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GENOCÍDIO/ETNOCÍDIO DOS ÍNDIOS DE SERGIPE, REAVIVAMENTO DOS

ÍNDIOS XOCÓ PELA LUTA DA TERRA E OS NOVOS DESAFIOS

GENOCIDIO/ETNOCIDIO DE INDIOS DE SERGIPE, EL AVIVAMIENTO DE LOS


INDIOS XOCÓ A TRAVES DE LA LUCHA POR LA TIERRA Y NUEVOS RETOS

Edimarôn de Oliveira Souza


edimaron@live.com
Universidade Federal de Sergipe

Bruno Ferreira de Oliveira


brunoliveiufs@hotmail.com
Universidade Federal de Sergipe

Patrick Willian Conceição dos Anjos


patrick.willian14@gmail.com
Universidade Federal de Sergipe
RESUMO
Este artigo tem como objetivo mostrar um breve histórico de como o processo de colonização
do estado de Sergipe contribuiu para o genocídio e etnocídio dos índios que ali se
reproduziam. Dentre os índios sergipanos será destacado com mais ênfase a atualidade dos
Xocó, uma vez que eles apesar de sofrerem expulsão de seu território e de terem sua
identidade negada, buscaram através da luta pela a terra sua autodenominação e identidade.
Apesar de muita luta para conseguir sua terra que representa um bem material e imaterial os
índios Xocó enfrentam diversidades como conseguir conciliar a cultura de seus antepassados
com o estilo de vida influenciado pelas comunidades próxima e principalmente as mudanças e
perdas de ganhos na nova proposta de lei a PEC 215.
Palavras-chaves: Índios Xocó, Luta pela terra, Identidade, desregulamento de leis.

RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo mostrar una breve historia de cómoelproceso de
colonización estado de Sergipe contribuyó al genocidio y etnocidio de losindios que no se
reprodujeron. Entre losindios sergipanos se resaltaránconmayorénfasisenlaactualidade de los
Xoco, ya que a pesar de sufrirlaexpulsión de suterritorio y tienensuidentidad negada, buscaran
a través de la lucha por latierrasuauto-designación y laidentidad.A pesar de mucha lucha para
conseguir sutierra que es una bientangibles y intangibleslosindios se enfrentan a Xoco
diversidades de conciliar la cultura de sus antepasadosconel estilo de vida influenciado por las
comunidades cercanas y especialmente, loscambios y laspérdidas de ingresosennuevoproyecto
de ley PEC 215.
Palabras clave: IndiosXoco, laidentidad de Lucha porlatierra, desregulación de leyes.
INTRODUÇÃO

A construção do mundo-moderno e colonial através da expansão do capitalismo


mercantil, se materializou tanto na América como na África com a sua apropriação territorial
em busca de matérias-primas que pudessem ser comercializadas na Europa. Esta por sua vez,
por imposição de todas as formas, procura subordinar os nativos, no caso do Brasil os índios.
Os índios brasileiros tanto do litoral, quanto no sertão do atual Nordeste sofreram
processo de expulsão, subjugação exploração e até morte. Muitos são os registros de morte de
indígenas, e total genocídioda grande maioria das etnias. Em Sergipe não foi diferente, pois o
processo de colonização a partir da segunda metade do séc. XVI causou a morte e extinção
praticamente de todos os povos indígenas.
Apesar da tomada de seu território e desenraizamento os Índios Xocó se fez
protagonista pela reconquista de sua terra através da luta pelo reconhecimento de sua
identidade com sua autoafirmação. Tiveram o reconhecimento de sua participação na
sociedade e por espaço para se mantiver e reproduzir em seu local de trabalho. A luta indígena
se, mantém recorrente, uma vez que as leis de proteção indígena sofrem início de
desregulamentação e perdas comoveremos a posteriori.
Esse trabalho tem o propósito de apresentar o processo de genocídio dos índios do
estado de Sergipe e em especial o estágio atual de reavivamento dos Xocó, no que concernem
as transformações socioespaciais que se materializam a partir do movimento de luta pela
reconquista da terra, sua emancipação territorial e persistência da cultura indígena,
aproximadamente quatro décadas após a retomada das terras. Através desse estudo busca-se
mostrar as relações sociais e de trabalho na comunidade, além das atividades que os mantém
como indígenas e as que não os caracteriza como tal, além da preocupação dos
índiossergipanos, como os do Brasil devido a projetos de mudanças de lei que afetam a
garantia ganhada com muita luta, representada pela PEC 215.
Esse trabalho insere-se no conjunto de atividades do grupo de trabalho do Programa de
Educação Tutorial, que desenvolve pesquisas sobre a luta pela terra no estado de Sergipe. A
escolha da comunidade indígena Xocó deu-se em virtude da importância de descortinar as
várias formas de ataque que o capital empreende aos diversos grupos sociais indistintamente.
Para sua produção, de início foram feitas revisões bibliográficas de livros e artigos que
abordam a luta por terra no Brasil e sobre o conflito por terra que envolveu a comunidade
indígena Xocó em Sergipe. Foi desenvolvido ainda trabalho de campo na comunidade para
realização de entrevistas com as lideranças da comunidade. Foram entrevistados o CaciqueBá
(Lucimário Apolônio Lima), e o Pajé Raimundo (Raimundo Bezerra Lima). A partir da
revisão bibliográfica e dos resultados obtidos com as entrevistas foram feitas análises e
discussões acerca da realidade e dos desafios da comunidade em questão por partes dos
pesquisados, para serem redigidas as considerações que são apresentadas nesse trabalho.

RESULTADOS PRELIMINARES

O empreendimento de expansão do capitalismo comercial através da busca de


especiarias nas Índias levou os portugueses chegaram a lugres desconhecidos, como a
América. Nesse contexto do século XVI ficou caracterizado com a exploração de extração do
pau-brasil com a exploração da mão de obra indígena. Iniciava-se aí o processo que
Wallerstain denominou de sistema mundo moderno, ou seja, essa relação entre a Europa e o
mundo, América, África e Ásia. Isso é o que mostra Costa, pois a Europa só conseguiu seu
destaque econômico, social e político graças a exploração do continente americano.

Na verdade, estamos diante da constituição de um mundo contraditório.


Afinal, não fosse a América com seus povos e suas riquezas tão importante,
não teria nenhum sentido a sua dominação pelos europeus. É a importância
do que é dominado, dos que são dominados, a razão de ser da nação; há,
sempre, o primado do dominante que, potencialmente, pode viver sem a
dominação, ao contrário do dominador, cuja potência é a dominação. Como
não há relação que não seja contato, não há dominação sem resistência, não
há dominação sem atrito. Afinal, é preciso tocar no que é dominado e atrito
está presente mesmo no fogo, contato. (COSTA, p. 20)

Costa deixa bem claro que o processo de colonização não se deu de forma passiva,
isso porque os colonizadores procuraram escravizar os índios e até mata-los, além de tentar
mudar seu modo de vida, a exemplo, da “domesticação” através da religião católica. Exemplo
disso é o caso do estado de Sergipe, já que a partir da segunda metade do século XVI
surgiramàs primeiras tentativas de “colonização”, no qual ficou marcado por diversos
conflitos entre os opressores portugueses contra os indígenas que ali se reproduziam. Há
registros feitos por Anchieta mostrando como os Tupinambás já sofriam perseguições dos
portugueses ascendendo ao ódio entres eles, como destaca Nunes:

Decorrente dessa perseguição e da investida predatória realizada contra as


aldeias indígenas, cresceu no Tupinambá do rio Real e de todo território
sergipano o ódio aos portugueses, o que os levaria a aliança com os
franceses (NUNES, 2006, p. 21.).
Outros autores se destacavam, os missionários, estes por sua vez catequisavam os
índios que lhes impunha a religião monoteísta cristã que era praticada na Europa, imposição
que interferia na identidade dos índios. Os missionários também ao ver tamanhas atrocidades
praticadas aos índios pela administração de Men de Sá, denunciavam ao que Anchieta a
chamou de caçada humana, que casou tanto sofrimento e morte. Por exemplo, a missão dos
jesuítas mantinham os índios em suas aldeias dando-lhes proteção e tomando posição oposta e
ferrenha contra a escavação daqueles povos, isso é claro gerando desavenças por meio dos
colonizadores e das autoridades portuguesas.
Muitos caciques e tribos foram obrigados a se agregar nas Missões em busca de
proteção como destaca Nunes:

Seguiram-se as missões de Santo Inácio, [...] as margens do Vasa-Barris


(provavelmente no local da cidade de Itaporanga), nas terras do cacique
Surubi, e a de São Paulo, “ junto ao mar”, a região do cacique Serigi. Nessas
aldeias adgregouse numerosa população indígena liderada pelos caciques
Serigi, Surubi e Aperipê. (NUNES, 2006, p.23)

Mesmo assim a proteção contra os indígenas não foram suficientes, uma vez que em
1575, Luís de Brito em seu projeto de colonização, destruíram as aldeias como desataca
Nunes:

Os silvícolas que não foram mortos fugiram para os sertões. Surubi morreu
na luta, Aperipê acabou para o interior, não sendo alcançado pelos seus
invasores, apesar de Luís de Brito ter mandado persegui-lo[...]” (NUNES,
2006, p.25).

Já no final do século XVI, Cristóvão de Barros, para abrir caminho de ligação entre
Salvador e Olinda através do território sergipano,segundo Nunes, ficou marcado por um
grande conflito fazendo com que mais de 2000 mil indígenas que eram comandados por
Baepeba fossem vencidos, além de aprisionar mais de 400 mil deles.
No início do século VXII, o litoral nordestino passa a produzir a cana de açúcar para
exportação, esta parte ficou de forma exclusiva para este fim, e a pecuária teve que procurar
áreas mais longínquas sertão à dentro, nas proximidades dos rios como afirma Andrade:

A penetração dos criadores de gado para o interior foi determinada por uma
série de fatores, como a necessidade de manter o gado afastado das áreas
agrícolas litorâneas; a ocupação holandesa, que acelerou ainda mais a
transferência de criadores de gado das áreas próximas à costa para o Sertão,
utilizando os rios, sobretudo o São Francisco, como condutos de penetração.
Com a expulsão dos holandeses, já era expressivo o povoamento do Sertão.
E grupos organizados haviam derrotado indígenas e conquistando áreas de
pastagem.
Esta expansão foi muito favorecida pelas condições naturais e econômicas.
Do ponto de vista natural, o clima semi-árido dificultava a proliferação de
verminoses e de epizootias; além disso, havia uma pastagem natural boa para
o gado, no período das chuvas, e “ilhas” úmidas nas margens dos rios e nas
serras para onde ele poderia ser levado no período seco. Do ponto de vista
econômico, contavam os pecuaristas com um mercado certo na área agrícola,
que seria abastecido de carne, de couro e de animais de trabalho; tinham
facilmente derrotando as tribos indígenas, depois de verdadeiro genocídio, e
confinado os vencidos em aldeamentos administrados por missionários que
procuravam sedentarizá-las. Os índios sedentarizados tornavam-se
produtores de alimentos e formavam uma reserva de força de trabalho que
podia ser recrutada pelos sesmeiros nas ocasiões em que necessitavam de
braços para os trabalhos agrícolas ou de auxiliares para combater outras
tribos.
As terras conquistadas aos índios eram doadas em sesmarias a pessoas
influentes com o governador-geral da Bahia ou como capitão-mor de
Pernambuco, fazendo com que algumas famílias se apossassem de grandes
extensões, verdadeiros latifúndios que compreendiam dezenas de léguas,
obrigando os verdadeiros povoadores, homens humildes que haviam
enfrentado indígenas e implantado pequenos currais, a se tornarem seus
foreiros. (ANDRADE, p. 46)

Como em todo o Sertão do Nordeste no qual aconteceu a expansão da pecuária, em


Sergipe não foi diferente, os índios que tinham suas tribos próximas aos rios, aqui em questão
o São Francisco, sofreram expulsão e morte, é o caso dos índios Xocós.
A questão da terra no Brasil é caracteriza pela desigualdade que se torna mais forte a
partir de 1850 com a Lei de Terras cujo propósito era garantir o direito a propriedade às elites
abastardas, a questão agrária de desigualdade no Brasil se aprofunda, agravando a vida dos
grupos sociais descapitalizados.
A transformação da terra em mercadoria foi o marco da entrada do capitalismo no
campo, esse sistema de posse de terra através da compra tornou-se causa da desigualdade no
acesso a terra nos fins do século XIX. A falta de recursos para adquirir sua própria
propriedade rural favorece a precarização do trabalho e dependência das classes pobres das
elites agrárias que concentram a maior parte das culturas (MARTINS, 1995, p. 103-124).
Nesse contexto, foram desconsiderados os índios e os negros. Foram todos colocados à
margem da sociedade sem direito a propriedade, tendo em vista que somente os detentores do
poder econômico passaram a ter a posse das terras. A integração dos índios a sociedade era
usada como argumento para retirar destes o direito a habitarem nas terras de seus
antepassados. Nesse contexto, foram desconsiderados os índios e os negros. Foram todos
colocados à margem da sociedade sem direito a propriedade, tendo em vista que somente os
detentores do poder econômico passaram a ter a posse das terras. A integração dos índios a
sociedade era usada como argumento para retirar destes o direito a habitarem nas terras de
seus antepassados.
No final do século XX, os Xocó que passaram pelo processo de desenraizamento e
perda de sua identidade procuram reavivar sua identidade através da luta pela terra, porém
sofreram argumentos de desqualificação, no qual afirmava que nada tinham de índios, pois
estespossuíam traços negros, além do índio sofrer perseguições e serem colocados como
“inferiores” sofreram com aquilo que Santos destaca como é encarado a vida do negro criada
na relações histórico social no Brasil:

Aqui, o fato do que o trabalho do negro foi, desde os inícios da história


econômica, essencial à manutenção do bem-estar das classes dominantes
deu-lhe um papel central na gestação e perpetuação de uma ética
conservadora e desigualária. Os interesses cristalizados produziram
convicções escravocratas arraigadas e mantêm estereótipos que ultrapassam
os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das
relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascenção, por menor que
seja, dos negros na escala social sempre deu lugar a expressões veladas ou
ostensivas de ressentimentos (paradoxalmente contra as vítimas)”
(SANTOS, 2000, p. 157).

A visão do negro no Brasil foi construída por inferiorizarão de sua raça pelos
europeus, isso para legitimar a sua escravidão, por isso historicamente o negro tem
dificuldade em ocupar lugar de igualdade na sociedade ainda hoje como afirma Santos:

Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser objeto de um olhar aviesado.
A chamada boa sociedade parece considerar que há lugar predeterminado, lá
embaixo, para os negros assim tranquilamente se comporta. Logo, tanto é
incômodo haver permanecido na base da pirâmide social quanto haver
“subido na vida.” (SANTOS, 2000, p. 161).

Em Sergipe, o Presidente da Província Amâncio João Pereira de Andrade fez um


levantamento sobre a população indígena no ano de 1853, na qual trazia:

Possuindo os índios de Porto da Folha e seus descendentes uma légua de


terras excedentes para a criação do gado não há ali uma só que possa notar
abastada, sendo todos esses indivíduos, que só chegam ao número de 260
pobríssimos e miseráveis [...] podem essas terras ser aproveitadas e
incorporadas aos Próprios Nacionais, podendo-se delas formar para o futuro
muitas fazendas de gado com crescido proveito para o futuro (Arquivo
Público do Estado de Sergipe, 1853, p. 243).

A carta mostrava o olhar da elite dominante destacando o preconceito dessa elite em


relação à presença da comunidade indígena Xocó na região de Porto da Folha/SE. Para essa
elite, os índios já haviam se mestiçado a ponto de perder a identidade indígena. O artifício
utilizado para retirar dos indígenas a posse da terra foi o aculturamento a que estes foram
submetidos, o que descaracterizavam os seus hábitos e seus costumes integrando-os a
sociedade através do emprego dessa população nas fazendas de criação de gado, na produção
do arroz e outras atividades que impunham o sedentarismo e a perda gradual das tradições
dessas comunidades.
No final do século XIX, a mudança do regime do governo imperial para o republicano
reforçou o poder da oligarquia rural, a qual poderia controlar e dominar as localidades com o
auxilio do aparato do governo e uso de violência. No Baixo São Francisco sergipano, os
fazendeiros iniciaram um processo de concentração de terras para criação extensiva de gado.
Eles foram avançando sobre as terras indígenas, empregando os habitantes em suas fazendas,
submetendo estes a descaracterização cultural. O coronelismo como forma de submeter à
população pobre ao controle dos detentores de poder apresentou-se em Sergipe de forma
violenta e autoritária. Na região em questão os fazendeiros com o uso exagerado da força
mantinham as comunidades sobre controle com o uso de força policial e milícias próprias
formadas por jagunços, que ameaçavam os empregados nas atividades das fazendas.
(DANTAS, 1999, p. 55).
No caso Xocó, o uso da violência se dava através de ameaças a vida das lideranças e
supressão dos hábitos culturais e religiosos, fazendo negar a própria identidade. O pajé José
Apolônio Raimundo relata que: “Porque a gente tinha vontade de brincar nossas cerimônias,
mas se dissesse que era índio eles matavam” (BOLETIM COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO-SP,
maio/junho de 1983, p.19).
Esse ambiente de tensão levou a comunidade indígena a organizar uma resistência e
luta pela retomada de suas terras, com o auxílio da Igreja Católica nas pessoas do Frei Enoque
pároco da região e o bispo de Propriá Dom José Brandão de Castro que se colocaram a frente
da luta, iniciada no ano de 1978. Todo imbróglio foi desencadeado por ocasião das eleições
locais na qual a família dominante não consegue a eleição do seu candidato que foi
amplamente rejeitado pelos índios Xocó. Entretanto, como forma de retaliação pela família
dominante, cerca de 20 famílias foram ameaçadas de despejo. Não tendo para onde ir, se
deslocaram para a Ilha de São Pedro e lá permaneceram durante uma batalha judicial em torno
da posse da terra. (Idem, 57-59).
O conflito se deu pela luta de comprovação que o território já pertencia aos ancestrais
dos próprios indígenas. Logo, a tradição passada de geração a geração dava conta que ainda
no século XIX, em uma das expedições de Dom Pedro II as margens do rio São Francisco, o
próprio Dom Pedro, ao tomar conhecimento da tribo, fez a concessão de uma área conhecida
como Caiçara e a ilha de São Pedro, desse modo o que a comunidade buscava era a
comprovação documental dessa posse. Logo, a justiça entendia que os próprios indígenas
perderiam o direito a terra já que se encontravam integrados a sociedades perdendo sua
identidade, por isso foi concedida a vitória aos fazendeiros. (Trabalho de campo, entrevista
com o CaciqueBá, em 10/04/2014).
Diante do perigo de desapropriação e com o apoio das lideranças religiosas, os
próprios índios solicitaram o apoio da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) que enviou uma
antropóloga chamada DelvairMellat. O trabalho da antropóloga era encontrar formas para
comprovar a identidade do povo indígena, o que foi feito a partir do levantamento
genealógico daquela população. “[...] quem fala por nós não é mais nossa pele não é o cabelo,
é o espírito que ainda existe dentro de nós. Por isso nós conseguimos nossa terra de volta [...]”
(Trabalho de campo, entrevista com o CaciqueBá, em 10/04/2014).
As famílias dos fazendeiros recorreram ao governo do estado para garantir a posse da
terra em litígio, mas as pressões exercidas pela FUNAI e pelo bispo Dom José Brandão levou
o governo a comprar a terra indenizando os fazendeiros, doado estas a União:

Pelo decreto nº 4530 de dezembro de 1979 o Governo do Estado de Sergipe,


sobre pretexto de reestabelecer a paz social desapropria a ilha de São Pedro.
Reconhece assim o direito de propriedades dos Brito, que receberam Cr$
2.400.000,00 pela ilha, que segundo decreto de desapropriação teria
aproximadamente 600 tarefas, quando na realidade tem apenas 309, 28
tarefas (96,75 ha). Observe-se que o decreto de desapropriação não faz
nenhuma alusão aos índios (BOLETIM COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO-SP,
maio/junho de 1983, P.17).

Após a entrada em vigor desse decreto, o advogado da FUNAI, Romildo Carvalho


conseguiu um acordo com os índios, que consistia em terem acesso a Caiçara para extração de
barro para fins de fabricação de utensílios em cerâmica. Em troca, não reivindicariam a posse
dessa área ficando instalado na ilha de São Pedro, com a proteção da FUNAI, auxílio médico
e administrativo na organização comunitária, sem a interferência do governo do Estado.
(BOLETIM COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO, 1983).
Para os índios Xocó a permanência na terra garante a sua perpetuação social étnica [...]
queremos a nossa terra, a mãe terra vai criar nossos filhos, nossos netos, tataranetos até a
última geração dos Xocó [...]. (Trabalho de campo, entrevista com o Pajé Raimundo, em
10/04/2014).
Logo após a reconquista da ilha no ano de 1993, a comunidade Xocó consegue provar
que a Caiçara também pertencia a eles. O governo de Sergipe decidiu por comprar a Caiçara e
entregar a administração aos índios Xocó.
Esta relação material e simbólica mesmo com todas as dificuldades, atualmente vem
sendo mantida pelos índios Xocó, uma vez que eles procuram através da natureza fazer seus
rituais, para reavivar sua cultura, sua identidade e seu povo.
Umas das preocupações mais atuais são os possíveis ataques às conquistas indígenas
através de legislação, uma vez que no ano de 2015 a PEC 215 foi aprovada na comissão da
Câmara dos Deputados. Esta por sua vez procura diminuir o número de novas demarcações de
terras indígenas, e passar essa atribuição que hoje é da FUNAI para o poder legislativo. Porém
os índios são contra, pois o legislativo brasileiro é composto por grandes defensores de
interesses do agronegócio, para os índios sergipanos o funcionamento de emenda
constitucional, faria com que os serviços de proteção e saúde saíssem da esfera federal
passado para municipal trazendo grandes perdas. Por isso em julho de 2016 índios sergipanos
e alagoanos ocuparam a sede da FUNAI em Maceió para protestar contra essas medidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de todo processo de destruição e sujeição que passaram os índios brasileiros,


em maior análise a questão dos índios Xocó em Sergipe, fica claro as modificações em suas
vidas, pois seu território, seu lugar, seu espaço histórico carrega uma série de influências no
seu ser, e sua formação. Pois aqueles que vivem em seus territórios tem uma grande relação
tanto material como imaterial como bem fala Costa:“o território é, sempre, também abrigo e
proteção. No caso da espécie humana, o território é abrigo e proteção em duplo sentido:
simbólico e material.” (COSTA, 2006, p. 13).
No território em questão, tomado pela organização da comunidade que tem uma
identidade forte vinculada ao modo de vida indígena, como se pôde observar em trabalho de
campo realizado em abril de 2014, nota-se a permanência dos valores culturais e a reprodução
da existência a partir da produção alimentícia. Observa-se que a área de plantio é utilizada
para a produção alimentícia, cujo intuito é suprir as necessidades daquelas famílias.
O território permite a retomada da identidade de seus moradores com suas raízes
genealógicas, revigoramento de seu modo de vida, reprodução/continuação de sua história
através das gerações futuras, ou seja, a ilha e a caiçara não são locais apenas de moradia, mas
de reprodução da identidade indígena. Segundo Ruy Moreira.

Decorre, então, que a formação espacial, na verdade a formação econômico-


social, deriva de um duplo conjunto de interações, necessariamente
articuladas: a) o conjunto das interações homem meio, erroneamente
denominadas "relações geográficas"; e, b) o conjunto das interações homem-
homem, as relações sociais. (...) Tais interações ocorrem simultânea e
articuladamente, sendo, na verdade, duas faces de um mesmo processo.
(1978, pp.7-8)

Nas observações feitas para realização deste trabalho pode-se destacar que a retomada
do território indígena dos Xocó permitiu a comunidade uma melhoria significativa em sua
qualidade de vida, a exemplo disso é a produção alimentícia que praticada em terras próprias
trás maior segurança à comunidade, e possibilidade de venda do excedente. Também cita-se a
qualidade das moradias, que se assemelham as residências comuns de alvenaria, com acesso a
toda infraestrutura possível como fornecimento de energia elétrica e água tratada, colégio e
posto de saúde. A aldeia por encontrar-se localizada próximo à outas localidades permite a
interação dos jovens com as novas tecnologias, como acesso a telefonia, internet e outros
meios de comunicação. Apesar disso, para as lideranças entrevistadas:

Chegando aqui já percebe a dificuldade de preservar a cultura, primeiro, o


mundo de fora está aqui dentro, porque tem umas comunidades que não é
aldeia indígena que é vizinha nossa e tem uns costumes diferentes e que o
nosso povo frequenta. Para controlar isso a juventude, dentro da nossa
cultura, dentro dos nossos costumes é uma dificuldade muito grande, porque
a cabeça dos jovens é diferente da cabeça do pajé. (Trabalho de campo,
entrevista com o CaciqueBá, em 10/04/2014).

Dessa forma, observa-se que há internamente uma consciência da necessidade de


manutenção dos valores indígenas.
Considera-se que a comunidade Xocó em Porto da Folha/SE, depois de passar um
longo processo de desenraizamento pela apropriação indevida de suas terras conseguiu unir-se
pelos laços de solidariedade e ajuda comunitária para reaver a posse do seu espaço de
reprodução social. Essa união comunitária é o fator que permite a permanência e
reavivamento da identificação da sua comunidade com a cultura indígena. Passados mais de
30 anos a comunidade que conta com cerca de 500 pessoas consegui manter-se unida em
torno da sua preservação, mesmo com o desafio de formar os jovens e mantê-los fieis a sua
cultura, livres das armadilhas do mundo moderno, como o perigo das drogas a preservação de
seus costumes e tradições religiosas como o Toré, e o Ouricuri e suas vestimentas próprias,
mantendo fortes relações com o catolicismo, em virtude da influencia da catequização e
espírito comunitário.
Mas o processo de luta do povo indígena se matem presente principalmente contra a
PEC 215 que vem passado por comissões da Câmara dos deputados em 2015, esta lei retira da
FUNAI o poder de demarcar novas terrasindígenas a partir de sua própria autonomia,
precisando do aval do poder legislativo, o que representa a interferência de setores ligados a
interesses de latifundiários e represente do agronegócio.
No caso dos índios Xocó a maior problemática se dá no fato de a atuação da garantia
de proteção, preservação e atendimento médico hospitalar passar da esfera federal para
municipal. Caso ocorra a municipalização toda a estrutura de apoio e assistência indígena
corre o risco de ser sucateada e o serviço deteriorado com autonomia, nesse caso
representando uma eventual omissão do Estado brasileiro a respeito da população indígena.

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