Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
A formulação Lagrangiana da
eletrodinâmica relativística
Um prelúdio à eletrodinâmica quântica
Devemos notar, entretanto, que a Lagrangiana não é univocamente definida. Por exemplo,
seja Λ[q
" m(t), t] uma função escalar do tempo e das coordenadas generalizadas. A Lagrangiana
" m(t), q· m(t)] produz exatamente a mesma dinâmica que a Lagrangiana
L[q
d Λ[qm(t), t]
" m(t), q· m(t)] +
L[q (1.3)
dt
uma vez que a derivada total não altera a equação de Euler-Lagrange.
Será útil também definir um conjunto de momentos canônicos conjugados,
∂L
p
" k= (1.4)
∂q· k
Esta equação nos mostra que o momento canônico é uma constante do movimento se a
Lagrangiana não depende explicitamente da correspondente coordenada generalizada.
Outra definição que nos será útil é a densidade Lagrangiana ℒ
" a qual se define como
∫
" = ℒd 3 x
L (1.6)
Com estes conceitos em mente iremos agora partir para a obtenção da Lagrangiana
para os campos e potenciais eletromagnéticos.
[ ]
dv ∂A
" m = − e ∇φ + + (v ⋅ ∇)A − ∇(v ⋅ A) (1.10)
dt ∂t
( dt )
d A(r, t) ∂A(r, t) dr
" = + ⋅ ∇ A (1.11)
dt ∂t
dr
onde v" = . Substituindo 1.11 em 1.10, obtemos
dt
d
" (m v + eA) = e ∇(v ⋅ A − φ) (1.12)
dt
Por fim, se compararmos a equação 1.12 com a equação 1.2, percebemos que
1
L
" (r, t) = m v 2 + e v ⋅ A(r, t) − eφ(r, t) (1.13)
2
∑ ∑
ρ(r,
" t) = ek δ[r − rk (t)] e j(r,
" t) = ek vk δ[r − rk (t)] (1.14)
k k
∫
" d 3r ( j ⋅ A − ρ φ) = e v ⋅ A(r, t) − eφ (1.15)
que é a soma de uma Lagrangiana para a partícula não relativística que sente os campos e a
Lagrangiana de interação entre a partícula e os campos. Para uma partícula relativística, não
1 m c2 1
é difícil de ver que basta substituirmos o termo " m v 2 por −
" , onde γ" = e
2 γ 1 − v 2 /c 2
obteremos a equação de movimento
dp d
" = [m γ v] = q(E + v × B) (1.17)
dt dt
uma vez que
∂ mv mv
"
∂v (−m c 2 1 − v 2 /c 2 ) = = 2
c γ
(1.18)
c 2 (1 − v 2 /c 2 )
Mas, e quanto a Lagrangiana dos campos livres? Não iremos derivar a Lagrangiana
para os campos livres uma vez que não há um método direto de faze-lo. Na realidade, o que
se faz é supor uma Lagrangiana e verificar se esta satisfaz as equações desejadas. Desta forma
iremos apenas afirmar que a Lagrangiana para campos eletromagnéticos livres é dada por
1
2 0∫ ∫
" f=
L ϵ d 3r (E ⋅ E − c 2 B ⋅ B) = d 3rℒf (1.19)
∫t ∫
" =
S d t d 3rℒ[qk (r, t), q· k (k, t)∂i qk (r, t)] (1.20)
1
Para este fim que definimos a densidade Lagrangiana. Com esta ação, obtemos sem
demonstração que as equações de Euler-Lagrange generalizadas são:
( ∂x ∂y ∂z )
∂ ∂ ∂
Onde ∂" i = , , . Para obter as equações de Maxwell agora utilizaremos a densidade
( ∂t )
∂Λ dΛ
" 0 = L 0 + e v ⋅ ∇Λ +
L′ = L0 + e (1.27)
dt
Por outro lado, sabemos por 1.3 que ambas as Lagrangianas resultam nas mesmas equações
de Euler-Lagrange. Isso confirma que a força de Lorentz só depende dos campos e não dos
potenciais eletromagnéticos, como já esperávamos. Agora, se partirmos do principio da
mínima ação, a invariância de Gauge das equações de Euler Lagrange implica que a variação
∑ k[ k ]
t2
∂[Λ(rk , t)]
∫t
δS
" = dt e v ⋅ ∇[Λ(rk , t)] + (1.28)
k
∂t
1
[ ∂t ]
t2
∂(Λ)
∫t ∫
δS
" = d t d 3r j ⋅ ∇(Λ) + ρ = 0 (1.29)
1
[ ] ∫t ( ∂t )
t2 t2
∂ ∂ρ
∫t ∫ ∫
δS
" = d t d 3r ∇ ⋅ ( jΛ) + (ρΛ) − d t d 3r ∇ ⋅ j + Λ = 0 (1.30)
∂t
1 1
O primeiro termo se anula pois δq " k (r, t1) = δqk (r, t2 ) = 0 por definição, enquanto o segundo
termo só é nulo se o integrando o for. Desta forma obtemos a equação da continuidade
∂ρ
"∇ ⋅ j + = 0 (1.31)
∂t
Com isso provamos através da invariância de Gauge a conservação de carga. Note que a
inclusão do termo de campos livres na Lagrangiana não teria mudado o resultado, pois este
só depende dos campos e a mudança de Gauge é realizada nos potenciais.
B. Formulação covariante
A mudança para a formulação covariante é deveras simples. Basta definirmos novos
objetos com os quais trabalharemos e substitui-los nos resultados que obtivemos no
formalismo não covariante.
Primeiramente definimos os quadrivetores de corrente e de potencial:
( c x y z) ( 0 )
φ
"J μ = (cρ, jx , jy, jz ) = (cρ, j) e " μ=
A , A , A , A = A ,A (1.32)
( c ∂t )
1 ∂
Onde ∂" μ = ,∇ é o quadrigradiente e a métrica adotada é a tempo-positiva
Desta forma A₀ age como um multiplicador de Lagrange que impõe a lei de Gauss ao sistema
descrito pelos graus de liberdade A. Vamos agora ver como tratar este sistema com diferentes
escolhas de Gauge.
A. Gauge de Coulomb
O Gauge de Coulomb é " ∇ ⋅ A = 0 , de forma que sua equação de movimento, obtida pelas
equações de Maxwell livres de fontes, é:
∂" μ∂ μ A = 0 (2.6)
Esta equação é resolvida da forma usual por transformada de Fourier:
d 3p
∫ (2π)3
" =
A ξ(p)e ip⋅r (2.7)
A restrição da imposta pela lei de Gauss implica que ξ" ⋅ p = 0 , o que significa que ξ é
perpendicular a p. Podemos escolher ξ(p) como sendo uma combinação linear dos dois
vetores ortonormais ϵ" r , r = 1,2 . Estes dois vetores correspondem aos dois estados de
polarização do Fóton.
Entretanto isto não pode estar correto, pois não é consistente com as restrições. Ainda
queremos ter ∇ " ⋅ A = ∇ ⋅ E = 0 , agora imposto aos operadores, mas pelas relações de
comutação acima vemos que [A " i(r), E j (r′)] = i ∇2 δ (3)(r − r′) ≠ 0. Nossa primeira tentativa não
levou em conta as restrições. Na realidade, este é um problema ja presente na teoria clássica,
onde a estrutura dos colchetes de Poisson já havia sido alterada. A estrutura “correta” dos
colchetes de Poisson, que leva em conta restrições de segunda ordem e é denominada de
colchetes de Dirac é dada por
−1
∑
[" f, g]D = [ f, g]P − [ f, ϕ̃a ]P Mab [ϕ̃b, g]P (2.10)
a,b
Para ver como este resultado é consistente com as restrições, reescrevemos agora o lado
direito da igualdade no espaço de momentos,
pi pj
∫ (2π)3 (
d 3p
2)
[A
" i(r), Ej (r′)]D = i δij − e ip⋅(r−r′) (2.12)
|p|
d 3p |p| 2
∫ (2π)3
ϵr (p)[a pr e ip⋅r + a pr†e −ip⋅r ]
2 ∑
E(r)
" = (−i ) (2.15)
r =1
O leitor pode facilmente verificar, pelas relações de comutação 2.17, que a variação de
·
qualquer operador F função de A e E é dada por F " = [F, H ]D . O Gauge de Coulomb tem a
vantagem de os graus de liberdade estarem expostos, entretanto, a invariância de Lorentz não
é mais evidente.
B. Gauge de Lorentz
Podemos tentar trabalhar de uma forma Lorentz invariante impondo o Gauge de Lorentz
∂" μ A μ = 0. Com isto a equação de movimento que segue das equações de Maxwell é
∂" μ∂ μ A ν = ∂ 2 A ν = 0 (2.20)
Nossa estratégia para implementar o Gauge de Lorentz será um pouco diferente do feito para
o Gauge de Coulomb. Iremos alterar a Lagrangiana da equação 1.34 para que a equação
2.20 seja obtida diretamente das equações de Euler-Lagrange. Isto é feito tomando a
densidade Lagrangiana como
1 μν 1
ℒ
" =− F Fμν − (∂μ A μ )2 (2.21)
4 2
Aplicando as equações de Euler-Lagrange obtemos
∂" μ F μν + ∂ ν (∂μ A μ ) = ∂μ∂ μ A ν = 0 (2.22)
Agora partiremos para a quantização através da densidade Lagrangiana 2.21 e apenas no
final impor a restrição ∂" μ A μ = 0 . Iremos esbarrar em alguns problemas devidos a simetrias
“residuais”, entretanto podemos começar sem problemas pois desta vez Π" 0 e Π" i são
dinâmicos.
∂ℒ ∂ℒ ·i
"Π 0 = μ
· = − ∂μ A e "Πi = i 0
· = ∂ A −A (2.23)
∂A0 ∂ Ai
Tomando estes campos como operadores, podemos impor as relações de comutação usuais
d 3p |p| 3 μ λ
∫ (2π)3
"Πμ(r) = (ϵ ) (p)[a pλ e ip⋅r − a pλ†e −ip⋅r ]
2 ∑
(+i ) (2.26)
λ=0
Note que o momento Π" μ desta vez vem com um termo (+i), ao contrario do (-i) no caso do
Gauge de Coulomb. Isto se deve ao sinal negativo que aparece nas equações 2.23.
Agora temos 4 quadrivetores de polarização ϵ" λ(p) ao contrario dos 2 vetores que
tínhamos no Gauge de Coulomb. Tomemos ϵ⁰ como temporal e ϵ¹²³ como espaciais.
Escolhemos a normalização
"ϵ λ ⋅ ϵ λ′ = η λλ′ e " μ) λ(ϵν ) λ′ηλλ′ = ημν
(ϵ (2.27)
Os quadrivetores de polarização dependem do quadrimomento do Fóton p" μ = ( | p | , p) .
Escolheremos as polarizações ϵ¹ e ϵ² para serem transversas ao momento do Fóton:
"ϵ 1 ⋅ p μ = ϵ 2 ⋅ p μ = 0 (2.28)
O terceiro vetor é a polarização longitudinal, por exemplo, se o momento do Fóton esta na
direção "z,̂ então "p μ ∼ (1,0,0,1) e
1 0 0 0
"ϵ 0 = 0 , ϵ 1 = 1
, ϵ2 =
0
, ϵ3 =
0
(2.29)
0 0 1 0
0 0 0 1
3
d 3p 1
∫ (2π)3
" μ+(r) ϵμλ(p)a pλ e −ip⋅r
2|p| ∑
A = (2.36)
λ=0
onde" | ϕ0⟩ = | 0⟩ é o vácuo. Não é difícil de ver que todos os estados restantes envolvendo
Fótons longitudinais e temporais tem norma nula ("⟨ϕn | ϕm⟩ = δn0 δm0). Isso significa que o
produto interno em ℋ " f é positivo semi definido. Isto é um avanço, mas ainda temos que lidar
com todos os estados de norma 0.
A forma com que lidamos com os estados de norma 0 é tratando-os como estados
equivalentes ao vácuo por uma transformação de Gauge. Dois estados que diferem apenas
em suas componentes temporais e longitudinais |" ϕn⟩, n ≥ 1 são ditos fisicamente
equivalentes. Nos compreendemos a simetria de Gauge da teoria clássica como descendo ao
espaço de Hilbert da teoria quântica. É claro que não podemos dizer que dois estados são
fisicamente idênticos ao menos que estes nos deem o mesmo valor esperado para todos os
observáveis físicos. Checamos isto através da Hamiltoniana
3
d 3p
∫ (2π)3 (∑ )
H
" = | p | a pi† a pi − a p0† a p0 (2.39)
i=1
A qual é obtida exatamente da mesma forma que o feito no Gauge de Coulomb, substituindo
2.25 e 2.26 em 2.5, utilizando as 1.8 e 2.23 e manipulando a expressão. A restrição
" p3† − a p0†) | ϕ⟩ = 0 nos garante que ⟨Ψ′
(a " | a p3†a p3 | Ψ⟩ = ⟨Ψ′| a p0†a p0 | Ψ⟩ , de forma que as
contribuições das componentes temporais e longitudinais cancelam-se na Hamiltoniana. Isto
também reitera que a Hamiltoniana é definida positiva, nos deixando apenas com os Fótons
transversos, como seria de se esperar. Desta forma, a Hamiltoniana 2.39 se reduz a
Hamiltoniana 2.19.
Conclusões
A formulação Lagrangiana da eletrodinâmica relativística torna explicitas propriedades da
eletrodinâmica que estão mascaradas nas equações de Maxwell. Junto com a formulação
covariante, verificamos que a eletrodinâmica é relativística por essência e obtivemos leis de
conservação diretamente da invariância de Gauge. Também vimos que, embora com muito
mais trabalho e argumentação no Gauge de Lorentz, ambas as escolhas de Gauge resultam
na mesma Hamiltoniana ao aplicarmos o formalismo canônico, de forma que a
eletrodinâmica quântica também se mostrou invariante por estas transformações de Gauge.