Sunteți pe pagina 1din 3

“1964 Golpes ou Minha mão não é nada perto do que as pessoas sofreram”

“1964 Golpes” é a performance que mais tenho medo de realizar. É a única, aliás,
que tenho um medo real quando acontece. Porque no trabalho há uma busca da
neutralidade do pensamento para atingir um estado de consciência corporal que seja ao
mesmo tempo, um corpo que absorve a dor do impacto por inteiro e que permite a essa
mesma dor (metafórica e física) se espalhar e doer o suficiente e necessário, também o
medo real do impacto onde sei que vai doer e esse “saber” é fundamental que não domine
a consciência, em paralelo é necessário ter consciência dessa dor. É muito complexo ainda
entender e descrever isso em palavras, mesmo assim tento a partilha. Corporalmente eu
entendo, me concentro e sei que meu corpo está presente, está comigo, não há fantasias e
muito menos algum tipo de “truque” para amenizar ( friamente reafirmando, na prática,
que o corpo é “a prisão que não podemos fugir” do qual Foucault fala em “O corpo
utópico”), a dor é real, totalmente real e reflete justamente o que sinto em relação aos
acontecimentos políticos que estão ocorrendo no País atualmente. O doer torna-se
“reverberração” (neologismo da junção de aberração e reverberar) do passado próximo.

A ditadura foi um dos períodos mais sombrios que se teve ciência no Brasil
(ciência até certo ponto, porque sabemos que existem muitos documentos que não
chegaram ao público e quiçá chegarão). Nesse período, não precisa ter um QI elevado
para perceber que houve muitas manipulações dos fatos para priorizar e proteger os
militares envolvidos nesse holocausto, a dor foi comum e partilhada entre várias pessoas,
de certo modo. Muitas mães e pais perderam filhos, muitos mortos sem nome, RG e nem
CPF que até hoje não sabemos quem são. Os porões do DOPS foram o próprio inferno na
terra, para quem crê nessa imagem. Sempre me lembro da performance de Cris Burden
“Shoot”, onde o artista leva um tiro no próprio braço como ação performática e do que
disse para o jornal Folha de São Paulo “"Fiz essa performance durante a guerra (do
Vietnã), quando milhares de garotos da minha idade eram alvos de disparos". Me sinto
como ele, milhões de brasileiros estão tomando esse Golpe Político, tendo que aceitar um
Presidente que não foi eleito legitimamente, e me senti incapaz de fazer algo, fora a
performance. Quando eu dou os socos no saco de pancadas cheio de pedras eu realmente
imagino todos os meus amigos e amigas próximos e distantes engolindo esse sistema
político atual. Imagino os nordestinos que estão sofrendo com as mudanças abusivas
nesse plano de governo que quer tirar um dos programas mais valiosos do País que é o
“Bolsa família”. Me dói muito, muito! Mas me dói mais porque sei que não é uma dor só
minha. É uma dor de uma legião! E eu continuo investindo meu próprio punho até o limite
da dor, ou dos golpes, ou que a plateia interrompa, por dois motivos basicamente: lutar –
nós, o povo, os artistas, todos que somos contra não conseguimos parar de lutar mesmo
quando queremos, sacrifício – danificar gravemente minha mão esquerda não é nada se
comparado o quanto o nosso País está sendo danificado, o quanto pessoas estão morrendo
pelo Brasil com culpa, mesmo que “indiretamente” do governo vigente. Aliás, esse
performer me inspirou muito na realização das pesquisas que ando me aprofundando onde
relaciono: dor real, dor imaginária, dispositivos de acionamento solo (corpo, objeto ou
corpo/objeto), jogo e performance.

A dor que sinto, no início, me assusta, as primeiras pancadas doem muito porque
eu não alivio o limite da força, eu sempre bato com todo o poder que eu posso. Ao longo
da ação a dor vai se diluindo e meu corpo vai entrando num estado de consciência (que
me faz lembrar muito os transes que Artaud propunha em seu Teatro da Crueldade) onde
a dor é secundária. Já se espalhou por todo o corpo e eu sentir aquela dor, penso, que faz
com que a plateia partilhe por empatia e reaja de algum modo, seja
interrompendo/participando da ação ou sentindo em si a própria dor que, ouso dizer, tão
forte quanto a dor física que sinto. É uma mistura de sensações! Eles, a plateia, sabem o
que estou sentindo, sabem o porquê estou fazendo, o grande desafio é: “Que atitude eu
devo tomar diante desses golpes?”. Nesse momento é que acredito acontece na prática o
poder da metáfora enquanto dispositivo acionador de um estado corporal no público.
Aquela imagem de alguém destruindo a própria mão é de fato aterrorizando (segundo
relatos) e se causa no público esse movimento interno onde o deixa desconfortável de
estar ali e não saber direito o que fazer “diante dos golpes”, mas que transpassa para o
próprio corpo e tira o mesmo da visão inerte daquele que assiste, já me dou por satisfeito!
Essa ação não poderia não ter a pedra, não poderia não ter a dor, não poderia ser apenas
a metáfora imagética e estática de um homem que bate num saco de pancadas. Essa ação
tinha que ter o potencial perturbador que tem, caso o contrário não atingiria eu o estado
de consciência que investigo diariamente em minhas ações, não se transmutaria em ação
interna no corpo do próprio público que se vê incomodado em estar inerte perante o ato e
não materializaria a opinião (que também é corpo!) visceral que eu, como artista, tenho
da situação em que colocaram o nosso País.
Concluindo, há muito o que investigar. Mas queria partilhar de algum modo
minhas sensações pois é, por enquanto , a única ação que realmente sinto medo todas,
veja bem: todas, as vezes em que realizo e que de fato (e esse é o risco o qual faz meu
corpo todo vibrar quando estou em estado performativo) não sei se acontecerá todas as
vezes, mesmo que eu esteja “acostumado” a realizá-la, pela potência que tem, não é
garantida a realização.

Forte abraço!

OutroLuiz.

Mairinque, 03 de Março de 2018

S-ar putea să vă placă și