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XIV ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS

GT: EPISTEMOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO

REPENSANDO CONCEITOS NO ESTUDO DA DINÂMICA DA


CULTURA MIDIÁTICA CONTEMPORÂNEA

Lavina Madeira Ribeiro

CURRÍCULO RESUMIDO:

Professora Adjunta, da Faculdade de Com unicação da Universidade de Brasília - UnB.


Mem bro do Colegiado do Programa de Mestrado e Doutorado, na linha de pesquisa
Comunicação e Política . Editora da revista do Program a de Pós- Graduação em
Com unicação da UnB, intitulada Com unicação e Espaço Público . Pós- doutoranda junto à
ECO/ UFRJ, com Projeto de Pesquisa intitulado Im agens do Brasil na Televisão Fechada
Brasileira Autora de inúm eros artigos e com dois livros lançados em m aio de 2004,
Im prensa e Espaço Público A Institucionalização do Jornalism o no Brasil 1808- 1960, RJ,
E- Papers, 384p. e Ensaios sobre Com unicação, Cultura e Sociedade Debates
Contemporâneos, RJ, E- Papers, 364p.

RESUMO

Este ensaio reflete sobre conceitos- chave para a com preensão da


dinâm ica da cultura m idiática contem porânea, Entre eles, os conceit os de
hibridismo e de desterritorialização. Releva ainda a força form at iva da
autoridade científica na form ação de consensos e na garantia de segurança
ontológica. Além disso, reflete sobre a crescent e autonom ia institucional
da m ídia na conform ação de padrões identitários e delim itação da noção
de sujeito na contemporaneidade e aponta os novos elementos emergentes
na configuração destes padrões.
2

REPENSANDO CONCEITOS NO ESTUDO DA DINÂMICA DA


CULTURA MIDIÁTICA CONTEMPORÂNEA - Reflexões Teórico -
Metodológicas

O estudo da prem issa acerca da im portância da m ídia na form ação de


identidades, com portam entos e sociabilidades requer, com o fundam ento, no
âmbito de uma perspectiva reflexiva, teorias que contenham conceitos capazes de
abarcar as variáveis da dinâm ica cultural contem porânea. Dois conceitos, em
particular, são enunciados por Martín- Barbero1 como centrais: o de hibridismo e o
de desterritorialização.

O conceito de hibridism o tem sido recorrente em m uitos autores com o


elem ento qualificador da natureza dos fenôm enos culturais contem porâneos.
Entre estes autores, Hom i Bhabha lhe confere atenção e relevo significativos, ao
ponto de considerá- lo central para a com preensão desses fenôm enos. Segundo
ele, o hibridism o cultural em erge a partir de um a negociação com plex a 2 da
diferença onde o que se obtém com o provisoriam ente hegem ônico resulta da
própria produção da diferenciação. O híbrido advém de intervenções , que
partem dos m ais diferenciados setores da vida social, pensadas aí,
necessariamente, as minorias de toda natureza.

A noção de hibridism o, para o autor, está relacionada a um processo m ais


am plo, que dialoga frontalm ente com o conceito de tradição. Este é o locus onde
se dá o confronto entre o hegem ônico e o periférico, a tradição e a m odernidade,
o público e o privado, entre tem poralidades passadas e atuais. O m ovim ento do
processo não perm ite m ais que se im agine um a ex periência cultural livre de
elem entos diferenciados quanto à sua origem histórica e social. Vale reproduzir
aqui a descrição que H. Bhabha faz da dinâm ica do que entende com o um
perm anente em bate cultural :

1
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo Travessias Latino-Americanas da Comunicação na
Cultura. SP, Edições Loyola, 2004. Ao comentar as mudanças na cultura contemporânea ele afirma:
mudanças que nos confrontam com uma acelerada deterritorialização das demarcações culturais e com
desconcertantes hibridizações nas identidades . P.209.
2
BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1998, p. 21.
3

Os term os do embate cultural, seja através de antagonism o ou afiliação,


são produzidos performativam ente. A representação da diferença não deve ser
lida apressadam ente como reflex o de traços culturais ou étnicos
preestabelecidos, inscritos na lápide fix a da tradição. A articulação social da
diferença, da perspectiva da m inoria, é um a negociação com plex a, em
andam ento, que procura conferir autoridade aos hibridism os culturais que
em ergem em m om entos de transform ação histórica. O direito de se ex pressar
a partir da periferia do poder e do privilégio autorizados não depende da
persistência da tradição; ele é alim entado pelo poder da tradição de se
reinscrever através das condições de contingência e contrariedade que
presidem sobre as vidas dos que estão na m inoria . O reconhecim ento que a
tradição outorga é uma forma parcial de identificação. Ao reencenar o passado,
este introduz outras tem poralidades culturais incom ensuráveis na invenção da
tradição. Este processo afasta qualquer acesso im ediato a um a identidade
original ou a um a tradição recebida . Os em bates de fronteira acerca da
diferença cultural têm tanta possibilidade de serem consensuais quanto
conflituosos; podem confundir nossas definições de tradição e m odernidade,
realinhar fronteiras habituais entre o público e o privado, o alto e o baix o,
assim como desafiar as ex pectativas norm ativas de desenvolvim ento e
progresso. 3

Esta forma de descrever o processo cultural contemporâneo opera de forma


m uito sem elhante àquela elaborada por Raym ond William s, no âm bito de sua
proposta de um a teoria m aterialista da cultura, cujos term os fundaram o que veio
a ser cham ado de estudos culturais. Apesar de Hom i Bhabha não fazer qualquer
referência a William s, a filiação é evidente. Em am bos os autores, o eix o do
processo se fix a no conceito de tradição, enquanto força hegem ônica que
perm anentem ente se confronta com incursões advindas dos m ais diferenciados
setores da vida cultural e cujo resultado não perm ite m ais que se entenda esta
tradição com o algo ileso, incólum e às forças interventoras que com ela convivem .
Assim , tradição não é algo cristalino, m as altam ente com plex o em suas
articulações internas, feitas de elem entos diferenciados, m uitas vezes opostos e
conflituosos, outros, complementares e consensuais.

A idéia da ex istência de um centro de poder e privilégio, hegem ônico em


relação a uma periferia que busca autorização de trânsito no âmbito deste núcleo,
é bastante sim ilar ao uso que William s faz nos term os de sua teoria cultural. Um a
hegem onia, conform e R. William s, é um processo e não um sistem a ou estrutura

3
Bhabha, Homi K. Op. Cit. Pp. 21 e 22.
4

estáticos. Com o algo processual e intencional, um a hegem onia exerce pressões e


estabelece lim ites correlatos aos processos norm ais da organização e do
controle social nas sociedades desenvolvidas 4 . Um a hegem onia cultural é, neste
sentido, um processo básico constitutivo da sociedade e não apenas
superestrutural, associado a um a área de realidade m uito m aior do que as
abstrações da ex periência social e econôm ica 5 e que para ser central, efetiva e
dom inante, deve abranger, incluir, form ar e ser form ada a partir desta área total
da ex periência vivida . Assim , conform e o autor, grande parte da produção
cultural contem porânea, em suas form as diversas, com o a arte, o entretenim ento,
o lazer, o consum o, a produção intelectual em geral das sociedades capitalistas
avançadas, passam a ter um terreno teórico próprio, sem a necessidade de
submeter- se - m ediante procedim entos analíticos ligados às noções de reflex o,
m ediação e hom ologia - às determ inações estritas das atividades econôm icas e
políticas.
O m esm o se dá com relação às classes sociais. O hegem ônico ultrapassa a
diferença de classes e este conceito tem força relativa no processo incorporativo
de um a hegem onia dada. Um processo hegem ônico conform e R. William s, é
sim ultaneam ente dom inante m as não coincide com a totalidade das práticas
culturais, há aquelas que lhe são opostas e alternativas. O autor alerta,
entretanto, para o fato de que tais oposições e alternativas som ente em parte
podem ser atribuídas aos interesses de classes dom inantes ou não dom inantes.
Além disso, no âm bito da cultura dom inante e efetiva há um processo central de
incorporação que, se por um lado adapta e reinterpreta práticas alternativas e
oposicionais de acordo com o seu sistem a significante dom inante, ao m esm o
tem po não o faz de m odo ex austivo, ou seja, não as desfigura ao ponto de
retirar- lhe a sua origem de classe e um a relativa autencidade. Este processo de
incorporação é, portanto, em grande m edida, contraditório, flex ível e com plex o.
Ele com preende não apenas as flutuações das relações de classe. Segundo o
autor, somente em parte, pode- se relevar a variável da diferença de classes. 6

4
WILLIAMS, Raymond. Marxismo y Literatura. Barcelona, Península 1980, p. 132.

5
Idem p. 133.

6 No que se refere, por exemplo, à emergência de novas práticas e significações culturais, o autor afirma que
este processo complexo, em parte, pode ser descrito em termos de classe. Mas, sempre existe outra
consciência e outro ser social que é negado e excluído: as percepções alternativas dos outros dentro das
relações imediatas; as percepções e práticas novas no mundo material. Na prática, são qualitativamente
diferentes dos interesses articulados e em desenvolvimento de uma classe nascente. As relações entre as duas
fontes do emergente a classe e a área social (humana) excluída não são de modo algum contraditórias.
Em algum momento podem manifestar-se sumamente próximas e as relações que mantêm entre si depende em
5

Um a hegem onia cultural sim ultaneam ente ex erce e sofre pressões e


lim ites, esta é a definição m ais apropriada, segundo R. William s, para o conceito
de determ inação. Ela ao m esm o tem po deve ser continuam ente renovada,
recriada, defendida e m odificada , com o é continuam ente resistida, lim itada,
alterada e desafiada por pressões que de m odo algum lhe são próprias. 7 Há
sem pre elem entos, iniciativas, contribuições, forças e form as ex ternas aos seus
term os, que podem ser denom inadas de contra- hegemonias (quando
oposicionais) ou de hegem onias alternativas , cujas pressões e lim ites ex igem
prontidão constante do principal m odo de atuação de um a hegem onia cultural,
ou seja, do seu m ecanism o incorporador destes elem entos. Conform e R.
William s, la parte m ás difícil e interesante de todo análisis cultural, en las
sociedades com plejas, es la que procura com prender lo hegem ónico en sus
procesos activos y form ativos, pero tam bién en sus procesos de
transformación. 8

Assim , am bos os autores apresentam um terreno teórico- metodológico


sofisticado e aberto. Pertinente e elástico o suficiente para a com preensão das
form as particulares com o se articulam os elem entos díspares que com põem o
caldo cultural contem porâneo. Assim , com pleta H. Bhabha, o presente não pode
m ais ser encarado sim plesm ente com o um a ruptura ou um vínculo com o
passado e o futuro, não m ais um a presença sincrônica: nossa autopresença m ais
im ediata, nossa im agem pública, vem a ser revelada por suas descontinuidades,
suas desigualdades, suas minorias. 9

O hibridismo cultural corresponde, no âmbito da perspectiva de Williams,


ao seu conceito de tradição seletiva . Lem bre- se aqui, em particular, aquelas
passagens de Bhabha, onde ele afirm a que a tradição é o elem ento central, que
outorga identificações particulares, que reencena o passado e, neste sentido,

grande parte da prática política (...) o que importa em relação à compreensão da cultura emergente (...) é
que nunca é somente uma questão de prática imediata; na realidade depende fundamentalmente do
descobrimento de novas formas ou de adaptações de forma. 6 Idem, p. 134.
7
Idem p. 134.

8
Idem p.135.

9
BHABHA, Homi K. Op, cit., p. 23.
6

é continuam ente inventada . 10 Ela é o eix o onde ocorre a reinscrição de nossa


com unalidade hum ana . Tam bém se assem elham os dois autores, quando
Bhabha diz que o novo não é parte do continuum de passado e presente. Ele, o
trabalho fronteiriço da cultura, cria um a idéia do novo com o ato insurgente de
tradução cultural . 11 Esta descrição corresponde ao conceito do em ergente em
William s, algo até então inex istente, novo e que ex erce pressões sobre o
ex istente em busca de tradução e reconhecim ento. Estes processos criam ,
segundo Bhabha, um espaço cultural híbrido que surge contingente e
disjuntivamente .

Há um a latente am eaça de totalização na concepção da cultura com o


sinônim o de hibridez. Pois que nada escapa à sua esfera de atuação e, desta
form a, todo elem ento cultural contem porâneo contém o atributo de hibridism o.
Para Hom i Bhabha, o negro sul- africano é um ex em plo de hibridism o cultural. Se
assim o for, toda a população brasileira, há séculos, carrega intrinsecam ente a
condição de hibridism o. Isto se torna particularm ente problem ático quando se
tem a finalidade de com preender em piricam ente um dado processo cultural
tem poral e espacialm ente delim itado. Pois que o conceito de hibridism o
obscurece a visibilidade dos m odos com o a tradição é reinventada, vela a
clareza da diversidade de elem entos que sobre ela ex ercem lim ites e pressões
e as form as particulares de convívio destes elem entos no interior da dinâm ica
cultural que tanto os incorpora, m odifica e transform a, com o tam bém sofre os
mesmos processos.

Do ponto de vista da delim itação de um a perspectiva de análise dos


processos culturais, vale ainda dar relevo àqueles conceitos de R. William s que
participam da dinâm ica cultural, quais sejam , o de em ergente, alternativo,
residual e hegem ônico. A tradição seletiva, m esm o que traga o atributo da
hibridez, por um lado, não pode ser confundida com a noção da ex istência de
um a ordem tradicional no sentido histórico, por outro, deve ser entendida com o
o lugar do hegem ônico e com o o m ecanism o operativo das transform ações
contínuas da ex periência cultural. Fica a indagação se ainda é pertinente o uso
do conceito de tradição com o m ecanism o operativo desta dinâm ica cultural ou

10
BHABHA, Homi K. Op, cit., p. 23, citando aqui novamente a passagem onde o autor diz: O
reconhecimento que a tradição outorga é um a form a parcial de identificação. Ao
reencenar o passado, este introduz outras temporalidades culturais incom ensuráveis na
invenção da tradição . Pp. 21-22..
11
Idem, p. 27.
7

se a proposta do uso do conceito de hibridism o, assim com o disposta por


Bhabha, é mais apropriada e atual.

Deve- se, entretanto, considerar que o uso do conceito de hibridism o é


mais apropriado enquanto atributo de um processo do que como seu mecanismo
operativo central, ou seja, quando aplicado à qualificação de determ inados
processos culturais onde haja um a m istura de elem entos de origens diferentes.
Ele pode ser um atributo central num a dada hegem onia cultural de um dado
contex to histórico e social, m as não o seu m ecanism o operativo. Um a análise da
program ação das televisões fechadas no Brasil revela o quanto é problem ático
operar com o conceito de hibridism o em certas produções cujos elem entos não
têm características de hibridização.12

Outro conceito que está m uito em uso com o form ativo da cultura
m idiática é o de desterritorialização . A desterritorialização pode tam bém , nas
m esm as circunstâncias, ser m ais um atributo im portante desta hegem onia dada,
com profundas im bricações com o conceito de hibridism o. O que se deve levar
em conta no trabalho com estes conceitos é o lugar de onde se concebe um
dado construto teórico- m etodológico. Isto porque, na atualidade, diante de um
processo histórico ex trem am ente diferenciado e descom passado em cada região
do m undo, nos diferentes continentes, países, e, m esm o, internam ente a estes,
já não é m ais possível fix ar um estatuto conceitual único que possa ser aplicável
em qualquer realidade em piricam ente dada. Pelo contrário, é esta realidade que
fornece os parâmetros para a recorrência aos conceitos.

Assim , por ex em plo, pode- se ter, num dado recorte espaço- tempooral,
um a situação cultural onde o conceito de tradição ainda rem eta à sua acepção
clássica, dentro da habitual oposição entre o tradicional e o m oderno. Já em
outro recorte, este conceito de tradição deve ser pensado com o um a instância
relativam ente consolidada de práticas e valores, hegem ônica em relação a outras
práticas e valores em ergentes e periféricos, m as de contorno correlato a um a
condição, por ex em plo, de um a m odernidade tardia, ou de um a alta
m odernidade, ou m esm o, com o denom inam alguns, de um a pós- modernidade.
Entende- se que por m ais internacional e globalizante que sejam os flux os atuais
de com unicação, eles ainda precisam integrar- se a um a referencialidade

12
Exemplo disso pode ser verificado em vários programas da Sesc TV STV, Net Brasil, onde são
apresentadas entrevistas com músicos, escritores e artesãos de regiões diversas do país com trabalhos
baseados numa cultura basicamente local, popular, que não tem elementos da cultura midiática.
8

construída a partir de elem entos particulares ao contex to local, cujas origens,


em grande m edida, estão situadas no m odo particular de desenvolvim ento
histórico das suas instituições e valores e de suas práticas discursivas. Nas
sociedades com plex as, o conceito de tradição já perdeu suas feições clássicas, é
tradição apenas enquanto aquilo que concerne a um acervo tem atizado e
hegem ônico de práticas culturais cujos elem entos têm relação com um
continuum de experiências historicamente construídas.

Pensar o processo cultural contem porâneo requer tam bém pensar a


questão da identidade e de seus m ecanism os form ativos. Segundo Martín-
Barbero, é o m ercado capitalista que pressiona no sentido da form ação de
identidades locais. Segundo o autor, a identidade local é assim levada a se
transform ar em um a representação da diferença que possa fazê- la
com ercializável, ou seja, subm etida ao turbilhão das colagens e hibridações que
im põe o m ercado 13 A identidade, para Barbero, está vinculada à noção de lugar,
pois o lugar significa nossa ancoragem prim ordial: a corporeidade do cotidiano
e a m aterialidade da ação, as quais são a base da heterogeneidade hum ana e da
reciprocidade, form a prim ordial da com unicação. Pois, ainda que atravessado
pelas redes do global, o lugar continua sendo feito do tecido e da prox im idade
dos parentescos e vizinhanças. (...) Quebrar toda dependência local é ficar sem a
indispensável perspectiva tem poral (...) agora entram os em um tem po esférico
que, ao desrealizar o espaço, liquida a m em ória, sua espessura geológica e sua
carga histórica. 14 Assim , para o autor, a identidade hoje está destituída de carga
histórica e de reciprocidade, por força da econom ia capitalista global e do que
ela acarreta em termos de volatização das noções de tempo e espaço.

Esta form a de lidar com as m udanças contem porâneas nas noções de


espaço e tem po, por m ais que tenha efetivo respaldo do ponto de vista da
inegável presença da lógica ex pansionista do capital m undial, não esclarece, no
âm bito de um a análise em pírica, os m odos particulares com o se articulam
sentidos, práticas e valores culturais. De certa form a, este tipo de leitura da
noção de identidade leva à sua própria dissolução. A identidade deix a de ex istir
enquanto elem ento form ativo do senso de realidade e pertencim ento dos
indivíduos. Mais um a vez é preferível pensar nos term os da dinâm ica proposta
por William s, porque, por m ais provisória, instável e m utante que seja um a dada

13
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Op. Cit. P. 268.
14
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Op. Cit. P. 269-270.
9

hegemonia cultural, ela ainda é o ancoradouro da noção de identidade. O sentido


do histórico, por m ais que se desvincule de fix ações estáveis da m em ória
nacional, ainda perm anece, m esm o que em níveis m ais restritos, abstratos e
complexos de desenvolvimento.

O conceito de identidade concerne essencialm ente ao conceito de


público . Vale retom ar as reflex ões de Haberm as sobre o processo de form ação
da esfera pública m oderna, dado que foi a partir deste ponto histórico que se
desencadeou o m ecanism o operativo da dinâm ica cultural contem porânea. Em
especial, o m om ento em que Haberm as descreve o m odo de conform ação da
esfera pública literária como um processo de aprendizado e de auto- tematização
da ex periência que levou a um crescente m ovim ento de emancipação
psicológica .

Conform e Haberm as, o público, a partir da era m oderna, busca a


m aioridade do seu desenvolvim ento intelectual através da crítica, com o um a
pedagogia para o seu esclarecim ento, num processo de Ilum inism o: só
m ediante a apropriação crítica da filosofia, da literatura e da arte é que tam bém
o público chega a se esclarecer, até m esm o a se entender com o processo vivo de
Iluminismo. 15 Há um a intenção de auto- entendimento 16 , um processo de
auto- esclarecim ento se estendia para além do círculo de conversações públicas,
enfatizando a continuidade supratem poral do processo de ilum inação
recíproca . Lugar onde o público é o próprio objeto da literatura: o público que
lê e com enta tem aí a si m esm o com o tem a . Haberm as ex plica a natureza dessa
tensão entre o público e o privado com o ex pressão de um am plo processo de
em ancipação psicológica, econôm ica, cultural e, posteriorm ente, política, de
indivíduos que a partir da clara delim itação de um a esfera de ex istência pública,
têm , na esfera privada, tam bém um a nova form ulação evidenciada por oposição
e ex igida por necessidade do próprio processo histórico de desenvolvim ento
sócio- econômico.

Identidade e sujeito são conceitos que ainda perm anecem na


pauta da reflex ão contem porânea. Há um esforço significativo de parte da
sociologia reflex iva no sentido de redelim itar o perím etro do sujeito na

15
HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública. RJ, Tempo Brasileiro, 1984, p. 58.
16
Idem, p. 59.
10

contem poraneidade, e isto vincula- se, sobrem aneira, à busca sim ultânea dos
contornos das identidades possíveis.17 As instituições m idiáticas já se
desenvolveram ao ponto de terem seu próprio sistem a de produção de sentido,
de valores, com portam entos e práticas. Num processo que resulta em forte
padronização de estilos de vida e form as de concepção da realidade. Isto leva à
form ação de identidades ancoradas em m odelos produzidos articuladam ente
pelos diversos sistem as de com unicação e que tendem a generalizar consensos
sobre tematizações levadas à esfera pública midiática. Nestes termos, a noção de
em ancipação psicológica realizada na interação com a esfera m idiática, sofre
das lim itações próprias à natureza destes consensos provisória e continuam ente
criados, mantidos e transformados.18
Para autores com o Anthony Giddens, a identidade se ancora
sobretudo no que ele denom ina de colonização do futuro 19; onde o passado se
apresenta com o objeto a ser reinventado , nos lim ites internos de
desenvolvimento dos seus sistemas abstratos de conhecimento.

Ele am plia ao m áx im o a esfera pública da vida social, através do que


cham a de sequestro da ex periência , ou seja, um processo produzido pelas
instituições sociais que traduz em term os técnicos as questões m orais básicas
inerentes à condição hum ana (sex ualidade, loucura, m orte, crim inalidade, doença
e natureza). Esta é a dim ensão de vigilância e de controle das instituições
sociais sobre as práticas e auto- representações dos indivíduos, a qual consiste
em garantir aos indivíduos as bases de sua necessária segurança ontológica ,
responsável pela adm inistração das crises ex istenciais individuais, pela
consolidação de um a perm anente confiança nos sistem as abstratos, pelo
desencadeam ento da agência hum ana e aceitação da realidade.Isto cria um a
esfera de influências sociais em parte incontrolável pelos indivíduos e em parte
apropriável por eles e sujeita a redefinições, num m ovim ento que ao m esm o
tem po confere poderes aos indivíduos para o gerenciam ento de suas trajetórias e
lhes nega a possibilidade de vivenciar seus impasses morais dentro de um campo
interpretativo diversificado.

17
Neste âmbito é de particular interesse o diálogo de Touraine: TOURAINE, Alain, KHOSROKHAVAR,
Farhad. A Busca de Si: Diálogo sobre o Sujeito. RJ, Bertrand Brasil, 2004.
18
Para uma leitura mais aprofundada sobre o processo consensualizador da mídia, ler MATTELART,
Armand e MATTELART, Michele. Pensar as Mídias. Ed. Loyola, SP, 2004. Em especial o capítulo
intitulado O Retorno do Sujeito .
19
GIDDENS, Anthony. Modernity and Self-Identity. Cambridge, Polity Press, 1992.
11

As instituições de com unicação sustentam , de form a hegem ônica e


ex austiva, a tem atização da vida cotidiana com base nestes sistem as abstratos,
em especial, no discurso científico. Esta é, por ex celência, a fala autorizada no
âm bito da publicidade m idiática para legitim ar e consolidar m odelos de
sociabilidade e de interação social e, portanto, de formação de identidades.

Para Giddens, o conhecim ento científico tem substituído a tradição no


m ovim ento de busca dos indivíduos por fontes de segurança ontológica. A
insegurança gerada pelas transform ações sociais e suas rupturas de estruturas
tradicionais é enfrentada pela absorção de sistemas abstratos de conhecimentos
teorias, conceitos e descobertas que, apesar de voláteis, m antém níveis
aceitáveis de segurança e ordem . Segundo Giddens, em todas as sociedades, a
m anutenção da identidade pessoal, e sua conex ão com identidades sociais m ais
am plas, é um requisito prim ordial de segurança ontológica 20. As sociedades
atuais, enquanto sociedades pós- tradicionais, enfrentam as incertezas da vida
incorporando o conhecim ento especializado desde o âm bito m ais íntim o da vida
privada àquele das instituições sociais. Esta apropriação se im pregna na
ex periência da vida cotidiana, nos estilos de vida e na esfera do trabalho. Por
m ais que a ciência não possa ser inconteste em sua autoridade ex plicativa, ela se
desdobra em sistem as especialistas, segundo Giddens, abertos e alternativos,
que são incorporados e desincorporados na relação dialética com os estilos de
21
vida.

Esta concepção da reflex ividade ancorada em sistem as especialistas é uma


afirm ação categórica com am bição ex plicativa sobre os m ecanism os operativos e
dinam izadores da vida social. Assusta, de certo m odo, crer que esta dinâm ica
tenha, com o recurso central, sistem as científicos cujos critérios evolutivos nem
sem pre respeitam lim ites éticos e hum anistas. Se, para Giddens, a ciência, os
sistem as abstratos, a tecnologia têm papel central na ex periência, no m odo
sobretudo com o indivíduos leigos se atualizam sobre questões de relevância
pessoal e pública, ao que tudo indica, ele se baseia em evidências advindas, seja
do m odo com o o m undo sistêm ico, econôm ico e tecnológico absorve suas crises,

20
BECK, U., GIDDENS, A . LASH, S. Reflexive Modernization - Politics, Tradictions and Aesthetics in the
Modern Social Order. California, Stanford University Press, 1994. p. 100.
21
Idem, p. 112. Segundo Giddens, o mais importante de tudo é que a confiança nos sistemas abstratos está
ligada a padrões de estilo de vida coletivos, eles próprios sujeitos a mudança. (...) Nas sociedades modernas
as escolhas de estilo de vida são ao mesmo tempo constitutivas da vida cotidiana e ligadas a sistemas
abstratos (...) As alterações nas práticas de estilo de vida podem se tornar profundamente subversivas dos
sistemas abstratos centrais.
12

com o diz Haberm as, auto- aplicando retroativam ente procedim entos resultantes
de suas próprias leis internas, sem prestar contas às repercussões de seus
sistem as funcionalm ente diferenciados para setores m ais am plos da sociedade,
seja em razão do recurso ao conhecim ento científico com o fonte legitim adora da
discursividade pública política e com unicativa, por m ais provisórios, parciais e
superficiais que sejam os termos deste recurso.22
Giddens vê um m ovim ento dialético entre sistem as abstratos e estilos de
vida, onde alterações nestes últim os têm repercussões sobre os prim eiros. Até
que ponto, entretanto, os estilos de vida estariam preponderantem ente
comprometidos com os referenciais destes sistemas? O conhecimento especialista
já teria im pregnado todas as esferas daqueles conjuntos articulados de práticas,
valores, com portam entos, gostos, saberes, escolhas e ex periências próprias dos
estilos de vida de um grupo ou de um a classe? Esta questão é im portante porque
pode subsum ir a própria política aos sistem as especialistas e envolver as
instituições de com unicação com o instâncias vitais na legitim ação destes
sistem as. Além disso, os estilos de vida refletiriam distinções sociais23 cultivadas
pelos próprios sistem as especialistas, entre os quais, as instituições de
comunicação.

Há, entretanto, m ovim entos identitários em ergentes e significativos no


interior da cultura m idiática que fogem à alçada da ciência e da tecnologia com o
fonte de legitim ação de práticas e valores. Um deles são os m ovim entos de
minorias, conflitos de gênero, raciais, familiares e outros cujos avanços não foram
baseados em critérios de legitim ação científicos, m as essencialm ente em
parâmetros éticos, culturais e políticos. 24
Outro elem ento im portante na form ação do caldo das identidades
contem porâneas e das noções de sujeito e cidadania, está na presença, cada vez

22
Em ensaio sobre a noção de risco , Giddens refere-se, em várias passagens, à atitude dos governos
justificando suas políticas com base em dados científicos e às escolhas dos indivíduos também baseadas em
informações desta natureza. Ver GIDDENS, Anthony. Mundo em Descontrole O Que a Globalização Está
Fazendo de Nós. RJ, Record, 2000, pp 40-41. Vide HABERMAS, Jürgen. A Constelação Pós-Nacional
Ensaios Políticos. SP, Littera Mundi, 2001.
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Há um longo trabalho no âmbito da sociologia da cultura que explora a dinâmica dos estilos de vida
baseada na noção de distinção social de Pierre Bourdieu. Neste aspecto, ver FEATHERSTONE, Mike.
Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. SP, Studio Nobel, 1995.
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Mesmo valendo-se da oposição tradição-modernidade com a qual Giddens analisa a questão, por exemplo,
da família e seus novos desafios na atualidade, ele próprio não recorre a fontes científicas para apontar os
indicadores das transformações neste ambiente. Os critérios aqui são baseados no debate sobre igualdade de
direitos, sobre o eco de valores dem ocráticos nos relacionam entos fam iliares. GIDDENS,
Anthony. Mundo em Descontrole O Que a Globalização Está Fazendo de Nós. Op. Cit.
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m ais ex pressiva e recorrente, do sujeito anônim o com o lugar onde se dá algo


posterior às noções de desterritorialização e de interatividade. O sujeito anônimo,
desconhecido, vem cada vez m ais a público ex por, das m ais variadas m aneiras,
seu m odo particular de interagir com o m undo, de form ar valores e encontrar
soluções para os confrontos da vida em sociedade.25

Neste âm bito, o sujeito anônim o participa do processo identitário m idiático


no m esm o patam ar das autoridades científicas e do universo das celebridades
artísticas e políticas. Algo além da noção clássica de desterritorialização ocorre,
porque ele não apenas entra em contato virtual, im agético com novos espaços e
tem pos históricos, ele adentra concretam ente estes espaços e interage
fisicam ente com eles. O que resulta num a form a m ais com plex a de
desterritorialização, cujos resultados não necessariam ente im plicam um a
hibridização cultural. Além disso, se descortina am bientes, cenários e
ex periências dos padrões culturais contem porâneos a partir da form a com o os
receptores os experimentam.
Isto revela um a série de novas variáveis para a com preensão da força
form ativa destes padrões, pois estas varáveis participam das negociações de
sentido e das transform ações destes padrões. A m ídia tem encontrado na
ex periência do sujeito anônim o um a fonte inesgotável de renovação de seus
processos produtores de sentido, com resultados que podem vir a reforçar,
modificar e extinguir padrões oriundos de outras fontes identitárias hegemônicas.

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Refere-se aqui a um conjunto de programas onde pessoas anônimas são os principais agentes. Reality shws,
programas humorísticos que expõem pessoas desconhecidas, transeuntes e outros a situações inusitadas e se
valem de suas reações, opiniões e valores. Programas onde famílias são deslocadas de suas casas e convivem
por dias em comunidades de uma região bem distante do país de origem, que experimentam efetivamente a
diferença cultural, a alteridade e buscam formas de convívio comum. Publicidades institucionais do governo
brasileiro que recorrem a trajetórias particulares de indivíduos como exemplos de brasilidade e de identidade
nacional, cujo refrão diz que o brasileiro nunca desiste . Programas onde pessoas são convidadas a
aprenderem ofícios díspares daqueles a que pertencem, que expõem as transformações incorporadas por estes
indivíduos na assimilação de códigos diferenciados de comportamentos, de sociabilidade e visão de mundo.
Programas das tvs evangélicas, que se baseiam nos relatos existenciais de pessoas anônimas para sustentar seu
discurso doutrinário.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1998.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. SP, Studio Nobel, 1995.

GIDDENS, Anthony. Modernity and Self-Indentity. Cambridge, Polity Press, 1992.

_________________; BECK, Ulrich e LASH, Scott.Reflexive Modernization - Politics, Tradictions


and Aesthetics in the Modern Social Order. California, Stanford University Press,
1994.

_________________. Mundo em Descontrole O Que a Globalização Está Fazendo de Nós. RJ, Record,
2000.

HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública. RJ, BTU.N.º 76, Tempo
Brasileiro,1984.

_________________. A Constelação Pós-Nacional Ensaios Políticos. SP, Littera Mundi, 2001.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo Travessias Latino-Americanas da Comunicação na


Cultura. SP, Edições Loyola, 2004.

MATTELART, Armand e MATTELART, Michele. Pensar as Mídias. Ed. Loyola, SP, 2004.

TOURAINE, Alain, KHOSROKHAVAR, Farhad. A Busca de Si: Diálogo sobre o Sujeito. RJ, Bertrand
Brasil, 2004.

WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. RJ, Zahar, 1979.

___________________. Resources of Hope - Culture, Democracy,Socialism. London, Verso, 1989.

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