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Um amor em Paris

Barbara Cartland

Coleção Barbara Cartland nº 399

Título original: DESIRE OF THE HEART


Copyright: © 1970 by Barbara Cartland
Tradução: Natércia P. N. da Silva
Copyright para língua portuguesa: 1996
EDITORA NOVA CULTURAL
uma divisão do Círculo do Livro Ltda.
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 – 10º andar
CEP 01410-901 — São Paulo — SP — Brasil
CÍRCULO DO LIVRO LTDA.
Fotocomposição: Círculo de Livro
Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fãs para fãs.
Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.
Cultura: um bem universal.

Digitalização:

Logística: Ana R.

Revisão: Andréa M.
Na terra dos amores, Paris, um conquistador
viu-se perdidamente apaixonado…

Amanhecia quando Christine levantou-se do sofá e deixou silenciosamente


o quarto do hotel. A farsa chegara ao fim. Não estava arrependida. Uma
noite de amor em Paris era a lembrança que gravaria para sempre em sua
mente. E era tudo que daria ao duque de Roehampton. Não aceitaria jamais
ser a "outra", viver à sombra de um adultério, mesmo sabendo que jamais
amaria a outro como o amava…

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Barbara Cartland é, sem dúvida, a mais famosa escritora
romântica do mundo. Entre suas inúmeras qualidades, podemos citar
algumas: é historiadora, geógrafa, poetisa e especialista em dietas naturais.
Atuante personalidade política, sempre lutou pelos direitos dos grupos
menos favorecidos da sociedade inglesa, especialmente os ciganos, viúvas
pobres e crianças abandonadas. Supercriativa e culta, já escreveu mais de 550
livros, editados em todo o mundo cm dezenas de idiomas e dialetos, tendo
alcançado com essas obras a incrível marca de 600 milhões de exemplares
vendidos.
Algumas datas da vida de Barbara Cartland:
1901 - Nascimento, no dia 9 de julho
1923 - Publica seu primeiro livro
1927 - Casa-se com Alexandre McCorquodale
1933 - O primeiro casamento é desfeito
1936 - Casa-se em segundas núpcias com Hugh McCorquodale, primo de
seu primeiro marido
1963 - Publica seu centésimo livro
1976 - Sua filha Raine casa-se com o Conde Spencer, pai da princesa
Diana
1981 - A princesa Diana, enteada de sua filha, casa-se com Charles,
príncipe-herdeiro da Inglaterra
1983 - Entra no livro de recordes Guinness
1991 - Recebe o título de “Dame” do Império Britânico

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CAPÍTULO I

Lady Bedlington esperou o mordomo sair e fechar a porta e só então


olhou para o recém-chegado que lhe sorria do outro lado da sala.
— Oh, Diogo, ainda bem que você veio! — exclamou em desespero.
Aquela era uma das raras ocasiões em que parecia não pensar apenas na
própria aparência, apesar de estar belíssima.
Diante do seu desespero, o sorriso do jovem duque de Roehampton
desapareceu.
— Aconteceu alguma coisa? — indagou ao aproximar-se. Ela segurou-
lhe as mãos.
— Oh, meu querido! Eu sabia que você não me decepcionaria…
Enquanto Diogo beijava-lhes as mãos, ela analisava os traços
aristocráticos, os profundos olhos cinzentos e os lábios carnudos. Aquele
homem pelo qual tantas mulheres suspiravam, conquistara o seu coração
como jamais julgara ser possível. Fechou os olhos, inebriada com o toque dos
lábios macios na palma da mão. Jamais conhecera prazer maior e mais
selvagem do que aquele jovem, dez anos mais novo do que ela, lhe
proporcionava.
Desde a mais tenra idade, a beleza de Lily era admirada. Não se
lembrava de uma época em que não fosse perseguida e adulada por todos
aqueles com quem tivesse contato.
Conheciam-se havia alguns anos porque Lily era amiga de Emily, mãe
do duque, porém ela jamais pensara nele como homem até seu retorno de
uma longa viagem há seis meses. Foi como se estivessem se vendo pela
primeira vez. Então Diogo se apaixonara por ela.
Lily abriu os olhos e acariciou lhe o rosto. Diogo continuava beijando-
lhe as mãos, fazendo-lhe carícias maliciosas que sabia serem um velado
convite.
De repente, desvencilhou-se dele e, de costas, enxugou o canto dos
olhos com o lencinho.
Diogo admirou lhe os cabelos dourados que refletiam a luz do sol da
tarde. Lembrou-se de como eram longos e sedosos. Nenhuma outra
conseguia ser mais bela, concluiu. A cor dos cabelos, a pele rosada, os olhos
azuis… Também seu corpo, a cintura estreita da qual ela tanto se
orgulhava… Havia graça e dignidade em cada movimento, em cada gesto.
— Mas afinal, meu amor, o que está havendo? Por que todo esse
desespero?
— George descobriu tudo! — sussurrou ela, com os lábios trêmulos e
as lágrimas ameaçando-a.
— Já havia calculado. Agora acalme-se, encontraremos uma solução.
O duque abraçou-a, tentou beijá-la, mas foi afastado.
— É sério, Diogo, você precisa me ouvir! Ele está muito zangado e
proibiu-me de vê-lo. Já discutimos… até já supliquei. Tentei de todas as
formas, mas foi tudo em vão. Alguém nos viu em Kew Gardens na semana
passada e lhe contou. O que faremos agora?
O duque tornou a abraçá-la.
— Situações desesperadas clamam por medidas desesperadas —
filosofou. — Fuja comigo e, quando George pedir o divórcio, nos casaremos
— sugeriu.
— Você perdeu o juízo? Já pensou no escândalo? Eu não suportaria ser
separada dos amigos, proibida de frequentar a corte… Oh, não, Diogo, isto
não será possível!
Lily sabia que ele a amava muito, talvez até mais do que ela o amava, e
era agradável saber que aquele homem sedutor, disputado por todas as
mulheres jovens e solteiras de Londres era dela.
— Somos tão felizes, Lily… Não suportarei ficar sem você — queixou-
se o duque.
Lily desvencilhou-se de seus braços e aproximou-se da lareira.
— Não há nada que possamos fazer — constatou em desespero. —
George tem me pressionado e eu fico acordada a noite toda, tentando
encontrar uma saída, mas, por mais que tente, não consigo pensar em nada.
— A única saída seria desaparecermos. Fuja comigo, Lily — suplicou.
Diogo sabia que era inútil suplicar. Lily não era uma heroína e não
sobreviveria ao repúdio social; não suportaria ser esquecida e muito menos
crucificada pela sociedade à qual pertenciam. Mesmo se tornando uma
duquesa, seria uma condenação insuportável para quem sempre pertencera à
mais exclusiva elite social. Ela não sobreviveria ao repúdio social.
Pela primeira vez lhe ocorreu que para ela o amor estava em segundo
lugar, e a constatação deixou-o abatido. Sempre fora muito mimado pelos
pais, que o acostumaram a ter tudo o que desejava e, naquele momento, era a
Lily que ele desejava, e não poderia ter.
— George está inflexível. Ameaçou levar-me para o campo, mas

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precisou voltar atrás por causa de uma sobrinha da qual ele se tornou o tutor.
A moça virá morar conosco e precisarei bancar a sua dama de companhia.
Oh, Digo, estou sendo punida pela felicidade que partilhamos. — Lily abriu
os braços num gesto teatral, e a amargura cresceu em sua voz. — Imagine,
uma dama de companhia de trinta e quatro anos!
Diogo sabia que ela diminuía a idade, pois acabava de completar trinta
e oito anos. No entanto, não era o momento de discutir sua idade.
— George tem uma sobrinha? Eu não sabia.
— É filha de Bertie, lembra-se dele, seu irmão mais novo? Talvez não.
Embora fosse bastante charmoso, Bertie sempre foi uma criatura
irresponsável, um jogador inveterado, tanto que George decidiu mandá-lo à
Irlanda para criar cavalos. Lá ele casou-se com Edith Withington-Blythe, filha
do marquês de Langholme. Fugiram para se casar e não se teve mais notícias
deles até que há dois anos ambos sofreram um acidente fatal. George soube
então da existência da sobrinha e, devido às circunstâncias, arranjou para que
a garota ficasse com uma prima de Edith, uma senhora chamada Aline, que
trabalhava para a família como uma espécie de governanta.
Diogo ouvia a história sem muita atenção. Preferia olhar para a sua
adorável Lily, observar-lhe o rosto, os gestos… Em breve seria impedido de
vê-la.
Lily continuava a falar.
— Só que recentemente Aline faleceu e então George tornou-se tutor
legal da sobrinha. O que você acha? Parece que a garota recebeu uma
verdadeira fortuna de sua madrinha americana.
— Que história extraordinária! — A atenção de Diogo agora fora
despertada.
— George disse que se trata de milhões. Ninguém sabia, mas a
americana, que era amiga de Edith, doou à afilhada alguns lotes de terra, um
fato que foi esquecido com o passar do tempo. Acontece que, nesses lotes,
jorrou petróleo, e a garota foi informada pelos advogados americanos que se
tornara riquíssima.
— Que garota de sorte!
— Também acho. Claro que George deveria ter sido informado sobre
isso, mas a velha prima, sempre doente, não se deu ao trabalho de avisá-lo, e
somente com sua morte é que o assunto veio à tona. George arranjou para
que a garota viesse à Inglaterra e devo ser sua dama de companhia durante o
tempo que ela precisar.
Os olhos do duque brilhavam.

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— Sendo assim, ele não poderá levá-la para o campo e então
poderemos nos ver!
— Receio que não será possível, Diogo. A partir de agora devemos ter
cuidado. George permitiu que você viesse aqui apenas para as despedidas.
Não quer um escândalo envolvendo seu nome. Teremos de nos conformar
em nos ver apenas nas reuniões sociais, ou me mandará para o campo.
— Ele deve estar blefando.
— Não creio. Desta vez a ameaça foi séria. Não suporto viver no
campo, naquele castelo que me enche de tédio. Não há com quem conversar a
não ser aqueles medonhos caçadores de raposas.
— Oh, Lily, eu não suportarei viver longe de você…
— Lamento, mas precisamos nos conformar em ver-nos somente nos
salões lotados, você dançando com as debutantes e eu sentada feito uma
viúva! Oh, Diogo!
Lily estendeu os braços na sua direção. Por alguns instantes, ficaram
abraçados como duas crianças com medo do escuro, até seus lábios se
encontrarem num beijo longo e apaixonado.
— Não desistirei de você. Partiremos juntos, esta noite mesmo —
afirmou o duque, num tom rouco e sensual.
Por um momento, Lily acreditou que fosse possível. Pensou na beleza
atlética de Diogo, em suas mãos, sua boca faminta pela dela… Fugiriam e
ficariam juntos para sempre.
De repente, como num filme, passou por sua mente a visão deles
caminhando pelo mundo, exilados, perseguidos pelo escândalo do passado e
temendo as pessoas… Lily suspirou e desvencilhou-se dos braços do amado.
Olhou no pesado espelho sobre a lareira e fez uma expressão horrorizada: seu
caprichado penteado desmanchara-se. Ergueu os braços para tentar
reconstruir os cachos com os dedos, revelando a tentadora curva dos seios, a
cintura estreita e a adorável linha do quadril.
— Oh, Diogo! Acabo de ter uma excelente ideia!
— Qual? — indagou Diogo, desinteressado.
Sentia que a perdera, e nada do que ela pudesse dizer ou fazer
mudaria isso. Lily jamais iria embora com ele, e aquilo era um golpe fatal à
sua autoestima.
— Uma ideia que permitirá que fiquemos juntos para sempre. Como
não pensei nisso antes? É a única solução para nós dois! — exclamou Lily,
num tom alegre. — Você precisará apenas casar-se com ela.
— Casar-me? E com quem?

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— Ora essa! Com a sobrinha de George, claro!
— Você perdeu o juízo?
— Ela é milionária, Diogo, pense nisso! Milhões de dólares para você
gastar, manter Cotillion em ordem como seu avô mantinha. É nossa única
chance!
— Você não pode estar falando sério! É loucura! — protestou Diogo.
Lily sorria maravilhada.
— Pense bem, querido. É a única solução e, além disso, você está
prestes a completar vinte e nove anos e precisa se casar… Sua mãe vive
pressionando para que se case. Todos esperam que tenha um herdeiro.
— Não quero me casar com outra pessoa, apenas com você.
— Eu também quero isso, muito, mas George na certa viverá até os
oitenta anos. Todos os Bedlington vivem. E, se não podemos nos casar, case-
se com essa garota. Desse modo poderá frequentar nossa casa e George não
poderá dizer nada.
— Não me casarei com a sobrinha dele nem com ninguém.
— Eu te amo, Diogo. Quer que nos separemos depois de tudo o que
fomos um para o outro?
— Mas que droga! Você está me deixando louco!
— Acalme-se, querido, e seja sensato.
— Lamento, mas não posso aceitar a ideia de casar-me com alguém
que nem sequer conheço.
Não havia convicção em suas palavras. Olhava para o rosto de Lily e
via seus lábios macios e convidativos, seus olhos semiabertos, e soube que se
a beijasse estaria perdido.
— Prefere então dizer adeus?
Diogo sabia que não havia alternativa; George não era homem de
fraquejar quando a honra da família estava em jogo. Aprendera a não ter
ciúme de Lily como mulher, mas era excessivamente sensível quanto a seu
nome e posição.
Ele e Lily foram muito ingênuos julgando que poderiam manter o
romance em segredo por muito tempo. Eram muito conhecidos para
passarem despercebidos.
— Oh, meu querido, eu morrerei se perdê-lo…
Diogo hesitou, mas a visão daqueles lábios sensuais foi demais para
suportar sem tocá-los.
Lily sentiu os próprios lábios entreabrindo-se para ele. Seu beijo foi
mais passional do que de costume, e viu-se correspondendo, procurando o

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prazer nas carícias sensuais.
— Lily, ah, minha doce Lily!… — Diogo respirou fundo. O preço que
pagaria para tê-la era a própria liberdade, mas naquele instante nada mais
importava.
Quando Diogo foi embora, Lily foi ajeitar o penteado. Ao olhar-se no
espelho, notou que a noite mal dormida deixara-lhe profundas olheiras.
No entanto, estava entusiasmada; finalmente encontrara uma saída
para o seu amor, e nada mais importava. Se Diogo se casasse com a sobrinha
de George, a garota se tornaria uma duquesa e, sendo sobrinha de George,
eles passariam a frequentar o círculo social seletivo que, sem dúvida, Emily
Roehampton liderava. Claro que sempre haveria a chance de ela ficar contra
o casamento do filho com uma jovem desconhecida, mas, com certeza, a
fortuna da futura nora a agradará imensamente, concluiu Lily, sagazmente.
Ninguém na família Roehampton possuía dinheiro suficiente e, embora
Diogo fosse rico, Cotillion, a luxuosa residência dos Roehampton, era um
monstro insaciável que devorava fortunas com uma espantosa rapidez.
Ao lembrar-se da mansão que era quase um castelo estendendo-se
através de inúmeros acres de terra e rodeada de jardins, lagos e bosques, Lily
soube que Emily Roehampton aceitaria com prazer uma nora ricaça.
George não era de exagerar, concluiu Lily e, se afirmara que a sobrinha
possuía milhões, sem dúvida nenhuma era verdade.
"Talvez dê certo", pensou Lily, esperançosa. "Cedo ou tarde Diogo
teria de se casar, nem que fosse apenas para gerar um herdeiro para o seu
ducado, e suportaria melhor vê-lo casado com aquela caipira do que com
uma daquelas jovens levianas que tanto o perseguiam."
Lily suspirou. Queria muito que a sobrinha de George não fosse
bonita. Já era difícil precisar entregá-lo a outra, e sendo bela, seria intolerável.
Mas a jovem não devia ser mais encantadora do que ela própria, concluiu.
Aos trinta e oito anos ainda era considerada a mulher mais bela em toda a
sociedade londrina, e talvez da Inglaterra.
Suspirou outra vez. Sabia que a beleza era efêmera, e que um dia tudo
acabaria, mas por enquanto era muito agradável ser tida como uma das mais
belas, ser admirada e adorada onde quer que fosse.
Lily pousou a mão sobre o coração e pensou em Diogo, tão atraente.
Formavam um casal perfeito. Ah, se o tivesse encontrado quando ainda era
solteira… então ela teria dezoito anos… Lembrou-se que Diogo teria apenas
oito, e brincaria com soldadinhos de chumbo enquanto ela participava dos
bailes e das festas da corte.

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Sentiu uma pontada de angústia quando sua verdadeira idade lhe
ocorreu: trinta e oito anos! Em breve teria quarenta. "Estou ficando velha",
concluiu.
Mas ainda não estava, e podia deixar os homens loucos de amor. Por
amá-la, Diogo estava disposto a casar-se com uma garota que nunca vira na
vida, isso para que pudessem dançar e até valsar… com Diogo sussurrando-
lhe palavras de amor sem que ninguém se desse conta…
De repente, ela ouviu a porta abriu no andar de baixo. Era George
chegando com a tal sobrinha. Lily olhou-se mais uma vez no espelho antes de
descer.
Os empregados traziam a bagagem para dentro de casa e a porta da
biblioteca estava aberta. Provavelmente esperavam por ela no local.
Entrou e avistou George de costas para a lareira, e apenas um relance
de um casaco cinzento e um chapéu verde com plumas.
E, quando George ergueu a cabeça para recebê-la, a garota finalmente
voltou-se.
Lily sorriu aliviada. Ela usava óculos e nada havia nela que pudesse
ser descrito como sendo atraente.

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CAPÍTULO II

Ao receber a notícia de que precisaria ir para a Inglaterra, Christine


encheu-se de revolta. Tentou protestar, discutir, e até recusar, porém foi em
vão.
Decidiu ir procurar Jimmy.
Encontrou-o exatamente onde esperava, nos estábulos, assobiando
alegremente enquanto lidava com os cavalos. Era um homem magro,
grisalho, feio como que, e no seu corpo não havia um só osso que não tivesse
sido quebrado por patas de cavalos.
Christine o amava assim mesmo.
— Precisarei ir embora, Jimmy — informou com tristeza.
— Eu já esperava por isso, minha menina. Não poderia morar sozinha
em Rosaril agora que a srta. Withington, que Deus a tenha, faleceu.
— Por que não? Aqui é o meu lar, onde sempre vivi! Esses parentes de
papai nunca me quiseram. Por que agora seria diferente?
— Sabe tão bem quanto eu por que — constatou Jimmy.
— É minha fortuna que os atrai. Oh, meu Deus, eu nunca quis esse
dinheiro que chegou tão tarde às minhas mãos!
Era tudo tão sem sentido, tão inútil dispor de tanto dinheiro quando
nada desejava além da vida simples que levava em Rosaril. Lembrava-se do
quanto seu pai se lamentava por não poder dar à esposa todos os lindos
vestidos pelos quais ela suspirava. Receber aquela fortuna um ano após a
morte de ambos chegava a ser irônico.
Lembrou-se do dia em que correra para dar a notícia a Jimmy.
— Você não vai acreditar, Jimmy. Minha madrinha morreu nos
Estados Unidos e me deixou uma grande fortuna em campos de petróleo. São
milhões de dólares!
— O que pretende fazer com tanto dinheiro?
— Ainda não sei… — dissera ela, encolhendo os ombros.
— Já que tornou-se tão rica, não quer dar uma olhada naquela égua
magnífica que o capitão Fritzpatrick deseja vender?
Após dias de pechincha, pagaram uma bagatela pelo excelente animal.
Depois dessa compra, Christine não lembrou-se de nada mais que desejasse
comprar. A única exceção que fez, sugerida pela prima Aline, é que deveriam

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contratar a sra. O'Hagan, a criada, para que fosse quatro dias na semana em
vez de dois, como há anos fazia.
Christine nada queria para si; na verdade, o dinheiro não lhe fazia
diferença. Recebia a correspondência do banco em Dublin e a abandonava
sem abrir sobre a escrivaninha que fora de seu pai.
Mas tinha de admitir que era um alívio saber que não precisaria mais
preocupar-se com as contas que agora eram pagas à medida que eram
apresentadas. Na verdade, aquela era a única vantagem que a fortuna lhe
trouxera; a polpuda conta bancária não fizera a menor diferença em seu estilo
de vida.
Mas essa situação mudou após duas semanas, quando a prima Aline
repentinamente faleceu.
Christine jamais poderia imaginar que a morte daquela criatura tão
suave com a qual vivera em Rosaril durante tantos anos fosse causar tamanho
rebuliço em sua vida. Jamais imaginou também que o velho sr. Musgrave,
antigo amigo da família, fosse telegrafar ao seu tio, o lorde Bedlington, em
Londres, comunicando o falecimento e sugerindo que alguma providência
fosse tomada a respeito de sua sobrinha, que, com a morte da prima, ficaria
sozinha na fazenda, sem sequer uma dama de companhia, apenas um velho
criado.
Christine protestou veementemente quando o sr. Musgrave chegou
com instruções do lorde Bedlington para que a enviasse para Londres.
Ralhou com ele por ter interferido.
— Por ter sido amigo do seu pai, srta. Bedlington, achei-me no dever
de avisar seu tio. Não pode viver sozinha aqui. E perdoe-me se me atrevo a
sugerir que precisa assumir seu lugar na sociedade.
— Não faço a menor questão disso. Meu lugar é aqui! — gritara
exasperada.
— Que droga! Por que tenho de partir? — Logo em seguida ela fora
queixar-se a Jimmy. — Adoro Rosaril… e não quero afastar-me daqui, de
você, de meus cavalos, de meus cachorros. Como viverei sem sentir nos
cabelos a brisa suave que sopra do oceano, sem ver as nuvens chegando do
Atlântico? — Enquanto ela falava, as lágrimas inundavam lhe os olhos, e
também os de Jimmy.
— Você cresceu, tornou-se mulher e não nos demos conta — disse o
criado. — Acaba de completar dezoito anos, mas parece que foi ontem que
era apenas uma garotinha que carregávamos no colo…
E, desde então, sua vida se tornou um pesadelo. Várias vezes pensou

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em fugir, em refugiar-se nas montanhas e nunca mais voltar.
Nos dois últimos dias que passara em Rosaril sentira-se como se fosse
uma criança desamparada; fora Jimmy quem pensara em tudo, até nas
roupas que deveria levar para Londres.
— Não está pensando em viajar com esta roupa, está? — perguntara
ele, ao vê-la descer pronta para partir usando roupas de montaria.
Pela primeira vez na vida, Christine precisava preocupar-se com a
aparência. Estava acostumada a usar o traje de montaria na fazenda, de que
outra forma aprenderia a montar? Não seria possível vestir-se como uma
dama enquanto andava pela fazenda, cavalgava, os cabelos castanhos soltos
ao vento alcançando-lhe a cintura esguia. Jamais lhe ocorrera que, após
completar dezoito anos, precisaria prendê-lo como as outras garotas faziam.
Sua mãe costumava vestir-se impecavelmente. Algumas vezes, seu pai
ganhava algum dinheiro apostando nos cavalos, e chegava em casa excitado
como um rapazinho. Sua mãe, então, arrumava as malas e em seguida
partiam para desfrutar de uma semana de férias em Dublin.
Quando eles retornavam, Christine adorava ouvi-los contar o que
haviam feito, sobre as compras, os bailes e teatros e restaurantes exclusivos
que frequentaram. Sua mãe retornava sempre com um novo enxoval;
vestidos deslumbrantes e chapéus adornados com flores e plumas.
Mostrava tudo a Christine, à prima Aline e até a Jimmy, e, após terem
sido suficientemente admirados, vestidos, chapéus, luvas e echarpes eram
colocados dentro do armário para lá ficarem, esquecidos, tornando-se fora de
moda como o restante das roupas colecionadas ali dentro, até que novamente
a sorte lhes sorrisse.
Afinal, após acertar todas as contas e deixar Jimmy encarregado de
tudo na fazenda, Christine partiu para Londres com o sr. Musgrave, os olhos
ardendo e achando que seu mundo desmoronara.
Christine achara uma sorte possuir o mesmo corpo da mãe e assim
poder usar suas roupas. Mas logo que chegou à Inglaterra percebeu o quanto
aquelas roupas eram antigas. Sentia-se mal no vestido longo, com o chapéu
balançando na cabeça e os cabelos parecendo horríveis. Tentara, sem muito
sucesso, copiar um dos penteados que vira numa das revistas de moda que a
prima Aline comprava. A tentativa resultara num desastre.
Aquele mundo totalmente desconhecido a assustava; seu lugar não era
ali, e sim em Rosaril, junto com os animais, onde os cães atendiam seu
chamado, os cavalos a esperavam no estábulo e onde sabia ser sinceramente
amada por Jimmy. O criado era a única pessoa que lhe restara, o único em

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quem podia confiar. Com a morte dos pais e da prima Aline, Jimmy e a
fazenda era tudo o que possuía, e estavam sendo tirados dela. Seu único
consolo era saber que ao completar vinte e um anos seria dona do próprio
destino.
Mas teria de esperar pacientemente durante três anos pela maioridade,
e vivendo com pessoas em quem não confiava e que sempre a trataram de
maneira arrogante e prepotente. Poderia ter recorrido aos avós maternos, mas
eles também lhe eram totalmente estranhos; após sua mãe ter fugido com um
homem que nem conheciam, não tornaram a procurar a filha.
A vida toda Christine ouvira seus pais caçoarem do ar esnobe do lorde
Bedlington e, talvez devido a isso, sempre pensara nele como sendo uma
pessoa ridícula.
Obtivera a confirmação disso ao vê-lo no funeral de seus pais. Forte e
saudável, lorde Bedlington tivera pouco a dizer à delicada sobrinha. Na
ocasião, Christine usava um dos vestidos da prima Aline, muito largo e mais
curto, porque não vira necessidade de comprar um vestido preto que usaria
apenas no funeral. Talvez seu tio a tivesse achado ridícula em tal traje.
Respirou aliviada ao ver o tio partir rumo à estação e rezou para não
tornar a vê-lo tão cedo. Porém, sem que ela esperasse, de acordo com o que o
sr. Musgrave informara lorde Bedlington tornara-se seu tutor legal e, como
tal, tinha poderes para mudar totalmente seu destino.
— Detesto esses ingleses! — declarara enquanto Jimmy lidava com um
dos cavalos.
— Não fale assim. Não é bom cultivar maus sentimentos,
principalmente contra seus parentes.
— Fique tranquilo, Jimmy. Não pretendo tomar nenhuma atitude até
completar a maioridade. Aí então poderei dizer o que penso e voltar para
casa.
— Cuidado para não ser traída por seus olhos… — criado preveniu-a.
Christine rira, porém entendera o que Jimmy dissera. Lembrou-se de
suas palavras ao aprontar-se para partir para Londres com o sr. Musgrave.
Olhou-se no espelho, contrariada. Apesar dos inúmeros grampos que
usara para prender os cabelos atrás da nuca, algumas mechas rebeldes
começavam a soltar-se. Desejou poder tirar o chapéu e as roupas apertadas e
vestir algo mais confortável, E pensar que aquele incômodo todo era
resultado do interesse de seus parentes por ela, não propriamente por ela,
mas pelo dinheiro que herdara.
— Eu os detesto! — gritou e pôde ver o brilho dos próprios olhos

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refletidos no espelho. Aquilo a fez lembrar-se das palavras de Jimmy:
"Cuidado para não ser traída pelos olhos".
Abriu a gaveta da penteadeira e no fundo dela encontrou um par de
óculos, os mesmos que fora obrigada a usar após a queda que sofrera do
cavalo durante uma caçada. Seu olho direito fora afetado e precisara dos
óculos para corrigir a lesão.
Usando óculos se sentiria protegida e com menos chances de ser traída
pelos próprios sentimentos. Suspirou desolada, colocou os óculos e desceu.
Encontrou o sr. Musgrave pronto para levá-la naquela viagem infernal.
Ao chegarem a Londres, lorde Bedlington educadamente agradeceu ao
sr. Musgrave pelo serviço prestado e em seguida o dispensou.
Enquanto dirigiam-se a Park Lane, Christine pôde observar
atentamente o tio por detrás dos óculos.
— Sua tia se encarregará de apresentá-la às pessoas de sua idade —
dizia ele, tentando agradá-la. — Assim que a conhecerem começarão a
convidá-la para os bailes e as festas que sempre acontecem. Se divertirá
bastante, minha querida.
— Obrigada, tio George. — Christine decidira falar o mínimo possível,
temendo dizer alguma coisa errada.
— Presumo que saiba dançar…
— Um pouco — respondeu Christine, mas sem acrescentar que seu
único parceiro de dança fora seu pai, enquanto sua mãe os acompanhava ao
piano.
— Podemos contratar um professor de dança se desejar… — sugeriu o
lorde. — Com certeza, desejará aprender muitas coisas. Não tenha receio de
pedir, minha cara.
— O sr. Musgrave comunicou que terei de ficar até completar vinte e
um anos.
— É verdade. Tenho certeza de que seria esse o desejo de seus pais,
especialmente agora que herdou uma pequena fortuna.
— Creio que sim… — Christine não pôde evitar um sorriso. Como ele
podia chamar todos aqueles milhões de "pequena" fortuna?
— Você passou por maus pedaços ao perder seus pais e agora a sua
prima, mas sugiro que esqueça o passado e tente ser feliz conosco.
— Sempre fui muito feliz na fazenda — disse Christine. — Gostaria de
continuar lá.
— Sozinha? Lamento, mas não seria aconselhável.
— Somente quando eu completar vinte e um anos…

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— Se desejar… Mas acredito que antes disso estará casada.
— Casada? — indagou Christine, incrédula.
— Por que o espanto? Todas as jovens cedo ou tarde acabam se
casando. Mas terá tempo para pensar nisso após se instalar. Tenho certeza de
que gostará de Londres e das pessoas que conhecerá.
— Sim, creio que sim…
Christine não queria conhecer "pessoas certas" e sim aquelas que a
agradavam e que falavam sobre coisas que a interessavam. Mas começava a
suspeitar que a partir de agora seria difícil falar abertamente como estava
acostumada. Em Londres, ela seria apenas uma garota recém-saída dos
bancos escolares, que deveria respeitar os mais velhos, ficar grata por
qualquer manifestação de carinho que recebesse e ter como principal objetivo
atrair bons partidos, porque no meio deles poderia estar o marido adequado.
E não havia o que fazer ou o que dizer contra isso, apenas detestar a
tudo e a todos. Detestava seu tio, que era tão esnobe e aborrecido quanto seu
pai descrevia; detestava a tia, que ainda nem conhecia, a carruagem com
bancos almofadados e tapetes elegantes e até o cocheiro com ar pomposo e
seu chapéu engraçado.
Era tudo exageradamente opulento para o seu gosto, uma parte de um
mundo que ela não entendia e do qual instintivamente se afastava.
Após um longo silêncio, seu tio limpou a garganta:
— Estamos passando por Grosvenor Street. Observe como as
residências são luxuosas.
— Sim, estou vendo.
A carruagem avançava lentamente na rua lotada, e Christine pôde ver
os ocupantes das outras carruagens; os homens exibiam seus melhores ternos,
e as mulheres vestidos finos e elegantes. No ar, pairava o perfume das
senhoras que caminhavam na rua, também muito bem trajadas, com enormes
chapéus floridos e sombrinhas elegantes.
"Devo parecer ridícula perto delas", concluiu com um suspiro.
A carruagem agora mal se movia e, de repente, ela ouviu o tio
praguejar baixinho enquanto olhava fixamente para algum ponto lá fora.
Olhou na mesma direção e avistou uma charrete que tentava avançar
no meio do congestionamento. Foram os cavalos que no início chamaram sua
atenção, ambos castanhos e magníficos, e percebeu que eram árabes por
causa da curva elegante dos pescoços e das narinas delicadas. Eram
firmemente conduzidos por um jovem loiro e de ombros largos. Apreciou lhe
os cabelos claros e fartos, muito bem aparados, concluindo ser aquele o

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homem mais bonito que ela já vira. Ainda não lhe ocorrera que alguém
conseguisse se manter tão elegante e tão confortável conduzindo uma
charrete.
Christine e seu tio não eram os únicos que observavam o jovem cujos
cavalos agora pareciam extremamente nervosos. Empinavam o corpo e
davam patadas no ar, fazendo Christine temer que a qualquer momento
fariam virar o frágil veículo ao qual estavam atrelados.
Os demais passantes paravam para observar a batalha que era travada
entre o homem e o animal. De repente, tão inesperadamente como iniciara, a
batalha terminou, sendo o cavalheiro o vencedor. Com uma habilidade
extraordinária, ele conseguiu apaziguar os animais, fazer com que
reiniciassem o trote até sumirem de seu campo de visão.
— Ainda bem… — Christine não conseguiu conter-se, mas ao olhar
para o rosto do tio desejou ter ficado calada.
A expressão que viu nele era de fúria; podia ser inexperiente em
muitas coisas, mas sabia quando uma pessoa encontrava-se inflamada a
ponto de explodir. Lembrou-se de tê-lo ouvido praguejar assim que o
cavalheiro na charrete surgira na rua. Havia algo nele que enfurecia seu tio,
concluiu. No entanto, por ser também discreta além de possuir várias outras
qualidades, rapidamente disse:
— Aquele é o Hyde Park? Que maravilha!
— Bonito, não achou? Você o verá de nossa casa, assim não sentirá
tanta falta do verde.
Ao chegaram em casa, imediatamente um dos sentinelas foi abrir-lhes
o portão. Do topo da escada, o mordomo os aguardava.
— Vamos até a biblioteca. Sua tia descerá em um minuto.
A casa era ainda mais luxuosa do que Christine imaginava. Cortinas
de veludo e musselina adornavam as janelas em estilo francês, e os sofás e
poltronas eram forrados com cetim brocado em tons bordô. Os espelhos eram
emoldurados em dourado, e na biblioteca havia estantes repletas de livros
encadernados com couro.
Christine hesitou entre expressar toda a admiração que sentia ou
simplesmente calar-se. Para sua surpresa, lady Bedlington era uma mulher
encantadora; vestia-se de forma elegante e aparentava ser bem mais jovem do
que era.
— Então, esta é a sua sobrinha, George? Não vai me apresentar?
— Como vai? — disse Christine, ao apertar-lhe a mão.
— Agora que se conhecem, posso deixá-las a sós… — interveio lorde

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Bedlington. Apesar de seu modo educado de expressar-se, deixou perceber
ser um alívio livrar-se dela.
— Claro, George. Se vai ao palácio, procure seu amigo, lorde
Chamberlain, e veja se consegue que Christine seja convidada para ir à corte.
Caso contrário recorreremos ao rei; devemos encontrá-lo em Londonderry
House na terça-feira.
— Serei apresentada ao rei e à rainha? — indagou Christine, temerosa.
— Será mesmo necessário?
Christine sentia-se desajeitada e temia se tornar motivo de chacota
para as pessoas que frequentavam a Corte e que, na certa, seriam tão
elegantes quanto a sua tia.
— Claro! Mas antes disso precisará de vestidos novos. Espero que não
se importe… — disse lady Bedlington olhando para os trajes da recém-
chegada. Aquele casaco e o chapéu estiveram na moda há pelos menos dez
anos.
— Creio que tem razão. Preciso de roupas novas. Não é fácil encontrar
coisas interessantes na Irlanda.
— Encontrará facilmente aqui em Londres — disse Lily. Em seguida
dirigiu-se ao marido. — Podemos ir à compras?
— Claro, assim que Christine estiver disposta.
Christine suspirou. Pensou em fazer coisas bem melhores do que ir às
compras.
— Imagino que queira tomar um banho e vestir algo mais fresco —
sugeriu lady Bedlington. Hesitou antes de dizer o que lhe veio à mente. — E
estes óculos, você realmente precisa usá-los?
— Infelizmente, sim. Sofri um acidente durante uma caçada no
inverno passado e o oculista aconselhou que os usasse por pelo menos nove
meses.
— Mas que pena! — exclamou Lily, sem muita convicção. — Agora
venha. A criada lhe mostrará o quarto. Ela a espera no corredor.
— Obrigada…
Ao chegarem ao corredor, Christine avistou a criada: uma mulher de
jeito austero e usando uniforme branco e preto.
— Por aqui, senhorita — informou ela.
Enquanto isso, na biblioteca, Lily afundou o corpo no sofá.
— George, você viu? De onde saíram aquelas roupas? O casaco deve
ter saído da arca de Noé, e o chapéu de um museu.
— Não comece com suas provocações, Lily. Christine é órfã e jamais

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saiu da fazenda. Que chances teria de ser elegante?
— Não são apenas as roupas, George. Viu aqueles óculos? E ela disse
que pretende usá-los por mais nove meses!
— Bem, faça o que puder por ela. Tem permissão para gastar o que for
preciso.
— Mas não espere que eu faça milagres!
— A mãe dela era belíssima, e Bertie era o Adônis da família. Como
vê, não há motivo para a filha deles ser feia, se puder ajudá-la.
— Não sou mágica. Mas não se preocupe, George, tenho tudo
planejado.
Ele caminhou em direção à porta e de lá voltou-se.
— Você falou com Roehampton, eu suponho?
— Sim. Mas não esqueça de que agora temos uma jovem conosco, e ele
é de longe o melhor partido da cidade. Deve ser convidado para as festas que
oferecermos.
— Desde que ele se contente em cortejar Christine… Mas não pense
que sou tão ingênuo a ponto de acreditar que o jovem Roehampton chegue a
interessar-se por uma debutante.
Assim que ele deixou a biblioteca, Lily levantou-se e começou a dançar
sozinha.
— Óculos! Pobre Diogo!

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CAPÍTULO III

Quando o rei e a rainha entraram no salão de baile, todos os


reverenciaram.
"O rei é como o vi nos quadros, e a rainha é encantadora", pensou
Christine, enquanto os observava.
A beleza da rainha Alexandra ofuscava o restante das mulheres
presentes. O oval perfeito do rosto, as sobrancelhas delicadas, o nariz afilado
eram realçados pelo azul intenso dos olhos, e seu sorriso radiante cativava a
todos.
O salão de baile em Londonderry House com seus candelabros
dourados, pinturas fabulosas e a suntuosa decoração em branco e dourado
deslumbravam Christine.
O brilho das tiaras na cabeça das damas, os diamantes, esmeraldas e
safiras em suas joias chegavam a ofuscar. Os vestidos fizeram-na perceber
que nada entendia de moda e o quanto estivera ridícula ao chegar a Londres.
E, embora o vestido que usava no baile tivesse sido comprado em
Bond Street e os cabelos caprichosamente penteados pelo cabeleireiro de Lily,
Christine não estava nada satisfeita com a própria aparência.
Lembrou-se de ter se olhado no espelho antes de sair do quarto:
- Estou parecendo um espantalho! — dissera à criada.
- Não diga isso, senhorita! Está linda! Sua juventude sozinha já a torna
bela!
Christine olhara desconsolada para o espelho. Monsieur Henri o
cabeleireiro, recolhera todo os seus longos cabelos e com eles construíra algo
monumental no topo de sua cabeça. Para seu desgosto, o penteado reduzira
seu rosto, fazendo com que quase desaparecesse sob o gigantesco ninho de
passarinhos. E, apesar da boa vontade do cabeleireiro, Christine temia que a
qualquer momento aqueles cachos começassem a desmoronar pescoço
abaixo.
Suspirou. Não havia como escapar daquela situação constrangedora, e
só lhe restava tentar conformar-se.
Durante todo o dia pensara em Rosaril, nos campos verdes, nas
montanhas e no mar ao longe. Nos cavalos esperando-a nos estábulos. Por
vezes, precisou morder os lábios para sufocar as lágrimas.

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Na verdade, chegava a distrair-se com as coisas novas e interessantes
que via, porém, inesperadamente, a saudade da fazenda a assaltava e a
abatia.
Os dias na residência de seus tios eram um constante vaivém de
pessoas. Lily gostava de receber, e havia sempre convidados para o almoço,
para o chá, para o jantar. Quando os amigos dos Bedlington lhes eram
apresentados, Christine não podia deixar de notar-lhes a óbvia curiosidade.
Suspeitava que a história de sua fortuna chegava sempre antes dela aos
ouvidos das pessoas.
— Que felicidade, Lily querida! É como se de repente descobrisse que
tem uma filha! — comentara ironicamente uma das convidadas dos
Bedlington.
— Uma irmã, você quer dizer… — retrucara Lily. Comentários como
esse eram um golpe letal à sua vaidade. Na ocasião, Christine notara rancor
nos olhos da tia e sentia que ela não estava feliz com sua presença; nada
dissera, mas sua frieza demonstrava isso. Percebera também que havia uma
rusga constante entre seus tios.
— Eu detesto tudo isso e sei que os incomodo, então por que devo
ficar? — questionou-se na noite da sua chegada.
Chegara a discutir o assunto com o sr. Musgrave na esperança de
poder voltar a Rosaril, mesmo sabendo qual seria a resposta:
— Não pode viver sozinha numa fazenda… e deve ocupar o lugar que
tem direito na sociedade… As damas da sociedade…
Quando seus pais viviam, sua felicidade era perfeita, mas, após o
terrível acidente, tudo mudara. Christine estremecia à lembrança do episódio
mais doloroso de sua vida, algo terrível demais para ser aceito.
Preferia lembrar-se do pai, feliz, falando com empolgação sobre
Londres, sua cidade natal.
— Quero tornar a ver as luzes do Piccadilly Circus… — costumava
dizer num tom nostálgico —…jantar no Romanos e em seguida ir ao baile no
palácio real e ver pessoas tão elegantemente vestidas…
"Este é o tipo de baile que papai frequentaria com prazer", pensou
Christine, deixando os devaneios de lado ao perceber Lily dar um passo à
frente antes de fazer reverência ao rei, que se aproximara.
Ela estava mais bonita do que nunca num vestido de chiffon vermelho
sangue. Nos cabelos loiros e suaves usava uma delicada tiara, e no pescoço,
um colar de diamantes. Não havia outra mulher tão bela quanto ela no salão,
a não ser a rainha, mas as duas possuíam diferentes tipos de beleza; a beleza

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de Lily chegava a ser agressiva, e a da rainha era uma beleza angelical.
Ouviu-a mencionar seu nome diante do rei e imediatamente entendeu
que estava sendo apresentada à Sua Majestade. Reverenciou, embora um
pouco desajeitadamente.
— Então, você é a jovem Bedlington que recentemente chegou da
Irlanda? — disse o rei num tom gentil. — Conheci seu pai e lamento o que
houve.
— Obrigada, majestade. — Christine apenas balbuciou as palavras.
Sua Majestade o rei fez um leve aceno de cabeça e prosseguiu com os
cumprimentos aos presentes.
Naquele momento, a orquestra começou a tocar uma valsa, e Christine
imediatamente reconheceu o homem alto que vinha em sua direção; era o
mesmo que conduzia a arrete com os cavalos castanhos na Grosvenor Street.
Por mais estranho que parecesse, pensara nele várias vezes, intrigada com a
atitude do tio, que praguejara baixinho ao vê-lo.
Por que será que aquele homem não lhe saíra da mente? Mesmo agora,
ao vê-lo aproximar-se, foi invadida pela sensação de que ele teria um papel
importante em sua vida.
Percebeu Lily olhar em torno, ansiosamente, como se procurasse
alguém, e perguntou-se se não seria tio George quem ela procurava. Avistou-
o no outro lado do salão conversando com um casal de idosos.
O loiro alto e atraente as alcançara.
— Diogo… — Lily pronunciara seu nome suavemente.
— Dança comigo?
— Lamento, mas não posso.
Christine, que recuara alguns passos, tentou adivinhar por que Lily
recusara-se a dançar com ele. Viu-a fazer um gesto de cabeça em sua direção.
— Aquela é Christine, sobrinha de George… Ouviu-a dizer num tom
muito baixo de voz. Chamou-a em seguida:
— Aproxime-se, Christine, quero que conheça o duque de
Roehampton. — Voltou-se para o duque. — Esta é a srta. Christine
Bedlington.
Havia ironia no tom de Lily ao apresentá-los, algo que Christine não
pôde deixar de perceber. Estendeu a mão em direção ao duque, que a
segurou por alguns instantes.
— Por que vocês não vão dançar? — sugeriu Lily, como se fosse uma
ordem.
— Claro… Dançará comigo depois? — indagou o duque.

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— Creio que não poderei — negou Lily.
Fitaram-se por um momento até que Lily voltou-se e começou a
abanar-se com o leque rendado, como se de repente se sentisse abafada.
— Me daria a honra, senhorita? — O duque voltou-se para Christine,
muito gentil, e, sem esperar pela resposta, rodeou-lhe a cintura com o braço e
conduziu-a à pista de dança.
Christine deu graças à insistência do pai em ensinar-lhe a dançar. Nos
braços vigorosos do duque sentia-se leve e sabia exatamente o que fazer com
os pés.
Observou seu parceiro de dança através das lentes dos óculos e
percebeu sua expressão distante, como se tivesse os pensamentos em outro
lugar. Ao dar-se conta do quanto estavam próximos um do outro, seu coração
começou a bater mais rápido.
Christine sentia a cabeça girar enquanto o admirava. Ele era muito
belo… e o queixo quadrado lhe dava uma dignidade que a fazia lembrar-se
de seu pai.
Foram minutos de enlevo, e, quando a valsa terminou, ele a conduziu
de volta para junto de Lily, que no momento conversava entre um pequeno
grupo de pessoas.
— Foi um prazer, senhorita — disse, inclinando-se, antes de afastar-se.
— Gostou de dançar com o duque, Christine? — Lily indagou logo em
seguida com um sorriso forçado.
— Sim, muito.
— Você é uma garota de sorte. Não é qualquer uma que tem a chance
de dançar sua primeira valsa na corte com o mais cobiçado dos solteiros da
Inglaterra — constatou Lily, ironicamente.
Christine somente sorriu, tentando imaginar quais motivos ela teria
para ser irônica.
— Sua sobrinha tem problemas de visão? — alguém perguntou.
Era lady Russel, uma dama nada simpática e com fama de faladeira.
— Não. Ela feriu-se durante uma caçada — respondeu Lily. — Nada
grave, mas o médico recomendou que usasse óculos durante algum tempo.
Um incômodo, pobre criança! Detesto caçadas, que além de ser um esporte
cruel é muito perigoso.
— Isso porque você não caça, Lily, pelo menos não raposas – disse
lady Russel com sua língua ferina.
Ouviram-se risos abafados, porém Lily permaneceu imperturbável.
Afastou-se com Christine e apresentou-a a várias outras senhoras

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empertigadas que, sentadas junto à pista de danças, observavam os
dançarinos com olhos críticos.
O duque de Roehampton não dera mais sinal dê vida. Minutos atrás,
Christine o vira com Lily, e, por sua expressão contrariada, suspeitou que
discutiam.
Mas, para sua surpresa, logo em seguida ele aproximou e convidou-a
para ir cear em sua companhia. Antes de aceitar, Christine pediu permissão à
tia com o olhar.
— Vá, querida — respondeu Lily.
— Não vem conosco? — indagou ele.
— Eu e George fomos convidados para a mesa do embaixador da
Espanha. Divirtam-se, crianças!
Lily agia de modo estranho, sempre provocante, e, por mais que
tentasse, Christine não conseguia imaginar o que a levava a fazer isso.
O duque conduziu-a a uma pequena mesa para dois, preferindo não
juntar-se às pessoas barulhentas que ocupavam uma outra mesa. Christine
provou do champanhe, que em Londres possuía outro sabor, diferente
daquele que costumava beber na fazenda ao brindarem o Natal, ou quando
alguns dos cavalos vencia uma corrida.
— Gosta de Londres? — perguntou o duque, tentando iniciar uma
conversa.
— Para ser sincera, devo confessar que não. Christine não pretendia
ser tão veemente, mas quando percebeu já havia falado.
O duque pareceu surpreso.
— Não? Sendo tão jovem julguei que fosse gostar. Afinal, todos os dias
há uma festa, um baile, e quando não é isso, há sempre as estreias teatrais.
— Talvez seja falta de costume, mas prefiro a Irlanda — respondeu.
Christine sentia-se embaraçada na presença dele. Jamais estivera numa
mesa sozinha com um homem, mas aquela não era a única razão. Havia algo
nele que a fazia sentir-se insegura, porém feliz como havia muito não se
sentia. Não conseguia analisar os próprios sentimentos, sabia apenas que era
extremamente excitante ter a atenção daquele homem insinuante, mesmo
nada tendo a dizer.
A comida foi sendo servida, prato após prato, iguarias deliciosamente
exóticas como ela jamais provara. Olhou em torno do salão repleto, no
entanto nada viu. Enxergava apenas o homem à sua frente.
— O que você fazia de tão interessante na Irlanda?
Christine notou que ele se esforçava para ser agradável e tentou

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corresponder.
— Temos uma fazenda, onde criamos cavalos de raça, a maioria de
corrida. Também os adestramos.
— Por coincidência, também criamos cavalos e os treinamos para
corridas. Infelizmente, este ano não tivemos muita sorte, mas espero vencer a
Copa Ascot Gold com meu cavalo Galahad.
— Você mesmo o criou? — Christine quis saber.
— Ele não. Comprei-o há dois anos.
— Ah, sim…
Ela não conseguiu pensar no que dizer em seguida. Nada sabia sobre
cavalos ingleses, tampouco sobre os corredores. Decidiu ficar calada até o
final da ceia.
Retornaram ao baile, porém poucos casais dançavam; a maioria ainda
encontrava-se no andar de baixo. Lily continuava à mesa do embaixador.
Olhou hesitante para o duque. O que deveriam fazer?
— Vamos sentar? — convidou ele, indicando as poltronas de vime
posicionadas no terraço do salão de baile.
Sentaram-se lado a lado.
— Aceitaria um conselho? — disse ele de repente. — Procure divertir-
se e conhecer melhor a Inglaterra, já que viverá aqui… Acho prematuro julgar
que só seria feliz na Irlanda.
Fitou-o surpresa. Então ele percebera o quão infeliz e saudosa de casa
estava?
—Bem, não pretendo ficar aqui para sempre.
—É pena… Mas talvez possamos fazê-la mudar de ideia.
— Não creio.
O duque fitou-a, intrigado, como se sua persistência o aborrecesse. E,
como se tivesse tomado uma decisão repentina, perguntou:
— Posso visitá-la amanhã?
Christine o fitou ainda mais surpresa.
— Suponho que sim, mas antes pergunte a tia Lily. Não sei quais são
os seus planos.
— Os planos dela não importam. Irei visitá-la por volta das três da
tarde.
Após comunicar suas intenções, ele levantou-se. Curvou a cabeça em
sinal de reverência e a deixou. Christine observou-o rumar em direção à
escada, sentindo uma ânsia louca de chamá-lo de volta.
Fora tolice não ter aproveitado a chance de ser agradável durante a

25
ceia. Culpava-se por ter sido tão deselegante. Não deveria ter dito que não
gostava de Londres. Que ingrata deve tê-la julgado; uma garota inexperiente
e inculta criticando um mundo maravilhoso que nem ao menos conhecia.
As pessoas aos poucos retornavam da ceia, e o salão começava a lotar.
Christine notou com alívio que Lily se aproximava e que talvez fosse hora de
ir embora. Desejava ficar sozinha para poder pensar.
— Onde está Diogo? — indagou Lily, acompanhada do embaixador.
— Ele acabou de descer.
— Você é muito travessa, Christine, O que as pessoas pensarão de
mim como sua acompanhante após vê-la cear, sozinha com o duque? Havia
lugar na mesa do rei, mas vocês ignoraram.
— Mas quem poderia condená-los sendo tão jovens e belos? — disse o
embaixador.
— Sua excelência é sempre tão gentil… — Lily sorriu.
O duque não tornou a ser mencionado e, na volta para casa, Christine
lembrou-se do recado dele.
— O duque de Roehampton pediu permissão para visitar-me amanhã
à tarde — comunicou. — Avisei que seria melhor consultá-la antes de aceitar,
mas ele insistiu e disse que chegaria às três.
— Então, esteja pronta para recebê-lo — disse Lily.
Lorde Bedlington, que parecia estar cochilando, de repente levantou a
cabeça e fitou a esposa.
— Mas o que é isso? Já não avisei que não quero esse homem na minha
casa?
— Ele virá visitar Christine, não a mim ou a você.
— E por quê? Até esta noite ele nem a conhecia!
— Sei disso, querido, mas não podemos impedi-lo de visitá-la.
— Se este for mais um de seus truques…
— Não comece, George, não na frente de Christine! — interrompeu
Lily, indignada.
O lorde tornou a recolher-se no seu canto.
Mais tarde, ao deitar-se, Christine continuava intrigada com a atitude
dos tios. Que motivos teria George Bedlington para não gostar do duque de
Roehampton?
Finalmente, adormeceu lembrando-se da sensação gostosa de tê-lo tão
próximo de si enquanto dançavam, da pressão do braço musculoso em torno
da cintura.
Enquanto Christine dormia, Lily e George Bedlington discutiam. Ele

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entrara de surpresa no quarto de Lily e, sem mais nem menos, dispensara a
criada de quarto.
— Qual é o problema agora, George? — indagou Lily, muito irritada.
— Dobson deveria estar escovando meus cabelos, e, além disso, é muito tarde
para conversarmos.
O que está havendo? Nunca a vi voltar tão cedo de um baile —
retrucou o marido.
—Achei uma chatice ficar a noite toda fazendo companhia para
aquelas bruxas de línguas ferinas — queixou-se Lily, olhando-se no espelho.
Concluiu que não parecia ter mais do que vinte e cinco anos. — Além disso, é
muito cansativo acompanhar sua sobrinha a todos os lugares. Devia contratar
uma dama de companhia para ela.
— É exatamente sobre Christine que vim falar-lhe. Que história é essa
de Roehampton vir visitá-la? Não o proibi de voltar a esta casa?
— Não acha que está exagerando? Se lhe diverte ser tão ciumento, não
há o que eu possa fazer, mas não permitirei que prejudique a pobre garota.
— Não quero tornar a discutir o assunto — disse o lorde — Posso
parecer tolo, mas não sou. Christine mal acabou de chegar! Por que esse
interesse repentino do duque?
— Com a fortuna que possui, sua sobrinha despertará grandes
interesses e poderá escolher o homem que desejar para se casar.
— Acredita então que Roehampton a esteja cortejando-a por interesse
no seu dinheiro? Não permitirei que aquele safado faça isso — lorde
Bedlington estava indignado.
— E por que não? Não nos fará mal ter uma sobrinha duquesa.
— Essa história me soa muito estranha — disse George, coçando a
cabeça. — Primeiro, Roehampton está interessada em você, e agora está de
olho no dinheiro de minha sobrinha! Será que não existem outras mulheres
no mundo, além das da família Bedlington?
— Deixe o assunto comigo, George, por favor… — pediu Lily,
afagando o rosto do marido ao sentir que precisa mudar de tática.
Porém, George não havia esquecido da ira de alguns dias atrás quando
descobrira que Lily lhe mentia.
— Está bem, mas esteja certa de que não perderei Roehampton de
vista.
— Querido George… — Lily beijou-lhe o rosto e afastou-se. — Preciso
me deitar. Estou terrivelmente cansada e amanhã precisaremos comparecer à
recepção na Embaixada Francesa e em seguida à ópera.

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George hesitou, olhando para a cama de casal no meio do quarto.
Pressentindo o que seria sugerido, Lily apertou o nó do cinto do
roupão.
— Estou cansada, George.
— Muito bem. Boa noite, minha cara.
George saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.
Sozinha, Lily desamarrou o cinto do roupão e deixou-o escorregar
pelos ombros nus. Suspirou e foi deitar-se, enterrando o rosto no travesseiro.
O autocontrole que mantivera durante toda a noite chegara ao limite.
— Diogo, oh, Diogo! Que falta sinto de você…

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CAPÍTULO IV

Na manhã seguinte, Christine acordou com a sensação de que algo


maravilhoso estava para acontecer. Por um instante, não conseguiu lembrar-
se de onde se encontrava e permaneceu na cama, com os olhos fechados,
imaginando-se em Rosaril.
Mas o barulho da Park Lane lá fora a fez lembrar-se de que se
encontrava bem distante de lá.
Apesar de ter ido dormir tarde não se sentia cansada, e o prenúncio de
que algo excitante e maravilhoso estava para acontecer fez com que o som do
trote dos cavalos ecoasse como música em seus ouvidos.
Levantou-se da cama e foi para a janela. As árvores ainda estavam
úmidas pelo orvalho, apesar do sol brilhante. Sem esperar pela criada, foi
preparar o próprio banho.
Antes de sair, calçou luvas. Uma dama jamais deve ser vista sem elas.
Abriu a porta da rua e recebeu no rosto o sol radiante da manhã.
Londres tinha um ar diferente àquela hora; ficava mais bonita deserta do que
quando as pessoas lotavam as ruas. Não se via muitas carruagens trafegando
por ali; apenas carroças puxadas por cavalos enormes. Nem mesmo as
charretes, "as gôndolas de Londres", como eram chamadas, haviam
aparecido.
Notou que a maioria das residências continuava com as janelas
fechadas, embora, em algumas, criados já varressem as calçadas e olhassem
com surpresa ao vê-la passar. Seu vestido, um dos novos que Lily comprara,
era muito elefante, e o chapéu, adornado com plumas e flores, era mais
apropriado a um grande evento, não para um simples passeio por Hyde Park.
Christine arrependeu-se de não ter guardado as roupas que trouxera da
fazenda para poder usá-las numa ocasião como aquela.
Mas nem mesmo os olhares curiosos afetaram a agradável sensação de
liberdade que sentia. Enquanto caminhava, a brisa suave soprando entre as
árvores tocava seu rosto e a fazia sentir-se feliz como havia muito tempo não
se sentia.
Por um instante, esqueceu-se da timidez, do medo que sentia das
pessoas, de não saber o que dizer ou fazer diante delas. Naquele momento,
era apenas ela mesma e, se não fosse aquele vestido elegante, correria

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descalça pelo parque, celebrando a alegria de estar viva e de ser jovem.
De repente, um barulho chamou-lhe a atenção. Não tinha dúvida de
que havia alguém em prantos por perto. Então, sob uma árvore, avistou uma
mulher que chorava, desesperada, como se tivesse o coração despedaçado.
Olhou ao redor, procurando ver alguém que pudesse ajudá-la, mas
não havia ninguém. O bom senso lhe dizia para não intrometer-se, mas a
visão da mulher com ar tão abandonado a impediu de simplesmente
prosseguir com a caminhada.
Ao aproximar-se dela, pôde ver que se tratava de uma garota,
provavelmente da sua idade e que estava bem vestida.
Ao notá-la, a estranha tentou sem sucesso disfarçar as lágrimas.
— Precisa de ajuda? — perguntou.
— Oh, lamento se a preocupei. Não notei que havia alguém por perto
— disse a garota, tentando manter a voz firme.
Christine sentou-se ao seu lado no banco.
— Você não parece bem… Não quer que eu a acompanhe até sua casa?
— Não é necessário, senhorita, eu já ia embora… A garota levantou-se,
e a expressão de desespero em seu rosto fez com que Christine começasse a se
preocupar de verdade.
— Espere um pouco. Talvez eu possa ajudar…
— É muita gentileza, mas ninguém poderá me ajudar.
— Para onde pretende ir? — Christine insistiu.
— Não sei… talvez o rio seja a única solução.
O horror daquelas palavras foi demasiado para Christine suportar.
— Você não deve falar deste modo. Sente-se aqui e conte-me o que
está acontecendo. Quero ajudá-la.
A garota sentou-se com a cabeça baixa. Christine esperou que ela
parasse de chorar.
— De onde você é? Me parece ser do campo.
— Sim, eu e minha família somos de Worcestershire. Vim de lá há dois
meses. Meu pai trabalha para o lorde Coventry, mas, como nunca me dei bem
com minha madrasta, decidi vir para Londres, trabalhar como criada. Graças
às boas referências do lorde, arrumei um bom trabalho na corte. Estava tão
feliz…
A voz da garota tremeu e falhou.
— E o que houve?
— Conheci um rapaz, madame. Ele era sobrinho dos meus patrões.
Dizia que me achava bonita e esperava por mim todos os dias quando eu

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descia após ter terminado o trabalho. Eu não pretendia causar nenhum
prejuízo, juro que não. Infelizmente, na tarde passada, minha patroa nos viu
conversando. Quando meu patrão soube, fui expulsa de casa, e sem
referências… — Ela desatou no choro. — Não posso voltar para minha terra,
senhorita… eles não podem saber o que aconteceu.
— E o rapaz? Não a defendeu? Não fez nada para ajudá-la?
— Ele nem teve chance. Foi enviado para a Escócia ontem mesmo.
Tomei conhecimento da partida somente quando uma outra criada recebeu
ordens para fazer suas malas… mas não me ocorreu que fosse por minha
causa até o patrão expulsar-me.
— Mas que injustiça!
— Não, senhorita, eu sabia que estava errado. Aquele rapaz não devia
perder seu tempo comigo…
Christine a fitou, penalizada. Ela era uma mulher bonita apesar do
sofrimento e do estrago que as lágrimas faziam em seu rosto. Possuía longos
cabelos escuros, olhos castanhos e uma pele acetinada. Bonita assim devia
mesmo ter despertado o interesse do jovem aristocrata.
Na verdade, tal romance estava destinado a terminar em desastre, no
entanto a única que arcou com as consequências fora a jovem que havia
vindo do interior, uma criança sem nenhuma sofisticação, que perdera seu
coração para alguém.
— Você disse que não pode voltar para casa? — indagou.
— Prefiro morrer a ter que voltar! Não teria coragem de encarar a
família, os amigos que foram todos tão gentis quando parti. Reuniram-se
para me presentear, e meu pai, além de ter pago a minha passagem,
comprou-me um casaco novo, e o vigário me deu uma Bíblia. — A jovem
limpou as lágrimas com o lencinho que tirou do bolso. — Terei vergonha de
contar-lhes o que houve. E, se eu voltar, será para sempre, porque não haverá
uma segunda chance!
— Não precisa voltar. Você é jovem e forte e encontrará outro
emprego.
— Ninguém me aceitará sem referências.
Christine sabia que era verdade, mesmo em Rosaril exigiam-se
referências dos empregados, tampouco seus tios a aceitariam sem referências.
Tentou pensar num meio de ajudá-la. Dar-lhe dinheiro não adiantaria, e
talvez lhe trouxesse mais problemas… De repente, uma ideia lhe surgiu na
mente.
— Como é o seu nome?

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— Violet, Violet Walters.
— Bem, Violet, você está empregada. Será minha criada particular.
— Não posso aceitar, não tenho experiência… Além disso nada sabe a
meu respeito, exceto o que contei.
— É suficiente. Todos nós cometemos erros na vida, você já foi punida
pelo que fez.
— A senhorita é muito bondosa, mas não devo me aproveitar de sua
bondade. Meu patrão acusou-me de não ser boa coisa e talvez estivesse certo.
Eu não deveria ter dado atenção ao jovem patrão…
— Você o amava. Pedir-lhe que o ignorasse seria pedir demais.
— Mas devia tê-lo tirado do meu coração; esse amor não foi bom para
mim!
Christine olhou para o lago, pensando no modo surpreendente como o
amor nascia rapidamente e sem avisar. Antes que se desse conta, já estava
apaixonada. Uma emoção intensa inundou-a, como se algo maravilhoso
florescesse dentro dela, estava apaixonada, do mesmo modo que a pobre
Violet.
— Vou ajudá-la, mas você precisará ajudar-se. Agora ouça, direi o que
deve fazer.
A perspectiva de poder ajudar alguém trouxe-lhe novo ânimo. Não se
sentia tão bem desde que deixara Rosaril.
— Primeiro precisará alimentar-se. Aposto como passou a noite no
parque.
— Não tive alternativa. Após ter despachado as malas para a estação,
vaguei pelas ruas até o parque abrir. Achei que aqui poderia ficar em paz, e
se quisesse chorar ninguém ouviria.
— Bem, agora prometa que fará o que eu disser.
— Tem certeza de que é isso que deseja? Eu poderia estar mentindo,
como sabe que não sou uma ladra?
— Algo me diz que devo confiar em você. Agora, anime-se.
— Oh, senhorita, serei eternamente grata. Prometo que a servirei até o
fim da minha vida — prometeu Violet.
Christine riu.
— Até o fim da vida é muito tempo, não acha? Agora vamos aos
negócios. Meu nome é Christine, mas na casa de meu tio me chame de srta.
Bedlington, combinado?
— Sim, senhorita…
Christine deu-lhe algum dinheiro e aconselhou-a a tomar um café

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reforçado e, em seguida, por volta das onze horas, ir encontrá-la na residência
dos Bedlington, em Park Lane, número noventa e quatro.
Após ter-lhe passado as instruções, Christine levantou-se e deu-lhe a
mão. Violet a segurou e beijou.
— Deus a abençoe, senhorita…
Christine chegou em casa rapidamente. A criada que abriu-lhe a porta
olhou-a com espanto. Eram apenas oito horas. Subiu para o quarto e
lembrou-se de que só seria acordada por volta das nove.
Pensou que seria perda de tempo dormir até tão tarde. Aos dezoito
anos, umas poucas horas de sono eram suficientes. Lily, que era mais velha,
precisava dormir bastante durante a noite para amanhecer com a pele fresca e
descansada.
Tirou os óculos e olhou-se no espelho. Em breve deixaria de usá-los,
mas o momento ainda não chegara. Lembrou-se do que Jimmy dissera sobre
os olhos, mas agora ela precisava esconder o amor, não o ódio.
Estremeceu diante do pensamento. Lembrou-se da emoção que havia
na voz de Violet ao falar de seu amor infeliz, ou a voz também carregaria
aquela emoção? Seus olhos brilhariam de modo tão intenso por causa do
sentimento novo de seu coração?
Rapidamente, recolocou os óculos. Era cedo demais para pensar em
removê-los. Chegaria o dia em que não teria nada para esconder.
Contratar Violet não fora tão difícil quanto Christine imaginara. A
própria Lily havia sugerido que deveriam contratar uma criada particular
para ela. Até já haviam contatado algumas candidatas. E, ao tomar
conhecimento dei que havia uma criada irlandesa disponível, Lily fez poucas
perguntas e nenhuma questão de ver-lhe as referências.
— Tem certeza de que é competente? — indagou apenas. — É
primordial que saiba pentear e, acima de tudo que seja ordeira. Ficará
encarregada de organizar tudo para você.
— Violet Walters é uma excelente pessoa e tenho certeza de que é
competente.
— Então, pode contratá-la — disse Lily, recostando-se nos
travesseiros.
— E ela poderá começar hoje?
— Se quiser… — respondeu Lily, com um jeito de quem não queria
prolongar-se no assunto.
Christine foi ao encontro de Violet, que, no hall de entrada da
residência, aguardava ansiosamente pela resposta. Levou-a para o seu quarto,

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para que pudessem conversar.
— Você sabe fazer penteados?
— Nunca fiz, mas não deve ser tão difícil. Aprenderei a penteá-la,
senhorita.
— Ótimo. Está empregada.
Violet ainda não recuperara a cor e havia círculos roxos em torno de
seus olhos, mas parecia disposta a trabalhar. Christine mostrou-lhe suas
roupas e contou que acabava de chegar em Londres e ainda não se adaptara à
cidade.
— Tenho certeza de que gostará daqui, senhorita. Sua tia conhece
pessoas importantes, que lhe facilitarão a vida. Conheço-a de fotografias, mas
as pessoas que a viram pessoalmente alegam ser uma das mulheres mais
bonitas Inglaterra.
— Lily é mesmo linda — concordou Christine. De repente, lembrou-se
de que naquela tarde receberia uma visita.
— Também quero estar bonita esta tarde, Violet. É uma ocasião muito
especial. Olhe no armário e veja qual vestido devo usar.
Lily havia lhe comprado dúzias de vestidos, porém somente dois
haviam sido entregues. Um era branco, de seda, enfeitado com babados de
chiffon, e o outro era azul-claro, uma cor que favoreceria uma loira como Lily,
não alguém do seu tipo.
Escolheram o vestido branco, mas, após vesti-lo, Christine arrependeu-
se. Não gostou de tantos babados, porém àquela altura não havia tempo para
mudanças.
Antes de descer, para esperar o duque, passou pelo quarto de Lily
para vê-la. Encontrou-a ainda deitada e queixando-se de uma forte dor de
cabeça. Avisou que pretendia passar o resto do dia na cama. Queria estar
descansada porque à noite iriam à ópera, após a recepção na Embaixada
Francesa.
— Esqueceu-se de que o duque está para chegar? — Christine
lembrou-a.
— Ele vem para vê-la, não a mim — respondeu Lily, num tom
melancólico.
— Não consigo entender por que o duque deseja ver-me… —
murmurou Christine.
— Não seja boba, e agora vá esperá-lo. Ele deve estar para chegar —
respondeu Lily, impaciente.
Antes que Christine pudesse dizer algo mais, acrescentou, exasperada:

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— Por favor, diga a Dobson que preciso dela. Quero que me traga água de
colônia e que feche as janelas.
Pelo jeito, a dor de cabeça de Lily devia ser terrível. Christine tratou de
ir chamar Dobson e em seguida acomodou-se em uma das poltronas da sala
de estar.
Tentou ler um livro, mas foi impossível concentrar-se na leitura. Olhou
ao redor. A suntuosidade da sala era um cenário perfeito Para alguém como
Lily, pensou, desejando ter a oportunidade de encontrar-se com o duque em
qualquer outro lugar. Foi um pensamento tolo; era melhor vê-lo entre
estofados de cetim e brocado, do que numa outra sala mal decorada e sem
graça.
Pela primeira vez lhe ocorreu que precisaria redecorar Rosaril, embora
seus pais não estivessem vivos para aproveitar o luxo e o conforto que seu
dinheiro poderia proporcionar-lhes.
Na verdade, não sabia o que fazer com a fortuna que recebera e que
permanecia no banco quase intocada. Sem os pais, não via graça em comprar
nada.
Podia imaginar Rosaril todo redecorada… novas cortinas, mobília,
entretanto, a ideia de transformar a casa que tanto amava pareceu-lhe um
sacrilégio.
No entanto, mudanças eram necessárias, inclusive no próprio estilo de
vida, nela mesma. Queria ficar mais bonita, mais requintada para o homem
que amava, concluiu.
De repente, ouviu a porta abrir-se.
— O duque de Roehampton, senhorita — anunciou o mordomo.
Christine ficou de pé, olhando-o como se ele fosse irreal. Nem notou
quando o mordomo se retirou. Tudo o que conseguia ver era o duque, alto e
belo, vestido com um traje, impecável e trazendo um cravo branco na lapela
do paletó. Então ele também gostava de cravos brancos, como Lily?
Não conseguia mexer-se nem falar, nem sequer estender-lhe a mão,
ficou trêmula e sem fôlego.
— Está sozinha? — ele quis saber.
Christine apenas assentiu.
— Ótimo. Eu queria ficar a sós com você. Bem… talvez já faça ideia do
que tenho a dizer.
A voz do duque era suave e profunda, e Christine continuou parada,
ao lado do piano, fitando-o, sentindo-se protegida pelos óculos, que
ocultavam os sentimentos estampados em seus olhos. Jamais pensou que um

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homem poderia ser tão maravilhoso, tão atraente.
De repente, deu-se conta de que ele aguardava sua resposta.
— Não faço ideia…
Diante de sua resposta desconcertante, o duque pareceu um pouco
desamparado, e Christine perguntou-se se ele seria tímido.
— Quero que se case comigo — disse ele, lentamente, surpreendendo-
a.
A surpresa deixou-a muda. Talvez fosse um sonho. Ele a queria,
exatamente como ela o queria.
— É tão difícil assim dar uma resposta? Talvez queira algum tempo
para pensar.
— Não, não… quero dizer, sim — gaguejou, pega totalmente de
surpresa. Notou que ele a fitava, confuso com sua contradição, e fez força
para soar coerente. — Sim… aceito.
— Obrigado. Prometo que farei o que estiver ao meu alcance para que
seja feliz.
Beijou-lhe as mãos, fazendo-a tremer por dentro. Christine desejou ser
um pouco ousada para dizer-lhe o que sentia, mas não foi capaz.
— Quero que saiba que me deixou muito feliz — disse ele. Em
seguida, caminhou em direção à porta. De lá, voltou-se: — Virei à noite para
conversar com seu tio.
A porta fechou-se atrás dele e Christine correu para a janela para vê-lo
partir, mas Diogo não virou a cabeça para um último adeus. Como ele
poderia saber que ela o observava escondida atrás da cortina?
Quando a carruagem afastou-se, ela foi assaltada por um desejo
imperioso de chamá-lo de volta. Como pôde ser tão tola a ponto de ficar
totalmente muda enquanto ele lhe propunha casamento?
— Eu o amo — quase gritou.
De repente, lembrou-se de que ele a vira apenas duas vezes. Devia ser
amor à primeira vista, pensou. Será que o duque a vira no dia em que
chegara a Londres e observou-o da carruagem? Sentiu um calafrio. Se
estivesse errada, então ele a tinha visto apenas uma vez, no baile da noite
anterior. Lembrou-se de vê-lo conversando com Lily, e pareciam discutir
seriamente. Mas por que discutiriam? O que aquilo significava? Fez força
para espantar as dúvidas. Ele desejava casar-se com ela. Que outra prova
poderia desejar de sua sinceridade?
— Ele me ama — afirmou em voz alta na sala vazia, mas as palavras
pareceram perder-se na fragrância exótica das dúzias e mais dúzias de cravos

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que decoravam a sala. As flores favoritas de Lily!
Christine teve a sensação desconcertante de que sua tia estivera na
sala, ouvindo, observando.

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CAPÍTULO V

Christine passou o restante da tarde com os nervos à flor da pele,


aguardando o retorno de Diogo. Jurou a si mesma que dessa vez não o
decepcionaria. Conversaria com ele sobre sua vida passada, as coisas que
gostava e sobre Rosaril. Mostraria interesse em tudo o que ele dissesse, e
guardaria o que ouviria como tesouros em seu coração.
— Estou apaixonada — repetiu vezes sem fim, com vontade de rir e
chorar ao mesmo tempo. — Apaixonada!
A magia da palavra era inexplicável. Até então, desfrutara bem pouco
desse sentimento maravilhoso. Adorava os pais, apesar de eles terem vivido
absorvidos um pelo outro.
Mas agora era diferente; o sentimento que Diogo despertava nela a
fazia delirar, ser feliz e ver o mundo mais bonito.
As horas passaram lentamente para Christine, até que ouviu uma
carruagem parar no pátio diante da casa. Correu para o quarto e levou um
choque ao checar a própria aparência diante do espelho. Julgava que o amor a
transformaria, que a tornaria mais bela, mas a imagem que viu refletida no
espelho era a de uma mulher de rosto pálido, óculos e cabelos em desalinho.
Perambulou de um lado para o outro no quarto sem saber que atitude
tomar até que o mordomo foi levar-lhe um recado que seu tio a aguardava na
biblioteca.
Sua vontade era correr escada abaixo, porém conteve-se.
Ao entrar no aposento, encontrou o lorde à sua espera porém sozinho.
Diogo não esperara para vê-la, concluiu desapontada.
— Queria me ver? — perguntou, esforçando-se para disfarçar o
desapontamento.
— Ah, sim, precisamos conversar. Sente-se — lorde Bedlington
indicou-lhe uma das poltronas perto da lareira. Christine sentou-se na
beirada, com as mãos no colo. — O duque de Roehampton esteve aqui. Veio
pedir sua mão e casamento.
— Ele havia dito que viria.
— Entendo… Claro que não há motivo para não dar lhe o-
consentimento — prosseguiu lorde Bedlington. — Exceto que me parece um
pouco precipitado. Você acaba de chegar a Londres e não teve tempo sequer

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para conhecer outros pretendentes.
Ele a fitou à espera de que dissesse algo. Após alguns segundos de
silêncio, continuou.
— Entendo que atualmente uma jovem da sua idade já sabe o que
deseja da vida, mas se pedisse minha opinião, eu a aconselharia a esperar um
pouco.
— Ele marcou a data?
— Não, mas afirmou que não vê motivos para demora.
Para surpresa de Christine, ele quebrou o gelo ao pousar as mãos em
seus ombros.— Pense bem antes de aceitar. Não há motivo para pressa e
saiba que sempre será bem recebida nesta casa.
— É muita gentileza, e sou-lhe grata, mas, para ser sincera, quero me
casar com o duque.
Lorde Bedlington afastou as mãos de seus ombros.
— A sua inexperiência me preocupa um pouco. Fique noiva dele se
desejar, mas aceite meu conselho e espere alguns meses, um ano para dar o
grande passo.
— Eu… eu lamento, mas prefiro deixar que ele decida isso.
Christine sabia que seu tio tentava ser gentil, mas ao mesmo tempo
achou intolerável sua sugestão de que deveria esperar.
— Muito bem, faça como desejar. Com sua fortuna, qualquer homem
que a tenha como esposa deve ser parabenizado.
A nota discordante em seu tom a fez fitá-lo. Estaria sugerindo que
Diogo estaria disposto a casar-se com ela por dinheiro? Riu da ideia. Claro
que não! Ele era um homem rico e não precisaria casar-se por interesse. Ele a
queria como esposa porque a desejava, e isso era tudo o que importava.
— Ele sugeriu que passássemos o fim de semana em Cotillion para que
você possa conhecer sua futura sogra. Aceitei, porque imaginei que esse fosse
seu desejo.
Christine não conseguiu entender o desagrado do tio. Talvez lhe fosse
difícil reprimir a indignação que sentia. Afinal, precisar voltar atrás, poucos
dias após ter proibido a entrada de Diogo em sua casa, devia ser uma
humilhação.
A George Bedlington não restava dúvida de que havia algum mistério
atrás daquela história, apesar de não poder negar que seria um casamento
brilhante para alguém tão sem atrativos como sua sobrinha; não havia na
Inglaterra um outro homem solteiro e tão desejado pelas mulheres como o
duque de Roehampton. Mas estava quase convencido de que aquele era mais

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um truque de Lily.
E, por não ser capaz de expressar a própria opinião, manteve-se
inquieto e irritado até o dia seguinte enquanto seguiam para a estação, rumo
a Cotillion.
Um trem especial fora reservado para o transporte dos hóspedes de
Cotillion, que, ao chegarem à plataforma de embarque, encontraram vários
criados aguardando para recepcioná-los.
Um chá foi servido assim que o trem partiu da estação, acompanhado
de tortas e doces deliciosos preparados em Cotillion.
Além dos Bedlington, havia outros convidados dos Roehampton no
trem, pessoas muito bem trajadas, e, diante delas, Christine sentiu-se
inferiorizada. Recolheu-se num canto, em silêncio, despercebida, enquanto
algumas mulheres conversavam animadamente com Lily.
— Deve ser o tipo de festa de sempre, eu creio. Só está faltando Henry,
mas espero vê-lo em Cotillion — disse uma delas.
— Pode ter certeza de que ele não faltará, já que não sai da barra da
saia de Emily — completou alguém, para riso geral.
— Creio que Emily já começa a se cansar dele — disse Lily. — Imagino
sempre que irei encontrar outro em seu lugar.
— E onde ela encontraria outro tão atencioso, tão charmoso e… tão
dependente financeiramente? — manifestou-se maliciosamente uma outra
mulher.
A risada foi geral, intrigando Christine. Emily era a mãe do duque. O
que teria esse tal de Henry a ver com ela?
Christine ficou mais desconcertada ainda ao conhecer Henry, o objeto
de tantos comentários maldosos. Era um homenzinho, gentil e simpático e
sempre pronto a atender a todas elas; não deixava um só minuto a duquesa,
que tratava como se fosse um de seus cachorrinhos de estimação.
Apesar disso, Christine encantou-se com Cotillion. Nunca estivera
numa residência tão ampla e bem cuidada, que mais parecia um palácio
essencialmente inglês, com lagos e um denso bosque, escuro e misterioso.
Sentiu-se perdida no salão de mármore com suas estátuas e pilares, tão
imensos e luxuosos, como se houvesse ouro em tudo, nas paredes, nas
molduras dos quadros, nas mesas, nos uniformes dos criados. Jamais lhe
ocorrera que as pessoas pudessem viver cercadas de tanto luxo e sofisticação.
— Então, esta é Christine… — disse Emily, ao duque de Roehampton,
e sua voz soou tão feliz e radiante quanto os diamantes em suas orelhas.
Era uma mulher miúda e frágil, que parecia flutuar entre os

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convidados, tão inconsequente e figurativa quanto beija-flor.
Mas tal impressão era totalmente falsa, pois, ao conhecê-la melhor,
Christine percebeu que a mãe do duque possuía um senso de organização
impecável, que a fazia administrar Cotillion tão bem quanto um general
administrava seu exército.
Cotillion era um tesouro passado de geração a geração, mas, apesar de
séculos de existência, estava longe de ser antiquado; a residência era tão
moderna quanto o dinheiro poderia torná-la. Nos últimos anos, foram
construídos campos para partidas de polo, quadras de squash e de tênis, sala
de bilhar, além de um local para a prática de arco e flecha, um lago com
trutas, para aqueles que desejavam praticar a pesca, e muitas outras
diversões.
Mas, apesar de tudo isso, Emily vivia queixando-se de tédio, de que
nada havia para fazer no campo, uma afetação, claro; no entanto, seus amigos
sentiam-se penalizados por ela ter que passar tanto tempo fora de Londres.
Os amigos de Emily eram pessoas bonitas, ricas e modernas, que
preenchiam seu tempo indo a bailes e festas, que riam com facilidade e
faziam piadas que quase sempre eram sobre eles mesmos.
George Bedlington reprovava tanta futilidade, porém era a vida que
Lily entendia e adorava: viver rodeada de luxo e sofisticação, ser servida por
criados competentes e que mais pareciam máquinas do que pessoas. Lily
gostava de dar voltas pelo mundo sempre que tivesse vontade, e nada mais a
preocupava além de joias, vestidos e festas e sua posição na sociedade, e
quando abraçava Emily era com sinceridade e afeição.
— Christine, nossa jovem irlandesa…
Emily Roehampton olhou para a jovem sobrinha de George
Bedlington e imaginou o que Lily e Diogo tramavam com aquela história de
casamento. A garota era totalmente sem graça e insignificante, e os óculos
pesados que usava em nada contribuíam para melhorar sua aparência. Diogo
a avisara que tinha intenções de casar-se com ela e, apesar de toda a
especulação, não conseguira descobrir o motivo de uma decisão tão
inesperada.
Sabia que Diogo era apaixonado por Lily e que fora amor à primeira
vista. Apaixonara-se por ela um dia após ter chegado do exterior. Percebera
isso pela expressão deliciada em seu rosto ao vê-la descer a escada em
Cotillion, majestosa, num vestido de chiffon rosa e com o colar de safiras
cintilando no pescoço adorável.
Desde então, Emily sabia de tudo o que se passava entre os dois, por

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intermédio do filho ou de suas amigas.
E agora Diogo pretendia casar-se com a sobrinha de Lily; Parecia
muito estranho, exceto pelo fato de a jovem ser herdeira de uma grande
fortuna. Dinheiro era sempre bem vindo, mas eles não estavam propriamente
passando fome e não era típico de Diogo preocupar-se com dinheiro. Não,
Havia muito mais atrás desse inesperado casamento, e Emily estava
determinada a arrancar a verdade de Lily.
Os hóspedes foram levados para os seus aposentos, onde os criados
desfaziam as pesadas malas, e Christine, após ser conduzida por Emily até a
porta daquele que seria seu quarto, entrou no aposento e olhou com
desagrado para o vestido branco que Violet colocara sobre a cama.
— Detesto esse vestido! — exclamou.
Violet olhou-a com espanto.
— Não a ouvi entrar, senhorita. A festa desta noite não será tão chique.
Julguei que seria mais acertado reservar o vestido mais bonito para amanhã,
quando serão trinta convidados para o jantar.
No fundo, Christine não estava tão preocupada com roupas. Preferia
admirar a decoração do quarto, com a enorme cama no centro dele. Eram
belíssimos os espelhos com molduras douradas nas paredes. Gostou da
escrivaninha e elegante bloco de papel de carta sobre ela. Havia também um
tinteiro de ouro, um porta-canetas e mata-borrão, tudo contendo o brasão da
família.
De repente, deu-se conta de que futuramente tudo aquilo lhe
pertenceria, e o peso da responsabilidade assustou-a. Conseguiria
administrar uma casa tão grande e verificar se tudo era feito de forma correta,
como agora? Concluiu que não conseguiria, mas em seguida sorriu ao
lembrar-se de que Diogo estaria ao seu lado para ajudá-la.
Sorriu sonhadora ao lembrar-se da chegada. Diogo encontrava-se na
sala de visitas e, apesar de junto com ela terem chegado os demais hóspedes,
ele fora cumprimentá-la primeiro. Segurou-lhe as mãos e perguntou se havia
feito uma boa viagem. Só então desejou boas-vindas aos demais.
Estava ansiosa para encontrá-lo novamente e poder entregar-lhe o
presente que comprara em Bond Street. Era apenas um livro, que julgara que
ele fosse gostar de ler.
Lembrou-se de ter deixado o pacote na sala de estar.
— Deixei algo lá embaixo — disse a Violet.
— Quer que eu vá apanhar?
— Não. Termine de desfazer a mala. Sei exatamente onde deixei.

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Christine entrou na sala de estar vazia e logo notou que o livro
continuava no mesmo lugar. Pegou-o e, ao voltar-se, deu com Diogo parado
junto à soleira da porta, Ele parecia surpreso em vê-la.
— Percebi alguém entrar aqui e vim ver quem era — disse ele. —
Posso ajudá-la?
— Obrigada, mas vim apanhar algo que esqueci aqui.
— Vejo que encontrou…
— Oh, sim.
Aproximou-se, e Christine percebeu sua expressão cansada.
— É para você. Um livro que achei que fosse gostar de ler.
— Para mim? — disse o duque, sorrindo diante da surpresa. — É
muita gentileza. O livro é sobre o quê?
— Cavalos. O que está na capa se parece com o que você contava
naquele dia… quero dizer… quando o vi na Grosvenor Street.
Mais uma vez ele foi pego de surpresa, e, por um momento, parou de
abrir o pacote.
— Quando foi isso?
— Por coincidência, o vi na rua no dia em que cheguei a Londres. Seus
cavalos assustaram-se e deram trabalho.
Diogo pareceu pensativo ao tentar lembrar-se da ocasião.
— Não sabia que tinha me visto.
Christine chegou a suspeitar que dissera algo errado, porque, de
repente, ele pareceu zangar-se. Mas, ao desembrulhar o livro, sorriu ao ver a
capa.
— Deve ser Rufus ou Rubi — constatou. — São os nomes dos cavalos
castanhos que você viu. Obrigado por lembrar-se de mim. Também tenho um
presente para você, mas pretendo entregá-lo somente após o jantar.
— Vai dizer o que é ou pretende fazer uma surpresa?
— Uma surpresa, eu creio — disse ele, solenemente. Abriu o livro e
passou a folheá-lo, observando atentamente as fotos contidas em suas
páginas. — Você também é apaixonada por cavalos?
— Sim! Sempre cuidei deles, e papai costumava dizer que ensinando
potrinhos eu era tão boa quanto ele.
— Não diga… — começou a dizer o duque. — Eu sabia que seu pai
criava cavalos… e então, você o ajudava?
Christine assentiu, sorrindo.
— Gostaria de conhecer meus cavalos amanhã e quem sabe dar um
passeio?

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— Seria maravilhoso, mas eu não trouxe roupa de montaria. Jamais
imaginei que teria oportunidade de montar e nem me preocupei em trazer
roupas adequadas. Julguei que tia Lily não fosse permitir que eu usasse.
— Terá de conseguir uma. Verei o que posso fazer — disse ele,
vagamente. Houve um instante de silêncio até que dissesse: — Obrigado pelo
livro. Nos veremos no jantar.
Christine entrou no quarto e fechou a porta, a mão no coração.
— Encontrou o que procurava? — Violet quis saber.
— Era um livro que comprei para o duque. Já o entreguei. Nos
encontramos na sala de estar, e parece que ele gostou do presente.
— Fico contente, senhorita.
— Cheguei a recear que ele não fosse gostar, mas felizmente ele
também adora cavalos.
— Isso é muito bom. Mas agora é melhor se aprontar para o jantar,
pois não seria delicado atrasar-se.
No corpo, o vestido branco pareceu ainda mais sem graça e a fazia
sentir-se pequena e insignificante. Havia algo estranho com as roupas que
Lily comprara; nenhuma ajustava-se bem em seu corpo, tampouco as cores a
valorizavam.
Observou Violet penteando-a como monsieur Henri recomendara e
concluiu que aquele monte de cachos no alto da cabeça não combinava com
seu rosto. Lembrou-se de Lily, tão perfeita em sua beleza, e detestou a
própria aparência.
— Se eu pudesse levar Diogo para Rosaril, onde posso ser eu mesma…
— disse a Violet. — Sinto-me sem graça e infeliz aqui e não entendo as piadas
que contam. Imagine que no trem todos riam e comentavam a respeito de um
homem chamado Henry. Quando o conheci, não consegui entender a razão
de tanta caçoada.
— Trata-se de um amigo da duquesa. Conheço quase todos os
convidados, de tanto ouvir falar. Realmente, não se consegue esconder nada
dos criados.
— O que você quer dizer com "um amigo"? Acha que ele está
interessado na duquesa?
— Parece que é bem mais do que isso, mas talvez a senhorita não
entenda.
Christine largou a escova de cabelo.
— Você está querendo sugerir que ele é… amante dela?
— Foi o comentário que ouvi.

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— Não pode ser verdade. Pessoas como a duquesa não se portam tão
mal.
— Tem razão. Devem estar enganados. Por favor, esqueça o que eu
disse.
Durante o jantar, Christine observava a duquesa. Apesar da idade, ela
era uma mulher coquete: ria muito e, como as outras mulheres, costumava
tocar com a mão o homem que estivesse ao seu lado. Lily fazia o mesmo,
flertava abertamente com o homem charmoso à sua direita, ignorando
inteiramente o marido, que se encontrava à sua esquerda.
— Devo estar imaginando coisas. Lily não seria capaz de flertar com
qualquer um, ainda mais na presença do marido.
No entanto, durante todo o jantar, a impressão que tinha era de que as
mulheres tentavam seduzir o homem que estivesse mais perto, provocando-o
com olhos, sorrisos sensuais e ombros desnudos.
Sentia-se aliviada por ainda não terem anunciado o noivado. "Todos
passarão a me tratar de outra forma quando souberem que serei a dona de
Cotillion. Na certa, começarão a bajular-me, como fazem com a duquesa",
pensou.
A conversa à mesa prosseguia animada, com muito riso, e Christine
sentia-se como uma estranha no ninho, ciente de estar sendo dispensada
como alguém de pouca ou de nenhuma importância. Sentia-se desprezada,
assustada com aquelas criaturas superficiais cujos olhos curiosos pareciam
saber exatamente o que os demais pensavam, o que diriam a seguir.
— Por que será que Lily está punindo Diogo tão severamente?
Christine ouviu uma das mulheres comentar com o seu vizinho da
direita.
A resposta foi um desinteressado encolher de ombros.
— Ela só pode estar querendo puni-lo — disse ele.
— Tem razão, mas será que ela pensa que irá feri-lo? Aquilo para ele
não foi nada.
— É sobre Rosie que você está falando? A pobre garota foi quem se
deu mal. Mas Emily fez bem enviando Diogo para longe.
— E funcionou. Longe dos olhos, longe do coração… Senti pena dela
apesar de saber desde o início que o fim seria inevitável.
Christine tentou entender sem conseguir. O que eles tentavam dizer?
Tia Lily punindo Diogo? A conversa era tão incompreensível quanto o
restante, decidiu.
Ficou grata quando finalmente o jantar terminou. A comida estava

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deliciosa e acompanhada de vários tipos de vinho, mas, como era de esperar,
ela não provou nenhum, preferiu água.
— Um jantar maravilhoso, Emily — disse Lily, enquanto as damas
deixavam a sala.
— Ainda bem que gostou, minha querida. Sabe me dizer o que há com
Diogo? Achei-o muito quieto esta noite. — A duquesa olhava nos olhos de
Lily, que sorria de modo enigmático.
— Verdade? Não notei.
Chegando à sala de estar, Christine sentou-se em silêncio, enquanto as
outras mulheres continuavam com seus comentários maliciosos. Após algum
tempo, os homens vieram da sala de jantar e seu coração disparou.
Finalmente chegara o momento pelo qual ansiosamente aguardava.
No entanto, ao chegar, em vez de vir para o seu lado, Diogo parou
para conversar com um grupo de pessoas. Enquanto conversava, uma das
mulheres sugeriu a Emily que jogassem bridge.
E, enquanto decidiam os pares para o jogo, Diogo finalmente
aproximou-se dela.
— Quer vir comigo até a sala de música? — convidou. Christine se pôs
em pé num salto, e assim que saíram pôde ouvir os comentários atrás deles.
A sala de música era ampla e aconchegante e havia um piano de calda
no centro dela. E, embora a noite não estivesse fria, havia fogo na lareira.
Assim que entraram, o duque fechou a porta atrás de si e tirou do
bolso uma caixinha de veludo. Ao abri-la, Christine viu que se tratava de um
lindo anel de diamante em forma de coração. Era uma joia magnífica e muito
antiga.
— É um anel que há séculos é usado pelas noivas de Cotillion até o dia
do casamento. Pensei em dar-lhe outro, mais moderno, mas julguei que fosse
gostar deste, e afinal é uma tradição.
— Obrigada. É lindo, e ficarei orgulhosa de usá-lo. Christine devolveu-
lhe a caixa, julgando que ele fosse colocar o anel no seu dedo. Hesitou
quando ele não se manifestou.
— Posso usá-lo?
— Se desejar… Mamãe já deve ter contado a todos sobre o nosso
noivado.
— Não acha que é cedo?
— Você se importa?
— Não… acho que não, só que seus amigos me assustam um pouco.
Me tratam como a maior indiferença.

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— Lamento muito… Foi tolice minha não ter percebido, mas, com
certeza, quando a notícia do nosso noivado chegar aos seus ouvidos, tudo
será diferente.
— Eu pensava o mesmo durante o jantar — Christine suspirou. —
Quando souberem que sou sua noiva começarão a bajular-me porque sabem
que algum dia serei dona deste lugar, mas isso não fará com que eu mude.
Serei sempre a mesma.
— Você é uma garota muito engraçada! — exclamou o duque.
— Engraçada?
— Desculpe… pretendi dizer diferente. Acho que não entendo muito
de garotas.
— Quem é Rosie? — ela perguntou de repente. Ele a fitou com ar
intrigado.
— Quem lhe falou sobre ela?
— Ninguém. Foi uma conversa que ouvi durante o jantar. Entendi que
fosse alguém com quem você queria se casar.
— Se não se importa, eu prefiro não falar sobre isso, mas faço questão
de que saiba que jamais pedi alguém em casamento; por outro lado, tenho
vinte e nove anos de idade e portanto, não espere ser a primeira mulher em
minha vida.
— Claro… O passado não importa, somente o futuro, nosso futuro
juntos.
— Tem certeza de que me quer como seu marido? — perguntou ele, de
repente.
— Toda a certeza do mundo.
— Muito bem… Apesar de seu tio ter pedido que esperássemos algum
tempo, Lily sugeriu que nos casássemos no próximo mês. O que acha disso?
— Se é o que deseja, para mim está bem — Christine concordou, sem
coragem de encará-lo. Olhou para o anel, brilhando na luz do fogo.
— Ótimo. Agora devemos voltar para junto dos demais. Devem estar
preocupados.
— Sim, vamos. Obrigada pelo anel. É lindo!
Ficou parada, hesitante. Será que ele pretendia beijá-la? Esperou, o
coração em disparada.
— Fico feliz que tenha gostado… — disse o duque, desapontando-a.
Passou por ela, abriu a porta e esperou. Christine abaixou a cabeça e
caminhou em direção à sala de estar.

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CAPÍTULO VI

— Precisamos conversar. Espero-a na fonte — Diogo sussurrou no


ouvido de Lily, enquanto passeavam no jardim após o almoço m domingo.
— Você enlouqueceu? George está nos vigiando.
— Não importa. Não consegui falar com você todos estes dias. Vá ao
meu encontro, eu insisto!
Lily viu que George conversava no terraço com alguns dos convidados
de Emily. Ele não gostava de passeios pelo jardim, mas poderia descer por
pura maldade, para não perdê-la de vista. Talvez ainda suspeitasse de Diogo.
Precisavam ter cuidado.
Convencidos de que não seriam vistos, Lily e Diogo desapareceram
atrás de um muro alto, coberto por vegetação e longe da vista de qualquer
um que estivesse no terraço! Ele abraçou-a, impaciente.
— Não faça isso! Estamos nos arriscando demais. Se George nos vir,
jamais me perdoará.
— Por que está tão nervosa, querida? Eu te amo!
Lily sorriu. Era impossível zangar-se com Diogo, e, embora não
admitisse, também desejava ansiosamente um momento a sós com ele.
— Precisamos conversar. As coisas não podem continuar como estão!
— Que coisas?
— Meu noivado com Christine. E uma situação absurda! A garota é por
demais inocente, quase infantil. Não faz ideia do que está acontecendo.
Lily afastou-o bruscamente.
— Realmente, Diogo, o que esperava? Que ela estivesse disposta a
casar-se com você para facilitar o seu romance com outra mulher?
— Não se trata disso. A minha situação é muito embaraçosa. Quando
você me convenceu a entrar neste jogo nem sequer pensei na pobrezinha
como sendo uma pessoa, apenas um objeto que nos seria útil. Agora sinto
pena dela.
— Ora, Diogo, muitas mulheres dariam a vida para estar no lugar
dela. Christine só tem a ganhar com esse casamento. Sabemos que é muito
rica, mas não é nem um pouco atraente. E, embora seja sobrinha de George,
não estaria frequentando nosso meio se não fosse por… por isso!
Percebendo que Diogo continuava preocupado, pousou a mão na dele.

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— Você não quer que terminemos tudo para sempre, quer?
— Oh, Lily, minha querida, eu não suportaria. — Diogo abraçou-a. —
Por que não podemos ser apenas um homem e uma mulher que se amam?
Por que precisamos valorizar mais nossa posição social do que nossos
sentimentos?
— Está sugerindo que viveríamos felizes numa cabana? Meu caro
Diogo, não duraria uma semana.
— Eu me contentaria tendo apenas você.
— Você me terá, Diogo, mas depois do seu casamento.
— E quanto a Christine? Não me sinto nada confortável enganando-a.
— Relaxe, meu querido, sei o que é melhor para todos. E quanto a
Christine, ela não pode queixar-se da sorte. Afinal, se tornará a duquesa de
Roehampton e de sobra ganhará Cotillion. O que mais uma garota tão sem
atrativos quanto ela poderia desejar?
Lily tentou desvencilhar-se de seus braços.
— Você está me deixando maluco, Lily. Tão linda e tão inacessível.
— Comporte-se, Diogo! Precisamos ser mais cuidados do que nunca,
porque em breve teremos toda a liberdade do mundo para nos amar.
— Mas, enquanto isso, dê-me um beijo.
Contrariando tudo o que havia dito, Lily não resistiu e beijou-o
apaixonadamente, depois afastou-se.
— Vamos rápido. Já devem ter notado a nossa ausência. Irei na frente.
O duque ficou observando-a partir sem saber se devia deixá-la ir ou
abraçá-la. Por fim, resolveu que seria mais sensato deixá-la ir.
Momentos de intimidade como aquele o deixavam ainda mais
frustrado. Estava viciado em Lily e não tolerava ficar longe dela. Não
conseguira dormir na noite anterior, inconformado com a ideia de precisar
casar-se com outra mulher para tê-la.
E, após pensar seriamente no assunto, concluiu que Lily tinha razão
em ser contra a ideia do divórcio; sabia o quanto era alto o preço que uma
mulher divorciada teria de pagar. Não conseguia imaginá-la vivendo num
lugarejo na França, quando estava acostumada a frequentar o Palácio de
Buckington, os grandes salões de baile em Devonshire, Londonderry e
Sutherland House, e finais de semana em Cotillion. Lily fazia parte do
cenário inglês, que mudaria, perderia a graça se ela fosse viver num outro
país.
Suspirou resignado. Valeria a pena amar alguém tão frágil e efêmero
como as rosas erguendo suas pétalas em direção ao calor do sol?

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— Aqui está você, Diogo. Imaginávamos o que poderia ter lhe
acontecido — ouviu sua mãe dizer pouco depois, ao aproximar-se do terraço.
Ao seu lado encontrava-se Christine, com o rosto inclinado, e, como os óculos
escondiam seus olhos, não pôde ver-lhe a expressão.
Ignorou-a, irritado por sentir-se culpado como fosse uma criança pega
numa travessura, até sua mãe insistir:
— Christine gostaria de conhecer a fonte, por que não a leva até lá?
Era como se ela tivesse adivinhado o que se passara momentos antes e
o enviasse de volta ao local, mas dessa vez com a mulher certa.
Voltou-se para Christine e ofereceu-lhe o braço.
— Será um prazer. Vamos?
Caminharam em silêncio. Era a primeira vez que estavam juntos desde
a noite do noivado. Diogo sabia que a notícia causara uma enorme surpresa.
Emily comentara que fora possível ver a incredulidade nos olhos de todos,
mas, ao tomarem conhecimento dos milhões de Christine, a incredulidade foi
substituída por sorrisos de satisfação.
Isso fez com que ele se irritasse ainda mais, mesmo sabendo que
aquelas mesmas pessoas achariam seus escrúpulos absurdos. Na sociedade
onde viviam, casos de amor extraconjugais eram corriqueiros. Ele mesmo
tivera várias mulheres casadas, algumas aprovadas por sua mãe, e outras que
precisou manter em segredo, tendo o cuidado para não mencionar seus
nomes quando estivesse em Cotillion. Ter se apaixonado por Lily, na opinião
de sua mãe, era apenas uma demonstração de seu excelente bom gosto. Mas
todos sabiam que cedo ou tarde ele teria de se casar. Sua mãe contava com
isso, e, ultimamente, com frequência tocava no assunto.
— Você precisa se casar para que eu possa recolher-me em Dowen
House. Não será fácil deixar Cotillion, mas preciso pensar em mim, só para
variar. Sonho em conhecer a índia e também devo aceitar o convite daquele
marajá que insiste em que eu passe uma temporada em seu palácio… Além
disso, pretendo conhecer a América, aceitar o convite dos Vanderbilt. E,
quando me cansar de viajar, pretendo ter uma casa em Londres, mas prefiro
que seja pequena, do tipo das que vi em Curzon Street…
Diogo sabia bem que sua mãe esperava que ele assumisse Cotillion. E,
apesar de não ter em mente ninguém com quem desejasse se casar,
exasperava-o saber que, mesmo antes de se casar, já pensava em ser infiel.
Amando Lily como amava, não poderia ser de outra forma.
E agora estava para se casar com Christine. Haviam chegado à fonte, e
ela parecia maravilhada com o que via.

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— É lindo aqui, não acha?
— Sim, muito.
Como suportariam viver juntos daquela maneira, perguntou-se. Será
que Christine não tinha nenhum outro interesse na vida? Estava preparado
para sentir pena dela, mas o que sentia agora era desdém. Lily tinha razão;
ele lhe daria um nome honrado, um título de nobreza, e ela deveria ser grata
por isso.
— Agora que já viu a fonte, podemos voltar? Deixou-a junto com sua
mãe e Lily, que conversavam, e entrou sozinho na casa. Percebendo sua
irritação, Lily tratou de manter Christine longe de sua presença o restante do
final de semana.
A notícia do noivado foi a sensação da temporada, e o casal começou a
ser convidado para todas as festas e jantares e todos os eventos importantes.
Enquanto isso, a casa dos Bedlington, em Park Lane, vivia repleta de
visitantes. Christine começava a irritar-se com tanto alvoroço.
E, embora ansiasse por alguns momentos a sós com o noivo, para que
conversassem sem serem ouvidos por todos, não sabia como dizer isso a Lily.
Estavam frequentemente juntos, no entanto não conseguiam trocar sequer
duas palavras.
Os dias foram passando, enquanto Lily cuidava dos preparativos para
o casamento: enxoval, costureiras, compras de sapatos, luvas, malas, fazendo
com que Christine se sentisse como uma boneca sem vontade própria. Só
conseguia ser ela mesma quando estava a sós com Violet.
— Ainda bem que tudo isso em breve terminará — dizia à criada. —
Quando casada poderei ficar a sós com Diogo. Mal posso acreditar que logo
estaremos casados. Só me convenço disso quando desço e vejo todos aqueles
presentes acumulando-se.
— A senhorita tem certeza de que precisa ir ao baile desta noite?
— Precisar, realmente, não preciso, mas quero ir, quero estar perto de
Diogo, dançar com ele… Oh, Violet! Fico tão tímida quando estou perto
dele…
— Na minha opinião, vocês vão demais a festas. Não pode pedir ao
duque que a leve para dar um passeio pela cidade esta noite? Só vocês dois?
— Se eu pudesse… Mas tia Lily não permitiria. Certa vez, sugeri que
fizéssemos algo sem a presença de todas aquelas pessoas e ela não gostou.
— Tem certeza de que casar-se com o duque é o que realmente deseja,
senhorita?
— Claro, Violet! Eu amo aquele homem, e estar perto dele para mim é

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como estar no paraíso, mesmo sem conversarmos.
— Espero sinceramente que a senhorita seja feliz — disse Violet, como
se duvidasse das próprias palavras.
— Sei que serei — disse Christine, olhando para o anel cintilando em
seu dedo. — Sabe, Violet, a noite passada fiquei observando-o no jantar. Ele
parecia tão aborrecido quanto eu. Aposto que preferiria estar a sós comigo.
— O duque sabe que a senhorita o ama tanto?
— Não, ele não sabe. Sou muito tímida e jamais confessaria isso.
Desconfio que ele também seja, porque jamais fala de amor comigo. Mas
pediu-me em casamento, e esta é a maior prova de amor que um homem
pode dar a uma mulher.
"Oh, senhorita, tenha cuidado!", Violet desejou alertar, mas calou-se.
— Tia Lily acha que não me dou conta da sorte que tenho, mas estou
ciente disso, apenas não consigo expressar.
— Quer um conselho? Viva a sua vida e esqueça a sua tia.
— Você não gosta dela, não é? Não precisa responder. Sei que não
deseja ser impertinente, mas noto o seu desagrado sempre que ela está por
perto. Só não entendo o motivo. Ela é tão linda e todos a idolatram.
— De fato, sua tia é muito bonita.
— Eu gostaria de ser como ela, mas nem todos os costureiros e
cabeleireiros do mundo me fariam tão bela.
— Por que não experimenta tirar os óculos, senhorita?
— Farei isso no dia do casamento. Não conseguiria encarar os amigos
de meus tios sem eles. Temo que descubram exatamente o que penso deles.
— Nunca lhe disseram que possui olhos lindos?
— Não aqui na Inglaterra.
— Também pudera, ninguém consegue vê-los.
Como Christine queixara-se a Violet, ela e Diogo nunca ficavam a sós;
mesmo quando saíam para um passeio no parque, Lily fazia questão de
acompanhá-los, fazendo comentários divertidos, e com isso chamava toda a
atenção para si. E, com a aproximação do dia do casamento, até esses poucos
momentos com Diogo foram rareando. Não havia um minuto em que não
estivessem tirando-lhe medidas ou que ela não estivesse endereçando
convites ou agradecendo os presentes recebidos.
Na véspera do casamento, Christine ficou emocionada quando seu tio
presenteou-lhe com um belíssimo colar de pérolas.
— Oh, tio George, que gentileza! Vou usá-lo no dia do casamento.
— Aconselho-a a não usar. Pérolas atraem lágrimas — interveio Lily.

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— Tenho certeza de que estas não. Além disso, não sou uma pessoa
supersticiosa. Está decidido. Usarei o colar.
— Faça como desejar, mas depois não diga que não avisei… Christine
não pôde deixar de notar o sorriso de desagrado da tia.
No entanto, encantada com o colar, subiu para o quarto com a
intenção de mostrá-lo a Violet, mas não a encontrou. Colocou o colar no
pescoço e ficou admirando-o, imaginando se o duque gostaria dele.
Agradava-a o toque gelado das pérolas contra a pele. Tia Lily podia achar
que elas atraíam lágrimas, mas eram lindas. Enquanto as admirava em frente
ao espelho, Violet entrou no aposento.
— Julguei que estivesse lá embaixo, senhorita.
— Por quê?
— O duque está aqui.
— Diogo, aqui? Ninguém me avisou. Tem alguém em casa?
— Seu tio eu sei que saiu, mas quanto à sua tia não saberia dizer.
— Ela comentou que faria uma visita a lady Winsborne esta tarde e
que seria bom eu descansar um pouco. Ainda bem que não me deitei. Você
me ajuda com os cabelos, Violet?
Christine desceu a escada pouco depois, adorando saber que
finalmente ficaria a sós com Diogo. Talvez ele tivesse algo especial para dizer,
talvez estivesse saudoso…
Surpreendeu-se ao entrar na sala de estar e não encontrá-lo. Que pena,
deve ter ido embora, concluiu, desapontada.
Mas ouviu vozes que vinham do escritório ao passar pelo corredor, a
caminho da escada. Então Lily não saíra como dissera que faria.
Estava prestes a abrir a porta quando ouviu a voz do duque, que soava
carregada de emoção.
— Não adianta ficar brava comigo, Lily, eu precisava vê-la. Não
entende que ficarei um mês inteiro fora?
— Você deve estar louco! Quando recebi seu recado precisei desfazer
um compromisso. Disse a todos que Christine precisava de mim.
— Sabia que você encontraria uma boa desculpa. Quando vi George
jogando bridge no clube não pensei duas vezes. Era a chance que eu
esperava.
— Você faz cada uma, Diogo, mas sabe que sempre o perdoo.
— Oh, Lily, você está mais linda do que nunca.
— Ainda bem que acha… Os preparativos do seu casamento me
cansaram.

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— Meu casamento? Não seria mais apropriado dizer o "seu"
casamento, já que foi você quem o inventou? Ainda se você fosse a noiva…
— Gostei de ouvi-lo dizer isso, embora seja totalmente impossível.
— Fuja comigo, Lily.
— E deixar George e Christine às voltas com um casamento sem o
noivo? Seria desnecessariamente cruel.
— Não me importo! Venha comigo, ainda há tempo. Prometo que a
farei feliz.
— Diogo, Diogo, quantas vezes mais precisarei dizer que é
impossível? Seja paciente. Quando voltar da lua-de-mel, verá que poderemos
nos encontrar sem problemas. Seremos felizes como éramos antes de George
descobrir sobre nós.
— Não vou mentir dizendo que a situação me agrada; não queria nada
disso, mas se você prefere assim. Saiba que de qualquer forma eu te amarei.
— É bom saber que continua a me amar… Mas agora seja sensato e vá
embora.
— Venha cá — disse ele, puxando-a para dentro de seus braços.
— Diogo, me abrace. Esta pode ser a última vez que estaremos a sós
até você voltar.
— Lily, Lily, não me faça lembrar disso! Sabe o quanta eu te amo!
— Escute! O que foi isso? — Lily afastou-se dele, assustada. — Tenho
certeza de que ouvi algo.
— Deve estar imaginando coisas. George não teria tempo de estar de
volta. Mas, se tiver voltado, diremos que vim ver os presentes.

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CAPÍTULO VII

Christine entrou cambaleando no quarto, precisando se conter para


não gritar de decepção. Violet largou o que estava fazendo e correu para
acudi-la.
— O que aconteceu, senhorita?
— Me dê o chapéu e o casaco.
— Qual deles, senhorita? Onde pretende ir?
— Para a Irlanda, onde é meu lugar.
— Mas o que houve? O que a aborreceu?
Christine atirou-se na poltrona e cobriu o rosto com as mãos.
Adivinhando o que acontecera, Violet ajoelhou-se a seu lado e abraçou-a.
— Não fique assim, por favor…
Christine tirou as mãos do rosto, não chorava.
— Você sabia!
— Infelizmente, ouvi comentários. Como deve saber, não há segredos
entre os criados.
— Que tola eu fui, acreditei que ele estivesse apaixonado por mim.
— Lamento muito, senhorita, eu sei como se sente, mas não poderia
dizer nada, apenas rezar para que descobrisse a verdade.
— Eu não fazia ideia… jamais poderia imaginar… Posso entender que
se amem, mas não precisavam me usar. É imoral! Como alguém pode pensar
em algo tão vil?
— Pobre senhorita! — Violet estava emocionada até as lágrimas.
— Eu deveria odiá-lo e nunca mais querer vê-lo; no entanto, ainda o
amo, Violet! — Christine fechou os olhos por um momento, para afastar o
horror dos próprios pensamentos, em seguida levantou-se, como se tivesse
tomado uma decisão. — Faça as malas, vamos embora daqui.
— Tenha calma, senhorita, e lembre-se de que se for embora nunca
mais o verá. O escândalo será tão grande que ele jamais a perdoará. Pense no
que dirão as pessoas, a rainha, que já confirmou sua presença na cerimônia,
os presentes todos aqui… Não é como casar com um qualquer, seu futuro
marido é um duque!
— Acha que me importo com títulos de nobreza? Eu amava somente o
homem — Christine suspirou, frustrada. — Vou para a Irlanda, para junto

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das pessoas que conheço e entendo, para os meus animais, que me são fiéis.
Diogo é cruel, não tem escrúpulos.
— Acredita que fugir seja a melhor opção? Será capaz de suportar a
dor, uma dor que não passa, a dor de querer um homem e que não a deixa
dormir? Rolar na cama a noite inteira pensando nele, mesmo sabendo que
jamais tornará a vê-lo? Eu sei bem como é sofrer assim.
— Violet, eu não fazia ideia do seu sofrimento. Por que não me
contou?
— De que adiantaria? Contei agora apenas para alertá-la. No seu
lugar, eu levaria esse casamento adiante, mesmo o duque sendo tudo o que o
acusa de ser. Se só os homens justos fossem amados, não haveria corações
partidos.
Como Christine nada dissesse, Violet insistiu.
— Não pense nele, apenas em si mesma. O casamento o ligará para
sempre à senhorita, por seu nome e posição. Será dona da sua casa, e será
para lá que ele sempre voltará.
Christine caminhava de um lado para o outro no quarto. De repente,
parou e olhou para o parque através da janela aberta.
— Como poderei suportar isso? Olhar para ele sabendo que nada sente
por mim, que apenas me usou?
— E se não puder mais vê-lo? Desistindo dele, passará a vida toda
imaginando o que ele estará fazendo, com quem estará, será torturada pela
curiosidade. Casados, saberá sempre onde ele se encontra, do contrário, será
torturada pela própria ignorância.
— Oh, Violet, por que sofrer assim? Um homem não pode valer tanto.
Enquanto aguardava a resposta de Violet, Christine pensava no
quanto dependentes de um homem eram as mulheres. Eles é que as faziam
felizes, traziam luz a suas vidas, sem eles estariam condenadas à eterna
escuridão,
Havia pouco, ouvira Diogo declarar seu amor a Lily, implorar para
que ela concordasse em fugirem juntos, porém tola e frívola que era, Lily o
recusara. Que estupidez dar mais valor à posição social do que ao amor
verdadeiro.
"Se fosse comigo eu iria com ele para qualquer lugar", pensou.
Foi então que percebeu que Violet tinha razão: não deveria partir e
deixá-lo sozinho. Negar que o amava seria o mesmo que negar o fato de que
estava viva. Suspirou desalentada, sabendo que se ficasse estaria trocando
uma agonia por outra.

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— Bem, Violet, decidi ficar…
A noite demorou para passar. Só agora começava a entender coisas
que até então não faziam sentido, tais como a amizade da duquesa de
Roehampton com Henry, os pares que se formavam em Cotillion.
Entendia agora por que todos se surpreenderam tanto com a notícia de
seu casamento com Diogo, para em seguida adotarem aquele ar irônico, como
se adivinhassem seus planos.
Na escuridão de seu quarto, cobriu o rosto com as mãos, humilhada
como jamais estivera. Fora uma tola, uma ingênua, acreditando em tudo o
que diziam. Mas Violet estava certa. Por que fugir? Ficaria e se casaria com
ele nem que fosse para fazê-lo pagar pelo mal que fizera.
De repente, percebeu que a tristeza fora substituída pelo ódio e pela
revolta e que envelhecera muitos anos naquela noite; não era mais uma
criança, e sim uma mulher amarga e ressentida, determinada a não tornar a
sofrer a mesma dor.
Quando o dia clareou, abriu as cortinas e se pôs a observar o tranquilo
panorama. E, diante de tanta beleza, percebeu que não estava só, que a fé que
aprendera a ter com seus pais a mantinha em pé e com coragem para
continuar vivendo.
— Por favor, meu Deus, faça com que ele me ame!

No dia seguinte, Lily já estava pronta quando decidiu ir até o quarto


de Christine. Encontrou-a aos cuidados de monsieur Henry, que terminava
de prender na sua cabeça a grinalda de flores de laranjeira. A costureira dava
os últimos pontos na bainha do vestido; era sinal de boa sorte terminar de
costurar o vestido de noiva minutos apenas antes da cerimônia de casamento.
— Seu vestido está lindo! É pena que esteja tão pálida — disse Lily.
Christine não respondeu. Sabia que Lily devia estar contente por ela
não estar atraente; desse modo ela não prenderia a atenção de Diogo.
— Se ao menos mademoiselle não insistisse em usar esses óculos… —
monsieur Henry se queixava. — Eles anulam totalmente o efeito do penteado.
— Tem certeza de que não poderá ficar sem eles durante a cerimônia,
Christine? — indagou Lily.
— Sinto muito, mas precisarei usá-los.
Lily encolheu os ombros. Se Christine preferia ficar feia, era problema
dela.
— Muito bem — disse ela. — Estou indo. George a espera na entrada,
e trate de não demorar. Diogo não gosta de atrasos, ainda mais no dia do seu

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casamento.
No passado, Christine agradeceria a informação, mas naquele
momento não deu importância. Olhou-se no espelho e achou-se igual a
qualquer outra noiva: véu, grinalda e flores de laranjeira. Esperava tanto por
aquele que julgava ser seu grande dia, o começo de uma tão almejada
felicidade, mas, ironicamente, acabara sendo o seu dia mais infeliz.
Tomou coragem e desceu, sabendo que a partir daquele momento
tudo seria uma ilusão; os votos de felicidades dos criados, o trajeto até a
igreja, a caminhada através da nave principal até o altar, e agora o duque ao
seu lado assinando os papéis da cerimônia.
Alguém se aproximara para levantar o véu do seu rosto sem que
Christine se desse conta de quem se tratava, até ouvir a voz fingida de Lily
desejando-lhe felicidades. Agradeceu e voltou-se para o duque, que estendia-
lhe o braço.
Pela primeira vez o fitou, imaginando se ele também acharia aquela
uma situação absurda. Enquanto caminhava ao lado dele, percebia o olhar
dos convidados, seus sorrisos e a multidão lá fora aplaudindo.
Entraram na carruagem e partiram.
— Mas que multidão! Espero que não a tenham assustado — disse ele.
— Não, eu estou bem.
Diogo tentava ser gentil, mas esse comportamento não mais a
impressionava.
— O arcebispo conduziu a cerimônia com perfeição. Na verdade,
correu tudo muito bem.
— Uma cerimônia de casamento como outra qualquer — disse ela,
com sarcasmo.
— Todos estes preparativos devem ser cansativos para a noiva. Minha
mãe costuma dizer que estava tão estressada no dia em que se casou que
chorou durante toda a cerimônia.
— Que desagradável para o seu pai… — disse, fria. O duque a fitou,
surpreso com aquela atitude.
— Bem, chegamos — avisou ele pouco depois. — Veja a Multidão que
se aglomerou aqui. Será que essas pessoas não têm mais o que fazer?
— Talvez estejam invejando nossa felicidade — sugeriu Christine.
Desceu da carruagem, deixando o duque ainda mais intrigado.
A recepção foi exaustiva. Apertos de mão e beijos de centenas de
pessoas cansariam qualquer um, muito mais a noiva, que passara em claro a
noite anterior.

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E, após ter cortado o bolo de cinco andares, poder saborear uma taça
de champanhe foi a sua salvação. O líquido gelado e borbulhante deu-lhe
novo ânimo.
Ao subir para trocar-se, Violet não escondeu sua satisfação ao vê-la tão
bem.
— Eu estava preocupada.
— Suportei bem, melhor do que julgava. Tudo pronto?
— Sim, senhorita… quero dizer, senhora. A carruagem virá apanhá-los
em quinze minutos.
Com a ajuda da criada, Christine vestiu a roupa que Lily escolhera
para ser usada na viagem. O chapéu adornado com plumas era do mesmo
tom do vestido.
— Estou pronta — avisou ao pegar as luvas.
— Desejo que faça uma ótima viagem, dentro do possível, senhora.
— Obrigada.
Christine agradeceu e deixou o quarto. Lá embaixo, os votos de boa
viagem que recebia a deixavam ainda mais frustrada. Se pelo menos estivesse
viajando com alguém que a amava!
Após atirar o buquê, notou que Diogo a aguardava para partirem. Ao
receber o beijo de despedida de Lily, percebeu que ela também sofria. Sentiu
uma ponta de satisfação nisso, e, ao entrar na carruagem, pôde imaginar
como Diogo se sentia. Com certeza, seu desejo era estar partindo com a
mulher que amava, só que ela não tivera coragem suficiente para romper com
tudo e entregar-se ao amor.
Uma chuva de pétalas de rosas caiu sobre a carruagem quando
partiram, o símbolo da fertilidade, pensou Christine, e sorriu com ironia.
Sentou-se calada, esperando que Diogo fizesse algum comentário. Ele
pousou a cartola ao lado e suspirou.
— Estou exausto. Nunca vi tanta gente junta. Você também deve estar.
— Minhas mãos estão.
— É verdade, devíamos seguir o exemplo dos chineses, que recusam
apertos de mão.
— Também não se beijam, eu creio.
— Está sugerindo que devo beijá-la ou que não devo?
— Confesso que não pensei nisso.
— Mas deveria — disse ele. — Bem… imagino sobre o que devemos
conversar numa ocasião desta. É o tipo de coisa que não se encontra num
livro de etiquetas.

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— Já pensou que as pessoas não precisam de um livro para encontrar
um assunto para conversar?
O duque sorriu, tornando-se mais atraente ainda.
— Estamos falando bobagens apenas para ter o que dizer. Não nos
casamos todos os dias, logo, qualquer tipo de comportamento estranho deve
ser perdoado.
Era o tipo de comentário inteligente e, sem dúvida, teria feito seus
amigos caírem na risada. Porém Christine não achou a menor graça.
— Se importa que eu fume? — indagou ele.
— Fique à vontade. Creio que estamos chegando à estação.
O chefe da estação os aguardava para conduzi-los ao vagão
especialmente decorado com cravos, lírios e rosas. Criados vindos de
Cotillion estariam a postos para servi-los. Assim que se acomodaram, foi-lhes
servido champanhe e canapês. Christine estava sem fome, mas o duque
aceitou tudo o que foi oferecido. Estava faminto, queixara-se.
Em poucos minutos, talvez por falta de assunto, ele adormeceu.
Christine o examinou; parecia tão jovem e vulnerável e tinha no rosto um ar
indefeso que não possuía quando acordado. Desejou pousar sua cabeça no
próprio peito e protegê-lo, tocar seus cabelos, encostar o rosto no dele. Ao
dar-se conta do que fazia, instintivamente procurou afastá-lo do pensamento.
Aquele era o homem que tentara destruir seu coração. Deveria odiá-lo, não
admirá-lo.
Após as duas horas da viagem até Dover, ele começou a despertar.
Percebendo isso, Christine fechou os olhos e fingiu dormir.
Passariam a noite de núpcias na casa dos tios de Diogo, uma
imponente mansão em estilo Georgiano situada a três quilômetros do centro
de Dover, numa região bem próxima de onde pegariam o navio na manhã
seguinte.
Havia bandeiras de boas-vindas e arcos de flores adornando a entrada
da mansão. Criados encontravam-se de prontidão. E, após o pequeno
discurso do mordomo, todos se retiraram, com exceção da criada de quarto
que acompanhou Christine aos seus aposentos. Após conhecer a suíte, ela foi
sentar-se na saleta. Encontrou a lareira acesa, apesar de ser verão.
— As noites aqui são sempre frias — disse a criada, que em seguida
avisou que Violet em breve chegaria com a bagagem.
A sós, Christine atirou-se numa das poltronas. Estava exausta e a
cabeça lhe doía. Uma sensação de pânico a invadiu. Logo seria hora de deitar-
se, e Diogo na certa esperaria que ela…

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Estava consciente do quanto era ignorante nesse assunto. Deveria ter
pedido explicações, mas a quem? Sentia-se assustada com o desconhecido e
pensou em fugir, talvez esconder-se.
E pensar que várias vezes no escuro de seu quarto ansiara por aquela
noite, julgando que Diogo lhe ensinaria tudo a respeito do amor entre um
homem e uma mulher. Em seus pensamentos, ela cedia ao toque de suas
mãos, à insistência de seus lábios, até que…
De repente, espantou-se com a própria imaginação. Estaria tão louca
por ele a ponto de entregar-se mesmo não sendo desejada?
Aos poucos foi acalmando-se, a respiração retomou o ritmo normal e
agora escapava lentamente dos lábios entreabertos.
O duque encontrou-a no sofá, com a cabeça recostada, pálida, porém
tranquila. Ele olhou para o relógio, impaciente, e em seguida pegou uma
revista e passou a folheá-la.
Christine concluiu que ele precisava ocupar-se, para disfarçar o
nervosismo.
— Gostaria de dar uma volta pelo jardim? — de repente ele convidou.
— Não, obrigada. Creio que vou me deitar.
— Muito bem. Eu irei, mas não demoro. Imagino que deva estar
cansada após um dia tão cheio.
O que ele disse a forçou a tomar uma decisão.
— Não. Não estou cansada, e preciso falar com você — disse, e, sem
saber como, as palavras escaparam do seu controle. — Sei exatamente por
que se casou comigo, Diogo, e jamais permitirei que me toque. Me ofenderia
muito se fizesse isso.
Christine levantara-se enquanto falava, e agora estava diante dele,
furiosa.
— Como assim?
— Acidentalmente, ouvi o que você conversou na noite passada com
Lily.
— Então, você nos ouviu… — disse ele, pálido.
— Sim, e ainda não consigo acreditar como alguém possa descer tanto,
que possa simplesmente esquecer-se de tudo o que é honrado e decente.
— E mesmo assim se casou comigo?
A pergunta a surpreendeu, e ela não conseguiu responder. E enquanto
permanecia em silêncio, o duque continuou.
— Lamento que tenha ouvido coisas que não eram para ser ouvidas.
Percebo o quanto devo ter ferido seus sentimentos. Mas, por outro lado, me

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perdoe se a faço lembrar que concordou em casar-se comigo sabendo que
amor seria algo à parte no nosso acordo.
— Como assim? Não concordei com nada dessa sujeira!
— Jamais falamos de amor, lembra-se? — disse ele. — Pedi sua mão na
segunda vez que nos vimos e você certamente não esperava que eu me
apaixonasse em tão pouco tempo.
— E por que não? De quanto tempo se precisa para render-se à
paixão? Deve ter ouvido falar em amor à primeira vista.
Diogo fez um gesto impaciente. Não acreditava que Christine pudesse
ser tão ingênua.
— Isso acontece somente em circunstâncias excepcionais e para
pessoas também excepcionais. Eu lhe ofereci meu nome e você aceitou.
— Eu deveria ter sido comunicada que se tratava de um negócio.
Ninguém me avisou que ao aceitar seu nome eu estaria encobrindo sua
relação extraconjugal com minha tia.
— Só posso dizer que lamento tudo isso.
— Então, de acordo com o acordo que fizemos, devo ser a esposa
compreensiva que aceita a infidelidade do marido como se de nada soubesse?
— Não pedi isso a você — disse ele, friamente.
— Mas é o que você e Lily esperam de mim!
— Me perdoe, mas prefiro que a deixe fora disso.
— Muito bem. Não tornaremos a falar sobre ela nem sobre coisa
nenhuma. Só quero que saiba o que penso. Já cumpri minha parte no acordo:
sou sua esposa e sei que não poderei impedi-lo de ser infiel, mas faço questão
que saiba que o desprezo. Considero-o indecente, desonrado e inescrupuloso,
assim como aqueles que o cercam. E, pelo acordo que fizemos, tornei-me uma
duquesa e você ganhou o poder sobre o meu dinheiro. Só espero que faça
bom proveito dele.
Christine atravessou a sala com altivez e dignidade e saiu, fechando a
porta atrás de si.
Trancou-se no quarto, como se temesse ou esperasse que Diogo a
tivesse seguido. Mas não ouviu nenhum som no corredor. E, no quarto, o que
se ouvia era apenas o tique-taque do relógio sobre a lareira.

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CAPÍTULO VIII

Na manhã seguinte, o duque e a duquesa de Roehampton partiram de


navio rumo à França. A cabine de luxo para eles reservada estava decorada
com flores e frutas, e dois criados permaneceriam à disposição do casal. Mas,
quando Diogo saiu para dar uma volta pelo convés sem convidar Christine
para acompanhá-lo, nem as exuberantes orquídeas nos vasos nem o
champanhe gelado serviram-lhe de consolo.
Ela suspirou desalentada. Seu maior sonho sempre fora conhecer a
França, Paris principalmente, e ficara radiante ao saber que passariam a
maior parte da lua-de-mel em Paris. A cidade inspirava romances e por isso
tornara-se o paraíso dos recém-casados.
— Mas ele estragou tudo — murmurou ressentida, após o duque tê-la
deixado.
Tentando fazer passar o tempo, folheou uma das revistas que ele
comprara antes de embarcarem. Gestos delicados como aquele é que a
enganaram, fazendo-a acreditar que ele a amava. A habitual cortesia, suas
boas maneiras tinham sido adquiridas na infância. Ele não conseguiria ser de
outra forma, exatamente como não podia deixar de ser tão bonito ou de ser
um nobre.
Em outras circunstâncias, sua gentileza talvez tivesse ajudado a
amenizar o clima tenso, mas não após a dramática discussão da noite
anterior.
Haviam tomado café da manhã juntos, antes de embarcarem e,
enquanto Christine não conseguia controlar seu nervosismo, a calma de
Diogo a exasperava.
— Posso servir-lhe ovos mexidos? — ele perguntara após desejar-lhe
um bom dia. — Ou prefere linguado frito?
— Ovos mexidos, por favor — pedira, sem muito entusiasmo. Diogo
servira-se de tudo um pouco.
— Ainda bem que o mar está calmo e a travessia será perfeita —
dissera. — A última vez que atravessei o canal da Mancha foi em fevereiro, e
o mar estava extremamente bravo. Creio que fui o único passageiro que não
passou mal…
Enquanto conversavam, Christine concluíra que eles pareciam dois

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totais estranhos vendo-se pela primeira vez, e não um casal em lua-de-mel.
— Viu nossas fotos nos jornais? — indagara ele. I
— Ainda não. Já foram publicadas? — Christine estendera a mão para
o jornal e sorrira ao ver-se na primeira página. — Realmente, eu deveria ter
me casado sem óculos.
— Eles são de fato necessários?
— Claro…
Se naquele momento Diogo pudesse ver seus olhos, saberia que o
fuzilavam. Ele era tão seguro de si que a fazia sentir-se tola e infantil. A
gentileza com que a tratava tinha um ar de reprovação, mas talvez fosse a
maneira dos nobres de enfrentar situações difíceis como aquela. Diante disso,
sua explosão da noite anterior não devia ter passado de uma demonstração
de histeria típica de pessoas sem classe. Mas ele jamais saberia como havia
ferido o seu coração.
"Espero que ele sofra por ela o mesmo que estou sofrendo", pensou
amargurada. Não adiantava negar que o amava: amava suas mãos, seu rosto,
seu sorriso… Tudo nele era inebriante e a fascinava.
O que mais desejava era tocá-lo, pedir-lhe que ao menos continuassem
sendo amigos. Mas a imagem de Lily tão atraente se interpunha entre eles,
fazendo-a odiá-lo ainda mais.
Desviou o olhar. Era melhor apreciar a paisagem.
Ao desembarcarem em Paris, Christine ficou fascinada com tudo o que
viu. Os parisienses eram totalmente diferentes dos ingleses, sempre tão
sérios. Ali tudo era novo e excitante. Estava em Paris!
Havia uma carruagem do hotel esperando-os, com funcionários
uniformizados, todos muito gentis e prestativos.
O Ritz era o hotel mais famoso da cidade; sua decoração suntuosa e o
conforto de suas dependências o tornavam um dos locais mais procurados
pela sociedade europeia. Era um dos primeiros hotéis a oferecer a
comodidade de ter banheiros privativos. Nos demais, havia apenas um
banheiro em cada andar.
— Que confortável ter um banheiro só para nós, não acha, Violet? —
comentou Christine, na suíte.
Apesar de a suíte ser ampla e conter sala de estar e dois dormitórios,
Diogo se instalara na suíte ao lado.
— Mais parece um palácio!
Um verdadeiro palácio, Christine concluiu mais tarde, indo com Diogo
em direção ao restaurante do hotel. Fazia uma noite quente de céu claro e

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estrelado, um cenário perfeito para um romance.
O jantar seria servido no terraço ao ar livre, e foram conduzidos à
mesa arrumada para dois. Havia uma fragrância de rosas no ar, música suave
e todas aquelas delícias para saborear, Christine pensou, olhando a mesa
repleta de iguarias finas. O que mais seria preciso para uma lua-de-mel
perfeita?
— De fato, é uma maneira bastante agradável de jantar em noites
quentes como esta — disse Diogo, sem muito entusiasmo.
Christine não estava disposta a permitir que sua falta de entusiasmo
estragasse a noite.
— Parece um sonho — disse, ouvindo a música suave que parecia
transportá-la para um mundo de encantamento.
De repente, percebeu que Diogo lhe dirigia a palavra de modo
impaciente, e lhe estendia o cardápio. Christine o leu sem ser capaz de tomar
nenhuma decisão.
— Não quer escolher para mim? — pediu, hesitante.
Diogo discutiu vários pratos com o atencioso maítre, até ele assentir e
afastar-se. Logo depois, um garçom trouxe sherry, para tomarem enquanto
aguardavam pelo jantar.
Christine achou surpreendente o modo como o tempo passou
depressa. Havia tanto para admirar, tanto para conhecer que nem notou o
longo silêncio que pairava entre ela e Diogo. Somente ao vê-lo verificar as
horas no relógio é que percebeu que o jantar terminara.
— Podemos ir? — indagou, sem ter certeza do que iriam fazer a seguir.
— Claro… Foi um longo dia, e deve estar querendo dormir. Christine
desejou protestar; dormir era a última coisa que ela desejava fazer no
momento, mas, como não tinha outra sugestão, concordou em voltarem à
suíte.
Ao entrarem na sala de estar, olhou para o relógio sobre a lareira e
notou que ainda não eram dez horas. Impulsivamente virou-se para o duque
com a intenção de pedir-lhe que a levasse a algum lugar, mesmo que fosse
apenas para olhar as ruas iluminadas ou sentar-se num dos famosos cafés.
Desejava muito conhecer Paris à noite.
Estava prestes a pedir-lhe isso quando ele declarou:
— Espero que durma bem. Nos veremos no almoço, amanhã. Boa
noite.
E no minuto seguinte já se afastava.
Pôde ouvi-lo falar com Hutton, seu criado particular, através da porta

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entreaberta.
— Traga-me a capa e o chapéu, Hutton, e não espere por mim, porque
não sei a que horas estarei de volta.
— É bom estar em Paris, senhor — disse Hutton.
— É verdade. Será que ainda se lembram de mim?
— Não acredito que alguém o tenha esquecido.
— Seria bom demais. Pretendo ir ao… Um barulho lá fora a impediu
de ouvi-lo revelar o nome do lugar onde pretendia ir. Christine pôde ouvir
apenas seus passos distanciando-se no corredor.
— Quero que me faça um favor, Violet. Tente descobrir com Hutton
onde o duque foi. Invente uma desculpa qualquer.
— Sim, senhora — disse a criada.
No minuto seguinte, Violet batia à porta do quarto do duque e Hutton
abriu.
— Olá, sr. Hutton. Por caso viu uma caixa de chapéus preta?
— Não, srta. Walters.
— Então devo ter deixado no saguão. Também pudera, com tantas
malas!
— Nem me fale.
— Que lindo hotel, não acha? Pretende sair e conhecer a cidade após
desfazer as malas?
— Claro. Não conseguiria dormir sem respirar o ar de Paris.
— Vocês homens é que são felizes. O duque já saiu para se divertir e
você fará o mesmo. Só nós, pobres mulheres, temos de ficar trancadas aqui
dentro.
— Não necessariamente. Por que não vem comigo? — convidou
Hutton. — Termine com as malas e em seguida sairemos. Tenho certeza de
que a duquesa não vai precisar de você.
— Suponho que você conheça Paris…
— Mais ou menos.
— Quais são os melhores lugares para frequentar? Já ouvi falar de
alguns, mas não consigo lembrar-me. Por exemplo, esse lugar onde o duque
foi?
— Ele foi ao Maxim's. E onde mais poderia ter ido? É onde se
encontram as mulheres mais lindas da França.
— É mesmo? Quero saber tudo a respeito, mas depois de terminar de
desfazer as malas. Encontrarei você lá embaixo em uma hora.
— Combinado!

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Violet entrou na sala da suíte e aproximou-se de Christine.
— Ele foi ao Maxim's, madame.
— Obrigada, Violet. Estou pensando em ir até lá.
— Sozinha? — Violet perguntou, chocada.
— Não, suponho que não. As mulheres não têm mesmo vez, não é?
Bem… vou dormir, já que não resta nada mais a fazer.
Mas quando estava para tirar o colar, ouviu batidas à porta. Violet foi
atender, mas, como não entendia o que o mensageiro dizia, Christine foi
ajudá-la. Orgulhava-se de falar fluentemente francês, graças à sua mãe, que
fizera questão que ela estudasse o idioma.
— Um cavalheiro deseja vê-la, madame — disse o mensageiro.
— Um cavalheiro? Qual é o seu nome?
— Monsieur Blythe.
Christine sorriu.
— Faça-o subir, por gentileza.
— Perfeitamente, madame — respondeu o mensageiro, antes de
afastar-se.
— É meu primo Archie — explicou a Violet. — Não o vejo há anos.
Como terá adivinhado que me encontro hospedada no Ritz?
— A notícia de seu casamento foi publicada em todos os jornais,
madame.
— Claro! Mas é maravilhoso tornar a vê-lo. — Olhou-se no espelho
para verificar o penteado. — Ainda bem que não me troquei — disse, indo
em direção à sala de estar.
Tinha alguns minutos até que Archie subisse. Ele era alto, forte e
elegante, mas grande parte dessa elegância devia-se ao seu alfaiate. Estava
sempre impecavelmente vestido, e seus ternos eram muito bem cortados. Em
outro século teria sido rival de Beau Brummel, mas na era eduardiana era
tido como "excêntrico".
Mas, apesar da aparência, Archie Blythe possuía um coração de ouro e
ninguém conseguia resistir ao seu bom humor.
Ao vê-lo, Christine correu até ele de braços abertos.
— Archie! Que surpresa!
— Que bom vê-la, querida! Soube do seu casamento através dos
jornais. Levei um choque. Não sabia que estava noiva. Mas foi um belo
casamento. Roehampton é um bom rapaz. Onde está ele?
— Foi ao Maxim's. Quero que me leve até lá, Archie.
— Ao Maxim's, sozinha? Na própria lua-de-mel?

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— Que importância tem isso? Quero ver como é.
— Lamento, minha cara, mas não será possível. O Maxim's é um lugar
muito frequentado, mas é proibido às esposas.
— Por favor, escute. Diogo saiu para se divertir e quero saber com
quem ele está. Talvez, se eu usar um disfarce, ninguém saiba que estive lá.
— Você não pode fazer isso, Christine. Esqueceu-se de que agora é
uma duquesa? Deve comportar-se como tal.
— Que me importa ser duquesa? Já estou farta de títulos de nobreza.
Não pode fazer isso, não pode fazer aquilo… Só você poderá me ajudar,
Archie.
— Ajudá-la? Como? Não quer me dizer o que está acontecendo?
— Está bem. Sente-se — pediu.
Christine contou-lhe como era feliz em Rosaril, em seguida falou sobre
a fortuna que recebera, sobre a morte da prima Aline, até ser forçada a viver
em Londres com George Bedlington, irmão de seu pai. Por último, falou
sobre seu noivado com o duque e como fora traída por ele.
Archie a fitou consternado.
— Assustador! Absolutamente assustador! Se não fosse você quem
estivesse me contando eu não acreditaria.
— Percebe agora por que preciso da sua ajuda? Quero saber o que
Diogo está fazendo. Não suportarei ficar imaginando com quem ele estará se
divertindo.
— Jamais pensei que Roehampton fosse capaz disso! Mas, pensando
bem, creio que poderei ajudá-la, ou melhor, conheço alguém que fará isso.
— E quem seria?
— Seu nome é Renée de Valmé.
— Quem é ela?
— Uma amiga. Ela é bastante conhecida em Paris. É muito chegada ao
grão-duque Ivan.
— Não me importa quem seja, desde que me leve ao Maxim's. Será
que ela concordará em me levar?
— Não sei… Por que não perguntamos? Na verdade, eu pretendia
convidá-la para sair.
— Oh, Archie, eu sabia que me ajudaria. Não é à toa que papai o
considerava a pessoa mais generosa do mundo.
— Sou um bobo de coração mole, se quer saber.
— Rápido, Violet. Dê-me a capa e a bolsa!
— Espero que se divirta, senhora.

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— Obrigada, Violet. Saia com Hutton e divirta-se, mas não diga nada a
ele. Deixe-o pensar que estou dormindo.
Violet sorriu. Finalmente a madame tornava a sorrir.

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CAPÍTULO IX

Madame Renée de Valmé era filha de um respeitável advogado em


Amiens, e aos dezoito anos fez sua primeira conquista. O cliente mais
importante de seu pai, o príncipe Maxime de Vallière Châtel, enamorou-se
perdidamente por ela. Sendo casado, precisou usar todo o seu poder de
persuasão para convencê-la e aos seus pais de suas boas intenções. Pretendia
levá-la a Paris para encarregar-se de sua educação.
Tendo mais de cinquenta anos de idade, o príncipe achou tão
divertido ensinar-lhe as artes e a história da civilização quanto iniciá-la na
arte do amor.
Alguns anos depois, quando ele subitamente faleceu vítima de um
ataque do coração, Renée já havia se tornado uma mulher culta e sofisticada,
bem diferente da garota sem graça que partira do vilarejo chamado Amiens.
Como era de esperar, ela não ficou desamparada; o príncipe deixou-
lhe dinheiro suficiente para mantê-la em segurança pelo resto da vida. No
entanto, aos vinte e cinco anos, Renée não pensava em manter-se na
obscuridade.
Tornou-se famosa em Paris, e suas roupas eram copiadas por mulheres
de todas as classes sociais; suas joias eram fabulosas, e em seu apartamento,
na avenida Gabriel, mantinha mais obras de arte do que o Louvre, e maiores
tesouros do que existiam no museu de Cluny.
Ao seu modo, tornou-se tão refinada quanto qualquer uma das damas
que a condenavam por sua reputação. E não abria mão de uma condição: seja
lá quem fosse o seu amante atual, ele poderia ter certeza absoluta de sua
fidelidade.
Fez tantos amigos que alguns chegavam a procurá-la para pedir-lhe
conselhos sobre como resolver problemas familiares.
— Renée e eu somos amigos desde que cheguei a Paris — explicou
Archie.
Na verdade, a amizade deles começara quando ele era ainda muito
jovem e jogava fora o pouco dinheiro que possuía mais por
irresponsabilidade do que por generosidade.
Renée o tinha como um irmão caçula irresponsável, porém muito
querido. Mostrara a ele uma Paris que poucos conheciam e fez com que ele

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soubesse que conseguiria divertir-se sem tornar-se vulgar ou imoral. Com
Renée, ele adquiriu uma autoconfiança que de outra forma jamais teria
adquirido.
Archie atualmente era um homem respeitado, e sempre que ia a Paris
a visitava.
Christine não sabia o que esperar de tal pessoa. Imaginava encontrar
uma mulher vistosa, vestindo-se de modo extravagante, muito colorido,
talvez com muitas plumas e joias. Mas viu-se diante de uma mulher miúda,
ainda jovem, cabelos presos e vestindo preto. O único colorido nela eram as
esmeraldas do colar e dos brincos que usava.
Não era bela, mas bastou que sorrisse para que seu rosto se iluminasse
e todo o seu charme fosse revelado.
— Meu querido Archie — disse ao vê-lo.
— Minha cara, Renée — disse Archie, beijando-lhe as mãos. — Quero
que conheça minha prima, a duquesa de Roehampton. Ela precisará da sua
ajuda.
Renée estendeu-lhe a mão, surpresa.
— É uma honra conhecê-la, madame, mas como poderei ajudá-la?
— Deve saber que estou em Paris em lua-de-mel… — explicou
Christine, sentando-se no sofá que Renée indicara.
— Sim… Li sobre o seu casamento nos jornais.
— Bem, como eu ia dizendo, na véspera do meu casamento descobri
algo que me deixou muito infeliz.
Pretendendo deixá-las mais à vontade, Archie as interrompeu.
— Preciso ir até onde está o cocheiro. Pedi a ele que nos aguardasse,
mas é melhor dispensá-lo — avisou. Em seguida, saiu fechando a porta.
— Mas o que poderei fazer por você, minha cara? Christine então
contou-lhe tudo o que acontecera, desde que deixara Rosaril, o casamento e a
viagem a Paris.
— Entende agora por que preciso da sua ajuda? Apaixonei-me por ele
e desejo conhecê-lo melhor, aprender a agradá-lo, saber o que pensa e o que
sente. O homem com quem me casei é um total estranho para mim.
— Então, resolveu lutar por seu amor? — indagou Renée.
— Sim, apesar de não acreditar que haja alguma chance. Diga-me a
verdade: com toda a sua experiência, acredita que alguém tão brilhante
quanto o duque chegaria a interessar-se por mim?
— Deixe-me ver. Tire os óculos.
Christine obedeceu e olhou para Renée de modo hesitante.

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— Mon Dieu! Por que esconde olhos tão belos?
— Bem… No início, usava óculos porque sou tímida, e com eles eu me
sentia protegida. Depois, esperei que o duque me pedisse para tirá-los, mas
ele não fez isso.
— Quer dizer que ele nunca a viu sem óculos?
— Nunca.
— Isso facilitará bastante. Venha comigo.
Renée levou-a a um outro aposento. Mesmo preocupada, Christine
não pôde deixar de notar a suntuosa decoração em verde e prata. A imensa
cama de casal era decorada com flamingos, e havia espelhos em todas as
paredes, todos com molduras de prata maciça. Os cabos do pente, da escova
de cabelo e do espelho de mão sobre a penteadeira eram incrustados com
safiras.
Tudo era tão extraordinário que Christine permaneceu boquiaberta.
Renée tocou a campainha para chamar a criada.
Após um momento, uma senhora forte e de meia-idade foi ter com
elas. Renée dirigiu-se à recém-chegada num tom afetuoso.
— Aproxime-se, Marie. Precisamos de sua ajuda. Está vendo esta
dama? O que acha que poderemos fazer com seu vestido? O que acha do seu
penteado?
— Minha nossa, madame, lamento dizer, mas seu vestido é um
desastre — disse ela, com a franqueza das pessoas simples.
— Muito bem — disse Renée. — Creio que poderei usar de
sinceridade, já que é prima do querido Archie. O seu vestido, minha cara, é
horrível. Tenho certeza de que foi confeccionado pelo melhor costureiro
inglês, mas quem o fez não é seu amigo. E, como se isso não fosse suficiente,
ainda a pentearam de um modo que me dá arrepios.
— Na verdade, sempre achei que havia algo errado com os vestidos
que tia Lily encomendou para mim, mas como vim de uma fazenda no
interior da Irlanda, onde passava a maior parte do tempo usando roupas de
montaria, não fazia a menor ideia do que estava na moda. E, quanto aos
cabelos, jamais usei os presos até chegar à Inglaterra.
— Tenho certeza de que com os cabelos soltos você ficará melhor. —
Renée estudou-a da cabeça aos pés. — Ainda bem que temos o mesmo corpo.
— Acho que você é mais magra do que eu — disse Christine.
— Duvido. As inglesas não fazem a menor ideia do que é modelar o
corpo. Não usam espartilho.
Enquanto isso, Marie ajudava Christine a despir-se. Em seguida, tirou

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de uma das gavetas um espartilho preto e a fez vesti-lo. Prendeu-o bem
apertado em sua cintura.
Logo foi a vez das roupas de baixo, tão belas como Christine jamais
vira, de seda pura e enfeitadas com rendas e lacinhos.
O próximo passo seria o penteado. Marie a fez sentar-se diante da
penteadeira e com dedos mágicos soltou-lhe os cabelos, que muito brilhantes
deslizaram por seus ombros até a cintura estreita.
Renée gritou admirada.
— Que lindos cabelos! Que pecado fizeram com eles!
— Tem certeza?
— Só um cego não enxergaria isso. Precisa apenas de umas boas
escovadas. Não costuma escová-los?
— Somente o necessário para desembaraçar. Nunca tive muito tempo.
— A receita mágica é simples: cem escovadelas pela manhã e outras
cem antes de deitar. É o mínimo, não é, Marie?
A criada resmungou qualquer coisa contra os ingleses antes de
começar a escovar vigorosamente os longos cabelos castanhos de Christine
até que adquirissem brilho e elasticidade extraordinários.
— Além dos cabelos bonitos, o formato de sua cabeça é perfeito. Por
que esconder isso com penteados tão pesados e ridículos? Sua rainha
Alexandra jamais esconde a dela. Você devia fazer o mesmo.
Marie agia como uma profissional em ação, e penteou Christine
seguindo o desenho natural de seu rosto, sem fazer montanhas de cachos em
torno da cabeça. Christine jamais julgara que um penteado tão simples fosse
ficar-lhe tão bem.
— E, se vamos ao Maxim's, é melhor que seu marido não a reconheça.
Sei que na Inglaterra as mulheres ainda não usam maquilagem, mas estamos
em Paris, e você usará pelo menos um leve toque de pó facial para tirar o
brilho da pele, rímel para aumentar o volume dos cílios e, claro, batom, para
realçar os lábios.
Quando terminou de ser maquilada, Christine desejou ansiosamente
ver-se no espelho, porém Renée a segurou.
— Não quero que veja como está até terminarmos. Marie, traga o
vestido vermelho que comprei na semana Passada.
— Não precisa emprestar-me um vestido novo. Servirá um daqueles
que já esteja cansada de usar.
— E deixar toda Paris saber que está usando minhas roupas? Não,
minha cara, não é o que pretendo.

73
De um armário embutido na parede, Marie tirou um vestido que era
um verdadeiro sonho, o mais lindo que Christine já vira. Confeccionado em
renda vermelha, tinha o corpete bem justo, decotado e inteiramente
rebordado com miçangas.
Após a criada ajudá-la a vesti-lo, Renée fitou-a com os olhos brilhando.
— Parece que foi feito para você. Devemos ter o mesmo manequim.
— Não posso acreditar! — dizia Christine.
De um porta-joias, Renée tirou brincos de diamantes em forma de
gotas e colocou-os em Christine.
— Sem aliança. Esta noite você volta a ser solteira — avisou Renée. —
Traga as luvas pretas, Marie.
Renée conduziu-a até diante do espelho, que a refletia por inteiro.
Christine mal pôde acreditar no que via; diante de si encontrava-se
uma belíssima mulher.
Inacreditável! Até seu rosto estava diferente, mais fino, ressaltando os
olhos verdes e os lábios vermelhos e convidativos. Nem de longe pareciam
aqueles lábios pálidos e trêmulos que antes temiam falar de amor.
— De acordo com o tom de sua pele você deve optar por cores mais
vivas, até o preto. O branco e os tons pastel em nada a favorecem.
— Lembrarei disso no futuro.
— E agora, Marie, traga-nos a capa de raposa negra. Quando a criada
colocou a capa sobre os ombros de Christine ela estava pronta para sair.
Renée também logo aprontou-se.
— E lembre-se de que seu marido não espera vê-la. Ele jamais poderá
imaginar que a mulher maravilhosa que me acompanha é sua tímida esposa.
Quando ele se aproximar, mantenha-se firme e olhe-o nos olhos sem medo.
Você fala bem francês, mas procure disfarçar o sotaque.
— Tentarei fazer isso. Acredita que ele se aproximara de nós?
— Se realmente estiver no Maxim's ele virá cumprimentar-me. Acha
que terá coragem de enfrentá-lo?
— Sim, madame, e tenho certeza de que ele não me reconhecerá.
— Muito bem. Agora precisamos encontrar um nome para você. —
Renée pensou um pouco. — Já sei! Desirée! Um nome perfeito para a nova
mulher que você se tornou. Agora vamos levá-la para Archie conhecer.
Encontraram Archie lendo uma revista na sala de estar. Levantou-se à
entrada das duas mulheres e olhou para Christine sem poder acreditar nos
próprios olhos.
— Não pode ser você, Christine! Eu juraria que se tratava de uma

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estranha. Como conseguiu isso?
— Quem conseguiu foi sua amiga Renée. Acha que Diogo me
reconhecerá?
— Só se ele for mais esperto do que eu, e isso ele não é. Renée, você é
um gênio!
— Na verdade, não deu trabalho. A duquesa é uma mulher
encantadora.
Ao chegarem à porta do local tão famoso, Christine ficou ligeiramente
desapontada. Esperava ver algo fantástico, porém nada viu de sensacional.
Mas, ao entrarem, viu que se enganara. O enorme salão vermelho e dourado,
todo espelhado, parecia borbulhar como uma imensa taça de champanhe. A
música que tocava era tão contagiante que era impossível manter os pés
parados.
Correu os olhos pelo local e percebeu as mulheres elegantemente
vestidas e usando joias fantásticas, mas que não ofuscavam o brilho de seus
olhos, tampouco seus sorrisos radiantes.
Ali encontravam-se pessoas de diversas nacionalidades, a maioria
delas distintas e sofisticadas; a nata da sociedade européia, da realeza,
fidalgos da Áustria e Espanha, além de outros países.
O grupo com Renée foi conduzido à mesa de sempre.
Christine mal sentou-se e já começou sua busca por Diogo; finalmente
encontrou-o sentado no canto extremo do salão, acompanhado de três belas
mulheres.
— Tome um pouco de champanhe, fará bem a você — aconselhou
Archie.
Christine sorveu o líquido gelado e borbulhante buscando forças para
enfrentar aquela situação hilariante. Alguém perto de Diogo devia ter dito
algo engraçado, porque ele de repente riu enquanto brindava com uma
garota ruiva de vestido prateado.
Pouco depois, ele saiu para dançar com uma outra, a loira de olhos
azuis, meio parecida com Lily. Christine tentou não olhar para aquele lado.
Quando o casal passou, teve a impressão de que Diogo vira Renée. Na certa,
agora ele se aproximaria.
E assim foi.
— Ainda bem que você está aqui, Renée, minha amiga…
Christine ouviu-o dizer em inglês, pegando a mão de Renée e levando-
a aos lábios: — Você é a verdadeira alma de Paris, sem você nada teria graça.
— O duque continua o mesmo galanteador de sempre… — Renée

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sorriu.
— Como está, Blynthe? — perguntou o duque ao apertar a mão de
Archie.
— Muito bem. Como está Londres?
— Cinzenta e poluída como sempre — respondeu o duque. Olhava
para Christine enquanto falava, e ela fingia não notar. Mantinha-se
observando os pares dançando.
— Não vai me apresentar? — Diogo sussurrou no ouvido de Renée,
após ter puxado a cadeira e sentado.
Ela sorriu e balançou a cabeça negativamente.
— Non, mon cher… Ela não é para você.
— Como assim? — indagou, intrigado. — Há algum motivo pelo qual
não devo conhecê-la?
Renée encolheu os ombros.
— Ela é muito atraente, mas seu coração já tem dono.
— Mesmo assim, faço questão de conhecê-la.
— Bem, se insiste… Desirée, quero lhe apresentar o duque de
Roehampton. Minha amiga, srta. St. Cloud.
O duque imediatamente se pôs em pé, e quando Christine estendeu-
lhe a mão, ele a tocou com os lábios.
— Mora em Paris? — indagou em inglês. E, não perdendo tempo,
sentou-se ao seu lado.
— Não, monsieur, sou do interior da França e estou hospedada na casa
de Renée — explicou Christine, num sotaque bastante convincente.
— Que coincidência! Também sou amigo dela, tanto é que
costumamos nos ver seguidamente quando venho a Paris.
— Verdade? Deve ser ótimo… para Renée.
— Será que poderei esperar que também seja ótimo… para você? —
indagou Diogo, num tom confidencial.
— Como poderia saber, se mal o conheço? — disse Christine. Ela
sorria, um sorriso encantador.
— Prometo a você que jamais se arrependerá se procurar me conhecer
melhor.
— Pensarei no assunto, mas sendo amigo de Renée talvez mereça um
voto de confiança.
Christine tomou um gole de champanhe e pensou em como era fácil
ser coquete, flertar, dizer as coisas certas… Mas talvez achasse fácil agora por
sentir-se tão atraente e segura de si.

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— O duque nos honrará com sua presença durante a ceia? — indagou
Christine, achando-se ousada.
— Se eu for convidado…
— Por sorte, meu acompanhante na última hora não pôde vir. E, se
pedir gentilmente, permitirei que nos acompanhe.
— Estou disposto até a implorar.
— Tem certeza de que suas amigas não ficarão desapontadas?
— Estou sozinho, sozinho e entediado. Ou pelo menos estava até
conhecê-la.
Seu olhar maroto fez com que Christine desviasse os olhos. Nunca o
vira tão feliz e tão atraente. Provavelmente, a farsa armada por Lily o
aborrecera.
O garçom aproximou-se da mesa, para servi-los de mais uma taça de
champanhe. Diogo ergueu a dele e propôs um brinde.
— A que brindaremos? Ao nosso próximo encontro? — sugeriu,
fitando-a nos olhos.
— Suponha que… que nos percamos de vista — disse ela, com uma
expressão inocente.
— Isso não acontecerá, pode ter certeza…

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CAPÍTULO X

Diogo e Archie as acompanharam até o apartamento de Renée e,


algum tempo após terem saído, Christine aprontou-se para retornar ao hotel.
Suspirou e estendeu as mãos à nova amiga.
— Oh, Renée, muito obrigada.
— É cedo para agradecimentos, porque há um longo caminho a
percorrer. Estamos apenas começando.
— Sim, eu sei. Diogo convidou-me para jantar amanhã noite.
Combinamos de nos encontrar aqui, às dez horas. Espero que não se importe.
— Vocês têm minha bênção, mas precisará de roupas novas. Que tal
irmos à tarde ao meu costureiro?
— A tarde? Precisarei de uma boa desculpa para dar a Diogo.
— Diga-lhe que deseja fazer compras. Se não me engano, ele
provavelmente inventará alguma desculpa para não ir. Um francês adoraria
acompanhar a esposa às compras, mas os ingleses detestam esse tipo de
programa.
Christine riu.
— Não consigo imaginar Diogo indo às compras comigo.
— Então está combinado? Assim que puder, venha Para cá.
Passavam alguns minutos das cinco da manhã quando Christine
entrou sorrateiramente no hotel. Temia encontrar Diogo no saguão ou na
escada. Mas, pensando melhor, havia pouca chance de isso acontecer, já que
dera a ele meia hora de vantagem antes de retornar ao hotel.
Entrou na suíte tentando não fazer barulho. Imaginava se Diogo fizera
a mesma coisa para não acordá-la. Tirou os óculos e notou que tinha os olhos
brilhando, talvez de felicidade. Sentiu vontade de entrar no quarto ao lado
apenas para vê-lo, mas temeu encontrá-lo acordado e que ele reconhecesse
nela a mulher com quem flertara a noite inteira.
Lembrou-se das palavras de Renée: era apenas o começo, ele ainda
amava Lily. Talvez o tédio de uma lua-de-mel frustrante e sem sentido foi o
que o levara a procurar um pouco de diversão.
Christine suspirou e decidiu dormir um pouco.
Quando acordou, já passava do meio-dia. Saltou da cama aflita. O que
Diogo iria pensar? Mas tranquilizou-se ao se lembrar que, em Cotillion, as

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mulheres só apareciam na hora do almoço, e que em Londres Lily não saía da
cama antes do meio-dia.
Quando Violet chegou para abrir as janelas, um sol radiante inundou o
aposento.
— Teve uma boa noite, senhora?
— Fantástica! Pena que durou tão pouco.
Sem poder conter o entusiasmo, contou à criada tudo o que
acontecera.
— Você precisa ir comigo ao apartamento de Renée para Marie
ensinar-lhe como pentear-me. Gostaria que você visse o vestido que usei na
noite passada! Ajustou-se ao meu corpo como uma luva e me fez sentir uma
outra mulher.
— O duque não a reconheceu?
— Ele jamais conseguiria adivinhar que fosse eu. Mas agora é melhor
levantar-me. Por favor, vá dizer-lhe que estarei pronta em uma hora para
irmos almoçar.
Violet saiu e retornou pouco depois com a notícia de que naquele
momento o duque se encontrava no quarto tomando o café da manhã. Ouvira
de Hutton que o duque chegara no hotel por volta das cinco da manhã.
— Imagino que desculpa ele inventará para ter ido dormir tão tarde!
No entanto, Diogo não tocou no assunto quando se encontraram, e
durante o almoço manteve-se gentil e amigável, porém muito diferente do
homem alegre e feliz que a cortejara.
E, quando ele convidou-a para acompanhá-lo às corridas, esquivou-se,
alegando estar com dor de cabeça. Avisou-o que pretendia ir ao costureiro,
caso se sentisse melhor.
— Tem certeza de que prefere assim? Não quer esperar para fazer isso
amanhã à tarde?
— Preciso de vestidos novos, e, além disso, não seria um programa
muito divertido para você.
— Já que é assim, pedirei a carruagem para as três, está bem?
Jantaremos às oito.
Assim que ele a deixou, Christine mandou desmarcar a carruagem que
ele pedira e foi para o apartamento de Renée.
A luz do dia pôde perceber a beleza do lugar. O prédio onde ficava o
apartamento outrora fora a residência de um rico comerciante. Após sua
morte, os herdeiros mandaram dividi-la em três amplos apartamentos. Um
deles era ocupado pelo filho do antigo proprietário, um homem estranho e

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interessado apenas em artes.
Fora ele quem cuidara da decoração do apartamento de Renée, e fizera
um belíssimo trabalho.
Christine encontrou Renée vestida de preto, e a única joia que usava
era um delicado colar de pérolas. Elogiou sua elegância, antes de ser
conduzida a um aposento que ela queria mostrar-lhe.
— Este será seu quarto durante o tempo em que permanecer em Paris
— disse Renée.
O aposento era pequeno, porém fora tão bem decorado quanto os
demais cômodos e, lá, Marie já estava à espera, ávida para operar a
transformação de Christine.
Monsieur Worth, o costureiro, recebeu-as com seu entusiasmo
costumeiro. Adorava Renée, e ao tomar conhecimento de que uma duquesa
inglesa usaria seus serviços, ele quase delirou de contentamento.
A tarde passou depressa, e Christine, novamente usando óculos,
retornou ao Ritz vinte minutos antes do duque, achando que exagerara ao
encomendar dez vestidos.
Fingia ler um livro na sala de estar quando ele chegou, sorrindo.
— A sorte estava do meu lado esta tarde. Ganhei várias vezes!
— Que boa notícia!
— Ganhei uma quantia considerável, e até comprei-lhe um presente —
disse ele, ao estender-lhe um pacotinho.
Christine rapidamente o abriu. Continha um bracelete de ouro
adornado com pequenas turquesas.
— Uma lembrança de Paris.
— Que lindo! Obrigada — disse Christine, feliz como nunca. Ele se
lembrou dela!
— Achei que iria gostar. No Cartier não há joias que se comparem às
da minha família. Vou mostrá-las a você quando regressarmos. Serão suas, já
que minha mãe possui as próprias joias.
Christine colocou o bracelete.
— Obrigada. Foi muita gentileza sua trazer-me um presente.
— Já tomou seu chá? — indagou o duque. — Eu gostaria de tomar um
uísque com soda.
Após o duque ter tomado o uísque, cada qual foi para o seu quarto,
preparar-se para o jantar. Christine nem sequer preocupou-se com a escolha
do vestido que usaria, uma vez que todos os que trouxera de Londres eram
ridículos. Lily, com certeza, lhe indicara os mais impróprios porque, quanto

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menos atraente fosse a duquesa de Roehampton, mais segura ela estaria do
amor de Diogo.
— Você irá comigo esta noite para aprender a pentear-me — Christine
disse a Violet, enquanto esta a penteava. — Mas precisamos ter cuidado para
que Hutton não desconfie de nada.
— Saímos juntos na noite passada — disse Violet. — Ele foi muito
gentil e mostrou-me lugares interessantes da cidade. Se tornar a me convidar,
direi que esta noite pretendo dormir cedo.
— Usarei a mesma desculpa caso o duque faça perguntas. Preciso estar
no apartamento de Renée antes das dez e meia.
— Será seguro sairmos juntas, senhora?
— Teremos de correr este risco.
Durante o jantar, Christine e Diogo conversaram sobre corridas de
cavalos, mas ela percebeu o quanto ele estava impaciente, olhando o relógio a
cada minuto.
— Desculpe-me… — disse ela — mas pretendo recolher-me mais cedo.
Aquela dor de cabeça ainda me incomoda.
— Lamento muito. Talvez tivesse sido melhor ter jantado no quarto.
Precisa de alguma coisa?
— Já tomei aspirina, e creio que dormindo a dor passará. Subiram para
a suíte e, após se despedirem, Christine permaneceu atrás da porta, tentando
ouvi-lo. Alguns minutos depois, ouviu-o deixar o aposento.
Vestiu a capa e foi à procura de Violet. Encontrou-a pronta para sair.
Após certificar-se de que Diogo não se encontrava no saguão, seguiram de
carruagem para o apartamento de Renée.
— Onde ele terá ido? Ainda é cedo para o nosso encontro — indagou
Christine.
— Em Paris, não faltam bares onde uma pessoa possa passar o tempo.
— Desde que eu não o encontre no apartamento de Renée…
Ao chegarem, Christine viu que havia se preocupado à toa. Apenas
Archie fazia companhia a Renée.
— Ninguém chega aqui sem que tenha sido convidado. Além disso, o
duque avisou que chegaria às dez e meia, e se disse isso, será exatamente
quando chegará.
Renée estava certa; pontualmente naquele horário a campainha tocou.
Enquanto o mordomo dirigia-se à porta, Archie e Renée discretamente
deixaram a sala.
Assim que entrou, o duque aproximou-se de Christine e beijou-lhe as

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mãos.
— Podemos ir?
— Aonde iremos? Ao Maxim's? — indagou ela.
— Podemos passar por lá mais tarde se desejar. Eu gostaria de jantar
num lugar mais sossegado, onde pudéssemos conversar.
— Seria maravilhoso — concordou ela, com os olhos brilhando.

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CAPÍTULO XI

— Pensei em jantarmos no La Rue — disse o duque ao deixarem o


apartamento de Renée.
— Isso seria… Como se diz em inglês? Encantador?
— Desfrutar de sua companhia é mais do que encantador — disse
Diogo.
— Por quê? — a pergunta, que tinha a intenção de desconcertá-lo, o
fez sorrir.
— Será necessário dizer o quanto a acho atraente? Meu coração
dispara quando olho para você, mas, quando a ouço falar, entendo que
interiormente é mais bela ainda.
— Como assim?
Diogo recostou-se no assento para que ela pudesse ver-lhe o rosto.
— Talvez algum dia eu lhe responda isso, não agora — disse ele, num
tom profundo, que a deixou sem fôlego.
O La Rue era um restaurante bem mais tranquilo que o Maxim's. As
várias mesas dispostas pelo salão guardavam uma distância razoável uma da
outra, de maneira a manter a privacidade de quem o frequentasse. A comida
era soberba, e, apesar de não estar com fome, Christine provou de tudo o que
foi servido.
Tentava ficar à vontade, embora a situação a deixasse apreensiva.
Temia que a qualquer instante Diogo a reconhecesse.
— Não consegui tirá-la dos meus pensamentos o dia inteiro — ele
confessou, sobressaltando-a.
A situação ainda a deixava confusa, e certas vezes esquecia-se qual das
duas deveria ser no momento.
— Espera que eu acredite nisso?
— É pura verdade. Fui às corridas esta tarde e, por coincidência, havia
um cavalo chamado "Mon Dêsir". Apostei nele e ganhei.
— Meus parabéns. Ganhou muito?
— Muito mais do que esperava, e comprei-lhe um presente.
Tirou do bolso uma caixa de veludo negro e entregou-lhe.
Ao abrir, Christine não conteve uma exclamação de espanto. Dentro
da caixa havia um bracelete de diamantes. Perto daquela joia, a outra que

83
recebera durante o jantar tornava-se modesta.
O bracelete cintilava com as luzes do restaurante, e, enquanto o fitava,
o significado do presente a transtornou. Rapidamente, fechou a caixa e
devolveu-a.
— Não estou à venda, monsieur — disse ela, com frieza. Por um
instante o fitou, os olhos verdes faiscando. Ela era jovem e orgulhosa e estava
mais linda do que nunca. Fez menção de levantar-se, mas Diogo segurou-a
pelo braço e a impediu de fazer isso.
— Por favor, perdoe-me. Não pretendi ofendê-la. Deixe-me explicar.
O toque firme de seus dedos era o melhor argumento para fazê-la
ficar. Sua raiva aos poucos foi desaparecendo. Desejou poder fechar os olhos
e saborear a emoção de vê-lo implorar.
Percebeu que as pessoas os olhavam e decidiu ouvi-lo.
— Só queria agradá-la! Ganhei uma pequena fortuna graças a você e
julguei que merecia uma recompensa. Não fique brava comigo. Jamais a
ofenderia.
— Só o perdoarei se prometer comportar-se.
— Prometerei o que desejar. Você é tão adorável, tão...
— Já lhe pedi para que se comportasse, se não o fizer, irei embora.
— Por que tanto pudor? Por causa do homem pelo qual está
apaixonada?
— Não se trata disso…
— Você o ama? Ele é seu amante?
— Não!
Christine notou o seu olhar de triunfo e arrependeu-se de ter sido tão
veemente.
— Eu sabia! Tinha certeza disso.
— Mas do que está falando?
— Você é amiga de Renée, suas roupas são elegantes, está sempre bem
maquilada, bem penteada, mas, com tudo isso, notei que há algo puro em
você. — Segurou-lhe as mãos e aproximou-se dela de modo que seus rostos
ficassem apenas poucos centímetros um do outro. — Diga a verdade. Algum
homem já a possuiu?
Christine sentiu o sangue subir-lhe ao rosto.
— Claro que não!
O duque deu uma gargalhada de contentamento e levou suas mãos de
novo aos lábios.
— Oh, minha querida, eu tinha certeza disso, mas queria ouvir de

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você. Agora tudo faz sentido.
— Por favor, comporte-se. As pessoas estão nos olhando.
— Acha que me importo? O que poderão dizer a não ser que somos
jovens, felizes e apaixonados?
— Não é verdade.
— Certa vez, alguém falou-me sobre amor à primeira vista, e julguei
que algo assim só aconteceria excepcionalmente, mas estava enganado.
— Mas o que sabe do amor? Não pense que amar é correr atrás de
todos os rostos bonitos que vê.
— Sei disso, mas você, que é tão inocente, tão inexperiente, jamais
entenderia o que aconteceu comigo na noite passada.
— Por que não tenta me contar?
— Bem… Eu fui ao Maxim's para me distrair. Nos últimos dias
aconteceram coisas que me transtornaram e me deixaram apreensivo em
relação ao futuro. — Tomou um gole de vinho antes de continuar. — Procurei
afogar as mágoas com champanhe, mas o efeito foi o contrário do desejado. A
bebida me entristeceu e as garotas que antes me interessavam de repente me
pareceram tolas e fúteis.
Christine mal continha sua satisfação ao ouvi-lo referir-se daquele
modo às mulheres que tanto a enciumaram na noite anterior.
— Fiquei muito feliz quando vi Renée; finalmente teria alguém
inteligente com quem conversar. Mas, quando a vi, algo dentro de mim me
dizia ser você a mulher por quem a vida inteira procurei. Meu desejo era tê-la
junto de mim, falar-lhe… No final da noite, eu já queria muito mais.
— Então pensou que poderia me subornar…
— Não é verdade. O bracelete foi dado com a melhor das intenções.
— Você pertence a um mundo diferente do meu, Diogo, e, além disso,
estou apaixonada por outra pessoa.
— Pretende casar-se com ele?
— Não tem o direito de me fazer esta pergunta. Não lhe faço
perguntas a respeito de sua vida pessoal.
— Esqueça esse homem e ame somente a mim. Quero cuidar de você,
protegê-la, quero… Oh, só Deus sabe o que quero!
— Mas você mal me conhece, Diogo!
— Mas já te amo.
Então era verdade? Ele estaria tão apaixonado quanto ela? Mas a
cautela de alguém que já tivera o coração partido a fez ter cautela.
— Se realmente estiver me amando terei de lamentar por você.

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Devemos nos dizer adeus e não tornarmos a nos ver.
— Mas por quê?
— Porque gosto de você e não quero vê-lo infeliz. Este tipo de relação
somente geraria amargura, sabe disso tanto quanto eu.
— Não entende que não poderei viver sem você? Um amor tão grande
assim jamais havia me acontecido. Já estive apaixonado, ou julguei estar, mas
sempre acabava me decepcionando com o objeto da minha paixão. Você
acreditaria se lhe dissesse que há pouco tempo desejei que uma mulher
casada fugisse comigo? Que loucura teria feito! Quando a conheci, Desirée,
entendi que não teria sentido.
— Diz isso porque sou novidade, um mistério que deseja desvendar.
Se eu o aceitasse, logo se cansaria de mim e retornaria ao Maxim's à procura
de outra novidade.
— Não é verdade! — protestou ele. — Não vê o quanto sou sincero?
— Estou apaixonada por outro. Lamento por você.
— Ouça, você também me amará. Pode lutar contra isso se desejar,
mas conquistarei seu coração.
Christine abaixou os olhos sob o seu olhar ardente. Diogo olhava fixo
para sua boca, fazendo seu coração disparar. Era como se estivesse sendo
arrastada por uma onda tão forte que a afogava.
Desde então, teve início na vida de Christine momentos de
encantamento inacreditáveis durante o dia, quando se tornava a
desengonçada duquesa de Roehampton.
Christine tinha vontade de rir ao vê-lo impaciente, contando os
minutos para deixá-la e correr para os braços de Desirée.
— Vivo procurando por você nas ruas! — dissera ele certa vez, e
Christine acreditou. Diversas vezes percebera seu olhar perdido entre a
multidão procurando por algo.
E somente sua inocência fazia Diogo conter-se. Pretendendo fazê-la
apaixonar-se, sabia que não deveria pressioná-la, arriscando-se a colocar tudo
a perder.
Christine às vezes o sentia em seu limite.
— Amo você, Desirée. Como consegue resistir ao meu amor? Quem é
esse homem que a faz permanecer fiel após tudo o que partilhamos? O que
ele poderá lhe oferecer que eu não possa? Já tem meu coração, meu corpo e
minha alma, o que mais deseja de mim?
Christine cerrou as mãos com força. Era difícil resistir, não abraçá-lo,
dizer-lhe que se tornaria sua.

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E, deste modo, as semanas passavam sem que Diogo mencionasse a
partida. Muito apaixonado, não pretendia afastar-se do seu grande amor.
Christine recebia cartas de Lily, e, quando as lia em voz alta, percebia a
indiferença dele, como se não estivesse interessado no que se passava em
Londres.
— Ainda pretende ir à Escócia? — perguntou-lhe Christine enquanto
lia uma das cartas. Estava programado irem à Escócia após Londres.
— Lamento, mas não haverá tempo. Pretendo retornar a Londres antes
do início da temporada de caça a perdizes. O rei será nosso hóspede em
Cotillion.
Ouvir aquilo foi como ser atingida por um balde de água fria. Então
ele já tinha tudo planejado? Pretendia retornar tão cedo a Londres apesar de
todo o amor que dizia sentir por Desirée? Então não era amor verdadeiro,
pensou. Após a descoberta, tratou de dificultar até mesmo os encontros
noturnos.
— Iremos à ópera esta noite? — Christine perguntou a Diogo, sabendo
que ele estava ansioso para ver Desirée.
— Creio que a esta hora não encontraremos ingressos.
— Pedirei a Violet que desça e verifique na portaria quais são as
possibilidades.
Conseguiram os ingressos, e Christine o fez suportar duas horas de
espetáculo e em seguida ainda o fez levá-la para jantar.
Violet levara um bilhete a Renée para explicar-lhe o que havia
acontecido:
"Querida Renée
Pretendo prendê-lo até tarde. Mas se não conseguir e Diogo for até aí, diga-lhe
que saí para jantar com amigos e que não faz ideia do lugar onde estamos".
Na noite seguinte, aprontou-se para encontrá-lo com a frieza de uma
mulher que havia sido rejeitada. Chegaram flores durante todo o dia.
— Ele me ama, mas é mimado como uma criança que sempre teve
tudo o que desejou.
Vestira-se inteiramente de verde, inclusive o colar e os brincos eram de
esmeraldas. E, para provocá-lo, colocou um anel de brilhantes.
O artifício funcionou, porque assim que ele viu o anel não conteve a
curiosidade.
— Quem foi que lhe deu este anel?
— Perguntas, sempre perguntas. Nem ao menos desejou-me boa noite.
— Como pode fazer isso comigo? Como acha que me sinto

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imaginando-a nos braços dele?
— Então, procure não imaginar isso.
— Com quem esteve na noite passada?
— Isso não é da sua conta. Foi muito indelicado de sua parte
desmarcar nosso compromisso na última hora. Sabia que eu não tinha outros
planos a não ser sair com você.
— Não pude evitar. Lamentei imensamente cada minuto que
perdemos.
Christine encolheu os ombros, imitando um gesto de Renée.
— Bem, isso agora não importa mais. Um amigo antigo surgiu
inesperadamente e proporcionou-me uma noite bastante agradável.
Diogo segurou-a pelos ombros e a fez voltar-se.
— Esse homem, seja lá quem for, ele a beijou? Se fez isso o matarei.
Christine desvencilhou-se de suas mãos. Seus olhos se encontraram e
nos dele havia apenas rancor. Um momento depois, foi abraçada com toda a
força e beijada com um ardor possessivo, ao qual todo o seu ser correspondeu
com paixão.
Assustavam-na as sensações que Diogo despertava nela. Quando
tentou se afastar, ele segurou-a com mais força e seu beijo intensificou-se.
Quando afinal levantou a cabeça, deixou-a trêmula e sem fôlego.
Sentiu-se perdida por um momento, com dificuldade de respirar,
mergulhada nos profundos olhos cinzentos que haviam se tornado negros
pelo desejo. Com um gemido, afastou-se dele e correu para a porta.
Entrou no quarto, o coração acelerado, o corpo em chamas. Onde
encontrara forças para resistir?
Minutos depois, uma das criadas de Renée entrou no quarto trazendo-
lhe um bilhete. Abriu-o e leu:
"Perdoe-me por ter quebrado a promessa que fiz de não beijá-la até que tivesse
permissão, mas não sou de ferro. Se a ofendi, se a machuquei, saiba que lamento
muito. Desça e permita que a leve para jantar. Se me deixar agora creio que
morrerei".
— Por favor, avise o duque que descerei em dez minutos — pediu à
criada.
E, ao retornar à sala onde Diogo se encontrava, pôde ver através de
sua expressão que a possibilidade de perdê-la realmente o transtornara.

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CAPÍTULO XII

— Sua mãe diz aqui que preparou tudo para a nossa chegada no
sábado — disse Christine, olhando para o duque.
— Ela também me escreveu. Contou que a entrada de Cotillion está
sendo decorada especialmente para nos recepcionar.
Diogo abandonou a correspondência que lia e em seguida levantou-se.
— Se pretendemos chegar no sábado é melhor partirmos na quinta-
feira, depois de amanhã.
— E na segunda inicia-se a temporada de caça. Suponho que vá
receber muitos convidados além do rei, não?
— Sim. Como em todos os anos.
A ideia de receber hóspedes importantes em Cotillion não mais a
assustava. Somente o duque não percebia o quanto ela mudara; ele só tinha
olhos para Desirée.
Suspirou. Por vezes julgava que não conseguiria manter a farsa, que
seria melhor revelar-lhe a verdade, mas mudava de ideia ao lembrar-se do
modo como fora enganada.
— Esta carta é de Lily. Gostaria de ler?
— Talvez mais tarde, obrigado — respondera ele num tom indiferente.
Naquele momento, Christine teve certeza de que Lily nada mais
significava. Sorriu, porém nada disse.
— Tenho um jantar de negócios marcado para esta noite. Você terá de
jantar sem mim. — Diogo comunicou após um momento.
Christine precisou sufocar o riso. Já esperava por isso. Renée os
convidara para jantar com o grão-duque que chegara na cidade naquela
tarde.
— Ivan é muito original, tenho certeza de que gostarão dele — dissera
ela. — Jantamos juntos sempre que ele vem a Paris.
— Estou ansiosa por conhecê-lo — dissera Christine.
— Ele provavelmente nos fará uma surpresa.
Certa vez, trouxe o balé russo para seu castelo em Bois, e eles
dançaram nos jardins, entre as árvores, apenas para nós dois.
— Que maravilha! — Christine exclamara. — Não podemos perder
esse jantar, Diogo! Por favor, diga que irá!

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— Já que insiste, eu irei. — Diogo sorrira.
— Ivan enviará uma carruagem para apanhar-me às oito e vocês
podem ir comigo — Renée oferecera.
Desde então, Christine tentou imaginar que desculpa ele inventaria
para não jantar com ela. Naquele momento, ergueu as sobrancelhas fingindo
curiosidade.
— Um jantar de negócios em Paris? Que tipo de negócios?
— Ações — disse o duque, vagamente. — Não fará objeção, espero.
— Claro que não. Jantarei no quarto e dormirei cedo, mais uma vez.
Engraçado, julgava que em Paris não se dormia, no entanto, jamais dormi
tanto em toda a vida.
O duque pareceu embaraçado.
— Eu não sabia que você se interessava pela vida noturna.
— Se não sair para conhecer, jamais saberei se me interessarei… — E
concluindo que já o pressionara bastante, Christine pegou uma outra carta. —
Pessoalmente, acho que passamos tempo demais em Paris. Será bom retornar
à Inglaterra.
Viu a expressão desalentada no rosto de Diogo ao atravessar a sala em
direção ao quarto, mas recusou-se a ter piedade dele. Diogo amava Desirée,
mas a amaria o suficiente ou, quando chegasse a Londres, iria esquecê-la tão
facilmente quanto esquecera Lily e todas as outras?
Renée perguntava-lhe quase a mesma coisa ao se aprontarem para o
jantar daquela noite.
— O que fará quando Desirée precisar sair de cena?
— Ainda não sei… — respondeu Christine. — Gostaria de saber o
quanto ela significa para ele.
— Ele a ama, é evidente — disse Renée.
— Assim como amou tantas outras. Renée sorriu.
— Quando se começa a amar alguém, julga-se que dessa vez será
diferente. A não ser que eu esteja enganada, acredito que desta vez Diogo foi
pego de verdade.
— Acredita mesmo nisso?
— Tenho certeza.
Christine soltou um longo suspiro.
— Vamos esperar que seja verdade…
Tocou a campainha e Violet entrou no quarto.
— Apresse-se, Violet, não temos muito tempo. Avisou o duque que fui
ao cabeleireiro e que não voltaria antes do jantar?

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— Sim, senhora.
— Obrigada…
Entre todos os vestidos novos no armário, Christine escolheu o
vermelho, o mesmo que usara quando Diogo conhecera Desirée.
— Por favor, Violet, separe este e coloque os restantes na mala.
— Todos, senhora?
— Todos. Não voltaremos mais aqui.
Quando Diogo chegou e a viu pronta para sair, julgou estar diante de
Afrodite, tão linda estava. Estendeu-lhe a mão e Christine entrelaçou os
dedos nos dele. Naquela noite não havia anel para enciumá-lo, e ele beijou-
lhe os dedos, um a um. Em seguida, ergueu a cabeça e fitou-a intensamente.
— Vocês estão prontos? — Era Renée que acabara de chegar à sala sem
ser notada.
— Sim, estamos — respondeu o duque.
Ao chegarem ao castelo em Bois, Christine percebeu que Renée não
exagerara. O grão-duque era alto e atraente, com cabelos grisalhos e feições
aristocráticas. Possuía mãos de artista.
Dirigiu-se a Renée, beijando-lhe ternamente as mãos.
— Senti sua falta, minha querida — disse em francês.
Depois foi apresentado a Christine e ao duque.
— Já nos conhecemos, Roehampton. Fico feliz em recebê-lo em minha
casa. Venham comigo. Tenho uma surpresa.
Conduziu-os à varanda e, para espanto geral, parada no imenso lago
que havia na propriedade encontrava-se uma gôndola junto da escada de
pedras. De repente, foi como se estivessem em Veneza.
Embarcaram nela e foram conduzidos ao local onde jantariam. Para
onde quer que se olhasse via-se uma profusão de flores, até mesmo na
gôndola e na própria água.
Era tudo tão inesperado e encantador que Christine transformou-se
numa criança deslumbrada.
— Jamais imaginei algo tão lindo! — disse a Diogo. — Se Veneza for
assim, quero conhecê-la.
— Algum dia a levarei até lá — prometeu ele. — Em maio, quando os
dias são quentes e as noites frias e aconchegantes. Veneza é o paraíso dos
amantes.
O jantar foi servido à luz de candelabros e ao som de violinos.
Enquanto a noite se tornava mais escura, luzes lentamente acendiam-se entre
as árvores do pequeno bosque que circundava o lago. Os quatro

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conversavam e riam entre as taças de champanhe que os criados serviam. As
iguarias servidas tinham sabores deliciosamente exóticos.
Ao terminarem o jantar, Diogo convidou Christine para um passeio ao
luar. Passaram por locais bastante escuros, onde ela podia ver apenas o seu
rosto.
A noite estava linda e quente. O céu parecia um imenso manto de
veludo escuro salpicado de diamantes.
Tudo era tão grandioso e impregnado de magia que Christine e Diogo
ficaram em silêncio, em comunhão com a natureza.
Christine olhou para a mesa a distância e percebeu que o grão-duque e
Renée já haviam se levantado.
— Estamos sozinhos — disse Diogo, como se lendo seus pensamentos.
— Tem medo?
— Não, não de você. — Christine tentou encontrar as palavras certas
para descrever o que sentia. — E a atmosfera aqui, a música….
— Eu te amo, Desirée, e sei que me ama também, posso ver em seus
olhos, sentir em seus lábios. Por que continuar resistindo?
Christine amava aquele homem e de repente, ao ver-se em seus braços,
não mais resistiu. Quando ele pegou-lhe a mão para conduzi-la de volta à
casa, não encontrou forças para questionar.
A música suave parecia quebrar o último fio de sua resistência.
— Oh, Deus, como eu te amo, minha pequena deusa. É assim que
imaginei que seria — disse ele.
Em seguida, Christine sentiu-o levar as mãos aos seus cabelos e soltá-
los.
— Não, Diogo, não…
Mas era tarde para protestos. Seus cabelos agora caíam até a cintura,
moldurando o rosto e os olhos brilhantes.
— Sempre desejei ver seus cabelos soltos. Você é linda e eu te amo
muito.
Antes que ele a impedisse, Christine desvencilhou-se de seus braços e
recuou um pouco. Mas não era dele que fugia, e sim dos próprios
sentimentos.
Voltou-se. Diogo permanecia onde ela o deixara e havia fogo em seus
olhos.
— Não fuja de mim… Quero você.
De repente, ele foi em sua direção e fez fitá-lo.
— Olhe para mim. Posso ler em seus olhos que também me ama e me

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deseja.
— Talvez seja errado nos amarmos — disse ela, atormentada.
Por um momento Diogo nada disse, e Christine viu o sofrimento em
seus olhos antes de soltá-la.
— Algo tão bonito não pode ser errado — disse ele, num tom baixo de
voz. — Alguns podem julgar que sim, mas acredite quando digo que
moralmente não estamos magoando ninguém, com nosso amor. Legalmente,
talvez, mas moralmente não. Moralmente sou livre e posso dar o meu amor a
quem bem desejar. — Diogo acariciou lhe o rosto. — Desde a primeira vez
que a vi eu soube que você era a mulher da minha vida, mas se ainda resta
alguma dúvida creio que é melhor não tornarmos a nos ver. Não dá mais
para protelar.
— Você iria embora? Me abandonaria?
— A escolha é sua, meu amor. Devo ir ou ficar?
Christine foi incapaz de falar, tomada por uma indescritível emoção.
Erguendo a cabeça, ofereceu-lhe os lábios e abrigou-o em seus braços.

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CAPÍTULO XIII

Lá fora ouvia-se a música suave, sua melodia lembrando o som do


vento assobiando entre as árvores.
Delicadamente, para não acordar Diogo que adormecera, Christine
levantou-se do sofá.
Lembrou-se das palavras de Renée:
— Ivan pensa em tudo. Há sempre uma carruagem preparada para
partir, caso algum convidado precise sair mais cedo.
Quase amanhecia ao chegar ao pátio e embarcar na carruagem pronta
para partir. Não tinha certeza se deveria voltar ao hotel ou ao apartamento de
Renée. Por fim, pediu ao cocheiro para levá-la ao Ritz.
Entrou no quarto, que encontrava-se totalmente às escuras. Após ter
vestido a camisola, sentou-se na cama, lembrando-se de cada detalhe do que
se passara, sentindo todas as maravilhosas sensações que pela primeira vez
experimentara com Diogo.
Quando Violet chegou para acordá-la, encontrou-a sentada junto à
escrivaninha, rodeada de papéis amassados.
— Acordada, senhora? Julguei que a encontraria ainda deitada. O que
deseja para o desjejum?
— Café com torradas, por favor.
Pouco depois, Violet retornou com o café, mas Christine o ignorou.
Quando a criada retornou, por volta do meio-dia, a bandeja continuava
intata.
— Trouxe as malas do apartamento de Renée? — Christine indagou à
criada.
— Sim, senhora.
— Ótimo. Você pode ir agora.
Naquele instante alguém bateu à porta. Para a surpresa de ambas,
tratava-se de Renée.
— Que surpresa agradável! — disse Christine, levantando-se para
recebê-la.
— Entrei sorrateiramente no hotel. Não queria arriscar sua reputação
deixando que me reconhecessem. Vim porque estou preocupada com você.
— Vamos sentar — convidou Christine. Violet se retirou discretamente

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do quarto.
— Vejo que está radiante esta manhã. Posso me tranquilizar.
— É verdade. Estou muito feliz, mas ao mesmo tempo… angustiada.
— Diogo esteve no meu apartamento à sua procura.
— Tão cedo?
— Sim. Apareceu lá às sete, voltou às nove e em seguida às onze,
quando então nos falamos. Está me pressionando. Quer saber de você. O que
faço?
Christine pegou o envelope e estendeu-o a Renée.
— Escrevi-lhe uma carta. Por favor, entregue a ele. Mas, antes, eu
gostaria que você lesse.
A carta, bastante breve, fora escrita em francês.
"Amo você de todo o meu coração, mas precisei deixar Paris. Se não
tornarmos a nos ver, lembre-se sempre que o amo. Por favor, não me procure."
— Então jamais dirá a ele?
— Jamais.
Renée levantou-se.
— Então, só me resta rezar por você. Mas saiba que seja lá o que
acontecer, sempre serei sua amiga.
Renée colocou a carta na bolsa, abraçou Christine demoradamente e
partiu.
Christine parecia ter dormido apenas alguns minutos quando Violet
entrou.
— Senhora, senhora!
— O que houve?
— O duque deseja vê-la imediatamente. Pediu-me para avisá-la que a
aguarda na sala de estar.
Christine levantou-se e entrou no banho.
Pouco depois, aproximou-se de Diogo. Ele estava pálido, com olheiras,
e trazia no rosto uma expressão que não conseguiu identificar.
— Boa tarde — disse ela, formalmente. — Lamento não ter descido
para o almoço, mas não me sentia bem.
— Já arrumou suas malas? — indagou ele.
— Sim, por quê?
— Porque pretendo partir o mais depressa possível.
— Ainda hoje? Mas não combinamos partir amanhã?
— Sim, mas precisei antecipar. Em quanto tempo estará pronta?
— O tempo necessário para que Violet recolha o que ficou fora das

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malas.
— Ótimo. Me avise assim que estiver pronta.
A viagem foi longa e cansativa, e chegaram a Cotillion por volta da
uma da madrugada. Os telegramas enviados garantiram que ao chegarem
encontrariam tudo preparado e criados à espera.
Exausta, Christine foi diretamente para o quarto e dormiu tão
profundamente que ao acordar não fazia ideia de onde se encontrava. Abriu
os olhos e pôde notar a beleza do quarto. Era confortável e elegantemente
decorado com românticos motivos florais.
De repente, pensamentos assustadores a fizeram estremecer. Teria
Diogo se esquecido de Desirée? Agora que estavam de volta a Cotillion,
pretendia correr para os braços de Lily?
Naquele momento, Violet entrou no quarto para acordá-la.
— Chegou uma mensagem para a senhora, e o mensageiro aguarda a
resposta.
— Mas de quem poderá ser? Ninguém sabe que chegamos. Pegou a
mensagem e leu atentamente. Em seguida, dirigiu-se à Violet.
— Violet, por favor, diga ao duque que quero vê-lo. Encontro-o na
biblioteca em vinte minutos.
Encontrou Diogo sentado atrás da escrivaninha. Levantou-se para
recebê-la e não pôde deixar de notar o quanto estava atraente. Precisou
controlar-se para não demonstrar o quanto sua presença a afetava.
— Precisamos conversar, Diogo.
— Perfeitamente. Eu estava prestes a pedir para vê-la porque tenho
um assunto urgente a tratar com você. Teria feito isso na noite passada se não
tivesse percebido o seu cansaço.
— Fico grata.
— Não sei bem como começar, mas, para resumir, embora saiba que
será um choque para você, estou lhe comunicando que quero o divórcio.
Christine abaixou os olhos, e por um momento não ousou fitá-lo.
— Como nos casamos sem amor, não deve ser difícil imaginar o
motivo. Apaixonei-me por outra pessoa.
— De novo? — Christine não conseguiu evitar a ironia.
— Não posso culpá-la pela ironia. De fato, saí daqui julgando amar
Lily, mas sei agora que não passou de uma ilusão. Jamais acreditei que ela
teria coragem de fugir comigo. Sabia que seu amor por mim era bem
pequeno.
Diogo levantou-se e caminhou até a janela, onde permaneceu fitando o

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lago lá fora.
— Sei que relatado tão friamente pode soar terrivelmente
desagradável, mas tento mostrar a diferença do que sentia antes com o que
sinto agora.
Com esforço, olhou para Christine e continuou, num tom de voz triste.
— Estou ciente de que meu caso com Lily foi errado e imoral, apesar
de que, na realidade, apenas flertávamos e nos divertíamos, sem maiores
consequências.
— Não foi essa a impressão que tive — protestou Christine.
— Não posso culpá-la; seria pedir demais para qualquer mulher. Mas,
num momento de paixão, os homens fazem e dizem coisas que não se deve
levar a sério. Se parassem para refletir não fariam isso.
— Suponhamos que tia Lily tivesse concordado com a fuga.
— Com toda a certeza seria eu quem não aceitaria. Se tivesse certeza
de que Lily fosse capaz de abandonar tudo por mim eu jamais proporia
fugirmos juntos. Quero que entenda que desta vez é diferente.
— Tem certeza?
— Tanta quanto tenho de estar vivo. Estou amando pela primeira vez
na vida, e nada mais importa.
— Tem certeza de que não se trata de mais uma ilusão? — insistiu ela.
— Absoluta. Tanto que estou de volta a Paris. Pretendo pedi-la em
casamento assim que o nosso divórcio for assinado. Comunicarei ao rei que
estou renunciando ao ducado. Espero que isso abafe um pouco o escândalo
do divórcio.
— Pretende renunciar ao título de duque?
— Sim, e fechar Cotillion. Não creio que você queira viver aqui, já que
lhe deixarei a casa de Londres e mais algumas propriedades. Mas tudo isso
depende de você concordar ou não com o divórcio — lembrou o duque.
— E se eu não concordar?
— Nesse caso, ficarei com ela do mesmo modo.
— E se ela não o aceitar sem um título, sem um nome…
— Sei que vai, ela me ama — respondeu Diogo, com veemência.
— Deve ter muita certeza desse amor.
Christine o observava enquanto falava e viu o temor estampado em
seu rosto, mas sua voz estava firme quando falou.
— Nosso amor é muito grande para ser prejudicado por estas
ninharias.
— Uma mulher jamais consideraria ninharia uma aliança de

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casamento. Não seria melhor conversar com ela antes de tomar qualquer
atitude? Deixe para renunciar ao ducado após ter certeza de que ela estará ao
seu lado.
— Lamento, mas não posso fazer isso. Já estou cansado de mentiras e
de fingimentos e desta vez quero fazer tudo às claras. Sei que não devo
esperar que me perdoe após tudo o que a fiz passar, mas se ainda resta
alguma bondade em seu coração, por favor, aceite o divórcio.
— Muito bem. Aceitarei, mas com uma condição.
— E qual seria?
— Quero que espere até amanhã de manhã para tomar qualquer
atitude.
— Lamento, mas devo partir ainda hoje.
— Aconselho-o a esperar e prometo que não se arrependerá. Olhe,
acabo de receber isso. — Christine tirou o envelope do bolso. — É da duquesa
de Rutland. Diz ela que soube da nossa chegada e nos escreveu para dizer
que o rei e a rainha são seus hóspedes e manifestaram o desejo de jantar esta
noite em Cotillion. O rei deseja vê-lo.
— Isso é impossível!
— Por quê? — indagou Christine. — Não há motivo para recusar um
pedido deste. Eles sabem que voltamos e não podemos fingir que fizemos
outros planos tão rapidamente. Sugiro que por mais esta noite nos
comportemos como um casal normal ainda em lua-de-mel.
— Quem mais virá?
— Parece que meus tios.
— Isso deve ser coisa de Lily — disse ele, irritado. — Se for ideia do rei
vir jantar conosco, só pode ter sido por influência dela.
— E qual é o problema? Ele se sente bem em Cotillion e o aprecia.
— Tem razão. Me perdoe por ter sido tão tolo. Mas estou ansioso para
voltar para Paris. Não penso em outra coisa.
— Então por que quis partir de lá tão depressa?
— Queria trazê-la de volta.
— Quanta gentileza!
— Gentileza? — Diogo riu, um riso amargo. — Sei bem o canalha que
fui com você. Não posso voltar atrás em tudo o que fiz, mas peço perdão.
— E tudo isso só porque está apaixonado?
— Ela me fez ver o que é certo e o que é errado sendo apenas o que é.
— E onde encontrou uma pessoa tão… tão excepcional? — indagou
Christine, curiosa, e percebeu o sorriso iluminar lhe o rosto.

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— Já conheceu alguém que instintivamente soubesse ser puro? Que
irradiasse pureza e perfeição no verdadeiro sentido da palavra? Isso chegou a
me assustar. Temia não ser bom o suficiente para merecê-la.
— Bem, Diogo, direi o que penso de tudo isso amanhã. Agora preciso
enviar uma mensagem à duquesa, avisando-a que os receberei para o jantar.
Sem olhar para trás, ela o deixou. Por um momento, sentiu-se tão fraca
que julgou que fosse desmaiar. Diogo realmente a amava.
Depois de penteada, maquilada e vestida, Christine olhou-se no
espelho do quarto, o coração batendo forte. O momento pelo qual tanto
ansiara chegara.
— Eles estão aqui — avisou Violet.
Saiu do quarto e parou no alto da escada. Dali avistou Diogo
recebendo os convidados. Lentamente, começou a descer, trêmula, e parou no
meio da escada.
Como atraído por um ímã, Diogo voltou-se e a viu.
— Desirée!
— Christine! Quase não a reconheci — exclamou Lily, ao aproximar-se
para beijá-la. — Está tão mudada. O ar de Paris deve ter feito isso.
— Tem razão, minha tia. Paris é de fato um paraíso. Christine soltou-
se e foi cumprimentar os demais convidados. Só então encontrou coragem de
encarar Diogo, que continuava parado, confuso. Quando seus olhos se
encontraram, ela perdeu o fôlego.
— Diogo! Sua Majestade, o rei — alertou Lily. Ele finalmente moveu-
se para recepcionar o rei.
— Vamos para a sala de visitas? — sugeriu Christine, tentando
manter-se firme.
O jantar daquela noite foi especial e tudo transcorreu como num
sonho. Christine estava encantadora e conversou com o rei e com a rainha
com uma segurança admirável.
— Sempre me divirto muito em Cotillion — disse-lhe o rei. — E você é
uma anfitriã perfeita, além de encantadora, minha cara.
— Agradeço muito, majestade.
Finalmente, a duquesa de Rutland levantou-se, dando o jantar como
encerrado, e lamentou-se porque o tempo passara muito depressa.
Diogo acompanhou a rainha à carruagem enquanto Christine
conversava no hall de entrada com o rei.
— Voltarei para a temporada de caça — avisou o rei ao despedir-se.
Christine ouviu-o brincar com Diogo ao entrar na carruagem. Em

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seguida, George e Lily Bedlington também se foram, Lily parecendo estar
intrigada com a frieza de Diogo.
E a possibilidade de ficar sozinha com ele encheu Christine de pânico.
E se jamais a perdoasse por tê-lo feito de tolo? Ouviu a porta fechar-se, mas
não teve coragem de encará-lo.
— É verdade ou estou ficando maluco? — disse ele, ao aproximar-se.
— Como pude ser tão cego? Foram os óculos, aqueles terríveis óculos que me
enganaram. Como pôde fingir para mim, me fazer sofrer tanto?
— Eu precisava ter certeza — murmurou Christine. Diogo aproximou-
se e abraçou-a.
— Não sabe quanto me fez sofrer naqueles longos dias em Paris,
quando eu contava os minutos para poder estar com Desirée, e isso sem saber
que ela estava ao meu lado.
— Eu também contava os minutos até que a noite chegasse.
— E o homem por quem você dizia estar apaixonada? Só de pensar
nele eu me tornava um assassino em potencial. Poderia tê-lo matado sem o
menor arrependimento.
— Era você, seu tolinho.
Diogo abaixou a cabeça e seus lábios encontraram os de Christine.
Beijou-a ternamente, e aos poucos os beijos tornaram-se mais possessivos e
apaixonados.
— Aprendi muito com você, e agora pretendo compensar o tempo que
perdemos.
Passou a beijar-lhe o pescoço, os seios, e Christine estremecia de
prazer, respondendo às carícias sem pudor.
— Quero ouvi-la dizer que me ama, que é minha!
— Eu te amo, Diogo, e sou sua, completamente sua. Era só o que
Diogo desejava ouvir antes de pegá-la no colo e carregá-la escada acima em
direção ao quarto.

FIM

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