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CHAMADO BRASIL
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JOÃO GILBERTO PARENTI COUTO
DECIFRANDO UM ENIGMA
CHAMADO BRASIL
2ª edição revista e ampliada
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Copyright © 2005 by João Gilberto Parenti Couto
2006 – 2. ed.
e-mail: jgparenti@hotmail.com
Todos os direitos reservados
Revisão:
Ana Emília de Carvalho
Capa:
Marcus Vinicius
CDD : B869.43
CDU : 869.0(81)-4
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SUMÁRIO
Apresentação ................................................................. 11
LIVRO I
BRASIL, PAÍS DO PRESENTE – O FUTURO CHEGOU
O DESTINO MANIFESTO E O SONHO DE DOM BOSCO
Prefácio ......................................................................... 29
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7. Posfácio ..................................................................... 69
A Era Vargas .............................................................. 69
O Testamento ............................................................ 74
A Era Vargas em três tempos – Resumo ........................ 76
Referências Bibliográficas ................................................. 77
LIVRO II
A REVOLUÇÃO QUE VARGAS NÃO FEZ – A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA
PÚBLICA DE TEMPO INTEGRAL
Introdução ..................................................................... 81
LIVRO III
Acorda, Brasil – Um alerta aos políticos e governantes
sobre a necessidade de um projeto nacional para o país
fazer face aos desafios do terceiro milênio
Prefácio ....................................................................... 129
1. O planejamento estratégico........................................ 131
Sistema de Transportes – Trem de Grande Velocidade ... 133
A Ferrovia de Dom Bosco .......................................... 134
A indústria do turismo e a geração de empregos .......... 138
A Semana Inglesa e as Leis Trabalhistas ....................... 139
Gerenciamento dos recursos naturais ......................... 142
Recursos hídricos ..................................................... 143
A defesa do meio ambiente ....................................... 145
Os consórcios de reciclagem ..................................... 146
As Regiões Metropolitanas ........................................ 147
A defesa das matas ciliares e a proteção das nascentes . 149
Recursos energéticos ................................................ 150
A reestruturação do Estado brasileiro ......................... 152
A revisão Constitucional ........................................... 152
A reforma do Judiciário ............................................ 155
O Ministério do Pessoal da União .............................. 158
O Ministério dos Bens Imóveis da União .................... 160
O Instituto Brasileiro de Seguro Social ........................ 161
Uma nova divisão territorial da Federação ................... 164
O resgate da dívida social .......................................... 165
A Reforma Agrária .................................................... 166
A Reforma Urbana .................................................... 172
Favelas e cidadania .................................................... 175
A renegociação da dívida externa ............................... 177
Títulos do Tesouro Nacional ...................................... 179
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Selos de Autenticidade .............................................. 179
O resgate da dívida pública........................................ 180
A quebra de Contratos e a Bíblia................................ 182
2. A Geopolítica Continental ......................................... 183
O fluxo migratório ................................................... 183
O monitoramento das fronteiras ................................ 185
A Guarda Nacional ................................................... 187
A Polícia Federal ....................................................... 188
O Ministério da Defesa ............................................. 188
A Polícia Carcerária Federal ........................................ 189
O Sistema Prisional e a dignidade do ser humano ......... 190
As Polícias Estaduais de Segurança Pública ................... 191
A reestruturação das Forças Armadas ......................... 192
A defesa do tríplice ecossistema sul-americano ............ 193
O Instituto de Pesquisa do Tríplice Ecossistema ........... 195
A liderança do Brasil na América do Sul ...................... 195
A Área de Livre Comércio das Américas ..................... 197
Interesses estratégicos .............................................. 198
A Associação dos Países Sul-Americanos .................... 199
A Farmacopéia Brasiliense e o futuro da Nação ............ 200
A soberania dos países sul-americanos ....................... 203
A estratégia de defesa da América do Sul .................... 205
Energia nuclear ........................................................ 205
Pequenas usinas nucleares ......................................... 207
A doutrina Bush ....................................................... 210
A doutrina do combate ao narcotráfico....................... 213
O ato falho .............................................................. 214
A paz ameaçada ....................................................... 218
A estratégia do medo e a defesa da Amazônia ............. 221
Os Estados predadores ............................................. 223
3. A guerra biológica .................................................... 228
A guerra biológica na Antiguidade .............................. 228
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As sete pragas do Egito ............................................ 229
A guerra biológica moderna....................................... 230
O Instituto de Pesquisas Biológicas e Combate às Pragas
Exóticas .............................................................. 234
A Síndrome do Sapo Fervido ..................................... 243
Referências Bibliográficas ............................................... 244
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APRESENTAÇÃO
PRESENTAÇÃO
As pegadas da traição
DEZEMBRO DE 2002
A Escolha Certa
(Artigo de Bolívar Lamounier – Revista Exame, 25/12/2002,
ed. 782, p. 14 – parcial)
DEZEMBRO DE 2004
OAB avalia Lula como um “Carbono” de FHC
(Artigo intitulado CRÍTICA – Jornal Estado de Minas,
30/12/2004, p. 4)
DE NOVO?
Nota de Batista Chagas de Almeida
(Jornal Estado de Minas, 28/12/2004, p. 2 –
Coluna “Em Dia com a Política”)
A opção equivocada
O que a imprensa registra no final do segundo ano do
governo Lula sintetiza as conseqüências nefastas de uma opção
equivocada, feita por governantes acovardados que não têm a
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coragem de desafiar a elite, como fez Getúlio Vargas, nem a ou-
sadia de enfrentar os tecnocratas do FMI, paus mandados da
banca internacional, como JK, para mudar as regras de um jogo
que contraria os interesses do povo e da nação brasileira, mas
que é extremamente favorável a uma minoria de privilegiados.
Para isso é necessário ter o caráter de um gaúcho forjado nos
entreveros dos Pampas e a altivez de um mineiro cultivada no
silêncio das montanhas. Sem esse estofo moral, o que se vê são
governantes bitolados, como os militares, ou renegados, como
Fernando Henrique Cardoso, que abjurou tudo o que escrevera
como sociólogo, para poder abraçar, sem constrangimentos, como
Presidente da República, a causa dos banqueiros. Este mesmo
procedimento foi adotado, prazerosamente, pelos elementos de
proa do Partido dos Trabalhadores, os quais, segundo a senadora
dissidente, Heloísa Helena, lambuzaram-se com as regalias do
poder tão logo se tornaram os poderosos do momento, esque-
cendo assim todo um passado de lutas e promessas de mudanças
no quadro social brasileiro, como bem frisaram os representan-
tes da OAB.
Conseqüentemente o que se vê, ao findar-se o segundo
ano do “proletário” governo petista, é a continuidade da política
da “foca enganada” (aquela que persegue uma sardinha espetada
numa vara), ou seja, o tal “crescimento sustentado”, que será
alcançado “no próximo ano”, quimera que sustentou o discurso
do Presidente FHC em seus dois mandatos e que agora é usado
sem cerimônias pelo Presidente Lula. Essa política funciona como
uma miragem, pois na virada de cada ano um fato novo remete
para o seguinte esse prêmio que parece estar ao alcance das mãos
e que mudará a sorte dos excluídos, os quais, enquanto tal fato
não acontece, devem contentar-se com os megaprojetos
assistencialistas, como “Fome Zero” ou “Bolsa Família”, e outras
propostas varejistas de inclusão social, como o “Programa
Nacional de Biodiesel”, que, se não mudam o quadro de exclu-
são, servem de anestésico social, como o famoso “pão e circo”
dos romanos.
Este programa, inclusive, é um contra-senso, pois, ao in-
vés de incentivar a produção de alimentos para combater a fome,
ele foi projetado para alimentar a indústria automobilística. Isto é
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um absurdo! Nenhum país do mundo jamais se atreveu a destinar
terras agricultáveis para produzir combustíveis, pois basta um
simples cálculo matemático, e a Petrobrás está apta a fazê-lo, para
se ter a idéia da dimensão da área a ser plantada para substituir
os combustíveis fósseis. A exceção, claro, é o nosso País, com o
famigerado projeto da ditadura militar, o Proálcool, que varreu
do campo uma enormidade de pequenos e médios agricultores
que produziam alimentos, principalmente os produtores de fei-
jão do Estado de São Paulo. A propósito, é bom lembrar que a
ONU calcula em 1 tonelada por habitante a produção de alimen-
tos para que um país não passe fome. Quanto falta ainda ao
Brasil para atingir esse patamar? Para refrescar a memória dos
mais distraídos, é só recordar o que os economistas dizem sem-
pre que se cogita aumentar o poder aquisitivo dos excluídos:
“Vai haver desabastecimento, pois a produção de alimentos não
é suficiente para atender ao aumento de consumo, e conseqüen-
temente a volta da inflação”.
O sonho do Ermitão
Após essas visões, o Ermitão retornou ao seu catre e ador-
meceu, mas suas atribulações continuaram, agora na forma de
um sonho. Neste sonho ele conversava com uma pessoa sobre
uma greve, quando viu um rio caudaloso de águas vermelhas,
barrentas como nas enchentes, porém ainda no seu leito, na mar-
gem do qual vários instrumentos de garimpo estavam arrumados,
porém inativos por falta de garimpeiros que estavam ausentes,
menos um que descansava acocorado a uma certa distância. Di-
ante desse quadro, veio-lhe à mente que, embora a produção de
ouro cessara, aquele caudal talvez portasse esse metal. Nova-
mente desperto, interpretou o sonho como possível crise que se
avizinhava, pois os elementos básicos do sonho não se harmoni-
zavam, ou seja, o trabalho e o ouro. Além disso, águas vermelhas
representam sangue; barrentas e caudalosas, tormenta a montan-
te... nas cabeceiras; ainda no leito, prestes a transbordar, aconte-
cimentos próximos!
A Síndrome do Nazismo
De tudo isso cabe ainda uma reflexão sobre o momento
político em que vivemos e as sementes dessa crise que se avizi-
nha. No final do mês de outubro de 2005, portanto um ano
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antes das eleições presidencias de 2006, um fato ocorrido em
Brasília chama a atenção pela semelhança com outros aconteci-
dos na Alemanha nazista. Segundo o Jornal Estado de Minas
(28/10/2005, p. 2):
“A Escola de Formação de Trabalhadores em Informática (EFTI),
que financiou os cartazes com a fotomontagem do presidente
nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), vestido de na-
zista, funciona há anos como uma espécie de bunker do PT do
Distrito Federal. A escola, localizada no Lago Norte, é utilizada
como local de reuniões de parlamentares e sindicalistas ligados
ao partido, depósito de material de propaganda para diretórios
petistas das cidades do Entorno de Brasília e centro informatizado
de acompanhamento e fiscalização de eleições. [...] Depois de
identificar os autores dos cartazes com a fotomontagem do pre-
sidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), vestido de
nazista, a 1a Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga se eles conta-
ram com a estrutura de algum sindicato ou outra entidade traba-
lhista para distribuir o material nas paradas de ônibus no Plano
Piloto. Foram impressos três mil cartazes. Os responsáveis preci-
saram apenas de uma madrugada – da segunda-feira para terça –
para fixá-los”.
A semelhança dos fatos ocorridos aqui no Brasil e na Ale-
manha fica por conta da estrutura partidária e os meios para
conquistar e manter o poder, principalmente pela ação das bases
e das cúpulas. Estas, como mostrado no documentário da
Globosat Os Assessores de Hitler (Hitlers Helfer), são muito
parecidas, inclusive ambas tiveram suas noites dos longos pu-
nhais, vivenciadas por Ernst Rohm e José Dirceu, alem, é claro,
do apoio da classe empresarial ao seu líder máximo, para disso
tirarem o melhor proveito. No caso alemão, deu no que deu.
Aqui no Brasil, as águas barrentas ainda estão no seu leito, razão
por que ainda é possível evitar transbordamentos catastróficos.
Esta perspectiva alvissareira liga-se ao fato de que se lá Reinhard
Heydrich, o “jovem e terrível Deus da Morte”, ajeitou sorrateira-
mente os ovos da serpente para que eclodissem no tempo preci-
so, aqui Roberto Jefférson chutou a incubadeira de forma
extemporânea, impedindo não só que o choco se completasse
com também desnorteando os gestores serpentários.
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Balanço da situação
Em resumo, neste atribulado momento político em que vi-
vemos, criado por um partido que em campanha eleitoral se
proclamava reserva moral do País e marco regulador dos bons
costumes no trato da coisa pública, mas que, ao assumir o poder,
perdeu o rumo e o prumo – como bem atestam as atitudes extre-
madas de cidadãos desesperados com a insensibilidade de
governantes petistas, como a greve de fome de um religioso para
defender o Rio São Francisco e a auto-imolação pelo fogo de um
ativista ambiental para proteger o Pantanal Mato-Grossense, contra
as investidas de ex-defensores do meio ambiente, o Presidente
da República e o Governador do Mato Grosso do Sul, que agora
desdenham seus antigos companheiros de caminhadas ecológicas
e de partido com visão amazônica – subsiste uma questão (os
fundamentos da economia) que deve merecer uma reflexão mais
aprofundada por parte dos governantes e da mídia, para que a
política deixe o terreno das falsidades e recupere a credibilidade
junto dos cidadãos que ainda acreditam que, apesar dos pesares,
um dia chegaremos lá.
Esse LÁ evidentemente não é Shangri-lá, uma terra de fan-
tasia onde o principal objetivo é pagar juros, como propõe a
política econômica gerida pelo Ministro Palocci e apoiada sem
restrições pelo Presidente da República, em que pesem opiniões
contrárias de auxiliares seus, como informa o Jornal Estado de
Minas (17/11/2005, p. 3) em matéria intitulada Ministro da Fa-
zenda deixa claro que sua permanência representa a manutenção
da política econômica e diz que a Ministra da Casa Civil errou.
Ao depor no Senado, nega todas as denúncias:
“Em entrevista na semana passada, Dilma qualificou de ‘rudi-
mentar’ o plano em análise e afirmou que aumentar o superávit
primário (economia para pagar os juros da divida) sem reduzir a
taxa de juros é ‘enxugar gelo’. (...) Pela primeira vez, ele reagiu
publicamente às críticas da ministra. Apresentou-se como fiador
do ajuste fiscal, descrito por ele como a base dos ‘oito trimestres
seguidos’ de um crescimento econômico que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva repisa a todo momento nos discursos. (...) A
composição da mesa que recebeu o ministro na CAE deu a medi-
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da do seu prestígio. Estavam ali o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e os ex-presidentes da Casa José Sarney
(PMDB-AP) e Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA)”.
O crescimento vegetativo do País, fruto dessa política eco-
nômica, classificada pela Ministra Dilma de enxuga-gelo, susten-
tada pela classe empresarial e prestigiada por políticos oriundos
em sua maioria do Nordeste, onde o ranço escravocrata e a he-
rança do coronelismo ainda estão presentes e atuantes, não leva
em conta, em seus cálculos matemáticos e dados estatísticos, a
inserção dos excluídos na economia formal, sendo portanto uma
obra mal calculada. Este tipo de ato falho está bem exemplificado
na Bíblia:
De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se senta
primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente
para terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será
capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zom-
bar: “Este homem começou a construir e não foi capaz de aca-
bar” (Lc 14, 28-30).
Diante de tudo isso, pergunta-se: por que, durante a expo-
sição do ministro no Senado, nenhum dos presentes procurou
saber qual o plano do governo para acabar com as favelas, com as
filas nos sistemas de saúde e de previdência e dotar as cidades
de saneamento básico? E mais: em que prazo isso seria feito e de
onde sairiam os recursos financeiros para tal fim? Por que, ao
invés de ficarem “embevecidos” com a “performance” do Minis-
tro Palocci, os senadores não se concentraram nas questões bási-
cas de interesse da população, como moradia, escolas, hospitais,
transportes e alimentação?
Que país imaginam que essa política econômica criará nas
próximas décadas, se sua finalidade maior será pagar juros a qual-
quer custo, mesmo que esse custo seja manter na miséria metade
da população brasileira? Não seria mais objetivo e racional se
refletissem sobre isso e procurassem saber quando os brasileiros
em sua totalidade poderão exercer seus direitos de cidadãos,
acabando conseqüentemente com o assistencialismo farisaico re-
presentado pelas “cestas básicas”, “bolsa família” e outras medi-
das paliativas que humilham mais que dignificam os beneficiados?
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É preciso acabar com essa demagogia eleitoreira, a qual, como o
“pão e circo” dos romanos, não resolve o problema da miséria,
mas é utilizada pelos políticos como anestésico social para man-
ter os excluídos no seu lugar, ou seja, nas favelas. É preciso res-
gatar a cidadania desses milhões de brasileiros, principalmente
dos descendentes dos escravizados, que até agora não tiveram o
gosto de desfrutarem seus direitos assegurados na Constituição
Federal, para eles uma mera alegoria política.
Já está na hora também de os integrantes da mídia, por
intermédio de seus elementos de proa, tanto os que trabalham
nos bastidores como aqueles que se comunicam diretamente com
a população, os formadores de opinião, de se conscientizarem
de que não são meros leitores de pautas preparadas nas centrais
de produção, mas cidadãos no exercício de uma profissão que
tem uma responsabilidade social muito grande. Por que esses
profissionais não tentam questionar esse modelo econômico,
formatado exclusivamente para atender a segmentos privilegia-
dos da sociedade, a classe média e a elite, que tudo têm e que
tudo podem, deixando de fora metade da população brasileira
que nada tem e nada pode. Para terminar, mais um questionamento.
Por que essa briga toda com a Ministra Dilma Rousseff, se o que
essa guerreira botocuda queria era apenas cavacos das toras de
Pau-brasil que, como seus antepassados, é obrigada a derrubar
todos os dias para abarrotar as naus dos piratas internacionais
que lançaram ferros nas costas brasileiras?
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LIVRO I
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PREFÁCIO
FIGURA 1
GRÁFICO DA CIDADANIA NO BRASIL
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PARTE I
ARTE
O DESTINO MANIFESTO
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1. A REVEL AÇÃO
EVELAÇÃO
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tas – chamados de Caraíbas –, eles haviam chegado à costa brasi-
leira ao redor do ano 1000 da Era Cristã (p. 91).
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2. A CONSAGRAÇÃO
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assim como nós. E quando se chegou ao Evangelho, que nos
erguemos todos em pé, com as mão levantadas, eles se levanta-
ram conosco e alçaram as mãos, ficando assim até que se acabas-
se; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levanta-
ram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram todos
assim como nós estávamos, com as mãos levantadas e em tal
maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita
devoção (...)” (p. 56).
“Acabada a pregação, como Nicolau Coelho trouxesse muitas
cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra
viagem (alusão à viagem de Vasco da Gama às Índias, em 1498,
da qual Nicolau Coelho participara), decidimos colocar uma no
pescoço de cada um. Para isso, o padre frei Henrique se assentou
ao pé da cruz e ali passou a colocar no pescoço de cada um deles
uma cruz atada em um fio, fazendo que primeiro a beijassem e
levantassem as mãos. Muitos vieram e foram assim colocadas
todas as cruzes, umas quarenta ou cinqüenta” (p. 58).
Pelo que se deduz dessa cerimônia, não só a nova terra foi
consagrada a Deus, mas seus habitantes também o foram, tudo
sob um céu onde uma grande cruz presidia esse ritual cheio de
significado, a qual, nessa ocasião, fora batizada por Mestre João,
o astrônomo da missão, como informa Bueno (1998, p.105):
“De fato, naquela noite, ao observar as estrelas do Hemisfério
Sul, Mestre João chamaria sua principal constelação de Cruzeiro
do Sul”.
Tais acontecimentos sinalizam também que tanto o conti-
nente como a plataforma continental brasileira foram abençoa-
dos em nome de um Deus que presidiu a conquista dos portu-
gueses, congregados que estavam na Ordem de Cristo, sob cujo
pavilhão e símbolo tomaram posse da nova terra, em uma ilha
(Coroa Vermelha) situada na Faixa Dom Bosco (15/20ºS), onde
foi celebrada a primeira missa. De acordo com Pero Vaz de Cami-
nha (TUFANO, 1999):
“No domingo da Pascoela, pela manhã, determinou o Capitão de
ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capi-
tães que se arranjassem nos batéis e o acompanhassem. E assim
foi feito [...] Naquele ilhéu, mandou armar um pavilhão e, dentro
dele, um altar muito bem preparado. E ali, na presença de todos,
mandou rezar missa, a qual foi rezada pelo padre frei Henrique,
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em voz entoada, e acompanhada com aquela mesma voz pelos
outros padres e sacerdotes. A missa segundo meu parecer, foi
ouvida por todos, com muito prazer e devoção. O Capitão esta-
va com a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saiu de Belém.
Ela esteve sempre levantada, da parte do Evangelho” (p. 38-39).
Contrastando com essa estada tranqüila e a perenidade do
símbolo que marcou o nascimento de uma nação predestinada, a
constelação do Cruzeiro do Sul, a continuação da viagem dos
portugueses ao Oriente foi atribulada e assinalada pela fugaz pas-
sagem de um cometa, como informa um dos tripulantes da es-
quadra cabralina (relação do piloto anônimo): “Aos 12 dias do
dito mês de maio, apareceu em nosso trajeto, rumando em dire-
ção à Arábia, um cometa com uma cauda muito comprida, que
nos acompanhou durante oito ou dez noites”.
A simbologia dos eventos que marcaram a rápida passagem
(Páscoa) dos portugueses pela Terra Brasilis, que teve início no
Bairro de Belém em Lisboa, com um ritual de bênção da bandeira
da Ordem de Cristo, e término nas costas brasileiras, após uma
jornada que durou toda uma quaresma (Tempo de penitência –
quarenta dias que representam os 40 anos da travessia do deser-
to pelos hebreus), pode ser resumida num ato singelo: a distri-
buição aos nativos da nova terra das “muitas cruzes de estanho
com crucifixos” portadas por Nicolau Coelho. Se essas cruzes
sobraram no Oriente, onde não prosperaram, aqui, ao contrário,
foram todas plantadas e produziram abundantes frutos, tornan-
do o Brasil a maior nação cristã do mundo.
Concluindo, é bom lembrar que a primeira missa não foi
celebrada no continente e sim no seu vestíbulo, o Ilhéu de Coroa
Vermelha, onde foi desfraldada a bandeira da Ordem de Cristo, e
a segunda, no continente, onde foi plantada a Cruz de Cristo,
reproduzindo assim o ritual de sagração da Terra de Canaã, ocor-
rida por ocasião da viagem dos israelitas pelo deserto (Êxodo) e
a parada que aí fizeram para serem purificados, antes de entrarem
nessa Terra Prometida. Este ritual está simbolizado nas duas ten-
das erguidas no deserto (Hb 9, 1-5), onde um vestíbulo, “o
Santo” (primeira tenda, onde se encontrava o candelabro), pre-
cedia “o Santo dos Santos” (segunda tenda, abrigo da arca da
aliança), e repetido com os mesmos detalhes no Templo de Jeru-
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salém e nas igrejas católicas. Esse duplo ritual de sagração se
repetiu também por ocasião da construção de Brasília, quando
foram celebradas duas missas. A primeira, no “deserto”, a pedi-
do de Bernardo Sayão (vide capítulo 5), e a segunda, “oficial”,
na inauguração da cidade, a mando do seu construtor-mor, o
Presidente Juscelino Kubitschek.
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3. ENIGMAS
O eixo do poder
A implantação do eixo do poder num determinado territó-
rio é um fato marcante e cercado de toda uma liturgia e sua
remoção implica em conseqüências nefastas, como bem exemplifica
a transferência do eixo do poder do Palácio da Liberdade para o
Palácio dos Despachos em 1967, evento que marcou a gestão do
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último governador de Minas Gerais eleito democraticamente e
início do período de trevas dos interventores da ditadura militar.
Além do mais, o Palácio da Liberdade tem forças que assustam os
menos avisados, enquanto outros as respeitam, como o ex-Go-
vernador Itamar Franco, que disse aos jornalistas: “Pode ser que
eles não existam, mas há uma força que faz bem a governantes
que se sentam naquele lugar. Por isso, nunca quis despachar no
Palácio dos Despachos. São espíritos bons, que estão no Palácio
para ajudar” (Estado de Minas, 18/12/2002, p. 5). Mas o me-
lhor exemplo das conseqüências catastróficas que advêm da re-
moção do eixo do poder de um lugar para outro é dado pelo
Império Romano, pois a partir do momento em que Constantino
transferiu o eixo do poder de Roma, cravado em 700 AC, para
Constantinopla, no ano 330 DC, o milenar império entrou em
declínio e desapareceu um século depois.
No Brasil não foi diferente, pois por duas vezes esse fato
se repetiu e deixou suas marcas. Tudo começou com a transfe-
rência do eixo do poder da cidade de Salvador para o Rio de
Janeiro, fato que marca o início do fim do período colonial e o
advento do Império e o conseqüente declínio do Nordeste e
ascensão do Sudeste como centro gerador de riquezas. Esse pro-
cesso encontrou seu termo quando o Rei de Portugal transferiu
o eixo do poder de Portugal para o Brasil, evento que assinala
também o crepúsculo deste império colonial e a ascensão de
outro, o Império Britânico. Igualmente a transferência do eixo
do poder da cidade do Rio de Janeiro para Brasília, além de
referendar a queda do Império do Brasil e a consolidação da
República brasileira, assinala também o fim dos domínios regio-
nais litorâneos e o surgimento no planalto central de um centro
de poder verdadeiramente nacional, pois passou a incorporar
neste núcleo de decisões as regiões antes periféricas do Centro-
Oeste e da Amazônica.
Em Minas Gerais, a história registra fato semelhante, pois
a transferência do eixo do poder da colonial, clerical e maçônica
Ouro Preto, para a republicana e positivista Belo Horizonte, mar-
cou não só o fim do período escravocrata, como também o
nascimento de uma nova ordem social. Aqui também a dicotomia
queda/ascensão acompanhou todo o processo, pois a velha ca-
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pital mineira acabou virando museu, enquanto a nova ampliava
os horizonte das gerais, que, ao transpor a muralha da Serra do
Curral, deixou para trás as estreitas trilhas da Estrada Real e
passou a caminhar pelas largas veredas do Grande Sertão, onde
seria plantado o novo centro de poder do Brasil: Brasília.
Em que pese esse passo importante rumo ao futuro, um
outro, em sentido contrário, ameaça essa caminhada. Trata-se do
projeto do Governador Aécio Neves, anunciado no início de seu
governo em 2003, de transferir o eixo do poder da Praça da
Liberdade para outro local da cidade. Como todas as mudanças
feitas ao longo da história, esta também traz consigo conseqüên-
cias nefastas, como ficou demonstrado pelas denúncias de
corrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson, as quais, como
um terremoto, com epicentro na capital mineira, abalaram os
alicerces do governo Lula, fazendo ruir toda estrutura petista
montada para sustentá-lo no poder, levando conseqüentemente
o Brasil para uma crise institucional.
A má notícia
O exercício do poder, pela sua natureza efêmera, provoca
nos seus detentores uma sensibilidade ao desconhecido que os
levam, muitas vezes, a temer certos objetos, como acontece com
o quadro de Belmiro Almeida, intitulado A má notícia, que foi
retirado do Palácio da Liberdade pelo receio de seus ocupantes
com seus presumidos maus fluidos. Mas a ligação desse fetiche
com os governantes parece que não foi exorcizado com essa
medida, pois continua presente lá onde eles se encontram, mes-
mo que seja em passagens subterrâneas, como se depreende de
duas pequenas notas que aparecem no Jornal Estado de Minas
de 19/12/2004.
A primeira delas, Detalhes (Caderno “Masculino & Femi-
nino”, p. 3), dizia o seguinte:
O jantar oferecido pelo Governo de Minas aos integrantes das
comitivas participantes da Cúpula do Mercosul, na quinta-feira,
foi mais uma prova de que a sofisticação mora mesmo é nos
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detalhes. Além do saboroso jantar, preparado pela competente
Maria Eny, do Maciellina, mereceu elogios a exposição Terra de
Minas, com a curadoria de Rodrigo Faleiro, do Museu Mineiro.
A pequena mostra, com 12 peças do acervo do próprio museu,
foi montada no túnel que liga os dois prédios do Museu de Artes
e Ofícios, onde aconteceu o jantar. Entre as obras que encanta-
ram os olhares, A má noticia, de Belmiro Almeida (1897), Ponta
de Umbu, de Inimá de Paula, Ponte do Rosário, de Celso Renato,
e um desenho, sem título, de Amílcar de Castro, num belo pano-
rama da arte mineira do último século.
A segunda nota, Diálogo no jantar (p.2), informava:
Foi logo na hora em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
chegou ao Museu de Artes e Ofícios para o jantar da Cúpula do
Mercosul. Ele foi recebido pelo governador Aécio Neves e pelo
ex-presidente Itamar Franco. O diálogo começou com Lula:
– Ô Itamar, você esta querendo voltar?
Ao que o ex-presidente respondeu:
– Pois estou aqui pedindo emprego ao Aécio...
O governador não perdeu a caminhada:
– No meu governo, o Itamar tem o que quiser.
Lula também não perdeu o rebolado:
– No meu também, desde que não seja o meu cargo.
A respeito do mistério que cerca esse quadro, eis o que
escreveu Walter Sebastião, no Caderno “Divirta-se” do Jornal
Estado de Minas (1º/7/2005, p. 22):
Um dos quadros mais cercados de lendas e crendices da história
da arte brasileira está, até 10 de julho, em exposição no segundo
piso do Minas Shopping. Trata-se da tela A má notícia, de Belmiro
de Almeida (Serro, 1858; Paris, 1935). Pintura primorosa, de
composição ousada, luminosidade e atmosfera envolvente foi
considerada tela azarenta até se tornar tesouro celebrado do acer-
vo do Museu Mineiro. As andanças de A má notícia estão num
divertido texto chamado 100 anos de preconceito, do jornalista
e prefeito de Ouro Preto Ângelo Oswaldo. A primeira vez que a
pintura veio a público foi em setembro de 1897, apresentada no
Liceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto. Três meses depois, em
12 de dezembro, a capital do Estado era transferida para Belo
Horizonte. Má notícia para os ouro-pretanos, segundo a lenda,
os primeiros a conhecer o poder dos (maus) presságios trazidos
42
pela peça que ficou alojada no Palácio da Liberdade. Há quem
atribua à praga jogada por velhas (que tiveram sua choupana de-
molida para a construção do Palácio da Liberdade) as mortes de
moradores do famoso endereço: Silviano Brandão (em 1901),
João Pinheiro (em 1908), Raul Soares (em 1924) e até a de
Olegário Maciel (em 1933). Mas existe quem garanta que tudo
se deve às más vibrações do quadro de Belmiro Almeida, que
foram confirmadas por um vidente chamado Pascoal, como infor-
ma Delso Renault, no livro Chão e alma de Minas (1988). Retira-
da do Palácio da Liberdade, A má notícia perambula por reparti-
ções (secretarias de Finanças, da Educação e Saúde, Palácio da
Justiça, etc.) sempre acompanhada da suspeita de ser fonte de
infortúnios. Em junho de 1942, é entregue ao Arquivo Público
que, dizem, viveu longo período de abandono e quase viu seu
prédio ruir. Em maio de 1982, com a inauguração do Museu
Mineiro, o quadro é transferido para o local. E, pouco depois, o
telhado da instituição ameaçou desabar, sem falar que o próprio
museu (por culpa do quadro?) ainda não conseguiu desenvolver
todo seu potencial.
A fatalidade
45
Como a confirmar a vocação premonitória dessa vaca enig-
mática, em junho de 2004, uma mão invisível pintou-a de azul-
escuro, com cascos negros, dando-lhe um aspecto sombrio, re-
fletindo assim o estado de espírito da sociedade com o governo
petista, no momento em que a popularidade de Lula despencava
em Belo Horizonte e era vaiado e chamado de traidor no velório
do indomável Brizola, de onde sairia direto para Nova Iorque,
para aí confirmar sua sujeição à banca internacional. Essa situa-
ção faz lembrar um pesadelo em que uma pequena nuvem branca
se transforma numa gigantesca massa cambiante entre um azul-
escuro e uma cor de chumbo de aspecto assustador.
Os incêndios do Caraça e da
Igreja do Carmo
O vendaval revolucionário
No mês de março de 2004, dois fatos, quase que simultâ-
neos, ocorridos no sul do Brasil são premonitórios de um venda-
val revolucionário que agitará o País, se se levar em conta o cos-
tume de comparar-se política com nuvens, haja vista a instabilida-
de de ambas. Trata-se da reunião de um grupo de políticos expul-
sos do Partido dos Trabalhadores que, em Porto Alegre,
anunciaram a criação de um partido socialista, e do ciclone ou
furacão Catarina que varreu o terreno de luta de Anita Garibaldi.
Este fenômeno natural, que os distraídos brasileiros classificaram
de ciclone de ventos fracos e os atentos norte-americanos de
furacão com ventos fortes, formou-se a partir de uma pequena
nuvem que se despregou de uma massa maior que pairava sobre
o Atlântico Sul, crescendo a partir daí de forma admirável a pon-
to de varrer tudo em seu caminho. Foi como se aquela heroína
quisesse avisar suas colegas que lutavam para criar esse novo
partido do vendaval que ele vai provocar no acomodado sistema
político brasileiro e, conseqüentemente, no trato das questões
sociais em nosso país.
47
A pedra de tropeço
Os anos decisivos
(2002/2003)
48
FIGURA 2
AS CRISES POLÍTICAS DO BRASIL INDEPENDENTE
(SEGUNDO COUTO, 2000)
CAUSAS AGENTES
ATORES
CRISES DO
EXTERNOS
EFEITOS PROCESSO
INTERVALOS
1792 INCONFIDÊNCIA REVOLUÇÃO
ELITE
MINEIRA FRANCESA
1 1822 CORTE
INDEPENDÊNCIA ELITE
PORTUGUESA
66/67 ANOS
1888 ABOLIÇÃO ELITE
2 1889 REPÚBLICA
ELITE/
MILITARES
40/41 ANOS
1929 BOLSA CRISE GLOBAL ESPECULADORES
3 1930 REVOLUÇÃO
ELITE DIVIDIDA/
FACÇÕES MILITARES
24/34 ANOS
SUICÍDIO ELITE/ CAPITAL
1954
DE VARGAS MILITARES ESTRANGEIRO
4 1964
DITADURA MILITARES/ELITE GOVERNO
MILITAR CLASSE MÉDIA AMERICANO
9/21 ANOS
1973 PETRÓLEO CRISE GLOBAL OPEP
5 REDEMOCRA- ELITE/
1985
TIZAÇÃO CLASSE MÉDIA
7/9 ANOS
1992 IMPEACHMENT ELITE/
DE COLLOR CLASSE MÉDIA
6 1994 CRIAÇÃO ELITE/
DO REAL CLASSE MÉDIA
3/8 ANOS
1997 BOLSA CRISE GLOBAL ESPECULADORES
7 NOVO PACTO CLASSE MÉDIA/
2002
SOCIAL EXCLUÍDOS
49
50
PARTE II
ARTE
51
52
NOTA
OTA EXPLIC
EXPLICAATIVA
TIVA
54
4. UM SONHO DE DOM BOSCO
58
5. DOM BOSCO SONHOU BRASÍLIA?
Em tempo:
63
6. A REALIZAÇÃO DO SONHO
65
te (MMA), Raimundo Garrido, muitas vezes essa exploração é
feita de forma incorreta. O objetivo do programa é orientar o
uso da água para que o reservatório não se esgote nem esteja
sujeito à contaminação, disse Garrido, que discutiu o projeto no
1º Congresso Integrado de Águas Subterrâneas, na semana pas-
sada, em Fortaleza. De acordo com o geólogo Aldo Rebouças, do
Instituto de Estudos Avançados da USP, a má qualidade técnica
da perfuração e o abandono dos poços são as principais fontes
de contaminação dos lençóis subterrâneos. O poço não é só um
buraco, assim como uma cirurgia não é igual a uma facada. Algu-
mas camadas do solo devem ser isoladas para que os lençóis
mais rasos, facilmente contaminados, não transfiram poluentes
para as camadas mais profundas, de onde é retirada a água. A
agricultura e os lixões também são fontes poluidoras, pois os
agrotóxicos e metais pesados se infiltram no solo com a água da
chuva. A primeira etapa do Programa Guarani, que terá duração
de quatro anos, será a identificação dos pontos do aqüífero mais
sujeitos à contaminação. Estes pontos costumam ser as áreas de
recarga, por onde a água da chuva penetra no solo e abastece o
aqüífero, disse Garrido. Estas são as áreas mais próximas da
superfície. As mais profundas estão 1.700 metros abaixo do solo.
Estima-se que o Aqüífero receba anualmente 166 trilhões de
litros de água. Um quarto da recarga seria suficiente para abaste-
cer 15 milhões de pessoas por ano. Garrido ressaltou, no entan-
to, que o consumo das águas subterrâneas deve ser combinado
com o das águas superficiais – rios e lagos. Cada país integrante
do projeto vai cuidar da sua parte. Serão estabelecidas cotas
máximas do uso da água proveniente do Guarani para que não
haja risco de esgotamento, disse o secretário. A preocupação de
Garrido tem um porquê. Enquanto a água dos rios é renovada
rapidamente, os aqüíferos demoram para serem reabastecidos,
pois a velocidade de infiltração é baixa. Um problema que acaba
se tornando uma solução quando o assunto é qualidade da água.
Como a água passa pelo solo muito devagar, ela é naturalmente
filtrada por ele. Os microorganismos presentes na terra e as ro-
chas retém os poluentes, disse o secretário. O resultado é uma
água pronta para o consumo a custo zero. Só em São Paulo, onde
se encontram 18,5% do total da área brasileira abrangida pelo
Aqüífero, 47% dos 645 municípios do estado são abastecidos
somente por água subterrânea, entre eles Ribeirão Preto. Isso
mostra que a água é um recurso econômico, disse Aldo Rebouças.
66
O Aqüífero Guarani é estratégico, pois está localizado na parte
mais rica do Cone Sul. Por isso deve ser preservado, completou.
Além de dispensarem tratamento, as águas do Aqüífero Guarani
também não precisam ser aquecidas artificialmente, o que permi-
te grande economia de energia. O líquido leva décadas para per-
correr centenas de metros. A cada 30m que desce, a temperatu-
ra da água é elevada em 1o C. Quando ela chega lá embaixo, está
fervendo. O Programa Guarani terá financiamento de US$25 mi-
lhões, dos quais US$14 milhões virão do Global Enviroment
Facility (GEF). O restante será repassado pelo Banco Mundial
(Bird) e pelos quatro países envolvidos na proteção do mananci-
al. Apesar de só agora os governos dos países, sob os quais
repousa o Aqüífero Guarani, terem decidido implantar projeto
de proteção, a história do reservatório começa há 440 milhões
de anos, quando os continentes africano e americano estavam se
separando. A abertura do Oceano Atlântico resultou em depres-
sões na superfície terrestre, contribuindo para o surgimento de
bacias sedimentares, terreno propício para formação de aqüíferos.
Foi só na Era Mesozóica, no entanto, durante os períodos Triássico
(entre 248 milhões e 213 milhões de anos atrás) e Jurássico
(entre 200 milhões e 144 milhões de anos), que o Guarani,
homenagem ao povo indígena que habitou a região onde hoje
está o reservatório, deu o primeiro sinal de vida. Naquela época
foram formadas duas camadas de areia, porosas e permeáveis,
que hoje armazenam 45 trilhões de litros d’água. Um derrame de
rochas vulcânicas alguns milhões de anos depois criou uma espé-
cie de tampão que cobre 90% do aqüífero e que seria fundamen-
tal para a boa qualidade de suas águas. O basalto é impermeável,
protegendo o aqüífero da contaminação, explicou o geólogo Aldo
Rebouças, da USP.
Quanto às ocorrências de gás de petróleo da Bacia do São
Francisco, transcrevemos a seguir alguns trechos de um artigo do
ex-Ministro de Minas e Energia, Paulino Cícero de Vasconcelos,
publicado no Jornal Estado de Minas (4/6/2003, p. 9) sob o
título O gás do São Francisco, que liga esse fato ao sonho de
Dom Bosco:
“Um dos maiores geólogos do País, Carlos Walter Marinho Cam-
pos, que no ano passado recebeu, post-mortem, a medalha
Eschwege do governo mineiro, foi o homem que levou a Petrobras
para o mar. (...) Quando assumi a Secretaria de Minas do gover-
67
no Itamar, já aposentado da Petrobras, Carlos Walter, com minha
presença, instalou em Ouro Preto o Núcleo de Engenharia de
Petróleo (Nupetro), que somava o notório potencial de duas
renomadas instituições: a Escola de Minas, na área de geologia, e
a Escola Federal de Engenharia de Itajubá (Efei), em eletricidade e
mecânica. Neste dia, com a simplicidade que contrastava os títu-
los tantos que acumulara no Brasil e no exterior, Carlos Walter
me dizia que a bacia hidrográfica do São Francisco pode escon-
der um oceano de gás. É uma unidade geotectônica proterozoica
– dizia-me. Não deve ter óleo, mas certamente conterá muito gás
natural de petróleo, exatamente como ocorre na Sibéria e no
Mar Amarelo da China, que são, também, bacias proterozoicas,
formada a mais de 500 milhões de anos. (...) É rezar para que as
coisas se apressem e aconteçam. Aliás, falando em rezar, isso me
lembra o jornalista Jorge Faria, como eu, ex-aluno salesiano. Ele
diz – e jura – que o verdadeiro sonho visionário de Dom Bosco
sobre o Centro-Oeste brasileiro não era Brasília. Era e é o gás do
São Francisco.”
68
7. POSFÁCIO
A Era Vargas
24 de agosto de 1954
Palácio do Catete
Rio de Janeiro – Brasil
Resumo
1922/1929
Prelúdio à Revolução
1922 – A Revolta dos Tenentes
1924 – A Coluna Prestes
1929 – O colapso da elite escravocrata
1930/1945
Minuano, o vento renovador
1930/1932 – Os gaúchos em marcha
1935/1937 – Entreveros
1945/1950 – O repouso do guerreiro
1950/1960
A consolidação da Revolução
1950 – A volta do guerreiro
1954 – O sacrifício necessário
1960 – Brasília, o coroamento da obra
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIC AS
IBLIOGRÁFICAS
77
78
LIVRO II
A REVOLUÇÃO
QUE VARGAS NÃO FEZ
A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA
DE TEMPO INTEGRAL
79
80
INTRODUÇÃO
Educação: o calcanhar-de-aquiles da
sociedade brasileira
82
Os sabotadores da Escola Pública
Mas, se tão grande avanço ocorreu em 1942, por que a
Escola Pública de Tempo Integral, gestada desde 1932 pelos pio-
neiros da Escola Nova, foi abortada? A resposta está na luta
surda travada contra a escola pública pela elite conservadora li-
derada pelo clero católico, como mostra o seguinte trecho extra-
ído da obra Caminhos Novos na Educação (LIMA, 1995, p. 161):
Entendeu a AEC – Associação de Educação Católica, desde o
primeiro momento, que não basta ficar na oposição. Há necessi-
dade de penetrar e atuar em todos os órgãos do poder. Fazer
ouvir a nossa voz, colaborando, honradamente, com a indepen-
dência de opinião, de nossa filosofia e crença. Nasceram, assim,
os chamados comandos no legislativo e no executivo. Era a es-
tratégia que se impunha: estar presente, lá onde se decidiam as
orientações políticas e administrativas do ensino nacional. Os
primeiro comandos tiveram, no Senado, o catarinense Nereu
Ramos. Na Câmara, o deputado gaúcho, Tarso Dutra. Traço de
união entre os comandos, em caráter permanente, e a diretoria
nacional, foi naqueles 20 primeiros anos, o ex-constituinte de
1934, dr. Carlos Thompson Flores. As reuniões eram, geral-
mente, no palácio São Joaquim, sede do arcebispado do Rio.
Havia também a colaboração da imprensa, como o conde Pereira
Carneiro, no Jornal do Brasil, e o Dr. Roberto Marinho, em O
Globo. Rara era a semana em que não publicassem algum artigo
elaborado na AEC. Outros jornais como o Diário de Notícias e o
Correio da Manhã, colaboraram, também. A AEC visava formar
opinião. Não ouve o mesmo acolhimento, por parte de O Estado
de São Paulo. Às repetidas audiências solicitadas pela AEC, acu-
dia o Dr. Júlio de Mesquita Filho, declarando, com cortesia, que
a linha do jornal era outra. O mentor, naquela época, era o dire-
tor da Revista Anhembi, Anísio Teixeira, nada favorável à Igreja, e
ardoroso defensor do ensino estatal. Hoje – como mudam os
tempos! – o Estado está publicando artigos na nossa linha. O
atual diretor, Júlio de Mesquita Neto, é antigo aluno do colégio
São Luís, de São Paulo.
Os fundamentos dessa conspiração contra a escola pública
e a capitulação de Vargas, que trocou os ideais da Escola Nova
pela Lei Capanema, estão sintetizados na PARTE I, um mosaico
83
formado com trechos selecionados das seguintes obras: Cami-
nhos novos na educação, sob a coordenação de Irmã Severina
Alves de Lima (São Paulo: FTD, 1995); Um estudo histórico so-
bre o catolicismo militante em Minas, entre 1922 e 1936 , de
Frei Henrique Cristiano José Matos (Belo Horizonte: O Lutador,
1990); Introdução à história da Igreja, de Frei Henrique Cristiano
José Matos (Belo Horizonte: O Lutador, 1997, 5 ed., v. 1e 2); e
Os Templários, de Piers Paul Read (Rio de Janeiro: Imago, 2001).
Na PARTE II, são tecidas algumas considerações sobre a Escola
Pública de Tempo Integral e as iniciativas, tardias (setenta anos de
atraso) que visam a sua implantação em algumas escolas munici-
pais de Belo Horizonte.
84
PARTE I
ARTE
AS CAUSAS DO FRAC AS
FRACAS SO
ASSO
DA ESCOL
ESCOLAA PÚBLIC
PÚBLICAA
85
86
1. UMA DISPUTA DE PODER E PRESTÍGIO
DISPUTA
87
pessoais para com o Estado (impostos etc.), tanto para os sa-
cerdotes pagãos, como para o clero católico. + Reconhecimento
jurídico das decisões episcopais: os bispos podem arbitrar cau-
sas também de pagãos. + Abolição da crucificação e proibição
das lutas de gladiadores, que, no entanto, continuarão ainda por
um século. + Permissão à Igreja de receber heranças e doação de
grandes igrejas ou basílicas (Basílica do Latrão e de São Pedro,
em Roma; Santo Sepulcro, em Jerusalém; Natividade, em Belém...).
+ Reconhecimento do domingo como feriado e progressiva re-
dução das festas pagãs. (MATOS, 1997, v. 1, p. 97-98)
88
tentava que sua autoridade régia derivava diretamente de Deus e,
conseqüentemente, não se submetia a nenhuma restrição por parte
do Papa. Como monarca, era inteiramente independente e so-
mente em questões de fé teria de obedecer ao pontífice. Em ou-
tras palavras: o rei subtraiu toda vida política à direção da Igreja.
(MATOS, 1997, v. 1. p. 286-287)
91
2. O PODER DA IGREJA NO
GREJA BRASIL
92
ninguém desejava um simples retorno à política imperial referen-
te à Igreja, aquela falsa união e escravizamento, aquele regime de
privilégios e subsídios com que se mascarava a opressão (Pe.
Júlio Maria, CSSR), mas seria inaceitável confundir a separação
com a hostilidade ou com a indiferença. (MATOS, 1990, p. 12)
94
curso que foi uma verdadeira apologia da ação da Igreja Católica
no Brasil. Mas o ponto alto constituiu, sem dúvida, do banquete
no Itamarati, oferecido à noite daquele dia 4 de maio, pelo
Chanceler Félix Pacheco. Ainda muitos anos depois, este evento
será lembrado pela imprensa católica como um manifesto con-
graçamento da República com a consciência católica da universa-
lidade dos brasileiros. Fala-se, na ocasião, de um verdadeiro ba-
tismo da República no Brasil.” (MATOS, 1990, p. 47-49).
95
3. O LITÍGIO ENSINO RELIGIOSO X ENSINO LEIGO
96
confessionais das diferentes denominações religiosas. Apesar do
clamor do episcopado, o governo republicano deixava plena li-
berdade para que a instituição eclesiástica se expandisse e se
fortalecesse nesse período, o que não ocorria na época imperial.
A convite dos bispos e sob o estímulo da Santa Sé, inúmeros
institutos religiosos europeus se estabeleceram no país nas pri-
meiras décadas do regime republicano. A celebração do concílio
plenário latino-americano, em Roma, em 1898, permitiu que a
cúria romana confirmasse de forma definitiva seu domínio sobre
as Igrejas oriundas do colonialismo ibérico. O concílio foi elabo-
rado e conduzido pelos peritos da Santa Sé, cabendo aos prela-
dos apenas ratificar as diretrizes romanas. Um dos pontos mais
enfatizados, pelo concílio, era a necessidade de promoção das
escolas católicas, como forma de se contrapor à perspectiva leiga
dos estados modernos. Afim de levar avante esse projeto, reco-
mendava-se que os prelados latino-americanos continuassem a
obter a colaboração de religiosos da Europa. O tema escola ca-
tólica passou a constituir um enfoque importante da conferência
dos bispos do centro-sul do país, reunidos em São Paulo, em
1910. A escola pública, desprovida do seu caráter sacral, era
condenada explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiás-
tica, afirmando que a Igreja Católica detesta e condena as escolas
neutras, mistas e leigas, em que se suprime todo o ensino da
doutrina cristã. E acrescentavam em seguida, fiéis às orientações
do concílio latino americano: Esforcem-se, portanto, os reveren-
dos párocos, pregadores e catequistas, por dissuadir aos pais de
família, que não poderão prestar pior serviço aos filhos, à pátria
e ao catolicismo, que colocar seus filhos em tais escolas, expos-
tos a perigos tão grandes. O contraponto era a necessidade de
escolas de confissão católica. O clero diocesano foi incentivado
a que patrocinasse essas fundações, no âmbito de suas paróqui-
as: Nas circunstâncias em que se acha a Igreja diante do ensino
leigo, é de necessidade inadiável que em todas as paróquias, haja
escolas primárias católicas, a que chamam paroquiais, nas quais a
mocidade nascente encontre o pasto espiritual da doutrina cris-
tã, e de outros conhecimentos para a vida prática. Ordenamos,
portanto, aos reverendos párocos que envidem todos os esfor-
ços para fundá-las o quanto antes, onde as não houver; e não
descansem, enquanto não conseguirem, por si ou por outrem, a
realização deste ideal, em suas paróquias, custe o que custar. A
finalidade básica da escola paroquial era oferecer aos meninos
uma instrução elementar que lhes permitisse assimilar melhor os
97
conceitos da doutrina católica, preparando-se assim de forma
adequada para a recepção dos sacramentos da penitência e da
eucaristia. Foi sobretudo nas regiões de imigração européia no
sul do país onde esse apelo foi atendido de forma mais plena.
Instalados no Rio Grande do Sul, em 1900, os Irmãos maristas
tornaram-se valiosos colaboradores dos páracos na promoção
das escolas católicas. Em Santa Catarina, foi fundada em 1913 a
congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, cuja finalidade
específica era o magistério nas escolas paroquiais. Não obstante,
na medida em que se ampliava a rede escolar pública, muitas
famílias católicas passaram a optar por ela pelo aspecto da
gratuidade, tanto mais que freqüentemente eram os mesmos pro-
fessores que lecionavam tanto nas escolas municipais como nas
escolas paroquiais. Nesse período, intensificou-se no país o en-
sino secundário, e os religiosos passaram a ocupar lugar signifi-
cativo nessa área, com a fundação de colégios, nas diversas regi-
ões do país. Três razões principais podem ser indicadas para essa
opção de atividade, dentro da Igreja do Brasil. Em primeiro lugar,
a maioria das congregações européias, já se dedicava anterior-
mente a esse tipo de atividade; o que fizeram foi simplesmente
transplantar para o país métodos e obras que já haviam dado
bons resultados em outras regiões. Além disso, a fundação de
escolas passou a constituir o meio principal de prover o sustento
econômico das novas fundações religiosas, sobretudo quando o
governo republicano, recém-instalado no Brasil, se negava a am-
parar as obras de cunho religioso. Por último, a criação das esco-
las católicas era uma das grandes metas do episcopado, sobretu-
do após o decreto de separação entre a Igreja e Estado. (LIMA,
p. 30-33).
98
4. O COMBA
COMBATETE À ESCOL A PÚBLIC
SCOLA ÚBLICAA NA
REPÚBLIC
EPÚBLICAA VELHA E A CRIAÇÃO DA
REDE PAR TICUL
ARTICUL AR DE ENSINO
TICULAR
99
alternativa é a da estrada de Damasco: ou com Paulo se o segue
ou com Saulo se o persegue. A escola sem Deus é contra Deus.
(MATOS, 1990, p. 76)
102
lidade: “Si quis suorum máxime domesticorum curam non habet,
fidem negativ, et est infideli deterior” (I Tim. 5,8). (MATOS,
1990, p. 92-93)
103
5. O ADVENTO DA
ADVENTO REVOLUÇÃO
EVOLUÇÃO DE 30
104
der político, a burguesia e a oligarquia estão com as mãos livres
para utilizar todo o peso do Estado para combater a pequena
burguesia radical, a classe operária, o comunismo e restabelecer
a ordem. A igreja se adapta ao projeto populista de Vargas, apre-
sentando-se como força moderadora nas tensões e conflitos so-
ciais da época. Defende a ordem social vigente, agora batizada
pela Carta Magna de 34, e o princípio de obediência à Autorida-
de estabelecida. Vê no comunismo o grande inimigo a ser com-
batido, devido à sua inspiração materialista e espírito revolucio-
nário. Neste contexto nascem as simpatias de significativos seto-
res da Igreja no Brasil pelo movimento integralista, que trazia em
seu programa o tríplice lema: Deus, Pátria e Família, valores ex-
tremamente caros ao catolicismo da época”. (MATOS, 1990, p.
261)
105
dos signatários do documento. Mas a posição católica mais am-
pla foi de reservas, quando não de franca oposição, destacando-
se nessa linha Alceu de Amoroso Lima. Posteriormente, ele ex-
plica essa postura reacionária nestes termos, datando equivoca-
damente o manifesto num ano antes: Em 1931, quando foi lan-
çado o Manifesto dos Pioneiros, vinha eu de minha recente con-
versão, com todo o ímpeto de cristão, senão novo pelo menos
revertido às suas raízes. Daí certas posições extremadas dos meus
Debates Pedagógicos. O mesmo sucedeu, mas em sentido opos-
to, com dois ou mesmo três dos mais destacados líderes dessa
revolução pedagógica, como Anísio Teixeira, Lourenço Filho e
mesmo Everardo Backheuser, pouco mais tarde convertido ao
catolicismo. (LIMA, p. 41-42).
106
6. OS COLÉGIOS CATÓLICOS
107
aspecto explicativo do grande êxito da educação católica nesse
período e a multiplicação dos estabelecimentos católicos nas di-
versas regiões do país, mesmo em cidades interioranas. A grande
meta da educação católica era a formação da classe dirigente do
país. Por isso, a maioria dos colégios destinava-se tanto aos fi-
lhos da tradicional aristocracia rural como da burguesia emer-
gente. Foi muito grande nesse período a fundação de ginásios,
iniciando-se nas últimas décadas o ensino superior e universitá-
rio. A maior presença de professores leigos nos colégios católi-
cos e o interesse do laicato pelo tema da educação marcam o
final dessa etapa. A fundação da Conferência Católica Brasileira
de Educação, realizando o primeiro congresso católico de edu-
cação em 1944, pode ser considerada como o encerramento
desse ciclo. A derrocada dos regimes autoritários, ao final da
Segunda Guerra Mundial, marca o início de uma nova era, abrin-
do-se também a escola católica para as idéias da escola nova e
para os novos projetos de uma sociedade liberal e democrática.
Em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, a tra-
dicional perspectiva eclesiástica começou a ser abalada. O avan-
ço das idéias democráticas na Europa, com profundas repercus-
sões na política e na sociedade brasileira, obrigaram a Igreja a
rever suas posições. A Fundação da AEC, nesse mesmo ano,
reflete ainda a mentalidade vigente anteriormente. (LIMA, p.
21-23).
108
PARTE II
ARTE
109
110
7. O EXERCÍCIO DA CIDAD
CIDADANIA
ADANIA
O ensino profissionalizante
Nesse contexto, o Sistema S (SENAI, SESI, SENAC, SESC,
etc.) joga um importante papel como modelo para implantação
dos cursos profissionalizantes nessa escola, inclusive sendo por
ela absorvido e deixando de ser uma atividade isolada e fora da
escola pública. Para se ter uma idéia do que representaria a incor-
poração do Sistema S pela Escola Pública de Tempo Integral, bas-
ta lembrar que o orçamento da Confederação Nacional da Indús-
tria (CNI), que administra o SENAI e o SESI, é de cerca de R$ 4
bilhões, valor equivalente à verba anual do Fundo de Erradicação
da Pobreza. Aqui cabe uma pergunta: por que o governo não
toma essa providência? A resposta pode estar no corporativismo
dos empresários, como informa o Jornal Estado de Minas (29/7/
2001, p. 6):
Além de ter um orçamento anual em torno de R$ 4 bilhões, a
CNI também desperta o interesse do empresariado por ser uma
entidade com grande poder de pressão sobre o Congresso Nacio-
nal e, principalmente, junto ao governo Federal. Fundada na dé-
cada de 30, por Getúlio Vargas, a Confederação é a responsável
pelo sistema “S”, que engloba o Serviço Social da Indústria (Sesi)
e o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai). Todo
113
esse complexo é movido pelo desconto compulsório de 2,5%
das folhas salariais das indústrias brasileiras e o superintendente
do Sesi e o diretor-geral do Senai são nomeados pelo presidente
da CNI.
O combate à fome
115
8. OS RECURSOS NECESSÁRIOS
NECESSÁRIOS
O fim da hipocrisia
assistencialista empresarial
119
veis pelo oferecimento dos benefícios. (...) Os municípios assu-
miram o ônus do transporte de alunos por tabela. Nenhuma le-
gislação delega a eles essa responsabilidade. Mas a Lei de Diretri-
zes e Bases para a Educação Nacional (LDB) obrigou as prefeitu-
ras a manter o ensino fundamental, e há sanções para quem não
garantir toda a criança na escola. E garantir, não é apenas dar a
matrícula, mas efetivamente levar os alunos para a sala de aula.
(...) O transporte escolar não é o único patinho feio da educa-
ção. Aliás, esse fato torna ainda mais dura a briga pelo financia-
mento específico para a área. Com exceção do ensino fundamen-
tal, financiado pelo Fundef (Fundo de Manutenção do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério), nenhum outro nível
de educação tem verba garantida. Constitucionalmente, estados
e municípios são obrigados a investir 25% das receitas em edu-
cação, sendo que 15% devem ser investidos no Fundef. O di-
nheiro do fundo é redistribuído entre os municípios e estados
segundo o número de crianças matriculadas no ensino funda-
mental, mas não costuma ser suficiente para cobrir as despesas
do antigo 1º grau. Por isso, as prefeituras ainda recorrem ao
restante do dinheiro da educação (10% das receitas municipais).
Em nível federal, a briga é ainda mais acirrada. Os estados come-
çam a exigir uma contra-partida para o ensino médio, atribuído a
eles pela LDB. Esse nível de ensino cresce vertiginosamente em
número de matrículas, mas a demanda reprimida ainda é enorme.
Como os estados contribuem para o Fundef mas recebem muito
pouco, uma vez que têm um menor número de matrículas no
ensino fundamental, os secretários começam a exigir a transfor-
mação do Fundef em Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Edu-
cação Básica), para que os recursos possam ser aplicados no
ensino médio. Mas aí, o MEC deveria injetar mais recursos. Os
secretários municipais, entretanto, fazem pressão pela regulamen-
tação. Eles se sentem duplamente penalizados, já que assumem
os custos e a responsabilidade pelo transporte escolar dos alu-
nos que estudam também nas escolas estaduais”.
Mas o descalabro da escola pública não pára por aí, como
mostra a tese de doutorado da Profª Lívia Fraga Vieira comentada
pelo Jornal Estado de Minas (9/8/2001, p. 6) em editorial
intitulado Escândalo da pré-escola:
O que houve para o Estado de Minas ficar tão atrasado nesse
importante segmento do ensino? A doutoranda disse que o pro-
120
cesso de municipalização do ensino de primeiro grau – carro-
chefe do ministro Paulo Renato Souza – foi perverso em nosso
Estado. Um processo que está sacrificando milhares de crianças,
as mais pobres e carentes. A Minas que até os anos 60 era refe-
rência educacional no setor público, com escolas como as do
Instituto de Educação, Leon Renault e Bueno Brandão, e outros
em várias cidades, voltou à estaca zero. As reformas que vieram
com o Governo FHC sepultaram a tese dos pioneiros da Escola
Nova (1932), que exigia escola pública gratuita e obrigatória,
para que todas as crianças tivessem oportunidades iguais. No
papel, tudo bem: a Carta Magna prescreve que educação é direi-
to de todos, dever do Estado, promessa que se repete na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), mas só para cons-
tar. Em BH, 56 mil crianças, de 0 a seis anos, estão fora da pré-
escola.
Diante de uma situação como essa, na qual os poderes
constituídos, federal, estadual e municipal, além de entidades par-
ticulares, procuram, por meio de medidas pontuais e isoladas,
intervir no ensino em todos os seus níveis para suprir defici-
ências crônicas e falta de planejamento, a Escola Pública de Tem-
po Integral se coloca como o instrumento adequado para
equacionar e solucionar os problemas existentes e proporcionar
aos excluídos de todos os matizes o pleno exercício de sua cida-
dania.
121
9. OS EXEMPLOS DE BELO HORIZONTE
A ação de um vereador
Um exemplo desse tipo de ação isolada e pontual é repor-
tado pelo Jornal Estado de Minas, em matéria intitulada Luta pela
escola integral (17/10/2002, p. 22):
A Câmara Municipal de Belo Horizonte aprecia amanhã o veto do
prefeito Fernando Pimentel (PT) ao Projeto de Lei 51/2001, do
vereador Arnaldo Godoy (PT), que estabelece a jornada em tem-
po integral nas escolas municipais de ensino fundamental. O pro-
jeto, aprovado por unanimidade em dois turnos, foi vetado pelo
prefeito em 2 de julho, sob alegação de falta de recursos. Atual-
mente, a rede municipal de ensino de Belo Horizonte possui 180
mil alunos em 182 escolas, abocanhando 32% do orçamento do
município. Para viabilizar a escola em tempo integral, seria neces-
sário praticamente duplicar o número de professores e escolas, e
não há cálculos do impacto sobre o orçamento. Mas o vereador
Arnaldo Godoy está confiante na derrubada do veto, o que obri-
garia a Secretaria Municipal da Educação a iniciar a extensão da
jornada escolar já no próximo ano. Não sou irresponsável ao
ponto de propor a mudança da noite para o dia. Caberia ao
Executivo elaborar um projeto de expansão adequado à sua ca-
pacidade financeira, priorizando sempre as comunidades mais
carentes, onde as crianças estão expostas a maior risco, explica.
Em 5/11/2002, esse mesmo jornal publicava a seguinte
notícia (p. 26):
O Diário Oficial do Município publica, hoje, a lei que institui a
escola integral em Belo Horizonte. Ontem, o presidente da Câ-
mara, Sérgio Ferrara (PDT), promulgou a determinação, propos-
122
ta pelo vereador Arnaldo Godoy (PT) e vetada pelo prefeito
Fernando Pimentel (PT). Em outubro, os parlamentares derruba-
ram o veto. Como o projeto de lei não foi sancionado pelo pre-
feito, o presidente do Legislativo promulgou o texto, que ainda
pode ser alvo de recurso judicial por parte do Executivo.
Finalmente, em 10/11/2002, o Estado de Minas informa-
va a vitória da Escola Integral (p. 23), fato que pode sinalizar a
retomada de uma luta iniciada há setenta anos pelos pioneiros da
Escola Nova:
A Escola Municipal Humberto Castelo Branco, no Fernão Dias,
região Nordeste de Belo Horizonte, será a primeira instituição
em tempo integral do município. A decisão será oficializada nos
próximos dias e é o primeiro passo para cumprir a lei, sanciona-
da pela Câmara Municipal há 20 dias, que obriga a prefeitura a
garantir nove horas diárias de escolarização para todos os alunos
do ensino fundamental, meta a ser cumprida em oito anos. A
escola em tempo integral do Fernando Dias deverá começar a
funcionar em meados do próximo ano. Até lá, a EM Humberto
Castelo Branco vai ser desativada, os 500 alunos que atualmente
estudam no prédio devem ser transferidos para a Escola Munici-
pal José Calazans e os professores remanejados. Precisamos
readaptar o prédio para o atendimento em tempo integral. É pre-
ciso criar salas multiuso, uma boa quadra e uma cozinha apta a
servir refeições e não apenas merenda, explica a secretária muni-
cipal da Educação, Maria do Pilar Lacerda. Antes de definir pela
transformação da EM Humberto Castelo Branco em educandário
de tempo integral, a prefeitura cogitou impetrar uma Ação Direta
de Inconstitucionalidade (Adin) contra a lei, de autoria do ve-
reador Arnaldo Godói (PT), alegando que não há recursos para a
proposta. Segundo a secretária, embora a falta de previsão de
recursos justificasse a Adin, a prefeitura preferiu não apelar para
o instrumento. A prefeitura sempre teve intenção de expandir o
tempo de permanência das crianças nas escolas, porque o Brasil
tem uma das menores jornadas escolares do mundo. Mas, ape-
nas com recursos dos municípios isso não é possível. Mesmo
assim, em vez de impetrar a Adin, resolvemos criar uma escola
modelo, para começarmos a oferecer a educação em tempo inte-
gral e com isso termos como planejar o atendimento e a expan-
são, explicou.
123
A ação de um grupo de professores
Para comprovar a importância e a urgente necessidade de
se implantar a Escola Pública de Tempo Integral para resolver os
graves problemas sociais do País, basta recorrer à reportagem de
Tacyana Arce, do Jornal Estado de Minas (9/4/2003, p. 18),
intitulada Escola integral sai do papel na raça:
A escola em tempo integral, garantida em lei desde o início do
ano em Belo Horizonte, mas ainda longe de virar realidade na
rede municipal, começa a sair do papel na base da raça e da
coragem. Cansados de ver o aluno chegar ao quinto ano de es-
colaridade sem dominar a leitura e a escrita, professores das es-
colas municipais Francisco Magalhães Gomes e Acadêmico Vivaldi
Moreira resolveram bancar, por conta própria, a dupla jornada
para cerca de 100 criança. O número de alunos atendidos é irri-
sório diante do total de 180 mil matriculados na rede municipal,
mas é o início de um movimento que pretende garantir educação
de qualidade à população. Não adianta fechar os olhos. Algumas
de nossas crianças, em função da situação social, precisam de um
tempo maior na escola para aprender. Ou a gente enfrenta isso
ou vamos continuar vendo um monte de adolescentes sem saber
ler, afirma o vice-diretor da EM Francisco Magalhães, José Mau-
rício Diniz. Para manter duas turmas em regime integral, a escola
mobilizou todos os professores. Eles aceitaram diminuir o nú-
mero de horas destinadas à elaboração dos projetos pedagógi-
cos para passar mais tempo em sala de aula, cobrindo os ho-
rários que caberiam aos professores Márcia Maria Araújo e
Ronaldo dos Santos, que foram remanejados para lecionar para
as turmas especiais. Antes de optar pelo regime integral, tenta-
mos fazer um atendimento individualizado durante o próprio tur-
no do aluno, mas não deu certo. Com dois meses de aulas, já
temos vários progressos. Mas a situação ainda é precária. Preci-
samos de professores de música, teatro e artes para tornar a
escola atrativa para os alunos. Boa vontade tem limite, avalia
Márcia. Em apenas dois meses de trabalho, os resultados come-
çam a ser visíveis. O caso de Rafael Yuri dos Santos, de 8 anos,
emociona os professores. No início do ano, o garoto passava
mal na escola todos os dias, tamanho era o pavor dos estudos.
Ele recusava-se a tentar escrever. Tinha colocado na cabeça que
isso era a coisa mais difícil e penosa do mundo, lembra Ronaldo.
124
Hoje, Rafael adora mostrar para todos os visitantes as histórias
que escreve. Ainda não é possível compreender o que os traços
dizem, mas, segundo o educador, decifrar as letras será uma ques-
tão de tempo. Ele já quer escrever e já elabora as histórias na
cabeça. Esse é o primeiro passo, avalia. Mãe de Lucas Gonçalves,
de 9, a vendedora Denise Matos Gonçalves, de 30, chora todas
as vezes que fala do passado escolar do filho. Eu sabia que ele
não estava aprendendo e ficava desesperada. O que ia ser do
meu filho? Eu não sabia como ajudar, xinguei, bati, mas ele não
aprendia. Quando me falaram que ele ia ficar o tempo inteiro, dei
graças a Deus, mas não esperava resultado tão rápido. A primeira
vez que ele leu, eu chorei. E choro todas as vezes que percebo
que ele aprendeu mais, conta.
Reflexão final
Para concluir, uma homenagem aos sonhadores da Escola
Nova na pessoa de Anísio Teixeira, que conseguiu, embora de
maneira fugaz, implantar a Escola Integral na Bahia; ao Governa-
dor Leonel Brizola e Darcy Ribeiro pelas duas tentativas, fracassa-
das, de realizá-la no Rio de Janeiro, e aos idealistas de Belo Ho-
rizonte por persistirem nesse caminho, a única via pacífica para
promover o resgate da dívida social e formar cidadãos para o
Brasil do terceiro milênio. Tudo isso nos leva a crer que é chega-
da a hora de se fazer a revolução que Vargas não fez, pois se a
tivesse feito há setenta anos nossa realidade hoje seria bem dife-
rente, evidentemente para melhor. Portanto, senhores políticos e
governantes, mãos à obra, pois não há mais tempo a perder.
125
126
LIVRO III
ACORDA, BRASIL
UM ALERTA AOS POLÍTICOS E GOVERNANTES
SOBRE A NECESSIDADE DE UM PROJETO NACIONAL
PARA O PAÍS FAZER FACE AOS DESAFIOS DO
TERCEIRO MILÊNIO
127
128
PREFÁCIO
130
1. O PL ANEJ
PLANEJ AMENTO ESTRA
ANEJAMENTO TÉGICO
ESTRATÉGICO
132
por dia; os EUA, maior consumidor mundial, 20 milhões. Nos
EUA há três carros para quatro habitantes num total de 226
milhões de veículos. Na China, apenas 24 milhões. Mas as ven-
das dobram a cada dois anos. Nesse ritmo, em 2031 terá 1,1
bilhão de carros e queimará 99 milhões de barris/dia de óleo, 20
milhões mais que a produção mundial. Sozinho, o país respon-
derá por toda a atual emissão de carbono do mundo. Exemplos
desse tipo têm para todo gosto. China produz e consome mais
celulares, geladeiras e televisores que qualquer país. Só em PCs
está atrasada, mas o número dobra a cada 28 meses. A Índia vai
na mesma trilha: o PIB cresce a 7% ao ano e sua população pas-
sará a da China em 2030. Haverá oferta para tanta gente? Corte
rápido para o Brasil: o que se faz aqui frente a tais transforma-
ções, afora discutir o mensalão?”.
Sistema de Transportes
Trem de Grande Velocidade
O Brasil, pela sua dimensão territorial e pelas condições
extremamente favoráveis da topografia, deve eleger como objeti-
vo estratégico para exploração racional de seus recursos naturais
e a ocupação planejada de seu território a implantação de um
extenso e eficiente sistema de transportes de cargas e passagei-
ros, no qual as ferrovias ocupem um lugar de destaque, utilizan-
do para isso dos mais avançados recursos tecnológicos existen-
tes. Como suporte desse sistema, deve-se investir no transporte
marítimo e rodoviário, limitando-se à utilização das hidrovias ao
Rio Amazonas e alguns de seus afluentes, pois os danos ao meio
ambiente nesse tipo de transporte são irreversíveis. Um exemplo
desta ameaça é o que ocorre no Rio Paraguai com o transporte de
soja e outras cargas, como informa a Revista Época (n. 155, 7/5/
2001, p. 55):
“Até 1998, as barcaças de soja faziam estragos nos cursos d’água.
Desciam empurradas por um barco só e, incapazes de manobrar
nas curvas apertadas do rio, batiam nos barrancos. As colisões
arrancavam nacos de terra, com árvores e ninhos de aves. [...]
Segundo cientistas, obras na hidrovia podem quebrar esse siste-
133
ma complexo e delicado. A retificação do rio aumentaria a velo-
cidade de escoamento da água, reduziria as cheias e secaria 40%
do Pantanal”.
Num planejamento estratégico para implantação de ferro-
vias, a utilização de Trens de Grande Velocidade (TGV) deve
ocupar um lugar de destaque e os seguintes sistemas considera-
dos prioritários: ligação Rio de Janeiro-São Paulo; Rio de Janei-
ro-Belo Horizonte; Belo Horizonte-São Paulo, Vitória-Cuiabá e a
Translitorânea cortando a Costa do Sol, do Rio de Janeiro às
capitais nordestinas. Um trecho que se destaca nessas priorida-
des é a ligação São Paulo-Rio de Janeiro-Salvador, pelo impacto
positivo na economia do País, particularmente na indústria do
turismo. Para completar esses sistemas, seria criada a Ferrovia do
Mercosul, com dois trajetos: São Paulo-Buenos Aires, via Uru-
guai, e outro de Curitiba-Buenos Aires, via Assunção do Paraguai.
A indústria do turismo e a
geração de empregos
Para viabilizar economicamente a Translitorânea, uma fer-
rovia turística por excelência, pois corta a Costa do Sol em toda
a sua extensão, vale dizer, da cidade do Rio de Janeiro até as
capitais nordestinas, o Governo Federal deverá abrir essa privile-
giada região aos cassinos e hotéis de luxo para atrair turistas do
mundo todo, principalmente europeus e americanos, e conse-
qüentemente gerar empregos e oportunidades de negócios numa
região deprimida economicamente e com desemprego crônico.
Essa ferrovia, pelas características especiais de seu traçado, uma
rota com inúmeros centros turísticos de primeira ordem, oferece
uma alternativa mais econômica e barata do que o sistema TGV,
138
ou seja, o uso do monotrilho, o qual além de permitir paradas
mais freqüentes, pois sua operacionalização é mais simples, pode
ser implantado mais rapidamente. Quanto à permissão para fun-
cionamento de Cassinos de Luxo no Brasil, o procedimento mais
adequado seria que as autorizações fossem dadas exclusivamente
pelo Governo Federal. Com essa medida, além de evitar-se a pro-
liferação dessas casas pelo país afora, vulgarizando um tipo de
empreendimento que deve ser seletivamente instalado em sítios
privilegiados, como suporte ao turismo e geração de empregos,
ter-se-á também um controle efetivo da arrecadação de impos-
tos, evitando-se conseqüentemente a sonegação fiscal e outros
tipos de falcatruas.
A alternativa doméstica para os Cassinos de Luxo, este
mais voltado para atrair turistas do exterior e divisas fortes, são
os Cassinos Eletrônicos, nos quais somente poderiam operar
os chamados jogos eletrônicos, bingos, caça-níqueis, etc., com
máquinas e equipamentos fabricados no País, pois sua finalidade
maior será a de gerar empregos em todos os seus segmentos.
Para evitar a ação nefasta das “máfias”, a autorização para o fun-
cionamento desse tipo de cassino também seria privativa do Go-
verno Federal.
141
para ontem. Por conseqüência, esta terça-feira foi “enforcada”,
com a decretação de ponto facultativo no estado e no município.
Os servidores públicos só retornarão a rotina depois de amanhã.
142
Recursos hídricos
A importância do planejamento para utilização racional
dos recursos hídricos vem sendo enfatizada de longa data por
diversos pesquisadores. Em 1987, por exemplo, Barth, junto
com outros autores, abriu o prefácio da obra Modelos para
gerenciamento de recursos hídricos, com as seguintes obser-
vações:
Alguns dos principais desafios que o Brasil deverá enfrentar nas
próximas décadas estão relacionados com o aproveitamento e
controle dos recursos hídricos. De fato, o País deverá resolver,
nesse campo, problemas fundamentais para o seu desenvolvi-
mento econômico e social, dentre os quais se destacam: Gera-
ção de energia elétrica, mediante a construção de usinas hidrelé-
tricas para a exploração de um potencial hoje estimado em
213.000 MW; Saneamento básico, com abastecimento de água,
coleta e tratamento de esgotos urbanos de população próxima
de 150 milhões de habitantes; Combate a secas no semi-árido
nordestino, como uma das formas de superação do grave subde-
senvolvimento regional; Irrigação artificial de culturas agrícolas
no Nordeste e no restante do País, para elevações da produtivi-
dade e da produção, abrangendo alguns milhões de hectares;
Controle da poluição das águas, de origem urbana, industrial e
agrícola, em especial nas regiões Sul e Sudeste; Controle de cheias
e prevenção de inundações, notadamente em áreas urbanas;
desenvolvimento dos potenciais de navegação, na Amazônia e
em bacias hidrográficas em que serão implantadas hidrelétricas;
Aproveitamento de reservatórios existentes e a implantar, para
fins de piscicultura, recreação e turismo.
144
está no Brasil a maior bacia fluvial do mundo, a do Amazonas.
Situam-se em nossos limites duas das dez maiores bacias do mun-
do que cortam apenas um país – a do São Francisco e a do
Tocantins-Araguaia. Se os recursos são tão fantásticos, mais fan-
tástica ainda é a taxa de desperdício de todo este material, que
fica em torno de 40%. [...] Outra coisa que incomoda saber é
que 87 milhões de brasileiros não dispõem de saneamento bási-
co, 75 milhões não têm coleta de lixo e 70 milhões não têm
acesso ao chamado precioso líquido, segundo levantamento fei-
to pelo engenheiro sanitarista Abelardo de Oliveira Filho, diretor
da Federação Nacional dos Urbanitários. A colonização predató-
ria e a falta de planejamento também fazem seus depósitos na
conta do incômodo: 94% dos esgotos no Brasil não são trata-
dos e 80% das doenças endêmicas entre a população são decor-
rentes da falta de saneamento básico. Pelos últimos números co-
nhecidos, 63% dos entulhos e depósitos de lixo estão nos cor-
pos d’água. Os produtores rurais fazem despejo de agrotóxicos
nos ribeirões e córregos que cortam a propriedade, inviabilizando
assim bacias inteiras que poderiam ser aproveitadas como ma-
nanciais. Se na área rural o panorama é esse, a área urbana não
faz por menos. O lixo doméstico, os poluentes físicos e os me-
tais pesados liberados pela indústria estão obrigando as empre-
sas de saneamento a manterem a logística da captação de água
para produção numa expansão geométrica, indo cada vez mais
longe para recolher água pura”.
Recursos energéticos
A submissão ao capital internacional e a política miúda do
governo FHC foram, em última análise, as grandes responsáveis
pela crise energética que se abateu sobre o país em 2001, como
informou o Jornal Estado de Minas (18/5/2001, p. 10) em arti-
go de Bianca Giannini:
“Falta de planejamento, investimentos em geração de energia em
descompasso com o crescimento da economia, compromissos
firmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e nomea-
ções com base em interesses políticos no Ministério de Minas e
Energia são os principais causadores da crise energética. [...] O
coordenador do Programa de Pós-Graduação de Engenharia
(Coope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Pinguelli
Rosa, diz que além da falta de atenção do governo com o setor
energético, em parte por falta de visão dos últimos ministros de
Minas e Energia, o acordo do Brasil com o FMI é fator
determinante do atual cenário. Embora o governo tente colocar
na diminuição do volume de chuvas a culpa do problema, essa
situação se deve à falta de investimentos em geração, com a cons-
trução de usinas e ampliação de redes de transmissão. Esses in-
vestimentos não ocorreram, segundo especialistas do setor e tam-
bém membros do próprio governo federal, porque empresas es-
tatais que entram na lista de privatização não podem investir sem
autorização prévia do Conselho Nacional de Desestatização
(CND). De acordo com as bases do empréstimo de US$41,5
bilhões liberados pelo FMI ao Brasil, que resultou no Programa
de Ajuste Fiscal, os investimentos nas estatais entram como des-
150
pesa nas contas públicas. Para não aumentar a dívida interna, o
Ministério da Fazenda não os autoriza”.
Enquanto aqui no Brasil não se investe no aproveitamento
dos recursos naturais, por força de acordo com potências es-
trangeiras, nos Estados Unidos da América, o Presidente Bush
faz o contrário e parte para investimentos maciços nesse setor,
sejam de que tipo forem e onde estiverem tais recursos em seu
território, mesmo que em áreas de proteção ambiental, pois o
que está em jogo são os interesses do povo americano, como
veiculou o Jornal Estado de Minas, em artigo intitulado Bush
apresenta um plano sem milagres (18/5/2001, p. 15):
“O presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, anun-
ciou o programa de energia de sua administração em um encon-
tro com empresários, em St. Paul, dizendo para eles e para a
nação que os norte-americanos devem conservar mais, produzir
mais e construir mais. E advertiu: Se falharmos nas ações, en-
frentaremos mais e mais blecautes. Se falharmos em agir, nosso
país se tornará dependente do petróleo estrangeiro, colocando
nossa segurança em termos de energia nas mãos de nações es-
trangeiras, algumas das quais não partilham nossos interesses.
[...] E pediu a construção de 1.300 a 1.900 novas geradoras de
energia elétrica, alimentadas não só por carvão ou gás, mas tam-
bém por energia nuclear”.
Se lá, na própria terra deles, os americanos não perdoam
nem mesmo o meio ambiente, pois uma das áreas a serem libera-
das para a exploração de petróleo é nada mais nada menos do
que o famoso Refúgio Nacional de Vida Selvagem no Ártico, situado
no Alasca, imaginem o que acontecerá quando esses recursos
escassearem e se virem obrigados a buscá-los no exterior para
manterem seu padrão de vida. Esta hipótese não está longe de se
concretizar, dada a voracidade com que consomem os recursos
naturais, e os alvos preferenciais nessa empreitada fatalmente serão
a América do Sul e a Antártica, os dois últimos continentes com
riquezas naturais quase que intactas. Nessa rapinagem, a América
do Sul será alvo privilegiado, pois embora esta região tenha sido
saqueada pelas potências coloniais européias durante séculos, o
botim para pilhagem ainda é imenso e o Brasil um alvo cobiçado
pela grandeza de suas reservas em recursos naturais. Daí a neces-
151
sidade de o Brasil e os demais países sul-americanos se unirem na
defesa das riquezas da América do Sul e do continente Antártico
e partirem para aproveitá-las o mais rapidamente possível em
benefício de suas populações, antes que os predadores do G-7,
que têm nos Estados Unidos da América seu maior parceiro, o
façam, por bem ou por mal, como é de seu costume histórico e
bem exemplifica a tragédia do Iraque, bola da vez da cobiça nor-
te-americana.
A revisão Constitucional
A revisão da atual Constituição se impõe não só para pos-
sibilitar uma reestruturação do Estado brasileiro, mas também
para derrubar tabus que inviabilizam a modernização da adminis-
tração pública, como as chamadas cláusulas pétreas, e eliminar
toda sorte de privilégios desfrutados pelos servidores públicos,
principalmente aqueles pertencentes ao Poder Judiciário e às fun-
ções ditas essenciais à Justiça. A erradicação dos privilégios que
permeiam os três poderes da República somente será possível se
a atual Constituição sofrer uma revisão na sua forma e conteúdo.
152
Para isto, basta simplificar o texto constitucional transferindo para
o Estatuto do Funcionalismo Público os pontos de interesse da
categoria e para o domínio das Leis Ordinárias as questões mais
dinâmicas que afetam a sociedade, deixando para o texto consti-
tucional os conceitos fundamentais do Estado Democrático de
Direito.
A alegação de que a oportunidade de se fazer a revisão da
Constituição de 1988 já passou, em função do cumprimento do
artigo 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e,
portanto, nada mais é possível fazer além de pregar-lhe alguns
remendos, vai de encontro não só com o parágrafo único do
artigo 1º, como também contraria a opinião de especialistas em
direito, como a do Prof. José Afonso da Silva, que disse textual-
mente na obra Curso de Direito Constitucional Positivo (1997,
p. 46):
A estabilidade das constituições não deve ser absoluta, não pode
significar imutabilidade. Não há constituição imutável diante da
realidade social cambiante, pois não é ela apenas um instrumento
de ordem, mas deverá sê-lo, também, de progresso social. Deve-
se assegurar certa estabilidade constitucional, certa permanência
e durabilidade das instituições, mas sem prejuízo da constante,
tanto quanto possível, perfeita adaptação das constituições às
exigências do progresso, da evolução e do bem-estar social. A
rigidez relativa constitui técnica capaz de atender a ambas as exi-
gências, permitindo emendas, reformas e revisões, para adaptar
as normas constitucionais às novas necessidades sociais, mas
impondo processo especial e mais difícil para essas modificações
formais, que o admitido para a alteração da legislação ordinária
(Cf. J. H. Meirelles Teixeira).
Numa revisão constitucional, dois pontos devem merecer
atenção especial. Trata-se do artigo 3º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), que tenta engessar a Cons-
tituição de 1988, e o parágrafo primeiro do Art. 45, que tornou
os brasileiros desiguais entre si. A este respeito, eis o que afir-
mou o Prof. Silva (op.cit., p. 483-484):
A Constituição não fixa o número total de Deputados Federais,
deixando isso e a representação por Estado e pelo Distrito Fede-
ral para serem estabelecidos por lei complementar, que terá de
153
fazê-lo em proporção à população, determinando reajustes pela
Justiça Eleitoral, em cada ano anterior às eleições, de modo que
nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito
ou mais de setenta Deputados. Essa regra que consta do art. 45,
parágrafo primeiro, é fonte de graves distorções do sistema de
representação proporcional nele mesmo previsto para a eleição
de Deputados Federais, porque, com a fixação de um mínimo de
oito Deputados e o máximo de setenta, não se encontrará meio
de fazer uma proporção que atenda o princípio do voto com
valor igual para todos, consubstanciado no art. 14, que é aplica-
ção particular do princípio democrático da igualdade em direitos
de todos perante a lei. É fácil ver que um Estado com quatrocen-
tos mil habitantes terá oito representantes enquanto um de trinta
milhões terá apenas setenta, o que significa um Deputado para
cada cinqüenta mil habitantes (1: 50.000) para o primeiro e um
para quatrocentos e vinte e oito mil e quinhentos e setenta e um
habitantes para o segundo (1: 428.571). Em qualquer matemá-
tica, isso não é proporção; mas brutal desproporção, tal fato
constitui verdadeiro atentado ao princípio da representação pro-
porcional. A Câmara deve ser o espelho fiel das forças
demográficas de um povo; nada justifica que, a pretexto de exis-
tirem grandes e pequenos Estados, os grandes sejam tolhidos e
sacrificados em direitos fundamentais de representação (Cf. Miguel
Reale).
Aqui é bom lembrar que essa aberração foi introduzida nas
constituições que vigoraram durante a ditadura militar, para que
os generais-presidentes pudessem ter maioria no Congresso Na-
cional, com base nos votos da retrógrada bancada nordestina, e
foi mantido na Constituição de 1988, graças a políticos oriun-
dos dos Estados beneficiados e que dispunham de posição de
mando, como o amazonense Bernardo Cabral, relator geral da
Assembléia Nacional Constituinte, e o maranhense José Sarney,
Presidente da República. Estes políticos, além de trabalharem em
causa própria, o primeiro como jurista e o segundo para esticar
seu mandato em mais um ano, compactuaram com a elite nesse
atentado aos direitos dos cidadãos. Afinal de contas, por que o
Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, e toda essa
gigantesca estrutura estatal que cuida de aplicar as leis neste país
e a poderosa Ordem dos Advogados do Brasil não se manifesta-
154
ram sobre a inconstitucionalidade desse parágrafo espúrio e não
tomaram medidas práticas e eficazes para eliminá-lo do texto cons-
titucional?
Fatos como esses mais que justificam uma revisão da atual
Constituição, mas outras questões devem também ser considera-
das, como a substituição das Constituições Estaduais por Leis
Orgânicas, a exemplo do que ocorre com os municípios, que
são organizados e regidos constitucionalmente por Leis Orgâni-
cas próprias, uma espécie de constituição municipal. No passado
os Estados federados já tiveram até presidentes e hoje são admi-
nistrados por governadores, sem que essa mudança tenha abala-
do os poderes constituídos. Por que não proceder da mesma
forma com as constituições estaduais? O atual modelo constitu-
cional foi copiado dos Estados Unidos da América, onde cada
Estado possuía uma constituição própria, antes de se unirem numa
federação. Aqui no Brasil, não. A nossa formação foi sempre
unitária e, portanto, não há necessidade de fragmentá-lo só para
se encaixar em modelos importados. Neste particular é ridícula a
comparação entre o texto de uma Constituição Estadual, como a
de Minas Gerais, por exemplo, com a Federal. Trata-se de uma
cópia mal alinhavada que não acrescenta nada de substancial à
nossa Carta Magna e todo seu conjunto pode, com muito mais
propriedade, compor uma Lei Orgânica Estadual do que uma
verdadeira Constituição.
A reforma do Judiciário
Uma outra questão que deve ser considerada ao se proce-
der a revisão da atual Constituição, diz respeito à atuação dos
integrantes do Judiciário, responsáveis maiores pela morosidade
da Justiça, a impunidade dos culpados e a corrupção dos costu-
mes, desvios de comportamento que acabam anulando os direi-
tos de cidadania, razão da existência desse poder. O primeiro
passo para mudar esse quadro deverá ser a eliminação da chama-
da “indústria das liminares”, providência que poderá ser feita
pela retirada do direito de um juiz, isoladamente, poder concedê-
155
la, transferindo essa competência para uma Junta de Juízes na
qual não exista o “voto de Minerva”, evitando assim a depen-
dência decisória de um único magistrado. Além disso, essas Jun-
tas de Juízes também passariam a ser responsáveis pela conces-
são de habeas-corpus, para evitar a ação de juízes inescrupulosos
ou decisões polêmicas que acabam gerando prejuízos para o Es-
tado, como aconteceu com certo marginal, que beneficiado por
esse direito, escapou ileso de seus crimes fugindo para outro
país.
Além dessas atribuições, outras mais poderão ser confia-
das às Juntas de Juízes, se se fixar prazos para que os processos
sejam julgados por um só juiz. Uma vez esgotado esse prazo sem
uma decisão, o Juiz encarregado do processo seria obrigado,
num prazo estabelecido em lei, a fazer um relatório de seus tra-
balhos e entregar o processo para uma Junta de Juízes que profe-
rirá a sentença final, obedecendo também a um prazo máximo.
Com esta medida, a Justiça será mais ágil e respeitada. Mas para
que este sistema funcione realmente, é necessário acabar com
outra praga que emperra o andamento dos processos. Trata-se
das medidas protelatórias representadas pelas ações recorrentes
às instâncias superiores. Neste caso a solução está em se restrin-
gir esse direito a uma só instância, sem efeito suspensivo auto-
mático, cuja sentença final deverá ser proferida por uma Junta de
Juízes da Corte Superior, num prazo também estabelecido em lei,
não cabendo a partir daí outras apelações.
Já atuando dentro desse novo enfoque, Juntas de Juízes
extraordinárias seriam criadas para julgar todos os processos que
se encontram na Justiça há mais de dois anos, de tal forma que
num prazo máximo de cinco anos todas as pendências e julga-
mentos encontrem seu termo, limpando a pauta de todas as
instancias em nível federal ou estadual. Para alcançar este objeti-
vo, duas providências adicionais serão necessárias: a) a
federalização de todos os Sistemas Judiciários Estaduais, passan-
do a partir daí a existir no País um só sistema, o Sistema Judiciário
Federal; b) a reforma do sistema dos concursos públicos para
admissão de novos juízes. Hoje em dia, o Sistema Judiciário “amar-
ra” as contratações desses especialistas na elaboração das pro-
vas, tornando-as verdadeiras muralhas instransponíveis para a
156
maioria dos candidatos, fazendo com que sempre faltem juízes
para agilizar a Justiça. Para remover essa pedra de tropeço e de-
mocratizar esse processo elitista e acabar com a desculpa de que
a Justiça não anda por falta de juízes, deve-se confiar às Universi-
dades Federais a competência de elaborar e aplicar as provas,
segundo padrão básico estabelecido pelo Judiciário. Para elabo-
rar a matriz desse padrão, para substituir as normas atuais, seria
feito uma prova-teste para ser aplicada aos integrantes do Poder
Judiciário, inclusive os das Cortes Superiores, que assim teriam
condições de aprimorar esse teste e torná-lo universal para to-
dos os concursos a partir de sua adoção.
Com essas medidas, será possível evitar casos de impuni-
dade, como o dos “Anões do Orçamento”, que se arrasta na
Justiça desde o século passado. Segundo o Jornal Estado de Mi-
nas (5/9/2005, p. 6):
o ex-deputado federal José Geraldo Ribeiro, um dos seis anões
cassados pela CPI do Orçamento, em 1994, continua na ativa,
além de não ter sido até hoje punido pela Justiça. O inquérito
que tramita contra ele no Supremo Tribunal Federal por crime
contra a administração pública sequer foi transformado em ação.
Sob o título Inquérito aberto em 94 ainda não foi concluí-
do, a jornalista Patrícia Aranha, autora desta matéria, acrescenta
as seguintes informações:
Dezesseis volumes e 92 documentos anexados, um deles com 17
volumes, outros com apenas dois. Esse é o resultado da denún-
cia crime de improbidade administrativa feita pelo Ministério
Público Federal contra o ex-deputado José Geraldo Ribeiro, cas-
sado pela Câmara em 15 de junho de 1994. Onze anos depois,
o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não
acabou. A demora é tanta que o relator do processo que acom-
panhou os trabalhos desde 1994 acabou se aposentando. No
último dia 1º de julho, o ex-ministro Maurício Correa foi substi-
tuído na relatoria pelo ministro Eros Grau. Como ainda se trata
de uma investigação, nada do que foi apurado pode vir a público.
Foram dezenas de diligências feitas pela Polícia Federal, pela Jus-
tiça Federal em Minas e pelos ministérios públicos federal e esta-
dual, mas por enquanto o inquérito 891 assusta mais pelo volu-
me do que pelos resultados. Até agora, nem mesmo decisão
157
liminar foi tomada. Como o inquérito não teve fim, José Geraldo
Ribeiro não teve que devolver os milhões que desviou do Orça-
mento, nem amargou qualquer período na prisão. Além disso,
desde 1998 pode concorrer novamente a um cargo eletivo.
Para pôr termo à morosidade da Justiça e fazê-la mais efi-
caz, é necessário, portanto, uma reforma radical do Judiciário, a
qual deve incluir, também, o direito do povo de escolher os
membros das Cortes Superiores pelo voto, com ocorre com o
Senado, ou seja, mandato eletivo de 8 anos e 3 representantes
por Estado, e não cargo vitalício, de livre escolha de outro poder
como atualmente. Este procedimento torna o Poder Judiciário
um poder menor, na medida em que, ao depender de outro po-
der para nomear os membros das Cortes Superiores, fica a ele
subordinado, queiram ou não seus integrantes, o que de resto
reflete um pecado original: a não unção pelo voto popular de
seus mandatos, pois, como consta na Constituição no seu artigo
1º, Parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente”.
A Reforma Agrária
170
bem conhecido pelos portugueses e fora testado anteriormente:
não só nas ilhas do Atlântico, mas, quase dois séculos antes, no
próprio território luso, especificamente no Alentejo e no Algarve,
após essas regiões do sul de Portugal terem sido tomadas aos
mouros durante a Reconquista cristã. Como aconteceu nos dois
casos anteriores, o Brasil foi dividido em vastas áreas chamadas
de donatorias, ou capitanias hereditárias. Na América, esses lo-
tes eram enormes: tinham cerca de 350 km de largura cada, pro-
longando-se, em extensão, até a linha estabelecida pelo Tratado
de Tordesilhas, em algum lugar no interior ainda desconhecido
do continente. As capitanias brasileiras possuíam, dessa forma,
dimensões similares às das maiores nações européias. [...] Cerca
de dez anos depois de as capitanias terem sido criadas, as desor-
dens internas, as lutas contra os nativos e a ameaçadora presença
dos franceses acabaram provocando o colapso do sistema que o
rei e seus conselheiros tinham optado por aplicar no Brasil. [...]
O fracasso do projeto como um todo não impediu que o legado
das capitanias hereditárias fosse duradouro. A estrutura fundiária
do futuro país, a expansão da grande lavoura canavieira, a estru-
tura social excludente, o tráfico de escravos em larga escala, o
massacre dos indígenas: tudo isso se incorporou à história do
Brasil após o desembarque dos donatários. Alguns dos grandes
latifúndios brasileiros de fato tiveram origem nas vastas sesmarias
concedidas aos colonos de estirpe mais nobre (chamavam-se
sesmarias os lotes de terra virgem distribuídos pelos donatários
a seus colonos)”.
Todos os modelos de posse das terras públicas, inventa-
dos pela elite ao longo dos cinco séculos de nossa história (capi-
tanias, sesmarias, comodatos, grilagens), são na verdade exem-
plos de reforma agrária que fez em seu próprio beneficio, não
havendo portanto razão alguma para agora se opor a que se faça
o mesmo em benefício daqueles que não pertencem a este seleto
grupo: os excluídos de todos os matizes. Hoje a realidade social
impõe novas regras para a posse da terra, seja para produzir
alimentos para todos, seja para promover o resgate da dívida
social e varrer deste país todas as favelas que sitiam os grandes
centros urbanos, aterrorizando sua população. A propósito da
posse da terra, eis o que disse o Senhor a Moisés no Monte Sinai
(Lv 25,23-24): “As terras não se venderão a título definitivo,
porque a terra é minha, e vós sois estrangeiros e meus agregados.
171
Portanto, a qualquer terra que possuirdes, concedereis o direito
de resgate”.
A Reforma Urbana
Selos de Autenticidade
Para facilitar a auditoria das dívidas financeiras do setor
privado contraídas no exterior e permitir o seu resgate, seriam
criados Selos de Autenticidade, também em quatro séries:
179
1ª – Selo Vermelho: aplicado em todos os contratos das
dívidas financeiras do setor privado, os quais ficariam suspensos
até que fossem submetidos a uma auditoria, após o que recebe-
riam os selos amarelo ou verde, conforme o caso;
2ª – Selo Amarelo: aplicado aos contratos com selo ver-
melho, parcialmente liberados, mas necessitando de revisão nos
seus termos, em função de restrições levantadas pela auditoria;
3ª – Selo Verde: aplicado aos contratos com selos verme-
lho ou amarelo, já totalmente liberados em seus termos pela au-
ditoria, porém ainda pendentes de enquadramento no cronograma
geral de resgate;
4ª – Selo Azul: aplicado aos contratos de Selo Verde en-
quadrados no cronograma geral de resgate.
181
vice-campeã, paga uma taxa (descontada a inflação) de 5,1% ao
ano. ‘Só linguagem de corridas de cavalo explica o que ocorre na
economia brasileira. O País ganha com três corpos de vantagem
da Hungria’, resume o economista e ex-ministro da Fazenda Luiz
Carlos Bresser-Pereira”.
O fluxo migratório
Nesta virada de milênio, o fluxo migratório entre os países
sul-americanos está paralisado e contido pela estagnação econô-
mica que afeta todos sem distinção. Esta situação, todavia, é pas-
sageira, pois bastará que um país da região se destaque economi-
camente perante os demais, para atrair sobre si migrantes que,
sem emprego em seus países de origem, buscarão nos vizinhos
mais desenvolvidos os meios para sobreviverem. Um exemplo
clássico dessa situação é a atração irresistível que os Estados
Unidos da América exercem sobre seu vizinho paupérrimo, o
México, cujos nativos procuram invadir em massa o território
americano, onde são contidos por cercas, muralhas, torres de
vigia e outros obstáculos artificiais, pois as barreiras naturais são
impotentes para detê-los.
No caso do Brasil, a permeabilidade de sua extensa fron-
teira com os países vizinhos enseja um fluxo não previsto pelo
neoliberalismo, ou seja, o livre trânsito de pessoas de um país
para outro, à revelia das autoridades e fora do controle dos ser-
viços de imigração. Em passado recente, um movimento migrató-
rio espontâneo levou milhares de brasileiros a cruzarem a fron-
183
teira com o Paraguai em busca de terras para plantar, já que no
Brasil estas lhes eram negadas, embora nosso país possua mais
terras devolutas que a soma de toda as terras agricultáveis do
país vizinho. A conseqüência desse movimento migratório foi o
aparecimento de um novo cidadão sul-americano, de dupla nacio-
nalidade, o Brasiguaio.
Exemplos dessa atração exercida pelos centros mais desen-
volvidos sobre povos de zonas deprimidas economicamente estão
por toda a parte, inclusive na Europa, onde os europeus do Leste
estão invadindo em massa os países do Oeste, além de imigrantes
do mundo todo, como veiculou o Jornal Estado de Minas, em
matéria intitulada Nômades do século XXI (30/6/2002, p. 22):
Líderes dos 15 países que integram a União Européia reuniram-
se em Sevilha, na Espanha, há 10 dias, para discutir o que fazer
diante da avalanche de populações maltrapilhas, procedentes de
todos os cantos da Terra, que desembarcam em portos e aero-
portos do continente, em busca de emprego e de uma vida me-
lhor. A preocupação é grande, entre os atuais governantes. In-
dignados com a invasão de gente de cultura e costume diferen-
tes, os europeus começam a sufragar políticos da extrema direi-
ta, que se comprometem, se eleitos, não só a fechar as portas
aos imigrantes, de qualquer nacionalidade, mas a expulsar de seus
países os estrangeiros incômodos, conforme prometeu o francês
Le Pen.
A Guarda Nacional
Para isso é necessário que seja criada, com militares da
ativa e reserva oriundos das Forças Armadas (Exército, Marinha
e Aeronáutica), a Guarda Nacional, a fim de auxiliar o Exército
no controle das fronteiras terrestres (faixa dos 150 km) e a Ma-
rinha na zona costeira, e controlar os postos alfandegários, por-
tos e aeroportos. Esta nova unidade militar, de caráter policial,
subordinada ao Ministério da Defesa, substituiria também as po-
lícias militares estaduais como força auxiliar de segurança interna
e no policiamento da capital federal. Além disso, ficaria encarre-
gada do policiamento das reservas indígenas, parques florestais e
reservas ecológicas federais, e também de outros patrimônios da
União.
187
Para evitar superposição de funções, a Guarda Nacional
atuaria sob a supervisão das Forças Armadas, que teria o contro-
le total sobre suas ações, pois se trata de uma força auxiliar cria-
da para se ocupar de uma missão que para os exércitos regulares
é secundária, mas para a nação é de vital importância: a vigilância
policial. No exercício desta função, os militares da ativa do Exér-
cito, da Marinha e da Aeronáutica teriam oportunidade de colo-
car em prática seus treinamentos para enfrentamento de situa-
ções bélicas reais, tirando daí o melhor proveito para sua forma-
ção profissional. A temporada dos militares da ativa das Forças
Armadas na Guarda Nacional seria considerada como um estágio
obrigatório para avaliação de desempenho em situações de riscos
e pré-requisito para eventuais promoções.
A Polícia Federal
Nesse novo contexto, a Polícia Federal absorveria todas as
outras polícias federais, como a Rodoviária, Ferroviária, Portuá-
ria, etc., passando a atuar como uma polícia investigativa, reser-
vada, não uniformizada, como o FBI norte-americano. Esta nova
polícia passaria a emitir, em conjunto com as Forças Armadas, as
Carteiras de Identidade, hoje a cargo das polícias estaduais, além
dos passaportes que normalmente já emite.
O Ministério da Defesa
A emissão de Carteiras de Identidade pela Polícia Federal,
em conjunto com as Forças Armadas, visa acabar com as falsifica-
ções e outros tipos de delitos, além de permitir a criação de um
banco de dados informatizado com essa finalidade, a ser gerido
em parceria com o Ministério da Defesa, que seria o depositário
e guardião dos dados originais e o único autorizado a operar
esse banco de dados para incluir novos elementos, quaisquer
que sejam. Esse banco de dados seria criado pelo Ministério da
Defesa com os dados pessoais dos reservistas das Forças Arma-
188
das, os quais passariam a receber a nova Carteira de Identidade
em lugar do atual Certificado de Reservista. Neste novo modelo,
todos os jovens, de ambos os sexos, ao completarem 18 anos,
passariam pelos exames de seleção, dos quais inclusive se deter-
minaria o DNA como forma de se evitar falsificações, e cujo aces-
so somente poderia ser obtido, no banco de dados operado pelo
Ministério da Defesa, por decisão judicial e por intermédio da
Polícia Federal. Essa nova Carteira de Identidade somente seria
fornecida aos jovens que completassem 18 anos a partir da im-
plantação do Banco de Dados do Ministério da Defesa.
Além disso, todos os reservistas passariam por um exame
médico detalhado, inclusive exames de sangue, urina e fezes, para
determinar o estado de saúde deles, avaliando conseqüentemen-
te as condições físicas e mentais da juventude num momento
crucial de seu desenvolvimento orgânico. Este exame seguiria um
padrão estabelecido de comum acordo com o Ministério da Saú-
de, visando a um só tempo avaliar as políticas de saúde publica
para a infância e juventude e fornecer às Forças Armadas
parâmetros para seleção de jovens conscritos para o serviço mi-
litar.
190
passado, o delegado Renato Queiroz de Matos, lotado no 10º
Distrito, no bairro Serra, também na zona Sul, já havia sido afas-
tado do cargo por ter liberado Gilberto Eustáquio Pereira, de 29
anos, acusado de assalto a ônibus, alegando falta de cela, devido
à superlotação.
Enquanto a sociedade brasileira não resolver essa questão,
pois é dever do Estado garantir a todo cidadão, sem distinção, o
direito à privacidade e a integridade física e psicológica, mesmo
sendo um condenado pela Justiça, não será possível mudar o
quadro de injustiça social que aí está, pois revela que não está
preparada para encarar de frente o cerne de todo processo
civilizatório: a dignidade do ser humano.
A defesa do tríplice
ecossistema sul-americano
A defesa do tríplice ecossistema sul-americano, formado
pela América do Sul, Antártica e oceanos adjacentes – Atlântico,
Pacífico e Polar –, é de vital importância para a prosperidade nas
nações do continente e do bem-estar de sua população, pois a
exploração dos recursos naturais (minerais, hídricos e energéticos)
e da biodiversidade desses que são os últimos continentes prati-
camente intocados, e dos oceanos que os cercam, requer a união
dos governantes sul-americanos em sua defesa, já que outros
povos, de outros continentes, com o esgotamento de seus recur-
sos naturais, tudo farão para saquear esse patrimônio e dele tirar
o melhor proveito.
Dentro desse tríplice ecossistema, e visceralmente a ele inter-
ligados e dele dependentes para manutenção do clima e da
biodiversidade, existem outros com suas próprias particularidades,
193
como a Bacia Amazônica, a Cordilheira dos Andes, a calota polar e
os oceanos adjacentes. A não preservação e controle desses
ecossitemas irão provocar danos irreparáveis ao meio ambiente da
América do Sul, com conseqüências desastrosas para sua popula-
ção. Para o Brasil, esses temas, além de prioritários, são também
estratégicos, principalmente os relacionados com a defesa da Bacia
Amazônica, em função das renovadas ameaças de internacionalizá-la
feitas sob os mais diferentes pretextos e disfarces.
Uma dessas ameaças foi denunciada pelos jornalistas ame-
ricanos Gerard Colby e Charllote Dennet em um livro intitulado
Seja Feita a Vossa Vontade - A conquista da amazônia: Nelson
Rockefeller e o evangelismo da idade do petróleo, como infor-
mou o Jornal Estado de Minas (13/11/2000, p. 5):
“Fruto de uma extensa pesquisa que chegou até a arquivos secre-
tos do milionário Nelson Rockefeller, o livro esclarece a estraté-
gia imperialista para conquistar a Amazônia. [...] Já na leitura dos
textos de apresentação do livro fica claro que Rockefeller não
agiu sozinho. O líder protestante Cameron Towsend teve papel
definitivo nesta trama cinematográfica, que por vezes parece en-
redo de filme de espionagem. Townsend era o braço de Rockefeller
para evangelização das populações indígenas, uma das táticas uti-
lizadas para tentar barrar o avanço do comunismo na América
Latina. Por trás do esforço de ambos formou-se uma rede de
interesses políticos e econômicos que resultou num dos casos
mais escandalosos da política imperialista americana, com ata-
ques à natureza, patrocínio de ditaduras, genocídios, exploração
indevida de riquezas naturais e espionagem, ressaltam as notas
introdutórias do livro”.
Na atualidade outros tipos de interesses, com o mesmo
objetivo, rondam nossas riquezas e ameaçam o meio ambiente da
América do Sul, como informou o Jornal Estado de Minas (“EM-
Ecológico”, 7/5/2001, p. 1): “Somos o maior poluidor do mun-
do. Mas, se for preciso, vamos poluir ainda mais para evitar uma
recessão na economia americana”. (Frase dita por George W.
Bush em seu primeiro encontro com o Presidente FHC, em Wa-
shington). Se esse prepotente presidente americano não tem ne-
nhum escrúpulo em atentar contra a natureza de seu próprio
país, imagine o que fará fora de seus limites territoriais.
194
O Instituto de Pesquisa do Tríplice Ecossistema
Para dar suporte aos países sul-americanos, com vistas à
proteção do seu patrimônio natural, ante as ameaças alienígenas,
é necessário que se crie o Instituto de Pesquisa do Tríplice
Ecossistema (IPTEc) para, juntamente com o Instituto Nacional
de Pesquisa da Amazônia (INPA) e o Instituto Nacional de Pes-
quisas Espaciais (INPE), desenvolver projetos de cooperação ci-
entífica e tecnológica com as universidades e centros de pesqui-
sas do País e da América do Sul. Para se ter uma idéia da grandeza
do potencial econômico da biodiversidade sul-americana e o ta-
manho do prejuízo para o Brasil da não existência de um diploma
legal para regulamentar sua exploração de maneira racional e evi-
tar a biopirataria, basta atentar para os seguintes dados citados
pelo Jornal Estado de Minas:
É muito difícil dimensionar o prejuízo ou quanto o Brasil deixa de
ganhar com a biodiversidade da Amazônia Legal. Em recente
pesquisa da revista científica Nature, o valor dos serviços propor-
cionados pela biodiversidade mundial alcança a fabulosa cifra de
US$33 trilhões, quase o dobro do PIB mundial. O consultor do
Ministério do Meio Ambiente, Mário Miranda Santos, através de
um detalhado relatório ao qual o ESTADO DE MINAS teve aces-
so, revela o enorme potencial econômico, caso sejam
implementados investimentos. Com planejamento, investimento e
pesquisa, o Brasil pode morder uma grande fatia do bolo de 800
bilhões aferidos atualmente pela biotecnologia nas áreas de saúde
humana e animal, produção agrícola e industrial. Ele cita dois exem-
plos: o controle biológico da lagarta da soja, por meio de baculovirus
anticarsia, gera economia anual de US$200 milhões aos plantadores
brasileiros. Outros US$100 milhões de economia referem-se ao
controle da cigarrinha da cana-de-açúcar com o uso de parasitóides.
As duas pesquisas foram conduzidas por cientistas brasileiros e
vão gerar receitas através de royalties.
196
nário Simón Bolívar (1783-1830), que liderou a independência
da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Lula recebeu o
presente de parlamentares venezuelanos. A réplica veio acompa-
nhada de uma mensagem pessoal de Chávez ao petista: “No Bra-
sil, a revolução será iniciada por meio da eleição de Lula”, afirma
o texto. Anteotem, Chávez já havia usado seu programa em ca-
deia nacional de televisão na Venezuela, chamado “Alô, Presi-
dente”, para enviar mensagem de aniversário a Lula, lembrando
que a data coincidia com as eleições: “Milhões de brasileiros
devem estar votando em suas esperanças, em suas idéias, pacifi-
camente e na democracia. Boa sorte e o povo decidirá quem deve
ser o próximo presidente do Brasil. Brasil e Venezuela vão em
direção a um futuro comum no século 21”.
Mais adiante a reportagem informa:
As relações entre Lula e Chávez estão no centro das preocupa-
ções dos Estados Unidos. Foi um dos principais temas questio-
nados pelo embaixador Richard Haass, diretor do Escritório de
Planejamento de Políticas do Departamento de Estado dos EUA
(assessor do secretário de Estado, Colin Powell), durante reu-
nião com petistas no final de agosto.
Para harmonizar os interesses em jogo e preservar a sobe-
rania dos países sul-americanos e o fortalecimento do Mercosul,
é necessário um planejamento estratégico que contemple proje-
tos de desenvolvimento econômico e social do continente, a cur-
to, médio e longo prazos, antes de se atender às necessidades de
outros continentes ou de criação de outros blocos econômicos
como a Alca, por exemplo.
197
(Alca). A Alca é nociva aos interesses do País e já passa da hora
de o Brasil suspender as negociações com os Estados Unidos. A
opinião é do professor titular aposentado da UNB, Luiz Alberto
Vianna de Moniz Bandeira, doutor em Ciência Política, conside-
rado um dos maiores especialistas brasileiros sobre as relações
internacionais do Brasil em sua perspectiva histórica. Para ele, há
a hipótese de que os Estados Unidos tenham abandonado a Ar-
gentina para, indiretamente, debilitar o Brasil e o Mercosul, pavi-
mentando o caminho da Alca. Apesar das dificuldades
conjunturais, o Mercosul não irá morrer, prevê. Vai sofrer atra-
sos, poder até ser modificado, mas subsistirá porque há interes-
ses muito grandes, há tratados firmados, considera. O cientista
político defende, desde 1990, que a proposta do Mercosul seja
estendida à África do Sul, a porta de entrada para a África negra.
O Brasil também deve partir para um entendimento de maior
profundidade com a Índia, a Rússia e, sobretudo, a China. Na
china é que está o futuro, acrescenta. Moniz Bandeira, que vive
na Alemanha, tem mais de 20 obras publicadas e prepara-se para
o lançamento de um novo livro pela editora Revan: A Tríplice
Aliança e o Mercosul.
Interesses estratégicos
A Farmacopéia Brasiliense e o
futuro da Nação
A defesa dos recursos naturais da Terra Brasilis, e por ex-
tensão da América do Sul, contra a exploração alienígena está a
exigir da sociedade brasileira e sul-americana uma tomada de
posição para defesa de um patrimônio que é comum a todos,
especialmente por parte dos brasileiros, sob pena de o Brasil
continuar sendo apenas “o país do futuro”. O alerta contra essa
espoliação foi dado pelo Jornal Estado de Minas em matéria
intitulada Amazônia invadida por piratas internacionais (15/9/
2002, p. 1,14-15):
O Brasil perde, anualmente, US$5,4 bilhões com a biopirataria
na Amazônia. Supostos cientistas, missionários e ambientalistas,
a serviço de empresas multinacionais, retiram de animais e plan-
tas da região a matéria-prima para a produção de remédios e
200
cosméticos. Os piratas pagam apenas US$1 por um quilo de
folhas de jaborandi, que transforma-se em uma substância vendi-
da por US$1,7 mil o quilo, no mercado internacional. O Ibama
admite não ter condições de conter o tráfico.
203
Aliás, nessa questão de tratados e assemelhados, os norte-
americanos são mestres em mudar as regras do jogo sempre que
isso favoreça seus interesses, como bem o sabem os índios da-
quele país.
Outros fatos decorrentes da política externa norte-ameri-
cana, como os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001,
reforçam a necessidade de os países sul-americanos adotarem
uma política de defesa autônoma e estabelecerem um mercado
comum, independentemente dos acordos firmados sob a égide
da OEA e dos planos de criação da Alca. A propósito, eis o que
escreveu John Edwin Mein, no Jornal Folha de São Paulo (29/9/
2001, p. A3):
Não se pode ignorar que a negociação para a constituição da
Alca é agora mais difícil. A terrível agressão sofrida pelos EUA
mudou a doutrina de segurança nacional americana, e, portanto,
a lógica das negociações políticas. A lógica que levou os america-
nos a propor a integração hemisférica surgiu no início da década
de 1990 como resultado da necessidade de uma nova doutrina
de segurança nacional. Com o fim da Guerra Fria, a doutrina de
contenção do comunismo já não servia como doutrina de segu-
rança nacional. Foi então desenvolvida a doutrina de segurança
via força da economia. Seu principal instrumento seria o comér-
cio internacional. Essa nova doutrina levou ao surgimento do
Nafta, assim como das teses do então vice-ministro do Comér-
cio, Jeffrey Gartner, sobre a atenção especial que os EUA deveri-
am dedicar aos dez países emergentes (entre eles o Brasil).
Essa doutrina, juntamente com a globalização, está agora
sujeita à revisão, inclusive a segurança das fronteiras, como in-
formou Stephen Roach, em artigo publicado neste mesmo jornal,
no dia 30 de setembro de 2001 (Folha de São Paulo, p. B5):
“As pegadas da globalização deixaram uma trilha óbvia na paisa-
gem mundial ao longo da década passada. Mas os ataques terro-
ristas de 11 de setembro e suas conseqüências podem causar o
fim delas. Na esfera econômica e financeira, a globalização envol-
ve basicamente uma maior conectividade entre as fronteiras. [...]
Mas a regras do jogo mudaram. O terrorismo sabotou as engre-
nagens da conectividade internacional, e o mundo da globalização,
onde as fricções vinham diminuindo, está sob ameaça. Os aconte-
204
cimentos trágicos do dia 11 de setembro na verdade impuseram
um novo tributo a esses fluxos. A segurança das fronteiras nacio-
nais terá de ser reforçada, agora uma empreitada custosa. Isso
afetará mais que os aeroportos e portos. As porosas fronteiras
dos EUA com Canadá e México, que conduziam os elos do Nafta
aparentemente sem nenhum obstáculo, também terão controles
mais severos”.
Energia nuclear
Nesse contexto uma nova política de energia nuclear deve
ser adotada, principalmente no que diz respeito à construção e
operacionalização de usinas atômicas. Estas usinas, monopólio
estatal gerido pela Eletronuclear, devem ser implantadas prefe-
rencialmente no Polígono das Secas, que compreende a maior
205
parte da Região Nordeste do País e o Norte de Minas Gerais.
Nessa vasta área deverão também ser construídos depósitos de
resíduos nucleares, as indústrias químicas, bioquímicas e nuclea-
res, as quais por motivos de segurança evitam regiões povoadas e
procuram locais isolados para se instalarem. A localização desses
empreendimentos em áreas inóspitas e de baixa densidade
demográfica, portanto longe dos centros urbanos, facilitará não
só o controle de quaisquer tipos de acidentes, como também a
remoção das pessoas para zonas de segurança, fora dos limites
dessas instalações.
Para que todo esse processo seja feito com a máxima segu-
rança, o Polígono das Secas deverá ser declarado Área de Segu-
rança Nacional e colocada sob jurisdição do Ministério da Defe-
sa, para que este controle todas as atividades ali existentes. Com
base nesse diploma legal, esse ministério poderá selecionar, por
meio de satélites especializados e outros mecanismos existentes,
áreas próprias para cada atividade, levando-se em conta condi-
ções climáticas, geográficas, hidrogeológicas, aptidão dos solos
e preservação do meio ambiente. Para essa ampla e sofrida re-
gião, a descoberta dessa nova vocação poderá libertá-la do dra-
ma da seca, que não é apenas um fenômeno eventual, mas uma
característica permanente, regulada que é por fatores
meteorológicos de âmbito mundial. Outra opção que poderá re-
forçar essa vocação para instalação de atividades que requerem
isolamento é a construção de presídios federais de segurança
máxima, destinados a acolher indivíduos perigosos para o Estado
e para as comunidades onde vivem. Estes estabelecimentos pe-
nais seriam construídos dentro de uma nova concepção, onde
campos minados os cercariam impedindo quaisquer possibilida-
des de fugas ou tentativas de assalto para libertar prisioneiros.
Estas áreas de exclusão seriam controladas pelas Forças Arma-
das, que as usariam para treinamento de tropas de assalto e tes-
tes de novas armadilhas. Além dessas atividades, o Ministério da
Defesa transferiria para o Polígono das Secas os campos de testes
de armamentos, manobras militares e exercícios das tropas, hoje
espalhados pelo País.
206
Pequenas usinas nucleares
Para maior confiabilidade no sistema nuclear do País, deve-
se investir no desenvolvimento de pequenas usinas, inclusive de
Tório, com tecnologia nacional, e espalhá-las pela região do
Polígono das Secas, evitando-se concentrá-las numa determinada
área, como em Angra dos Reis, por exemplo. Simultaneamente
com essas medidas, deve-se sustar a construção das usinas de
grande porte de tecnologia importada, como as usinas Angra 1,
2 e 3 e reprogramá-las para utilizarem gás de petróleo, abundan-
te nessa região, a começar por Angra 3, cujos equipamentos, já
pagos, encontram-se armazenados à espera de uma definição sobre
sua construção. A propósito dessa sugestão de construir peque-
nas usinas nucleares, transcrevo abaixo duas notícias publicadas
pelo Jornal Estado de Minas, as quais, se analisadas em conjunto,
podem indicar o caminho para a concretização desse objetivo,
num prazo relativamente curto.
A primeira trata-se de uma reportagem de Maurício Atahyde,
intitulada Submarinos russos para atacar o racionamento (Estado
de Minas, 8/6/2001, p. 9):
Cerca de 80 submarinos nucleares russos poderão ser usados
num verdadeiro ataque ao apagão brasileiro. A proposta foi feita
à Câmara de Gestão da Crise de Energia (CGCE) pelo deputado
Antônio Cambraia (PSDB-CE), presidente da recém-criada Co-
missão Mista do Congresso para a Crise Energética. Segundo o
parlamentar, com uma pequena adaptação, os submarinos milita-
res poderiam ser usados como usinas atômicas de energia.
Cambraia disse que levou a proposta aos membros da CGCE,
que ficaram de analisar a sugestão. Segundo ele, cerca de 80
submarinos russos, construídos entre 1990 e 1995, estão pra-
ticamente encostados em bases militares sem participar de ne-
nhuma operação por falta de recursos. Esses equipamentos es-
tão recebendo apenas manutenção periódica, mas não estão sen-
do usados em nenhuma operação militar e poderiam ser arrenda-
dos pelo governo brasileiro para serem transformados em usi-
nas, disse ele. Pela proposta de Cambraia, o governo brasileiro
poderia propor à Rússia um aluguel dos submarinos. Cambraia
disse que os de menor porte são capazes de fornecer energia
para um município de até 200 mil habitantes e os maiores po-
207
dem atender cidades de até 700 mil habitantes. O deputado afir-
mou ainda que essas adaptações já estão sendo feitas na própria
Rússia. Segundo Cambraia, a cidade de Petrogrado tem parte de
sua energia fornecida por um desses submarinos e algumas
regiões da Sibéria são quase que totalmente abastecidas por es-
ses equipamentos adaptados. É claro que essa operação no Brasil
seria feita com todo o cuidado, principalmente no que diz respei-
to à segurança nacional e ao meio ambiente, afirmou Cambraia.
Ele ressaltou ainda que sua proposta não seria a utilização per-
manente desses submarinos. O uso desses equipamentos seria
apenas durante esse período emergencial que estamos passando,
disse, referindo-se à crise de energia.
A segunda foi publicada no Estado de Minas de 23/6/
2001, p. 10:
Na maior moita, como deve ser nesta seara, o Brasil está muito
perto de dominar o ciclo completo de fabricação de urânio em
escala industrial, ingressando num clube fechadíssimo do qual
fazem parte apenas as grandes potências e países com histórico
de conflitos regionais como Índia, Paquistão, Israel, Coréia do
Norte e Iraque. O último passo foi selado pelo Ministério das
Minas e Energia com o consórcio EBE, do grupo que reúne as
empreiteiras Carioca Engenharia e Engevix, para a construção da
infra-estrutura e instalação de equipamentos na fábrica das In-
dústrias Nucleares Brasileiras em Resende, Estado do Rio. A obra
deve estar concluída até o início de 2002, com início de opera-
ções em meados do ano. A INB passará a produzir no Brasil 94%
de todo o ciclo para enriquecimento de urânio, garantindo o
fornecimento praticamente sem dependência externa das duas
centrais nucleares de Angra dos Reis e do primeiro submarino
nuclear brasileiro a cargo da Marinha. Para fechar o processo,
falta apenas a transformação da massa enriquecida de urânio,
chamada de yellow cake, em gás, que ainda continuará processa-
da no exterior. A produção inicial será de 20.000 toneladas,
pulando para 120.000 quatro anos depois.
Contudo uma nova política de energia nuclear não deve
contemplar somente esses aspectos fundamentais, é necessário ir
muito mais longe e investir pesado em pesquisas científicas e
tecnológicas para que o País não fique para trás na corrida pelo
completo domínio desse tipo de energia. Para se ter idéia do
208
quanto o Brasil está atrasado nas pesquisas nucleares, basta aten-
tar para a seguinte notícia publicada no Jornal Estado de Minas
(29/6/2005, p. 20):
A fusão nuclear controlada, a ser pesquisada no Reator
Termonuclear Internacional Experimental (Iter), no Sul da França,
representa a última aventura dos físicos para dotar o mundo de
uma energia mais limpa e ilimitada. A fusão termonuclear, que
pretende imitar o que acontece no interior do Sol, é objeto de
profundas pesquisas há anos. Os cientistas tentam fazer com que
os núcleos de dois isótopos de hidrogênio se unam para formar
hélio, gerando uma grande quantidade de energia. Enquanto a
fissão nuclear, ou seja, a fragmentação do átomo para obter ener-
gia, é perfeitamente controlada há décadas, a fusão é uma técnica
que não se domina em absoluto. Para isso, o programa Iter, que
reúne como sócios União Européia, Rússia, China, Japão, Esta-
dos Unidos e Coréia do Sul, conta com um orçamento de 10
bilhões de euros para um prazo de 30 anos. A escolha de
Cadarache, cidade do sul da França, como sede do projeto foi
anunciada ontem, depois de meses de negociações. Várias déca-
das serão necessárias para a execução de numerosos experimen-
tos e a produção de energia por essa técnica. Há 46 anos,
Cadarache participa ativamente das pesquisas internacionais so-
bre energia nuclear. No total, 4,3 mil pessoas trabalham na cen-
tral, implantada desde 1959 na cidade francesa de Saint-Paul-les-
Durance, a 70 quilômetros de Marselha”.
Mas para nosso País nem tudo está perdido nessa história,
como informa esse mesmo jornal, em sua edição do dia 30/6/
2005, p. 22:
O Brasil poderá envolver-se com o projeto do Reator Experimen-
tal Termonuclear Internacional (Iter), que vai ser montado no Sul
da França, por decisão dos seus patrocinadores – Estados Uni-
dos, União Européia, Rússia, Japão, Coréia e China –, e terá
como meta mostrar que a fusão nuclear é capaz de fornecer ele-
tricidade de forma limpa e com poucos resíduos radioativos. A
participação brasileira seria graças à reserva de nióbio localizada
em Minas Gerais – a maior do mundo, correspondente a cerca
de dois terços do total existente no planeta. O metal, um pode-
roso condutor, será usado para construir molas gigantes e gerar
um campo magnético para conduzir o processo de fusão nuclear
209
dentro do reator. Segundo o principal conselheiro científico da
Grã-Bretanha, sir David King, quando o projeto for posto em
prática, haverá um grande mercado para o nióbio. King também
lembra que há cerca de cem pesquisadores brasileiros com PhD
trabalhando no campo da fusão nuclear, que podem dar uma
grande contribuição ao projeto.
A doutrina Bush
Além do domínio completo do ciclo do átomo e da energia
nuclear, o Brasil, no resguardo de seus interesses e da comunida-
de sul-americana, deve cuidar também para que as Forças Arma-
das da América do Sul se integrem numa organização autônoma
capaz de fazer face às ameaças externas. Atrelar cegamente os
países do continente à OEA, por exemplo, significa não somente
fraqueza, como também ausência de planejamento estratégico que
leve em conta seus próprios interesses e evite subordinações às
potências alienígenas cuja geopolítica obedece a critérios própri-
os, como bem exemplifica a “doutrina Bush”.
A “doutrina Bush”, que na prática revoga a ordem mundial
vigente, baseada na autodeterminação dos povos e no respeito
aos tratados internacionais, está contida no documento intitulado
A Estratégia de Segurança Nacional do Estados Unidos, apresen-
tado pelo Presidente George W. Bush ao Congresso daquele país.
Segundo o Jornal Folha de São Paulo (21/9/2002, p. A1-14), a
“nova doutrina americana diz que país deve ser forte o suficiente
para dissuadir adversários de tentar igualar poderio”. A reporta-
gem, sob o título Bush quer EUA sem rival militar, veiculou o
seguinte:
O governo dos EUA divulgou um documento afirmando que o
país não pretende nunca mais permitir que sua supremacia mili-
tar seja desafiada. O texto consolida a “doutrina Bush” ao enfatizar
a estratégia militar de agir preventiva e antecipadamente contra
Estados hostis e grupos terroristas. No documento, George W.
Bush afirma que “o presidente não pretende permitir que nenhu-
ma potência estrangeira diminua a enorme dianteira militar assu-
mida pelos EUA desde a queda da URSS”. “Nossas forças serão
210
suficientemente fortes”, diz o documento, “para dissuadir po-
tenciais adversários de buscar desenvolvimento militar na espe-
rança de ultrapassar, ou igualar, o poder dos EUA”. Pelo docu-
mento, não existe outra forma de conter aqueles que “odeiam os
EUA e tudo o que eles representam”. O documento trata ainda
de como a diplomacia, a assistência a outros países, o FMI e o
Banco Mundial podem ser usados para vencer valores e idéias
concorrentes.
A nova doutrina americana é assim resumida pelo referido
jornal:
1) Ataque unilateral - “Ao mesmo tempo em que os EUA sempre
se esforçarão para conquistar o apoio internacional, não vamos
hesitar em agir sozinhos, se necessário, para exercer o nosso
direito de autodefesa agindo de forma preventiva”;
2) Ataque preventivo – “Em vista dos objetivos de Estados de-
linqüentes e terroristas, os EUA não podem mais depender so-
mente de uma postura relativa como no passado [...] Para evitar
atos hostis de nossos adversários, os EUA vão, se necessário,
agir preventivamente”;
3) Poderio militar - “Nossas forças serão suficientemente fortes
para dissuadir potenciais adversários de buscar desenvolvimento
militar na esperança de ultrapassar, ou igualar, o poder dos Esta-
dos Unidos”.
211
to, de conter aqueles que ‘odeiam os Estados Unidos e tudo o
que eles representam’. [...] A doutrina parece visar potências em
ascensão, como a China. Boa parte do documento trata de como
a diplomacia pública, o uso da assistência a outros países e mu-
danças no FMI e no Banco Mundial podem ser usadas para ven-
cer o que o texto descreve como uma batalha em torno de valo-
res e idéias concorrentes – incluído a ‘batalha pelo futuro do
mundo muçulmano’. [...] A nova estratégia representa uma mu-
dança significativa em relação à última, de Bill Clinton, no final de
1999. Enquanto Clinton se baseava em grande medida na
implementação ou emenda de uma série de tratados internacio-
nais, Bush simplesmente deixa de lado a maioria desses esfor-
ços”.
212
igualar, o poder dos EUA”. Ou seja, se depender de seus esfor-
ços, o mundo unipolar pós-Guerra Fria continuará unipolar, com
uma só superpotência. Outro ponto a ser destacado: Bush tenta
legitimar os “ataques preventivos” contra inimigos detentores
de armas de destruição em massa. Dado o momento histórico,
parece ser mero casuísmo: uma justificativa para derrubar o regi-
me do Iraque. O princípio, porém, sobreviverá a Saddam Hussein.
E poderá ser usado a cada vez que os EUA entenderem que o
uso da força seja melhor opção para a defesa de seu interesse.
213
se, os EUA precisavam de outro inimigo internacional. Primeiro
foi uma cruzada contra os cartéis das drogas, mas não era um
inimigo suficientemente grande. Com o 11 de setembro toparam
com algo grande de verdade: o terrorismo internacional. É uma
espécie de conspiração virtual e a guerra durará eternamente.
Mas os EUA não querem salvar o mundo, não se enganem. O
que eles querem é dominar o mundo. Começarão pelo Iraque, e
não só pelo petróleo, como muita gente acha. Trata-se de verda-
deiros objetivos coloniais. Dizem que a equipe do presidente,
liderada por Donald Rumsfeld, tem um plano de ação no Oriente
Médio para os próximos 50 anos. E não se trata de influir indire-
tamente, querem mandar gente para governar, apesar de que há
uma elite militar, entre eles Colin Powel, que não está de acordo
com um exército colonial. Meu filho conhece gente do governo e
soube que há exercícios virtuais sobre como ser prefeito de Basora
(Basra, cidade do Sul do Iraque). Estou realmente pessimista.
O ato falho
A paz ameaçada
219
Portanto, não faz sentido falar em uma terceira reconstru-
ção e outra vinda do Messias, pois seria um fato repetitivo; além
disso, é bem provável que essa mesquita foi colocada sobre as
ruínas do segundo templo como uma pedra para encerrar o as-
sunto, uma pedra de tropeço para os mais afoitos.
Deve-se recordar, ainda, de que o reino universal prometi-
do pelo Messias se tornou uma realidade para a humanidade
desde o momento em que os romanos se tornaram herdeiros
dessa promessa, como profetizou o próprio Cristo (Mateus 21,
33-46), e dela tomaram posse no ano 70, ao transformarem a
Judéia em província imperial, confiada ao legado da décima le-
gião, aquartelada em Jerusalém. Aqui é bom lembrar que esses
ventos foram profetizados também por Flávio Josefo (Op. cit),
sacerdote judeu e filho de sacerdote de Jerusalém, Governador
da Galiléia e líder guerreiro, que revelou seus sonhos proféticos
aos romanos quando foi aprisionado, razão por que foi poupado
e prestigiado por seus captores, servindo assim de testemunha
dessa posse.
Insistir nessa expectativa de um terceiro templo, correndo
atrás do prejuízo, é o consolo da sinagoga estéril, aquela que não
faz prosélitos e vive voltada para si mesmo, recordando as glórias
de um passado que não volta mais e um Messias que já se fez
presente há muito tempo. Essa expectativa e a postura isolacionista
impedem que os judeus se integrem nas comunidades onde vivem,
criando com isso, problemas de toda ordem para os povos que os
acolhem, como os romanos nos primórdios do Cristianismo, ou
os europeus, que viram com alívio seu retorno para a Palestina
após a Segunda Guerra Mundial e o drama dos nativos desse ter-
ritório, que passaram a viver num verdadeiros inferno com sua
chegada, como aconteceu com seus antepassados há cerca de 3.200
anos. Essa situação é a repetição de uma saga que não tem fim, ou
seja, estrangeiros tentando se apossar de um território que não
lhes pertence e a luta dos nativos para defendê-lo.
A maioria dos povos peregrinos, ao longo da história da
humanidade, um dia assentaram-se numa região e aí criaram raízes
pela miscigenação com os naturais da terra, o que não aconteceu
com os filhos de Abraão, que, para preservarem seu grupo tribal
220
dessa mistura, inventaram o mito da “pureza racial”, veneno que
acabaram experimentando tragicamente na Europa nazista. Por
oportuno, é bom lembrar que, após a expulsão dos judeus da
Espanha e de Portugal, no final da Idade Média, por conta da
Inquisição, esses povos ibéricos alcançaram seu apogeu com as
chamadas descobertas, da qual a diáspora judia foi mantida à
distância, fato que se repetiu com a segunda Inquisição, o
holocausto nazista, responsável pela fuga em massa desse povo
peregrino da Europa, a qual coincidentemente marca o segundo
renascimento europeu, ora em seu melhor momento. Esse drama
– acolhimento/expulsão/fuga – é uma sina que persegue os hebreus
desde os primórdios de sua história, quando, num momento de
desespero, foram acolhidos pelo Faraó do Egito (Gn 47), de
onde fugiram, sorrateiramente, às pressas, sem deixar rastros,
como narra a lenda do êxodo.
Em resumo, essas histórias todas fazem lembrar um dito
popular italiano, segundo o qual seixo que muito rola não cria
limo. E mais do que isso, o fato de qualquer grupamento huma-
no, não necessariamente israelita, isolar-se da comunidade onde
vive provocará desconfianças e medidas de retaliações contra tal
modo de vida, pois esta atitude nada mais é do que um mecanis-
mo de defesa da sociedade estabelecida, que se vê ameaçada pela
formação de quistos sociais em seu meio. É semelhante ao que
ocorre com os transplantes de órgãos, em que a rejeição do
corpo estranho funciona como um mecanismo de defesa do or-
ganismo.
A estratégia do medo
e a defesa da Amazônia
Dizem os estrategistas militares que o exército que se colo-
ca em posição defensiva já é um exército derrotado, pois a me-
lhor defesa é o ataque, fato que os franceses comprovaram amar-
gamente na Segunda Guerra Mundial, com sua malfadada linha
221
Maginot. Conforme narrado no documentário The World at War
(Globosat), naquela época “o pensamento militar francês tor-
nou-se só defensivo, esquecendo-se da máxima de Napoleão: ‘O
lado que permanece dentro das fortificações já está vencido’”.
Diz o dito popular que o preço da liberdade é a eterna vigilância,
mas, neste início de milênio, um outro deve ser lembrado como
complemento natural: Se desejas a paz, prepare-se para a guerra.
Essas considerações são feitas a propósito dos treinamen-
tos militares levados a efeito na Amazônia, como informa o Jor-
nal Estado de Minas (10/10/2004, p. 15-17), em artigo intitulado
Guerra na Selva – militares brasileiros treinam táticas de guerrilha
para evitar invasão da Amazônia:
“Diante do risco praticamente inexistente de um conflito com os
vizinhos sul-americanos, as Forças Armadas brasileiras resolve-
ram concentrar sua preparação em uma hipótese encarada cada
vez mais com seriedade: a de uma invasão da Amazônia por tro-
pas de uma país militarmente muito mais forte, que, embora não
admitido oficialmente, seriam os EUA. (...) O inimigo potencial,
os EUA, possui ‘uma força militar superior’, segundo diretrizes
da Operação Ajuricaba. A possível estratégia dos EUA na inva-
são da Amazônia compreenderia um ‘combate ofensivo, com gran-
de ímpeto, buscando a decisão do conflito em curto espaço de
tempo, com um mínimo de perdas’. (...) No exercício de guerra,
as tropas norte-americanas (chamadas de ‘Partido Vermelho’) co-
meçam o ataque lançando pára-quedistas em Boa Vista,
Manacapuru e São Gabriel da Cachoeira. A partir dessas três
localidades, os ‘invasores’ começam a escalada para controlar
três dos principais pontos da Amazônia brasileira: Roraima,
Manaus e a região conhecida como Cabeça do Cachorro, na di-
visa com a Colômbia e Venezuela. (...) Adeptos da estratégia de
dissuasão, os militares brasileiros acreditam que, quanto mais
preparados para repelir o inimigo, menos provável será a guerra.
A cobiça pela Amazônia, no entanto, é o fator que leva as Forças
Armadas a estarem alertas para repelir qualquer intento de inva-
são da região”.
Essa estratégia, que cobre a região ocidental da Amazônia,
deixa a descoberto a parte oriental, a mais vulnerável a uma inva-
são por mar, a partir dos EUA, ou por terra, por intermédio da
sua aliada na OTAN, a França, que tem nessa região uma cabeça
222
de ponte cravada no território sul-americano e a cavaleiro da foz
do Rio Amazonas: a colônia das Guianas, cuja fronteira com o
Brasil é considerada a mais extensa da república francesa, como
disse o Presidente Jacques Chirac ao Presidente Lula. A propósi-
to, é bom lembrar a assertiva de que quem controla a foz de um
rio domina toda sua bacia, razão porque essa estratégica região é
defendida com unhas e dentes por quem a domina, como fizeram
com muita competência e determinação os luso-brasileiros no
século XVII, contra as tentativas de invasão da Amazônia, por
parte de britânicos e holandeses, fechando, inclusive, essa região
aos estrangeiros até 1808, construindo para isso uma série de
fortes e fortalezas em pontos estratégicos, muitos dos quais até
hoje ajudam a defendê-la. Quanto à estratégia de defesa de um
determinado alvo contra inimigos em potencial, é simbólico o
que aconteceu com Cingapura na Segunda Guerra Mundial, quan-
do os britânicos fortificaram esse domínio esperando um ataque
por mar e, para surpresa de seus defensores, os japoneses vieram
por terra, levando Churchil a dizer que jamais poderia pensar em
tal deficiência, pois seria o mesmo que lançar ao mar um navio
sem o fundo.
Os Estados predadores
Para que a defesa da Amazônia seja efetiva e, por extensão,
da América do Sul como um todo, deve-se levar em conta não só
o tamanho da empreitada e os meios disponíveis para executá-la,
como também os objetivos estratégicos que norteiam os estados
predadores, como informa o jornalista Dídimo Paiva, do Jornal
Estado de Minas (2/11/2004, p. 16), em artigo intitulado Big
Stick na América, ao comentar a reeleição do Presidente Bush:
“George W. Bush ou John Kerry não é o mais importante nesta
dramática eleição norte-americana. Prefiro começar com uma frase
que ilustra bem o caráter belicista dos pais fundadores da Amé-
rica e seus sucessores nesse terceiro milênio. Foi escrita por
Theodore Roosevelt (antecessor de Woodrow Wilson), o ianque
presidente do big stick (política do porrete): ‘Nenhuma conquis-
ta da paz vale a metade das glórias da guerra’. (...) Pode-se dizer
223
que o complexo militar-industrial manobrou como quis para ga-
rantir a vitória nas eleições de hoje. Está em jogo uma tese que o
polonês-norte-americano Zibgniew Brzezinski (assessor para as-
suntos de Segurança Nacional do governo Jimmy Carter) traçou
em 1997: os EUA devem controlar a rota do petróleo, especial-
mente as repúblicas soviéticas da Ásia Central, chamadas de ‘re-
públicas do stão’: Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e
Quirguistão, argumentando que elas são ambicionadas pela Rússia,
Turquia e Irã, sem esquecer a China. Bush encampou a velha tese
revivida por Brzezinski desde a criação do Clube de Roma (1970):
quem tiver domínio do petróleo e do gás do Mar Cáspio manda-
rá no mundo. O grupo Bush/Cheney/Rumsfeld/Wolfowitz afirma
que, desde que os continentes começaram a interagir (há 500
anos), a Eurásia tem sido o centro do poder mundial”.
A propósito dessas considerações, transcrevo, para
complementá-las, os seguintes trechos extraídos das notas
introdutórias do livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira (Civiliza-
ção Brasileira), intitulado As relações perigosas: Brasil-Estados
Unidos (De Collor a Lula, 1990-2004):
“Os Estados Unidos surgiram como república presidencialista e
foram, desde o começo, um país moderno e burguês, fundado
por pequenos-burgueses, que fugiram do feudalismo europeu
para construir uma sociedade puramente burguesa, conforme
Friedrich Engels ressaltou em 1893. (...) Porém, da mesma for-
ma que os puritanos, cujas virtudes eram determinadas pelo
utilitarismo, assimilaram o espírito mercantilista e usurário dos
judeus, como Benjamin Franklin tão bem evidenciou, ao ensinar
na Advice to a Young Tradesman que ganhar dinheiro constituía,
na vida, um fim em si, os judeus que emigraram para a América
absorveram também as práticas e a experiência dos puritanos,
com as quais o “Paria-Kapitalismus” se mesclou. Por volta de
1850, os Estados Unidos já ocupavam o quinto lugar no mundo,
como potência manufatureira, o que lhes exacerbava o ímpeto de
expansão, em busca tanto de mais terras quanto de mercados e
fontes de matérias-primas. A tendência para o messianismo nacio-
nal, a idéia do povo eleito por Deus que o judaísmo legou aos
puritanos, atualizou-se, americanizou-se e assumiu o nome de
destino manifesto, movimento com que os Estados Unidos, na
metade do século XIX, expandiram suas fronteiras até o Oceano
Pacífico e, através de expedições de flibusteiros, tentaram apode-
224
rar-se da América Central e das ilhas do Caribe, bem como da
Amazônia brasileira. O Brasil, diferentemente dos Estados Uni-
dos, dilatara suas fronteiras ainda quando colônia, mormente
entre fins do século XVI e primeira metade do século XVIII, e
conformou-se como um desdobramento do Estado Português na
América do Sul, onde se desenvolveu, refletindo a ambivalência
das relações de Portugal com a Inglaterra, à qual a Corte de Lis-
boa tinha de prestar vassalagem e pagar alto preço, desde 1661.
(...) Na primeira metade do século XIX, quando os Estados Uni-
dos expandiam seu território e o Brasil se consolidava como es-
tado-império, Hegel, pouco tempo antes de falecer, em 1831,
afirmou que a América era a terra do futuro (Land der Zukunft) e
previu que, em tempos vindouros, ocorreria um contenda(Streite)
entre a América do Norte e a América do Sul, na qual a impor-
tância da história mundial deveria manifestar-se. Que tipo de
contenda, ele não explicou. Apenas indicou que a América do
Sul era católica, enquanto a América do Norte, uma terra de
seitas, era protestante, e o comércio constituía o principal prin-
cípio, um princípio muito simples, dos Estados Unidos, ainda
que não fosse tão firme como o inglês. As raízes da contenda,
porém, encontram-se nas origens desses dois Estados nacionais,
Estados Unidos e Brasil, nas forças profundas que conduziram a
sua formação, como instâncias superiores de organização e co-
mando de processos produtivos, bem como expressão do espíri-
to do povo (der Geist des Volkes), ou seja, da cultura da nação,
acumulada ao longo da história”.
A seguinte notícia publicada pela Revista Isto É, sob o títu-
lo Os Marines Vêm Aí (13/7/2005, n. 1865, p. 87), parece
indicar que essa profecia já começa a realizar-se, pois os america-
nos estão cutucando a onça com a vara curta, ao tentarem se
posicionar no “baixo ventre” da América do Sul, esquecendo-se
de que o Brasil tem condições estratégicas mais favoráveis para
lancetar essa parte vulnerável de seu próprio território, o Golfo
do México, protegido que está pelos Andes, a Floresta Amazôni-
ca e o Escudo das Guianas e, dentro de pouco tempo, munido
da longa lança para esse golpe certeiro: a Ferrovia de Dom Bosco.
A mesma revista ainda publicou:
A notícia caiu como uma bomba nos Estados-Maiores do Brasil e
da Argentina: o Paraguai autorizou o estacionamento de tropas
225
dos Estados Unidos no país, cerca de 400 militares americanos
que receberiam imunidade e status diplomático para realizar trei-
namentos. A decisão do Paraguai de autorizar a entrada dos
marines teria ocorrido logo depois da renúncia do presidente
boliviano, Carlos Mesa, e da derrota da exigência americana, na
Assembléia da Organização dos Estados Americanos (OEA), de
criar um órgão para “monitorar a democracia” na América do
Sul. “Washington deve formalizar agora a criação de uma base
militar no Paraguai – onde, há anos, os EUA mantêm um aero-
porto semiclandestino em Mariscal Estigarribia, povoado da re-
gião do Chaco, a 250 quilômetros da fronteira com a Bolívia,
onde podem aterrissar as superfortalezas voadoras B-52 e Galaxys,
capazes de transportar grande quantidade de tropas e armamen-
tos”, diz Luiz Bilbao, correspondente argentino do jornal francês
Le Monde Diplomatique. Segundo alguns analistas, o objetivo
dos militares americanos seria a região da Tríplice Fronteira (divi-
sa entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai). Nessa região, além da
suposta rede terrorista árabe-palestina denunciada pelos EUA,
localiza-se a usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo, de
cuja energia depende todo o Paraguai e parte do Brasil. Outros,
entretanto, acreditam que Washington está de olho no combate
ao narcotráfico e, principalmente, no controle dos
hidrocarbonetos da Bolívia.
Todavia, essa base americana, juntamente com outras espa-
lhadas pela América do Sul, sob diversos pretextos, constitui-se
na verdade em mais um ponto de amarração de uma extensa teia
estratégica que cobre todo o continente, formatada para intimi-
dar os governos do continente e neutralizar as forças armadas
locais em caso de intervenção. Para que o Brasil não se deixe
intimidar e esteja pronto para desarmar essas armadilhas, é ne-
cessário que encare o problema com naturalidade e estabeleça
com os demais países sul-americanos um pacto de defesa conti-
nental, inclusive para tratar militarmente da questão das Malvinas
e da Guiana Francesa, resquícios de uma era colonial. Para viabilizar
esse pacto, é necessário que toda a filosofia de trabalho para
implantação do Mercosul seja modificada, pois antes que essa
associação se torne realidade é necessário que o Brasil firme tra-
tados bilaterais com todos os países sul-americanos, abrangendo
não só os aspectos comerciais, mas também os de cunho político
226
e militares. Estes tratados somente seriam firmados com as na-
ções que não adotem posições hostis ao nosso País e não permi-
tam a intromissão de potências alienígenas nos assuntos internos
do continente.
227
3. A GUERRA BIOLÓGIC
BIOLÓGICAA
229
Peste dos animais (Ex 9, 2-3.6)
236
eles tenham o mesmo tipo de vírus é muito alta, pois algumas
aves voam da China para a Rússia através do Cazaquistão. Mas
isso levará algum tempo para se confirmar’, afirmou”.
O alerta mundial sobre a alta periculosidade desse vírus foi
dado na abertura da 60ª Assembléia Geral da ONU, como infor-
ma o Jornal Estado de Minas (19/9/2005, p. 18):
“Líderes mundiais, começando pelo presidente dos Estados Uni-
dos, George W. Bush, começaram a advertir para os riscos de
uma epidemia mundial de gripe das aves, vírus que já deixou 61
mortos no Sudeste Asiático desde 2003. (...) ‘Se não fizermos
nada, poderemos provocar a primeira pandemia (epidemia mun-
dial) do século XXI’, advertiu Bush na 60ª Assembléia Geral da
ONU. ‘A magnitude dessa ameaça nos obriga a reagir sem demo-
ra’, pediu, por sua vez, o primeiro-ministro francês, Dominique
de Villepin, instando a ‘afastar o risco de uma pandemia’. (...)
‘As previsões mais prudentes estimam que haverá entre 7 mi-
lhões e 10 milhões de mortos, mas o máximo poderia ser de 50
milhões e no pior dos casos, de 100 milhões’, advertiu, em no-
vembro de 2004, o diretor regional da OMS, Shigeru Omi”.
No dia seguinte, 20/9/2005, esse mesmo jornal informava
(p. 22), sob o título Pandemia:
“O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Lee
Jong-Wook, voltou a pedir aos governantes de todo o mundo,
ontem, que adotem medidas apropriadas e se preparem para uma
pandemia de gripe aviária, porque a complacência pode significar
trabalho redobrado e muito sofrimento no futuro. (...) Jong-Wook
também lembrou que a OMS havia assinado um acordo com o
grupo farmacêutico Roche para o fornecimento de 30 milhões de
doses de antivirais, que permitiriam tratar 3 milhões de pessoas.
(...) Os Estados Unidos pretendem fazer ao laboratório suíço
Roche uma encomenda sem precedentes do Tamiflu, medicamen-
to antiviral contra a gripe aviária, no valor aproximado de US$1
bilhão, informou a edição de ontem do diário britânico Financial
Times. (...) Os Estados Unidos, conforme anunciou o presidente
Bush, estão tomando providências para enfrentar uma eventual
pandemia da gripe, sobretudo em sua variação aviária. O labora-
tório francês Sanofi-Aventis anunciou, semana passada, um con-
trato de US$100 milhões com o Departamento de Saúde Pública
norte-americano para a produção de uma vacina pré-pandêmica”.
237
Para agravar essa situação, o Jornal Estado de Minas de
7/10/2005, p. 22, divulgava o seguinte:
O vírus da gripe espanhola, que matou 50 milhões de pessoas
em 1918/1919, provavelmente surgiu nos pássaros, de acordo
com um estudo americano publicado na revista Nature. Os auto-
res descobriram que o vírus tem semelhanças genéticas com o
vírus que circula atualmente na Ásia. Eles dizem que a descoberta
ressalta que o atual vírus representa uma ameaça para os seres
humanos mundialmente. Em outro trabalho científico sobre a
doença, publicado na revista Science, uma equipe norte-america-
na conseguiu recriar, em ratos, um vírus igual ao de 1918. O
vírus foi recriado a partir de amostras dos restos mortais das
vítimas da pandemia do século passado, por uma equipe do Ins-
tituto de Patologia das Forças Armadas dos EUA, e está armaze-
nado no Centro para Controle de Doenças e Prevenções, em
Atlanta, sob estritas condições de segurança.
A vigilância contra pragas e doenças exóticas, tanto do Brasil
como nos demais países da América do Sul, deve, pela sua im-
portância estratégica, ser executada de maneira integrada, for-
mando um cordão sanitário em torno do continente, pois trata-
se de um único ecossistema, o Tríplice Ecossistema Sul-America-
no, e, conseqüentemente, o que afetar um país da região ameaça-
rá a todos. Um exemplo que ilustra esse tipo de situação é o que
está ocorrendo no Mar Mediterrâneo, onde um tipo de alga
alienígena está proliferando numa escala que em pouco tempo
pode eliminar toda atividade pesqueira daquela bacia, o que re-
presentará uma verdadeira catástrofe para os países daquela re-
gião. Outros vetores suscetíveis de manipulação ou de difícil con-
trole, como pneus usados, um dos principais vetores da dengue,
e navios, devem também receber atenção especial. Segundo o
Programa Globo Ecologia (20/8/2002), 80% do comércio inter-
nacional é feito por meio de transporte marítimo, considerado o
maior responsável pela bioinvasão em escala planetária. Os prin-
cipais vetores neste caso são os cascos dos navios e a água de
lastro.
Nesse contexto, um país continental como o Brasil não se
pode dar ao luxo de ficar deitado eternamente em berço esplên-
238
dido, mas manter-se alerta e precavido, inclusive ante o potencial
perigo representado pelas conquistas espaciais e o terrorismo
internacional, o que, por si só, já justificaria a criação do IPBCPE.
Esse estado de prontidão já está em vigor em países envolvidos
com a guerra biológica, como informa o Jornal Estado de Minas
(16/6/2005, p. 18), em matéria sobre o terrorismo internacio-
nal:
Os Estados Unidos têm armazenadas doses de medicamentos
contra a varíola em número bem acima do total de seus habitan-
tes, informou ontem aos congressistas um funcionário do Insti-
tuto Nacional de Saúde Pública (NIH), durante debate sobre o
que vem sendo feito para proteger os norte-americanos de um
possível ataque biológico. “Temos agora mais de 300 milhões de
doses antivariólicas” , informou à Câmara de Representantes o
diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas no NIH,
Anthony Fauci.
Mas o que justifica, sem sombra de dúvidas, a criação do
IPBCPE é o largo espectro dos ataques biológicos em escala
mundial e a freqüência com que estão ocorrendo, como noticia a
imprensa. Somente nos três primeiros dias do mês de outubro
de 2005, por exemplo, o Jornal Estado de Minas deu destaque
às seguintes ameaças biológicas:
Varíola Bovina (1/10/2005, p. 23): “Profissionais de saúde de
Mariana, a 115 quilômetros de Belo Horizonte, na região Cen-
tral de Minas, vão visitar fazendas para alertar pecuaristas sobre
o surto de varíola bovina. (...) A varíola bovina se manifesta em
feridas e bolhas no animal, provocadas pelo poxvírus, que se
espalha pelas tetas, e pode ser transmitida ao homem durante a
ordenha. (...) A varíola bovina é notificada em Minas desde 1999”.
239
Bactéria deixa país em alerta (3/10/2005, p. 18): “Uma bac-
téria potencialmente mortal foi descoberta em Washington du-
rante uma manifestação contra a guerra no Iraque, que reuniu
dezenas de milhares de pessoas, revelou na tarde de sábado um
alto representante de Saúde Pública norte-americano. Rastros da
bactéria Francisella ruralensis, que pode propagar a tularemia,
foram descobertos em 24 e 25 de setembro no Mall (ampla
explanada no Centro da Cidade), informou o diretor sanitário da
capital federal do Estados Unidos, Gregg Pane. (...) A tuleremia
é uma doença infecciosa que afeta principalmente as lebres, mas
também outras espécies de mamíferos. Os humanos podem con-
trair a doença principalmente depois de manter contato com uma
lebre infectada”.
243
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIC AS
IBLIOGRÁFICAS
244
O AUTOR
245
mesma editora, publicou ainda as seguintes obras: Os 7 Pecados
da Capital (2003), A Revolução que Vargas não fez, Operação
Senzala, Brasil país do presente – O futuro chegou e Acorda,
Brasil (2004) e, em 2005, a primeira edição deste livro.
246
Este livro foi composto em tipologia
Flareserif821 LtBt e impresso em papel
Offset 70g/m2 (miolo) e Cartão Royal
250g/m2 (capa).
247
<a rel=”license” href=”http://creativecommons.org/
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i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/2.5/br/88x31.png” /></
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chamado Brasil</span> is licensed under a <a rel=”license”
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Obras Derivadas 2.5 Brasil License</a>.
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