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R. K. MERTON Px, RoQuEPLo UHN FG W. O. Hacstrom R. Horton J. HABERER A. MAsLow GB. VAN ALBADA A. N. WHITEHEAD A. CRITICA DA. CIENCIA SOCIOLOGIA F IDEOLOGIA DA CIENCIA Organizago ¢ Iniroducto de Jorat) Diss pr Deus 2% edicao ZAHAR EDITORES Rio pe JANERO ORIGINAL eta 140 Folnas 1 me 2 ‘A Cafrica Da Crtwcin rospeita a separagéo entre o sagrado © 0 profano, entre yee exige respeito sem critica ¢ © que pode ser objet Satente analisado (“Bin Professor ist cin Mensch der landerer Meinung ist”). af “rea parece ser afonte das rebelides contra a chama- da jntromiissio da ciéncia em outras esferas, A resistén of ‘por parte da religiio organizada tem perdido impor- fancia em comparagao com a dos grupos econdmicos & pollticos. A oposieao pode tambem existir completamente parte da introdugéo de descobertas cientificas especifi- tae que parecem invalidar dogmas particulares da Igreja, da economia ou do Estado. # antes uma apreensio difu- Ga, multas vezes vaga, de que 0 ceticismo ameaca a dis tribuigsio de poder vigente. O conflito acentua-se sempre que @ ciéncia leva sua pesquisa a zonas novas nas quais Ji existe. atitudes institucionalizadas, ou sempre que Sutras instituicées ampliam sua area de controle. Na £0- Giedade totalitaria moderna, o antiracionalismo @ & cen- fralizago do controle institucional servem ambos para limitar 0 campo deixado & atividade cientifica, for dr Orelvere 2 — AFUNCAO DO DOGMA NA INVESTIGACAO, CIENTIFICA *, *# T. S. Kuan Estou corto de que cada um dos participantes deste simpésio so expés, a dada altura de sua carreira, & idéia do. cientista como 0 investigador sem preconceitos em busca de verdade; o expleradar da natuxeza — 0 homem que rejeita preconceitos quando entra no laboratorio, que Coleciona © exarnina os fetos crus, objetivos, e que é fiel a tnis fotos © 50 4 cles. Estas sho as caracteristicas que fazem do toctomunho dos eiontistas um valinsn elemento ha propaganda de. produtos variados ¢ em exclisivo nos Estados Unidos. Mesmo persnte urna audigncia interna- ional nao é preciso esclarecer mais. Ser cientitico ¢, entre outras coisas, ser cbjetivo o tor espirito aberto. Provavelmente ‘nenhtm de nds acredita que 0 cien- tista da vida resl na pratica consegue preencher tal ideal. TannaBaterae: to tee einomann, 1068, Reprod msn Edocational Book Lt we AS idélas desonvolvidas neste artigo foram extraidas, mime ‘forma drasticamente condenstin, do primeiro Uergo da minha. mon fratia (Kom, 1062). "Algamns delas foram tambim ‘parcialmente lesenvolvides num ensaio anterior (KUHN, 19503) ‘Sobre © aesunto‘consultar também COMEN (1052) e BARN (1961), "Agradogo s Bani o envio do copin desse Util artigo, cima Aer teda, os interessadee coms @ importancia do tomadas de po lusse dogmatiens como uma niceseidade para uma investigncty ‘Hen produtiva deverio eonsultar as obras Ge PouAn%t, em particalar (aise) e (USL). A direussGo. que aparece neste artigo mostra ave Pouattyr ecu diverginoe de sigum modo quanto is tomadar de Po- Sledo doo. cientisasy maa eso ago devo csbater a Targa margem 26 Coreordancle nas quesioes discetidas explicitamente no que se seve. entific Change, A. C. Cxomste, ors, ‘om atorizagso da Baltora. Heine a 54 A Cafrica Da CrtNcra ‘A experiéncia pessoal, as novelas de Sir CHARLES SNOW ou © estudo da historia da ciéncia fornecem numerosos des- Snentidos. Fimbora a atividade cientifica possa ter um es Pirito aberto, e nao precisando o sentido em que tomar Esta frase, o clentista individual muito freqientemente hao 0 tem, Quer o seu trabalho scja predominantemente tedrico, quer seja experimental, 0 cientista normalmente ‘parece conhecer, antes do projeto de investigacio estar Fazoavelmente avangado, pormenores dos resultados que se vao alcangar com tal projeto. Se o resultado aparece depressa, otimo. Se nio, ele lutaré com os seus instru mentos € com as suas equagbes até que, se for possivel, The fornegam os resultados que sejam conformes com 0 seu modelo e que ele tinha previsto desde 0 comeco. Nao & s6 com o seu trabalho de investigacdo que o clentisia mostra a sua conviecio firme relativamente aos fendme- os que a natureza Ihe apresenta e relativamente & ma: neira como podem ser encaixadas na teoria. Com fre quéncia, as mesmas conviegies evidenciam-se mais clara mente ainda nas reagdes a0 trabalho dos outros. Desde a recepgin rie GALILEU ao trabalho de KEPLER, & recepgio Ge NacEut ao trabalho de MENDEL, & rejeica0 dos traba Thos de GAY LUSSac por DALTON, & rejeigaio de MAXWELL ‘por KELVIN, as novidades inesperadas nos fatos @ nas teo- ras tém, o'que € significativo, encontrado resistencias ¢ Com freqiiéncia tém sido rejeitadas por muitos membros, Gos mais criativos, da comunidade profissional cientifica (© historiador, pelo menos este, de fato nao precisa que seja PLANCK a JembrarIhe que: “Uma verdade cientifica nova nao é geralmente apresentada de maneira a conven: cer os que se opdem a ela... simplesmente a pouco pouco eles morrem, e nova geragzo que se forma familia. Tiza-se com a verdade descle 0 principio” (PLANCK, 1948). ‘Fatos familiares como estes — e eles poderiam facil. mente ser multiplicados — no parece ser reveladores duma atividade cujos praticantes sejam pessoas de espi Tito especialmente aberto. Poderao esses fatos integrarse na nossa imagem habitual da investigagio cientifica pro dutiva? Se, no passado, um reajustamento nao pareoia apresentar dificuldades de fundo, isso deviase, provavel- mente, a0 fato de que tais resistencias e preconceitos feram geralmente considerados como elementos estranhos A ciéncia, Esses fatos aberrantes seriam, é 0 que nos tém Fungko po Dooma xa INvEsTIGAgKo Cumnririca 55 ensinado muitas vezes, nfo mais do que 0 produto das inevitaveis limitagbes hkumanas; num verdadeiro método cientifico nfio ha lugar para tal; © esse método € de tal modo poderoso que a mera idiossincracia humana n&o pode por muito tempo impedir o seu éxito. Com essa maneira de ver, os exemplos de parti pris cientifieos sho reduzidos ao estatuto de anedotas e justamente com este ensaio tenta-se atacar tal onto de vista, .A verossimilhan- 4, Por si s6, sugere que se impGe um ataque desse tipo, Preconceito ¢ resisténcia parecem ser mais a regra do que ‘a exceeio no desenvolvimento cientitico avancado, Além disso, em condigées normais eles caracterizam a melhor investigagao e a mais criativ e também a mais rotineira. Nao esté também em questo qual a sua origem. Nio se trata de caracteristicas aberrantes de individues, mas de caracteristicas da comunidade com raives profundas no processo como os cientistas sdo treinados para trabalhar ha sua profissio. As conviegdes fortes que existem antes da propria investigagio freqiientemente aparecem como precondigses para 0 sucesso das ciéncias. ¥ claro que estou a adiantarme demais na minha histéria, mas com isso fiz destacar 0 meu tema principal Embora 0 preconceito e a resisténcia as inovagdes possam ‘muito facilmente por um freio ao progresso cientifico, a Sua onipresenga @ porém sintométiea como caructeristica requerida para que a investigagio tenha continuidade € vitalidade. Caracteristicas desse tipo, tomadas coletiva- mente, eu classifico como o dogmatismo das ciéncias ma: duras, e nas paginas que se seguem tentarel precisar al- guns dos seus aspectos. A edueagao cientifica “semeia” (© que a comunidad cientifiea, com dificuldade, sleangou até ai — uma adeso profanda a uma maneira particular de ver 0 mundo e praticar a ciéncia, Tal adesao pode ser, e @ de tempos em tempos, substituida por outra, mas urea pode ser faciimente abandonada, ©, enquanto ca- racteristica da comunidad dos praticantes profissionais, tal adesio mostra-se fundamental, em dois aspectos, para ‘a investigagdo produtiva. Definindo para cada cientista jndividual os problemas suscetiveis de ser analisados & ‘a0 mesmo tempo a natureza das solugées aceitdveis para cles, 2 adesao 6 de fato um elemento necessario & inves- tigagiio. Normalmente o cientista é um solucionador de puzzles como um jogador de xadrez, e a adesio induzida 56 A Cainica Da Ciencia ticagho 6 0 que the dias regras do jogo. que se pala eacasgou tempo, Na suséncls las, ele nao. seria Dratitico, um quico on 0 que quer que fosse aquilo a que fora. preparado. Para Gr, do mals, essa adesio tem um segundo papel na snvesligngao que algo incompativel com o brimelro. "A we Eis la tom ¢ a unanimigade com que & partthada 2OS glupo profesional fomecem a0 cleniste individual Per deienlor imensamente sensivel dos focos. de dificul Gages donde surgom inevitavelmente as imovagdes impor {lites nos fatos ¢ nas teorias, Nas eldnolas a maior parte tae ccbertas de faos Inesperados © todas as inovagbes fundamentals da feoria sto rexpostas a um ftracasso Dre ‘Ho usando as regras do Joyo estabelecido. Portanto, em: Dora uma adesto quase dogma Soje por tm Todo, uma Ponte de vesisiincia e controvérsia,¢ tamban um instru ‘Sento incstmavel que faz das oléricis a atividade huma- Turinals, consistentemente. revoluciondria, Uma possoa hito precisa de fazer da resistenela ou do dogma uma vir {ode para reconhocer que as clénolas madures no pode- lam ‘viver sem els. ‘antes de continuar a examinar a natureza € as con- seqitnelas do dogma clenlilico, vejamos 0 esquema de Setengao atrayes do qual ele @ tanmiido por ua £2 faglo de profissionais 4 seguinte. Os clenistas no for. Team, claro esta, anion comunidades ‘profissional que Miguire pela edveagao tum conjunto. de ‘padres, instru fmanios @ teenteas que mais tarde wsam no seu proprio Tabatho chat. Porém uma vista répida que sels ca Dpolagogia clenifica sugere que ela pode indir uma Ti Files protissional praticarsente.impossivel de. elcancar outros tampos, exceto taiver na ‘Teologia. Admito que sca orposiquo esteja deformaca pelo esquert american Gite ¢ 0 que coanhego melhor. Os eontrastes que tenbo em Sista, porém, deve ser visivels igualmente nas. dovidas Droporgées na eivcagio europea & britance. "Daler ue’ acaraceristicn mae extraordindria. da eaucagio cicnttica,caructerfstiea qu lovada 4 um posto Gescorhecioo nowtros campos de atividade criative, Sela ade ae fazer, através de manuals, obras escritas expecta Inento pare estudantes, Ate qe tle esleja preparado, Ou Guase preparado para fazer a'sua dissertagao, 0 estucante de Quimica, Fisica, Astronomia, Geologie, 04 BIO}OE. FUNcio po Doowa a Tuvestiongko Cienrfica $7 ramente ¢ posto ante o problema de conduzir um projeto de investigacao, ou colocado ante os produtos diretos da investigacdo conduzida por outros — isto 6, as comuntea- ‘ges profissionals que os cientistas escrevém para os seus colegas. As colegdes de “textos originais” jogam um papel Iimitado na educagio cisntifica. Tgualmente o estudante de ciéncia nao é encorajsdo a ler os classicos da historia do seu campo — obras o1de poderia encontrar outras ma- neiras de olhar as questdes discutidas nos textos, mas onde também poderia encontrar problemas, conceitos ¢ solugées padronizados que a sua futura profissio ha muito p6s de lado e substituiu.' WHITEHEAD apanhou esse aspocto bastante especifico das ciéncias quando al- gures escreveu: “Uma c-éncia que hesita em esquecer os seus fundadores estd perdida.” Q ser baseada quase exclusivamente em manuais nao 6 tudo 0 que ha de especifieo na educagéo cientifiea. Os estudantes de outros dominios silo, ao fim e a0 cabo, tam ‘bém expostos & aco de tais livros, embora raramente de- pois do segundo ano de universidade, e mesmo nos pr meiros anos. no de uma forma to exclusiva, Mas. en- quanto que, nas ciéncias, so hd manuais diferentes 6 por- que expdem assuntos diferentes, nas humanidades ¢ em varias Ciéncias Sociais, hd manuais que apresentam dife- rentes tratamentos para uma mesma problematica. Mes- mo livros que estéo em concorréncia para ser adotados num mesmo curso cientifico diferem sobretudo s6 no nivel de apresentacdo © nos pormenores pedagdgicos e do no contetido ou no eonjunto das idéias. = com difi- culdade que se pode imaginar um fisico ou wn quimico afirmar que foi obrigado a comecar a edueacio dos seus alunos de terceito ano quase a partir de primeiros prin- espios porque @ exposicao prévia do assunto a que eles tinham sido submetidos se fizera por livros que violavam consistentemente a idéia que ele tinha da disciplina, ObservacSes dese tipo no so, pelo contrario, pouco usuais em vérins Ciéncias Sociais, Aparentemente 05 cien- Gada cifncin individual apresenta algumas variagses no que uestio. Os estudantes das eléneiag navas e tambem isto’ é; alguns sapector da. Biologin, Geologie fdicos — t#ia mals oportunidade de deparar com ta- ‘alhos originals tanta histirlcos como snodernos do que, por exemple, of eatudantas de Astronomia, Matemétion ot Fisica 58 A Crinca pA CitNcu tistas estdo de acordo sobre o que ¢ que cada estudante tse saber da materia, Essa é a razao que explica por Gue, na preparagio dum curriculo préprotissional, eles fodem usar manuais em vez duma combinagéo eclética Ge originais de investigagao. ‘Teualmente a técnica de apresentacao dos assuntos, caracteristica dos manuais cientificos, nao é a mesma que hos outros campos. Exceto nas introdugdes ocasionais, fqne os estudantes raramente em, 05 leigos nao fazem grande esforgo para descrever 0 tépo de problemas que 0 profissional seré chamado @ resolver ou discutir, a diver- Sidade de técnicas que a experiéncia pos a disposigao para fa sua resolugao, Pelo contrério, esses livros apresentam, desde © comego, solugdes concretas de problemas que & profissao aceita como paradigmas, e entio pede-se aos es- tudantes, quer usando um ldpis ¢ papel quer servindo-se dum laboratorio, gue resolvam por si mesmo problemas modelados & semelhanea, na substancia e no método, dos que 0 livro Ihes deu a conhecer. $6 na instruedo elemen- far de linguas ou no treino dum instrumento musical € tao importante ¢ essencial a pritica de “exercicios de dedo”. E estes so justamente os campos em que 0 obje- to da instruyéu € produzir com o maximo de rapides “quadros mentais” fortes ou Einstellungen. Sugiro que nas ciéncias 0 efeito dessas téenicas é exatamente o mes- mo. Embora o desenvolvimento cientifico seja parti- cularmente produtivo em novidades que se sucedem, a ‘educagdo cientifica continua a ser uma iniciagéo relativa- mente dogmética a ums Uadicao preestabelecida de re- solver problemas, para a qual o estudante nao é convida do @ nfo esté preparade para apreciar. © esquema de educacio sistemdtica dos manuais que aeabamos de descrever nao existia em nenhuma parte e em nenhuma ciéneia (exceto talvez a Matematica elemen- tar) até 0 comego do século XIX. Mas antes dessa época Jé um certo mimero de ciéncias mais desenvolvidas clara- mente evidenciava, e em certos casos desde 1 j4 bastante tempo, as caracteristicas especiais indicadas acima. Onde nao existiam manuais, havia com freqiiéncia paradigmas universais aceitos para a pratica das varias ciéncias. Kram constituidos pelos feitos cientificos descritos em livros que todos os praticantes num dado campo conheciam in- tmamente e admiravam, feitos que davam os modelos FUNGKO po Docwta NA INVESTIGAGKO Cmvririca 59 para as suas prdprias investigagées © 08 padrées para avaliar os seus préprios resultados. A Physica de ARIS- TOTELES, 0 Almagesia de PTOLOMBL, os Principia © a Opticks' de NEWTON, a Eletricidade de FRANKLIN, a Qui mica de TAVOISIER ¢ a Geologia de Lyei1, — estas obras @ muitas outras foram todas utilizadas implicitamente, Gurante algum tempo, para definir os problemas legitimos € 0s métodos de investizagio para sucessivas geragdes de raticantes. No seu tempo cada um desses livros, junta mente com outros escritos segundo 0 modelo inicizdo por les, teve no seu dominio mais ou menos a mesma fungio que’tém hoje os manuais duma eiéncia. Todas as obras indicadas acima so, como é sabido, cléssicos da ciéncia. Assim sendo, poder-seia pensar quo elas se assemelham aos grandes clssicos noutros campos criativos, um REMDRANDT, Ou um ADAM SMumIi, ‘Tratando essas. obras, Ou os feitos que estdo por tras detas, como paradigmas em vez de cléssicos, quoro sugerir que hé algo espocial nelas, algo que as coloca & parte tanto dos outros eldssicos da ciénoia como de todos os clissicos de ou- tros dominios de criacdo. Parte desse “algo especial” & 0 que chamarel a ex: clusividade dos paradigmas. Em qualquer época os pra- ticantes duma dada especialidade podetéo reconhecer numerasos cléssicos, alguns dos quais — tal como acon- tece com as Obras Ge PYOLOMBU © Corsix1o ou NEWTON @ DESCARTES — praticamente incompetiveis entre si. Mas lum dado grupo, se tem mesmo um paradigma, s6 pode ter um, AO contrério da comunidade cos artistas — que se pode inspirar simultaneamente nas cbras de, por exem- plo, REMBRANDT e CEzANNB ¢ que Portanto estuda um @ outro — a comunidade dos astronomos nfo tinha alter- ative sendo escolher entre os modelos em competicio Fornecidos por Coréexico e ProLoMEU. Além disso, wna vez felta a escolha, os astronomos passavam a esquecer a obra que tinham rejeitado. Desde 0 séoulo XVI sé hhouve duas edigdes completas do Aimagesta, ambas pro- duzidas no século XIX e dirigidas exclusivamente aos aeadémioos. Nas cliéncias maduras parece nio existir Juma fungdo equivalente & de um museu de arte ou ums biblioteca de clissicos. Os cientistas sabem quando € que 68 livros, @ mesmo 0s jornais cientificos, esta ultrapss- Sados. Emmbora nao os destruam, eles os transferem, como o A. Cxinca pa Citnca qualquer historiador da ciéneia pode testemunhar, das Hipiistecas ativas da especialidade para o nunca usado de- pésito geral da universidade. As obras atualizadas que Yieram tomar 0 seu lugar so tudo 0 que 0 progresso da cléncia exige. ‘Essa caracteristica dos paradigmas est estreitamente igada a outra, que tem particular importancia na minha uutilizaedo do termo. Ao aceitar um paradigma, a comu- hidade cientifica adere toda ela, conscientemente ou nao, 2 atitude de considerar que todos os problemas resolvi- dos, 0 foram de fato, de uma vez para sempre. Tal é 0 que LAGRANGE tinha ém visia quando dizia de NEWTON: “Nao ha senio um universo e néo pode haver senio um homem na histdria universal para interpretar as suas leis’ Os exemplos, quer de ARISTOTELES, quer de EINSTEIN, provam que LAGRANGE estava errado, mas tal go altera a importéneia que teve a sua convicgao para (© desenvolvimento da ciéncia, Acreditando que o que Newron fizera nao precisava de ser feito outra vez, La- ‘GRANGE no se deixava atrair por novas reinterpretagSes fundamentals da natureza. Pelo contrario, ele poderia ci mecar onde os homens que partilhavam 0 mesmo pera: digma newtoniano tinham ficado, esforcando-se uns © outros por chegar a uma formulagéo mals clara do pa- radigma e a uma estruturagdo que o aproximasse cada vez mais das observagbes da natureza, Psse tipo de tra- balho $6 pode ser feito por pessoas que sentem que 0 modelo que usam é inteiramente seguro. Néo hé nada que se assemelhe nas artes, e 0s paralelos nas Ciencias Soolais séo no melhor dos casos parciais. Os paradigmas determinam todo um esquema de desenvolvimento para fas clénclas maduras que nfo se assemelha a0 esquema sual noutros dominios, ‘Tal diferenca poderia ser ilustrada comparandose 0 desenvolvimento duma ciéncia baseada em paradigma como, por exemplo, a Filosofia ou a Literatura. O mesmo objetivo pode porém ser alcangado de maneira mais eco- némica, contrastando-se 0 esquema de desenvolvimento inicial de qualquer ciéncia com 0 esquema caracteristico da mesma ciéncia quando ja na maturidade. Nao consigo 2 eerie neta forma yor Mason (1058). 0 ovsinal, ave & sgncinanta ee eaprts, ng ‘lo nag palbore pore provi dom ele du epuce Teo por" Dexanntt (i) Fungo po Doo xa Investicagko Cuenririca. 61 deixar de por a questiio demasiado esquemitice, mas 0 que tenho em vista € isto, Exceto em dominios como a Bioguimica, com origem na combinagéo de espocialidades ja existentes, os paradigmas sio uma aquisieao a que se ‘chega relativamente tarde no proceso de desenvolvimento cientifico. Durante os seus primeiros anos ums ciéncia trabalha sem recurso a eles, pelo menos nao de forma tio inequivoca e Umitadora como nos casos referidos atrés. ‘A optica fisica antes de NEWTON ou 0 estudo do calor antes de BLACK e Lavoisier so exemplos de esquemas de desen- yolvimento préparadigmaticos como 0 que examinei adiante com a historia ca eletricidade. Enquanto esse de- senvolvimento continua, isto é, até que se chega a um pri- meiro paradigma, 0 desenvolvimento duma ciéncia apro- Xima-sé mais do’ desenvolvimento das artes e da maior parte das Ciéncias Sociais do que do esquema que a As- fronomia, por exemplo, tinha Ja adquirido na antiguidade e que hoje 6 comum a todas as ciéncias. Para perceber a diferenca entre desenvolvimento cien- tifico pré e pés-paradigma, consideremos um exemplo simples. No comego do século XVIII, como no século XVIT fe antes dele, navia quase tantus puulvs de. vista sobro = hatureza da eletricidade como o niimero de experimenta- Gores importantes, homens como HAUKSBEE, GRAY, Desa: GULIERS, DU Fay, NOULET, WATSON e FRANKLIN. Todos 08 diversos conceitos que eles possuiam sobre a eletricidade tinham qualquer coisa em comum — tinham em parte origem nas experiéneias e observagdes © também numa ou noutra das versGes da Filosofia mecinico-corpuscular que orlentava toda a-investigacao cientifica da época, Contudo, esses elementos comuns davam aos seus traba- Thos 86 tima vaga semelnanga, Somos forcados a admitir a existéncia de varias excolas ¢ subescolas em competicio, cada uma indo buscar a sua fora & sua ligagdo a uma verséo particular (cartesiana ou newtoniana) da metafist: ca corpuscular, ¢ cada uma dando relevo especial 20 con Junto de fendmenos elétricos mais facitmente explicado por ela. As outras observacbes eram explicadas usando Construgées ad hoc ou eram deixadas como problemas importantes para investigacgo futura. * Bastante documentagfo sobre a histéria do desenvolvimento da etrisidade pose encontrarae a partir de Rota © Toute (1086). Novque reajeita a andlises de pormenor, porém, devo mullo a uri = ea A Cxinica Da Cito. ‘Um dos primeiros grupos de te6ricos da eletricidade segaia a prética usual do séoulo XVII, e tomava portanto fa atragdo © geracdo de eletricidade por friceao como os fendmenos elétricos fundamentais. Tinham tendéncia a considerar a repulsio como um efelto secundario (no sé- culo XVII ela era explicada por uma espécie de efeito de ressalto mocinico) e a adiar tanto quanto possivel a discussio e a investigaco sistemdtica sobre o efeito de Gray, que se acabara entao de descobrir, a condugio elé- rica” Outro grupo estreitamente ligado & este considera. va a repulsao como o efeito fundamental, enquanto outro ainda tomava ao mesmo tempo a repuisdo e a atracio como manifestagées elementares da eletricldade, Cada um destes tltimos grupos alterava a sua teoria e a sua investigagdo da mancira que Ihe convinha, mas acabava por ter tanta dificuldade como o primeiro, para explicar (0 mais elementar dos efeitos de condugao. Hsses efeitos serviam de ponto de partida para um terociro grupo, gr PO que tinha tendéncia a falar da eletricidade como dum “fluido", pereorrendo os condutores e nfio como um “efliivio” emanado dos corpos nfo-condutores, Esse gru- BO, por sun ves, tna dificuldade em reconcilar a sun com um mimero razodvel track featia com de efeitos de al e Em époces diferentes, cada uma dessas escolas trouxe contribuicdes significativas para o corpo de coneeitos, fe- nOmenos © técnicas de onde FRANKLIN extralu 0 primeizo paradigma para as ciéncias elétricas. Uma definigio de clentista que exclua os membros dessas escolas deverd excluir igualmonte os seus sucessores modernos, Conti do, alguém que se debruce sobre o desenvolvimento da SE sila pe bende G80) $6 nay aay Jam ts ett, ee trna CO ae Sarl, hn Depots do 3240 a vaio fundamental fanse ene a tesla fortes (8a Me ay, ana easy eh satis ck Wu” adn nec ve one a ioes Ete le ot es Shri aads, chn, aoa caro race BEE Se bin tog eee Se hes Ten endo Eh) nt ad eo Bene coeaereede soe U'), Pay smite FuN¢io bo Docs Na Ivestioxgxo Crenriica 63 eletricidade antes de FRANKLIN pode muito bem tirar a conclusio de que, embora os praticantes no oficio fossem cientistas, o resultado imediato da sua atividade era algo menos do que ciéncia. Cada experimentador em eletrici- dade ora foreado a construir 0 seu dominio de novo a partir da base, uma vez que 0 conjunto de convicgées que ele podia tomar como certas era muito limitado. Ao fazer isso, a sua escolha de experiéneias ¢ observacées funda- mentais era relativamente livre, porque 0 conjunto de mé- todos, padriio © fendmenos que cada tedrico da eletrici- dade podia utilizar e explicar era extraordinariamente re- duzido. Como consegiiéncia, durante a primeira metade do século, as investigagies em eletricidade tendiam 2 an- dar em circulo, voltando sempre ao mesmo ponto. Novos efeitos eram descobertos repetidas vezes, mas muitos deles perdiam-se rapidamente de novo. Entre os que se perderam, havia muitos efeitos causados pelo que hoje se chama a carga induzid e também a famosa descoberta de Du Fay dos dois tivos de eletricidade. FRANKLIN © ‘KQNNERSLzY ficaram surpreendidos quando, cerca de quin- ze anos depois, o segundo descobriu que uma esfera car- regada que fosce repelida pelo vidro friccionado era atrat- ga pelo lacre ou pelo émbar.* Na auséncia duma teoria em articulada e amplamente aceita (uma propriedade que nenhuma ciéncla possul de inicio e que poucas das Ciéneias Sociais, se é que alguma, possuem atualmente), a situago sO multo dificilmente podia ter sido diferente. Para os tedrics da eletricidade, durante a primeira me: tade do século XVIII nfo havia maneira de distinguir consistentemente entre efeitos eléiricos e néo-létricos, entre acidentes de Iaboratério e novidades essenciais, ou © A descoherta de Du Far das duns espécien de clotricidede que ee straism ama outra, mas to suto rpelinm, & descrita, © ceumentada com bastante yormancr ‘aquaria parte. das fuss fo ‘moeas memérian sobre eleteiddade (1785).""Tais memérias ersm bem Se Faannuin © Kinnnnsury, ver Conti (1041). de notar tambon (qos, embora Kinwsmsuey tinhe produstdo 0” efeito, ‘nem cle nem Fadsurtin parece torem reconnesido que dols corpon roainoeos carre- icadoe te repelinm um a0 outro, um fenémeno direlamente em con Efadigao com a teoria de PRANKtin, a A. Carfnica pa Cite. entre exibig6es brilhantes e experiéncias que revelassem aspectos essenciais da natureza da eletricidade. ‘Psta 6 a situagdo que FRANKLIN mudou.* A sua teo- ria explicava tantos — embora nao todos — efeitos elé- tricos reconhecidos pelas varias escolas anteriores que.no periodo de uma geracéo todos os teéricos da eletricidade foram convertidos a maneiras de ver quase idénticas. Em ‘bora néo pusosse fim a todos os desacordos, a teoria de FRANKLIN constituiu o primeiro paradigma da eletricida- dee a experiéncia delé dé um tom e um sabor novo as investigagdes em eletricidade nas ultimas décadas do sé culo XVII. O fim dos debates intorescolas pés fim a constante reavaliacéo dos fundamentos; a convicgio de estarem 2 seguir o caminho correto dava coragem sos tedricos da eletricidade para se langarem em trabalhos de maior envergadura, mais exatos e exotéricos. Liberto das preocupacdes gerais levantadas com os fenémenos elétricos, 0 novo grupo agora unido podia orientar-se para fendmenos elétricos selecionados ¢ estudé-los com muito mafs pormenor, concebendo aparelhagem especilizada para seu trabalho e utilizanco.a com uma persisténcia ¢ um grau de sistematizagio desconhecidas dos anteriores tedricns da eletrieldade. Nes mfos dum CAVENDISH, dum Coutoms ou dum VourA, a verificagio dos fendmencs elé- tricos e a articulaglo da teoria da cletricidade tornaram-se, pela primeira vez, atlvidades altamente orientadas. Como conseqiiéncia, a eficiéneia e a eficdcia da investigagio em eletricidade ‘aumentaram extraordinariamente, compro- vando ao nivel social o preceito metodoldgico de FRANCIS 5A mudanga nio se deve, & claro, somente a FRANKEIN, nem, Si HS Gi eect BRE OS, Se me te Sana one FUNGKO po Docs NA Invesnioagko Cumsrinica 65 BAOON: “A verdade emerge mais rapidamente a partir do ‘erro do que da confuse.” Estg claro que estou exagerando tanto a rapidez como © grau de acabamento ccm que se faz a transicio pare um paradigma. Mas isso nao torna o proprio acontecimento menos real. O amadurecimento da eletricidade como ciéi cia néo acompanha o desenvolvimento geral da eletrici- dade. Os autores sobre eletricidade durante as primeiras ‘quatro décadas do século XVIII possuiam bastante mais informagao acerca dos fendmenos elétricos do que os sous antecessores dos séculos XVI e XVII. Durante o meio ‘s6culo dopois de 1745, muito poucos fenémenos elétricos se vieram acrescentar % lista dos jd existentes. Porém, nos aspectos importantes os textos sobre eletricidade das tiltimas duas décadas do século pareciam mais distantes de Gray, DU FAY e mesmo FRANKLIN do que estavam essas teorias da eletricidade do comego do século XVIII dos ‘seus antecessores de hii mais de cem anos. Durante 0 pe- rfodo de 1740 a 1780, os tedricos da eletricidade, como um ‘grupo, alcangaram o que os astrOnomos tinham consegui do na antiguidade, os estudiosos da mecanica na Idade ‘Média, os da Optica fisica no fim do século XVII e os da geologia historica no comeco do século XIX. Tinham che- gado @ um paradigms, ea posse deste permitia-lhes tomar os fundamentos do seu campo de atividade como bem es- tabelecidos e enveredar para problemas mais concretos ¢ mais complexos.’ F dificil conceber outro critério quo estabeleca tio claramerte 0 campo de atividade duma ciéneia, Essas observagdes deve j4 comecar a esclarecer o que 6 que considero ser um paradigma. 1, em primeiro lugar, Um resultado cientifico fundamental que inclui a0 mesmo tempo uma teoria e algumas aplicacGes tipo 40s resultados das experiéncias e da observacao. Mais im- portante ainda, é um resultado cujo completar esti em aberto e que deixa toda espécie de investigagao ainda por TB de noter que este primelro paradigms de oletricidade toi completamente sficex £6. sté'1800, quando * descoberte da bateris fo multipienr dow. efeitos eletroguimices iniciaram uma revolute fa tooria da eletrildade. At2 que um novo paradigma aparceesto desea revolagdo, s Iiteratura sabre x letrieidada, particularmente ns Tnglaterra, retornen em vatice napectos a0 estilo caracteristica da primeira metade do seculo XVIIT 6 A Crinica D4 Ciénca er feita, B, por fim, é um resultado aceito no sentido de que 6 recsbido por’ um grupo cujos membros deixam de tentar oporihe rival ou de criar-the alternativas. Pelo contrério, tentarn desenvolvelo e exploré-lo numa varie Gade de formas a que voltaret a seguir. A discussie do trabalho que 0S paradigmas deixam para ser feito torna: Té ainda mais claro tanto 0 seu papel como os motivos para a sua especial eficécia. Antes, porém, € preciso fri: Ser um aspeoto bastante importanie. Embora 0 acolher Gum paradigma parega historicamente uma precondicio para Investigago cientifica mais eficaz, os paradigmas que aumentam’a eficdcia da investigagao néo necessitam de ser, e geralmente nao sao, permanentes. Pelo contré- rio, no esquema de desenvolvimento das ciénoias madu ras vaise passando, em regra, de um paradigma para outro. Esse esquema diferencia'se do esquema caracteris. tico dos periodos de comeco ou de pré-paradigma nio por causa cia eliminagao total do debate em torno dos funda- mentos, mas pela restrigio dréstica de tal debate, aos pe riodos oeasionais de mudanga de paradigma, © Almagesta de Provome, por exemplo, niio delxa de ser um paradigma pelo fato da tradig&o de investigagio ‘quo partia dolo aeabar por sor aubstituida por outra in. Compativel baseada nos trabelhos de COPERNICO e KEPLER, Nem 0 Opticks de NEWTON deixou de ser um paradigma ara os esiudantes dos fenOmenos da luz no século XVIII, or ter sido depois substituido pela teoria ondulatéria do éter de YOUNG e FRESNEL, um paradigma que por sua vez cecieu lugar a teoria. co déslocamento eletromagnético que se constitui a partir de MAXWELL, Néo ha duivida de que © trabalho de investigagio que um dado paradigma per- mite tornase uma contribuigao duradoura para 0 corpo do conhecimento cientifico e técnico, mas os paradigmas eles préprios sio com freqliénela postos de lado e substi tuidos por outros bastante incompativels com eles. NGo podemos recorrer a nogées como “verdade” ou “validade” 8 propésito dos paradigmas na tentativa de compreender 8 especial eficdcia da investigacio que a sua aceitagio permite fee ee © historiador com freqiiéncia tem de T que com a rejeigso da perspectiva proposta Por dada escola préparadigima ume comunidade Cli a rejeltou 0 embrigo de uma importante idéia cientifica Fongio po Docs na Investicago Cusnrfrica. 67 8 que seria forcada a voltar mais tarde. Mas esté longe de ser obvio que a profissio atrasou 0 desenvolvimento clentifico com esse procedimento. Terla a mecinica quan tica nascido antes, se 03 cientistas do séeulo XIX mais facilmente estivessem prontos a admitir que a visio cor- puscular da luz de NeWron poderia ainda ter algo de significativo @ ensinarthes sobre a natureza? Penso que néo, embora nas artes, nas humanidades, e em varias Cienclas Sociais uma tal visio menos douirinéria € ado- tada com freqliéncia em relagso aos efeltos cldssicos do passado. Ou teriam a Astronomia e a Dinimica avangado mais depressa se os cientistas tivessem reconhecido que tanto Provowey como OcrERNtco tinham escolhido proces- 0s igualmente legitimos para descrever a posicio da Terra? Tal posicdo foi, de fato, sugerida durante o sé culo XVI e fol depois’ confirmada pela teoria da relati- vidade. Mas até 1d ela fof, juntamente com a Astronomia de Provost, vigorosamente rejeitada, vindo 20 cimo de novo s6 no fim do século XIX quando, pela primeira vez, se relacionava concretamente aos problemas insoliveis postos pela pritica usual da Fisica ndo-relativista. Po- derse-é argumentar, ¢ féo-el realmente, que uma aten: go demorada durante os sdoulos XVIII ¢ XIX, quer para ‘as obras de PIOLOMEU, quer para as posigdes relativistas de DESCARTES, HUYGENS 2 LEIBNUZ, teria atrasado em vez de acelerar a revolugio na Fisiea com que comegou o s¢- culo XX. O avancar de paradigma em paradigma, em vex do perpetuar uma concorréneia entre cldssicos reconheci dos, deve ser uma caracteristica funcional e um fato ine- rentes ao desenvolvimento elentitico maduro. Muito do que se disse até aqui tem a intengio de in- dicar que — exceto durante os perfodos ocasionais ex- traordinérios ser discutidos na tltima parte deste arti- g0 — 08 praticantes duma especialidade cientifica madura aderem profundamente 2 determinada maneira de olhar © investigar a natureza baseada num paradigma. O pa- radigma dizThes qual o tipo de entidades com que 0 uni verso esta povoado e qual a maneira como essa popula- cdo se comporta; além disso, informa-os de quais as ques- tes sobre a natlreza que podem legitimamente ser postas € das técnicas que podem ser devidamente aplicadas ni busca das respostas a essas questdes. De fato, um para digina diz tantas coisas aos cientistas que as questoes que SEE 6 ‘A Cafrica Da CibNCTA ara investigar raramente tém algum interesse cle dolea para oveegg estan fora da profisio. Embora seas cultivadas como Um grupo possam.fioar fascina sesoe ouvir descrever o espectro das particulas elemen- tes aa os processos de réplica molecular, em rogra © {eiSnteresse Tapidamente fica exaus’o com uma apresen- fuego das convicgdes que de antemao esto na base da jacestigagdo desses problemas. O resultado do projeto de jnvsstigagao individual élhes indiferente, e o seu intercsse invesmucas probabilidades de voltar a ser despertado tetra’ ver até que, como aconteceu com. @ nao-conservaGlo Guiyaridade, a investigacao inesperadamente leve a mu Gangas nas convicgdes que guiam a investigecdo. Sem dt Vida essa 6 a razio pela qual tanto os historiadores como bs divulgadores devotaram tao grande parte de sua aten- (Zo aos episédios revolucionérios de que resulta uma Taudanga de paradigma e desprezaram t8o completamente © tipo de trabalho que mesmo os maiores cientistas nev Cessariamente fazem durante a major parte do tempo. “| minha posigdo ficaré ainda mais clara se eu agora pergintar 0 que € que fica para a comunidade clentifica Rilor quando existe um paradigma. A resposta — tendo em vista a resistencia a inovagbes que existe © que é e> Candida freqientemente debaixo do tapete — é que, dado {im paradigma, os olentistas esforgam-se, usando todas as Suas eapacidades e todos os seus conhecimentos para 0 por cada ver mais de acordo com a natureza. Muito do Seu estorco, principalmente nas fases iniciais de desen- Yolvimento ‘do paradigms, tornandoo mais preciso em reas em que a formulacao Original fora, como nao podia deixar de ser, vaga. Por exemplo, conhecendo ji que @ fletricidade ora um fluido com ‘particulas em intera- Go Mutua a distancia, os tedricos da eletricidade apds FrankLin podiam tentar determinar a lel quantitativa da forca entre a5 partioulas elétricas. Outros podiam buscar as inter-relagdes entre 0 comprimento da faisca, deflexiio Go clotroscopio, a quantidade de eletricidade, e a geome- tria dos condutores. Foi sobre problemas desse tipo que, nas tiltimas décadas do século XVII, trabalharam OOU- Lows, CAVENDISH ¢ VOLTA, © encontramos um grande pa- ralelismo com o desenvolvimento de qualquer outra clén- cia madura, Os esforgos atuais para determinar as for. a8 quanticas que governam as interagGes dos miicleons FUNGKo 0 DooMa NA INVESTIGNGRO CrenriFica 69. pertencem precisamente a mesma categoria de problemas do articulagao dum paradigma, Esse tipo de problemas nfo constitui o tinico campo ‘@ conguistar que um paradigma propée & comunidade que © aceita, Hé sempre maitos outros campos onde 0 par radigma supostamente funciona, mas em que nao foi, de fato, ainda aplicado. O ajustamento do paradigma a’ na- tureza em tais casos com freaiiéncla ocupa os methores talentos cientificos duma geracho. As tentativas no sé ‘culo XVIII de desenvolver a teorla de NEWTON das cor- das vibrantes constituem um exemplo significativo, © os trabalhos atuais sobre a teoria quintica dos solids cons- titui outro exemplo. Além disso, existe sempre trabalho imenso, fascinante a ser feito para melhorar 0 acordo num campo onde se demonstrou | existir um certo acor- do aproximado. Trabalho tedrico em problemas _desse tipo € ilustrado no séeulo XVIIT com 2 investigagio das perturbagdes que fazem desviar os planetas das suas dr- bitas Keplerianas © igualmente no século XIX com a ela- ‘poragio duma teoria refinada dos espectros dos stomos complexos e das moléculas. E acompanhando todos esses problemas € muitos outros coloca-se toda uma série inin- ferrupta. de barreiras experimentais. Aparelhagem espe- cial teve de ser inventada e construida para permitir a determinacéo de CouLoma da lei da forca elétrica. Novos tipos do telescdpios eram exigidos para observagdes que, uma vez efetuadas, lam exigir uma teoria newtoniana das perturbagées melhorada. O projet e construgio de aco- Jeradores mais potentes sio necessidades cuja falta se faz continuamente sentir em ligacdo com o esforgo de arti cular teorias das forcas nucleares mais eficazes. Esses Ho 05 tipos de trabalho em que quase todos os cientistas passam a maior parte do seu tempo.* ‘Tenho a impressiio de que 0 resumo que fiz da inves: tigacHio cientifiea normal nao precisa aqui de ser mais aprofundado, mas hé dois aspectos que devem ainda ser destacados. Primeiro, todos os problemas referidos atrés eram dependentes de paradigma, com freqliéneia, de va rias maneiras. Alguns celes — por exemplo, a deducao dos termos de perturbarao na teoria planetéria de NEW: © A diseussio deste parigrafo. @ do prévino ests consideravel mente desenvolvida no mel artigo (KUHM, 1861) i 10 ‘A Cririca pa Citncra x1 — no podiam soquer ser colocados na auséncia dum TON Tema, Epropriado, Com. passagem da. teoria, de Remar pars ceoria Telatvista, alguns deles transtor- NeWnte’em problemas diferentes © nem todos foram naa hoje resoividos. Outros problemas — por exeinplo, ain ciiva do Gotcrminar a lei das forgas elétricas — po: finmn sere cram, pelo menos duma forma vaga, coloca- Ger astes do aparceimento do paradigma em que acaba Sem por ser resolvidos. Mas, na sua forma prititiva, no potitin ser atacedos com éxito. queles que descreviam povntragoes as Tepulsoes eletricas em termos de “ell ios" tentarain medir a forgas Tesultantes colocando um disco carregado a uma distaneia determinada por baixo do prato dma balanga. ‘Nessas. condiges no se conse ful chegar & resultados consistentes suscepttvels de in- Extpretagao. ‘prvcondigao para o. sucesso. acabou por Ser uin peradigiha que redusia ‘a agho eletrica a uma aga0 Go tipo gravitacional, acio a distancia entre particulss pontuais. A partir de FRANKLIN os te6rieos da eletriida Ee passaram a pensar a agio eletrica nesses termos; tanto Cofuonth como CAVENDISH os tinharn em vista no conc: bor as suas apsrelnagens. Finalmente, em ‘ambos esses fasos bem cotno em fodos os outros era necesséria uma Sitesi 0. paradigma, para fornecer uma mozivagao com Sentido. Quem estaria para conceber e construir compli fados apareinos de uso altamsente especifico, ou quem es faria para. pussar meses a_tentar resolver’ determinada fequagao diferencial, sem a. garantia segura de que 0 seu tstorgo, se tivesse rita, daria o fruto desejado de an- femao? ssa referéncia a0 resultado de um projeto de inves- tigagio que ¢ desejudo de antemso leva & segunda caracte- istics notivel_daquilo. a que estou agora chamando de investigagao normal, de base paradiematien, 0 cientisia aie trabaina nela de modo algum se ajuste & antiga sma. gem do eientista como umm explorador o um inventor de fovas © luminosas.teorias que permitem previsoes bri Thmntes e inesperadas, Pelo contrério, em todos 0S pro- Blemss discutidos serés todo o resultado mosmo em por menor era confiecido desde @ iniolo.-Nennum cientista que actitasse 0 paradigms “de FRANKLIN. podia duvi- dar da enisténcia uma fei de atragao entre particulas Tindsculas de eletricidade, e era razosvel SUpor que es5a FUxcko po Doowa xa Invesnicacho Creszirica 71 lei se poderia exprimir por uma relacdo algébrica simples. ‘Alguns doles, mesmo, previam que teria de ser uma lei fenvolvendo 0 inverso do quadrado da distancia. Nunca 08 fisicos nem os astrénomos newtonianos duvidaram que as leis do movimento ¢ da gravitacdo de NEWTON acaba- iam por reproduzir os movimentos observados da Lua e dos planetas, embora, por mais de um século, a comple- xidade matemdtica impedisse que fosse obtido um bom acordo em todos os casos. Em todos esses problemas, como na maioria dos que os cientistas abordam, o ataque no 6 dirigido com o fim de desvendar 0 desconhecido, mas de obter 0 conhecido. A fascinacdo deles ¢ causada no pelo resultado que poderao vir a descobrir, mas pela dificuldade em conseguir mesmo o resultado. Hm vez de se assemelhar a uma exploragéo, a investigacio normal apresenta-se antes como o esforgo de juntar um cubo chinés cujo aspecto final é conhecido desde o principio. Estas so as caracteristicas da investigacao normal que eu tinha em vista quando, no comego deste ensaio, descrevia a pessoa envolvida nela como um solucionador de mizztes, h maneira dum jogador de xadren O parm digma que ele adquiriu gragas a uma preparacao prévia, fornece-lhe as regras do jogo, descreve as pegas com que se deve jogar e indica 0 objetivo que se pretende aleancar. A sua tarefa consiste em manipular as pecas segundo as regras de maneira que seja alcangado 0 objetivo em vista. Se ele falha, como acontece com ® maloria dos cientistas, pelo menos na primeira tentativa de atacar um problema, esse fracasso $6 revela a sua falta de habilidade. As re- gras fornecidas pelo paradigma nfo podem entio ser ypostas em causa, uma vez que sem essas regras comega- ria por nfo haver puzzle para resolver. Noo haja por- tanto diividas de que os problemas (ou puzzles), pelos quais o praticante da eféncia madura normalmente se in- teressa, pressupdem a adesao profunda a um paradigma, E ¢ uma sorte que essa adesdo nfo seja.abandonada com facilidade. A experléneia mostra que, em quase todos os casos, os esforgos repetidos, quer do individuo quer do grupo profissional, acebam finalmente por produzir, den: tro do ambito do paradigma, uma solugdo mesmo’ para os problemas mais difizeis, Esta é uma das maneiras como @ ciéneia avanga. Nessas condigdes devemos surpreen- der-nos com a resisténcia dos cientistas & mudanga de pa- n A Cafricn ox Cibscta adigmas? © que eles estio defendendo é, no fim de com Tagididm mais hem menos do que a base do seu modo de ‘vide profissional. Ghegando aqui, uma das principais vantagens do que comece! chamanco’ 0 dogmatismo cientifico deve ser evi: Gente. Como uma vista de olhos rapida a qualquer histo- Sia natural baconiana ou a. descrigao do desenvolvimento préparadigmatico de qualquer ciéncia mostram, a natu. Pees é demasiado complex para ser explorada a0 acaso jnesmo de maneira apzoximada, Tem que existir algo que diga ao ciontista onde procurar e por gue procurar, e esse flgo, que pode muito bem nao durar mais que essa go- raga, 6 0 paradigma que Ine foi fornecido com @ sua edu cagao de cientista, Em virtude desse paradigma e da ne- Cesséria confianea nele, o clentista em grande parte deixa de ser um explorador, ou pelo menos do ser um explora: Gor do desconhecido, ‘Em vez disso, ele luta por articular © coneretizar 0 conhecido, e esse objetivo especifico levao fa conceber diversos aparelhos ¢ variadas versdes da te0- Tia, Desses puzzles que 0 levam a projetar e @ adapter, Ge tira o seu prazer, A menos que tena uma sorte ex: fraordinaria, ¢ do éxito em resolver 0s puzaies que iss ce- ponder a sua reputagéo, A tarefa em que ele esté empe- fhado caracteriza-se, a dada altura, e inevitavelmente, por uma visao drasticamente reduzida.” Mas dentro do campo para que esta focada a sua visao 0 esforgo continuado para ajustar os paradigmas & natureza produz um cone Cimento © uma compreensdo de pormenores exotéricos que nfo poderiam ter sido aleangados de nenhuma outra Thaneira. Desde CoPERNICO @ 0 problema da precessio de EINSTEIN eo efeito fotelétrico, o progress da ciéncia tem sempre dependido precisamente desse aspecto exole- rico, Uma das grandes virtudes da adesio a puradigmas consiste em que ela liberia os cientistas para que se possam ocupar com os pequenos puzzles. Porém, essa imagem da investigagio cientifica como resolugdo de puzzles ou ajustamento de paradigmas deve estar, em tiltima analise, bastante incomplete. Embora 0 ‘cientista possa néo ser um explorador, os cientistas estéo sempre deseobrindo tipos novos e inesperados de_fend- menos. Embora o cientista no se esforce normalmente por inventar novos tipos de teorias fundamentais, tais Fon¢io po Doosa Na INVESHIGAGKO Cutntieice 73 teorias com fregiiéncia tém surgido da prética continuada da investigacao, Mas neahuma inovagio desse género aps Tecerla se a atividade a que chamei de ciéncia normal ti- esse sempre éxito, De fato com muita freqtléncia o indi- viduo envolvido na solugio de puazles oferece resisténcia hs novidades que se apresentam, e fé-lo por razdes muito aceitaveis. Para ele, traia-se de alterar as regras do jogo @ qualquer alteraggo ce regras intrinsecamente subver- Siva. Esse elemento subversivo toma-se, claro esta, mals aparente em inovagdes tedricas de grande importncia como 26 associadas aos nomes de COPERNICO, LAVOISIER ou EINSTEIN. Mas a deseoverta dum fenémeno nfo ante: visto pode ter 0 mesmo efeito destrutivo, embora geral mente num grupo mais reduzido e por um perfodo de tempo mais curto, Uma ver realizada a primeira das ex- periéneias, 0 éeran luminoso de RONTGEN demonstrava que a anterior aparelhagem standard de raios catédicos Se comporiava de maneira que ninguém tinha entevisto. Havia uma variavel naoprevista @ ser controlada; as in: Yestigagses anteriores, jf a caminho de se constituir em paradigmas, necessitavam de ser reavalindas; velhos puzzles tinharn de ser resolvidos de novo, recorrendo-se Zvam conjunto de rogree algo diferente. Mesmoa sendo fa. Cilmente assimilével, uma descoberta como a dos raios X pode violar uum paradigma que previamente orientars ® investigagio. O que se segue é que, se a atividade noxsnal de solucionar puzzles tivesse sempre éxito, 0 desenvolvi- mento da ciéneia ndo paderia conduzir a qualquer tipo de inovagéo fundamental. ‘Mas claro esta que a cl@ncia normal nem sempre tem @xito © a0 reconhecer esse faio deparamos com a segunds grande venlagem da investigacao de base paradigmitica. ‘Ao contrario de muitos dos antigos tedricos da eletricid: Ge, o praticante duma ciencia madura sabe com preciso radoavel a que tipo de resultado pode chegar com a sta investigacdo, Em conseqliéncia disso, esta em posicio es: pecialmente favordvel para detectar um problema de in- Yestigacao que saia fora do esperado. Por exemplo, como Gauvanr ou RONTGEN, cle pode deparar com um efeito que sabe nao ter razdo Para ocorrer. Ou, por exemplo, como CoPEnwico, PLANCK ou EINSTEIN, pode concluir que os fracassos ‘repetidos dos seus antecessores, ao ajustar 0 paradigma & natureza, ¢ evidéncie inescapavel da necesst TU ” A Cafrica pa CIENCIA ade Ge mudar as regras com que se tenta fazer esse ajus- Cae aor exemplo, COmO FRANKLIN ot LAVOISIER, tment chal kepols de repelidas tontativas que nenhuma Poul mies existentes pode ser articulada de forma a ex Ges terjaterminado efeito recentemente descoberto. Como Peas oor ates exemplos por Tullos outros, a prética se Nien normal de solucionar puzzles pode levar, © leva Gevato ao rovonhecimento isolamento de uma anoma- fe. Met reconhecimento dessa natureza é, penso eu, pre Unaleho ‘para quase todas as descabertas de novos tipos SPrteSomenos e para todas as inovagses fundamentais da teorie clentitiea, Depois que um primeiro paradigma fol Sangado, uma quebra nas regras do jogo preestabelecido eo oreltdio' habitual para uma inovepio cientifiea im- portante ‘Vejamos primeiro 0 caso das descobertas, Muitas delay, somo a Tei de Covipue ov a descoberta de um nove Glemento para preencher um espago vazio no quadro pe- Hodieo, no levantam iieuidades. Nao levam a “novos Tipos vie fendmenos”, so sim descobertas entecipadas tages 1 um paredigma e obtidas por solucionadores de Bice oxpertontes’ essa esperie te descobertas 6 um Prodiio natural do que passet a chamar de clencia nor Pal "Mas nem todas as cescobertas pertencem a essa ca- qegoria, multas delas néo poderiam ter sido antecipadas por extrapolagao do conheerdo; de certa maneira, tinbam Se ocorrer “por ‘acidente’, Por outzo lado o acidente donde elas surgiram no poderia ter ocorrido a uma pessoa qualquer’ que simplesmente passasse na, ocasilo, Ras cléneins madurss a descaberia,requer equipamento Thuito especializado, tanto do ponto de vista da concepoio como ingerumental, © esse eqtsipamento especializado tein ‘indo a ser constantemente desenvolvido €.aplicado com O fim de resolver os puzzles da investigacdo normal. & Gescoberta “aparece quando esse equipamento deixa de funcionar da forma como deverie. Alem disso, como fa Ihas tempordrias de varias espécies ocorrem ern quase todos os projetos te investigagao, a descoberta surge sO quando o tracasso partioularmente persstente ou espe- thoular ow quando parege pOr em questso convicgdes, © maneires de proceder sceitas, Os. paradigmas estabelect fos s80 portanto. muitas veoes duplamente preconclicies para descobertas, Som eles o projeto que sai fore do es- FUNGKo vo Docma a Investici¢xo Cmnrfnice 75 perado nunca poderia ter sido iniciado. E mesmo depois que 0 projeto saiu fora do esperado, como acontece com a maior parte deles durante algum ‘tempo, 0 paradigma pode ajudar a determinar se 0 fracasso merece mais in- Yestigeggo. A resposta normal e adequada a um fracasso nna resolugéo de puzeles consiste em lancer a culpa nos ta- ientos ou aparelhos de alguém e mudar a seguir para outro problema, Se nao quer perder tempo, o cientista, deve ser capaz de discerair entre uma anomalia essencial e um fracasso acidental. ‘Esso esquema — descoberta gracas a uma anomalia que p6e em diivida conviegdes e técnicas estabelecidas — tem vindo sempre a ser repetido ao longo do desenvolvi- mento cientifico. NEWTON descobriu a composigao da luz ‘branca por nio ser capaz de reconciliar a dispersio obser- vada com a dispersio prevista pela entiio recente lei de SNELL da refragdo (ver KUHN, 1958). A bateria elétrica foi _descoberia quando os detectores de cargas estaticas ento existentes deixaram de se comportar como 0 para- Gigma de FRANKLIN fazia prever (ver GALVANI, 1954). O planeta Netuno fol descoberto em virtude do esforco de- senvolvido para explicar as anomalias na érbita de Ura- no (ver Arwrrac, 195) Q elemento cloro e 0 composto monéxido de carbono surgiram quando das tentativas de reconciliar a nova Quimica de LAVoIsiER com as observa- ‘coes de laboratério.* Os chamados gases nobres foram © produto duma longa série de investigagdes originadas nna presenga duma pequena, mas persistente, anomalia na medigio da densidade do’ voto atmosférico (ver RAM- say, 1896). O eléctron foi introduzido para explicar algu- mas propriedades andmalas da condugso de eletricidade através dos gases, ¢ 0 seu spin foi sugerido para esclare- cer anomalias doutro tipo observadas no espectro at6mi- co (ver THOMSON, 1987; CHALMERS, 1949; RICHTMEYER, KENNARD e LAURITSEN, 1955; ¢ R. D. RUSK, 1958). Nas ciéncias maduras as inovagdes inesperadas so descober- tas principalmente depois de algo ter corrido mal Porém, se uma snomalia & significativa na prepara- gio do caminho para novas descobertas, ela tem um papel ainda mais importante na invenedo de novas teorias. Con- trariamente a uma convicedo estabelecida, embora nao ® No eato do cloro, ver Mevex (1891), No esso do. monéxide de carbons, ver Kor? (18!)

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