Comprar casa Assembleia Mundo da bola Despesas

SEGURO DE VIDA CONDOMÍNIO CONTAS DOS CLUBES E-FATURA

Em caso de viuvez, há apólices Quantos vizinhos são precisos Financiamento, contratos e ações. Valide as faturas até 15 de
que só pagam metade do crédito para aprovar as obras no prédio? Explicamos os milhões do futebol fevereiro para pagar menos IRS
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Número 145 // janeiro/fevereiro 2018 // Bimestral € 10

Diretora e editora Cláudia Maia

www.deco.proteste.pt

PROPRIETÁRIO OU INQUILINO?

DECISÃO VERTIGINOSA
O preço das casas subiu para comprar e para arrendar. Já o crédito está mais barato.
Fizemos as contas em cinco cidades para ajudar na decisão
DISCURSO DIRETO NESTA EDIÇÃO

CAPA

10
Comprar ou arrendar
O preço das casas subiu um pouco por todo
o País, tanto para comprar como para arrendar.
Fizemos as contas em cinco cidades,
para o ajudar a tomar a decisão

Cláudia Maia
Diretora e Editora
de Publicações

Além de um fatinho
e um par de sapatos
A diferença entre nascer e morrer bem pode ser... “um fatinho
e um par de sapatos”, como dizia Belmiro de Azevedo.
Mas a diferença entre viver e morrer vai muito para além disso.
O desaparecimento de várias figuras públicas nas semanas
que antecederam o fecho desta edição faz-nos refletir.
Entre a certeza de que nada há de mais certo na vida do que
a morte e a angústia de não saber quando acontecerá, sobra
a dúvida: e quem fica? Como protejo os meus? Como asseguro
que as minhas dívidas não serão as dívidas dos meus filhos?
Os seguros de vida, exigidos pelos bancos a quem contrata
crédito à habitação (ver página 21), podem ser usados também
para garantir apoio financeiro a quem fica. Infelizmente, não
é fácil escolher uma boa apólice entre as muitas disponíveis
no mercado. A maioria das companhias não disponibiliza O PREÇO DAS CASAS SUBIU 8%
simuladores nas suas páginas online nem ao balcão e só divulga ENTRE ABRIL E JUNHO DE 2017,
as condições da apólice após a efetiva contratação, o que FACE AO MESMO PERÍODO
impede os clientes de compararem preços e coberturas. DO ANO ANTERIOR
Na banca, a solução do Governo para resolver um problema
semelhante foi a criação da ficha de informação normalizada
(FIN), com as principais condições dos produtos bancários.
Nos seguros, cabe à Autoridade de Supervisão de Seguros e
Fundos de Pensões defender os interesses dos consumidores. AUMENTO DE PREÇO
Se esta não tomar medidas para tornar o mercado mais Dado o aumento de custos de produção
e expedição, o preço da assinatura mensal
transparente, resta-nos esperar que tal seja feito, uma vez mais, da PROTESTE, da DINHEIRO & DIREITOS e da
TESTE SAÚDE passa, em janeiro, para 14,20 euros.
por via legislativa. É um dos nossos desejos para 2018. A assinatura mensal só da PROTESTE será de
9 euros. A quota anual da DECO para subscritores
desta revista será de 7,29 euros. Os novos preços
só entrarão em vigor, para os atuais subscritores,
na data de vencimento da respetiva assinatura.
ENVIE-NOS OS SEUS COMENTÁRIOS editorial@deco.proteste.pt

2  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 4 Termina a 25 de maio o período
de adaptação de dois anos
concedido pela União Europeia
para ser aplicado o Regulamento
Geral sobre a Proteção de Dados

40

18
ANÁLISES E ESTUDOS RUBRICAS

16 26 36 4
Bares e discotecas Obras no condomínio Contas dos clubes Grande plano
São muitos os argumentos Nem todas as obras Financiamentos, contratos Certificados de Aforro
usados para barrar a entrada do prédio exigem aprovação e ações. Explicamos os milhões e do Tesouro, petição contra
de clientes. Mas nem todos por unanimidade dos vizinhos do futebol. Sem clubismos as comissões bancárias, carros
são legais importados, crédito à habitação,
28 depósitos a prazo, trabalhadores
18 Crimes de colarinho branco 40 independentes, avaliação de
Proteção de dados Incluem fraude, corrupção Multirriscos-condomínio imóveis, pagamentos online
O novo regulamento e branqueamento de capitais. Se os condóminos optarem
entra em vigor a 25 de maio Os casos do BPP e do BPN por uma apólice conjunta, 46
em todos os países estão entre os mais mediáticos cada um poupa entre 20 e 50 Sem recurso
da União Europeia por cento Veja como os tribunais decidiram
32 num caso idêntico ao seu
21 Voluntariado 43
Seguro de vida Pode implicar um horário, E-fatura 48
Nem sempre compensa um contrato, um seguro Valide as faturas da família Livro de reclamações
contratar a apólice no banco e até direito a proteção social até 15 de fevereiro para pagar Histórias, dúvidas e testemunhos
que faz o crédito à habitação menos IRS dos nossos leitores. Entrevista
35 a Ricardo Araújo Pereira,
24 As nossas recomendações um consumidor como nós
Contratos coletivos Um selo identifica os produtos
Reforçam os direitos e serviços que aconselhamos.
dos trabalhadores de uma Em breve, também aos balcões
determinada empresa ou setor dos bancos e das seguradoras

OS NOSSOS VALORES
INDEPENDENTE
A nossa missão exige indepen­dência
total: financeira, política e ideológica.
Os conselhos e tomadas de posição
resultam dos nossos estudos e
análises, livres de qualquer tipo
de pressão. A totalidade das receitas
da nossa atividade é reinvestida
em prol dos consumidores.
CREDIBILIDADE
A concretização da nossa missão
assenta na credibilidade e no
reconhecimento da qual­idade do nosso
trabalho. Esta resulta do profissionalismo
das nossas equipas e de métodos
comprovados, transparentes e
constantemente reavaliados, baseados
numa ética profissional exigente.
PROXIMIDADE
A nossa missão é permanent­emente
orientada para a satisfação das 218 410 858
necessidades dos consumid­ores. 808 200 145
A concretização passa por interagir Serviço de informação
com todos os interlocutores –
consumi­dores, comunicação social, 218 410 801
poderes políticos, etc. – de forma 808 200 146
direta, concreta e adequada. Assinaturas e encomendas

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  3

 GRANDE
PLANO TODA A ATUALIDADE E AS RECOMENDAÇÕES DOS NOSSOS ESPECIALISTAS

PETIÇÃO

Já somos mais de 12 mil

contra as comissões injustas
Continuamos a reunir assinaturas contra a cobrança de comissões bancárias
sem serviços associados. Pode juntar-se a nós até 31 de janeiro

Mais de 12 mil portugueses já se efetivo ao cliente. E não existe qualquer

registaram em www.comissoesfora.pt, a serviço na simples manutenção de contas
página que criámos para reunir à ordem, que são, aliás, a única forma de um
as assinaturas que viabilizam o envio de cliente contratar outros produtos ou serviços
uma petição à Assembleia da República bancários. Da mesma forma, não aceitamos
contra a cobrança de comissões que o consumidor seja obrigado a pagar
bancárias injustificadas. Ultrapassado uma comissão para pagar as prestações
o patamar mínimo das 4 mil assinaturas, mensais do crédito à habitação, já que essa
sem o qual a petição nunca chegaria é a única forma de cumprir o contrato que
a ser apreciada em plenário no celebrou com o próprio banco.
Parlamento, continuamos a recolher, E porque só a Assembleia da República
até 31 de janeiro, o registo do tem poder para pôr fim a esta prática que
descontentamento de cada consumidor. consideramos ilegítima, estamos a exigir
Em causa está a cobrança de comissões isso mesmo na petição que elaborámos.
regulares pela manutenção de contas O assunto deverá ser discutido em plenário
à ordem e pelo processamento de nos próximos meses. Não vamos baixar
prestações do crédito à habitação. os braços enquanto continuarem a ser
A legislação proíbe a cobrança de cobradas comissões bancárias por serviços
comissões bancárias que não estejam inexistentes.
associadas à prestação de um serviço

4  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 € 206
O seguro de vida da April permite economizar
€ 614
Poupança anual no seguro multirriscos-condomínio
este montante todos os anos com a nossa Escolha Acertada
Página 21 Página 40

BUROCRACIA POUPE
€ 302
Importados com matrícula na hora Nuno Rico
Economista
da Dinheiro & Direitos

Redução da burocracia ESPECIALISTA RECOMENDA

e diminuição dos tempos
de espera. É isto que
promete a “Matrícula ESCOLHA
CRÉDITO
na hora”, um serviço que
ACERTADA PESSOAL
possibilita aos proprietários
de veículos obterem, ActivoBank Cetelem Credibom
de imediato, a matrícula
e o certificado de matrícula, 9,0% 10,1% 10,3%
TAEG TAEG TAEG
sem terem de passar
por diferentes repartições Para um crédito pessoal no valor
públicas. Na fase de de 2018, a regra aplica- depois aos adquiridos em de 5 mil euros, a melhor opção é o
implementação, que terá -se apenas aos carros Portugal. Esta medida insere- ActivoBank, o único com uma TAEG
início no terceiro trimestre importados, estendendo-se -se no Simplex 2017. inferior a 10 por cento. Desta forma,
pode poupar 302 euros ao fim
de 24 meses.
SIMULE OUTROS PRAZOS
Aceda em www.deco.proteste.pt/
CONDOMÍNIO
credito-pessoal

Não invente assoalhadas no sótão!

Está a ver aquele quarto na eventualidade de
António Ribeiro
extra que o vizinho do a casa ser vendida, o Economista
último andar construiu novo proprietário pode da Proteste Investe
no sótão? Ou o duplex enfrentar algumas
improvisado que visitou dificuldades, em particular ESPECIALISTA RECOMENDA
quando procurava casa? se a assembleia de
Não são raros os casos condóminos não tiver ESCOLHA
DEPÓSITOS
de proprietários que autorizado a intervenção. ACERTADA A PRAZO
decidem acrescentar Na pior das hipóteses,
uma assoalhada ao pode mesmo ser forçado
apartamento, através da a demolir a obra. Por Deutsche Banco Banco
Bank Invest BiG
construção de um acesso este motivo, se está a
ao sótão. Mas é preciso pensar comprar uma casa 1,44% 1,26% 0,9%
alguns cuidados com as com tais características, TANL TANL TANL
remodelações. Quando evite futuros problemas, € 36 € 31,50 € 22,50
a seis meses a seis meses a seis meses
o título constitutivo e consulte o título
do imóvel não refere constitutivo do imóvel Se tem 5 mil euros para aplicar, opte
expressamente que o ou peça uma cópia da pelo Depósito Twin do Deutsche
sótão pertence à fração, deliberação da assembleia Bank. Com uma taxa líquida de 1,44%,
este pode ser considerado de condóminos. rende 36 euros ao fim de seis meses.
um espaço comum do É necessária a aprovação
SIMULE OUTROS PRAZOS
edifício. Se for o caso, por unanimidade. Aceda em www.deco.proteste.pt/investe/
depositos-a-prazo

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  5

 GRANDE
PLANO
PRODUTOS DO ESTADO

Muitas novidades, poucas oportunidades

●●De “Poupança Mais” para “Poupança Crescimento”.
Os Certificados do Tesouro mudaram, mas não para melhor.
Os novos Certificados do Tesouro Poupança Crescimento (CTPC)
são emitidos por prazos de sete anos (em vez de cinco), com uma
taxa crescente que vai dos 0,75% aos 2,25% brutos. Esta traduz-
se num rendimento médio líquido de apenas 1% ao ano, bem
abaixo dos 1,6% garantidos pela antiga versão destes produtos,
que não terá mais emissões. Ainda assim, a partir do segundo
ano, à taxa de juro junta-se um prémio correspondente a 40% do
crescimento médio real do PIB, até um máximo de 1,2% por ano.
Para subscrever estes certificados, é necessário um mínimo
de 1000 euros, valor que só pode ser resgatado ao fim de um ano.
dos 0,5% líquidos. É caso para dizer que há depósitos a prazo
mais amigos... Nos Certificados de Aforro, pode aplicar quantias
a partir dos 100 euros, até aos 250 mil euros, pelo prazo máximo
de 10 anos. Os juros são pagos trimestralmente e somados
ao saldo. Variam em função da Euribor, havendo um prémio
de permanência: 0,5% do segundo ao quinto ano, e 1% do sexto
ao décimo ano.
●●Tanto os Certificados de Aforro como os Certificados
do Tesouro podem agora ser subscritos em algumas lojas
do cidadão, o que marca o fim da exclusividade dos CTT
na sua rede física.

●●No campo dos Certificados de Aforro, foi criada uma nova série
− a E − que é em quase tudo semelhante à anterior − a D − com
a diferença de ser exclusivamente digital. Ou seja, não há emissão
de títulos físicos, apesar de se poder continuar a subscrever
presencialmente. O rendimento, esse, também não vai além
●●No final do ano, foram emitidas Obrigações do
Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), para um prazo de
cinco anos. As taxas de juro dependem da Euribor a seis meses,
garantindo um rendimento líquido de 0,8%, o mais baixo no
conjunto das seis emissões de OTRV feitas até aqui pelo Tesouro.

1%
Rendimento médio
anual dos novos
Certificados
do Tesouro

FINANÇAS: 5 DIAS PARA LER
NOTIFICAÇÕES...
Se subscreveu as notificações das
Finanças pela ViaCTT, tenha atenção,
porque se considera que foi notificado
cinco dias depois da receção da
mensagem, mesmo que não a tenha
aberto. Anteriormente, este prazo
era de 25 dias.
... E ATÉ AO FIM DE 2017
PARA ATUALIZAR O IMI
Os proprietários de imóveis, como
os destruídos pelos incêndios de verão,
têm até ao final de 2017 para pedirem
a revisão do valor patrimonial tributário
no serviço de Finanças. Só assim
podem ver atualizado o imposto
a pagar em 2018.
TRANSFERÊNCIAS “EXPRESSO”
NA EUROPA
Transferir dinheiro em apenas 10 segundos
entre países europeus já é uma realidade
em nove deles (Portugal não incluído).
As operações estão limitadas a um máximo
de 15 mil euros e têm um custo residual
para os bancos. Até ao final de 2018,
a plataforma estará disponível nos

6  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


Até ao final do ano, adira à campanha “Lixo não é Água”,
que reivindica a separação das tarifas dos resíduos e da água
€ €
EMPRÉSTIMO DA CASA
Mudou o crédito?
Diga adeus ao
benefício fiscal
Se pediu um empréstimo para comprar casa,
até ao final de 2011, tem direito a deduzir
parte dos juros no IRS. Mas, se decidir
transferir o crédito para outro banco,
perderá de imediato este benefício fiscal.
Isto acontece porque o Fisco considera
que a transferência de um crédito entre
instituições consiste na celebração
de um novo contrato. Uma interpretação
lesiva dos interesses dos contribuintes,
que se veem, assim, condicionados na
escolha de um produto bancário que lhes
ofereça condições mais vantajosas, sob pena
de verem reduzidos os benefícios fiscais.
Por essa razão, vamwwos enviar uma carta
ao Ministério das Finanças e aos grupos
parlamentares, dando conta da nossa posição
e exigindo uma alteração da lei.
31 países da Área Única de Pagamentos
em euros (SEPA).
APOIO À INCLUSÃO
DESDE OUTUBRO
Mais de 13 mil cidadãos beneficiaram
da prestação social de inclusão, atribuída
a pessoas com deficiência ou incapacidade
a partir de 80%, no primeiro mês.
www.deco.proteste.pt
31 de dezembro
TRABALHADORES INDEPENDENTES
Regime (pouco) simplificado
A partir de 1 de janeiro, os
trabalhadores independentes
no regime simplificado, com
rendimentos brutos acima dos
2500 euros mensais, terão de
associar despesas à sua atividade
para beneficiarem da dedução
máxima de 25% aos seus
rendimentos. Esta alteração,
introduzida no Orçamento do Estado
para 2018, veio limitar as deduções
automáticas, até aqui aplicáveis
a todos os trabalhadores a recibos
verdes com rendimentos anuais
até 200 mil euros. E em que moldes
funciona este regime? Através
da aplicação de um coeficiente,
apenas 75% do rendimento
dos independentes estão sujeitos
a imposto, assumindo-se que a outra
fatia (25%) corresponde a encargos.
Com as novas regras, quem ganhe
mais de 16 416 euros anuais pode
ficar prejudicado. A partir desse valor,
para ter direito à dedução máxima
de 25%, o contribuinte deve
apresentar faturas relacionadas
com a atividade. A Autoridade
Tributária justifica a medida
como sendo um reforço ao combate
à evasão fiscal, porque permite
aumentar o número de faturas
registadas no sistema. Quem não
o fizer vai pagar mais IRS. Por isso,
sempre que validar despesas
no portal e-fatura, não se esqueça
de confirmar a relação entre esse
gasto e a sua atividade.
janeiro/fevereiro 2018//D&D  7
 GRANDE
PLANO
AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS

À primeira vai ser de vez!

Dentro em breve, poderemos
celebrar anos de luta pela chamada
portabilidade das avaliações
aos imóveis que os bancos exigem
no processo dos pedidos de crédito
à habitação. Um projeto de lei
do Partido Socialista que, à data da
publicação desta edição, aguardava
a aprovação do Parlamento, prevê
que uma única avaliação possa ser
utilizada em mais de um pedido de
crédito, por um prazo de seis meses.
O consumidor passa, assim, a ser
o titular de um relatório certificado,
deixando de ser obrigado a custear
nova avaliação, caso recorra
a outra instituição financeira.
As nossas reivindicações surgiram
na sequência de dois estudos que
realizámos, em 2011 e 2017, que
demonstraram que o valor que
o cliente paga ao banco por uma
avaliação é o dobro daquele que
as empresas avaliadoras faturam a
estas entidades. Esta discrepância
vale às instituições bancárias,
anualmente, mais de um milhão
de euros. Demos conhecimento
da situação, altamente penalizadora
para os contribuintes, à CMVM,
ao Banco de Portugal, ao Ministério
das Finanças e aos grupos
parlamentares. No processo,
alcançámos uma primeira vitória,
com a criação de uma base
de dados de peritos certificados,
que pode ser consultada na página
da CMVM. Com este projeto de lei,
avizinha-se, agora, um novo capítulo
desta batalha.

FINTECH

A nova era dos pagamentos online

A PSD2 (sigla em inglês), diretiva
comunitária que regulará os chamados
“serviços de pagamentos”, vai
revolucionar a forma como fazemos
pagamentos eletrónicos, já a partir
de 13 de janeiro. A medida foi pensada
para facilitar as transações financeiras
na internet entre diferentes operadores
e os consumidores da União Europeia.
Pretende promover a concorrência
e, ao mesmo tempo, reduzir os custos
associados. Isto significa que os bancos
terão de permitir a empresas como
o Facebook, por exemplo, acederem
a contas ou depósitos à ordem dos
clientes, desde que com autorização
destes. Os novos sistemas vão possibilitar
aos cibernautas pagarem diretamente
da sua conta bancária, sem recorrerem
a um cartão de crédito. Tudo com
a segurança devidamente reforçada,
através de um sistema de múltiplas
autorizações. Em caso de utilização
fraudulenta de um meio de pagamento,
a medida reduz para 50 euros (em vez
dos atuais 150 euros) o valor a pagar pelo
utilizador. Além disso, a norma obrigará
os prestadores de serviços de pagamento
a disponibilizarem um sistema extrajudicial
de resolução de litígios. O impacto desta
diretiva deverá sentir-se à medida que
os operadores adotarem o sistema.

8  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 AQUA
-25% ROL
CONT
EM

Negociámos uma parceria com a Glassdrive que dá acesso a descontos

e vantagens em Portugal e nos países europeus onde a empresa está
representada. Por cada serviço utilizado por um associado, a Glassdrive
irá doar € 1 a uma associação de cariz social a designar por nós.

VIDRO PARTIDO?
DESCONTO GARANTIDO!
COM A NOSSA PARCERIA, ACEDA A DIVERSOS
DESCONTOS E VANTAGENS NA GLASSDRIVE
OBTENHA O VOUCHER EM WWW.DECOMAIS.PT
Na minha casa
ou na do senhor
Preços da habitação a subir, juros do crédito historicamente
baixos, rendas elevadas em muitas cidades do País. Ser dono
ou inquilino de uma casa: eis (ainda e sempre) a louca questão
Texto Maria João Amorim
Ilustração Paulo Buchinho

10  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


rio?
N 8%
ão é decisão que se reduza
a números, mas os números
pesam muito na decisão.
Optar por comprar ou arrendar
casa obriga a fazer contas – muitas
–, pensando não só no presente, mas
também no futuro. Contas essas que
andam, qual montanha-russa, a reboque
do clima económico, dos custos da
habitação, da facilidade em conseguir
crédito e do salário que cai na carteira
de cada um todos os meses.
Na penúltima análise que fizemos aos
custos da compra e do arrendamento,
em 2007, concluímos que, para o cenário
então definido, arrendar casa saía mais
barato aos portugueses. Três anos
depois, o veredicto era outro. O mercado
imobiliário mudara, o acesso ao crédito
tornou-se mais restrito e, para quem
tinha algumas poupanças, compensava
comprar. Eram os anos da “crise”, essa
entidade de duas caras: dificultou a vida
a quem queria vender, obrigando a baixar
preços, mas proporcionou bons negócios
a quem podia comprar.
Sobe, sobe, preço sobe
E hoje, em que ponto da montanha- russa
estamos? Claramente numa subida.
Em vários carris: preços das casas,
vendas, montante de crédito à habitação
concedido e valor das rendas mensais.
O Instituto Nacional de Estatística (INE)
ajuda a fazer a fotografia do momento.
No segundo trimestre de 2017, os preços
dos imóveis aumentaram 8% face
ao mesmo período do ano anterior.
Numa outra análise, centrada no custo
do metro quadrado, o INE diz que as casas
vendidas no País entre julho de 2016
e junho de 2017 foram comercializadas
a um preço mediano (o mais
www.deco.proteste.pt
CAPA//COMPRAR OU ARRENDAR?
frequente) de 896 euros por metro
quadrado, valor 6,4% superior ao
do período homólogo. Nova volta na Subida do preço das
montanha-russa. Entre as várias regiões
do País, as discrepâncias saltam ao olho: casas entre abril e junho
no município mais caro, Lisboa, paga-se de 2017, face ao mesmo
2231 euros por metro quadrado; no mais período do ano anterior
barato, Figueira de Castelo Rodrigo,
o metro quadrado custa 106 euros.
Há 41 municípios onde os preços de
venda são superiores ao valor nacional.
A maioria localiza-se no Algarve e na área
metropolitana de Lisboa. Mas é na região
alargada da capital que se regista a maior
16,1%
Aumento das vendas
diferença entre municípios. Na Moita,
o preço mediano do metro quadrado é de imóveis entre
de 588 euros, quase quatro vezes mais os segundos trimestres
baixo do que em Lisboa.
de 2016 e 2017
Banca mais generosa
Entre abril e junho de 2017, as vendas
de casas cresceram 16,1% face a igual
€ 2231
período do ano anterior, assinala o INE.
Não espanta, portanto, que a concessão
de crédito também tenha aumentado.
Nos primeiros nove meses do ano passado, Preço mediano do metro
os empréstimos para compra de habitação quadrado em Lisboa,
– no valor de 5,95 mil milhões de euros;
21,8 milhões por dia – superaram o total município mais caro
de 2016. Ainda assim, o crédito atribuído do País
em 2017 está a alguns milhões de euros de
distância dos anos pré-resgate financeiro.
Arrenda-se T2 a... depende
No arrendamento, a tendência dos preços
é, igualmente, de subida. Ainda segundo 5,95 mil
o INE, o crescimento médio das rendas
a nível nacional entre setembro de 2016 milhões de euros
e setembro de 2017 foi de um por cento. Total de novos créditos
Mas, apertando o zoom à realidade, há
à habitação concedidos
disparos nos valores das rendas bem mais
expressivos. Por exemplo, um estudante entre janeiro e setembro
que tenha arrendado um quarto em de 2017
janeiro/fevereiro 2018//D&D  11
 QUANTO CUSTA COMPRAR E ARRENDAR? O QUE COMPENSA MAIS?
Os cálculos que apresentamos LISBOA
baseiam-se numa pesquisa de
Para exemplificarmos todas as contas que têm de ser feitas, escolhemos o cenário definido em
imóveis T2, com 100 metros
Lisboa: dois T2 em Alvalade, de características idênticas e localizados a duas ruas de distância.
quadrados, que fizemos num portal
Um para comprar e outro para arrendar.
imobiliário em cinco concelhos:
Braga, Porto, Castelo Branco,
Lisboa e Faro. Em cada um deles,
considerámos duas casas, uma Aquisição € 280 000 custos iniciais Arrendamento € 1200/mês custos iniciais
para comprar e outra para arrendar, Entrada de 20% € 56 000 Renda + caução no mesmo valor € 2400
com características semelhantes Custos notariais e de registo € 700
e localizadas perto uma da outra.
IMT € 10 513
● Para chegarmos aos custos Imposto do selo sem compra € 2240
envolvidos na compra, socorremo- Comissões iniciais do crédito € 750
-nos de vários instrumentos.
Recorremos ao Casa Pronta, a fim
Imposto do selo sem crédito € 1344
de determinarmos os diferentes TOTAL € 71 547 TOTAL € 2400
encargos notariais e de registo,
usámos a média das comissões
bancárias iniciais e aplicámos as Aquisição custos mensais Arrendamento custos mensais
taxas do IMT, imposto do selo sobre Prestação do crédito € 993 Renda € 1200
a aquisição (0,8%) e sobre o crédito
(0,6%) e no IMI referente a cada
Seguro de vida € 78
município em análise. O cálculo da Seguro multirriscos € 31
prestação, para um financiamento Condomínio € 93
com taxa variável a 30 anos,
TOTAL € 1195 TOTAL € 1200
pressupôs uma entrada de 20%
e um spread de 1,4%, para créditos até
150 mil euros, e de 1,25%, para valores
superiores. Estimámos a taxa variável
Aquisição custos anuais Arrendamento custos anuais
com base na média da Euribor Prestação do crédito € 11 916 Renda € 14 400
a 12 meses desde 2000, e obtivemos Seguro de vida € 936 Benefício fiscal - € 502
um valor médio de 2,15%, a que
Seguro multirriscos € 372
somámos o spread correspondente
ao capital financiado. O prémio do Condomínio € 1116
seguro de vida foi calculado para IMI € 672
um casal (2 titulares) com 30 anos, TOTAL € 15 012 TOTAL € 13 898
e o do seguro multirriscos
representou 4% do valor do imóvel.
Para despesas de condomínio,
Aquisição custos a 30 anos Arrendamento custos a 30 anos
considerámos 12% do preço da casa,
distribuídos ao longo dos 30 anos. Custo do imóvel € 280 000 Renda (inflação anual: 2,04%) € 587 854
Não contabilizámos despesas Custos notariais e de registo € 700
com obras de conservação.
IMT € 10 513 Benefício fiscal - € 15 060
● Os custos com o arrendamento Imposto do selo sem compra € 2240
foram determinados com base na Comissões iniciais do crédito € 750
despesa inicial (um mês de renda
Juros suportados € 133 624
e uma caução), na renda mensal e
respetiva previsão de atualização para Imposto do selo sem crédito € 1344
os próximos 30 anos. Para tal, usámos Seguro de vida € 28 080
o valor médio da inflação anual desde Seguro multirriscos € 11 160
2000: 2,04 por cento. Considerámos
ainda o benefício fiscal que é possível IMI € 20 160
obter hoje (dedução no IRS de 15% Condomínio € 33 480
das rendas suportadas, com o limite TOTAL € 522 051 TOTAL € 572 794
anual de 502 euros).

12  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


Lisboa no primeiro trimestre de 2017
pagou, em média, uma renda 10% mais alta
do que em igual período do ano anterior.
BRAGA A conclusão consta do Relatório do Mercado
Compra € 88 000 de Arrendamento a Estudantes, divulgado
Renda € 400/mês pelo portal Uniplaces, dedicado em
exclusivo a este setor do imobiliário.
Comprar Arrendar Sobre os preços que se praticam
custos iniciais € 20 176 € 800 atualmente para imóveis da mesma
tipologia, (praticamente) tudo é possível: um
custos mensais € 382 € 400
custos anuais € 4826 4298
T2 por cinco mil euros de renda mensal, em
Lisboa, e a 400 euros por mês, em Castelo
custos a 30 anos € 164 956 € 180 891 Branco. Estes foram os valores mais elevados
que encontrámos nos dois concelhos,
numa pesquisa por apartamentos com
três assoalhadas que conduzimos no final
PORTO de outubro. Optámos por um dos mais
abrangentes portais de imobiliário – o
Compra € 145 000
Renda € 1000/mês Imovirtual – e elegemos cinco concelhos
e distritos: Braga, Porto, Castelo Branco,
Comprar Arrendar Lisboa e Faro. Considerando todos os
anúncios encontrados, arrendar um T2
custos iniciais € 33 916 € 2000
em Lisboa custa, em média, 1390 euros
custos mensais € 629 € 1000 por mês, 940 euros no Porto e 936 euros em
custos anuais € 7922 € 11 498 Faro (distrito). Numa geografia mais interior,
custos a 30 anos € 271 576 € 474 818 Castelo Branco, é possível ser inquilino
de uma casa com a mesma tipologia por
uma média de 322 euros. Apenas neste
distrito e no de Braga encontrámos casas
para arrendar a um preço médio inferior
CASTELO BRANCO ao salário mínimo nacional (577 euros).
Compra € 65 000 A tomar nota: este ano, os senhorios vão
Renda € 275/mês poder subir as rendas em 1,12% (atualização
Comprar Arrendar fixada por lei). Trata-se do maior aumento
desde 2013.
custos iniciais € 15 282 € 550
custos mensais € 282 € 275 Batalha de contas
custos anuais € 3539 € 2798 Os preços altos para comprar casa estão
a ser aliviados pelas taxas de juro dos
custos a 30 anos € 121 452 € 119 657 créditos à habitação, que, mercê de uma
Euribor historicamente baixa (já em valores
negativos mesmo), transformam números
absolutos com muitos zeros em prestações
FARO de três dígitos. Mas a estes valores há que
Compra € 115 000 somar um rio de custos: despesas com o
Renda € 850/mês processo de crédito, impostos, escritura,
seguros, comissões bancárias… E, numa
Comprar Arrendar
fase posterior, condomínio, obras, mais
custos iniciais € 26 374 € 1700 impostos… Custa muito, literalmente,
custos mensais € 499 € 850 ser proprietário. Bem mais do que
ser arrendatário, a quem cabe pagar,
custos anuais € 6399 € 9698
basicamente, uma caução inicial e uma
custos a 30 anos € 218 344 € 401 337 renda mensal, por norma atualizada todos
os anos ao ritmo da inflação. Mas – sempre a
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CAPA//Comprar ou arrendar?
“Comprar ou arrendar
depende, e muito, da oferta
de imóveis existente”
Nuno Rico
Economista da DINHEIRO & DIREITOS
velha questão – qual a opção mais acertada,
a que compensa mais? No curto, médio e
longo prazo? E no País, que está a viver um
momento de subida do custo da habitação,
mas cuja geografia de preços é muito
diversa?
Muitos euros de avanço
As contas detalhadas ao cenário que
apresentamos ao lado – comprar ou
arrendar um T2 de 100 metros quadrados
e com características semelhantes em
Lisboa – devolvem a resposta possível.
Os custos iniciais separam, de forma muito
evidente, as águas entre uma opção e outra.
Para arrendar é necessário uma caução e
entre uma e três rendas adiantadas, e está
feita a folha de despesas. Para comprar, é
preciso muito mais. Desde logo uma entrada
generosa, já que a maior parte dos bancos
não concede empréstimos pelo valor total
de compra ou da avaliação. Para adquirir
o imóvel do nosso cenário vai precisar,
à cabeça, de 56 mil euros, 20% do preço
de aquisição. A este custo some (e respire
fundo): gastos notariais e de registo, o
imposto municipal sobre as transmissões
onerosas de imóveis (IMT) – que varia
em função do valor da casa –, imposto
de selo sobre o valor da aquisição (0,8%)
e do crédito (0,6%), e ainda as despesas
por conta das comissões iniciais referentes
ao empréstimo. A máquina de calcular
não engana: o esforço inicial para comprar
o “nosso” T2 é trinta vezes superior ao
de arrendar a casa concorrente. Mas este
é apenas o princípio de uma amizade
oscilante com a sua calculadora.
janeiro/fevereiro 2018//D&D  13
 Fatura ao mês, ao ano, a 30 anos
Passado o confronto com a discrepância
nos custos iniciais da compra e do
arrendamento, os cálculos seguintes – que
desdobrámos numa espécie de escada
temporal – permitem diminuir a distância
entre as duas opções.
Considerando o nosso cenário em
Lisboa, e feitas as contas ao mês, a
fatura da compra é ligeiramente mais
leve. E isto somando a prestação aos
prémios anuais dos seguros de vida e
multirriscos exigidos pelo banco, e ainda
às despesas com o condomínio. No caso
das contas anuais, por causa do imposto
municipal de imóveis (IMI), obrigatório
para quem compra casa, o arrendamento
revelou-se menos oneroso. Além de que
é possível deduzir no IRS 15% das rendas
suportadas, com o limite anual de 502
euros. Veja as variáveis em que baseámos
os nossos cálculos na página 12.
NO PORTO ENCONTRÁMOS
46 IMÓVEIS T2, COM 100 M2,
PARA COMPRAR E APENAS
SETE PARA ARRENDAR,
E NENHUM ABAIXO
DE 800 EUROS POR MÊS
As contas a 30 anos voltam a exigir
somas com muitas parcelas e uma boa
dose de suposições. Para chegar ao
número impressivo que reflete todos
os gastos com a aquisição ou com o
arrendamento ao fim de três décadas,
vai ter de adicionar todas as despesas
envolvidas, quer numa opção, quer na
outra. Nesses cálculos terá de ter em
conta a possível dança das taxas de juro
nos próximos anos, no caso da compra,
e a hipotética curva da inflação, para o
arrendamento. Exercícios de futurologia
questionáveis, dirão uns, tendo em conta
o comportamento da economia desde
o abalo financeiro de 2008; projeções
técnicas baseadas nos dados que melhor
esboçam tendências, dirão outros.
14  D&D//janeiro/fevereiro 2018
Para o nosso cenário, somados todos os
custos, e considerando as nossas projeções
de evolução das taxas de juro e da inflação
(confirme-as na página 12), comprar é
mais vantajoso, ainda que a poupança não
entusiasme: gastam-se menos 50 mil euros
ao fim de 30 anos. Mesmo tendo em conta
os elevados encargos iniciais associados ao
crédito e a impressionante fatura dos juros.
Mas a renda em questão também é elevada
(1200 euros). A inevitável atualização
anual atira o seu custo futuro para valores
ainda mais exuberantes.
Cada região, sua sentença
Conclusão semelhante se retira dos
cálculos que fizemos aos cenários para
Braga, Porto e Faro, embora os números
nos tracem retratos muito diferentes.
Em Braga, vale a pena comprar, mas por
pouco. No nosso caso, estamos a falar
de 20 euros de diferença entre a prestação
e a renda, e de parcos 16 mil euros
de poupança ao fim de 30 anos.
No Porto e em Faro, o duelo de contas
não oferece qualquer dúvida: compensa
comprar, pensando nos custos de curto,
médio e longo prazo. Cálculos feitos a
30 anos, nem as despesas iniciais com
o empréstimo, nem os juros anulam
os quase 200 mil euros de diferença
entre comprar e arrendar casa nestas
duas cidades. Tomando como exemplo
o nosso estudo, a explicação pode
estar na pouca oferta de imóveis para
arrendar nestas cidades, condição
lógica para que os valores cobrados
sejam elevados. O que vimos do
mercado no Porto é, particularmente,
elucidativo. Encontrámos 46 casas com
as características definidas para comprar
e apenas sete para arrendar, nenhuma
abaixo de 800 euros por mês. Por outro
lado, o preço para comprar está uns bons
milhares de euros abaixo dos valores
praticados em Lisboa.
Só em Castelo Branco conseguimos
um veredicto de “arrende-se”, mas por
uma diferença de custos tão residual
que não merecerá grandes conjeturas.
Mas deixamos a interrogação. Fosse a
renda da casa do nosso cenário uns euros
mais alta e talvez também em Castelo
Branco a conclusão fosse “compre-se”.
Dúvidas fr
COMPRAR CASA
É OBRIGATÓRIO FAZER
UM CONTRATO-PROMESSA
DE COMPRA E VENDA?
Não, mas é aconselhável, sobretudo
quando há recurso a um crédito bancário
que pode levar a que a formalização
do negócio seja mais demorada.
E SE O CRÉDITO ME FOR RECUSADO?
PERCO O SINAL?
Sim. A não ser que inclua no contrato-
-promessa de compra e venda uma
cláusula de salvaguarda, que garanta
a devolução do sinal, se lhe for negado
o crédito, razão pela qual não pode
prosseguir com o negócio.
O BANCO FINANCIA A TOTALIDADE
DO VALOR DA CASA?
Geralmente, não. A maior parte dos
bancos empresta até 80% do valor
da avaliação do imóvel. Mas existem
instituições que também consideram
o preço de compra, utilizando o menor
dos dois valores para efeitos de cálculo
do montante máximo a financiar.
O MEU BANCO PROPÔS-ME
UM CRÉDITO COM TAXA FIXA,
DIZENDO QUE OS JUROS VÃO SUBIR.
VALE A PENA?
Depois de um período em que as taxas
de juro chegaram a valores negativos,
é expectável que venha a ocorrer uma
subida. Mas não é possível prever nem
quando, nem em que dimensão é que
tal ocorrerá. Atualmente, as taxas fixas
propostas são bastante mais elevadas
do que as variáveis, o que as torna pouco
atrativas.
QUERO ARRENDAR A CASA
QUE ESTOU A PAGAR AO BANCO.
POSSO?
Legalmente pode, mas, se contraiu um
empréstimo para aquisição de habitação
própria permanente, beneficia de um
regime específico ao nível da taxa de juro
aplicada. Se decidir arrendar a casa, terá
de informar o banco, e corre o risco de
ver as condições do crédito alteradas,
nomeadamente a taxa de juro.
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equentes
ARRENDAR CASA
O CONTRATO DE ARRENDAMENTO
PARA HABITAÇÃO TEM DURAÇÃO
OBRIGATÓRIA?
Não. O prazo é livremente acordado entre
senhorio e arrendatário. Se ninguém
se pronunciar, considera-se celebrado
com prazo certo de dois anos.
ENTREGUEI DOIS MESES DE RENDA
AO SENHORIO. UM É A CAUÇÃO.
QUANDO TERMINAR O CONTRATO,
TENHO DE PAGAR O ÚLTIMO MÊS?
Sim, a menos que o senhorio aceite
fazer de outra forma. A caução serve
para assegurar a reparação de eventuais
danos no imóvel. Se não houver estragos,
será devolvida no final. Mas, para ser
usada como pagamento do último mês,
o senhorio tem de dar o seu aval.
QUANTAS RENDAS É QUE O
SENHORIO PODE EXIGIR DE AVANÇO?
Três, no máximo, além da caução.
NÃO PODENDO AINDA TERMINAR
O CONTRATO, É POSSÍVEL
SUBARRENDAR A CASA?
Munido de uma autorização, por escrito,
do senhorio, sim, pode. Mas, se este não
o puser no papel, a situação é aceite na
mesma, desde que o senhorio reconheça
o subarrendatário como tal.
FIQUEI DESEMPREGADO.
POSSO DEIXAR JÁ A CASA?
À partida, não. Se não chegar a acordo
com o senhorio, terá de respeitar os
prazos para denunciar o contrato (ou
opor-se à sua renovação), sob pena de ter
de pagar as rendas relativas ao período
de aviso prévio em falta.
A CASA QUE ARRENDEI TEM
ELETRODOMÉSTICOS. A QUEM CABE
PAGAR AS REPARAÇÕES?
Arrendatário e senhorio devem estipular,
por escrito, o regime de encargos e
despesas. Se nada ficar acordado, cabe
ao senhorio pagar os arranjos, exceto
se os danos forem da responsabilidade
do arrendatário.
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E se?
O “compre-se” ganhou ao “arrende-se”
no nosso estudo. Mas há uma pergunta
(e mais umas contas) que tem de ser
feita: e se quem arrenda investisse os
elevados custos iniciais da compra?
Qual seria o retorno? Pegando no valor
do nosso cenário em Lisboa (71 547 euros)
e aplicando-o num depósito a prazo com
a taxa de juro média líquida dos últimos
dez anos – 1,66% –, ao fim de 30 anos
obteríamos 119 044 euros. Teríamos
um ganho líquido de 47 497 euros.
Há vida além das contas
Nem só de contas à prestação, ao IMI,
aos juros e à renda se faz a escolha entre
comprar e arrendar casa. Na batalha
dos argumentos, há razões que vão além
da máquina de calcular. No caso do
arrendamento... a dispensa da própria
calculadora. Um arrendatário está
livre de um mundo de despesas iniciais
(IMT, imposto do selo, escritura, registos),
periódicas (IMI e condomínio), e outras
ocasionais, como obras de conservação
do imóvel. É um alívio não viver com estes
encargos às costas e não estar obrigado
a dispor de um fundo de maneio inicial
elevado para ter onde morar. Arrendar
vem com menos preocupações atreladas.
No presente.
Mas comprar pode significar menos
preocupações no futuro. De acordo com
o Ageing Report, da Comissão Europeia,
quem se reformar em 2035 irá receber
38,8% do seu último salário. Se nessa
altura já tiver o empréstimo ao banco
saldado, terá uma casa e menos uma
despesa no bolso. É argumento de peso.
Como o é não viver de ouvido atento a
cada anúncio do Banco Central Europeu
sobre a trajetória das taxas de juro, se
arrendar. Quem prefere ter um senhorio
não fica prisioneiro da Euribor durante
décadas, como quem compra. Terá, sim,
de se preocupar com a inflação, indicador
que faz puxar as rendas para cima, mas
que, pelo menos deste lado do Atlântico,
não tem provocado ciclones.
De resto, se arrendar, há maior
mobilidade, pode mudar-se quando
quiser (desde que avise o senhorio no
prazo que ficou definido no contrato).
CAPA//Comprar ou arrendar?
Não há arrendamentos “para a vida”.
O que dá uma sensação de liberdade.
Só que esta é uma via de dois sentidos:
o senhorio também pode querer a casa
de volta. Para tal, basta-lhe opor-se à
renovação do contrato ou denunciá-lo.
Comprando, a menos que deixe de pagar
a prestação ao banco, ninguém o pode
convidar a sair. E terá património para
deixar aos herdeiros.
ARRENDAR VEM COM MENOS
PREOCUPAÇÕES ATRELADAS
NO PRESENTE.
MAS COMPRAR PODE
SIGNIFICAR MENOS
PREOCUPAÇÕES NO FUTURO
Se comprar – sobretudo se comprar
“bem” –, pode revender a casa com
ganhos. Por outro lado, arrendando,
não tem imóveis a pesar-lhe na vida, à
espera do melhor momento para serem
vendidos. Também, por norma, não é
responsabilidade sua reparar o telhado.
Já se a casa for sua, pode fazer as obras
que mais ou menos bem entender (tem
de respeitar as imposições legais).
Por tradição, os portugueses preferem
comprar a arrendar. A proporção de
casas habitadas por proprietários é
de 73%, segundo o último de Censos
(2011). Nuns casos, terá sido boa opção,
noutros nem tanto. Não há uma resposta
universal. Há, sim, pistas e ferramentas
para ajudar a fazer a escolha. Os cálculos
que apresentamos neste artigo fazem
virar a agulha, sobretudo, para a compra.
Contudo, já o dissemos: muito por conta
da descida das taxas de juro do crédito
à habitação, cortesia de uma Euribor
historicamente baixa. Mas tanto depende
de tanto mais. No fim de todas as contas,
de todas as voltas na montanha-russa,
comprar ou arrendar acaba por ser,
sobretudo, uma decisão pessoal.
DOSSIÊ TÉCNICO Ana Carreto, Filipe Campos e Nuno Rico
janeiro/fevereiro 2018/D&D  15
D&D//SAIR À NOITE

Discotecas e bares: o que diz a lei sobre

os limites no acesso
Texto Maria João Amorim

H
á o clássico “não pode entrar porque está de ténis”,
a tática “são 250 euros de consumo mínimo, por
favor”, a lamentação “desculpe, mas o espaço hoje está
reservado para uma festa”... São bem conhecidos os
argumentos usados para barrar clientes à porta de discotecas e
bares. A questão é saber se são legítimos, do ponto de vista legal.
Sim, alguns são. É possível, de facto, impedir alguém que esteja
de ténis de entrar num espaço de diversão noturna. Mas há
regras para impor essa regra.

DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima

“Reservado
o direito de
admissão”: o mito
Era uma placa muito comum durante o
Estado Novo e continuou a ser afixada
em inúmeros espaços de lazer, durante
alguns anos, após o fim da ditadura. Mas,
à luz da legislação atual, já não é permitido
pôr à entrada de discotecas, bares e
restaurantes um aviso tão contrário ao
espírito da Constituição e que, na prática,
permitiria (como em tempos permitiu)
impedir a entrada a qualquer pessoa, sem
qualquer tipo de critério. “Não, não pode entrar”
COMENTÁRIO D&D A lei diz que o acesso às discotecas é livre desde que não se perturbe o seu “normal
Muitos estabelecimentos contornam esta funcionamento”. E nada há de transcendente nisto. Se um cliente estiver embriagado
impossibilidade com métodos legítimos e a provocar desacatos, o segurança-porteiro tem toda a legitimidade de impedir
para condicionarem a entrada de clientes que entre no estabelecimento. Estão em causa os interesses dos restantes clientes.
aos seus olhos menos “desejáveis”. Por
COMENTÁRIO D&D
exemplo, quando alegam que o espaço
A lei vai, no entanto, um pouco mais longe e diz que as normas do espaço também
se destina, exclusivamente, a associados têm de ser respeitadas. Imaginemos que uma pessoa pretende entrar num bar vestido
ou a “membros”. Se tal não corresponder com calções e ténis, mas que tal dress code é vedado pelas regras do estabelecimento.
à verdade, deve fazer queixa à ASAE, Sim, o acesso pode ser-lhe negado. Mas – ponto fundamental – essa informação tem
através do livro de reclamações. de estar afixada, obrigatoriamente, em local destacado, junto à entrada do espaço.

16  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


“Desculpe, mas
estamos lotados”
Quando o espaço de lazer atingiu o limite
e não comporta mais pessoas, a porta
pode, de facto, ficar fechada a outros
clientes que queiram entrar. Mas tal deve
estar devidamente publicitado. O mesmo
é válido para festas privadas e
estabelecimentos total ou parcialmente
reservados a associados, beneficiários
ou clientes das entidades proprietárias
ou exploradoras.
COMENTÁRIO D&D
A margem que a lei dá aos bares e às
discotecas para condicionarem a entrada
nos seus espaços não pode servir
de subterfúgio para estes restringirem
ilegitimamente o livre acesso.
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“Perdão, quanto???”
Sim, é possível impor um determinado consumo ou despesa mínima obrigatória para entrar
num determinado espaço. E, sim, de acordo com a lei, é possível que esse “mínimo” seja,
por exemplo, de 250 euros.
COMENTÁRIO D&D
O consumo mínimo é uma regra privativa do estabelecimento, mas o consumidor tem o
direito a ser informado do preço e, em estabelecimentos onde se vendem bebidas, esta
informação deve ser devidamente disponibilizada, afixada num painel, no exterior.
“Entram todos, menos aquele
senhor mais escuro ali da ponta...”
Princípio da igualdade plasmado na Constituição: ninguém pode ser prejudicado ou
privado de qualquer direito em função da cor da sua pele. Uma forma subtil de condicionar
o acesso das minorias étnicas aos espaços de lazer é, por exemplo, cobrar a elevada
despesa de consumo mínimo obrigatório. Ou alegar que o espaço está cheio, quando,
na verdade, não está.
COMENTÁRIO D&D
O novo regime jurídico da prevenção, proibição e combate à discriminação prevê a
possibilidade de qualquer pessoa que tenha conhecimento de uma prática discriminatória
poder denunciá-la à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que tem
o poder de aplicar coimas e sanções acessórias. Também pode reclamar junto da ASAE
ou chamar a polícia, se a gravidade da situação o justificar.
“É só um segundo, por favor...”
Acontece com frequência à entrada das discotecas. O segurança-porteiro pede um minuto
aos clientes e passa um detetor de metais pelos corpos. Sim, pode fazê-lo.
COMENTÁRIO D&D
É função dos seguranças-porteiros: impedir que os clientes entrem com objetos e
substâncias proibidas ou suscetíveis de desencadearem violência. Por isso, sim, podem
usar detetores de metais. De acordo com o regime jurídico dos sistemas de segurança
privada, os estabelecimentos devem incluir equipamentos técnicos destinados à deteção
de armas e objetos de uso e porte legalmente proibido, ou que ponham em causa a
segurança de pessoas e bens. Mas deve ser afixado o seguinte aviso em local visível na
entrada das instalações: “A entrada neste estabelecimento é vedada às pessoas que se
recusem a passar pelo equipamento de deteção de objetos perigosos ou de uso proibido.”
janeiro/fevereiro 2018//D&D  17
 Hélder Oliveira
Crise de
identidados
O novo regulamento sobre a proteção de dados pessoais é aplicável
a partir de 25 de maio em todos os Estados-membros da União Europeia.
Conheça o que muda e como os consumidores europeus saem reforçados
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo

O
sr. Pereira não sabe, mas
é conhecido em todo o
mundo. Enquanto saboreia
a bica no café do costume,
teimosamente agarrado a um jornal
em papel, salpica a sua atenção em quem
passa. Ninguém nota que ali está. Mas, por
mais confortável que se sinta sozinho,
enquanto percorre as notícias de ontem,
já recebeu sete e-mails promocionais
na sua caixa de correio. Nos cinco
minutos que se seguirão, dez dos seus
amigos no Facebook terão mudado
de “estado” e alterado a foto de perfil;
e cinco convidá-lo-ão para “eventos”,
entre a estreia de um filme e o casamento
de uma prima afastada.
Quando finalmente pegar no seu
smartphone para conhecer as novidades,
irá ler algumas; outras serão perdidas
no vácuo cibernético. São notificações
de notícias, SMS que anunciam as
promoções da semana no supermercado
lá do bairro, aquele desconto especial
na roupa... Quando acerta a conta do
cafezinho e do jornal, o sr. Pereira usa
cartão e, por isso, lá despacha mais uns
dados pelo terminal de pagamento.
Todos os dias, os algoritmos que zelam
pelo funcionamento das suas caixas

18  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


de e-mail e que pululam no Facebook
já guardaram, além dos dados básicos
do sr. Pereira (nome, morada, contactos),
as suas preferências, determinadas pelas
visitas a certos perfis, ou pelas simples
buscas que faz ao “googlar” o mundo.
É por isso que, por mais anónimo que
esteja na esplanada onde sorve um pacato
cafezinho, os seus dados não o são e até
já deram a volta ao mundo. Ou, vá lá, pelo
menos ao Atlântico, entre Lisboa e Silicon
Valley − a célebre sede dos gigantes da
high tech mundial, na Califórnia −, dando
a volta pelas sucursais ibéricas daquelas
multinacionais. Para quê?, poderão
perguntar os incautos. Quem autorizou tal
coisa? Pois, foi ele próprio, pelo mero ato
de se inscrever nas redes sociais ou, ainda
mais simples, por visitar a rede a partir
de um endereço IP (protocolo de internet)
no qual está registado com dados básicos.
Idade do consentimento
Para tentar pôr ordem na casa, após
vários anos de negociações, o Parlamento
Europeu aprovou, a 27 de abril de 2016,
o Regulamento Geral sobre a Proteção
de Dados. A 25 de maio termina o período
de adaptação de dois anos concedido
pela União Europeia para que este
regulamento seja aplicado. A partir dessa
data, todas as empresas, organismos
públicos e afins que recolham dados vão
ter de voltar a bombardear o sr. Pereira.
Mas, desta vez, em sua defesa, ou melhor,
em nome do resguardo do seu direito
à privacidade: terão de perguntar
se consente ceder, para uma determinada
finalidade, os seus dados e que estes sejam
analisados e guardados.
Bem conhecemos aquele rodapé que
nos apregoa, sempre que nos inscrevemos
num site para fazermos uma compra
ou subscrevermos uma newsletter:
“Concordo com os termos e condições...”
ou “li e aceito a política de privacidade...”.
Sem isso, não podemos prosseguir.
Ora, a partir de 25 de maio, para
qualquer campanha, compra ou ato
em que se partilhem dados online, a
legislação europeia obriga a que esse
pedido de consentimento seja feito de
forma expressa e inequívoca para o fim
a que se destina. O que, à partida, parece
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positivo aos olhos do comum dos mortais.
Mas isto significa também que o número
de rodapés com termos e condições vai
aumentar consideravelmente, sempre
que fizer uma compra, aderir a uma
causa, ou qualquer outra atividade,
e para as quais sejam pedidos os seus
dados. E, no caso da internet, quem não
der esse consentimento pode arriscar-se
a não fazer nada online. Podemos ficar
encurralados, obrigados a escolher entre
dar dados e... dar dados.
Ou seja, o sr. Pereira vai continuar a ser
conhecido em todo o mundo – embora,
candidamente, continue a ignorar esse
facto –, mas vai determinar quem o
conhece, quando e com que alcance.
O objetivo é que passe a ser senhor dos
seus dados. Mas sejamos mais precisos.
De acordo com a legislação atual, um dado
pessoal é o que identifica uma pessoa,
direta ou indiretamente, “por referência
a um número de identificação ou a um
ou mais elementos específicos da sua
identidade física, fisiológica, psíquica,
económica, cultural ou social”. Exemplos?
Tudo o que nos designe perante a lei:
nome, morada, número da Segurança
Social, de contribuinte, cartão de cidadão,
passaporte, número de cliente de um
determinado estabelecimento comercial,
telefone, e-mail... E até o som da voz
registada para permitir o acesso a uma
conta bancária, a filiação sindical, a
genética, a saúde, o estado civil, a etnia.
E ainda as imagens recolhidas através
do uso de uma câmara (por exemplo,
videovigilância), fotos divulgadas na net,
entre muitos outros dados.
Pois... Não é uma história de ficção
científica, saída da pena de Philip K. Dick.
A identidade genética ou mental remete
para um dos aspetos mais sensíveis da
partilha de dados no mundo atual, aqueles
que dizem respeito à saúde. Sempre
que faz análises clínicas ou exames,
o laboratório onde vai o sr. Pereira
partilha o resultado com o seu médico, via
e-mail. E se um dia um hacker maldoso
se apoderar desses dados? Ou se alguém
os partilhar fora do âmbito médico?
As seguradoras podem aproveitar-se
desses dados para limitarem ainda mais
as coberturas das apólices. Por exemplo,
D&D//PROTEÇÃO DE DADOS
O que muda?
Aplicação territorial
Aplica-se mesmo a empresas sediadas
fora da UE, quando a sua atividade estiver
direcionada a consumidores residentes
no espaço comum europeu.
Conceito de dados pessoais
Trata-se de qualquer informação,
de qualquer natureza e suporte, incluindo
som e imagem, relativa a uma pessoa
singular identificada ou identificável. Mas
também os novos meios tecnológicos
que permitem a identificação, como
dados de geolocalização, identificadores
de dispositivos móveis, ou elementos
específicos de identidade fisiológica,
genética ou mental, podem estar
incluídos.
Consentimento
O pedido deve ser apresentado de forma
autónoma (para cada atividade) e numa
linguagem clara e detalhada.
Direitos
O regulamento consagra dois novos:
o esquecimento (a eliminação de
dados pessoais quando deixam de
ser necessários para a finalidade que
motivou a sua recolha); e a portabilidade
(a possibilidade de transferir os dados
fornecidos de um responsável pelo seu
tratamento para outro).
Responsabilidade
O subcontratante passa também a ser
responsabilizado por danos, se não
tiver seguido as instruções lícitas do
responsável pelo tratamento de dados.
Notificações
Deixam de ser obrigatórias, mas deve
ser realizada uma avaliação prévia de
impacto das operações de tratamento
sobre a proteção de dados.
Sanções
As coimas a aplicar são iguais em todos
os Estados-membros.
janeiro/fevereiro 2018//D&D  19
D&D//PROTEÇÃO DE DADOS

uma criança com predisposição na mesma, as notícias, ligando o nome Um mundo a velocidades
genética para uma doença crónica pode daquele cidadão “eternamente” ao diferentes
vir a ter o acesso barrado a estes seguros. caso. Sentindo-se lesado, exigiu que se O sr. Pereira ainda é, já perceberam,
removesse a notícia da internet. A agência um incondicional da ida à mercearia.
Direito a ser esquecido espanhola de proteção de dados deu-lhe Mas também já arrisca umas compras
Note-se que, pelo novo quadro legal, razão e exigiu que os responsáveis pelo online. Artigos raros, comprados em
o sr. Pereira tem direito a retirar o motor de busca retirassem a informação plataformas online dos EUA e da China,
consentimento quando quiser. Este ato do seu índice. O caso acabou por ser são as pequenas mordomias a que se
tem de ser tão fácil quanto o de dar. julgado pelo Tribunal de Justiça da União permite de vez em quando. O que nunca se
E mais: pode dispor livremente dos seus Europeia, que deu razão ao cidadão perguntou, como, aliás, a maior parte dos
dados. Se, em vez de ser “apagado” de espanhol e que inspirou o mencionado consumidores, é, se houver um problema
uma base de dados de uma empresa, direito ao esquecimento. com um artigo que tenha comprado,
decidir transferir a informação para outra, Tudo isto implica uma pequena a quem se deve dirigir para reclamar.
o sr. Pereira também é livre de o fazer. revolução nas empresas. Desde logo, A salvaguarda dos dados – e, por arrasto,
Tem ainda o direito de “desaparecer” ao nível dos mecanismos de segurança, dos direitos – dos consumidores não é
do mundo virtual. que terão de apertar ao máximo para igual em todo o mundo.
Recorde-se o caso de um cidadão protegerem os dados. Têm ainda de Ainda que a Europa seja, ou queira
espanhol contra a Google, em 2010. designar um encarregado de proteção dos ser, uma fortaleza que alberga e defende
Alegava que, sempre que um internauta dados, quando o tratamento for feito por milhões de consumidores, não é
inseria o seu nome no motor de busca uma autoridade ou um organismo público, acompanhada pelos EUA nem pela China.
da Google, a lista de resultados exibia ou quando ocorrer em grande escala. A corrida faz-se a velocidades diferentes.
ligações para duas páginas de um jornal Neste último ponto cabem os dados Tentemos ser claros: imaginemos que
que, em 1998, noticiava a venda de um utilizados na prestação de serviços o herói da nossa história comprou uma
imóvel dele em hasta pública para que nas seguradoras ou nas operadoras câmara de vídeo por uma pechincha
pagasse dívidas à Segurança Social. de telecomunicações ou, ainda, dos dados numa loja online chinesa. Se de repente
Com a dívida paga e a situação de saúde, processados em hospitais, for bombardeado por anúncios em chinês
resolvida, é evidente que a Google exibia, por exemplo. no seu e-mail, não poderá queixar-se.
A política na China é bastante diferente.
O anonimato na net é proibido, e não
é absolutamente claro o espaço para
o consentimento em torno dos dados.
DIZEMOS-LHE COMO Se a compra do sr. Pereira tivesse sido
feita nos EUA, o problema seria outro.
Já não quer partilhar dados? O consentimento é relativo apenas
a dados sensíveis, mas a lei não é igual
Como associado, já promocional – que não lhe página, onde poderá ler em todos os estados.
recebeu, com certeza, interesse no momento ou “Cancelar subscrição da As penalizações por irregularidades
mensagens promocionais que não corresponda de campanha”. É-lhe então também variam. Na Europa, as coimas
das diversas atividades todo aos seus interesses pedido, regra geral, que podem chegar aos 20 milhões de euros
e campanhas da DECO – ou para apoiar uma das confirme o seu endereço
ou, no caso de uma empresa, até 4%
PROTESTE. A cada uma, nossas causas, também é de e-mail, escolhendo um
do respetivo volume de negócios anual
de acordo com o espírito fácil dizê-lo. “botão” apropriado no fim
da nova legislação de O pedido de dados, da página (“Sim, este é o a nível mundial. Nos EUA, os valores
proteção dos dados, segundo o novo meu endereço de e-mail”). dependem dos estados, que legislam
corresponde um termo regulamento, deve ser Escolhendo esta opção, de maneira autónoma. Na China, a
de condições e um tão fácil quanto aguarde que o site penalização pode chegar aos 131 mil
pedido de consentimento a possibilidade de os confirme o veredicto: euros e a empresa pode ficar proibida
ao subscritor daquela remover. No fim de cada “A sua subscrição foi de desenvolver atividade.
atividade ou campanha, página correspondente removida com sucesso”. Muitos rios de tinta ainda correrão
que deve indicar que a determinada campanha, Em nome das boas práticas
sobre esta matéria. Até porque há quem já
aceita esses termos encontra sempre um com a partilha de dados
e condições, e a política aviso: “Se não quer voltar pessoais, e em defesa dos
diga que o recurso mais valioso do mundo
de privacidade. a receber estes e-mails, consumidores – que nos não é o petróleo, mas os dados. Por isso,
Mas, também no espírito clique aqui”. está no ADN –, estaremos voltaremos a este tema brevemente.
da lei, se quiser deixar Siga o link indicado e será atentos a abusos nesta
de receber algum material reencaminhado para outra matéria. DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima

20  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 D&D//SEGURO DE VIDA

€ 206
POUPANÇA
ANUAL

Quero
a minha vida
bem guardada

Nem sempre compensa contratar o seguro de vida no banco onde pediu

o crédito à habitação. Se é o seu caso, ajudamos a escolher a melhor apólice
Texto Ana Santos Gomes

É
um daqueles requisitos que o
banco enumera à partida para
conceder crédito à habitação com
spread bonificado. Seguros de vida
e multirriscos-habitação são obrigatórios
para ter luz verde no financiamento,
e tudo é mais facilitado se for feito
“dentro de casa”. Aliás, em muitos casos,
compensa, não só porque não gasta
tempo a procurar uma apólice noutra
seguradora, como ainda há uma grande
probabilidade de aceder a uma redução
no spread (margem de lucro do banco).
Mas compensa sempre? Não. Em alguns
casos, o que poupa com a bonificação
do spread é inferior àquilo que pode
pagar a mais em seguro de vida durante
todo o empréstimo, comparando
com outras apólices disponíveis no
mercado. Para descobrir a melhor
solução para o seu caso, vai ter mesmo
de fazer contas. Peça ao banco uma
projeção do pagamento do crédito
ao longo de todo o contrato, com e sem
seguros (geralmente, o seguro de vida
e o multirriscos-habitação andam de
mãos dadas), e contacte as seguradoras
que recomendamos para comparar
os preços. De um lado, terá a solução
integrada do banco, com seguros
incluídos e spread bonificado; do outro,
as prestações bancárias isoladas, a que
somará os prémios do seguro contratado
fora do banco. Não se esqueça de
olhar para o total de despesas no final
do empréstimo. Só assim perceberá
o que realmente compensa.
E todos podem procurar uma
apólice diferente daquela que o

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  21

 banco sugere? Sim. De acordo com
a lei, nenhum banco pode impor uma
seguradora ou uma determinada apólice
ao cliente. O que os bancos podem
fazer (e praticamente todos o fazem)
é oferecer benefícios a quem aceita a
apólice sugerida. Como um spread mais
baixo, que é o cenário mais comum
e que convence muitos potenciais
clientes a aderirem à proposta.
Invalidez: não é tudo igual
Além da morte, o seguro de vida deve
cobrir eventuais situações de invalidez.
As apólices mais simples contemplam
apenas possíveis situações de invalidez
absoluta e definitiva (IAD), ou seja,
SEGURO PARA QUANTOS?
Um casal com financiamento em conjunto é enquadrado numa de três
modalidades de seguro de vida (exemplo para empréstimo de 100 mil euros).
Descubra as diferenças em caso de infortúnio.
DOIS SEGUROS INDIVIDUAIS PELA TOTALIDADE DA DÍVIDA
€ 100 000 € 100 000
UM SEGURO PARA DUAS PESSOAS PELA TOTALIDADE DA DÍVIDA
€ 100 000
DOIS SEGUROS INDIVIDUAIS POR 50% DA DÍVIDA
€ 50 000 € 50 000
22  D&D//janeiro/fevereiro 2018
“O prémio a pagar
é calculado em função
da idade dos segurados
e do capital em dívida”
Sandra Justino
Responsável pelo estudo
Se falecer um cônjuge,
a seguradora paga € 100 000 ao banco
Se falecerem ambos,
entrega € 200 000 de indemnização
(€ 100 000 ao banco
e € 100 000 aos beneficiários)
Se falecer um dos membros do casal,
são pagos € 100 000 ao banco
Se falecerem ambos,
são atribuídos € 100 000 ao banco
Se falecer um cônjuge,
a companhia paga € 50 000 ao banco,
e o outro segurado mantém a apólice
com o restante capital
Se falecerem ambos,
o banco recebe € 100 000
os casos em que a pessoa segura fica
totalmente dependente de terceiros
para todas as atividades quotidianas.
Já as apólices mais completas – e que
recomendamos – referem a invalidez
total permanente (ITP), isto é, podem
ser acionadas sempre que a incapacidade
impeça o segurado de garantir o seu
sustento numa profissão compatível
com as suas habilitações.
O prémio a pagar é calculado em
função de duas variáveis: a idade dos
segurados, que vai aumentando de ano
para ano, e o capital em dívida, que,
em princípio, vai diminuindo com o
passar do tempo e o pagamento mensal
das prestações do empréstimo. Grande
parte das seguradoras limita a cobertura
dos clientes até certa idade. Há apólices
que só cobrem a vida dos segurados
até aos 75 anos, outras até aos 85. E há
ainda seguradoras que condicionam
a idade de acesso dos clientes. Algumas
só os aceitam até aos 60 anos, outras até
aos 65. Depois dessa idade, será mais
difícil contratar um crédito à habitação,
já que grande parte das seguradoras fecha
as portas. E, sem seguro de vida, não há
banco que empreste dinheiro.
Segurar um, dois... ou metade?
Quando o empréstimo é contratado por
duas pessoas, há que avaliar, precisamente
na hora da subscrição, a modalidade
de cobertura proposta. A hipótese mais
comum passa por contratar uma única
apólice para dois segurados, cujo
capital do seguro corresponde ao valor
total da dívida. Convém lembrar que o
beneficiário deste seguro é o banco que
financia a compra da casa. Logo, em caso
de falecimento ou invalidez de um dos
titulares, o banco recebe a indemnização
da seguradora no exato valor da dívida,
e a casa fica integralmente paga.
No entanto, há seguradoras, como a
Lusitania, que dizem não praticar esta
modalidade. Por isso, os prémios que
constam da nossa tabela correspondem
ao somatório de duas apólices individuais
pela totalidade da dívida, o que não
é diretamente comparável com as
restantes. E qual é a grande diferença?
É que, em caso de morte simultânea
www.deco.proteste.pt
 D&D//SEGUROS DE VIDA

de ambos os titulares, a seguradora na tabela em baixo a nossa classificação

paga duas indemnizações: uma reverte
a favor do banco e liquida a dívida,
a outra é entregue aos herdeiros da
vítima ou a eventuais beneficiários
indicados no momento da contratação.
Mas há uma terceira hipótese.
Algumas seguradoras propõem uma
solução, por vezes mais barata, e que
consiste na contratação de dois seguros
de vida, cada um deles com capital
correspondente a metade do valor da
dívida. Neste caso, se um dos titulares
falecer, metade do empréstimo fica
automaticamente liquidado através
da indemnização da seguradora,
mantendo-se o outro titular responsável
pelo pagamento da restante dívida.
Em todos os casos, é sempre possível
optar por contratar capitais superiores ao
TOP SEGUROS DE VIDA PARA CRÉDITO À HABITAÇÃO
Prémio calculado para empréstimo de 100 mil euros a 20 anos para um casal de 45 anos
Seguradora e produto
das várias apólices e identificar aquela
que elegemos como Escolha Acertada.
NENHUM BANCO PODE Esta avaliação resulta da análise à
IMPOR UMA SEGURADORA qualidade dos contratos de seguro, com
AOS CLIENTES DE CRÉDITO base nas coberturas, nas exclusões e nos
preços. Privilegiamos as seguradoras
À HABITAÇÃO. MAS PODE que pagam indemnizações em menos
FAVORECER QUEM A ESCOLHE de 30 dias e que consideram a profissão
habitual da vítima ou outra compatível
com as suas aptidões para valorizar
do valor em dívida. Tem de suportar um a invalidez. Ao invés, penalizamos
prémio superior, é certo, mas o valor que as apólices que encurtam a idade limite
sobrar após o pagamento ao banco reverte do termo da cobertura, fechando a porta
a favor dos herdeiros. aos segurados mais velhos.
Aliás, dependendo da idade
Como poupar milhares de euros dos segurados, do capital em dívida
no final do empréstimo e da duração do empréstimo, a poupança
Não tendo optado pela contratação do pode ser considerável com a nossa
seguro através do banco, pode encontrar Escolha Acertada. Num cenário de
financiamento de 100 mil euros a 20
anos para dois titulares com 45 anos,
por exemplo, o seguro da April permite
poupar 172,25 euros só no primeiro
ano, face à média do mercado. Mas
cada seguradora distribui a curva de
pagamentos de forma diferente ao longo
Coberturas Prémio (€) do empréstimo, pelo que considerámos
QUALIDADE GLOBAL (%)

os prémios pagos ao longo de todo o

(ao fim de 20 anos)
permanente (ITP)

contrato. Por essa razão, não incluímos

para 2 pessoas
Invalidez total

a Tranquilidade no estudo, já que não

Prémio total
anual para
2 pessoas

nos forneceu uma projeção da evolução

(1.º ano)
Prémio
Morte

dos prémios para o nosso casal fictício.

APRIL
Mas é olhando para essa projeção que
F B B 428,61 10 631,41 84
Vida Crédito as contas fazem mais sentido e que
REAL VIDA B B 441 12 840,15 81
se apuram as verdadeiras poupanças.
Real Seguro de Vida Habitação No cenário que definimos, a poupança
PRÉVOIR VIE
Prévoir Vida Domus
B B 457,77 10 534,11 80 acumulada com a April ao longo de duas
METLIFE décadas, face à média da concorrência,
B B 549,40 12 602,94 78
Crédito Seguro ultrapassa os 4 mil euros. Na verdade,
LUSITANIA VIDA B B em média, o nosso casal fictício estaria
690,85 16 930,90 78
Protecção Vida
a poupar 206 euros todos os anos.
LIBERTY C B 541 12 662,50 76 Mais uma vez, lembre-se de que o
Liberty Vida Crédito
OCIDENTAL B C 656,82 15 917,96 75
que está em causa é um seguro de vida
Crédito Imobiliário Vida Risco que reverte a favor do banco, caso lhe
ZURICH
Proteção Crédito Habitação
C B 492,42 11 134,99 74 aconteça algum infortúnio. E não há
FIDELIDADE maneira de garantir que não vai precisar
B B 717,48 16 526,33 72
Vida Crédito Habitação dele durante a vigência do empréstimo.
GENERALI VIDA B B 440,68 10 867,62 72 Mas já diz o ditado que pagar e morrer,
Crédito Habitação
quanto mais tarde, melhor. Ora, se não
EUROVIDA B C 963,05 22 310,53 68 pode evitar morrer, ao menos tente pagar
Proteção Crédito H
BBVA VIDA o menos possível.
C B 901,24 24 156,69 66
Crédito Habitação (exclusivo banco)
Resultados completos em www.deco.proteste.pt/seguro-vida F Escolha Acertada Boa qualidade DOSSIÊ TÉCNICO Sandra Justino

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  23

D&D//ARTICLE THEME

Q
uando pretende saber
que direitos e deveres tem
nas relações laborais, a
generalidade dos trabalhadores
olha para o contrato individual e para
o código do trabalho. Mas podem
também existir instrumentos de
regulamentação coletiva, que vinculam
entidades patronais e trabalhadores
de empresas, profissões ou setores
específicos. Lembra-se do contrato
coletivo dos estivadores do Porto de
Lisboa, cuja renegociação, que terminou
em meados de 2016, se arrastou num
processo complexo e mediático, devido
às prolongadas greves e aos prejuízos
para a economia nacional? É este tipo
de instrumentos que abordamos em cinco
questões.

O que são?
Regra geral, estes instrumentos resultam
da negociação entre representantes
dos trabalhadores e dos empregadores.
Têm de obedecer-lhes as empresas que
os subscrevem e os trabalhadores filiados
nas associações sindicais envolvidas.
Tanto podem vigorar para uma

Trabalho
determinada empresa, como para um
ramo de atividade ou profissão. Podem
incidir sobre matérias como horários,
férias, progressão na carreira e trabalho

com regras
noturno ou suplementar.

Que instrumentos existem?

Há vários instrumentos de contratação
coletiva. As convenções coletivas são

de grupo
Destinada a regular situações próprias
das relações laborais de uma determinada
empresa ou setor, a contratação coletiva tende
a beneficiar os trabalhadores
Texto Paula Melo dos Santos & Inês Lourinho
os mais comuns, estando previstos três
tipos. O contrato coletivo, negociado
entre sindicatos e associações patronais,
é o mais frequente, dada a quantidade
de pequenas e médias empresas no nosso
país. Já o acordo de empresa é celebrado
entre sindicatos e uma entidade patronal,
regra geral, uma grande empresa.
E, por fim, o acordo coletivo vigora entre
sindicatos e várias empresas, por exemplo,
do mesmo setor de atividade ou de
um grupo económico.
Como saber se estou abrangido?
Em teoria, o empregador tem de afixar,
em local apropriado, a existência
de regulamentação que seja aplicável

24  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


AS CONVENÇÕES
COLETIVAS SÃO MAIS
FAVORÁVEIS PORQUE
REFORÇAM OS DIREITOS
DOS TRABALHADORES
aos seus trabalhadores. Na prática,
nem sempre é fácil saber que convenções
coletivas existem e quais as empresas
e os trabalhadores abrangidos. A forma
mais célere de obter informação sobre
este assunto será contactar um sindicato
ou uma associação do ramo em que
trabalha: por exemplo, se é jornalista,
o Sindicato dos Jornalistas. A Autoridade
para as Condições do Trabalho (ACT)
disponibiliza uma base de dados online
dos instrumentos coletivos (www.act.gov.
pt > Legislação > Contratação Coletiva),
mas pode também obter esta informação
por telefone ou presencialmente.
E se houver conflitos
entre as normas?
O princípio diz que se devem aplicar as
normas mais favoráveis aos trabalhadores.
Por exemplo, se o contrato contiver
uma cláusula mais favorável, é essa que se
aplica, e não o que constar do instrumento
coletivo. Estando em causa mais do que
uma convenção coletiva, a hierarquia é
a seguinte: acordo de empresa, acordo
coletivo e contrato coletivo.
Qual a duração?
A convenção vigora durante o prazo
eventualmente nela indicado.
Se incluir uma cláusula que obrigue à sua
substituição por outra, caduca três anos
após a denúncia (término) por uma das
partes, a apresentação de uma proposta
de revisão ou a última publicação integral.
A convenção pode também cessar por
acordo entre as partes e ser suspensa em
situações extremas (crise empresarial,
catástrofes ou outras situações).
DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Carvalho
www.deco.proteste.pt
D&D//CONTRATO COLETIVO DE TRABALHO
FRENTE A FRENTE Sindicatos e empresários
Hélder Guerreiro
Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores
das Indústrias Transformadoras, Energia
e Ambiente do Sul e membro do Conselho
Nacional da CGTP
Qual a mais-valia da contratação
coletiva para os trabalhadores?
No geral, as convenções
coletivas são mais favoráveis
aos trabalhadores. Por exemplo,
no código do trabalho aparece
o trabalho noturno, mas não o
subsídio de turno, que acaba
por ser regulado em acordos de
empresas com horários por turnos.
Que ameaças existem
às convenções coletivas?
Hoje, o contrato a prazo é a norma,
o que dificulta a implantação
destes instrumentos. Além disso,
sindicalizar-se, uma peça-
-chave na contratação coletiva,
pode prejudicar o trabalhador.
Se não for sindicalizado, só
fica abrangido pela convenção
coletiva se a empresa quiser.
E é fundamental retirar da lei a
norma da caducidade. Os patrões
têm-na usado para denunciar a
convenção, propondo depois um
novo pacote de direitos, regra
geral, menos favorável. Se não
houver acordo ao fim de 18
meses, a convenção caduca.
“É FUNDAMENTAL
ACABAR COM A NORMA
DA CADUCIDADE”
António Saraiva
Presidente da Confederação Empresarial
de Portugal (CIP)
Quais as vantagens e os
inconvenientes da contratação
coletiva?
A contratação coletiva constitui
condição indispensável para a paz
social, decisiva na produtividade
e competitividade das nossas
empresas. Não obstante, para que
possa desempenhar o seu papel,
é necessário um enquadramento
legal que salvaguarde e permita a
dinamização e modernização dos
setores e, consequentemente,
do desenvolvimento do País.
Qual a posição da CIP quanto
às críticas dos trabalhadores?
A CIP não partilha, de modo
nenhum, o entendimento da
CGTP quanto à caducidade. Este
mecanismo permitiu disciplinar
institutos do maior relevo, como
a organização do tempo de
trabalho, o trabalho suplementar e
noturno, a contratação a termo, as
férias ou a mobilidade geográfica
e funcional. A sua supressão
consubstanciaria um nefasto
retrocesso. O mundo não se
compadece com imobilismos.
“O MUNDO NÃO SE
COMPADECE COM
IMOBILISMOS”
janeiro/fevereiro 2018//D&D  25
É na assembleia de
condóminos que se
A obra pode
decide se a obra no
prédio avança ou não.
Mas, para casos extremos,
medidas extremas,
e aí dispensam-se
as formalidades
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo
Infografia Carlos Ribeiro & Nuno Semedo

U
ma enorme poça de água
a encharcar o patamar denuncia
uma rutura na canalização
do prédio. E o administrador
de férias... Será preciso reunir os vizinhos OBRAS DE CONSERVAÇÃO
para solucionar o problema ou, no
imediato, poderei tomar as rédeas da As obras de conservação nas partes comuns do prédio
têm de ser aprovadas pelos condóminos, cabendo ao
situação? Como a obra é urgente, qualquer administrador executar essa deliberação. As despesas ficam,
condómino pode tratar do assunto em princípio, a cargo de todos, na proporção da permilagem
sem ter de aguardar por autorização. das respetivas frações, incluindo aqueles que não tenham
Mas, assim que possível, o administrador aprovado a intervenção.
deve ser informado. O caso seria diferente
se estivéssemos perante um trabalho
de conservação, como seja o isolamento
Pintar o prédio
dos terraços, em que a assembleia
(sem alterar a cor)
de condóminos teria de deliberar por
maioria simples (metade dos votos mais Isolar os terraços Maioria
um) para que a obra avançasse. Já as simples
inovações necessitam de um consenso
mais alargado. Instalar um solário no rés- Substituir
-do-chão implicaria que a maioria a favor interruptores
da extravagância para bronzeamento
artificial representasse, pelo menos, dois Reparar a rede A assembleia de
condóminos deve
terços do valor total do prédio. de esgotos deliberar favoravelmente
A lista que apresentamos ao lado por maioria simples
constitui apenas uma amostra dos Substituir dos condóminos
cenários com que poderá ter de lidar o mecanismo (ou seja, são precisos
no seu condomínio. A resposta a dos elevadores metade dos votos mais
um)
tantos outros casos está acessível
aos subscritores do serviço de
Condomínio DECO+, no simulador
online, em www.condominiodeco.pt.

DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima

26  D&D//janeiro/fevereiro 2018

 D&D//CONDOMÍNIO

e avançar?

OBRAS DE INOVAÇÃO OBRAS URGENTES

Se a linha arquitetónica ou o arranjo estético do prédio forem
afetados, a maioria dos condóminos tem de estar de acordo
com a obra. Uma vez aprovada, todos têm de comparticipá-la,
mesmo os que votaram contra. A recusa de pagamento pode
ser judicialmente fundamentada e o condómino em causa ficar
dele dispensado, se se tratar, por exemplo, de uma obra de
caráter luxuoso. Se já tiver pago, terá direito a ser ressarcido.
Podem ser efetuadas por iniciativa de qualquer condómino,
mas apenas se o administrador estiver impedido de
as providenciar. O custo deve ser repartido por todos,
na proporção das suas frações, podendo ser dividido
equitativamente, se assim for decidido.

Modificar o portão Reparar telhado

da garagem em risco de ruir
Instalar um parque infantil Substituir lâmpadas Não precisa
Maioria de permissão
no pátio de 2/3 fundidas O administrador
não necessita
Montar um sistema Reparar fuga de gás da autorização
antipombos no telhado na conduta do prédio dos condóminos,
e, na sua ausência,
Colocar lâmpadas Aqui a maioria não
se refere ao número
Resolver infiltração qualquer um pode
mandar realizar
economizadoras de condóminos, mas em parede exterior a obra
ao valor do prédio.
Instalar uma tomada Deve representar, Consertar danos
para carros elétricos pelo menos, dois terços na instalação elétrica
do total do edifício

Rampa de acesso para cadeira de rodas

Por iniciativa de qualquer condómino
Pode mandar instalar uma rampa de acesso para uma cadeira de rodas,
sem precisar da autorização dos restantes condóminos. Os custos ficam
a seu cargo. Se, entretanto, outro vizinho vier a necessitar deste
equipamento, terá de pagar a parte que lhe competiria tanto na execução
da rampa como na sua manutenção.
No melhor
colarinho
cai a nódoa
Os casos mediáticos do BPP
e do BPN são um reflexo de uma
justiça portuguesa mais preparada
para casos de crimes de colarinho
branco, mas que ainda reclama
medidas para atacar a fraude,
a corrupção e o branqueamento
Texto João Tomé & Filipa Rendo

M
ais enganadores do que
o algodão, que não engana,
os crimes de colarinho branco
− como o branqueamento,
a fraude, a burla ou a corrupção − só
muito lentamente deixaram de ser
vistos como “um mal necessário do
mercado, o lubrificante das relações
entre os interesses privados e os poderes
públicos”. Isso mesmo explica, no início
do programa de ação do Ministério
Público contra a corrupção, Euclides
Dâmaso Simões, o procurador-geral
adjunto. Programa também mencionado
pela Procuradora-Geral da República,
cuja entrevista pode ler na página 30
e que faz referência à falta de formação
técnico-financeira em Portugal
Branqueamento
É muitas vezes comparado com um processo de lavagem, por se
183
inquéritos iniciados
tentar limpar um processo sujo (criminoso). Há três fases, sendo em 2016, menos
do que em 2015
a pré-lavagem a primeira. Transferem-se bens ou rendimentos Relatório Anual
obtidos de forma criminosa, dando-lhes uma aparência legal, por de Segurança Interna
exemplo, através de depósitos em dinheiro para outras entidades
bancárias ou de compras no setor das artes ou antiguidades.
Já a circulação ocorre quando os bens ou rendimentos são alvo de
múltiplas e repetidas operações, para os distanciar da origem criminosa. São depois
reintroduzidos nos circuitos económicos legítimos, com a compra de uma casa de luxo,
por exemplo (a integração). O crime é punido com pena de prisão de dois a 12 anos. Se
quem participou na “lavagem” ajudar na recolha de provas decisivas para capturar os
responsáveis, pode ver a pena atenuada. Um caso mediático foi o do político Domingos
Duarte Lima, que, em novembro de 2014, foi condenado a 10 anos de prisão efetiva por
branqueamento de capitais, entre outros crimes. Mais tarde, a pena foi reduzida para
seis anos pelo Tribunal da Relação.

28  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 D&D//CRIMES DE COLARINHO BRANCO

Insolvência dolosa
O caso BPP abriu muitos processos. Em 2014, João Rendeiro, presidente do banco,
foi considerado culpado de insolvência dolosa e impedido de exercer atividade
comercial por oito anos pelo Tribunal do Comércio de Lisboa. Ficou provado que
houve intenção de prejudicar os credores. Há crime quando quem deve destrói,
faz desaparecer ou inutiliza parte do património. Ou tenta diminuir ficticiamente
o ativo, por exemplo, quando uma empresa invoca dívidas ou créditos que não
existem. O mesmo acontece quando se criam ou agravam artificialmente prejuízos
ou se reduzem lucros; ou quando se compram, por exemplo, equipamentos a
crédito para retardar a falência. Atos como transferir equipamentos e propriedade
de imóveis, ou recorrer aos chamados testas-de-ferro, são fortes indícios – só há
crime se houver uma declaração judicial de insolvência. O crime é punido
com prisão até cinco anos ou multa até 600 dias.

Fraude fiscal
O processo BPN levou, seis anos e meio depois do seu início,
863
processos iniciados
à condenação de José Oliveira e Costa, presidente do banco, em 2016, menos
do que em 2015
por, entre outros, fraude fiscal qualificada, com 14 anos de Relatório Anual
prisão efetiva − uma decisão da qual ainda é possível recorrer. de Segurança Interna
Neste crime, os visados não só não pagaram impostos, como
obtiveram de forma indevida benefícios fiscais ou reembolsos, ou
outras vantagens patrimoniais, à custa do Estado. Só valores acima dos 15 mil
euros representam fraude fiscal; abaixo constituem uma contraordenação. Exemplo
disso é quando alguém oculta ou altera factos que não só devem estar nos livros
de contabilidade como declarados às Finanças. Quando há um negócio simulado
(dizer que se faz um serviço quando se fez outro), também se incorre neste tipo
crime. Faturas fictícias relativas a compras que nunca ocorreram, solicitadas por um
diretor de uma empresa a um colaborador, são outro bom exemplo.

Corrupção
Hélder Oliveira

626
inquéritos iniciados
Em julho passado, o ex-presidente do Brasil Luís Inácio
em 2016, menos
Lula da Silva foi condenado por três crimes de corrupção do que em 2015
a nove anos e meio de prisão. O pagamento de “propinas” Relatório Anual
de Segurança Interna
(“luvas”, em jargão português) pela petrolífera Petrobras a
políticos foi um dos crimes provados. Em Portugal, há alguns
anos, também era prática comum entregar-se uma “pequena
lembrança” em alguns serviços da administração pública, para obter
uma vantagem. Trata-se de corrupção passiva quando o funcionário pede ou aceita
uma gratificação (ou a sua promessa), para praticar um ato contrário aos seus
deveres. Por exemplo, se o funcionário de uma conservatória receber dinheiro
para alterar a ordem de entrada de um pedido de registo de propriedade. A pena
de prisão é de um a oito anos. O crime de corrupção ativa é para quem tenta
corromper um funcionário. É disso exemplo um condutor que, mandado parar por
um polícia por excesso de velocidade, promete uma quantia para não ser autuado.
Está prevista uma pena de prisão de um a cinco anos.

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  29

 e às dificuldades em se obterem as tão
desejadas provas.
E porquê colarinho branco? O termo
está associado aos colarinhos das camisas
dos executivos e surgiu em 1939, durante
o discurso de tomada de posse de um
dos maiores sociólogos da época, Edwin
Sutherland, na American Sociological
Association. A expressão definia crimes
cometidos por pessoas de “elevado
estatuto social e respeitabilidade”,
no âmbito das suas ocupações, por
oposição aos colarinhos azuis das fardas
dos operários. O conceito alterou,
assim, a representação tradicional
do crime enquanto algo exclusivo de
classes desfavorecidas ou consideradas
perigosas.
Bem diferentes dos crimes violentos,
que costumam ter honras de abertura
nos noticiários, os crimes de colarinho

D&D ENTREVISTA

“Mecanismos da investigação
devem ser aperfeiçoados”
A formação atual é suficiente?
Estas investigações são particularmente
exigentes, reclamando especiais meios
periciais, como são o caso das áreas
da informática e da análise financeira.
É certo que o Ministério Público e os
órgãos de polícia criminal têm, hoje,
muito mais conhecimento e experiência
na investigação deste tipo de
criminalidade. Tem sido feito um
investimento na especialização e na
formação – está em curso o Projeto
ETHOS, de formação, intensiva e
altamente especializada, de magistrados
do Ministério Público nas áreas da
prevenção e investigação da criminalidade
económico-financeira e corrupção.
Aliás, o Ministério Público tem dedicado
especial atenção a esta matéria.
Em dezembro de 2015 foi elaborado
o Programa de Ação do Ministério Público
contra a Corrupção.
Quais as maiores dificuldades
na investigação?
Frequentemente estão em causa
investigações transnacionais, dependentes
de informação de outros estados.
O sucesso também pode ser condicionado
pela dificuldade e demora na obtenção
de resultados da cooperação judiciária
internacional. Mas também aqui são
de assinalar progressos, considerando
os atuais instrumentos legais e práticos
de cooperação judiciária internacional.
Naturalmente que todos os aspetos
referidos − formação, especialização,
cooperação judiciária internacional
− podem, ou melhor, devem ser
aperfeiçoados. O reforço dos recursos
humanos e materiais da Polícia Judiciária
e demais órgãos de polícia criminal,
bem como outras instituições, é
também essencial. Devem, igualmente,
ser intensificados os mecanismos
de recuperação de ativos.
Qual o caminho a seguir?
A investigação criminal deve adotar
respostas organizacionais e metodológicas
distintas. Tenho defendido a necessidade
de criação de equipas que integrem
magistrados de diversas jurisdições (não
apenas da criminal, mas também das áreas
administrativa e tributária). Esta forma de
organização permite que a investigação
se desenvolva com um conhecimento
mais profundo e abrangente das várias
dimensões que o fenómeno pode assumir.
As equipas devem, igualmente, integrar
magistrados com experiência nas fases
subsequentes do processo (desde
logo, a de julgamento), com vista a
permitir a análise da prova e dos indícios
recolhidos na perspetiva de intervenção
especializada, integrada, coordenada
e articulada. Esta forma de organização
já tem vindo, como é público,
a ser adotada, mas importa prosseguir
o seu aprofundamento.
O enriquecimento ilícito
deve ser punido?
A nível legislativo, já tive oportunidade
de defender a introdução de um tipo
criminal de enriquecimento injustificado,
mas sempre construído num quadro de
respeito pelos princípios constitucionais.
Deve ainda ser repensado o modelo
de fiscalização das autarquias locais,
que, com a extinção da Inspeção-Geral
da Administração Local, se encontra
a cargo da Inspeção-Geral de Finanças.
Será igualmente de ter em atenção
a necessidade de repensar o sistema de
efetivação da responsabilidade financeira
dos autarcas, no âmbito da intervenção do
Tribunal de Contas. Seguimos também com
todo o interesse o debate que vem tendo
lugar na Assembleia da República sobre
a alteração ao modelo de fiscalização das
declarações de património e interesses
de titulares de cargos públicos.
Como prevenir este tipo de crimes?
A corrupção e a criminalidade económico-
-financeira não se reconduzem a meras
questões do domínio do judiciário.
A resposta a este tipo de fenómeno
exige políticas estruturadas promotoras
da transparência e do rigor das contas
públicas. Mais: exige uma profunda
consciência cívica, fundada na recusa
da utilização abusiva do aparelho
de Estado por motivações alheias
ao interesse público.

30  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 D&D//CRIMES DE COLARINHO BRANCO
branco são mais discretos, mas causam em Portugal. “Adapta-se bem a países,
grande impacto na economia nacional,
algo que fez o fenómeno ganhar
ou territórios, que, como o nosso,
possuem características atraentes
destaque nos últimos anos. Maria José para o seu desenvolvimento, com um
Morgado, procuradora-geral distrital sistema penal demasiado lento, pesado
de Lisboa, explica o fenómeno no livro e desadequado” e “um Estado anestesiado
O inimigo sem rosto: fraude e corrupção pelos seus mecanismos arcaicos”, escreve
Maria José Morgado.
Desafios na prova
Esta criminalidade de colarinho branco,
Global Imagens/João Manuel Ribeiro
também designada em Portugal de
económico-financeira, inclui abuso de
poder, branqueamento, burla, corrupção,
mas também falsidade informática
e fraude fiscal.
O Relatório Anual de Segurança
Interna de 2016 indica que houve uma
diminuição dos inquéritos abertos por
crimes de burla, corrupção e fraude
fiscal relativamente ao ano anterior.
Ou seja, ou há menos crimes ou menos
gente a participá-los. Mas, se os indícios
são uma coisa, a demonstração é outra.
Um dos principais problemas no combate
a este tipo de criminalidade é a obtenção
de provas, que depende da forma
como a investigação é conduzida.
Para a Procuradora-Geral da
República, Joana Marques Vidal, uma
das dificuldades prende-se com a grande
complexidade e a sofisticação por detrás
deste fenómeno. Quem pratica estes
crimes recorre aos mais modernos e
atualizados meios. A acrescentar a tudo
isto estão as regras de segredo muito
restritas, praticadas nas sociedades
sediadas em offshores, o que leva a que
os pedidos da informação necessária
à investigação possam demorar meses
ou mesmo anos. Uma situação que
beneficia quem comete os crimes.
Joana
Marques Vidal Prevenção no branqueamento
Um dos instrumentos mais importantes
PROCURADORA-GERAL
para o controlo dos crimes de colarinho
DA REPÚBLICA branco nasceu em 2008 − a lei do combate
Lembra dificuldades ao branqueamento de capitais
na investigação de crimes e do financiamento ao terrorismo.
de colarinho branco Entretanto, desde setembro, um novo
e pede mais meios diploma fixa medidas mais abrangentes.
Além dos bancos, entidades como
imobiliárias que se dediquem ao
arrendamento ou operadores económicos
www.deco.proteste.pt
Os casos
mediáticos
Um dos casos mais mediáticos dos
últimos anos foi o de Bernard Madoff,
quando em 2008 foi preso, acusado
e condenado a 150 anos de pena
de prisão. Madoff, corretor e consultor
financeiro americano, recebia dinheiro de
investidores com promessas de retorno
elevado, mas não chegava a investi-lo,
numa estratégia chamada “esquema
Ponzi” ou em pirâmide.
Em maio do mesmo ano, José Oliveira
e Costa foi condenado, em primeira
instância, a 14 anos de prisão por abuso
de confiança, burla qualificada, fraude
fiscal, entre outros, naquela que foi
considerada a maior burla da história
da Justiça portuguesa julgada até ao
momento, um processo do caso BPN,
que durou mais de seis anos.
Já no caso BPP, o seu ex-presidente,
João Rendeiro, foi considerado culpado
do crime de insolvência dolosa do
banco em primeira instância. Também foi
condenado a pagar cerca de 10 milhões
de euros de multas e inibido de exercer
atividade comercial durante oito anos.
Num passado menos recente, Portugal
registou outros processos famosos deste
tipo de crimes, como o de Alves dos Reis,
considerado o maior burlão português
e condenado a 20 anos em 1925,
e Dona Branca, a chamada “Banqueira
do Povo”, condenada em 1990 a 10 anos
de prisão.
que exerçam a atividade leiloeira
passam a estar obrigadas a verificar a
identidade dos clientes em transações
ocasionais a partir de 15 mil euros ou em
transferências de fundos superiores a mil
euros. Estão ainda obrigadas a informar
o Departamento Central de Investigação
e Ação Penal da Procuradoria-Geral
da República sempre que suspeitem
de que certos fundos ou bens,
independentemente do seu valor, provêm
de atividades criminosas.
DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima
janeiro/fevereiro 2018//D&D  31

Fazer voluntariado pode implicar
um horário, um contrato, um seguro
e até direito a proteção social. O “salário”,
esse, está longe de ser mensurável
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo
‘‘C
heio de inquietações
e de interrogações”.
Foi assim que Afonso Borga,
22 anos, regressou de
um mês de voluntariado num campo
de refugiados na ilha grega de Lesbos.
“A minha intervenção foi muito pouco
palpável, a realidade é demasiado
complexa”, confessa.
Partiu por sua iniciativa, depois de
ter contactado algumas organizações
humanitárias no terreno. Acabou por
assinar um protocolo com a Emergency
Response Centre International (ERCI).
No campo, conviveu com pessoas acabadas
de chegar (sempre em maior número do
que aquelas que partiam) e com as que há
demasiado tempo – meses, anos até – ali
aguardam, com a vida suspensa, depois
da fuga da guerra. As tarefas de Afonso
consistiam em assegurar as rotinas diárias
do campo, vigiar a costa, de modo a
32  D&D//janeiro/fevereiro 2018
er viç
Ao s utroso
dos o
antecipar a chegada de mais embarcações,
e entreter as crianças. “O maior impacto
que podemos ter é levarmos um pouco
de humanidade e de conforto àquelas
pessoas”, admite. É isso que se espera
de um voluntário: que, de forma livre,
desinteressada e responsável, se
comprometa, de acordo com as suas
aptidões e no seu tempo livre,
a realizar ações de interesse social
e comunitário. Estas devem ser
enquadradas por uma organização
promotora – pública ou privada – que
desenvolva programas sem fins lucrativos,
APESAR DE NÃO EXISTIR
UM VÍNCULO LABORAL,
HÁ DIREITOS E DEVERES
ENVOLVIDOS NESTA RELAÇÃO
num sem-número de áreas como a ação
social, a saúde, a educação, a cooperação
para o desenvolvimento, a reinserção
social, entre outras. A gratuitidade é
condição sine qua non.
Grão a grão
Quando decidiu fazer voluntariado na
Grécia, Afonso não dispunha de meios
para financiar a viagem. Por isso, encontrou
um modo engenhoso de obter a soma de
que precisava: organizar jantares solidários
em casa. O preço a pagar pela refeição ficava
ao critério dos convidados. Assim nascia
o projeto “Grão a Grão”, que aliava
a angariação de fundos à sensibilização
dos participantes para aquela causa.
Quatro meses e 18 jantares depois,
conseguiu os 520 euros que custearam
a deslocação para Lesbos e a alimentação
para um mês. Mas as despesas não ficaram
por aqui. Achou por bem contratar
www.deco.proteste.pt

um seguro de acidentes pessoais, e fê-lo
por sua conta e risco, já que a organização
internacional que o acolheu não estava
obrigada a isso.
Em Portugal, inversamente, a lei
exige que as organizações promotoras
subscrevam um seguro de acidentes
pessoais para o voluntário, que inclua
indemnização em situação de morte ou
de invalidez permanente, e subsídio diário
em caso de incapacidade temporária.
Ao contrário de um seguro de acidentes
de trabalho, aquele abrange apenas os
eventos que ocorram durante a atividade,
e não os que possam acontecer,
por exemplo, no percurso para o local
onde se realize a ação de voluntariado.
Mais do que um contrato,
um compromisso
Não obstante a importância que a
experiência internacional em Lesbos teve
www.deco.proteste.pt
D&D//VOLUNTARIADO
para Afonso, não foi, mesmo assim, tão do trabalho, a sua duração e as formas
marcante como o mês que viveu numa de cessação, além de prever uma avaliação
comunidade cigana, em Vendas Novas. periódica e a realização de ações de
Aí trabalhou com as crianças da formação para ajudar ao desenvolvimento
comunidade num projeto para a educação das atividades de voluntariado.
e a empregabilidade. “Levámo-las a Apesar de não se tratar de um contrato
contactar com as diferentes profissões. vinculativo, não significa que possa ser
O objetivo era abrir-lhes o leque de quebrado sem qualquer aviso prévio
possibilidades que têm”. Admite que ou justificação. Mas, na ausência de
este processo lhe permitiu “desmistificar sanções, como as definidas no Código do
a ideia que tinha sobre o que era Trabalho, por exemplo, as consequências
a comunidade cigana”, e não só. do incumprimento não são claras.
“Tinha o sonho de fazer voluntariado O programa de voluntariado deve, por
em África, que é muito comum aos jovens. isso, indicar de que forma serão resolvidos
Mas, depois desta experiência, percebi eventuais conflitos.
que há tanto para fazer no nosso país...” Quaisquer questões relacionadas
A iniciativa desenrolou-se através do com os direitos e os deveres dos
GASNova – Grupo de Ação Social, uma voluntários, ou com as organizações
organização não-governamental para o promotoras, podem ser esclarecidas junto
desenvolvimento (ONGD) que atua na do Conselho Nacional para a Promoção
área da educação. Já participou noutras do Voluntariado.
atividades por intermédio desta entidade,
nomeadamente em São Tomé e Príncipe,
e em todas assinou um contrato, a que
prefere chamar “compromisso”.
Apesar de não existir um vínculo
laboral, há direitos e deveres envolvidos
nesta relação. O voluntário tem direito
a desempenhar as suas funções em
condições de higiene e segurança,
a ser dispensado do trabalho (em casos
muito específicos), a ser ouvido sobre
as decisões que influenciem as suas
tarefas e a ser reembolsado por
eventuais despesas que faça no âmbito
da atividade. Pode ainda beneficiar de
um regime especial de utilização de
transportes coletivos, fruto de acordos
que o Conselho Nacional para a Promoção
do Voluntariado, entidade responsável
Victor Machado
pela promoção e coordenação desta
atividade, celebra com empresas
transportadoras. Por outro lado, tem de
garantir a privacidade das pessoas com AFONSO BORGA
quem contacta, respeitar as normas que Voluntário
regulam o funcionamento da organização,
colaborar com os seus profissionais,
quando existem, e seguir as orientações “Temos a liberdade de escolher
técnicas, utilizar de forma correta o que parte do nosso dia vamos
material ao seu dispor, desenvolver alocar a uma atividade,
o trabalho segundo o acordado e
estar devidamente identificado como
mas devemos assumir
voluntário enquanto exerce funções. um compromisso”
Este acordo estabelece ainda o âmbito
janeiro/fevereiro 2018//D&D  33
D&D//VOLUNTARIADO
Quem corre por gosto…
Exceto quando se trata de pessoas
reformadas ou desempregadas, a regra
dita que estas atividades se desenrolem
no tempo livre dos voluntários, sob pena
de originarem faltas injustificadas ao
emprego. Só em circunstâncias muito
particulares podem decorrer no horário
de trabalho: missões urgentes que não
possam ser levadas a cabo por outros
membros da organização, situações
de emergência, calamidade pública e
catástrofes e situações especiais inadiáveis,
em que a participação do voluntário é
imprescindível. Para as faltas ao trabalho
serem justificadas, e não originarem perda
de remuneração, a organização deve
enviar uma convocação escrita à entidade
patronal do voluntário, justificando o
pedido de dispensa. Posteriormente, o
trabalhador apresenta um comprovativo
em como cumpriu a missão.
Afonso nunca se viu confrontado
com esta situação. Sempre conciliou
o voluntariado com os estudos e,
agora, que trabalha, continua a fazê-lo.
Paralelamente à ocupação profissional,
gere a plataforma de voluntariado
internacional da Gap Year Portugal,
uma associação que orienta jovens
interessados em fazer um gap year, ou
seja, um ano de pausa nos estudos para
iniciativas de desenvolvimento pessoal.
“Somos quatro e, como é difícil conciliar
horários, estamos a reunir às terças-feiras,
às 7h30 da manhã”. Horário exigente para
trabalho não remunerado? “Quando se faz
alguma coisa com gosto...” E acrescenta:
“Enquanto voluntários, temos a liberdade
de escolher que parte do nosso dia vamos
alocar a uma atividade, mas tem de haver
um horário definido, devemos assumir
um compromisso”. Ainda assim, sente
que o tempo é escasso. Na gaveta, à espera
de uma oportunidade, está a segunda
fase daquilo que começou em Lesbos:
levar a sua experiência e a voz dos que lá
conheceu a crianças e jovens de escolas
portuguesas. “É preciso sensibilizar
desde cedo, para mudar mentalidades.
Agora, que conheço esta realidade, tenho
a missão de não me calar”.
DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Carvalho
34  D&D//janeiro/fevereiro 2018
SEGURO SOCIAL VOLUNTÁRIO
Proteger quem ajuda
COMO?
Os voluntários (maiores de 18 anos) que não estejam abrangidos
pelo regime geral de Segurança Social podem aceder a algumas
prestações sociais, através do Seguro Social Voluntário, um sistema
contributivo de caráter facultativo, que vigora a nível nacional.
O QUE COBRE?
Invalidez, velhice, morte e doença profissional.
O QUE NÃO COBRE?
Doença, desemprego e prestações familiares, como o abono
de família.
QUEM PAGA A CONTRIBUIÇÃO MENSAL?
A entidade de acolhimento do voluntário, até ao dia 20 do mês
seguinte àquele a que diz respeito.
COMO FUNCIONA?
O voluntário e a entidade promotora fazem a inscrição em conjunto,
escolhendo um escalão que serve de base às contribuições
a pagar mensalmente. Há 10 escalões, com base no indexante
dos apoios sociais (IAS), cujos valores podem ser consultados
no portal da Segurança Social.
Escalão 1: IAS (€ 421,32)
COMO SE CALCULA O VALOR DA CONTRIBUIÇÃO MENSAL?
Multiplica-se a taxa contributiva de 27,4% pelo montante referente
ao escalão escolhido.
Escalão 1: € 115,44
DURANTE QUANTO TEMPO É NECESSÁRIO CONTRIBUIR
PARA RECEBER?
36 meses
subsídio por morte
72 meses
pensão de invalidez e de sobrevivência
144 meses
pensão de velhice
ONDE ADERIR?
Nos serviços da Segurança Social da área que abrange
a organização promotora.
O QUE É PRECISO?
●●Formulário de adesão ao Seguro Social Voluntário
●●Documento de identificação
●●Declaração emitida pela organização promotora, que comprove
que a pessoa está inserida num programa de voluntariado
●●Declaração médica do Serviço Nacional de Saúde, que ateste
a capacidade para trabalhar
www.deco.proteste.pt
 D&D//SELOS DECO PROTESTE

Facilitar a escolha
Encontre os produtos e serviços que selecionamos
onde mais precisa: nas lojas e, em breve,
aos balcões de bancos e seguradoras
Texto Isabel Vasconcelos

A
nossa prioridade tem sempre
sido ajudar os consumidores
na altura de que mais precisam:
quando têm de comprar um
produto ou aderir a um serviço. Os nossos
testes e estudos ajudam na decisão,
mas queremos estar mais perto.
Para tal, à semelhança do que já
acontece noutros países europeus, há
mais de um ano que permitimos que
os fabricantes dos modelos com os títulos
de Melhor do Teste e/ou de Escolha
Acertada coloquem um selo com estas
designações na comunicação dos seus
produtos. A informação tem aparecido
nas prateleiras das lojas, nas embalagens,
online ou até em anúncios de televisão
e de rádio.
Entretanto, alargámos o âmbito
de atuação, para atribuirmos licenças
aos serviços que analisamos. Por esta razão,
Os selos a procurar
os consumidores irão poder encontrar Existem dois selos que ostentam um conjunto de dados
Publicado em 10.2016

mais facilmente as nossas recomendações obrigatórios. No nosso site (www.deco.proteste.pt/selos),

deco.proteste.pt/selos

encontra mais informação. MELHOR

aos balcões dos bancos e das seguradoras. DO TESTE
Contudo, a compra da licença só pode
Os selos mostram: ●●se necessário, o selo
ser feita após a publicação dos resultados
●● o título obtido também pode referir
dos testes e estudos. As empresas nunca (Melhor do Teste o segmento a que pertence
conhecem, antes dos consumidores, ou Escolha Acertada); o produto (por exemplo,
a Qualidade Global do seu produto ●●o logótipo da DECO detergente para roupa de Licença n.º BV.201610.MT.0001
ou serviço ou se apresenta a melhor PROTESTE; cor ou a região demarcada,
relação entre aquela e o preço. ●●a data de publicação no caso de vinho).
Para mais informações sobre o modo do teste; A DECO PROTESTE confiou
Publicado em 10.2016
deco.proteste.pt/selos

●●o número da licença a gestão das licenças à

de funcionamento das licenças e dos ESCOLHA
(único para cada uma Bureau Veritas. Mais uma
selos, basta consultar www.deco.proteste. ACERTADA
emitida); prova da determinação
pt/selos. Aí, além do modo de atribuição ●● a ligação para a página em mantermos a nossa
das licenças, os consumidores podem do site onde constam independência. A utilização
consultar os produtos e serviços com informações completas das licenças deve, assim, ser
selos, e o que as empresas têm de fazer sobre a iniciativa, em geral, pedida a esta entidade pelas
para comprar uma licença. e a licença, em particular; empresas interessadas. Licença n.º BV.201610.EA.0002

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  35

D&D//MILHÕES NO FUTEBOL

A bola não é um
número redondo
O discurso do futebol é normalmente acompanhado
de muitos zeros. Mas são os clubes mesmo ricos?
E pagam impostos? Como conseguem contratar
jogadores por tantos milhões? Respondemos a tudo
o que sempre quis saber. Sem clubismos
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo

O
objetivo do
futebol é o golo.
Mas, do lado
empresarial,
os lucros parecem estar
sempre em fora-de-jogo.
Com algumas exceções
notáveis, a maioria dos
clubes não dão lucro de forma
sustentada. Quem ganha de facto
com o futebol são os seus atores:
jogadores, treinadores e agentes
desportivos. E Portugal está num local
de destaque em todas estas frentes:
não nos bastou sermos campeões
europeus em 2016.
A grande rivalidade do futebol
moderno, que opõe o “nosso” Ronaldo
ao argentino Lionel Messi, estende-se
dos relvados às contas bancárias.
Na época 2016/2017, Ronaldo
ultrapassou-o pela primeira vez na lista
dos jogadores mais bem pagos. A revista
France Football estima que o português
tenha recebido 87,5 milhões de euros,
contra os “apenas” 76,5 milhões de Messi.
Quando se fala de treinadores de
futebol, a figura incontornável é outro
português: José Mourinho. À frente do
histórico Manchester United, o Special
One terá sido o treinador de futebol mais
bem pago do mundo (época 2016/2017):
cerca de 28 milhões de euros, de acordo
com dados da France Football.
Não é só dentro de campo, ou no
banco do treinador, que os portugueses
“dão cartas”. O mais poderoso agente
desportivo no mundo do futebol é Jorge
Mendes. De acordo com a lista elaborada
pela revista Forbes para a temporada que
acabou em 2016, Jorge Mendes negociou
mais de 720 milhões de dólares em
transferências (cerca de 608 milhões de
euros), o que terá rendido à sua empresa,
a Gestifute International, à volta de 72
milhões de euros em comissões. Estes
valores põem Mendes como o segundo
agente desportivo (não só do futebol) mais
abastado do mundo, intrometendo-se
entre os que trabalham nas influentes
ligas desportivas dos EUA. Cristiano
Ronaldo está entre os seus clientes.
 Porque é que os clubes
1 não vão à falência?
Qualquer adepto que se
preze sabe que o futebol
é um mundo à parte. Desde logo, pelo
modelo empresarial: os clubes são geridos
pelas chamadas sociedades anónimas
desportivas (a célebre sigla SAD).
Do ponto de vista económico e
contabilístico, uma empresa está
em falência se o valor dos seus bens
for inferior ao das suas dívidas e
responsabilidades. Do ponto de vista
legal, porém, só está insolvente se não
conseguir fazer os pagamentos de
forma atempada. Mas as SAD não são
empresas “normais”. Não são geridas
para dar lucro, mas para suportar as suas
equipas desportivas. Enquanto houver
dinheiro para contratar jogadores e pagar
salários, os seus acionistas (os clubes de
futebol como entidade são os acionistas
maioritários) não se importam de deixar
andar a situação. Assim se compreende
que já tenham ocorrido diversas falências
técnicas, sem consequências de maior.
O importante é a capacidade de obter
novos financiamentos, mantendo
boas relações com a banca e com os
investidores. Por exemplo, o Sporting
terminou as épocas 2013/2014
e 2015/2016 com capitais próprios
negativos. Mas, por estar a seguir
um plano de restruturação financeira
acordado com os principais credores
em 2013, não teve grandes consequências.
O que é o fairplay
2 financeiro?
A notícia do ano no futebol
veio de França, no começo
desta época. O Paris Saint-Germain
contratou o craque brasileiro Neymar
por uns exorbitantes 222 milhões de
euros. O clube é detido por um fundo de
investimento ligado ao governo do Qatar
desde 2011 e tem um historial de infração
das regras de fairplay financeiro (FFP)
da UEFA, à medida que investe fortemente
para tentar impor-se entre os outros
colossos do futebol europeu.
Essas regras, aprovadas em 2010,
são uma tentativa de garantir que o
futebol europeu é mais sustentável
financeiramente. E, ao mesmo tempo,
impedir concorrência desleal, como
um clube quase insolvente oferecer
salários que dificilmente pode suportar,
tirando um benefício desportivo da
irresponsabilidade financeira. O princípio
básico é que os clubes não devem gastar
mais do que ganham. Na sua forma inicial,
por cada período de três anos, os prejuízos
não podiam exceder os 5 milhões
de euros. Mas as regras foram sendo
aligeiradas. Passou a ser permitido aos
donos dos clubes injetarem até 30 milhões
de euros para cobrirem perdas (para o
mesmo período de três anos), e foram
isentas despesas com infraestruturas
e futebol jovem e feminino.
Vale a pena comprar
3 ações do meu clube?
Depende. Se está a comprar
por amor à camisola, e o
dinheiro em causa não lhe faz falta, vá
em frente. Mas, se deixar de parte as
razões do coração e pensar como um
investidor, é algo que desaconselhamos.
Os clubes tiveram ganhos escassos, e
os problemas financeiros das SAD são
crónicos. Como pode ver no gráfico da
página seguinte, nos últimos 10 anos, o
balanço em bolsa é francamente negativo,
com as ações das SAD do Sporting e do FC
Porto a perderem mais de metade do seu
valor, e as do Benfica a reterem pouco mais
280
milhões
receitas com
transferências de
jogadores dos três
grandes nacionais
equivaleram,
em 2016/2017,
a um Neymar
e um quarto
de metade do valor. Estas perdas excedem
claramente as do índice da Bolsa nacional,
o PSI-20, mesmo tendo este sofrido uma
perda pesada (-38,4%) no mesmo período.
Além da volatilidade das cotações, as
ações das SAD têm pouca liquidez, ou seja,
negoceiam pouco em Bolsa.
Qual é o clube mais rico
4 do mundo?
Depende do que se considera
“o mais rico”. O que tem mais
lucros? Mais receitas? Ou uma combinação
de vários fatores? Seja qual for o critério,
há duas coisas quase certas: perto do topo
estarão sempre o inglês Manchester United
e os rivais espanhóis Real Madrid
e Barcelona; e dificilmente encontrará
clubes que não joguem nas cinco grandes
ligas da Europa − Inglaterra, Espanha,
Alemanha, Itália e França. No estudo
“The European Elite 2017”, a consultora
KPMG calculou um “valor de empresa”
usando um modelo de avaliação baseado
sobretudo nas receitas, mas tendo em
conta parâmetros como a rentabilidade,
a popularidade ou o valor do plantel.
No 1.º lugar ficou o Manchester United
(3095 milhões de euros), ultrapassando
o Real Madrid (2976 milhões). Barcelona
e Bayern de Munique são os outros dois
clubes com um valor estimado acima
dos 2000 milhões de euros.
Entre os 32 clubes mais valiosos ficou
o Benfica (em 23.º, com 340 milhões de
euros). O FC Porto esteve dentro desse
grupo na edição anterior, mas não
conseguiu manter a posição.
O que distingue
5 os clubes de elite
europeus?
Há muitos fatores em jogo.
São clubes com um largo historial de
feitos desportivos, dentro e fora de portas,
com uma marca forte, que ultrapassa
o âmbito local. É possível ver coreanos,
chineses ou vietnamitas envergarem
as suas camisolas, apesar da grande
distância geográfica que os separa
dos principais campeonatos da Europa.
O Manchester United destaca-se como
janeiro/fevereiro 2018//D&D  37

Ações: 10 anos quase
sempre a descer
campeão das vendas de merchandising.
Por isso, este e outros clubes estão pouco
dependentes financeiramente de êxitos
desportivos ou de vendas de jogadores.
Mas também há fatores específicos.
Os clubes ingleses beneficiam das receitas
de transmissão televisiva mais elevadas,
e a sua liga é a mais popular em mercados-
-chave na Ásia e na América do Norte.
A liga espanhola está atrasada em
relação aos britânicos, ainda que tenha
receitas importantes em mercados
como a América Latina e o Médio Oriente.
Os clubes alemães têm elevadas receitas
internas − comerciais e de bilheteira−,
mas escassa atratividade internacional,
à exceção do Bayern de Munique.
Já os franceses estão em desvantagem:
têm uma tributação pesada, que dificulta
a competição pelos melhores jogadores, e
as receitas de transmissão televisiva mais
baixas das cinco principais ligas.
Quanto é que os clubes
ganham na Liga
6 dos Campeões?
Para a época 2017/2018,
a UEFA anunciou que,
do valor a distribuir pelos clubes
(cerca de 1260 milhões de euros),
aproximadamente 60% constituirão
prémios fixos em função do desempenho,
e 40% serão market pool. Os prémios
38  D&D//janeiro/fevereiro 2018
são atribuídos por vitória (ou empate)
e pelo avanço nas diferentes fases das
competições (sendo que a Liga Europa
tem prémios muito inferiores aos da Liga
dos Campeões). O market pool é a soma
atribuída por país, em proporção ao
valor do mercado televisivo das equipas
participantes (a partir da fase de grupos
da prova). Essa soma é depois dividida
pelos clubes: depende do número de
equipas participantes de cada país, da
classificação no campeonato doméstico
e do desempenho nas edições anteriores.
Fazendo as contas de 2016/2017,
o Benfica ganhou 31,5 milhões de euros
Liga dos Campeões:
quantos milhões
ganham os clubes?
Só pela presença 12,7
Por vitória (na fase de grupos) 1,5
Por empate (na fase de grupos) 0,5
Avançar para oitavos-de-final 6 Podemos insistir: e os jogadores da
Avançar para quartos-de-final 6,5
Avançar para meias-finais 7,5
Finalista (vencido) 11
Vencedor 15,5
Máximo 57,2
com os jogos e com o market pool da Liga
dos Campeões, o FC Porto 30,8 milhões
e o Sporting ficou-se pelos 21,4 milhões,
fruto da sua passagem para a outra
competição da UEFA, a Liga Europa,
que “oferece” valores mais modestos.
Como se financiam os
7 clubes? Quais as fontes
de receitas?
Estádios cheios? Qual quê!
Mesmo que as bancadas estivessem
lotadas em todos os jogos da época, a
receita não seria suficiente. Pelo menos,
para um clube com ambições europeias e
mundiais. As fontes podem dividir-se em
quatro grandes áreas. As que entram pela
via dos jogos, incluindo a bilheteira e os
serviços a empresas (como as entradas nas
bancadas VIP ou o arrendamento de salas
de reunião). As receitas comerciais, de que
são exemplo a chamada sponsorização,
o merchandising e as visitas ao estádio,
também são fonte importante de liquidez.
Por exemplo, o Barcelona registou receitas
apreciáveis de um concerto de Bruce
Springsteen, em maio de 2016.
E há que não esquecer a fatia de leão
destas contas: os direitos de transmissão
televisiva, e os prémios de participação
nas competições domésticas e da
UEFA. As receitas de jogos particulares
começam, também, a ocupar um espaço
importante: o Real Madrid, por exemplo,
realizou diversas tours lucrativas
pela Ásia. Pergunta bem, nesta fase:
e as transferências com que os media
nos bombardeiam todos os dias, em
agosto e em janeiro? As transações
de passes de jogadores podem ter,
em qualquer ano, um saldo positivo ou
negativo, e são muito voláteis. Ainda que
possam constituir grande parte dos lucros
de um clube-empresa, não são fonte
de receita recorrente.
formação em que os clubes investem
todos os anos e que vendem muito novos,
como Ronaldo ou os mais recentes
Gonçalo Guedes e Nélson Semedo?
Os lucros são ainda mais acentuados com
a venda dos jovens, pois eles não têm valor
contabilístico (até que os seus direitos
www.deco.proteste.pt

sejam transacionados). Ou seja: é como
se não existissem nas contas das SAD
dos clubes.
Com que empresas
8 se comparam os “três
grandes”?
O Benfica é a SAD que tem
o maior ativo. Considerando as últimas
contas anuais divulgadas (as SAD fecham
o exercício a 30 de junho), a sua dimensão
põe-no entre a SAG Gest (holding que
detém a distribuidora automóvel SIVA) e
a Sonae Capital. Já o FC Porto e o Sporting
têm uma dimensão relativamente
próxima, estando entre a Sonae Indústria
e a Media Capital.
PODE DEDUZIR NO IRS
25% DO DONATIVO
QUE FIZER AO SEU CLUBE.
DECLARE-O NO ANEXO H
DA DECLARAÇÃO
Qual é o “grande”
9 com as contas
em pior estado?
Mais uma vez, depende.
Se considerarmos o
endividamento e a capacidade de fazer
face à sua dívida a longo prazo, podemos
passar a bola ao Benfica, pois a sua dívida
financeira, mesmo após várias épocas
de sucessos desportivos, é o dobro da do
Sporting e uma vez e meia a do FC Porto.
Mas, se considerarmos a
sustentabilidade, verificamos que o
Benfica é o único dos três que está perto
de conseguir pagar as despesas anuais
de financiamento com os lucros das
operações, sem estar dependente das
vendas de jogadores (Sporting e FC Porto
têm prejuízos operacionais).
Há dois argumentos que pesam
“contra” o FC Porto. É o único que tem
os capitais próprios negativos: 68,806
www.deco.proteste.pt
milhões de euros. Este valor representa
um agravamento para mais do dobro em
relação ao do final da época anterior.
Por comparação, o Benfica regista
67,732 milhões e o Sporting 5,618 positivos.
Além disso, é atualmente o único clube
cujo desequilíbrio teve consequências
devido às regras de fairplay financeiro da
UEFA, nomeadamente uma multa e uma
redução no número de jogadores inscritos
em competições europeias.
Zuma Press/Fotobanco.pt
Quanto vale a
minha camisola
assinada pelo
Ronaldo?
Bem, depende muito de como a obteve.
Consegue provar que o artigo foi de
facto assinado pelo Cristiano Ronaldo?
Pesquisando em sites como o OLX,
encontra vendedores a pedir até
300 euros por camisolas alegadamente
assinadas pelo craque.
Porém, do ponto de vista de
investimento, um comprador avisado
deve ser cético em relação a este tipo
de artigos comprados a vendedores
anónimos na internet. Sem algo que
garanta a legitimidade do artigo, o seu
valor de revenda será sempre limitado
(ou pode mesmo estar a gastar dinheiro
numa falsificação). Pesquisando em
sites dedicados à venda de memorabilia
desportiva, que oferecem uma garantia
de autenticidade, os valores podem
ser muito mais elevados. Encontrámos
camisolas assinadas por CR7 entre 350
e quase 1000 euros.
D&D//MILHÕES NO FUTEBOL
Qual o valor das
transferências? Equivale
10 a quantos “Neymar”?
Na época 2016/2017, as receitas
com transferências
de jogadores dos três grandes, todas
somadas, equivalem a um Neymar
e um quarto, ou apenas a um Neymar,
se deduzirmos comissões e outros custos.
O total, em valor bruto, foi de mais
de 280 milhões de euros, ou de mais
de 221 milhões, depois de cobradas as
comissões. Ora, Neymar, nunca é demais
recordar, custou ao Paris Saint-Germain
a módica quantia de 222 milhões...
Tenho algum benefício
fiscal se fizer um
11 donativo ao meu clube?
Os clubes de futebol são
pessoas coletivas de direito
privado e utilidade pública, que se
dedicam à prática e ao desenvolvimento
de modalidades desportivas. Por isso,
25% dos donativos feitos pelos adeptos,
acrescidos da majoração de 20%
aplicada às entidades que se consagram
ao mecenato desportivo, são dedutíveis
no IRS. Declare-os no anexo H. Deve pedir
um comprovativo e guardá-lo durante
quatro anos.
É ainda possível fazer a chamada
consignação de imposto às fundações
ligadas aos emblemas dos “grandes”,
como a Fundação Sporting ou a Fundação
Benfica, por serem consideradas
instituições particulares de solidariedade
social (IPSS), ou pessoas coletivas de
utilidade pública. Ao entregar o modelo 3
do IRS, indique, no quadro 11, o número
de contribuinte da fundação e assinale
a opção “IRS”. Parte do seu IRS (0,5%),
que seria entregue ao Estado, reverte
a favor da fundação. Por exemplo, um
contribuinte com rendimentos mensais
de 1000 euros pode ter uma coleta
(representa o total de imposto a pagar,
antes de retiradas as deduções) de cerca
de 2000 euros. Sobre estes 2000 euros,
que iriam para o Estado, são retirados
os 0,5% (10 euros).
DOSSIÊ TÉCNICO André Gouveia
janeiro/fevereiro 2018//D&D  39
D&D//MULTIRRISCOS-CONDOMÍNIO

uard a-co sta s

Og ré d io
do nos so p
E se, num prédio, em vez de cada um ter um seguro multirriscos individual,
o condomínio optasse por uma apólice coletiva? Argumento de peso:
cada proprietário poupa, anualmente, 20 a 50 por cento
Texto Maria João Amorim

A
situação pode muito bem ser
esta: em caso de sinistro que afete
as áreas comuns de um prédio,
se cada condómino possuir
um seguro multirriscos individual, terão
de ser ativadas as apólices de todos os
proprietários para cobrir integralmente os
danos. Uma missão tanto mais exigente
quanto maior for o número de seguradoras
envolvidas. Cada condómino deve ativar o
seu seguro para pagar a parte da reparação
que lhe compete. Se o condomínio tivesse
optado por um seguro multirriscos
coletivo, a solução do problema passaria
por uma seguradora apenas, um só
perito e uma só dor de cabeça. Coletiva.
Uma vantagem que se torna ainda
mais evidente quando, feitas as contas,
os seguros multirriscos-condomínio
permitem poupar entre 20% e 50% no
preço, face ao conjunto dos vários seguros
individuais. O que se traduz num prémio
anual inferior por cada condómino.
O que cobrem? As paredes de cada
fração e as partes comuns do edifício,
como telhado, escadas e corredores,
entradas, elevadores, garagens e
arrecadações. É uma boa solução para
condomínios muito numerosos. Imagine-
-se que é necessário substituir o vidro da
porta de entrada do edifício: havendo um
seguro coletivo, evita-se que todos ativem
as apólices individuais.
Fomos ao mercado analisar as
condições e os preços de 19 apólices
para o condomínio, com base num
cenário (ver página 42) e identificamos
as Escolhas Acertadas – os seguros com a
melhor relação entre a qualidade e o preço
– e respetivas poupanças. As seguradoras
Generali, Popular Seguros, Liberty, Allianz
e Mútua dos Pescadores forneceram-
-nos informações detalhadas sobre este
produto. Para as restantes companhias,
recorremos a clientes mistério e
efetuámos simulações através das suas
páginas na internet. Spoiler: pelo menos
500 euros por ano podem não voar da
conta do seu condomínio (e indiretamente
também da sua, claro), face à média dos
preços praticados no mercado. Avaliámos
também a qualidade das apólices com
base nos limites de capital e nas franquias
(parte do prejuízo que é sempre suportada

40  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 D&D//MULTIRRISCOS-CONDOMÍNIO

pelo cliente) de um pacote de coberturas e
o preço a partir do cenário que definimos.
Só recomendamos seguros com qualidade
global mínima de 65 pontos num máximo
de 100. Sendo assim, só para esses é que
apresentamos prémios, como pode ver
no quadro abaixo.
Que diferença há entre
os seguros multirriscos-habitação
e condomínio?
As coberturas são idênticas, mas o
multirriscos-condomínio cobre apenas
as paredes do edifício, pelo que cada
proprietário deve subscrever uma apólice
individual para segurar os bens que
tem no interior da sua fração. De resto,
ambos os seguros partem da mesma Já tenho um seguro “colado”
base: apenas a cobertura de incêndio ao meu crédito à habitação...
é obrigatória. Mas a esta adicionam Quem conseguiu um spread reduzido
um conjunto alargado de coberturas em troca da subscrição dos seguros
cujo potencial interesse depende propostos pelo banco pode ver a prestação
das características e da localização subir, se desistir deste seguro para
de cada imóvel. Para avaliarmos e aderir ao do condomínio. A alteração é
fazermos uma comparação entre as considerada uma quebra das condições
apólices, selecionámos as coberturas do contrato, e há penalizações previstas.
mais relevantes. Além do incêndio, Nada como analisar as cláusulas do
incluem danos por água, furto ou roubo, contrato. O que não faz sentido é
responsabilidade civil extracontratual, subscrever os dois seguros... Para quem
tempestades, inundações, privação não estiver “amarrado” ao seguro
temporária da habitação (nem todas proposto pelo banco, faz sentido
as seguradoras a disponibilizam), aderir à apólice coletiva, dado que a
demolição de escombros, aluimento de sua parcela no prémio que todos vão
terras, danos estéticos, danos em bens pagar será, certamente, inferior ao valor
móveis do condomínio, e sismos. que despende atualmente.

TOP SEGUROS MULTIRRISCOS-CONDOMÍNIO
Seguradoras e produto Coberturas
Demolição e remoção

QUALIDADE GLOBAL
Privação temporária
do uso da habitação
civil extracontratual

Aluimento de terras
Responsabilidade

Danos estéticos
Danos por água

Furto ou roubo

de escombros
Tempestades

bens móveis
Inundações

Danos em
Tranquilidade Valor Mais B B B A A A C A B B 84
Fidelidade Plano 2 (sem franquia) B B B A A C C A B B 78
Generali Condomínio Protocolo DECO* B A A A A não tem C A C C 77
Zurich Condomínio B D B A A B C A B B 77
Tranquilidade Valor B B B B B A C B C B 77
Generali Condomínio B A C A A não tem C A C C 73
Popular Condomínio Plus B B A B B não tem C B B B 71
Mútua dos Pescadores Condomínio C A C A A C C A não tem C 68
Lusitania Condomínio Super C A C A A não tem D A D C 68
Liberty Condomínio C C C B B B C B B C 67
Fidelidade Plano 2 (franquia de € 250) B C B C C C C B C C 65
AGEAS Dominium Mais C A C C C C C C C C 62
Lusitania Condomínio Conforto C A C A A não tem D A não tem E 62
Popular Condomínio Base C B A B B não tem C B não tem não tem 60
Fidelidade Plano 1 B C C A A não tem C A não tem não tem 60
Allianz Condomínio C B C C C C E C D E 56
Tranquilidade Essencial C não tem C B B não tem C C não tem E 46
AGEAS Dominium não tem A C não tem não tem C C não tem não tem não tem 30
Lusitania Condomínio Essencial não tem não tem E A A não tem não tem não tem não tem não tem 26
* Para subscritores do Condomínio DECO+ Simulações em www.condominiodeco.pt Boa qualidade Média qualidade Má qualidade

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  41

D&D//MULTIRRISCOS-CONDOMÍNIO

pelas seguradoras. A Allianz, a Generali

Quanto custam os melhores seguros? e a Liberty exigem que metade dos
Edifício localizado em Lisboa, construído em 2002, com cinco pisos de duas frações cada, equipado proprietários deem o seu aval. É esta,
com dois elevadores, uma garagem coletiva e arrecadações individuais no sótão. Capital: € 1 500 000.
Prémios apresentados apenas para as apólices com boa Qualidade Global (acima de 65 pontos) aliás, a prática na maior parte das
seguradoras. A Popular exige 40 por cento.
Seguradora Prémio total sem Prémio total com
fenómenos sísmicos (€) fenómenos sísmicos (€) E os subscritores do serviço Condomínio
Tranquilidade Valor Mais 1 474,22 2 426,82 DECO+ que adiram ao nosso protocolo
Fidelidade Plano 2 (sem franquia) 1 456,56 2 218,64
com a Generali só necessitam que 25%
dos condóminos estejam de acordo.
F Generali Condomínio Protocolo DECO* 455,65 1 217,73
Havendo proprietários que não tenham
Zurich Condomínio 923,55 1 685,62 interesse, todos os anos o administrador
Tranquilidade Valor 1 229,48 2 182,08 deve exigir-lhes que provem a existência
Generali Condomínio 1 004,81 1 766,89 de uma apólice de seguro de incêndio
F Popular Condomínio Plus 496,78 1 258,86 válida, obrigatória por lei.
Mútua dos Pescadores Condomínio 1 107,83 1 859,90
Lusitania Condomínio Super 701,13 1 463,20
Como calcular o capital a segurar?
Liberty Condomínio 1 110,00 2 213,62
O capital seguro deve corresponder ao
Fidelidade Plano 2 (franquia de € 250) 1 280,11 2 042,19 montante de reconstrução do edifício
* Para subscritores do serviço Condomínio DECO+ F Escolha Acertada (materiais, mão-de-obra, etc). Não deverá
ter em conta o valor do terreno, visto que,
em caso de sinistro, este não se destrói.
ESCOLHA
ACERTADA A nossa seleção Por esse motivo, o valor de reconstrução
de um imóvel é, geralmente, inferior
Para os subscritores do serviço CondomínioDeco+, o seguro multirriscos- ao de mercado.
-condomínio da Generali é a Escolha Acertada para o cenário acima indicado, Para determinar o valor de
com ou sem cobertura de fenómenos sísmicos. Para os restantes, o título recai reconstrução, considere a área do imóvel
sobre o produto Popular Condomínio Plus. Poupanças calculadas face à média (geralmente, vem indicada no título
de preços praticados no mercado. constitutivo) e multiplique-a pelo preço
do metro quadrado correspondente à
SEM FENÓMENOS SÍSMICOS COM FENÓMENOS SÍSMICOS localização. A maioria das seguradoras
POUPE POUPE usa como referência os valores divulgados
€ 550 SUBSCRITORES € 614 SUBSCRITORES pela Associação Portuguesa dos Peritos
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a assembleia de condóminos deverão
POUPE POUPE decidir que capital segurar. Será este o
€ 509 NÃO SUBSCRITORES € 573 NÃO SUBSCRITORES valor máximo da indemnização a receber
ANO ANO
em caso de destruição total do imóvel.
POPULAR   71  POPULAR   71  Importante: se o capital contratado
Prémio anual  € 496,78 Prémio anual  € 1258,86 for inferior ao valor real do edifício, o
condomínio ou os proprietários afetados
terão de suportar parte de eventuais
Como passar do seguro uma antecedência mínima de 30 dias. prejuízos. Por exemplo: se o prédio tiver
individual para o do condomínio? Em alternativa, bastará não pagarem um valor de reconstrução de um milhão
A subscrição do seguro multirriscos- o prémio na data-limite, e o contrato é de euros e o condomínio subscrever o
-condomínio deve ser feita pelo automaticamente anulado. seguro por 700 mil euros, para poupar
administrador do prédio. Os no prémio, em caso de incêndio numa
condóminos vão aderindo à medida fração que provoque um dano de dez mil
que vencem as apólices individuais. No meu prédio há vários euros, a seguradora só paga sete mil euros.
Para esse efeito, deverão comunicar à condóminos que não querem Atenção às contas.
atual seguradora que não pretendem aderir. Todos têm de concordar?
renovar o multirriscos-habitação com Não, há uma adesão mínima definida DOSSIÊ TÉCNICO Sandra Justino

42  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt


Na validação
está o ganho
Ainda tem despesas pendentes no portal e-fatura?
Se não as validar até 15 de fevereiro, perde o benefício.
Siga todos os passos e otimize o seu reembolso em 2018
Texto Ana Santos Gomes
D
e nada adianta guardar todas
as faturas da farmácia num
magnífico dossiê de lombada
larga, ou numa caixa de
sapatos, ou até num amachucado saco
de plástico, se depois o Fisco não tem em
consideração estas despesas de saúde nas
suas deduções do IRS. E o mesmo é válido
para as faturas dos manuais escolares
do ano letivo em curso, que comprou
www.deco.proteste.pt
em setembro e que pode deduzir na
categoria de educação. Pode... se todas
as despesas estiverem devidamente
validadas. O que não acontece quando o
comerciante está registado nas Finanças
com mais do que um código de atividade,
podendo vender produtos ou serviços
que se encaixam em diferentes deduções.
É o caso dos supermercados, que vendem
refeições, mas também comercializam
D&D//E-FATURA
manuais escolares, bens da área da saúde
e produtos para o lar. Ou de um hospital
com cafetaria, que, além de prestar
serviços clínicos, vende refeições.
Na dúvida, o Fisco deixa a fatura pendente
e aguarda que o consumidor indique
no portal e-fatura a que setor diz respeito
a despesa.
Pendentes não entram nas contas
Concorde ou não com a exigência de ser
o consumidor a completar a informação
em falta, e mesmo que não lhe agrade
que a internet seja o único meio aceitável
para o fazer, tem de deitar mãos à obra
e efetuar os cliques necessários que
lhe podem garantir deduções fiscais
em 2018, quando entregar a declaração
de rendimentos referente a 2017.
Porque, se não o fizer até 15 de fevereiro,
as despesas podem não ser contabilizadas.
Entre, o quanto antes, no portal e-fatura
(https://faturas.portaldasfinancas.gov.pt)
e verifique se tem faturas pendentes.
Se for o caso, siga todos os passos que
indicamos nas páginas seguintes.
Não esqueça o benefício do IVA
E depois há a conta da oficina, em que
parte do IVA pode reverter a seu favor
quando o Estado acertar as contas
dos rendimentos de 2017. O mesmo
se aplica a despesas com alojamento,
restauração, cabeleireiros e institutos
de beleza, veterinários e passes mensais
de transportes públicos. O Fisco devolve
15% do IVA suportado com estas despesas,
até ao limite de 250 euros anuais por
cada contribuinte com rendimentos,
ou 335 euros para famílias monoparentais.
Mas, mais uma vez, só o faz se o interessado
validar a fatura.
DOSSIÊ TÉCNICO Ernesto Pinto
janeiro/fevereiro 2018//D&D  43
D&D//E-FATURA

VALIDE CORRETAMENTE AS FATURAS

Enquanto as despesas estiverem pendentes, o Fisco não as contabiliza. Logo, é preciso associar cada fatura ao respetivo setor
e beneficiar com deduções na saúde, educação, habitação, lares e despesas gerais. E ainda reaver parte do IVA suportado.

1
PEDIR A SENHA DE ACESSO
Só é possível consultar e inserir despesas
no portal e-fatura se dispuser de uma senha
de acesso ao Portal das Finanças. Na prática,
a mesma combinação é válida para os dois
portais e está associada ao número de
contribuinte. Se ainda não tem senha, entre
em www.portaldasfinancas.gov.pt e clique
em registar-me na página de entrada. O envio
é feito para o domicílio fiscal, por correio.
Em regra, demora menos de cinco dias úteis.

As senhas são individuais, o que obriga a pedir

uma para cada membro do agregado familiar,
incluindo as crianças. Se a sua senha já tiver
expirado, a alteração é feita de forma automática
e imediata no portal.

2
CONSULTAR DESPESAS
Entre no menu Despesas dedutíveis em
IRS na página inicial do portal e-fatura.
Clique no botão verde com a designação
Consumidor e insira a chave
de acesso.

No ecrã seguinte, encontra o valor que já

acumulou em despesas associadas ao seu
número de contribuinte, setor a setor.

É possível que tenha já acumulado 250 euros

em Despesas Gerais Familiares.
Isso significa que atingiu o máximo de dedução
nesta categoria e que não vale a pena
preocupar-se mais, durante este ano, com faturas
do supermercado, telecomunicações ou
qualquer outra despesa que não encaixe
nas categorias de saúde, educação, lares
e habitação.

Em conjunto, um casal pode deduzir até

500 euros (250 euros por cada membro).
Nas famílias monoparentais, o limite sobe
para 335 euros. O número de filhos não tem
qualquer influência nestes limites.

44  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

 3
ASSOCIAR O SETOR DA DESPESA
Caso o portal lhe dê a indicação de que
tem faturas pendentes, clique no botão
Complementar Informação Faturas.

Aí, será confrontado com despesas inseridas por

comerciantes que dispõem de múltiplas atividades,
o que leva o Fisco a perguntar a que setor se refere
cada uma das despesas. Se não reconhecer o nome
do estabelecimento, nem se recordar dos gastos que
efetuou na data indicada, tente pesquisar com um motor
de busca qual a designação comercial ou a morada
daquela empresa.

Caso se engane a associar o setor ou ainda se detetar

que alguma fatura foi assoaciada ao setor errado, pode
selecioná-la e clicar em Alterar.

4
ASSOCIAR RECEITA MÉDICA
Se o portal lhe indica que tem faturas que
incluem despesas de saúde sujeitas à taxa
normal de IVA sem associação de receita médica,
clique em Associar receita e consulte as despesas
listadas. Se dispõe de receita médica que justifique
algum desses encargos, assinale Sim na resposta
à questão Tenho receita.

Como é possível que a despesa inclua outras compras

além dos produtos prescritos, indique o valor coberto
pela receita. No caso de todo o gasto estar coberto,
copie o total.

5
INSERIR OUTRAS DESPESAS
Se detetou a ausência de alguma despesa, pode
inseri-la manualmente. Entre no menu Faturas e
clique em Registar Faturas. Depois, preencha
os campos em falta: número de contribuinte do
comerciante, tipo e número de fatura, data de emissão,
taxa de IVA e base tributável (valor sem IVA). Mas não
se precipite. Os comerciantes e prestadores de
serviços têm até ao dia 20 do mês seguinte à emissão
da fatura para lançarem as despesas no sistema.

Por isso, aguarde até ao fim desse prazo para efetuar

inserções manuais. E não se esqueça de que as taxas
moderadoras, as propinas, os juros do crédito
à habitação e os encargos com seguros só entram
no sistema entre 15 de fevereiro e 15 de março.

www.deco.proteste.pt janeiro/fevereiro 2018//D&D  45

 SEM
RECURSO
IMPUGNAÇÃO DE PATERNIDADE
Quem é o pai
da criança?
Abílio deu entrada a uma ação contra Ilda
e o marido desta, Luís, pedindo ao tribunal
que declarasse que o último não era o pai
biológico de Vasco. Pretendia que o rapaz
fosse reconhecido e declarado seu filho e,
consequentemente, que o seu apelido fosse
alterado para Pereira. Por isso, solicitou
a anulação do registo de paternidade
que constava do assento de nascimento
de Vasco e o cancelamento da referência
aos avós paternos e do apelido Gomes,
que a criança usava.
Ilda e Luís questionaram o motivo
da ação e o tribunal pediu a Abílio
que esclarecesse por que razão
iniciara a ação, dado não ser o marido
de Ilda. Isto porque a lei só admite que
a impugnação da paternidade seja feita
de forma direta e autónoma pelos membros
da família (mãe, marido e filho) e não por
terceiros, como Abílio, mesmo que aleguem
serem os progenitores.
Abílio ainda defendeu a sua legitimidade
para levar o caso a tribunal, baseando-se
ESTACIONAMENTO EM CONDOMÍNIO
Os lugares da discórdia
Desagradada com o facto de os vizinhos
Joana e Simplício estacionarem o carro no
n.º 48 da cave 1 do prédio onde residiam,
em Lisboa − lugar que considerava seu −,
Maria Francisca instaurou um procedimento
cautelar. Pediu que deixassem de
estacionar no local e que pagassem,
no mínimo, 150 euros por cada dia de atraso
no cumprimento da providência.
Os vizinhos contestaram. Afirmaram que,
quando compraram a fração, seguiram
as indicações da planta promocional,
que atribuía o lugar 48 a Maria Francisca
46  D&D//janeiro/fevereiro 2018
veja como os tribunais decidiram num caso como o seu
em alguns princípios da Constituição,
concretamente os que aludem ao direito
à identidade biológica e/ou verdade
genética e ao princípio da proibição
de discriminação de filhos nascidos fora
do casamento. Porém, o tribunal entendeu
que não tinha legitimidade para avançar
com a ação e não lhe deu razão.
Inconformado, Abílio interpôs recurso
direto (admissível neste caso) para o
Supremo Tribunal de Justiça, que acabou
e o 51 ao casal. Contudo, posteriormente,
os condóminos constataram haver uma
discrepância em relação às telas finais
aprovadas pela câmara municipal. Afinal,
o lugar 51 pertencia a outro vizinho,
que o exigiu, e o 48 da cave 1 ao casal.
O estacionamento de Maria Francisca era
o 48, mas da cave 2. Perante isto, o tribunal
discordou do pedido de providência
cautelar. Entendeu que os indícios
apontavam para que o n.º 48 da cave 1
fosse mesmo de Joana e de Simplício.
Maria Francisca recorreu para a Relação de
Lisboa, alegando que a planta promocional
provava que aquele lugar lhe pertencia.
A Relação não lhe deu razão e confirmou
Paulo Buchinho
por confirmar a sentença da primeira
instância. Com esta limitação legal,
pretende-se salvaguardar outros direitos,
como a proteção da família constituída,
nomeadamente a tranquilidade e a
paz familiar conjugal. Assim, apenas
os membros diretos da família têm
legitimidade para intentarem uma ação
desta natureza. Abílio era estranho à
família e não o poderia fazer diretamente.
Caso quisesse ver reconhecida a sua
a decisão da primeira instância,
considerando que a planta promocional
jamais poderia substituir-se ao título
constitutivo. Além disso, aquele documento
continha erros que impossibilitavam a
identificação exata dos lugares, uma
situação que deveria ter sido corrigida
pelos condóminos. Por outro lado, Maria
Francisca não conseguiu provar que a
ocupação do lugar por Joana e Simplício lhe
causava lesão grave e irreparável, condição
essencial para decretar uma providência
cautelar. Enquanto isso, o n.º 48 da cave 2
estava livre e disponível.
●●Tribunal da Relação de Lisboa,
21/09/2017
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 suposta paternidade, teria de recorrer ao
Ministério Público para que este avançasse
com o processo. Mas só se a viabilidade
do pedido fosse previamente reconhecida,
ou seja, se justificasse as razões do seu
pedido, comprovando, por exemplo, que
na data provável de conceção de Vasco
mantinha uma relação amorosa com Ilda.
●●Supremo Tribunal de Justiça, 12/09/2017
A NOSSA ESPECIALISTA
Sofia Lima, jurista
COMENTÁRIO D&D
A lei parte do princípio de que um filho
nascido durante o casamento tem como
pai o marido da mãe. É o que se designa de
paternidade presumida. Essa paternidade
só pode ser posta em causa de forma
direta e autónoma pela mãe da criança,
pelo marido, pelo filho ou pelo Ministério
Público, mas, no último caso, a pedido de
alguém que declare ser o pai da criança e
se o pedido for reconhecido pelo tribunal.
Neste caso, o suposto pai biológico
poderia pedir que lhe fosse reconhecida
a paternidade, embora só pudesse exercer
esse direito através do Ministério Público.
COMENTÁRIO D&D
Sofia Lima, jurista
Para requerer uma providência cautelar,
como Maria Francisca fez, é necessário
demonstrar que a conduta que se
pretende evitar provoca uma lesão
grave e dificilmente reparável. Ora, nesta
situação, isso esteve longe de acontecer,
até porque Maria Francisca tinha um lugar
disponível na cave 2. Além disso, o título
constitutivo do edifício não permitia
saber com exatidão se Maria Francisca
era realmente a proprietária do lugar
de garagem ocupado pelos vizinhos
Joana e Simplício.
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ADULTÉRIO
Marido e amante agridem mulher
Rodolfo e Ema mantinham um
relacionamento amoroso, a que Ema,
casada, pôs fim no final de 2014.
Inconformado, Rodolfo começou a
persegui-la diariamente: vigiava-a
de carro, telefonava e enviava SMS
intimidatórios. Em junho de 2015, forçou
a entrada no carro de Ema e exigiu
o recomeço da relação. Perante a
recusa, telefonou a Carlos, marido de
Ema, para que este fosse ter com eles.
Ema tentou fugir, mas Rodolfo impediu-a,
provocando-lhe escoriações no corpo.
Entretanto, Carlos apareceu com uma
moca e bateu na cabeça e no corpo
de Ema, enquanto Rodolfo a agarrava.
Ema conseguiu fugir, mas ficou com
o rosto e o corpo cheio de escoriações
e hematomas.
Na sequência destes atos, Carlos foi
condenado pela prática de dois crimes:
de violência doméstica, a um ano e três
meses de prisão, com pena suspensa
por igual período, e mediante a condição
de não ter contacto com Ema; e de
detenção de arma proibida, a 250
dias de multa, à taxa diária de 7 euros,
num total de 1750 euros. Já Rodolfo foi
condenado pela prática do crime de
violência doméstica, a um ano de prisão
suspensa por igual período, durante
o qual também não poderia contactar
Ema. Ficaram ainda provados os crimes
de perturbação da vida privada, injúrias,
ofensa à integridade física simples
e sequestro. Foi atribuída a Rodolfo
uma pena única de 580 dias de multa,
à taxa diária de 6 euros, totalizando
3480 euros. E este teve também
de indemnizar Ema em 3500 euros.
Carlos e Rodolfo conformaram-se
com a sentença, mas o Ministério Público
recorreu para a Relação do Porto por
considerar que as penas não refletiam
a gravidade dos factos e o grau de
culpa dos dois homens, especialmente
do marido de Ema. Mas a Relação
confirmou a decisão. Mais: desvalorizou
a atuação de Carlos por esta ter
acontecido na sequência de um
adultério, ato que a Relação classificou
de “gravíssimo atendendo à honra e
dignidade do homem”, citando textos
bíblicos e exemplos de sociedades
onde, ainda hoje, a mulher adúltera
é alvo de lapidação até à morte.
A Relação relembrou que a sociedade
sempre condenou o adultério feminino,
atenuando, desta forma, a violência
praticada por Carlos, o marido traído
e humilhado.
●●Tribunal da Relação do Porto,
11 /10/2017
O TRIBUNAL ATENUOU
OS CRIMES DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA COM O
ARGUMENTO DE A VÍTIMA
SER ADÚLTERA
COMENTÁRIO D&D
Sofia Lima, jurista
Este acórdão foi muito divulgado
e debatido publicamente, por recorrer
a textos da Bíblia, a atos praticados em
países em vias de desenvolvimento
e ao código penal de 1886, que não está
sequer em vigor. Sem pôr em causa
o acórdão e a independência dos
tribunais, que apenas estão sujeitos
à lei, não deixa de causar estranheza
a fundamentação usada. O Conselho
Superior de Magistratura instaurou
um processo disciplinar aos juízes
signatários do acórdão, mas não pode
alterá-lo. Tal só pode ser decidido por
um tribunal superior.
janeiro/fevereiro 2018//D&D  47
 LIVRO DE
RECLAMAÇÕES
ASSISTÊNCIA A FILHOS
Faltas ao trabalho
até 30 dias
A nossa leitora Marta Pinto, de Vila Nova
de Gaia, estava de férias quando o filho, de
13 anos, adoeceu, sendo-lhe diagnosticada
artrite reumatoide juvenil. Após as férias,
Marta pediu baixa por assistência ao filho,
MAILBOX
GRÁVIDAS COM PRIORIDADE,
MAS POUCO!
Estou grávida, mas, num serviço público
com máquina para tirar senhas sem opção de
prioridade, tive de esperar na fila. A funcionária
respondeu-me que era uma questão de
educação de quem estava na fila ceder-me
a passagem. O que posso fazer nestes casos?
Paula Montez, via Facebook
48  D&D//janeiro/fevereiro 2018
histórias, dúvidas e testemunhos dos nossos le
durante 15 dias. Mas o tempo não foi
suficiente, uma vez que o jovem dependia
da mãe para tudo até o tratamento começar
a fazer efeito. Marta perguntou-nos o que
poderia fazer para continuar a acompanhar
Comentário D&D
Mesmo não havendo senha disponível,
deveria ter-se dirigido à funcionária
que estava no atendimento e pedido
prioridade.
Já se a lei for desrespeitada pelos serviços
públicos, ou pelas empresas, deve solicitar
a presença de uma autoridade
ou então apresentar queixa.
o menor, considerando que estava
em causa uma doença crónica.
Nuno Carvalho
Jurista
COMENTÁRIO D&D
Quando os filhos sofrem de deficiência ou
doença crónica, os pais têm a possibilidade
de gozar uma licença durante seis meses,
que pode ser renovada até quatro anos,
para lhes prestarem assistência. Como o
filho da nossa leitora tem mais de 11 anos,
é obrigatório que o médico ateste a doença
crónica, bem como a necessidade de
prestar assistência ao jovem.
Durante a licença, o trabalhador tem
direito a um subsídio correspondente a
65% da remuneração de referência, até ao
dobro do valor do indexante dos apoios
sociais (IAS). Ou seja, uma vez que em
2017, o IAS era de 421,32 euros, o subsídio
mensal não pode ser superior a 842,64
euros. Mas, para tal, Marta é obrigada
a demonstrar que o filho sofre de uma
doença crónica. Não pode ficar numa
situação de baixa para assistir um filho
com uma doença ocasional.
Refira-se ainda que, em cada ano, os
trabalhadores têm a possibilidade de faltar
30 dias para prestarem assistência aos
filhos menores de 12 anos. A partir dessa
idade, a mãe ou o pai podem faltar até
SELO DA INSPEÇÃO FORA DO VIDRO
Fui com o meu carro à inspeção e o técnico
disse-me que já não é preciso afixar o selo
de aprovação no vidro. É mesmo assim?
F.N., de Lisboa, via Facebook
Comentário D&D
Foi bem informada. A colocação da
vinheta no vidro deixou de ser obrigatória.
www.deco.proteste.pt

eitores
15 dias. Já se o filho estiver hospitalizado,
não há limite de faltas. Durante
estas ausências, também têm direito
a um subsídio correspondente a 65%
da remuneração de referência.
SEGURO DE BILHETEIRA
Reembolso só com atestado
médico válido
O nosso leitor Paulo Cruz comprou dois
bilhetes para um concerto infantil numa loja
Fnac, na cidade de Lisboa. Infelizmente,
a criança ficou doente e a família não
pôde assistir ao espetáculo. Paulo acionou
o seguro de bilheteira, da AIG, que tinha
contratado.
O hospital privado onde a criança foi
assistida passou um atestado para a creche,
que o leitor usou também para justificar
o reembolso dos bilhetes.
Enviou a documentação para a
seguradora, mas esta rejeitou e pediu
um atestado assinado e com a vinheta
médica, que estavam ausentes no primeiro
documento.
Paulo reenviou a cópia do mesmo
atestado para a seguradora, pois tinha
o nome do médico e o código de barras
do hospital, mas a AIG recusou novamente.
Paulo contactou-nos, então, para saber se o
argumento apresentado pela AIG
era válido.
Agora, basta exibir a ficha da inspeção
do veículo quando as autoridades
a solicitarem.
Se o condutor não apresentar o
comprovativo, pode ser sancionado
com uma coima entre 60 e 300 euros, a
menos que o entregue no prazo de oito dias.
Nesse caso, a coima é reduzida para metade
e vai de 30 a 150 euros.
www.deco.proteste.pt
COMENTÁRIO D&D
Sandra Silva, jurista
O documento que Paulo enviou era válido.
Só quando o médico passa um atestado
fora do hospital onde presta serviços é
que tem de colar a sua vinheta. Se o fizer
enquanto trabalhador de uma unidade
hospitalar, o documento só precisa da
vinheta do estabelecimento de saúde,
que é eletrónica e sob a forma de código
de barras.
OS ATESTADOS SÓ
PRECISAM DA VINHETA
DO MÉDICO QUANDO
ESTE TRABALHA
NUM CONSULTÓRIO
Era precisamente o que constava do
atestado do nosso leitor. Por isso, não se
justificava outra vinheta. A única questão
que poderia ser levantada pela AIG era
o reembolso apenas do bilhete da criança,
uma vez que só esta ficou doente. Mas a
seguradora insistiu que a documentação
não cumpria os requisitos e que, dessa
forma, não iria proceder ao reembolso,
encerrando o processo. No entanto,
DICA
As grávidas
estão abrangidas
pela prioridade
no atendimento
ao público.
Envie os seus comentários para
correioleitores@deco.proteste.pt
disponibilizou-se para reabrir o caso
se Paulo apresentasse a documentação
correta. Mas o nosso leitor acabou por
desistir, abdicando do valor dos bilhetes.
ARRANJO AUTOMÓVEL
Ageas demora
a desbloquear pagamento
No início deste ano, André Rodrigues,
filho do nosso associado Horácio
Rodrigues, do Funchal, teve um acidente
de viação sem culpa, e o carro ficou em
tão mau estado que a seguradora Ageas
propôs uma indemnização por perda
total. André não aceitou, por considerar
a indemnização inferior ao valor real
do carro. Exigiu a reparação da viatura
para que fossem repostas as condições
anteriores ao acidente, a menos que o
veículo fosse substituído por um idêntico.
Depois de uma fase de desacordo com a
companhia relativamente aos valores, esta
lá aceitou a proposta, e o carro seguiu para
reparação. Contudo, terminado o arranjo,
a seguradora tardava em desbloquear
a verba para pagar à oficina, que não
disponibilizava o veículo, com todos os
inconvenientes que a situação acarretava
a André, pois necessitava do automóvel
para trabalhar. Perante o impasse, o nosso
associado perguntou-nos o que fazer.
COMENTÁRIO D&D
Rosalina Loureiro, jurista
Depois da nossa intervenção, a Ageas
acabou por desbloquear a situação
e, em maio, pagou o arranjo à oficina.
O filho do nosso associado pôde,
finalmente, recuperar o carro.
Em situações de conflito, o consumidor
pode também recorrer ao Centro de
Informação, Mediação, Provedoria e
Arbitragem de Seguros (CIMPAS), entidade
com competência para a resolução
de litígios nesta área.
janeiro/fevereiro 2018//D&D  49
 CONSUMIDORES
COMO NÓS

É o primeiro de uma série de entrevistados conhecidos do público a apresentar

a sua faceta de consumidor. Nome incontornável do humor em Portugal,
Ricardo Araújo Pereira desabafa sobre conflitos com seguradoras
Entrevista Filipa Nunes & Ricardo Nabais
Fotografia 4see/Paulo Alexandre Coelho

“Reclamar
dá trabalho.
Os trafulhas
acabam por se
valer da minha
preguiça”

Qual prefere: o livro
de reclamações ou o livro
de elogios?
O de elogios, claro. Suponho que toda
a gente prefira esse. Nunca tive motivo
para usar o de reclamações. Acho que sou
sempre muito bem tratado. Ou achava,
até ter ido jantar com o Fernando Mendes
[o famoso ator e apresentador de televisão].
O Fernando Mendes é mais bem tratado do
que o Presidente da República. E merece.
Alguma vez ameaçou alguém
que iria fazer queixa à DECO?
Qual foi o resultado?
Nunca. Mas imagino que assuste.
Qual o seu pior pesadelo
de consumo?
Comprar uma coisa que não funciona.
Já me tem acontecido. O produto
é novinho em folha e encontra-se
em perfeitas condições. Tirando
o facto de não funcionar. Irrita um
bocadinho.
Já recorreu a algum serviço
nosso? Se não, em que situações
poderia recorrer?
Nunca recorri. Quando tenho razões
para recorrer, os trafulhas acabam por
se valer da minha preguiça. Reclamar dá
trabalho. Quando percebo que comprei
gato por lebre, em lugar de recorrer

50  D&D//janeiro/fevereiro 2018 www.deco.proteste.pt

à DECO, costumo deitar-me no chão DINHEIRO & DIREITOS
em posição fetal durante uma boa meia DECO PROTESTE, Editores, Lda.
Proprietária, Editora e Redação
hora. Não resolve a injustiça, mas alivia Av. Eng.º Arantes e Oliveira, n.º 13, Olaias,
qualquer coisa. 1900-221 Lisboa
Conselho de Gerência
O consumidor tem sempre razão? Armand De Wasch, Crescenzo Passaro, Daniel Stons,
Jorge Cancela, Luís Silveira Rodrigues, Vasco Colaço
Nem sempre. Já testemunhei ocasiões Capital Social
em que o consumidor, apesar da DECO - Associação Portuguesa
intensidade do protesto, não tinha razão para a Defesa do Consumidor (25%)
Presidente Vasco Colaço
nenhuma. Uma vez, fizemos uma rábula
Euroconsumers (75%)
vagamente inspirada numa dessas
Presidente Daniel Stons
situações, sobre um cidadão que reclamava
Presidente da Comissão Nacional
por causa de uma salada que trazia apenas e Representante Legal
um nico de tomate. “Nico de tomate” foi QUEIXA DE Nuno Fortes
Diretora e Editora de Publicações
uma expressão que o consumidor em causa
nos ofereceu.
SALADA QUE Cláudia Maia
SÓ TRAZIA UM Registo de pessoa coletiva 502 611 529
Registo da Editora 215 705
Qual é o estudo NICO DE TOMATE Registo na ERC 118 048
que nos falta fazer? INSPIROU ISSN 0873-8807
Já fizeram algum sobre seguradoras?
Talvez se possa organizar um campeonato
UMA RÁBULA Depósito legal 93633/95
Tiragem 357 000 exemplares
das desculpas mais insidiosas para não DOS GATO Execução gráfica/Distribuição
pagar indemnizações. FEDORENTO Capa: Hélder Oliveira
Fotografia: 4See/Fernando Piçarra, Paulo A. Coelho;
José Pedro Tomaz; Shutterstock; Thinkstock
Impressão: Sogapal, Comércio e Indústria de Artes
BIOGRAFIA RÁPIDA Gráficas, S.A.
Arrancamos, desta forma, uma série Estrada de São Marcos, n.º 27,
2735-521 Agualva-Cacém.
de entrevistas com figuras nacionais
Distribuição: Urbanos Press, Rua 1.º de Maio,
conhecidas do grande público. O objetivo Centro Empresarial da Granja, Junqueira,
é revelar mais sobre as suas facetas 2625-717 Vialonga.
e conflitos enquanto consumidores, Estatuto editorial
www.deco.proteste.pt/estatuto-editorial
em seis perguntas rápidas. A entrevista
está também publicada em vídeo no UTILIZAÇÃO PARA FINS COMERCIAIS
nosso canal no YouTube. Ricardo Araújo A DECO PROTESTE proíbe a reprodução
Pereira é conhecido por todos como “Gato e a citação dos seus artigos, bem como a referência
ao nome da editora e às publicações
Fedorento”, grupo humorístico que fundou (PROTESTE, DINHEIRO&DIREITOS, TESTE SAÚDE,
com Miguel Góis, José Diogo Quintela PROTESTE INVESTE e guias práticos) com fins
comerciais. A utilização, com o mesmo fim, das
e Tiago Dores, em 2003. Começou a sua designações “Escolha Acertada” e “Melhor do Teste”
carreira como jornalista no Jornal de Letras apenas é autorizada nas condições previstas
em www.deco.proteste.pt/selos.
e é guionista desde 1998. Divide-se entre
crónicas em publicações, participações
em programas de rádio, e coordenação COTIZAÇÃO DE ACORDO Trimestral (2) Anual
COM A SUBSCRIÇÃO (1)
e escrita de literatura de humor. PROTESTE 11
edições anuais € 27,00 € 108,00
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6 edições anuais
PROTESTE + DINHEIRO&DIREITOS € 31,95 € 127,80
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VEJA A ENTREVISTA COMPLETA EM TESTE SAÚDE 6 edições anuais € 10,65 € 42,60
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MENSAL 48 edições anuais € 61,20 € 244,80
(1) As revistas avulsas são vendidas ao preço de capa. (2) Só por
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