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06/07/2016 A conduta desidiosa na Administração Pública à luz da doutrina e da jurisprudência ­ Artigos ­ Conteúdo Jurídico

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Artigos
Sexta, 06 de Junho de 2014 05h15

CONSULTAS JURÍDICAS RENATA  SILVA  PIRES  DE  CARVALHO:  Procuradora  Federal.  Pós­Graduada  em  Direito  Processual  Civil,  Direito  Público  e
Direito Penal. Ex­assessora de Ministro no TST.
Aulas em vídeo
Boletim Conteúdo Jurídico ­
ISSN ­ 1984­0454
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A conduta desidiosa na Administração Pública à luz da doutrina e da jurisprudência
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» Renata Silva Pires de Carvalho
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RESUMO:  Trata­se  o  presente  trabalho  da  análise  da  conduta  desidiosa  do  servidor  público  perante  à
Publicações oficiais
administração pública nos termos delimitados na Lei nº 8.112/90. A finalidade do estudo é analisar o comportamento
Publicações Oficiais desidioso à luz da doutrina e jurisprudência.
Súmulas Organizadas
Palavras­chave: Desídia. Servidor Público. Conduta. Penalidade. Demissão.
Vade Mecum Brasileiro
Vade Mecum Estrangeiro
INTRODUÇÃO
CONCURSOS PÚBLICOS
Apostilas e Resumos A  Lei  nº  8.112/1990  que  disciplina  o  estatuto  dos  servidores  públicos  federais,  estabelece  no  art.  127,  as
Banco de Questões penalidades  disciplinares  a  serem  aplicadas  ao  servidor  pelo  descumprimento  de  seu  dever  legal,  quais  sejam:
Questões Comentadas advertência,  suspensão,  demissão,  cassação  de  aposentadoria  ou  de  disponibilidade  e  destituição  de  cargo  em
SERVIÇOS
comissão ou função comissionada.
SEJA ASSINANTE O artigo em questão abordará o entendimento doutrinário e jurisprudencial quanto a aplicação da demissão
Indique o portal frente ao ato desidioso praticado pelo servidor público federal.
Sobre o Portal
DESENVOLVIMENTO
Links Úteis
A conduta desidiosa é uma infração disciplinar prevista no artigo 117, inciso XV, da Lei nº 8.112/90, capaz de
ensejar a penalidade máxima da demissão.
As  hipóteses  de  demissão  do  servidor  público  estão  estabelecidas  no  rol  taxativo  dos  incisos  IX  a  XVI,  do
 
artigo 117, ou nos artigos 133, 138 e 139 da Lei nº 8.112/1990, dentre elas encontra­se a vedação de proceder de
forma desidiosa consolidada no inciso XV, do art. 117.
É válido destacar, que não há discricionariedade da autoridade julgadora ao aplicar a penalidade disciplinar,
uma vez que a Lei nº 8.112/90 vincula uma única pena para cada infração. Nesse sentido, cita­se o Parecer – AGU nº
CQ­183:

“7.  Apurada  a  falta  a  que  a  Lei  nº  8.112,  de  1990,  arts.  129,  130,  132,  134  e  135,  comina  a
aplicação  de  penalidade,  esta  medida  passa  a  constituir  dever  indeclinável,  em  decorrência  do
caráter  de  norma  imperativa  de  que  se  revestem  esses  dispositivos.  Impõe­se  a  apenação  sem
  qualquer  margem  de  discricionariedade  de  que  possa  valer­se  a  autoridade  administrativa  para
omitir­se nesse mister. (...)

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06/07/2016 A conduta desidiosa na Administração Pública à luz da doutrina e da jurisprudência ­ Artigos ­ Conteúdo Jurídico

8. Esse poder é obrigatoriamente desempenhado pela autoridade julgadora do processo disciplinar
(...).”
“Parecer­Dasp.  Desqualificação  de  penalidade.  As  infrações  disciplinares  são  específicas,  não
comportando desqualificação da respectiva penalidade”. 
  Cabe ressaltar, que a infração disciplinar objeto do presente estudo consiste na violação de um dos deveres
funcionais do servidor público. Desta forma, podemos citar a definição do Professor Mauro Roberto Gomes de Mattos
“em  assim  sendo,  como  infração  disciplinar,  a  desídia  em  sentido  técnico,  está  interligada  ao  desleixo,  à
desatenção, à intolerância com que o servidor executa as funções que lhe estão afetas.”.
Ressalta ainda que deve o servidor ser zeloso quando do exercício de seu munus público. Sendo certo que o
dever  de  zelo  é  aquele  que  une  o  servidor  à  Administração  Pública,  através  do  conhecimento  e  do  respeitos  às
normas  regulamentares  e  demais  atos  normativos,  que  são  estabelecidos  para  manter  o  aperfeiçoamento  da
execução do serviço.3
Cita­se, também, a lição de José Armando da Costa:
A objetividade jurídica tutelada pelo tipo é a normalidade do serviço público vislumbrada sob o
particular aspecto da intensidade e eficiência das tarefas públicas postas em prática pelo servidor.
Daí  por  que  o  elemento  material  da  conduta  desidiosa  do  funcionário  se  funda  na  baixa
produtividade de suas atribuições e nos eventuais prejuízos causados ao erário.
Para a caracterização da proibição disciplinar sub lite não basta, porém, que se constate as
conseqüências  materiais  referidas  acima,  sendo,  também,  de  rigor  que  ela  resulte  de  uma
conduta voluntária reveladora de negligência, imprudência e imperícia (descaso, incúria, falta
de zelo, etc) atribuída ao funcionário.
A  desídia,  no  âmbito  do  Direito  do  Trabalho,  prevista  como  falta  grave  no  art.  482,  "e",  da  CLT,  significa
desleixo,  preguiça,  indolência,  negligência,  omissão,  descuido,  incúria,  desatenção,  indiferença,  desinteresse,
relaxamento, falta de exação no cumprimento do dever, má vontade.

            Nas lições de Valentin Carrion, a desídia “é  falta  culposa,  e  não  dolosa,  ligada  à  negligência;  costuma


caracterizar­se  pela  prática  ou  omissão  de  vários  atos  (comparecimento  impontual,  ausências,  produção
imperfeita); excepcionalmente poderá estar configurada em um só ato culposo muito grave; se doloso ou querido
pertencerá a outra das justas causas”.
                        Destaque­se,  nessa  linha,  o  entendimento  do  colendo  Superior  Tribunal  de  Justiça  –  STJ  quanto  à
configuração  da  conduta  desidiosa,  conforme,  se  depreende  de  trechos  dos  votos  dos  acórdãos  abaixo
colacionados, verbis:

“[...]  a  partir  das  conclusões  da  Comissão  de  Inquérito,  retromencionada,  a  autoridade  coatora
concluiu que o Impetrante infringiu dispositivos previstos no art. 116, I, II, III e art. 117, XV todos da Lei
8.112/90, configurando a
  por  nunca  ter  realizado  cálculos  do  valor  da  obra  em  m2,  para  verificar  se  os  preços  estavam
compatíveis  com  o  de  mercado,  [...]  Restou  configurada  a  prova  inafastável  de  que  o  indiciado
procedeu  de  forma  desidiosa,  omitindo­se  quanto  a  atos  de  fiscalização  e  de  supervisão  que
deveria praticar de ofício, sempre no prejuízo do erário autárquico federal, incidindo na proibição
do inciso XV do art. 117 da Lei nº. 8.112, de 11 de dezembro de 1990.” (MS 7071/DF, Rel. Ministro
Gilson Dipp, Terceira Seção, DJ 31.03.2003, p. 144) – grifou­se. 
        A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do MS 12317/DF entendeu que a desídia,
passível  da  aplicação  de  pena  disciplinar  máxima  de  demissão,  conforme  os  arts.  117,  XV,  e  132,  XIII,  da  Lei
8.112/90, pressupõe não um ato único ou isolado, mas uma forma de proceder desatenta, negligente, desinteressada
e reiterada do servidor público.
Nesse sentivo, consolida mais uma vez a lição de Mauro Roberto Gomes de Mattos, senão vejamos:

“• Desídia em sentido técnico, está interligado ao desleixo, à desatenção, à indolência com que o
servidor público executa as funções que lhes estão afetas.

•  Não  resta  dúvida  que  a  desídia  decorre  de  um  comportamento  rebelde  do  servidor  público,
voltado para uma negligência intencional. Esta é a desídia habitual, onde o servidor causa transtornos
ao andamento dos serviços, com prejuízos verificados pelo mau desempenho ou pela má vontade.
Sucede  que  existe  a  desídia  fortuita  ou  ocasional,  a  que  pode  vir  por  um  descuido  do
momento,  por  uma  desatenção  não  intencional,  não  constituindo,  dessa  forma,  motivo  de
punição para a dispensa de empregado privado.

...............................................................................

•  A  razoabilidade  exige  que  o  poder  público  faça  essa  avaliação  para  que  os  problemas

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psicológicos ou de momento, não maculem o servidor que eventualmente se tornou desidioso,
por problemas alheios à sua vontade.

• O fator intenção é de suma importância para o enquadramento sub examem.”
Desta feita, cabe à administração em um juízo de razoabilidade e proporcionalidade, analisar se efetivamente
o servidor vem agindo, como ação continuada, de forma desidiosa na realização de seu dever functional.
Quanto ao princípio da proporcionalidade, cita­se o voto vencedor proferido pelo Ministro GILMAR MENDES,
do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Intervenção Federal 2.915­5/SP, nos seguintes termos, verbis:

“O  princípio  da  proporcionalidade,  também  denominado  princípio  do  devido  processo  legal  em
sentido  substantivo,  ou  ainda,  princípio  da  proibição  do  excesso,  constitui  uma  exigência  positiva  e
material relacionada ao conteúdo de atos restritivos de direitos fundamentais, de modo a estabelecer
um  'limite  do  limite'  ou  uma  'proibição  de  excesso'  na  restrição  de  tais  direitos.  A  máxima  da
proporcionalidade, na expressão de Alexy, coincide igualmente com o chamado núcleo essencial dos
direitos fundamentais concebidos de modo relativo – tal como o defende o próprio Alexy. Nesse sentido,
o  princípio  ou  máxima  da  proporcionalidade  determina  o  limite  último  da  possibilidade  de  restrição
legítima de determinado direito fundamental.
A  par  dessa  vinculação  aos  direitos  fundamentais,  o  princípio  da  proporcionalidade  alcança  as
denominadas colisões de bens, valores ou princípios constitucionais. Nesse contexto, as exigências do
princípio  da  proporcionalidade  representam  um  método  geral  para  a  solução  de  conflitos  entre
princípios, isto é, um conflito entre normas que, ao contrário do conflito entre regras, é resolvido não pela
revogação  ou  redução  teleológica  de  uma  das  normas  conflitantes  nem  pela  explicitação  de  distinto
campo de aplicação entre as normas, mas antes e tão­somente pela ponderação do peso relativo de
cada uma das normas em tese aplicáveis e aptas a fundamentar decisões em sentidos opostos. Nessa
última hipótese, aplica­se o princípio da proporcionalidade para estabelecer ponderações entre distintos
bens constitucionais.

Em  síntese,  a  aplicação  do  princípio  da  proporcionalidade  se  dá  quando  verificada
restrição  a  determinado  direito  fundamental  ou  um  conflito  entre  distintos  princípios
constitucionais de modo a exigir que se estabeleça o peso relativo de cada um dos direitos por
meio  da  aplicação  das  máximas  que  integram  o  mencionado  princípio  da  proporcionalidade
São  três  as  máximas  parciais  do  princípio  da  proporcionalidade:  a  adequação,  a  necessidade  e  a
proporcionalidade  em  sentido  estrito.  Tal  como  já  sustentei  em  estudo  sobre  a  proporcionalidade  na
jurisprudência  do  Supremo  Tribunal  Federal  (...),  há  de  perquirir­se,  na  aplicação  do  princípio  da
proporcionalidade, se em face do conflito entre dois bens constitucionais contrapostos, o ato impugnado
afigura­se adequado (isto é, apto para produzir o resultado desejado), necessário (isto é, insubstituível
por  outro  meio  menos  gravoso  e  igualmente  eficaz)  e  proporcional  em  sentido  estrito  (ou  seja,  se
estabelece uma relação ponderada entre o grau de restrição de um princípio e o grau de realização do
princípio contraposto).

Registre­se, por oportuno, que o princípio da proporcionalidade aplica­se a todas as espécies de
atos  dos  poderes  públicos,  de  modo  que  vincula  o  legislador,  a  administração  e  o  judiciário.  (DJ
28/11/2003, p. 11)”
            Vale citar, por fim, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no mesmo sentido:
"A Administração Pública, quando se depara com situações em que a conduta do investigado se
amolda nas hipóteses de demissão ou cassação de aposentadoria, não dispõe de discricionariedade
para  aplicar  pena  menos  gravosa  por  tratar­se  de  ato  vinculado"  (MS  15.517/DF,  Rel.  Ministro
Benedito  Gonçalves,  Primeira  Seção,  DJe  18.2.2011).  No  mesmo  sentido:  MS  16.567/DF,  Rel.
Ministro  Mauro  Campbell  Marques,  Primeira  Seção,  DJe  18.11.2011).  No  mesmo  sentido:  MS
15.951/DF,  Rel.  Ministro  Castro  Meira,  Primeira  Seção,  DJe  27.9.2011”  (STJ,  MS  12.200/DF,  1ª
Seção, DJe 03/04/2012).
­ “3. Não está configurada afronta aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, visto
que,  por  força  do  disposto  no  art.  132  da  Lei  8.112/90  e  dos  fatos  apurados,  à  autoridade
administrativa  não  cabia  optar  discricionariamente  por  aplicar  pena  diversa  da  demissão.
Precedentes: MS 15.437/DF, Min. Castro Meira, DJe de 26/11/2010;  MS 15.517/DF, 1ª Seção, Min.
Benedito Gonçalves, DJe de 18/02/2011”(STJ, MS 17.515/DF, 1ª Seção, DJe 03/04/2012).
Desta forma, pela fundamentação acima exposta, registra­se que o princípio da razoabilidade, sob a feição de
proporcionalidade entre meios e fins, deve sempre ser observada pela administração, em especial quando se tem
que aplicar a penalidade máxima da demissão.
A  razoabilidade  exige  que  o  poder  público  faça  essa  avaliação  e  diferenciação,  para  que  os  problemas
psicológicos,  físicos  ou  outros  momentâneos,  não  maculem  a  conduta  do  servidor  que  eventualmente  se  tornou
desidioso, por problemas alheios à sua vontade.3
Assim, se é dever da administração atuar nos limites da razoabilidade e da proporcionalidade ao aplicar a
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desídia como causa para demissão do servidor, cabe a este, em contrapartida, agir de forma vinculada aos deveres
estabelecidos pela Administração Pública.

CONCLUSÃO
Por  todo  o  exposto,  verifica­se  que  a  conduta  desidiosa  assim  como  prevista  nas  relações  trabalhistas,
também pode gerar a demissão do servidor público federal, nos termos do inciso XV, do art. 117 c/c o art. 132, XIII, da
Lei  nº  8.112/90.  No  entanto,  a  juriprudência  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  entende  que  a  desídia  passível  da
aplicação  da  penalidade  máxima,  pressupõe  uma  forma  de  procedere  desatenta,  negligente,  desinteressada  e,
principalmente, reiterada do servidor público.

Trata­se,  portanto,  de  um  juízo  de  razoabilidade  e  proporcionalidade  da  administração  para  analisar  se
efetivamente o servidor vem agindo, como ação continuada, de forma desidiosa na realização de seu dever functional.
REFERÊNCIAS:

1)  CARRION,  Valentin.  Comentários  à  consolidação  das  leis  do  trabalho.  19.  Ed.  São  Paulo:  Saraiva,
1995.
2) COSTA, José Armando. Direito Administrativo Disciplinar. Brasília: Brasília Jurídica, 2004.

3)  MATTOS,  Mauro  Roberto  Gomes  de.  Tratado  de  Direito  Administrativo  Disciplinar.  2.  Ed.  Rio  de
Janeiro: Forense, 2010.

Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser
citado da seguinte forma: CARVALHO, Renata Silva Pires de. A conduta desidiosa na Administração Púb lica à luz da doutrina e da jurisprudência
Conteudo Juridico, Brasilia­DF: 06 jun. 2014. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.48451&seo=1>. Acesso em: 06 jul.
2016.

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