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Repertório, Salvador, nº 17, p.89-95, 2011.

FEITO NO PERU

Silvana Garcia1

RESUMO: A força do teatro latino-americano pode ABSTRACT: The strength of Latin American theatre
ser perfeitamente dimensionada pelo grupo peruano can be well represented by the Peruvian group
Yuyachkani que recentemente cumpriu 40 anos de Yuyachkani, who just turned 40 years of existence full
trajetória artística, ainda no pleno vigor de seu teatro of vitality, producing a vigorous, politically engaged
politicamente engajado. Neste ensaio, analisamos alguns theater. In this paper we analyze some aspects of its
aspectos da trajetória artística do grupo, detendo-nos artistic trajectory, including a view on one of its most
em um de seus trabalhos mais representativos. representative works.

Palavras-chave: teatro peruano, teatro latino- Keywords: Peruvian theater, Latin American theater,
americano, teatro de grupo. group theater.

Podemos afirmar com segurança que hoje a re- Por outro lado, o reconhecimento de um grupo
alidade da produção do teatro da América Latina como o Teatro da Vertigem, cujo BR-3 foi esco-
já é reconhecida como um referente de potência lhido pela Quadrienal de Praga de 2011 como a
similar ao europeu e ao norte-americano, que sem- melhor produção teatral dos últimos cinco anos,
pre constituíram nossos principais paradigmas. Isso em todo o mundo, consagra também a tradição do
vale também para a produção intelectual, que tem teatro de grupo que, na América Latina, é um dos
conquistado espaço nas bibliografias e alimentado veios mais férteis do bom teatro que fazemos. Isso,
o diálogo entre os pensadores, em escala transcon- desde as décadas de 1960-1970, quando foram cria-
tinental. dos alguns dos primeiros grupos que sedimenta-
Não que essa produção não fosse importante já ram as bases dessa tradição. Foi nesse período que,
há algumas décadas. O reconhecimento disso é que em escala mundial, se evidenciou a formação de
tardou a se expandir, fora dos muros dos pequenos coletivos, indicando a emergência de novos modos
territórios nos quais circulava e ainda assim com de produção e criação no âmbito das artes cênicas.
certa timidez. Ou seja, demorou algumas décadas Desse conjunto, há coletivos que ainda hoje estão
até que os estudiosos de outros continentes desco- ativos e que registram, em sua trajetória, todos os
brissem que não nos chamamos apenas Augusto processos de autoconstrução e desenvolvimento
Boal (sem nenhum demérito para o grande diretor que, embora com particularidades, constituem de
e teórico). modo geral a tradição.

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Pesquisadora, dramaturgista, diretora do grupo Lasnoias,
professora da Escola de Arte Dramática da Universidade de
São Paulo, integrante da Cátedra Itinerante de la Escena Lati-
noamericana.
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Yuyachkani_Rosa Cuchillo 30 (Foto Fidel Melquiades)

O Yuyachkani faz parte dessa geração. Nasceu o contato com a cultura andina, principal fonte de
em Lima, no Peru, em 1971 – acabando, portan- inspiração da militância artística do grupo. Seu pri-
to, de cumprir 40 anos2 – o que o qualifica para meiro espetáculo, Puño de cobre (1971), inspirado na
o posto de um dos grupos latino-americanos mais greve dos mineiros de Cerro de Pasco, e, um pou-
antigos em atividade. Sua trajetória foi construída co depois, Allpa Rayku (1978), sobre o movimento
seguindo um rastro de vivências significativas, re- dos camponeses em luta pela terra, correspondem à
sultado de uma busca madura da expressividade, formalização desse compromisso e definirão a men-
no cruzamento com o engajamento político, com- talidade com a qual os yuyas estabelecerão as bases
promisso assumido desde a origem. Como outros de seu compromisso social. O diretor Miguel Rubio
grupos, na América Latina, o Yuyachkani nasceu relata um episódio que evidencia essa tomada de
no ambiente universitário, insuflado pela urgência consciência: depois de uma apresentação de Puño de
de corresponder artisticamente aos apelos da re- cobre, em um acampamento de mineiros, um deles
alidade social e política de uma América sempre se aproxima do grupo e comenta que a apresenta-
convulsionada. ção havia sido muito bonita, mas que era uma pena
Como muitos grupos, antes e depois dele, o os atores terem “olvidado sus disfrazes”, dando a
aprendizado artístico-político se fez paulatinamente entender que a opção pelo elenco uniformizado em
à medida que o grupo enfrentava o desafio de traçar camiseta e jeans – sob inspiração dos espetáculos
seus caminhos. A primeira fase do grupo definiu do Teatro de Arena paulista – não ressoava para os
um compromisso social e a necessidade de buscar mineiros de modo significativo. Para Miguel Rubio,
o aprendizado foi claro:
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O grupo festejou a efeméride com uma programação in-
tensa de atividades, incluindo performances, demonstrações
de trabalho e mesas de debates, em julho de 2011.
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O que eles quiseram dizer era que estávamos nos compõem em plano de similar importância o re-
esquecendo do público ao qual nos dirigíamos, pertório do grupo.
que não estávamos levando em conta as expres-
sões artísticas dos mineiros – mais que isso: não O corpo do ator é o lugar onde concentra e de
as conhecíamos – oriundos do campo e pos- onde nasce o ato cênico. As opções de seu uso
suidores de uma rica tradição cultural. Tinham podem ir desde o corpo espontâneo até um cor-
razão. Como podiam imaginar uma obra sobre po altamente codificado. [...] Durante mais de 30
eles sem seus cantos e sem as roupas de suas mu- anos de ofício, compartilhei de maneira privile-
lheres – que conservam com tanto orgulho seu giada a busca de meus companheiros para en-
vestuário de procedência – e sem personagens contrar um corpo novo, atento, decidido, dilata-
que contem história e dancem.3 do, memorioso, em uma palavra: presente.5

Desde esse momento, definiram-se elementos No depoimento de Miguel Rubio, ajustado para
importantes para a linguagem artística do grupo: uma vivência artística que agora já cumpriu mais
a incorporação da música e da dança, como inte- uma década, evidencia-se um modo de trabalho
grantes fundamentais na construção dos espetácu- que se vai ajustando a cada exigência, a cada nova
los, e o mergulho na tradição cultural andina. necessidade de expressar e se expandir. Esse mo-
Essa dimensão de hibridismo cênico, pela qual, vimento, que acompanha as percepções do grupo
se combinam elementos da cultura popular – a len- acerca do momento em que vivem e a constante
dária, a musicalidade e o colorido dos elementos indagação sobre o lugar que ocupam no andamen-
pictóricos da cultura andina – além da natureza bi- to da história, corresponde fielmente aos proces-
língüe, resultante da incorporação desses elemen- sos de construção dos espetáculos ao longo de sua
tos, dispostos em estruturas não convencionais de trajetória.
narrativa e exposições temáticas, levou o diretor do Na mesma simbiose, os atores compartilham os
grupo a se referir, aos espetáculos do Yuyachkani, processos coletivos e empreendem uma busca por
como “ações cênicas”, driblando, assim, as nomen- seus próprios caminhos. Para Miguel Rubio, esse
claturas viciadas que correspondem a cânones es- movimento em dupla via, que vai do individual ao
tritos. coletivo e, deste, em caminho contrário, ao pessoal,
Essa estrutura cênica aberta, que pretende per- é um dos motivos que sustentam um grupo reuni-
mitir ao espectador fazê-la sua, “completar a ima- do por tão longo tempo:
gem e eleger sua própria ordem ou desordem, como
preferir”,4 consagra a base improvisacional e autoral Creio que a vida em um grupo se fortalece quan-
dos atores que participam no processo coletivo. do se aprende a combinar os espaços coletivos
Afirma-se aqui outro aspecto importante da di- com os pessoais; em nosso caso, alguns projetos
nâmica de trabalho do Yuyachkani: o fato de que englobam a todos, e outros são iniciativas parti-
o coletivo não impede, muito pelo contrário, a culares que logo, de alguma maneira, repercutem
presença independente do ator no interior do gru- no coletivo. Essa prática de encontrar antes de
tudo um sentido pessoal no que fazemos é uma
po, na construção de sua própria expressividade.
maneira de buscar, mais do que o belo, a convic-
Essa condição tem aqui duplo sentido: de um lado, ção, uma verdade pessoal que, quando emerge,
conduz à exploração/construção de uma base de pode converter-se em fundamento do evento
corporeidade expressiva, como parte importante estético.6
do trabalho de cada ator; de outro, leva à produ-
ção de performances ou criações unipersonales, que A construção de um espaço de investigação pes-
soal, assentado em interesses próprios, em paralelo

3
RUBIO ZAPATA, Miguel; RAMOS-GARCIA, Luis A.
(eds.). Notas sobre teatro. Lima: Grupo Cultural Yuyachkani. 5
RUBIO ZAPATA, Miguel. El cuerpo ausente (performance
Minnesota: University of Minnesota. 2001. p. 1-2. politica). Lima: Grupo Cultural Yuyachkani, 2008. p. 35.
4
Ibid., p. 190. 6
Ibid., p. 192.
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aos processos de construção do corpo expressivo – construíram ações cênicas motivados pelo tema da
o corpo dilatado de que fala Rubio – conduz os ato- violência. Ana inspirou-se na literatura de Oscar
res do Yuyachkani a um lugar de atores-criadores, Colchado e na figura real de Mamá Angélica8, para
geradores de produtos próprios, individualmente criar a personagem de Rosa Cuchillo (2002), figura
ou associados em pequenos grupos. Esses resulta- destemida de uma mãe que ressurge do reino dos
dos de processos individuais podem se configurar mortos para continuar procurando por seu filho de-
como demonstrações de trabalho e também como saparecido – um espetáculo realizado nas áreas dos
espetáculos independentes que se combinam aos mercados públicos das cidades, em vigília, duran-
espetáculos coletivos no repertório do grupo. Esse te as audiências públicas. Casafranca, por sua vez,
movimento de construção de uma personalidade criou Adiós Ayacucho, em 1990, logo que começaram
artística individual, no interior do coletivo, não se a aparecer covas coletivas e cemitérios clandestinos,
desloca dos caminhos traçados pelo grupo, mas re- evidências dolorosas da guerra em curso. Baseado
presenta momentos de verticalização do ator/atriz em conto de Julio Ortega, constitui-se do relato de
em busca de esclarecer e enfrentar suas obsessões. um camponês morto que viaja a Lima para rogar ao
Referindo-se ao processo de construção de Antígo- presidente que lhe sejam devolvidas as partes de seu
na, espetáculo unipersonal, relata a atriz Teresa Ralli: corpo esquartejado. A peça também foi apresenta-
da durante as vigílias e, como as outras duas, ainda
Por que quero fazer esse espetáculo? Foi recente- permanece vigente no repertório do grupo, pois o
mente, em fevereiro de 1998, depois de mais de apaziguamento não significa esquecimento.
quinze anos de guerra interna, por anos vendo Se há um grande tópico que dá unidade e cria
as imagens de mulheres chorando, clamando por vasos comunicantes entre os trabalhos do grupo,
todos os cantos do Peru em busca de seus desa-
nas últimas décadas, é justamente a vigilância sobre
parecidos, quando a dureza de tudo que foi vivi-
a memória. “Para que florezca la memória”, dizia
do caía sobre nós como um manto negro, quan-
do já não suportávamos a opressão do silêncio, um dos cartazes empunhado por alguém em vigília
a opressão da ditadura que já fazia do silêncio durante as audiências públicas de Ayacucho. “Es-
um hábito, foi então que Miguel e eu decidimos tou pensando, estou recordando”, é o que significa
abordar a busca por nossa Antígona.7 Yuyachkani em quéchua.
Essa divisa tem um sentido concreto para o
A atriz refere-se ao negro período de duas dé- grupo, à medida que as investidas na história, na
cadas, entre 1980 e 2000, durante o qual os emba- cultura andina, na realidade social e política do
tes entre Exército e forças guerrilheiras do Sendero país, foram constituindo um acervo de episódios e
Luminoso deixaram uma espantosa cifra de quase conjecturas que o grupo vem paulatinamente ela-
70 mil mortos e desaparecidos, principalmente nas borando e sobre os quais sente necessidade de se
províncias da região central do país. Antígona foi manifestar artisticamente.
um dos três espetáculos que registraram a presença Sin titulo. Técnica mista é o melhor exemplo dis-
do grupo durante as audiências levadas a cabo pela so. A idéia de trabalhar sobre a guerra do Pacífico,
Comissão da Verdade e da Reconciliação, instala- travada de 1879 a 1884, entre Chile, Peru e Bolívia,
da em 2001, para coletar o relato de testemunhas com graves perdas para o país, estava no topo dos
e sobreviventes desse período de extrema violên- temas que interessavam aos jovens yuyas, logo no
cia ao qual o povo peruano foi submetido. Assim primeiro momento de existência do coletivo. Dian-
como Teresa Ralli, também Ana Correa e Augus- te da situação dos mineiros, urgidos a se mobili-
to Casafranca, outros dois integrantes do grupo, zar em favor dos familiares das vítimas – foram 25
mortos, muitos feridos e outros tantos presos – o
7
RALLI, Teresa. Fragmentos de memoria. In: DIÉGUEZ,
Ileana. (Org.). Des/tejiendo escenas. Desmontajes: procesos de investi- 8
Angélica Mendoza era mãe de um jovem desaparecido na
gación y creación. México: Universidad Iberoamericana Ciudad cidade de Ayacucho, em 1983, e se tornou um símbolo da
de México: Centro Nacional de Investigación, Document- luta pelo esclarecimento dos atos infames cometidos por am-
ación y información Teatral Rodolfo Usigli, 2009. p.64. bos os lados da guerra.
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Yuyachkani_Sin Titulo (Foto Elsa Estremadoyro)


grupo solidarizou-se com os grevistas e produziu presentação e o documental, em um espaço que se
Puños de Cobre, abandonando por ele a temática da recompõe a cada momento pelo trânsito dos es-
Guerra. Voltou a ela, em 2004, agregando ao tópi- pectadores. As paredes do grande galpão da casa
co trinta anos de experiência artística e igual medi- sede do Yuya foram ocupadas por cenários-insta-
da de vivências acumuladas em relação à história lações, nos quais se exibiam fragmentos do pró-
do Peru.9 prio processo de construção da obra: assimilado a
Esse lapso de tempo favoreceu a criação da uma “reserva técnica” de um museu da memória,
obra, em chave mais madura, se confrontada com o local foi integralmente tomado por reproduções
o que poderia ter sido na fase inicial do Yuyachka- de documentos, registros, cadernos de anotações
ni. Agora, aos materiais sobre a guerra somaram- dos atores, bonecos representando personalidades
se outros materiais, como resíduos da vivência dos da política, trajes da época, mobiliário, restos de
processos testemunhados em Ayacucho, registros outros espetáculos, mapas e desenhos, misturando
pessoais dos atores e atrizes, ecos da situação social épocas e motivos. Diante dos cenários ou sobre
e política da atualidade peruana. plataformas móveis, os atores e atrizes cumpriam
Sin título. Técnica mista constituiu-se, assim, em suas performances, traziam suas personagens à vista,
uma imensa colagem de elementos, transitando evocando protagonistas da história – de uma his-
sem balizas entre as artes plásticas e o teatro, a re- tória que aparentemente se encontra congelada no
passado, mas que, de fato, continua perambulando
pelas dobras do presente.
9
Recentemente, em 2011, o grupo reeditou a montagem,
como parte da estratégia de oposição à candidatura de Keiko
Fujimori, filha e herdeira política do ditador Alberto Fujimori,
à presidência da república peruana. A peça também abriu a
semana de atividades em comemoração aos 40 aniversário do
grupo.
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A memória é seletiva porque seria impossível da memória, própria e coletiva. Nossa condição de
lembrar de tudo. Como paginas soltas de um ar- espectadores fica reconfigurada por uma profun-
quivo de história, assim aparecem diante de nós da e ineludível participação ética”.12 Nesse sentido,
temas e perguntas que temos pendentes. Para Sin título. Técnica Mista promove uma celebração em
apontar alguns: a guerra com o Chile, suas causas que, projetando-se do pessoal ao coletivo, da his-
e consequências, não continua sendo um motivo
tória ao presente, artistas e espectadores podem se
de discussão entre nós? Quanto mudou o estado
desde então? As vítimas da violência política dos reconhecer mutuamente e confirmar seus laços de
últimos anos não são por acaso as mesmas víti- cidadania.
mas da guerra com o Chile se levarmos em conta O momento no qual o Yuyachkani se encontra
que 70% são de língua quéchua? Os abismos so- pode ser resumido como um momento de conver-
ciais, a corrupção, não parecem permanecer ou gência no qual todas as experiências acumuladas e
repetir-se no tempo apenas com novos rostos?10 a soma das profundas vivências às quais o grupo
se entregou ao longo de sua trajetória revelam-se
Os espectadores acompanham os relatos dos em plena maturidade. Isso vale para o coletivo e
atores e atrizes, que se distribuem pelo espaço, às para cada um de seus integrantes, em seus cami-
vezes em ações simultâneas, outras vezes irrom- nhos individuais. São os fortes, aqueles que sobrevi-
pendo no meio do agrupamento humano sobre veram, como poucos outros grupos – para nomear
plataformas móveis. Ouvem testemunhos de víti- alguns desse círculo longevo: Théâtre du Soleil,
mas da guerra – uma viúva, um soldado, uma freira Teatro Oficina, Odin Teatret –, sempre renova-
–, inteiram-se de trechos do relatório oficial da Co- dos e surpreendendo-nos a cada novo espetáculo.
missão da Verdade e veem bonecos tomarem vida Principalmente porque mantêm correspondência e
para encenar pantomimas sobre a corrupção e o nexo entre princípios e práxis artística, entre domí-
terrorismo de Estado. Ademais leem nas paredes – nio técnico e radicalidade estética. E com especial
acontece ali uma verdadeira literalização da cena – mérito, já que fazer o teatro sobreviver, nas condi-
outros depoimentos e textos alusivos. Até mesmo ções de produção que nos tocam, requer coragem
os corpos das atrizes servem de suporte para fotos e persistência em dupla medida.
e textos que dão testemunhos sobre as mulheres Infelizmente ainda se conhece pouco da produ-
escravizadas pelo Sendero Luminoso e a campa- ção artística e do pensamento do grupo, no Brasil,
nha de esterilização em massa de camponesas pelo mas o coletivo aos poucos vai ampliando seu es-
governo Fujimori. Mais do que informes, esses paço em nosso meio. Ademais da vinda do diretor
momentos constituem, para a pesquisadora Ileana Miguel Rubio, para participar de alguns eventos, o
Diéguez, “impactantes e transcendentes metáforas grupo já apresentou em diversas cidades – inclusive
de resistência”, porque, como ela atesta, as mulhe- em Salvador – uma parte de seu repertório recente,
res representaram, durante essa guerra intestina, “a entre eles Hecho en Peru, vitrines para un museo de la me-
mais dura sobrevivência do ethos peruano”.11 moria, evocado no título deste ensaio e outro belo
Sin título. Técnica Mista interpela o espectador exemplo de uma obra na qual se reúnem história,
de diversas tribunas, demandando suas escolhas, memória e atualidade, em composição híbrida, de
cobrando sua parte na dramaturgia do espetáculo. elementos que, recombinados, aparecem com po-
Ileana Diéguez, atenta observadora da trajetória do tência similar em Sin título. Não foi outro o intuito
grupo, sintetiza de modo expressivo esse lugar: “A deste artigo que o de ampliar a possibilidade desse
edição na percepção desses fragmentos cruza-se contato, sempre pensando na legitimidade de se
com o processo pessoal de edição e recuperação reconhecer e reforçar nosso pertencimento a um
mesmo território e tradição.

10
Fragmento de texto extraído da compilação de falas do es-
petáculo Sin Título. Técnica mista. Archivo pessoal da autora.
11
DIÉGUEZ, Ileana. Escenarios liminales. Donde se cruzan
el arte y la vida. Programa de Sin Título. Técnica Mista, p. 5. Ibid, p. 5.
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REFERÊNCIAS

DIÉGUEZ, Ileana. Escenarios liminales. Donde formación Teatral Rodolfo Usigli, 2009.
se cruzan el arte y la vida. Programa de Sin Título. RUBIO ZAPATA, Miguel.RAMOS-GARCIA,
Técnica Mista. Luis A. (eds.). Notas sobre teatro. Lima: Grupo Cul-
RALLI, Teresa, Fragmentos de memoria. In: DIÉ- tural Yuvachkani: Minnesota: University of Min-
GUEZ, Ileana. (Org.) Des/tejiendo escenas. Desmonta- nesota, 2001.
jes: procesos de investigación y creación. México: Univer- RUBIO ZAPATA, Miguel. El cuerpo ausente (perfor-
sidad Iberoamericana Ciudad de México: Centro mance politica). Lima: Grupo Cultural Yuyachkani,
Nacional de Investigación, Documentación y in- 2008.

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