PROFESSORADO: entre o sacerdócio e o profissionalismo A concepção do magistério como sacerdócio foi construída por razões político-religiosas conservadoras e autoritárias (interesses tradicionais, aristocráticos e conservadores): a Igreja exercia um papel fundamental nesse incentivo à atividade docente como vocação; por meio dos textos religiosos, conseguia disseminar a ideologia católica. A ORIGEM DO TERMO “PROFESSOR” Aquele que professa fé (profissão de fé) e fidelidade aos princípios da Igreja e “se doa sacerdotalmente aos alunos, com parca remuneração aqui, mas farta na eternidade [...] Nesse projeto, uma figura vital foi a do professor, que se doava sacerdotalmente à missão de debelar às investidas do liberalismo satânico” (KREUTZ, 1986, p. 13) DISPUTA DE INTERESSES: aristocráticos x liberais Já na idade moderna, quando surge a necessidade de as escolas serem abertas para as camadas populares (séc. XVII) e o clero sozinho já não conseguia atender a essas novas demandas, são convocados os colaboradores “leigos” (exemplo de vida e forte atuação no campo religioso e social). RESISTÊNCIA DOS INTERESSES DA IGREJA
Portanto, até o início do séc. XVIII, a
escola ainda era influenciada pela Igreja e as tarefas do mestre de ensinar compreendiam, prioritariamente, obrigações religiosas e comunitárias, ficando em segundo plano, as ocupações de caráter realmente educativo. MUDANÇAS NOS SÉCULOS XVIII E XIX A ascensão do Liberalismo e a consolidação do Estado Burguês expuseram de forma mais acentuada as contradições entre a visão sacerdotal e a visão profissional de docência. Embora a Igreja ainda controlasse a educação e exercesse forte controle ideológico sobre a sociedade, os embates políticos e culturais eram muito fortes. PRINCIPAIS TRANSFORMAÇÕES Industrialização, urbanização, mudanças na organização do trabalho, políticas e ideológicas (Iluminismo/Liberalismo), formação dos Estados-nacionais; estas impuseram a necessidade de dar um caráter mais técnico-profissional à atividade docente e logo indicaram a constituição de um sistema público de educação. PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: profissional liberal-autônomo “A partir do final do séc. XVIII não é permitido ensinar sem uma licença ou autorização do Estado, a qual é concedida na sequência de um exame que pode ser requerido pelos indivíduos que preencham um certo nº de condições (habilitações, idade, comportamento, moral, etc). Este documento constitui um verdadeiro suporte legal ao exercício da atividade docente [...]” (NÓVOA, 1999, p. 17). LICENÇA PARA ENSINAR
A licença significava o aval do Estado
aos professores que, de posse de um título que reconhece e legitima seu papel social nas atividades educativas escolares, se afirma como grupo ocupacional e se lança na luta pela melhoria de seu estatuto sócio- profissional. CONTINUAÇÃO
Grande contradição: o Estado-nação,
mesmo tentando construir uma rede de ensino pública e laica, não podia deixar de se submeter aos aspectos socioculturais construídos sob a hegemonia religiosa (esperteza do Estado – por que será?). OBS.: ler citações das pág. 23-24. CITAÇÃO
“O processo de estatização do ensino
consiste, sobretudo, na substituição de um corpo de professores religiosos por um corpo de professores laicos, sem que, no entanto, tenha havido mudanças significativas [...] o modelo do professor continua muito próximo do modelo do padre” (NÓVOA, 1999, p. 15). PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: funcionário público Séc. XIX: o Estado-nação começa a consolidar a implantação de um sistema educacional sob seu controle: os docentes vão buscar a nova situação de trabalho (assalariamento + formação pelo Estado), mesmo porque ficará cada vez mais difícil realizar seu ofício sendo um trabalhador autônomo (profissional liberal / “mestre do ofício de ensinar”); CONTINUAÇÃO
Processo de funcionarização dos
docentes: um acordo de interesses entre Estado e professores; de um lado, os professores cedem buscando se constituir em corpo administrativo, autônomo e hierarquizado; de outro, o Estado, buscando garantir o controle da instituição escolar (apenas mudou a tutela: da Igreja para o Estado). ACORDO DE INTERESSES: ESTADO E PROFESSORES Estado: regula quem pode exercer a função docente, a organização e o reconhecimento de uma carreira profissional (pelo menos no discurso)►exerce maior controle sobre a organização do sistema, do currículo e do processo de trabalho docente (qual o exemplo mais atual desse controle) CONTINUAÇÃO
ESTADO: assume a responsabilidade
sobre o sistema público de ensino elementar; legisla sobre a profissão docente; regula profissionalmente os docentes, tanto como empregador quanto como aquele que se responsabiliza pela formação dos professores primários (através das Escolas Normais). SURGIMENTO DAS ESCOLAS NORMAIS Surge a proposta de uma formação específica e longa, originada no desejo dos professores de melhorar seu estatuto e no interesse do Estado em deter mecanismos de controle. A 1ª escola normal é criada em Paris em 1795, embora o projeto visando a criação dessas escolas de formação só se dê plenamente no séc. XIX. AS PRIMEIRAS ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS Sob a forma de ordens profissionais ou sindicalismo operário, as associações passam a reivindicar melhoria no estatuto, controle da profissão e definição de uma carreira, onde o Estado se oporá por várias vezes à essa tentativa de organização autônoma dos docentes. A ESCOLA NO FINAL DO SÉC. XIX / INÍCIO SÉC. XX Concebida como libertadora da ignorância e como instrumento para a igualdade entre os cidadãos, onde até os anos 30-40 do séc. XX, os professores gozaram o maior prestígio profissional de toda sua história, com amplo reconhecimento social de seu trabalho. A ESCOLA EM MEADOS DO SÉC. XX As duas guerras mundiais levam à derrocada do pensamento positivo em relação à escola e ao professor: há a descrença no ideal escolar e a propagação do movimento de desescolarização da sociedade com forte critica à figura do professor como detentor e transmissor do conhecimento. CONCLUSÃO
Contraditoriamente, quanto mais
profissional vai se tornando a profissão docente, menos prestígio social, autonomia e controle sobre o seu trabalho tem o professor. Ou seja, a medida que essa categoria profissional aumenta, torna-se assalariada, empregada pelo Estado, tendo sua profissão por ele regulamentada, reduz-se seu valor!!!