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Anais do I Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Floriandpolis, Brasil Nicleo de Pesquisa em = © TRATAMENTO HISTORICO DO PODER LOCAL NO BRASIL E A GESTAO DEMOCRATICA MUNICIPAL Janaina Rigo Santin' RESUMO: ‘A nogio historica de Poder Local no Brasil esta vinculada ao eoronelismo, patrimonialismo ¢ personalismo ro exercicio do poder politico. Porém, em um regime democritico o Poder Local devera ser visto sob outro Angulo, a partir de nogdes de desceniralizagio e participacso popular. Essa visio inverte totalmente a indica com a qual é analisada a categoria do Poder Local, agora paulada na sociedade eivil e nos ‘movimenios sovias € na sua relagio com a sociedade politica. Logo, a problemética da pesquisa parte do seguinte questionamento: sera possivel, em um pais cuja tradigd0 politica esta baseada no paternalism, centralismo e personalismo do poder politico, fomentar valores democritioos a partir de novas nogdes de Poder Local? O método adotado seri o dialético, tendorse como objetivo geral analisar 0 tratamento historico dado & categoria do Poder Local no Brasil ¢ a sua influéneia na condugio do poder politico e na definigto das politicas piiblicas. Intenta-se apresentar 0 Poder Local a partir de uma, perspectiva domocritica, como um novo paradigma de exercicio do poder politico, fundado na emancipagio de uma nova cidadania, rompendo as fronteiras buroeriticas que separam © Estado do cidado e recuperando © controle do cidadio no seu Municipio. Conjugar priticas de democracia participativa a representagao tradicional, em que os cidadiios, agindo de forma conjunta com © poder piblico, passario a ser responsiveis pelo seu destino e pelo destino de toda a soviedade. Palavras-Chave: Coronelismo, Municipio, Poder Local. 1. Consideragdes Iniciais A nogdo histérica de Poder Local no Brasil esté vinculada ao coronelismo, patrimonialismo ¢ personalismo no exercicio do poder politico. Porém, em um regime democritico 0 Poder Local deverd ser visto sob outro Angulo, a partir de nogdes de descentralizagio e participagdo da cidadenia no poder politico. Note-se que essa visto inverte totalmente a dindmica com a qual é analisada a categoria do Poder Local, agora pautado na sociedade civil e nos movimentos sociais e sua relagdo com a sociedade politica. Nesse sentido, num Estado Democratico de Direito © Poder Local apresenta-se como um novo paradigma de exercicio do poder politico, fundado na emancipagao de uma nova cidadania, rompendo as fronteiras burocraticas que separam o Estado do cidadao e recuperando o controle do cidad&io no seu Municipio mediante a reconstrugdo de uma esféra piiblica comunitiria e democritica. Conjugar Priticas de democracia participativa a representagao tradicional, em que os cidaddios, outora em Dircito pela UFPR, Mestre em Direito pela UFSC, Advogada, Professora da Faculdade de Direto e do Mestrado em Histéria da Universidade de Passo Fundo. Artigo produzido para o relatéro final do projeto de pesquisa com financiamento da FAPERGS, ARD processo n. 0516350. 323 Anais do I Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacdo e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolls, Brasil ISSN 1982-4602 agindo de forma conjunta com o poder piiblico, passardo a ser responsiveis pelo seu destino e pelo destino de toda a sociedade. Trata-se de uma tendéncia na gestio piiblica brasileira a positivagio de mecanismos legitimadores da participacio dos cidadaos na gestio da coisa publica, podendo tomnar-se um eficay: instrument de emancipagio da cidadania no controle da atuagio de seus governantes, verificando se estio procedendo de forma responsdvel em sua gestdo, bem como na definigfo conjunta das politicas publicas, a fim de que reflitam realmente os interesses da comunidade que os elegeu. O exereicio da funedo piblica e a administragao do dinheiro piblico tem suscitado amplas discussées, tendo em vista o divéreio entre as necessidades dos cidadios e 0 contetido das decisées sobre o desenvolvimento econémico e social. Muitos sio os investimentos em projetos que necessitam de grande dispéndio de dinheiro piiblico (niio 86 em &mbito nacional, como © projeto nuclear, os investimentos para desenvolvimento da Amaz6nia ¢ tantos outros, mas principalmente em ambito local), mas que no representam os interesses_da sociedade. Muitas so as obras inacabadas ou superfaturadas, que prejudicam a sociedade como um todo ao fazer o contribuinte arcar com as conseqiiéncias da ma geréncia e aplicagdo dos recursos puiblicos. Logo, a categoria do Poder Local mostra-se eficaz como otimizagao da gesto piiblica brasileira, capaz.de aliar democracia representativa com democracia participativa. 2. As histérieas pra 9s politicas coronelistas Estado brasileiro tem o clientelismo como uma pritica politica presente desde 0s tempos coloniais. Constitui-se na troca de favores entre detentores do poder politico e alguns “eleitores”, os quais realizam relagdes particularisticas de trocas de interesses comuns. Ao politico interessa 0 voto, jd o eleitor tem em vistas algum tipo de favor, como emprego, vaga na escola, atendimento médico, bens materiais. Trata-se de uma troca de favores. 324 Anais do II Semindrio Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Floriandpolis, Brasil Mice Pesauliggn 10024502 Uma das caracteristicas do clientelismo € 0 personalismo, em que as relagdes politicas tém natureza eminentemente pessoal, comprometendo 0 interesse piiblico ¢ a istribuigéo social dos recursos do pafs para atender a interesses privatisticos, privilegiando os eleitores que vao trocar seus votos por favores pessoais. A historia demonstra que a prética do coronelismo caminhou junto ao clientelismo © ao personalismo no exereicio do poder politico. © coronel garantia seu poder e dominagto em regides especificas, controlando-as nos trés ambitos de poderes, ‘bem como exercendo grande influéncia nas instituigdes religiosas daquele local. De regra © coronel € figura tradicional na localidade, dominando a todos pelo earisma, poderio econémico, técnico ou intelectual, mas também pelo medo, eis que de regra 0 coronel também detém influéncia nos meios policiais, podendo ser eles proprios ou piiblicos. Assim, recorrese @ violéncia politica para intimidar e manipular a populagdo. Nes palayras de Colussi, © coronelismo, visto como fendmeno politico e social, foi expresso de uma sociedade predominantemente rural e que abrangia a maioria dos municipios brasileiros. © poder privado fortalecia-se em conseqiléneia do isolamento, do atraso econémico e da falta de comunicagio dessas localidades com os centros mais desenvolvidos. O nico contato das populagtes com o aparelho do Estado dava-se em periodos de eleigSes, quando 0 voto significada a possibilidade de obtensio de favores ou de alguma melhoria material (1996, .18). Conforme aponta Colussi, “o dominio do poder local sobre a populagio ocorria no apenas pela influéncia econémica direta do coronel, mas, também, por meio da istribuigdo do poder entre sua parentela, visando a prestagtio de favores” (1996, p. 20- 21). Tratava-se da cooptagdo pelos privados da coisa piblica, priticas eminentemente clientelistas e patrimonialistas. Trata-se de distorg6es inaceitaveis no livre jogo politico, prejudicando o equilibrio ea lisura das disputas eleitorais. Estdio ainda muito presentes na politica brasileira, em especial quando se observa a necesséria alianga com as oligarquias para garantir a eleigdo, em especial na esfera federal. Assim, para Colussi {a questo do munieipalismo no Brasil esteve, portanto, estreitamente ligada & tradigdo coronelista (..) © municipio no era entendido como uma unidade 325 Anais do II Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democra 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 Politico-administrativa prestadora de servigos, mas, sim, como o local onde as, ‘utoridades do centro procuravam 3 votos em perfodos eleitorais. N3o interessava as autoridades estaduais municipios fortes, que pudessem ‘concorrer ou se rebelar contra o situacionismo estadual. Interessava, sim, fortalecer o poder local por intermédio de coronéis comprometidos com 0s acordos politicos e cleitoreiras (1996, p. 17-18). Por sua vez, as municipalidades dependiam também dos favores do governo central, 0 que se conseguiria também a partir do apoio que © coronel da localidade dava a0 governo. Dessa forma, criava-se um circulo vicioso: “municipio fraco precisa do coronel, € © coronel precisa do governo, e, enquanto precisar, apoiaré o partido governante”. Tais priticas iam de encontro a0 fortalecimento e & autonomia das localidades (CINTRA, 1974, p. 88). Assim, ao investigar o desenvolvimento do Poder Local no Brasil tomase imprescindivel remontar a sua evolugio histérica, cuja roupagem sempre foi uma roupagem aliada ao coronelismo, personalismo, patrimonialismo ¢ clientelismo no exercicio do poder politico. Trata-se de praticas ainda hoje presentes nas gestdes piiblicas ras. Nas palavras de Liicia Avelar, se pensarmos em cem anos de politica, em cem anos de Repiblica, © que Pereebemos & que hoje, dos cerca de 5.500 municipios brasileiros, os pios menores predomina a politica tradicional, através dos chefes locais, e a politica clientelistia, personalista, direta. Nos municipios maiores predomina @ politica do ‘rouba mas faz’, ou seja, eu fago com os recursos piiblicos parte do meu tabalho, mas uso esses recursos para continuar a ‘minha dominagao eletoral (2000, p. 71). brasi Logo, observa-se que a pritica clientelista esté presente no processo eleitoral brasileiro até hoje. Nas cleigdes de 2006 para governadores, deputados federais, deputados estaduais, senadores e presidente da Repiiblica, o relatdrio do IBOPE Opinio, fruto de pesquisa encomendada pela Organizagaio Nao-Governamental Transparéncia Brasil e a Unitio Nacional dos Analistas e Técnicos de Finangas e Controle, registrou que mais de 8,3 milhdes de eleitores brasileiros receberam oferta de dinheiro, bens ou vantagens em troca de voto (ABRAMO, 2007). Para combater tais vicios € preciso pensar em novos paradigmas democriticos de exercicio € legitimagzo do poder politico. E esses novos modelos passam 326 ‘Anais do II Seminério Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democrai 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Floriandpolis, Brasil Ms ISSN 1982-4602 necessariamente por uma “reinvengao” do Poder Local, o qual passa a ser analisado a partir das modernas doutrinas demoeraticas. 3. Governo Local e Poder Local A categoria governo local é teorizada em conjunto a questio da descentralizagdo, em oposi¢ao ao governo centralizador. Nas palavras de Ruy Cirne Lima, "descentralizar é pluralizar a autoridade" (1964, p.145): papel do Municipio na historia brasileira variou conforme os regimes politicos adotados. Mas em sua maioria 0 Municipio teve um tratamento subalterno, reduzido a corporagio meramente administrativa, apesar dos textos constitucionais, em grande parte, preverem uma autonomia “formal”. Assim, no Constitucionalismo brasileiro, até a *Realizam-se aqui algumas distingdes teGricas, a partir dos referenciais de Rafvel Bielsa. Hé eentralizagio administrativa € quando o Estado administra diretamente 0s servigos pablicos. Ha deseentralizagio administrativa quando o Estado transfew os servigos piiblicns a entidades autdmomas ow autarquicas, distints do Estado, Por sua vez, no que tange & centralizagéo administrative, esta dividese em centralizagéo burocritica e descentralizagao burocrética. Hd centalizagio burocritica quando 0 Eaado ‘administra os servigos pablicos diretamente, por seus drgios burocriticos centrais; e ha descentralizagéo bburoeritica quando o Estado atribui a érgfos locais certa competéncia, poder decisério ou faculdades disericionérias para tomar iniciativas no que tange & prestagio dos servigos pliblicos, sem necessitar de aprovagio dos érgios cenirais. O autor defende a conveniéncia da descentralizagio buroeritica dos servigos Piblicos no intuito de garantir uma agdo estatal oportuna, imediatae solicita, eapaz de desenvolve-se onde ‘8 nevessidade & sentida, economizando tempo e dinheiro, com uma maior responsabilidade dos fncionérios locais. Afinal, se essa ago provier do centro burocritico seri tardia, inefieaz, custosa e complexa. A descentralizagdo a que refere 0 Poder Local assemelha-se & definigio acima exposada de descentralizapo burocritica, j4 que visa destinar tanto a prestagto dos servigos piiblicos quanto destinago tributiria habil para a concretizaeio dessa descentralizago ao ente mais préximo dos cidadaos, © Muniefpio. Mostrase uma salutar medida de eficiéneia, responsabilidade e também demoeratizago da esti piiblica (BIELSA, 1921, p.10-75). “0 autor situa a temética da descentralizagio no eampo da politica interna dos Estados, sejam estes unitirios ou federados. Assim, poderi haver descentraizac3o politica, manifestagio do individualismo, quando © govemo € restituido aos individuos. F também ha a descentralizagio governamental ou administrativa (que € 0 que interessa para este estudo), a qual se apresenta sob duas modalidades: 2) desconcentragio administrativa - multiplicagio dos drgios de manifestagio da vontade esttal, disseminando a agzo aos Estados-Membros e Muniefpios; b) descentralizagao administrativa propriamente ita distribuigo das fungBes estatais a pessoas juridicas "ad hoc" criadas pelo Estado, porém que com cle nio se confundem. Por exemplo, as bolsas de valores. E salienta o autor que "nem todo 0 érgio de manifestagio da vontade estatal é suscetivel de abrangerse sob a rubrica da descentralizagao administrativa. Descentralizagdo ¢ essencialmente pluralizago de autoridade. Onde nBo se tratar de autoridade estatal, € descabido falarse em descentralizagio, Escapam, pois, aos limites conceituais da escentralizagtio os Bancos que o Estado, como qualquer particular, houver incorporado: as empresas industiais que. como qualquer individuo, o Fsiado houver organizado, Em tais entidades, poder haver ‘rgios de manifesagdo da vontade do Estado, mas 4 vontade do Estado, nesse caso, falta 0 caracteristico do , ou autoridade estatal."— grifo do autor (LIMA, 1964, p.145-148), 37 Anais do Il Seminério Nacional Movimentos Sociais, Participacéo e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil a E ISSN 1982-4602 chegada da Constituigéo Cidada de 1988, 0 municfpio teve reduzida e até extinta sua autonomia ¢ autogovernabilidade, devido a intimeros fatores historicos. ¢ governamentais.* Porém, a partir de 1988, conferiu-se ao Municipio sua caracteristica maior: a autonomia administrativa, politica e financeira, com capacidade tributéria ¢ competéncias cumulativas, suplementares e também exclusivas, delimitadas constitucionalmente. Trata-se de um aspecto essencial do federalismo brasileiro, 0 que o difere do federalismo norte-americano, pois elevou 0 Municipio a categoria de ente federativo, destacando 0 papel da esfera local como estratégia de descentralizagao. Na atribuigéio de competéncias aos entes federativos, a Constituigao Federal de 1988 definiu as competéncias da Unido ¢ dos Estados-Membros, estabelecendo em seu artigo 30, inciso 1, que cabera 20 Municipio legislar sobre matéria de interesse local. Ou seja, 0 principio delimitador das competéncias dos entes federativos € 0 da “predominancia do interesse". Caberio, a partir dai, Unido as matérias e questdes em que 0 interesse geral ¢ nacional & predominante. J4 aos Estados-membros caberdio assuntos de interesse regional e, por fim, aos Municipios atribui-se competéncia as questdes de interesse local (SILVA, 2001, p.476). Entretanto, no entendimento de Leal, ha uma grande discussio por parte da doutrina a respeito da definigaio da expresso "interesse local", a qual delimita o ambito de competéncia privativo dos Municipios. Por classificar-se como um conceito juridico indeterminado, muitos autores polemizam a respeito do alcance da expressio, se hé um critério de exclusividade ou entiio de interesse predominante que ira identificar 0 que fa aprofundamento do assunto ver (SANTIN; FLORES, 2006) “Sobre o federalismo braileio, ver (ROCHA, 1995). No dizer do autor, que faz uma profunda anslise do pensamento de Rui Barbosa, "a nica possibilidade de salvagdo do impétio, no inicio de 1889, era, para RB, a adogdo da dicotomia descentalizagio = democracia, proposia em substituigao a dlcotomia centralizagdo = despotismo, (..) Neste sentido, a concesséo da liberdade (autonomia) administrativa as provincias era a grande exigéncia para a modemizagdo da politica nacional (..) O problema federativo nacional era, entde, oposto do que tinha sido o dos Estados Unidos, pois enquanto na América do Norte estados independentes cederam parte de sua soberania & Unido, no Brasil © govemo central deveria ceder Parte de sua soberania &s provincias" (ROCHA, 1995, p.123). 328 Anais do II Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participaco e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Floriandpolis, Brasil Niicleo de Pesquisa em Movimentos Sociais - NPMS ISSN 1982-4602 interesse local.‘ Leal coloca que, no caso brasileiro, a nogio de interesse local definida no art. 30, 1c. I da Constituigdo Federal de 1988 no se restringe aquele assunto exclusivo do Municipio, mas sim abrange aquele em que predomina o interesse da populacao municipal ou da comunidade local. Define-se para o autor a competéncia municipal pelo critério de predominio do interesse local no assunto em questo.” Ao destacar 0 interesse local como critério definidor das atribuigdes municipais, apesar de poder existir, mediatamente, interesse também dos demais entes federativos, aumenta-se de modo considerével o émbito da atuagdo do Municipio, Nessa diregdo € 0 entendimento de Magalhaes, para quem se deve aplicar a légica do principio da subsidiariedade no federalismo brasileiro, remetendo o maior nimero de atribuigSes estatais possiveis aos entes federados menores. Ha uma ampliagdo da descentralizacao, restando aos Estados-‘membros € 4 Unido apenas as matérias mais complexas, de abrangéncia mais extensa ¢ geral (1999, p. 212). Logo, a partir da Constituigio Federal de 1988 priorizase no Brasil a descentralizagao para unidades administrativas territoriais menores, em fung&o de sua localizagao mais proxima aos cidadaos. Por certo 0 governo local teré melhores condigdes de conhecer as necessidades locais e, a partir disso, destinar recursos para atendé-las (GOHN, 2001, p. 31). Ao adotar modelos descentralizados de gestio publica atribui-se aos entes federativos menores autonomia adminisirativa, politica e financeira, 0 que traz mais eficiéncia, agilidade ¢ responsabilidade & gestéo piblica, com graus maiores de ‘Nesse sentido, José Arlindo Soares e Silvio Caccis-Bava apontam que a Magna Carta de 1988, apesar de clevar os municipios como membros da Federagio, associando descentralizagio & municipalizagio, no define com clareza uma hierarquia nas competéncias dos entes federaivos, o que dificulta a delimitapio precisa das atribuigdes, especialmente na dea social (SOARES; CACCIA-BAVA, 2002. p.151-1S7) "Nesse sentido & a posigao dos doutrinadores brasileiros: (LEAL, 2003. p.86-87); (MELO FILHO, 1999, p. 145); (FERRARI, 1993, p35). 329 Anais do Il Seminério Nacional Movimentos Sociais, Participaco e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil Nicleo de Pesquisa em = ISSN 1982-4602 comprometimento das esferas administrativas privilegiadas com a descentralizagdo. Esse Mecanismo, embora de maior complexidade no que tange estrutura administrativa, permite "a simplificagdo ¢ a aceleragdo dos procedimentos ¢ decisdes administrativas" (MAGALHAES, 1999, p. 46-47). Afinal, decisdes tomadas por estruturas descentralizatlas € aut6nomas permitem a identificagio da Administragdio Publica com a pessoa do servidor piiblico, capaz de decidir ou resolver o problema do administrado, Aproximese, com isso, © Estaclo do cidadao, aumentando a sensibilidade dos poderes estatais as "necessidades, ‘expectativas e comandos da populagao" (MAGALHAES, 1999, p. 46-47). A descentraliza;o aproxima os administrados do poder estatal, possitilitando um maior controle social das decisdes administrativas e uma sensibilizagao das institiigdes politicas as necessidades daquelas comunidades." E 0 melhor caminho para democratizagdo estatal, criando no espago municipal estruturas de permanente participagao da populagio no exercicio do poder, direcionando de modo permanente e continuo a atuagio dos gestores puiblicos (MAGALHAES, 1999, p. 218). Portanto, tratar de governo local assemelha-se a tratar de descertralizazao politica e autoncmia local? num enfoque governo local versus govern central ou centralizagto, Jia conceituagtio de Poder Local mostra-se mais abrangente que a de governo io quanto algo mi amplo, como uma local. Poder Local pode abranger tanto o Munici regio; ou ainda algo mais restrito, como um bairro ou vila, Seu cardter € mais No que tange A discussto entre competéncia municipal, atribuigdes aos municipios repartigdo de tributos Para garantirarrecadagio que possibilite a implantario de servigos pablicos, relevante a anise de Urbano Vitalino de Melo Filho. "Nao obstante 2 louvével intengio do legislador consttuinte de transterir a Drestagio de determinados servigos para o Municipio, que, em ultima andlise, é 0 ente politico mais proximo do cidadlo e conhecedor das realidades e nevessidades locais, é de se verifiear que no houve de ‘maneira idéntica transferéncia de recursos correspondentes destinadas ao atendimento dos mesmos servigos, © que esté levando os Municipios @ situagdes financeiras melindrosas. De igual sorte, houve ‘também a transferéncia a0 Municipio de responsabilidades nas freas de saide e trinsito, acarretando-ihe gastos inesperados" (MELO FILHO, 1998, p. 154). “Nas palavras de Ferrari, "pelo principio da autonomia, as comunidades federadas tém capacidade de gerir seus priprios negécios, de eciter suas pripriss leis e, 0 que & mais importante, de elaborar sua propria Consttuigo, tendb por limite a Constituigio Federal” (1993, p.29). Para o Municipio, uma das maiores expresses de sua ssutonomia o diteto de elaborar sua Lei Orgarica Municipal tida como a Consftuigio de cada Municipio. 330 Anais do II Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacdo e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 sociolégico, em contraponto & nogio de governo local, que tem um enfoque mais préximo do Direito Administrativo ou Constitucional. Nesse sentido, Gohn afirma que, a partir dos anos 90 0 Poder Local passou a ser identificado nfo somente com a sede lades ou politico-administrativa do governo municipal, ou seja, as sedes urbanas, Mut florescentes, desenvolvidas em especial por redes societérias, unindo uma jos, mas também com as formas de participagao e organizagées populares jenso inclusive, com sociolégica aquela geogréfice-espacial. Alguns 0 identifica, empowerment, capacitando a comunidade, em conjunto com poder piblico, a produzit politicas auto-sustentiveis de desenvolvimento em Ambito local (GOHN, 2001, p. 34- 35) Na reflexiio de Fischer ¢ Carvalho, é inegével na nogio de local o fundamento territorial, caracterizado pelo ambito espacial delimitado, o qual poder ser uma base, territ6rio, regidio etc. Porém, nio esté resumida ao espago geogrifico, podendo também ser caracterizada como "espago abstrato de relagdes sociais", indicando interagdo entre movimentos ou grupos sociais articulados em torno de interesses comuns. Por certo, & preciso ter em mente a nogdo de "poder enquanto relagSes de forgas, por meio das quais se processam as aliangas © os confrontos entre atores sociais, bem como ao coneeito de espago delimitado © & formagao de identidades priticas politicas especificas" (1993, p.153-154). Coneluem 0s autores que o Poder Local é uma interago entre redes soc instituigdes locais, Estado e sociedade-ci Tepresentagtio € negociagtio dos interesses das comunidades urbanas. Falando em local ‘sualiza-se o "conjunto de redes sociais que se articulam ¢ superpéem, em cooperagio ou conflito, em torno de interesses, recursos € valores, em um espago cujo contorno definido pela configuragao desse conjunto" (FISCHER; CARVALHO, 1993, p. 154). 0 Poder Local desenvolve-se a partir de uma coaliziio de forgas estatais e da sociedade civil, em ambito local, implementando uma gesto compartilhada na decisaio "© A palavra empowerment quer dizer aulorizayao. Deriva da palavra empower, a qual significa “autorizar, dar poderes ou procuraco, capacitar, permitir, abilitar. Nesta feta, pode caracterizar 0 poder ou sutoridade que se di alguém para fazer elguma coisa ou controlar @ vida dos outros ou a.sua propria vida, (MICHAELIS, 2000, p.228), 331 Anais do II Seminrio Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 dos problemas locais, articulando-se elementos do governo local com os da sociedade civil. Um sistema hibrido de tomada de decisées, capaz. de inserir novos atores sociais existentes na esfera local, como organizagdes néo-governamentais, movimentos sociais & também entidades privadas, os quais celebrario parcerias com 0 poder piiblico no desenvolvimento de projetos € investimentos locais ¢ também na tomada das decisdes sobre politicas publicas locais. 4. 0 Poder Local: novo paradigma de legitimagao do poder politico Conforme aponta Bobbio, a palavra democracia, na antigtlidade, era completamente diferente do que se tem agora, assentada numa visto liberal e individualista da sociedade. Significava literalmente “o poder do démos, ¢ no, como hoje, poder dos representantes do démos.” (BOBBIO, 2002, p. 372). A liberdade democritica 6 autonomia, que corresponde a uma liberdade positiva, Segundo esse entendimento, devem os governantes tomar suas decisdes as claras, permitindo que os ‘governados vejam como e onde as tomam. Sem transparéncia democritica ¢ visibilidade no poder nenhum controle do poder é possivel. Assim, “a democracia do futuro goza do mesmo juizo de valor positive da democracia dos modernos, embora retornando em parte, através da ampliagao dos espagos da democracia direta.” (BOBBIO, 2002, p. 382). Dowbor (1994), Genro e Souza (1997) apontam como a necessidade da inauguragao de uma nova ética para a anslise do Poder Local, tide agora como um novo paradigma no campo politico, capaz de criar altemnativas as formas de representagao tradicionais, em que os préprios individuos, mediante sua patticipagto politica ativa dentro de seu muni jo, passam a se tomar responsdveis, juntamente com o Poder Piiblico, pelo destino de suas vidas e de sua comunidade. Processos de gestdio democratica consciente ¢ ativa, capazes de recuperar a cidadania através do espago local, reconstituindo os espagos comunitérios. Centros de reprodugao de identidades fora do Estado, mas legitimados por ele, os quais desencadeiam um process de combinagiio € 332 Anais do I Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 articulago permanente entre a democracia direta de participagio voluntaria dos eidadios ¢ a democracia representativa."' E a inaugurago de um novo modelo de gestio publica, fundado na emancipagiio de uma nova cidadania, na emergéncia de uma sociedade civil organizada e atuante, a0 lado do Poder Publico, capaz de controlar a gestao piblica, Busca-se, por meio do Poder Local, veriticar se os governantes esto procedendo de forma responsivel na condugao da coisa piiblica, estando as suas decisdes afinadas aos interesses da comunidade que os clegeu. Impor a0 Estado, pela participagiio dos individuos, 0 devido controle democritico, no sentido de fazé-lo cumprir com suas obrigagdes para com todos, sem distingdes ou favoritismos, bem como administrar com responsabilidade 0 dinheiro PAblico, combatendo a corrupsao, as priticas clientelistas e personalistas. Dessa forina, 0 Poder Local, analisado a partir de nogdes democraticas, apresenta- se como uma altemnativa em que os préprios individuos, mediante a participagao politica ativa dentro do seu municipio ou comunidade, participam da definisao da aplicagao dos recursos piblicos. Trata-se da elevagao da categoria sociol6gica do poder local para 0 Ambito juridico e politico brasileiro, aliando a descentralizagao com a participagzio popular no exereicio do poder politico, inaugurando uma forma mais democritica de gestilo pliblica, aliada aos principais objetivos da Constituisao Federal e do Estado Democritico de Direito brasileiro. A concretizagio do Poder Local como paradigma de boa gestao publica nao é .) Na Suécia, 0 cidadaio pa de quatro organizagSes comunitéirias Na Venezuela, surgiu com forga o movimento de novidade em ambito mundial. Por exemplo, pa, em média, vecinos. Na Colémbia, generalizowse a organizagio comunitéria nas veredas" (DOWBOR, 1994, p. 24-25). Na Bol 1994, mediante Lei de Participagéo Popular Lei de Descentralizardo Administrativa, Por sua vez, 0 processo de participaco popular, iniciado em muda a substéncia da concepgdo do poder estatal, as nogdes € priticas da gesttio municipal © 0 exercicio da democracia em Ambito local. Elabora-se uma articulagdo dialética entre a sociedade civil e 0 governo municipal, permitindo a participacdo efetiva dos cidadtios na Para um aprofundamento de nogdes sobre cidadania ver (SANTIN; SOLIMAN, 2003), 333 Anais do II Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacdo e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 gestdo pliblica. Rompe-se com o modelo de desenvolvimento paternalista e centralizader de atribuir ao Estado a responsabilidade total em resolver os problemas dos individuos, para reconhecer a idéia de que um Estado que devolve & comunidade o poder de decidir sobre seu futuro, facilitando a cidadania, fortalece-se a si mesmo. Quanto mais responsabilidades e recursos sio transferidos aos Municipios, maiores serio, também, os beneficios para toda a comunidade e a reciprocidade desta para com ele (MOLINA et al, 1996, p. 5,28 € 201) ‘Também é peculiar 0 processo de descentralizayio aplicado em Barcelona, na Espanha, Borja comenta que "a descentralizapao, do ponto de vista téenico, é um proceso muito complicado se ndo se quer criar um caos € aumentar os custos consideravelmente” (1993, p. 125). Numa primeira mirada, a tematica da participagdo nao interessante, pois até 0 momento em que "nao forem criadas, numa cidade de quase 2 mithdes de habitantes, estruturas descentralizalas eficientes, pareceme que & querer enganar as pessoas, estar a delinear grandes projetos de participagdo" (BORJA, 1993, p. 125). E, portanto, um projeto gradual, que vai se consolidando com o tempo na cultura ¢ nas tradigdes politicas ¢ sociais daquele povo. A partir daf, © processo de descentralizagaio e participagao popular passa a fazer parte da ideologia das tradigdes e do consenso, aceito por todos os cidados. Foi o que ocorreu na Espanha, pais em que hoje no hé ninguém que ouse manifestar-se contra a democracia nem, tampouco, contra as autonomias conquistadas pelo povo espanhol (BORIA, 1993, p. 127). Por ser mais préximo do cidadiio, 0 Poder Local é mais factivel de ser democratizado e de oportunizar uma maior participagio da comunidade. Nas palavras de Genro e de Souza, [As solugies ‘navionais! ~ normalmente planejades por buroeratas que no vivem © cotidiano da populagso — so cada. vez mais impotentes. Os socidlogos, economistas ¢ demais eientstas sociais aprofundaram nas cities décadas 0s estudos sobre 0 novo papel das cidades no novo contexto mundial, Este esfargo é também necessirio para reconstruir 0 Estado nacional, no somente a partir de cima’, mas também a partir ‘de baixo', ou sej a partir de tum novo tipo de descentralizagio e de novos processos de democratiza¢a0, que possam ser experimentados, fundidos ao cotidiano da pepulao (1997, p. 10. 34 Anais do Il Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 Mediante 0 espaco local sao produzidas identidades préprias a pluralidade de sujeitos,” criando um centro de poder politico paralelo ao estatal — um espago auténomo, gestionado pela sociedade civil, numa nova relagiio desta com o Estado ~ ¢ estabelecendo uma tensio permanente e deliberada com o governo da representago. Transitam, nesses centros de poder, interesses diversificados dos varios setores da sociedade, os quais so contrastados uns com os outros; sio, portanto, negociados e legitimados. Aplicando a Teoria da Ago Comunicativa de Jiirgen Habermas ao presente estudo, com a participagio ativa da populagio na gesto da maquina piblica estar-se-d inserindo mecanismos de racionalidade comunicativa dentro do mundo sistémico estatal, dominado por uma racionalidade instrumental. Habermas busca resgatar 0 potencial emancipatdrio da razo comunicativa — fundada na linguagem ¢ na busca do consenso entre os individuos, por intermédio do didlogo — encontrada na esfera cotidiana do “mundo da vida”, Para ele, é necessario fazer cessar a “reificagao” e a “colonizagio” exercidas pelo “sistema” sobre o “mundo da vida”, mediante a légica dialogal da agao comunicativa (Habermas, 1987). E os mecanismos de gestio democritica e de transparéneia inseridos na proposta democritica do Poder Local, capazes de conjugar instituigdes politicas representativas tradicionais_e instituigdes — democriiticas participativas, piblicas ¢ ndo-estatais, vao ao encontro da proposta habermasiana."* interessante agui a defesa que Boaventura de Souza Santos faz do reconhecimento da subjetividade dos individuos, pega fundamental para cidadania.Afinal, nfo bastam apenas lutas para garantr direitos politicos ‘mas sim lutar contra as modalidades de opressio que prejudicam 0 reconhecimerto das subjetiviades pessoais-eculturais. E preciso, para o autor: a) uma nova teoria da democracia, capaz de reconstruir 0 conceito de cidadanias b) uma nova teria da subjetividade, capaz de reonstruro papel e 0 conceito de sueito;c) uma nova teora da emancipagSo, que ¢ efeto das duas anteriores aplicadas para atransformayo da prticasocial, valorizand>'se, por fim, o principio da comunidade, a idéia de autonomia ¢ de solidariedade (SOUZA SANTOS, 2001, p.235-280). O autor, em outra obra, visa a construgSo paradigmaétca de um tipo de subjetividade individual © coletiva capaz de explora’ as possbildades emancipatirias da ta epistemolégica e societal observada neste limiar do séeulo XXI. A subjetividade emergente & assim caracteriada: "por um lado, tem de se conhecer a si mesma © ao mundo através do conhecimento- emancipacio, recorrendo uma retirica dialgic € & uma logica emancipatGra; por outo lado, trem de ser capaz de conceber e desejar alternativas socials assentesna transforms das relagdes de poder em relagdes de autoridade partihada ena tansformagao das ordens jurdicas despdticas em ordensjuridicas democriticas, Em suma, hé que inventar uma subjectiviclade consttuida pelo tapas de um conheeimento prudent para uma Vida decente" (SOUZA SANTOS, 2000, p344-345). ara aprofundamento do assunto ver (SANTIN, 2005); (SANTIN, 2003). 335 Anais do II Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacdo e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Fioriandpolis, Brasil Niicleo de Pesquisa em Movimentos Sociais - NPMS. ISSN 1982-4602 5. Consideragdes Finais Atualmente, quase a totalidade dos paises mundiais afirma-se democritica. O conceito de democracia é uma construgdo hist6rica, advinda de tentativas de acerto, prova € erro, relacionada com o destino das sociedades ¢ de suas organizagSes politicas. Por certo, nao se pode prescindir num regime democritico da vinculacao a soberania popular © a0 reconhecimento de direitos fundamentais aos seus cidadios, Dessa maneira, a democracia necesita da participagtio dos cidadaos, detentores origindrios do poder politico, Sem diivida, ¢ impossivel & democracia prescindir da representago ante a magnitude complexidade dos Estados contempordneos, de todo diferentes das polis gregas. As eleigdes so fundamentais para a democracia, como um procedimento instrumental da expresso da confianga popular em seus representantes. Entretanto, nao absorvem a plenitude democritica, a qual deve ser mantida viva durante toda a gestio piblica do eleito, como o impulso que vivifica e anima sua atuagdo. Assim, no se pode resumir a democracia apenas no poder do povo em eleger seus representantes de quatro em quatro anos. Essa concepgao favorece o desinteresse sistematico dos administrados pela vida politica, a apatia, a abstenedo, a resignagdo ante a corrupgao, a falta de confianga nos governantes ¢ a abdicagao da participagdio na vida piiblica, fatores que corrocm o ideal democrético. Essa visualizagao formal da 20 poder do Estado. Um discurso democracia esvazia seu escopo de pritica de resistén: destinado a oferecer a seguranga que afasta toda a possibilidade de interrogagao, terpretagdo € questionamento sobre as instituigdes estatais e a maneira como se dao as gest0es piblicas. Tal maneira de encarar a democracia nao € nada mais que um totalitarismo masearado, um modelo com poucas oportunidades de priticas de resisténcia € de criatividade, destinado a uniformizagao do pensamento e 4 desmobilizagtio dos cidadaos. AA falta de confianga do povo na classe politica é a expressiio desse sentimento de alienagao do poder de participar da gestao da coisa piblica, que ndo ¢ mais vista como ‘questéo da cidadania, mas dos préprios titulares da gestdo, os quais se apropriam dela e 336 Anais do II Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil Nicleo de Pesquisa em Movimentos Sociais - NPMS ISSN 1982-4602 de seus fins, numa ruptura com a legitimidade do exereicio politico. O povo precisa sentit-se como 0 verdadeiro titular do poder ¢ acreditar que seus interesses deverdo ser os Xinicos objetivos dos governantes, como professa o ideal democratico. Com a conjugagao de instituigdes politicas representativas tradicionais com instituigdes demoeriticas participativas, piiblicas e ndo estatais, resgatar-se-d o potencial ‘emancipatério da raziio comunicativa encontrada na esfera cotidiana do mundo da vida, combatendo a reificagao © a colonizagao exercidas pelo sistema. Possibilita-se, mesmo em sociedades complexas, a busca do consenso em audiéncias piblicas que respeitem a alteridade, em que os individuos participam do discurso em iguais condigdes ¢ livres de quaisquer coagdes ou manipulagdes. A reflexiio em tomo do tema da participagdo popular local esta na ordem do dia, vinculando-se processos de descentralizacao politico-administrativa com a ampliacao dos mecanismos participativos na gestio municipal. Busca-se, com esse novo paradigma de orientagdo politica, ampliar as garantias da cidadania, otimizar ¢ tomar mais eficiente a atuagio dos gestores piiblicos, combatendo a corrupeao, a malversagao das verbas pal brasileira, iS € as priticas clientelistas © patrimonialistas, to presentes na histéria politica Assim, as condigées requeridas para dar sustento ao Poder Local © & participagao popular incluem aprimoramento das instituigdes de educagdo com vistas a desenvolver préticas encorajadoras das pessoas a deliberarem sobre politica. Pois participagdo sem uma educagiio que desenvolva a capacidade de autonomia, discernimento e visto critica da populagao poderd facilmente tornar © povo presa facil das militéncias organizadas, patrimonialistas © ideoldgicas, legitimando oportunistas carisméticos. Urge que se faga no Brasil uma revolugao cultural, a ser atingida mediante 0 processo educativo, com a incluso dentre as suas metas do desenvolvimento da pessoa como um cidadao. Trata-se de um processo longo e dificil, j4 que o Brasil € um pais de cultura participativa recente e, por que nao dizer, incipiente. A transformagao do grau de conscientizagdo das pessoas é lenta, mas ndo deve ser subestimada. Anais do Il Seminario Nacional Movimentos Sociais, Participacao e Democracia 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianépolis, Brasil ISSN 1982-4602 Nio € 0 cidaddo que esta a servigo do Estado, mas o Estado que deve servir a0 cidadio. Mas tal exigéneia s6 se realiza se houver uma cidadania atuante ¢ organizada sob processos de gestio democrética. Dessa forma, o Estado a méquina administrativa serio tdo titeis ¢ eficazes quanto for qualitativa a cidadania organizada que os sustentam. 6. Referéncias Bibliograficas: ABRAMO, Cléudio Weber. Compra de Votos nas Elei es de 2006: corrupgiio € desempenho administrativo. Disponivel em: http://www. transparencia.org.br/docs/eompravotes2006,pdf. Acesso em 26 mar. 2007. AVELAR, Liicia, Entrevista. 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