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Definição:
Epidemiologia:
O RC, doença de baixa incidência nos países ocidentais devido à dieta e à presença da luz solar,
afeta sobretudo a população jovem nos períodos de crescimento rápido, quando o corpo
demanda altos níveis de cálcio e fosfato. Geralmente ocorre em crianças pequenas entre 6 e 24
meses de idade. No Nordeste brasileiro, região de clima equatorial com abundante luz solar, o
RC não é uma doença vista com muita frequência.
A faixa etária predominante do raquitismo carencial situa-se entre quatro meses a dois anos,
o que, porém, não serve de caráter diferencial com os outros tipos. Prematuridade, ritmo
acelerado de crescimento e uso prolongado de anticonvulsivantes são fatores predisponentes
ao raquitismo.
Etiologia:
Vitamina D
Após sua formação na pele, a vitamina D sofre nova hidro‐ xilação, sendo transformada em 25‐
OH‐D (calcidiol) no fi ́gado e, depois, em 1,25‐OHD3 (calcitriol) no rim. A enzima responsável por
essa última conversão (25‐OHD‐1‐alfa‐hi‐ droxilase) tem sua transcrição ativada pelo
paratormô nio (PTH), que é secretado pela paratireoide em resposta à dimi‐ nuição dos ni ́veis
séricos de cálcio, e também de ni ́veis séricos muito baixos de fosfato. O calcitriol estimula a
absorção intestinal de cálcio e fosfatos e, em conjunto com o PTH, es‐ timula a produção e a
secreção da citocina conhecida como RANKL (ativador do receptor do fator nuclear kappa‐B),
que exerce papel fundamental na osteoclastogênese e na ativa‐ ção dos osteoclastos gigantes
que induzem a reabsorção ós‐ sea. O PTH e o calcitriol também são responsáveis pela indu‐ ção
da reabsorção de cálcio nos túbulos distais do rim. Além de influir no metabolismo de cálcio, o
calcitriol é considera‐ do regulador transcripcional de vários genes, sendo sua ação dependente
da ligação com o receptor nuclear da vitamina D. A descoberta desses receptores da vitamina D
(RVD) em várias células não relacionadas à homeostase de cálcio e fósfo‐ ro desencadeou a
descoberta de várias outras ações dessa vi‐ tamina, além de sua relação no metabolismo desses
micronutrientes e na saúde óssea.
A determinação dos valores séricos da 25‐(OH)D é o melhor indicador para definir deficiência,
insuficiência, suficiência e toxicidade. Na medida em que ocorre sua diminuição sérica, há o
aumento paralelo do PTH. Não há consenso sobre quais seriam ni ́veis adequados de vitamina D
total em adultos e suas concentrações normais considerando a latitude geográfi‐ ca ou grupos
étnicos, porém, os resultados de vitamina D total são interpretados como:
de 10 a 29 ng/mL – insuficiência;
As principais causas da deficiência de vitamina D são: ingestão usual abaixo dos ni ́veis
recomendados (raquitismo nutricional ou carencial, mais comum em menores de 2 anos,
sobretudo em menores de 1 ano, ou osteopenia ou osteoporo‐ se em crianças maiores);
exposição solar limitada; deficiência da conversão renal da vitamina D para sua forma ativa ou
por má absorção; induzida por medicamentos: fenobarbital, hidantoi ́na, carba‐ mazepina,
valproato, rifampicina, isoniazida e corticosteroides.
Fatores de riscos para alterações na mineralização óssea incluem: baixo peso, dietas deficientes
em vitamina D, hábitos de vida inadequados, alergia à protei ́na do leite de vaca, intolerância à
lactose, doença celi ́aca, fibrose ci ́stica, hepatopatias, doença inflamatória intestinal, uso de
corticosteroides e vege‐ tarianismo puro. Crianças prematuras e de baixo peso ao nascer são
também de risco para o desenvolvimento do raquitis mo carencial e risco de osteoporose na
idade adulta. Além do baixo peso, a obesidade também está associada à deficiência, pois a
vitamina D é armazenada eficientemente no tecido adi‐ poso e torna‐se não biodisponi ́vel. A
anamnese e o exame cli ́nico são importantes na identifi‐ cação da etiologia de deficiência de
vitamina D e pode detectar uma deficiência subcli ́nica ou já instalada.
Sinais gerais
Sinais ósseos
Estudos mais atuais demonstram que a deficiência de vita‐ mina D pode comprometer o
desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) e dos rins e, em virtude das ações na ex‐
pressão genética e na proliferação celular, pode estar associado a maiores riscos de doenças
cardiovasculares, câncer, dia‐ bete, doença metabólica, doença inflamatória intestinal e artrite
reumatoide. O tratamento medicamentoso da insuficiência de vitami‐ na D não é atualmente
recomendado. Para o tratamento da deficiência, além da necessidade de ingestão adequada de
cálcio, deve ser recomendada a ingestão de vitamina D conforme segue:
A duração deve ser de 2 a 3 meses, seguida de manutenção de 400 a 1.000 UI/dia por 4 a 6
meses. Depois do primeiro mês de tratamento, é recomendável a dosagem de cálcio, fósforo e
magnésio. Após 3 meses, dosam‐se cálcio, fósforo, magnésio, fosfatase alcalina, 25‐OH‐D,
paratormô nio, cálcio urinário/ creatinina e radiografia dos membros (se houver alteração ao
diagnóstico). O tratamento do raquitismo necessita de dosagens maiores e tempo mais
prolongado, conforme mostra a Tabela 3
Cálcio
O cálcio é responsável por aproximadamente metade do con‐ teúdo mineral do corpo, e quase a
totalidade da sua forma orgâ‐ nica constitui os ossos e os dentes, seus principais reservató‐ rios
corpóreos. A homeostase do cálcio sistêmico é alcançada pela regulação da vitamina D e do PTH
nos órgãos‐alvo (intes‐ tino, rins e osso). Essa regulação permite a manutenção dos va‐ lores de
cálcio em limites estreitos. O cálcio tem inúmeras funções fisiológicas essenciais, incluindo
coagulação sangui ́nea, comunicação celular, exocitose, endocitose, contração muscu‐ lar e
transmissão neuromuscular. O cálcio plasmático, que está em equili ́brio com o cálcio do li ́quido
extracelular (LEC), é regulado para atingir uma concentração entre 7 e 11 mg/dL no recém‐
nascido e entre 8,8 e 11 mg/dL em lactentes e crianças. Quando a concentração do cálcio
plasmático diminui, o PTH é liberado, causando au‐ mento do clearance renal de fosfato e da
reabsorção tubular de cálcio, ativação da atividade osteoclástica e da reabsorção ós‐ sea e
ativação da vitamina D. O cálcio tem absorção ativa mais eficiente no duodeno e no jejuno
proximal, no qual o pH é mais ácido. No entanto, pelo tempo de trânsito maior, sua maior
absorção se dá no i ́leo. Em indivi ́duos normais, a absorção no cólon representa apenas 5% do
total de cálcio absorvido, contudo, em pacientes com ressecção do intestino delgado, esse si ́tio
de absorção torna‐se especialmente importante. Vários fatores interferem na absor‐ ção do
cálcio, como o status da vitamina D, o tempo de trânsi‐ to, a permeabilidade da mucosa
intestinal e a presença ou não de oxalatos e fitatos na luz intestinal. A estimativa da necessidade
nutricional de cálcio em seres humanos não é simples, pois não há testes bioqui ́micos que
indiquem o status nutricional real do cálcio corpóreo. Lacten‐ tes, crianças e adolescentes, pelo
acelerado metabolismo as‐ sociado ao crescimento, estão em particular risco para sua de‐
ficiência, e vários estudos com suplementação diária de cálcio como complementação da dieta já
foram realizados em crian‐ ças. Esses estudos sugerem que a suplementação pode favore‐ cer o
ganho de massa óssea em crianças com consumo dietéti‐ co de cálcio insuficiente. Lactentes
jovens em aleitamento materno exclusivo ou em uso de fórmulas infantis para lacten‐ tes
habitualmente têm ingestão diária de cálcio adequada. Crianças com dieta inadequada e/ou
capacidade de absor‐ ção do cálcio comprometida por tempo prolongado podem apresentar
sintomas de raquitismo semelhantes à queles asso‐ ciados à deficiência de vitamina D. Não está
claro, porém, qual é a extensão dessa deficiência nas populações, pois a hipovitaminose D e a
deficiência nutricional de cálcio podem coexistir. Além disso, no tratamento do raquitismo é
frequente a asso‐ ciação da suplementação de vitamina D e cálcio. O leite e os derivados são,
sabidamente, a principal fonte de cálcio. Vegetais folhosos verde‐escuros e algumas frutas
também são fontes desse mineral, contudo, pela baixa biodisponibilidade, não são considerados
como substitutos adequa‐ dos dos alimentos lácteos.
Quadro Clínico:
O RC se manifesta geralmente ao redor dos 6 meses de vida. As manifestações iniciais são
inespecíficas, sendo relatadas irritabilidade, insônia e sudorese abundante no segmento cefálico,
principalmente durante a amamentação.
Os achados clínicos mais sugestivos são variáveis conforme a época em que se instala o RC. Um
sinal precoce é o craniotabes, por afilamento da calota craniana. Tende a se manifestar entre o
2º e o 4º meses de vida.
Esse sinal pode desaparecer antes dos 12 meses, apesar da persistência do processo raquítico. O
craniotabes pode ser observado em recém-nascidos normais, porém tende a desaparecer no 2º
ou 3º mês de vida. Retardo no fechamento da fontanela posterior, fontanela anterior ampla e
Após os 12 meses, com o irúcio da marcha, o peso do corpo acenhia as alterações nos membros
inferiores (genuvaro ou genuvalgo), pelve e coluna vertebral. A baixa estatura, quando presente,
é secundária a essas deformidades. Há fraqueza muscular e hipotonia generalizada
A confirmação da suspeita de raquitismo deve ser feita por meio de exames bioquímicos e radiol
ógicos. As alterações bioquímicas decorrem diretamente das alterações do metabolismo de cá
lcio e fósforo, em funcão da carência de vitamina D, e dependem do estágio em que se
encontra o raquitismo. Quando o raquitismo é sintomático, o nível sérico de cálcio pode estar
normal ou baixo, porém o nível sérico de fósforo se encontra sempre baixo, e a atividade sérica
da fosfatase alcalina, aumentada. Os valores de referência devem ser fornecidos pelo laboratório,
pois variam conforme o método e a faixa etária da criança. A dosagem sérica de paratormônio
elevada e os níveis séricos de 25-(0H)-D diminuídos auxiliam no diagnóstico, mas são de difícil
disponibilidade em nosso meio.
Os achados radiográficos, além de auxiliarem no diagnóstico do raquitismo, permitem
acompanhar o tratamento e avaliar o processo de cura. A radiografia dos punhos é
especialmente adequada para a avaliação do raquitismo, pois as alterações das epífises da ulna e
do rádio são precoces: alargamento das epífises em forma de taça, com a concavidade voltada
para a articulação. O barramento ou perda dos limites ósseos pode aparecer sob forma de
pequenas estrias no sentido longitudinal do osso, produzindo a imagem em franja. Outros
achados são a rarefação óssea, encurvamento diafisário, fraturas em galho verde e duplo
contorno das diáfises, devidos à não mineralização do tecido ósseo subperiosteal. A idade
óssea se encontra atrasada em virtude da calcificação reduzida nos núcleos de ossificação, o que
determina também o aumento do espaço interarticular.
A hipótese de raquitismo carencial deve ser levantada quando houver exposição inadequada à
luz solar e/ ou ingestão insuficiente de vitamina D, especialmente em crianças até 2 anos de
idade, fase de grande velocidade de crescimento.
Diagnóstico Diferencial:
O diagnóstico diferencial deve ser feito com escorbuto, osteogênese imperfeita e displasias
metafisárias. Os outros tipos de raquitismo serão pesquisados quando a história não for
sugestiva de doença carencial ou quando não houver resposta terapêutica aos esquemas
habituais