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ATRAVÉS DA V I D A E DOS
TEMPOS BÍBLICOS
AUTOR, LUGAR E DATA DA R E D A Ç Ã O
O livro de Habacuque divide-se naturalmente em duas seções bem definidas: um segmento em que o profeta busca e recebe respostas de
Deus com respeito a algumas perguntas difíceis (Hc 1 e 2), seguido por um salmo de louvor (cap. 3). O autor, Habacuque, é desconhecido
dos leitores de hoje, exceto pelas poucas informações que podemos colher do próprio livro. 0 nome do profeta aparece no título do livro
em 1.1, e em 3.1, como título do salmo (ver “Salmos sobrescritos”, em SI 3). Apesar disso, muitos estudiosos questionam se Habacuque
escreveu o livro inteiro, mais exatamente se o salmo do capítulo 3 foi composto pela mesma pessoa que escreveu os capítulos 1 e 2.
É interessante que o Pesher de Habacuque (pesher é um antigo comentário judaico sobre um livro bíblico) de Qumran (encontrado entre os
rolos do mar Morto) contenha apenas o texto de Habacuque 1 e 2. Esse comentário data do século I a.C.
Entretanto, outros manuscritos antigos apoiam a unidade de Habacuque. 0 Rolo dos Profetas Menores, do uádi Murabbaat (no de
serto da Judeia), datado do século II d.C., contém os três capítulos de Habacuque, assim como o antigo texto grego profético, chamado
Rolo grego dos Profetas Menores, de Nahal Hever, do século I d.C. À luz dessa evidência e do fato de que o livro declara que Habacuque
escreveu os três capítulos, não há razões para questionar a autoria única do texto.
O profeta estava ciente de que Jerusalém e Judá estavam sob a ameaça dos babilônios (1.6); por isso, a maioria dos estudiosos
data o manuscrito no final do século VII a.C., talvez logo após o reinado de Josias.
DESTINATÁRIO
O livro de Habacuque, apresentado como um diálogo entre Deus e o profeta, foi escrito para benefício do povo de Judá. Habacuque estava
preocupado com a idolatria da nação, com a indiferença para com Deus e com a injustiça social e queria saber quanto tempo Deus ignoraria
a maldade descarada do seu povo, e Deus lhe respondeu, revelando que seu juízo seria executado pela mão dos babilônios.
LINHA DO T E M P O
1 4 0 0 A.C. 1300 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 400
E N Q U A N T O V O C Ê LÊ
Tente imaginar o estado de espírito de Habacuque em sua luta com Deus sobre o que parecia para ele uma grande injustiça. Com
pare a maneira em que Habacuque se aproxima de Deus com a de Jó (folheie o livro de Jó e procure as passagens em que Jó se
dirige ao Criador). Compare tam bém as expressões públicas de fé de Habacuque (cap. 3) com as afirmações finais de Jó sobre o
amor e a bondade de Deus.
VOCÊ S AB IA ?
• Habacuque é provavelmente um nome babilônio referente a uma planta ornamental (1.1).
• A madeira dos cedros do Líbano, apreciada durante séculos, fora confiscada pelos reis da Assíria e da Babilônia para adornar seus
templos e palácios. Inscrições assírias registram expedições de busca no território do Líbano, e os invasores babilônios podem ter feito
a mesma coisa (2.17).
• Os escritores do AT combinavam lembranças dos atos poderosos de Deus com imagens de alguma manifestação espantosa de seu
poder. Ele é descrito como alguém que usa uma tempestade como carruagem, flechas voando em todas as direções, uma torrente de
água descendo sobre a terra e montanhas tremendo diante dele (3.3).
• A "praga” era um dos elementos da tríade característica do castigo divino: espada, fome e praga (3.5).
TEMAS
O livro de Habacuque inclui os seguintes temas:
1. Justiça. Habacuque afirma que Deus é santo e justo (1.12,13; 3.3), jamais indiferente ao pecado e à injustiça. Ele castigará finalmente o
mal (1.5-11; 2.2-20) e, na realidade, já fixou para isso um “tempo designado" (2.3) na História para revelar sua justiça e seu juízo sobre o mal.
Habacuque adverte os cristãos de todas as gerações de que nenhuma situação deve ser interpretada como o verdadeiro e último estado
das coisas. O justo talvez tenha de esperar sua defesa, mas ela certamente virá.
2. Fé. A fé é necessária para suportar a injustiça (2.4). Até mesmo quando a vida parecer confusa, o povo de Deus deve esperar com
paciência sua libertação, confiando que Deus agirá com justiça (2.3). “O justo viverá pela sua fidelidade” (2.4), não pelo que parece ser a
realidade (1.4; ver Hb 11.1). Assim como Abraão esperou pacientemente até Deus cumprir sua promessa (Hb 6.13-15) e como Habacuque
e o remanescente fiel deveriam esperar a resposta de Deus num ato de justiça (2.3; 3.16), os fiéis de todas as gerações devem esperar com
fé em Deus, até que ele cumpra seus propósitos (Rm 1.17; 5.1,2).
SUMÁRIO
I. A primeira pergunta de Habacuque (1.1 -4)
II. A resposta de Deus (1.5-11)
III. A segunda pergunta de Habacuque (1.12— 2.1)
IV. A resposta de Deus (2.2-20)
V. A oração de Habacuque (3)
1506 HABACUQUE 1.1
A Resposta do Senhor
5 “Olhem as nações e contemplem-nas, 1.5 Is 29.9;
fiquem atônitos e pasmem;' iAt 13.41*
a 1 .6 H e b r a ic o : caldeus.
b 1 .8 O u ligeiros.
1.1— 2 .2 0 Um dos achados mais interessantes de Qumran (local de ori 1.2-4 A queixa de Habacuque começa como um lamento (ver “Lamen
gem dos rolos do mar Morto) é um comentário dos capítulos 1 e 2 de tos no antigo O riente M édio”, em Lm 3 ), e a injustiça é o tema.
Habacuque. Infelizmente, o texto lança pouca luz sobre o significado O provável contexto histórico é a corrupção do governo de Judá sob a li
desses capítulos, embora permita um vislumbre de como a comunidade derança do cruel e opressor rei Jeoaquim (cf. 2Rs 23.34-37; J r 22.18,19).
dos essênios, que vivia ali no século I a.C., entendia o livro (ver “Os A justiça estava pervertida porque os ricos controlavam os tribunais por
zelotes e os essênios”, em M t 10; “Interpretação bíblica em Qumran e meio do suborno (cf. M q 3 .11; 7.3).
entre os antigos rabinos”, em M t 2 3; “Qumran e o Novo Testamento”, 1.6 Deus castigará a nação apóstata de Judá com a invasão dos babilô
em Lc 6). nios, povo poderoso que recuperou sua independência da Assíria em 626
1.1 Sobre o termo “advertência”, ver nota em Is 13.1; ver também “Orá a.C., extinguiu o poder assírio em 612-605 a.C. e prosperou até 539 a .C
culos no mundo antigo”, em H c 1. Nesse contexto, o termo “caldeus” (ver nota da NVI\ ver também “Os
Habacuque é provavelmente um nome babilônio referente a uma planta caldeus”, em D n 9) é sinônimo de “babilônios”.
ornamental. Como indicado na Introdução, da pessoa de Habacuque 1.8 A velocidade com que a Babilônia conquistava os inimigos tomou-
nada se conhece além do livro que leva seu nome. As referências lendárias -se proverbial.
a Habacuque (no texto apócrifo A Estátua de Bel/O Dragão e em outras 1.9 A crueldade dos babilônios era bem conhecida. Como seus ante
obras) parecem não ter valor histórico. As referências musicais do capítu cessores assírios, eles deportavam povos conquistados — uma estratégia,
lo 3 levam alguns a acreditar que o profeta era membro de um grupo de política (ver 2Rs 17.24-41; 24.10-12 e notas; ver também “Exílio e ge
levitas músicos, porém até mesmo isso é incerto. nocídio no antigo Oriente Médio”, em Ez 21).
1.10 Sobre as “rampas de terra”, ver “Cerco de guerra”, em 2Sm 17.
HABACUQUE 1.14 1 50
'Ver o Glossário na p. 2080 para as definições das palavras em negrito. 2Ver "Profetas na Bíblia e nas nações pagãs”, em Am 7.
15 0 8 HABACUQUE 1.15
A Resposta do Senhor
2 Então o S e n h o r m e respondeu: 2 Ú JdA p 1 .1 9
6 “ T odos estes povos u m d ia rirãok dele com canções de zom baria e dirão: 2.6 4 s 14 .4 ;
'Am 2.8
“ ‘Ai daquele que am ontoa bens roubados
e enriquece m ediante extorsão!1
Até q u ando isto co ntinuará assim ?’
7 N ão se levantarão de repente os seus credores?
N ão se despertarão os que o fazem trem er?
Agora você se to rn a rá vítim a deles.m
1.15 Sobre os “anzóis”, ver nota em Am 4.2. As vítimas da Babilônia de suas posses e de sua dignidade (v. 15-17); 5) adoração a ídolos
eram tão impotentes quanto os peixes que nadam numa rede. Os relevos (v. 18,19).
da Mesopotâmia retratam simbolicamente os conquistadores capturan 2 .2 .3 O hebraico traduzido por “visão” refere-se especificamente à visão
do os inimigos em redes de pesca. de um profeta (ver “Oráculos no mundo antigo”, em H c 1).
2.1 Sobre a “sentinela”, ver nota em M q 7.4. “Muralha” refere-se aos 2 .3 A mensagem que segue trata da queda da Babilônia, que aconteceu
muros de Jerusalém. em 539 a.C., aproximadamente sessenta e seis anos após a profecia de
2 .2 -2 0 O capítulo 2 registra a revelação do Senhor sobre a queda da Habacuque.
Babilônia. A tolice do desejo exacerbado (v. 4) levou a cinco “ais” pro 2 .4 O termo singular “ímpio”, nesse contexto, é usado coletivamente
feridos pelos cativos ou por alvos das ameaças da Babilônia — Judá em para os babilônios.
particular. Esses “ais” condenam os babilônios pelos seguintes moti 2 .5 “Sepultura” aqui é uma referência ao mundo sombrio dos mor
vos: 1) ganância de conquista (v. 6-8); 2) orgulho de seus projetos de tos (para mais informações sobre seu apetite insaciável, ver notas em
construção, realizados à custa de outros povos (v. 9 -11); 3) injustiça Jó 18.13,14; SI 6.5; 4 9 .14,15; ver também “Sheol, Hades, Geena, Abis
motivada por egocentrismo (v. 12,13); 4) violência ao saquear outros mo e Tártaro: imagens do inferno”, em SI 139).
HABACUQUE 3.2
A Oração de Habacuque
O O ração do p ro feta H abacuque. U m a confissão.
a 2 . 1 5 O u veneno.
b 2 . 1 6 O s m anuscritos d o m ar M orto, a Vulgata e a Versão Siríaca d iz e m e cam baleie.
c 2 . 1 6 O u m uito vômito.
2 .1 7 A madeira dos cedros do Líbano, apreciada durante séculos, fora 3.1 A palavra hebraica traduzida por “confissáo” é shigionoth, provavel
confiscada pelos reis da Assíria e da Babilônia para adornar seus templos mente um termo literário ou musical. O capítulo 3 pode ser um hino
e palácios. Inscrições assírias registram expedições de busca no território que existia de forma independente e que foi acrescentado mais tarde.
do Líbano, e os invasores babilônios podem ter feito a mesma coisa.
1510 HABACUQUE 3.3
3 .3 Temã, que significa “região do sul”, era uma aldeia em Edom, ao descendo sobre a terra e montanhas tremendo diante dele (ver Jz 5.4,5
sul do mar Morto. SI 18.7-15; 68.7-10; 77.16-19; M q 1.3). A “pausa” é a tradução do he
O monte Parã, geralmente associado com o monte Sinai e o monte Seir braico selá, termo literário ou musical (ver nota no v. 1).
e a outorga da Lei (ver D t 33.2), ficava provavelmente a noroeste do 3 .5 A “praga” era um dos elementos da tríade característica do casu i:
golfo de Acaba e ao sul de Cades-Barneia, entre Edom e o monte Sinai. divino: espada, fome e praga (Jr 14.12; cf. Lv 26.25,26).
Era prática comum entre os povos no mundo antigo identificar suas 3 .6 Ver nota no versículo 3.
divindades como fenômenos naturais observáveis e impressionantes (cf. 3 .7 Cuchã e Midiã eram tribos árabes que viviam perto de Edom.
v. 3-15; ver também “Deuses da tempestade, imagem e teofania da tem 3 .8 -1 1 Ver nota no versículo 3; ver também SI 32.6; 68.4; 135.7 e notas.
pestade”, em SI 18). Os escritores do A T combinavam lembranças dos 3 .1 2 "Pisotear” é um verbo usado muitas vezes nos livros pro
atos poderosos de Deus com imagens de alguma manifestação espantosa como indicativo de juízo (para mais informações sobre o processo c i
de seu poder. Ele é descrito como alguém que usa uma tempestade como colheita, ver nota em Rt 1.22; ver também “A eira”, em IC r 21).
carruagem, flechas voando em todas as direções, uma torrente de água
HABACUQUE 3.19 1511
3.14 “Jz 7.22; 14 Com as suas próprias flechas lhe atravessaste a cabeça,
"SI 64.2-5
q uando os seus guerreiros saíram
com o um furacão p ara nos espalhar0
com m aldoso prazer,
com o se estivessem prestes a devorar
o necessitadod em seu esconderijo.
3.15 > h 15.8; 15 Pisaste o m a r com teus cavalos,
Sl 77.19
agitando as grandes águas®
3 .1 9 o ‘‘mestre” é provavelmente o maestro dos músicos do templo.a harpa e a lira (ver nota no v. 1; ver também “Instrumentos musicais
O capítulo 3 pode ter feito parte das orações do templo, que eram re- antigos”, em Sl 5).
citadas com o acompanhamento de instrumentos musicais, inclusive