Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
MANUAL DO
PROFESSOR
ESTA CARTILHA ESTÁ SENDO DISTRIBUÍDA PARA TODOS OS
PROFESSORES DO BLOG SOS PROFESSOR
A
Se pudéssemos classificar as qualidades humanas que nos permitiram vencer
Chegamos até aqui porque soubemos nos adaptar aos mais diferentes hábitats.
Como Darwin afirmou: “Apenas os mais ágeis e aptos sobrevivem e vencem,
não necessariamente os mais fortes.”
Ao enfrentar o desafio de se tornar o mais ágil e apto de sua espécie, você dei-
xará para trás velhos padrões e, conseqüentemente, se destacará em seu meio.
Enfim, conseguirá se sobressair não apenas como educador, mas, sim, como um
verdadeiro mestre nota 10.
2
3
ATITUDE
PREPARANDO-SE PARA O SUCESSO
Duas vizinhas, amigas de infância, mesma idade. Freqüenta- ços, tornando seu perfil diversificado para conseguir compor
ram a mesma escola, tiveram os primeiros namoradinhos mais a tão sonhada aula-espetáculo. E este material vem ajudá-lo
ou menos na mesma época, vestibular no mesmo ano, forma- nessa tarefa. A seguir, identificamos as qualidades necessá-
ram-se professoras juntas. Após alguns anos, uma é a preferi- rias para seu sucesso e damos diversas orientações de como
da dos alunos, ganha bem. A outra... é apenas mais uma. cultivá-las.
Ao entrar em sala sua postura tem de ser persuasiva, criativa, A maioria dessas qualidades podem ser encontradas em gran-
motivadora e de liderança, características, essas, essenciais e des comunicadores. Não seria fantástico levar toda a criati-
que devem ser trabalhadas para se alcançar o sucesso profis- vidade que Serginho Groisman implantou em seu programa 4
sional e de suas aulas. para sua classe? Ou fazer um superplanejamento de aula,
assim como Marília Gabriela faz, antecipadamente, com suas
Portanto, assim como um prédio precisa ter alicerces sólidos entrevistas?
para sustentar a construção, você deve desenvolver esses tra-
Todos estes grandes profissionais de comunicação possuem logo foi convidado a integrar a equipe de profissionais do
características importantíssimas que o ajudarão, e muito, a SBT e em 1999 foi chamado pela Globo.
se tornar um professor nota 10. Quem mais indicado para
você se espelhar do que estes excelentes apresentadores? Você pode estar se perguntando: “O que eu tenho a ver com
Faça como eles e transforme a sala de aula em seu palco – e ele?” É simples. Assim como Groisman, o educador deve ter
brilhe! Entretanto, acompanhe alguns detalhes que você deve criatividade e bolar algo novo, que desperte a atenção de seu
aprimorar antes de se tornar um superprofessor. público (alunos), aumentando sua audiência.
Pequeno Manual do Professor
A criatividade, de acordo com o consultor em Desenvolvi- Cabe a você não deixar que isso aconteça. É seu dever evitar
mento Humano e palestrante Rubens Queiroz de Almeida, diz que eles dispersem e mudem o foco de interesse. As novelas
respeito a criar coisas novas ou descobrir maneiras diferentes têm uma lição a ensinar sobre isso. Caso os índices de retorno
de fazer tarefas antigas. Reinventar. E é essa a grande ques- apresentem baixa resposta ocorre, de imediato, uma mudança
tão! na “casa”. Os responsáveis pela programação correm contra
o tempo e tentam diminuir o prejuízo mudando o diretor da
O professor, assim como a borboleta, precisa deixar seu ca- novela. Afinal, que outro tipo de atitude eles teriam? Mudar a
sulo e se reinventar. Dar mais cor e movimento a suas aulas. audiência está fora de questão, então, a resposta é reinventar e
Pode ser uma forma diferente de se vestir, um elemento novo mudar algumas peças do tabuleiro!
na sala de aula ou, ainda, uma maneira diversificada de intera-
gir com os alunos. Portanto, encare isso como um alerta. Se a turma começar a
demonstrar um baixo desempenho, de quem você acha que o
5 Veja o exemplo do apresentador Serginho Groisman. Quando diretor irá cobrar uma posição? Do professor ou da classe?
trabalhava para a TV Cultura, no programa Matéria Prima,
ele inventou um novo formato em que a platéia participava Já que sua “audiência” detém todo esse poder e está sedenta
ativamente das discussões. A inovação agradou tanto que ele por novidades, adapte-se. Leve ousadia para a sala. Ousadia
ao experimentar uma linguagem diferenciada de ensino, ou- Força da juventude
sadia ao buscar mais interação de seus estudantes durante as
explicações, ousadia ao levantar assuntos polêmicos, estimu- O fato de a criatividade ser cada vez mais exigida no mercado
lando a discussão e a criação de novas idéias. já é um motivo mais do que suficiente para você desenvolver
a sua, mas o professor tem uma razão a mais: alunos são o
Porém, tenha a consciência de que o sucesso dessas ações não maior depósito de energia criativa que se conhece.
acontecem do dia para a noite e exigem que você, educador,
abandone a zona de conforto. Imagine se Groisman tives- Gilda Lück, professora do Colégio Dom Bosco de Curitiba, e
Adivinhação. Reserve cinco minutos da sua aula para Quando falamos de ensino, um dos fatores mais importantes é
um jogo de adivinhação. Além de resolver problemas de a motivação de seus alunos. Ou seja, além de ensinar criativa-
indisciplina, aquece a mente do aluno para a observação e mente, é preciso que eles queiram aprender.
criação.
Conseguir isso é uma tarefa que qualquer professor almeja.
Relaxamento. Mentalizar por alguns minutos situações Hoje você se espanta com o fato de seus alunos decorarem o
tranqüilas, como andar em um bosque, escutar o barulho do nome de mais de 150 personagens de video games japone-
mar ou banhar-se em uma cachoeira, preparam o intelecto ses. Mas faça um teste: procure um colega mais experiente e
das pessoas para a criação. pergunte sobre a escalação do Santos de 1962. Ele, provavel-
mente, vai tê-la na ponta da língua. Agora, faça uma pergunta
Atividades artísticas. Enriqueça sua aula com música, escolar que não tenha a ver com a matéria dele, por exemplo,
esculturas, dobraduras, formação de figuras de papel e de se ele leciona Química, pergunte sobre Geografia. Mudam
novas palavras através da composição de formas geomé- os personagens, mudam as modas entre os alunos, porém,
tricas. dificilmente o interesse pelo estudo sai do final da fila das
prioridades dos estudantes.
Jogo de log. Essa é uma técnica mais conhecida nos Esta-
07 Dificilmente, então, pode-se jogar toda a responsabilidade de
dos Unidos e Europa. Funciona assim: um pouco antes de
10 estudantes desmotivados na força atual da mídia. Tampouco
terminar sua aula, peça para um aluno escrever tudo o que
assimilou. Com isso, é possível observar as peculiaridades adianta transferir a culpa para o governo, a sociedade ou aos
pais.
Quando se fala em motivação de alunos, existem duas certe- uma boa surpresa, de uma aula animada, com um professor
zas básicas: você não motiva ninguém e grande parte de suas motivado e que incentiva seus estudantes.
ações em sala de aula influenciam a motivação de seus alunos
(para melhor ou pior). Vale tudo nessa hora! Chacrinha começou uma brincadeira de
jogar bacalhau nas pessoas. Sua intenção: divertir e chamar
Essas afirmações podem parecer conflitantes, mas não são. A a atenção da audiência. Claro que você não irá jogar comida
motivação é algo que depende da vontade de cada um. É um nos estudantes, mas a idéia é brincar, inovar e deixar seus
processo íntimo e individual. O que você pode fazer é criar o alunos curiosos, com vontade de ir para as aulas e descobrir a
Se lembrarmos dos grandes comunicadores que teriam Segundo a professora e escritora norte-americana Barbara
essa característica, com certeza, citaríamos como exemplo McCombs, “os alunos sentem e reagem a todos os aspectos
José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha. O Velho de um professor: quem são, como falam, o quão confortáveis
Guerreiro, com todo seu bom humor e alegria, conquistou eles se sentem em sala de aula”. Ou seja, quanto mais estímu-
um público fiel, e até hoje é lembrado por seu carisma. Claro los positivos os estudantes encontrarem, melhor se identifica-
que, além do profissionalismo, era inegável que o apresen- rão com você e com a matéria.
tador desempenhava sua função com prazer. Sua motivação
em fazer o trabalho contagiava todos à sua volta, inclusive os Você quer mais motivos para começar a adaptar sua postura e
espectadores. sua forma de se comunicar com a classe? E lembre-se de uma
grande dica que o Velho Guerreiro nos deixou: “Quem não se
E é exatamente isso que você, professor, deve fazer se quiser comunica, se trumbica!”
motivar sua turma. Quem não gostaria de, assim como Cha-
crinha, ser lembrado por muitos e muitos anos?
O que motiva seu aluno?
Essa postura diferenciada se transforma em um ingrediente
a mais. Aproxime e encante seus alunos que são nada mais, A motivação de um aluno passa naturalmente pelo desejo dele 08
nada menos, que seu público. Um público que está sentado em aprender o que está sendo mostrado. E aí está a chave para
ali a sua frente, esperando ser surpreendido e aprender o a solução do problema. Por trás do desejo – ou da falta dele
conteúdo de uma maneira não convencional. Todos gostam de – de aprender algo estão vários motivos, experiências pas-
sadas e expectativas futuras. E, mesmo que você tenha dois motivá-los. Ninguém pode motivar outra pessoa. O máximo
estudantes com exatamente o mesmo grau de concentração, a que alguém pode fazer é criar um ambiente propício para que
razão para eles prestarem atenção varia. os alunos automotivem-se. Eles aprenderão o que você espera
que eles aprendam. E você pode mostrar o que espera deles de
Alguns são internamente motivados. Gostam de estudar por- várias maneiras.
que sabem que é para seu bem e gostam da sensação que as
descobertas produzem. Para outros, a recompensa é externa. Práticas
Eles estudam para obter alguma coisa, uma recompensa, ou
1 Sala de aula
Pequeno Manual do Professor
- Varie o nível de dificuldade. Há sempre aqueles que - Faça com que se concentrem no que estão fazendo. No
demoram um pouco mais para entender o assunto. Um aprendizado. O medo de reprovar desvia a atenção, parali-
exercício ou pergunta mais fácil não prejudica os mais sa seus alunos.
adiantados e permite que os outros cheguem ao mesmo
10
nível. - Faça com que eles voltem a se interessar pelo que é
aprendido. E uma forma segura de fazer isso é através do
- Contextualize. Sempre que possível, ligue o que você está humor. A História, por exemplo, está cheia de passagens
engraçadas, as quais podem ser usadas em outras maté-
rias. Quer coisa melhor para fixar as conversões de pesos
PERSUASÃO
e medidas do que contar a história do surgimento da O PODER DO CONVENCIMENTO
escala Fahrenheit?
- Ensiná-los a estudar. Técnicas de memorização, horários O que você entende por persuasão? Segundo o dicionário Au-
rígidos, alimentação, como destacar os pontos importan- rélio, o ato de persuadir compreende “levar a crer ou aceitar”.
tes, prestar atenção na aula. Tudo isso faz uma diferença É um processo sutil, no qual vários fatores como aspectos
Pequeno Manual do Professor
enorme à medida que eles vejam que falharam em um culturais, credibilidade do interlocutor, gestos e linguagem
teste não por incompetência, mas porque não estavam empregada, influenciam a outra parte.
fazendo a coisa certa.
Dominando suas regras e sabendo empregá-las de maneira
- Fazer com que entendam que tudo é um investimento. eficiente, a persuasão se transforma em uma característica
Ficar pensando em passar de ano, em fazer o vestibular, é imprescindível para que você transforme sua aula em algo
perda de tempo. Eles devem pensar no que são bons, no fantástico e sua sala em um palco iluminado.
que gostam, e se esforçar para tirar da escola o máximo
possível. Só assim poderão realizar todas as suas possibi- E falando em brilho, nada mais justo do que pegarmos como
lidades. referência para essa qualidade o versátil Arnaldo Jabor. Ele
esteve ligado a esse mundo do show, do espetáculo, antes de
entrar para o jornalismo. Foi técnico de som, crítico de teatro,
escreveu roteiros e dirigiu filmes. Em 1991, deixou os palcos
4 Controle
Deixe que eles assumam o controle da própria aprendi-
zagem. Ou seja, abuse das perguntas e consultas à sua turma,
para investir em sua carreira de comunicador.
deixando que eles escolham e opinem sobre assuntos como Essa vivência que o ambiente teatral e cinematográfico pro-
datas de prova, visitas, formação de equipes de trabalho, porcionou a Jabor contribuiu diretamente para a formação de
11 entre outras. Quanto mais sentirem que a voz deles, e a opi- uma de suas características marcantes, tanto na TV quanto em
4 nião, é ouvida, mais eles se interessarão pelo estudo. seus artigos: ele não se limita apenas a passar o recado, ele
incorpora o texto, coloca emoção em suas palavras e faz dos
assuntos geralmente complicados, temas interessantes e claros do público, que no seu caso são os estudantes.
num piscar de olhos.
Então, como você vai persuadi-los sem entender o que lhes
Ao vê-lo “em cena”, percebemos o quanto suas atitudes e chama a atenção ou o que consideram importante para suas
seu discurso são persuasivos, chamam a atenção do público e vidas? Sem esse feedback é complicado adaptar sua mensa-
cativam os telespectadores e leitores a buscarem mais infor- gem e também sua postura para obter bons resultados.
mações sobre o assunto tratado.
Práticas
E você, professor, não gostaria de incorporar essa caracte- - Faça das metáforas e exemplos práticos grandes aliados
rística? Persuadir seus estudantes a participarem mais das no momento de ensinar termos difíceis. Por exemplo, para
aulas ou ainda absorverem o conteúdo necessário para sua explicar sobre o tabagismo para aquela turma de adolescen-
formação pedagógica? Para isso, você deve ter paciência e tes que acha que fumar é o máximo, use uma experiência
persistência, pois sem isso fica difícil construir um discurso prática para demonstrar os efeitos negativos que essa droga
que desperte confiança e guie seus estudantes. Afinal, não foi causa ao corpo humano. Será muito mais impactante do que
do dia para a noite que o jornalista acumulou conhecimento você ficar de pé, parado, divagando sobre consequências.
e conseguiu desenvolver um jeito todo especial e único de
se comunicar. Foram necessários muitos estudos, pesquisa e - Induza seus alunos a participarem mais das aulas, fazen-
análise para chegar aos padrões que presenciamos hoje. do-os complementar suas idéias durante a exposição do
assunto.
Outro fator que contribui para o sucesso de seu discurso é 12
que o jornalista sabe muito bem para quem está falando. Ele - Para persuadi-los a obedecerem suas ordens, nada melhor
adapta a linguagem, traduz termos complicados e deixa a ex- do que uma boa conversa em um tom baixo de comando e
plicação clara e objetiva. E esse é um dos grandes segredos da olho no olho.
persuasão. Descobrir as características, necessidades e o perfil
- Quando a turma estiver muito alvoroçada, com conversas e usa todas essas informações para planejar e conduzir bem
paralelas, use a técnica do silêncio. Fique na frente da uma entrevista, você deve passar por todas essas etapas quan-
turma de cara amarrada sem falar nada, ou desenvolva um do estiver preparando suas argumentações para saber quando
grito de guerra peculiar. Por exemplo: “Paz e amor, silên- usar os recursos disponíveis.
cio por favor.”
Lembre-se de que não adianta nada chegar na frente de seus
- Se você quiser convencer os estudantes a fazer um trabalho alunos e promover um verdadeiro “fuzuê”, colocar músi-
específico e eles responderem que não sabem o que fazer, ca, passar filmes, se você não traçou um plano de aula que
Pequeno Manual do Professor
responda: “Vocês não sabem ainda, mas vão aprender” ou definisse um fim para essas atividades. Pense como seria um
desafie-os dizendo algo como “Mostre-me que vocês são desastre se Marília Gabriela não “estudasse” seu interlocutor
capazes de fazer essa tarefa”. e ficasse fazendo perguntas superficiais, usando dos efeitos
especiais que a televisão oferece só para encher lingüiça?
Você concorda que, além de perder a audiência, ela perderia
PLANEJAMENTO credibilidade. Por isso a importância de planejar, pensar o que
será feito e exposto durante aquele momento.
PENSE PRIMEIRO, AJA DEPOIS
Para o professor funciona exatamente igual. Todos desejam
Para dar aquela tão sonhada aula-show o professor nota 10 uma aula-show, perfeita, mas não basta sonhar com ela. É pre-
tem de assumir diversos papéis. Além de ser um bom apre- ciso planejá-la para que ela vire uma realidade aproveitável
sentador, comunicador e persuasivo, é preciso – muitas vezes para os estudantes.
– assumir a posição de um jornalista.
O professor Jorge Luiz Malkomes Muniz divide a preocupa-
Isso mesmo! Uma das características desses profissionais, ção com o planejamento sem conhecimento da turma em dois
como Marília Gabriela, é levantar o máximo de dados pos- níveis. Primeiro, afirma que deve ser feito um planejamento
síveis antes de suas entrevistas. Esse processo de pesquisar, geral: analisar todo o material empregado em suas aulas, fatos
13 organizar e planejar o andamento da aula também deve fazer próximos à realidade do aluno e reconhecimento da comu-
6 parte de sua rotina. nidade na qual a escola se insere. A partir desse diagnóstico,
segue o próximo passo, no qual monta-se o conteúdo que se
Assim como a jornalista vasculha a vida de seus entrevistados deseja aplicar, sempre muito prático e voltado à realidade que
cerca o estudante. “Muitas novidades, atualidades, para que o nova. Você pode dar parte da aula para seu cônjuge e pedir
aluno sinta-se constantemente interessado em comparecer às a opinião dele. Na maioria das vezes, esse treinamento
aulas”, completa. vai ser interrompido por brincadeiras e gargalhadas, mas
tentem de novo – vocês acabam acertando.
A professora Maria José Zoppi Campane é outra defensora da
utilização das vivências do cotidiano local. Ela também alerta - Ao final, você não terá um espetáculo complemente fe-
que é preciso dar especial atenção à administração do tempo, chado, pronto. Uma aula está sempre aberta a melhorias e
pois o educador lida com diferentes tipos de estudantes. “É ajustes, até porque cada classe é única. Anote a experiência
um movimento classificado Underground e atualmente se di- de gente e gritar “vamos lá, pessoal!” entre outras frases
vide entre vários “papéis”: escritor, humorista e apresentador. motivadoras. Liderar é ser capaz de extrair o melhor de cada
aluno. Fazer com que cada um, com sua habilidade específi-
Enfim, podemos considerar Jô uma pessoa eclética, que lidou ca, contribua com a aula. É despertar os interesses e guiar os
com várias situações durante sua vida profissional. Toda essa estudantes a descobrir seus talentos. No meio desse processo,
experiência e vivência fazem a diferença na hora de comandar com certeza, crises e tensões surgirão. Contudo, como todo
seu programa e sua equipe. Ele sabe que em seu meio, está bom líder, você não deve se abater, mas, sim, encarar a situa-
lidando com outros profissionais, os quais possuem personali- ção como um desafio a ser vencido.
dades distintas e que devem ser tratados de maneira única.
O que vemos, de segunda a sexta à noite, no programa do
Encontramos esse mesmo dilema dentro da sala de aula. Jô, ilustra bem o conceito anterior. O apresentador diverte,
O educador precisa liderar uma equipe que é formada por informa e entretém o público, porém, isso só acontece porque
cidadãos diferentes e que possuem pontos de vista singulares. ele sabe como orientar e estimular os profissionais que estão à
Assim como o Jô não pode chegar nos estúdios e exigir um sua volta a participarem do show. Ele consegue que cada um,
desempenho perfeito e padronizado de seus colaboradores, com todo seu talento, contribua para o espetáculo.
você, professor, também deve estar preparado para lidar com
os altos e baixos de seus alunos. Portanto, professor nota 10, faça dos 40 minutos de aula um
15 momento de descontração e aprendizagem. Exerça seu poder
É por isso que exercer esse papel de liderança vai além de de liderança para despertar o potencial de cada estudante,
discursos, como: “Se você se esforçar mais, vai conseguir fazendo deles os coadjuvantes de sua aula-show.
passar.” Geralmente, você está lidando com estudantes que
Trabalhe para ser líder Para desenvolver esses líderes completos, vale tudo. Por
exemplo, o professor Robert Lengel, da Universidade do
Os grandes líderes trabalham em quatro áreas diferentes: Texas (Estados Unidos), criou – e está tendo muito suces-
visão, realidade, ética e coragem. Sem uma delas, qualquer so – o curso Jornada para a Liderança. Ao entrar na sala de
plano de trabalho ou técnica de modificação vai por água aula, você pode encontrar alunos discutindo livros. Livros de
abaixo. Uma não funciona sem a outra. Veja: ficção mesmo, romances, policiais, e não de Administração
Visão – É a arte de pensar grande, criar coisas novas, de de Empresas ou Pedagogia, como era de se esperar. Talvez até
antecipar o que vai acontecer. E, mais importante, um tendo uma lição básica de Aikidô, a arte marcial que ensina
— Para ser nota 10, o educador precisa ter carisma. O problema é que esse discurso, muitas vezes, esconde o
receio que educadores e administradores têm em assumir uma
Nisso, a orientadora educacional emenda: nova postura. Uma posição mais ousada, que exija deles o
abandono da zona de conforto que vinham trabalhando até
— Preparo também é importante. – E um grupinho do meio então.
19
opina:
Se realmente essa vontade de se tornar um mestre exemplar
— Sem persuasão e criatividade o negócio não funciona. existir, os professores deverão trabalhar com mais afinco as
qualidades e atitudes vistas no capítulo anterior (criatividade,
motivação, persuasão, planejamento e liderança) e, juntamen- Ao se conhecer melhor, saber realmente quais são seus ob-
te com elas, cultivar alguns gestos que fazem toda a diferença, jetivos, fica mais fácil para o professor estabelecer o cami-
como: nho que deve seguir para a realização dessas metas, e ainda
identificar quais pontos precisam ser ajustados ou aperfeiço-
ados. Fique atento às dicas que reunimos para você ascender
- Possuir uma atitude naturalmente positiva e
profissionalmente.
animada.
- Saber pensar e decidir.
Arrumando a casa
Pequeno Manual do Professor
tence a ele. Então, não espere que cursos sejam ofereci- A instituição de ensino
dos. Busque livros, palestras, aperfeiçoamento. E falta de
dinheiro não é desculpa. Muitas dessas ações não reque- Nove entre dez escolas se definem como “uma grande família”.
rem que você invista um tostão. Você pode, por exemplo, A analogia não poderia ser mais correta. Em ambos os casos,
conversar com pessoas de outras empresas e setores da você é obrigado a conviver com a pessoa fofoqueira, com aque-
economia, todos têm algo a ensinar. Bibliotecas e sites le sujeito que só aparece duas vezes por ano e, mesmo assim,
também fornecem muito conteúdo. É só procurar. para pedir dinheiro, com aquele neto do patriarca que parece 21
poder tudo, entre outras pessoas. Em ambos os casos também
existem pessoas que se destacam. Que são um sucesso em suas
relações profissionais e familiares. Acompanhe:
Comece pelo começo – Em qualquer atividade, nada Network – A grande maioria das oportunidades de
5 é mais importante que a primeira impressão. Certo,
você já causou uma primeira impressão em seus colegas
6 ensino e parcerias não aparece nos jornais e na televi-
Racional e emocional – Chegue cedo, trabalhe duro Ao escolher trilhar o caminho de um professor nota 10, você
9 e você vai ser promovido/receber um aumento. Isso
só aconteceria em um mundo totalmente cartesiano, onde
perceberá quantas técnicas e orientações estão disponíveis
para a realização de seu objetivo. Uma delas é espelhar-se na
máquinas tomassem decisões. Basta aplicar uma fórmula rotina e hábitos de outros profissionais e extrair dicas para
e prova-se matematicamente que o professor Darmo deve serem adaptadas para sua sala de aula.
ser promovido a coordenador e a Dona Suzana merece um 23
aumento de 13,57%. Comece a prestar atenção nas pessoas que você convive. Por
exemplo, você já parou para pensar como é o dia-a-dia de um
vendedor? Antes de comercializar seu produto ou serviço, ele
precisa ganhar a confiança do cliente. Precisa que o cliente Cuide também de sua aparência. Não é preciso vestir terninho
acredite em tudo o que vai ser dito dali para frente, que o veja ou gravata todos os dias, mas suas roupas devem estar limpas
como alguém que está ali para resolver seus problemas. Tudo e em ordem. Nada pior do que entrar em sala com um guarda-
isso em apenas alguns segundos. pó com botão faltando ou desfiando.
A partir daí, o bom vendedor lança mão de diversas técnicas Pode parecer que não, mas os alunos reparam nesses detalhes.
para ajudar o comprador a decidir pela melhor opção e fechar Imagine-se entrando em um banco cuja gerente usa um sapato
o negócio rapidamente. E ainda deixar a pessoa satisfeita o estragado e roupa amassada. Você não confiaria seu dinheiro a
Pequeno Manual do Professor
suficiente para poder voltar outra hora e vender de novo. esse pessoal, certo? Então, por que seus alunos iriam confiar o
futuro e a carreira deles a um professor em semelhante
Olhando bem, isso não é diferente de seu trabalho, professor. situação?
Você também tem poucos segundos para conseguir a empatia
dos alunos, tem algo a “vender” (a importância de sua disci- A imagem do professor deve refletir o que os alunos recebe-
plina/do estudo em geral), e deve deixar a turma motivada o rão no ano, a importância da matéria para eles. Se o educador
suficiente para que esperem a próxima aula com alegria. Veja não se preocupar com a maneira pela qual se apresenta em
o que você pode aprender com eles. sala de aula, os estudantes não se preocuparão em participar
da aula.
Venda sua imagem
Seja autêntico
Vendedores, assim como professores, têm poucos segundos
para se apresentar a seus clientes ou alunos. E, para compli- Todos os bons vendedores sabem que improvisar ou mentir
car, isso é feito sem palavras. É a maneira como se chega na a respeito de um produto/serviço é uma receita para o desas-
sala, como se olha nos olhos da pessoa, o sorriso, a postura tre. Ele pode até imaginar que fechou a venda aquele dia e o
relaxada e confiante. assunto está encerrado. Só que, no dia seguinte, o cliente vai
24 para o Procon, liga para a empresa reclamando e pedindo o
8 Procure ser natural e prestar atenção em seus alunos. Nesse dinheiro de volta e, pior, vai relatar o fato para todos os seus
momento, você aprenderá mais sobre sua aula do que se fizes- conhecidos.
se uma enquete entre os estudantes.
Assim, o vendedor perde a venda, perde o cliente e ganha Esse segundo vendedor colocou logo as cartas na mesa, disse
dezenas e dezenas de pessoas que não vão querer nem saber o que a cliente pode esperar dele e como irão trabalhar dali
o que ele vende. Uma das grandes lições dos vendedores: a para frente.
melhor propaganda é a boca a boca. A pior, também. Caso
um aluno tenha alguma reclamação legítima contra você ou Da mesma forma, você deve lecionar com as armas que
sua escola, pode ter certeza de que a informação vai circular domina, enquanto desenvolve as outras (existe sempre um
por seus parentes e amigos. São famílias inteiras que podem ponto em que precisamos melhorar, algo a mais que pode
começar a reclamar de você e de sua instituição de ensino. ser aprendido). Seja autêntico em sala de aula, seus alunos
Compare isso com o vendedor que diz algo como: “Olha, Contudo, esses grupos estão longe de serem homogêneos em
apesar de eu estar há apenas um mês na empresa, posso todas as suas características. Existem diferenças que o vende-
esclarecer qualquer dúvida que a senhora possa ter em relação dor sabe identificar e usar a seu favor. Alguns exemplos:
ao nosso produto e, se for preciso, podemos trabalhar juntos, 25
a senhora, meu supervisor e eu, para encontrarmos a melhor - Use o nome da pessoa com freqüência. Alguém já disse
solução para suas necessidades.” que o próprio nome é o som mais bonito de qualquer Lín-
gua. Os bons vendedores sabem disso, tanto que uma das
primeiras coisas que perguntam é o nome do cliente. Para as vantagens de realizar o negócio naquele momento. O
os professores isso é um pouco mais difícil, uma vez que professor também deve repetir para seus alunos as razões
em cada sala há por volta de 30 nomes a serem memoriza- que eles deram para querer aprender a matéria e os inte-
dos. Alguns educadores fazem seus alunos improvisarem resses de cada um. Utilizar os motivos de cada aluno para
espécies de crachás nas primeiras semanas de aula até que reforçar um ou outro ponto da aula faz com que o interesse
ele decore o nome de todos. É uma estratégia válida. pela matéria dispare.
de transmissão de dados, os milagres do impulso eletrônico, especificamente em educação, Benjamin Bloom, em seu
como funciona uma extensão, a ergonomia dos modelos dis- livro Características humanas e aprendizagem escolar,
poníveis e mais uma tonelada de aspectos técnicos. identificou que a ótica do professor é um dos principais
determinantes do sucesso do aluno na escola.
Aí, os vendedores foram à rua vender. No final do primeiro
dia, percebeu-se que um deles havia vendido muito mais do Todos sabem que bons resultados não acontecem por
que os outros. Disparado na frente, com uma baita comissão milagre ou por acaso, mas por força de uma ação orienta-
garantida. O gerente correu felicitá-lo, e perguntou como da por uma crença de que ela produzirá bons resultados.
conseguira isso. Ele estava mencionando a qualidade da É bom lembrar que essa crença não corresponde a um
reprodução de voz, os impulsos eletrônicos, a ergonomia da... desejo ou a uma vontade de que as coisas aconteçam sem
“Nada disso” – disse o vendedor – “eu só lembro ao pessoal o nosso esforço. Ela representa, sim, uma atitude mental
que o inverno está chegando e como é ruim levantar no meio que tem por base o entendimento de que somos capazes
da noite para atender ao telefone na sala. Aí, eles compram a de modificar as situações que nos rodeiam e nos afetam e
extensão rapidinho.” de que podemos fazer alguma coisa para alcançar nossos
ideais.
É isso, professor. Concentre-se no que os alunos consideram
mais conveniente, no que tem valor para eles. Existem vários Trazendo novamente a questão para a nossa ação profis-
28 sional como professores, responda: o que acontece quan-
fatores dentro de sua profissão dos quais você se orgulha, e
32 do julgamos natural que alguns alunos aprendam mais do
com razão, mas deixe-os de lado um pouco durante a aula. O
que importa é o que seus alunos desejam, e só. que os outros? Que muitos não gostam de estudar? Que
uns alunos são tão desinteressados que não têm condições Dessa forma, o professor conduz uns para o sucesso e
de aprender? outros para o fracasso. É difícil admitir isso, mas é uma
realidade, e admiti-lo é o ponto de partida para o desen-
Orientados por essa predisposição mental, nossa atuação volvimento de nosso sucesso profissional como professo-
ajusta-se a esse julgamento e, no final, é esse mesmo res.
resultado que obtemos, corroborando o nosso pensamen-
to: “Eu não disse? Esse aluno não tinha condições de Fazer um esforço por mudar o nosso enfoque, a nossa
aprender.” É essa atitude, aliás, que constitui um fenô- perspectiva é, portanto, a condição básica para que use-
Heloísa Lück - Doutora em Educação, consultora e promotora de conforto para o falante, é necessário que todas as estruturas
programas e cursos de capacitação profissional em Educação. envolvidas em sua produção funcionem de forma harmoniosa.
Diretora do CEDHAP – Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado
(fone: 3336 4242). A fonação ou voz é produzida pelo fluxo de ar passando entre
as pregas vocais, fazendo com que elas vibrem e seja ampli-
Referências Bibliográficas ficado pelas cavidades de ressonância. Quando estamos em
silêncio, as pregas vocais estão abertas para que possamos
BLOOM, Benjamin S. Características humanas e aprendizagem
respirar e, ao falarmos, elas se fecham, vibram e a voz é emi-
escolar: uma concepção revolucionária para o ensino. Porto Alegre:
Globo, 1981
tida. Vejam as figuras:
30
4
Muitos são os profissionais que usam a voz como instrumen- A voz grave (grossa) pode trazer um aspecto de professor
to de trabalho. O professor é um deles, que precisa da voz enérgico e autoritário. Já o educador que possui uma voz
para exercer sua profissão. O mau uso da voz se refere a falar aguda (fina) transmite ser uma pessoa submissa, dependente,
excessivamente, alto e rápido, gritar, usá-la muito aguda ou infantil ou frágil.
muito grave sem ter preparação adequada. O aparecimento
de rouquidão, cansaço vocal, ardume e/ou dor na garganta, Se você tem algum desses aspectos vocais procure:
pigarro e falta de ar são sinais de patologias que acometem a
laringe e podem estar relacionadas ao uso abusivo da voz em -Emitir frases curtas, com mais inflexões, isto é, mais
Uma voz com articulação precisa, sem exagero, transmite, O professor deve se lembrar da importância de fazer a higiene
clareza de idéias e pensamentos, favorecendo o processo de vocal, tendo alguns cuidados especiais do tipo:
comunicação na classe.
Alimentação: deve ser composta de alimentos leves, ver-
O ritmo ou velocidade de fala lenta sugere monotonia, cansaço duras e frutas, uma vez que esses ajudam na boa digestão, 31
e faz com que não haja interesse no que está sendo exposto. evitando refluxo gastroesofágico ou má digestão. Evite
Com velocidade acelerada, demonstra ansiedade ou nervosis- o uso de chocolates e leites no momento que antecede
mo, o que trará aos alunos uma conseqüência desfavorável. o uso profissional da voz porque aumentam a secreção.
Durante o período entre as aulas, recomenda-se o consu- ouvir. Esse fator rende ao professor um desgaste vocal
mo de maçã ou a ingestão de sucos cítricos, pois possuem muito maior.
propriedades adstringentes, o que auxilia na limpeza da
boca e faringe, no excesso da secreção, obtendo, assim, Gripes e alergias: durante gripes fortes e crises alérgicas, é
uma melhor qualidade vocal. freqüente o aparecimento de quadros de rouquidão. Isso
ocorre porque há um inchaço das mucosas que revestem o
Alimentar-se de refeições pesadas acaba atrapalhando a trato respiratório. Vocalizar excessivamente sobre o tecido
boa performance do professor, uma vez que isto impede a inchado pode ser extremamente prejudicial, causando
Pequeno Manual do Professor
movimentação livre do diafragma, dificultando a fonação. danos irreversíveis à mucosa que reveste as pregas vocais.
Atividades em grupo, provas de aproveitamento ou ativi-
Bebidas gaseificadas e geladas: o gás interfere na diges- dades individuais que não exijam tanto do professor o uso
tão e prejudica o apoio diafragmático, ou seja, evite usar da voz tornam-se necessárias nessas situações.
antes das aulas, pois ele favorece a flatulência (gástrica
ou intestinal), prejudicando o controle da voz. E o consu- Os indivíduos alérgicos e que usam a voz profissionalmen-
mo de líquido gelado pode causar danos vocais devido à te devem seguir as orientações médicas. Evitar contato
mudança de temperatura ao deglutir. com substâncias alergênicas também é recomendado a fim
de reduzir ou espaçar o aparecimento das crises.
Ambientes refrigerados: algumas pessoas são muito
sensíveis ao ar-condicionado, isso porque o resfriamento Pigarrear: o ato de pigarrear constitui outra forma de
do ar realizado através da retirada da umidade do meio abuso vocal. A prática constante desse procedimento pro-
ambiente resseca também a mucosa do trato vocal. A duz um choque mecânico entre as pregas vocais causando
movimentação da mucosa durante o ciclo vibratório de- um aumento na produção de muco como mecanismo de
pende diretamente de uma boa lubrificação, comprometida defesa, o que se torna um ciclo e um hábito.
devido ao uso do ar-condicionado.
Cigarro: a fumaça age nas pregas vocais, essa reação é
32 Competição sonora ou grito: a competição sonora, o manifestada por uma descarga intensa de muco, gerando
66 “barulho dos alunos”, é uma situação bastante comum. parada na movimentação ciliar do tecido que envolve as
Quando se está em um local barulhento, há uma tendência pregas, fazendo surgir um depósito de secreção e pro-
natural dos educadores elevarem a voz para se fazerem vocando o pigarro. A toxina deposita-se diretamente nas
pregas vocais, as quais funcionam como verdadeiros Todas as manhãs ou no período que antecede o uso profissio-
aparadores de impurezas, favorecendo as diversas lesões, nal da voz, deve-se fazer os seguintes exercícios:
como edemas, pólipos, nódulos e câncer.
Exercícios de respiração profunda
Álcool: essa substância é responsável pela anestesia das
pregas vocais. O professor que usar essa droga e logo (alternando nariz e boca).
depois for dar uma aula vai estar causando uma grande Alongamento da coluna.
lesão no aparelho fonador. O mesmo acontece com o uso Alongamento de pescoço e ombros.
Movimentos de deslocação lateral. Com o dedo indi- Para se alcançar uma boa voz, certos pontos precisam ser
cador e o dedão massageie, delicadamente, os anéis do trabalhados. A respiração é um deles. É ela quem ajuda a
pescoço, de um lado para o outro. equilibrar a ressonância produzida durante o processo de
formação das palavras.
Movimentos circulares. Esse exercício é muito parecido
com o anterior. Só que em vez de fazer movimentos de
A altura da voz também precisa ser controlada. O volume
uma lado para o outro nos anéis do pescoço, você deve
da fala, se não for adequado, agride a garganta (no caso do
massageá-los com movimentos circulares.
professor falar muito alto ou irritar seus alunos se ele explicar
Movimentos descendentes. Desça em linha reta massa- a matéria quase sussurrando).
geando os anéis do pescoço.
A intensidade da voz é outro detalhe importante. Ela não pode
Aproveite todas essas dicas e orientações para cuidar melhor de ser nem muito grave e nem muito fina. Se o educador abusar
um de seu bens mais preciosos, sua voz. Se você estiver apre- da fala grave pode parecer autoritário e fechado a novas idéias
sentando quadros de rouquidão com freqüência e há mais de 10 e opiniões. Uma vocalização mais fina transmite a sensação de
dias, sem causa evidente, procure um médico otorrinolaringolo- pessoa infantil, insegura e que não está certa de sua ações ou
gista ou um fonoaudiólogo para uma avaliação vocal. palavras.
34 *Professora Ms. Eny Regina Bóia Neves Pereira – Fonoaudióloga, Além desses fatores, temos ainda a articulação das palavras.
8 mestre na área de Pediatria pela Faculdade de Medicina da UNESP de Ela consiste na maneira como se mexe a boca durante a fala.
Botucatu/ SP, doutoranda na área de Bases da Cirurgia, em Voz Profis- Se feita de maneira correta, resulta em um discurso claro e
sional, pela Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu/ SP e docente
sem ruídos. Pessoas que não abrem muito a boca para pro-
da Universidade do Sagrado Coração – Bauru/SP.
nunciar as palavras indicam ser tímidas, acanhadas. Já quem outros detalhes de sua personalidade. Leia e faça uma auto-
articula exageradamente passa a sensação de falsidade e análise, assim você poderá ajustar certos detalhes de sua fala
exibicionismo. e potencializar sua qualidades.
Assim, para que sua voz seja agradável é preciso que você • Voz fina e fraca – Revela uma pessoa submissa e
tenha sempre em mente o bom senso – uma articulação, inten- dependente.
sidade e volume de voz equilibrados.
• Voz forte e grave – Mostra um indivíduo enérgico
e autoritário.
postura dos ombros, o balanço da cabeça, cada gesto possui damos, sempre, não falar com as mãos nos bolsos, com os
um significado próprio que encerra em si uma mensagem. braços atrás das costas, cruzados ou apoiados, entre outros.
Pesquisas apontam que a linguagem corporal é responsável Você também deve adaptar seus gestos de acordo com o
por cerca de 55% do processo de comunicação interpessoal. número de estudantes que a turma comporta. Classes grandes
Esses recados que você transmite com o corpo, mesmo sem exigem movimentos mais enfáticos, “exagerados”, para que
querer, são outros pontos que devem ser pensados e trabalha- todos possam vê-lo. Mas tenha bom senso. Já turmas menores
dos de maneira correta. não precisam desses movimentos tão amplos.
As mensagens sublimares afetam seus alunos tanto quanto as A posição das pernas: as pernas têm um significado especial
palavras e seus gestos mostram se você está ou não prepara- para a estética da postura. Você irá se sentir melhor se manti-
do ou com vontade de dar aquela aula. Para esses casos, não ver uma atitude correta, plantado sobre as duas pernas, dando
há recursos visuais que façam qualquer momento tornar-se um bom equilíbrio ao corpo. Procure também deixá-las cerca
agradável. Sem a motivação necessária, você desperdiçará de 20 centímetros afastadas uma da outra e lembre-se de que
seu tempo, o tempo dos estudantes e fará da aula um teatro, ao ficar parado não é recomendável fazer movimentos com as
no qual o professor interpreta um personagem sem emoção e pernas. Esse gesto dará a impressão que você está impaciente
sem conteúdo. e inseguro. Evite também:
38
42 - Procurar um ponto de apoio para se encostar. Ao fazer isso,
A naturalidade do gesto: a gesticulação obedece a um pro- naturalmente, você deixará uma das pernas arqueadas para
cesso natural. Pensamos na mensagem ao mesmo tempo que trás.
informamos ao corpo o movimento a ser executado. Ele reage
- Jogar o peso do seu corpo em cima de uma perna só. você simplesmente se encosta e cruza os braços. Situação
desagradável, não?
- Balançar os pés ou ficar freneticamente batendo-os no
chão. Além de fazer barulho, você estará distraindo os
A posição das mãos: se você for uma pessoa agitada, que
alunos e chamando a atenção para os seus movimentos.
gesticula bastante com as mãos durante uma conversa, não
tente mudar esse jeito dentro da sala de aula. Seja natural.
A posição dos braços: ao andar no meio da sala, seus braços
devem balançar naturalmente. Se você estiver explicando a
Caso você use bastante as mãos, procure empregá-las para
matéria, levante-os acima da linha da cintura e mantenha suas
dos lados, excessivamente alta ou baixa, quebra a elegância vel e agradável para o início de sua aula.
da postura.
c) Olhos – “Os olhos são a janela da alma”, quem nunca
A comunicação do semblante: o semblante talvez seja a ouviu essa frase? Assim como os demais membros de nosso
parte mais expressiva de todo o corpo. O queixo, a boca, as corpo transmitem mensagens subliminares, os olhos tam-
faces, o nariz, os olhos, a sobrancelha e a testa trabalham bém possuem esse incrível dom de revelar os sentimentos
isoladamente, ou em conjunto, para demonstrar idéias e da pessoa. Por meio deles, podemos saber se os alunos estão
sentimentos transmitidos pelas palavras ou mesmo sem a atentos ao conteúdo ou se já dispersaram a atenção.
existência delas.
O olhar serve como um termômetro, dando um retorno
O conhecimento de todo o jogo fisionômico, a certeza de estar imediato sobre o que suas palavras causam nos estudantes.
demonstrando no semblante exatamente o que deseja, dá a Assim, quando você desejar medir esse “nível de interesse”,
quem fala confiança e convicção ao se apresentar. Confira preste atenção se os alunos estão com os olhos vivos, abertos
outros detalhes que fazem toda diferença na comunicação e iluminados. Caso contrário, comece a pensar em mudar sua
não-verbal: estratégia de apresentação.
a) Boca – O movimento que fazemos com os lábios também Use algum elemento surpresa para chamar a atenção ao con-
40
revela nossas emoções. Quando eles empurram levemente o teúdo. Por isso, é importante que você assuma uma posição
4
superior, podem expressar mágoa ou frustração. Ao deixar a na sala que permita a visualização de todos os estudantes,
boca semi-aberta, você pode transmitir a seus alunos ansieda- para acompanhar as reações deles.
de, expectativa, apreensão. Morder o canto da boca demons-
Comunicação não-verbal dentro da rão a relaxar, e sempre que você for para o local da intera-
sala de aula ção já começarão a imaginar algumas questões.
Espaço, a fronteira inicial. Para alguns professores, a sala de Caso você tenha pouco espaço disponível em sua sala de
aula limita-se a 2 metros à frente do quadro-negro. A partir aula, substitua esses “cantos” por gestos, como abrir os
daí, é território dos alunos, conforme afirma um Tratado de braços de certa maneira seguido de um “Bom. Perguntas?”.
Tordesilhas imaginário auto-aplicado. Com o passar do tempo, você não precisará falar mais
Todos esses são estilos que podem ser melhorados, conforme Circule pela sala de aula, com movimentos calmos e
a situação. Algumas dicas: tranqüilos. Cuidado para não ficar muito tempo parado ao
lado de um mesmo aluno. Geralmente, como os intervalos
Crie âncoras visuais para seus alunos. Desde o primeiro dia entre as filas de carteiras são apertados, sua proximidade
de aula, defina determinado canto da sala para assuntos física pode incomodar. Assim, ande entre duas fileiras um
leves e piadas, outro para falar sobre a matéria, um para dia, entre outras duas em outra ocasião, e assim por diante.
interação direta com os alunos.
Pense na sala como um todo. Você dá aula tanto para
Você não precisa dizer nada para eles, apenas se movimen- o pessoal da primeira fila como para a turma do fundão. 41
tar para aquele ponto da sala de aula toda vez que desejar Faça contato visual com alunos que sentam em locais
tomar uma ação específica. Assim, sempre que os alunos o diferentes. Na hora de mostrar algo, faça-o tanto à altura
virem caminhando para a posição descontraída já começa- de sua cabeça, para que o pessoal de trás veja, como um
pouco abaixo da altura de seu peito, para o pessoal das pode causar desde dores até invalidez após alguns anos.
três primeiras carteiras. Então, a primeira regra é não se permitir ficar muito tempo
em uma mesma posição. Se estiver mais de uma hora sentado,
levante-se. Se estiver há mais de uma hora parado, em pé,
Erros a serem evitados ande um pouco. Acompanhe outras dicas.
Eis aqui algumas posturas que devem ser evitadas durante
suas aulas: .Quando estiver sentado, procure não ficar com os ombros
. Ficar parado em um ponto, apoiando-se de lado. A men- caídos. O encosto reto da cadeira ajuda a manter a coluna
Pequeno Manual do Professor
sagem oculta que esse professor passa é “estou chateado ereta, evitando dores nas costas.
e preferia estar em outro lugar”. Solução: quando estiver . Nunca suba escadas com a coluna inclinada para a frente.
parado, mantenha seu peso uniformemente equilibrado e Suba com a coluna ereta e o pé completamente apoiado no
os quadris nivelados. chão.
. Encostado em uma estante ou parede. A mensagem é “es- . Para erguer qualquer objeto do chão, o correto é flexionar
tou cansado demais para ficar em pé” ou “não quero nem os joelhos e manter a coluna ereta (o peso deve ficar o
me incomodar em dar essa aula”. Solução: evite apoiar-se mais próximo possível do tronco).
ou o faça por períodos muito curtos. . Não durma de bruços. Prefira dormir de lado ou de barriga
. Sentado à mesa onde estão suas anotações. O que tal edu- para cima.
cador diz é: “Não preciso fazer nenhum esforço aqui, pois . Não carregue, em nenhuma hipótese, peso na cabeça. O
sou mais importante do que vocês.” Solução: a não ser ideal é dividir o peso proporcionalmente para os dois
em determinados momentos (como chamada e correção lados do corpo.
de provas), fique em pé. . Preste bastante atenção às condições do piso antes de
carregar qualquer peso para evitar tropeções, escorregões
Saúde também conta e torções.
42
6 Além da postura que o ajuda a ensinar, existe aquela que evita Para evitar esses e demais problemas que podem afetar seu
problemas no futuro. Seu corpo pode começar a reclamar desempenho, fique atento à sua postura e a seus movimentos
mais cedo do que imagina. Má-postura ao sentar ou caminhar diários. Às vezes, pequenas correções fazem uma grande
diferença em sua qualidade de vida, o que reflete diretamente 2° passo: em pé, flexione e estenda (de forma moderada) os
em seu desempenho em sala de aula. joelhos. É como se você estivesse dando pequenos chutes
no ar. Isso irá aquecer e lubrificar a articulação do joelho.
Trabalhe para que nenhum desses inconvenientes atrapalhem
seu objetivo de ser um professor nota 10. Existem exercícios 3° passo: ainda em pé, coloque as mãos na cintura e realize
simples que podem corrigir sua postura, aquecer seu corpo movimentos circulares. Imagine que você está brincando
para as aulas e ainda ajudá-lo a relaxar depois de um dia can- com um bambolê. Faça esse exercício cerca de 10 vezes
sativo de trabalho. Siga atentamente as orientações abaixo e sendo 5 vezes no sentido horário e 5 vezes no sentido anti-
10° passo: abra e feche as mãos de forma sucessiva, faça-o Desça devagar com o tronco (o quanto puder) até tocar
10 vezes. Em seguida “sacuda-as” soltando bem as articula- o pé da perna estendida. Fique nessa posição de 20 a 30
ções dos punhos e dedos. segundos. Repita o mesmo com a outra perna.
11° passo: realize movimentos circulares (de forma suave) 4° passo: deite no chão, flexione e abrace suas pernas,
com o pescoço – 5 vezes no sentido horário e 5 vezes no deixando a região lombar relaxada e encostada no chão.
sentido anti-horário. Segure nesta posição cerca de 30 segundos.
Seguindo esses passos, você terá mais disposição para 5° passo: ainda deitado e com as pernas flexionadas, gire
entrar em sala de aula e realizar seus movimentos de forma o tronco lateralmente de forma que os joelhos encostem
mais ampla e motivada. no chão, e volte sua cabeça para o lado oposto. Permaneça
nesta posição cerca de 30 segundos. Repita o movimento
trocando o lado.
Alongamento para relaxamento
após as aulas 6° passo: fique em pé com os joelhos levemente flexio-
nados, flexione o tronco para frente deixando os braços
44 Para facilitar o trabalho do alongamento, e não esquecer relaxados e próximo aos pés. Fique nesta posição cerca de
8 nenhum grupo muscular, é interessante começá-lo dos pés 15 segundos. Em seguida, suba seu tronco bem devagar,
para a cabeça ou vice-versa. de modo que sinta a sua coluna “desenrolar”.
7° passo: em pé e com os joelhos semiflexionados, entre-
lace os seus dedos e “empurre-os” para frente (na altura
dos ombros). Flexione seu pescoço para frente, deixando
suas costas bem “arredondadas”. Mantenha essa posição
entre 15 e 20 segundos.
45
PREPARAÇÃO
DIDÁTICA
nas, onde os professores perceberam alguns fatos: primeiro,
ADAPTAÇÃO E PROGRESSO: os jovens estão loucos para criar uma empresa na Internet. Se-
NÃO FIQUE FORA DESSA gundo, essas empresas, geralmente, rendem uma fortuna, nem
que seja somente na Bolsa de Valores. Terceiro, esses jovens
O mundo globalizado e o avanço da tecnologia vem trazendo (seus alunos) têm muitas idéias, mas – via de regra – pouco
para a sala de aula um elemento novo a ser descoberto, deci- dinheiro; e, como são alunos, confiam no professor e levam a
frado e atendido: o seu aluno. ele várias dúvidas. Somando tudo isso, cria-se um novo tipo
de professor, que leciona para seus alunos durante um período
Você, professor, lida com gente. Pessoas são infinitamente Somos todos diferentes. Nem todos aprendem da mesma
mais complexas do que plantações e máquinas. Ainda mais maneira. Nesse sentido, há basicamente três tipos de alunos:
quando elas estão formando sua personalidade e conceitos os auditivos (que absorvem melhor o que ouvem), os visuais
sobre o mundo. Existem professores que são melhores do (que prestam mais atenção no que vêem) e os sinestésicos
Pequeno Manual do Professor
que outros nesse aspecto. Porém, de acordo com o jornalista (cujo ponto forte de aprendizagem é o que é feito e experi-
e membro do conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo, mentado). Toda classe de aula tem representantes dos três
Gilberto Dimenstein, destacam-se os poucos que entendem grupos. Você pode identificá-los pelos gestos (olhares mais ou
que o professor não atua apenas sobre o aluno, mas sobre toda menos fixos, movimentos de cabeça colocando o ouvido em
sua família e comunidade. evidência, etc.) e pelas expressões usadas (“do jeito que eu
vejo isso...”, “escuta aqui”, “juntando essas informações ...”).
Nesse aspecto, as reuniões com os pais ganham nova impor-
tância. Mais do que falar, você deve ouvir, descobrir o que Procure atender a todos em suas aulas. Escreva (nem que apenas
é importante para aquele bairro ou região. Pesquisar e usar os pontos principais da matéria) no quadro para auxiliar os
exemplos do cotidiano de seus alunos em suas matérias, não visuais, abuse dos exercícios e da formação de imagens mentais
importa qual seja. E ainda há outras coisas que você pode para os sinestésicos. O melhor de cada um. Nunca duvide da
fazer pela vizinhança, conforme ensina Dimenstein: “A escola capacidade de seus alunos de alcançar qualquer sonho. Gandhi,
deve ser um local de encontro de toda a comunidade, inclu- Martin Luther King e Nelson Mandela sabiam disso. Sabiam que
sive nos finais de semana, para eventos culturais e esporti- todas as pessoas tinham a capacidade de fazer parte de alguma
vos. Incrível que, em todo o País, bairros sem nenhum lazer coisa grande. O papel de um professor é fazer com que os alunos
tenham fechadas as quadras dos colégios.” Converse com a tenham consciência dessa responsabilidade e partam para a ação.
direção a respeito. Como se consegue isso? Cada pessoa é movida por uma coisa
48 diferente. Mas poucas coisas são tão contagiantes como o entu-
4 siasmo. Fale, emocione-se mesmo com um tema em sala de aula.
Se você conseguir contagiar apenas dois alunos, esse entusiasmo
será passado rapidamente para o resto da turma.
Eterno aprendiz. De acordo com o jornalista Gilberto Di- a mexer com essas maquininhas é fundamental. Segundo o
menstein, a situação nas universidades do Brasil assusta. grupo Catho, especializado em recursos humanos (www.
catho.com.br), os profissionais de sucesso devem dedicar de
“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, então, 10% a 25% do seu tempo a aprender a lidar com a Infor-
não é um ato, mas um hábito.” mática & Companhia S.A. Porém, existe algo igualmente
importante: aprender a trabalhar com o futuro. Os brasilei-
“Você não gerencia pessoas, você gerencia coisas. Pessoas, ros, em particular, não são acostumados a planejar, a pensar
você lidera.” no futuro. Onde você pretende estar daqui a alguns meses
1
Essa é uma palavrinha japonesa que andou na moda há alguns É facilmente mensurável. Se você muda toda uma
anos. E, assim como tudo o que está na moda, ela desapareceu metodologia de aula de uma hora para outra, consegui-
dos noticiários logo em seguida. É uma pena, porque kaisen rá dois resultados possíveis: funciona ou não. Porém,
não é um modismo ou uma forma mágica de ganhar dinheiro a nova metodologia é feita de dezenas de pequenos
ou melhorar profissionalmente. É uma atitude perante a vida. detalhes. Pode ser que apenas um deles tenha sido o
motivo da rejeição. Como você vai saber? Mudando
Pequeno Manual do Professor
A grosso modo, kaisen significa aperfeiçoamento contínuo. aos poucos, você pode sentir a reação de seus alunos,
Nós somos acostumados, desde cedo, com a idéia de revolu- adaptar-se às necessidades deles e da escola.
ções. Se alguma coisa está errada, joga-se tudo fora e come-
2
ça-se do zero, de novo. Pense bem, não é esse o discurso de Você não chega ao fundo do poço. No sistema tradi-
todos os políticos? É algo também presente em quase todas cional, é necessário que as coisas comecem a dar muito
as empresas. Afinal, é preciso “mostrar serviço”, e qual é a errado para se tomar uma atitude. Através do kaisen
maneira melhor do que fazer algo radicalmente diferente do procura-se evitar isso: o aperfeiçoamento contínuo faz
que fez o ocupante anterior do cargo? com que as coisas continuem funcionando e melho-
rando sempre. É como aquele ditado, “se não estiver
Por isso, a idéia de kaisen talvez nos pareça um pouco estra- quebrado, não mexa”. Bem, quebrado não está, mas
nha. Afinal, ele não lida com grandes e repentinas mudanças. pode precisar de uma limpeza, um pouco de óleo, um
Procura aperfeiçoar as coisas um pouquinho a cada dia. Entrar retoque na pintura aqui e ali...
na sala de aula com um sorriso, mudar a ordem na explicação
de determinada matéria, fazer a chamada cinco minutos antes Outras lições de kaisen
ou depois... são pequenas coisas que fazem uma diferença
maior do que se imagina, ainda mais se somadas umas às • Não vale apenas para seu emprego. O aperfeiçoamento
outras.
50 contínuo funciona muito bem com seu lado pessoal. Você
6 pode buscar uma melhor qualidade de vida, de diversão,
de relacionamentos, entre outras, melhorando um pouqui-
nho de cada vez. Acredite, funciona melhor do que decidir
parar de fumar ou fazer dieta toda segunda-feira (decisões espaço no qual alguém se sente compelido e estimulado a
que duram até quinta-feira, no máximo). aprender, organizar-se para sistematizar as informações e
respeita quem pode ajudá-lo a navegar pelo conhecimento.
• Concentre-se no processo, e não nas pessoas. Se uma boa
parte de sua sala de aula está indo mal em sua matéria, Pegue-se o mais indisciplinado e tresloucado roqueiro,
talvez a culpa não seja da bagunça da turma do fundão. que detestava ir à escola – e, no caso dele, talvez com boas
Quem sabe você possa fazer algo para chamar a atenção e razões – ali ele não encontraria espaço para seus dons e
garantir a participação deles nas aulas. Bem, o espírito do sonhos.
namento é construído diariamente, através de sua aparência, Nós, professores, precisamos nos tornar fascinantes para
gestos e palavras. Leva-se algum tempo para construir essa desenvolvermos eficientemente a personalidade dos nossos
imagem, e é muito fácil perdê-la. Zele por ela ao máximo. alunos. Precisamos incorporar hábitos que contribuam para
desenvolver seres humanos inteligentes e felizes, capazes de
sobreviver em um mundo cada vez mais estressante.
Aja e persista
A seguir, vamos conhecer os sete hábitos dos bons professores
Você é o único responsável por melhorar sua carreira profis- e dos professores fascinantes, segundo Augusto Cury, autor
sional. Ninguém pode tomar essa decisão por você. Dedique- do livro Pais brilhantes, professores fascinantes, Editora
se a buscar ferramentas e conhecimentos para se posicionar Sextante.
melhor no grupo, no mercado de trabalho, na sua vida social e
pessoal. A pessoa melhor é um profissional melhor.
1 Bons professores são eloqüentes; professores fascinantes
conhecem o funcionamento da mente. Para os professores
fascinantes, um aluno não é apenas mais um número na sala
A ARTE DE SER UM PROFISSIONAL de aula, mas um ser humano complexo com necessidades úni-
cas. Professores com essa característica conseguem construir
NOTA 10 COM UMA AULA FASCINANTE uma ponte entre as informações que transmitem e o dia-a-dia
52 dos alunos.
Nossas crianças e adolescentes têm tudo o que não tivemos:
muitos brinquedos, roupas, viagens, computador, Internet, au- Mas o que acontece hoje? Nossos alunos estão alienados,
las de idiomas, balé, natação. A intenção foi boa, mas do que sem concentração, ansiosos. Freqüentemente, o professor
precisa gritar para obter o mínimo de atenção. Por que isso? rem com as contradições da vida. Eduque com emoção. As
Por causa do excesso de estímulo que a TV produz em nossas escolas não estão conseguindo educar a emoção. Elas estão
crianças. São mais de 60 personagens por hora com as mais gerando jovens insensíveis, hipersensíveis ou alienados.
diferentes personalidades, competindo diretamente com a Precisamos formar seres que tenham uma emoção rica, prote-
imagem de pais e professores. Isso gera a SPA – Síndrome do gida e integrada.
Pensamento Acelerado. É como uma droga: seus portadores
precisam de cada vez mais estímulo. Eles se agitam na cadei-
ra, têm conversas paralelas, não se concentram. 4 Bons professores usam a memória como depósito de
informações; professores fascinantes usam-na como su-
sobre crianças judias que foram presas em campos de con- a emoção e expandir a inteligência de nossos jovens.
centração nazista. Contou-lhes de seu sofrimento pela vida
horrível que tinham, presas e separadas de seus pais. Depois
disso, olhou para a classe e disse: “Vocês têm escola, amigos, APRENDA COM OUTROS PROFISSIONAIS
pais e professores que os amam. Comem, vivem e se vestem
bem. Será que estão valorizando tudo isso?” Ela não precisou Além de um professor nota 10 ter de se preocupar com seus
chamar a atenção do aluno que a ofendera. Sabia que isso não alunos, em como eles absorvem o conhecimento, quais são
adiantaria. Ela queria levá-lo a ser um pensador. Ele, depois suas personalidades, como se sentem no ambiente escolar, ele
disso, nunca mais foi o mesmo. Compreendeu que tinha tudo também deve pensar em sua carreira e nas formas de aprimo-
e não valorizava isso. Aprenda a dar “tapas com luva de peli- rá-la.
ca” no coração de quem você ama. Acorde seus alunos para a
vida. Apesar do ofício de professor ser único, ele não está dissocia-
do e distante da rotina de outros profissionais. Existem várias
7 Bons professores educam para uma profissão; pro- habilidades que você pode aprender com as demais ocupações
fessores fascinantes educam para a vida. Professores e usar dentro da sala de aula para se destacar. Já vimos no tre-
fascinantes são revolucionários. Seus alunos adquirem um cho “Professor-vendedor” como esse processo pode ser útil.
bem extraordinário: consciência crítica. Por isso, não são Veja o que mais você tem a aprender.
54 manipulados nem chantageados. Eles sabem o que querem. O
0 professor fascinante é promotor da auto-estima. Dá atenção
especial aos alunos tímidos e desprezados. Mostra-lhes sua
capacidade interior.
Diagnosticar como um médico pessoal, como evitar epidemias e outras medidas profiláticas.
Você deve gerenciar sua sala de aula de maneira que os pro-
Ninguém entra em um consultório médico e encontra a receita blemas não apareçam. Troque idéias com seus alunos, abuse
já pronta, esperando. Um sintoma como febre ou dor de das discussões e trabalhos em grupo, surpreenda-os com
cabeça pode ter inúmeras causas. E descobrir o mal que aflige exercícios diferentes. Faça cada aula ser especial.
cada pessoa é só parte do processo. Alguns pacientes são
alérgicos a este ou àquele medicamento, etc. Planejar como um arquiteto
arremessavam melhor, que tinham mais fôlego e que eram .Separe algum tempo a cada semana para seus “treinos”, e
mais rápidos. Só que ninguém treinava tanto quanto ele. Da considere essas horas um compromisso tão sério quanto
mesma forma, no começo desse ano, o piloto alemão Michael qualquer outro. Discipline-se.
Schumacher pediu desculpas à família, pegou seu avião e foi .Tenha um objetivo claro para cada seção de treino. Você
até à pista da equipe Ferrari, onde se desenrolou um diálogo pode praticar, entre outras coisas, sua entonação de voz, me-
mais ou menos assim: mória, capacidade de escutar e concentração (por exemplo,
pegue um CD, ouça uma música, desligue e tente reproduzir
— Ué, Michael, o que você está fazendo aqui? Você deveria a letra), habilidades na construção de apresentações multi-
estar de férias. mídia, interar-se sobre novas descobertas e técnicas de sua
disciplina, praticar seu marketing pessoal, buscar novas
— Pois é, mas eu não agüento ficar sem treinar. Ajusta o ban- maneiras de apresentar o conteúdo programático.
co e os pedais do carro para mim que eu vou dar umas voltas. .Cuide também da sua saúde. Uma alimentação balanceada
e alguns exercícios físicos lhe darão mais energia na sala de
Os melhores sabem da importância de treinar sempre. Sabem aula, o que acabará por contagiar seus alunos.
que há sempre uma maneira de fazer melhor ou, no mínimo,
continuar a fazer tão bem quanto sempre foi feito.
Defenda seus ideais como um advogado
56 Aqueles que não dedicam um tempo por semana para seu
56 aperfeiçoamento profissional não permanecem no mesmo lu- Alguém já definiu um julgamento como sendo um show onde
2 gar, estão andando para trás. Cada semestre dando as mesmas os jurados se reúnem para decidir qual advogado foi o melhor.
aulas é um semestre em que os outros professores se aperfei- E como cada lado se esforça para ser escolhido o melhor, cada
vírgula do depoimento, cada fato, é estudado e reestudado. Respeite como um psicólogo ou sacerdote
Versões de acontecimentos são apresentadas com uma paixão
de emocionar qualquer um. Seus alunos têm por você uma grande admiração e, não raro,
o procuram com dúvidas e problemas de ordem pessoal. Veja
Esse deve ser o espírito por trás de suas aulas. Um compro- essas situações da mesma maneira com que sua turma as vê:
metimento com o que é ensinado, que contagia a todos seus
alunos. E não se trata de aulas cheias de frases motivacionais . Se você não puder ajudá-los, explique isso e encaminhe-
vazias, gritos e piruetas. Defender, assumir sua matéria, exige os a quem pode. Mas não os deixe sem resposta.
cada informação que você fornece a seus alunos, deve estar a solução é estar preparado. Leia muito, conheça a fundo sua
fortemente baseada em fatos, dados, em algo que seus alunos matéria. Além disso, se interesse por outras áreas. É comum
compreendam. É um erro iniciar cada aula como se aquele a pergunta de um estudante derivar para um assunto com-
assunto fosse estanque, sem ligação com nenhuma outra coisa pletamente diferente do que você leciona. Aliás, não apenas
e sem influência com nada no futuro. Faça cada disciplina ser comum, mas em tempos de interdisciplinaridade, desejável.
tão importante e memorável como aquelas matérias de jornal
que derrubam políticos. E ainda: Então, nada de dizer para seus alunos perguntarem aquilo
para a professora de Matemática. Quando o desejo pelo co-
Ofereça âncoras - Os jornais sempre conectam as notícias nhecimento acontece, esteja pronto para utilizá-lo.
com fatos conhecidos dos leitores. Assim, ao falar sobre o
primeiro livro de um autor, ofereça uma pequena biografia: Outra coisa que se aprende com os bombeiros é a facilidade
Jandira Pinhais é educadora há tantos anos, fundou tal insti- de encontrar o que é importante. Uma casa pode estar em cha-
tuição, um de seus alunos foi o vice-governador e por aí vai. mas, e o que eles fazem? Concentram-se em alguns pontos da
Com isso, desperta-se a atenção do leitor. Da mesma forma, construção enquanto outros ficam jogando água nos prédios
ligue a sua matéria a algo conhecido de seus alunos. vizinhos. A decisão vem de diversos fatores: para onde sopra
o vento, em qual direção existem mais objetos inflamáveis,
Não permita que eles esqueçam - Um dos grandes papéis como evitar que o incêndio se espalhe, entre outros. Eles
58
da imprensa é fazer com que os grandes escândalos tenham também não se impressionam com o tamanho das chamas,
4
um acompanhamento e que os culpados sejam julgados. Para apontam as mangueiras e extintores para o chão para o que,
o professor, é vital fazer com que os alunos se lembrem dos de fato, está pegando fogo.
Identifique o que é importante, o que realmente está por trás Evite também a formação de panelinhas, formando grupos
de uma pergunta ou preocupação de seus alunos. Faça pergun- diferentes: apele para ordem alfabética, de fileiras, ordem
tas do tipo “que você quer dizer com...?”, “por que você acha alfabética de sobrenome, entre outras. Afinal, muitos técnicos
isso?”, “como assim?”. são chamados de “professor”, não são?
Use os diferentes talentos como um A cada minuto de nossas vidas estamos sempre assumindo
dois papéis: o de professor e o de aluno. Dependendo do
técnico de futebol momento, do tema, do interlocutor, colocamos um ou outro
véu. E num diálogo realmente edificante, chegamos mesmo
Olhe para um time de futebol. São 11 pessoas com talentos a utilizar a ambos.
diferentes. Alguns são bons para cabecear, outros para chutar,
outros sabem correr bastante. O técnico precisa identificar Porém, via de regra, somos maus professores. Maus porque
esses talentos e utilizá-los da melhor maneira possível para o pregamos a mediocridade, inibimos a audácia, coibimos
bem de todo o time. o risco, desestimulamos a galhardia. Ser medíocre é ser
comum, mediano, modesto, despretensioso. Ser medíocre
Na sua classe também existem alunos com qualidades e talen- é estar seguro, ainda que não se esteja bem. Ser medíocre
tos individuais. O objetivo é que todos cheguem ao conheci- é fruto natural de nossa cultura ibérica e de nossa tradição
mento com a sua ajuda. católica.
E, da mesma forma que em um time de futebol, todos se Empregados sem empregos
ajudam, os alunos devem apoiar uns aos outros. Fortaleça o
sentido de equipe. Trabalhos em grupo devem ser usados sem 59
Nossas escolas de ensino fundamental privilegiam uma
medo em sua sala. É preciso que cada aluno descubra as qua- alfabetização metódica, padronizada, enquadrando as
lidades do colega, que podem ser (aliás, é melhor que sejam) crianças num plano bidimensional. São ao menos oito anos
diferentes das dele próprio.
de estudos sem incentivo à criatividade e à ousadia. Depois, jogos de futebol ou quando somos agraciados com alguma
quem pode gasta uma soma considerável num terapeuta ou façanha num evento esportivo. Foi-se embora o culto ao
num curso de especialização para instruir seu filho a traçar patriotismo e ao amor ao verde-amarelo. Foi-se também a
linhas curvas e não apenas retas, a misturar cores quentes e oportunidade de se ministrar um pouco de ética e responsa-
frias, a experimentar outras formas geométricas, a unir nove bilidade social.
pontos alinhados três a três com apenas quatro retas.
Mediocridade ensinada
O ensino médio, por sua vez, produz exércitos dotados de
Pequeno Manual do Professor
baionetas com as quais assinalarão “x” dentre cinco alterna- Nossa mediocridade ensinada acaba permeada em nossas
tivas possíveis para, aí sim, ingressando no chamado ensino vidas sem que nos apercebamos disso. Nossas empresas
superior, compor uma legião de empregados para um mun- tornam-se medíocres porque não têm o gene do empreende-
do sem empregos. A própria estrutura de ensino promove a dorismo, em especial o empreendedorismo de oportunida-
subserviência, seja por intermédio do método expositivo de de, aquele que gera valor, que produz riqueza, que semeia
aulas, seja através do respeito incólume às hierarquias, seja empregos qualificados e de forma sustentada. Falta-nos a
por meio dos trabalhos de conclusão ou estágios supervi- ousadia para adotar novas práticas, da remuneração variável
sionados, sempre focalizados em grandes empresas e com ao horário flexível, da gestão compartilhada à participação
conteúdo discutível. nos resultados.
Nosso modelo de ensino não instiga o pensar. História é Nossa mediocridade ensinada congela nossos ímpetos
para ser decorada, e não entendida. Matemática é para se corporativos, impedem-nos de investir em nossas próprias
aprender por tentativa e erro, e não por tentativa e acerto. idéias, de acreditar em nossos mais castos ou ambiciosos
Português tem muitas regras, não se sabe para quê, não é sonhos. O risco, palavra derivada do italiano antigo risicare
“mano”? e que significa nada menos do que “ousar”, deixa de ser
uma opção, deixa de ser um destino.
Abolimos as aulas de Educação Moral e Cívica porque
60
remetiam à lembrança dos tempos da ditadura, em vez de Nossa mediocridade ensinada se mostra presente em nossas
modernizarmos seu programa. O resultado é que hoje não vidas pessoais, exacerbando nossa timidez, trazendo con-
se sabe mais cantar o Hino Nacional, o qual só é ouvido em sigo a hesitação por uma palavra, por um beijo, por uma
conquista mútua. Tempera relações sem usar sal ou pimen- de satisfazer estatísticas, empenhados em reduzir índices de
ta, adota a monotonia e culpa a rotina. Observe como nunca evasão e elevar taxas de escolaridade. Mas podemos optar
somos medíocres no início de um namoro, da troca de olha- pela pílula vermelha, e incentivar a escola democrática,
res ao flerte, do perfume das flores ao sabor dos bombons. substituir a forma desinteressante e desatrelada da realidade
Tudo isso até o primeiro beijo, o único de fato verdadeiro, de educar pelo estímulo à curiosidade, encorajar o aprendi-
pois dele derivam muitos outros até os finalmente protoco- zado ao invés do ensino porque ousadia é uma forma de ser
lares, como a nota cinco necessária para se passar de ano. e não de saber.
alguns dias do ano e deixar o quadro-negro de lado, incorpo- O FENÔMENO DE NOSSA ERA
rando novos elementos em suas explanações. Por Viviane M. Penteado Garbeli
Opções não faltam com o avanço da tecnologia. A cada dia Se a sua escola ainda não aderiu às novas tecnologias, não se
surge um novo software educacional ou uma maneira diferen- apavore, ainda há tempo. Não muito, é verdade, mas como
te de empregar o nosso velho e conhecido jornal. O impor- diz aquele velho ditado chinês: “O melhor momento para se
tante é pesquisar e ser criativo para perceber quais elementos plantar uma árvore foi há 20 anos. O segundo melhor momen-
de nosso cotidiano podem ser levados para a sala de aula e to é hoje.”
contribuir para o ensino diferenciado e divertido.
Atualmente, a discussão é sobre se devemos ou não utilizar
Inventar, ousar, sair do padrão. Na hora de colocar a mão na o computador no ambiente educacional. A preocupação, no
massa e empregar novos recursos, é preciso unir todas essas entanto, deve estar centrada em como utilizá-lo da melhor
características a mais um detalhe: foco. Também não adianta maneira possível em nossas aulas.
armar todo um show, usar vídeos, músicas e Internet, mas não
conseguir transmitir o conteúdo. Esses instrumentos servem Sabemos que as inovações tecnológicas têm invadido os dife-
como apoio a seus apontamentos. rentes setores da sociedade; e a escola, como parte integrante
dessa sociedade, não pode se furtar a aderi-las.
62 Não cabe a essas ferramentas, isoladamente, ensinarem a
matéria. Para ser um professor nota 10 você precisa dominar Então, o fator principal é fazer com que a escola seja um am-
muito bem o assunto e saber o momento adequado de aplicá- biente rico em inovações, trazendo o mundo para dentro dos
los. Senão, eles se tornarão tão ineficazes e entediantes quanto muros, criando ambientes interativos, dinâmicos e atraentes.
Isso é possível por meio de diferentes recursos. Dentre eles, o liando o aluno na busca de novas informações e na elaboração
computador se destaca, visto que grande parte dos nossos alu- de um produto final.
nos têm acesso ao mesmo de inúmeras formas: por meio de
brincadeiras ou trabalhos acadêmicos em casa ou na escola. Tal metodologia tem trazido muitos benefícios. Através dela,
o professor pode desenvolver diferentes habilidades no aluno
Computando – Cabe a nós, professores, procurarmos subsí- e, em conseqüência disso, inúmeras outras competências.
dios para tornar nossas aulas mais interessantes e produtivas,
na medida em que o computador estimula a criatividade e o Como funciona – A razão para o sucesso desse método é
um trabalho multidisciplinar, no qual um conteúdo pesqui- essa metodologia significa para o estudante.
sado vem exigir do aluno conhecimentos obtidos em outras
disciplinas, para que o trabalho tenha sua finalização de forma Uma coisa é responder dez questões em uma prova, após
adequada e de modo que possa ser explorado de diversas decorar páginas e páginas. Outra, bem diferente, é correr atrás
formas. da informação e produzir uma revistinha, matéria de jornal ou
um site com ela. É muito mais gratificante, e demonstra muito
Assim, além da matéria em si, podem entrar temas diversos, mais o conteúdo aprendido.
como a correta grafia e passagem de idéias (Língua Portu-
guesa) ou o trabalho montado de forma a proporcionar uma A seguir, uma lista de itens que devem estar definidos e provi-
leitura agradável, tentando cobrar isso em uma pesquisa denciados antes de se implantar a metodologia por projeto em
manuscrita (Educação Artística). suas aulas:
os excessos. O programa permite que você crie dezenas de muito utilizados, pois oferecem um aprendizado interativo e
efeitos: as letras do título vão descendo aos poucos ou entram procuram fixar conteúdos curriculares através de simulações
dançando um sambinha; um slide vai lentamente se fundindo de situações do dia-a-dia. Há softwares para todas as idades e
no outro ou abrem como uma cortina, e por aí vai. De vez níveis, atingindo desde a pré-escola até o ensino superior.
em quando, é interessante utilizar esses efeitos. Mas, em
excesso, podem cansar seus alunos ou criar uma expectativa O Sistema Educacional Expoente vê a informática como uma
errada. Eles ficam esperando para ver como o próximo slide importante ferramenta pedagógica, um recurso a mais que o
irá surgir, em vez de prestar atenção em seu conteúdo. Tome professor usa para suas aulas. Eli Gonçalves, supervisora do
especial cuidado com as acrobacias visuais que vão contra setor de capacitação, afirma que o software é um recurso que
a natureza dos estudantes. Lemos da esquerda para a direita enriquece o conteúdo normal das aulas, além de ajudar a fixar
e de cima para baixo, e é com essa ordem que nos sentimos conceitos.
confortáveis.
Outra questão a considerar, segundo Eli, é a capacitação do
4 - Vírus e outros problemas. Computadores costumam professor: “Ele tem de estar apto para usar adequadamente a
encrencar e travar sem nenhum motivo aparente. Também tecnologia e aqui no Expoente nós fazemos esse treinamento
sofrem ataques de vírus. Portanto, por mais tempo que você com vários cursos, entre eles alguns específicos voltados para
invista montando sua aula em PowerPoint, tenha sempre uma a área tecnológica.”
66 aula tradicional preparada para qualquer emergência.
Os softwares educacionais têm de ter um diferencial, e nesse
ponto os de simulação são muito importantes porque possi-
bilitam ao aluno uma experiência que, sem a tecnologia, não
seria possível. Segundo Regina Rodrigues, gerente de projetos Cuidados ao adquirir um software:
educacionais do Positivo Informática, “o aprendizado com o
software é muito mais motivador, o aluno gosta da tecnologia. Observar a faixa etária.
Para a boa formação do aluno, esse contato com a tecnologia é Analisar o conteúdo.
fundamental”. É essencial que permita que o aluno crie.
Não pode ser muito poluído.
No Colégio Bom Jesus, de Curitiba, existe o chamado Apoio Tem de despertar curiosidade e pensamento crítico.
Virtual, em que os professores elaboram, todo bimestre, o As instruções têm de estar muito claras.
. Proporciona o desenvolvimento psicomotor. tecnologia, o professor precisa também saber como utilizar
. Desperta a sensibilidade e a criatividade. com sabedoria seus recursos. A Internet é, sem dúvida, uma
das ferramentas com maiores possibilidades de agregar valor
e destacar a importância do mestre. E tem mais: o professor
INTERNET que não quiser comprometer-se com a grande rede vai dispor
de informações e fontes cada vez mais pobres em relação aos
NÃO FIQUE DE FORA DESSA, PROFESSOR! colegas que a utilizam. Então, não fique de fora!
Kalinke aborda alguns critérios para se fazer essa análise O site disponibiliza documentação?
usando as teorias construtivistas e ergonômicas. Seria pratica- O site possui boa navegabilidade?
mente impossível resumir esses critérios em poucas palavras,
portanto, se você quer realmente se aprofundar nesse assunto,
vale a pena ler o livro.
WEBQUEST:
A INTERNET NA MEDIDA CERTA
Mas, para ajudá-lo a fazer uma análise rápida e eficiente –
porém, não totalmente conclusiva – dos sites que indicará aos Uma técnica de ensino, desenvolvida em 1995 pelo profes-
seus alunos, Kalinke criou um check-list que pode ser sor norte-americano Bernie Dodge, está sendo usada aqui no
utilizado para verificar se um site apresenta seu conteúdo Brasil por diversas escolas e universidades para estimular o
privilegiando uma abordagem pedagógica construti- vista e processo educacional. 71
ergonomicamente adequada. Vamos à lista:
Denominada WebQuest, a metodologia é simples de ser usa-
da, não necessita de softwares específicos, apenas um com-
putador conectado à Internet. O professor define um tema, al- prática os conhecimentos adquiridos, possibilitando a visuali-
guns objetivos e em seguida a “tarefa”, além de sugerir alguns zação da teoria na vida real”.
links interessantes e importantes sobre o assunto proposto. A
atividade deve motivar a pesquisa, e tanto o material inicial Objetivos – Além de ser uma atividade simples, a qual pode
como os resultados devem ser publicados na Internet. ser usada da pré-escola até a pós-graduação, a WebQuest
envolve e compromete alunos e professores no uso da Internet
Assim, os alunos utilizam a Internet já com um objetivo pre- voltado para o processo educacional, pensamento crítico e
estabelecido, assimilam melhor o conteúdo sem desperdiçar protagonismo juvenil, e ainda proporciona os seguintes dife-
Pequeno Manual do Professor
Sem frescuras – Tão importante quanto o que interessa aos A grande maioria das revistas e suplementos voltados às
jovens é a forma pela qual essa informação lhes é passada. crianças e adolescentes tem a arte como carro-chefe. Segundo
Nunca uma geração teve tanto acesso à informação como a os três institutos responsáveis, em 1999 foram publicadas
atual. O surgimento vertiginoso de novas tecnologias também 9.870 matérias voltadas aos jovens no Brasil. Dessas, 2.010
Pequeno Manual do Professor
deu a eles um poder inédito. Como seus pais dificilmente falavam de arte, o que vale dizer lançamentos de cinema,
entendem de MP3, Napster, Shareware e outras palavras CD’s, festivais de rock, bandas de pagode e companhia. O se-
esquisitas, os adolescentes percebem esse mundo como sendo gundo lugar contou com apenas 781 reportagens. Aqui temos
deles. Então, o que esse pessoal medieval (mais de 25 anos) uma boa e uma má notícia: a má é a diferença quantitativa
quer ensinar a eles? A nova geração tem massa crítica sufi- entre os dois e a boa é que o segundo colocado é a educação.
ciente para desafiar os adultos pela supremacia cultural, social
e mercadológica. Querem saber – E quando se examinam quais os assuntos
que interessam aos jovens, nota-se uma diferença maior
O mundo da publicidade já entendeu o recado. Os anúncios
ainda. Em entrevistas feitas pelos institutos de pesquisa, eles
voltados aos jovens agora se concentram na realidade pura do
responderam que querem saber mais sobre:
cotidiano. Nada de belas modelos ou cenários futuristas. Eles
querem ver a realidade como ela realmente é, sem glamour ou 1. Profissão. Esse assunto está sempre presente e dispara
idealizações. Da mesma maneira, sua sala. Eles esperam que na preferência dos estudantes que se aproximam do vesti-
você diga onde a matéria se encaixa na realidade deles, que bular. Os adolescentes ressaltaram que querem muita infor-
muda rapidamente e a cada dia. mação sobre o mercado de trabalho, vestibular e profissões.
Aqui fica a primeira lição para você: nunca pare de se atua- 2. Projetos sociais e protagonismo. Eles querem mais
lizar. Leia muito para descobrir quais as preocupações deles matérias sobre jovens que se destacam em várias áreas, em
74 naquele momento. especial a social. Os protagonistas juvenis geram identi-
0
ficação do grupo e têm um potencial inspirador para uma
Os jovens na mídia – A Organização Educacional, Cien- postura mais atuante.
tífica e Cultural das Nações Unidas (Unesco), o Instituto
3. Atualidades. Os jovens também consideram que é de interessar um maior número de discípulos, você também
função da mídia contribuir para sua formação abordando aumenta o leque de opções deles.
assuntos como política, educação, drogas, preservação do
meio ambiente, sexo e acontecimentos atuais. O grande Onde encontrar a informação – A pesquisa da Unesco,
leque de assuntos desejados pressupõe uma visão do jovem ANDI e Instituto Ayrton Senna procurou mostrar também
como um “ser inteligente”, e não como um “ser problema”. quais são os veículos que publicam as informações mais
relevantes e úteis para os jovens. Entre 31 suplementos de
4. Sexualidade. Eles querem muita informação sobre esse jornais e revistas pesquisados, os três primeiros colocados em
Como usar esses dados – Como você notou, seus alunos que- 1º. Gabarito, suplemento do jornal Estado de Minas.
rem entender, rapidamente, o mundo que os cerca. Não tenha 2º. Tribuna Teen, página do jornal Tribuna de Alagoas.
medo, portanto, de levar-lhes recortes de jornais e revistas, 3º. Adolescência/Demais, página do jornal OPovo, do Ceará.
reportagens relevantes. De vez em quando, abra sua aula para
discussões, ligando sua matéria com assuntos recentes. Se considerarmos apenas publicações de circulação nacional,
mais fáceis de serem encontradas (e usadas em suas aulas), a
Outra possibilidade é escolher um “assunto do mês”. Faça página X-Tudo, do Correio Braziliense, levou vantagem. Seu
uma votação entre seus alunos para saber o que mais os está conteúdo foi considerado, no geral, como o 6º melhor. Depois
preocupando naquele mês e peça para que façam uma peque- vem o suplemento FolhaTeen, da Folha de S. Paulo (13º
na pesquisa nos jornais e revistas sobre o tema. No final do lugar), o Zap!, d’O Estado de S. Paulo (17°) e o suplemento
mês, pode ser formado um painel sobre o assunto. Zerou, do jornal gaúcho Zero Hora (2º lugar).
Ligue sua matéria a profissões. Se você leciona Matemática, Na telinha – A pesquisa também procurou programas de
por exemplo, diga que aquilo que está sendo ensinado será televisão que fossem relevantes aos jovens. Por uma triste
muito útil para engenheiros, estatísticos, entre outros. Faça coincidência, os mais votados (Programa Livre, com Sergi-
uma rápida explanação sobre a área de trabalho de cada nho Groisman; Altos Papos, quadro do programa Fantástico; 75
profissão. Vá além do esperado, cite um grande número de Barraco MTV) foram cancelados. O negócio é contar mesmo
profissões. No caso da Matemática, você pode mostrar como com a mídia escrita para levar o mundo à sua classe.
mágicos e pintores usam os números. Dessa maneira, além
Como usar a mídia Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef e pelo
Instituto Ayrton Senna.
A professora de Português entra na sala de aula e faz um pedi-
do que pega a todos de surpresa: Conteúdo na tela – Nesse fórum foi apresentada uma pes-
quisa feita pelas entidades participantes sobre o jornalismo
— Quero que vocês assistam à televisão hoje, prestando aten- educacional no Brasil. Ou seja, matérias referentes às escolas,
ção a um comercial qualquer. professores e alunos. Os números assustam. Segundo a pes-
quisa, no biênio 97-98, 83% do material veiculado em rádio,
Pequeno Manual do Professor
Imagine o susto da turma. Afinal de contas, todos os profes- TV e mídia impressa vieram de órgãos oficiais (MEC e de
sores passaram o ano alertando para os malefícios da telinha. diversas secretarias de ensino).
No dia seguinte, a mesma professora completa o pedido:
Em 1999, o panorama melhorou, e muito. O governo foi
— Agora façam uma redação descrevendo o comercial que responsável por 31,56% do material analisado. Pouco mais
assistiram. de 68% restante veio diretamente das redações da imprensa
comum, o que significa mais confiabilidade, independência e
Descrição, interpretação de imagens e roteiro, identificação de imparcialidade (bem, certos veículos escolhem para qual lado
mensagens. Quem diria que um filme publicitário de poucos serão imparciais, mas isso não vem ao caso). Dessas matérias,
segundos pudesse conter tanta informação? a maioria é dedicada ao ensino superior.
A mídia oferece material inesgotável para os professores Partindo para a ação – Ainda há muito o que fazer pela edu-
enriquecerem suas aulas. Todas as páginas de um jornal ou cação na mídia. Quanto mais destaque o setor receber, mais
revista podem ensinar algo. Até mesmo a página da previsão os professores ganham (valorização profissional, exposição,
do tempo pode ser utilizada para ensinar médias aritméticas troca de idéias, entre outras vantagens). Veja o que você pode
e topografia. O bom e velho rádio também é útil no ensino de fazer:
Línguas, identificação de diferentes sotaques, ritmos e lições
76
de Física.
2
Porém, a mídia pode ser ainda mais útil para a educação. Essa
foi a conclusão apresentada em um recente fórum promovido
pela Agência de Notícias do Direito da Criança (ANDI), pelo
1. Faça a sua matéria. Nenhum repórter cria uma notícia As transformações são muito rápidas e a tecnologia acaba
do nada. Seu trabalho é contar o que está acontecendo. Isto difundindo as informações e levando as imagens para dentro
é, alguém tem de chegar até ele, contar uma experiência, da casa das pessoas em tempo real. Em sala de aula, a coisa
fazer uma denúncia, oferecer material. Por isso, mãos à não pode ser diferente.
obra. Consiga os endereços de órgãos de imprensa locais e
informe-os sobre o que você e sua escola estão fazendo de É sabido que os meios de comunicação de massa bombar-
bom e diferente. Escreva artigos e submeta-os à publicação. deiam as novas gerações com uma contundência sem prece-
dentes, e é através deles que os estudantes acessam a realida-
“A partir do momento em que você tenha feito um bom pla- até mesmo você tenha esse hábito.
nejamento de suas atividades e esteja totalmente ‘por dentro’ Seus alunos também fazem suas lições, em seus quartos, com
de como sua aula se desenvolverá e dos tópicos primordiais a um CD ou rádio ligado ao lado. Alguns professores e pais de
serem abordados, ficará mais fácil encontrar filmes que pos- alunos reclamam disso, mas se é algo que normalmente faze-
sam ser utilizados como recurso complementar e enriquece- mos, torna-se difícil proibir ou culpar o Sepultura, a Britney
dor das atividades”, afirma Machado. Ele acredita que tendo Spears ou Justin Timberlake pelo baixo rendimento escolar
visualizado os caminhos, feito os mapas que o conduzirão dos alunos.
nessa empreitada, tudo pode ficar muito mais fácil. E finaliza,
enfatizando a importância de acompanhar os lançamentos Vantagens em alto e bom som – O uso correto da música
de filmes nos cinemas e nas locadoras de vídeos, nos jornais pode dar bons resultados em sua sala de aula. Tanto pode aju-
de circulação diária e nas revistas semanais de informação, dar na concentração como no relaxamento de seus discípulos.
através da Internet e de comentários de colegas. “Prestem Por exemplo, você acha que as salas de operação são silencio-
atenção em títulos que possam contribuir com as aulas de sas como nos filmes? A maioria dos cirurgiões tem suas músi-
Geografia, Literatura, Português, História ou qualquer uma cas e artistas preferidos que são colocados para tocar durante
das matérias de sua agenda escolar. Comentem a respeito de todo o procedimento. Com isso, eles conseguem evitar que a
filmes ou tramas que tenham visto e que tenham relação com mente divague e se concentram mais no trabalho.
os assuntos trabalhados nas aulas. Confira o material sugerido
80 e prepare-se para utilizá-lo.” Outras vantagens foram encontradas pelo psicoterapeuta
búlgaro Georgi Losanov. Na década de 70, ele descobriu que
a música barroca incentivava o lado direito do cérebro e a
absorção de conhecimentos.
A partir desse estudo, os alemães orientais desenvolveram um . O som será ligado apenas durante a resolução de exercí-
método em que canções barrocas eram usadas como fundo cios, discussões em grupo e atividades similares. Nunca
em treinamentos. Dessa maneira, eles afirmavam estimular o durante as explanações do professor. Dessa maneira, evi-
lado direito do cérebro e acelerar a aprendizagem. Ao mesmo tam-se distrações durante o aprendizado.
tempo, os sons harmoniosos fazem com que as pessoas se
. Não permita nenhum preconceito com relação a gêneros
divirtam, aprendendo naturalmente, sem pressões.
musicais, nem a predominância de um só estilo de músi-
ca. Imponha limites, como: “Não, essa semana já ouvi-
Você também pode usar todas as vantagens da música em sua
mos rock demais. Alguém tem um CD diferente?” Se for
que a vida se repete e tudo parece ser vontade de Deus. tanto, o gênero caipira, que também pertence às origens da
Anote no caderno o trecho que confirma isso. Em segui- música brasileira, simplesmente não é destacado nos livros di-
da, faça o seu comentário a respeito dessa postura. dáticos ou utilizado por professores. As músicas nem mesmo
• Faça uma relação entre a infância de um adolescente de são citadas como fontes históricas ou mesmo como crônicas
13 anos que mora no campo, na cidade e um que mora do cotidiano.
na rua (“Deus, era em nome da fome que eu roubava”).
Quais as expectativas de vida de cada um em relação ao A música caipira, se analisada com o respeito que merece e
futuro? dentro de um contexto histórico, apresenta um caráter nar-
• Podem ser feitas também pesquisas com integrantes do rativo das dificuldades do homem rural na cidade grande e a
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), negação desse fato e dos valores urbanos frente aos do sertão.
por exemplo. Seria muito importante que os professores explorassem as
representações contidas nesse gênero, associando-o com a
Existem outras maneiras de você enriquecer suas aulas com realidade vivida pelo migrante em seu novo espaço de vida, a
som. Que tal um concurso de paródias, usando temas de suas cidade.
aulas? Ou um exercício de repentistas? Após explicar rapida-
mente o que é esse ritmo nordestino, você daria um exercício Portanto, a tarefa do professor em seu cotidiano é a de superar
para seus alunos, que responderiam de forma rimada, como a visão simplista, buscando aliar o estudo de documentos his-
82 em um repente. Todas as vantagens que a música pode trazer tóricos às letras de canções que traduzam parte da memória da
a seus alunos estão a seu alcance. Só depende de sua criativi- história do Brasil, esquecida ou relegada ao esquecimento. A
dade. música caipira faz parte da memória, está dentro de um con-
texto que expressa as angústias do homem do campo frente à locomover e na “caxa” de esmola, que na verdade é o lucro
sua nova realidade – que é a urbana – e deixar esse momento da empresa. Outros temas recorrentes são inflação e mudança
cair na escuridão seria uma grave perda cultural/pedagógica. de governo, como nos indica a letra da música “A coisa ficou
bonita” de Tião Carreiro e Lourival dos Santos:
Abaixo um exemplo de como trabalhar com uma música
caipira. “Sofria sem esperança a população aflita
A inflação furava o povo com sua espada esquisita
Dentro desse contexto, o estudo das canções servirá como um Caiu do céu um governo trazendo força infinita
2 O livro escondido será o escolhido – Esconda livros e específico à sua matéria. Esse mural também permite que
dantes pode conter os livros pessoais prediletos de cada um crença e propagação do valor do hábito da leitura;
(devidamente nomeados e acrescidos da sigla “v.v.” – vai e conhecimento de métodos e técnicas para o desenvolvi-
volta) para manuseio e leitura de todo o grupo. Dessa forma, mento do hábito da leitura.
você estará também desenvolvendo valores, como união,
amizade e respeito. Possibilitando a troca de um livro, revista A partir daí, é hora de colocar a mão na massa.
ou história escrita pelo próprio aluno, você começa a construir
o conhecimento coletivo. Conteúdos procedimentais – Há muitos caminhos para
implantar um programa de desenvolvimento de leitura com
A vez do coordenador – O coordenador é a chave desse pro- sucesso, mas todos dependem da capacidade de focar em ler,
jeto de leitura. Dele partirão as idéias fundamentais, a seleção pensar, escrever e criar. Sua atenção também deve estar volta-
de outras atividades, a análise e escolhas definitivas de tipos da para o atendimento específico de necessidades individuais
de livros e atividades extras. O seu trabalho se fundamentará com a finalidade de orientar os procedimentos de sala de aula
em três eixos básicos: e pessoais (seus, professor) para atingir o equilíbrio necessá-
1. o desenvolvimento de leitores, escritores e pensadores rio a cada etapa e seu nível de exigência.
proativos;
E há outras ações que o coordenador pode tomar:
2. a organização do programa de leitura no cotidiano do
88 processo ensino-aprendizagem;
4 Parcerias com livrarias – Deve-se encorajar os alunos
3. o fornecimento de estratégias educacionais que ajudarão a conhecer, freqüentar e apreciar o ambiente e consumir
os alunos a alcançar a excelência. livros. Isso faz parte da formação de um bom leitor. Fale
com donos de livrarias para que abram espaços e dispo-
nibilizem livros a fim de que aconteça uma aula diferente Visitando editoras – Dê ao aluno a oportunidade de perce-
sobre um tema escolhido dentro do currículo. A freqüência ber como o livro ou revista surge. Desde a pesquisa original
poderá ser mensal e o professor trabalhará outros valores, até a impressão, enfatizando que, além de cultural, uma
como o respeito à propriedade alheia, diferentes estruturas publicação também é um produto comercial como outro
de comportamento em espaços específicos, o “saber pedir”, qualquer. Isso é trazer significado ao ensino, como pede a
esperar, compartilhar, etc. nova Lei de Diretrizes e Bases do Ensino (LDB). Portanto,
visitas programadas a gráficas e editoras, encontros com a
Seus alunos são reconhecidamente grandes consumidores esfera do mercado propriamente dito, enriquecerão todo o
na área de leitura. Muitas livrarias já começam a facilitar o
profissionais da área. Pode também entrar em contato com ser selecionadas separadamente e, sim, dentro de um
livrarias e editoras, formando os projetos de parcerias e contexto geral. A aparência de um slide pode ser alterada
visitas. quando outros slides são abertos na mesma tela.
Aplique esse recurso para realçar ao invés de usar subli- Limite-se a aplicar entre duas e cinco cores em suas apre-
nhado (e use sublinhado ao invés de itens piscando). sentações. É melhor ser conservador nessas horas. Para os
novatos, o uso de quatro cores distintas é mais apropriado.
Sempre que possível, evite usar cores muito quentes, tais Essa quantidade permite espaço extra na memória de curto
92
10
PROFESSOR NOTA
10 NA PRÁTICA
Professor nota 10 na prática HPRÁTICA 1
Com certeza, uma das características mais requisitadas para
que um educador se transforme em um professor nota 10 e, A busca de métodos não-convencionais
conseqüentemente, faça de sua aula um momento fascinante para lecionar Física, Química,
para seus alunos, é a criatividade na hora de expor o conteú-
do.
Matemática e até Inglês
94
Ensinar de tudo – Wagner destaca que a beleza de dar uma
aula com um kart, montagem e desmontagem de motores é a
HPRÁTICA 2
quantidade de assuntos que são tratados nas aulas. “Começo A busca de métodos não-convencionais
trabalhando com os motores, depois de uns três meses, passo para lecionar Língua Portuguesa
para o kart”, diz Wagner. “E nisso, ensino de tudo.” De tudo,
mesmo. Veja: Elaborar o conteúdo, pesquisar, buscar informações atuais e
desenvolver exercícios. São normalmente esses os passos para
• Combustão, triângulo de fogo – Química preparar as aulas. Porém, os professores de Português têm
Pequeno Manual do Professor
• Cálculo de cilindrada, volume de motor – Matemática uma tarefa a mais: os exemplos, aquelas frases para expli-
• Suspensão, torque – Física car sujeito, crase, conjunções, pronomes e tudo que envolve
• Kart, slicks, pole position – Inglês nosso idioma.
E mais trajetória, tangência, por que uma roda esterca mais Muitos educadores não dão grande importância a isso, usam
do que a outra... a lista de assuntos que podem ser tratados é nomes comuns, verbos e situações aleatórias. O professor
interminável. Mas o que vale mesmo, segundo Wagner, é o in- Wellington Borges Costa pensa diferente. “Acho que a gente
teresse de seus alunos. “Certa vez, uns alunos meus desmon- precisa ter um capricho com os exemplos, que não podem se
taram o motor da Kombi do pai e me ligaram pedindo ajuda limitar a frases pobres”, explica. O professor Wella, como é
para montar de novo”, conta. Você conhece outro exemplo de mais conhecido entre seus alunos do cursinho pré-vestibular
alunos arranjando lição de casa para fazer? Positivo, em Curitiba, utiliza música para lecionar. Ele exem-
plifica as matérias com canções de Chico Buarque, Caetano
Veloso, Cazuza e tantos outros ícones da música popular
brasileira. Além de aprender Português, os estudantes têm um
contato maior com a cultura e história do Brasil, conhecem
a trilha sonora e os fatos que marcaram o País. “Os alunos
95 acabam descobrindo os pais e ouvem os discos deles”, conta
Wella, enfatizando, ainda, a importância de aproximar a famí-
lia em todo esse contexto.
“Conhecer nossa cultura é conhecer o próprio caráter do
Brasil, a brasilidade.” A música sempre esteve presente na
HPRÁTICA 3
vida do professor Wella e foi por causa dessa paixão que A busca de métodos não-convencionais
ele conheceu sua esposa e parceira em diversos projetos, para lecionar Matemática
Luciana Salles Worms, professora de Geopolítica. Os dois,
que sempre buscaram na música uma saída criativa para as
Ninguém é obrigado a participar. E mesmo não valendo nota,
aulas, elaboraram um livro para contar a História do Brasil
já são mais de 200 estudantes de várias idades que participam
do Século XX. Através de 176 canções populares, Luciana e
das aulas de dança que acontecem na Escola Estadual
Depois de pronto, o vinho foi levado a um especialista para da noite e se estendem até as seis da manhã. Essa é a maneira
ser analisado. Os resultados não poderiam ser melhores. que o professor Maurinto Reis dos Santos utiliza para ensi-
Além de terem produzido a bebida corretamente, os alunos nar Geografia aos seus alunos de 3º ano e cursinhos de Porto
melhoraram as notas das provas. Segundo a professora, que Alegre e Florianópolis.
aplica esse método há três anos, “as dificuldades em relação à
matéria agora são bem menores”. O “Bailão”, como são chamadas as aulas, reúne conhecimento
e diversão. Os alunos aprendem o tema que está sendo abor-
Os alunos não experimentaram a bebida depois de pronta, dado e depois, por volta das três da manhã, se divertem com
por dois motivos: primeiro porque ainda não têm idade para música e dança. “É uma aula lúdica, diferenciada, que integra
consumir bebida alcoólica e segundo porque é apenas uma e aproxima os alunos”, comenta o professor.
experiência e o produto não está apropriado para o consumo.
Tudo começou há oito anos, quando um grupo de alunos
solicitou aulas durante a madrugada. Ele atendeu ao pedido e
levou um violão e um chapéu de nordestino para descontrair.
Outros alunos ficaram sabendo e começaram a pedir aulas as-
sim. O sucesso foi tanto que ele já teve de organizar aulas em
um ginásio para mais de cinco mil pessoas, mas garante que
99
o aprendizado é melhor em turmas menores. Hoje ele utiliza
o método esporadicamente, em média uma vez por mês, para
não tornar a aula uma rotina.
O professor Maurinto leva para a sala de aula músicas que
tratam de êxodo rural, violência e preconceitos para contextua-
HPRÁTICA 7
lizar com os temas trabalhados. “Acho que o currículo escolar A busca de métodos não-convencionais
está muito distante da realidade do aluno. Ele aprende os tipos para lecionar História
de solo da China e não faz idéia do nome da terra que tem em
casa”, diz. A idéia de valorizar o conhecimento dos alunos repetentes
fez com que a professora Adriana Toledo Sievert utilizasse
O professor destaca que essas ações são fundamentais em a capoeira para ensinar a História do Brasil. “Havia muita
As aulas, sempre animadas, foram integradas com a arte e par- tuições de São Paulo utilizaram uma maneira diferente para
tiam da história da literatura infantil, como o livro O berimbau, estimular os estudantes a discutirem a questão dos alimentos
de Raquel Coelho, ou de canções de Dorival Caymmi, Caetano transgênicos.
e Gil. Os resultados foram aparecendo aos poucos. Percebeu-se
nesses alunos maior concentração, coordenação motora, paci- Amparadas pelo Enlaces-Brasil, uma organização não-gover-
ência e dedicação diante das atividades. Houve grande melhora namental que desenvolve e coordena ações de aprendizagem
nos trabalhos de equipe em que se repartem tarefas segundo via Internet, as escolas estaduais Professora Beatriz de Qua-
regras elaboradas pelo próprio grupo, escutam mais uns aos ou- dros Leme e Professora Luiza Hidaka desenvolveram o tema:
tros e controlam um pouco melhor o barulho e volume da voz alimentos transgênicos – heróis ou vilões? “Cada instituição
para não desconcentrar os colegas, afinal, a capoeira precisa de teve uma classe participante. Os alunos foram divididos em
concentração e ajuda mútua do grupo. “Esse método de ensino três grupos: contra, a favor e produção e consumo”, conta a
já faz parte da minha visão de mundo e educação”, completa professora de Biologia e uma das coordenadoras do método
a professora, que agora sempre que vai ensinar a História do usado, Analice Delorence Di Santo.
Brasil utilizando a prática da capoeira.
Outra educadora, e também integrante da coordenação, a
professora Márcia Morales, escreveu a história do Zé para que
os alunos compreendessem melhor o assunto. O personagem é
101 um plantador de batatas que descobriu a tecnologia dos
transgênicos e passou a utilizar em sua produção. Os estudan-
tes analisaram sites e outras fontes, como jornais e revistas,
para pesquisar e entender o tema. Foram abertas contas de
e-mail para que durante oito semanas os envolvidos trocassem
Aproveite a idéia em suas aulas:
mensagens pela Internet para discutir as questões envolvi-
das. “O resultado foi gratificante. Os alunos debateram o seu
ponto de vista e geraram uma polêmica enriquecedora”, diz a . Escolha temas atuais e estimule os alunos a pesquisa-
rem em jornais, revistas e sites. Promova debates para
professora Analice. Para finalizar a discussão, a história do Zé
que sejam levantadas todas as questões do assunto,
teve continuidade e deixou no ar algumas perguntas.
desde a parte técnica até opiniões contra e a favor,
assim os estudantes desenvolvem o senso crítico.
No final do período de estudos, o grupo que era contra os
102
ESTA CARTILHA ESTÁ SENDO DISTRIBUÍDA PARA TODOS OS
PROFESSORES DO BLOG SOS PROFESSOR