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RELATÓRIO FINAL
1. DOS FATOS:
1.3 Os autos foram lançados a esta Comissão para fins de apuração disciplinar NO
DIA 24/06/2015 (fls. 04).
2. DA APURAÇÃO:
2.1 Registramos, de início, que foi realizada uma apuração séria, imparcial e exaustiva,
garantindo que seja observado o devido processo administrativo legal, em conformidade
com os preceitos estabelecidos no art. 5º, LIV e LV da CF/88.
2.4 A Comissão encaminhou o Memo nº 153/16 a DOP (fls. 58) solicitando a cópia da
escala e frequência do posto Palácio Antônio Lemos dos dias 15 e 16/05/2015, e em resposta
o setor enviou o Memo. nº 916/2016-DOP (fls. 59) com a documentação solicitada (fls. 60 a
63).
2.5 A Comissão juntou notícia veiculada em jornal de circulação regional sobre o fato
em apuração (fls. 93 e 94).
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2.10 O GM SAMPAIO em depoimento (fls. 132 e 133) informou que estava de serviço
no dia 16/05/15, no período noturno e que a guarnição era composta pelo depoente e mais os
servidores GM GOMES (EP de serviço), GM R BRANDÃO, GM ANA CLEIDE e GM
ABELARDO. Que o GM GOMES costumava dividir a guarnição em duplas para que uma
ficasse na parte interna e outra na parte externa. Que desconheceu que a pichação ocorreu
no referido turno de serviço e que ficou sabendo do fato em sua residência. Questionado
quais os guardas estavam designados para fazer a segurança na área externa respondeu que
eram os servidores GM ANA CLEIDE e GM R BRANDÃO. Questionado se percebeu
alguma pichação ao sair do posto, o depoente respondeu negativamente.
2.11 O GM ABELARDO em depoimento (fls. 134 e 135) informou que estava de serviço
no dia 16/05/15, no período noturno e que a guarnição era composta pelo depoente e mais os
servidores GM GOMES (EP de serviço), GM R BRANDÃO, GM ANA CLEIDE e GM
SAMPAIO. Que após 00h00 era feito um revezamento no posto de serviço, ficando uma
dupla na parte interna e outra na parte externa. Que desconheceu que a pichação ocorreu no
referido turno de serviço e que ficou sabendo do fato em sua residência. Informou que após
ter saído do serviço abordou um morador de rua, por volta das 06h30 e fez um percurso
pela avenida 16 de novembro, mas não visualizou nenhum vestígio de pichação. Que ficou
sabendo do fato por volta das 14hs, pelo IGR MARCOS, o qual orientou o depoente a
procurar o GM GOMES para resolveu tal ocorrência. Questionado quais os guardas estavam
designados para fazer a segurança na área externa respondeu que eram os servidores GM
ANA CLEIDE e GM R BRANDÃO. Questionado se assinou o R.O nº 309/15-DOP
confirmando o relato do GM GOMES, respondeu que sim.
2.12 O GM GOMES em depoimento (fls. 138 e 139) informou que estava de serviço no
dia 16/05/15, no período noturno e que a guarnição era composta pelo depoente e mais os
servidores GM ABELARDO, GM R BRANDÃO, GM ANA CLEIDE e GM SAMPAIO. Que
após 00h00 era feito um revezamento no posto de serviço, ficando uma dupla na parte
interna e outra na parte externa. Que negou ter sido informado por um vigilante por volta
das 03h30 sobre uma pichação no posto, e que repassou tal informação foi a guarnição do
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2.13 O GM MARCO em depoimento (fls. 152 a 154) informou que tomou ciência da
pichação pelo GM JOÃO, o qual lhe repassou a pichação no muro lateral da Av. 16 de
novembro quando passava em ronda pelo local. Que se dirigiu ao posto onde constatou a
pichação, onde o GM JOÃO informou que o GM GOMES não lhe repassou nenhuma
ocorrência. Que foram realizadas algumas diligências mas não obtiveram êxito em encontrar
os autores da pichação. Que orientou as guarnições de serviço noturno e diurno a
confeccionarem um RO sobre o fato.
2.14 O GM JOÃO em depoimento (fls. 155 e 156) informou que estava de serviço no
dia 17/05/15, no período diurno e que recebeu o serviço do GM GOMES, o qual não
apresentou nenhuma alteração, sendo que foi o GM AFONSO que ao chegar ao posto
verificou a pichação por volta das 07hs. A testemunha ressalta que confeccionou no livro de
partes a visualização da pichação. Que um flanelinha também comunicou o fato a
testemunha. Que ao receber o serviço do GM GOMES não realizou de imediato uma ronda
no posto, pois se preocupou em receber os materiais.
2.16 A Comissão encaminhou o Memo nº 136/17 a IES (fls. 170) solicitando a cópia do
livro de partes do posto Palácio Antônio Lemos do dia 16/05/2015, diurno, e em resposta o
setor enviou o Memo. nº 116/2017-IES/GMB (fls. 171) com a documentação solicitada (fls.
172 e 173).
2.17 O GM ABELARDO foi novamente inquirido (fls. 202) onde relatou que a
guarnição do serviço noturno fez uma ronda ao redor do posto por volta das 06hs,
ressaltando também que foi coagido a assinar o RO feito pelo GM GOMES, mas que não fez
nenhuma reclamação pois foi convencido pelo GM R BRANDÃO.
2.18 O GM GOMES foi novamente inquirido (fls. 203) onde confirmou ter
confeccionado o R.O e B.O juntados inicialmente no referido processo, mas que em verdade
obteve tal comunicação pelo GM JOÃO, via rádio.
2.19 O GM SAMPAIO foi novamente inquirido (fls. 206) onde confirmou ter assinado o
R.O, e que foi em consenso com a guarnição, informando também que na passagem de
serviço não foi realizada nenhuma ronda externa.
É do essencial, a apuração.
3. DA FUNDAMENTAÇÃO:
3.2 Antes de adentrarmos no mérito do feito, cabe uma análise sobre as preliminares
elencadas na defesa técnica do GM GOMES (fls. 218 a 231): (i) nulidade por ausência de
justa causae insuficiência de provas e; (ii) nulidade por excesso de prazo para a conclusão
do PAD.
3.3 Muito bem. Quanto a alegação de nulidade por ausência de justa causa, tem-se
uma “confusão” por parte da defesa entre o conceito de justa causa para a abertura do
feito, que representa o lastro probatório mínimo, para que fosse instaurado o referido
inquérito, com a análise do próprio mérito, que representa as provas produzidas no curso
do PAD (relato do vigilante, sequer identificado) que demonstrassem a responsabilidade
administrativa dos referidos servidores. Ora, no que tange a (real) justa causa, verificamos
que não houve denúncia anônima, até porque a apresentação da possível irregularidade
no serviço se deu pelo próprio GM GOMES, por meio do R.O nº 309/15-DOP (fls. 01), bem
como do B.O nº 00273/2015.000313-3 (fls. 02 e 03), ambos formulados por escrito e com a
identificação do servidor. Nesse ponto, constitui poder-dever da autoridade
administrativa o de apurar eventuais irregularidades que cheguem ao seu conhecimento e
que noticiem suposta irregularidade envolvendo agente público, conforme dispõe o artigo
211, da Lei 7.502/90.
3.4 Além disso, o Supremo Tribunal Federal tem adotado o entendimento de que é
possível a abertura de processo administrativo até mesmo decorrente de denúncia
anônima, conforme o RMS 29.198/DF, julgado em 30 de outubro de 2012. Indo além, no
Superior Tribunal de Justiça há também entendimento favorável para abertura de
processo administrativo baseado em denúncia anônima, conforme os precedentes: MS
10.419/DF; MS 7.415/DF e REsp 867.666/DF. Somando-se a isso, no caso de dúvida sobre a
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veracidade das informações sobre as quais teve ciência, deverá a Administração optar pela
apuração. Esse é o entendimento de Couto (2014, p. 130), o qual leciona que “se a
autoridade tiver dúvida entre arquivar e promover a apuração, deve optar por promover a
apuração, pois, nessa fase, a dúvida resolve-se em favor da sociedade e não em favor do
acusado”. Ainda, conforme assinala o Manual da CGU (BRASIL – CGU, 2016, p. 42) “não
é condição indispensável para iniciar a averiguação a devida qualificação do denunciante,
porquanto o que realmente importa é o conteúdo da denúncia (relevância e
plausibilidade), que deve conter elementos capazes de justificar o início das investigações
por parte da Administração Pública”.
3.6 Em segundo lugar, no que tange a nulidade por excesso de prazo, insta ressaltar
que tal processo se iniciou com a ciência da autoridade instauradora em 10.06.2015 (fls.
04), e instaurado inquérito administrativo conforme Portaria nº 816/2015-CMDO/GMB.
3.8 Além disso, segundo interpretação dos tribunais superiores não há que se
reconhecer nulidade por excesso de prazo, sem demonstração concreta de prejuízo, não
cabendo unicamente sustentar como fez a defesa escrita, pois não houve arguição sobre
questões processuais prejudicadas em decorrência do prazo de apuração, o qual foi
necessário para a colheita de todas as provas aptas a formar a convicção da presente
comissão. O STJ já afirmou não ser possível declarar nulidade por excesso de prazo em tais
situações:
3.12 A testemunha GM MARCO (fls. 152-154), relatou que foi comunicada pelo GM
JOÃO, entre as 07h30 e 08h, sendo que este último estava de serviço no dia 16/05/2015,
período de 07 as 19hs, o qual durante ronda pelo Palácio Antônio Lemos identificou a
referida pichação no muro lateral do posto. Que o GM JOÃO lhe mencionou que a
guarnição do serviço anterior não efetuou nenhuma comunicação sobre o fato. A
testemunha então entrou em contato com o GM GOMES, encarregado do serviço noturno
passado, o qual respondeu não ter ciência da irregularidade no serviço. Diante disso,
solicitou que ambas as guarnições documentassem o fato e efetuou a sumária limpeza do
local.
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3.15 Compulsando os autos, verificamos que tal alegação não restou positivada em
nenhum documento ou por qualquer outra testemunha. Aliás, segundo a escala e
frequência do dia 15/05/2015 (noturno) (fls. 61) tem-se que todos os servidores da
guarnição encerraram o serviço às 07hs, portanto, no período de 06h30m o servidor ainda
(deveria) se encontrar no âmbito de suas atribuições.
3.16 Pois bem. Ocorre que incrustrados nas malhas deste complexo processo,
subsistem: registro de ocorrência, boletim de ocorrência, devidamente consignados pela
guarnição de serviço no período noturno, os quais evidenciaram termos como: “fomos
informados por um cidadão que se dizia vigia e trabalhava na área do Manoel Barata, que
foram duas pessoas em uma moto, que efetuaram pichação com equipamento que lançava
jatos de tinta a longa distância por volta das 03h30” (fls. 01). O GM GOMES, ainda
registrou no B.O que: “ o relator compareceu nesta DIVISÃO na qualidade de guarda
municipal encarregado do serviço para afirmar que no dia 16/05/2015, por volta das
03h30, o Palácio Antônio Lemos, o qual é sede da Prefeitura e Museu de Artes de Belém
foi pichado”.
3.17 Nesta acepção, por mais que a guarnição do serviço noturno do dia 15/05/2015
tenha sustentado que não observou tal pichação, o próprio GM SAMPAIO relatou em
depoimento que durante a passagem de serviço não foi efetuada ronda externa para
verificação do posto ao término do serviço, tendo sido realizada anteriormente (fls. 206).
Além disso, o próprio GM SAMPAIO em depoimento anterior questionado sobre quais os
guardas que estavam designados na área externa do Palácio Antonio Lemos, na hora em
que ocorreu o fato em análise, tal servidor relatou que estavam o GM R BRANDÃO e
GM ANA CLEIDE (fls. 132). Vale frisar que o GM ABELARDO também confirmou que
eram esses dois servidores que estavam efetuando rondas externas na hora do fato
ocorrido (fls. 134).
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3.18 O tamanho da pichação, conforme a imagem noticiada pela mídia regional (fls. 94)
indica um alto grau de negligência, ou seja, quebra do dever objetivo de cuidado, tendo
em vista que tal fato seria de notória e clara percepção, e dificilmente poderia ter sido
realizado durante o dia, pois seria flagrantemente rechaçado por populares ou mesmo
outros agentes públicos.
3.20 De pronto, deve-se ressaltar a orientação firmada pelos Colendos Supremo Tribunal
Federal e Superior Tribunal de Justiça no sentido de que nos casos de autoria conjunta ou
coletiva, e em especial nos ilícitos praticados por agrupamentos, societários ou não, não se
faz indispensável a individualização da conduta específica de cada agente. Ora, no âmbito
de uma guarnição operacional da GMB, durante um serviço, dificilmente se pode obter a
descrição pormenorizada de cada conduta, mas todos são responsáveis pelas deliberações
e condutas praticadas.
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MARTINELLI, João Paulo Orsini; SCHIMITT DE BEM, Leonardo. Lições Fundamentais de Direito Penal. São
Paulo: Saraiva, 2016, p. 498.
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3.23 Nisso, a ausência de apresentação adequada, através de uma ronda final ao término
do posto de serviço, a confluência de relatos destoantes dos servidores confirmam o
comportamento omissivo por parte dos membros da guarnição: GM GOMES, GM
ABELARDO, GM SAMPAIO, GM ANA CLEIDE e GM R BRANDÃO, e a assunção da
quebra do dever funcional previsto no art. 144, V e 147 da Lei nº 7.502/90, sendo passível
de responsabilização administrativa:
3 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado, 2ª edição, 1994, Ed. Atlas.
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3.9Em relação a dosimetria pena, de acordo com o art. 195 da Lei nº 7.502/90,
analisada a natureza e gravidade do fato, verifica-se que a pichação foi de grande
proporção, realizada durante o período noturno, onde se torna necessária maior vigilância
da guarnição de serviço. Além disso, a pichação foi realizada em posto de relevância à
municipalidade, pois representa a sede da prefeitura municipal de Belém, sendo,
portanto, passível de consideração de falta grave, na forma do art. 197 da Lei nº 7.502/90:
Art. 197. A pena de suspensão, que não excederá a trinta dias, será
aplicada em caso de falta grave ou de reincidência.
3.26 Vale frisar, contudo, a incidência da causa extintiva de punibilidade dos servidores
GM R BRANDÃO e GM ANA CLEIDE em razão da morte dos respectivos agentes, de
acordo com o Memo nº XXX, incidindo-se no caso concreto o princípio da
intranscendência e personalidade da pena disciplinar, conforme a aplicação analógica do
art. 107, I do CP:
4. DA CONCLUSÃO:
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CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28ªEd. São Paulo: Editora Atlas., p. 802.
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4.1 Considerando que a instrução probatória foi realizada segundo rigorosa obediência
aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, e analisadas
todas as alegações de defesa, a presente comissão, conforme fundamentos de fato e direito a
seguir expostos, sumariando as razões acima minudenciadas, conclui haver elementos
concretos aptos a responsabilizar funcionalmente o GM GOMES, GM ABELARDO e GM
SAMPAIO.
4.7 Considerando que a cópia da ficha funcional dos servidores acusados não indicam a
reincidência delitiva, havendo a incidência de atenuante.
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