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Departamento do 1.

º Ciclo/ Departamento de Línguas


Concurso de Ortografia – 1.ª eliminatória – 3º Ciclo
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Cão como nós


(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas
começas a raspar devagarinho, às vezes rosnas, posso mesmo jurar que já te ouvi a uivar, cá em casa
dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também regressam, sei muito bem que andas aí.)

Queria estar connosco a sós. Ladrava ao carteiro, ao eletricista, a quem quer que não fosse da
casa. Cão exclusivista. Mas também ator. Quando havia visitas mudava de tática. Com total
perversidade, ele, que nunca prestava vassalagem a ninguém, escolhia a vítima, aproximava-se
devagar e encostava a cabeça a pedir festas, expressão de mágoa e súplica, como quem diz: Já que
eles mas não fazem faça-mas você.
Teatro, puro teatro. Mas havia quem se deixasse levar. Uma amiga de casa chegou a dizer: O
cão anda triste, deve estar cheio de carências.
E ele enroscado na sala, a olhar de soslaio para nós, com ar de gozo.
- Fiteiro, disse eu numa dessas ocasiões.
- Como tu, retorquiu Joana, minha filha.
Tu também fazes fitas, pai, às vezes amuas para chamar a atenção ou para que a gente te dê
mimos, o cão percebe isso tudo. E os manos fazem a mesma coisa. Até a mãe. O cão imita-nos a
todos, tudo o que ele faz é para que se repare nele e se lhe dê mais carinho. Não é por ser cão que
ele não tem sentimentos.
Cão como nós, pensei. Mas preferi calar-me. A minha filha era igual a mim, igual ao cão,
igual aos outros, Nunca se deixaria vencer ou convencer. Por isso não lhe dei troco. Por comodismo.
Como o cão, quando se ralhava com ele e ele fazia a parte que não ouvia e continuava a dormir ou a
fingir que dormia, enroscado na sala sobre si mesmo.
Havia muitas coisas que o cão sabia, sem que ninguém lhas tivesse ensinado. Por exemplo:
nadar.
Um dia, era ainda um cachorro, ladeámos um braço do açude do Vale de Cobrão para irmos
pescar mais a fundo. Por qualquer razão ele ficou para trás, ou porque tivesse adormecido, ou
porque andasse a correr atrás dos cheiros a caça que a brisa trazia.
Quando viu a minha mulher, que para ele, como já disse, era a mãe, na outra margem,
começou a gemer e a correr aflito de um lado para o outro. Até que se atirou à água. Eram aí uns
sessenta metros, mas ele nadou sem hesitação, sempre a olhar na direção da dona. Nadava e gemia,
por vezes ladrava. Eu tinha a sensação de que ele estava a chamar pela mãe.
Manuel Alegre, Cão Como Nós, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2002

Cão como nós

(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas
começas a raspar devagarinho, às vezes ____(1)____, posso mesmo jurar que já te ouvi a uivar, cá
em casa dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também ____(2)____, sei muito bem que
andas aí.)

Queria estar ______(3)______ a sós. Ladrava ao carteiro, ao _____(4)____, a quem quer que
não fosse da casa. Cão ______(5)________. Mas também ator. Quando havia visitas mudava de
tática. Com total _______(6)_________, ele, que nunca prestava ________(7)________ a ninguém,
escolhia a vítima, aproximava-se devagar e encostava a cabeça a pedir festas,
_______(8)_________ de mágoa e súplica, como quem diz: Já que eles mas não fazem
_______(9)________ você.
Teatro, puro teatro. Mas havia quem se _____(10)_______ levar. Uma amiga de casa chegou a
dizer: O cão anda triste, deve estar cheio de carências.
E ele _______(11)_______ na sala, a olhar de soslaio para nós, com ar de gozo.
- Fiteiro, disse eu numa dessas ocasiões.
- Como tu, ______(12)________ Joana, minha filha.
Tu também fazes fitas, pai, às vezes amuas para chamar a atenção ou para que a gente te dê
mimos, o cão percebe isso tudo. E os manos fazem a mesma coisa. Até a mãe. O cão imita-nos a
todos, tudo o que ele faz é para que se repare nele e se lhe dê mais carinho. Não é por ser cão que
ele não tem sentimentos.
Cão como nós, pensei. Mas preferi calar-me. A minha filha era igual a mim, igual ao cão,
igual aos outros, Nunca se deixaria vencer ou convencer. Por isso não lhe dei troco. Por
____(13)______. Como o cão, quando se ralhava com ele e ele fazia a parte que não _____(14)____
e continuava a dormir ou a _____(15)________ que dormia, enroscado na sala sobre si mesmo.
Havia muitas coisas que o cão sabia, sem que ninguém lhas tivesse ensinado. Por exemplo:
nadar.
Um dia, era ainda um cachorro, ladeámos um braço do açude do Vale de Cobrão para irmos
pescar mais a fundo. Por qualquer razão ele ficou para trás, ou porque tivesse adormecido, ou
porque andasse a correr atrás dos cheiros a _______(16)_____ que a ________(17)___ trazia.
Quando viu a minha mulher, que para ele, como já disse, era a mãe, na outra margem,
começou a gemer e a correr aflito de um lado para o outro. Até que se atirou à água. Eram aí uns
_______(18)______ metros, mas ele nadou sem _____(19)______, sempre a olhar na direção da
dona. Nadava e gemia, por vezes ladrava. Eu tinha a _____(20)_____ de que ele estava a chamar
pela mãe.
Manuel Alegre, Cão Como Nós, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2002

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