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RESENHA

FOLZ, Rosana Rita. Mobiliário na Habitação


Popular - Discussões de alternativas para
melhoria da habitabilidade. São Carlos:
RiMa, 2003. 196p.

Denise Adell Ao analisar o interior residencial e o mobili- urbana básica criaram as bases para importan-
ário doméstico da moradia popular urbana, Ao- tes mudanças na moradia operária. Do ponto de
Recém-graduada sana Rita Folz apresenta em seu livro Mobiliário vista da estrutura e da planta da residência das
em Sociologia e na Habitação Popular uma abordagem que, par- classes populares, no entanto, as transforma-
Política/FESP-SP tindo de um estudo de caso, revela-se bastan- ções se resumiram, principalmente, à junção das
te abrangente .. A atenção dada à residência da áreas da sala a da cozinha e ao fenômeno da cres-
classe trabalhadora resulta em um estudo que le- cente compartimentação dos espaços da casa.
vanta importantes discussões sobre o problema No interior dos cortiços e vilas operárias brasi-
habitacional, uma carência estrutural básica da leiras, afirma Folz, a classe trabalhadora tentava
sociedade brasileira. Contribuindo para o desen- reproduzir o modelo de moradia da elite, mesmo
volvimento de temas ainda pouco explorados na com suas restritas condições econômicas. No
academia, a autora fornece informações e ques- entanto, ao contrário das residências burguesas,
tionamentos que vão muito além de seu campo que valorizavam a área social da sala, a mora-
de estudo específico - a arquitetura e o design dia popular se voltava para as ruas e jardins, que
industrial - e que certamente serão de interesse eram utilizados como espaços de sociabilização.
de muitas outras áreas de estudo. O capítulo inicial destaca ainda, a participa-
Partindo das origens das primeiras crises ha- ção do poder público a partir da década de 1930
bitacionais vividas pela população trabalhadora na produção em massa das moradias populares,
nas cidades européias no início do século XIX, a até então realizada pela iniciativa privada. Espe-
autora aborda o processo do crescimento urba- cial ênfase é dada para a criação do Banco Na-
no-industrial que resultou no afastamento dos cional da Habitação CBNHl, após o golpe militar
moradores dos cortiços e vilas operárias para as em 1964, iniciando assim uma nova fase para a
regiões periféricas das grandes cidades. O estu- habitação popular, que deixava de ser construída
do de Folz mostra como de forma muito seme- para locação e passava a ser vendida. Adotou-se
1 No governo Lula, lhante este processo ocorreu no Brasil no final do também, um padrão mais conservador com ên-
com a criação do Ministério
das Cidades, este processo século XIX e início do século XX, quando a questão fase no espaço privado. Em 19B6 o BNH foi ex-
começou a ser alterado no-
da habitação operária passou a fazer parte do tinto, o que desestruturou a política habitacional
vamente.
cenário nacional. no país. Desde então, o Estado, em nível federal,
2 Para arquitetos como
tem se isentado da responsabilidade de financiar
Le Corbusier, Pierre Jeanne- A evolução das técnicas de construção e a
ret, entre outros, a "habita- crescente implantação de uma infra-estrutura qualquer programa habitacional, que passou a de-
ção mí[lima" implicava na
estandardização, industriali-
pender de eventuais ações das administrações
zação e taylorização de todos municipais e estaduais. 1 Porém, as iniciativas es-
os elementos constitutivos
da moradia. Para tais auto- porádicas e desarticuladas dos municípios e es-
res, a "habitação mínima"
não se baseava apenas na
tados não foram minimamente suficientes para
sua pequena área, compo- sanar o problema da habitação.
sição e preço, mas sim num
novo modo de vida para as
A questão da "habitação mínima", a partir dos
classes populares. Cada habi- anos 30, também é abordada pela autora. 2 As
tante deveria ter seu próprio
quarto, mesmo que muito discussões sobre alternativas para um melhor
pequeno, a cozinha deveria
ser concebida para simpli-
aproveitamento do espaço, bem como do mobi-
ficar o trabalho doméstico. liário adequado para casas de dimensões redu-
A mobília, que não deveria
imitar o mobiliário burguês,
zidas, influenciaram as ações de engenheiros e
seria de manutenção simples arquitetos. Baseados em preceitos de higiene e
e proporcionaria condições
de vida higiênicas. moral, estes passaram a pensar na organização
3 Para uma interes-'
do espaço da casa como um recurso de interfe-
sante análise deste processo rência nos costumes e hábitos da população tra-
ver CORREIA, Teima de Bar-
ros. (2004), A construção do lhadora. 3
habitat moderno no Brasil O estudo do interior da habitação popular é
- 1870-1950. São Carlos:
RiMa. um dos aspectos inovadores da análise de Folz. A
partir de uma breve retrospectiva histórica, o lei-
tor é informado das principais correntes de esti-
los e de pensamento de projetos para o mobiliário
REVISTA TRÊS ( • • • ) PONTOS C E N T R O A C A O ÊM I C O O E C I Ê N C 1A S s O c 1A 1s

doméstico e seu design. mínima.


No final do século XIX começava a se· desen- Desta forma, a autora descreve três manei-
volver a produção nacional de móveis economica- ras de se pensar a produção e inserção do mobi-
mente mais acessíveis, permitindo que a classe liário na habitação popular. A primeira é o móvel
trabalhadora adquirisse tais produtos. De acordo popular, produzido industrialmente sem design e
com a autora, "vale destacar três exemplos de sem relação com a casa. A segunda é a auto-
móveis populares que se tornaram 'clássicos' e construção racionalizada, quando há uma certa
transcenderam ao tempo, atendendo muito bem participação do morador no processo produtivo
a sua função: a rede, a cadeira de taboa e a 'cama do móvel, que buscaria adaptá-lo a um ambiente
patente"' (p. 66). O livro apresenta também um já construído. Por fim, o móvel fabricado especifi-
panorama d'a estrutura industrial moveleira no camente para o espaço domiciliar, quando haveria
Brasil desde meados do século XX até os dias uma integração entre o projeto da planta da casa
atuais. e a concepção do móvel utilizando-se o design.
A autora aponta para a necessidade do inves- O livro apresenta diversos exemplos destas di-
timento no design e do uso de novas tecnologias ferentes relações entre o mobiliário e a moradia
no país. Neste sentido, observa-se uma demanda popular, em particular, projetos como o Conjunto
cada vez maior pela produção de móveis do tipo Habitacional Zezinho Magalhães Prado, as Coo-
modulado, dada a redução generalizada dos espa- perativas Habitacionais Bandeirantes, Tibiriçá,
ços residenciais, uma das características da vida União Sindical.
urbana contemporânea. O conceito de modulação, Folz nos mostra ainda como as transforma-
inicialmente aplicado apenas à área da cozinha, ções da sociedade industrial desestruturaram
passa a ser aplicado em móveis para dormitórios uma certa ordem simbólica de relações entre ob-
e salas de estar. A flexibilidade oferecida por suas jetos e seus proprietários. A produção de móveis·
dimensões reduzidas e padronizadas, além de em série não personificaria nenhuma relação hu-
possibilitar ao consumidor a compra de móveis mana, tendo "liberado o indivíduo da carga moral
por partes (economicamente mais acessível), e e da ligação· familiar que os móveis traziam con-
uma combinação destas partes de certa forma sigo" (p.147l. Aponta então, para a necessidade
personalizada, torna-os mais facilmente adaptá- da produção de móveis não seriados, através de
veis às dimensões do espaço disponível. 4 métodos como a autoconstrução e o trabalho co-
Apesar disso, observa a arquiteta, houve, operativo. Estes representariam maneiras alter-
historicamente, uma desvinculação do design do nativas à produção capitalista e valorizariam sim-
móvel da classe popular da realidade das suas ca- bolicamente os objetos, também reduzindo seu
sas. O setor produtivo responsável por atender a custo final. Assim, resume a autora, três fatores
esta classe visaria essencialmente uma produção seriam fundamentais para o desenvolvimento de
de baixo custo, sem preocupação com a inserção diretrizes para a elaboração de um projeto novo
deste no espaço habitacional. "O desconhecimen- e integrado de casa e móvel para a população de
to do que o design abrange leva os industriais a baixa renda: flexibilidade, modulação e multifun-
considerá-lo algo dispensável" (p. 9Bl. Entretan- cionalidade.
to, recentemente têm-se observado sinais de A ênfase do ,livro na importância do design para
mudança nessa visão, pois muitos empresários a produção moveleira popular e da compreensão
vêm considerando o design como um recurso de das necessidades e modos de vida da população
competitividade. mais pobre é, certamente, um dos seus aspectos
As dimensões mínimas da habitação popular e mais instigantes. Folz nos oferece uma série de
suas relações com a produção moveleira também exemplos diferenciados e alternativos de relações
são objeto da análise de Rosana Folz. Um dos entre a habitação e a mobília popular. Do ponto de
grandes problemas enfrentados pelo morador de vista de uma análise sociológica, porém, acredito
uma casa popular seria o congestionamento. Tal que livro carece de uma observação mais deta-
situação implicaria na falta de espaço para de- lhada dos intrincados circuitos de elaboração do
senvolvimento de suas atividades, o que compro- design, produção e distribuição desses móveis.
meteria o desempenho do indivíduo e/ou seu con- Com isso, a autora poderia ter avançado um pou-
forto, podendo gerar doenças e desorganização co ·mais nas relações entre o gosto popular, seu
social. estilo de vida, a indústria cultural e os fabrican-
Preocupada em propor alternativas para a tes.
qualidade da habitação e a redução de seus cus- Além disso, Rosana Folz parece desconsiderar
tos, Folz afirma que há uma interação _de muitas a existência de outros fatores fundamentais que
variáveis e o espaço da casa. Assim, para se ca- conferem identidade aos espaços da casa, como
racterizar como moradia, deveriam ser atendidos o toque e o gosto pessoal. Por mais que as con- 4 Um e~emplo da fa-
bricação e difusão de móveis
determinados valores e expectativas que os mo- dições de existência e as necessidades de deter- modulares já nos anos 50 e
radores têm em relação a uma habitação, condi- minado grupo se relacionem à classe social e à 60 pode ser encontrado no
estudo de CLARO, Mauro.
cionados a aspectos sócio-culturais. O projeto de influência do mercado, educação e mídia, existem {2004), Unilabor: desenho
especificidades, práticas relativas às circunstân- industrial, arte moderna e au-
uma habitação para a população de baixa renda togestão operária. São Paulo:
passaria por se conhecer o modo de vida dessa cias e preferências individuais, que possibilitam Editora Senac.

população. A organização dos móveis no espaço diferentes estilos de vida. Mesmo dentro de uma
ou sua qualidade de projeto poderia então, atenu- estrutura de dominação, os espaços interiores
ar a sensação de congestionamento na habitação domésticos e seus objetos são marcados, im-
C E N T R O A CA OÊ M I CO D E C I Ê N C I A S S O C I A I S REVISTA TRÊS ( eee) PDNTDS

pressas, pelo habitus singular de seus morado- de forma inovadora e acei.to pelo mercado con-
res. De fato, uma casa nunca será igual a outra, sumidor. Embora não dê uma resposta definitiva,
mesmo que pertencente a moradores com recur- Folz indica a necessidade de aprofundamento dos
sos escassos que não possam comprar móveis estudos sobre os valores estéticos da população,
sob encomenda. 5 em particular a de baixa renda. Seu livro é, desde
Por fim, talvez, uma das mais interessantes já, um importante passo nesse sentido.
reflexões da autora seja indagar até que ponto
Submetido para publicação em 03 de agosto de 2006.
um móvel pode ser transformado esteticamente Aprovado para publicação em 25 de outubro de 2006.

5 Para uma melhor


compreensão desta discussão
ver BO.URDIEU, Pierre. (1994),
"Gostos de classe e estilos de
vida", in R. Ortiz (org.), Pierre
Bourdieu, São Paulo: Ática.

Denise Adell é recém-gradu-


ada em Sociologia e Politica
na Fundação Escola de Socio-
logia e Política de São Paulo
(FESP-SP), onde desenvolveu
a pesquisa: "Arquitetura, de-
sign e mobiliário: um estudo
sobre os espaços interiores
da casa em São Paulo" como
bolsista de Iniciação Cientifi-
ca pela FAPESP. Atualmente
encontra-se vinculada ao Pro-
grama de Doutorado em So-
ciologia da Rutgers University
nos Estados Unidos.
E-mail:deadell@hotmail.com

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