abandono De Si Mesmo

A debilidade de resistências psicológicas, que se convertem em


ausência de forças morais, conduz o paciente aos estados mórbidos,
quando acometido dos desconfortos da timidez, inibição e angústia, que
lhe trabalham os mecanismos da mente, deixando-o à deriva.

Revolta e pessimismo assaltam-no, levando-o a paroxismos de


desesperação interior, em cujo processo mais se aflige, entorpecendo os
centros do discernimento e mergulhando em fundo poço de desarmonia.

Sem motivação estimuladora para buscar objetivos salutares nos


rumos existenciais, auto-abandona-se, descuidando da aparência como
efeito do pessimismo que o aturde.

Passa a exigir uma assistência que se não permite, e quando


alguém se dispõe a oferecê-la, recusa-a, agredindo ou fugindo para
atitudes de autocomiseração, nas quais se compraz.

Porque coleciona azedume, a sua faz-se uma presença


desagradável, carregada de negatividade, com altas doses de censura
aos outros ou de auto-reproche, evitando-se liberação.

A timidez é couraça forte que aprisiona, O tímido, no entanto,


adapta-se, e egoisticamente passa a viver em exílio espontâneo, que lhe
não exige luta, assim poupando-se esforços, que são inevitáveis no
processo de crescimento e de conquista psicológica madura.

A inibição é tóxico que asfixia, produzindo distúrbios emocionais e


físicos, transtornando a sua vítima e empurrando-a para o poço
174

venenoso da alienação. Ali, os tóxicos dos receios injustificados


asfixiam-no, produzindo-lhe enfermidades físicas e psíquicas em cujas
malhas estorcega em demorada agonia.

A angústia despedaça os sentimentos que se tornam estranhos ao


próprio paciente, que perde o contato com a realidade objetiva dos
acontecimentos e das pessoas, para somente concentrar-se no próprio
drama, isolando-o de qualquer convivência saudável, e quando não se
pode evadir do meio social, permanece estranho aos demais, em cruel
autopiedade, formulando considerações comparativas entre o que
experimenta e o que as demais pessoas demonstram. Parece que
somente ele é portador de desafios, e que as aflições se fixaram
exclusivamente na sua casa mental.

Não cede espaço para a análise dos problemas que a todos


assoberbam, e que podem ser examinados de forma saudável,
transformando-se em fonte de permanentes estímulos para o
desenvolvimento dos recursos de que é portador.

São esses distúrbios emocionais algozes implacáveis, que merecem


combate sistemático e diluição contínua, não se lhes permitindo fixação
interior. A ocorrência de qualquer um deles é perfeitamente normal no
comportamento humano, servindo para fortalecimento dos valores
íntimos e da própria saúde emocional.

Inevitável, para a sua erradicação, a busca de recursos preciosos,


alguns dos quais, os mais importantes, se encontram no próprio
enfermo, como, por exemplos, a auto-estima, a necessidade do
autoconhecimento, e do positivo relacionamento no grupo social, que
são negados pelos distúrbios castradores.

A auto-estima, na vida humana, é de relevantes resultados, em


razão de produzir fenômenos fisiológicos, que decorrem dos estímulos
emocionais sobre os neurônios cerebrais, que então produzem enzimas
que concorrem para o bem-estar e a alegria do ser.

Da mesma forma que as idéias esdrúxulas, carregadas de altas


doses de desesperança e negação, somatizam-se, dando surgimento a
enfermidades variadas, as contribuições mentais idealistas, forjadas
pela auto-estima, confiança, coragem para a luta produzem estados de
empatia, de júbilo e de saúde.

Quando, porém, o paciente resolve absorver os transtornos que o


assaltam, demorando-se na reflexão em torno deles, agindo sob os
vapores venenosos que expelem, refugiando-se na autocompaixão e na
rebeldia, voltando-se contra o grupo social que o pode auxiliar, não
apenas amplia os efeitos perniciosos da conduta, como também
bloqueia os recursos de auxilio para a libertação, abrindo campo para a
instalação de inumeráveis enfermidades alérgicas, de dermatoses
175

delicadas, de problemas digestivos e respiratórios, com profundos


reflexos nervosos destrambelhados ou doenças mais graves...

O indivíduo é, com muita propriedade, a mente que o direciona.

As ocorrências traumatizantes, por isso mesmo, ao invés de aceitas


pelo Self, devem ser liberadas, mediante catarses próprias ou através da
transmudação dos conteúdos, de forma que em substituição aos pensa-
mentos destrutivos, perversos, negativos, passem a ser cultivados
aqueles que devem reger as realizações edificantes, interagindo na
conduta que se alterará para melhor, direcionada para a saúde.

A impossibilidade de realizá-lo a sós não se torna empecilho para


que seja buscada a solução, através do psicoterapeuta preparado, para
auxiliar no comportamento e na transformação dos modelos mentais
perturbadores.

Ademais, porque originados no cerne do ser espiritual, que se é, a


orientação competente que se deriva da evangelhoterapia, face à
contribuição do amor e do esclarecimento da causalidade dos
problemas, não pode ser postergada ou levada em desconsideração.

Ressumando os miasmas dos erros pretéritos e diante de novas


possibilidades que se apresentam auspiciosas, as dificuldades iniciais
são a cortina de fumaça que oculta os horizontes claros do êxito, que
aguardam ser conquistados após a diluição do impedimento.

Desse modo, o esforço para o autoconhecimento se transforma em


necessidade terapêutica, porquanto o aprofundamento sereno na busca
de respostas para os conflitos da personalidade, culminarão
apresentando a cada um informações que não haviam sido detectadas
lucidamente, e que passarão a contribuir de forma valiosa na conduta.

Quando o indivíduo se comporta através de sucessivas reações sem


a oportunidade de atitudes conscientes, que são resultados da
ponderação, do amadurecimento, da análise em torno do fato, mais se
lhe agravam os efeitos perniciosos de tal atitude.

É perfeitamente normal uma reação que decorre da força do


instinto de preservação da vida, resguardando-se, automaticamente, de
tudo aquilo que venha a constituir sofrimento ou desagrado. No
entanto, reações em cadeia, sem intervalos para a lógica nem a
meditação em volta do que está sucedendo, tornam-se morbidez de
conduta, expressando o desequilíbrio instalado no campo emocional.

Ainda assim, é perfeitamente válido o esforço para a alteração do


quadro, buscando entender-se, interrogando-se sobre o porquê de tal
procedimento e tentando honestamente mudar dessa direção para outra
mais lúcida e racional.
176

A convivência social, mesmo que se apresentando desagradável


para o paciente, irá contribuir para que descubra valores em outras
pessoas que, distanciadas, são tidas como antipáticas, inconvenientes
ou desinteressantes. Nesse meio, perceberá que todas experimentam as
mesmas pressões e sofrem semelhantes problemas, sendo que algumas
sabem como administrá-los, dissimulá-los, superá-los, vivendo em
equilíbrio, sem escorregarem pela rampa da autopunição, da
autocompaixão, do auto-amesquinhamento.

O abandono de si mesmo é forma de punir a incapacidade de


lutar, cilício voluntário para a autodestruição, recurso para punir os
familiares ou a sociedade na qual se encontra. Sentindo-se
impossibilitado de competir, negando-se a lutar, recalcando os conflitos
na raiva e na mágoa, castiga-se, para desforçar-se de todos aqueles que
se lhe apresentam na mente atormentada como responsáveis pelo seu
estado.

Enquanto o indivíduo não se resolva por crescer e ser feliz, esses


algozes implacáveis e mais outros adormentá-lo-ão, ferindo-o, cada vez
mais, e dominando a sociedade que passará a ser-lhe vítima.

Amor, Imbatível Amor páginas 202~221

INCERTEZAS E BUSCA PSICOLÓGICA

Desajustamento. Afetividade perturbada. Busca de si mesmo.


Autoconfiança e auto-renovação.

O processo da evolução ântropo-sócio-psicológica do ser é muito


lento, porquanto, passo a passo, o mecanismo do pensamento se vai
desenvolvendo, abrindo perspectivas sempre mais amplas, na medida
que conquista conhecimento e discernimento.

Ampliam-se-lhe com vagar os horizontes do entendimento, que lhe


faculta melhor situar-se na realidade do ser inteligente com
possibilidades de alcançar patamares sempre mais elevados.

Os transtornos e distúrbios que o assinalam podem ser


considerados como desarmonias e quedas do senso psicológico, que
aguarda os recursos hábeis para a sua renovação.
177

A predominância dos instintos básicos, que lhe foram


indispensáveis para a sobrevivência nas faixas primárias do
crescimento, permanecem no mecanismo fisiológico de que se utiliza, ao
tempo em que remanescem no inconsciente profundo, ressuscitando a
cada momento com vigor e induzindo à permanência no primarismo.

Reações automáticas, ambições desnecessárias, receios


injustificáveis projetam-no para comportamentos defensivos-agressivos
e condutas extravagantes condizentes com os estágios dos quais se deve
liberar.

Essa queda psicológica natural permanece até o momento em que


se resolve por alçar-se à razão e sobrepor-se aos caprichos
perturbadores, que somente são superados mediante o controle da
vontade e estímulos corretos para o bem-estar sem conflitos, bem como
a conquista da saúde emocional, que é responsável por outros
requisitos indispensáveis para a aquisição daquela de natureza integral.

Não se pode fugir das próprias heranças interiores, que se


apresentam como impulsos, necessidades e motivações para o correto
sentido existencial. Por essa razão, a predominância das paixões
dissolventes sustenta o fenômeno de estacionamento, quando luz a
oportunidade de ascensão, de rearmonização interior para o salto
valioso de superação do ego e conquista total do Self.

Quando isso ocorre, a percepção de valores metafísicos e


parapsicológicos, mediúnicos e espirituais abarca o campo emocional e
agiganta-se a capacidade de entendimento da existência corporal,
proporcionando a vigência do ser ideal, que se libertou das torpezas
morais e dos tormentos emocionais daquelas derivados.

Esse procedimento se torna valioso compromisso que o indivíduo


lúcido assume em favor dele mesmo e, por conseqüência, da sociedade
na qual se encontra.

As suas conquistas e os seus prejuízos tornam-se fator precioso


para o comportamento geral, porquanto esse todo, que é o grupo social,
cresce e amadurece de acordo com os membros que o constituem.

Ninguém se pode dissociar do conjunto social sem o agravante de


perder-se na alienação.

A medida de um ser saudável é identificada através da sua conduta


pessoal em relação a si mesmo e àqueles com quem convive. Revela-se
através da maneira como se conduz, irradiando jovialidade sem alarde,
alegria e comunicação fácil.

Enquanto não logra o cometimento, o trabalho incessante no


campo emocional constitui-lhe o desafio a vencer.
178

Ascender, no entanto, psicologicamente, mediante o


amadurecimento interior e o controle dos sentimentos, torna-se-lhe de
impostergável necessidade.

Desajustamento

Massificado no volume perturbador que o oprime, o indivíduo


descaracteriza-se, perdendo a individualidade e tornando-se títere dos
hábeis manipuladores de opinião, orientadores de conceitos, que
também se equivocam e, sem rumo, estabelecem comportamentos que
interessam ao mercado das sensações, das novidades, da volúpia do
consumismo.

Esse enfrentamento que predomina de fora para dentro da


personalidade alcança resultados imediatos nas pessoas frágeis
psicologicamente, tímidas e conflitivas que a eles se adaptam, a fim de
ficarem de bem com o conjunto, não tendo a coragem de assumirem a
sua própria realidade.

Mesclando-se ao comum não chamam a atenção, podendo


escamotear as dificuldades que as aturdem, perdendo o significado da
existência, que passa, agora, a seguir a correnteza dos sucessos sem
profundidade.

Tal insensatez conduz a comportamentos morais reprocháveis, nos


quais a pusilanimidade assume destaque e expressa-se de forma
equivocada. Não possuindo um senso diretor para a conduta, o
indivíduo perde o contato com os valores éticos, derrapando em
situações vexatórias para ele mesmo como indignas em relação aos
outros.

Caracterizam-no a ausência de lealdade nos relacionamentos, a


dubiedade nas decisões, a aparente gentileza, nivelando todos no
mesmo patamar, na desistência dos ideais relevantes, da forma
equilibrada com que devem conduzir a própria vida.

Na massificação, o que importa é a ausência de problemas, como se


toda a vida pudesse ser avaliada pelos divertimentos, pelos risos
artificiais, pela leviandade.

O indivíduo psicologicamente desajustado, procura massificar-se,


de forma a não ter que enfrentar os desafios que lhe são necessários
para o crescimento íntimo.
179

Momento surge, porém, em tal procedimento, que se torna


necessária à definição de rumos, a eleição de conduta salutar, o
desabrochar de preferências pessoais.

A massa é informe e dominadora, arrastando inexoravelmente a


desidentificação, à vulgaridade.

Há impulsos poderosos que procedem do Self e não podem ser


ignorados. Surgem inesperadamente, e cada qual dá-se conta da sua
individualidade, da sua personalidade, das suas próprias aspirações,
que não estão de acordo com o que lhe é imposto e aceito até o
momento sem qualquer reação. A partir de então apresentam-se o
despertar da consciência, a alteração de padrões e de aspirações
contribuindo para a libertação da canga aflitiva.

O indivíduo está fadado à sua realidade superior, que o


caracterizará como um ser pleno, sem inquietações nem tormentos,
porquanto a vida se lhe deve apresentar com o sentido de libertação de
qualquer constrangimento, realizando-se, ajustando-se.

O instinto gregário aproxima-o de outrem, ajudao a formar o grupo


social, mas é a razão que lhe dita a conduta para a sua preservação.
Integrar-se, não significa perder-se, tornar-se invisível na massa, mas
identificar-se com as suas propostas, harmonizar-se com ela, sem
deixar de ser a própria estrutura, seus ideais e ambições, seus esforços
e anelos, porquanto a harmonia sempre depende do equilíbrio das
diferentes partes que constituem o todo.

O ser psicologicamente saudável é aquele que se mantém não


afetado pelos acontecimentos, antes porém sensibilizado, de forma a
poder contribuir para atenuar os danos, quando ocorrerem, ou auxiliar
o crescimento, quando se faça necessário.

Para tanto, é indispensável o sentido de valorização da vida, de


análise correta e compreensão dos elementos essenciais à preservação
do equilíbrio da sociedade.

A exaltação personalista, decorrente dos fenômenos de fuga da


timidez, do medo de ser descoberto na sua realidade conflitiva, torna-se
necessidade emocional para destacar-se da massa, porque o indivíduo
compreende que, não tendo valores éticos ou intelectuais, artísticos ou
quaisquer outros que o diferenciem, chama para si, os conflitos
disfarçados e exibe a tormentosa condição que o diferencia, porém, de
maneira excêntrica, perturbadora. E também um transtorno de
comportamento que tem a ver com a instabilidade emocional e a
insegurança que o atormentam.

Cada ser constrói a sua personalidade ao longo das experiências


vividas e conquistadas, estabelecendo comportamentos de segurança
180

que o assinalam e tornam-no conhecido. Abandonar essa realização, é


como negar-se o direito a uma vida saudável.

O enfrentamento social, como expressão de desafios existenciais,


faz parte do processo de crescimento moral e de auto-realização, que
propelem ao auto-encontro, quando então o direcionamento da vida
física se faz, com real equilíbrio e metas perfeitamente definidas.

Por outro lado, não se torna necessário fugir do meio social, por
mais leviano este se apresente, agredi-lo com indiferença ou de forma
aguerrida nem colocar-se em um pedestal de falsa superioridade...

Impõe-se, isto sim, o indispensável compromisso de se estar


presente, de ser participativo, porém, não dependente, não escravo,
contribuindo para que ocorra a sua transformação, o seu
desenvolvimento para outros valores, a sua elevação moral.

Todo indivíduo que se harmoniza interiormente, deixa que surja a


sua realidade emocional, superando o desajustamento que aturde a
sociedade, e tornando-se exemplo de saúde e de bem-estar que desperta
interesse, provocando curiosidade e inveja positiva...

Afetividade Perturbada

A afetividade é o sentimento que se expressa mediante reações


físicas positivas.

O ser humano tem necessidade de prazer, e todos os seus


esforços são direcionados para usufruí-lo, evitando a experiência do
sofrimento, excetuando-se os casos de transtornos masoquistas.

Toda e qualquer busca, conscientemente ou não, aguarda a


compensação do bem-estar, que é sempre a fonte motivadora para toda
luta.

Desse modo, a afetividade produz uma reação de adrenalina no


sangue que leva o indivíduo ao aquecimento orgânico, do qual decorre a
sensação agradável do prazer, do desejo de estar próximo, do contato
físico, do aperto de mão, do abraço, da carícia.

A afetividade é inerente ao ser humano, não podendo ser dele


dissociada, já que também é natural em todos os animais, inicialmente
como instinto de proteção à prole.

Psicologicamente, a sua exteriorização tem muito a depender do


convívio perinatal e suas experiências no ambiente do lar,
particularmente com a mãe.
181

Por uma necessidade imperiosa de segurança —que a criança


perde ao sair do claustro materno — o contato físico é de vital
importância para o equilíbrio do ser. Inicialmente a criança não tem
ainda desenvolvido o sentimento de afeição ou de amor, mas a
necessidade de ser protegida, de ter atendidas as suas necessidades, o
que lhe oferece prazer, surgindo, a partir daí, a expressão emocional,
também sinônimo de garantia em relação ao que necessita para viver.

O sentimento da afetividade, porém, é quase sempre


acompanhado dos conflitos pessoais, que decorrem da estrutura
psicológica de cada um.

Quando não se viveu plenamente na infância a experiência


tranqüilizadora do amor, a insegurança que se instala gera conflitos em
relação à sua realidade, e todos os relacionamentos afetivos se
apresentam assinalados pela presença do ciúme, da raiva ou do
ressentimento.

O ciúme, que retrata a falta de auto-estima, predominando a


autodesvalorização, como decorrência da não confiança em si mesmo,
transforma-se em terrível algoz do ser e daqueles que fazem parte do
seu relacionamento.

As exigências descabidas, as suspeitas insuportáveis produzem


verdadeiros cárceres privados, nos quais se desejam aprisionar aqueles
que se tornam asfixiados pela afetividade do enfermo emocional. Nesse
comportamento, a desconfiança abre terríveis brechas para a
hostilidade e a raiva, que sempre se unem como mecanismo de proteção
daquele que se sente desamado.

De alguma forma, essa conduta resulta do abandono emocional


a que se foi relegado na infância, quando as necessidades físicas e
psicológicas não se faziam atendidas convenientemente, resultando
nesse terrível transtorno de desestruturação da personalidade, da
autoconfiança.

A desconfiança de não merecer o amor —


inconscientemente — e a necessidade de impor o sentimento —
acreditando sempre muito doar e nada receber — levam a
patologias profundas de alienação, que derrapam em crimes
variados, desde os mais simples aos mais hediondos...

O medo de não ter de volta o amor que se oferece conduz à raiva


contra aquele que é alvo desse comportamento mórbido, porque o afeto
sempre doa e não exige retribuição, é um sentimento ablativo, rico de
oferta.

Toda vez que o amor aflora, um correspondente fisiológico irriga


de sangue o organismo e advém a sensação agradável de calor,
182

enquanto a animosidade, a antipatia, a indiferença proporcionam o


refluxo do sangue para o interior, deixando a periferia do corpo fria,
portanto, desagradável, perturbadora.

Todo aconchego produz calor na pele, bem-estar, enquanto que


o afastamento gera frio, desagrado, tornando-se difícil de aceitação a
presença física de quem é causador de tal sensação.

O amor não pode ser imposto, mas desenvolvido, treinado,


quando não surgir espontaneamente.

Esse aflorar natural tem suas raízes nas experiências anteriores


do Espírito, que renasce em condições ambientais propiciatórias ou não
ao seu aparecimento, ao lado de uma família afetuosa ou destituída
desse sentimento, o que contribui decisivamente para a sua existência,
para a sua eclosão.

Em muitos relacionamentos o amor brota com espontaneidade


e cresce harmônico.

Noutros, no entanto, é conflitivo, atormentado, com altibaixos


de alegria e de raiva, de ansiedade e medo, de hostilidade e posse.

A necessidade de amor é imperiosa, e subjacente à mesma,


encontra-se o desejo do contato físico, enriquecedor, estimulante.

Quando se é carente de afetividade, a mesma se apresenta em


forma de ansiedade perturbadora, que gera conflitos e insatisfações,
logo seja atendida.

Em tal caso, produz incerteza de prosseguir-se amado, após


atendida a fome do contato físico ou emocional. Enquanto se está
presente, harmoniza-se, para logo ceder lugar à insegurança, à
desconfiança.

Assim sendo, o amor se toma dependente e não plenificador.

Transfere sempre para o ser amado as suas necessidades de


segurança, exigindo receber a mesma dose de emoção, às vezes
desordenada, que descarrega no ser elegido.

Essa é uma exteriorização infantil de insatisfação afetiva, não


completada, que foi transferida para a idade adulta e prossegue
insaciada.

A afetividade madura proporciona o prazer, sem o qual


permaneceria perturbada, angustiante, caótica.
183

Amar, é um passo avançado do desenvolvimento psicológico do


ser, uma conquista da emoção, que deve superar os conflitos,
enriquecendo de prazer e de júbilo aquele a quem é dirigido o afeto.

Amadurecido pela experiência da personalidade e pelo equilíbrio


das emoções, proporciona bem-estar na espera sem ansiedade, e alegria
no encontro sem exigência.

Busca de Si Mesmo

O amor desempenha um papel preponderante na construção de


um ser saudável, sem o que a predominância dos instintos o mantém
no primarismo, na generalidade das expressões orgânicas sem maior
controle do comportamento.

Crescendo ao lado da razão, o sentimento de amor é o grande


estimulador para o progresso ético, social e espiritual da criatura, sem
cuja presença se manteria nas necessidades primárias sem maior
significado psicológico.

Inato no relacionamento mãe-filho, como decorrência de o


último ser uma forma de apêndice da primeira, surge no pai através do
instinto de proteção à sua fragilidade e dependência, que se irá
desenvolvendo mediante a carga de emoção de que se faz acompanhar.

À medida que desabrocha e se desenvolve, desvela as


características individuais — do Espírito que é —, adquirindo e
assimilando os conteúdos do meio social em que se encontra e que
contribuem para a formação da sua identidade.

Tais fatores — inatos e sociais — estão presentes na


hereditariedade — são impressos pelos valores adquiridos em outras
existências, os quais se encarregam de modelar o ser — e decorrem da
convivência do meio em que se está colocado no processo da evolução.

A aquisição ou despertamento do Si, é o grande desafio da


existência humana, tornando-se condição de relevância no
comportamento do ser e nos enfrentamentos que deverá desenvolver.

O ser real, no entanto, está oculto pelo ego, pelos


condicionamentos, pelos impositivos sociais, sob a máscara da
personalidade...

Descobri-lo, constitui um valioso desafio de natureza interior,


impondo-se um mergulho no inconsciente, de forma a arrancar a
184

realidade que se oculta sob a aparência, o legítimo escondido no


projetado.

A conquista de si mesmo proporciona alegria e libertação dos


sentimentos subalternos, conflitivos. Sempre vem acompanhada da
individualidade, quando se tem coragem de expressar sentimentos de
valor — sem agressões, mas sem temor de desagradar —, quando se
assume a consciência do Si e se sabe exatamente o que se deseja, bem
assim como consegui-lo.

Ao adquirir-se a identidade, experimenta-se uma irradiação de


alegria, de prazer que contagia, sem o expressar em forma ruidosa,
esfuziante, tornando-se pleno e feliz diante da vida.

Essa conquista independe do poder, que normalmente corrompe


e deixa o indivíduo vazio quando a sós, nos momentos em que o seu
prestígio não tem valor para submeter alguém ou para impor a
subserviência que agrada ao ego, tombando no desânimo ou na revolta
e fazendo-se violento.

Na conquista de si mesmo surge um magnetismo que se


exterioriza, produzindo empatia e proporcionando sensação de
completude, resultado do amadurecimento psicológico e do controle das
emoções que fluem em harmonia.

A sua presença causa prazer nas demais pessoas, enquanto que


o indivíduo não realizado, não identificado, proporciona estranhas
sensações de mal-estar, de desagrado. O quanto é agradável estar-se ao
lado de alguém jovial, feliz, plenificado, dá-se em oposto quando se
convive com alguém pessimista, queixoso, inseguro.

Cada ser irradia o que é internamente.

Mesmo que muito bem apresentado pode produzir mal-estar, ou


quando despido de atavios e exterioridades, é susceptível de provocar
agradáveis sensações.

A busca de si mesmo nada tem a ver com o sucesso exterior,


que pode ser adquirido superficialmente sem fazer-se acompanhar do
interno, que é mais importante, porque define os rumos existenciais,
prolongando os objetivos da vida.

Quando se busca o sucesso, o preço a pagar é muito alto,


particularmente pelo que se tem de asfixiar em sentimentos internos, a
fim de alcançar a meta exterior, enquanto que na busca da própria
realidade a nada se sacrifica; antes se desenvolve o senso de beleza, de
harmonia, de interiorização sem qualquer alienação.
185

Essa viagem interior deve ser consciente, observada,


reflexionada, descobrindo-se os conteúdos emocionais e espirituais que
estão soterrados no inconsciente profundo, portanto, adormecidos no
Espírito.

Confunde-se muito a conquista de si mesmo, tendo-se a falsa


idéia de que ela surge após conseguir-se o poder, o sucesso, a vitória
sobre a massa.

Todas essas realizações são exteriores, enquanto a auto-


identificação tem a ver com a autolibertação que, no caso, é o desapego
das coisas — o que não quer significar que seja o abandono delas, mas
o uso sem a dependência, a valorização sem a escravidão às mesmas —;
às pessoas que, embora amadas, não se tornam codependentes dos
caprichos impostos; às ambições perturbadoras que sempre levam a
mais poder, a mais aquisição, a mais inquietação.

Valores antes não conhecidos passam a habitar a mente e a


preencher as lacunas do sentimento, desenvolvendo aptidões ignoradas
e trabalhando emoções não vivenciadas.

Nessa incursão interior, descobre-se quem se é, quais as


possibilidades que existem e se encontram à disposição, como
desenvolver os propósitos de crescimento íntimo e viver plenamente em
harmonia consigo, bem como em relação com as demais pessoas e com
a Natureza.

Ocorre nessa fase um peculiar insight, e essa iluminação norteia


a conduta, que se assinala pela harmonia e confiança em si mesmo, nas
suas atitudes, nas metas agora estabelecidas, trabalhando pelo
crescimento intelecto-moral.

A busca da identidade proporciona a superação da massificação,


ao tempo em que faculta o descobrimento da realidade espiritual que se
é, em detrimento da transitoriedade carnal em que se encontra.

A vitória sobre o medo da doença, do infortúnio, da morte


produz auto-segurança para todos os enfrentamentos e a ampliação do
futuro, que agora não mais se apresenta no limite da sepultura, do
desconhecido, do aniquilamento, desdobrando metas incomensuráveis,
que se ampliam fascinantes e arrebatadoras sempre que esteja vencida
a anterior.

A ansiedade cede lugar à harmonia, a hostilidade natural é


substituída pela cordialidade, a insegurança abre espaço para a
confiança, e o mundo se apresenta não agressivo, não punitivo, não
castrador, porquanto, aquele que é livre interiormente não tem
186

obstáculos pela frente por haver-se vencido, dessa forma, tornando todo
combate factível e credor de enfrentamento.

Enquanto a busca do poder é exterior, a insatisfação corrói o ser


vitimado pela ambição fragilizadora, principalmente por causa da
presença inevitável e dominadora da morte que espreita e a tudo
devora, ameaçando as construções mais vigorosas da transitoriedade
física.

Sem dúvida, a morte é um fantasma presente nas cogitações dos


planos de breve ou de longo curso, porque está sempre no inconsciente
humano, mesmo quando ausente na realidade objetiva.

A autoconquista da identidade é também vitória da vida


imperecível, da realidade que se é, na investidura transitória em que se
transita.
Cada qual deve buscar-se através de reflexões tranqüilas e
interiorização consciente, perguntando-se quem é, quais os objetivos
que se encontram à frente e como alcançá-los, investindo alguns
momentos diários a exercícios de pacificação e manutenção de
pensamentos edificantes sejam quais forem às circunstâncias.

O auto-encontro dá-se, após esse labor, naturalmente e


plenificador, saudável e rico de harmonia.

Autoconfiança e Auto-Renovação

O egoísmo é um remanescente cruel do primitivismo que


predomina em a natureza humana.

Responsável por inumeráveis males, comanda os indivíduos,


que vilipendia; os grupos, que entorpece moralmente; as sociedades,
que submete a seu jugo.

Resultado dos impulsos animais, conduz a pesada carga do


interesse imediatista em detrimento dos valores que enobrecem, quando
partilhados com o grupo social.

Porque propõe o prazer asselvajado, propele o ser humano no


rumo das conquistas exteriores em mecanismos hediondos de
perversidade, pouco se preocupando com os resultados nefastos que os
seus lucros e triunfos oferecem à sociedade.

A meta do egoísta é o gozo pessoal, perturbador, insaciável,


porque oculta a insegurança que se realiza através da posse, com o que
pensa conquistar relevo e destacar-se no grupo, nunca imaginando a
187

ocorrência terrível da solidão e do desprezo que passa a receber mesmo


daqueles que o bajulam e o incensam.

O egoísta é o exemplo típico da autonegação, do descaso que


tem pelo Si profundo, vitimando-se pelo alucinar das ansiedades
insatisfeitas e pelo tormento de não conseguir ser amado.

A autoconfiança produz uma atitude contrária às posses


externas e um trabalho de autoconquista, que pode favorecer a
realidade do que se é, sem preocupação com a aparência ou com a
relevância social.

Descobrindo-se herdeiro de si mesmo, o indivíduo trabalha-se, a


fim de crescer emocionalmente, amadurecendo conceitos e reflexões,
aspirações e programas, a cuja materialização se entrega.

Reconhece as próprias dificuldades e esforça-se para superá-


las, evitando a autocompaixão anestesiante quão deprimente do não
entusiasmo, que sempre leva a estados enfermiços.

Identificando os valores que lhe são específicos, torna-se


vulnerável à dor, sem se deixar vencer; à alegria, sem esquecer os
deveres, e compreende que o processo da evolução é todo assinalado
por vitórias como por derrotas, que passa a considerar como
experiências que contribuirão para futuros acertos.

O processo de fuga da realidade é sempre de efêmera duração,


porque os registros no inconsciente do indivíduo propelem-no
vigorosamente para a frente, apesar da conjuntura imperiosa de manter
os atavismos dos quais procede.

Ocorre que o ser humano está destinado à conquista da sua


realidade divina, não se podendo impedir essa fatalidade.

Os transtornos de que se vê tomado são conseqüências das


ações vivenciadas, que se vão depurando à medida que novos atos são
realizados, ensejando conquistas novas e libertadoras.

Nesse trajeto, o despertar da consciência impõe discernimento


para que possa compreender quais as propostas relevantes para a
saúde mental e emocional, conseqüentemente também a de natureza
física, por ser esta o efeito daquelas outras formas. O corpo é sempre o
invólucro que se submete aos impositivos do ser psíquico que se é,
experimentando os efeitos das irradiações do fulcro vital, que é o
Espírito.

Toda e qualquer providência em favor do equilíbrio há de provir


dessa fonte inexaurível de energias, encarregada de manter a
estabilidade do conjunto. Quando algo ocorre, a disfunção é central,
188

produzida por este ou aquele fator, que sempre tem a ver com as
elucubrações e propósitos cultivados na forja mental.

Aí está o campo a conquistar, onde se encontram os conteúdos


definidores da identidade do ser.

Conseguindo-se a disciplina da autopenetração mental,


descobre-se a pouco e pouco o mundo de tendências, de desconfortos,
de frustrações, de ansiedades e de conflitos em que se encontra
mergulhado, realizando, mediante a auto-renovação, o trabalho de
corrigir o que se apresenta perturbador, aprimorando aquilo que pode
ser alterado, superando o que seja factível de conseguir-se.

O ser humano é vida em expansão no rumo do infinito. Espírito


imortal, momentaneamente cercado de sombras e envolto em tormentos
de insatisfação, pode canalizar todas as energias decorrentes dos
instintos básicos para os grandes vôos da inteligência, superando os
patamares mais primitivos da evolução com os olhos voltados para a
realidade transcendente.

Emergindo do caos em cuja turbulência se agita, percebe a


perenidade existente em tudo, não obstante as transformações
incessantes e toma parte, emocionado, no conjunto que pulsa e se
engrandece diante dos seus olhos.

Esse ser, que parece insignificante e, não poucas vezes, faz-se


mesquinho ante a grandeza do Cosmo, agiganta-se e descobre as
infinitas possibilidades que lhe estão ao alcance, participando
ativamente do concerto geral, não mais pelos impulsos, senão
consciente da grandeza nele existente, que aguarda somente o
desabrochar.

A autoconfiança leva ao encontro de Deus no mundo íntimo, à


grandiosa finalidade para a qual existe, convidado à superação dos
impedimentos transitórios que parecem asfixiá-lo.

Nesse admirável esforço surge o conhecimento de como se é e de


como se encontra, descobrindo as próprias deficiências, mas igualmente
as incontáveis possibilidades de que desfruta.

O perceber dos limites e conflitos faculta uma melhor dimensão


da fragilidade pessoal, propiciando tomar-se de grande estima por si
mesmo, sem qualquer inspiração narcisista, assim permitindo-se errar,
porém preservando os objetivos de acertar, e toda vez que se
compromete, ao invés de tombar no mecanismo autopunitivo, busca
superar o engano e conceder-se nova ocasião para se corrigir.
189

Não se detendo na autocompaixão perturbadora quão inútil,


antes se motiva para crescer e alcançar os patamares psicológicos mais
elevados, identificando-se com a Causalidade Única em tudo vibrando.

Esse empreendimento dá-se através da auto-renovação, quando


surge a necessidade de modificar os planos existenciais, face à
descoberta do diferente significado e modo de viver.

Antes eram os anseios festivos e infantis das alegrias


superficiais, imaturas, agora são os saltos na escala de valores que se
alteram mediante a conscientização do que se é e de tudo quanto
significam em favor de si mesmo e do conjunto universal.

Já não se aspira pela mudança do mundo, pela transformação


da sociedade, porque se descobriu que esse cometimento tem início em
si mesmo, considerando-se uma célula importante do organismo
pulsante que está presente em tudo. Constatando que, enquanto
houver disfunção na partícula haverá desequilíbrio no conjunto, altera
o movimento emocional da aspiração cultivada e se entrega ao ritmo
eloqüente da vida em abundância, não mais da particularização dos
interesses egóicos.

A autoconfiança resulta das conquistas contínuas que


demonstram o valor de que se é portador, produzindo imensa alegria
íntima, que se transforma em saúde emocional, com a subseqüente
superação dos conflitos remanescentes das experiências passadas.

Esse processo inadiável deve ser iniciado no comportamento


mental através do cultivo de idéias libertadoras, que fomentam
esperança e motivam à luta, apresentando as inumeráveis formas de
vitória sobre os instintos predominantes, responsáveis pelos mergulhos
no abismo da agressividade e da violência.

Da reflexão mental à ação tudo ocorre de maneira mais fácil,


porquanto se instalam automaticamente nos mecanismos psíquicos, daí
transferindo-se para os hábitos morais, as realizações físicas e sociais.

É nesse momento que se desenvolvem o senso de beleza e graça,


o anseio pela conquista do imaterial, a aspiração pelo nobre e pelo bom.
As fronteiras existenciais se dilatam e o espírito voa com maior
capacidade de conquistas transcendentais, de expressões abstratas que
estão acima das formas e dos sentidos.

Inato nas pessoas, esse sentido de graça, de beleza, de


transcendência somente é descoberto após a auto-realização, quando
são extraídos do âmago e se expandem nos sentimentos que se
adornam de vida e de luz.
190

Inexoravelmente o ser humano avança na busca da sua


afirmação ante a vida e todos aqueles que o cercam.

Momentos de Consciência páginas 26~30

Comportamento e Consciência

Estudos cuidadosos a respeito do comportamento humano


demonstraram que há três biótipos representativos de criaturas na
sociedade.

O primeiro pode ser denominado como codependente,


constituído por pessoas condicionadas, aquelas que estabelecem as
suas metas através de circunstâncias alheias à sua vontade, não
adquirindo uma consciência pessoal de satisfação como esforço
individual auto-realizador.

As suas aspirações estão fundamentadas nas possibilidades de


outrem, nos fatores ocasionais e afirmam que somente serão felizes se
amadas, se realizarem tal viagem ou qual negócio, etc.

A falta de confiança em si mesmas proporciona-lhes o


desequilíbrio desagregador da saúde, e mais facilmente, em média, são
acessíveis ao câncer, atingindo um obituário maior do que aquelas que
se demoram nas outras áreas.

O segundo e constituído por indivíduos insatisfeitos; os que


tem raiva da vida, que são os contra; instáveis e irritadiços por
natureza, são autodestrutivos, vivendo sob a constrição permanente da
irascibilidade.

Afirmam que se sentem incompletos, que nada lhes sai


bem,portanto, agridem-se e agridem todos e tudo.

Facilmente se tornam presas de distúrbios nervosos que mais


os desgastam e infelicitam, atirando-se aos porões da exaltação, da
depressão, do autocídio, direto ou não...

Entre eles surgem os déspotas, os guerreiros, os criminosos...

O terceiros grupo é formado por criaturas ajustadas, auto-


realizadas, tranqüilas, confiantes.
191

Certamente, o seu, é um número reduzido, diferindo


grandemente dos membros que se encontram nas faixas
comportamentais anteriores.

Essas pessoas ajustadas são candidatas ao triunfo nas


atividades às quais se dedicam, tornando-se agradáveis, sociáveis,
estimuladoras.

Os seus empenhos são positivos, visando sempre o bem-estar


geral, o progresso de todos.

As suas lideranças são enriquecedoras, criativas e dignas.

Desse grupo saem os fomentadores do desenvolvimento da


sociedade, os exemplos de sacrifício, os gênios criadores, os buscadores
da Verdade...

As investigações aprofundaram as suas sondas nas causas


próximas desses comportamentos e encontraram, na raiz deles, o grupo
familiar como responsável.

Com ligeiras variações daqueles que superam os fatores


negativos e se ajustam, bem como outros que apesar da sustentação
dignificadora derraparam para as áreas de inquietação, o lar responde
pela felicidade ou desdita futura da prole, gerando criaturas de bem,
assim como servos da perturbação.

Quem não recebe amor, não sabe dar amor e não o possui para
repartir.

Na infância do corpo, o espírito encarnado plasma na


consciência a escala de valores que lhe orientará a existência.

Conforme seja tratado criará estímulo naquela direção,


retribuindo-os na mesma ordem.

A auto-estima aí se desenvolve, quando orientado ao


descobrimento apreciável da vida, das próprias possibilidades, dos
valores latentes que lhe cumpre desenvolver.

Os desafios tornam-se-lhe convites ao esforço, à luta pelo


progresso, à conquista de metas.

O insucesso não o aturde nem o desestimula, pois que o


conscientiza de como não fazer o que deseja.
192

O carinho na infância, o amor e a ternura, ao lado do respeito


à criança, são fundamentais para unia vida saudável, plenificadora.

Todos têm necessidade de segurança na jornada carnal de


instabilidades e transitoriedades.

E os pais, os educadores, os adultos em geral, são os modelos


para a criança, que os amará copiando-os, ou os detestará,
incorporando-os inconscientemente.

É verdade que cada espírito reencarna no lar de que tem


necessidade para evoluir, o que não credencia os genitores ao uso e
abuso das arbitrariedades que pratiquem, de que terão, por sua vez, de
dar conta à própria e à Consciência Cósmica.

O espírito reencarna para progredir, desdobrando e


aprimorando as aptidões que lhe dormem na consciência profunda. A
educação na infância desempenha um papel de fundamental
importância para o seu comportamento durante a existência.

Os estímulos ao amor ajudam-no a lapidar as arestas que lhe


remanescem do passado, mediante as ações de enobrecimento, de
solidariedade, de abnegação, de caridade.

Com raras exceções, os grandes vultos da Humanidade


possuíram uma superior consciência de comportamento e apoiavam-na
nas reminiscências do lar, no carinho dos pais, dos avós, dos mestres,
que lhes constituíram exemplo digno de ser imitados.

As suas reminiscências foram ricas de beleza, de bondade, de


amor, com que se equiparam para os grandes lances da existência, e,
aqueles que foram vítimas de holocaustos, possuíam pacificada a
consciência por sacrificaram-se em favor da posteridade.

Respondendo a Allan Kardec, à indagação de número 918, de O


Livro dos Espíritos, asseveraram os Condutores da Terra:

- O espírito prova a sua elevação quando todos os atos de


sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando,
antecipadamente, compreende a vida espiritual.

O comportamento é, pois, resultado do nível individual de


consciência de cada ser.
193

4 – Ressentimento e Exaltação e Outros

Autodescobrimento páginas 118~121

Insatisfação

Há uma necessidade urgente de reprogramar-se a mente.

Hábitos longamente mantidos, viciações sustentadas por


largo prazo, acomodações psicológicas a acontecimentos e atitudes
justificadas por mecanismos de evasão do ego, tomam-se uma outra
forma de natureza nos automatismos da própria natureza.

Quando a mente está pronta, parece que todas as coisas o


estão igualmente, isto porque dela dependem o senso crítico, a
avaliação, o discernimento.

Enquanto se encontra entorpecida ou mal desenvolvida, não


consegue abranger a finalidade existencial, e também se adapta ao
habitual, automatizando-se.

À medida que se amplia o campo mental, mais fáceis se


tomam às novas aquisições psíquicas, favorecendo a memória, que
supera os lapsos, por liberar-se das cargas negativas que a obnubilam.

A autodepreciação é fator preponderante para a infelicidade


pessoal e para o relacionamento com outras pessoas, em razão do
desrespeito a si mesmo.

Quem se subestima, supervaloriza os outros, fazendo


confrontos entre si e os demais de forma inadequada, ou projeta a sua
sombra acreditando que são todos iguais, variando apenas na
habilidade que aqueles possuem para mascarar-se.

O seu é um critério de avaliação distorcido, doentio, sem


parâmetros bem delineados.

Quando tal ocorre, pensa-se em viajar, mudar de trabalho,


acabar o casamento ou casar-se, conforme o caso, variar os
relacionamentos sociais...

O problema, no entanto, não se encontra nos outros, mas


no próprio indivíduo, nele enraizado.
194

Claramente possui uma auto-imagem incorreta, feita de


autopiedade ou com autopunição, o que se transforma em uma lente
defeituosa, que altera a visão do mundo e das outras criaturas.

Para onde o ser se transfere, fugindo, leva-se consigo e


reencontra-se, logo mais, no novo lugar, assim se acostume com a
novidade.

O fundamental não é mudar de atividade profissional,


alterar a vida conjugal e social...

Talvez essas atitudes possam contribuir para um


despertamento interior, que é difícil, mas o essencial é a coragem para
enfrentarse, despir-se e querer realmente modificar-se.

O tentame se coroará de êxito mediante uma reprogramação


da mente, iniciando-a com a indispensável conceituação da auto-
imagem, reforçada com a disposição de não retroceder.

Funcionará, à vontade, na forma de dever para consigo


mesmo, de reestruturação do programa da vida, do redescobrimento do
Si e da sua eternidade diante do Cosmo.

Diminuem, nesse momento, os gigantes íntimos


ameaçadores,que se fazem pigmeus e se desintegram na sucessão da
experiência renovadora.

Nessa fase de reprogramação mental, a pessoa descobre que


todos são diferentes uns dos outros, com desafios parecidos, mas não
iguais, em lutas contínuas, no entanto específicas, e que a vitória
alcançada por eles em determinados combates não lhes impede nem
lhes evita novos enfrentamentos.

Lentamente nascem os estímulos para avançar, as


disposições para não ceder às tentações da acomodação, e a lucidez
mental propicia a percepção das vantagens que advêm de cada
conquista alcançada.

Os problemas e dificuldades se tomam mais fáceis de ser


resolvidos e ultrapassados, fazendo a vida mais agradável, não lhes
dando maior importância.

Os obstáculos, que antes pareciam intransponíveis, agora são


contornáveis, e as pessoas adquirem outro valor, na sua grandeza como
na sua pequenez.

Desaparecem os privilegiados e os abandonados pela sorte,


passando a ser compreendidos e tolerados como são, e não pela forma
da apresentação.
195

A tolerância, que resulta da melhor identificação dos valores


éticos e das conquistas espirituais, enseja maior respeito por si mesmo,
permitindo-se os limites aos quais não se submete mais, sem reações
inamistosas nem aquiescências injustificáveis.

A insatisfação decorre da ignorância, do desconhecimento do


Eu profundo e das suas inesgotáveis possibilidades.

Supondo-se, equivocadamente, que tudo está feito e


terminado, a entrega a esse fatalismo gera saturação, desmotivando
para novas conquistas.

Quanto mais a pessoa se autopenetra, mais se descobre e


mais possibilidades tem de conhecer-se.

Essa conquista leva ao infinito, porque vai até o deus interno


que abre a portas ao entendimento do Criador.

A psicologia da religião começa na análise dos recursos de


cada um: sua fé, sua dedicação, seus interesses espirituais, suas
buscas e fugas, seus medose conflitos...

Na programação da mente, saturando o subconsciente de


forças positivas, de legados idealistas, de esperanças factíveis de ser
conseguidas, da luz do amor, do perdão, do bem, todos os resíduos de
negativismo, de depreciação, de antagonismo devem ser eliminados,
sem saudades, iniciando-se novo ciclo de experiências de equilíbrio.

As agressões exteriores, os choques sociais e emocionais,


mesmo que recebidos, passarão por critérios novos de avaliação e serão
compreendidos, retirando-se deles o que seja positivo e diluindo os
efeitos perturbadores.

A mente, desacostumada aos novos compromissos, expressará


lapsos, reavivará fixações, que são os naturais fenômenos de
sobrevivência das idéias usuais.

Não abastecida pela mesma vibração dos pensamentos


anteriores se lhes desabituará, imprimindo as novas ordens recebidas e
ampliando a área de entendimento.

A insatisfação, irmã gêmea do tédio, nesse campo mental


programado, com muita atividade a executar, não encontra área para
permanecer e desaparece.

Somente através do esforço do próprio indivíduo que se sente


saturado, descontente com a vida, é que o fenômeno da sua
transformação se opera.
196

Autodescobrimento páginas 135~138

O Ressentimento

A raiva não extravasada ou liberada no mesmo nível da


agressão recebida toma-se cruel adversário do indivíduo, tomando a
forma hostil de ressentimento.

Herança das experiências mal suportadas, o ressentimento


inconsciente encontra-se encravado no cerne do ser, ramificando-se em
expressões variadas e da mesma qualidade perturbadora.

Ressuma sempre na condição de melancolia ou como


frustração e desinteresse pela existência física, em mecanismo de culpa
que não logra superar.

O ressentido agasalha sentimentos de antipatia, que se


converte em animosidade crescente, sempre cultivada com satisfação, à
medida que lhe concede área emocional para o desenvolvimento.

O ressentimento tisna a razão, perturba a óptica pela qual se


observam os acontecimentos, enquistando-se como força destrutiva
que, não conseguindo atingir aquele que lhe deu origem, fere o ser no
qual se apóia.

Tumores de gênese desconhecida, transtornos neuróticos,


distúrbios gástricos de etiologia ignorada, constituem somatização dos
venenos do ressentimento, alcançando o metabolismo orgânico e
interferindo na estrutura das células.

Tudo no Universo se encontra mergulhado em vibrações e


ondas que procedem do Poder Criador. Em conseqüência, o equilíbrio
vige na sintonia com a ordem, com os princípios da harmonia.

Cultivando-se a raiva e convertendo-a em ressentimento, este


descarrega vibrações vigorosas na corrente energética mantenedora do
equilíbrio, atingindo o arquipélago celular e interrompendo o fluxo
normal das ondas que mantêm a interação psicofísica.

Desarmonizado o ciclo vital, facilmente ocorre a distonia da


mitose, que funciona por automatismo, acelerando-lhe a partir de
197

então, o processo de multiplicação, surgindo as tumorações, as


neoplasias malignas ou não...

A mente é a grande mantenedora das forças existenciais.

Sob a ação de estímulos — otimistas ou tóxicos —passa a


exteriorizar os conteúdos equivalentes no comportamento emocional e
físico.

É necessário vigilância e ação da vontade com real


sentimento de humildade — que é virtude especial —, para converter o
ressentimento em compreensão e tolerância.

Cada pessoa é conforme suas estruturas psicológicas.

Desejá-las diferentes, significa ignorar as próprias


possibilidades.

Todos os indivíduos se enganam, agem incorreta-mente e, às


vezes, inspiram reações inamistosas, como efeito do nível de evolução
no qual estagiam.

Nem sempre ocorre reciprocidades, quando da emissão de


ondas mentais na área da simpatia, o que não se deve converter em
atitude de animosidade por suspeição, por mecanismos de
agressividade, gerando antipatia.

O ressentimento é fruto também da ausência de auto-amor,


projeção inconsciente da sombra psicológica dos conflitos de cada qual.

À medida que se desenvolvem os sentimentos de segurança


pessoal, de harmonia interior e de auto-estima, desaparece o
ressentimento, por não encontrar apoio nos alicerces do subconsciente
do ser.

Quando alguém se encontra ressentido com a má sorte, com


os insucessos profissionais, afetivos e sociais, deve adquirir consciência
das imensas possibilidades que lhe estão ao alcance e recomeçar as
experiências que não obtiveram êxito, desarmado do pessimismo como
do sentimento de culpa.

Todo processo de conquista passa por diferentes estágios de


erro e de acerto, de insucesso e de vitória.

Desse modo, o conflito do ressentimento pode ser superado


pelo exercício da autovalorização, do sentido de utilidade à Vida, de
conscientização do bem.
198

Ressentir-se diante de alguém perturbador, ou de algo


desequilibrante, pode ser considerado como reação emocional
imprevista que ocorre, susceptível, porém, de liberação, de rápida
diluição nos painéis do sentimento atormentado.

Se alguém se sente atingido por uma injustiça ou agressão,


por uma onda perturbadora ou inamistosa, de imediato corrija a
sintonia mental e mude a faixa do pensamento.

Quando ressentido, não se deve constranger por chorar,


reclamar, descarregar a tensão em algum trabalho, para logo retomar
ao estado precedente, o de paz.

Humano é todo indivíduo que se considera capaz de errar, de


magoar-se, mas também de erguer-se, saindo do paul sem as marcas
da passagem pelo terreno pantanoso e infeliz.

Desperte e Seja Feliz páginas 43~47

Reclamações Indevidas

Antes de mergulhares no corpo denso da carne, porque te


utilizavas da consciência lúcida, rogaste aos Benfeitores do teu
destino as oportunidades de crescimento mediante a redenção
pessoal.

Reconhecias as tuas deficiências e compreendias quanto se


te faziam indispensáveis os programas iluminativos, assim
considerando a urgência da meditação, a fim de que pudesses agir
com equilíbrio, sem novos comprometimentos morais.

Por mais te possas surpreender agora, naquele ensejo


suplicaste a presença da aflição, vez que outra; da enfermidade,
periodicamente; dos testemunhos morais freqüentes, de modo que
a consciência não esquecesse da fragilidade da vida física, nem da
peculiaridade evolutiva do homem, que ocorre, quase sempre,
através da dor.

Os teus Mentores Espirituais alvitraram que não terias


resistência para os embates rudes na jornada carnal. No entanto,
porque podias antever o futuro feliz que te aguardava, esclareceste
que suportarias a cruz com sorrisos e a calúnia com perdão, o
antagonismo com fé e o abandono com coragem...
199

Foste preparado para o cometimento e tiveste o contributo


de fidelidade de Espíritos nobres que se ofereceram para ajudar-te,
na condição de genitores abnegados, ou irmãos gentis, ou
companheiros de lutas devotados...

Mergulhaste na névoa carnal entre júbilos e promessas,


candidatando-te ao triunfo.

Chega o momento da avaliação dos teus recursos através dos


testemunhos.

Apóia-te na coragem e recorre à fé — teus mecanismos de


segurança.

*
Respiras no clima que te é necessário ao processo liberativo.

Nuvens carregadas e tempestades freqüentes anunciam-se,


ameaçadoras, e escurecem o céu dos teus júbilos.

Na aduana das tuas realizações, fiscais desalmados se postam,


intolerantes e cruéis.

O teu trabalho nobre desperta ciúme, e a calúnia zune o látego


no teu dorso; a inveja segue-te os passos, produzindo competições vis; a
maledicência insensata aumenta o vozerio perturbador e sentes o perigo
batendo d tua porta.

Não reclames!

Agradece a Deus a oportunidade de seres aquele que exemplifica


entre lágrimas o que os outros fruem, por enquanto, entre sorrisos.

O dia de todos sempre chega, convidando, uma a uma, as


criaturas, à reflexão e ao fenômeno de amadurecimento.

E a morte, que a ninguém poupa, chamar-te-á e a todos os


homens ao despertamento, para aferição de valores diante da
consciência, sob a vigilância do amor de Deus.

Nunca te queixes nem relaciones ingratidões.

O ingrato sabe que o é. Amargurado, autopune-se. Infeliz, aflige-


se.
Quanto a ti, segue adiante.
200

Jesus, que é Perfeito, experimentou entre os homens o sarcasmo,


a desolação, a negativa e a traição, ensinando-nos que o amor, para ser
verdadeiro, é paciente, tolerante, compreensivo, jamais reclamando,
pois que Ele sabia que aTerra é ainda escola de redenção, e os homens
que a habitam encontram-se em processo de aprendizagem e
complementação espiritual.

Não reclames, pois, nunca mais!

A mensagem da Vida é harmonia.

Em toda parte estua o equilíbrio que deflui das Leis Cósmicas.

A criatura humana está fadada ao amor, percorrendo os


caminhos da ordem para atingir as paisagens do bem-estar.

No desenvolvimento das atividades a que se entrega, não raro é


surpreendida pelos fenômenos desgastantes do trabalho e da luta em si
mesmos.

Se se doa ao desalento, pára de crescer.

Se se permite mágoas, intoxica-se.

Se se faculta violência, desarmoniza-se e enlouquece.

A conduta recomendada é a que se deriva da vigilância que se


mantém atenta aos primeiros sinais de desajuste, logo restabelecendo o
ritmo da ação.

Indispensável, portanto, permanecer em sintonia com o


Pensamento Universal que vibra em toda parte, preservando a
confiança em Deus e aprendendo com o tempo as preciosas lições do
equilíbrio.

O concurso da oração, da meditação e as disciplinas morais


completam o quadro terapêutico para a preservação da saúde
espiritual.

Momentos de Saúde páginas 56~59

O estímulo divino emula-me ao avanço. As leis de incessantes


mudanças funcionam em toda parte, ensinando-me renovação e
progresso.
201

Sou acionado por uma energia superior que me propele para as


cumeadas da vida.

O vale ë sombra, e a montanha conquistada é luz.

Satisfeito, saudável pleno, sou estimulado a vencer e a crescer.

Insatisfação E Utopias

A insatisfação responde pela presença de muitos males e


sofrimentos no organismo social, gerando desequilíbrios que poderiam
perfeitamente ser evitados.

Utilizando-se de mecanismos de evasão, a criatura evita assumir a


própria realidade, elaborando modelos de fictícia felicidade, para os
quais transfere as aspirações, produzindo os estados de inconformismo,
de desgosto, a que se aferra, perdendo as excelentes ocasiões de
conhecer-se e plenificar-se.

Tais padrões passam então a ser-lhe metas,sempre improváveis de


concretizarem-se, e mesmo quando consegue alcançar os patamares
próximos, porque os seus são objetivos fantasiosos, mantém-se no
mesmo estado de morbidez, de desajuste.

Pequenas características tornam-se-lhe fundamentais, e detalhes que


o diferenciam do que considera belo, saudável, estético e feliz adquirem
alta importância, assim mantendo o condicionamento de desditoso.

De caráter rebelde e conduta perturbadora, despreza os recursos


preciosos que dispõe, anelando somente pelo que gostaria de ser, de ter,
de parecer.

Aguarda nesse clima de inconformação, um milagre que jamais lhe


ocorrerá de fora para dentro, sem realizar o notável esforço de trans-
formação de conceito, bem como a mudança de atitude de dentro para
fora.

*
Aprofunda-te no autoconhecimento, redescobrindo-te.

És conforme te elaboraste na sucessão do tempo.


202

As tuas matrizes encontram-se no passado espiritual que não mais


alcançarás. Entretanto, através de novos comportamentos alterarás o
ritmo e as ocorrências da vida.

Examina-te e tem a coragem de enfrentar como te encontras,


elaborando paradigmas e propostas reais que conseguirás alcançar.

A fuga de ti mesmo não leva a lugar algum, porquanto jamais te


dissociarás da tua realidade.

Inicia um programa de autovalorização analisando os fatos, conforme


mereçam, ou não, consideração.

A nada, a ninguém culpes pelo que consideras insucessos.

A pessoa irresponsável, quando não se esforça para alterar o que


pode ser modificado, transfere a responsabilidade para as
circunstâncias que acredita más, as pessoas, ou culpa-se a si mesmo,
preferindo a queixa e a comiseração ao esforço profícuo. O tempo, o
lugar, a sociedade, o governo, a inveja alheia, a competição malsã, a má
sorte ou a sua fraqueza são os ingredientes para justificar a
acomodação, o falso sofrimento de que se diz objeto.

Ruma na direção das estrelas.

Impõe novos conceitos à vida e trabalha por vivenciá-los de forma


edificante.

Quem tem piedade de si mesmo, nega-se a receber ajuda do seu


próximo.

O insatisfeito, além de ingrato, é rebelde e preguiçoso, que prefere as


sombras da reclamação e do atraso, às claridades do progresso
libertador.

Não te permitas utopias existenciais, partindo para a conquista de


realizações legítimas.

Momentos de Saúde 74~57

O perdão divino dulcifica-me, acalma-me.

Dá-me dimensão do poder terapêutico do amor.

Passo a ver o mundo e as pessoas de maneira diferente, correta,


positivamente.
203

Supero os ressentimentos, que me martirizavam.

Começo a mover-me sem as algemas que me prendiam ao passado.

Recupero a alegria de viver e ser natural, amando todos com


ternura, mesmo aqueles que me não correspondem ao sentimento de
afetividade.

Tudo agora está bem comigo, porque eu estou de bem com a vida.

A Tragédia Do Ressentimento

As pressões psicossociais, sócio-emocionais, econômicas e de outras


origens desencadeiam distúrbios variados, nos quais mergulha uma
larga faixa da sociedade.

Provocando medo, ansiedade, amargura, desarmonizam o sistema


nervoso dos seres humanos, conduzindo a neuroses profundas que,
quase sempre somatizadas, são responsáveis por enfermidades
alérgicas, digestivas, do metabolismo em geral, facultando a instalação
de processos degenerativos.

Os temperamentos frágeis, sob pressão, procuram realizar


mecanismos de fuga, caindo em estados fóbicos e depressivos ou
recorrendo à violência como forma de afirmação e defesa da
personalidade.

Muitos resíduos psicológicos se lhes instalam no campo emocional e


mental, dando lugar a perturbações de comportamento e a doenças
diversas, que permanecem sem diagnose adequada.

Pessoas mais sensíveis, que não conseguem suportar e superar esses


fenômenos das pressões constritoras, refugiam-se em ressentimentos
que as infelicitam e predispõem -nas a reagir sempre, desferindo dardos
venenosos contra aqueles que se lhe transformam em inimigos reais ou
imaginários.

Algumas intoxicam-se de mágoas e fenecem. Outras,


inconscientemente, tornam-se vítimas de insucessos afetivos,
financeiros e sociais. Diversas fracassam na auto-estima,
desvalorizando-se e fazendo o jogo da autodestruição.

O ressentimento é responsável por muitas das tragédias do cotidiano.


204

O ressentimento é tóxico que mata aquele que o carrega. Enquanto


vibra na emoção, destrambelha os equipamentos nervosos mais sutis e
produz disritmia, oscilação de pressão, disfunções cardíacas.

Não vale a pena deixar-se envenenar pelo ressentimento.

Nem sempre ele se manifesta com expressões definidas, camuflando-


se nas fixações mentais, e, às vezes, passando despercebido.

Há pessoas ressentidas que se não dão conta.

Um auto-exame enérgico auxiliar-te-á a identificá-lo nos refolhos da


alma. Logo depois, prosseguindo na sua busca e análise descobrirás as
suas raízes, quando teve ele início e por que se te instalou no ser,
passando a perturbar-te.

Verificarás, surpreso, que és responsável por lhe dares guarida e o


vitalizares, deixando-te por ele consumir.

Os indivíduos que te foram cruéis, familiares, conhecidos, mestres,


na infância e durante a vida, não tinham nem têm dimensão do que
fizeram ou estão afazer. Sequer se aperceberam dos seus desmandos e
incoerências em relação a ti. A seu turno, sofreram as mesmas
agressões, quando crianças, e apenas reagem conforme haviam feito
outros em relação a eles.

O teu primeiro passo será compreendê-los, considerando-os sem


responsabilidade nem esclarecimento, sem má intenção em relação a ti.
Mediante tal recurso os compreenderás e os perdoarás posteriormente,
liberando-te.

Arrancada à causa injusta do ressentimento, despertarás de imediato


em paisagem? sem sombras, redescobrindo a vida e desarmando-te em
relação às outras pessoas, que antipatizavas ou das quais te mantinhas
em guarda.

Ademais, o mal que te façam, somente te perturbará, se o permitires,


acolhendo-o. Em caso contrário, tornará à sua origem.

Vive, pois, sem mágoas.

Depura-te. Ressentimento, nunca.


205

O Ser Consciente páginas 73~88

Gigantes Da Alma: Ressentimento, Ciúme E Inveja. Necessidade De


Valorização. Padrões De Comportamento: Mudanças.

Problemas Humanos

Os problemas humanos ou desafios existenciais fazem parte do


organograma da evolução.

A criatura pensante é um ser incompleto ainda, em constante


processo de aprimoramento, de transformações, em prolongado esforço
para desenvolver os potenciais psicofísicos, parapsicológicos e
mediúnicos nela em latência.

Aferrada às impressões mais grosseiras do ego, face ao que


considera como fatores indispensáveis à sobrevivência — valores
materiais que propiciam alimentação, vestuário, repouso, prazer e
tranqüilidade ante a doença e a velhice — desenvolve o apego e
exterioriza o sentimento centralizador da posse, mantendo-se em alerta
para a preservação desses bens, que lhe parecem de significado único,
portanto, essenciais.

Qualquer ameaça, real ou imaginária, que possa produzir a perda,


torna-se problema, que logo se incorpora à conduta, gerando
perturbação, desar.

Além desses, outros (problemas) há de natureza psicológica, como


heranças reencarnacionistas, que ressumam em forma de fenômenos
patológicos, inquietadores.

Somem-se-lhes os que se derivam do inseguro inter-


relacionamento pessoal, como decorrência do que se consigna em
condição de imperfeições da alma.

Os problemas enraízam-se, não raro, nos tecidos da malha


delicada do psiquismo, avultando-se ou perdendo o sentido, de acordo
com as resistências fortes ou frágeis da personalidade individual.

O que a uns constitui gravame, aborrecimento, a outros não passa


de insignificante acidente de percurso que estimula a marcha.
206

Quanto mais se valoriza o problema, mais vitalidade se lhe oferece,


aumentando—lhe a força de ação com os seus correspondentes efeitos.

Nas personalidades instáveis, normalmente os complexos


psicológicos assumem as responsabilidades pelas ocorrências
problematizantes.

Quando algo em que se confia, ou do qual se espera resultado


positivo, transforma-se em desastre, insucesso, o ego foge, escamoteia-
o, por falta de consciência lúcida, afirmando: Eu sou culpado.

A inferioridade psicológica desenvolve o complexo em que se


refugia, e, mesmo quando em aparente conflito, nele se realiza,
justifica-se, deixa de lutar.

Certamente, cada problema merece um tipo de atenção, de


cuidado especial para a sua solução. Esse esforço deve ser natural,
destituído dos estímulos negativos do medo ou da ansiedade, de modo a
analisar a situação conforme se apresente, e não consoante os
fantasmas da insegurança desenhem na imaginação criativa —refúgio
para a irresponsabilidade que não assume o papel que lhe diz respeito.

Em outros temperamentoS, quando o problema se converte em


dificuldade e ocorrência prejudicial, o ego estabelece: A culpa é do
outro; ou da saúde; ou da família; ou do grupo social; ou da sociedade
em geral; ou do destino...

Resolve-se a questão utilizando-se do complexo de superioridade, e


mediante esta conduta coloca-se acima de qualquer suspeita de
fragilidade, escondendo-se nas justificativas de incompreendido,
perseguido, infeliz...

Evitando considerar o problema na sua real significação, passado


o momento, compõe a consciência de culpa e esse mesmo ego recorre à
condicional dos verbos, afligindo-se: Eu deveria ter feito de tal forma; eu
poderia ter enfrentado; eu tentaria evitar...

Mecanismos perversos de imaturidade compõem a tecedura


protetora do escapismo, para fugir das conseqüências dos problemas,
cuja finalidade é testar as possibilidades e valores de cada uma em
particular e de todas as criaturas em geral.

O problema humano, portanto, maior e mais urgente para ser


equacionado, é a própria criatura.

Para consegui-lo, mister se torna o amadurecimento psicológico,


decorrente do esforço sério e bem direcionado, do estudo do eu
profundo e da sua busca incessante, que são as metas existenciais mais
urgentes.
207

Na transitoriedade da condição humana, o eu profundo deve


emergir, desatando os inestimáveis recursos que lhe são inatos, graças
aos quais o psiquismo comanda conscientemente a vida, abrindo o
leque imenso das percepções paranormais.

Nesse elenco de registros parapsíquicos desabrocham os recursos


mediúnicos, que propiciam o livre trânsito entre as duas esferas da
vida: a física e a espiritual.

Essa dilatação da capacidade parafisíca propicia o mergulho do eu


profundo — o espírito — na causalidade dos fenômenos humanos,
assim interpretando, na origem, os problemas que sempre procedem
das experiências anteriores.

Mesmo quando são atuais e começaram recentemente, o ser que


os enfrenta necessita deles, recuperando-se moralmente, trabalhando o
amadurecimento, porquanto, o estado de infância psicológica decorre
da ausência de realizações evolutivas.

Ninguém permanece vivo sem o enfrentamento com os problemas,


que existem para ser resolvidos, oferecendo o saldo positivo de
evolução.

Gigantes Da Alma

Envolto na pequenez das aspirações egóicas, o ser move-se sob as


injunções das necessidades de projeção da imagem, por sentir-se
incapaz de superar a sombra, manifestando a força do eu real, imagem
e semelhança de Deus.

Gerado para alcançar o Infinito e a Consciência Cósmica, é deus


em germe, que as experiências evolutivas desenvolvem e aprimoram.

O ego, projetando-se em demasia, compõe os quadros de aflição


em que se refugia e, negando-se a lutar, desenvolve os fantasmas
gigantes que o protegem, quais cogumelos venenosos que desabrocham
em terrenos úmidos e férteis, medrando no seu psiquismo atormentado
e passando ao domínio escravizador.

Entre os terríveis gigantes da alma, que têm predomínio em a


natureza humana, destacam-se: os ressentimentos, os ciúmes e as
invejas que entorpecem os sentimentos, açulam a inferioridade e
terminam por vencer aqueles que os vitalizam, caso não se resolvam
enfrentá-los com hercúlea decisão e pertinaz insistência.
208

Ressentimento

Entre os tormentos psicológicos alienadores, a presença do


ressentimento na criatura humana tem lugar de destaque.

Injustificável, sob todos os pontos de vista, ele se instala


enraizando-se no solo fértil das emoções em descontrole do paciente, aí
engendrando males que terminam por consumir aquele que lhe dá
guarida.

A vida expressa-se em padrões sociais, resultado da condição


evolutiva das criaturas que se inter-relacionam. Como é natural, porque
há uma larga variedade de biótipos emocionais, culturais e religiosos ou
não, as suas são reações compatíveis com os níveis de consciência em
que se encontram, exteriorizando idéias e comportamentos que lhes
correspondem ao estado no qual se demoram.

A convivência humana é feita por meio de episódios conflitivos, por


falta de maturação geral que favoreça o entendimento e a transação
psicológica em termos de bem-estar para todos parceiros.

Predominando a natureza animal em detrimento dos valores


espirituais e éticos, a competição e o atrevimento armam ciladas, nas
quais tombam os temperamentos mais confiantes e ingênuos, que se
deixam, logo após, mortificar.

Descobrindo-se em logro, acreditando-se traído, o companheiro


vitimado recorre ao ego e equipa-se de ressentimento, instalando, nos
painéis da emotividade, cargas violentas que terminarão por
desarmonizar-lhe os delicados equipamentos e se refletirão na conduta
mental e moral.

O ressentimento, por caracterizar-se como expressão de


inferioridade, anela pelo desforço, consciente ou não, trabalhando por
sobrepor o ego ferido ao conceito daquele que o desconsiderou.

No importante capítulo da saúde mental, indispensável ao


equilíbrio integral, o ressentimento pode ser comparado a ferrugem nas
peças da sensibilidade, transferindo-se para a organização somática,
refletindo-se como distúrbios gástricos e intestinais de demoradas
conseqüências.

Gastrites e diarréias inexplicáveis procedem dos tóxicos exalados


pelo ressentimento, que deve ser banido das paisagens morais da vida.
209

As pessoas são, normalmente, competitivas, no sentido negativo da


palavra, desejando assenhorear-se dos espaços que lhes não pertencem
e, por se encontrarem em faixas primitivas da evolução, fazem-se
injustas, perseguem, caluniam.

E um direito que têm, na situação que as caracterizam. Aceitar-


lhes, porém, os petardos, vincular-se-lhes às faixas vibratórias de baixo
teor, no entanto, é opção de quem não se resolve por preservar a saúde
ou não deseja crescer emocionalmente.

Quando o ressentimento exterioriza as suas manifestações, deve


ser combatido, mental e racionalmente, eliminando a ingerência do ego
ferido e ensejando a libertação do eu profundo, invariavelmente
esquecido, relegado a plano secundário.

O indivíduo, através da reflexão e do auto-encontro, deve


preocupar-se com o desvelamento do si, identificando os valores
relevantes e os perniciosos, sem conflito, sem escamoteamento,
trabalhando aqueles que são perturbadores, de modo a não facultar ao
ego doentio O apoio psicológico neles, para esconder-se sob o
ressentimento na justificativa de buscar ajuda para a autocompaixão.

O processo de evolução é incessante, e as mudanças, as


transformações fazem-se contínuas, impulsionando à conquista dos
recursos adormecidos no imo, o Deus interno que jaz em todos os seres.
A liberação do ressentimento deve ser realizada através da
racionalização, sem transferências nem compensações egóicas.

À medida que a experiência fixa aprendizados, esse terrível gigante


da alma se apequena e se dilui, desaparece, a partir do momento em
que deixa de receber os alimentos de manutenção pela idéia fixa e
mediante o desejo de revidar, de sofrer, de ser vítima...

Ciúme

Tipificando insegurança psicológica e desconfiança sistemática, a


presença do ciúme na alma transforma-se em algoz implacável do ser. O
paciente que lhe tomba nas malhas estertora em suspeitas e verdades,
que nunca encontram apoio nem reconforto.

Atormentado pelo ego dominador, o paciente, quando não


consegue asfixiar aquele a quem estima ou ama, dominando-lhe a
conduta e o pensamento, foge para o ciúme, em cujo campo se homizia
a fim de entregar-se aos sofrimentos masoquistas que lhe ocultam a
imaturidade, a preguiça mental e o desejo de impor-se à vítima da sua
psicopatologia.
210

No aturdimento do ciúme, o ego vê o que lhe agrada e se envolve


apenas com aquilo em que acredita, ficando surdo à razão, à verdade.

O ciúme atenaza quem o experimenta e aquele que se lhe torna


alvo preferencial.

O ciumento, inseguro dos próprios valores, descarrega a fúria do


estágio primitivista em manifestações ridículas, quão perturbadoras, em
que se consome. Ateia incêndios em ocorrências imaginárias, com a
mente exacerbada pela suspeita infeliz, e envenena-se com os vapores
da revolta em que se rebolca, insanamente.

Desviando-se das pessoas e ampliando o círculo de prevalência, o


ciúme envolve objetos e posições, posse e valores que assumem uma
importância alucinada, isolando o paciente nos sítios da angústia ou
armando-o com instrumentos de agressão contra todos e tudo.

O ciúme tende a levar sua vítima à loucura.

O ego enciumado fixa o móvel da existência no desejo exorbitante e


circunscreve-se à paixão dominadora, destruindo as resistências morais
e emocionais, que terminam por ceder-lhe as forças, deixando de reagir.

Armadilha do ego presunçoso, ele merece o extermínio através da


conquista de valores expressivos, que demonstrem ao próprio indivíduo
as suas possibilidades de ser feliz. Somente o self pode conseguir essa
façanha, arrebentando as algemas a que se encontra agrilhoado, para
assomar, rico de realizações interiores, superando a estreiteza e os
limites egóicos, expandindo-se e preenchendo os espaços emocionais, as
aspirações espirituais, vencidos pelos gases venenosos do ciúme.

Liberando-se da compressão do ciúme, a pouco e pouco, o eu


profundo respira, alcança as praias largas da existência e desfruta de
paz com alguém ou não, com algo ou nada, porém com harmonia, com
amor, com a vida.

Inveja

Remanescente dos atavismos inferiores, a inveja é fraqueza moral,


a perturbar as possibilidades de luta do ser humano.

Ao invés de empenhar-se na autovalorização, o paciente da inveja


lamenta o triunfo alheio e não luta pelo seu; compete mediante a
urdidura da intriga e da maledicência; aguarda o insucesso do
211

adversário, no que se compraz; observa e persegue, acoimado por


insidiosa desdita íntima.

Egocêntrico, não saiu da infância psicológica e pretende ser o


único centro de atenção, credor de todos os cultos e referências.

Insidiosa, a inveja é resultado da indisciplina mental e moral que


não considera a vida como patrimônio divino para todos, senão, para si
apenas. Trabalha, por inveja, para competir, sobressair, destacar-se.
Não tem ideal, nem respeito pelas pessoas e pelas suas árduas
conquistas.

Normalmente moroso e sem determinação, resultado da sua


morbidez inata, o enfermo da inveja nunca se alegra com a vitória dos
outros, nem com a alheia realização.

A inveja descarrega correntes mentais prejudiciais dirigidas às


suas vítimas, que somente as alcançam se estiverem em sintonia,
porém cujos danos ocorrem no fulcro gerador, perturbando-lhe a
atividade, o comportamento.

A terapia para a inveja consiste, inicialmente, na cuidadosa


reflexão do eu profundo em torno da sua destinação grandiosa, no
futuro, avaliando os recursos de que dispõe e considerando que a sua
realidade é única, individual., não podendo ser medida nem comparada
com outras em razão do processo da evolução de cada um.

O cultivo da alegria pelo que é e dos recursos para alcançar outros


novos patamares enseja o despertar do amor a si mesmo, ao próximo e
a Deus, como meio e meta para alcançar a saúde ideal, que lhe
facultará a perfeita compreensão dos mecanismos da vida e as
diferenças entre as pessoas, formando um todo holístico na Grande
Unidade.

Necessidade De Valorização

Os destrutivos gigantes da alma, que exteriorizam os tormentos e a


imaturidade do ego, de alguma forma refletem um fenômeno
psicológico, às vezes de procedência inconsciente, noutras ocasiões
habilmente estabelecido, que é a necessidade da sua valorização.

Quando escasseiam os estímulos para esse cometimento do eu,


sem crescimento interior, que não recebe compensação externa
mediante o reconhecimento nem a projeção da imagem, o ego sobressai
e fixa-se em mecanismos perturbadores a fim de lograr atenção,
desembaraçando-se, dessa forma, do conflito de inferioridade, da
sensação de incompletude.
212

Tivesse maturidade psicológica e recorreria a outros construtores


gigantes da alma, como o amor, o esforço pessoal, a conscientização, a
solidariedade, a filantropia, desenvolvendo as possibilidades de
enriquecimento interior capazes de plenificação.

Acostumado às respostas imediatas, o ego infantil deseja os jogos


do prazer a qualquer preço, mesmo sabendo que logo terminam
deixando frustração, amargura e novos anelos para fruir outros.

A fim de consegui-lo e por não saber dirigir as aspirações, asfixia-


se nos conflitos perturbadores e atira-se ao desespero. Quando assim
não ocorres volta-se para o mundo interior e reprime os sentimentos,
fechando-se no estreito quadro de depressão.

Renitente, faculta que ressumam as tendências do prazer,


mascaradas de auto-aflição, de autoflagelação, de autodepreciação.

Entre muitos religiosos em clima de insatisfação pessoal, essa


necessidade de valorização reaparece em estruturas de aparente
humildade, de dissimulação, de piedade, de proteção ao próximo,
estando desprotegidos de si mesmo...

A humildade é uma conquista da consciência que se expressa em


forma de alegria, de plenitude. Quando se manifesta com sofrimento,
desprezo por si mesmo, violenta desconsideração pela própria vida,
exibe o lado oculto da vaidade, da violência reprimida e chama a
atenção para aquilo que, legitimamente, deve passar despercebido.

A humildade é uma atitude interior perante a vida; jamais uma


indumentária exterior que desperta a atenção, que forja comentários,
que compensa a fragilidade do ego.

O caminho para a conscientização, de vigilância natural, sem


tensão, fundamentando-se na intenção libertadora, é palmilhado com
naturalidade e cuidado.

Jesus, na condição de excepcional Psicoterapeuta, recomendava a


vigilância antes da oração, como forma de auto-encontro, para depois
ensejar-se à entrega a Deus sem preocupação outra alguma.

A Sua proposta é atual, porquanto o inimigo do homem está nele,


que vem herdando de si mesmo através dos tempos, na esteira das
reencarnações pelas quais tem transitado. Trata-se do seu ego,
dissimulador hábil que conspira contra as forças da libertação.

Não podendo fugir de si mesmo nem dos fatores arquetípicos


coletivos, o ser debate-se entre o passado de sombras — ignorância,
acomodação, automatismos dos instintos — e o futuro de luz —
plenitude através de esforço tenaz, amor e auto-realização — recorrendo
aos dias presentes, conturbados pelas heranças e as aspirações.
213

No entanto, atraído pela razão à sua fatalidade biológica — a


morte-transformação do soma — histórica — a felicidade — e
espiritual — a liberdade plena —vê o desmoronar dos seus anseios e
reconstrói os edifícios da esperança, avançando sem cessar e
conquistando, palmo a palmo, a terra de ninguém, onde se expressam
as próprias emoções conturbadas.

Essa necessidade de valorização egóica pode ser transformada em


realização do eu mediante o contributo dos estímulos.

Cada ação provoca uma reação equivalente.

Quando não se consegue uma resposta através de um estímulo


positivo, como por exemplo: — Eu te amo, para uma contestação
equivalente: — Eu também, recorre-se a uma negativa: — Ninguém me
ama, recebendo-se uma evasiva: — Não me inclua nisso.

Sob trauma ou rancor, o estímulo expressa-se agressivo: — Não


gosto de ninguém, para colher algo idêntico: — A recíproca é verdadeira.
Os estímulos são fontes de energia. Conforme dirigidos brindam
com resultados correspondentes.

O ego que sente necessidade de valorização, sem o contributo do


self em consonância, utiliza-se dos estímulos negativos e agressivos
para compensar-se, sejam quais forem os resultados. O importante
para o seu momento não é a qualidade da resposta estimuladora, mas a
sua presença no proscênio onde se considera ausente.

Verdadeiramente, no inter-relacionamento social, quando todos se


encontram, o ego isola suas vítimas para chamar a atenção ou
bloqueia-as de tal forma que não ficam ausentes, porém tornam-se
invisíveis.

Encontram-se no lugar, todavia, não estão ali. Essa invisibilidade


habilmente buscada compensa o conflito do ego, mantendo a
autoflagelação de que não é notado, não possui valores atraentes. Tal
mortificação neurótica introjeta as imagens infelizes e personagens
míticas do sofrimento, que lhe compõem o quadro de desamparo
emocional, de desdita pessoal.

Nesse comportamento doentio do ego, a necessidade de


valorização, porque não possui recursos relevantes para expor,
expressa-se na enganosa autocomiseração que lhe satisfaz as
exigências perturbadoras, e relaxa, completando-se emocionalmente.

Quando o self assoma e governa o ser, os estímulos são sempre


positivos, mesmo que tenham origem negativa ou agressiva, porque
exteriorizam o bem-estar que lhe é próprio.
214

Se alguém diz: Não gosto de você, a mensagem transacional


retorna elucidando : — Eu, no entanto, o estimo.

Se a proposta afirma: — Detesto-o, a comunicação redargue: — Eu


o admiro.

Não se contamina nem se amargura, porque em equilíbrio, possui


valor, não tendo necessidade de valorização.

PADRÕES DE COMPORTAMENTO: MUDANÇAS

O comportamento desvela ao exterior a realidade íntima do ser


humano.

Nem sempre, porém, tal manifestação se reveste de autenticidade,


pois que muitos fatores contribuem para mascarar-se o que se
é, numa demonstração apenas do que se aparenta ser.

A Psicologia Transacional procura desvelar os enigmas do


comportamento, utilizando-se da comunicação interpessoal para
libertar o indivíduo de conflitos e pressões.

De acordo com a maturidade ou não do ser psicológico, a


comunicação padece dificuldades que somente poderão ser sanadas
quando existir um propósito firme para o êxito.

Há uma tendência natural para o disfarce do ego, quando


prevalece um impulso dominante para a convivência, a experiência
social, o diálogo.

A ausência de tais imperativos contribui para o desequilíbrio


emocional e, por conseqüência, para os estados psicopatológicos que se
multiplicam, avassaladores.

A comunicação desempenha, em todas as vidas, um papel


relevante, quando visceral, emocional, livre, sem as pressões da
desconfiança e da insegurança pessoal.

À medida que o ser se descerra em narrativa afetuosa ou amiga, o


interlocutor, sentindo-se acompanhado, descobre-se. Enquanto
coordena as idéias para o diálogo, auto-analisa-se, identifica-se,
facilitando o próprio entendimento.

Liberando-se das conversações feitas de interrogaçõesclichês


desinteressantes, penetra-se e faculta ao outro a oportunidade de
igualmente desvelar-se.
215

Quando se repartem informações no inter-relacionamento pessoal,


compartem-se emoções.

Quando a conversação, no entanto, é trivial, os clichês sem


sentido e costumeiros não dizem nada. Quando se indaga: — Como vai?
— a resposta é inevitável: — Bem, obrigado!

Mesmo porque, se o interrogado se resolvesse dizer como


realmente vai, é bem provável que o interlocutor não tivesse nenhum
interesse em ouvir-lhe a resposta mais complexa e profunda. Talvez a
aceitasse de maneira surda, desinteressadamente, com enfado.

Na grande mole humana destacam-se os biótipos introvertidos e


extrovertidos.

Os primeiros, na etapa inicial do desenvolvimento psicológico,


assumem uma atitude tímida e fazem a introspecção. Passada a fase de
auto-análise, torna-se-lhes indispensável a extroversão, o
relacionamento, rompendo a cortina que os oculta e desvelando-se.

Os segundos, normalmente, escondem a sua realidade e conflitos


erguendo uma névoa densa pela exteriorização que se permitem,
inseguros e instáveis. Descobrindo-se honestamente, diminuem a
loquacidade e, reflexionando, assumem um comportamento saudável,
sem excesso de ruídos nem ausência deles.

Os padrões de comportamento estão estabelecidos através de


parâmetros nem sempre fundamentados em valores reais. Aceitos como
de conveniência, aqueles que foram considerados corretos, podem ser
classificados como sociais, culturais, morais e religiosos... Em todos
eles existem regras estatuídas pelo ego, para uma boa apresentação,
que quer significar engodo, em detrimento do eu profundo ao processo
de constantes mudanças e crescimentos.

Nos comportamentos sociais estão estabelecidas as regras do bom-


tom, para deixar e transmitir impressões agradáveis, compensadoras.

As pessoas submetem-se às pequenas ou grandes regras da


etiqueta, do convívio social, sempre preocupadas em dissimular os
sentimentos, de modo que produzam os resultados adrede esperados.

Convive-se com indivíduos em muitos encontros sociais,


permanecendo, no entanto, todos desconhecidos entre si.

O comportamento cultural reúne as aquisições intelectuais,


artísticas, desportivas, mediante as quais a exibição do ego gera
constrangimentos perturbadores, às vezes despertando fenômenos
competitivos e de presunção lamentável, em total desrespeito pelo si,
pela pessoa humana real.
216

As preocupações financeiras de promoção egóica comprazem o


indivíduo pela exposição desnecessária do desperdício e da dissolução,
provocando estados autoobsessivos-compulsivos de ser-se o maior, o
mais extravagante, o de mais larga renda...

Logo após, nos raros momentos de auto-encontro, surgem-lhes as


depressões, que são asfixiadas sob a ação dos alcoólicos, das drogas
aditivas, da auto-emulação exibicionista com que fogem da realidade
interna para lugar nenhum.

O comportamento moral está sujeito aos imperativos legais,


estabelecidos conforme o imediatismo dos interesses de grupos e
legisladores, às vezes desavisados, que pensam mais em seus prazeres
do que no bem geral da comunidade que lhes paga para a servir...

Elaborando leis, desincumbindo-se do que lhes é dever, muitos


desses homens públicos, insensatos, dão a impressão de que estão
realizando algo extraordinário, que os sacrifica, e não aquilo para o que
são regiamente remunerados.

Apóiam-se, então, em comportamento moral-social de tendências


egoísticas, sem qualquer consideração para com a vida.

Na área do comportamento religioso, inúmeras imposições


castradoras contribuem para condutas falsas, sem qualquer
consideração pelos fundamentos das Doutrinas que se devem pautar
pelos processos de libertação das consciências, e não de apavoramento,
de pressão, de hipocrisia, de discriminação.

Jesus conclamou os Seus seguidores à busca da Verdade que


liberta, em cujo comportamento se fundem o ego e o eu, numa
formulação de amor sem máscaras e sem conflitos.

Os padrões de comportamento normalmente se fixam em diretrizes


que não atendem à realidade do ser, geralmente mutilado nas suas
aspirações nobres de vida, nos relacionamentos dignos, confiantes,
saudáveis...

A certeza da imortalidade da alma abre um elenco de


comportamentos autenticados pela educação espiritual na busca do vir-
a-ser, do transformar-se, do encontrar o Outro, como propunha
Kierkegaard, o filósofo e teólogo existencialista...

O Outro, que facilita o diálogo, Deus, é a Fonte que se deve buscar


para atingir a plenitude, a felicidade existencial.
217

Mudanças

O ser humano prossegue em crescimento, em desenvolvimento


contínuo, em mudanças.

É natural que, por efeito, o seu comportamento sofra alteração.

Toda a contextura celular renova-se incessantemente, e as


experiências como as vivências contribuem para a mudança de padrões
comportamentais, em inevitável processo de aprimoramento do ser, à
medida que o self se liberta das contenções impostas pelos arquétipos,
defluentes das reencarnações pretéritas.

A estruturação psicológica da pessoa humana está, como


decorrência, a exigir renovação e estudo de si mesma, a fim de crescer
psiquicamente, na razão em que se lhe desenvolvem os equipamentos
orgânicos, responsáveis pelo amadurecimento cultural e social,
alargando-lhe a percepção moral e a religiosidade perante as exigências
da Vida.

Assim, ninguém é igual a outrem, nem pode ser avaliado mediante


as comparações da frágil aparência.

A conquista de si mesmo é o desafio constante para a auto-


realização, a harmonia psicológica, o desenvolvimento das percepções
parapsíquicas e mediúnicas.

5 – Doenças Psicossomáticas

O Despertar do Espírito

Ver página 76 deste polígrafo.

Artigo Sobre O Assunto


218

6 - O Ser Consciente : Etapas e Métodos

O ser Consciente páginas 9~13

O Ser Consciente

Esmagado por conflitos que não amainam de intensidade, o


homem moderno procura mecanismos escapistas, em vãs tentativas de
driblar as aflições transferindo-se para os setores do êxito exterior, do
aplauso e da admiração social, embora os sentimentos permaneçam
agrilhoados e ferreteados pela angústia e pela insatisfação.

As realizações externas podem acalmar as ansiedades do coração,


momentaneamente, não, porém, erradicá-las, razão por que o triunfo
externo não apazigua interiormente.

Condicionado para a conquista das coisas, na concepção da meta


plenificadora, o indivíduo procura soterrar os conflitos sob as
preocupações contínuas, mantendo-os, no entanto, vivos e pulsantes,
até quando ressumam e sob repõem-se a todos os disfarces,
desencadeando novos sofrimentos e perturbações devastadoras.

O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria


mente.

Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com


insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que
devem ser estudadas pacientemente, a fim de poder enfrentar os
paradoxos existenciais — parecer e ser —, as inquietações e tendências
que o comandam estabelecendo os paradigmas corretos para a jornada,
liberado dos choques interiores em relação ao comportamento externo.

Ignorar urna situação não significa eliminá-la ou superá-la. Tal


postura permite que os seus fatores constitutivos cresçam e se
desenvolvam, até o momento em que se tornam insustentáveis,
chamando a atenção para enfrentá-los.

O mesmo ocorre com os conflitos psicológicos. Estão presentes no


homem, que, invariavelmente, não lhes dá valor, evitando deter-se
neles, analisar a própria fragilidade, de modo a encontrar os recursos
que lhe facultem diluí-los.

Enraizados profundamente, apresentam-se na consciência sob


disfarces diferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os
narcisismos, a agressividade, a culpa, a timidez, até os estados graves
de alienação mental.
219

Todo conflito gera insegurança, que se expressa


multifacetadamente, respondendo por inomináveis comportamentos nas
sombras do medo e das condutas compulsivas.

Suas vítimas padecem situações muito afligentes, tombando no


abandono de si mesmas, quando as resistências disponíveis se
exaurem.

O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto


inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-
se sem cessar.

Somente consegue essa lucidez aquele que se auto-analise,


disposto a encontrar-se sem máscara, sem deteriorização.

Para isso, não se julga, nem se justifica, não se acusa nem se


culpa. Apenas descobre-se.

A identificação segue-se o trabalho da transformação interior para


melhor, utilizando-se dos instrumentos do auto-amor, da alo-estima, da
oração que estimula a capacidade de discernimento, da relaxação que
libera das tensões, da meditação que faculta o crescimento interior.

O auto-amor ensina-o a encontrar-se e desvela os potenciais de


força íntima nele jacentes.

A ala-estima leva-o à fraternidade,ao convívio saudável com o seu


próximo, igualmente necessitado.

A oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência e


da Vida real.

A relaxação proporciona-lhe harmonia, horizontes largos para a


movimentação.

A meditação ajuda-o a crescer de dentro para fora, realizando-se


em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de
consciência.

O autoconhecimento se torna uma necessidade prioritária na pra


gramática existencial da criatura. Quem o posterga, não se realiza
satisfatoriamente, porque permanece perdido em um espaço escuro,
ignorado dentro de si mesmo.

Foi necessário que surgissem a Psicologia Transpessoal e outras


áreas doutrinárias com paradigmas bem definidos a respeito do ser
humano integral, para que se pudesse propor à vida melhores
momentos e mais amplas perspectivas de felicidade.
220

A contribuição da Parapsicologia, da Psicobiofísica, da


Psicotrônica, ampliou os horizontes do homem, propiciou-lhe o
encontro com outras dimensões da vida e possibilidades extra físicas de
realização, que permaneciam soterradas sob os escombros do
inconsciente profundo, ou adormecidas nos alicerces da Consciência.

Antes, porém, de todas essas disciplinas psicológicas e doutrinas


parapsíquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa
possibilidade de ser consciente, concitando-a ao auto-encontro e a alo-
descoberta a respeito da vida além dos estreitos limites materiais.

Perfeitamente identificado com os elevados objetivos da existência


terrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espíritos
Benfeitores: “Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de
se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?” ·

Eles responderam: “— Um sábio da antiguidade vo-lo disse:


Conhece-te a ti mesmo.(*)"

Comentando a resposta, Santo Agostinho, Espírito, entre outras


considerações explicitou: “. ..O conhecimento de si mesmo é, portanto, a
chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se
a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas
e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e
previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade.

Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode
iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas
ações, inquiri como a qualificaríeis se praticada por outra pessoa... “ E
prosseguiu: . . . dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do
comerciante avaliar suas perdas e seus lucros, e eu vos asseguro que a
conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi
bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar
na outra vida.”

Na análise diária e contínua dos atos, o auto e o alo-amor serão


decisivos para a avaliação. A oração e a meditação irão constituir
recurso complementar para a fixação das conquistas.

Quem ora, fala; quem medita, ouve, dispondo dos recursos para
exteriorizar-se e interiorizar-se.

Há, no entanto, estruturas psicológicas muito frágeis ou


assinaladas por distúrbios de comportamento grave. Nesses casos, urge
o concurso da Ciência Espírita, com as terapias profundas que dispõe;
e, de acordo com a intensidade do distúrbio, torna-se necessária à
ajuda do psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema, que
será equacionado pela Psicologia, pela Psicanálise ou pela Psiquiatria.
221

Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interferências


espirituais variadas, gerando quadros de obsessões complexas, para os
quais somente as técnicas espíritas alcançam os resultados desejados,
por se tratarem, esses agentes perturbadores, de Entidades
extracorpóreas, porém portadores dos mesmos potenciais das suas
vítimas: sentimentos e emoções, inteligência e lucidez, experiências e
vidas.

(*) O Livro dos Espíritos. 29’ edição da FEB. Questão 919.

O ser consciente é austero, mas sem carranca; é jovial, porém


sem vulgaridade; é complacente, no entanto sem conivência; é
bondoso, todavia sem anuência com o erro. Ajuda e promove aquele
que lhe recebe o socorro, seguindo adiante sem cobrar retribuição.

E responsável, e não se permite o vão repouso enquanto o dever o


aguarda. Conhecendo suas possibilidades, coloca-as em ação sempre
que necessário, aberto ao amor e ao bem.

Só o amadurecimento psicológico, através das experiências vividas,


libera a consciência do ser, e, ao consegui-la, ei-lo feliz, conquistando a
Terra da Promissão bíblica.

Este modesto livro, que ora trazemos à análise do caro Leitor;


pretende, sem presunção, auxiliá-lo na conquista da consciência.

Não apresenta qualquer técnica nova ou milagrosa.

Estuda algumas problemáticas humanas à luz da Quarta Força


em Psicologia, colocando uma ponte na direção da Doutrina
Espírita, que é portadora de uma visão profunda e integral do ser.

Confiamos que será útil a alguém que se encontre aflito ou fugindo


de si mesmo, ajudando-o na solução do seu problema, e isto nOS
compensará plenamente.

Salvador, 19 de maio de 1993.


Joanna de Ângelis
222

Autodescobrimento páginas 91~94

Plenitude: A Meta

O homem e a mulher, conscientes das responsabilidades que lhes


dizem respeito, estabelecem metas de realizações que passam a
conquistar, a pouco e pouco, promovendo-se no processo da evolução.

À medida que galgam um patamar, logo outro se apresenta,


atraente e desafiador, constituindo-se um renovado, incessante
estímulo ao desenvolvimento das potencialidades adormecidas.

Em razão disso, apresentam-se-lhes metas educacionais, familiares,


sociais, econômicas, artísticas, espirituais. Esse elenco de aspirações
compõe o quadro das conquistas a serem logradas, mediante o
desempenho lúcido de cada uma, superando os óbices que surgem
como fenômenos impeditivos.

Qualquer ascensão exige esforço, assim como toda mudança impõe


ampliação ou renovação de paradigma. As grandes conquistas da
humanidade firmaram-se mediante a superação dos paradigmas então
vigentes, fixando-se pelos valores de que se constituíram, com caráter
propulsionador do progresso.

A mudança de um paradigma aceito, por outro desconhecido,


produz reações que equivalem ao prazer de preservar os valores
estabelecidos nos moldes em que se apresentam. De um lado, a reação
procede da acomodação dos que se beneficiam deles e, do outro, do
esforço que propõe para a renovação, alterando a paisagem emocional e
cultural retrógrada, que teima por permanecer.

Essa mudança que se faz com freqüência, notada ou não, são as


metas da sociedade progressista, que se operam por força das próprias
conquistas.

O conhecimento — a cultura e as conquistas tecnológicas da


humanidade — no momento duplica-se em cada quatro anos,
constituindo um imperativo pesado, para a criatura, acompanhar e
assimilar as novas informações. No entanto, no limiar do próximo
milênio, essas aquisições serão de tal monta, que se fará à duplicação
em apenas vinte meses.

Ocorre, então, que o homem e a mulher que se não renovem e se


não adaptem ao processo da evolução, ficarão ultrapassados,
permanecendo obsoletos.
223

Faz-se necessária à coragem de os indivíduos, no contínuo desafio


da evolução, periodicamente, reciclaremse, reconhecendo-se
ultrapassados no contexto da sociedade, ora eminentemente tecnicista e
imediatista.

As metas humanas, por isso mesmo, devem apresentar-se


multifacetadas, para que as realizações morais —metas relevantes —
evitem a desumanização, a robotização do ser.

Constituída de implementos psicológicos que lhe regem a vida, a


criatura humana necessita da adequação de suas metas aos valores
espirituais, que ultrapassam os limites-barreiras corporais, ajudando-a
no encontro da consciência transcendental.

Num primeiro momento, como é natural, as metas educacionais


formarão o seu cabedal de conhecimento; as familiares ensejarão a
aprendizagem no laboratório doméstico, desenvolvendo os sentimentos
do amor, do inter-relacionamento pessoal; as sociais ampliarão o círculo
da afetividade, favorecendo o crescimento do grupo; as econômicas
fomentarão o equilíbrio financeiro e a harmonia entre as pessoas; as
artísticas contribuirão para o belo, o estético, o estésico, o ideal; as
espirituais, no entanto, coroarão as realizações do processo evolutivo,
levando à plenitude.

Não raro, conquistada a primeira meta, se o homem e a mulher não


forem lúcidos para perceberem estar ensaiando os futuros passos no
rumo da sua realização plenificadora, logo mais se descobrirão
saturados, desmotivados de novas incursões, descambando no
pessimismo, na frustração.

A incessante renovação dos valores para melhor torna-se motivação


permanente para a estruturação do ser real, profundo, vitorioso sobre si
mesmo.

As metas humanas, imediatas, são estimuladoras para a existência


terrestre, a corporal. Quando acrescidas pela identificação com a
Consciência Cósmica, permanecem como força propulsora para o
progresso sem limite.

O homem e a mulher triunfadores, aos olhos do mundo, talvez


sejam aqueles que brilham na Terra, que galgam os degraus do êxito
ilusório, às vezes com o coração pejado de angústias e o espírito ralado
de dores.

Somente aqueles que se libertam e amam, após atravessarem as


dificuldades e ultrapassarem as metas iniciais do processo terrestre —
social, familiar, pessoal — permanecendo voltados para o bem geral
e transformados interiormente, assim como iluminados pela chama da
224

imortalidade, nela mergulhados pela própria causalidade, fruirão da


real plenitude — que é a meta essencial.

7 – Imaginação Ativa

Aula Expositiva

8 – Sonhos

Obras Completas Carl Gustav Jung Volume XVI página 133

Polígrafo Próprio

Texto sobre o Assunto

O Homem e Seus Símbolos

9 – Técnicas de Joanna de Ângelis

A partir dos CD’s

10 – Amorterapia

Amor, Imbatível Amor páginas 238~255

Amorterapia. Amor-Perdão. Amor Que Liberta. Amor De Plenitude.

Enquanto vicejarem os sentimentos controvertidos da atual


personalidade humana estereotipada nos clichês do imediatismo
225

devorador; enquanto os impulsos sobrepujarem a razão nos choques


dos interesses do gozo insensato; enquanto houver a predominância da
natureza animal sobre a espiritual; enquanto as buscas humanas se
restringirem aos limites estreitos do hoje e do agora, sem compreensão
das conseqüências do amanhã e do depois, o ser humano arrastará a
canga do sofrimento, estorcegando-se nas rudes amarras do desespero.

Assim mesmo, nesse ser primário que rugia na Terra em convulsão


enquanto olhava sem entender os círios luminíferos que brilhavam no
firmamento, o amor despontava. Esse lucilar que o impulsionou à saída
da caverna, à conquista das terras pantanosas e das florestas, levando-
o à construção das urbes, é o influxo divino nele existente, propelindo-o
sempre para a frente e para o infinito.

Daquele ser grotesco, impulsivo, instintivo, ao homem moderno,


tecnológico, paranormal, da atualidade, separa um grande pego.

Não obstante esse desenvolvimento expressivo, o rugir das paixões


ainda o leva à agressão injustificável, tornando-o, não poucas vezes,
belicoso e perverso, ou empurra-o para a insensatez dos gozos
exacerbados dos sentidos mais grosseiros, nos quais se exaure e mais
se perturba, dando curso a patologias físicas e emocionais variadas.

A marcha da evolução é lenta e eivada de escolhos.

Avança-se e recua-se, de forma que as novas conquistas se


sedimentem, criando condicionamentos que transformem os atavismos
vigentes em necessidades futuras, substituindo os impulsos
automáticos por aspirações conscientes, para que tenha lugar o
florescer da harmonia que passará a predominar em todos os
movimentos humanos.

A insatisfação que existe em cada indivíduo é síndrome do


nascimento de novos anseios que o conduzirão à plenitude, qual
madrugada que vence de forma suave e quase imperceptivelmente à
noite em predomínio...

Esse amanhecer psicológico é proporcionado pelo amor, que é fonte


inexaurível de energias capazes de modificar todas as estruturas
comportamentais do ser humano.

Sentimento existente em germe em todos os impulsos da vida,


adquire sentido e expande-se no campo da emotividade humana,
quando a razão alcança a dimensão cósmica, tornando-se fulcro de vida
que se irradia em todas as direções.

Presente nos instintos, embora de forma automatista, exterioriza-se


na posse e defesa dos descendentes, crescendo no rumo dos interesses
226

básicos, para tornar-se indimensional nas aspirações do belo, do nobre,


do bem.
Variando de expressão e de dimensão em todos os seres, é sempre o
mesmo impulso divino que brota e se agiganta, necessitando do
direcionamento que a razão oferece, a fim de superar as barreiras do
ego e tornar-se humanista, humanitarista, plenificador, sem
particularismo, sem paixão, livre como o pensamento e poderoso quanto
à força da própria vida.

Amorterapia

Na causalidade atual dos distúrbios psicológicos, como naquelas


anteriores, sempre se encontrará o amor-ausente como responsável.

Animalizado pelos instintos em predomínio, fez-se responsável


pelos comprometimentos morais e psicológicos, que engendraram os
distúrbios complexos desencadeadores das personalidades psicopáticas,
ora exigindo-lhes alteração de conduta interior, a fim de
experimentarem equilíbrio, sem os transtornos afligentes.

A conquista do amor é resultado de processos emocionais


amadurecidos, vivenciados pela conquista do Si.

Inicialmente, dá-se a paulatina conscientização da própria


humanidade em latência, quando lampejam os sentimentos de
solidariedade, de interdependência no grupo social, de afetividade
desinteressada, de participação no processo de crescimento da
sociedade.

Cada conquista que vai sendo adquirida enseja maior perspectiva


de possível desenvolvimento, enquanto as necessidades da evolução
desenham mais amplos espaços de movimentação emocional.

O problema do espaço físico, que contribui para a agressividade


animal, à medida que se faz reduzido para a população que o habita,
passa a ser enfocado de maneira diversa, em razão de o sentimento de
amor demonstrar que a pessoa ao lado ou distante não é mais a
competidora, aquela adversária da sua liberdade, mas se trata de
participante das mesmas alegrias e oportunidades que se apresentam
favoráveis a todos os seres.

O pensamento, irradiando essa onda de simpatia afetuosa,


estimula os neurônios à produção de enzimas saudáveis que respondem
pela harmonia do sistema nervoso simpático e estímulo das glândulas
de secreção endócrina, superando as toxinas de qualquer natureza,
227

responsáveis pelos processos degenerativos e pela deficiência


imunológica, que faculta a instalação das doenças.
Por outro lado, face ao enriquecimento emocional que o amor
proporciona, a alegria de viver estimula a multiplicação de
imunoglobulinas que preservam o organismo físico de várias infecções
tornando-se responsáveis por um estado saudável.

Ao mesmo tempo, a irradiação psíquica produzida pelo amor


direciona vibrações específicas em favor das pessoas enfocadas que,
permitindo-se sintonizar com essa faixa, beneficiam-se das suas ondas
carregadas de vitalidade salutar.

O Universo é estruturado em energia que se expande em forma de


raios, ondas, vibrações...

O ser humano, por sua vez, é um dínamo produtor de força que


vem descobrindo e administrando tudo quanto o cerca.

À medida que penetra a sonda do conhecimento no que jazia


ignorado, descobre a harmonia em tudo presente, identificando um
fator comum, causal, predominando em a Natureza, que pode ser
decodificado como sendo o hálito do Amor, do qual surgiram os ele-
mentos constitutivos do Cosmo.

A identificação dessa força poderosa, que é o amor, faculta a sua


utilização de maneira consciente em favor de si mesmo como de todas
as formas vivas.

As plantas absorvem as emanações do amor ou sentem-lhe a


ausência, ou sofrem o efeito dos raios desintegradores do ódio, que é o
amor enlouquecido e destruidor.

Os animais enternecem-se, domesticam-se, quando submetidos ao


dinamismo do amor que educa e cria hábitos, vitalizando-se com a
ternura ou deperecendo com a sua falta, ou extinguindo-se com as
atitudes que se lhe opõem.

O ser humano, mais sensível, porque portador de mais amplas


possibilidades nervosas de captação —pode-se afirmar com segurança
—, vive em função do amor ou desorganiza-se em razão da sua
carência.

Amorterapia, portanto, é o processo mediante o qual se pode


contribuir conscientemente em favor de uma sociedade mais saudável,
logo, mais justa e nobre.

Essa terapia decorre do auto-amor, quando o ser se enriquece de


estima por si mesmo, descobrindo o seu lugar de importância sob o sol
da vida e, esplendente de alegria reparte com as demais pessoas o
228

sentimento que o assinala, ampliando-o de maneira vigorosa em


benefício das demais criaturas.
Enquanto as irradiações do ódio, da suspeita, do ciúme, da inveja e
da sensualidade são portadoras de elementos nocivos, com alto teor de
energias destrutivas, o amor emite ondas de paz, de segurança,
sustentando o ânimo alquebrado pela confiança que transmite, de
bondade pelo exteriorizar do afeto, de paz em razão do bem-estar que
proporciona, de saúde como efeito da fonte de onde se origina.

Ao descobrir-se à potência da energia do amor, faz-se possível


canalizá-la terapeuticamente a benefício próprio como do próximo.

Desaparecem, então, a competição doentia e perversa, o domínio


arbitrário e devorador do egoísmo, surgindo diferente conduta entre os
indivíduos, que se descobrirão portadores de inestimáveis recursos de
paz e de saúde, promotores do progresso e realizadores da felicidade na
Terra.

Amor-Perdão

Quando vige o amor nos sentimentos, não há lugar para o


ressentimento.

Não obstante, face à estrutura psicológica do ser humano, a


afetividade espontânea sempre irrompe intentando crescimento, de
modo a administrar as paisagens que constituem os objetivos
existenciais. Não conseguindo atingir as metas, porque se depara com a
agressividade inerente ao processo de desenvolvimento intelecto-moral
que ainda não se pôde instalar, sente-se combatida e impelida ao recuo.

Tal ocorrência, nos indivíduos menos equipados de valores


éticos, gera mal-estar e choques comportamentais que se podem
transformar em transtornos aflitivos.

Quando isso sucede, o ser maltratado refugia-se na mágoa,


ancorando-se no desejo de desforço ou de vingança.

A injustiça de qualquer natureza é sempre uma agressão à


ordem natural que deve viger em toda à parte, especialmente no homem
que, por instinto, defende-se antes de ser agredido, arma-se temendo
ser assaltado, fica à espreita em atitude defensiva...

Tudo quanto lhe constitui ameaça real ou imaginária torna-


se-lhe temerário e, por mecanismo de defesa, experimenta as reações
fisiológicas específicas que decorrem das expectativas psicológicas.
229

A raiva, sob esse aspecto, é uma reação que resulta da


descarga de adrenalina na corrente sangüínea, quando se está sob
tensão, medo, ansiedade ou conflito defensivo.

O medo que, às vezes, a inspira, impulsiona à agressão, em


cujo momento assume o comando das atitudes, assenhoreando-se da
mente e da emoção.

A criatura humana, portanto, convive com esses estados


emocionais que se alternam de acordo com as ocorrências, e que se
podem transformar em transtornos desesperadores tais o ódio, o
pânico, a mágoa enfermiça.

A mágoa ou ressentimento, segundo os estudos da Dra.


Robin Kasarjian, instala-se nos sentimentos em razão do Self
encontrar-se envolto por sub-personalidades, que são as qualidades
morais inferiores, aquelas herdadas das experiências primárias do
processo evolutivo, tais a inveja, o ciúme, a malquerença, a
perversidade, a insatisfação, o medo, a raiva, a ira, o ódio, etc.

Quando alguém emite uma onda inferior — sub-


personalidade — a mesma sincroniza com uma faixa equivalente que se
encontra naquele contra quem é direcionada a vibração, estabelecendo-
se um contato infeliz, que provoca idêntica reação.

A partir daí estabelece-se à luta com enfrentamentos


contínuos, que resultam em danos para ambos os litigantes, que
passam a experimentar debilidade nas suas resistências da saúde
física, emocional, psíquica, econômica, social...

Naturalmente, porque a alteração do comportamento se


reflete na sua existência humana.

Sentindo-se vilipendiado, ofendido, injustiçado, o outro, que


se supõe vítima, acumula o morbo do ressentimento e cultiva-o, como
recurso justo para descarregar o sofrimento que lhe está sendo imposto.

Essa atitude pode ser comparada à condução de “uma brasa


para ser atirada no adversário que, apesar disso, enquanto não é
lançada queima a mão daquele que a carrega”.

O ressentimento, por isso mesmo, é desequilíbrio da


emoção, que passa a atitude infeliz, profundamente infantil, qual a de
querer vingar-se, embora sofrendo os danos demorados que mantém
esse estado até quando surja a oportunidade.

O amor, porém, proporciona a transformação das


subpersonalidades em superpersonalidades, o que impede a sintonia
com os petardos inferiores que lhes sejam disparados.
230

Em nossa forma de examinar a questão do ressentimento e da


estrutura psicológica em torno do Self, acreditamos que, em se traçando
uma horizontal, e partindo-se do fulcro em torno de um semicírculo
para baixo, teríamos as subpersonalidades, e, naquele que está acima
da linha reta, defrontamos as superpersonalidades, mesmo que, nas
pessoas violentas e mais instintivas, em forma embrionária.

Toda vez que é gerada uma situação de antagonismo entre os


indivíduos, as subpersonalidades se enfrentam, distendendo ondas de
violência que encontram guarida no campo equivalente da pessoa
objetivada.

Não houvesse esse registro negativo e a agressão se


perderia, por faltar sintonia vibratória que facultasse a captação
psíquica.

O ressentimento, portanto, é efeito também da onda


perturbadora que se fixa nos painéis da emotividade, ampliando o
campo da subpersonalidade semelhante que se transforma em gerador
de toxinas que terminam por perturbar e enfermar quem o acolhe.

Sob o direcionamento do amor, a subpersonalidade tende a


adquirir valores que a irão transformar em sentimentos elevados —
superpersonalidades — anulando, lentamente, a sombra, o lado mau do
indivíduo, criando campo para o perdão.

E provável que, na primeira fase, o perdão não seja


exatamente o olvidar da ofensa, apagando da memória a ocorrência
desagradável e malfazeja. Isso virá com o tempo, na medida que novas
conquistas éticas forem sendo armazenadas no inconsciente,
sobrepondo-se às mazelas dominantes, por fim, anulando-lhes as
vibrações deletérias que são disparadas contra o adversário, ao tempo
em que desintegram as resistências daquele que as emite.

Não revidar o mal pelo mal é forma de amar, concedendo o


direito de ser enfermo àquele que se transforma em agressor, que se
compraz em afligir e perturbar.

Nessa condição — estágio primário do processo de


desenvolvimento do pensamento e da emoção — é natural que o outro
pense e aja de maneira equivocada.

O amor-perdão é um ato de gentileza que a pessoa se


dispensa, não se permitindo entorpecer pelos vapores angustiantes do
desequilíbrio ou desarticular-se emocionalmente sob a ação dos tóxicos
do ódio ressentido.
231

O homem maduro psicologicamente é saudável, por isso,


ama-se e perdoa-se quando se surpreende em erro, pois que percebe
não ser especial ou alguém irretorquível.

Compreendendo que o trabalho de elevação se dá mediante


as experiências de erros e de acertos, proporciona-se tolerância, nunca
porém sendo complacente com esses equívocos, a ponto de os não
querer corrigir.

É atitude de sabedoria perdoar-se e perdoar, porquanto à


conquista dos valores éticos é conseqüência natural do equilíbrio
emocional, patamar de segurança para a aquisição da plenitude.

O amor é força irradiante que vence as distonias da


violência vigente no primarismo humano, gerador das
subpersonalidades.

Surge como expressão de simpatia que toma corpo na emoção,


distendendo ondas de felicidade que envolvem o ser psicológico e se
torna força dominadora a conduzir os objetivos essenciais à vida digna.
Fonte proporcionadora do perdão, confunde-se com esse, porque as
fronteiras aparentes não existem em realidade, desde que um somente
tem vigência quando o outro se pode expressar.

Amor é saúde que se expande, tornando-se vitalidade que sustenta


os ideais, fomenta o progresso e desenvolve os valores elevados que
devem caracterizar a criatura humana.

Ínsito em todos os seres, é a luz da alma, momentaneamente em


sombra, aguardando oportunidade de esplender e expandir-se.

O amor completa o ser, auxiliando-o na auto-superação de


problemas que perdem o significado ante a sua grandeza.

Enquanto viger nos sentimentos, não haverá lugar para os resíduos


enfermiços das sub-personalidades, que se transformarão em claridade
psicológica, avançando para os níveis superiores do sentimento, quando
a auto-realização conseguirá perdoar a tudo e a todos, forma única de
viver em plenitude.

Amor Que Liberta

A vigência do amor no ser humano constitui a mais alta


conquista do desenvolvimento psicológico e também ético, porquanto
esse estágio que surge como experiência do sentimento concretiza-se
em emoções profundamente libertadoras, que facultam a compreensão
232

dos objetivos essenciais da existência humana, como capítulo valioso da


vida.

O amor suaviza a ardência das paixões canalizando-as


corretamente para as finalidades a que se propõem, sem as aflições
devastadoras de que se revestem.

No emaranhado dos conflitos que às vezes o assaltam, mantém-se


em equilíbrio norteando o comportamento para as decisões corretas.

Por isso é sensato e sereno, resultado de inumeráveis conquistas no


processo do desenvolvimento intelectual.

Enquanto a razão é fria, lógica e calculada, o amor é vibrante, sábio


e harmônico.

No período dos impulsos, quando se apresenta sob as constrições


dos instintos, é ardente, apaixonado, cercado de caprichos, que o
amadurecimento psicológico vai equilibrando através do mecanismo das
experiências sucessivas.

Orientado pela razão faz-se dúlcido e confiante, não extrapolando


os limites naturais, a fim de se não tornar algema ou converter-se em
expressão egoísta.

Não obstante se encontre presente em outras emoções, mesmo que


em fase embrionária, tende a desenvolver-se e abarcar as sub-
personalidades que manifestam os estágios do primitivismo,
impulsionando-as para a ascensão, trabalhando-as para que alcancem
o estágio superior.

E o amor que ilumina a face escura da personalidade, conduzindo-


a ao conhecimento dos defeitos e auxiliando-a na realização inicial da
auto-estima, passo importante para vôos mais audaciosos e
necessários.

A sua presença no indivíduo confere-lhe beleza e alegria,


proporciona-lhe graça e musicalidade, produzindo irradiação de bem-
estar que se exterioriza, tornando-se vida, mesmo quando as
circunstâncias se apresentam assinaladas por dificuldades, problemas
e dores, às vezes, excruciantes.

Vincula os seres de maneira incomum, possuindo a força dinâmica


que restaura as energias quando combalidas e conduz aos gestos de
sacrifício e abnegação mais grandiosos possíveis.

O compromisso que produz naqueles que se unem possuí um


vínculo metafísico que nada interrompe, tornando-se, dessa forma,
espiritual, saturado de esperanças e de paz.
233

O amor, quando legítimo, liberta, qual ocorre com o conhecimento


da verdade, isto é, dos valores permanentes, os que são de significado
profundo, que superam a superficialidade e resistem aos tempos, às
circunstâncias e aos modismos.

Funciona como elemento catalisador para os altos propósitos


existenciais.

A sua ausência abre espaço para tormentos e ansiedades que


produzem transtornos no comportamento, levando a estados
depressivos ou de violência, porquanto, nessa circunstância,
desaparecem as motivações para que a vida funcione em termos de
alegria e de felicidade.

Quando o amor se instala nos sentimentos, as pessoas podem


encontrar-se separadas; ele, porém, permanece imperturbável. A
distância física perde o sentido geográfico e o espaço desaparece,
porque ele tem o poder de preenchê-lo e colocar os amantes sempre
próximos, pelas lembranças de tudo quanto significa a arte e a ciência
de amar. Uma palavra evocada, um aroma sentido, uma melodia
ouvida, qualquer detalhe desencadeia toda uma série de lembranças
que o trazem ao tempo presente, ao momento sempre feliz.

O amor não tem passado, não se inquieta pelo futuro. É sempre


hoje e agora.

O amor inspira e eleva dando colorido às paisagens mais cinzentas,


tornando-se estrelas luminosas das noites da emoção.

Não necessita ser correspondido, embora o seu calor se intensifique


com o combustível da reciprocidade.

Não há quem resista à força dinâmica do amor.

Muitas vezes não se lhe percebe a delicada presença. No entanto, a


pouco e pouco impregna aquele a quem se direciona, diminuindo-lhe
algumas das desagradáveis posturas e modificando-lhe as reações
conflitivas.

Na raiz de muitos distúrbios do comportamento pode ser apontada


a ausência do amor que se não recebeu, produzindo uma terra
psicológica árida, que abriu espaço para o surgimento das ervas
daninhas, que são os conflitos.

O amor não se instala de um para outro momento, tendo um curso


a percorrer.
234

Apresenta os seus pródromos na amizade que desperta interesse


por outrem e se expande na ternura, em forma de gentileza para
consigo mesmo e para com aquele a quem se direciona.

É tão importante que, ausente, descaracteriza o sentido de beleza e


de vida que existe em tudo.

A sua vigência é duradoura, nunca se cansando ou se


amargurando, vibrando com vigor nos mecanismos emocionais da
criatura humana.

Quando não se apresenta com essas características de libertação, é


que ainda não alcançou o nível que o legitima, estando a caminho,
utilizando-se, por enquanto, do prazer do sexo, da companhia
agradável, do interesse pessoal egoístico, dos desejos expressos na
conduta sensual: alimento, dinheiro, libido, vaidade, ressentimento,
pois que se encontra na fase alucinada do surgimento...

O amor é luz permanente no cérebro e paz contínua no coração.

Amor De Plenitude

Em qualquer circunstância a terapia mais eficiente é amar.

O amor possui um admirável condão que proporciona felicidade,


porque estimula os demais sentimentos para a conquista do Self,
fazendo desabrochar os tesouros da saúde e da alegria de viver,
conduzindo aos páramos da plenitude.

Ao estímulo do pensamento e conduzido pelo sentimento que se


engrandece, o amor desencadeia reações físicas, descargas de
adrenalina, que proporcionam o bem-estar e o desejo de viver na sua
esfera de ação.

Inato no ser humano, porque procedente do Excelso Amor, pode ser


considerado como razão da vida, na qual se desenvolvem as aptidões
elevadas do Espírito, assinalado para a vitória sobre as paixões.

Mesmo quando irrompe asselvajado, como impulso na busca do


prazer, expressa-se como forma de ascensão, mediante a qual
abandona as baixadas do bruto, que nele jaz para fazer desabrochar o
anjo para cuja conquista marcha..

A sua essência sutil comanda o pensamento dos heróis, a conduta


dos santos, a beleza dos artistas, a inspiração dos gênios e dos sábios, a
235

dedicação dos mártires, colocando beleza e cor nas paisagens mais


ermas e sombrias que, por acaso, existam.

Pode ver um poema de esperança onde jaz a morte e a


decomposição, já que ensina a lei das transformações de todas as coisas
e ocorrências, abrindo espaço para que seja alcançada a meta estatuída
nas Leis da Criação, que é a harmonia.

Mesmo no aparente caos, que a capacidade humana não consegue


entender, encontra-se o Amor trabalhando as substâncias que o
constituem, direcionando o labor no rumo da perfeição.

O homem sofre e se permite transtornos psicológicos porque ainda


não se resolveu, realmente, pelo amor, que dá, que sorri de felicidade
quando o ser amado é feliz, liberando-se do ego a pouco e pouco,
enquanto desenvolve o sentido de solidariedade que deve viver em tudo
e em todos, contribuindo com a sua quota de esforço para a conquista
da sua realidade.

Liberando-se dos instintos básicos, ainda em predomínio, o ser


avança, degrau a degrau, na escada do progresso e enriquece-se de
estímulos que o levam a amar sem cessar, porquanto todas as
aspirações se resumem no ato de ser quem ama.

A síntese proposta por Jesus em torno do amor, é das mais


belas psicoterapias que se conhece: Amar a Deus acima de todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo, em uma trilogia harmônica.

Ante a impossibilidade de o homem amar a Deus em plenitude, já


que tem dificuldade em conceber o Absoluto, realiza o mister,
invertendo a ordem do ensinamento, amando-se de início, a fim de
desenvolver as aptidões que lhe dormem em latência, esforçando-se por
adquirir valores iluminativos a cada momento, crescendo na direção do
amor ao próximo, decorrência natural do auto-amor, já que o outro é
extensão dele mesmo, para, finalmente amar a Deus, em uma
transcendência incomparável, na qual o amor predomina em todas as
emoções e é o responsável por todos os atos.

Diante, portanto, de qualquer situação, é necessário amar.

Desamado, se deve amar.

Perseguido, é preciso amar.

Odiado, torna-se indispensável amar.

Algemado a qualquer paixão dissolvente, a libertação vem


através do amor.
236

Quando se ama, se é livre.

Quando se ama, se é saudável.

Quando se ama, se desperta para a plenitude.

Quando se ama, se rompem as couraças e os anéis que


envolvem o corpo, e o Espírito se movimenta produzindo vida e
renovação interior.

O amor é luz na escuridão dos sentimentos tumultuados,


apontando o rumo.

O amor é bênção que luariza as dores morais.

O amor proporciona paz.

O amor é estímulo permanente.

Somente, portanto, através do amor, é que o ser humano


alcança as cumeadas da evolução, transformando as aspirações em
realidades que movimenta na direção do bem geral.

O amor de plenitude é, portanto, o momento culminante do ato


de amar.

Desse modo, através do amor, imbatível amor, o ser se


espiritualiza e avança na direção do infinito, plenamente realizado,
totalmente saudável, portanto, feliz.

Desperte e Seja Feliz páginas 107~110

Auto-Realização

O Evangelho é portador da melhor pedagogia, da melhor técnica


para a conquista da auto-realização.

Ama — assevera Jesus.

Não há como sofismar tal proposta.

Nenhuma escusa é possível para negá-la.

Circunstância alguma pode ser apresentada para justificar a sua


não-vivência.
237

Em momento nenhum se pode nele encontrar a diretriz: seja


amado.

Pelo contrário, em todo o seu tecido doutrinário, o imperativo é


sempre amar.

Perdoa — propõe a Palavra de forma irretocável.

Não há como fugir do perdão.

Qualquer tentativa de negá-lo resulta em autopunição, porque o


ressentimento, o ódio, o desejo de revide se transformam em verdugos
implacáveis daquele que os preservam.

Serve — determina, enfático, o Verbo.

Impossível manter-se alguém em paz de consciência, longe do


serviço iluminativo, de preservação e desenvolvimento do Bem.

Ociosidade é ferrugem nas engrenagens da vida.

O serviço vitaliza e promove aquele que o executa,


particularmente quando é destituído de remuneração, de retribuição, de
interesse pessoal e imediatista.

O amor, o perdão e o serviço tomam-se, desse modo, caminhos


para a auto-realização.

Pretendem, muitos discípulos do Espiritualismo, encontrar a auto-


realização fugindo do mundo, negando-o ou detestando-o.

Certamente o processo não atende à meta essencial, que é o


encontro com a plenitude, a auto-iluminação.

Fugir é ato de desamor.

Negar corresponde a dificultar o entendimento, o perdão às


agressões, aos conflitos.

Detestar se torna escusa para não servir.

Há portanto, prevalência, em tal conduta, do egoísmo


perturbador.
238

O amor, o perdão e o serviço trabalham o indivíduo, auxiliando-o


a aprimorar-se, a realizar-se.

Pedro fugiu do testemunho ao lado de Jesus perseguido, e,


despertando através do amor, deixou-se sacrificar mais tarde,
perfeitamente harmonizado.

Saulo saiu em insana perseguição aos discípulos do Mestre,


todavia, deparando-se com Ele no deserto, e perdoado, entregou-se-Lhe
em regime de totalidade, mudando, inclusive, de nome, assim
superando o homem velho e renascendo...

Maria de Magdala, arrependendo-se dos equívocos a que se


entregava, revolucionou interiormente a existência, e doou-se ao serviço
da Boa Nova com tal devotamento, que o Senhor a elegeu para revê-lO
após a morte e anunciar-Lhe a ressurreição.

Amor, perdão e serviço constituem métodos de fácil aplicação no


dia-a-dia da existência corporal, a fim de desenvolver as potencialidades
divinas que jazem em todos os seres, levando-os à auto-realização, à
plenificação.
*

Exercita o amor em todos os teus passos.

Pensa com amor e fala amorosamente predispondo-te a agir de


forma amável.

Com o sentimento de amor ampliado, perdoarás com facilidade,


por entender que o outro —o opositor, o adversário, o perseguidor —
está de mal com ele próprio, enfermo sem o saber, necessitado de
socorro...

Perdoando sinceramente aqueles que te geram dificuldades e se


te fazem problemas, estarás colaborando com o Bem, assim passando
ao estágio de serviço de solidariedade e de ação construtiva, em favor de
todos e do mundo terrestre onde te encontras em processo de evolução.

Não te eximas de amar, de perdoar e de servir, se realmente


anelas pela auto-realização.
239

Desperte e Seja Feliz páginas 131~136

Amorterapia

Por largos tempos enfrentaremos na Terra a problemática do erro


e da criminalidade.

O processo de evolução faz-se lento, nas faixas inferiores do


desenvolvimento da consciência, acelerando-se, à medida que o ser
desperta para a responsabilidade e para o dever.

Por isso mesmo, não obstante as gloriosas conquistas da


inteligência, o sentimento humano parece experimentar hipertrofia,
detendo-se no charco das paixões primitivas.

Com as ambições de liberdade que lhe pairam no cérebro, a


criatura tem dificuldade de romper as algemas, que preservam a
limitação dos movimentos compatíveis para os vôos grandiosos.

Em tais circunstâncias defrontam-se a virtude e o vício, a paz e o


conflito, o equilíbrio e a violência, em razão da disparidade dos Espíritos
que enxameiam no planeta de provas.

Os bons e os maus caminham juntos na condição de aprendizes


na mesma classe, caracterizados pelos valores pessoais que os
identificam.

É natural que tal ocorra, porquanto aqueles que já lograram os


resultados positivos têm por dever amparar, esclarecer e educar
aqueloutros que estagiam nas linhas primárias do mecanismo de
iluminação.

Não raro, diante da crueldade, os sentimentos se exaltam, e


reações de violência se apresentam imprecando pela extinção do agente
da maldade.

Os atos vis e hediondos acendem ódios devoradores, que se


arregimentam para o aniquilamento daquele que os pratica.

A violência impiedosa provoca ondas semelhantes, que se lhe


contrapõem, buscando destruir quem a desencadeia.

A traição libera emoções de ressentimento profundo, trabalhando


pela punição do delinqüente.
240

Há crimes que geram repulsa e ira, conspirando contra todos os


indivíduos e levando-os a tomar atitudes de rudes vinganças
destruidoras.

A tirania provoca horror e faculta o desenvolver de


comportamentos ferozes contra o ditador.

É necessário muita vigilância, para não permitir que os tóxicos do


mal envenenem as pessoas que mourejam e acreditam no bem.

Porque as experiências edificantes ainda são iniciais nos


implementos da alma, que desabrocha para a Verdade, pode ocorrer
que as velhas fixações das multifárias ações primitivas se
sobreponham, tentando predomínio.

Diante dos acontecimentos da perversidade e da alucinação


sanguinária, os atavismos que remanescem no ser são estimulados a
retomarem os equipamentos emocionais e, bloqueando a razão,
irrompem em catadupas, revidando, destruindo, vingando-se...

Somente o amor, como medida terapêutica, possui a solução para


as agressões do mal que teima em alastrar-se por toda parte, levando de
roldão aqueles que se permitem carregar.
*

Certamente, não se pode ser conivente com o erro, concordar com


o crime, ignorar a virulência do ódio, o fogaréu da violência...

Entretanto, jamais se extinguirá o delito, eliminando-se o


delinqüente; encaminhar a vida para o bem, destruindo-se aquele que
conspira contra a ordem, o equilíbrio, o dever. Não se apagam
incêndios, usando-se combustíveis.

Amorterapia — eis a proposta de Jesus.

A ignorância deve ser combatida e o ignorante educado.

O crime necessita de ser eliminado, mas o criminoso merece ser


reeducado.

As calamidades de quaisquer expressões precisam ser extirpadas,


no entanto os seus prepostos, na condição de doentes, aguardam
amparo e cura.

Nesse mister terapêutico, é justo afastar do meio social o


delinqüente, o infrator, o portador de conduta irregular, a fim de que
receba a competente orientação e adquira os valores indispensáveis
241

para a reparação do mal praticado no conjunto humano de onde se


afastou.

O amor não acusa, corrige; não atemoriza, ajuda; não pune,


educa; não execra, edifica; não destrói, salva.

Em toda a doutrina de Jesus, há um veemente repúdio ao mal e


um permanente convite aos maus para que se arrependam, expiem e se
recuperem.

Quando o amor viger nos corações das criaturas, o bem


iluminará o mal e a harmonia plenificará todas as almas; mesmo
aquelas que avançam em estágios inferiores se sentirão estimuladas a
alcançar os patamares elevados da libertação.

As enfermidades são a presença da sombra nos equipamentos-luz


do ser Porque não hajam alcançado a plenitude do desenvolvimento,
esses mecanismos sofrem os impactos da mente em desalinho —
geradora de pensamentos mórbidos e atos perturbadores — cujo teor
vibratório alcança-os, desconectando-os e abrindo campo para que se
instalem as infecções degenerativas, as distonias emocionais e
psíquicas.

Enquanto houver no ser humano prevalência dos impulsos de


violência e de ressentimento, de ciúme e de ódio, de amargura e de
mentiras, maledicências, calúnias, a problemática da enfermidade nele
predominará.

É indispensável que lhe ocorra uma mudança de comportamento


mental, a fim de que se dê a cura real, e se erradiquem os miasmas
pestilências que intoxicam as células e as debilitam.

O amorterapia é a solução que te está ao alcance. Não apenas te


proporcionará a recuperação da saúde, se te encontras enfermo, como
te fortalecerá para que evites adoecer.

A harmonia do Criador encontrará ressonância no teu campo


vibratório, rico de amor invadindo-te e dominando o teu corpo, a tua
existência.
242

Momentos de saúde páginas 44~48

Culpa e Consciência

A culpa surge como forma de catarse necessária para a libertação de


conflitos.

Encontra-se esculpida nos alicerces do espírito e manifesta-se em


expressão consciente ou através de complexos mecanismos de
autopunição inconsciente.

Suas raízes podem estar fixadas no pretérito:

— erros e crimes ocultos que não foram justiçados

— ou em passado próximo, nas ações da extravagância ou da


delinqüência.

Geradora de graves distúrbios, a culpa deve ser liberada, a fim de que


os seus danos desapareçam.

Arrepender-se de comportamentos equivocados, de práticas


mesquinhas, egoísticas e arbitrárias é perfeitamente normal. A
sustentação, porém, do arrependimento, além de ser inoperante,
apenas proporciona prejuízos que respondem por numerosos conflitos
da personalidade.

O arrependimento tem como finalidade dar a perceber a dimensão do


delito, do gravame, de modo que o indivíduo se conscientize do que
praticou, formulando propósitos de não-reincidência. A permanência na
sua análise, a discussão íntima em torno do que deveria, ou não, ter
feito naquela ocasião, transforma-se em cravo perturbador fincado no
painel da consciência.

Há pessoas que se atormentam com a culpa do que não fizeram,


lamentando não haverem fruído tudo quanto o momento passado lhes
proporcionou. Outras, amarguram-se pela utilização indevida ou pelo
uso inadequado da oportunidade, todas, no entanto, prosseguindo em
ação negativa.

Seja o que for que fizeste, ou deixaste de fazer, a recordação, em


culpa, daquele instante, de maneira alguma te ajudará.

Não poderás apagar o erro lamentando-o, por mais te demores nesta


atitude, tampouco experimentarás recompensas reter-te na lembrança
243

do que poderias ter feito e deixaste de realizar. A aparente compensação


que experimentes, enquanto assim permaneças, é neurótica, pois que
voltarás às mesmas reminiscências que se transformarão em cáustico
mental no futuro.

Tudo quanto invistas para anular o passado, removê-lo ou deixá-lo à


margem, será inútil.

O que está feito ou aquilo que ficou para realizar, constituem


experiências para futuras condutas.

Águas passadas não movem moinhos —afirma o brocardo popular,


com sabedoria.

As lembranças negativas entorpecem o entusiasmo para as ações


edificantes, únicas portadoras de esperança para a liberação da culpa.

Há pequenas culpas que resultam da educação deficiente, neurótica,


do lar, igualmente perturbadoras, mas de pequena monta.

*
A existência terrena é toda uma oportunidade para enriquecimento
contínuo.

Cada instante é ensejo de nova ação propiciadora de crescimento, de


conhecimento, de conquista. Saber utilizá-lo é desafio para a criatura
que anela por novas realizações.

Desse modo, quem se detém nas sombrias paisagens da culpa ainda


não descobriu a consciência da própria responsabilidade perante a vida,
negando-se a bênção da libertação.

De alguma forma, quem cultiva culpa, não deseja libertar-se, em tal


postura comprazendo-se irresponsavelmente.

Sai da forma do arrependimento e age de maneira correta, edificante.


Reabilita-te do erro, através de ações novas que representem o teu
atual estado de alma.

Detém a onda dos efeitos perniciosos com a diluição deles nas novas
fronteiras do bem.

A soma das tuas ações positivas quitará o débito moral que contraíste
perante a Divina Consciência, porquanto o importante não é a quem se
faz o bem ou o mal, e sim, a ação em si mesma em relação à harmonia
universal.
244

Allan Kardec, interessado na que estão, interrogou os Embaixadores


Espirituais e recebeu deles a segura resposta, conforme o número 835
de O Livro dos Espíritos:

— Será a liberdade de consciência uma conseqüência da de pensar?

— A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem,


como todos os outros pensamentos.

Como conseqüência, a culpa deve ser superada mediante ações


positivas, reabilitadoras, que resultarão dos pensamentos íntimos,
enobrecedores.

11 – Jesus Como Paradigma de Saúde

Jesus e Atualidades página 10

Jesus E Atualidade

A atualidade do pensamento de Jesus surpreende os mais cépticos


estudiosos da problemática humana, sempre complexa e desafiadora,
nestes dias.

Profundo conhecedor da psique, Jesus penetrava com segurança


nos refolhos do indivíduo e descobria as causas reais das aflições que o
inconsciente de cada um procurava escamotear.

Não se permitindo derivativos nem adiamentos, enfrentava as


questões com elevado critério de sabedoria, que desnudava as mais
intrincadas personalidades psicopatológicas, pro pondo com rigor a
terapia compatível, elucidando quanto à responsabilidade pessoal e
eliminando a sombra projetada sob a qual muitos se ocultavam.

Por processos mais demorados, a psicologia profunda chega, no


momento, ás mesmas conclusões que Ele lograva com facilidade desde
há dois mil anos.

Roberto Assagioli, por exemplo, com sua psicossíntese, penetrou


nas causas das enfermidades, apoiando-se na realidade “transpessoal”
do ser como fator desencadeante das mesmas.

Abraao Maslow descobriu a “psicologia do ser e abriu espaço para o


seu entendimento profundo em relação à psicogênese das enfermidades
que deterioram a personalidade do homem”.
245

Groff, relacionando a mente com o cérebro, vai mais além e


defronta o ser imortal como agente de inúmeras psicopatologias.

Melanie Klein e Carl Johnson, de origem freudiana, pro põem para


os esquizofrênicos terapêuticas fundamentadas no amor, na caridade,
no perdão cristão como as de maior eficácia, embora se reconheçam
arreligiosos.

A personalidade marcante de Jesus impressionava, de forma,


indelével, todos aqueles que O encontravam.

Identificado com Deus, demonstrava-O em todos os Seus passos,


conclamando os ouvintes a conquista da realidade — o reino dos céus
que se encontra no imo de cada um.

A Sua proposta de aferição de valores — os materiais com os


espirituais — oferecia a excelente oportunidade para o despertamento
mental a respeito da vida e a conseqüente experiência vivencial em
clima de harmonia íntima, com uma identificação entre as
possibilidades e as circunstâncias existenciais.

Sem utilizar-se de expressões e conceitos interpolados, falava uma


linguagem de simples apreensão pela massa ignorante e pelas mentes
elitizadas que O buscavam.

Extraordinário narrador de histórias, uma das artes mais difíceis


na área do discurso, e poeta ímpar, em razão das imagens puras na sua
riqueza de cores e de significado, os Seus ensinamentos eternizaram-se,
reconhecidos como dos mais belos jamais anotados pela gnose.

O sermão da montanha, considerado a “carta magna dos direitos


humanos”, é um desafio de não-violência, próprio para esta época,
assim como foi para aquela em que Ele o enunciou. Os que o ouviram,
jamais se desimpregnaram da sua magia incomparável.

Não somente, porém, Jesus é atual pelas terapias de amor e pelos


ensinamentos que propõe ao homem contemporâneo, mas, também,
pelo exemplo de felicidade e exteriorização de paz que irradiava.

Enquanto as ambições desregradas conduzem as inteligências ao


paroxismo e à alucinação da posse, da fama, da glória, das disputas
cegas, Ele ressurge na consciência moderna em plenitude, jovial e
amigo, afortunado pela humanidade e a segurança íntima.

A atualidade necessita urgentemente de Jesus descrucificado,


companheiro e terapeuta em atendimento de emergência, a fim de
evitar-lhe a queda no abismo.

Pensando nesta inadiável questão, resolvemos apresentar, neste


pequeno livro, vinte situações contemporâneas com ocorrências do
cotidiano que aturdem a civilização, buscando respostas da conduta na
terapia de Jesus, cujos resultados, obviamente, são a saúde, a paz e a
246

felicidade como experiências ainda não fruídas individual e


coletivamente pelos homens.

Certa de que o caro leitor encontrará nestas páginas respostas para


algumas das suas inquietações, rogamos a Ele que nos oriente e
ampare no rumo que seguimos, ansiosos pela nossa realização total.

Salvador, 20 de fevereiro de 1989.


Joanna de Ângelis

Autodescobrimento páginas 88~91

Terapia Da Esperança

O predomínio do ego, nos relacionamentos humanos, responde


pelas incessantes frustrações e desequilíbrios outros, que assinalam a
criatura humana.

Sem a correspondente consciência lúcida em tomo dos objetivos da


existência carnal, o individuo que assim age faz-se vítima da
personalidade enfermiça a que se acostumou, como método de triunfo
nos seus cometimentos.

Considerando que o inter-relacionamento pessoal é uma arte de


dissimular sentimentos, afivela a máscara correspondente a cada
momento e varia-a conforme as circunstâncias, ocasiões e pessoas com
as quais se comunica.

Acostumando-se à aparência, desloca-se da realidade, passando a


viver inseguro nas armadilhas que prepara com o objetivo de não se
permitir identificar.

Observando a conduta das pessoas inconseqüentes que, às vezes,


triunfam por meio dos recursos da fantasia e da bajulação, passa a
imitá-las, deixando-se conduzir pelos absurdos comportamentos,
distantes da realidade e do dever.

Estabelecem-se então conflitos íntimos, e a escala de valores padece


a.perda do significado, desaparecendo os parâmetros para a
compreensão, tanto do que é certo como daquilo que é errado.

Superados os momentos de convívio no baile de máscaras a que se


reduzem os seus encontros sociais, a identificação da pusilanimidade
propõe-lhe o desrespeito por si mesmo, a perda da auto-estima, o
transtorno de comportamento neurótico.
247

Novamente chamado à convivência social, oculta o estado interior


legítimo e volve à dissimulação.

Indispensável que o self predomine desperto no indivíduo,


contribuindo para a sua realização, segurança e plenitude.

Embora a maioria expressiva de indivíduos prefira o jogo das


personalidades, não é possível ignorar a prevalência do sofrimento disso
decorrente. Negam-se a verdade, recusam auto-encontro, fogem do
despertar dos valores que se acham adormecidos, e sucumbem.

Narram que um homem sábio dispôs-se a transmitir os seus


conhecimentos, reunindo a sua volta inúmeros interessados.

À medida que as aulas se sucediam, decrescia o número dos


candidatos ao aprendizado, ao ponto de, em pouco tempo, haver ficado
apenas um.

Disse-lhe, então, o mestre:


— Somente prosseguirei, se houver um número maior de
discípulos.

Interessado em aprender, o candidato recorreu aos desertores e


instou para que voltassem, o que redundou em total fracasso.

Ele meditou longamente e tomou a decisão de levar à aula vários


manequins vestidos, que conseguiu em uma casa comercial.

Colocou-os na sala e convidou o mestre para retomar às lições.

Surpreso, ele respondeu:

— Todos esses bonecos são incapazes de entender-me.

São apenas bonecos...

— Isso mesmo — esclareceu o adepto, imperturbável.

— Eles representam aqueles que se foram e que, mesmo


quando aqui estavam, eram mortos, sem interesse.

As vossas aulas eram-lhes muito profundas e eles não as


queriam, mas eu estou interessado nelas, apenas eu.

Sensibilizado, o sábio, ele fez o aprendiz ideal que se lhe tomou


continuador das experiências.

O mesmo acontece nos palcos da sociedade hodierna, de alguma


forma geradora de distúrbios psicológicos no comportamento dos atores
248

que se apresentam nos dramas, nas tragédias, nas comédias do


cotidiano.

A ocorrência toma-se tão predominante que somente os


caracteres fortes conseguem aprofundar a busca da sua realidade,
descobrindo-se, auto-encontrando-se.

Adotam um comportamento de autenticidade, preferindo seguir


uma linha direcional de coerentes atitudes, à variação contínua,
instabilizadora, perturbante.

Enquanto o candidato ao equilíbrio não abdique dos métodos


equivocados em vigência, assumindo-se e exteriorizando-se como é,
permanecerá no ledo engano neurotizante.

Sejam quais forem as análises e tratamentos que busque, toda


vez que enfrente o grupo social fugirá para o disfarce, para o uso da
persona.

A identificação dos objetivos da vida faculta os estímulos para o


prosseguimento da busca de autenticidade, de realização. Sabe que o
corpo é indumentária transitória e com esse conhecimento descortina o
futuro, para o qual segue com firmeza.

Adquire confiança em si mesmo e no porvir, passando a


antecipá-lo desde agora, usando o bom ânimo, a coragem na luta, o
sorriso de bem-estar.

Passa a ter a inteireza moral de não valorizar em demasia as


pequenas ocorrências, os insucessos aparente-se ri de si mesmo com
otimismo, enfrentando os obstáculos com os estímulos que o levam a
transpô-los.

Certamente que, ao retirar o personalismo dos seus atos e a


dissimulação do seu comportamento alienante, não pretende chocar ou
agredir as demais pessoas.

Somente deseja ser íntegro, jovial, vulnerável, apresentando-se


como pessoa, que busca outras pessoas em relacionamento social
saudável, enriquecedor, pleno de esperanças.

Toma Jesus como o seu psicoterapeuta ideal e deixa que brilhe a


luz nele escondida, com o que se torna livre e sadio.
249

Desperte e Seja feliz página 15

No processo da evolução, cada Espírito desenvolve, etapa a etapa,


determinados valores que lhes são inatos.

Em uma oportunidade aprimora a inteligência, noutra o


sentimento, mais adiante a aptidão artística, buscando a perfeição, que
sintetiza a aquisição de todos os bens intelecto-morais.

Afligindo-se, não poucas vezes, por constatar as dificuldades que


defronta impedindo-lhe o avanço, estaciona, desanima ou rebela-se.

A jornada é atraente, e a conquista das vitórias dá-se mediante o


investimento dos melhores esforços, do interesse e do empenho para
consegui-las.

Toda aquisição é resultado de afanoso trabalho.

A plenitude, por isso mesmo, é patamar superior que, para ser


conquistada, depende das realizações felizes nas faixas precedentes.

Assim, buscando a harmonia, propõe-te o desafio de prosseguir,


seguindo Jesus, o Modelo Ideal da Humanidade, que te aguarda gentil.

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