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Educação Unisinos

10(3):237-242,setembro/dezembro 2006
10
© 2006 by Unisinos

A força do estruturalismo francês na


análise dos produtos culturais

The strength of French structuralism


for the analysis of cultural products

Solange Puntel Mostafa


smostafa@terra.com.br

Resumo: Este artigo traça o percurso histórico do estruturalismo francês das décadas de
1950 e 1960 e seu foco de interpretação cultural baseado na estrutura interna da obra de
arte. Contrapõe o estruturalismo francês ao culturalismo britânico da década de 1970 e
1980 nos estudos de recepção baseados numa concepção de cultura mais flexível. Identifica
a retomada, na atualidade, de autores estruturalistas para a análise de imagens por parte
dos educadores.
Palavras-chave: estruturalismo francês, estudos culturais, análise fílmica.

Abstract: This article delineates historical movement of French structuralism in the fifties
and sixties and its cultural focus based on internal structure of the works of art. French
structuralism is presented as opposed to British culturalism in the seventies on the reception
studies within a more flexible notion of culture. The article identifies a return of the structuralist
authors for image analysis made by educators.

Key words: french structuralism, cultural studies, film analysis.

O estruturalismo francês Analisando material variado como elementos individualmente conside-


e a análise dos produtos jornais, fotografias ou filmes o autor rados mas da relação entre os ele-
culturais denuncia “o abuso ideológico” dos mentos. O estruturalismo francês
mitos contemporâneos. “[...] A no- também dialoga com o formalismo
A diferença instaurada por Saus- ção de mito pareceu-me desde logo russo dos anos 1920 e as análises
sure entre língua e fala permite aos designar estas falsas evidências [...]” das formas literárias.
intelectuais franceses dos anos 1950 (Barthes, 1993, p. 7, grifo do autor). Uma das idéias centrais do for-
e 1960 o entendimento da língua O estruturalismo francês consoli- malismo russo dos nos 1920 é a idéia
como uma instituição social e um sis- da-se em vários saberes como a an- de função que são reiteradas nas
tema de valores. Explicações que tropologia (Levy Strauss), as ciênci- narrativas populares. (O gênero wes-
Roland Barthes oferece em vários as sociais (Althusser e os aparelhos tern americano por exemplo apresen-
ensaios estruturalistas (1996; 1990; ideológicos do Estado) ou a psica- ta várias funções narrativas como o
1930). O autor relata que um senti- nálise (Lacan). A noção mais geral e caso do herói em luta contra os vi-
mento de impaciência lhe ocorria “[...] importante do estruturalismo como lões e outros clichês). Mudam as pai-
frente ao natural com que a impren- teoria de interpretação do mundo sagens e os personagens, mas a es-
sa, a arte, o senso comum, mascaram está na noção de estrutura; a signifi- trutura fílmica é a mesma, como es-
continuamente uma realidade [...]”. cação de um fenômeno não nasce dos clarece Silva (2002, p. 119).

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Solange Puntel Mostafa

O estruturalismo analisa então a [...] no estruturalismo iniciado por A eletrificação da linha


estrutura interna da obra como algo Saussare, um significante – aquilo que Paris-Londres
capaz de produzir significado. A tex- gráfica ou fonematicamente represen-
tualidade é central no conjunto das ta um significado determinado não tem O charme da metodologia estrutu-
análises estruturalistas de autores um valor absoluto: ele é o que é ape-
ralista baseada na semiótica barthe-
nas na medida em que é diferente de
como Barthes, Eco, Kristeva e Metz. siana e os próprios objetos de pes-
outros significantes.
As análises propostas por eles con- quisa voltados à cultura midiática,
templam a dupla articulação da lin- acenderam as luzes em Londres. A
Pois bem, Derrida radicalizou o
guagem em significante e significa- Inglaterra iniciou os chamados Estu-
conceito de diferença (différence)
do (conforme os ensinamentos de dos Culturais com quatro teóricos
central no estruturalismo, aceitando
Sausurre) o que tipificou a pergun- importantes: Hoggart (leitura entre a
o par de Saussure e indo além:
ta básica do estruturalismo francês classe operária), Raymond Williams
dos anos 1960: em que medida po- [...] o significado não é nunca, defi- e Edward Thompson (ligados à for-
demos falar em “leitura de cinema” nitiva e univocamente, apreendido mação de adultos das classes popu-
ou “leitura de imagens” da mesma pelo significante. O significado não lares) e Stuart Hall, jamaicano radica-
maneira que falamos em leitura de está nunca definitivamente presente do na Inglaterra.
um texto. no significante. A presença do signi- Todos eram de certa maneira de
A contribuição de Saussure, es- ficado no significante é incessante- origem popular e sem lugar no siste-
pecialmente a distinção entre língua mente adiada, diferida (Silva, 2002,
ma universitário britânico. Integrados
p. 121).
e fala foi importante e, sobre o con- no centro extra-universitário de Bir-
ceito de língua, como portadora de mighan (Centro de Estudos Culturais
Silva (2000, p. 121) aponta então
uma estrutura, irão se debruçar mui- Contemporâneos – CCCS) e apoia-
o exemplo do dicionário para escla-
tos dos intelectuais franceses, seja dos pelas revistas acadêmicas, eles
recer a ilusão de chegarmos ao “[...]
para a análise literária, seja para a sig- desenvolveram a chamada virada
‘significado de uma palavra’, mas,
nificação no cinema ou para outras cultural dos anos 1960 e 1970, com
artes como pintura e fotografia. na verdade, ela é sempre definida
um novo sentido (agora gramsciano)
O par significante/significado da por uma outra palavra (um outro
para a cultura: cultura como lugar de
lingüística de Saussure foi proble- significante)”. O significado está negociação de sentidos, enquanto
matizado pelos pós-estruturalistas, sempre mais a frente; é como se que a noção barthesiana de cultura
especialmente por Foucault (na nunca chegássemos ao significado estava mais ligada às explicações ide-
nova noção de poder) e por Derri- último de algo. ológicas de Althusser.
da, por ter compreendido a regres- Mas, antes das desconstruções de Mas aquela mesma recusa em acei-
são ao infinito possível no par sig- Derrida e de Foucault, o clima estru- tar a verdade do mundo midiático
nificante/significado. Ao dizermos turalista da França nas décadas de mitologizado de Barthes é aqui tam-
mesa produzimos sonoridade (fo- 1950 e 1960, estendia o alcance soci- bém resposta. Com uma diferença: a
nema), isto é, o som; ao escrever- ológico do par Língua/Fala, até por- significação no estruturalismo é mais
mos mesa, produzimos o grafismo que a Lingüística de Saussure, de- fixa e pressuposta na estrutura inter-
da palavra mesa: ambos são signi- senvolveu, dentro da idéia da língua, na da obra (significação pela forma)
ficantes (arbitrários pois houve o aspecto de “sistema de valores”. enquanto que no pós-estruturalismo
acordos e convenções culturais Roland Barthes escreveu seus Ele- ela é mais fluida, indeterminada e in-
para encaminharmos significados mentos de Semiologia (1996) para certa. “O pós-estruturalismo partilha
de mesa a partir do significante esclarecer conceitos como língua e com o estruturalismo a mesma ênfa-
(som ou palavra escrita). A língua fala, significado e significante, sin- se na linguagem como um sistema de
humana significa a partir desta tagma e sistema, denotação e cono- significação” conforme elucida Silva
dupla articulação entre fonemas e tação, e, a partir daí desenvolver seu (2002, p.119). Mas radicalizou outras
morfemas para produzir o signifi- método de análise de imagens (retó- noções foucaultianas como as rela-
cado. rica das imagens): as imagens são ções de poder-saber, noções de dis-
O arbitrário da língua (a diferen- estruturadas como uma língua deven- curso e outras noções derridanianas
ça) foi radicalizada por Derrida. Es- do haver um método de lê-las e deco- que distanciam as duas correntes, às
238 crevemos mesa e não msea por uma dificá-las. Dominando os códigos que vezes de modo irreconciliável.
simples convenção; como esclarece as cifram, é possível entender os sig- À maior crítica que se faz ao estru-
Silva (2002, p. 120): nificados que elas portam. turalismo como uma análise presa aos

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A força do estruturalismo francês na análise dos produtos culturais

elementos da estrutura e, portanto, a- Thompson escreve o conhecido arti- ção, é um exemplo culturalista daque-
histórica, Barthes responde: “[...] um go Miséria da teoria, “verdadeira la proposta tripartite entre estrutura-
pouco de formalismo afasta-nos da barreira de fogo antialthusseriana” lismo e psicanálise renovada nos es-
História, mas muito formalismo apro- (Mattelart e Neveu, 2004, p. 81). O tudos culturais : “[...] existe uma pol-
xima-nos dela” (Barthes,1993, p. 134). novo campo dos estudos culturais ti- trona no cinema para a qual aponta a
A semiologia estrutural desenvol- nha que fazer a defesa da história das tela do filme [...] uma poltrona para a
vida por Barthes entende a linguagem vidas comuns (a micro história) ao qual os efeitos cinematográficos e as
com as noções de códigos, conota- mesmo tempo em que tinha que ex- composições dos quadros estão pla-
ções, denotações, paradigmas e sin- purgar ao formalismo das estruturas. nejados [...]” (Ellsworth, 2001, p. 15).
tagmas (palavras combinadas produ- Os historiadores tiveram uma partici- Mas todos os modos de endere-
zem seqüências sintagmáticas, por pação grande nisso e várias correntes çamento erram seus alvos; não exis-
exemplo). Os signos (paradigmas) da História o atestam, especialmente te o ajuste perfeito entre a produção
constituem sintagmas (mensagens). a corrente da História Cultural. e a recepção dos produtos midiáti-
As linguagens não verbais, como a Para fugir do estruturalismo althus- cos. É nesse espaço imprevisível que
moda e a fotografia são, na analogia seriano e da semiologia barthesiana, Ellsworth (2001) joga as fichas para
lingüística, passíveis de uma retórica. os culturalistas partem então para as trabalhar o endereçamento como coi-
É certo que textos chaves do cul- pesquisas de recepção. O comentá- sa de cinema e de educação simulta-
turalismo britânico reafirmam a analo- rio jocoso de Bordwell, outra vez aju- neamente, num exercício típico do
gia lingüística estrutural, tal como ela da a pensar: “[...] a corrente cultura- cruzamento entre estruturalismo e
foi desenvolvida na semiologia dos lista salienta que o objeto de estudo psicanálise flexibilizado nos estudos
códigos, conotações e denotações é constituído não pelos textos mas culturais. Lembramos que o texto de
barthesianas. Assim, em Encoding/ pelos usos feitos dos textos” (Bor- Elizabeth Ellsworth está publicado no
Decoding (1980) Hall afirma que o “[...] dwell, 2005, p. 37), em lugar de identi- livro de Tomáz Tadeu da Silva (2001),
‘discurso televisivo’ está sujeito a to- ficar sentidos diversos entre os tex- ao lado de outras descontruções de-
das as complexas regras formais por tos, o culturalista os encontra entre leuzianas bem diferentes da propos-
meio das quais a língua significa”[...] os públicos. ta de Ellsworth, essa sim, um exem-
(Hall in Bordwell, 2005, p. 49), o que Se a ironia de Bordwell ajuda a plar primoroso de uma estrutura tri-
faz Bordwell ironizar: “[...] todas as re- pensar, não pode obstaculizar com- partite.
gras de linguagem?; os pronomes de preensões mais pertinentes: acredi-
tratamento?; a concordância entre tamos que a obra passa a ser autôno- Estrutura interna versus
sujeito e verbo?; a formação dos plu- ma e independente do sujeito cria- recepção da obra: um
rais?” (Bordwell, 2005, p. 49). dor, a partir de sua estrutura interna, falso dilema
É o atrativo do estruturalismo fran- onde os elementos dialogam entre si
cês sobre os estudos culturais ingle- criando assim um sentido. Nesse A década de 1970 termina ainda
ses que faz Thompson fulminar con- momento, a obra passa a ser “recria- com forte influência da semiologia
tra o que ele nomeará a eletrificação da” por um outro sujeito (não o autor textual francesa e é nos anos 1980
da linha Paris-Londres. do quadro, do filme, da novela de te- que a Inglaterra faz uma virada que
levisão) mas o sujeito fruidor, que irá só aparentemente pode ser conside-
[...] Barthes será o principal e o mais decodificá-lo de acordo com suas rada uma virada metodológica: trata-
precoce beneficiário desse interesse, expectativas histórico-culturais. se dos estudos etnográficos, o pes-
logo acompanhado por autores como A produção humana se desloca e quisar pessoas em suas circunstân-
o teórico de cinema Christian Metz
permite se autonomizar do seu autor, cias e não mais produtos midiáticos
ou Julia Kristeva, que então partici-
pavam da “aventura semiológica” em
uma vez que passa a produzir efeitos (textos em sua estrutura interna).
torno da revista Communications e Tel e significados que vão além de sua A compreensão de que a mídia não
Quel [...] (Mattelart e Neveu, 2004, origem ou das intenções de sua au- só aliena mas pode proporcionar pra-
p. 81). toria. Nesse sentido, a virada etno- zer constitutivo das subjetividades
gráfica realizada pelos estudos cul- (o prazer de ver Madonna ou de as-
A revista inglesa de análise fílmica turais é tão importante quanto a aná- sistir novelas de televisão), desperta
Screen tinha inegável inspiração al- lise da estrutura interna da obra. animosidades também entre os ingle-
thusseriana. O confronto com as in- O convite de Ellsworth (2001), em ses eletrificados pela linha Paris-Lon- 239
fluências francesas pedia artilharia Modos de endereçamento: uma coi- dres. É o caso de Judith Williamson,
mais pesada; o historiador Edward sa de cinema; uma coisa de educa- discípula de Barthes e autora de uma

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Solange Puntel Mostafa

obra de referencia sobre a decodifica- cês é a volta de Roland Barthes em entre cinema e educação no Brasil
ção das mensagens publicitárias, nossos meios, eletrificando Florianó- (excluindo os manuais didáticos).
como afirmam Mattelart e Neveu (2004, polis (SC) no livro Imagem: interven- A complexa composição entre
p. 107). Assim, da mesma forma que ção e pesquisa, organizado por Len- movimentação de câmara, luz, movi-
um Thomspon dispara artilharia pe- zi et al. (2006). O livro é dedicado à mentação musical, movimento de
sada contra Althusser, os barthesia- pedagogia de imagens com relatos personagens e a variação possível
nos também disparam seus códigos e variados sobre o uso da fotografia no interior de cada movimento dá à
sintagmas para cima das trincheiras na educação escolar e no processo arte fílmica mais do que uma comple-
culturalistas. de ensino-aprendizagem. xidade técnica, mas sobretudo dire-
Há outras terceiras vias que não A emergência da câmera digital ciona os sentidos a perceber.
aquela apontada por Ellsworth traz a fotografia para a atenção dos A análise descritiva defendida por
(2001). É o caso da semiopragmática educadores, e a fotografia traz ime- Duarte (2002) está no coração do es-
de Odin (2005), em que a síntese dá- diatamente a semiologia estruturalis- truturalismo francês e Christian Metz
se não pela psicanálise mas pela ta de Barthes (1990) no capítulo Re- é o principal autor desta corrente de
pragmática permitindo investigar os tórica da imagem. Mas não só. Bar- significação do cinema. Como diz a
diferentes filmes-textos que surgem thes volta, também no texto a A Câ- canção: “[...] O que foi escondido é o
de um mesmo filme-projeção. De acor- mera Clara: nota sobre fotografia, que se escondeu; E o que foi prome-
do com a semiopragmática de Odin onde contesta um pouco a semiolo- tido, ninguém prometeu. Nem foi tem-
(2005), as modalidades de produção gia anterior da retórica da imagem por po perdido. Temos nosso próprio tem-
de sentido dependem do contexto em ele praticada, numa autonomia do po [...]” (Russo, 1986).
que a projeção se realiza, pois é o poético face à sua experiência indi- A complexa composição entre
contexto que constrói o público. vidual como espectador. movimentação de câmara, luz, movi-
Entendemos, porém, que a ques- Mas nem só de imagens fixas vive mentação musical, movimento de
tão decisiva dos movimentos teóri- o mundo mix da cultura. Mais e mais, personagens e a variação possível
cos não está na oposição texto/re- o cinema chega à sala de aula. E as no interior de cada movimento dá à
cepção ou semiologia francesa/etno- imagens em movimento entram na arte fílmica mais do que uma comple-
grafia inglesa, nem na terceira via cena acadêmica. xidade técnica mas sobretudo direci-
conciliatória de Ellsworth (2001) ou ona os sentidos a perceber.
Odin (2005). E se as dissidências Metz também está de volta! Em Duarte (2002) a análise descri-
entre estruturalismo/pós-estrutura- tiva de um filme precisa levar em conta
lismo interessam e apaixonam os es- As teorias do cinema são influen- as condições de produção do mes-
pecialistas, será para nos levar à su- ciadas, de modo geral, por aquela mo, com “[...] o máximo possível de
peração de modelos culturais exclu- estrutura tripartite composta pelo referências” (Duarte, 2002 p. 94-95).
dentes. ideário do marxismo althusseriano, da Com isso a autora quer dizer que o
psicanálise lacaniana e da semiótica espectador deve ter acesso a infor-
Barthes está de volta! estruturalista de Christian Metz des- mações que lhe permitam identificar
de os anos 1970 até hoje. Além de o contexto em que o filme foi produ-
É certo que as teorias e as meto- Ellseworth (2001), os educadores bra- zido, pois, para ela, o uso do cinema
dologias avançam em viradas e reto- sileiros dispõem de pelo menos ou- com fins pedagógicos exige que se
madas daquilo que não virou. Umas tras duas referências recentes para a conheça pelo menos um pouco de
viradas também escondem outras. análise fílmica: Cinema e Educação, história e teoria do cinema. Para tal,
Nos propusemos, neste passeio da de Rosália Duarte (2002), e A escola noções de como luz, câmera e ação e
cultura, a enfatizar o que se escon- vai ao cinema, organizado por Tei- as múltiplas composições de monta-
deu na virada para o pós-estrutura- xeira e Lopes (2003) gem para dar sentido à cena são im-
lismo. Nem foi tempo perdido, diz a O primeiro insiste em nos reco- portantes porque as vezes as ima-
canção de Renato Russo. As media- mendar o estruturalismo de Christi- gens se ligam em fios invisíveis.
ções latino-americanas estão pontu- an Metz como o caminho adequado
adas em textos como o de Costa et para as análises de filmes, enquanto Uma tomada externa de um carro es-
tacionado em frente a uma casa, se-
al. (2003), Mattelart e Neveu (2004) o segundo apresenta as próprias lei-
240 ou Mostafa e Murguia (2006). turas fílmicas realizadas por educa-
guida de outra, feita do interior, que
mostra um homem atravessando o
O que queremos destacar nessas dores. Ambos os livros são impor- umbral de uma porta e de uma tercei-
nossas mediações do charme fran- tantes na sua aproximação teórica

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A força do estruturalismo francês na análise dos produtos culturais

ra, em que uma mulher pica legumes imaginária naquilo que representa e sim, Hall (2005) faz girar as identida-
sobre uma mesa de cozinha, organi- imaginária pelo fato de ser constitu- des em várias posições de sujeito,
zadas nessa ordem, sugerem aconte- ída na dialética de presença e ausên- agora mais voltado às contribuições
cimentos que se sucedem no tempo e cia” (Metz, 1971, p. 48). de Foucault e às relações de poder/
podem dar a impressão de que se tra- Para o analista educador, não dei- saber, virada que faz dele, uma refe-
ta, por exemplo, de um marido que
xa de ser importante adentrar os códi- rência das mais importante nos cha-
retorna ao lar (Duarte, 2002 p. 50).
gos cinematográficos estudados por mados Estudos Culturais. Nesses
Metz; através deles, aproxima-se das estudos, pratica-se uma análise cul-
Mas a análise descritiva defendi-
condições de produção da linguagem tural com aquela concepção interpe-
da pela autora vai além dos aspectos
cinematográfica e da noção de texto, lativa de linguagem, onde a imagem
internos à composição fílmica; citan-
tão cara ao estruturalismo francês; o fixa ou em movimento é analisada de
do um analista clássico de cinema
texto fílmico é uma construção para um ponto de vista discursivo, cujos
como um dos pais da analise descri-
produzir tais ou quais sentidos. efeitos conotativos passam a produ-
tiva de imagens fílmicas (Christin
Assim como o estruturalismo fran- zir verdades. O texto original da dé-
Metz), a autora nos apresenta o ci-
cês dos anos sessenta inaugurou cada de 1990, em que Hall analisa a
nema como um “amplo aparato mul-
análises de imagens publicitárias (fi- identidade cultural da pós-moderni-
tidimensional que engloba fatos que
xas), tendo parte de suas análises dade está, no Brasil, em sua décima
vem antes, depois ou por fora do fil-
reformuladas pelo pós-estruturalis- edição, tal o alargamento que a vira-
me” (Duarte, 2002, p. 98). E o que
mo, o cine-língua também teve de da pós-estruturalista de Hall promo-
nos pareceu mais importante para
conviver com outras interpretações, ve em áreas como a Educação, a Co-
fazer a análise descritiva do filme
das quais, a mais importante parece- municação ou a História, naturalmen-
[...] é então cruzar os diferentes sis- nos a desenvolvida por Deleuze em te adensando a contribuição cultu-
temas de significação dos filmes com Imagem-tempo (1985): ao lembrar ralista com os estudos foucaultianos
os elementos de significação que es- que a lingüística é apenas uma parte e de outros autores pós-1968 (Derri-
tão presentes nas culturas em que eles da semiótica, o autor esclarece que da, por exemplo é um dos autores de
são vistos e produzidos, ou seja, pro- “[...] já não queremos dizer, como Hall em A identidade cultural na pós-
cura-se identificar e descrever o(s) para a semiologia, que há linguagem modernidade).
significado(s) de narrativas fílmicas
sem língua, mas que a língua só exis- Na educação, Stuart Hall é inspi-
no contexto social de que elas partici-
pam (Duarte, 2002, p. 98). te em reação a uma matéria não lin- rador de toda uma linha de estudos
güística que ela transforma” (Deleu- descrita em Costa et al. (2003) sobre
O filme pode então ser lido e ana- ze, 1985, p. 43). O afastamento que análises internas da obra como aná-
lisado com texto e como tal “[...] frac- Deleuze promove da lingüística es- lise de livros didáticos, cartilhas, re-
cionando suas diferentes estruturas trutural e, portanto, da semiologia vistas pedagógicas e outros artefa-
de significação e reorganizando-as francesa é de tal ordem que ele vai tos, como a própria publicidade (ob-
novamente segundo critérios previ- buscar na semiótica do americano jeto privilegiado do estruturalismo).
amente estabelecidos, de acordo com Charles Pierce, recursos para uma Mas também “[...] práticas escolares
os objetivos que se quer atingir” nova maneira de entender as imagens como a da merenda, da avaliação, ou
(Duarte, 2002, p. 98). São elas análi- cinematográficas. Justamente porque dos cuidados na educação infantil,
ses que, segundo a autora, se con- a semiótica de Pierce já nasce referi- entre outras, são problematizadas e
vencionou chamar de análises des- da às imagens, sem necessidade do constituídas como objetos de estu-
critivas. análogo lingüístico tão explorado do sob uma ótica cultural [...]” (Cos-
O primeiro Metz de A significa- pelo estruturalismo francês. ta et al., 2003, p. 56). Outra vertente
ção no cinema (1968) problematiza dos Estudos Culturais importante
a analogia do cinema com a lingua- Stuart Hall dos anos para a educação são os estudos cul-
gem, gerando modelos de interpre- 1990 e a educação turais da ciência, em que revistas ci-
tação para toda uma geração de au- entíficas podem ser problematizadas
tores; em seguida, para explicar a Os anos 1990 trouxeram uma vira- à luz de conceitos como “recurso
natureza duplamente imaginária do da importante na produção de Stuart objetivante da ciência” tal como está
significante cinematográfico, Metz Hall ao analisar as identidades cul- em Mostafa (2004); e tantos outros
(1971) adentra a psicanálise em Ci- turais como identidades não apenas estudos agora referidos às tecnolo- 241
nema e psicanálise: a natureza do lingüísticas e se tal, já contemplan- gias de informação e comunicação,
significante cinematográfico é “[...] do a diferença no significante. As- sejam filmes, vídeos ou páginas da

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Solange Puntel Mostafa

Internet, cujas imagens e jogos en- de Janeiro, Bertrand Brasil S.A., 169 p. METZ, C. 1968. A significação no cine-
tre visibilidade e enunciação (espe- BORDWELL, D. 2005. Estudos de cine- ma. São Paulo: Perspectiva, 295 p.
cialmente as páginas dos fotologs e ma e as vicissitudes da grande teoria. METZ, C. 1971. Linguagem e cinema.
In: F.P. RAMOS (org.), Teoria contem- São Paulo, Perspectiva, 341 p.
dos weblogs) podem ser descritas
porânea do cinema; pós-estruturalis- MOSTAFA, S.P. 2004. O artigo de ciência
em perspectivas discursivas tão ou mo e filosofia analítica. Vol. 1, São como fato e artefato cultural. ETD -
mais produtivas que as conotações Paulo, Ed. SENAC, p. 25-70. Educação Temática Digital, 6(1). Dis-
estruturalistas. DELEUZE, G. 1985. A imagem-tempo. ponível em http://143.106.58.55/revis-
Esforcei-me, neste artigo, em dar São Paulo, Brasiliense, 338 p. ta/viewarticle.php?id=27, acesso em
visibilidade à força do estruturalis- DUARTE, R. 2002. Cinema e educação. 10/10/2006.
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Solange Puntel Mostafa


UNIVALI, SC, Brasil

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Educação Unisinos

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