Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
O Banco do Nordeste oferece sempre as melhores oportunidades de investimento, com os juros mais baixos e prazos mais
longos, feitos sob medida para pequenos, médios e grandes empresários do setor. Além disso, o BNB disponibiliza toda
orientação e informação necessárias aos empreendedores que desejam implantar algum tipo de agronegócio.
E o que não falta no Nordeste são oportunidades de investimento. Seja na agricultura irrigada, agroindústrias
para processamento de frutas, grãos – soja, milho, feijão e café –, pecuária de corte e de leite ou caprinocultura.
Conheça mais os nossos produtos e serviços e descubra que o seu negócio tem tudo para dar bons frutos no Nordeste.
Informações:
(31) 3489-5002
publicacao@epamig.br Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Sumário
Editorial .......................................................................................................................... 3
Entrevista . ...................................................................................................................... 4
IA - Qual a importância do controle O Brasil, sendo um dos países IA - Quais são os principais entraves
biológico no Brasil, uma vez que mais ricos em reservas naturais como para a maior adoção do controle
o País tem sido considerado um floresta, rios, com uma reserva hídrica biológico pelos agricultores bra-
dos maiores consumidores de fabulosa, o Aquífero Guarany, que sileiros?
agrotóxicos? corresponde a 20% da água potável
Ari Gitz - O maior entrave para
Ari Gitz - O controle biológico no mundo, tem como grande desafio
a introdução do controle biológi-
tem hoje uma grande importância na substituir parte dos produtos químicos
co na agricultura brasileira são os
agricultura brasileira. Há vários exem- por produtos biológicos. Os volumes
anos de uso de agrotóxicos pelos
plos de sucesso no uso de produtos atuais de agrotóxicos devem ser subs-
agricultores. Durante gerações,
biológicos em grandes áreas. No cul- tituídos gradativamente por produtos
biológicos. É preciso mudar a cultura foram utilizados somente produtos
tivo de cana-de-açúcar, o controle da
do uso de agrotóxicos, que está enrai- químicos. Mudar essa cultura é o
cigarrinha é feito com Metharizium;
na soja, controle da Anticarsia zada há décadas no agricultor brasilei- nosso grande desafio. Necessitamos
com o Baculovirus Anticarsia; ro. Mas isto levará alguns anos. do apoio dos órgãos de extensão
Trichoderma para doenças de solo; Esta geração tem a obrigação de agrícola, universidades e empresas
Baccilus thuringiensis, no controle proteger as maiores riquezas do País, de pesquisas, além dos meios de
de lagartas, e outros agentes como ou seja, florestas e água, e fornecer à comunicação, para levarem as novas
Trichograma mostram que o controle população alimentos saudáveis e livres técnicas de controle biológico aos
biológico no País é uma realidade. de resíduos químicos. agricultores.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Informações:
(31) 3489-5002
publicacao@epamig.br Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(31) 3891-2646 Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
1
Eng a Agr a, Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
Eng o Agro, Dr., Pesq. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Caixa Postal 02372, CEP 70849-970 Brasília-DF. Correio eletrônico:
2
sujii@cenargen.embrapa.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
influencia a sobrevivência, a fecundidade zuluagai Denmark & Muma, todos os dae, algumas não são atrativas e outras
e a capacidade de busca por hospedeiros três pólens foram adequados e propor- são repelentes a esses inimigos naturais
(WACKERS et al., 2005). cionaram taxa de oviposição semelhante (WACKERS et al., 2005).
O pólen é uma fonte alimentar impor- (Gráfico 2). Outro fator a ser considerado é a utili-
tante para diversos entomófagos: Neurop- Além da qualidade nutricional, fatores zação dos recursos derivados das plantas
tera (Chrysopidae, Hemerobiidae), Diptera como a acessibilidade ao alimento forne- pelos herbívoros. Quando se diversifica o
(Syrphidae), Heteroptera (Anthocoridae), cido, relacionado com a arquitetura floral, sistema, utilizando-se plantas que forne-
Coleoptera (Coccinellidae), Thysanoptera e a atratividade das plantas para inimigos cem alimento suplementar aos inimigos
(Aeolothripidae, Phlaeothripidae), Manto- naturais devem ser considerados, para naturais e esta fonte de alimento é também
dea (Mantidae), Acari (Phytoseiidae) e Ara- que se tenham resultados satisfatórios no explorada pelos insetos fitófagos, pode-se
neae (Araneidae) (WACKERS et al., 2005). controle de pragas pelos inimigos naturais acentuar o problema ao invés de diminuí-
Além de proteínas e carboidratos, o pólen (BAGGEN et al., 1999). Embora umas lo (BAGGEN et al., 1999). O néctar pode
contém vitaminas, minerais e esteroides, plantas forneçam néctar com qualidade ser explorado por algumas espécies-praga
os quais são importantes para a digestão e nutricional adequada para parasitoides de lepidópteros e heterópteros e o pólen
outros processos metabólicos dos insetos das famílias Braconidae e Ichneumoni- por coleópteros crisomelídeos e curculio-
(STANLEY; LINSKENS, 1974).
O néctar floral e extrafloral, presente
em algumas plantas, pode ser utilizado 0,16
por predadores e parasitoides: Neuroptera
Taxa de crescimento populacional (rm)
0,14
(Chrysopidae, Hemerobiidae), Diptera
(Syrphidae, Cecidomyiidae, Tachinidae), 0,12
Hymenoptera (Ichneumonidae, Braconi- 0,10
dae, Vespidae, Formicidae) Coleoptera
0,08
(Coccinellidae) e Acari (Phytoseiidae)
(WACKERS et al., 2005). Além dos 0,06
açúcares (sacarose, glicose e frutose), o
0,04
néctar contém cerca de 14 aminoácidos
(BAKER et al., 1978). Os nectários extra- 0,02
florais podem estar localizados em folhas, 0,00
Pólen de Pólen de Pólen de Pólen de Pólen de Pólen de
pecíolos, brácteas e frutos de algumas mamona mamona + mel crotalária crotalária + mel guandu guandu + mel
plantas, como em algumas variedades de
Dietas
algodão, feijão-fava, mandioca, mamona,
Gráfico 1 - Taxa intrínseca de crescimento populacional do predador Chrysoperla externa
girassol, abobrinha e espécies de Prunus alimentado com diferentes dietas à base de pólen
spp. (BAKER et al., 1978).
O valor nutricional dos alimentos for-
necidos pelas plantas varia com a espécie 30
da planta e do inimigo natural. Desse
modo, nem todo pólen e néctar produzidos 25
pelas plantas são adequados nutricional-
Número total de ovos/fêmea
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Madelaine Venzon
foram fontes de carboidratos adequadas às
larvas e aos adultos do predador C. externa,
proporcionando aumento na sobrevivência
de ambos estádios do predador (Fig. 1, 2
e 3). Avaliou-se também a utilização do Figura 1 - Larva do predador Chrysoperla externa alimentando-se em flores do trigo-
mourisco
néctar floral por uma das principais pragas
do cafeeiro, o bicho-mineiro do cafeeiro
(Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville)).
Este teve acesso ao néctar e teve sua sobre-
vivência aumentada na presença de flores
de trigo-mourisco, no entanto, sua fecun-
didade não foi alterada pela alimentação
no néctar do trigo-mourisco. Portanto, essa
espécie de planta apresenta potencial de
uso para o controle biológico conservativo
no cafeeiro (ROSADO, 2007).
Na seleção de plantas que forneçam
néctar e pólen, devem-se escolher somente
Madelaine Venzon
aquelas, cujas flores/nectários sejam explo-
rados e permitam o benefício apenas dos
inimigos naturais, quer seja pela sua forma,
cor ou algum fator químico (BAGGEN et
al., 1999). A inacessibilidade do alimento Figura 2 - Adulto do predador Chrysoperla externa alimentando-se em flores do trigo-
mourisco
fornecido pelas plantas às pragas, portanto,
é outro critério a ser utilizado na seleção
de plantas para a diversificação do agroe-
cossistema.
REFÚGIO E MICROCLIMA
Locais de abrigo para inimigos naturais
podem ser fornecidos por meio da diver-
sificação da vegetação e da mudança na
estrutura do habitat nas áreas de cultivo.
Em culturas perenes, a manutenção e o
aumento da camada de folhas mortas, que
Madelaine Venzon
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
utilizada é a distribuição nas lavouras de de presas alternativas pela planta associa- colonização das plantas hospedeiras pelos
áreas de refúgio para predadores, que po- da pode auxiliar na redução de pragas na herbívoros (ROOT, 1973). Portanto, a
dem ser montículos de palha, por exemplo. cultura principal. Duas espécies de pulgões manipulação da diversidade nos agroecos-
Essa técnica vem sendo utilizada há mais atacam o sorgo, Rhopalosiphum maidis sistemas pode reduzir o ataque de pragas
de 2 mil anos por agricultores chineses e (Fitch) e Schizaphis graminum (Rondani), pelo incremento do terceiro nível trófico
tem contribuído para a redução de até 88% e não ocorrem no algodão. Os pulgões no (efeito top-down) e/ou pelos efeitos do
no uso de inseticidas. Halaj et al. (2000) sorgo atraem predadores como crisopídeos, primeiro nível trófico (efeito bottom-up)
demonstraram experimentalmente que a coccinelídeos e sirfídeos. Após coloniza- (LANDIS et al., 2000).
técnica é eficiente para aumentar a popu- rem o sorgo, os predadores passam para o Os agroecossistemas podem ser di-
lação de predadores generalistas, diminuin- algodoeiro, onde irão controlar lagartas de versificados pela associação de plantas de
do, consequentemente, os danos causados lepidópteros-praga (GRAVENA, 1992). espécies diferentes, podendo ser duas ou
pelas pragas na soja. Outro exemplo é a A disponibilidade de hospedeiros alter- mais culturas (cultivos intercalares ou con-
abertura de buracos no solo que servem de nativos para parasitoides próximos à área sorciados) ou uma cultura e uma ou mais
abrigo para aranhas predadoras, mantendo de cultivo, em períodos de não ocorrência plantas associadas (planta espontânea,
e aumentando suas populações nas áreas de da praga na cultura principal, diminui a cobertura verde, adubo verde). É possível
cultivo (LANDIS et al., 2000). taxa de emigração do parasitoide e favore- também, com a associação de plantas com
A complexidade da vegetação pode ce positivamente a redução de populações genótipos diferentes, obter benefícios
influenciar positivamente a redução iniciais da praga na cultura. Murphy et al. semelhantes na redução populacional de
populacional das pragas, por diminuir a (1998) demonstraram que em pomares, pragas (ANDOW, 1991). Na escolha das
ocorrência de interações antagônicas entre onde ameixeiras foram plantadas próximas plantas a serem associadas, alguns fatores
predadores, como a predação intraguilda. às videiras, houve redução populacional devem ser considerados, para que essa
Esta interação ocorre, quando predadores, da cigarrinha Erythroneura elegantula técnica resulte em diminuição do ataque e
além de competirem com outros inimigos (Osborn), uma das principais pragas da dos danos das pragas na cultura principal.
naturais, alimentam-se destes. Como videira nos Estados Unidos. Durante o in- Desse modo, a planta associada à cultura
consequência, pode ocorrer aumento nas verno, há disponibilidade de outra espécie principal deve apresentar, preferencial-
populações das pragas-alvo, devido à de cigarrinha na ameixeira (E. prunicola), mente, as seguintes características:
exclusão de uma das espécies de inimigo que não ataca a videira. Essa espécie de
a) sobreviver no ambiente selecionado
natural (presa intraguilda) e/ou à redução cigarrinha serve de hospedeiro alternativo
com manutenção mínima e ter fácil
do tempo e esforços gastos pelo predador para um dos principais inimigos naturais
trato agronômico;
intraguilda na predação da praga-alvo. da cigarrinha-da-videira, o parasitoide
Anagrus epos Girault. Na primavera, quan- b) competir com plantas invasoras não
Finke e Denno (2002) demonstraram que
do E. elegantula inicia a deposição dos desejáveis;
em habitats com vegetação complexa,
primeiros ovos na videira, esses são para- c) florescer em época não coincidente
houve maior redução da população da
sitados por A. epos que migra da ameixeira com a cultura principal, para evitar
cigarrinha Prokelisia dolus Wilson pelo
para a videira, pois a cigarrinha-da-videira a migração de polinizadores desta
mirídeo predador Tytthus vagus Knight, em
é seu hospedeiro principal. para a associada;
consequência de diminuição da predação
intraguilda por aranhas sobre o mirídeo, em d) fornecer seletivamente recursos aos
ESTRATÉGIAS PARA O inimigos naturais, sem beneficiar os
comparação com habitats com vegetação
CONTROLE BIOLÓGICO
simplificada. artrópodes fitófagos;
CONSERVATIVO
e) não hospedar os mesmos herbívoros
PRESAS OU HOSPEDEIROS Diversificação da vegetação da cultura principal, pois isso favo-
ALTERNATIVOS na área cultivada rece o aumento de sua população.
A disponibilidade de presas e/ou hospe- Além de influenciar indiretamente a As diferentes espécies de plantas po-
deiros alternativos, dentro ou próximo da população de herbívoros, via incremento dem estar dispostas, com relação à cultura
área de cultivo, contribui significativamen- na população de inimigos naturais, a di- principal, em faixas alternadas de cultivo,
te para o estabelecimento das populações versificação nos agroecossistemas tende a em campos adjacentes, misturadas na mes-
de inimigos naturais em época anterior à reduzir diretamente o ataque de herbívoros, ma linha ou na área de plantio, nas bordas
ocorrência das pragas nas culturas. pela diversidade de estímulos olfativos e da área de cultivo ou, ainda, ser plantadas
A associação de sorgo granífero com visuais, associados às várias espécies de nos terraços, anteriormente ao plantio
algodão é um exemplo de como a provisão plantas, que dificultam a localização e a definitivo. Um fator importante a ser con-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
siderado com relação a essa disposição é na cultura principal, por meio da provisão nutricional do hospedeiro, recentemente
a distância da planta associada da cultura de voláteis que atraem os inimigos natu- foi demonstrado que a mosca-branca é
principal. Normalmente, maior número de rais, facilitando-lhes a tarefa de encontrar orientada para colonização do tomateiro
inimigos naturais ocorre nas proximidades suas presas/hospedeiros (KHAN et al., por semioquímicos liberados pela planta
das plantas associadas e na interface com a 2008). Uma compilação de exemplos do (TOGNI, 2009). Ambas as pragas são
cultura principal (ALTIERI, 1999). uso dessas estratégias pode ser encontrada negativamente afetadas pela presença de
O efeito de culturas intercalares/con- em Venzon et al. (2006a). coentro (Coriandrum sativum) nas parcelas
sorciadas nas populações de insetos-praga Estudos com as pragas do tomateiro de tomate, tanto pela redução das taxas
na cultura principal tem apresentado re- mostram que diferentes mecanismos estão de colonização por adultos como pelo
sultados variados, predominando aqueles envolvidos na localização da planta hospe- aumento na abundância de inimigos natu-
onde houve a diminuição das populações deira pela traça-do-tomateiro, Tuta absoluta rais e o consequente controle biológico de
de pragas nas culturas consorciadas em (Meyrick), e pela mosca-branca, Bemisia ovos e imaturos das pragas (MEDEIROS,
comparação com uma das monoculturas tabaci (Genn.). O estado nutricional do 2007; TOGNI, 2009) (Fig. 4). Adicional-
(VANDERMEER, 1989; ANDOW, 1991). tomateiro orienta as fêmeas de T. absoluta mente, voláteis constitutivos das plantas
As plantas associadas à cultura podem con- para plantas que receberam adubação quí- de coentro podem dificultar o encontro
tribuir para a redução populacional de al- mica em detrimento de plantas adubadas do tomateiro como planta hospedeira da
guns insetos-praga por meio do incremento no sistema orgânico (MEDEIROS, 2007). mosca-branca.
na população de inimigos naturais pela A mosca-branca, que é uma praga polífaga, O plantio antecipado de coentro em
provisão de alimento (pólen, néctar), de com mais de 600 hospedeiros conhecidos, consorciação com o tomateiro favorece
presas e/ou hospedeiros utilizados durante não distingue a qualidade nutricional de a ocorrência de predadores generalistas
períodos de baixa densidade populacional plantas do tomateiro, colonizando indis- como joaninhas (Fig. 5), dípteros da família
destes na cultura principal. Adicionalmen- tintamente plantas cultivadas em sistemas Syrphidae e Dolichopodidae e crisopídeos,
te, plantas associadas podem reduzir as orgânico ou convencional (TOGNI et al., ao fornecer, pólen, néctar, abrigo e presas
pragas em época anterior à sua ocorrência 2009). Apesar de não distinguir o estado alternativas (TOGNI, 2009). Neste sistema,
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Figura 5 - Postura da joaninha Cycloneda sanguinea em inflorescência de coentro, no Seleção das variedades
plantio consorciado com tomate
Variedades de plantas com caracterís-
ticas que atraem e mantêm os inimigos
Medeiros (2007) verificou que a joaninha, couve proporcionou aumento na quanti- naturais, além de facilitar as atividades de
Hippodamia convergens Guérin-Meneville, dade de inimigos naturais, principalmente predação e parasitismo, podem ser usadas
utiliza uma grande diversidade de espécies joaninhas, as quais foram importantes na estrategicamente para o controle de pragas
de pólen para complementação da dieta, redução da população de pulgões na couve nas culturas. Essas características, que dire-
enquanto que adultos do crisopídeo C. (RESENDE, 2008). ta ou indiretamente promovem a eficiência
externa alimentam-se predominantemente dos inimigos naturais, podem ser a presença
de pólen de plantas da família Poaceae e Manutenção da vegetação
natural de pelos, tricomas, espinhos e glândulas,
também da família Apiaceae, relevante para que facilitam a movimentação desses
essas espécies. Dessa forma, ao plantar o Áreas com vegetação natural, adja- inimigos, a presença de estruturas que
coentro, aproximadamente, 15 dias antes centes aos campos de cultivos ou, quando servem de abrigo e a produção de pólen,
dos tomateiros, a cultura é beneficiada pela possível, dentro dos campos, devem ser de néctar e de semioquímicos (BOTTREL
colonização prévia da área por espécies preservadas, por causa de sua importância et al., 1998).
generalistas de inimigos naturais e pela pre- na manutenção das populações de inimigos As domácias são estruturas especia-
venção à colonização inicial de T. absoluta naturais. Essas áreas podem funcionar lizadas de algumas plantas e que servem
e B. tabaci. Além disso, durante o ciclo do como local para hibernação ou refúgio dos de abrigo aos inimigos naturais. Ocorrem
tomateiro, podem ser realizadas duas seme- inimigos naturais, como fontes de pólen, nas folhas de muitas espécies de plantas
aduras do coentro, permitindo que sejam néctar e de hospedeiros alternativos, quan- e variam de simples tufos de pelos, como
deixadas algumas plantas para florescer e do houver baixa densidade populacional em algumas variedades de pimenta, a
prover recursos alternativos para os inimi- das pragas nos campos cultivados. Para cavidades localizadas nas junções entre
gos naturais, durante a maior parte do ciclo otimizar o espaçamento entre essas áreas e as nervuras principais e secundárias, na
da cultura principal (MEDEIROS, 2007; a cultura principal, é importante considerar parte inferior das folhas, como em varie-
TOGNI, 2009). Portanto, para T. absoluta a distância percorrida pelos inimigos natu- dades de café. As domácias são habitadas
e B. tabaci, o coentro e o tipo de manejo do rais, para penetrarem nas áreas de cultivo. por predadores, principalmente ácaros,
sistema (orgânico e convencional) possuem Em alguns casos, as áreas de vegetação por fungívoros e por polenófagos (rara-
efeitos diretos nas populações dessas pragas natural podem estar dispostas em forma mente por herbívoros), que utilizam essas
pelo aumento da complexidade estrutural de corredores, ligando diversas lavouras, estruturas para a proteção contra fatores
do ambiente, dificuldade de encontro do favorecendo assim a dispersão dos inimi- ambientais adversos e contra hiperpredado-
hospedeiro (tomate) e efeitos indiretos pelo gos naturais (ALTIERI, 1999). res (WALTER, 1996). Matos et al. (2004)
favorecimento da comunidade de inimigos Em citros, a preservação da cobertura verificaram que plantas de cafeeiros com
naturais no agroecossistema (MEDEIROS, verde formada pela vegetação nativa serve grande quantidade de domácias apresentam
2007; TOGNI et al., no prelo; TOGNI, 2009). de abrigo para inimigos naturais, como os maiores densidades de ácaros predadores
Em outro consórcio, o coentro associado à predadores rasteiros (formigas, aranhas e do que plantas com poucas ou sem do-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
mácias. Plantas de Coffea arabica são poderiam ser introduzidos ácaros predado- portanto, informações bem específicas
mais favoráveis ao desenvolvimento do res nas culturas em períodos anteriores à (SABELIS et al., 1999). Assim, como na
ácaro predador I. zuluagai do que Coffea ocorrência de ácaros e tripes, pois o néctar produção de pólen, alguns fatores devem
canephora, por apresentarem domácias seria suficiente para manter a população ser considerados, como a utilização desses
que possibilitam melhores condições desses predadores. voláteis por outros artrópodos que não be-
de abrigo e reprodução a esse predador A planta pode também produzir pólen neficiam a planta, como os herbívoros, os
(Fig. 6A e 6B) (MATOS et al., 2004). para ser utilizado como alimento por diver- omnívoros e os hiperpredadores (SABELIS
A presença de domácias em cafeeiros é sos predadores. No entanto, para a planta et al., 1999).
fator de sobrevivência e manutenção das beneficiar-se da produção de pólen, este
populações de ácaros predadores nessas deve ter qualidade nutricional inferior à das Fornecimento de recursos
suplementares
plantas, pois além de abrigo e local de presas, caso contrário os predadores iriam
oviposição, as domácias abrigam ácaros alimentar-se preferencialmente de pólen e Quando a população de pragas é baixa e
tideídeos que servem de alimento ao preda- não das pragas presentes nas plantas. Outro insuficiente para promover aumento signi-
dor. Consequentemente, as domácias de C. fator importante é a possível utilização de ficativo da população de inimigos naturais,
arabica exercem efeito negativo indireto pólen pelos herbívoros (RIJN et al., 2002). o fornecimento de pólen, em variedades
sobre as populações dos ácaros fitófagos Os benefícios da produção de pólen para a que não o produzem, em períodos iniciais
que atacam o cafeeiro. planta dependerão das espécies envolvidas, ao ataque das pragas, pode contribuir para
A presença de néctar e de pólen nas da população inicial de predadores e de a manutenção da população dos inimigos
plantas é fator importante para a comple- presas e do impacto que a utilização desse naturais nas plantas, diminuindo, assim, a
mentação da dieta dos predadores e dos recurso causará nessas populações. ocorrência de surtos populacionais de pra-
parasitoides (no caso do néctar) e para a Outra maneira pela qual as plantas gas. Essa estratégia pode ser usada também
manutenção das suas populações em perío- interagem com os inimigos naturais é por em complementação ao controle biológico
dos de escassez de pragas. Algumas plantas meio da produção de voláteis em resposta aplicado. Rijn et al. (2002) demonstraram
possuem nectários extraflorais, cuja função ao ataque de herbívoros, os chamados que o fornecimento semanal de pólen em
principal não é a de atrair polinizadores, voláteis induzidos por herbivoria, que plantas de pepino, em variedades que não
mas de fornecer alimento para parasitoides, indicam a presença de pragas e, portan- o produzem, promove o aumento popu-
formigas e outros predadores. Quando to, auxiliam nos processos de busca dos lacional do ácaro predador Amblyseius
esses artrópodos visitam estas plantas para inimigos naturais (SABELIS et al., 1999; degenerans (Berlese), que afeta negativa-
se alimentar do néctar, adicionalmente irão KHAN et al., 2008). A composição desses mente a população do tripes Frankliniella
alimentar-se dos herbívoros presentes na varia, consideravelmente, dependendo da occidentalis (Pergande). No entanto, como
planta. Rijn e Tanigoshi (1999) sugeriram espécie e da variedade da planta, da espécie o tripes também pode beneficiar-se do pó-
que, por meio da seleção de genótipos de herbívoro e do seu grau de infestação e len, seu fornecimento deve ser localizado
com alta produção de néctar extrafloral, da idade e condição da planta, fornecendo, para que os predadores monopolizem o
A B
Figura 6 - Domácias em Coffea
NOTA: Figura 6A - Coffea arabica. Figura 6B - Coffea canephora.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
seu uso. Essa estratégia também foi utili- microclima mais favorável e recursos alter- Em sistemas orgânicos de produção, é
zada experimentalmente por Nomikou et nativos (pólen, néctar e presas). Por outro comum o uso de produtos não convencio-
al. (2002), em pepino, para o controle da lado, cada prática adotada (consórcio com nais para o controle de pragas. No entanto,
mosca-branca B. tabaci pelos ácaros pre- coentro e tipo de irrigação) pode afetar, muitas vezes, por falta de informações
dadores Euseius scutalis (Athias-Henriot) de forma diferenciada, cada espécie ou técnicas, esses produtos são utilizados em
e Typhlodromips swirskii (Athias-Henriot), grupo de espécies no agroecossistema. Tais concentrações altas, as quais são deletérias
em casa de vegetação. informações evidenciam a necessidade da aos inimigos naturais. Por exemplo, a calda
Uma alternativa ao plantio de espé- adoção de práticas locais diferenciadas de sulfocálcica é um produto de uso difundido
cies florícolas, é fornecer artificialmente acordo com o tipo de manejo e as pragas- na agricultura orgânica para controle de
substâncias nutritivas e atrativas aos ini- alvo que se deseja controlar. pragas, em especial de ácaros. Tem sido
migos naturais, como misturas de levedo Em sistemas irrigados por aspersão, relatado o uso de concentrações que variam
de cerveja, açúcar e água. No entanto, a também ocorre o favorecimento do cres- de 2% a 4%, dependendo da cultura. Em
viabilidade econômica dessa técnica tem cimento da vegetação espontânea na área. pesquisas realizadas na Unidade Regional
limitado seu uso (LANDIS et al., 2000). Se estas espécies forem manejadas adequa- EPAMIG Zona da Mata (U.R. EPAMIG
Uma revisão completa do assunto pode ser damente de modo que não interfiram na ZM), verificou-se que é possível utilizar
encontrada em Wade et al. (2008). produtividade da cultura principal, também dosagens inferiores da calda, eficientes no
podem aumentar a diversidade de espécies controle dos ácaros fitófagos e seletivas aos
OUTRAS PRÁTICAS vegetais na área e prover abrigos, presas e principais inimigos naturais desses. A con-
CULTURAIS
recursos alternativos. Bezerra et al. (2004) centração de 0,5% da calda (31,5º Baumé)
controla eficientemente a população do
A escolha do sistema de irrigação pa- demonstraram no Semiárido nordestino
ácaro-vermelho do cafeeiro Oligonychus
rece afetar a estruturação da comunidade que o plantio de tomate com plantas espon-
ilicis e corresponde a CL11 para o ácaro pre-
de inimigos naturais e, consequentemente, tâneas reduz as populações de B. tabaci,
dador Ι. zuluagai, um dos principais inimi-
o sucesso do controle biológico conserva- pelo favorecimento da abundância de seus
gos naturais de O. ilicis. Adicionalmente, a
tivo, especialmente em regiões com forte inimigos naturais. É importante ressaltar
calda sulfocálcica a 0,5% é mais seletiva a
variação sazonal no regime de chuvas. que nesse estudo foram selecionadas plan-
esse predador do que o enxofre, outro pro-
Togni (2009) relata o efeito favorável tas que não são hospedeiras conhecidas de
duto de uso frequente na cafeicultura para
da irrigação por aspersão associada ao viroses transmitidas por moscas-brancas
controle de O. ilicis. Nesta concentração,
policultivo com coentro no aumento da e podem ser plantadas ou mantidas nas
a calda sulfocálcica também é seletiva ao
abundância e diversidade de inimigos bordas do sistema produtivo.
predador C. externa. Em trabalho realizado
naturais como dípteros predadores, vespas O uso de produtos compatíveis ou
em laboratório, verificou-se que houve
(Fig. 7) e parasitoides em tomateiro culti- seletivos aos inimigos naturais, que ocor-
aumento da duração do primeiro instar
vado em sistema orgânico de produção, rem no agroecossistema e promovem a de C. externa na concentração acima de
no Distrito Federal, durante o período da regulação populacional de pragas, é parte 1%, mas esta e outras concentrações in-
seca na região. Neste caso, a irrigação por dos cuidados que o agricultor deve ter em feriores testadas não refletiram em efeito
aspersão aparentemente cria um micro- relação ao conjunto de práticas culturais negativo significativo sobre as outras fases
clima mais favorável para as espécies de utilizadas, visando favorecer o controle de desenvolvimento do inimigo natural.
inimigos naturais. Associando a irrigação biológico conservativo. A lagarta-da-soja Somente concentrações acima de 2,5%
por aspersão ao coentro, as duas práticas é a principal praga da fase vegetativa da afetaram o desenvolvimento do predador,
culturais locais juntas podem proporcionar cultura da soja e em diversas regiões pro- não havendo ecdises larvais no primeiro e
dutoras, notadamente no Centro-Oeste, o segundo instar. É importante salientar que
fungo Nomuraea rilleyi produz epizootias o fato de os produtos alternativos serem
naturais impedindo surtos populacionais da de baixo custo e de fácil manipulação
Erica Sevilha Harterreiten Souza
lagarta. Apesar das condições climáticas não significa que possam ser utilizados
que regulam a ocorrência de epizootias indiscriminadamente e, portanto, seu uso
serem bem conhecidas, podendo orientar o deve ser de acordo com as recomenda-
agricultor em relação ao controle da praga ções técnicas. A seletividade aos inimigos
(SUJII et al., 2002), a necessidade do uso naturais deve ser preconizada sempre e o
de fungicidas e inseticidas contra outras agricultor deve saber que essa é obtida de
Figura 7 - Vespa predando a vaquinha pragas tem apresentado uma ação deletéria acordo com a dosagem a ser estabelecida
Diabrotica speciosa sobre N. rilleyi, prejudicando sua ação. para cada praga.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
communis. New Phytologist, v.81, n.1, p.129- Neotropical Entomology, Londrina, v.33, against pathogens and herbivores: bioche-
137, June 1978. n.1, p. 57-63, jan./fev. 2004. mistry, ecology and agriculture. St. Paul:
APS Press, 1999. p.269-297.
BARBOSA, P. Consevation biological con- MEDEIROS, M.A. de. Papel da biodiver-
trol. San Diego: Academic Press, 1988. sidade no manejo da traça-do-tomateiro STANLEY, R.G.; LINSKENS, H.G. Pollen:
396p. Tuta absoluta (Meyrick, 1971) (Lepidop- biology, biochemistry and management.
tera: Gelechiidae). 2007. 145 f. Tese (Dou- Berlin: Springer-Verlag, 1974. 307p.
BEZERRA, M.A.S.; OLIVEIRA, M.R.V. de;
torado em Ecologia) - Instituto de Biologia,
VASCONCELOS, S.D. Does the presence SUJII, E.R.; TIGANO, M.S.; SOSA-GOMES,
Universidade de Brasília, Brasília, 2007.
of weeds affect Bemisia tabaci (Gennadius) D. Simulação do impacto do fungo
(Hemiptera: Aleyrodidae) infestation on to- MURPHY, B.C.; ROSENHEIM, J.A.; DO- Nomuraea rileyi em populações da la-
mato plants in semi-arid agro-ecosystem? WELL R.V.; GRANETT, J. Habitat diversifica- garta da soja, Anticarsia gemmatalis.
Neotropical Entomology, Londrina, v.33, tion tactic for improving biological control: Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
n.6, p.769-775, Nov./Dec. 2004. parasitism of the western grape leafhopper. v.37, n.11, p.1551-1558, nov. 2002.
Entomologia Experimentalis et Applicata,
BOTTRELL, D.G.; BARBOSA, P.; GOULD, F. TOGNI, P.H.B. Bases ecológicas para o ma-
Dordrecht, v.87, n.3, p. 225-235, June 1998.
Manipulating natural enemies by plant va- nejo de Bemisia tabaci (Genn.) biótipo B
riety selection and modification: a realistic NOMIKOU, M.; JANSSEN, A.; SCHRAAG, (Hemiptera: Aleyrodidae) em sistemas
strategy? Annual Review of Entomology, R.; SABELIS, M.W. Phytoseiid predators orgânicos de produção de tomate. 2009.
Palo Alto, v.43, p.347-367, 1998. suppress populations of Bemisia tabaci on 110 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) -
cucumber plants with alternative food. Ex- Universidade de Brasília, Brasília. 2009.
EILENBERG, J.; HAJEK, A.; LOMER C. Su-
perimental and Applied Acarology, Am-
ggestions for unifying the terminology in _______; FRIZZAS, M.R.; MEDEIROS, M.A.;
sterdam, v. 27,
������������������������������
n.1/2, p.57-68, Jan. 2002.
biological control. BioControl, v.46, n.4, NAKASU, E.Y.T.; PIRES, C.S.S.; SUJII,
p.387-400, Dec. 2001. RESENDE, A.L.S. Comunidade de joani-
E.R.S. Dinâmica populacional de Bemisia
nhas (Coleoptera: Coccinellidae) e aspectos
F�����������������������������������������
INKE, D.L.; DENNO, R.F. Intraguild preda- tabaci biótipo B em tomate monocultivo e
fitotécnicos da couve (Brassica oleraceae
tion diminished in complex-structured ve- consorciado com coentro sob manejo orgâ-
var. acephala) em consórcio com o coentro
getation: implications for prey suppression. nico e convencional. Horticultura Brasilei-
(Coriandrum sativum), sob manejo orgâ-
Ecology, v.83, p.643-652, 2002. ra, Brasília, v.27, n. 2, p.179-184, abr./jul.
nico. 2008. 85 f. Dissertação (Mestrado em
2009. No prelo.
GRAVENA, S. Controle biológico no manejo Fitotecnia) - Instituto de Agronomia, Uni-
integrado de pragas. Pesquisa Agropecu- versidade Federal Rural do Rio de Janeiro, VANDERMEER, J. The ecology of intercro-
ária Brasileira, Brasília, v.27, p.281-299, Seropédica, 2008. pping. Cambridge: Cambridge University
abr.1992. Edição
����������������
especial. Press, 1989. 237p.
RIJN, P. C.J. van; HOUTEN, Y.M. van;
GURR, G.M.; WRATTEN, S.D.; LUNA, J.M. SABELIS, M.W. How plants benefit from VENZON, M.; ROSADO, M.da C.; EUZÉ-
Multi-function agricultural biodiversity: providing food to predators even when it BIO, D.E.; PALLINI, A. Controle biológico
pest management and other benefits. Basic is also edible to herbivores. Ecology, v.83, conservativo. In: VENZON, M.; PAULA
and Applied Ecology, v.4, n.2, p.107-116, p.2664-2667, 2002. JÚNIOR,T.J.de; PALLINI, A. (Coord.). Con-
2003. trole alternativo de pragas e doenças. Viço-
_______; TANIGOSHI, L.K. Pollen as food
HALAJ, J.; CADY, A.B.; UETZ, G.W. Modular sa, MG: EPAMIG-CTZM, 2006a. p. 1-22.
for the predatory mites Iphiseius dege-
habitat refugia enhance generalist predators nerans and Neoseiulus cucumeris (Acari: _______;_______;_______; SOUZA, B.;
and lower plant damage in soybeans. Envi- Phytoseiidae): dietary range and life his- SCHOEREDER, J.H. Suitability of legumi-
ronmental Entomology, College Park, v.29, tory. Experimental and Applied Acarolo- nous cover crop pollens as food source for
n.2, p.383-393, Apr. 2000. gy, v.23, n.10, p.785-802, Oct. 1999. the green lacewing Chrysoperla externa
JONSSON, M.; WRATTEN, S.D. ; LANDIS, (Hagen) (Neuroptera:Chrysopidae). Neo-
ROOT, R.B. Organization of a plant-arthro-
D.A.; GURR, G.M. Recent advances in con- tropical Entomology, Londrina, v.35, n.3,
pod association in simple and diverse ha-
servation biological control of arthropods p. 371-376, May/June 2006b.
bitats: the fauna of collards (Brassica ole-
by arthropods. Biological Control, v.45, n.2, racea). Ecological Monographs, Durham, WACKERS, F.L.; RIJN, P.C.J.van; BRUIN, J.
p.172-175, May 2008. v.43, n.1, p. 95-124, Jan. 1973. (Ed.). Plant provided food for carnivorous
KHAN, Z.R.; JAMES, D.G, MIDEGA, C.A.O.; insects: a protective mutualism and its ap-
ROSADO, M.C. Plantas favoráveis a agen-
PICKETT, J.A. Chemical ecology and con- plications. Cambridge: Cambridge Univer-
tes de controle biológico. 2007. 59f. Dis-
servation biological control. Biological sity, 2005. 356p.
sertação (Mestrado em Entomologia) - Uni-
Control, v.45, n.2, p.210-224, May 2008. versidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, WADE, M.R.; ZALUCKI, M.P.; WRATTEN
LANDIS, D.A.; WRATTEN S.D.; GURR, 2008. S.D.; ROBINSON, K.A. Conservation biolo-
G.M. Habitat management to conserve na- gical control of arthropods using artificial
SABELIS, M.; JANSSEN A.; PALLINI A.;
tural enemies of arthropod pests in agricul- food sprays: current status and future chal-
VENZON, M.; BRUIN J.; DRUKKER B.;
ture. Annual Review of Entomology, Palo lenges. Biological Control, v.45, n.2, p.185-
SCUTAREANU, P. Behavioural responses
Alto,v.45, p.175-201, 2000. 199, May 2008.
of predatory and herbivorous arthropods
MATOS, C.H.C.; PALLINI, A.; CHAVES. F.F.; to herbivore induced-plant volatiles: from WALTER, D.E. Living on leaves: mites, to-
GALBIATI, C. Domácias do cafeeiro benefi- evolutionary ecology to agricultural ap- menta, and leaf domatia. Annual Review
ciam o ácaro predador Iphiseiodes zuluagai plications. In: AGRAWAL, A.A.; TUZUN, of Entomology, Palo Alto, v.41, p.101-114,
Denmark & Muma (Acari: Phytoseiidae)? S.; BENT. E. (Ed.). Induced plant defenses 1996.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 - 1 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
INTRODUÇÃO constatação. Em parte, por causa das par- em sua maioria, quando eventos ambientais
ticularidades da interação predador-presa, não controlados interferem na dinâmica
O controle biológico pode ser o resul-
com base no consumo total ou parcial de populacional de predadores generalistas,
tado dos diversos tipos de interações (pa-
uma ampla gama de presas, sem deixar na presença de baixas densidades popu-
rasitismo, competição ou predação) entre
sinais da predação. Assim, pela natureza lacionais das pragas (KLEMOLA et al.,
dois ou mais organismos, o que ocasiona dessa relação, a predação é um fenômeno
redução no crescimento populacional do 2002; DWYER et al., 2004). Assim, a
de difícil constatação e mensuração.
organismo-alvo. A interação inseto, pre- principal ação dos predadores verifica-se
Uma das hipóteses de sustentação da
dador e praga agrícola (presa) é o foco sob baixas densidades populacionais das
importância dos predadores nos agroecos-
deste artigo. pragas, comuns na fase de colonização
sistemas advém do fato de que, apesar de
A redução populacional de pragas as plantas cultivadas hospedarem inúmeros das lavouras. Desse modo, os predadores
em decorrência da predação tem sido herbívoros, poucos atingem densidades precisam ser conservados, para que haja
divulgada e explorada por várias décadas. equivalentes aos níveis de dano econô- incremento dessa ação, com manutenção
Entretanto, a contribuição real dos preda- mico. Alguns ecologistas acreditam que das densidades das pragas abaixo dos
dores no controle de pragas é de difícil surtos populacionais de pragas ocorrem, limiares de dano econômico.
1
Eng o Agro , Ph.D., Prof. Adj. UFRPE - Dep to Agronomia-Entomologia, CEP 52171-900 Recife-PE. Correio eletrônico: jtorres@depa.ufrpe.br
2
Eng a Agr a, D.S., Prof a Adj. UNB - Faculdade Agronomia e Veterinária, CEP 70910-900 Brasília-DF. Correio eletrônico: cschetino@unb.br
3
Engo Agro , D.S., Prof. Associado UFES, Caixa Postal 16, CEP 29500-000 Alegre-ES. Correio eletrônico: pratissoli@cca.ufes.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Diversos livros-textos e revisões sobre pertencentes à mesma espécie ou a espécies Os insetos predadores, em sua maio-
controle biológico com insetos predadores diferentes, ao passo que os parasitoides ria, são generalistas ou onívoros, sendo a
estão disponíveis, incluindo dois números restringem-se a um hospedeiro. Os preda- especificidade considerada exceção (ex.:
do Informe Agropecuário (n.104, 1983 e dores, por subjugarem suas presas, tendem Rodolia cardinalis, Chrysopa slossolae).
n.167, 1991). A publicação de três livros a ajustar o tamanho delas à sua eficiência Por outro lado, os parasitoides tendem a
durante esta década merece destaque: de manipulação, salvo situações quando ser específicos (monófagos) ou concentrar
“Handbook of Biological Control (1999)”, o ataque à presa é feito em grupo. For- seu ataque dentro de um mesmo grupo de
“Natural Enemies Handbook: The Illus- migas predadoras, ninfas de percevejos
hospedeiros (parasitoide de pulgões, ovos,
trated Guide to Biological Pest Control e outros podem exibir o comportamento
lagartas e pupas).
(1999)” e “Controle Biológico no Brasil: de ataque em grupo, conseguindo, assim,
Parasitoides e Predadores (2002)”. Adi- O parasitismo, com desdobramentos
manipular presas de tamanho superior ao
cionalmente, caso o interesse seja em um sobre o controle de pragas, é resultante
seu tamanho. Após o ataque, a presa pode
enfoque mais específico, pode-se recorrer ser consumida imediatamente, no caso do potencial biótico do parasitoide adul-
a “Agentes de Controle Biológico: Meto- dos predadores mastigadores, tais como as to. Dessa forma, após a colonização do
dologias de Criação, Multiplicação e Uso joaninhas e as vespas, ou ingerida tão logo agroecossistema pelos parasitoides ou de
(2006)” e “Controle Biológico de Pragas: ocorra a liquefação de seus tecidos, como sua liberação, podem-se obter altas taxas
Produção Massal e Controle de Qualidade no caso dos predadores sugadores. Os de parasitismo em curto tempo. No caso
(2000)”. Uma perspectiva do potencial parasitoides, por sua vez, utilizam a estra- dos predadores, as taxas de predação são
dos insetos predadores, algumas de suas tégia de manipular o sistema imunológico dependentes do consumo e, assim, ao
características relevantes, bem como al- e fisiológico do hospedeiro, especialmente serem saciados, há uma estabilização na
gumas possibilidades para implementar o os parasitoides de larvas, sincronizando predação. De modo geral, os insetos preda-
controle biológico com insetos predadores seu desenvolvimento com o do hospedeiro dores mastigadores ou sugadores atacam,
nos agroecossistemas, são apresentadas (cenobiontes), ou a de matar o hospedeiro matam e consomem suas presas. A forma
neste artigo. na fase parasitada (idiobiontes), não permi- de manipulação das presas pelos predadores
tindo que seu desenvolvimento seja com-
CARACTERIZAÇÃO DE sugadores é influenciada pelo tipo de presa
pletado, como nos casos dos parasitoides
INSETOS PREDADORES e por fatores do ambiente, bem como pelo
de ovos e pupas.
próprio comportamento de ataque – injeção
No sentido stricto sensu, predadores Na fase adulta, os predadores continu-
de toxinas e enzimas, digestão extraoral dos
são organismos carnívoros e, mais especi- am alimentando-se de presas, da mesma
tecidos das presas e ingestão do conteúdo
ficamente, aqueles que subjugam e conso- forma como fazem na fase imatura. Exis-
tem raras exceções para este comportamen- liquefeito (COHEN, 1990). Dentre os pre-
mem suas presas, não as utilizando como
hospedeiro para o seu desenvolvimento. to e entre estas têm-se os adultos de preda- dadores sugadores, existem aqueles que
No Quadro 1, são apresentadas caracte- dores pertencentes ao gênero Chrysoperla injetam as enzimas nas presas, por meio
rísticas biológicas e comportamentais de e da família Syrphidae, que se alimentam de um canal salivar, e ingerem o conteúdo
insetos predadores e parasitoides. de néctar e pólen. Já os parasitoides ali- destas pelo canal alimentar (Hemiptera).
Os insetos predadores, para comple- mentam-se na fase adulta de néctar e/ou Outros realizam fluxo e refluxo pelo mesmo
tarem um ciclo, consomem várias presas hemolinfa do hospedeiro. canal (Neuroptera).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Os insetos predadores são considera- níveis tróficos como complemento de dieta curioso está reservado a algumas espécies
dos, em sua maioria, generalistas, existindo e são denominados predadores onívoros. À de percevejos Miridae que são fitófagas
poucos exemplos de espécies especia- medida que os estudos sobre a ecologia de nos primeiros instares e à medida que se
listas. Os termos generalista e polífago insetos predadores avançam, a onivoria tem desenvolvem tornam-se predadoras. Há
remetem à mesma concepção em relação sido considerada comum e importante para ainda, as espécies que se desenvolvem por
à amplitude de dieta, sendo, portanto, em- o desempenho dessas espécies (COLL; hipermetabolia, apresentando diferentes
pregados como sinônimos. Neste artigo, GUERSHON, 2002; SYMONDSON et al., formas larvais, que são predadoras vorazes
serão empregados os termos especialista 2002). Aqueles predadores que não utili- e ativas nos primeiros instares (Mantispi-
e generalista, uma vez que a monofagia zam outra fonte de alimento além da presa dae) ou variam entre o hábito predador e
e a polifagia são termos difundidos para são considerados zoófagos ou carnívoros. fitófago, como ocorre em Epicauta.
denominação de fitófagos. Aqueles que utilizam material vegetal em Os predadores desenvolveram estraté-
As espécies generalistas são relativa- complemento à dieta, mas não completam gias para obter sucesso no ataque. Assim,
mente mais diversas do que as oligófagas, o desenvolvimento alimentando-se apenas predadores de ovos e pupas, cochonilhas
que, por sua vez, apresentam maior di- de plantas, são denominados zoofitófagos e pulgões devem forragear em busca da
versidade do que as espécies esternófagas verdadeiros (predadores onívoros). De presa, pois essas não se locomovem, são
e especialistas. Várias dessas categorias maneira oposta, os organismos fitozoófagos ápteras ou sésseis, em sua maioria. Outros
de predadores podem ser encontradas na são predadores facultativos, capazes de podem exibir comportamento de perse-
família Coccinellidae, que possui espécies desenvolverem-se tanto em uma dieta com guir (Asilidae, Odonata) ou permanecer
bastante especializadas, tais como a joani- base exclusivamente em plantas, quanto à espera da presa e atacar por emboscada.
nha Rodolia cardinalis predadora de Icerya naquela em que exercitem atividade de Neste caso, a estratégia empregada pode
purchasi e espécies bastante generalistas, predação casual. envolver mimetização do ambiente, como
como é o caso de Harmonia axyridis. Entre Assim, insetos predadores podem ser verificado em Mantodea e Phymatidae,
os extremos, existem as espécies de hábito categorizados de diferentes formas quanto ou a construção de armadilhas, como ob-
alimentar intermediário, as esternófagas, ao hábito alimentar e esse conhecimento é servado entre as larvas de Cincidellidae e
que se aproximam das monófagas, e importante para o controle biológico. Nes- Myrmeliontidae, ambas visando facilitar a
oligófagas, que se aproximam das gene- se sentido, por ocasião da introdução de captura da presa.
ralistas. As espécies esternófagas adotam espécies exóticas, normalmente dá-se pre- Como os predadores usualmente são in-
estratégias que lhes permitem utilizar mais ferência às espécies com baixa amplitude setos grandes, se comparados às presas ata-
de uma espécie como presa, apesar da de presas, visando eliminar ou minimizar cadas, algo que os torna facilmente visíveis
preferência por uma dada espécie. Esse o impacto sobre organismos não-alvo, bem nas plantas, também precisam defender-se
é o caso das joaninhas Stethorus, que se como aumentar as chances de eficiência de seus inimigos naturais via camuflagem,
alimentam de ácaros de diferentes espécies no controle da praga-alvo. As espécies secreções de defesa, coloração aposemática
e gêneros, havendo, contudo, forte correla- com hábito generalista, no entanto, têm e outras. Um exemplo de camuflagem pode
ção entre seu crescimento populacional e demonstrado facilidade em se estabelecer ser verificado entre as larvas de algumas
a ocorrência de determinadas espécies de nos agroecossistemas com diversidade de espécies de joaninhas (Scymnus, Pentilia,
ácaros. Já a joaninha Cycloneda sanguinea, presas, que favorecem a colonização e a Azya), que se alimentam de cochonilhas
muito encontrada nos agroecossistemas permanência destas (SYMONDSON et e secretam cerosidade, assemelhando-se
associados às colônias de pulgões, é consi- al., 2002). às suas presas. Caso parecido ocorre com
derada como uma espécie oligófaga, capaz Alguns insetos predadores podem ata- larvas de algumas espécies de bicho-lixeiro
de predar mosca-branca, ovos e pequenas car qualquer estádio de desenvolvimento (Ceraeochrysa), que carregam sobre o
larvas de lepidópteros e ácaros. da presa, outros preferem uma determinada corpo restos de suas presas e suas exúvias,
Apesar de a categorização entre espe- fase do desenvolvimento desta presa. Além tornando-as irreconhecíveis.
cialista e generalista ser didática, existem disso, há espécies que possuem variações
variações em ambos os sentidos. Predado- no hábito alimentar de acordo com o seu DIVERSIDADE DE INSETOS
res generalistas podem exibir preferência desenvolvimento ou fase do ciclo de vida. PREDADORES
por uma determinada presa ou por um de- Este é o caso da maioria das espécies do gê- Existem representantes de insetos
terminado estádio de seu desenvolvimento. nero Chrysoperla, que não são predadores predadores em diversas famílias e estes
Outros predadores vão além da utilização na fase adulta, com exceção de Chrysoperla apresentam diferentes histórias de vida,
de diferentes espécies de artrópodes como nigricornis, que se alimenta de pulgões com grande variabilidade em relação ao
presa e empregam recursos de diferentes durante a fase adulta. Todavia, o caso mais local onde vivem e à forma como atuam
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
meio de sua ocorrência frequente, diversi- porém esses ainda não são multiplicados dae e Histeridae as mais encontradas nos
dade e contribuição ao controle biológico. em larga escala. agroecossistemas. Os estafilinídeos ou
São comumente encontradas associadas A família Cicindellidae, às vezes con- potós são encontrados predominantemente
aos pulgões, ácaros, moscas-brancas, siderada como subfamília de Carabidae, no solo. Por ocorrer em estrumes e mate-
cochonilhas, psilídeos e outras espécies, será tratada neste artigo como família rial em decomposição, são citados como
embora possam ser vistas locomovendo- distinta, uma vez que suas larvas diferem predadores de larvas de dípteros. Espécies
se por toda a planta, onde predam ovos de grandemente das dos carabídeos, na mor- do gênero Tachyporus, além de alimenta-
outros insetos e lagartas pequenas. fologia e no comportamento de ataque às rem-se de fungos, também são predadoras
Além das espécies de joaninhas comu- presas. São insetos facilmente reconhe- de pulgões, tais como Sitobion avenae. O
mente encontradas nos agroecossistemas cidos pelas mandíbulas grandes, olhos mesmo pode ser dito em relação à espécie
e em áreas de vegetação nativa, a espécie destacados e pernas longas (Fig. 2). Tanto Paederus brasiliensis.
Cryptolaemus montrouzieri foi introduzi- a larva quanto os adultos são predadores. Os besouros histerídeos são encontra-
da recentemente no Brasil e, também, foi As larvas desenvolvem-se em orifícios dos em ambientes úmidos, em material
constatada a ocorrência da joaninha mul- circulares e verticais, construídos no solo, em decomposição. Larvas e adultos ocor-
ticolorida da Ásia, Harmonia axyridis, em e os adultos fazem o forrageamento por rem em rizoma de bananeira, predando
território brasileiro, nos estados do RS, DF, presas na superfície do solo. Apesar do larvas e pupas do moleque-da-bananeira.
MG, SP e MS. Esta espécie é conhecida hábito predominantemente diurno dos Também são predadores de larvas de
pela voracidade, capacidade competitiva adultos, constatado pelo tamanho dos olhos dípteros em material em decomposição
e habilidade em dispersar-se. e por sua intensa atividade nesse período e esterco. No Brasil, Omalodes foveola
Com os avanços no conhecimento do dia, podem também apresentar atividade e Hololepta quadridentata são citados
da bioecologia de joaninhas, a grande predatória noturna. como predadores de larvas do moleque-
dificuldade que se impõe ao seu uso apli- As espécies pertencentes às famílias da-bananeira e Oxysternus maximus é
cado nos agroecossistemas diz respeito à Staphylinidae, Histeridae, Cantharidae considerado como importante no controle
rápida emigração das áreas de liberação. e Lampyridae são predadores de menor natural da broca-do-olho-do-coqueiro,
A alta mobilidade, no entanto, favorece ocorrência, sendo as famílias Staphylini- Rhyncophorus palmarum.
a dispersão entre os agroecossistemas,
especialmente, em relação à procura por
infestações das presas. Portanto, estudos
que busquem alternativas para atrair e
manter as joaninhas nas áreas-alvo devem
ser priorizados.
Os carabídeos (Carabidae) têm ocorrên-
cia comum nos agroecossistemas. São con-
siderados o segundo grupo mais importante
de predadores em Coleoptera. Geralmente
são encontrados no solo, podendo, contu- A B
do, sair à procura de presas no dossel das
plantas durante a noite. Destacam-se por
ser extremamente generalistas, possuindo
presas até mesmo fora da classe Insecta,
tais como caramujos e minhocas.
Os entomologistas têm demonstrado
Fotos: Jorge B. Torres
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Dermaptera faz com que procurem por locais úmidos Na família Anisolabididae
e escuros. As famílias Anisolabididae (=Carcinophoridae), a espécie comu-
Os insetos da ordem Dermaptera
(=Carcinophoridae), Forficulidae, Labi- mente encontrada no Brasil é Euborellia
são alongados, de coloração predomi-
duridae e Labiidae possuem ocorrência annulipes (Fig. 3). Esta é citada como
nantemente marrom a marrom-escura e
no Brasil. Dentre essas famílias, Labiidae predadora de larvas e ovos do moleque-da-
conhecidos como tesourinhas (Fig. 3).
possui espécies pouco conhecidas como bananeira, ovos e lagartas de Spodoptera
São encontrados no solo, no meio de ra-
agentes de controle biológico. em milho, ovos e neonatas de Diatraea
chaduras e de restos culturais. As fêmeas
normalmente fazem galerias a poucos Espécies pertencentes à família For- e ovos e ninfas de cigarrinhas em cana.
centímetros da superfície do solo, onde ficulidade têm sido as mais citadas como Na família Labiduridae, Labidura riparia
depositam os ovos e passam todo o perío- agentes de controle biológico. Doru luteipes (Fig. 3) é a espécie mais comum e preda
do de incubação protegendo-os. De modo e D. lineare são potenciais agentes de con- diversas pragas importantes. É facilmente
geral, o forrageamento por presas é feito à trole biológico no Brasil. D. luteipes tem reconhecida pelo tamanho relativamente
noite, tanto no solo, quanto no dossel das sido estudada tanto como agente de controle grande, quando comparada às demais
plantas, constituindo eficientes predadores biológico natural, quanto para multiplicação espécies de tesourinhas.
de pulgões, mosca-branca, ovos, lagartas e e liberações a campo. A metodologia de
criação, incluindo os cuidados de coleta e Diptera
pupas em geral.
As tesourinhas têm sido consideradas estabelecimento da criação, é descrita em Cerca de 30% das famílias de Diptera
predadoras potenciais de pragas, que se Cruz (2000), onde há menção à importância são predadoras em alguma fase da vida (HA-
localizam em partes protegidas das plantas de D. luteipes como predador-chave de pul- GEN, 1987). Dentre essas, quatro possuem
tais como bainhas foliares, brácteas de gões, posturas e neonatas de lepidópteros, espécies predadoras de importância agrícola:
flores e entre folhas, em virtude do tigmo- em especial, de Spodoptera frugiperda na Syrphidae, Cecidomyiidae, Dolicophodi-
tropismo positivo, comportamento que cultura do milho. dae e Asilidae. Outras famílias, tais como:
Chamaemyiidae, Chaoboridae, Lonchaei-
dae, Empididae, Mydidae, Rhagionidae,
Sciomyzidae, Lonchaiedae e Therevidae
possuem espécies predadoras de organismos
sem importância agrícola. Além disso, a
maioria vive em ambiente aquático.
Ea As espécies pertencentes à famíla Syr-
phidae são as mais importantes como agen-
tes de controle biológico. Os adultos pos-
suem olhos grandes e muitos mimetizam
vespas e abelhas (Fig. 4). São, usualmente,
encontrados sobre flores alimentando-se de
Lr pólen e néctar, principalmente no período
de maturação do sistema reprodutivo.
Podem, ainda, alimentar-se da mela ou
honeydew produzido pelos pulgões. As
fêmeas depositam seus ovos próximos às
colônias de pulgões. As larvas emergem em
torno de cinco dias, possuem aparelho bu-
Dsp cal sugador e suspendem o pulgão durante
Lr
o tempo de manipulação. A larva forma
pupários que são aderidos ao substrato e
possuem o formato de gotas de água. A
emergência dos adultos pode ser constatada
pela presença de manchas, supostamente
Jorge B. Torres
A B
citadas como importantes, tais como: predadoras de ácaros (Feltiella) e de pul- incomum capturá-las quando em repouso.
Salpingogaster, Baccha, Pseudodorus, gões (Aphidoletes). O gênero Aphidoletes A ecologia dessas moscas é pouco conhe-
Allograpta e Toxomerus. possui três espécies que são predadoras cida e a contribuição ao controle biológi-
A multiplicação de sirfídeos em insetá- especialistas de pulgões (Fig. 4). Essa es- co de pragas é pouco entendida. Bueno
rios para liberação possui o empecilho da pécie tem sido multiplicada em insetários (1987) observou que a espécie Porasilus
falta de uma dieta alternativa, necessitando e comercializada como agente de controle barbiellinii exibe notável capacidade
da criação de pulgões a serem utilizados biológico de pulgões em casa de vegetação. de busca e predação de cigarrinhas-das-
como presa. Portanto, o método mais usual pastagens, Deois flavopicta.
No Brasil, não existem informações do uso
de incrementar as densidades populacio-
aplicado de cecidomiídeos para o controle
nais é a conservação das populações de Hemiptera
de pulgões.
ocorrência natural, que pode ser consegui-
Moscas Dolichopodidae são relati- Exemplares da subordem Heteroptera
da pela manutenção de refúgio composto
por espécies produtoras de flores cultivadas vamente pequenas, com pernas longas apresentam alimentação e habitat diversifi-
ao redor das lavouras e canteiros e manejo e de coloração verde ou azul-metálica cados, sendo predominantemente fitófagos,
das espécies espontâneas que ocorrem nas (Fig. 4). Podem ser encontradas em apesar de um grupo relativamente grande
entrelinhas de plantas arbóreas. habitats variados como em cultivo de ser predador. Desse grupo, várias espécies
As moscas Cecidomyiidae possuem brássicas, algodão e feijão, quando in- de Anthocoridae, Geocoridae, Pentato-
antenas longas com mais de seis antenôme- festados com pulgões e moscas-brancas. midae, Nabidae, Reduviidae e Miridae
ros e asas de venação reduzida. Algumas As moscas Asilidae capturam suas são exploradas como agentes de controle
espécies destacam-se como importantes presas pelas asas durante o voo, sendo biológico.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Os antocorídeos (Anthocoridae) são per- e Anthocoris nemorum são produzidas e agroecossistemas. Dessa forma, uma
cevejos utilizados como agentes de contro- utilizadas no controle biológico de pragas, correlação positiva entre a ocorrência de
le biológico. Orius e Anthocoris são os dois especialmente, em cultivos protegidos. G. punctipes e a densidade de posturas de
principais gêneros que englobam a maio- Os percevejos Geocoridae ou perce- Heliothini em algodoeiro só foi possível
ria das espécies predadoras, seguidos por vejos olhudos, assim denominados por de ser estabelecida quando houve uma
Lyctocoris, Xylocoris e Montandoniola. possuírem cabeça mais estreita que o tórax antecipação em dez dias da ocorrência do
A biologia, comportamento, ecologia destacando-se os olhos compostos (Fig. 5) predador (TORRES; RUBERSON, 2006).
e potencial predatório das principais possuem 14 gêneros, sendo que Geocoris Entretanto, do meio para o final do ciclo do
espécies de Anthocoridae são descritas engloba a maioria das espécies. Usualmen- algodoeiro, as densidades de G. punctipes
em Braman (2000). Espécies como Orius te, a população de Geocoris é relativamente podem atingir de cinco a seis indivíduos
insidiosus (Fig. 5), O. tristicolor, O. sauteri, baixa no estádio inicial da sucessão dos (ninfas + adultos) por pano de batida em
A B
C D
E F
Figura 5 - Percevejos predadores
NOTA: A - Adulto de Tropiconabis (Nabidae); B - Adulto de Podisus (Pentatomidae); C - Adulto de Zelus (Reduviidae); D - Adulto
de Geocoris (Geocoridae); E - Ninfa de Orius (Anthocoridae); F - Adulto de Orius (Anthocoridae).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
1m de fileira. Apesar de Geocoris ser cita- Em Nabidae, todas as espécies des- Hymenoptera
do em inúmeros estudos de levantamento critas são predadoras (Fig. 5). Nabis e
A ordem Hymenoptera possui grande
populacional de pragas e inimigos naturais Tropiconabis são citadas, no Brasil, em le-
diversidade além de ser considerada uma
no Brasil, não se tem certeza das espécies vantamentos em algodoeiro, soja, girassol,
das mais evoluídas quanto ao modo de vida
que ocorrem no Brasil. amendoim, feijão e outras culturas. Perce-
e de espécies benéficas. Como predadoras,
Dentre os percevejos, Pentatomidae vejos Nabidae possuem ampla distribuição
geográfica com, aproximadamente, 380 destacam-se as formigas (Formicidae) e as
(Asopinae) é o grupo mais estudado no vespas de diferentes famílias, especialmen-
espécies (LATTIN, 1989). Isso demons-
Brasil. Um total de 44 espécies de Aso- te Vespidae e Sphecidae. As demais famí-
tra que, possivelmente, inúmeras outras
pinae é encontrado no País. Espécies lias como Mutilidae, Pompilidae, podem
espécies ainda não foram identificadas no
dos gêneros Podisus, Alcaeorrhynchus, ser consideradas como predadoras, mas de
Brasil. Um dos problemas para a condução
Brontocoris, Supputius, Oplomus e Tyna- pouca importância agronômica.
de estudos com espécies de Nabidae é o
cantha são usualmente associados a surtos fato de exibirem e demandarem forte ca- As formigas (Formicidae) são con-
de lagartas em plantios de eucalipto, soja, nibalismo em condições de confinamento sideradas insetos de grande sucesso na
algodão, girassol, maracujá, brássicas, e requerem substrato vegetal para a postura colonização de diferentes habitats. As
feijão e outros. endofítica. formigas carnívoras alimentam-se de
A ocorrência de predadores Pentato- Os percevejos Reduviidae são consi- presas ou animais mortos, fungos, néctar,
midae é bastante frequente nos agroecos- derados predadores extremamente vorazes seiva de plantas e honeydew, produzido
sistemas de importância econômica com e generalistas. Ocorrem em diferentes por homópteros. Diversas formigas são
surtos de lagartas desfolhadoras. Assim, agroecossistemas e predam qualquer inseto predadoras e o gênero Pheidole é um
estudos quanto à suscetibilidade a pesti- capturado durante a fase adulta, sendo um dos principais com a maior diversidade
cidas, metodologia de criação e liberação, dos poucos predadores que atacam coleóp- de espécies em Formicidae. Pheidole
bem como o papel da fitofagia ocasional na teros adultos. Este amplo comportamento megacephala é uma das espécies mais
de ataque estende-se a aranhas, abelhas e abundantes nos trópicos e preda ovos,
sua história de vida têm sido conduzidos.
a outros inimigos naturais. Nesta última larvas e pupas de insetos em geral. O
Percevejos Asopinae exibem considerável
condição, atuam como predadores intra- gênero Solenopsis, conhecido como for-
incremento nos parâmetros da história de
guilda, um comportamento não desejado miga-lava-pés, realiza mutualismo com
vida, tendo acesso à planta hospedeira de
no contexto de controle biológico. pulgões e cochonilhas. Em algodoeiro, a
suas presas. Por outro lado, ao alimen- O ciclo de vida dos reduvídeos é rela-
tarem-se de plantas, sofrem impacto dos Solenopsis preda larvas de lepidópteros e
tivamente longo e os adultos exibem baixa
coleópteros. Como os pulgões ocasionam
inseticidas sistêmicos aplicados no solo, fecundidade, limitando o crescimento
injúrias que podem ser recuperadas, a
por criarem imagem negativa ao produtor populacional, em comparação aos demais
Solenopsis torna-se uma espécie-chave
quando os veem sugando plantas. Apesar percevejos predadores. Por outro lado, a
na comunidade por predar larvas/lagartas
de alimentarem-se ocasionalmente de plan- longevidade dos adultos e a capacidade de
de outras espécies muito mais importantes
tas, não ocasionam injúrias a estas por não predação resultam em grande número de
como pragas (Fig. 6). Além dessas, os
possuírem enzimas capazes de destruir o presas atacadas ao longo da vida. Entre as
gêneros Camponotus, Crematogaster e
tecido vegetal. Além disso, sua semelhan- espécies comuns estão: Apiomerus, Zelus,
Montina, Sinea e Arilus. Aspectos bioeco- Iridomyrmex são comumente encontrados
ça com os demais percevejos fitófagos,
lógicos, assim como informações sobre o nos agroecossistemas.
comumente encontrados nas lavouras, faz
uso em controle biológico de insetos dessa As espécies de Vespidae podem ser
com que esses sejam contabilizados como consideradas as principais predadoras
família podem ser encontrados em uma
percevejos-praga por ocasião do monitora- da ordem Hymenoptera. Os ninhos são
extensa revisão por Ambrose (1999).
mento. Dessa forma, é importante enfatizar comuns em plantas arbóreas, compondo
Entre os percevejos, aqueles perten-
aos produtores a diferenciação entre as agroecossistemas perenes como fruteiras
centes a Miridae apresentam cúneo no
espécies fitófagas e predadoras (Fig.1). e outras, diferente dos agroecossistemas
hemiélitro bem demarcado e a extremidade
Detalhes da bioecologia, seletividade de da asa parcialmente voltada para baixo. com culturas anuais, onde a nidificação
pesticidas, tipos de presas, metodologias Os predadores mirídeos atacam, em geral, é reduzida, por causa da ampla manipu-
de criação empregando presas alternativas insetos pequenos. Miridae é um grupo com lação antrópica. Entretanto, o forragea-
ou dieta artificial, bem como liberação no espécies especialistas e espécies totalmente mento acontece a longas distâncias e são
caso de Podisus nigrispinus podem ser onívoras capazes de desenvolverem-se frequentes nas lavouras infestadas com
encontrados na literatura (ZANUNCIO et exclusivamente alimentando de planta lagartas. Vespas predadoras como Polistes
al., 2002; TORRES et al., 2006). ou presa. versicolor são capazes de coletar até 4.015
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Neuroptera
Todas as espécies de Neuroptera são
predadoras. Espécies de Chrysopidae e
Hemorobiidae são importantes predado-
ras encontradas basicamente em todos
os agroecossistemas com ocorrência de
pulgões. Larvas e adultos são predadores,
com exceções, como por exemplo, no
A B gênero Chrysoperla, em que os adultos
não se alimentam de presa, mas de néctar,
pólen e honeydew produzidos pelas pró-
prias presas.
As famílias Berothidae (predadora de
cupins) e Coniopterygidae (predadora prin-
A B
de pesticidas e manipulação ambiental nos Thysanoptera quando estas são abundantes nas lavouras.
agroecossistemas, visando à conservação Todavia, a maioria dos predadores é gene-
Os tripes são pragas de reconhecida
desses. Informações detalhadas sobre os ralista quanto à dieta e ao habitat. Assim,
importância. Contudo, algumas espécies de
crisopídeos podem ser encontradas em insetos predadores alimentam-se de uma
Thripidae, Aeolothripidae e Phlaethripidae
McEwen et al. (2001). grande variedade de presas desde que
são predadoras. Além disso, Franklinothrips
Os adultos de Hemerobiidae são de estas sejam abundantes. Isso não exime os
(Aeolothripidae) é um predador obrigatório
coloração marrom, com asas, nervura próprios predadores de se tornarem presas
e possui várias espécies de ocorrência no
costal com duas bifurcações e dois ou mais Brasil (MOUND; REYNAUD, 2005). (presa intraguilda) de outros predadores
setores radiais. Tanto as larvas como os Thrips tabaci e Frankliniella spp. (Thri- (predadores intraguilda), por ocasião da
pidae) também podem atuar como preda- baixa densidade da presa preferida.
adultos são predadores de insetos peque-
dores, em especial, de ovos de ácaros. Por Nos agroecossistemas, os insetos pre-
nos, especialmente, pulgões e ácaros. As
exemplo, Frankliniella occidentalis pode dadores podem atuar sem interferência
fêmeas depositam os ovos isoladamente
completar o seu desenvolvimento apenas (sem interação entre eles), predar outro
na superfície das folhas ou aderidos aos
alimentando-se de ovos do ácaro- rajado. O predador (predação intraguilda), interferir
pelos (Fig. 7). As larvas apresentam colo-
potencial como agente de controle biológico no forrageamento do outro predador e/ou
ração marrom, cabeça pequena e exibem
dos tripes é pouco conhecido e, certamente, no comportamento da presa, tornando-a
caminhamento característico, movendo mais suscetível a outro predador. A au-
as espécies predadoras são confundidas
a cabeça de um lado para outro. Ao final sência de interferência usualmente ocorre
com as pragas, por causa da dificuldade de
do desenvolvimento, tecem uma estrutura com predadores que empregam diferentes
diferenciação entre ambas.
similar a um casulo e empupam no seu tipos de presas distribuídas em diferentes
interior. Os gêneros Nusalala, Hemerobius INSETOS PREDADORES: partes da planta. A predação intraguilda
e Micromus são os mais comuns, embora INTERAÇÕES NOS é comum na natureza e, em especial, nos
pouco se conheça da biologia e ecologia AGROECOSSISTEMAS agroecossistemas que, usualmente, ao
de Hemerobiidae, bem como do potencial Os insetos predadores podem estar as- longo da sua fenologia, possuem grande
de controle biológico. sociados a determinados grupos de presas, variabilidade na disponibilidade das pre-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
sas. A interferência entre insetos predado- agroecossistemas, pois várias espécies de predação de outras pragas pela Solenopsis.
res pode ocorrer em ocasiões que ambos predadores tentam definir o seu habitat e, Assim, embora a predação intraguilda te-
forrageam o mesmo habitat, como no caso consequentemente, aumentam as chances nha-se mostrado como uma característica
das formigas que exibem mutualismo com de competição entre estas. As plantas negativa para o controle biológico, novas
homópteros e os predadores desses. Assim, anuais sofrem consideráveis mudanças na hipóteses têm sido exploradas. Uma delas
uma estratégia para reduzir a interferência fenologia em curto tempo, dando oportuni- é a de que, ao longo do tempo, a predação
e conseguir explorar plantas infestadas dade para a ocorrência de vários grupos de intraguilda é importante para o equilíbrio
com cochonilha é apresentada por algumas herbívoros e inimigos naturais. No entanto, da dinâmica predador-presa nos agroe-
espécies de joaninhas que secretam fios de são submetidos ao desafio de explorar um cossistemas. Além disso, a predação in-
cera durante a fase larval, mimetizando as recurso efêmero, que acarreta colonização traguilda tem sido considerada como uma
próprias cochonilhas (Azya, Cryptolaemus, e desaparecimento com frequência dos interação importante para a estruturação
Coccidophilus, Scymnus). organismos componentes das teias alimen- de comunidades.
A interferência com o comportamento tares nos agroecossistemas. A predação intraguilda é positiva,
da presa de tal forma que aumente a sua A predação intraguilda tem sido cons- quando analisada sob a perspectiva da
suscetibilidade à predação constitui fator tatada com frequência nos estudos de teias estabilidade predador-presa, uma vez que
importante para a obtenção de maiores alimentares constituídas naturalmente a presa intraguilda permite a manutenção
taxas de mortalidade de pragas. A reação nos agroecossistemas ou, artificialmente, do predador nos agroecossistemas, quando
de defesa exibida por algumas presas, dei- decorrentes das liberações de predado- existe escassez da praga-alvo. Por exem-
xando-se cair ao solo, quando ameaçadas res (VENZON et al., 2001). Assim, em plo, a joaninha H. axyridis é capaz de desa-
por predadores, aumenta a probabilidade primeira análise, a predação intraguilda lojar diversas outras espécies de joaninhas
de que sejam atacadas por predadores tem sido considerada como uma interação por ser uma forte competidora. No entanto,
epigeicos. Similarmente, a emissão de negativa para o controle biológico. Isto sempre que se tornar mais abundante, suas
feromônio de alarme por pulgões estimu- ocorre principalmente porque o balanço larvas são mais expostas à predação por
la a dispersão, consequentemente, estes final da predação em uma teia alimentar, outros predadores, tais como os percevejos
tornam-se mais vulneráveis ao ataque de em que uma espécie predadora utiliza Reduviidae e Pentatomidae, mantendo-os
predadores. Além disso, algumas joaninhas outras espécies como presa intraguilda, é no agroecossistema. Assim, as interações
predadoras empregam o feromônio de inferior à contribuição decorrente da ação de predação intraguilda entre os percevejos
alarme de pulgões, como cairomônios, para isolada de cada predador. Reduviidae e Pentatomidae e as larvas de
localizar plantas infestadas, favorecendo, Diversos estudos têm sido realizados H. axyiridis, além de favorecerem a manu-
assim, a resposta funcional do predador. após os trabalhos pioneiros de Rosenheim tenção dos predadores intraguilda na área,
Estas considerações são importantes, pois a et al. (1993, 1995), que apontaram a preda- com ausência de lagartas-desfolhadoras,
colonização dos agroecossistemas por mais ção intraguilda como um fenômeno comum haverá favorecimento para a comunidade
de um predador pode resultar no aumento nos agroecossistemas. Os predadores que como um todo por reduzir o efeito de
da taxa de mortalidade das presas, caso não atuam como predadores intraguilda, além competição de H. axyridis com as demais
haja interferência entre eles (STILING; de reduzirem sua predação da praga-alvo, espécies de joaninhas.
CORNELISSEN, 2005). também reduzem, numericamente, o preda- A predação intraguilda pode ser visua-
Espera-se que as interações que resul- dor como presa intraguilda no habitat, con- lizada no agroecossistema algodoeiro, con-
tem em ausência de interferência entre pre- sumindo-a ou estimulando sua emigração. tendo herbívoros, mosca-branca, pulgões e
dadores ou que alterem o comportamento Por exemplo, em um sistema simplificado dois predadores Geocoris e Orius, (Fig. 8).
das presas, aumentando a sua suscetibili- contendo planta, pulgão e seu predador- Ambos os predadores e o fungo Neozegytes
dade à predação, tenham efeito aditivo ou chave como sendo larva de crisopídeo, exercem grande pressão de controle sobre
sinergista na taxa de predação. Portanto, a predação de larvas de crisopídeos por pulgões, presa preferida pelos predadores,
são exemplos de interações a serem prio- formigas-lava-pés Solenopsis e percevejos comprometendo a permanência destes no
rizadas no uso de predadores. Nabis e Zelus reduzirá o controle exercido agroecossistema. Entretanto, Geocoris e
A colonização dos agroecossistemas sobre os pulgões e, consequentemente, Orius alimentam-se de moscas-brancas,
por herbívoros é relativamente rápida e resultará em benefícios para a praga (RO- tripes e pulgões, além de outras presas que
sucedida pela colonização dos predadores, SENHEIM et al., 1993). Por outro lado, o infestam o algodoeiro. Quando Orius se
porém não há tempo para que se esta- mutualismo entre o pulgão e Solenopsis torna abundante, por ocasião do floresci-
beleçam interações duradouras entre as podem determinar incremento na resposta mento do algodoeiro, concomitante com a
espécies de herbívoros e seus predadores. numérica de Solenopsis e, consequente- redução drástica na população de pulgões,
A predação intraguilda é comum nesses mente, resultar em um aumento na taxa de devido à ocorrência do fungo, passa a ser
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
capturado mais facilmente por Geocoris, tuação pode ocorrer, quando a população portância que a planta hospedeira tem para
tornando-se uma presa intraguilda. Essa da praga é reduzida pela adoção de uma os predadores, oferecendo alimento, ou
situação é facilitada pelo compartilha- medida de controle seletiva, submetendo seja, presas de qualidade, além de abrigo,
mento do mesmo habitat explorado pelos os predadores a uma condição de escassez local de oviposição, em especial, endofítica
adultos desses predadores na planta (pon- de presas. As situações já delineadas são (DICKE, 1999; COLL;GUERSHON, 2002;
teiros, flores e brácteas). Como resultado, aplicáveis àqueles casos em que a praga WÄCKERS et al., 2005; LUNDGREN,
o herbívoro terá chances de novamente se (presa) seja de melhor qualidade do que a 2009). Além disso, a alimentação ocasional
tornar abundante e voltar a ser predado com presa intraguilda e preferida pelo predador de predadores nas plantas, como comple-
maior frequência por ambos os predadores, intraguilda. mento à dieta, cria uma relação direta entre
reduzindo a intensidade da predação de Outra interação que subsidia a associa- o predador (terceiro nível trófico) e a planta
Geocoris sobre Orius. Isto permite que ção entre insetos predadores e suas presas (primeiro nível trófico).
a redução populacional do pulgão não é aquela mediada pela planta hospedeira A resistência de plantas possui efei-
cause o desaparecimento dos predadores e denominada interação tritrófica: planta tos diretos e indiretos sobre a dinâmica
ou, ao menos, sustente um dos predadores hospedeira, herbívoro e inseto predador. populacional de pragas, pois ocasiona
no agroecossistema (Fig. 8). A mesma si- Diversos estudos têm demonstrado a im- menor crescimento populacional (defesa
intrínseca) ou beneficia a ocorrência de
inimigos naturais (defesa extrínseca). Ou
ainda, favorece a resposta funcional dos
predadores, pelo aumento na ocorrência
de presas menores e menos resistentes à
predação. Pode ainda aumentar a resposta
numérica dos predadores por estimular
sua reprodução e imigração de outros
predadores, pela abundância de presas e
alimento complementar (pólen e néctar).
Entretanto, a planta também pode afetar
negativamente o desempenho de predado-
res, restringindo o forrageamento e ofere-
cendo à praga espaços livres de inimigos
naturais, além de compostos secundários
que são sequestrados e usados pela presa na
defesa química contra a ação de predadores
(DICKE, 1999).
Apesar dos efeitos diretos e indiretos
das plantas sobre os predadores (DICKE,
1999), estas possuem papel importante na
colonização e manutenção desses predado-
res nos agroecossistemas. A onivoria tem
sido bastante estudada como uma caracte-
rística importante dos agentes de controle
biológico (COLL; GUERSHON, 2002;
WÄCKERS et al., 2005; LUNDGREN,
Fotos: Jorge B. Torres
seu desempenho biológico, em especial, por meio da onivoria, pode ser de natureza dae, Geocoridae e Miridae (uma espécie
a sobrevivência, nos casos de escassez de adversa. A aplicação de inseticidas sistêmi- cada). Apesar desse número significativo
presas. Por outro lado, ao se alimentarem cos via solo, absorvidos e translocados, e, de dietas já desenvolvidas, não existem
de plantas, os predadores passam a sofrer consequentemente, circulando dentro na exemplos de produção massal continuada
impactos dessas. Pouco se conhece dos planta, não oferece seletividade ecológica usando dieta artificial no Brasil. Algumas
efeitos de compostos secundários que aos predadores onívoros. Considerando iniciativas nesse sentido e em pequena
atuam diretamente sobre o terceiro nível que a conservação é a principal forma escala têm sido direcionadas à produção de
trófico, mas é comum observar efeitos de incrementar o controle biológico com predadores destinados à pesquisa. Muitas
negativos da defesa da planta no terceiro insetos predadores, o comportamento oní- espécies citadas como predadores-chave no
nível trófico mediada pela presa. Este fato voro neste caso invalida a aplicabilidade controle de algumas pragas não são ampla-
tem levado a uma série de especulações em do conceito de seletividade ecológica, mente utilizadas pela falta de metodologias
relação ao efeito da transformação genética relacionada com o local de aplicação de viáveis que minimizem as limitações im-
de plantas, com o uso de redutores de di- inseticidas. postas pela produção massal.
gestibilidade, visando à obtenção de resis- Em publicação recente, que aborda o
tência a insetos-praga sobre predadores. PROGRAMAS DE CONTROLE controle biológico sob a perspectiva na-
Alguns modelos matemáticos de- BIOLÓGICO cional, apenas dois programas com insetos
monstram que, para o sucesso do controle predadores foram citados: uso de crisopí-
A baixa especificidade na seleção de
biológico, ao empregar predadores em deos (FREITAS, 2002) e de percevejos
presas e habitats é citada como umas das
agroecossistemas anuais, esses devem estar predadores (ZANUNCIO et al., 2002).
explicações para a pequena adoção de
no agroecossistema antes que as pragas Além desses, podem-se citar a produção
programas de controle biológico aplicado
apresentem densidades equivalentes a um e a liberação da joaninha Cryptolaemus
com insetos predadores. Os principais su-
determinado nível crítico. Esse nível crítico montrouzieri, para o controle da cochonilha
cessos na produção e liberação de insetos
seria semelhante ao de controle, porém Planococcus citri em citros, e da tesourinha
predadores são conseguidos com espécies
adequado à utilização de insetos predado- D. luteipes, para o controle de S. frugiperda
com menor amplitude de presas, tais como
res (URANO et al., 2003). Tendo em vista em milho.
os crisopídeos e as moscas Cecidomyiidae,
as características exibidas pelos predadores Apesar de o controle com crisopídeos
onívoros, em especial sua habilidade em utilizados para o controle de pulgões, e os ser amplamente difundido, Freitas (2002)
manter-se no agroecossistema, mesmo na percevejos antocorídeos, utilizados para o não deixa claro se existe algum programa
ausência da presa, é possível realizar sua controle de tripes. Embora o comportamen- de controle biológico com crisopídeos
liberação antecipada. Isto permitirá que to generalista e de dispersão da área-alvo estabelecido e documentado no Brasil.
tais predadores se estabeleçam no meio e sejam fatores de certa forma limitantes à A criação de crisopídeos ainda é limitada
possam exibir crescimento populacional ampla adoção de predadores, outros fato- pela dificuldade de manutenção da colô-
sincronizado com a população das pragas, res, tais como a escassez de metodologias nia de insetos e coleta de ovos que serão
de forma que atrase ou evite que os níveis viáveis de produção massal a custos com- usados nas liberações. Algumas tentativas
de controle sejam atingidos. petitivos, certamente contribuem mais para de implementação têm sido feitas, mas o
O modelo de Urano et al. (2003) estima a pouca adoção de predadores do que seu conhecimento ainda está aquém de tornar
um tempo mínimo, para que os predadores hábito alimentar generalista. o programa competitivo, principalmente
sejam liberados com base na taxa intrínseca A produção massal de predadores se comparado à aplicação de inseticidas
de crescimento populacional da praga e do usualmente requer a utilização da presa em lavouras comerciais. Em áreas de pro-
predador e na taxa específica de predação natural ou alternativa, algo que demanda dução orgânica e cultivo protegido, onde
do predador sob condições do ambiente disponibilidade de espaço físico e mão-de- o valor agregado do produto final é eleva-
(planta e clima). Obviamente, que estes obra. A criação em dieta artificial ainda é do, as chances de sucesso e sustentação
e outros parâmetros e/ou interações e bastante restrita. Uma análise comparativa do programa são maiores. Daí o grande
as características da história de vida do demonstra que mais parasitoides têm sido sucesso no uso de crisopídeos em cultivos
predador no agroecossistema também são produzidos em dieta artificial do que pre- protegidos na Europa. A expansão do
condicionados pela disponibilidade de dadores (HAGEN et al., 1999; CÔNSOLI; cultivo protegido de flores e hortaliças no
presas no ambiente, modulados por fatores PARRA, 2002). Dentre os predadores cria- Brasil aumenta as chances de expansão dos
abióticos como temperatura, umidade rela- dos em dieta artificial e citados em revisões programas de controle biológico, os quais
tiva e práticas de controle adotadas. sobre o assunto, têm-se: Coccinellidae (28 utilizam insetos predadores tais como os
A relação direta estabelecida entre o espécies), Chrysopidae (14 espécies), Pen- crisopídeos e antocorídeos para o controle
predador e a planta hospedeira, exibida tatomidae (quatro espécies), e Anthocori- de pulgões, tripes e ácaros.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
A liberação do percevejo predador têm feito o caminho inverso e buscado que alguns produtos podem ser classifica-
P. nigrispinus, por sua vez, vem sen- disseminar o uso de espécies que são dos como de baixo impacto aos principais
do realizada desde 1989 por empresas facilmente criadas ou já conhecidas. Esse grupos de predadores do algodoeiro. Entre
reflorestadoras de Minas Gerais para o padrão de uso tem acarretado insucessos, esses, destacaram os inseticidas biológicos
controle de lagartas-desfolhadoras em pois, muitas vezes, o ambiente restringe à base de Bacillus thuringiensis e alguns
eucalipto (ZANUNCIO et al., 2002). Até o estabelecimento do predador. Assim, o reguladores de crescimentos, além do espi-
2005, 3.076.683 percevejos haviam sido caminho é selecionar a espécie predadora nosade, pirimicarbe e pimetrozine.
liberados (TORRES et al., 2006). O pro- com maior potencial para ser explorada. A redução do uso de inseticidas nas
grama tem como base o desenvolvimento Carvalho e Souza (2002) listam inúmeras lavouras, em decorrência do plantio de
de metodologias, que permitem a criação espécies de ocorrência natural e os resul- variedades transgênicas resistentes às
massal dos predadores, com o emprego de tados de estudos que podem subsidiar o pragas, é outra forma que vem sendo pre-
presas alternativas. A liberação de preda- potencial de estabelecimento em vários conizada para a conservação de inimigos
dores tem resultado na redução dos surtos agroecossistemas de importância agrícola. naturais, desde que não haja efeito sobre
de lagartas-desfolhadoras e, consequen- Além disso, a frequência de ocorrência e os predadores.
temente, na frequência de pulverizações. a abundância de espécies predadoras no A adoção de nível de não-ação tam-
As liberações são direcionadas às áreas agroecossistema, além da sobreposição bém constitui uma das alternativas para a
de risco, selecionadas pelo histórico de do seu ciclo com o da praga-alvo podem conservação de predadores nos agroecos-
surtos de lagartas e pelo monitoramento ser características que permitam selecionar sistemas. Neste ponto, diversas culturas
dos adultos das mariposas com armadilhas uma espécie para uso. Tais características poderiam ser exploradas, em virtude do
luminosas. devem ser consideradas em conjunto com grande volume de informação já dispo-
O emprego das liberações de P. os resultados obtidos em estudos de preda- nível, além do que se tem de informação
nigrispinus em lavouras anuais, entretan- ção, para checar se a espécie de predador para inimigos naturais em algodão e café.
to, esbarra na dificuldade em manter os observada como abundante desenvolve-se Desconsiderando o fato de que os em-
predadores nas áreas-alvo, já que tendem satisfatoriamente sobre a praga-alvo ou se pecilhos à expansão do uso de predadores
a se dispersar após as liberações (NEVES a ocorrência é acidental. Esses e alguns no controle biológico são múltiplos e de
et al., 2009). Assim, estudos futuros de- outros passos devem ser seguidos para a natureza diversa, a mudança de postura dos
vem focar na implantação de insetários a seleção de predadores, para uso em pro- profissionais que trabalham com insetos
campo e na adoção de práticas que atraiam gramas de controle biológico. predadores é fundamental. Neste quesi-
e mantenham os predadores liberados nas Diante das limitações na condução de to, entre os objetivos de suas pesquisas,
áreas-alvo com surtos de lagartas. programas de controle biológico aplicado deveria ser dada prioridade à utilização a
Em virtude da baixa interação entre com insetos predadores, seu uso está fun- campo. Outro passo importante é definir
os profissionais de controle biológico e damentado no controle biológico conser- os predadores-chave que devem ser prio-
os de outras disciplinas do conhecimento, vativo. Nesse caso, deve-se dar atenção rizados nos programas de controle bioló-
há uma tendência de que estudos dessa especial ao reconhecimento dos principais gico. Exemplos de inúmeras espécies de
natureza não sejam contínuos no Brasil. predadores e uso de práticas de menor importância para vários agroecossistemas
Isto advém da falta de análise econômi- impacto ou que favoreçam a imigração são apresentados em Carvalho e Souza
ca dos programas, geração de modelos e manutenção dos predadores nos agroe- (2002) e estas informações podem servir
matemáticos de validação, realização de cossistemas. A adoção de nível de controle como base para estudos futuros.
estudos bioecológicos de sustentação e de das pragas, quando possível, permite que
divulgação dos resultados obtidos. os predadores colonizem e retardem o AGRADECIMENTO
crescimento populacional da praga, re-
CONSIDERAÇÕES FINAIS sultando em redução no número de vezes À pesquisadora da EPAMIG, Madelai-
A diversidade de insetos predadores em que a praga atinge o nível de controle. ne Venzon, pelo convite e sugestões e ao
é muito superior aos exemplos enume- Além disso, ao atingir o nível de controle, Conselho Nacional de Desenvolvimento
rados neste artigo. O levantamento de a escolha do inseticida de menor impacto Científico e Tecnológico (CNPq), à Fun-
predadores potenciais que serão usados aos predadores é fundamental. Bastos e dação de Amparo à Ciência e Tecnologia
em estudos futuros passa, primordial- Torres (2006) resumiram os resultados do Estado de Pernambuco (Facepe) e à Co-
mente, pela construção de tabelas de disponíveis em relação à seletividade dos ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
vida ecológica das pragas-alvo da ação inseticidas registrados, para uso na cultura de Nível Superior (Capes) pelo suporte aos
de controle. Infelizmente, muitos estudos do algodoeiro. Esses autores verificaram estudos com inimigos naturais.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
REFERÊNCIAS FREITAS, S. O uso de crisopídeos no con- v.35, n.5, p. 707-709, Sept./Oct. 2006.
trole biológico de pragas. In: PARRA, J.R.P.; REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de Controle biológi-
AMBROSE, D.P. Assassin bugs. Enfield, BOTELHO, P.S.M.; CORRÊA-FERREIRA, co do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro.
NH: Science, 1999. 337p. B.S.; BENTO, J.M.S. (Ed.). Controle biológi- Informe Agropecuário. Controle biológico
AUAD, A.M. Criação de sirfídeos (Díptera: co no Brasil: parasitóides e predadores. São de pragas, Belo Horizonte, ano 9, n. 104,
Syrphidae) para o controle de afídeos. In: Paulo: Manole, 2002. p.209-224. p.16-20, ago. 1983
BORTOLI, S.A.de; BOIÇA JUNIOR, A.L.; GRAVENA, S. Manejo integrado de pragas ROSENHEIM, J.A.; KAYA, H.K.; EHLER,
OLIVEIRA, J.E.M. (Ed.). Agentes de contro- do cafeeiro no Brasil situação atual. In: FER- L.E.; MAROIS, J.J.; JAFFEE, B.A. Intraguild
le biológico: metodologias de criação, mul- NANDES, O.A.; CORREIA, A. do C.B.; BOR- predation among biological control agents:
tiplicação e uso. Jaboticabal: FUNEP, 2006. TOLI, S.A. de (Ed.). Manejo integrado de theory and evidence. Biological Control,
cap. 1, p.1-26. pragas e nematóides. Jaboticabal: FUNEP, v.5, n.3, p.303-335, Sept. 1995.
BASTOS, C.S.; TORRES, J.B. Contro- 1990. cap. 7, p.81-106. _______; WILHOIT, L.R.; AMER, C.A. In-
le biológico e o manejo de pragas do HAGEN, K.S. Nutritional ecology of terres- fluence of intraguild predation among gene-
algodoeiro.2.ed. Campina Grande: Embra- trial predators. In: SLANSKY, JUNIOR, F.; ralist insect predators on the suppression of
pa Algodão, 2006. 63p. (Embrapa Algodão. RODRIGUEZ, J.G. (Ed.). Nutritional ecolo- an herbivore population. Oecologia, v. 96,
Circular Técnica, 72). gy of insects, mites, spiders, and related n.3, p.439-449, Dec. 1993.
BRAMAN, K.S. Damsel bugs (Nabidae). In: ���� invertebrates. New York: J. Wiley, 1987. STILING, P.; CORNELISSEN, T. What makes
SCHAEFER, C.W.; PANIZZI, A.R. (Ed.). p.533-577. a sucessful biocontrol agent?: a meta-analy-
Hetroptera of economic importance. Boca
_______; MILLS, N.J.; GORDH, G.; MCMUR- sis of biological control agent performance.
Raton: CRC Press, 2000. cap. 27, p.639-656.
TRY, J.A. Terrestrial arthropod predators of Biological Control, v.34, n.3, p.236-246,
BUENO, V.H.P. Aspectos biológicos e ritmo insect and mite pests. In: BELLOWS, T.S.; Sept. 2005.
diário das atividades de Porosilus barbiellinii FISHER, T.W. (Ed.). Handbook of biological SYMONDSON, W.O.C.; SUNDERLAND,
predador da cigarrinha-das-pastagens. Pes- control: principles and applications of bio- K.D.; GREENSTONE, M.H. Can generalist
quisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.22, logical control. San Diego: Academic Press, predators be effective biocontrol agents?
n.9/10, p.903-915, set./out. 1987. 1999. p.383-503. Annual Review of Entomology, v.47, p.561-
CARVALHO, C.F.; SOUZA, B. Potencial KLEMOLA, T.; TANHUANPÄÄ, M.; KORPI- 594, 2002.
de insetos predadores no controle biológi- MÄKI, E.; RUOHOMÄKI, K. Specialist and TORRES, J.B.; RUBERSON, J.R. Spatial and
co aplicado. In: PARRA, J.R.P.; BOTELHO, generalist natural enemies as an explana- temporal dynamics of oviposition behavior
P.S.M.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; BENTO, tion for geographical gradients in popula- of bollworm and three of its predators in Bt
J.M.S. (Ed.). Controle biológico no Brasil: tion cycles of northern herbivores. Oikos, and non-Bt cotton fields. Entomologia Ex-
parasitóides e predadores. São Paulo: Mano- v.99, n.1, p.83-94, 2002. perimentalis et Applicata, v.120, n.1, p.11-
le, 2002. cap. 12, p.191-208. 22, July. 2006.
LATTIN, J.D. Bionomics of the Nabidae.
COHEN, A.C. Feeding adaptations of some Annual Review of Entomology, v.34, p.383- _______; ZANUNCIO, J.C.; MOURA, M.A.
predaceous Hemiptera. Annals of the En- 400, 1989. The predatory stinkbug Podisus nigrispinus:
tomological Society of America, v.83, n.6, biology, ecology and augmentative releases
MCEWEN, P.K.; NEW, T.R.; WHITTINGTON,
p.1215-1223, Nov. 1990. for lepidopteran larval control in Eucalyptus
A.E. (Ed.). Lacewings in the crop environ-
COLL, M.; GUERSHON, M. Omnivory in ment. Cambridge: Cambridge University forests in Brazil. CAB Reviews: Perspectives
terrestrial arthropods: mixing plant and Press, 2001. 546p. in Agriculture, Veterinary Science, Nutri-
prey diets. Annual Review of Entomology, tion and Natural Resources, v.1, n.15, p.1-
LUNDGREN, J.G. Relationships of natural
v.47, p.267-297, 2002. 18, 2006.
enemeies and non-prey foods. Dordrecht:
CÔNSOLI, F.L.; PARRA, J.R.P. Criação in vitro Springer-Velarg, 2009. (Progress in Biologi- URANO, S.; SHIMA, S.; HONGO, K.; SU-
de parasitóides e predadores. In: PARRA, J.R.P.; cal Control, 7). ZUKI, Y. A simple criterion for successful
BOTELHO, P.S.M.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; biological control on annual crops. Popula-
MOUND, L.A.; REYNAUD, P. Franklinothrips;
BENTO, J.M.S. (Ed.). Controle biológico no tion Ecology, v.45, p.97-103, 2003.
Brasil: parasitóides e predadores. São Paulo: a pantropical Thysanoptera genus of ant-
VENZON, M.; PALLINI, A.; JANSSEN, A.
Manole, 2002. cap. 15, p.239-275. mimicking obligate predators (Aeolothri-
Interactions mediated by predators in ar-
CRUZ, I. Métodos de criação de agentes pidae). Zootaxa, Auckland, v.846, p.1-16,
thropod food webs. Neotropical Entomolo-
entomófagos de Spodoptera frugiperda (J.E. 2005.
gy, Londrina, v.30, n.1, p.1-9, Mar. 2001.
Smith). In: BUENO, V.H.P. (Ed.). Contro- NEVES, R.C.S.; TORRES, J.B.; VIVAN, L.M.
WÄCKERS, F.L.; RIJIN, P.C.J. van; BRUIN,
le biológico de pragas: produção massal e Reproduction and dispersal of wing-clipped J. Plant provided food for carnivorous in-
controle de qualidade. Lavras: UFLA, 2000. predatory stinkbugs, Podisus nigrispinus in sects: a protective mutualism and its appli-
p.111-135. cotton fields. BioControl, v.54, n.1, p.9-17, cations. Cambridge: Cambridge University
DICKE, M. Direct and indirect effects of Feb. 2009. Press, 2005. 356p.
plants on performance of beneficial orga- NEW, T.R. Insects as predators. Kensing- ZANUNCIO, J.C.; GUEDES, R.N.C.; OLI-
nisms. In: RUBERSON, J.R. (Ed.) Handbook ton, Australia: New South Wales University VEIRA, H.N.; ZANUNCIO, T.V. Uma déca-
of pest management. New York: Marcel Press, 1991. 178p. da de estudos com percevejos predadores:
Dekker, 1999. cap. 5, p.105-153. PREZOTO, F.; SANTOS-PREZOTO, H. H.; conquistas e desafios. In: PARRA, J.R.P.; BO-
DWYER, G.; DUSHOFF, J.; YEE, S.H. The MACHADO, V.L.L.; ZANUNCIO, J.C. Prey TELHO, P.S.M.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.;
combined effects of pathogens and preda- captured and used in Polistes versicolor BENTO, J.M.S. (Ed.). Controle biológico no
tors on insect outbreaks. Nature, v.430, (Olivier) (Hymenoptera: Vespidae) nourish- Brasil: parasitóides e predadores. São Pau-
p.341-345, July 2004. ment. Neotropical Entomology, Londrina, lo: Manole, 2002. p.495-509.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 7 - 3 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Introdução eficiente para ácaros-praga, além de reduzir O objetivo deste artigo é apresentar as
os problemas advindos do uso excessivo principais famílias de ácaros predadores
Dentro do complexo de pragas asso-
de acaricidas. com potencial de uso no controle bioló-
ciado à agricultura, os ácaros apresentam
Os ácaros-praga podem ser natural- gico de ácaros-praga, algumas estratégias
grande potencial de redução da produção,
mente controlados no campo por uma e programas de controle biológico desses
por causa, principalmente, do seu alto po-
grande diversidade de inimigos naturais, artrópodes com ácaros predadores. Além
tencial reprodutivo (Helle; Sabelis, disso, é discutido também o uso do controle
que têm potencial para ser utilizados em
1985). O controle químico, com a utiliza- biológico aumentativo de ácaros-praga em
programas de controle biológico na agri-
ção de acaricidas organosintéticos, é um cultura. Entre eles, destacam-se fungos sistemas não convencionais de produção
dos métodos mais utilizados para o contro- patogênicos, insetos e ácaros predadores. agrícola.
le desses artrópodes. Entretanto, associado Não são conhecidos, entretanto, até agora,
a esse método de controle, problemas como organismos parasitos ou parasitoides de Principais famílias de
a ressurgência e aparecimento de novas ácaros-praga. Há resultados promissores ácaros predadores de
pragas, os surtos de pragas secundárias, importância agrícola
no uso de fungos patogênicos para controle
os resíduos em alimentos e a resistência de ácaros-praga da família Tetranychidae
de pragas são comuns de ser observados. (Maniania et al., 2008, DUARTE et Família Phytoseiidae
Além disso, em sistemas de produção (Acari: Mesostigmata)
al., no prelo). Os inimigos naturais mais
não convencionais, como o integrado e o eficientes e os mais empregados em progra- A família Phytoseiidae é objeto de
orgânico, o uso de agrotóxicos é restrito mas de controle biológico de ácaros-praga grande número de estudos nas áreas de
ou proibido. O controle biológico é um na agricultura são os ácaros predadores ecologia, comportamento e controle bio-
método que, associado a outros, pode ser (Moraes, 1991; 2002). lógico (Pallini et al., 2007). Apresenta
1
Eng o Agro , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: fadini@epamig.br
2
Eng o Agro , Ph.D., Prof. Associado UFV - Dep to Biologia Animal, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pallini@ufv.br
3
Eng a Agr a , Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
4
Graduando em Agronomia UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: cleber.oliveira@ufv.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
2.217 espécies descritas, distribuídas em (Santos; Laing, 1985). São ácaros densidades menores que mil indivíduos por
67 gêneros (Moraes et al., 2004). Os que apresentam um maior número de setas, quilo de grãos. Em infestações maiores que
fitoseídeos apresentam comportamento de quando comparados aos fitoseiídeos, e essa, é indicado o seu uso associado a aca-
forrageamento bastante evidente, buscando também são menores que os primeiros. Sua ricidas (ŽD’ÁRKOVÁ, 1998). LukÁŠ et
as presas com movimentos rápidos em coloração predominante é avermelhada. al. (2007) observaram correlação negativa
locais abrigados da luz. Possuem formato O gênero Agistemus tem sido relatado entre a presença de ácaros predadores do
de gota d’água, poucas setas ao longo do como importante predador de ácaros fitó- gênero Cheyletus e ácaros-praga da família
corpo e podem apresentar coloração ala- fagos (Laing; Knop, 1983). A espécie Acaridae, sendo as espécies mais abundan-
ranjada, marrom ou palha que varia com a Agistemus floridanus Gonzalez apresenta tes C. eruditus (79%), C. aversor (10%),
idade e o estado nutricional. potencial para ser utilizada no controle de C. tronessarti (9%) e C. malaccensis (2%)
A espécie Phytoseiulus persimilis Calacarus heveae Feres (Acari: Eriophyi- em massas de grãos.
dae) e Tenuipalpus heveae Baker (Acari:
Athias-Henriot é a mais estudada e a mais Família Laelapidae
Tenuipalpidae), em seringueira (Ferla;
utilizada no mundo em programas de con- (Acari: Mesostigmata)
Moraes, 2003). Matioli et al. (2007)
trole biológico de ácaros-praga. É criada
descrevem que A. pallinii foi encontrado Os ácaros da família Laelapidae
massalmente e liberada em larga escala
em pomares de Minas Gerais alimentando- são predadores de artrópodes edáficos.
em programas de controle biológico na
se de ácaro fitófago do citros, Panonychus São ácaros normalmente de coloração
Europa, Ásia e América do Norte, para o
citri (McGregor). Outros membros da castanho-clara a marrom-clara. O ácaro
controle de ácaros da família Tetranychi-
família Stigmaeidae são relatados como predador Hypoaspis aculifer é usado na
dae, em campo e em casa de vegetação
importantes predadores de Brevipalpus Europa para controle de ácaros-praga que
(Sabelis, 1981; PicKett; Gilstrap, phoenicis (Geijskes) (Acari: Tenuipal- atacam bulbos de gladíolos. Notadamente
1986; Cross et al., 2001) (Quadro 1). pidae), na cultura do chá na Indonésia na Holanda, esse predador é usado para
(Oomen, 1982). controlar ácaros que atacam bulbos de
Família Stigmaeidae
(Acari: Prostigmata) lírios, como Rhizoglyphus robini Claparede
Família Cheyletidae (Acari: Acaridae) (Fig. 1 e 2) (LESNA,
A ocorrência dos predadores da família (Acari: Prostigmata)
1998). No Brasil, a espécie Stratiolaelaps
Stigmaeidae está fortemente relacionada Os predadores da família Cheyletidae scimitus (Womersley) é comercializada
com a redução do uso de agrotóxicos. são usados, principalmente, no controle (Quadro 1) para controle de pragas de solo,
Como predadores, têm importância me- biológico de ácaros-praga de grãos ar- como Fungus gnats, que atacam produção
nor do que os da família Phytoseiidae, mazenados (Fain; Bochkov, 2001). de cogumelos, colêmbolas, e ácaros-praga
por causa das características biológicas, O predador Cheyletus eruditus (Schrank) (Rhyzoglyphus spp.), que atacam bulbos
como baixa taxa intrínseca de crescimento é empregado para o controle de espécies de cebola, amarílis, lírio, jacinto, dálias,
populacional e baixo consumo de presas de ácaros-praga da família Acaridae em batatinha e mandioca.
Izabela Lesna
Izabela Lesna
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
QUADRO 1 - Algumas empresas que comercializam ácaros predadores para o controle biológico de pragas - julho 2009
Espécie Praga-alvo Empresa País
Neoseiulus californicus Ácaro-rajado Promip Brasil
Phytoseiulus longipes Ácaro-rajado e vermelho (www.promip.agr.br)
Phytoseiulus macropilis Ácaro-rajado
Stratiolaelaps scimitus Fungus gnats, ácaros de bulbos, collembola
Principais estratégias (Barbosa, 1998). Essa técnica consiste para o fornecimento de pólen a predadores,
de controle biológico no fornecimento de condições e recursos é uma estratégia utilizada com sucesso para
de ácaros-praga com aos inimigos naturais, para que possam o controle do ácaro-vermelho Panonychus
ácaros predadores regular as populações de pragas, mantendo- ulmi (Koch) (Acari: Tetranychidae)
as abaixo dos níveis de dano econômico. (LIANG; HUANG, 1994).
Controle biológico O aumento da diversidade vegetal, por As plantas podem manter as popu-
conservativo
meio de culturas intercalares e espécies lações de ácaros predadores no campo
O controle biológico conservativo é espontâneas ou não, que produzam fonte ao fornecerem alimento e abrigo. As
uma estratégia utilizada para promover a de pólen e néctar é uma técnica promissora domácias, por exemplo, são estruturas
sobrevivência e incrementar o desempenho para tal propósito. Na China, a utilização encontradas em folhas de diversas espécies
dos inimigos naturais existentes no campo de cobertura verde em pomares de citros, de plantas capazes de fornecer abrigo e
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
alimento aos ácaros (Matos et al., 2004). grande número, visando, além do controle Outras iniciativas, como o controle
As domácias podem apresentar forma de imediato, a formação de população capaz biológico aplicado do ácaro-rajado T.
tufos de pelos ou cavidades localizadas de controlar gerações das pragas durante urticae pelo ácaro predador Phytoseiulus
entre a nervura principal e as secundárias, um período maior na cultura. Existem macropilis (Banks) (Acari: Phytoseiidae),
na face abaxial das folhas. O ácaro pre- diversas empresas especializadas que pro- em morangueiro, são promissoras. Esses
dador Iphiseiodes zuluagai Denmark & duzem e comercializam ácaros predadores predadores já estão sendo comercializados
Muma (Acari: Phytoseiidae) apresentou em diversos países, inclusive no Brasil e usados por produtores de morango na
maior sobrevivência em folhas do cafe- (Quadro 1). região de Venda Nova do Imigrante, ES,
eiro Coffea arabica L. variedade Catuaí, O controle biológico do ácaro-rajado Atibaia e Jaguariúna, em São Paulo. Já o
quando as domácias estavam abertas, do com o predador P. persimilis em ambientes predador N. californicus vem sendo usado
que quando estas foram fechadas artificial- protegidos na Europa foi a primeira inicia- para controle de T. urticae em maçã, pêsse-
mente (Matos et al., 2004). Plantas que tiva bem-sucedida desse tipo de controle go e nectarina na região do Paranapanema,
possuem estruturas morfológicas capazes (Hussey; Scopes, 1985). No Brasil, SP, e em gérberas e rosas, em Holambra, SP,
de abrigarem ácaros predadores têm mais o controle biológico do ácaro-vermelho- e Andradas, MG (informação verbal)5.
chance de ser protegidas contra ácaros- da-macieira P. ulmi, pelo ácaro predador
praga e de manterem a população desses Neoseiulus californicus (McGregor) Estudo de caso: o controle
predadores ao longo do tempo. (Acari: Phytoseiidae) é um exemplo de biológico do ácaro-rajado T.
sucesso. A partir do início da década de 90, URTICAE no morangueiro
Controle biológico clássico na região de Fraiburgo, SC, foram realiza-
Os ácaros são pragas importantes na
dos levantamentos nos pomares de maçã
O controle biológico clássico consiste cultura do morangueiro. As injúrias causa-
daquela região para determinar os ácaros
na introdução intencional de agentes de das às plantas são perfurações na epiderme
predadores com potencial de controle de
controle biológico exóticos, para o controle foliar, morte das células e aparecimento de
P. ulmi, um ácaro-praga de importância
permanente ou a longo prazo das pragas- manchas descoradas nas folhas. Entre as tá-
econômica para a cultura. Após avaliação
alvo (EILENBERG et al., 2001). Um ticas de controle das populações de ácaros-
das espécies encontradas, selecionou-se
exemplo de sucesso de controle biológico praga, o controle biológico é um método
N. californicus por apresentar caracterís-
clássico com ácaros é o do ácaro-verde-da- de baixo impacto ambiental. Apesar disso,
ticas adequadas para uso em programa de
mandioca Mononychellus tanajoa (Bondar) esse método de controle de ácaros-praga
controle biológico aplicado de P. ulmi. A
(Acari: Tetranychidae), na África, com os primeira etapa da implementação do pro- na cultura do morangueiro ainda é pouco
ácaros predadores Typhlodromalus aripo grama de controle biológico foi a criação utilizado no Brasil. Em sistemas como o de
DeLeon e T. manihoti Moraes (Acari: massal do ácaro predador N. californicus produção integrada ou o orgânico, os quais
Phytoseiidae). Informações detalhadas em estufas (MONTEIRO, 2002a). Para utilizam menos ou nenhum agrotóxico,
sobre esse programa podem ser obtidas em tanto, optou-se pelo uso do feijoeiro como existem mais chances de implementar com
Elliot e Rocha (2008). planta hospedeira para criação de presas sucesso o controle biológico aplicado de
alternativas, o ácaro-rajado T. urticae. O ácaros na cultura do morangueiro (Fadini
Controle biológico et al., 2004).
manejo da temperatura e da umidade nas
aumentativo
estufas de criação dos ácaros predadores Na Europa e na América do Norte,
Neste tipo de controle biológico, ácaros otimizou a produção. As etapas seguintes o controle biológico de ácaros que ata-
predadores, nativos ou exóticos, são repro- foram a de liberação do predador nos cam o morangueiro é prática utilizada
duzidos em grande quantidade em ambien- pomares de produção e o monitoramento por diversos produtores, cuja produção
tes protegidos e, posteriormente, liberados tanto das populações de P. ulmi, quanto de morango atende ao exigente merca-
no campo ou em casa de vegetação para de N. californicus (MONTEIRO, 2002b; do consumidor (Croft et al., 1998;
controlar ácaros-praga. As liberações dos MONTEIRO et al., 2008). Em testes de Easterbrook et al., 2001; Cross
predadores podem ser de forma inundativa, campo, a liberação equivalente à densidade et al., 2001). Além dos ácaros preda-
quando os inimigos naturais são liberados de 150 mil ácaros predadores por hectare dores [P. macropilis, P. persimilis,
em grande número, visando um controle reduziu a população do ácaro-vermelho Amblyseius californicus, Galendromus
imediato da praga. Outra possibilidade de após 16 dias da liberação e também o grau (=Metaseiulus) occidentalis], outros agen-
liberação é a inoculativa, quando os agen- de injúria provocado pelo ácaro-vermelho tes de controle biológico, como joaninhas
tes de controle biológico são liberados em na macieira (MONTEIRO et al., 2008). (Stethorus spp.), tripes (Scolothrips spp.)
5
Informação concedida por Marcelo Poletti, engenheiro agrônomo da Promip, em 29 de junho de 2009.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
e percevejos predadores (Orius spp.) são lação do ácaro-rajado sobre morangueiros número de predadores, 159,4 ± 28. A
utilizados nesses programas (Frescata; infestados inicialmente com cem indivídu- definição das metodologias de liberação
Mexia, 1996; Cross et al., 2001). os da praga. Após 35 dias a população do e avaliação, bem como a identificação
A EPAMIG e a Universidade Federal ácaro-rajado foi extinta (Oliveira et al., dos principais fatores de mortalidade
de Viçosa (UFV) conduzem projetos 2007; 2009) (Gráfico 1). Além da alta taxa e eficiência de predação do ácaro P.
de pesquisa que objetivam estabelecer de predação, P. macropilis foi capaz de macropilis no campo, complementarão
bases metodológicas para implementa- localizar a longas distâncias moranguei- as informações necessárias para se esta-
ção do controle biológico aumentativo ros infestados pelo ácaro-rajado por meio belecerem as bases metodológicas para
do ácaro-rajado T. urticae na cultura do dos voláteis induzidos pela herbivoria de a implantação do programa de controle
morangueiro, em Minas Gerais (Fadini T. urticae. biológico aplicado de T. urticae na cultura
et al., 2004). Tais projetos envolvem a A metodologia de criação desse áca- do morangueiro.
utilização de ácaros predadores da família ro predador, visando seu aumento para Atualmente, estão sendo conduzidos
Phytoseiidae os quais se destacam pela posterior liberação, também foi estudada. estudos que envolvem a seleção de linha-
eficiência na redução tanto de baixas O predador P. macropilis foi criado em gens do ácaro predador P. macropilis resis-
como de altas populações de ácaros-praga casa de vegetação sobre feijoeiros, tendo tentes ao acaricida abamectin, utilizado no
(Sabelis, 1981; Helle; Sabelis, o ácaro-rajado como alimento. A relação cultivo do morango. Resultados prelimina-
1985; Moraes, 1991, 2002). Como etapa 7:25 predador:presa produziu maior res demonstraram que há algum grau de
inicial para implantação desse programa,
foram levantadas as espécies de ácaros
80
predadores em morangueiro nas principais Ácaro-rajado
regiões produtoras de morango do Estado, Ácaro-rajado + ácaro predador
nos municípios de Barbacena (21º13’ S;
Número de ácaros-rajados
60
43º46’ W; altitude de 1.165 m), Caldas
(21º55’ S; 46º23’ W; altitude de 1.150 m) e
Pouso Alegre (22°13′ S, 45°56′ W; altitude
40
de 832 m). A espécie de ácaro predador
coletada em maior abundância foi a P.
macropilis (Fig. 3).
20
Em testes de laboratório, o predador
P. macropilis apresentou capacidade
predatória nas diferentes fases biológicas
0
do ácaro-rajado, com as maiores taxas de 0 5 10 15 20 25 30 35
predação sobre os ovos (Oliveira et al., Dias
2007). Em estudos de casa de vegetação, P. Gráfico 1 - Número médio de formas móveis do ácaro-rajado em função do tempo (dias)
macropilis necessitou de, aproximadamen- sobre plantas de morangueiro com e sem o predador Phytoseiulus macropilis
te, 20 dias para iniciar a redução da popu- NOTA: A seta indica quando o predador foi liberado.
A B
Figura 3 - Controle biológico na cultura do morangueiro
NOTA: A - Ácaro predador Phytoseiulus macropilis; B - Ácaro-rajado Tetranychus urticae.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
resistência ao abamectin em linhagens co- crescimento populacional de T. urticae, demanda produtos diferenciados e para se
letadas no campo. Em testes de laboratório, não afetou negativamente a população P. conseguir essa produção é necessário que o
o aumento da concentração de abamectin macropilis em casa de vegetação. Essas produtor tenha conhecimentos de biologia,
não afetou a taxa instantânea de cresci- concentrações corresponderam à Concen- ecologia, administração rural, sociologia,
mento populacional dos ácaros predadores tração Letal (CL91), para o NeemPro, CL85, etc. Portanto, os produtores e técnicos
provenientes de áreas de produção de mo- para Organic Neem e CL88, para Natuneem. precisam usar de tecnologias que atendam
rango sob cultivo convencional. O mesmo Portanto, a utilização de concentrações ao consumidor e, dessa forma, conseguirão
não foi observado para a população de adequadas desses produtos proporciona ter uma produção mais rentável em uma
predadores mantida em casa de vegetação, controle satisfatório da praga e manutenção propriedade sustentável.
onde não havia aplicação de agrotóxicos, das populações do ácaro predador (em fase
na qual a taxa instantânea de crescimento de elaboração)6. Agradecimento
populacional foi afetada negativamente
pela concentração de abamectin. Considerações finais À Fundação de Amparo à Pesquisa do
Embora a resistência a inseticidas e a Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao
O controle biológico de ácaros fitófa-
acaricidas não seja frequente em inimigos Conselho Nacional de Desenvolvimento
gos é realizado no Brasil em larga escala,
naturais, atualmente são conhecidos casos Científico e Tecnológico (CNPq) pelos pro-
como no caso do controle biológico de
de resistência em ácaros predadores da jetos de pesquisa financiados e pelas bolsas
ácaros na macieira, mas é ainda incipiente
família Phytoseiidae (SATO et al., 2002). de produtividade científica concedidas.
em outras culturas (pêssego, nectarina,
Estes apresentam taxas reprodutivas ele- morango e flores). Existem tecnologias e
vadas, exibem características de migração Referências
conhecimentos necessários para implantar
e atributos de colonização que favorecem mais programas em culturas de importância BARBOSA, P. Conservation biological
a evolução da resistência a pesticidas, em econômica. Além de ser eficiente, quando control. San Diego: Academic Press, 1998.
escala local. Além disso, os fitoseídeos 396p.
bem planejado, o controle biológico agrega
apresentam ciclo biológico curto, podendo valor ao produto agrícola, estabelecendo CROFT, B.A.; PRATT, P.D.; KOSKELA, G.;
desenvolver-se de ovo a adulto em até duas KAUFMAN, D. Predation, reproduction,
uma imagem de produção ecológica, livre and impact of phytoseiid mites (Acari :
semanas. Isto pode favorecer o desenvol- de agrotóxicos, para os consumidores. Phytoseiidae) on cyclamen mite (Acari :
vimento da resistência a agrotóxicos. A Portanto, existem benefícios ecológicos e Tarsonemidae) on strawberry. Journal of
busca por populações de ácaros predadores econômicos que se associam ao benefício Economic Entomology, v.91, n.6, p.1307-
resistentes a agrotóxicos contribui para humano da sustentabilidade do sistema 1314, Dec. 1998.
o aprimoramento do manejo integrado agrícola explorado. Dessa forma, a estraté- CROSS, J.V.; EASTERBROOK, M.A.;
de ácaros-praga na cultura do morango, CROOK, A.M.; CROOK, D.; FITZGERALD,
gia de controle biológico para ácaros deve
J.D.; INNOCENZI, P.J.; JAY, C.N.; SOLO-
aumentando a possibilidade de integrar o ser difundida pelos técnicos que prestam MON, M.G. Natural enemies and biocontrol
controle biológico e o controle químico serviço aos produtores, como método que of pests of strawberry in northern and cen-
por meio da liberação de ácaros predadores agrega valor à produção. tral Europe. Biocontrol Science and Tech-
resistentes (HOY, 2006). É imprescindível, porém, que técnicos nology, v.11, n.2, p.165-216, Apr. 2001.
Em sistemas orgânicos de produção e produtores tenham consciência de que DUARTE, V.S.; SILVA, R.A.; WEKESA, V.W.;
é comum a utilização de produtos não a aplicação do controle biológico, como RIZZATO, F.B.; DIAS, C.T.S.; DELALIBERA
convencionais para o controle de pragas. meio alternativo ao uso de agrotóxico, JUNIOR, I. Impact of natural epizootics of
the fungal pathogen Neozygites floridana
Um produto bastante utilizado na produção demanda conhecimento do meio ambiente (Zygomycetes: Entomophthorales) on po-
orgânica de morango é o extrato de nim agrícola. Sem o conhecimento do agroe- pulation dynamics of Tetranychus evansi
(Azadirachta indica). Apesar da eficiência cossistema local não é possível ter sucesso (Acari: Tetranychidae) in tomato and ni-
no controle de T. urticae, alguns produtos com a prática agrícola convencional e ghtshade. Biological Control. No prelo.
derivados do nim, quando não utilizados menos sucesso, ainda, será alcançado ao EASTERBROOK, M.A.; FITZGERALD, J.D.;
corretamente, podem ter efeito negativo se explorarem sistemas orgânicos e/ou SOLOMON, M.G. Biological control of straw-
sobre os ácaros predadores. Em pesquisas ecológicos. Esses sistemas agregam mais berry tarsonemid mite Phytonemus pallidus
and twos-potted spider mite Tetranychus ur-
recentes, no entanto, verificou-se que a valor ao produto final e permitem ao ticae on strawberry in the UK using species
utilização de produtos derivados do nim produtor alcançar mercados mais rentá- of Neoseiulus (Amblyseius) (Acari: Phytoseii-
em doses que causaram a interrupção do veis. No entanto, esse mercado exigente dae). Experimental and Applied Acarology,
Trabalho dos autores, Alberto Soto Giraldo, Madelaine Venzon, Hamilton Homes Oliveira, Rafael Macedo Oliveira e Augusto Pallini, ainda
6
não publicado.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
v.25, n.1 p.25-36, Jan. 2001. LIANG, W.; HUANG, M. Influence of citrus _______; MCMURTRY, J.A.; DENMARCK,
orchard ground cover plants on arthropod H.A.; CAMPOS, C.B. A revised catalogo of
EILENBERG, J.; HAJEK, A.; LOMER C. Sug-
communities in China: a review. Agricul- the mites family Phytoseiidae. Zootaxa, Au-
gestions for unifying the terminology in
ture, Ecosystems & Environment, v.50, n.1, ckland, v.434, p.1-494, Feb. 2004.
biological control. BioControl, v.46, n.4,
p. 29-37, Aug. 1994.
p. 387-400, Dec. 2001. OLIVEIRA, H.; FADINI, M.A.M.; VENZON,
LUKÁŠ, J.; STEJSKAL, V.; JAROŠÍK, V.; HU- M.; REZENDE, D.; REZENDE, F.; PALLINI, A.
Elliot, S.L.; Rocha, S.L. Controle bioló-
BERT, J.; ŽD’ÁRKOVÁ, E. Differential natu- Evaluation of the predatory mite Phytoseiulus
gico clássico do ácaro-verde da mandioca.
ral performance of four Cheyletus predatory macropilis (Acari: Phytoseiidae) as a biologi-
In: Venzon, M.; Paula Júnior, T.J. de;
mite species in Czech grain stores. Journal cal control agent of the two-spotted spider
Pallini, A. (Coord.). Avanços no controle
of Stored Products Research, v.43, n.1, mite on strawberry plants under greenhouse
alternativo de pragas e doenças. Viçosa,
p.97-102, 2007. conditions. Experimental and Applied Aca-
MG: EPAMIG-CTZM, 2008. p.53-70.
MANIANIA, N. K.; BUGEME, D.M.; WEKE- rology, v.47, n.4, p.275-283, Apr. 2009.
FADINI, M.A.M.; PALLINI, A.; VENZON, M.
SAJ, V.W.; DELALIBERA, I.; KNAPP, M. Role _______; JANSSEN, A.; PALLINI, A.; VEN-
Controle de ácaros em sistema de produção
of entomopathogenic fungi in the control of ZON, M.; FADINI, M.; DUARTE, V. A phyto-
integrada de morango. Ciência Rural, Santa
Tetranychus evansi and Tetranychus urticae seiid predator from the tropics as poten-
Maria, v.34, n.4, p.1271-1277, jul./ago. 2004.
(Acari: Tetranychidae), pests of horticultur- cial biological control agent for the spider
FAIN, A.; BOCHKOV, A.V. A review of the al crops. Experimental and Applied Acaro- mite Tetranychus urticae Kock (Acari: Te-
genus Cheyletus Latreille, 1776 (Acari: logy, v.46, n.1, p.259-274, Dec. 2008. tranychidae). Biological Control, v.42, n.2,
Cheyletidae). Bulletin de l’Institut Royal
MATIOLI, A.L.; TAVARES, M. G.; PALLINI, p.105-109, Aug. 2007.
des Sciences Naturelles de Belgique Ento-
A. Agistemus pallinii n. sp. (Acari:
�����������������
Stigmaei- OOMEN, P.A. Studies on population dyna-
mologie, v.71, p.83-114, 2001.
dae) from citrus orchards in Brazil. Interna- mics of the Scarlet Mite, Brevipalpus phoe-
FERLA, N.J.; MORAES, G.J. de. Oviposição tional Journal of Acarolology, v. 33, n. 3, nicis, a pest of tea in Indonesia. Med. Land-
dos ácaros predadores Agistemus floridanus p.245-251, Sept. 2007.
bouwhogeschool Wagen, v.82, p.1-88, 1982.
Gonzalez, Euseius concordis (Chant) e Neo-
MATOS, H.C.; PALLINI, A.; CHAVES, F.F.;
seiulus anonymus (Chant & Baker) (Acari) PALLINI, A.; FADINI, M.A.M.; VENZON,
GALBIATI, C. Domácias do cafeeiro benefi-
em resposta a diferentes tipos de alimento. M.; MORAES, G.J.de; BARROS-BATTESTI,
ciam o ácaro predador Iphiseiodes zuluagai
Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, D.M. Demandas e perspectivas para a aca-
Denmark & Muma (Acari: Phytoseiidae)?
v.20, n.1 p.153-155, mar. 2003. rologia no Brasil. Neotropical Biology and
Neotropical Entomology, Londrina, v.33,
Conservation, São Leopoldo, v.2, n.3, p.170-
FRESCATA, C.; MEXIA, A. Biological con- n.1, p.57-63, jan./fev. 2004.
176, set./dez. 2007.
trol of thrips (Thysanoptera) by Orius la-
MONTEIRO, L.B. Criação de ácaros fitófa-
evigatus (Heteroptera: Anthocoridae) in Pickett, C.H.; Gilstrap, F.E. Inocula-
gos e predadores: um caso de produção de
organically-grown strawberries. Biological tive releases of phytoseiids (Acari) for the
Neoseiulus californicus por produtores de
Agriculture and Horticulture, v.13, p.141- biological control of spider mites (Acari:
maçã. In: PARRA, J.R.P.; BOTELHO, P.S.M.;
148, 1996. Tetranychidae) in corn. Environmental En-
CORRÊA - FERREIRA, B.S.; BENTO, J.M.S.
HELLE, W.; SABELIS, M.W. (Ed.) Spider mi- tomology, v.15, n.4, p.790-794, Aug. 1986.
(Ed.). Controle biológico no Brasil: para-
tes: their biology, natural enemies and con- sitóides e predadores. São Paulo: Manole, SABELIS, M.W. Biological control of two-
trol. Amsterdam: Elsevier, 1985. 405p. 2002a. p.351-362. spotted spider mites using phytoseiid pre-
HOY, M.A. Perspective on the development _______. Manejo integrado de pragas em dators. 1981. 242f. (Ph.D. Thesis) - Prey In-
of genetically modified arthropod natural macieira no Rio Grande do Sul II: uso de teraction at the Individual Level, Centre for
enemies for agricultural pest management Neoseiulus californicus para o controle de Agricultural Publishing and Documenta-
programmes. CAB Reviews: Perspectives in Panonychus ulmi. Revista Brasileira de tion, Wageningen, The Netherlands, 1981.
Agriculture, Veterinary Science, Nutrition Fruticultura, Jaboticabal, v.24, n.2, p.395- SANTOS, M.A.; LAING, J.E. Other preda-
and Natural Resources, n.58, p.1-12, 2006. 405, ago. 2002b. ceous mites and spiders: stigmaeid preda-
HUSSEY, N.W.; SCOPES, N.E.A. Green- _______; DOLL, A.; BOEING, L.F. Densida- tors. In: HELLE, W.; SABELIS , M.W. (Ed.).
house vegetables (Britain). In: HELLE, W.; de de Neoseiulus californicus (McGregor, World crop pests, spider mites, their bio-
SABELIS, M.W. (Ed.). Spider mites: their 1954) (Acari: Phytoseiidae) no controle do logy, natural enemies and control. Amster-
biology, natural enemy and control. Ams- ácaro-vermellho da macieira, Fraiburgo-SC. dam: Elsevier, 1985. p.197-203.
terdam: Elsevier, 1985. p.285-297. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboti- SATO, M.E.; SILVA, M.de; GONÇALVES,
LAING, J.E.; KNOP, N.F. Potential use of pre- cabal, v.30, n.4, p.902-906, dez.2008. L.R.; SOUZA FILHO, M.F.de; RAGA, A.
daceous mites other than Phytoseiidae for MORAES, G.J. de. Controle biológico de Toxicidade diferencial de agroquímicos a
biological control of orchard pests. In: HOY, ácaros fitófagos. Informe Agropecuário. Neoseiulus californicus (McGregor) (Acari:
M.A.; CUNNINGHAM, G.; KNUSTSON, L. Controle biológico, Belo Horizonte, n.167, Phytoseiidae) e Tetranychus urticae Koch
(Ed.). Biological control of pests by mites. p.55-62, 1991. (Acari: Tetranychidae) em morangueiro.
Berkeley: University of California, 1983. Neotropical Entomology, Londrina, v.31,
_______. Controle biológico de ácaros fitófa-
p.28-35. n.3, p.449-456, jul./set. 2002.
gos com predadores. In: PARRA, J.R.P.; BO-
LESNA, I. Bulb mite biocontrol: evolutio- TELHO, P.S.M.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; ŽD’ÁRKOVÁ, E. Biological control of stora-
nary genetics of prey choice in soil preda- BENTO, J.M.S. (Ed.). Controle biológico no ge mites by Cheyletus eruditus. Integrated
tors. 117p. (Ph.D. Thesis) - University of Brasil: parasitóides e predadores,���������
São Pau- Pest Management Reviews, v.3, n.2, p.111-
Amsterdam, The Netherlands 1998. lo: Manole, 2002.�����������
p.225-237. 116, june. 1998.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 3 4 - 4 0 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
INTRODUÇÃO exercido pelos parasitoides não deve ser especificidade hospedeira são, em muitos
negligenciado em nenhum agroecossiste- casos, preferidos em controle biológico
Os parasitoides formam o grupo de
ma, pela contribuição na manutenção das aumentativo (EGGLETON; BELSHAW,
inimigos naturais mais utilizado em pro-
populações de algumas espécies de insetos 1993; GODFRAY, 1994). Na ordem Dip-
gramas de controle biológico de pragas
em níveis baixos, que não causem danos tera foram descritas, aproximadamente, 15
no mundo. A maioria dos programas bem-
econômicos. mil espécies de parasitoides em 22 famílias
sucedidos de controle biológico clássico
São encontrados parasitoides em cin- (GODFRAY, 1994; FEENER-JUNIOR;
ou aumentativo foi obtida por meio da co ordens de insetos holometábolas. No BROWN, 1997).
utilização de parasitoides. A especificida- entanto, em Diptera e, principalmente, Em outras ordens de insetos, o número
de encontrada em muitas dessas espécies em Hymenoptera este grupo é abundan- de espécies de parasitoides é menor. Por
tornou atrativa a introdução desses inimi- te. Existem em torno de 50 mil espécies exemplo, em Coleoptera são encontradas
gos naturais em programas de controle descritas de parasitoides em 56 famílias em torno de 2,5 mil espécies de parasitoides
biológico clássico. A sua eficiência em de Hymenoptera. A grande diversidade de em 11 famílias (EGGLETON; BELSHAW,
localizar e parasitar seus hospedeiros, hospedeiros em diferentes habitats faz dos 1993; GODFRAY, 1994). Já em Lepidopte-
mesmo em baixas populações, contribuiu himenópteros parasitoides um dos grupos ra (uma espécie da família Pyralidae e dez
sobremaneira para o sucesso de progra- de maior importância no controle biológico da família Epipyropidae) e Neuroptera (50
mas de controle biológico aumentativo. de pragas, utilizados em diversos progra- espécies da família Mantispidae) são men-
Além disso, o controle biológico natural mas pelo mundo. Por apresentarem maior cionadas poucas espécies de parasitoides
Eng o Agro , Dr., Prof. Adj. Universidade Federal de Uberlândia, Caixa Postal 593, CEP 38408-100 Uberlândia - MG. Correio eletrônico:
1
mvsampaio@iciag.ufu.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 4 1 - 4 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
na literatura (GODFRAY, 1994). Embora hospedeiro. Os parasitoides solitários eli- idiobiontes são, em geral, ectoparasitoides,
insetos da ordem Strepsiptera sejam comu- minam seus coespecíficos por competição que paralisam ou utilizam estádios sésseis
mente tidos como parasitas, Kathirithamby larval, ocorrendo o desenvolvimento de de seus hospedeiros como ovos e pupas,
(2009) considerou o mecanismo de vida somente um indivíduo por hospedeiro. enquanto que os cenobiontes são, em sua
desses insetos como uma nova categoria A maioria dos parasitoides utiliza, maioria, endoparasitoides de estádios lar-
dentro dos parasitoides. especificamente, uma das fases de desen- vais (PENNACCHIO; STRAND, 2006).
Alguns autores consideram que o volvimento de seu hospedeiro, sendo co- A dicotomia entre idiobionte e cenobionte
número de espécies de insetos a serem muns as de ovos, larvas ou pupas. Algumas ainda pode ser usada para determinar
descritas é maior do que o número de espécies de parasitoides podem ovipositar algumas diferenças entre esses grupos,
espécies já descritas. Dessa forma, as em determinada fase do hospedeiro e só já que os cenobiontes apresentam menor
estimativas mais otimistas indicam que o completar seu desenvolvimento quando longevidade, ovos menores e maior fe-
número de espécies de parasitoides seja este trocar de fase. Assim, pode-se ter cundidade que os idiobiontes (MAYHEW;
de até 20% do número total de espécies de parasitoides de ovo-larva e larva-pupa. A BLACKBURN, 1999).
insetos, o que daria um montante de, apro- fase adulta dos insetos também é utilizada Alguns parasitoides sofreram adapta-
ximadamente, 2 milhões de espécies de como hospedeiro, embora com menor ção para parasitar outro parasitoide. Nesse
parasitoides no mundo (GODFRAY, 1994; frequência e por poucas espécies de para- caso, são chamados hiperparasitoides.
PENNACCHIO; STRAND, 2006). sitoides (GODFRAY, 1994). Estão presentes em várias famílias de
No Brasil, os principais casos de sucesso Os parasitoides podem ser divididos Hymenoptera e podem afetar negativa-
de controle biológico clássico com o uso de
em idiobiontes, em que o hospedeiro tem mente o controle biológico de pragas. Os
parasitoides são o do pulgão-lanígero-da-
seu desenvolvimento interrompido por hiperparasitoides podem ser idiobiontes
macieira, dos pulgões-do-trigo, do minador-
causa do parasitismo, e os cenobiontes, ou cenobiontes, sendo, algumas vezes, os
dos-citros e das cochonilhas-da-mandioca.
nos quais os hospedeiros continuam o idiobiontes chamados pseudo-hiperpara-
Ainda, há no País um dos maiores e mais
seu desenvolvimento e crescimento con- sitoides e os cenobiontes de verdadeiros
bem-sucedidos programas de controle
comitantemente com o desenvolvimento hiperparasitoides (BUENO; SAMPAIO,
biológico aumentativo do mundo com o
das formas jovens do parasitoide. Os 2009).
uso de um parasitoide, o controle biológico
da broca-da-cana-de-açúcar. A utilização
de parasitoides de ovos, para o controle
de lepidópteros pragas, também merece
D
destaque.
INTERAÇÃO PARASITOIDE/
HOSPEDEIRO
C
O termo parasitoide foi designado para A
definir um comportamento de utilização do
hospedeiro que só existe em insetos, no
qual as larvas são parasitas obrigatórias
e os adultos apresentam vida livre. Os
hospedeiros dos parasitoides são, geral-
mente, outros insetos, embora aranhas e
até mesmo lesmas também sirvam como
hospedeiros. Os parasitoides são insetos
que se desenvolvem sobre ou dentro de seu
B
hospedeiro, ectoparasitoides e endoparasi-
toides, respectivamente. Precisam somente
de um hospedeiro para completar seu ciclo
Figura 1 - Ciclo de vida de um parasitoide
de ovo a adulto e, matam este hospedeiro,
FONTE: Sampaio et al. (2008).
quando seu ciclo está completo (Fig. 1). Os
NOTA: A - A fêmea localiza e oviposita dentro do (ou sobre) seu hospedeiro; B - A lar-
parasitoides gregários são aqueles que to-
va do parasitoide desenvolve-se dentro (ou sobre) do corpo do hospedeiro;
leram o desenvolvimento de coespecíficos, C - A larva do parasitoide, quando completa seu desenvolvimento, mata o hos-
podendo ser gerados vários indivíduos por pedeiro; D - O parasitoide adulto emerge do seu hospedeiro.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 4 1 - 4 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Após o parasitismo, várias alterações Unidos. Tanto a praga, quanto os forídeos Ichneumonoidea, Chalcidoidea, Cynipoi-
promovidas pelos parasitoides ocorrem nos utilizados no programa de controle biológi- dea e Proctrotrupoidea. A superfamília
hospedeiros. Essas alterações são causadas co têm origem sul-americana. Parasitoides Ichneumonoidea (Fig. 2) é composta exclu-
tanto pelos parasitoides idiobiontes como como Pseudacteon tricuspis Borgmeier, sivamente de parasitoides e apresenta duas
pelos cenobiontes, por meio do veneno originário do Brasil e introduzido entre famílias, Braconidae e Ichneumonidae, as
injetado pela fêmea no momento da ovipo- 1997 e 1999 na Flórida e no Texas, e P. quais apresentam um número estimado de
sição, pelas células gigantes ou teratócitos, curvatus Borgmeier, originário da Argen- 100 mil espécies. Ambas são abundantes
que têm origem na membrana serosa de tina e introduzido em 1999 no Tennessee, em regiões tropicais e apresentam desde
seus ovos, ou por substâncias excretadas Alabama e Florida, estabeleceram-se nos idiobiontes ectoparasitoides de brocas a
pelas larvas do parasitoide em desen- Estados Unidos (GAHAM et al., 2003; cenobiontes endoparasitoides de pulgões,
volvimento. Ainda, vírus associados aos PEREIRA; PORTER, 2006; LE BRUM lagartas e larvas de mosca (WHITFIELD,
parasitoides podem ser introduzidos junto et al., 2008). 1998).
com os ovos. Essas substâncias e partículas A família Tachinidae é composta ex-
virais visam inibir o sistema de defesa dos clusivamente de parasitoides, sua diver-
hospedeiros e preparar o ambiente para o sidade concentra-se principalmente nas
desenvolvimento dos parasitoides. Eviden- regiões tropicais do planeta e exerce um
temente, essas alterações são prejudiciais papel importante no controle biológico
aos hospedeiros e apresentam-se como natural de muitas pragas agrícolas. Os ta-
uma fonte de moléculas e de mecanismos quinídeos apresentam uma ampla gama de
a ser explorada para o controle de pragas hospedeiros, desde insetos até lesmas. No
(BECKAGE; GELMAN, 2004). entanto, destacam-se no controle biológico
de diversas espécies de pragas por serem
econômico desse programa de controle em controle biológico, merecendo maior família Encyrtidae, foram os do minador-
biológico, para a cultura do trigo no Brasil, destaque no Brasil as famílias Aphelinidae, dos-citros, P. citrella, e o da cochonilha-
foi estimado em US$40 milhões/ano, pela Eulophidae, Encyrtidae e Trichogrammati- da-mandioca, Phenacoccus herreri Cox
diminuição da aplicação de inseticidas dae. Os afelinídeos são eficientes parasitoi- & Williams. P. citrella é uma importante
químicos (SALVADORI; SALLES, 2002). des de Hemiptera (Sternorrhyncha), como praga do citros e tem origem na Ásia. No
Estes parasitoides também foram encontra- pulgões, cochonilhas e moscas-brancas. Os Brasil, foi controlada pela introdução, em
dos em várias outras espécies de pulgões- dois primeiros casos de sucesso de controle 1998, do encirtídeo Ageniaspis citricolla
pragas em outras culturas agrícolas, o que, biológico clássico no Brasil foram com Logvinovskaya, de origem asiática e
sem dúvida, aumenta o impacto econômico afelinídeos. O primeiro foi o da cocho- proveniente da Flórida. Esta espécie de
desse programa de controle biológico no nilha-do-pessegueiro, Pseudaulacaspis parasitoide foi escolhida, pelo seu grande
País (STARÝ et al., 2007). pentagona (Targ-Tozz), pela introdução sucesso na Austrália e, posteriormente, na
O programa de controle biológico da do afelinídeo Prospaltella (= Encarsia) Flórida. A. citricolla passou a ser a espécie
broca-da-cana-de-açúcar, D. saccharalis, berlesi (Howard), em 1921. O segundo dominante no Brasil, representando mais
por sua vez, é um exemplo de controle foi o do pulgão-lanígero-da-macieira, de 80% dos parasitoides encontrados sobre
biológico aumentativo com uso de um Eriosoma lanigerum (Hausmann), com a o minador-dos-citros e o principal fator
braconídeo. Esse programa ocupa hoje uma introdução do parasitoide Aphelinus mali de mortalidade desta praga (CHAGAS et
área de aproximadamente, 2,5 milhões de (Haldeman), em 1923. Os dois programas al., 2002). A cochonilha-da-mandioca é
hectares, na América Latina (LENTEREN; tiveram sucesso e mantêm as pragas sob originária do norte da América do Sul, e
BUENO, 2003). O braconídeo Cotesia controle até os dias de hoje (PARRA et al., seus inimigos naturais foram coletados na
flavipes (Cameron), de origem asiática, 2002). Além disso, na família Aphelinidae mesma região. As introduções dos encirtí-
foi introduzido no Brasil, oriundo de Tri- ainda se encontram dois gêneros de parasi- deos deram-se no período de 1994 a 1996.
nidad e Tobago, em 1974. O parasitoide toides com grande importância no controle Acerophagus cocois Smith e Aenasius
estabeleceu-se e hoje é criado em inse- biológico aumentativo, Encarsia, utilizado vexans (Kerrich) foram introduzidos no
tários comerciais e liberado anualmente principalmente no controle biológico de Brasil, oriundos da Venezuela, e Apoana-
de maneira inundativa em uma área de, moscas-brancas (LENTEREN; BUENO, gyrus diversicornis (Howard) originário
aproximadamente, 1,5 milhão de hectares, 2003) e Aphytis importante parasitoide da Colômbia. As populações de P. herreri
para o controle da broca-da-cana-de-açúcar de cochonilhas da família Diaspididae foram reduzidas em 50%, no segundo ano
(GARCIA et al., 2009). (SAMPAIO et al., 2008). após a introdução dos parasitoides e em
A superfamília Chalcidoidea (Fig. 3) é Os eulofídeos são importantes parasi- 70%-90% no terceiro ano (BENTO et al.,
composta por pequenas vespas, que muitas toides de larvas-minadoras, sendo agentes 2002). O programa de controle biológi-
vezes não têm mais do que poucos milíme- importantes de controle biológico do co do minador-dos-citros visou atender
tros. A maioria é de parasitoides ou hiper- minador-dos-citros, Phyllocnistis citrella um importante setor da agroindústria no
parasitoides, com algumas poucas espécies Stainton, e do bicho-mineiro-do-café, Sudeste brasileiro, maior exportadora
fitófagas. Várias famílias são importantes Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville). mundial de suco de laranja. Já o controle
Embora a ação desses parasitoides não biológico da cochonilha-da-mandioca
seja suficiente para manter as populações atendeu pequenos agricultores no Nordeste
dessas pragas abaixo do nível econômico, do Brasil. Esses dois exemplos ilustram
sua contribuição para a redução populacio- bem a abrangência econômica e social que
nal, principalmente do bicho-mineiro, tem pode ter o controle biológico clássico.
sido marcante (SAMPAIO et al., 2008). Os A família Trichogrammatidae é com-
encirtídeos apresentam destaque como pa- posta por parasitoides de ovos de Lepi-
rasitoides de cochonilhas. Um importante doptera. O gênero Trichogramma é o mais
Marcus Vinicius Sampaio
estimada em cerca de 1,5 milhão de hec- no controle biológico de percevejos da soja CONSIDERAÇÕES FINAIS
tares. Na América do Sul, a utilização de vem sendo empregada em várias partes do
Embora sejam encontrados exemplos
Trichogramma é realizada em uma área mundo. No Brasil, Corrêa-Ferreira (2002)
de sucesso, a utilização de parasitoides
de 1,2 milhão de hectares. Destaca-se a destaca o grande potencial de utilização de
no controle biológico de pragas no Brasil
Colômbia, com a liberação inundativa Trissolcus basalis (Wollaston) e Telenomus
está muito aquém de seu potencial. No-
periódica de Trichogramma em uma área podisi Ashmead como inimigos naturais
vos programas que visem a introdução
de, aproximadamente, 200 mil hectares de Nezara viridula (Linnaues) e Euchistus
de parasitoides devem ser encorajados. A
em algodão, soja, mandioca, tomate, heros (Fabricius), respectivamente, em
sorgo e cana-de-açúcar (LENTEREN; programas de controle biológico aumen- pesquisa científica tem progredido muito,
BUENO, 2003). No Brasil, Parra e Zucchi tativo na cultura da soja. o que cria a possibilidade de utilização de
(2004) destacam o uso com sucesso de muitos outros parasitoides para o controle
liberações inundativas de Trichogramma de pragas em diversas culturas agrícolas,
pretiosum Riley, para o controle de Tuta além da grande diversidade de parasitoides
absoluta (Meirick), em tomateiro, de que podem ser manejados por meio do
Alabama argilaceae, em algodoeiro, e controle biológico conservativo.
de Trichogramma atopovirilia Oatman O incremento do controle biológico
& Platner e T. pretiosum para o controle passa também por medidas governamentais
de Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) que promovam a sua utilização, princi-
em milho. palmente, pelo aumento da demanda de
Na superfamília Cynipoidea, destaca- produtos agrícolas livres de resíduos tó-
se a família Figitidae. Os figitídeos são pa- xicos. O avanço do uso de parasitoides no
rasitoides de larvas de moscas, encontrados Brasil é também limitado pela carência de
parasitando diversas espécies importantes taxonomistas. A maior parte das espécies
Marcus Vinicius Sampaio
de minadores-de-folhas e moscas-das-fru- de parasitoides do País está por ser descrita
tas. Em regiões tropicais, sua importância e a grande maioria por estudar o ponto
é grande em culturas como batata, feijão de vista biológico e ecológico. Uma vez
e tomate, e em diversas frutíferas, como atendidos os principais pontos necessários
goiaba e laranja (SAMPAIO et al., 2008). para o avanço do controle biológico no
Na família Figitidae, encontrou-se a espé- Figura 4 - Alloxysta fuscicornis (Harting)
(Hymenoptera: Figitidae) hi-
País, os parasitoides, com certeza, irão
cie Alloxysta fuscicornis (Harting) (Fig. 4), contribuir muito para a redução dos níveis
perparasitoide de pulgões
que é um importante hiperparasitoide de populacionais das espécies de insetos-pra-
pulgões, o qual causa sérias limitações no
ga no Brasil.
controle biológico natural do parasitoide
Diaeretiella rapae (M’Intosh) (Fig. 5)
sobre os pulgões das brássicas (BUENO; AGRADECIMENTO
SAMPAIO, 2009). Em levantamentos de,
aproximadamente, três anos na cidade de O autor agradece o apoio financeiro da
Uberlândia, foi possível observar que, em- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
bora D. rapae tenha grande potencial para de Minas Gerais (Fapemig) e o apoio do
controlar o pulgão-da-couve, Brevicoryne Conselho Nacional de Desenvolvimento
brassicae (Linnaeus), a ação do hiperpara- Científico e Tecnológico (CNPq), da Co-
sitoide A. brassicae diminui a efetividade ordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal
Marcus Vinicius Sampaio
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 4 1 - 4 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Resumo - O manejo integrado de pragas (MIP) tem como base o uso de várias es-
tratégias de controle, tais como: plantas resistentes, inseticidas seletivos aos inimigos
naturais, medidas culturais, uso de parasitoides, predadores e patógenos. O controle
biológico com entomopatógenos pode ser definido como o uso de fungos, vírus, bac-
térias, nematoides e protozoários no controle de pragas. Vários fungos são usados
em programas de controle biológico como Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e
Noumuraea rileyi. Dentre os baculovírus destacam-se os nucleopoliedrovírus (VPN) e
os granulovírus (VG). Entre as bactérias entomopatogênicas podem-se citar Bacillus
thuringiensis, Bacillus sphaericus, entre outras. Não há relatos no Brasil do uso de proto-
zoários em grande escala. Vários programas fazem uso de alguns entomopatógenos,
mas o porcentual ainda é pequeno perto do potencial de controle promovido por estes
agentes.
Eng o Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas - MG. Correio eletrônico:
1
valicent@cnpms.embrapa.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
relativa e da temperatura. Os esporos fún- anisopliae. O fungo é aplicado de forma 2% dos frutos broqueados (NEVES et al.,
gicos, que podem ser transportados pelo inoculativa ou inundativa, utilizando-se 2006). Normalmente, são usados entre
vento e pela água, devem entrar em contato uma dosagem mínima de 1 x 1012 conídios/ 1 x 1012 e 2 x 1012 conídios em 200 a
com o hospedeiro para causar infecção. Os ha, o que corresponde a aproximadamente 400 L/ha. A calda deve atingir os pontos
principais fungos entomopatogênicos usa- 20 g de conídios puros, pulverizados com da planta com maior concentração da
dos em programas de controle biológico 200 a 300 L de água/ha. broca. Este fungo tem sido muito usado
no Brasil são: Metarhizium anisopliae e em plantios orgânicos de café e já atinge
Beauveria bassiana. Vale ressaltar fungos Cupins-de-montículo e da
cerca de mil hectares.
de ocorrência natural como Nomuraea cana-de-açúcar
Os fungos também podem ser usados
rileyi. Este fungo provoca epizootias na Os cupins do gênero Cornitermes em iscas atrativas, no controle do perce-
lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, alimentam-se das plantas e constroem ni- vejo-de-renda em seringueira e pragas em
desde que as condições ambientais sejam nhos nas pastagens, dificultando os tratos cultivos protegidos.
favoráveis ao desenvolvimento do fungo, culturais mecanizados. Vários trabalhos
entre 26oC e 27oC, e umidade relativa aci- comprovaram a eficácia dos fungos M. PROTOZOÁRIOS
ma de 60% (ALVES et al., 2008). anisopliae e B. bassiana. Usa-se a estra-
Os protozoários são um grupo diverso e
tégia inundativa e a aplicação é feita com
Controle biológico com heterogêneo de microrganismos eucarion-
fungos entomopatogênicos uma polvilhadora, de 3 a 6 g de conídios
tes unicelulares. Ao contrário dos outros
no Brasil puros ou de 6 a 12 g da formulação pó
entomopatógenos, poucos protozoários
seco. O produto deve ser introduzido no
Os principais programas de controle possuem alta virulência ou ação rápida
ninho por meio de um orifício feito com
biológico com fungos entomopatogêni- nos hospedeiros invertebrados (GARCÍA
uma barra de ferro, até o seu centro. O
cos no Brasil são relatados por Alves et et al., 2008). A maioria das espécies produz
importante é uma boa distribuição do
al. (2008) e algumas considerações são infecções crônicas caracterizadas por uma
produto dentro do ninho.
apresentadas a seguir. debilidade geral do inseto, matando seus
Gafanhotos hospedeiros lentamente. As pesquisas
Cigarrinhas-da-cana-de-
indicam que poucos protozoários ento-
açúcar As principais espécies de gafanhotos
mopatogênicos apresentam potencial para
As cigarrinhas Mahanarva posticata e existentes no Brasil são: Schistocerca
o uso em programas de MIP (GARCÍA
M. fimbriolata são importantes pragas da pallens, Stiphra robusta e Rhammatocerus
et al., 2008). Além do controle de alguns
cana-de-açúcar no Brasil, que causam pre- schistocercoides. Ocorrem nas Regiões
insetos-praga, os protozoários podem-se
juízos econômicos que chegam a 11% na Centro-Oeste, Norte e Nordeste e infes-
tornar problema, como contaminantes em
produção e 15% no rendimento industrial, tam áreas de cultivo de cana-de-açúcar,
sistema de criação artificial de insetos.
nas Regiões Sudeste e Nordeste. O fungo pastagem e arroz. O fungo utilizado é o
M. anisopliae é aplicado nos estados de Metarhizium flavoride, isolado no País e NEMATOIDES
Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Gran- produzido em arroz pré-cozido. O produto
é aplicado em ultra baixo volume (UBV), Os nematoides podem ser encontrados
de do Norte e vários locais do Sudeste.
São aplicadas concentrações de 5 x 1012 usando-se de 2 a 3 L/ha, tendo como alvo em formulações comerciais nos Estados
conídios, ou seja, 500 g de conídios do ninfas recém-eclodidas. Foi comprovada a Unidos e na Europa, para o controle de
fungo/ha. O custo do fungo varia de US$ eficiência de campo para as concentrações pragas de solo. Informações detalhadas
10 a US$ 20 e as aplicações são efetuadas de 5 x 1012 a 2 x 1013 conídios/ha. sobre nematoides entomopatogênicos e
via terrestre, com um gasto de 50 a 200 L seu uso no controle biológico de pragas
de água/ha. Broca-do-cafeeiro podem ser encontradas no artigo: controle
O café ocupa uma área de aproxi- biológico de pragas com nematoides, desta
Cigarrinhas-das-pastagens revista.
madamente 2,2 milhões de hectares. A
As cigarrinhas do gênero Mahanarva, broca-do-café Hypothenemus hampei é
Deois e Zulia são as principais pragas das VÍRUS
uma praga importante e encontra-se dis-
pastagens no Brasil e podem ocorrer em seminada em todas as regiões produtoras, Os baculovírus são o grupo mais co-
até 10 milhões de hectares. Podem reduzir atacando frutos. O patógeno B. bassiana mum e mais estudado dentre os grupos de
a massa verde em até 15%. Esse grupo de pode ser pulverizado sobre toda a planta, vírus entomopatogênicos. Isto deve-se ao
insetos também é suscetível ao fungo M. quando a infestação atinge entre 1% e fato de que são os vírus com o maior poten-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
cial a ser usado como agentes de controle uma proteína básica e forma um “core” ci- Vírus (ICTVdB, 2006) e está representada
biológico de pragas, sendo conhecidos líndrico. O gênero VPN é caracterizado por esquematicamente na Figura 2. As Figuras
mais de 20 grupos de vírus patogênicos a possuir dois subgêneros: “Vírus de Simples 1D e 1E ilustram tecidos de Spodoptera
insetos (Martignoni; Iwai, 1986). Nucleocapsídeo” (SNPV), onde apenas frugiperda infectados experimentalmente
Os baculovírus pertencem à família um capsídeo é encontrado por envelope, e por um nucleopoliedrovírus.
Baculoviridae. Essa família é composta de aqueles chamados “Vírus de Múltiplos Nu- A oclusão das partículas virais em
vírus com uma simples fita dupla circular cleocapsídeos” (MNPV), nos quais vários matriz proteica é uma característica extre-
de DNA, que infecta um grande número nucleocapsídeos são encontrados em um mamente importante, pois é o que garante
de artrópodes e contém os gêneros: nucle- envelope comum (Fig. 1A e 1B). Os VGs proteção e possibilita a transmissão hori-
opoliedrovírus (VPN) e granulovírus (VG). possuem apenas um capsídeo por envelope, zontal do vírus, isto é, de um inseto para
Todos os baculovírus têm uma mesma as oclusões virais são na forma de grânulo, outro (Blissard; Rohrmann, 1990).
estrutura básica: um capsídeo coberto de contendo um e raramente dois ou mais vi- As oclusões virais, portanto, são estruturas
forma arredondada. O nucleocapsídeo é rions por grânulo (Fig. 1C) (Hunter-Fu- de resistência e permitem que os vírus man-
um “core” cilíndrico de DNA e proteína. jita et al., 1998). Essa divisão da família tenham a infectividade mesmo fora do hos-
Dentro do nucleocapsídeo, a fita dupla de Baculoviridae segue a classificação atual pedeiro (Hunter-Fujita et al., 1998).
DNA associa-se heterogeneamente com do Comitê Internacional de Taxonomia de Além disso, é o que permite a obtenção de
Vírion
Poliedrina Grânulo
Poliedros
Capsídeo
A B C
Vírion
Poliedro
Núcleo
Fotos: Elliot W. Kitajima
Núcleo
D E
Figura 1 - Micrografia eletrônica de tecido de lagartas-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, infectadas experimentalmente
NOTA: Figura 1A e Figura 1B - Infecção por um isolado de nucleopoliedrovírus (MVPN), podendo-se observar os poliedros, os
vírions e a matriz proteica de poliedrina. Nota-se que vários nucleocapsídeos estão envoltos por uma membrana comum.
Figura 1C - Granulovírus (VG), onde se observa apenas um capsídeo por envelope proteico. Figura 1D e Figura 1E - Tecidos
infectados por nucleopoliedrovírus, podendo-se observar células contendo em seus núcleos vírions e poliedros.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
A sala de criação do inseto hospedeiro mosquitos transmissores da dengue e da aos mamíferos. Outra vantagem é a es-
sadio deve ficar separada fisicamente febre amarela. pecificidade em relação aos insetos-praga
do local de infecção com o baculovírus das diferentes culturas. A nomenclatura
e do local das coletas de larvas mortas. Bacillus thuringiensis até 1998 abrangia cinco genes principais:
A separação é importante, para que não O B. thuringiensis (Bt) é uma bactéria cryI, cryII, cryIII, cryIV e cryV. Hoje, pelo
ocorra contaminação indesejada dos in- gram-positiva, que pode ser caracterizada grande número de genes que são estudados
setos sadios. pela sua habilidade de formar cristais pro- e sequenciados, usam-se números arábicos:
teicos durante a fase estacionária e/ou de cry1, cry2, cry3, cry4… até cry51. Os
BACTÉRIAS esporulação. O Bt ocorre naturalmente em genes cry1, cry2 e cry9 são específicos
diversos habitats incluindo solo, filoplano, em relação aos lepidópteros, cry2, cry4A,
O gênero Bacillus constitui um grupo cry10, cry11, cry17, cry19, cry24, cry25,
resíduos de grãos, poeira, água, matéria ve-
homogêneo de bactérias em forma de cry27, cry29, cry30, cry32, cry39 e cry40
getal e insetos. O cristal proteico também
bastonete, aeróbicas e que produzem es- são ativos contra dípteros e, cry3, cry7 e
chamado deltaendotoxina possui proprie-
poros. Em Bacillus são encontradas várias cry8 contra coleópteros, cry5, cry12, cry13
dades inseticidas específicas. Esse cristal
espécies, dentre as quais alguns sorovares e cry14 são ativos contra nematoides.
proteico é responsável por 20%-30% da
são entomopatogênicos e letais para de- proteína total da célula (Boucias; Pen- Diante do grande número de coleções de
terminados insetos-praga, principalmente dland, 1998) e pode ter várias formas Bt no mundo, as sequências gênicas de Bt
para as ordens Lepidoptera, Diptera e Co- tais como: bipiramidal (Fig. 5), esférico, podem ser encontradas na internet2.
leoptera. Bacillus thuringiensis e Bacillus retangular, cuboide (Fig. 6) e irregular. Estimam-se mais de 60 mil cepas de
sphaericus são ativos contra vários dípte- A degradação dos cristais proteicos por Bt em todo o mundo, e este patógeno vem
ros, sendo que o B. thuringiensis sorovar enzimas proteolíticas libera proteínas tóxi- sendo usado como bioinseticida há déca-
israelensis (Bti) é tóxico para mosquitos cas menores, chamadas deltaendotoxinas. das (Glare; O´Callaghan, 2000).
(Culicidae) e borrachudos (Simuliidae). A atividade das deltaendotoxinas estão Atualmente, mais de 200 genes específicos
São vários os programas de controle restritas ao trato digestivo dos insetos. Este que produzem deltaendotoxina são conhe-
biológico no Brasil que usam Bacillus patógeno é ativo contra várias espécies de cidos, embora não sejam muito eficientes
para o controle de dípteros, incluindo os insetos e considerado seguro em relação no controle da S. frugiperda.
2
Consultar o site: http://www.biols.susx.ac.uk/home/Neil_Crickmore/Bt/
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Figura 5 - Seta indica o cristal de forma bipiramidal da cepa 344 Figura 6 - Seta indica o cristal de forma cuboide da cepa 1644 de
de Bacillus thuringiensis em microscópio de varredura Bacillus thuringiensis em microscópio de varredura
FONTE: Valicente e Souza (2004). FONTE: Valicente e Souza (2004).
Os esporos bacterianos dormentes são de Microbiologia e Genética da Universi- entretanto, é necessário certificar se toda
extremamente resistentes e capazes de so- dade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) a cultura foi bem pulverizada e usar espa-
breviver sob condições desfavoráveis por e pelo Laboratório de Patologia e Controle lhante adesivo, pois este otimiza a persis-
um longo período. Entretanto, é raramente Microbiano de Insetos da Escola Superior tência do produto na planta.
encontrado na natureza, causando epizoo- de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq),
tia em populações de insetos. da Universidade de São Paulo (USP), REFERÊNCIAS
dentre outros.
ALMEIDA, A.F. Avaliação preliminar da
Produção comercial viabilidade de produção in vitro de um
CONSIDERAÇÕES NA APLICAÇÃO isolado brasileiro de baculovírus Spodop-
A produção industrial de Bt é realizada
DE BIOPESTICIDAS OU INSETICIDAS tera frugiperda MNPV. 2005. 97p. Disser-
por grandes companhias, que dominam o
MICROBIANOS tação (Mestrado) - Universidade Federal do
mercado mundial. Mas há produção em Rio Grande do Norte, Natal.
pequena escala que favorece o desenvol- Armazenar os bioinseticidas em locais ALVES, S.B.; LOPES, R.B.; VIEIRA, S.A.;
vimento de tecnologia e um produto mais frescos e secos, sem luz, para uma melhor TAMAI, M.A. Fungos entomopatogênicos
específico para o inseto-alvo que se deseja conservação da qualidade do produto. usados no controle de pragas na América
controlar. Deve-se ter cuidado com o con- Latina. In: _______; _______. (Ed). Contro-
Realizar a primeira pulverização assim
le microbiano de pragas na América Lati-
trole de qualidade e com a padronização que forem observados os primeiros sinais na:avanços e desafios. Piracicaba: FEALQ,
do produto final. Até o início da década de ataque das pragas, que pode ocorrer entre 2008. p.69-110.
de 90, somente três produtos estavam dis- os 5 e 15 dias após a germinação, variando BARRETO, M.R.; GUIMARAES, C.T.; TEI-
poníveis no mercado, todos à base de Bt conforme a região. Fazer o monitoramento XEIRA, F.F.; PAIVA, E.; VALICENTE, F.H.
kurstaki (Dipel, Thuricide e Bactospeine) corretamente, pois a primeira aplicação é Effect of baculovírus Spodoptera isolates in
(HABIB; ANDRADE, 1991). Hoje, no fundamental, já que quanto menor estiver a Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidop-
Brasil, é muito utilizado o Dipel, Thuri- tera: Noctuidae) larvae and their characteri-
lagarta, maiores serão as chances de contro-
zation by RAPD. Neotropical Entomology,
cide e XenTari, para o controle de várias le com os inseticidas microbianos. Londrina, v.34, n.1, p.67-75, Jan./Fev. 2005.
pragas, dentre elas: Alabama argillacea, Executar as pulverizações após às 16
BLISSARD, G.W.; ROHRMANN, G.F. Bacu-
A. gemmatalis, E. ello, Helicoverpa zea, horas, por causa da menor incidência de lovirus deversity and molecular biologig.
etc. Atualmente, este patógeno vem sendo raios ultravioletas. Adequar a vazão de Annual Review of Entomologiy, Palo Alto,
estudado pela Embrapa, pelo Laboratório acordo com a tecnologia do produtor, v.35, p.127-155, 1990.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Boucias, D.G.; Pedland, J.C. Principles ruses and pest management. New York: J. _______; Souza, I.R.P. Cultivo e preparo
of insect pathology. Boston: Kluwer Acade- Wiley, 1998. 632p. de Bacillus thuringiensis para microscopia
mic, 537p. 1998. eletrônica de varredura. In: CONGRESSO
ICTVdB Management. 00.006. Baculoviridae.
FEDERICI, B.A. Baculovírus pathogenesis. In: ICTVdB. The Universal Virus Database: NACIONAL DE MILHO E SORGO, 25.;
In: MILLER, L.K. (Ed.). The baculoviruses. version 3. New York: Columbia University, SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE A LA-
New York: Plenum, 1997. p.33-59. 2006. GARTA-DO-CARTUCHO, SPODOPTERA
FRUGIPERDA, 1., 2004, Cuiabá. Resumos...
_______. Naturally occurring baculoviru- MARTIGNONI, M.E.; IWAI, P.J. A catalogue Sete Lagoas: Associação Brasileira de Mi-
ses for insect pest control. In: HALL, F.R.; of viral diseases of insects, mites, and ti- lho e Sorgo: Embrapa Milho e Sorgo, 2004.
MENN, J.J. (Ed.). Methods in biotechno- cks. 4. ed. Portland, OR: USDA Forest Ser- p.146.
logy: biopesticides, use and delivery. New vice - Pacific Northwest Research Station,
York: Humana, 1999. v.5, p.301-320. 1986. 51p. (USDA. General Technical Re- _______; TUELHER, E.de S.; PAIVA, C.E.C.;
GARCÍA, J.J.; MICIELI, M.V.; MARTI, G.A.; port PNW-195). GUIMARÃES, M.R.F.; MACEDO, C.V.;
PELIZZA, S.A. Uso de protozoários entomo- WOLFF, J.L.C. A new baculovirus isolate
NEVES, P.M.O.J.; SANTORO, P.H.; SILVA,
patogênicos em programas de controle mi- that does not cause the liquefaction of the
R.Z. da. Utilização de Beauveria bassiana
crobiano nos países latino-americanos. In: integument in Spodoptera frugiperda dead
(Bals.) Vuill no manejo integrado da bro-
ALVES, S.B.; LOPES, R.B. (Ed.). Controle larvae. Revista Brasileira de Milho e Sorgo,
ca-do-café Hypothenemus hampei (Ferra-
microbiano de pragas na América Latina. Sete Lagoas, v.7, n.1, p.85-90, 2008.
ri) (Coleoptera: Scolytidae). In: VENZON,
Piracicaba: FEALQ, 2008. p. 203-214. M.; PAULA JUNIOR, T.J.de.; PALLINI, A. _______;_______; PENA, R.C.; ANDREAZZA,
Glare, T.R.; O’Callaghan, M. Bacillus (Coord.). Tecnologias alternativas para o R.; FELLET, M.R.; MACEDO, C.V.; GITZ, A.;
thuringiensis: biology, ecology and safety. controle de pragas e doenças. Viçosa, MG: WOLFF, J.L.C. The use of baculovirus to con-
Chichester: J. Wiley, 2000. 350p. EPAMIG-CTZM, 2006. p.137-158. trol fall armyworm, Spodoptera frugiperda,
GRANADOS, R.R.; FEDERICI, B.A. (Ed.). SCHMITT, A.T. Inimigos naturais do in Brazil. In: ANNUAL MEETING OF THE
The biology of baculoviruses. Boca Raton: Erinnyis ello da madioca. In: ENCONTRO SOCIETY FOR INVERTEBRATE PATHO-
CRC, 1986. v.1, 275p. NACIONAL DE FITOSSANITARISTAS, LOGY, 40., 2007, Quebec. Proceedings…
3.,1984, Florianópolis. Anais... Florianópo- Londres: Society for Invertebrate Pathology,
HABIB, M.E.M.; ANDRADE, C.F.S. de.
lis, 1984. p.201-208. 2007. v.1, p.61.
Controle microbiano de insetos com o
uso de bactérias. Informe Agropecuário. VALICENTE, F.H. Levantamento dos inimi- SZENCZYK, B.; HOYOS-CARVAJAL, L.; PA-
Controle biológico, Belo Horizonte, v.15, gos naturais de Spodoptera frugiperda (J. E. LUSZEK, M.; SKRZECZ, I.; SOUZA, M.L.
n.167, p. 26-32, 1991. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) em dife- de. Baculovírus-re-emerging biopesticides.
HAWTIN, R.E.; ZARKOWSKA, T.; AR- rentes regiões do estado de Minas Gerais. Biotechnology Advances, v,24, n.2, p.143-
NOLD, K.; THOMAS, C.J.; GOODAY, G.W.; Anais da Sociedade Entomológica do Bra- 160, Mar. 2006.
KING, L.A.; KUZIO, J.A.; POSSEE, R.D. sil, v.18, n.1, p.119-127, 1989. WOLFF, J.L.C.; VALICENTE, F.H.; MARTINS,
Liquefaction of Autographa californica nu- _______; BARRETO, M.R.B. Levantamento R.; OLIVEIRA, J.V.de C.; ZANOTTO, P.M.de
cleopolyhedrovirus-infected insects is de- dos inimigos naturais da lagarta do cartu- A. Analysis of the genome of Spodoptera
pendent on the integrity of virus-encoded cho do milho, Spodoptera frugiperda (J. E. frugiperda nucleopolyhedrovirus (SfMNPV-
chitinase and cathepsin genes. Virology, Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), na região 19) and of the high genomic heterogeneity
v.238, n.2, p.243-253, Nov. 1997. de Cascavel, PR. Anais da Sociedade En- in group II nucleopolyhedroviruses. Jour-
HUNTER-FUJITA, F.R.; ENTWISTLE, P.F.; tomológica do Brasil, Londrina, v.28, n.2, nal of General Virology, v. 89, n.5, p.1202-
EVANS, H.F.; CROOK, N.E. (Ed.). Insect vi- p.333-337, jun. 1999. 1211, 2008.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 4 8 - 5 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Resumo - O estudo dos nematoides associados a insetos é recente, mas vem-se apro-
fundando cada vez mais por causa do interesse de pesquisadores em todo o mundo e
da crescente busca de novos agentes do controle biológico. Atualmente, existem cerca
de 30 famílias de nematoides em diferentes associações com insetos, que podem ser
utilizados no controle biológico. Alguns exemplos desses nematoides são membros das
famílias Phaenopsitylenchidae (Tylenchida), Mermitidae (Stichosomida), Steinernema-
tidae e Heterorhabditidae (Rhabditida). Os membros destas duas últimas famílias são
também conhecidos como nematoides entomopatogênicos (NEPs), pois causam doença
e morte a diferentes espécies de insetos com grande rapidez (24 a 72 horas).
Eng a Agr a , Ph.D., Prof a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Laboratório Fitopatologia e Entomologia, CEP 28015-602
1
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
A B C
D E F
Figura 1 - Nematoides
FONTE: Eisenback e Zunke (1997).
NOTA: Figura 1A - Fitoparasita (Pratylenchus sp.). Figura 1B - Parasita de vertebrado (Ancylostoma caninum). Figura 1C - Parasita
de invertebrado (Mermis sp.). Figura 1D - Bacteriófago (Rhabditis sp.). Figura 1E - Micófago (Aphelenchoides hamatus).
Figura 1F - Predador (Mononchus sp.).
areolatum por várias gerações, sendo que colocado. Dessa forma, as vespas auxiliam misturados à gelatina a 10%. Cada tronco
a fase micófaga possui morfologia total- na dispersão dos nematoides (IEDE et al., de árvore recebe 20 mL de gelatina com
mente diferente da fase parasita (Fig. 2) 2003). nematoides, o que corresponde a cerca
(BEDDING, 1968). Somente na fase mi- de 1 milhão de nematoides (informação
Controle verbal)2.
cófaga juvenil, os nematoides conseguem
perceber a presença da larva da vespa, A aplicação de nematoides é feita en- A eficiência desse agente de controle
para se transformarem em parasitas. Os tre março e julho, logo após o período de biológico pôde ser atestada por avaliações
fatores que induzem a mudança para a fase oviposição da vespa. Antes da aplicação realizadas na temporada de 2000/2001,
parasita são alto nível de CO2 e baixo pH. dos nematoides, árvores com sintomas são em nove locais de Santa Catarina. Em um
Após algumas ecdises, tornam-se fêmeas e selecionadas, ou seja, árvores com a copa desses locais, o índice de parasitismo foi
machos pré-parasitas e copulam. A fêmea amarelada, com respingos de resina no de 65%, em outros dois, 77% e 80,5%,
já fecundada (infectante) penetra na larva tronco e com ausência de orifícios de emer- enquanto nos seis restantes, foi acima de
da vespa, utilizando seu estilete para per- gência. As árvores que apresentam pelo 91% (IEDE et al., 2003).
furar a cutícula. Em geral, cerca de 5 a 20 menos um desses sintomas são marcadas
Mermitidae (Stichosomida:
fêmeas infectantes penetram em cada larva e cerca de 20% delas recebem a aplicação
Adenophorea)
de vespa. Dentro do inseto, a alimentação do nematoide. Antes dessa aplicação, as
árvores são derrubadas e perfurações de Existem cerca de 60 gêneros e 400
do nematoide é transcuticular e seu apare-
1 cm de profundidade são feitas com um espécies na família Mermitidae�����������
���������������������
. A identi-
lho digestivo atrofia-se (NICKLE, 1984).
martelo de ponta, a cada 30 cm. ficação das espécies é feita com base em
Durante a pupação da vespa, os nematoides
Como possui fase micófaga, o nema- caracteres morfométricos dos juvenis e
migram para as gônadas e depositam seus
toide cresce em laboratório, alimentando- adultos. Esses nematoides são conside-
ovos nos ovários das fêmeas da vespa, es-
se de hifas do fungo. Os nematoides são, rados como “verdadeiros” parasitas obri-
terilizando-os. Cerca de 100 a 200 juvenis
então, separados do fungo por lavagens e gatórios, pois são apenas cultiváveis no
de nematoides eclodem por ovo de vespa
próprio hospedeiro. Já foram encontrados
em inúmeros artrópodos como insetos (15
ordens), aracnídeos, crustáceos, carrapatos,
Ciclo Micófago Ciclo Parasita lesmas, dentre outros. Como características
Ausência da larva da Presença da larva da
marcantes dessa família têm-se: o compri-
vespa-da-madeira vespa-da-madeira mento distinto (40 a 400 mm), o fato de
serem prolíficos (até 1 milhão de ovos/fê-
Fêmea micófaga Juvenil mea), a alimentação ser transcuticular, a
Fêmea infectante
formação de trofossoma e esticócitos ao
invés de possuírem esôfago e intestino e
cópula cópula a degeneração da abertura oral e do ânus
A (KAISER, 1991).
Em termos didáticos, pode-se dividir
100 µm
esta família em mermitídeos terrestres e
Alimentação no fungo Penetração na larva.
aquáticos.
Amylostereum Oviposição no ovário do
areolatum inseto fêmea
Mermitídeos terrestres
Os mermitídeos terrestres são nema-
toides que parasitam insetos terrestres
principalmente das ordens Orthoptera e
B
Coleoptera. Os insetos são parasitados
Figura 2 - Ciclos micófago e parasita do nematoide Beddingia siricidicola por meio da ingestão dos ovos, que pos-
FONTE: Bedding (1968). suem juvenis formados em seu interior.
NOTA: A - Fêmea infectante, presença de um forte estilete; B - Fêmea micófaga com Esses ovos são colocados sobre as folhas
estilete fraco. e ingeridos pelos insetos como alimento.
2
Informação concedida, em 2006, por Edson T. Iede, pesquisador da Embrapa Florestas.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Logo após a ingestão, os ovos rompem-se tração. Dentro do mosquito, instalam-se no visando à produtividade, mas levando em
e liberam os juvenis que migram para a tórax do inseto e quando atingem o quarto conta fatores importantes como a preser-
hemolinfa do inseto. Na hemolinfa, os estádio, emergem do hospedeiro, causando vação dos inimigos naturais e a prevenção
nematoides promovem uma competição sua morte (KAISER, 1991). do surgimento de resistência em pragas e
severa por nutrientes, o que resulta em O ciclo de vida dos mermitídeos aquá- doenças.
atrofia do tórax e abdômen, comprometi- ticos não é tão longo como o dos terrestres O espectro de hospedeiros para cada
mento de órgãos (músculos, asas, ovários, e dura no máximo seis meses. Os ovos espécie de nematoide é pequeno e bem es-
ovos sem vitelo), alterações nos padrões de só eclodem quando há estímulo, ou seja, pecífico. Não causa, portanto, mortalidade
desenvolvimento de insetos sociais (formi- quando existem hospedeiros presentes. indiscriminada. Um pequeno espectro de
gas) e alterações de comportamento para Assim, os ovos podem permanecer no hospedeiros significa que se precisa esco-
descarga dos nematoides (insetos mudam fundo da poça ou lagoa por até seis meses e lher o NEP mais adequado ao controle de
trajeto). O hospedeiro, em geral, não morre são considerados estruturas de resistência. uma dada praga.
por ter os nematoides, mas sim quando Os nematoides no segundo estádio podem
estes precisam deixá-lo para reproduzirem ficar nadando à procura do hospedeiro por Biologia da família
Steinernematidae
no meio ambiente. Os juvenis, no quarto três a quatro dias (MAGGENTI, 1981).
estádio, deixam o hospedeiro para se tor- O ciclo de vida destes nematoides inclui
narem adultos, copularem e ovipositarem NEMATOIDES três fases de desenvolvimento: ovo, juvenil
novamente nas folhas. Possuem ciclos de ENTOMOPATOGÊNICOS e adulto (fêmeas e machos). A fase juvenil é
vida longos (1 a 4 anos) e somente a fase Nematoides entomopatogênicos composta por quatro estádios (J1, J2, J3 ou
juvenil é encontrada no hospedeiro. Para (NEPs) pertencem à ordem Rhabditida juvenil infectante (JI) e J4). O JI é o estádio
sobreviverem, os adultos migram para (Nematoda: Secernentea), em que estão do nematoide encontrado no solo. Estes
locais protegidos e úmidos. Sob condições localizadas as famílias Steinernematidae e juvenis buscam o hospedeiro e os localizam
ótimas ocorre a reativação das fêmeas, sua Heterorhabditidae. A família Steinernematidae pelos produtos de excreção, níveis de CO2
migração para parte superior das gramíneas possui dois gêneros: Steinernema Travas- e gradientes de temperatura. A infecção é
e a postura dos ovos, que são relativamente sos e Neosteinernema Nguyen & Smart, iniciada com a penetração dos nematoides
resistentes à dessecação e à incidência de enquanto a família Heterorhabditidae possui pelas aberturas naturais (boca, ânus ou
raios ultravioleta. Como exemplos citam- o gênero Heterorhabditis Poinar. Atualmen- espiráculos). Dentro do inseto migram
se as espécies Mermis nigrescens Dujardin te, existem descritas e validadas cerca de 43 para a hemolinfa e liberam suas bactérias
e Agamermis decaudata Cobb,����������������
Steiner & espécies do gênero Steinernema, uma do simbiontes do gênero Xenorhabdus. Estas
Christie����������������
(KAISER, 1991). gênero Neosteinernema e nove do gênero bactérias produzem toxinas e matam o
Heterorhabditis, sendo que mais de 70% hospedeiro por septicemia em 24 a 48
Mermitídeos aquáticos horas. Depois começam a se multiplicar
delas foram descritas nos últimos 20 anos
Os mermitídeos aquáticos são nema- (ADAMS; NGUYEN, 2002) (Quadro 1). e, posteriormente, os JIs alimentam-se
toides que parasitam preferencialmente Os NEPs são assim conhecidos por cau- delas e dos tecidos por elas decompostos,
larvas de mosquitos, encontradas em águas sarem doença e morte a diferentes espécies passando então para o estádio J4. Deste es-
limpas e paradas. Por isso, podem ser de insetos com grande rapidez (24 a 72 tádio sairão fêmeas e machos (fase adulta)
considerados como agentes potenciais de horas). Esses nematoides possuem uma par- da primeira geração; estas fêmeas colocam
controle biológico para vetores de doenças ticularidade que é a associação simbionte ovos que darão origem à segunda geração
humanas, como a dengue, a febre amarela com bactérias entomopatogênicas dos gêne- (FORST; CLARKE, 2002) (Fig. 3).
e outras. ros Xenorhabdus e Photorhabdus (associa- Os nematoides podem ter duas ou três
Os juvenis pré-adultos (quarto estádio) ção com espécies dos gêneros Steinernema gerações dentro do hospedeiro, dependen-
emergem do hospedeiro, fazem ecdise e e Heterorhabditis, respectivamente). Essas do da disponibilidade de alimento. Quando
transformam-se em adultos. Estes copulam bactérias são as principais responsáveis pela este se exauri, juvenis no terceiro estádio
e ovipositam na água. Cada fêmea pode morte rápida do hospedeiro por septicemia. retêm células da bactéria em seu interior
colocar cerca de 1.300 a 4.500 ovos. Destes Os juvenis infectantes desses nematoides e abandonam o cadáver como JIs. Estes
ovos emergem juvenis, que, no segundo infectam e matam insetos em dezenas de or- permanecem no solo à procura de um novo
estádio, buscam novos hospedeiros e os dens e famílias, e muitas espécies já fazem inseto hospedeiro, por meses, dependendo
penetram ativamente pela cutícula. Nema- parte do manejo integrado de pragas (MIP) da temperatura, da umidade do solo e da
toides nesse estádio são providos de um de várias culturas (WOUTS, 1991). O MIP espécie de nematoide envolvida (PATEL
pequeno estilete que os auxiliam na pene- objetiva utilizar métodos mais adequados, et al., 1997).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
O ciclo do Neosteinernema é similar Biologia da família algumas ressalvas. Os JIs dessa família
ao do Steinernema, com a diferença Heterorhabditidae penetram tanto pelas aberturas naturais,
de que no primeiro só há uma geração quanto pela cutícula do inseto hospedeiro,
no hospedeiro (NGUYEN; SMART, O ciclo dos Heterorhabditídeos é muito utilizando um dente quitinoso localizado
1994). semelhante ao dos Steinernematídeos, com frontalmente em sua extremidade anterior.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Juvenis infectantes/(J3)
Penetração
Inseto-hospedeiro
Steinernematidae
J4 Ovo
Desenvolvimento
J2 J1
J3 2-3 gerações
Figura 3 - Ciclo de vida dos nematoides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabditis
FONTE: Dolinski e Moino Junior (2006).
NOTA: Figura publicada com permissão da Nematologia Brasileira.
Chegam à hemolinfa e liberam bactérias Como os nematoides entomopatogêni- crorganismos oportunistas. Produzem
do gênero Photorhabdus. Na primeira cos têm potencial para ser encontrados em também pigmentos que dão aos cadá-
geração, dentro do inseto, ao invés de apa- solos de diferentes lugares, recomenda-se veres hospedeiros cores características.
recerem fêmeas e machos, ocorrem apenas que, antes de qualquer introdução, seja Por exemplo, cadáveres infectados pelo
adultos hermafroditas que produzem os feita uma amostragem local ou de maior complexo Heterorhabditis - Photorabdus
demais estádios (ovos, J1, J2, J3 e J4). Na amplitude, visando obter a maior variabi- adquirem cores avermelhadas ou alaran-
segunda geração, os adultos diferenciam-se lidade de nematoides possível para uma jadas e são bioluminescentes; enquanto
em machos e fêmeas (POINAR JUNIOR, futura aplicação no campo. que cadáveres infectados pelo complexo
1990) (Fig. 3). Steinernema – Xenorhabdus adquirem
Sintomatologia e sinais cores que variam de creme a pardo-es-
de infecção
Biogeografia curas, sem apresentar bioluminescência
Insetos infectados por NEPs exibem (BOEMARE, 2002).
As espécies dos gêneros Steinernema sintomas específicos, causados prin- Essas bactérias não sobrevivem no
e Heterorhabditis são encontradas em cipalmente pelas bactérias simbiontes meio ambiente, por isso precisam dos
uma grande diversidade de áreas geográ- associadas àqueles. Estas bactérias são nematoides como proteção e meio de
ficas, solos e ambientes, e são adaptadas específicas para cada espécie de nema- transporte. Por outro lado, tais nematoides
co-evolutivamente a um grande número toide. Produzem toxinas, que causam beneficiam-se do alimento provido pelas
de insetos hospedeiros (WOODRING; a morte do inseto, e antibióticos que bactérias (FORST; CLARKE, 2002). Nos
KAYA, 1988). impedem o crescimento de outros mi- heterorabditídeos, as bactérias localizam-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
se na parte anterior do intestino (CICHE; introduzidos, multiplicados e comercializa- estado do Rio de Janeiro, essa praga é con-
ENSIGN, 2003). Nos JIs do gênero dos sem nenhum critério (informação ver- siderada primária nos plantios de goiaba,
Steinernema, as células bacterianas estão bal)3. Isto resultou em muitas críticas por pois atinge até 80% da lavoura. As fêmeas
apreendidas em uma vesícula localizada parte de alguns pesquisadores, e em 1988, deste inseto colocam os ovos nos frutos
no intestino (MARTENS; GOODRICH- Nickle et al. (1988) propuseram um guia ainda verdes. Nos locais de oviposição,
BLAIR, 2005). para introdução de nematoides entomopa- formam-se depressões escuras que se tor-
togênicos. Posteriormente, uma legislação nam sintomas característicos desta praga.
Mobilidade sobre a introdução de espécies exóticas foi Os ovos eclodem após três a quatro dias e o
Quanto à movimentação, nematoides estabelecida (RIZVI et al., 1996). fruto desenvolve-se, assim como as larvas
entomopatogênicos podem ser classifica- Enquanto essas discussões ocorriam dentro dele. Quando o fruto amadurece e
dos como ambusher ou cruiser. As espécies nos Estados Unidos, na Europa um co- cai, as larvas maduras abandonam o fruto
ambusher promovem uma movimentação mitê foi criado para analisar o caso dos e ficam no solo por, aproximadamente, 142
própria chamada nictação, que consiste nematoides entomopatogênicos, prevendo dias. A fase pupal dura em média 16 dias e
na suspensão do corpo, que fica apoiado problemas associados com a introdução os adultos mantêm-se inativos no solo por
de nematoides exóticos. Concluíram que mais 34 dias, quando então sobem para a
apenas na ponta da cauda. A parte anterior
as evidências científicas suportavam a copa das árvores para copular e colocar
do nematoide fica livre, aguardando a
premissa de que os nematoides entomo- novos ovos. Atualmente, não há produtos
passagem de um hospedeiro para então
patogênicos são inócuos, e poucos riscos químicos registrados para o controle dessa
saltar sobre este. Exemplos de nematoides
praga.
entomopatogênicos que fazem nictação: foram identificados. Recomendaram que
Estudos com nematoides entomopato-
S. carpocapsae e S. scapterisci (LEWIS os nematoides não precisariam de regis-
gênicos contra o gorgulho-da-goiaba vêm
et al., 1993). Os nematoides cruiser não tro, mas que a introdução dos não nativos
sendo realizados na Universidade Estadual
aguardam a passagem do hospedeiro, mas fosse regulamentada. O comitê também
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, em
buscam-no ativamente no solo, respon- concluiu que nematoides entomopatogê-
Campos dos Goytacazes, RJ, desde 2002,
dendo positivamente aos seus voláteis. nicos são organismos benéficos, os quais
em associação com produtores de goiabas
Deslocam-se a uma certa distância até vêm sendo usados há anos sem causar
de Cachoeiras de Macacu. Diferentes ne-
localizá-lo (resposta direcional), como é o problemas, e são mais específicos e cau-
matoides foram testados contra larvas no 4o
caso de espécies como H. bacteriophora e sam menos ameaça ao ambiente do que os
instar, onde os nematoides H. indica Hom1
S. glaseri (ISHIBASHI; KONDO, 1990). pesticidas (EHLERS; HOKKANEN, 1996;
e H. baujardi LPP7 causaram 85% e 80%,
Existem espécies de NEPs que apresentam RICHARDSON, 1996).
respectivamente, de mortalidade de larvas
características tanto de ambrushers, como Com relação aos vertebrados, inúmeros em placas de Petri com areia, a uma con-
de cruisers, de acordo com a proximidade nematoides foram testados contra diversas centração de 100 JIs por placa. Quando tes-
ao hospedeiro, como é o caso de S. feltiae espécies, desde peixes até macacos. So- tados em coluna de areia, esses nematoides
(GREWAL et al., 1994). mente os girinos mostraram-se suscetíveis, mostraram-se eficientes em encontrar as
quando nematoides foram adicionados larvas dos insetos e causaram mortalidade
Legislação e à água onde estavam. Akhurst e Smith em 70% das larvas testadas na concentra-
regulamentação (2002) acreditam que as dosagens usadas ção de 500 JIs por coluna (DOLINSKI et
A alta demanda de nematoides ento- nos girinos foram absurdamente altas e que al., 2006). Testes no campo, adicionan-
mopatogênicos nos Estados Unidos, na outras deveriam ser testadas. do seis lagartas de Galleria mellonella
década de 80, levou muitos grupos de pes- (Lepidoptera: Pyralidae), infectadas com
quisadores, em vários países do mundo, a Controle do gorgulho-da-
H. baujardi LPP7, por 0,25 cm2, mostraram
goiaba: um caso de estudo
isolarem novas espécies e linhagens. Estas maior mortalidade das larvas do gorgulho
amostragens e isolamentos expandiram O gorgulho-da-goiaba (Conotrachelus em relação à testemunha. Foi observado
enormemente o germoplasma de nema- psidii Marshal) (Coleoptera: Curculio- também que os nematoides conseguem
toides entomopatogênicos disponíveis nidae) está distribuído pelas Américas e permanecer no solo por até dois meses e
para pesquisa, e o risco da introdução de causa grandes prejuízos, pois afeta direta- locomover-se a distâncias de 80 cm (DEL
nematoides exóticos foi aumentado. Espe- mente a qualidade dos frutos, tornando-os VALLE et al., 2008). Verificou-se, ainda,
cificamente para o controle de pragas, os impróprios tanto para o consumo in natura que os nematoides podem ser adicionados
nematoides S. scapterisci e S. feltiae foram como para a indústria. No noroeste do na água de irrigação e apesar da pressão
3
Informação concedida, em 2007, por Ramon Georgis da Thermo Trilogy Corp. Columbia, MD, EUA.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
e da turbulência que sofrem dentro das na área a ser aplicada. Além disso, os nidae), in laboratory and greenhouse expe-
mangueiras de irrigação, não são afetados nematoides exóticos devem ser aplicados riments. Biological Control, v.38, n.3,
p. 422-427, Sept. 2006.
e conseguem buscar e infectar os insetos no local.
normalmente (LARA et al., 2008). _______; MOINO Junior, A. Utilização de
Estudos com nematoides como agentes
nematoides entomopatogênicos nativos ou
Com esses resultados promissores, do controle biológico, no Brasil, estão no exóticos: o perigo das introduções. Nema-
espera-se que o controle biológico do gor- início. Existe um grande potencial para que tologia Brasileira, v.30, n.2, p.139-149, ago.
gulho-da-goiaba com NEPs seja incluído estes estudos avancem e tornem os nema- 2006.
como uma estratégia no (MIP) da cultura toides agentes populares controladores de Ehlers, R.U.; Hokkanen, H.M.T. In-
da goiaba, no estado do Rio de Janeiro e no pragas e vetores. sect biocontrol with non-endemic entomo-
Brasil. Assim, atende-se o objetivo princi- pathogenic nematodes (Steinernema and
pal do MIP, que é manter a população de Heterorhabditis spp.): conclusions and re-
REFERÊNCIAS
commendations of a combined OECD and
insetos-praga abaixo do nível de dano eco-
AdamS, B.J.; Fodor, A.; KOPPENHÖFER, COST workshop on scientific and regula-
nômico, sem causar problemas ao homem H.S.; Stackebrandt, E.; Stock, S.P.; tory policy issues. Biocontrol Science and
ou ao ambiente, por meio da associação Klein, M.G. Biodiversity and systematics Technology, v. 6, n.3, p. 295-302, 1996.
de métodos como o biológico (nematoides of nematode-bacterium entomopathogens. EISENBACK, J.D.; ZUNKE, U. (Ed.). Ne-
entomopatogênicos) e o cultural (recolhi- Biological Control, v. 37, n. 1, p. 32-49, Apr. mapix: a journal of nematological images.
mento dos frutos ainda verdes com marcas 2006. Blacksburg, VA, EUA: Mactode, 1997. v.1.
de oviposição), em detrimento a métodos _______. NGUYEN, K.B. Taxonomy and sys- 1 CD-ROM.
tematics. In: GAUGLER, R. (Ed.). Entomo-
tradicionais como o químico. Forst, S.; Clarke, D. Bacteria-nematode
pathogenic nematology. New York: CABI,
symbiosis In: Gaugler R. (Ed.). Entomo-
2002. p.1-34.
CONSIDERAÇÕES FINAIS pathogenic nematology. Boca Raton: CRC
Akhurst, R.; Smith, K. Regulation and Press, 2002. p. 57-77.
Existe um grande potencial para a utili- safety. In: Gaugler, R. (Ed.). Entomopa-
Grewal, P.S.; Lewis, E.E.; Gaugler, R.;
zação dos nematoides entomopatogênicos thogenic nematology. New York: CABI,
Campbell, J.F. Host finding behavior as a
2002. p. 311-332.
e entomofílicos como agentes do controle predictor of foraging strategy in entomopa-
Bedding, R.A. Deladenus wilsoni n. sp. thogenic nematodes. Parasitology, v.108, n. 2,
biológico de pragas e vetores, contudo para
and D. siricidicola n. sp. (Neotylenchidae), p. 207-215, Feb.1994.
que realmente tenha sucesso, a escolha do entomophagous-mycetophagous nematodes
nematoide deve ser feita com critério e Iede E.T.; Penteado, S.R.C.; Reis Filho,
parasitic in siricid woodasps. Nematologi-
W. Uso do entomopatógeno, Deladenus siri-
parcimônia. ca, v.14, n.4, p. 515-525, 1968.
cidicola, em Pinus. In: Congresso Bra-
Nematoides nativos devem ser devida- Boemare, N. Biology, taxonomy and syste- sileiro de Nematologia, 24., 2003,
mente identificados, quanto à espécie, e ter matic of Photorhabdus and Xenorhabdus. In: Petrolina. Anais... Petrolina: Sociedade Bra-
sua biologia conhecida antes de ser usados Gaugler, R. (Ed.). Entomopathogenic ne- sileira de Nematologia, 2003. p. 47-49.
matology. New York: CABI, 2002. p. 35-56.
em campo. Outra característica importante Ishibashi, N.; Kondo, E. Behaviour of in-
a ser estudada é a temperatura ótima para Chitwood, B.G. Introduction. In: _______;
fective juveniles. In: Gaugler, R.; Kaya,
Chitwood, M.B. (Ed.) An introduction to
migração e reprodução. Testes de virulên- H.K. (Ed.). Entomopathogenic nematodes
nematology. Baltimore: University Park
cia em laboratório devem ser feitos, para in biological control. Boca Raton: CRC
Press, MD, 1950. p. 1-7.
Press, 1990. p. 139-150.
que se conheça a espécie ou linhagem CICHE, T.A.; ENSIGN, J.C. For the insect
que melhor controle uma dada praga ou Kaiser, H. Terrestrial and semiterrestrial
pathogen Photorhabdus luminescens,
Mermitidae. In: Nickle W.R. (Ed.). Manu-
vetor. Alguns nematoides possuem alta which end of a nematode is out? Applied
al of agricultural nematology. New York:
especificidade, outros não. Por isso, o ideal and Environmental Microbiology, v. 69,
Marcel Dekker, 1991. p. 899-965.
é buscar sempre nematoides com menor n. 4, p. 1890-1897, Apr. 2003.
Kaya H.K.; Stock S.P. Techniques in in-
espectro de hospedeiros. Del Valle, E.E.; Dolinski, C.; Barre-
sect nematology. In: Lacey, L.A. (Ed.). Ma-
to, E.L.S.; Souza, R.M.; Samuels, R.I.
A utilização dos nematoides nativos nual of techniques in insect pathology. San
Efficacy of Heterorhabditis baujardi LPP7
deve ter prioridade sobre os exóticos, que (Nematoda: Rhabditida) applied in Galleria
Diego: Academic Press, 1997. p. 281-324.
devem ser aplicados em último caso. Os mellonella (Lepidoptera: Pyralidae) insect LARA, J.C.; Dolinski, C.; Sousa, E.F. de;
nativos já estão adaptados às condições cadavers to Conotrachelus psidii, (Cole- Daher, R.F. Effect of mini-sprinkler irri-
climáticas como também à entomofauna optera: Curculionidae) larvae. Biocontrol gation system on Heterorhabditis baujardi
Science and Technology, v.18, n.1, p. 33- LPP7 (Nematoda: Heterorhabditidae) infec-
local. Como não se conhece o impacto
41, 2008. tive juvenile. Scientia Agricola, Piracicaba,
real que os nematoides exóticos podem v. 65, n. 4, p. 433-437, July/Aug. 2008.
Dolinski, C.; Del Valle, E.E.; Stuart,
causar aos nativos, recomenda-se que, pelo R.J. Virulence of entomopathogenic ne- Lewis, E.E.; Gaugler, R.; Harrison, R.
menos, sejam feitos testes em laboratório matodes to the larvae of guava weevil, Response of cruiser and ambusher entomo-
contra os inimigos naturais encontrados Conotrachelus psidii (Coleoptera: Curculio- pathogenic nematodes (Steinernematidae)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Gestão ambiental
nema longicurvicauda n. gen., n. sp. (Rha-
bditida: Steinernematidae), a parasite of
the termite Reticulitermes flavipes (Koller).
na agricultura
Journal of Nematology, v. 26, n.2, p.162-
174, June 1994.
�����
Nickle, W.R. History, development and
importance of insect nematology. In: Ni-
ckel, W.R. (Ed.). Plant and insect nema-
todes. New York: Marcel Dekker, 1984.
p. 627-653.
_______; Drea, J.J.; Coulson, J.R. Guideli-
nes for introducing beneficial insect-parasi-
tic nematodes into the United States. Annals
Agroecologia: reconciliando
of Applied Nematology, v. 2, p. 50-56, 1988. agricultura e natureza
Patel, M.N.; Stolinski, M.; Wright, D.J.
Neutral lipids and the assessment of infecti-
vity in entomopathogenic nematodes: obser-
Pagamento por serviços ambientais
vations on four Steinernema species. Parasi-
tology, v. 114, n.5, p. 489-496, May 1997. Gerenciamento de efluentes na
Poinar Junior, G.O. Biology and taxo- agricultura
nomy of Steinernematidae and Heterorhab-
ditidae. In: Gaugler, R.; Kaya, H.K. (Ed.).
Entomopathogenic nematodes in biologi- Práticas ecológicas para o manejo
cal control. Boca Raton: CRC Press, 1990.
p. 23-58.
fitossanitário
Richardson, P.N. British and European
legislation regulating rhabditid nematodes. Indicadores de sustentabilidade
Biocontrol Science and Technology, v. 6,
n.3, p. 449-464, 1996.
Avaliação de desempenho ambiental
Rizvi, S.A.; Hennessey, R.; Knott, D.
Legislation on the introduction of exotic ne-
matodes in the US. Biocontrol Science and
Technology, v. 6, n.3, p. 477-480, 1996.
Woodring, J.L.; Kaya, H.K. Steinerne-
matid and heterorhabditid nematodes: a
handbook of techniques. Fayetteville, AK:
Arkansas Agricultural Experimental Sta-
tion, 1988. 88 p. (Arkansas Agricultural Ex-
perimental Station. Bulletin, 331).
WOUTS, W.M. Steinernema and Heterorha- Leia e Assine o INFORME AGROPECUÁRIO
bditis species. In: NICKLE, W.R. (Ed.). Ma-
nual of agricultural nematology. New York:
(31) 3489-5002 - publicacao@epamig.br
Marcel Dekker, 1991. p. 855-897.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 5 6 - 6 4 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
INTRODUÇÃO biocontroladoras, bactérias promotoras de uma vez que não existe controle químico
crescimento, fungos, leveduras e vírus), o eficaz e a maioria das plantas cultivadas
O controle químico de bacterioses,
uso de compostos vegetais, a incorporação é hospedeira da bactéria, inviabilizando a
em geral, não é economicamente viável
de resíduos vegetais ou animais, a aplica- adoção de rotação de culturas (ROMEIRO,
e/ou eficiente. Além disso, o número de
ção de indutores químicos de resistência 2005).
produtos registrados para essa finalidade é
vegetal, a solarização e a biofumigação de Por não haver controle químico econo-
reduzido. Portanto, a maioria das medidas substratos ou de solos. micamente recomendável para a murcha-
recomendadas para o controle de bactérias Serão apresentados resultados de pes- deira, pesquisas que buscam o seu controle
fitopatogênicas é preventiva. Desse modo, quisas, com ênfase naquelas executadas em são intensas em todo o mundo. Entre as
o controle biológico mostra-se como uma campo e/ou no Brasil e listados produtos possibilidades estudadas, está a seleção
estratégia particularmente interessante para legalmente comercializados para o con- de agentes biocontroladores (bactérias,
esse grupo de patógenos. trole de bactérias fitopatogênicas, cujos fungos e vírus). O uso de extratos e/ou
Outro aspecto que realça a importância ingredientes ativos são microrganismos óleos vegetais, a incorporação de resíduos
da busca por controle eficaz está associado biocontroladores. vegetais, a solarização e a biofumigação
ao fato de a maioria das bacterioses, men- também são avaliados, embora tais estudos
cionadas neste artigo, ser transmitida por CONTROLE BIOLÓGICO sejam menos numerosos e tenham tido
sementes. A transmissão de bactérias de DE BACTERIOSES EM
interesse apenas recentemente.
sementes infectadas para plântulas ocorre OLERÍCOLAS
Entre os agentes de biocontrole, as
mesmo em taxas de infecção menores que bactérias e os actinomicetos são os mais
Solanáceas
0,1%. Nesses casos, a doença faz-se pre- citados como eficientes. Esses agentes,
sente no campo desde o início do cultivo, Murcha-bacteriana em geral, atuam por antibiose, competição
sendo então a estratégia do tratamento de A murcha-bacteriana ou murchadeira é e/ou indução de resistência.
sementes a mais estudada e também, em causada pela bactéria Ralstonia solanacearum Muitos estudos com R. solanacearum
geral, a mais eficiente. (Pseudomonas solanacearum). Essa doença é apontam para o potencial de uso de várias
O controle biológico de bacterioses considerada a mais importante das solanáce- bactérias biocontroladoras, tanto em culti-
pode ser alcançado por diversas formas, as, pois a planta infectada morre ou se torna vo protegido quanto em cultivo em campo,
incluindo o uso de microrganismos bio- improdutiva. A área infestada, geralmente, é quando aplicadas em batata, berinjela,
controladores (actinomicetos, bactérias abandonada após alguns ciclos de cultivo, pimentão, pimenta e tomate. (Fig. 1).
1
Eng a Agr a , D.Sc., Prof a UFPel - Depto Fitossanidade, CEP 96010-970 Pelotas-RS. Correio eletrônico: abmoura@ufpel.tche.br
2
Bióloga, Doutoranda Fitossanidade, UFPel, CEP 96010-970 Pelotas-RS. Correio eletrônico: bianca.obescorrea@yahoo.com.br
3
Bióloga, D.Sc., Prof a UPF - Faculdade Agronomia e Veterinária, CEP 99001-970 Passo Fundo-RS. Correio eletrônico: norimar@upf.tche.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 6 5 - 7 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
100% de controle da murcha em tomateiros al., 2007). O uso de fagos ou bacteriófagos do patógeno resistentes a esses produtos
(em plantios comerciais, até 60%), além (vírus que infectam bactérias) também tem (ROMEIRO, 2005) faz com que se utilizem
de promover o crescimento das plantas sido avaliado com sucesso para o controle dosagens cada vez maiores, o que eleva o
(MOURA, 1996). Os actinomicetos utili- dessa bacteriose em casa de vegetação custo de produção, além de contaminar
zados nesse estudo têm sido avaliados no (FLAHERTY et al., 2000). o ambiente e deixar resíduos nos frutos
controle de outros patógenos de solanáceas De modo geral, os tratamentos com produzidos.
e apresentado resultados promissores. agentes biológicos, além de proporciona- Não são muitos os trabalhos com o
rem controle dessa doença, resultam em controle biológico da pinta-bacteriana,
Mancha-bacteriana aumento do porcentual de germinação, em no entanto os resultados obtidos são pro-
A mancha-bacteriana do tomateiro, plântulas mais vigorosas e em aumento de missores. O uso da bactéria Pseudomonas
causada por espécies de Xanthomonas, produção. syringae Cit7 (selecionada para o controle
ocorre em todo o País, ocasionando gran- No Brasil, poucos trabalhos com o con- da mancha-bacteriana) em ensaios em
des perdas na produção, pois, além das trole dessa bacteriose têm sido realizados. campo resultou em 28% de controle, sendo
manchas nas folhas, provoca a queda de Ensaios em casa de vegetação têm mos- mais eficiente do que produtos comerciais
flores e frutos em formação. Os frutos pro- trado o potencial do uso de biocontrola- (WILSON et al., 2002). A combinação des-
duzidos, com lesões circulares de aspecto dores, como Nocardioides thermolilacinus sa bactéria com rizobactérias promotoras
corticoso, têm seu valor reduzido ou são SON-17 (CARRER FILHO et al., 2008) de crescimento resultou em aumento do
impróprios para ser comercializados. e Bacillus DFs1420 (NAUE, 2009), com porcentual de controle. Outros trabalhos
Geralmente, o controle da mancha- médias de controle maiores que as obtidas
usando combinações de bactérias, inclusi-
bacteriana é realizado pela pulverização em estudos similares conduzidos em outros
ve com bactérias fixadoras de nitrogênio,
de estreptomicina, oxitetraciclina e fun- países. Esses biocontroladores, além de
como Azospirillum, também têm mostrado
gicidas cúpricos. No entanto, a eficiência Xanthomonas, apresentaram potencial para
aumento dos porcentuais de controle da
desses produtos vem sendo reduzida em o controle de outros patógenos bacterianos
doença.
virtude do surgimento de populações de e fúngicos.
No Brasil, resultados de ensaios em
Xanthomonas spp. resistentes (ROMEIRO, O uso de indutores de resistência
casa de vegetação apontam para o poten-
2005). também foi avaliado por pesquisadores
cial de uso de bactérias para o controle
As pesquisas com medidas de controle brasileiros. Bion® (acibenzolar-S-metil)
biológico da pinta-bacteriana. A aplicação
dessa bacteriose têm sido conduzidas em e Ecolife® reduziram em 39% e 48%,
foliar de Nocardioides thermolilacinus
vários países, principalmente nos Estados respectivamente, a severidade da mancha-
SON-17 permitiu redução próxima de
Unidos e Canadá. O agente de controle bacteriana em casa de vegetação, porém
30% no número de lesões por folíolo
biológico mais estudado é a bactéria seu efeito em campo não foi avaliado
(CAVALCANTI et al., 2006). (CARRER FILHO et al., 2008). Por
Pseudomonas syringae Cit7 que, em vários
sua vez, o tratamento de sementes com
ensaios de campo em diferentes localida-
Pinta-bacteriana Streptomyces sp. pode reduzir em mais de
des, tem mostrado capacidade de reduzir
40% a severidade da doença. Esses dois
a incidência e a severidade da doença. As A pinta-bacteriana, também conheci-
biocontroladores também foram capazes
taxas de controle são variáveis depen- da como mancha-bacteriana-pequena ou
de controlar Xanthomonas causadoras da
dendo da localidade, época de condução pústula-bacteriana, é causada pela bactéria
mancha-bacteriana e Alternaria solani
do estudo e forma de aplicação, porém, Pseudomonas syringae pv. tomato e vem
(CARRER FILHO et al., 2008), e R.
geralmente, situam-se em torno de 30%. crescendo em importância no Brasil. A
A combinação desse agente com isolados bacteriose ocorre em toda a parte aérea das solanacearum (MOURA, 1996), respec-
de Pseudomonas e de Bacillus resultou plantas, como manchas arredondadas que tivamente.
em aumento da eficiência de controle. reduzem a área fotossintetizante e, por con-
Cancro-bacteriano
Combinação de agentes de controle bio- seguinte, a produção. A infecção das flores
lógico com produtos comerciais indutores geralmente tem como consequência a sua O cancro-bacteriano é causado pela
de resistência também tem resultado em queda e os frutos produzidos apresentam bactéria Clavibacter michiganensis ssp.
aumento da eficiência de controle. lesões, fazendo com que percam seu valor michiganensis. Esta doença pode causar
Mutantes não patogênicos de para comercialização. a murcha total ou unilateral das folhas,
Xanthomonas causadoras da mancha- O controle dessa bacteriose faz-se, queima dos bordos e queda de frutos. Os
bacteriana também têm mostrado potencial geralmente, por pulverizações preventivas frutos produzidos apresentam lesões que
de uso em campo, quando aplicadas na com antibióticos e fungicidas cúpricos. reduzem seu valor ou inviabilizam sua
parte aérea de forma preventiva (MOSS et No entanto, o surgimento de populações comercialização.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 6 5 - 7 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
pumilus e B. cereus) tenham apresentado (competição e antibiose), essas espécies esses resultados mostram três aspectos
atividade antibiótica in vitro contra a bac- podem ativar resistência, quando pulve- interessantes:
téria X. campestris pv. campestris, quando rizadas na parte aérea ou aplicadas nas a) aumento da eficiência de controle
avaliadas em condições de campo, somente sementes. Também é frequente ocorrer a com o uso de combinações de agen-
o isolado de B. subtilis proporcionou con- promoção de crescimento e o controle de tes de biocontrole;
trole da bacteriose (LUNA et al., 2002). outros patógenos do feijão.
b) possibilidade do plantio de cultiva-
Leveduras também têm sido avaliadas No Brasil, têm sido realizados trabalhos
res suscetíveis, desde que as semen-
com sucesso para o controle da podri- que envolvem o controle biológico do cresta-
tes sejam tratadas com combinações
dão-negra. Esses agentes de biocontrole mento-bacteriano. Experimentos desenvol-
de biocontroladores;
reduziram a severidade da doença de 24% vidos em casa de vegetação demonstraram
que o uso de biocontroladores isoladamente c) possibilidade de utilizar os biocon-
a 78%. As leveduras LR19, LR42 e LR35
foi menos eficiente do que quando utilizadas troladores testados em diferentes
proporcionaram, respectivamente, 79%,
combinações de biocontroladores. Corrêa regiões do Brasil.
76% e 72% de controle da doença em casa
(2007) verificou que a mistura dos biocon- A aplicação de bactérias na parte aérea
de vegetação (ASSIS et al., 1999).
troladores B. subtilis (DFs769), B. cereus do feijoeiro também foi realizada com
(DFs093) e P. fluorescens (DFs831), usados sucesso. Vieira Júnior (2005) observou
CONTROLE BIOLÓGICO EM
GRANDES CULTURAS no tratamento das sementes de feijão, redu- que, em casa de vegetação, houve efeito
ziu a severidade e a incidência da doença, constante dos isolados biocontroladores B.
Feijão quando as plantas foram inoculadas com cereus (UFV-108) e Pseudomonas putida
populações de X. axonopodis pv. phaseoli, (UFV-172), reduzindo a severidade da
Crestamento-bacteriano- obtidas de diferentes regiões produtoras doença em até 85%.
comum de feijão (Fig.2). Essa mesma combina- O uso de indutores de resistência tam-
O crestamento-bacteriano-comum ção também reduziu a doença, quando as bém foi estudado em ensaios de campo.
é causado pela bactéria Xanthomonas sementes de diferentes cultivares de feijão Acibenzolar-S-metil (ASM) reduziu a
axonopodis pv. phaseoli, que provoca foram tratadas. Segundo Corrêa (2007), severidade da doença em 79%, enquanto
manchas nas folhas e grande redução da
produção. A doença ocorre principalmente
nos Estados do Centro-Sul do Brasil, sendo
mais expressiva no plantio das águas.
O controle químico geralmente se dá
pela aplicação de antibióticos, como es-
treptomicina e oxitetraciclina, juntamente
com fungicidas de ação protetora. No
entanto, esta estratégia costuma ter baixa
eficiência, assim como o uso de cultivares
resistentes.
Por isso, têm-se estudado alternativas
como o controle biológico, com o uso
de diversas espécies de microrganismos
(fungos, bactérias e leveduras). Entre
os agentes de biocontrole, as bactérias
destacam-se principalmente no controle
de doenças foliares, como é o caso do
crestamento-bacteriano.
As principais espécies envolvidas no
controle biológico de X. axonopodis pv.
Figura 2 - Plantas de feijão
phaseoli são as bactérias Arthrobacter
FONTE: Corrêa, (2007).
globiformis, Bacillus subtilis, B. cereus,
NOTA: À esquerda, planta de feijão originada de semente tratada com mistura dos iso-
Burkholderia cepacia, Pseudomonas
lados de Bacillus cereus DFs093, DFs769 e de Pseudomonas fluorescens DFs831;
fluorescens e Rodochoccus fascians. Além à direita: planta originada de semente sem tratamento. Ambas as plantas foram
da atividade direta sobre este patógeno inoculadas com Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 6 5 - 7 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
a redução proporcionada pelo indutor bi- malvacearum. Esta bactéria é veiculada coriaria), guanxuma-branca (Sida cor-
ótico Bacillus sp. foi de 39%. Entretanto, por sementes produzidas por plantas difolia), guduchi (Tinospora cordifolia),
a produção das plantas tratadas com ASM com sintomas e também pelas infectadas, ginseng-indiano (Withania somnifer) e
foi menor do que a das plantas não tratadas. mas que são assintomáticas. Os sintomas jujuba-da-china (Ziziphus mauritiana)
Por outro lado, a produção das plantas tra- característicos da doença são manchas mostraram capacidade de inibir X. axo-
tadas com Bacillus sp. aumentou, apesar da nas folhas de formato anguloso, embora nopodis pv. malvacearum (MOHANA;
taxa menor de controle da doença (KHUN, também ocorram lesões nos caules, ramos RAVEESHA, 2006; MAHESH; SATISH,
2007). Bacillus sp. também foi usado com e maçãs. Essa doença ocorre de forma ge- 2008). Extratos fenólicos de crescimento
sucesso como indutor de resistência em neralizada em todas as regiões produtoras de bactérias biocontroladoras também
tratamento de sementes (SBALCHEIRO de algodão. têm potencial de reduzir o crescimento do
et al., 2009). O tratamento da semente por meio do patógeno e o progresso da doença.
Murcha-de-Curtobacterium deslintamento com ácido sulfúrico é uma
das medidas de controle recomendadas, PRODUTOS COMERCIAIS
Essa doença, causada pela bactéria visto que reduz consideravelmente a PARA CONTROLE DE
Curtobacterium flaccumfaciens pv. BACTERIOSES
população da bactéria. Entretanto, não
flaccumfaciens, provoca escurecimento
elimina o patógeno totalmente, quando Bettiol et al. (2009) listaram recente-
parcial das folhas e murcha da planta. Em
este se encontra no interior da semente. O mente vários produtos à base de micror-
plantas mais velhas, os sintomas são menos
controle químico e as medidas culturais ganismos biocontroladores legalmente
drásticos, pois a murcha ocorre somente
apenas atrasam o início da doença. comercializados em diversos países, para
em alguns ramos das plantas. Nas sementes
Trabalhos realizados pelo mundo mos- o controle de doenças de plantas. Entre
infectadas internamente, o crescimento
tram o potencial de alguns microrganismos esses produtos estão alguns de uso espe-
bacteriano nos tecidos provoca alterações
em controlar a mancha-angular, destacando- cífico para bacterioses e outros que, além
na coloração, variando de amarelo, laranja
se os que utilizam bactérias no tratamento de bacterioses, também controlam doenças
até púrpura. Atualmente, essa bacteriose
ocorre nos estados de Santa Catarina, Para- de sementes, principalmente espécies dos causadas por fungos (Quadro 1).
ná, Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás, gêneros Bacillus e Pseudomonas. Há rela-
causando sérios danos à cultura. tos de redução de mais de 60% da doença CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os métodos convencionais de controle com a combinação tratamento de sementes É inegável que existe uma necessidade
da murcha-de-Curtobacterium, como o con- e pulverizações foliares. Sabe-se também urgente de estabelecer medidas de controle
trole químico e o plantio de cultivares resis- que a utilização desses agentes promove para bacterioses, que sejam eficientes, de
tentes, geralmente não são eficientes. Como a germinação, o crescimento das plantas baixo custo e pequeno impacto ambien-
essa doença é de ocorrência relativamente e a produção. tal, uma vez que as medidas disponíveis,
recente no Brasil, as informações sobre Segundo Ishida et al. (2008ab), al- atualmente, não atendem a essas caracte-
métodos de controle ainda são escassas. gumas bactérias têm sido selecionadas rísticas.
Existem alguns estudos sobre o con- no Brasil para o controle dessa doença, As pesquisas realizadas no Brasil têm
trole alternativo dessa bacteriose, que tais como Bacillus cereus L2-1, B. cereus gerado grande número de resultados pro-
envolve o controle biológico, a aplicação MT5-6, B. cereus MT5-5, Achromobacter missores em relação a agentes biológicos
de indutores de resistência e a incorporação xylosoxidans L2-2 e Brevibacterium sp. de controle de bacterioses, embora pou-
de lodo de esgoto ao solo. Entre as alter- MT5-11. O tratamento de sementes resul- cos resultados estejam disponíveis para
nativas promissoras, destaca-se o uso da tou em controle da mancha-angular em os agricultores. Com a flexibilidade da
bactéria Pantoea agglomerans. Em casa
taxas acima de 40%, em condições de casa nova legislação para registro de produtos
de vegetação, o controle da murcha com o
de vegetação (ISHIDA et al., 2008b). As biológicos, espera-se que o interesse da
tratamento de sementes e de solo com esse
avaliações de B. cereus L2-1 e de ASM, iniciativa privada e das instituições de
agente foi de 72% e 63%, respectivamente,
isoladamente e em combinação, mostra- ensino e pesquisa seja estimulado e que
em ensaios realizados no Canadá (HSIEH
ram que ASM foi o melhor tratamento em as pesquisas redundem na formulação de
et al., 2005).
condições de casa de vegetação (ISHIDA produtos à base de agentes de controle
Algodão et al., 2008a). biológico que possam ser registrados e
O uso de extratos vegetais para o comercializados. Portanto, acredita-se que
Mancha-angular controle da mancha-angular também tem produtos biológicos eficientes e amparados
A mancha-angular é causada pela sido pesquisado. Extratos de espinho-preto legalmente estejam disponíveis em breve
bactéria Xanthomonas axonopodis pv. (Acacia nilotica), cascalote (Caesalpinia no mercado brasileiro.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 6 5 - 7 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Serenade ®
Pimentão, tomate EUA
Queima-bacteriana-das-rosáceas
(1)
BlightBan A506® Maçã, pera EUA
(Erwinia amylovora)
Bloomtime Biological® Maçã, pera Canadá, EUA
Blossom Protect TM
Pomáceas, ornamentais Alemanha
(1) Doença ausente no Brasil.
REFERÊNCIAS ASSIS, S.M.P.; MARIANO, R.L.R.; MI- rias no crescimento de rabanete e no contro-
CHEREFF, S.J.; SILVA, G.; MARANHÃO, le biológico da podridão negra e da antrac-
ANTONIOU, P.P.; TJANOS, E.C.; ANDREOU, E.A.A. Antagonism of yeasts to Xanthomonas nose. Arquivos de Biologia e Tecnologia,
M.T.; PANAGOPOULOS, C.G. Effectiveness, campestris pv. campestris on cabbage phyl- Curitiba, v. 38, n.3, p.843-850, set. 1995.
models of action and comercial application loplane in field. Journal of the Brazilian
of soil solarization for control of Clavibacter Society of Microbioly, São Paulo, v.30, n.3, BAPTISTA, M.J.; LOPES, C.A.; SOUZA,
michiganensis subsp. Michiganensis of to- p.191-195, Sept. 1999. R.B. de; FURUMOTO, O. Efeito da solariza-
matoes. Acta Horticulturae, v.382, p.119- _______;_______; REIS, A.; SILVEIRA, ção e biofumigação, durante o outono, na
128, 1995. E.B.da; MICHEREFF, S.J. Ação de rizobacté- incidência de murcha-bacteriana e produ-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 6 5 - 7 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
tividade da batata. Horticultura Brasileira, FESSEHAIE, A.; WALCOTT, R.R. Biological MOURA, A.B. Actinomicetos como agentes
Campinas, v. 24, n.1, p. 99-102, jan./mar. control to protect watermelon blossoms and potenciais de controle biológico de murcha
2006a. seed from infection by Acidovorax avenae bacteriana (Pseudomonas solanacerum) e
BAPTISTA, M.J.; REIS JUNIOR, F.B. dos; subsp. citrulli. Phytopatology, v.95, n.4, como promotores de crescimento de toma-
XAVIER, G.R.; ALCÂNTARA, C.de; OLI- p.413-419, Apr. 2005. teiro. 1996. 64f. Tese (Doutorado em Fito-
VEIRA, A.R.de; SOUZA, R.B.; LOPES, C.A. patologia) - Universidade Federal de Viçosa,
FLAHERTY, J.E.; SOMODI, G.C.; JONES,J.B.;
Eficiência da solarização e biofumigação no Viçosa, MG.
HARBAUGH, B.K.; JACKSON, L.E. Control
solo no controle da murcha-bacteriana do of bacterial spot���������������������������
on tomato in the greenhou- NAUE, C.R. Rizobactérias: controle de
tomateiro no campo. Pesquisa Agropecuá- se and field with h-mutant bacteriophages. patógenos, promoção de crescimento e re-
ria Brasileira, Brasília, v.42, n.7, p.933-938, HortScience, v.35, n.5, p. 882-884, 2000. flexos na qualidade do fruto do tomateiro.
jul. 2007. 2009. 84f. Dissertação (Mestrado em Fitos-
HSIEH, T.F.; HUANG, H.C.; ERICKSON,
_______; SOUZA, R.B.de; PEREIRA, W.; sanidade) - Universidade Federal de Pelotas,
R.S. Biological control of bacterial wilt of
LOPES, C.A.; CARRIJO, O.A. Efeito da so- Pelotas.
bean using a bacterial endophyte Pantoea
larização e biofumigação na incidência da agglomerans. Journal of Phytopathology, PATRÍCIO, F.R.A.; ALMEIDA, I.M.G.; SAN-
murcha bacteriana em tomateiro no campo. v.153, n.10, p.608-614, Oct. 2005. TOS, A.S.; CABRAL, O.; TESSARIOLI
Horticultura Brasileira, Campinas, v.24, NETO, J.; SINIAGLIA, C.; BERIAM, L.O.S.;
ISHIDA, A.K.N.; SOUZA, R.M.; RESENDE,
n.2, p.161-165, abr./jun. 2006b. RODRIGUES NETO, J. Avaliação da sola-
M.L.V.; CAVALCANTI, F.R.; OLIVEIRA, D.L.;
BARRA, V.R.; ROMEIRO, R. da S.; GARCIA, rização do solo para controle de Ralstonia
POZZA, E.A. Rhizobacterium and acibenzo-
F.A. de O.; MOURA, A.B.; SILVA, H.S.A.; solanacearum. Fitopatologia Brasileira,
lar-s-methyl (ASM) in resistance induction
MENDONÇA, H.L.; HALFELD-VIEIRA, B.de Brasília, v.30, n.5, p.475-481, set./out.
against bacterial blight and expression of
A. Antagonismo direto e biocontrole da po- 2005.
defense responses in cotton. Tropical Plant
dridão-mole-do-tomateiro pelo uso de pro- Pathology, Brasília, v.33, n.1, p.27-34, Jan./ RAUPACH, G.S.; KLOEPPER, J.W. Biocon-
cariotas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Feb. 2008a. trol of cucumber diseases in the field by
Brasília, v.44, n.3, p.327-330, mar. 2009. plant growth-promoting rhizobacteria with
_______;_______;_______;ZACARONI, A.B.;
BETTIOL, W.; MORANDI, M.B.; PINTO, and without methyl bromide fumigation.
VILAS BÔAS, C.H.; SOUZA, J.T. de. Rizo-
Z.V.; PAULA JÚNIOR, T.J.de; CORREA, E.B.; Plant Disease, v. 84, n. 10, p. 1073-1075,
bactérias no controle da mancha angular do
MOURA, A.B.; LUCON, C.M.M.; COSTA, Oct. 2000.
algodoeiro. Ciência e Agrotecnologia, La-
J.C.; BEZERRA, J.L. Bioprotetores comer- vras, v.32, n.1, p.149-156, jan./fev. 2008b. ROMEIRO, R. da S. Bactérias fitopatogêni-
ciais para doenças de plantas. Revisão Anu- cas. 2.ed. atual. e amp. Viçosa, MG: UFV,
al de Patologia de Plantas, Passo Fundo, KHUN, O.J. Indução de resistência em fei-
2005. 417p.
v.17, p.111-147, 2009. joeiro (Phaseolus vulgaris L.) por aciben-
zola-s-metil e Bacillus cereus: aspectos SANTOS, E.R.; GOUVEA, E.R.; MARIA-
CARDOSO, S.C.; SOARES, A.C.F.; BRITO, fisiológicos, bioquímicos e parâmetros de NO, R.L.R.; SOUTO-MAIOR, A.M. Controle
A. de S.; LARANJEIRA, F.F.; LEDO, C.A.S.; crescimento e produção. 2007. 138f. Tese biológico da mancha-aquosa do melão por
SANTOS, A.P. dos. ������������������������
Control of tomato bacte- (Doutorado em Agronomia) - Escola Supe- compostos bioativos produzidos por Bacillus
rial wilt throught the incorporation of aerial rior de Agricultura Luiz de Queiroz, Univer- spp. Summa Phytophatologica, Botucatu,
part of pigeon pea and crotalaria to soil. sidade de São Paulo, Piracicaba, 2007. v.32, n.4, p.376-378, out./dez. 2006.
Summa Phytopatologica, Botucatu, v.32,
n.1, p.27-33, Jan./Mar. 2006. LUNA, C.L.; MARIANO, R.L.R.; SOUTO- SBALCHEIRO, C.C.; DENARDIN, N.D.;
MAIOR, A.M. Production of a biocontrol BRAMMER, S.P. Alterações de isoenzimas
CARRER FILHO, R.; ROMEIRO, R.S.; GAR- peroxidases em plantas de feijoeiro tratadas
agent for crucifers black rot disease. Brazi-
CIA, F.A.O. Biocontrole de doenças de
lian Journal of Chemical Engineering, São com biocontrolador do crestamento bacte-
parte aérea do tomateiro por Nocardioides
Paulo, v.19, n.2, p.133-140, Apr./June 2002. riano comum. Tropical Plant Pathology,
thermolilacinus. Tropical Plant Patology,
Brasília, v.34, n.1, p.29-37, jan./fev. 2009.
Brasília, v. 33, n.6, p. 457-460, Nov./Dec. MAHESH, B.; SATISH, S. Antimicrobial
2008. activity of some important medicinal plant UMESHA, S. Occurrence of bacterial canker
against plant and human pathogens. World in tomato fields of karnataka and effct of
CAVALCANTI, F.R.; RESENDE, M.L.V.;
Journal of Agricultural Sciences, v.4, p.839- biological seed treatment incidence. Crop
ZACARONI, A.B.; RIBEIRO JÚNIOR, P.M.;
843, 2008. Protection, v.25, n.4, p.375-381, Apr.2006.
COSTA, J.de C.B.; SOUZA, R.M. de. Aciben-
zaloar-s-meltil e Ecolife na indução de res- MOHANA, D.C.; RAVEESHA, K.A. Anti- VIEIRA JÚNIOR, J.R. Procariotas residentes
postas de defesa do tomateiro contra a man- bacterial activity of Caesalpinia coriaria de filoplano do feijoeiro como agentes de
cha bacteriana (Xanthomonas vesicatoria). (Jacq.) Willd. against plant pathogenic biocontrole de enfermidades da parte aé-
Fitopatologia Brasileira, Brasília, v 31, n.4, Xanthomonas pathovars: an ecofriendly ap- rea da cultura. 2005. 140f. Tese (Doutorado
p.372-380, jul./ago. 2006. proach. Journal of Agricultural Technolo- em Fitopatologia) - Universidade Federal de
gy, v.2, n.2, p.317-327, 2006. Viçosa, Viçosa, MG, 2005.
CORRÊA, B.O. Microbiolização com bacté-
rias no controle do crestamento bacteria- MOSS, W.P.; BYRNE, J.M.; CAMPBELL, WILSON, M.; CAMPBEL, H.L.; JI, P.; JONES,
no comum e da antracnose na cultura do H.L.; JI, P.; BONAS, U.; JONES, J.B.; WIL- J.B.; CUPPELS, D.A. Biological control of
feijão. Pelotas, 2007. 80f. Dissertação (Mes- SON, M. Biological control of bacterial spot bacterial speck of tomato under field con-
trado em Fitossanidade) - Departamento de of tomato using hrp mutants Xanthomonas ditions at several locations in North Ameri-
Fitossanidade, Universidade Federal de Pe- campestris pv. vesicatoria. Biological Con- ca. Phytopatology, v.92, n.12, p.1284-1292,
lotas, Pelotas, 2007. trol, v.41, n.2, p.199-206, May 2007. Dec. 2002.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 6 5 - 7 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
INTRODUÇÃO orgânica (MO), eliminação de organismos Brasil nos últimos anos, o que mostra a
benéficos e redução da biodiversidade. importância do controle de fitopatógenos
Os fungos são o maior e o mais diverso
A proteção de plantas com agrotóxicos e a necessidade de desenvolvimento e in-
grupo de organismos fitopatogênicos. To-
apresenta características atraentes, como a trodução de alternativas de manejo. Entre
das as plantas são atacadas por patógenos
simplicidade, a previsibilidade e a necessi- essas alternativas, destaca-se o controle
fúngicos e alguns deles podem causar
doenças em diversas plantas. Associado a dade de pouco entendimento dos processos biológico.
isso, o modelo predominante da agricultura básicos do agroecossistema. Para obter A preocupação da sociedade com o
convencional, que tem como base o retorno sucesso com a aplicação de um fungicida impacto da agricultura no ambiente e a
econômico imediato, preconiza o controle de amplo espectro, é importante saber contaminação da cadeia alimentar com
dos problemas fitossanitários quase ex- como aplicar o produto, mas geralmente resíduos de agrotóxicos têm alterado o
clusivamente pela aplicação continuada são necessárias poucas informações sobre cenário agrícola, resultando no surgimento
e em larga escala de agrotóxicos. Assim, ecologia e fisiologia de espécies, interações de segmentos de mercado para produtos
têm surgido diversos problemas de ordem biológicas, ecologia de sistemas e ciclagem diferenciados, tanto os produzidos sem o
ambiental, como contaminação de alimen- de nutrientes. Essa simplificação interessa uso de agrotóxicos, como os portadores
tos, solo, água e animais, intoxicação de basicamente à comercialização de insumos de selos que garantem que os agrotóxicos
agricultores, resistência de patógenos a que interferem em muitas espécies e, con- foram utilizados adequadamente. Além
certos princípios ativos dos agrotóxicos, sequentemente, desequilibram o sistema. disso, o incremento dos custos com o
surgimento de doenças iatrogênicas (as que Com o tempo, verifica-se que esse modelo controle químico, a perda de eficiência de
ocorrem devido ao uso de agrotóxicos), é insustentável. alguns agrotóxicos, por causa da resistên-
desequilíbrio biológico com alterações A comercialização de fungicidas tem cia dos organismos-alvo e os problemas
da ciclagem de nutrientes e da matéria apresentado crescimento expressivo no ambientais advindos dessas práticas
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: mmorandi@cnpma.embrapa.br
2
Eng o Agro, Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
3
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: bettiol@cnpma.embrapa.br
4
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: hudsont@epamig.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
indicam a necessidade da busca de pro- Em levantamento recente, Bettiol et al. CONTROLE BIOLÓGICO
dutos biocompatíveis para o controle de (2009) verificaram que, de 109 produtos DE FUNGOS VEICULADOS
fitopatógenos, entre os quais os agentes biológicos para o controle de doenças de PELO SOLO
de biocontrole. plantas comercializados no mundo, 87 A ocorrência de doenças de plantas
O controle biológico, no conceito (80%) são recomendados para o controle causadas por patógenos habitantes do
abrangente apresentado por Cook e Baker de fungos. Destes, 45 (52%) são recomen- solo indica a existência de desequilíbrio
(1983) é: dados para patógenos veiculados pelo solo, biológico. A alta taxa de mortalidade de
a redução da soma de inóculo ou das 24 (28%) para patógenos da parte aérea ou patógenos e a baixa incidência de doenças
atividades determinantes da doença, pós-colheita e 18 (21%) para patógenos da em condições naturais devem-se a diversos
provocada por um patógeno, realizada parte aérea e de solo. mecanismos naturais, como parasitismo,
por um ou mais organismos que não Entre os produtos disponíveis no Brasil, competição e predação, estímulo à germi-
o homem. destacam-se aqueles à base de Trichoderma nação seguida de exaustão e lise, diminui-
O termo antagonista é empregado para spp., recomendados, principalmente, para ção das reservas do patógeno e antibiose
designar agentes biológicos com potencial o controle de fungos habitantes do solo. (BETTIOL; GHINI 2005).
para interferir nos processos vitais dos pa- Levantamento feito por Bettiol e Morandi Os patógenos habitantes do solo são
tógenos, estando esses agentes adaptados (2009) indica que, em 2008, 13 empresas de controlados por medidas que destroem as
ecologicamente ao mesmo nicho que os seis Estados da região Centro-Sul do Brasil unidades propagativas, prevenindo a for-
ocupados pelos patógenos. Nessa visão, produziam e comercializavam preparados mação do inóculo no solo ou destruindo o
o controle biológico pode ser acompa- à base de Trichoderma. Geralmente, essas inóculo presente em resíduos infectados,
nhado por práticas culturais, para criar empresas utilizam a técnica de fermentação com consequente redução do vigor e da
um ambiente favorável aos antagonistas sólida em grãos de arroz, milheto ou outros virulência do patógeno e promoção do
e à resistência da planta hospedeira, bem cereais, com volume de produção em torno desenvolvimento das plantas. O controle
como pelo melhoramento da planta, para de 550 t/ano. As formulações disponíveis biológico de patógenos habitantes do solo
aumentar a resistência ao patógeno ou pode ser obtido pela manipulação do am-
no mercado incluem pós-molháveis, grânu-
adequar o hospedeiro para as atividades biente e pela introdução de antagonistas no
los dispersíveis, suspensões concentradas,
dos antagonistas. De forma mais pragmá- solo e em órgãos de propagação das plantas
óleos emulsionáveis, grãos colonizados e
tica, o controle biológico de doenças de (COOK; BAKER 1983).
esporos secos. Trichoderma asperellum, T.
plantas pode ser conceituado como sendo A manipulação do ambiente do solo
harzianum, T. stromaticum e T. viride são as
o controle de um microrganismo por meio contribui para inibir o aumento e a for-
principais espécies comercializadas. Em al-
de outro microrganismo. mação de inóculo do patógeno, desalojar
guns produtos comercializados, entretanto,
Neste artigo, são abordados exemplos os patógenos dos resíduos das culturas,
não há identificação de espécies. Entre os
de controle biológico de fungos fitopatogê- destruir os propágulos dos patógenos e
patógenos-alvo estão, principalmente, es-
nicos, abrangendo o conceito mais amplo estimular a população de microrganismos
pécies de Fusarium, Pythium, Rhizoctonia,
de alteração do sistema produtivo e o uso benéficos e/ou antagônicos. As interações
Macrophomina, Sclerotinia, Sclerotium, microbianas em alguns solos podem
de produtos à base de agentes de controle
Botrytis e Crinipellis, para as culturas de prevenir naturalmente o estabelecimento
biológico como insumo dentro do sistema
produtivo. feijão, soja, algodão, fumo, morango, to- de patógenos ou inibir suas atividades.
mate, cebola, alho, plantas ornamentais e Entretanto, pouca atenção é dada a esse
PRODUTOS BIOLÓGICOS cacau. Alguns produtos são recomendados fenômeno, denominado solo supressivo,
PARA O CONTROLE DE para o tratamento de substratos e de semen- que não significa, necessariamente, a
FUNGOS tes. Apesar de não existir padronização eliminação do patógeno, mas indica a
O controle biológico está em cresci- nas metodologias, as empresas geralmente supressão da doença. A supressividade
mento no Brasil, mas em progressão lenta, avaliam a qualidade de seus produtos por de solos a patógenos pode ser por causa
por falta de produtos biológicos disponí- contagem de esporos (mínimo de 1 x 108 de suas propriedades físicas, químicas e
veis no mercado e pelo perfil conservador conídios/g), germinação (mínimo de 85%) biológicas. Diversos organismos podem
do agricultor brasileiro. A maior parte da e viabilidade (mínimo de 8,5 x 107 ufc/g). estar envolvidos nesse processo, incluindo
comercialização de produtos microbianos A vida de prateleira dos produtos varia de fungos, bactérias, protozoários, ácaros,
é voltada para a agricultura convencional, 30 a 180 dias em temperatura ambiente insetos, minhocas, nematoides, vírus e
principalmente para cultivos perenes e (aproximadamente 25ºC) e 180 a 360 dias oomicetos. Há relatos de solos supressivos
semiperenes e cultivos protegidos. em geladeira ou câmara fria (4-6ºC). para diversas espécies de Fusarium (F.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
oxysporum f. sp. cubensis, F. oxysporum O solo é o habitat de populações das plantas às doenças e à formação de um
f. sp. pisi, F. oxysporum f. sp. dianthii, F. numerosas e variadas de todos os tipos ambiente supressivo aos patógenos do solo,
oxysporum f. sp. lycopersici. F. roseum f. de microrganismos e reservatório natural em razão dos maiores teores de nutrientes,
sp. cerealis, F. culmorum), Verticillium da grande diversidade genética destes. MO e diversidade de microrganismos,
albo-atrum, Sclerotium rolfsii, Sclerotinia De modo geral, durante a maior parte do além de melhor estrutura física que favo-
sclerotiorum, Rhizoctonia solani, Pythium tempo, os microrganismos estão no solo reça os antagonistas (ZAMBOLIM et al.,
aphanidermatum, Phytophthora cinnamomi, em estado de inanição, pelas condições de 2001). A intensidade do mofo-branco do
Gaeumannomyces graminis, entre outras estresse do solo e pela falta de MO. Por feijoeiro, causado por S. sclerotiorum, é
(BETTIOL; GHINI 2005). isso, quando se acrescenta MO ao solo, menor, quando a cultura é semeada sobre
Como o uso de antagonistas raramente há uma explosão populacional dos mi- palhada de milho, braquiária ou arroz, o
erradica os patógenos, o controle das doen- crorganismos que perduram até que a MO que pode estar relacionado com a maior
ças depende da manipulação do equilíbrio volte a ser fator limitante. Em solos ricos atividade biológica de inimigos naturais
biológico existente no solo. As chances de em MO, a diversidade e a quantidade de do patógeno em áreas de PD (NASSER;
sucesso do controle biológico são aumen- microrganismos são elevadas. Estimativas KARL 1998). A palhada sobre a superfície
tadas quanto maior e mais variada for a indicam populações de bactérias da ordem do solo também cria uma barreira física
comunidade microbiana do solo, havendo de 108 a 109/g de solo, fungos de 104 a à dispersão dos ascósporos. A queima
necessidade de intensificar as atividades 106/g de solo, protozoários de 104 a 105/g da palhada, prática usual entre muitos
dos antagonistas desejáveis presentes no de solo e algas de 103 a 104/g de solo. Es- produtores, elimina essa barreira e torna
solo. Algumas estratégias contribuem para ses organismos são essenciais para a vida o microclima desfavorável ao desenvolvi-
intensificar as atividades dos antagonistas, na terra, por participarem da ciclagem de mento de antagonistas, além de não atingir
como rotação de cultura, acréscimo de nutrientes e de todos os ciclos biológicos os escleródios presentes na camada su-
substratos orgânicos, alteração do pH do e geoquímicos, além de manter as popu- perficial do solo. Em plantios no Cerrado
solo a um nível favorável aos antagonistas lações dos organismos patogênicos em brasileiro, observou-se que a sobrevivên-
e desfavorável aos patógenos, métodos de equilíbrio. Portanto, quanto mais complexa cia de escleródios de S. sclerotiorum foi
cultivo que melhorem a estrutura do solo a atividade microbiana do solo melhor reduzida na palhada de gramínea, e que a
e favoreçam os antagonistas na profundi- a qualidade de vida na terra (BETTIOL; ocorrência do mofo-branco foi menor em
dade do solo em que ocorre a infecção do GHINI 2005). A MO pode ainda servir PD do que no convencional (NASSER et
hospedeiro, época de semeadura favorável como fonte de micronutrientes, hormônios, al., 1999).
ao desenvolvimento do hospedeiro e dos substâncias de sua própria decomposição Além da manipulação do ambiente para
antagonistas, e irrigação que assegure o e aminoácidos. Esses compostos químicos favorecer as populações de organismos
desenvolvimento do hospedeiro e favoreça podem causar indução de resistência no naturalmente presentes no solo, a introdu-
os antagonistas. hospedeiro ou controlar diretamente o ção de antagonistas específicos em áreas
Uma grande diversidade de antagonistas patógeno. Entretanto, há necessidade de de cultivo é prática viável. Para que os
atua parasitando ou inibindo a germinação de considerar as características da própria antagonistas sejam eficientes no desaloja-
estruturas de patógenos no solo, incluindo MO, pois nem sempre o efeito de sua adi- mento dos patógenos presentes no solo, um
fungos filamentosos, como T. harzianum, ção é o de reduzir a intensidade de doenças período é necessário entre sua aplicação
T. viride, T. koningii, T. pseudokoningii, (GHINI et al., 2007). e o estabelecimento e a atuação sobre os
Clonostachys rosea, Gliocladium virens, O sistema de plantio direto (PD), em patógenos. Dessa forma, as estruturas dos
Coniothyrium minitans, Paecilomyces que o preparo de solo é minimizado e não patógenos podem ser parasitadas, predadas
lilacinus, Aspergillus, Penicilllium, Fusarium há arações e gradagens sucessivas, resulta ou inviabilizadas pela liberação de metabó-
oxysporum não patogênico, Mucor, em profunda alteração das populações de litos produzidos pelos antagonistas.
Sporidesmium sclerotivorum, Myrothecium organismos que possuem fase saprofítica Diversos produtos à base de Trichoderma
verrucaria, Cladosporium cladosporioides, no solo. O maior potencial de inóculo, são utilizados no Brasil para o controle
Talaromyces flavus, Trichothecium roseum em razão da não eliminação dos restos de patógenos em substrato de produção
e Ulocladium atrum; leveduras, como de cultura, e o seu posicionamento mais de mudas, especialmente em hortaliças e
Epicoccum purpurascens, E. nigrum, próximo aos sítios de infecção garantem ornamentais (MORANDI et al., 2005). A
Cryptococcus albidus e Pichia anomala; e maior eficiência no processo de inoculação, recomendação geral é a adição do fungo via
bactérias, como Bacillus subtilis, B. pumilus, favorecendo o desenvolvimento inicial líquida (irrigação) ou sólida (incorporação
Pseudomonas fluorescens, P. putida, Erwinia mais severo de algumas doenças. Por outro do substrato contendo esporos e micélio
herbicola e Streptomyces. lado, o PD pode propiciar maior tolerância do fungo), após a desinfestação ou esteri-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
lização do substrato e alguns dias antes da cultura, com consequente diminuição de nessas condições é de, aproximadamente,
semeadura ou transplantio. O tratamento riscos para produtores e consumidores. O um terço do custo com fungicidas. O
de sementes e mudas também é utilizado uso dessa prática possibilitou a substituição antagonista associa-se às estruturas dos
em diversas culturas. do brometo de metila, usado para tratar o patógenos (escleródios, esporos, hifas etc.),
No caso do fumo, o tombamento, substrato (BETTIOL, 2003). causando sua degradação ou impedindo-os
causado pelos fungos de solo Pythium, Além da incorporação em substrato, de germinar (Fig. 1).
Sclerotinia e Rhizoctonia, é muito impor- o fungo Trichoderma é utilizado no tra- Espécies de Trichoderma prevalecem
tante nas áreas de cultivo no sul do País. tamento de sementes e na irrigação via especialmente em ambientes úmidos e po-
Esses fungos podem ser controlados com pivô central em grandes culturas na região dem ser isoladas de todas as zonas climáti-
produtos biológicos à base de Trichoderma. central do País (MORANDI et al., 2005; cas, incluindo solos de desertos (KLEIN;
Esse antagonista parasita os principais POMELLA, 2008). As doenças causadas EVERLEIGH 1998). O desenvolvimento
patógenos nas mudas. No sistema float, por S. sclerotiorum, S. rolfsii, R. solani, F. das espécies de Trichoderma mais utili-
o antagonista é misturado ao substrato na oxysporum e F. solani causam grandes per- zadas como agentes de controle biológico
proporção de 100 g do produto/100 kg de das nos cultivos irrigados de feijão, soja, é favorecido por temperaturas acima de
substrato. Esse volume é suficiente para algodão e milho e podem, muitas vezes, 25oC. Assim, a introdução desses agentes
completar 200 bandejas de 200 células. inviabilizar totalmente as áreas irrigadas em áreas e/ou épocas de temperaturas ame-
Uma aplicação é suficiente para o controle por pivô. Na maioria desses casos, o con- nas pode ser pouco eficiente no controle
do tombamento. Trichoderma é utilizado trole com fungicidas tem eficiência baixa. de patógenos no solo (PAULA JÚNIOR et
isoladamente, não havendo necessidade Recomenda-se a aplicação de produtos à al., 2009). Além da temperatura, a falta de
de mistura com outros produtos ou agen- base de Trichoderma via tratamento de cobertura vegetal e de resíduos orgânicos
tes. Essa estratégia tem sido adotada com semente, no plantio e via água de irrigação pode causar maior exposição do solo e
vistas à redução do uso de agrotóxicos na nos pivôs. O custo do controle biológico do inóculo inicial de Trichoderma aos
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
raios solares. Desse modo, as aplicações epifíticas da superfície foliar, fenômeno aumenta, quando o patógeno é reintroduzi-
com produtos à base de Trichoderma são denominado sucessão microbiana no filo- do em sítios de infecção pré-esterilizados,
mais eficientes, quando feitas em solo plano (BLAKEMAN, 1985). indicando que os habitantes das superfícies
contendo MO ou palhada. A aplicação de Os microrganismos do filoplano mais dos órgãos das plantas servem como tam-
Trichoderma associada ao PD apresenta comumente encontrados são bactérias, pão biológico (COOK; BAKER 1983). A
resultados consistentes no controle do leveduras e fungos filamentosos. No início ocorrência natural do controle biológico é
mofo-branco, especialmente em regiões do desenvolvimento da planta, as bactérias comprovada pelas mudanças causadas pelo
onde as temperaturas no outono-inverno são os organismos colonizadores mais fre- emprego continuado de fungicidas.
são elevadas. quentes (colonizadores primários). Com o A população de microrganismos anta-
desenvolvimento do hospedeiro, aumenta a gônicos do filoplano consiste, basicamente,
CONTROLE BIOLÓGICO DE quantidade de açúcares nas folhas e, assim, de bactérias e fungos (filamentosos e leve-
PATÓGENOS FÚNGICOS DA inicia-se o próximo estádio da sucessão duriformes). Nesse ambiente, competição,
PARTE AÉREA microbiana, marcado pelo aumento da antibiose, parasitismo e indução de resis-
Com a compreensão da natureza física, população de leveduras. Uma característica tência são intensos, resultando em controle
marcante das leveduras é sua capacidade natural de doenças foliares.
química e microbiológica da superfície
de manter o crescimento mesmo em con- De forma geral, as interações entre
foliar, tornou-se largamente reconhecido
dições de temperaturas altas e umidade antagonistas e patógenos no filoplano
que grandes populações de microrganis-
relativa do ar baixa. Os esporos dos fun- são estabelecidas em função das caracte-
mos epifíticos vivem na superfície foliar
rísticas dos patógenos e dos mecanismos
e são capazes de influenciar o processo de gos filamentosos, mesmo depositados na
de biocontrole de cada antagonista. Com
infecção de folhas e caules por espécies superfície foliar, permanecem dormentes.
base nessas características, é possível
patogênicas. Entretanto, quando as folhas atingem o es-
estabelecer três grandes grupos de fungos
Antes de penetrar no tecido foliar, os tádio de senescência, a dormência pode ser
patogênicos e os mecanismos prioritários
patógenos ficam expostos a interações vencida, ocorrendo inclusive a colonização
de ação dos agentes de controle biológico
com os microrganismos residentes e dos tecidos internos da planta. Assim, na
(Quadro 1). É possível que o parasitismo
transeuntes da superfície foliar. Micror- senescência, cresce a população de fungos
seja o mecanismo mais eficiente no controle
ganismos residentes são os que habitam filamentosos, que também passam a nutrir
biológico natural, pois hiperparasitas, por
continuamente a superfície foliar e se bactérias e leveduras. A sucessão apresen-
viverem à custa do próprio patógeno, são
adaptam a essas condições. Já os transeun- tada considera a população dominante nos
menos sujeitos às variações do ambiente.
tes ou exógenos são os que normalmente diferentes estádios, pois, de modo geral, os
A estratégia usual de controle biológico
possuem outro habitat (solo, sementes, diversos microrganismos estão presentes
de um patógeno do filoplano é por meio
restos culturais etc.), mas podem passar simultaneamente, o que é relevante para o
da introdução de antagonistas. Para ser
uma fase de seu ciclo na superfície foliar. controle biológico natural. bem-sucedido, o antagonista deve, prefe-
Os microrganismos exógenos possuem, em O equilíbrio da população microbiana rencialmente, multiplicar-se e colonizar
geral, baixo estabelecimento no filoplano do filoplano pode ser facilmente quebrado a superfície da planta. Para cada patos-
(BLAKEMAN, 1985). O ambiente da pela influência humana. A modificação da sistema existe um local mais apropriado
superfície foliar difere sensivelmente do superfície foliar e de seu microambiente para realizar a seleção de antagonistas.
ambiente do solo, caracterizando-se pela pode ocorrer por causa da poluição ou da No entanto, as chances de obtenção de
ocorrência de variações maiores e mais aplicação de produtos químicos (fungici- microrganismos efetivamente antagônicos
rápidas, especialmente de temperatura e das, inseticidas, herbicidas, hormônios, são aumentadas fazendo-se isolamentos
umidade. Na superfície foliar, os micror- acaricidas e fertilizantes). Essas alterações no próprio ambiente onde os antagonistas
ganismos estão expostos à ação de chuvas podem interferir na ocorrência de doenças, serão utilizados. Assim, os microrganismos
e radiação solar. Outra diferença marcante pois haverá uma redução da população residentes no filoplano possivelmente
é a disponibilidade de nutrientes (exsuda- microbiana saprofítica, surgindo a opor- serão os mais adequados para atuar nesse
tos foliares, resíduos orgânicos, grãos de tunidade de desenvolvimento de um pató- ambiente. A utilização de microrganismos
pólen, secreções de afídios, macro e micro- geno que tinha, inicialmente, importância com capacidade antagônica reconhecida
elementos, diversas substâncias orgânicas secundária. e não residentes no filoplano também é
etc.). Como consequências das mudanças Os patógenos constituem uma pequena praticada no controle biológico de doenças
no ambiente e na disponibilidade de nu- fração dos habitantes das proximidades da parte aérea, com a vantagem de abreviar
trientes, alterações sensíveis ocorrem nas e das superfícies dos órgãos das plantas. o período de seleção de antagonistas nas
populações microbianas patogênicas e Frequentemente, a severidade da doença fases iniciais do trabalho.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
O sucesso do controle biológico de feras, pimentão, tomate, cebola, cenoura, tários é a principal forma de reduzir o uso
doenças da parte aérea depende do modelo herbáceas, ornamentais, etc. (WELLER, de agrotóxicos em sistemas de produção,
biológico escolhido. Para as culturas pere- 1988; EDGECOMB; MANKER 2008). como tem-se buscado no manejo integrado
nes, a utilização de antagonistas que atuam Produtos formulados a partir de B. subtilis de pragas e na produção integrada de várias
por meio de hiperparasitismo conduz a são utilizados, desde 1983, nos Estados culturas (DE WIT et al., 2009; MORANDI,
resultados mais promissores, pois o esta- Unidos, para o tratamento de sementes 2009). Entretanto, seu sucesso só é pos-
belecimento dos antagonistas é facilitado. de amendoim e aplicações nas folhas e sível com o conhecimento das possíveis
Para as culturas anuais, os antagonistas no solo (WELLER, 1988; EDGECOMB; interações entre plantas, fitófagos e pató-
que atuam por antibiose e competição têm MANKER 2008). genos e seus efeitos sobre a eficiência dos
maiores chances de sucesso, sendo mais Morandi et al. (2005) descrevem o uso métodos considerados (PAULA JÚNIOR
indicados para doenças que ocorrem em de outros antagonistas para o controle de et al., 2007).
períodos definidos e, preferencialmente, patógenos do filoplano no Brasil, como Uma experiência bem-sucedida foi
de forma isolada. Dycima pulvinata, para o controle do mal- implantada em propriedade localizada em
A bactéria Bacillus subtilis é um dos das-folhas da seringueira, Acremonium, Holambra, SP, especializada no cultivo de
antagonistas mais estudados para o con- para o controle da lixa-do-coqueiro, T. lírio, cultura de alto valor agregado, e com
trole de patógenos fúngicos na parte aérea stromaticum associado ao manejo cultural, histórico de utilização intensiva de fun-
de plantas, especialmente no controle de para o controle da vassoura-de-bruxa do gicidas, inseticidas e acaricidas (DE WIT
doenças do filoplano e em pós-colheita. cacaueiro, e Clonostachys rosea, para o et al., 2009). Os problemas fitossanitários
Essa bactéria é efetiva na prevenção e no controle do mofo-cinzento em morango e no lírio, incluindo doenças causadas por
controle de doenças causadas por várias ornamentais. Botrytis elliptica, Phytophthora, Fusarium,
espécies de patógenos. Inibe a germinação Sclerotinia, Penicillium, Rhizoctonia e
de esporos, o crescimento do tubo germina- INTEGRAÇÃO DE Pythium, e pragas como pulgões, Fungus
tivo e micelial dos patógenos, bloqueando MÉTODOS DE MANEJO gnatus, bicho-mineiro, tripes e lagartas
o ataque do patógeno à superfície foliar PARA O CONTROLE DE são limitantes para o seu cultivo. Nessa
FITOPATÓGENOS E PRAGAS
pela formação de uma zona de inibição, propriedade, chegou-se a usar brometo de
e também por indução de resistência no A integração de métodos para o manejo metila para manter o sistema produtivo
hospedeiro. Há produtos no mercado in- de mais de um patógeno ou praga ao mes- em funcionamento, em função do dese-
ternacional com registro de utilização em mo tempo aumenta as chances de sucesso quilíbrio gerado ao longo do tempo. A
plantios de uva, maçã, pera, amendoim, de controle e contribui para a redução de partir desse ponto, foi tomada a decisão
cucurbitáceas, hortaliças folhosas, crucí- custos. A integração de métodos fitossani- de alterar o sistema de cultivo. O uso de
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
agrotóxicos foi paulatinamente substituído de plantas doentes, é mantido em todas cos por técnicas alternativas de controle
pela integração de métodos biocompatíveis as estufas. Adicionalmente, são usadas iniciou-se nas estufas de produção, onde
para o controle de pragas e doenças, com armadilhas para o monitoramento e o foi estabelecido um programa de adoção
introdução de vários microrganismos. manejo de pragas, além do controle da de técnicas que não causassem estresses
A primeira medida foi deixar de utilizar umidade relativa do ar dentro das casas às plantas. A estratégia básica adotada foi
agrotóxicos de faixa vermelha, fase que de- de vegetação. Todas as caixarias, vasos o tratamento adequado do substrato. Além
morou aproximadamente um ano. Mais um e demais utensílios utilizados em cada disso, foi montada uma estrutura na casa
ano foi utilizado para substituir os de faixa ciclo produtivo, que varia de 30 a 90 dias, de vegetação que permitiu a elevação dos
amarela. Finalmente, depois do terceiro dependendo das variedades cultivadas, são vasos em torno de 30 cm, com a finali-
ano, deixou-se de utilizar agrotóxicos na desinfestados com substância à base de dade de evitar a contaminação via solo.
propriedade. Paralelamente à substituição pinho. O sucesso dessa experiência não se As plantas passaram a ser pulverizadas
dos agrotóxicos, foi alterada a fertilização deve apenas à substituição dos agrotóxicos de forma preventiva com agentes de bio-
controle (Trichoderma spp., Metarhizium
da cultura para permitir a sobrevivência por algum produto biocompatível, mas pela
anisopliae, C. rosea, Beauveria sp., B.
dos agentes de biocontrole que passaram alteração de todo o sistema de produção,
thuringiensis var. israelensis e B. subtilis)
a fazer parte do sistema. Atualmente, a já que a simples substituição de produtos
e extrato de peixe. Ao final, a sanitização
produção de lírios na propriedade baseia- pode levar aos mesmos desequilíbrios
e o uso de armadilhas foram incorporados
se na desinfestação do substrato com causados pelos agrotóxicos.
à rotina das casas de vegetação.
vapor, seguido de sua recolonização com Um sistema semelhante foi adotado
A integração de métodos físicos
Trichoderma, Metarhizium, Beauveria e para a cultura de Spathiphyllum (espati-
e biológicos também foi eficiente no
microrganismos presentes em biofertili- filo, bandeira-branca ou lírio-da-paz) (DE controle de patógenos em viveiro de
zante produzido aerobicamente, visando à WIT et al., 2009). A principal doença da Cordia verbenacea (erva-baleeira) (MO-
eliminação do vácuo biológico promovido cultura é a podridão de raiz e colo, cau- RANDI, 2009). A erva-baleeira é uma
pela desinfestação. Além disso, são rea- sada por Cylindrocladium spathiphylli, planta medicinal, cujo óleo essencial é
lizadas pulverizações com Trichoderma, além dos sintomas causados por Pythium, usado comercialmente na fabricação de
Clonostachys, Metarhizium, Beauveria Phytophthora e Fungus gnatus. Os fun- pomadas e spray com propriedades anti-
e Bacillus thuringiensis var. israelensis. gicidas disponíveis no mercado não são inflamatórias. A propagação de mudas
Quando necessário, são utilizados produ- registrados para a cultura e não apresentam é feita em viveiros. Um dos problemas
tos como óleo de nim, própolis, fosfito e a eficiência desejada, por causa dos proble- fitossanitários detectados em viveiros tem
piro-alho. Associado a esses produtos e a mas com a resistência do patógeno. O ciclo sido o ataque de Phoma sp. O manejo in-
uma fertilização equilibrada e controlada da cultura é de 18 meses, o que prolonga tegrado (Fig. 2) proposto para o controle
diariamente, um programa de sanitização, a exposição aos problemas fitossanitários. da doença permitiu a redução drástica das
com a eliminação de plantas e partes A estratégia de substituição dos agrotóxi- perdas e incluiu:
Ambiente
Limpeza do viveiro
Desinfestação
do substrato
Recolonização
do substrato
Manejo da irrigação
Plantas doentes
Plantas sadias
Proteção do filoplano
Manutenção da limpeza
Hospedeiro Patógeno
Figura 2 - Esquema de manejo integrado de Phoma sp. em viveiro de erva-baleeira
FONTE: Dados básicos: Morandi (2009).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
a) limpeza e desinfestação das instala- de pragas resistentes. Além das pragas, os C. rosea em conjunto com a liberação de
ções do viveiro; morangueiros são infectados por grande ácaros predadores Phytoseiulus macropilis
b) desinfestação prévia do substrato em diversidade de espécies de patógenos, com e Neoseiulus californicus (MORANDI;
coletor solar (GHINI; BETTIOL, destaque para Botrytis cinerea, causador BETTIOL 2008).
1991); do mofo-cinzento. Esse patógeno também O fungo C. rosea é encontrado em
c) recolonização do substrato com apli- causa perdas em ornamentais, hortícolas e diferentes habitats, em regiões tropicais
cação de biofertilizante à base de es- frutíferas, sobretudo em cultivo protegido. e temperadas, comumente associado a
terco bovino, visando ao incremento Pode atacar as culturas em vários estádios escleródios no solo e a tecidos vegetais
da diversidade e atividade microbia- de desenvolvimento e no armazenamento, senescentes. Além disso, coloniza endofi-
nas no substrato (BETTIOL, 2006); o que dificulta o seu controle. A espo- ticamente raízes, hastes, folhas e frutos de
rulação abundante nos restos culturais, diferentes plantas (SUTTON et al., 1997).
d) manejo da irrigação, com a redução
principal fonte de inóculo, contribui para É eficiente no controle de B. cinerea em
da frequência, para reduzir o período
a manutenção de epidemias. Assim, preco- plantas de famílias distintas, como gerâ-
de molhamento foliar e limitar a
niza-se a supressão da esporulação como nio, begônia, ciclâmen, Exacum, roseiras
ocorrência de ambiente favorável à
estratégia de manejo (MORANDI et al., e outras ornamentais, tomate, pimentão,
infecção;
2003). Os fungicidas, em geral, não são pepino, framboesa, morango e mudas de
e) proteção do filoplano, por meio da
eficientes em suprimir a esporulação de eucalipto e de coníferas. Em morango, o
pulverização quinzenal de bioferti-
B. cinerea, uma vez que interferem prin- antagonista é pulverizado semanalmente a
lizante a 10%, visando à formação
cipalmente no processo de infecção e não partir do transplantio das mudas, enquanto
de uma “barreira biológica” sobre
são efetivos contra o patógeno nos restos os ácaros predadores são liberados nas
as mudas;
culturais. Morandi et al. (2000) relataram reboleiras, assim que os primeiros ácaros-
f) manutenção da limpeza, com eli- que a infestação do ácaro-rajado em fo- rajados são observados na cultura. Além
minação frequente de plantas e lhas de roseira aumentou a germinação, o da aplicação dos agentes de controle bio-
partes de plantas doentes, visando à crescimento e a esporulação de B. cinerea, lógico, a limpeza da cultura (sanitização)
redução da disseminação do inóculo demonstrando a importância do manejo deve ser feita pela eliminação contínua de
secundário do patógeno no interior integrado desses problemas. folhas e frutos doentes. Essa prática é de
do viveiro. fundamental importância para a eficiência
O manejo biológico integrado do
No sistema agrícola convencional, ácaro-rajado e do mofo-cinzento é reali- do manejo. No campo, a interrupção da
o manejo de populações de pragas e de zado com sucesso, desde 2005, no cultivo limpeza proporcionou aumento da incidên-
patógenos é tratado de forma isolada. Não orgânico do morango em Serra Negra, SP, cia da doença mesmo com a aplicação do
é levado em consideração o efeito das com a aplicação do agente de biocontrole agente de biocontrole (Gráfico 1).
interações entre organismos infestantes e
infectantes quanto à dinâmica de suas po-
pulações. Por outro lado, em sistemas onde
o uso de pesticidas é restrito, a diversidade
100 Sem C. rosea
e a abundância de espécies de fitófagos e de
Com C. rosea
patógenos são maiores e as interações entre
80
esses grupos de organismos podem afetar
Incidência (%)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
A introdução de agentes de biocontrole A introdução de um agente de controle (agricultura biodinâmica, natural, alter-
no sistema produtivo é segura do ponto de biológico exige o seu estabelecimento, se- nativa, sustentável e ambiental). Esses
vista ambiental e de riscos à saúde humana. guido de interações com o organismo-alvo novos modelos de agricultura colaboram
No caso de C. rosea, há produtos registra- e outros organismos. Essas interações com- para a racionalização do uso de agrotóxi-
dos nos Estados Unidos e Canadá para o plexas são fundamentais para o sucesso do cos e atendem às exigências da produção
controle de B. cinerea. No Brasil, o fungo controle, devem ser analisadas de modo de alimentos saudáveis e com qualidade
é comercializado, porém não há registro no holístico e consideradas em longo prazo. ambiental.
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abas- Há necessidade de amplo conhecimento A integração de métodos biocom-
da ecologia de sistemas para o sucesso patíveis para o controle dos problemas
tecimento (MAPA). Os ácaros predadores
do controle biológico. Desse modo, a fitossanitários ainda é mais importante no
também são comercializados no País e há
simples substituição dos agrotóxicos não contexto de mudanças climáticas globais.
processos de registro pendentes.
é suficiente para garantir uma agricultura Assim, é imprescindível que esforços
mais limpa. É necessário redesenhar os sejam feitos para minimizar a emissão de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sistemas de produção para atingir a sua carbono para a atmosfera. Possivelmente,
Apesar de todas as vantagens relatadas, sustentabilidade. diversos desses métodos poderão colaborar
o uso de agentes de controle biológico O mercado brasileiro de agentes de nesse sentido.
apresenta diversas dificuldades, especial- controle biológico de doenças de plantas
mente relacionadas com a qualidade dos tem crescido e diversificado significati- AGRADECIMENTO
produtos biológicos, registro no MAPA, vamente nos últimos anos. A adoção do À Fundação de Amparo à Pesquisa do
ausência de fornecedores qualificados, controle biológico e de outros métodos Estado de São Paulo (Fapesp), à Fundação
controle de qualidade e, principalmente, alternativos para o controle dos problemas de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
com o pequeno número de agricultores fitossanitários vem recebendo colaboração Gerais (Fapemig) e ao Conselho Nacional
com sistemas integrados para troca de marcante de um movimento crescente que de Desenvolvimento Científico e Tecno-
informações e experiências. é a agricultura orgânica e suas variantes lógico (CNPq).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
REFERÊNCIAS disease control programs. Summa Phyto- NASSER, L.C.B.; CAFÉ FILHO, A.C.; AZE-
pathologica, Jaboticabal, v.34, p.196-199, VEDO, J.A.; GOMES, A.C.; ALBRETCH,
BETTIOL, W. Controle de doenças de plan-
fev. 2008. Suplemento. J.C.; FREITAS, M.A.; KARL, A.C.; FERRAZ,
tas com agentes de controle biológico e
L.L.C.; MEDEIROS, R.G.; ARANCIBIA, R.C.;
outras tecnologias. In: CAMPANHOLA, C.; GHINI, R.; BETTIOL, W. Coletor solar para
NAPOLEÃO, R.L.; JUNQUEIRA, N.T.V. Ma-
BETTIOL, W. (Ed.). Métodos alternativos desinfestação de substratos. Summa Phyto-
nejo do cancro da haste da soja e mofo bran-
de controle fitossanitário. Jaguariúna: Em- pathologica, Jaguariúna, v.17, n.3/4, p.281-
co do feijoeiro em sistemas de produção do
brapa Meio Ambiente, 2003. p.191-216. 286, jul./dez. 1991.
cerrado. Fitopatologia Brasileira, Brasília,
_______. Productos alternativos para el ma- _______; PATRÍCIO, F.R.A.; BETTIOL, W.; v.24, p.220-222, ago. 1999. Suplemento.
nejo de enfermedades em cultivos comer- ALMEIDA, I.M.G.; MAIA, A.H.N. Effect of Resumos do XXXII Congresso Brasileiro de
ciales. Fitosanidad, Havana, v.10, n.2, p.85- sewage sludge on suppressiveness soil-borne Fitopatologia.
98, jun. 2006. plant pathogens. Soil Biology & Biochemis-
_______; KARL, A.C. Mofo branco do feijo-
try, Amsterdam, v.39, p.797-805, 2007.
_______; GHINI, R. Solos supressivos. In:
���� eiro irrigado e o plantio direto nos cerrados.
MICHEREFF, S.F.; ANDRADE, D.E.G.T.; KLEIN, D.; EVERLEIGH, D.E. Ecology of Direto no Cerrado, Uberlândia, v.3, n.8,
MENEZES, M. (Ed.). Ecologia e manejo de Trichoderma. In: KUBICEK, C.P.; HARMAN, p.11-12, 1998.
patógenos radiculares em solos tropicais. G.E. (Ed.). Trichoderma & Gliocladium:
PAULA JÚNIOR, T.J. de; TEIXEIRA, H.; FADI-
Recife: UFPE, 2005. p.125-152. enzymes, biological control and commer-
NI, M.A.M.; VENZON, M.; JESUS JÚNIOR,
cial applications. London: Taylor & Francis,
_______; MORANDI, M.A.B. Trichoderma in W.C.; MORANDI, M.A.B.; PALLINI, A. Inte-
1998. v.1, p.57-74.
Brazil: history, research, commercialization rações entre fitófagos e patógenos de plan-
and perspectives. IOBC/WPRS Bulletin, MORANDI, M.A.B. Integração de métodos tas. Revisão Anual de Patologia de Plantas,
v.43, p.235-237, 2009. físicos e biológicos no controle de doenças Passo Fundo, v.15, p.353-402, 2007.
em viveiros de plantas medicinais: estudo
_______; _______; PINTO, Z.V.; PAULA JÚ- de caso com Cordia verbenacea. In: BET- _______; VIEIRA, R.F.; ROCHA, P.R.R.; BER-
NIOR, T.J. de; CORREA, E.B.; MOURA, TIOL, W.; MORANDI, M.A.B. (Ed.). Biocon- NARDES, A.; COSTA, E.L.; CARNEIRO,
A.B.; LUCON, C.M.M.; COSTA, J.C.; BE- trole de doenças de plantas: uso e perspec- J.E.S.; VALE, F.X.R. do; ZAMBOLIM, L.
ZERRA, J.L. Bioprotetores comerciais para tivas. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, White mold intensity on common bean in
doenças de plantas. Revisão Anual de Pato- 2009. p.337-341. response to plant density, irrigation fre-
logia de Plantas, Passo Fundo, v.17, p.111- quency, grass mulching, Trichoderma spp.,
147, 2009. _______; BETTIOL, W. Integração de méto- and fungicide. Summa Phytopathologica,
dos biocompatíveis no manejo de doenças Jaboticabal, v.35, n.1, p.44-48, Jan./Feb.
BLAKEMAN, J.P. Ecological sucession of e pragas: experiências em plantas ornamen- 2009.
leaf surface microorganisms in relation to tais e medicinais. Tropical Plant Pathology,
biological control. In: WINDELS, C.E.; LIN- Brasília, v.33, p.31-34, 2008. Suplemento. POMELLA, A.W.V. A utilização do controle
DOW, S.E. Biological control on the phyllo- biológico para grandes culturas: a experiên-
plane. St. Paul: The American Phytopatho- _______; _______; GHINI, R. Situação do cia do grupo Sementes Farroupilha. Summa
logical Society, 1985. p.6-30. controle biológico de doenças de plantas no Phytopathologica, Jaboticabal, v.34, p.195-
Brasil. In: VENZON, M.; PAULA JÚNIOR, 196, fev. 2008. Suplemento.
COOK, R.J.; BAKER, K.F. The nature and T.J. de; PALLINI, A. (Coord.). Controle al-
practice of biological control of plant ternativo de pragas e doenças. Viçosa,
������������
MG: SUTTON, J.C.; DE-WEI, L.; GANG, P.; HAI,
pathogens. �����������������������������
2.ed. St. Paul: The American EPAMIG-CTZM, 2005. p.247-268. Y.; PINGGAO, Z.; VALDEBENITO-SAN-
Phytopathological Society, 1983. 539p. HUEZA, R.M. Gliocladium roseum: a versa-
MORANDI, M.A.B.����������������
; MAFFIA, L.A.; tile adversary of Botrytis cinerea in crops.
DE WIT, J.P.W.; KIEVITSBOSH, R.A.; BET- MIZUBUTI, E.S.G.; ALFENAS, A.C.; BAR- Plant Disease, St. Paul, v.81, n.4, p.316-328,
TIOL, W. Integração de métodos físicos e BOSA, J.G. Suppression of Botrytis cinerea
Apr. 1997.
biológicos para o controle de doenças e sporulation by Clonostachys rosea on rose
pragas em lírio e espatifilo. In: BETTIOL, debris: a valuable component in Botrytis WELLER, D.M. Biological control of soil-
W.; MORANDI, M.A.B. (Ed.). Biocontrole blight management in commercial green- borne plant pathogens in the rhizosphere
de doenças de plantas: uso e perspectivas. houses. Biological Control, Amsterdam, with bacteria. Annual Review of Phytopa-
Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2009. v.26, n.3, p.311-317, Mar. 2003. thology, Palo Alto, v.26, p.379-407, 1988.
p.331-336.
_______; SUTTON, J.C.; MAFFIA, L.A. Rela- ZAMBOLIM, L.; CASA, R.T.; REIS, E.M.
EDGECOMB, D.W.; MANKDER, D.C. Ser- tionships of aphid and mite infestations to Manejo integrado de doenças em plantio
enade (Bacillus subtilis strain QST 713) and control of Botrytis cinerea by Clonostachys direto. Informe Agropecuário. Plantio Di-
Sonata (Bacillus pumilus QST 2808), new rosea in rose (Rosa hybrida) leaves. Phyto- reto, Belo Horizonte, v.22, n.208, p.73-83,
biological tools for integrated and organic parasitica, v.28, n.1, p.55-64, Mar. 2000. jan./fev. 2001.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 7 3 - 8 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
ç a m e n to
Lan
O Projeto Jaíba é
considerado o maior
perímetro de irrigação da
América Latina e tem
importância estratégica para
o Brasil. Idealizado há
décadas, atinge agora o
mais alto nível de ocupação
de suas áreas, com geração
de renda e utilização de
mão-de-obra e a
preocupação com aspectos
relacionados com o meio
ambiente.
Esta Série Documentos faz
uma avaliação dos impactos
ambientais, da irrigação e o
ambiente na região do
Projeto Jaíba, com o objetivo
de possibilitar a implantação
de perímetros irrigados
semelhantes com maior
sustentabilidade.
Informações:
I n f o r m e (31)
A g r o p e c u3489-5002
á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p.73-82, jul./ago. 2009
publicacao@epamig.br
INTRODUÇÃO causados. Dentre estas destacam-se o d) seja de fácil aplicação com equipa-
controle por meio de resistência genética, mentos convencionais;
Nematoides parasitas de plantas causam
a rotação de culturas, o controle químico e) tenha alto potencial de estabeleci-
grandes perdas na produção agrícola mun-
e outros métodos alternativos, como o mento no solo;
dial, visto que são organismos que atacam
controle biológico, que, a cada dia, ganha f) apresente persistência no solo por
diversas culturas de interesse agronômico,
mais espaço nas pesquisas científicas e no longos períodos, mesmo em condi-
o que reflete em baixa produtividade, gran-
uso pelos agricultores. ções adversas;
des prejuízos para o agricultor e aumento
Segundo Kerry (1989), para que um g) seja inócuo ao homem e ao ambien-
no custo final do produto para o consumi-
organismo seja considerado um bom agen- te;
dor (SASSER; FRECKMAN, 1987).
te de controle biológico, é necessário que h) não exija aplicações constantes;
O controle de nematoides é comple-
tenha as seguintes características: i) seja de fácil identificação;
xo. Por isso, medidas preventivas devem
ser tomadas, a fim de evitar a introdução a) apresente parasitismo letal; j) possua um modo de ação conheci-
desses organismos em áreas onde ainda b) seja de fácil manipulação em labo- do.
não estão presentes. Após serem introdu- ratório; Diversos organismos são considerados
zidos, outras medidas de controle devem c) apresente facilidade de produção em inimigos naturais de fitonematoides, como
ser adotadas para minimizar os prejuízos massa; bactérias, fungos, nematoides predadores,
1
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG NM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: wanianeves@epamig.br
Eng o Agro , Pós-Doc, Prof. Adj. UNIPAM - Centro Educacional de Patos de Minas, R. Major Gote, 808, CEP 38702-054 Patos de Minas-MG.
2
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
tardígrados, vírus, artrópodes e ácaros. grudarão na cutícula e serão carregados de água em solos arenosos faz com que
Destes, bactérias e fungos são os mais es- para dentro da raiz pelo nematoide. Assim endósporos aplicados na superfície do solo
tudados para uso no controle biológico de que o J2 começa a alimentar-se no interior atinjam as camadas mais profundas, onde
nematoides fitoparasitas (KERRY, 1990). da raiz, o endósporo recebe um estímulo se encontram os nematoides.
e emite um tubo germinativo que perfura Tratos culturais como irrigação, aração
BACTÉRIAS PARASÍTICAS a cutícula do nematoide e chega ao fluido e gradagem melhoram a distribuição de en-
pseudocelômico, que funciona como o san- dósporos no campo e aumentam as chances
Pasteuria penetrans gue do nematoide. Lá, a bactéria encontra de contato entre P. penetrans e nematoides.
alimento para se multiplicar. Forma, então, Outro fator primordial para o desenvolvi-
A bactéria endoparasita Pasteuria
colônias vegetativas com engrossamento mento dessa bactéria é a temperatura. A ade-
penetrans forma esporos de resistência
nas terminações de cada micélio que dará são de endósporos e o desenvolvimento de
(endósporos). É considerada a bactéria
origem a novos endósporos. Esse parasitis- P. penetrans em Meloidogyne spp. ocorrem
com maior potencial de controle bioló-
mo é muito eficiente e os ovários do nema- de forma mais eficiente em temperaturas
gico. Sua sobrevivência prolongada no
toide não conseguem competir com a bac- entre 25oC e 30oC. Maiores informações
solo, resistência ao calor e à dessecação,
téria pelos nutrientes do corpo da fêmea. sobre a biologia de P. penetrans podem
inocuidade ao homem e a outros animais
Portanto, o nematoide não produz ovos e ser encontradas no trabalho de Freitas e
e o possível uso em conjunto com práticas
a fêmea torna-se um saco, contendo cerca Carneiro (2000).
culturais são suas principais vantagens
de dois milhões de esporos da bactéria, que
(STIRLING, 1991). são liberados ao solo com a morte da fêmea Eficiência de Pasteuria
Além de P. penetrans, três outras e decomposição dos tecidos da raiz. Após penetrans no campo
espécies de Pasteuria foram descritas vários ciclos de vida do nematoide e da
com base em suas características mor- A bactéria P. penetrans foi aplicada para
bactéria, a concentração de endósporos no
fológicas, morfométricas e de gama de controle biológico do nematoide-das-galhas
solo eleva-se e cada juvenil em migração
hospedeiros: Pasteuria thornei, parasita de Meloidogyne javanica em três situações
acaba aderido com mais de 50 esporos, o
Pratylenchus spp., Pasteuria nishizawae, diversas: em solo arenoso e clima quente no
que impede sua locomoção e a infecção da
parasita de nematoides dos gêneros Maranhão, em solos arenosos e argilosos em
raiz. Nesse ponto, diz-se que o solo está
Heterodera e Globodera e Candidatus clima subtropical e com inverno rigoroso,
supressivo ao nematoide, pela presença da
Pasteuria usgae, parasita de Belonolaimus em Santa Catarina. Nos solos arenosos do
bactéria, ou seja, há ausência ou supressão
longicaudatus. Sabe-se que bactérias do Maranhão e de Santa Catarina, a bactéria
da doença, quando são cultivadas plantas
gênero Pasteuria parasitam mais de 300 desenvolveu-se bem, resultando em supres-
suscetíveis. Portanto, P. penetrans atua em
espécies de nematoides. Geralmente, essa duas fases: inibindo a produção de ovos e sividade do solo, ao passo que em solos com
bactéria é específica, mas endósporos de a penetração do juvenil na raiz. maior teor de argila, em Santa Catarina, a
Pasteuria retirados de uma espécie de Como a reprodução dessa bactéria supressividade não ocorreu com a mesma
nematoide podem vir a aderir e multipli- em meio de cultura ainda não foi obtida intensidade (Quadros 1, 2 e 3).
car-se em organismos de outra espécie ou com sucesso, a produção massal de P. O clima quente do Maranhão contri-
mesmo de outro gênero de nematoide. penetrans é feita in vivo, inoculando-se buiu para o rápido desenvolvimento de solo
plantas em casa de vegetação com J2 de supressivo, em dois anos, ao passo que em
Reprodução Santa Catarina, com temperaturas baixas
Meloidogyne com endósporos aderidos
O juvenil de segundo estádio (J2) do na cutícula, como descrito por Stirling e no outono e no inverno, o desenvolvimento
nematoide-das-galhas, Meloidogyne spp., Wachtel (1980). da supressividade deu-se de forma mais
sai do ovo, migra no solo em direção às lenta. Essa diferença climática resultou
raízes das plantas e completa o seu ciclo Condições de ambiente em diferença na densidade populacional
favoráveis do nematoide no solo das duas localidades,
de vida, cerca de 30 a 40 dias após a pe-
netração na raiz. Nesse estádio, a fêmea Embora a bactéria P. penetrans seja que foi alta durante o ano todo no Mara-
madura coloca cerca de 500 ovos em uma encontrada em vários tipos de solo, os que nhão e apresentou picos de alta no final do
massa de ovos externamente à raiz. Os J2, geralmente se tornam supressivos a nema- cultivo do fumo em Santa Catarina, apenas
que sairão dos ovos, darão origem, após toides são os de textura arenosa. A maior uma vez por ano, caindo drasticamente no
outro ciclo de vida, a cerca de 250 mil J2 e movimentação dos J2 em solo arenoso, do inverno. Como P. penetrans depende do
assim por diante. No trajeto do ovo à raiz, que em argiloso, aumenta a possibilidade encontro de seus endósporos com os J2
se o J2 entrar em contato com endósporos de contato entre J2 e endósporos imóveis no solo para se aderir e se multiplicar, o
de Pasteuria dormentes no solo, estes da bactéria, assim como a maior percolação desenvolvimento da supressividade, re-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
QUADRO 1 - Supressividade por Pasteuria penetrans (Pp) em solo de campo cultivado com dita-se que as populações do nematoide e
jaborandi e infestado com Meloidogyne javanica em Barra do Corda, MA da bactéria antagonista entraram em equilí-
Número de galhas Número de ovos brio, com população residual de ambos no
Ano da Solo Solo não Solo Solo não solo. A presença da bactéria em condições
avaliação Redução Redução
autoclavado autoclavado
(%)
autoclavado autoclavado
(%) tão favoráveis ao seu desenvolvimento
(Pp inativada) (Pp ativa) (Pp inativada) (Pp ativa)
possivelmente seja suficiente para impedir
1999 34,5 13,6 60,6 1412,0 146,0 89,7 a elevação da população do nematoide-das-
2000 213,0 87,2 59,1 4798,0 975,1 79,7 galhas acima do nível de dano, como ocorria
2002 196,7 34,8 82,3 4020,0 310,8 92,3 antes da aplicação de P. penetrans. Segundo
Stirling (1991), existem duas estratégias de
2004 383,1 163,9 57,2 3962,3 1211,9 69,4
aplicação de P. penetrans no campo para o
FONTE: Freitas et al. (2009).
controle do nematoide-das-galhas. A forma
NOTA: As médias de tratamento na mesma linha e dentro das colunas de número de galhas
inundativa consiste em aplicações frequen-
ou de número de ovos diferem entre si pelo teste F a 1% de probabilidade, em todos
os anos de realização de biotestes.
tes e em grande número de endósporos
para reduzir a população de nematoides de
forma direta e imediata. Entretanto, como
QUADRO 2 - Composição textural dos solos das propriedades em Santa Catarina nas quais não há produção satisfatória dessa bactéria
Pasteuria penetrans foi aplicada in vitro, sua multiplicação ocorre in vivo em
Propriedade
Areia grossa Areia fina Silte Argila tomates inoculados com juvenis, contendo
(dag/kg) (dag/kg) (dag/kg) (dag/kg) endósporos aderidos, em casa de vegetação.
A 50 42 3 5 Esta produção massal é lenta e laboriosa,
B 23 70 1 6 resultando em pouco inóculo da bactéria.
Portanto, P. penetrans tem sido aplicada
C 13 41 28 18
de forma inoculativa em experimentos de
D 26 43 12 19
campo, isto é, poucos endósporos da bacté-
FONTE: Freitas et al. (2009).
ria são aplicados em suspensão sobre o solo
ao redor dos sistemas radiculares e ocorre
QUADRO 3 - Redução do número de ovos de Meloidogyne javanica e de galhas em raízes de a multiplicação da bactéria na população
tomate por sistema radicular em bioteste de supressividade de solo de campo de nematoides, infestando o solo. Mesmo
de Santa Catarina, por Pasteuria penetrans densidades baixas de endósporos no solo
Redução do número de ovos/ Redução do número de galhas/ podem aumentar, em condições ideais,
sistema radicular sistema radicular
Propriedade (%) (%) ao ponto de tornar o solo supressivo ao
2006 2007 2006 2007
nematoide. Isso viabiliza a utilização dessa
bactéria em programas de controle bioló-
A 35,1 76,1 30,5 61,7
gico, onde as condições edafoclimáticas
B 29,5 96,4 49,2 82,7 são favoráveis, mesmo sem o domínio da
C 15,3 14,2 34,6 21,8 produção in vitro da bactéria.
D 73,4 20,4 43,5 24,4
BACTÉRIAS NÃO PARASÍTICAS
FONTE: Freitas et al. (2009).
Rizobactérias
sultante da concentração alta de esporos, concentração de endósporos, após a quase As rizobactérias destacam-se como
só ocorre em solos altamente infestados extinção do nematoide no solo (Quadro 1). microrganismos utilizados no controle
pelo nematoide hospedeiro. Assim, todas Endósporos de P. penetrans podem ser lixi- biológico de fitopatógenos, incluindo os ne-
as condições que favoreçam o desenvolvi- viados em solos arenosos por água de chuva matoides. Essas bactérias têm a rizosfera e o
mento do nematoide são importantes para ou de irrigação, atingindo camadas mais rizoplano das plantas como sítios preferen-
a reprodução da bactéria. fundas do solo, onde não se encontram os ciais para sua multiplicação e sobrevivência
A pequena queda do nível de supressão nematoides. Como M. javanica não voltou (FABRY, 2006). De acordo com Kloepper
observada no último bioteste com solo a ser problema nas áreas irrigadas, onde P. et al. (1990), as rizobactérias que desempe-
do Maranhão deve-se a uma redução da penetrans foi aplicada no Maranhão, acre- nham efeitos benéficos nas plantas, promo-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
vendo seu crescimento e/ou protegendo-as tratamento sem inoculação com R. etli. endofíticas podem ter efeito antagônico a
contra fitopatógenos, são nomeadas de Plant Para comprovar a indução de resistência nematoides sedentários, quando estes já se
Growth-Promoting Rhizobacteria (PGPR), sistêmica pela bactéria, Fabry (2006) usou estabeleceram nos tecidos do hospedeiro
termo em inglês para Rizobactérias Promo- a técnica de raiz partida, em que a bactéria e induziram seus sítios de alimentação
toras de Crescimento de Plantas. A maioria estava presente em uma parte separada da (CAMPOS et al., 1998).
delas pertence aos gêneros Pseudomonas e raiz e o nematoide em outra parte, em outro Segundo Naves et al. (2000), alguns
Bacillus, os quais apresentam a capacidade recipiente. Com a utilização dessa técnica, isolados de bactérias endofíticas têm capa-
de colonizar raízes de plantas e estimular ficou claro que a redução do número de ga- cidade comprovada de afetar a mobilidade
seu crescimento (KLOEPPER et al., 1990; lhas e de ovos deveu-se a efeitos indiretos, de juvenis de M. javanica, chegando a cau-
FABRY, 2006). verificando-se assim, indução de resistên- sar alta mortalidade desses juvenis in vitro.
A produção de inoculantes de baixo cia sistêmica pela bactéria na planta. No trabalho realizado por esses autores,
custo com PGPR é uma alternativa para O efeito das rizobactérias na promoção dos 40 isolados de bactérias endofíticas
diminuir os riscos ambientais causados do crescimento de plantas e no controle de obtidos, sete imobilizaram os juvenis por
pela utilização inadequada de insumos e nematoides pode também ser associado 24 horas e provocaram porcentagem de
agrotóxicos, aumentar a produção agrícola, ao uso do isolado bacteriano em conjunto mortalidade semelhante à do nematicida
tornar os produtos agrícolas mais competi- com algum tipo de matéria orgânica (MO). Aldicarb. Os mesmos isolados também
tivos e diferenciados e, ainda, diminuir os A utilização conjunta de húmus e R. etli inibiram de forma eficiente a eclosão de
custos para o produtor (COELHO et al., promoveu aumentos significativos no peso juvenis e dois dos isolados provocaram a
2007). Além de não causar impacto am- da biomassa verde de plantas de tomate, morte de mais de 90% dos juvenis.
biental, o uso dessas bactérias no controle chegando, conforme a dose de húmus Plantas de tomate tratadas com bacté-
de fitonematoides oferece maior segurança rias endofíticas isoladas de mucuna-preta
utilizada, em aumento de mais de 100%
para aplicadores e consumidores, o que se (Mucuna aterrima) reduziram o número
no peso e até 45% na altura das plantas
caracteriza como mais um ponto positivo de ovos do nematoide M. incognita em até
(FABRY, 2006). Nesse trabalho, o autor
em sua adoção pelos agricultores. 92% e o número de galhas em até 52%, em
também observou que a ação conjunta da
Pouco se sabe a respeito dos meca- relação às plantas não tratadas com bacté-
bactéria com o húmus promoveu reduções
nismos de ação das rizobactérias sobre rias (TOMÉ et al., 2000). Além de serem
significativas no número de galhas de M.
os fitonematoides. Presume-se que envol- eficientes no controle de nematoides, algu-
incognita de até 64%, quando comparadas
vam a produção de toxinas e antibióticos mas dessas bactérias promoveram aumento
com o tratamento sem aplicação de húmus.
que inibem a eclosão e a mobilidade dos
Na ausência de R. etli, a incorporação de de até 79% na altura e 43%, no peso total
juvenis de segundo estádio, reduzindo
húmus não reduziu significativamente o das plantas, quando comparadas àquelas
a invasão dos nematoides nas raízes das
número de galhas causadas pelo nematoi- sem o tratamento com bactérias.
plantas. Outro modo de ação sugerido
de. Esse fato comprova que o uso integrado Neves et al. (2000) observaram que
está relacionado com a modificação dos
de medidas de manejo, além de aumentar a algumas bactérias endofíticas eficientes no
exsudatos radiculares da planta, fazendo
eficiência de controle de certos patógenos, controle de bactérias e fungos fitopatogêni-
com que não sejam reconhecidos pelos ne-
pode ser capaz de promover o crescimento cos também foram eficientes no controle de
matoides e deixem de estimular a eclosão
das plantas, o que não aconteceria com o nematoides do gênero Meloidogyne. Esse
e a atração de juvenis e o reconhecimento
uso isolado da bactéria ou do húmus. Daí fato é interessante, pois uma das caracte-
do hospedeiro. Além disso, as rizobactérias
a importância de serem adotadas medidas rísticas desejáveis de um bom agente de
podem ser capazes de ativar mecanismos
de manejo integrado para a condução das controle é a ação sobre vários fitopatóge-
de defesa das plantas por meio da indução
culturas, o que faz com que os defensivos nos, o que justifica o uso dessas bactérias
de resistência sistêmica (OOSTENDORP;
agrícolas sejam utilizados de maneira mais pelos agricultores, já que na maioria das
SIKORA, 1990).
racional. vezes, na natureza, as plantas são ataca-
Fabry (2006) testou a bactéria Rhizobium
das por ampla gama de fitopatógenos ao
etli isolado G12, obtida da rizosfera de
Bactérias endofíticas mesmo tempo.
plantas de batata, visando à indução de
resistência sistêmica contra M. javanica As bactérias endofíticas colonizam o
FUNGOS ANTAGONISTAS
em plantas de tomate. O isolado não pro- interior das raízes, promovendo proteção
moveu o crescimento das plantas, mas os contra microrganismos fitopatogênicos sem Os fungos são importantes inimigos
números de galhas e de ovos por sistema causar nenhum dano à planta (KLOEPPER naturais dos nematoides em condições de
radicular foram reduzidos em 35,3% e et al., 1992). Uma das vantagens em re- campo e apresentam potencial de uso em
38,8%, respectivamente, em relação ao lação às rizobactérias é que as bactérias programas de controle biológico (CHEN;
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
DICKSON, 2004). Diversos gêneros de Os fungos predadores produzem estru- a germinação dos esporos, o crescimento
fungos podem-se alimentar de nematoides, turas especializadas de captura ao longo de micelial, a atividade predatória do fungo
adotando diferentes estratégias de ação, suas hifas, conhecidas como armadilhas e ainda favorecer a competição desses
o que permite, segundo Stirling (1991) e (FERRAZ; SANTOS, 1995). Essas arma- fungos com os demais organismos do solo.
Chen e Dickson (2004), agrupá-los em: dilhas apresentam características particula- Para ocorrer a predação, é necessário que
a) endoparasitas; res, conforme a espécie de fungo, segundo haja o crescimento micelial e a formação
b) predadores; Stirling (1991), podendo ser: de armadilhas. Os dois processos requerem
c) parasitas de ovos e fêmeas; a) hifas adesivas não modificadas; energia que pode ser suprida por carboidra-
d) produtores de metabólitos tóxicos. b) hifas adesivas tridimensionais; tos presentes na MO.
Os fungos parasitas de ovos e fêmeas
Os fungos endoparasitas produzem c) nódulos adesivos;
são um dos grupos que apresentam maior
esporos móveis (zoósporos) que se aderem d) anéis constritores; potencial de uso prático (SIDDIQUI;
à cutícula do nematoide hospedeiro. O es- e) anéis não constritores. MAHMOOD, 1996; CHEN; DICKSON,
poro germina e emite hifas que atravessam
Os principais gêneros de fungos preda- 2004), com destaque para Pochonia
a cutícula do nematoide e usam o conteúdo
dores são Monacrosporium e Arthrobotrys. chlamydosporia e Paecilomyces lilacinus.
pseudocelomático para sua nutrição. Após
Esses fungos permanecem no solo mesmo Esses fungos colonizam fêmeas e ovos de
utilizar a fonte de alimento, conídios do
na ausência do nematoide, apresentam nematoides, principalmente Meloidogyne
fungo são produzidos e liberados no meio
pouca especificidade pelo nematoide-alvo spp. e Heterodera spp., não exercendo
externo, quando se aderem novamente a
e são facilmente produzidos em meio de parasitismo sobre as formas móveis dos
outros nematoides. A maioria dos fungos
endoparasitas depende do parasitismo de cultura. A formação de armadilhas é fre- nematoides.
nematoides e apresenta fase saprofítica quentemente induzida pela presença dos Paecilomyces lilacinus é primariamen-
limitada. Além disso, não produzem quase nematoides. te saprófita e cresce em vários substratos
nenhum micélio no solo e completam seu Os resultados da utilização de fungos presentes no solo. A colonização de ovos,
ciclo no interior do corpo do nematoide, predadores para o controle de fitonematoides após o crescimento micelial na massa de
não desenvolvendo hifas externamente têm sido muito variáveis ou inconclusivos ovos, pode ocorrer por simples penetra-
ao nematoide parasitado. Hirsutella (SIDDIQUI; MAHMOOD, 1996). Por ção por meio da cutícula dos ovos, por
rhossiliensis, Catenaria auxiliaris, exemplo, na década de 70 foi lançado na hifas individuais, em função de atividade
Nematophthora gynophila, Drechmeria França um produto à base de Arthrobotrys enzimática ou pressão mecânica. O fungo
coniospora, Nematoctonus spp., superba (Royal 350®), para controle de dissemina-se rapidamente em solos agri-
Acrostalagmus spp., Harposporium spp., nematoides em tomateiro (Quadro 4). No cultáveis, tornando-se, em curto tempo, a
Myzocytium spp. e Haptoglossa spp. entanto, o desempenho do produto em di- espécie dominante onde é aplicado. Esse
são exemplos de fungos endoparasitas ferentes áreas de cultivo foi inconsistente antagonista tem sido muito explorado no
estudados no controle biológico de ne- (STIRLING, 1991). Tal comportamento controle de nematoides, não apenas em
matoides (STIRLING, 1991; SIDDIQUI; deve-se ao fato de que nem sempre a pesquisas, mas também comercialmente,
MAHMOOD, 1996; CHEN; DICKSON, época de maior atividade das armadilhas na forma de bionematicidas (Quadro 4).
2004). coincide com a época em que os estádios No entanto, a possibilidade de P. lilacinus
O potencial de uso de fungos endopa- infectivos dos nematoides endoparasitas causar infecções em humanos (STIRLING,
rasitas em programas de controle biológico sedentários estão presentes no solo, como 1991) tem limitado o registro de bioprodu-
é limitado, de acordo com Siddiqui e Mah- Meloidogyne e Heterodera (SIDDIQUI; tos à base desse fungo.
mood (1996), pelos seguintes fatores: MAHMOOD, 1996). A partir do momento Pochonia chlamydosporia produz
a) a locomoção e a atividade dos zo- em que os nematoides penetram nas raízes clamidósporos, estruturas de resistência
ósporos dependem da presença de da planta hospedeira, ficam protegidos do que favorecem sua sobrevivência no solo,
água no solo; parasitismo dos fungos predadores e, dessa mesmo na ausência de nematoides. Tais es-
b) crescimento limitado em meio de forma, os antagonistas devem esperar pela truturas facilitam a produção de inóculo e a
cultura, o que dificulta a produção eclosão de novos juvenis. Além disso, formulação de produtos. Esse fungo foi um
massal; esses fungos apresentam competência dos principais responsáveis pelo declínio
c) baixa habilidade de sobrevivência saprofítica limitada, são suscetíveis ao natural da população do nematoide-do-
saprofítica; antagonismo de outros fungos de solo e cisto dos cereais, Heterodera avenae Woll.,
d) suscetibilidade de seus esporos ao dependentes da presença de MO no solo em monocultura de cereais na Inglaterra
efeito micostático. (STIRLING, 1991), o que pode aumentar (KERRY et al., 1982 apud STIRLING,
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
1991). Em razão dos resultados anima- mentação – Food and Agriculture Orga- integrado em conjunto com outras práticas,
dores, que envolvem P. chlamydosporia, nization of the United Nations (FAO), até até mesmo o uso reduzido de nematicidas
algumas formulações com o fungo têm sido 2050 o mundo deverá dobrar a produção químicos.
desenvolvidas em todo o mundo (Quadro 4), para alimentar uma população de 9 bi-
Características de Pochonia
inclusive no Brasil. lhões de pessoas. Com disponibilidade de
chlamydosporia
Os fungos produtores de metabólitos terras agricultáveis, água em abundância,
tóxicos, representados pelos gêneros condições de clima favoráveis, domínio O fungo P. chlamydosporia apresenta
Aspergillus, Pleurotus, Penicillium, da tecnologia de agricultura tropical e muitas vantagens como agente de controle
Trichoderma e Myrothecium demandam agroindústria avançada, o Brasil poderá biológico. Destacam-se a capacidade de
mais estudos sobre o efeito das possíveis chegar a 2020 como a principal potência produzir grande número de clamidósporos,
substâncias tóxicas que produzem, para o agrícola mundial. O Brasil possui uma das o que facilita o estabelecimento do fungo
controle de nematoides. Trichoderma, por mais avançadas tecnologias para agricul- no solo com número escasso de nematoi-
exemplo, é um agente conhecido de con- tura tropical do mundo. Segundo dados do des (Fig. 1), de promover o crescimento
trole biológico de fungos fitopatogênicos, IBGE (2009), nos últimos 15 anos, a área da planta (Fig. 2), de não ser patogênico
mas poucas pesquisas foram realizadas plantada com grãos no País cresceu 27% a seres humanos e outros animais e de ser
sobre a sua ação no manejo de nematoides. e a produção aumentou 142%. Entretanto, facilmente produzido in vitro em substratos
A prospecção por substâncias nematicidas essa agricultura altamente tecnificada sólidos.
produzidas por fungos é uma abordagem faz com que o País seja um dos maiores Estudos com P. chlamydosporia vêm
consumidores de agrotóxicos do mundo, sendo conduzidos nos últimos seis anos
que deve ser encorajada e que pode resultar
gastando, anualmente, cerca de 2,5 bilhões no Laboratório de Controle Biológico
em produtos eficientes e menos tóxicos.
de dólares. Os nematicidas organofosfora- de Fitonematoides do Departamento de
Atualmente, existe um produto no mer-
dos e carbamatos são largamente utilizados Fitopatologia da Universidade Federal de
cado que tem como base o produto da
no Brasil. A intoxicação crônica (pela Viçosa (UFV). Dentre vários isolados tes-
fermentação de Myrothecium verrucaria
exposição periódica) pode-se manifestar tados, um foi selecionado e levado a campo
(Quadro 4).
com quadros sutis, como distúrbios do para testes de controle de nematoides em
A aplicação de fungos nematófagos
comportamento ou até quadros dramáticos banana, mostrando-se bastante promissor
pode ser uma estratégia interessante no
de doença do sistema nervoso periférico, a com reduções significativas de populações
manejo de nematoides, principalmente
chamada neuropatia tardia. Segundo Soa- de Meloidogyne spp., Radopholus similis,
quando associada a outros métodos de con-
res et al. (2003), foram examinados 1.064 Helicotylenchus sp. e Pratylenchus sp.
trole, como a adição de MO, a rotação de
trabalhadores rurais de Minas Gerais e 50% no solo.
culturas e o uso de variedades resistentes.
deles estavam moderadamente ou altamen-
Aspectos fundamentais
DESENVOLVIMENTO DE te intoxicados (redução de pelo menos para o desenvolvimento do
NEMATICIDA BIOLÓGICO 25% da colinesterase) e 1,3% apresentou bionematicida
NO BRASIL COM BASE redução de 50% da colinesterase.
NO FUNGO POCHONIA Esse quadro é altamente favorável Seleção de isolado efetivo e
CHLAMYDOSPORIA produtivo
para a introdução no mercado nacional
De acordo com a Organização das de nematicidas biológicos, seja para uso É recomendado que se obtenham
Nações Unidas para a Agricultura e Ali- em agricultura orgânica, seja em manejo amostras de solo e raízes de vários locais
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Colonização da rizosfera
Leandro Grassi de Freitas
Testes de validação no campo utilization. Wallingford: CAB International, _______; ZABLOTOWICZ, R.M.; LIFSHITZ,
2004. v.2, p.979-1039. R. Plant growth-promoting mediated by
Os testes para a obtenção do registro rhizosphere colonizers. In: KEISTER, D.L.;
só podem ser realizados após a obtenção COELHO, L.F.; FREITAS, S. dos S.; MELO,
CREGAN, P.B. (Ed.). The rhizosphere and
A.M.T. de; AMBROSANO, G.M.B. Intera-
do Registro Especial Temporário (RET). plant growth. Dordrecht: Kluwer Acade-
ção de bactérias fluorescentes do gênero
Nenhuma pesquisa antes do RET tem va- mic, 1990. p.315-326.
Pseudomonas e de Bacillus spp. com a ri-
lidade para a obtenção do registro. Termos zosfera de diferentes plantas. Revista Bra- NAVES, R.L.; CAMPOS, V.P.; SOUZA, R.M.
de anuência têm que ser concedidos pelas sileira de Ciências do Solo, Viçosa, v.31, Efeito de isolados de bactérias endofíticas
propriedades agrícolas, onde os testes serão n.6, p.1413-1420, nov./dez. 2007. na motilidade, mortalidade e eclosão de ju-
realizados. Existem normas específicas do venis de segundo estádio de Meloidogyne
FABRY, C.F.S. Indução de resistência ao
MAPA para a condução desses testes. nematóide das galhas (Meloidogyne spp.)
javanica. Fitopatologia Brasileira, Brasília,
v.25, p.339, ago. 2000. Suplemento.
em tomateiro por rizobactérias. 2006. 73f.
Produtos comerciais à base NEVES, W.S.; FREITAS, L.G.; ROMEIRO,
Tese (Doutorado) - Universidade Federal de
de P. chlamydosporia R.S.; SILVA, H.S.A. Controle de Meloidogyne
Viçosa, Viçosa, MG.
O fungo P. chlamydosporia já é comer- javanica e M. incognita em tomateiro por
FERRAZ, S.; SANTOS, M.A. Controle bioló- bactérias endofíticas. Fitopatologia Brasi-
cializado em Cuba com o nome KlamiC. gico de fitonematóides pelo uso de fungos. leira, Brasília, v.25, p.339, ago. 2000. Su-
Em Portugal, a iniciativa privada e a Uni- Revisão Anual de Patologia de Plantas, Pas- plemento.
versidade de Évora fundaram a Clamitec, so Fundo, v.3, p.283-314, 1995.
OOSTENDORP, M.; SIKORA, R.A. In vitro
uma empresa de base biotecnológica que
FREITAS, L.G.; CARNEIRO, R.M.D.G. Con- interrelationships between rhizosphere
funciona no Laboratório de Micologia trole biológico de nematóides por Pasteuria bacteria and Heterodera schachtii. Revue de
Aplicada, desde julho de 2008, e produz spp. In: MELO, I.S. (Ed.). Controle biológi- Nématologie, Bondy, v.13, n.3, p.269-274,
esse fungo em fermentação líquida com co. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 1990.
microfiltração e separação de clamidós- 2000. p.197-216.
SASSER, J.N.; FRECKMAN, D.W. A world
poros. No Brasil, mais especificamente _______; PODESTÁ, G.S.; FERRAZ S.; perspective on nematology: the role of the
em Viçosa, a Rizoflora Biotecnologia S.A. COUTINHO, M.M. Supressividade de solo society. In: VEECH, J.A.; D.W. DICKSON
produz P. chlamydosporia em fermentação a Meloidogyne spp. por Pasteuria penetrans (Ed.). Vistas on nematology: a commemo-
bifásica para a validação no campo. Assim nos estados do Maranhão e Santa Catarina. ration of the twenty – fifth anniversary of
que o registro do produto comercial for In: BETTIOL, W.; MORANDI, M.A.B. (Ed.). the Society of Nematologists. Hyattsville:
concedido pelo MAPA, Anvisa e Ibama, Biocontrole de doenças de plantas: uso e Society of Nematologists, 1987. p.7-14.
poderá ser comercializado e será uma fer- perspectivas. Jaguariúna: Embrapa Meio
SIDDIQUI, Z.A.; MAHMOOD, I. Biological
Ambiente: FUNDAG, 2009. p.147-166.
ramenta importante no manejo integrado control of plant parasitic nematodes by fun-
de fitonematoides em várias culturas. IBGE. Levantamento sistemático da pro- gi: a review. Bioresource Technology, Ams-
dução agrícola. Rio de Janeiro, [2009]. terdam, v.58, n.3, p.229-239, Dec. 1996.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
AGRADECIMENTO SOARES, W.; ALMEIDA R.M.; MORO, S.
home/estatistica/indicadores/agropecuaria/ Trabalho rural e fatores de risco associados
À Fundação de Amparo à Pesquisa do lspa/defaulttab.shtm>. Acesso em: 18 jun. ao regime de uso de agrotóxicos em Minas
Estado de Minas Gerais (Fapemig), ao 2009. Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública,
Conselho Nacional de Desenvolvimento KERRY, B.R. An assessment of progress to- Rio de Janeiro, v.19, p.309-313, 2003.
Científico e Tecnológico (CNPq) e à Co- ward microbial control of plant-parasitic STIRLING, G.R. Biological control of plant
ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal nematodes. Journal of Nematology, College parasitic nematodes: progress, problems
de Nível Superior (Capes). Park, v.22, p.621-631, Oct. 1990. Supple- and prospects. Wallingford: CAB Internatio-
ment 4S. nal, 1991. 282p.
REFERÊNCIAS _______. Fungi as biological control agents _______; WACHTEL, M.F. Mass production
CAMPOS, V.P.; SOUZA, J.T.; SOUZA, R.M. for plant parasitic nematodes. In: WHIPPS, of Bacillus penetrans for the biological con-
Controle de fitonematóides por meio de J.J.; LUMSDEN, R.D. (Ed.). Biotechnology trol of root-knot nematodes. Nematologica,
bactérias. Revisão Anual de Patologia de of fungi for improving plant growth. Cam- Amsterdam, v.26, p.308‑312, 1980.
Plantas, Passo Fundo, v.6, p.285-327, 1998. bridge: Cambridge University Press, 1989.
TOMÉ, L.G.O.; FREITAS, L.G.; NEVES, W.S.;
p.153-170.
CHEN, S.; DICKINSON, D.W. Biological DIAS, C.R. Efeito de bactérias endofíticas de
control of nematodes by fungal antagonists. KLOEPPER, J.W.; SCHIPPERS, B.; BAKKER, mucuna preta (Mucuna pruriens var. pruriens)
In: CHEN, Z.X.; CHEN, S.Y.; DICKSON, P.A.H.M. Proposed elimination of term en- em Meloidogyne incognita infectando toma-
D.W (Ed.). Nematology – advances and dorhizosphere. Phytopathology, St. Paul, teiro. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.25,
perspectives: nematode management and v.82, p.726-727, 1992. p.341, ago. 2000. Suplemento.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 8 4 - 9 2 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Resumo - Plantas invasoras nativas ou exóticas representam uma das maiores ameaças
à biodiversidade global, além de causarem prejuízos graves a diversos agroecossiste-
mas no Brasil e no mundo. Apresentam-se diferentes estratégias de controle biológico
de plantas invasoras, com vários exemplos de sucesso de introdução de inimigos natu-
rais e de desenvolvimento de produtos à base de agentes bio-herbicidas.
INTRODUÇÃO muitos casos, livres de seus inimigos natu- ecossistemas aquáticos. Nestes, a alteração
rais, tornaram-se competidoras agressivas do regime hídrico pela construção de bar-
Plantas da flora mundial assumem o
em ecossistemas nativos. Esse processo ragens, sistemas de irrigação e drenagem
status de invasoras ou daninhas em função
é chamado contaminação biológica. Há e alteração dos níveis de fertilidade da
de circunstâncias diversas. Apesar dos atri-
registros crescentes de invasões produ- água pelos despejos de esgoto e resíduos
butos especiais que tornam cada uma delas
zindo graves impactos ambientais e/ou de fertilizantes e outros produtos levam
espécie nociva (competição com culturas;
econômicos. Essas invasões representam comumente ao crescimento populacio-
suplantação da flora nativa; crescimento
rápido em ambientes aquáticos; produção hoje uma das maiores ameaças à biodi- nal explosivo de determinadas espécies
de toxinas, de pólen alergênico, de pelos versidade global. Prejuízos graves são vegetais. Em suma, todos os problemas
urticantes, de espinhos ou carrapichos etc.), causados também por espécies de plantas com plantas daninhas, que afetam ou não
sua nocividade é sempre desencadeada nativas ou exóticas em ecossistemas alte- diretamente os interesses da humanidade,
por desequilíbrios ambientais provocados rados pelo homem. Desde o surgimento da têm alguma forma de atividade humana
pela atividade humana. Em ecossistemas agricultura, a humanidade dedica esforços como causa original.
naturais, que não sofreram interferência e recursos para garantir a produtividade das Em agroecossistemas, os prejuízos eco-
humana, não se reconhece a nocividade de culturas agrícolas perante a competição nômicos causados pelas plantas invasoras
qualquer componente da flora. No entanto, com plantas daninhas. Assim como no caso são significativos, mas, assim como no
a alteração de ambientes aquáticos e ter- das invasões de ecossistemas naturais por caso de invasões de ecossistemas, difíceis
restres pelo homem e também o transporte espécies exóticas, em que o desequilíbrio de quantificar. Uma medida indireta da
e a introdução de plantas exóticas geram é provocado pela interferência humana, na importância econômica das plantas inva-
condições que favorecem a expansão forma de introdução de espécies vegetais soras é fornecida pelos valores de vendas
populacional elevada de determinadas exóticas, na agricultura surge também vultosos de herbicidas. Em 2001, cerca de
espécies vegetais que podem passar a ser pela interferência humana na substituição 2,6 bilhões de dólares foram gastos, apenas
reconhecidas como daninhas. de formações vegetais nativas por mo- nos Estados Unidos, com herbicidas, repre-
Em muitas partes do planeta, plantas noculturas e pelas práticas culturais que sentando 58% do total de vendas de pes-
que foram introduzidas em novas áreas alteram a disponibilidade de luz e a umi- ticidas naquele país (KIELY et al., 2004).
acidentalmente ou deliberadamente (como dade e fertilidade dos solos em favor das O uso generalizado de herbicidas como
fonte de alimento para o homem ou ani- plantas cultivadas, mas favorecendo outras ferramenta de controle de plantas invasoras
mais domésticos, fibras, madeira, para fins espécies de plantas, consideradas, então, em todo o mundo tornou-se indispensável,
ornamentais ou outros) naturalizaram-se invasoras de culturas. As plantas daninhas mas tem um custo elevado e resulta em
e formaram populações espontâneas. Em também causam problemas importantes em graves impactos ambientais. Observa-se
1
Eng o Agro , Ph.D., Prof. Associado.UFV - Dep to Fitopatologia, CEP 36570-000 Viçosa - MG . Correio eletrônico: rbarreto@ufv.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
e) embora também seja necessário co- CONTROLE BIOLÓGICO meira espécie foram parciais, mas, para O.
nhecer o nível de especificidade de DE PLANTAS INVASORAS: stricta, na Austrália, o controle foi muito
um organismo a ser utilizado como NOVIDADE COM UMA LONGA eficiente. Em 1925, foi liberada, neste
bio-herbicida, há a possibilidade de HISTÓRIA país, a mariposa Cactoblastis cactorum,
utilizar patógenos com um leque de O primeiro registro histórico de apli- coletada na Argentina, alcançando-se, em
hospedeiros mais amplo. Afinal, a cação do controle biológico de plantas 1933, o controle completo da planta inva-
maior parte dos herbicidas químicos daninhas antecedeu o desenvolvimento sora em 24 milhões de hectares infestados
tem um leque amplo de espécies do primeiro herbicida químico em (MCFADYEN; WILLSON, 1997). Desde
suscetíveis. Basta, portanto, que a então, centenas de insetos têm sido intro-
quase um século. O uso pioneiro do
utilização de um bio-herbicida seja duzidas como inimigos naturais de plantas
inseto Dactylopius ceylonicus para con-
amparada por estudos prévios que daninhas em diferentes regiões do mundo.
trolar infestações da cactácea Opuntia
indiquem em quais culturas poderá Alguns exemplos de notável sucesso en-
vulgaris ocorreu em 1836, enquanto que
ser utilizado e os cuidados neces- volveram o uso de insetos coletados no
o lançamento do primeiro herbicida quí-
sários com culturas suscetíveis na Brasil ou em países vizinhos, como a intro-
mico (Dinoseb), data de 1933 (JULIEN,
vizinhança ou que venham a ocupar dução do besouro Agasicles hygrophila da
1989). No entanto, os primeiros exemplos
a mesma área, posteriormente; Argentina, no sul dos Estados Unidos, para
de programas de controle biológico de
o controle da tripa-de-sapo (Alternanthera
f) aspectos adicionais devem ainda plantas invasoras conduzidos por cientistas philoxeroides), uma invasora agressiva de
ser considerados, quando se estuda datam do início do século 20 e tiveram ambientes aquáticos e áreas úmidas. De-
um patógeno com a finalidade de como alvos as plantas Lantana camara, pois de sua liberação, em 1964, o besouro
desenvolvimento de um bio-her- um arbusto tóxico e espinhento originário estabeleceu-se e disseminou-se pela maior
bicida. De modo geral, devem ser das Américas, inclusive do Brasil, e Opun- parte da área de infestação nos estados
determinadas as condições exigidas tia stricta, uma cactácea, também nativa do sul dos Estados Unidos, controlando a
pelo organismo para crescimento, das Américas. Nos dois casos, a ênfase tripa-de-sapo, (BUCKINGHAM, 1994).
esporulação, estabelecimento de foi dada à utilização de insetos fitófagos Esse controle é mantido continuamente e
infecção e produção de doença em coletados respectivamente no México e na o impacto, pela ação do inseto, pode ser
níveis de severidade adequados para Argentina (PERKINS; SWEZEY, 1924; consistentemente observado no campo,
o controle da planta daninha. Inves- WATERHOUSE; NORRIS, 1987). Os após mais de 40 anos, como registrado em
tiga-se também a compatibilidade resultados obtidos para o controle da pri- fevereiro de 2009, na Flórida (Fig. 1).
do bio-herbicida com herbicidas e
adjuvantes, testam-se formulações
e avalia-se a viabilidade do pató-
geno durante o armazenamento.
Além disso, há, necessariamente, o
desenvolvimento de um protocolo
apropriado para a produção massal
de propágulos do organismo e, final-
mente, a demonstração da eficiência
do bio-herbicida em condições
controladas e no campo. Como no
Brasil esse tipo de produto é tratado
pelo sistema de registro como se um
bio-herbicida fosse um agrotóxico
qualquer, há ainda a necessidade de
seguir todos os requerimentos para
o registro e o licenciamento. Esta
tem sido uma limitação importan-
R. W. Barreto
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
A disciplina do controle biológico de a) DeVine ® : formulação líquida uma reação letal de hipersensibilidade,
plantas daninhas ainda é dominada pelos contendo clamidósporos do fungo quando aplicado sobre plantas de joá-bravo
entomologistas. Existe um vasto acervo Phytophthora palmivora, registrada (Solanum viarum). Testes demonstraram
de informações publicado sobre o uso de em 1981 e utilizada com sucesso no que o vírus é um agente de biocontrole
artrópodes no controle biológico de plantas controle de Morrenia odorata, nos eficiente e específico, o que resultou em
daninhas. Numerosas revisões e alguns Estados Unidos (KENNEY, 1986); pedido de patente (CHARUDATTAN et
livros tratam especificamente desse tema. b) Collego®: pó-molhável contendo al., 2004). Entretanto, é pouco provável
Outra fonte importante de informação propágulos de Colletotrichum que a utilização de vírus, como agentes de
sobre os avanços desse mesmo tema, são gloeosporioides f. sp. aeschynomene biocontrole, torne-se comum em função
os anais publicados após a realização de para o controle de Aeschynomene das limitações impostas pela sua condi-
simpósios internacionais, que falam do virginica, nos Estados Unidos ção de organismos biotróficos, pelo fato
controle biológico de plantas daninhas, os (CHARUDATTAN, 1991); de muitos deles dependerem da ação de
quais reúnem ecologistas, entomologistas, vetores, para se dispersarem, e da falta de
c) BioMal®: fabricado a partir do fun-
fitopatologistas e outros cientistas em in- especificidade.
go Colletotrichum gloeosporioides
tervalos regulares, desde 1969. f. sp. malvae, controla eficaz-
Embora se reconheça há bastante tem- CONTROLE BIOLÓGICO DE
mente Malva pusila, no Canadá
PLANTAS INVASORAS NO
po que os fitopatógenos, em particular os (MORTENSEN, 1988). BRASIL
fungos, são importantes inimigos naturais
A estratégia de bio-herbicida tem
de plantas invasoras, seu uso em programas Importação de agentes de
sido utilizada com 12 espécies de fungos
de controle biológico iniciou-se nos anos biocontrole
e apenas uma de bactéria (BARRETO,
70. O primeiro exemplo de aplicação do
2009). No entanto, mais de 100 espécies No Brasil, não há registros de introdu-
método clássico, envolvendo fungos fi-
de fitopatógenos têm sido investigadas ção de inimigos naturais de plantas invaso-
topatogênicos, consistiu na introdução, a
como potenciais agentes de biocontrole de ras, sejam artrópodes sejam fitopatógenos.
partir da região do Mediterrâneo, do fungo
plantas invasoras (FIGUEIREDO, 1995; Essa situação não reflete adequadamente o
Puccinia chondrillina, na Austrália, para
YANDOC-ABLES et al., 2006). estado da disciplina no País. Na realidade,
o controle da planta invasora Chondrilla
A preferência pelos fungos fitopatogê- existem contribuições de diversos grupos
juncea (CULLEN et al., 1973). A redução
nicos está relacionada com a severidade de cientistas brasileiros no estudo do tema
obtida em pouco mais de um ano na po-
das doenças, que muitos destes podem controle biológico clássico de plantas da-
pulação dessa planta em áreas infestadas causar nas plantas-hospedeiras, com a ninhas. Observa-se, no entanto, que houve
foi superior a 99%. A relação custo/be- sua grande diversidade, com a capacidade significativa concentração do esforço des-
nefício desse programa foi espetacular. que muitos têm de produzir propágulos ses cientistas em pesquisas voltadas para a
O crescimento da produção agrícola nas em abundância, de dispersarem-se com exportação de inimigos naturais de plantas
áreas antes afetadas pela presença dessa facilidade, sem a necessidade de vetores, daninhas nativas do Brasil, que se torna-
planta, somado à redução do consumo de e de produzirem estruturas de resistência ram invasoras em outras partes do mundo,
herbicidas, tem resultado em economia que permitam a sua sobrevivência em pe- embora não causem problemas aqui. Esses
anual de AU$ 16 milhões. Esse valor é ríodos adversos. Não há qualquer exemplo trabalhos têm sido feitos em colaboração
cumulativo, enquanto o custo total do de uso de bactérias fitopatogênicas no e com financiamento de instituições inter-
programa foi de apenas AU$ 3 milhões. controle biológico clássico e apenas um nacionais e visam ao desenvolvimento de
Atualmente, estima-se que a relação custo- exemplo conhecido de aplicação como programas de controle biológico clássico
benefício desse projeto esteja entre 1:100 bio-herbicida (IMAIZUMI et al., 1997). pela exportação de agentes de controle
e 1:200 (YANDOC-ABLES et al., 2006). O bio-herbicida resultante deste trabalho, biológico. A estratégia do controle bioló-
Há registro de que 31 espécies de fungos comercializado sob o nome Camperico®, gico clássico em nível mundial depende,
fitopatogênicos foram até hoje introduzidas resultou de um estudo com a bactéria sobremaneira, desse tipo de cooperação.
em programas de controle biológico clás- Xanthomonas campestris pv. poae, que No caso do controle biológico clássico
sico de plantas daninhas em todo o mundo demonstrou a viabilidade da utilização de insetos-praga na agricultura brasileira,
(BARRETO, 2009). de bactérias fitopatogênicas como bio- existem vários exemplos de sucesso na
Os programas de pesquisas voltados herbicidas. Uma inovação recente foi o importação de inimigos naturais. Por
para o método de bio-herbicida já resulta- desenvolvimento de um bio-herbicida a outro lado, não existem, até o momento,
ram no desenvolvimento de alguns produ- partir de um vírus, o tobacco mild green exemplos de controle biológico clássico
tos comerciais. Os mais conhecidos são: mosaic virus (TMGV). Este vírus produz de plantas invasoras exóticas. Isso po-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
deria levar à suposição de que no Brasil invade áreas úmidas e sub-bosques Sul (Fig.3). O capim-annoni tem-
não há problemas com plantas exóticas e, de regiões remanescentes de Mata se expandido progressivamente,
portanto, não haveria a necessidade desse Atlântica, nas Regiões Sul e Sudes- excluindo espécies de pastagens
tipo de importação. Na verdade, existem te, substituindo a flora nativa e inter- nativas. Forma monoculturas de
diversas e extensas invasões por plantas ferindo diretamente na regeneração pouco valor como forragem e reduz
invasoras exóticas no Brasil, que afetam das florestas (Fig. 2). Há a suspeita a capacidade de sustentação das pas-
áreas de grande relevância ecológica e de que seu amplo estabelecimento tagens, causando perdas econômicas
econômica. Essas invasões representam na Estação Ecológica do Tripuí significativas;
sérias ameaças à biodiversidade, compro- (MG) esteja ameaçando de extin- c) unha-do-diabo (Cryptostegia
metem a integridade de paisagens naturais ção a espécie rara de invertebrado madagascariensis): trepadeira
e algumas causam prejuízos econômicos Peripatus acacioi; invasora nativa de Madagascar e
consideráveis. Diversos exemplos são b) capim-annoni (Eragrostis plana): reconhecida como problema apenas
discutidos por Ellison e Barreto (2004) gramínea nativa do sul da África, recentemente. É utilizada como
e Barreto (2008). Alguns exemplos são introduzida há cerca de 50 anos ornamental na Região Nordeste do
destacados a seguir: no Brasil. Já invade mais de 500 Brasil, tendo sido provavelmente
a) lírio-do-brejo (H. coronarium): mil hectares dos campos naturais ali introduzida com essa finalidade
planta da família Zingiberaceae, que dos pampas do Rio Grande do (Fig.4). Está invadindo as formações
R. W. Barreto
Figura 2 - Intensa infestação de sub-bosque em área protegida de Mata Atlântica, em Alto Ribeira (SP), por lírio-do-brejo (Hedychium
coronarium) e ausência de regeneração da vegetação nativa na área infestada
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
vegetais nativas das planícies alu- causa da vistosa floração amarela Invasões importantes envolvem essas
viais e provocando impactos graves que produz (Fig. 7). Tornou-se uma e outras plantas exóticas em quase todos
aos carnaubais nativos. A carnaúba é invasora agressiva de pastagens e os ecossistemas brasileiros e represen-
uma planta heliófila de crescimento áreas degradadas no Paraná e outros tam oportunidades para a aplicação do
lento. Ao usar a carnaúba como su- estados da Região Sul (Fig. 8); controle biológico clássico, amplamente
porte, a unha-do-diabo enrola-se em e) leucena (Leucaena leucocephala): reconhecido como a única estratégia
sua copa sombreando-a e impedindo planta originária da América Central sustentável para o manejo de espécies
a abertura de folhas novas, o que leva e distribuída pelo Brasil, para recu- exóticas invasoras. Há diversos grupos
à morte da planta (Fig.5). Toda a ve- peração de áreas degradadas, como
getação dessas formações é afetada de pesquisa capacitados para conduzir
fonte de forragem e lenha. Sua uti-
por esse fenômeno (Fig. 6). O con- esse tipo de trabalho no País. Para todos
lização para essas finalidades, com
trole da unha-do-diabo é dificultado os exemplos mencionados, existem pes-
exceção da recuperação de áreas
pelo látex que a planta produz, tóxico degradadas, não prosperou, mas em quisas em andamento, como exemplo para
para animais e homens; muitas regiões já forma monocultu- o lírio-do-brejo (SOARES; BARRETO,
d) amarelinho (Tecoma stans): arbusto ras e domina a paisagem. Este é o 2008), a unha-do-diabo (SILVA et al.,
originário possivelmente do Méxi- caso, por exemplo, em Fernando de 2008) e o amarelinho (VITORINO et al.,
co, de forte apelo ornamental, por Noronha (Fig. 9). 2004).
G. F. Nachtigal
Figura 3 - Formação homogênea, composta apenas da gramínea exótica capim-annoni (Eragrostis plana), em área na região dos
pampas gaúchos
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
R. W. Barreto
R. W. Barreto
Figura 4 - Unha-do-diabo (Cryptostegia madagascariensis) Figura 5 - Carnaúba (Copernicia prunifera)
NOTA: Detalhe de flores e frutificação (cuja forma inspirou o nome vulgar Nota: Planta morta após ser dominada pelo crescimen-
adotado no Nordeste brasileiro). to da liana exótica unha-do-diabo.
R. W. Barreto
Figura 6 - Formação vegetal em planície aluvial próxima a Quixeré, CE, em adiantado estado de invasão por unha-do-diabo
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
R. W. Barreto
Figura 7 - Amarelinho (Tecoma stans)
NOTA: Detalhe de inflorescência.
M. D. Vitorino
Figura 8 - Área de pastagem degradada, próxima a Londrina, PR, fortemente infestada pelo amarelinho
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
R. W. Barreto
Figura 9 - Praia da Conceição, Fernando de Noronha
NOTA: Completa modificação da paisagem com substituição da vegetação nativa pela árvore exótica Leucaena leucocephala.
Exportação de agentes de
biocontrole
Uma porção significativa das plantas
invasoras tropicais mais nocivas é nativa
dos neotrópicos, incluindo o Brasil. Entre
essas plantas, citam-se:
a) aguapé (Eichhornia crassipes):
considerada a planta invasora mais
nociva a ecossistemas de água doce
em todo o mundo;
b) cambará (Lantana camara): listada
como uma das dez invasoras mais
nocivas do mundo;
c) c a n e l a - d e - v e a d o ( M i c o n i a
calvescens): conhecida na Poliné-
sia Francesa como “câncer verde”,
considerada a pior ameaça às flo-
restas nativas nas ilhas do Pacífico
(Fig. 10);
E. Killgore
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
J. Y. Meyer
nas últimas duas décadas é que trabalhos
protagonizados por cientistas brasileiros
estão gerando novas introduções. Um caso Figura 11 - Plantas de M. calvescens no Taiti
particularmente relevante é o da iminente in- NOTA: Apresenta forte ataque de Colletotrichum gloeosporoides f. sp. miconia na folha-
trodução no Havaí do coccídeo Tectococcus gem, após a introdução do fungo a partir do Brasil, via Havaí.
ovatus (Fig. 12) para o controle biológico
do araçazeiro (PEDROSA-MACEDO et
al., 2007).
Bio-herbicidas
Atualmente, não existem bio-herbici-
das disponíveis no comércio, no Brasil. No
início da década de 80, houve, no entanto,
pesquisas promissoras nesse sentido, de-
senvolvidas na Embrapa Soja, visando ao
controle do leiteiro ou amendoim-bravo
(Euphorbia heterophylla), com o fungo
Bipolaris euphorbiae (GAZZIERO;
YORINORI, 1993). Alguns grupos ainda
desenvolvem pesquisas com o controle
M. D. Vitorino
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
a) trata-se de uma planta nativa, o que presenta o maior mercado nacional planta no Brasil e causando doenças
exclui o método clássico de biocon- para os herbicidas químicos; severas.
trole como alternativa; c) há ampla ocorrência de biótipos Recentemente, foi desenvolvido um
b) é uma das plantas invasoras mais de E. heterophylla resistentes a mico-herbicida com base no fungo Lewia
nocivas à agricultura no Brasil herbicidas químicos, o que torna o chlamidosporiformans (Fig. 14) para o
(Fig. 13) e talvez a mais importan- controle químico difícil ou inviável controle de E. heterophylla na Universi-
te em áreas de cultivo de soja, que, em muitas situações;
dade Federal de Viçosa (UFV), denomi-
além de ser uma cultura de impor- d) há considerável diversidade de nado Mico-herb LC. O desenvolvimento
tância econômica indiscutível, re- fungos patogênicos atacando esta desse produto envolveu o levantamento
detalhado da micobiota brasileira de E.
heterophylla (BARRETO; EVANS, 1998),
a descoberta e a descrição do fungo L.
chlamidosporiformans (VIEIRA; BAR-
RETO, 2005), estudos básicos da biologia
do fungo e de sua interação com a planta,
estudos de produção massal (VIEIRA et al.,
2008), além de numerosos experimentos e
testes demonstrativos (Fig. 15). O produto
tem patente requerida e está em fase de
testes para registro junto ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA).
Entre vários outros fungos pesqui-
sados no Brasil para a formulação de
B. A. H. Vieira
A. W. V. Pomella
R. W. Barreto
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS ras, é necessário que haja uma mudança de Conselho Nacional de Desenvolvimento
postura. O controle biológico não pode ser Científico e Tecnológico (CNPq).
O controle biológico de plantas in-
mais entendido apenas como um método À Glaucia Figueiredo Nachtigal, Mar-
vasoras, pelo método clássico ou pela
alternativo, uma mera curiosidade ou celo Diniz Vitorino, Eloise Killgore, Jean-
utilização de bio-herbicidas, constitui uma
uma novidade. Essa estratégia tem uma Yves Meyer, Bernardo A. Halfed Vieira e
estratégia de manejo com metodologias
razoavelmente bem conhecidas, mas que longa história com exemplos notáveis de Alan William Pomella pela gentileza em
devem ser refinadas para cada espécie de sucesso. Além disso, não deve ser trata- ceder as fotografias.
invasora e agente de controle biológico. do como último recurso, quando outras
Ambas as abordagens são reconhecidas estratégias falharem. Sem essa mudança REFERÊNCIAS
como métodos ambientalmente seguros e de atitude e sem estímulos significativos e
BARRETO, R.W. Controle biológico de
economicamente viáveis, se conduzidos contínuos, o Brasil continuará dependen- plantas daninhas com fitopatógenos. In:
adequadamente. Até hoje, o Brasil tem do de herbicidas químicos de empresas BETTIOL, W.; MORANDI, M.A.B. (Ed.).
sido importante apenas como provedor de multinacionais, para o manejo de inva- Biocontrole de doenças de plantas: uso e
agentes de biocontrole de plantas invasoras soras em agroecossistemas e assistirá, perspectivas. Jaguariúna: Embrapa Meio
para outras partes do mundo. Esta situação impotente, ao processo de erosão de sua Ambiente, 2009. p.101-128.
tende a se alterar, pelo agravamento dos biodiversidade, pelo avanço de plantas _______. Latin American weed biological
problemas com invasões biológicas de invasoras exóticas sobre ecossistemas control science at the crossroads. In: IN-
ecossistemas brasileiros por plantas exó- únicos no planeta. TERNATIONAL SYMPOSIUM ON BIOLO-
ticas e problemas crescentes, encontrados GICAL CONTROL OF WEEDS, 12., 2007,
na agricultura com o manejo de plantas La Grande Matte, França. Proceedings…
AGRADECIMENTO
daninhas. Wallingford: CABI, 2008. p.109-121.
Para que o País beneficie-se de inves- À Fundação de Amparo à Pesquisa do _______; EVANS, H. C. Fungal pathogens of
timentos no controle biológico de invaso- Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao Euphorbia heterophylla and E. hirta in Bra-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
zil and their potential as weed biocontrol Curso Internacional sobre Controle Biológi- PERKINS, R.C.L.; SWEZEY, O.H. The intro-
agents. Mycopathologia, v.141, n.1, p.21- co de Plantas Daninhas, 1993, Jaboticabal. duction into Hawaii of insects that attack
36, Apr. 1998. lantana. Honolulu: Experiment Station of
HEAP, I. The international survey of herbici-
the Hawaiin Sugar Planter’s Association,
BARTON, J. How good are we at predicting de resistant weeds. [S.l.]: Weed Science, 2009.
1924. (Bulletin, 16).
the field host-range of fungal pathogens Disponível em: <http://www.weedscience.
used for classical biological control of wee- com>. Acesso em: 25 de nov. 2008. S I LVA , J . L . d a ; B A R R E T O, R . W. ;
ds? Biological Control, v.31, n.1, p.99-122, P E R E I R A , O. L . P s e u d o c e r c o s p o r a
IMAIZUMI, S.; NISHINO, T.; MIYABE, K.;
Aug. 2004. cryptostegiaemadagascariensis sp. nov. on
FUJIMORI, T.; YAMADA, M. Biological
BORGES NETO, C.R.; PITELLI, R.A. Ad- control of annual bluegrass (Poa annua L.) Cryptostegia madagascariensis, an exotic
juvantes e herbicidas e a infectividade de with a Japanese isolate of Xanthomonas vine involved in major biological invasions
Fusarium graminearum, agente potencial de campestris pv. poae (JT-P482). Biological in northeast Brazil. Mycopathologia, v.166,
biocontrole de Egeria densa e Egeria najas. Control, v.8, n.1, p.7-14, Jan. 1997. n.2, p.87-91, Aug. 2008.
Planta Daninha, Viçosa, MG, v.22, n.1, p.77-
JULIEN, M.H. Biological control of weeds SOARES, D.J.; BARRETO, R.W. Fungal patho-
83, jan./mar. 2004.
worldwide: trends, rates of success and the gens of the invasive riparian weed Hedychium
BUCKINGHAM, G.R. Biological control of future. Biocontrol News and Information, coronarium from Brazil and their potential
alligatorweed, Alternanthera philoxeroides, v.10, p.299-306, 1989. for biological control. Fungal Diversity, v.28,
the world’s first aquatic weed success story. p.85-96, 2008.
KENNEY, D.S. Devine - the way it was deve-
Castanean, v.61, p.232-243, 1994.
loped - and industrialist view. Weed Scien- VIEIRA, B.S.; BARRETO, R.W. Lewia
CHARUDATTAN, R. The mycoherbicide ce, v.34, p.15-16, 1986. chlamidosporiformans sp. nov. from
approach with plant pathogens. In: TEBE- Euphorbia heterophylla. Mycotaxon, v.94,
KIELY, T.; DONALDSON, D.; GRUBE, A.
EST, D.O. (Ed.). Microbial control of weeds. p.245-248, Oct./Dec. 2005.
Pesticide industry sales and usage: 2000
New York: Chapman & Hall, 1991. p.24-57.
and 2001 market estimates. Washington: _______; NECHET, K.L.; BARRETO, R.W. Lewia
_______; PETTERSEN, M.S.; HIEBERT, E. U.S. Envisonmental Protection Agency, chlamidosporiformans, a mycoherbicide
Use of an inoculation suspension com- 2004 Disponível em: <http://www.epa. for control of Euphorbia heterophylla: iso-
prising tobacco mild green mosaic vi- gov/oppbead1/pestales/01pestales/market_ late selection and mass production. In: IN-
rus to induce lethal hypersensitive res- estimates 2001.pdf>. Acesso em: 28 jul.
TERNATIONAL SYMPOSIUM ON BIOLO-
ponse in tropical soda apple plants. US. 2009.
GICAL CONTROL OF WEEDS, 12., 2007,
n. US2004162220-A1, 2004.
MCFADYEN, R.E.C.; WILLSON, B. A history La Grande Motte, França. Proceedings…
CULLEN, J.M.; KABLE, P.F.; CATT, M. Epi- of biological control of weeds. In: JULIEN, Wallingford: CABI, 2008. p.206-210.
demic spread of a rust imported for biologi- M.; WHITE, G. Biological control of weeds:
VITORINO, M.D.; PEDROSA-MACEDO,
cal control. Nature, v.244, p.462-464, Aug. theory and practical applications. Canberra:
J.H.; MENEZES JUNIOR, A.O.; ANDREA-
1973. ACIAR, 1997. p.17-22.
ZZA, C.J.; BREDOW, E.A.; SIMÕES, H.C.
ELLISON, C.A.; BARRETO, R.W. Prospects MEYER J.Y.; TAPUTUARAI R.; KILLGORE Survey of potential biological agents to con-
for the management for invasive alien we- E. Dissemination and impacts of the fungal trol yellow bells, Tecoma stans (L.) Kunth.
eds using co-evolved fungal pathogens: a pathogen Colletotrichum gloeosporioides (Bignoniaceae), in southern Brazil. In: IN-
Latin American perspective. Biological In- f. sp. miconiae (Deuteromycetinae) on the TERNATIONAL SYMPOSIUM ON BIOLO-
vasions, v.6, n.1, p.23-45, Mar. 2004. invasive alien tree Miconia calvescens (Me- GICAL CONTROL OF WEEDS, 11., 2003,
lastomataceae) in the rainforests of Tahiti Canberra. Proceedings… Canberra: CSIRO,
_______; PEREIRA, J.M.; THOMAS, S.E.;
(French Polynesia, South Pacific). In: IN- 2004. p.186-187.
BARRETO, R.W.; EVANS, H.C. Studies on
TERNATIONAL SYMPOSIUM ON BIOLO-
the rust Prospodium tuberculatum, a new WAPSHERE, A.J. A strategy for evaluating
GICAL CONTROL OF WEEDS. 12., 2007,
classical biological control agent released
La Grande Motte, França. Proceedings… the safety of organisms for biological weed
against the invasive alien weed Lantana
Wallingford: CABI, 2008. p.594-600. control. Annals of Applied Biology, v.77,
camara in Australia – 1: life-cycle and in-
n.2, p.201-211, July 1974.
fection parameters. Australasian Plant Pa- MORTENSEN, K. The potential of an ende-
thology, v.35, n.3, p.309-319, 2006. mic fungus, Colletotrichum gloeosporioides, WATERHOUSE, D.F.W.; NORRIS, K.R. Bio-
FIGUEIREDO, G. Herbicidas microbioló- for biological control of round leaf mallow logical control Pacific prospects. Melbour-
gicos empregados no controle de plantas (Malva pusilla) and velvetleaf (Abutilon ne: Inkata Press, 1987.
daninhas. Revisão Anual de Patologia de theophrasti). Weed Science, v.36, p.473-
478, 1988. YANDOC-ABLES, C.B.; ROSSKOPF, E.N.;
Plantas, Passo Fundo, v.3, p.111-132, 1995.
CHARUDATTAN, R. Plant pathogens at
GAZZIERO, D.L.P.; YORINORI, J.T. Experi- PEDROSA-MACEDO, J.H.; DALMOLIN, A.; work: progress and possibilities for weed
ência sobre controle biológico de Euphorbia SMITH, C.W. (Ed.). O araçazeiro: ecologia biocontrol. St. Paul: APS net, 2006. Dispo-
heterophylla no Brasil. Jaboticabal: UNESP- e controle biológico. Curitiba: FUPEF, 2007. nível em: <http://www.apsnet.org/online/
FCAV, 1993. 18p. Trabalho apresentado no 232p. feature/weed1>. Acesso em: ago. 2006.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 9 3 - 1 0 6 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Resumo - O Brasil tem regras bem definidas para o registro de produtos de defesa
fitossanitária. Entretanto, é comum o desconhecimento dessas regras, o que compro-
mete o acréscimo constante de novos produtos no mercado agrícola. Outros fatores
que também contribuem para esse fato são o enquadramento incorreto dos produtos
nas diferentes legislações relacionadas com os produtos agrícolas e a não-proteção da
propriedade intelectual. Apresentam-se os diferentes enquadramentos legais que os
produtos biológicos podem ter, bem como os caminhos da proteção da propriedade
intelectual de seus processos produtivos.
Bióloga, D.Sc., CESIS - Soluções em Regulamentação e Registro de Produtos Ltda., SCLN 11 BL D sala 204, CEP 70754-540 Brasília-DF.
1
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
agricultura convencional como na agri- Os domissanitários da categoria de- As avaliações sobre os pleitos de re-
cultura orgânica. A certificação orgânica é sinfestante são os inseticidas para uso gistro de produtos e estabelecimentos e
o ato pelo qual uma entidade credenciada doméstico e por empresas especializadas, os procedimentos de fiscalização são de
de avaliação de conformidade dá garantias raticidas para uso doméstico e por empre- competência do Ministério da Agricultura,
de que uma produção ou um processo cla- sas especializadas, jardinagem amadora, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e de
ramente identificado foi metodicamente moluscicidas e repelentes. Um mesmo suas superintendências estaduais. Existem
avaliado e está em conformidade com as produto, por exemplo um inseticida, pode normas específicas para orientar cada uma
normas de produção orgânica vigentes ser registrado como domissanitário para das categorias de produtos que estão sob
(BRASIL, 2003). aplicação em ambientes urbanos e como a égide da Lei no 6.894, de 16/12/1980
agrotóxico ou afim, caso seja aplicado em
Diferentemente do registro, a patente (BRASIL, 1980). Cada produto possui uma
ambientes agrícolas. Assim, esse mesmo
não é obrigatória. A patente é um título de normatização específica de acordo com
produto deverá seguir a legislação especí-
propriedade temporário outorgado pelo sua composição. Existem ainda normati-
fica para cada uma das suas finalidades.
Estado ao inventor (autor ou pessoas cujos vas que orientam os métodos analíticos e
Para que uma empresa ou instituição
direitos derivem destes), para que exclua qualitativos a serem utilizados nas análises,
solicite o registro de um produto na cate-
terceiros, sem sua prévia autorização, de limites de contaminantes que determinam
goria saneante domissanitário, uma série
atos relativos à matéria protegida. o controle de qualidade da matéria-prima
de pré-requisitos deve ser primeiramente
O titular da patente tem o direito de im- atendida, como registrar o estabelecimento e do produto final, além de diretrizes de
pedir terceiros, sem o seu consentimento, responsável pela produção. Tanto o registro importação. Portanto, cada categoria pos-
de produzir, colocar à venda, usar, importar do produto, quanto o registro do estabele- sui exigências próprias, especificações e
produto objeto da patente ou processo ou cimento são de competência do Ministério detalhes singulares a serem seguidos.
produto obtido diretamente por processo da Saúde, por meio da Agência Nacional Para obter o registro de um inoculan-
patenteado. Portanto, terceiros podem de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os pro- te, a empresa requerente deve possuir o
fazer uso da invenção somente com a cedimentos de fiscalização também ficam a Registro do Estabelecimento Produtor.
permissão do titular mediante a obtenção cargo da Anvisa e das esferas estaduais. Como pré-requisito, existe a necessidade
de uma licença. Caso o produto tenha em sua compo- de cumprimento da legislação ambiental
sição um novo princípio ativo, a empresa (licenciamento ambiental), concedido pelo
Enquadramento correto registrante aguardará a publicação pela órgão estadual competente. Os estabeleci-
do produto Anvisa de uma monografia, discriminando mentos que comercializam, exportam ou
Para que uma empresa possa buscar o as informações de ingrediente ativo, grupo importam esses produtos também devem
registro de um produto, o primeiro passo químico, classe de uso, finalidade de uso ser registrados. O prazo de validade do
é enquadrá-lo corretamente na legislação etc. Para obter o registro, a empresa deverá registro é de cinco anos, renovável por
pertinente. Esse enquadramento dá-se realizar uma série de testes toxicológicos, período igual.
em função do uso e da finalidade a que o de estabilidade e de eficiência, sem a obri- No caso de registro de inoculantes, não
produto se destina. É comum confundir gatoriedade de realização desses ensaios de
há necessidade de obtenção de uma auto-
acordo com as normas das Boas Práticas
um produto biológico de uso agrícola rização prévia para proceder à pesquisa e
Laboratoriais (BPL), o que torna esse
com um produto domissanitário ou um à experimentação (como no caso de agro-
processo menos oneroso.
inoculante. tóxicos e afins). Entretanto, um produto
Outro caso que gera dificuldades de
Se um produto biológico atua no con- considerado novo, nacional ou importado,
enquadramento de registro é o de micror-
trole de uma determinada praga, mas em que não conte com antecedente de uso no
ganismos inoculantes. Segundo a regula-
ambientes urbanos (edificações, jardins País, somente terá o registro concedido
mentação, entende-se por inoculantes os
etc.) e não em ambiente agrícola, será con- produtos que contenham microrganismos após apresentação ao MAPA de relatório
siderado um saneante domissanitário. Para promotores de crescimento de plantas técnico-científico conclusivo, emitido por
ser encaixado nessa categoria, o produto (como Bradyrhizobium sp. e Rhizobium sp.), órgão brasileiro de pesquisa oficial ou
tem que ser destinado ao uso em ambientes com o consequente aumento de produti- credenciado, que ateste a viabilidade e a
domiciliares, coletivos ou públicos ou no vidade. Pelo fato de essa regulamentação eficiência de seu uso agrícola. Os trabalhos
tratamento da água (em ambientes domici- tratar de microrganismos, muitas vezes os de pesquisa com o produto não deverão es-
liares). A empresa registrante deverá seguir produtos à base de fungos e bactérias com tender-se por mais de três safras agrícolas,
a Legislação de Saneantes Domissanitários atuação no controle são equivocadamente exceto quando condições técnicas exigirem
e regulamentações específicas. enquadrados na categoria inoculantes. a sua prorrogação.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
O MAPA e suas superintendências não tores de produção, armazenamento Compete ao MMA, por meio do
cobram taxa para registro de produto ou e beneficiamento de produtos agrí- Ibama:
de estabelecimento. Por tratar-se de pro- colas, nas florestas plantadas e nas
a) avaliar os agrotóxicos e afins desti-
cedimento pertinente a apenas um órgão pastagens;
nados ao uso em ambientes hídricos,
governamental, os pleitos são analisados
b) conceder o Certificado de Registro, na proteção de florestas nativas e
em curto tempo. Essa regra, porém, não se
inclusive o Registro Especial Tem- de outros ecossistemas, quanto à
aplica ao registro de um produto novo.
porário (RET) de agrotóxicos, pro- eficiência do produto;
Quando e como um produto dutos técnicos, pré-misturas e afins, b) realizar a avaliação ambiental, dos
deve ser registrado como para uso nos setores de produção, agrotóxicos, seus componentes e
agrotóxico ou afim armazenamento e beneficiamento afins, estabelecendo suas classi-
Um produto é considerado agrotóxico de produtos agrícolas, nas florestas ficações quanto ao potencial de
ou afim quando se apresenta como: plantadas e nas pastagens, atendidas periculosidade ambiental;
as diretrizes e exigências do Minis-
produtos e agentes de processos físicos, c) realizar a avaliação ambiental preli-
tério da Saúde e Ministério do Meio
químicos ou biológicos, destinados minar de agrotóxicos, produto téc-
Ambiente (MMA).
ao uso nos setores de produção, no nico, pré-mistura e afins destinados
armazenamento e beneficiamento de Cabe ao Ministério da Saúde, por meio à pesquisa e à experimentação;
produtos agrícolas, nas pastagens, na da Anvisa: d) conceder o Certificado de Registro,
proteção de florestas, nativas ou im- inclusive o RET, de agrotóxicos,
plantadas, e de outros ecossistemas e a) avaliar e classificar toxicologica-
produtos técnicos e pré-misturas
também de ambientes urbanos, hídricos mente os agrotóxicos, seus compo-
e afins destinados ao uso em am-
e industriais, cuja finalidade seja alterar nentes e afins;
bientes hídricos, na proteção de
a composição da flora ou da fauna, b) avaliar os produtos destinados ao florestas nativas e de outros ecos-
a fim de preservá-las da ação danosa
uso em ambientes urbanos, indus- sistemas, atendidas as diretrizes e
de seres vivos considerados nocivos
triais, domiciliares, públicos ou exigências do MAPA e do Minis-
(BRASIL, 1989).
coletivos, ao tratamento de água e ao tério da Saúde.
Nesse contexto, enquadram-se os uso em campanhas de saúde pública,
De modo geral, as principais preocu-
agentes biológicos (entomopatógenos, quanto à eficiência do produto;
pações existentes estão relacionadas com
parasitoides, predadores e nematoides),
c) realizar avaliação toxicológica pre- os possíveis impactos da utilização dos
os semioquímicos, outros bioquímicos,
liminar dos agrotóxicos, produtos produtos considerados agrotóxicos e afins
extratos vegetais e minerais, utilizados na
técnicos, pré-misturas e afins, des- sobre o ambiente e a saúde da população
agricultura com a finalidade de controlar
tinados à pesquisa e à experimenta- exposta. As exigências procedem, pois,
organismos considerados nocivos, além de
ção; mesmo quando se trata de um produto
todos os outros produtos que sejam utiliza-
natural, há consequências que podem
dos no controle de pragas agrícolas e que d) estabelecer intervalo de reentrada
ser geradas a partir da sua utilização em
se enquadrem na definição legal. em ambiente tratado com agrotóxi-
quantidades não naturais. Por isso, são
No Brasil, o MAPA, a Anvisa e o Ins- cos e afins;
relevantes as informações de toxicidade
tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
e) conceder o Certificado de Registro, de potenciais toxinas, irritabilidade, aler-
Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
inclusive o RET, de agrotóxicos, genicidade e patogenicidade. Assim, a
são os órgãos federais responsáveis pela
produtos técnicos, pré-misturas avaliação prévia e os testes de segurança
avaliação e registro de agrotóxicos e afins.
e afins destinados ao uso em am- tornam-se necessários para obter dados
Os interessados no registro de produtos
bientes urbanos, industriais, do- de identificação do perigo oferecido pelo
devem submeter a cada um desses órgãos
miciliares, públicos ou coletivos, agente, no contexto de um processo de ava-
federais competentes dados e informações
ao tratamento de água e ao uso em liação de risco. Alguns
��������������������������
requisitos básicos
específicas, para que os produtos sejam
campanhas de saúde pública, aten- devem ser seguidos, visando à obtenção do
avaliados.
didas as diretrizes e exigências do registro de produtos considerados agrotó-
Cabe ao MAPA: MAPA e do MMA e monitorar os xicos e afins. Esses requisitos aplicam-se
a) avaliar a eficiência agronômica dos resíduos de agrotóxicos e afins em na obtenção do RET, do Registro Federal
agrotóxicos e afins para uso nos se- produtos de origem animal. e do Registro Estadual.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Registro Especial Temporário são classificados, a depender do tamanho 12/7/1989 (BRASIL, 1989) do Decreto
da área a ser testada e da quantidade de pro- no 4.074, de 8/1/2002 (BRASIL, 2002) e
O Registro Especial Temporário (RET)
duto utilizada. Essa forma diferenciada no de cada uma das Portarias, Resoluções e
deve ser solicitado antes do início dos
tratamento dos produtos biológicos implica Instruções Normativas Conjuntas vigentes,
procedimentos de pesquisa e experimen-
na diminuição de taxas a serem recolhidas, para cada tipo de produto.
tação, inclusive no caso de importação de
quando da submissão dos pleitos de RET. Quando se trata de um produto diferen-
produtos. Esse registro é concedido após
O quesito de maior importância do RET ciado dos agrotóxicos químicos convencio-
a realização das avaliações toxicológica e
é o detalhamento do projeto experimental, nais, ou seja, um produto biológico natural,
ambiental preliminares do produto, reali-
que somente poderá ser legalmente im- existe a necessidade de informar aos órgãos
zadas respectivamente pela Anvisa e pelo
plantado após a emissão do certificado de regulamentadores, no início dos pleitos
Ibama. Além disso, o pleito também é sub-
registro expedido pelo órgão registrante. de registro submetidos, que os produtos
metido ao MAPA, para que seja avaliada a
Além disso, a apresentação do projeto por são considerados, pelos interessados em
viabilidade do produto do ponto de vista de
parte do interessado é condição imprescin- seu registro, como de “baixa toxicidade
eficiência e praticabilidade do projeto ex-
dível para a geração de um laudo técnico e periculosidade”, termo citado nos ins-
perimental apresentado. O RET está sujeito
à aprovação dos três órgãos federais. Como atestando a eficiência do produto. A apre- trumentos legais que norteiam o registro
a própria denominação indica, é concedido sentação desse laudo ocorre por ocasião da desses produtos. Assim, os pleitos subme-
por tempo determinado. submissão do pleito de registro federal. O tidos devem demonstrar ao governo que
O RET é o mecanismo que o governo projeto experimental deve conter, no mí- devem ser seguidas as diversas normativas
possui para ser informado sobre as pes- nimo, informações a respeito dos objetivos publicadas para atender especificamente
quisas e experimentações em condução dos ensaios, as culturas, pragas ou doen- cada um dos produtos considerados de
no Brasil, na área de defesa vegetal com ças, o tipo de delineamento experimental baixa toxicidade e periculosidade, visando
produtos considerados agrotóxicos e afins. utilizado, tratamentos, tamanho da área à avaliação caso a caso, e não a normativa
Por esse motivo, mesmo não havendo a pesquisada, modo de aplicação do produto, elaborada para a obtenção do registro dos
intenção imediata de comercialização do número de repetições e período previsto produtos químicos convencionais.
produto testado, o RET é imprescindível. para aplicação do experimento. Desde 2005, os órgãos governamentais
Para a obtenção do Certificado de Uma inovação implementada pelos
competentes pelo registro dos produtos
RET é necessário o envio de informações órgãos regulamentadores em 2007 foi a
agrotóxicos e afins trabalham na discussão
aos órgãos federais responsáveis (MAPA, alimentação do Sistema Eletrônico de Re-
e publicação de normativas para o registro
Anvisa e Ibama) a respeito das caracte- querimento e Análise de Registro Especial
de produtos específicos como:
rísticas do produto e dos projetos experi- Temporário (Sisret) pelas empresas que
a) produtos bioquímicos: descritos
mentais elaborados para a comprovação da solicitam o RET. O Sisret foi desenvolvido
pelo Ibama e hoje é utilizado de forma in- como reguladores de crescimento
eficácia do produto pesquisado.
tegrada também pelo MAPA e Anvisa para (hormônios e enzimas), constituídos
A normativa que regulamenta essa
agilizar e qualificar a avaliação preliminar por substâncias químicas de ocor-
fase, considerada a primeira do processo
de agrotóxicos. Esse sistema foi desen- rência natural e com mecanismo de
de registro dos produtos considerados
volvido para oferecer aos interessados ação não tóxico, usados no controle
agrotóxicos e afins, é um instrumento
no registro de produtos (para pesquisa e de doenças ou pragas;
jurídico utilizado conjuntamente pelos
órgãos regulamentadores. Essa normativa experimentação) maior economia e agili- b) produtos semioquímicos: descritos
conjunta de RET, que atualmente se encon- dade no atendimento. Entretanto, após dois como os constituídos por substân-
tra em processo de reformulação, denota anos de implementação, o Sisret ainda não cias químicas que evocam respostas
a separação na confecção dos processos pode ser utilizado para produtos biológi- comportamentais ou fisiológicas nos
a serem submetidos, especialmente para cos, atendendo apenas os pleitos de RET organismos receptores e que são
aqueles com características distintas dos relacionados com os produtos agrotóxicos empregados com a finalidade de
agrotóxicos convencionais. Dessa forma, considerados convencionais. detecção, monitoramento e controle
os órgãos regulamentadores tratam os de uma população ou de atividade
Registro Federal biológica de organismos vivos, po-
produtos de modo diferenciado, dando a
cada um deles o enfoque necessário. Como Para a submissão da solicitação de dendo ser classificados, a depender
exemplo, cita-se o não enquadramento “Registro Federal”, visando à comerciali- da ação que provocam, intra ou
dos produtos biológicos nas fases em que zação do produto, é necessário que sejam interespecífica, como feromônios e
normalmente os agrotóxicos convencionais seguidas as instruções da Lei no 7.802, de aleloquímicos, respectivamente;
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
c) produtos microbiológicos: descri- como insetos, aves, organismos aquáticos e biológicos/naturais é que para os primei-
tos como os microrganismos vivos de solo, abrangendo, assim, diversos níveis ros, obrigatoriamente, deve ser pleiteado
de ocorrência natural, bem como tróficos. Os últimos exemplos caracterizam aos órgãos regulamentadores o Registro
aqueles resultantes de técnicas que a bateria de testes considerados ecotoxico- dos Produtos Técnicos utilizados como
impliquem na introdução natural de lógicos e devem ser apresentados somente bases das formulações de pronto uso que
material hereditário, excetuando-se ao órgão ambiental. Além dos testes com se pretende comercializar. A apresentação
os organismos, cujos materiais ge- organismos não-alvos, os parâmetros eco- do Certificado de Registro dos Produtos
néticos ácido desoxirribonucleico/ toxicológicos abrangem também os testes Técnicos compondo o pleito de registro das
ácido ribonucleico (ADN/ARN) te- de comportamento ambiental dos produtos, formulações é condição obrigatória para os
nham sido modificados por qualquer como transporte, mobilidade e adsorção, agrotóxicos convencionais. Essa obrigato-
técnica de engenharia genética – realizados com solos nacionais. riedade não existe no caso de produtos de
organismo geneticamente modifica- Os testes da genotoxicidade apresen- baixa toxicidade, já que suas normativas
do (OGM); tados ao Ibama e à Anvisa consistem em específicas apresentam a possibilidade de
parâmetros de mutagenicidade, teratoge- registro direto das formulações de pronto
d) agentes biológicos de controle:
nicidade e carcinogenicidade. Esses parâ- uso sem a necessidade da apresentação do
definidos como organismos vivos,
metros, apesar de não serem utilizados na Certificado de Registro do Produto Técnico
de ocorrência natural ou obtidos
classificação ambiental ou toxicológica dos que embasa a formulação. Essa diferença
por manipulação genética, introdu-
produtos, são fundamentais no processo de é muito importante por permitir a redução
zidos no ambiente para o controle
avaliação como um todo, já que são consi- do tempo de obtenção do Registro Federal
de uma população ou de atividade
derados parâmetros impeditivos de regis- e a diminuição dos custos envolvidos no
biológica de outro organismo con-
tro, caso um produto apresente resultado processo de registro.
siderado nocivo, podendo abranger
positivo para um desses parâmetros. Os prazos de avaliação e expedição de
inimigos naturais (organismos que
Todos os testes devem ser realizados certificados não são totalmente previsíveis.
naturalmente infectam, parasitam
sob as normas do sistema de qualidade
ou predam uma praga específica, O decreto regulamentador da legislação de
BPL, seguindo metodologias reconhecidas
entre eles, parasitoides, predadores agrotóxicos e afins (BRASIL, 2002) cita
nacional ou internacionalmente e adequa-
e nematoides entomopatogênicos) e mecanismos de tramitação priorizada dos
damente validadas. No Brasil, o Instituto
insetos obtidos por meio da Técnica processos que tratam dos produtos de baixa
Nacional de Metrologia, Normalização e
do Inseto Estéril (TIE) (liberação de toxicidade e periculosidade. Este decreto
Qualidade Industrial (Inmetro) é a unidade
machos esterilizados por radiação também cita um prazo de 60 dias para a
de monitoramento reconhecida que audita
ionizante como método de controle realização das avaliações toxicológicas
os laboratórios quanto à competência na
que pode ser usado na supressão ou (Anvisa) e ambiental (Ibama), bem como
realização de testes dentro desse sistema.
erradicação de pragas). um prazo de 15 dias para a expedição
A obrigatoriedade da apresentação de
Para a submissão do pleito de Registro do certificado de registro no MAPA. No
cada um dos testes está vinculada ao tipo
Federal faz-se necessária a apresentação de entanto, todos os prazos apresentados
de produto, isto é, se técnico ou formulado,
testes de caracterização físico-química dos na legislação param de contar a partir do
sólido, líquido ou gás, bem como ao modo
produtos agrotóxicos e afins, bem como de momento em que o produto recebe alguma
de uso, se aplicado em pré ou pós-emer-
testes toxicológicos e da genotoxicidade. exigência de complementação de informa-
gência, pré ou pós-colheita, incorporado ao
A caracterização físico-química do pro- ções e retomam a contagem por ocasião da
solo, utilizado no tratamento de sementes
duto consiste na descrição de sua estrutura ou dentro de armadilhas etc. protocolização da documentação faltante
molecular, fornecendo dados importantes As normas específicas que regem cada no órgão que a exigiu.
para corroborar os resultados dos demais produto biológico/natural descrevem os
Registro Estadual
parâmetros toxicológicos e da genotoxici- diferentes níveis de exigências para apre-
dade testados. Os resultados obtidos são sentação dos parâmetros físico-químicos, Após a obtenção do Certificado de Re-
utilizados pelos três órgãos regulamenta- toxicológicos e da genotoxicidade, a de- gistro em âmbito federal, a empresa ainda
dores para embasar os demais resultados pender das características próprias de cada deverá cadastrar-se nos Estados brasileiros,
apresentados. um desses produtos. onde deseja comercializar os produtos re-
Os testes toxicológicos apresentados Outra diferença interessante entre as gistrados. Em alguns Estados, esse registro
ao Ibama e à Anvisa englobam testes com exigências apresentadas para os agrotóxi- ou cadastro pode ser realizado de forma
mamíferos e outros organismos não-alvos, cos químicos convencionais e os produtos simplificada, apenas com apresentação da
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
documentação deferida pelos órgãos fede- registros). O usuário tem o prazo de três Como proteger uma
rais regulamentadores. Entretanto, há Esta- dias para fazer uma busca Individual na invenção em outros países
dos onde são exigidos praticamente todos sede do Inpi. Caso o usuário não possa fazer A proteção de uma invenção é feita
os procedimentos de registro realizados por a busca pessoalmente, poderá solicitar ao diretamente no país onde se deseja obter
ocasião da submissão do pleito em esfera próprio Inpi que a faça e remeta o resultado a proteção. Para simplificar esse procedi-
federal, inclusive com pagamento de taxas (busca isolada). Essa busca será cobrada mento o inventor pode optar pelo sistema
referentes à classificação dos produtos após em função da quantidade de documentos Patent Cooperation Treaty (PCT), segundo
avaliação dos órgãos federais. Esse regis- pesquisados, ou seja, da sua duração. o qual, a partir de um depósito inicial em
tro segue legislação estadual específica, O usuário também pode realizar a um país membro do PCT, são designados
observando-se as exigências dos órgãos busca pela internet4 ou consultar o banco os países escolhidos para requisitar a pa-
de meio ambiente, saúde e agricultura de de patentes do Inpi, que possui cerca de tente. O Brasil é um dos países membros
cada Estado. 25 milhões de patentes. Buscas informati- e esse depósito pode ser efetivado no
zadas podem ser realizadas pela consulta Inpi. O inventor recebe um relatório de
PATENTE E PROTEÇÃO em bases de dados, como Dialog (EUA), busca internacional que deve auxiliá-lo na
INTELECTUAL decisão da escolha dos países. O inventor
Orbit-Questel (França) e STN (Alemanha).
dispõe de um prazo de 20 ou 30 meses, nos
Os produtos biológicos utilizados no Os três juntos abrangem 600 bases de da-
casos em que tenha solicitado um exame
controle de pragas e doenças são resultado dos com informações sobre praticamente
preliminar internacional, para entrar na
de trabalhos intensos de pesquisa, inovação todas as áreas do conhecimento humano.
fase nacional, contados a partir da data do
e desenvolvimento. Os mecanismos de depósito internacional. Dessa forma, se
Duração da patente
proteção intelectual, dentro desse contexto, comparado ao sistema tradicional de paten-
visam garantir o retorno dos investimentos A patente de invenção vigora pelo tes, que disponibilizava apenas 12 meses,
feitos. prazo de 20 anos e a patente de modelo de a entrada de um pedido PCT não garante
utilidade por 15 anos contados da data de uma patente internacional, mas simplifica
Como proteger uma depósito – art. 40 da Lei da Propriedade o processo por fornecer um relatório de
invenção
Industrial (BRASIL, 1996). busca, de exame preliminar (se solicitado
O primeiro passo para proteger uma pelo inventor) e de uma extensão de prazo
invenção é procurar o Instituto Nacional Território de proteção para o início das fases nacionais.
da patente
da Propriedade Industrial (Inpi). A patente
Função utilitária das
ou o registro de desenho industrial é o A patente é válida somente no territó-
patentes
instrumento correto para essa proteção. É rio nacional - princípio consagrado pela
necessário depositar um pedido no Inpi, o Convenção da União de Paris (CUP). A função utilitária das patentes ge-
qual, depois de devidamente analisado por A existência de patentes regionais (ex. ralmente é associada à possibilidade de
um Examinador de Patentes, poderá tornar- Patente Europeia) não constitui exceção retorno do investimento em Pesquisa e
se uma patente, com validade em todo o ao princípio, pois elas são resultantes de Desenvolvimento (P&D). A lógica é bas-
tante retilínea: uma vez obtida a patente
território nacional. O pedido de patente acordos regionais específicos. A CUP,
de determinado produto ou processo, os
é formado pelos seguintes documentos: concluída em 1883, constituiu o primeiro
royalties auferidos pelo titular da carta-pa-
requerimento próprio, relatório descritivo, marco internacional para a proteção da
tente tendem a compensar os investimentos
reivindicações, desenhos e resumo (se for propriedade industrial entre os diversos
despendidos para a sua obtenção.
o caso). Antes de depositar o pedido de países signatários. O Brasil foi um dos 14
Outros atributos também podem-se
patente, é altamente recomendável efetuar, primeiros países a aderir a essa Conven- vincular à chamada função utilitária das
previamente, uma busca de anterioridade, ção. Várias foram as modificações intro- patentes (e da propriedade intelectual em
que pode ser uma busca individual ou uma duzidas no texto de 1883 por meio de sete geral), como ocorre no caso do ritual de
busca isolada. A busca é realizada de acor- revisões. O Brasil aderiu integralmente transferência de tecnologia. A transferência
do com a Classificação Internacional de ao texto da Revisão de Estocolmo, última reveste-se de maior sofisticação, quando a
Patentes (no caso de patentes) e de acordo revisão da CUP, pelo Decreto no 635, de tecnologia é protegida. Deve-se considerar
com a Classificação Nacional (no caso de 1992 (BRASIL, 1992). que, dependendo do tipo de produto ou pro-
4
Consultar o site: http://ep.espacenet.com ou http://www.delphion.com
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
BRASIL. Lei no 10.831, de 23 de dezembro BIBLIOGRAFIA CONSULTADA comércio de fertilizantes, corretivos, inocu-
de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgâni- lantes ou biofertilizantes destinados á agri-
BRASIL. Decreto no 79.094, de 5 de janeiro
ca, e dá outras providências. Diário Oficial cultura, e dá outras providências. Diário
de 1977. Regulamenta a Lei no 6.360, de 23
[da] República Federativa do Brasil, Brasí- Oficial [da] República Federativa do Bra-
de setembro de 1976, que submete a siste- sil, Brasília, 15 jan. 2004. Disponível em:
lia, 24 dez. 2003.�����������������
Disponível em: <http:// ma de vigilância sanitária os medicamentos, <http//www.planalto.gov.br>. Acesso em:
www.planalto.gov.br>. Acesso em: 29 jun. insumos farmacêuticos, drogas, correlatos, 29 jun. 2009.
2009. cosméticos, produtos de higiene, saneamen-
_______. Lei no 10.973, de 2 de dezembro de to e outros. Diário Oficial [da] República _______. Lei no 6.360, de 23 de setembro de
Federativa do Brasil, Brasília, 7 jan. 1977. 1976. Dispõe sobre a Vigilância Sanitária a
2004. Dispõe sobre incentivos à inovação
Disponível em: <http://www.planalto.gov. que ficam sujeitos os Medicamentos, as Dro-
e a pesquisa científica e tecnológia no am-
br>. Acesso em: 29 jan. 2009. gas, os Insumos Farmacêuticos e Correlatos,
biente produtivo e dá outras providências.
Cosméticos, Saneantes e Outros Produtos, e
Diário Oficial [da] República Federativa _______. Decreto no 4.954, de 14 de janei- dá outras providências. Diário Oficial [da]
do Brasíl, Brasília, 3 dez. 2004. Disponível ro de 2004. Regulamenta a Lei no 6.894, de República Federativa do Brasil, Brasília, 24
em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso 16 de dezembro de 1980, que dispõe sobre set. 1976. Disponível em: <http://www.pla-
em: 29 jun. 2009. a inspeção e fiscalização da produção e do nalto.gov.br>. Acesso em: 29 jun. 2009.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 1 0 8 - 11 5 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
INTRODUÇÃO químicos. Bettiol et al. (2009) salientam, práticas de manejo, em substituição ao uso
ainda, que outros fatores incluem a for- de fungicidas e inseticidas.
O uso de agentes de controle biológico
mação de agentes de assistência técnica e Com o maior interesse dos produtores
para o controle de doenças de plantas e de
extensão rural centrada na recomendação pelo controle biológico, diversas empresas
pragas ainda é limitado no Brasil, apesar
da crescente demanda verificada nos últi- de agrotóxicos, para a solução dos proble- e instituições de pesquisa brasileiras têm,
mos anos por produtos livres de resíduos mas fitossanitários, e o papel das indústrias recentemente, disponibilizado produtos
de agrotóxicos e por uma agricultura que de agrotóxicos na assistência técnica aos comerciais à base de agentes biológicos
cause menores impactos sobre os recursos produtores. Entretanto, muitas doenças e (Quadros 1 e 2), apesar de existirem, ainda,
naturais. Segundo Bettiol et al. (2009), pragas não têm sido controladas satisfa- inúmeros entraves, especialmente relacio-
vários fatores contribuem para a adoção toriamente com fungicidas e inseticidas. nados com a adequação da legislação para
limitada do controle biológico. O principal Em muitos casos, apesar de serem obtidos o seu registro. Entretanto, espera-se que a
destes fatores relaciona-se com a cultura níveis satisfatórios de controle, há contami- comercialização de produtos biológicos
desenvolvida por agricultores e por agen- nação considerável de produtos agrícolas para o controle de doenças e pragas apre-
tes de extensão rural (oficiais e privados), e de aplicadores, bem como impactos sente crescimento acentuado nos próximos
que utilizam e/ou recomendam exclusiva- negativos sobre o ambiente. Isso tem feito anos, no Brasil. Bettiol et al. (2009) desta-
mente agrotóxicos, pela facilidade de uso, com que diversos produtores empreguem cam alguns fatores que podem levar a esse
divulgação e eficiência desses produtos o controle biológico em associação com crescimento:
Eng o Agr o , Ph.D., Pesq. U. R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
1
Eng a Agr a , Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.br
2
Eng o Agr o , D.Sc., Pesq. Embrapa Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: mmorandi@cnpma.embrapa.br
3
Eng o Agr o , D.Sc., Pesq. Embrapa Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: bettiol@cnpma.embrapa.br
4
Eng o Agr o , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: hudsont@epamig.br
5
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
QUADRO 1 - Produtos biológicos comercializados no Brasil para o controle de doenças de plantas (continua)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
harzianum, Sclerotinia
T. koningii e
117
Trichoderma sp.
IA251.indb 118
(continuação)
118
Nome comercial Agente biológico Doença e/ou patógeno Cultura Formulação Método de aplicação Empresa produtora Observações
Nemaplus® Pseudomonas Nematoides Diversas culturas - - Ballagro Agro Tecnologia Em fase de
spp. Ltda. (www.ballagro.com. registro
br)
Paecilomyces Paecilomyces Nematoides (principalmente Diversas culturas Pó-molhável Pulverização JCO Indústria e Comércio Em fase de
JCO® lilacinus ovos) de Fertilizantes Ltda. registro
(www.jcofertilizantes.
com.br)
Polyversum® Pythium Alternaria brassicae, Sclerotinia Canola, girassol, - Pulverização, Biopreparáty Ltd. Produto registrado
oligandrum sclerotiorum, Botrytis cinerea, trigo, couve-flor, tratamento de solo e (www.polyversum.eu) em vários países;
Tilletia caries, Plasmodiophora uva, lúpulo sementes no Brasil, em fase
brassicaceae, Sphaerotheca de registro
humulil
Quality WG® Trichoderma Patógenos veiculados pelo solo Soja, feijão e Grânulos Tratamento de Laboratório de Em fase de
asperellum algodão dispersíveis em sementes (75 g/10 kg Biocontrole Farroupilha registro
água (1,5 x 1010 de semente de soja Ltda. (www.
ufc/g) ou feijão e 400 g/100 sementesfarroupilha.
kg de sementes de com.br)
algodão); aplicação
no sulco de plantio
ou pós-emergência
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
(100 g/ha)
Serenade® Bacillus subtilis Xanthomonas sp., Leveillula Tomate, pimentão, Grânulos Pulverização AgraQuest Inc. Registrado em
QST 713 taurica, Alternaria solani, uva, cucurbitáceas, dispersíveis em (www.agraquest.com) diversos países,
Trichodel® Trichoderma spp. Botrytis, Plasmopora, Fusarium, Alho, cebola, Pó-molhável ou Tratamento Empresa Caxiense de Em fase de
Colletotrichum, Glomerella, tomate, pepino, líquida de sementes, Controle Biológico Ltda. registro
Botryosphaeria, Alternaria, abóbora, batata, (109 células pulverização, (www.eccb.com.br)
Fusarium, Penicillium, melão, melancia, viáveis/g ou mL) aplicação no solo,
Monilinia e outros banana, pimentão, tratamento de mudas
uva, maçã, pêssego, ou outros órgãos de
roseiras, morango, propagação
4/9/2009 13:45:11
hortaliças e citros
IA251.indb 119
(conclusão)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Trichodermil® Trichoderma Rhizoctonia, Feijão, soja, Pó-molhável Pulverização Itaforte BioProdutos Registrado no
harzianum Sclerotinia sclerotiorum, pimentão, mamão, (5 x 10¹¹ conídios (convencional ou (www.itafortebioprodutos. Brasil
ESALQ-1306 e Phytophthora capsici, P. mamona viáveis/kg), pivô) com.br)
ESALQ-1303 palmivora, Botrytis ricini, suspensão
Fusarium spp. concentrada
emulsionável
(2 x 10¹² conídios
viáveis/L)
Trichonat EF® Trichoderma sp. Rhizoctonia solani, Fusarium, Diversas culturas - Pulverização, Natural Rural (www. Em fase de registro
Pythium, Sclerotinia aplicação direta no naturalrural.com.br)
sclerotiorum, Sclerotium solo ou substrato,
rolfsii, Botrytis, Phytophthora, tratamento de
Verticillium, Colletotrichum, sementes
Armilaria, Rhizopus, Venturia,
Endothia, Diaporte, Fusicladium
e Crinipellis perniciosa
Trichoplus JCO® Trichoderma Fusarium, Sclerotinia Diversas culturas Pó-molhável e Pulverização, JCO Indústria e Comércio Em fase de registro
spp., T. sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, granulado tratamento de de Fertilizantes Ltda.
harzianum Macrophomina, Rhizoctonia, sementes ou (www.jcofertilizantes.
Pythium, Cercospora, Phoma, misturado ao adubo com.br)
Rosellinia e Phytophthora no sulco de plantio
Tricovab® Trichoderma Vassoura-de-bruxa Cacau Conídios Pulverização dirigida Ceplac - Comissão Em fase de registro
stromaticum (Moniliophthora perniciosa) vivos de T. às vassouras e frutos Executiva do Plano da
stromaticum amontoados sobre o Lavoura Cacaueira (www.
aderidos em solo ou serrapilheira ceplac.gov.br)
grãos de arroz
secos (106
conídios/g)
119
120 Controle biológico de pragas, doenças e plantas invasoras
a) novas políticas públicas para a daqueles disponíveis em outros países, para cada produto são apresentadas informações
adoção ampla da agricultura de base o manejo de doenças e pragas no Brasil. básicas, como nome comercial, agente
ecológica; biológico, doenças e patógenos visados,
PRODUTOS BIOLÓGICOS modo de ação, formulações disponíveis,
b) pressão da sociedade por alimentos
PARA O CONTROLE DE
livres de agrotóxicos; DOENÇAS DE PLANTAS período de armazenamento, métodos de
c) maior conscientização dos proble- aplicação, registro e comercialização e
No Quadro 1 são listados, em ordem empresa produtora.
mas de contaminação ambiental e
alfabética, diversos produtos à base de
dos alimentos com agrotóxicos;
agentes de controle biológico, comerciali- PRINCIPAIS AGENTES DE
d) discussão ampla sobre as mudanças zados no Brasil e indicados para o controle CONTROLE BIOLÓGICO
climáticas globais. de doenças de plantas. O processo de regis- UTILIZADOS EM PRODUTOS
No mercado brasileiro, são comerciali- tro de novos produtos no MAPA é bastante COMERCIAIS PARA O
zados atualmente diversos produtos à base dinâmico. Assim, as informações apresen- CONTROLE DE PRAGAS
de agentes para o biocontrole. Entretanto, tadas refletem a situação de maio de 2009
No Quadro 2, estão listados diversos
comparando-se com outros países, o nú- e foram obtidas em páginas eletrônicas de
produtos à base de agentes de controle
mero de produtos registrados no Ministério empresas produtoras e comercializadoras
biológico, comercializados no Brasil e
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento dos produtos e por meio de contato com
indicados para o controle de pragas. Para
(MAPA) ainda é muito reduzido (BRASIL, responsáveis técnicos dessas empresas,
2009). Considerando as perdas causadas bem como em universidades, instituições cada caso, apresentam-se a categoria do
por fitopatógenos e pragas, a importância de pesquisa, órgãos fiscalizadores e periódi- agente biológico, a espécie, os nomes
do desenvolvimento de alternativas me- cos científicos. É importante mencionar que comerciais (quando disponíveis), as pra-
nos agressivas ao homem e ao ambiente as referências a produtos comerciais não gas controladas, as culturas para as quais
e a disponibilidade de agentes biológicos esgotam ou excluem outros produtos ou o produto é recomendado e as empresas
eficazes, fazem-se necessários o desen- marcas, nem significa a preferência destes produtoras. São destacados os produtos
volvimento de produtos e/ou a introdução por parte dos autores ou da EPAMIG. Para que possuem registro no MAPA.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
(continuação)
Agente de
controle Espécie Nome comercial Praga-alvo Cultura Empresa
biológico
Bactéria Bacillus thuringiensis (1)
Dipel Condylorrhiza vestigialis, Álamo, algodão, Sumitomo Chemical do
Trichoplusia ni, citros, eucalipto, Brasil Repres. Ltda
Plutella xylostella, melão, repolho, (www.sumitomo.com.br)
Alabama argillacea, soja, tomate, trigo
Thyrinteina arnobia,
Heliothis virescens,
Ecdytolopha aurantiana,
Diaphania hyalinata,
Anticarsia gemmatalis,
Ascia monuste orseis,
Pseudoplusia includens,
Pseudaletia sequax
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
(continuação)
Agente de
controle Espécie Nome comercial Praga-alvo Cultura Empresa
biológico
Fungo Metarhizium anisopliae Metarriz Biocontrol Mahanarva fimbriolata Cana-de-açúcar, Biocontrol
pastagem (www.biocontrol.com.br)
Fungo Metarhizium anisopliae Metarhizium JCO Cigarrinha-verde, cigarrinha- Cana-de-açúcar, JCO Indústria
das-raízes e folhas da cana- pastagens, outras e Comércio de
de-açúcar, cigarrinhas-das- culturas Fertilizantes
pastagens, tripes e cupins- (www.jcofertilizantes.
de-montículos com.br)
Fungo Beauveria bassiana Beauveria JCO Mosca-branca, broca-do-café, Café, banana, soja JCO Indústria
moleque-da-bananeira e e outras culturas e Comércio de
percevejo-da-soja. Fertilizantes
(www.jcofertilizantes.
com.br)
Fungo Beauveria bassiana Bovenat PM Moleque-da-bananeira, Café, banana, Natural Rural
moscas-brancas, broca-do- outras culturas (www.naturalrural.
café, lagartas-desfolhadoras, com.br)
ácaros
Parasitoide Trichogramma pretiosum - Helicoverpa zea, Tomate, milho, BUG Agentes Biológicos
Spodoptera frugiperda, soja (www.bugbrasil.com.br)
Alabama argillacea,
Tuta absoluta,
Anticarsia gemmatalis,
Pseudoplusia spp.
Parasitoide Trichogramma galloi - Diatraea saccharalis Cana-de- açúcar BUG Agentes Biológicos
(www.bugbrasil.com.br)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
(conclusão)
Agente de
controle Espécie Nome comercial Praga-alvo Cultura Empresa
biológico
Parasitoide Trichogramma spp. - Lepidópteros Não especificado Megabio Produtos
(www.megabio.com.br)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , 2 5 1 , p . 11 6 - 1 2 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
de Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 1 , j u l . / a g o . 2 0 0 9
Informações:
(31) 3489-5002
publicacao@epamig.br Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento