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Memória
– Santificar as nossas dores e sofrimentos. Recorrer a Santa Maria, Consoladora dos aflitos.
I. FAZEI, Ó MÃE, fonte de amor, / que eu sinta a tua dor / para contigo
chorar. / Fazei arder o meu coração / por Cristo Deus na sua Paixão, / a fim de
que mais viva n’Ele que comigo1.
A dor de Nossa Senhora foi imensa devido à sua eminente santidade. O seu
amor por Jesus permitiu-lhe sofrer os padecimentos do seu Filho como
próprios: “Se rasgam com açoites o corpo de Jesus, Maria sente todas essas
feridas; se lhe atravessam com espinhos a cabeça, Maria sente-se dilacerada
pela ponta desses espinhos; se lhe apresentam fel e vinagre, Maria
experimenta todo esse amargor; se lhe estendem o corpo sobre a cruz, Maria
sofre toda essa violência”3. Quanto mais se ama uma pessoa, mais se sente a
sua perda. “Mais aflige a morte de um irmão que a de um irracional, mais a de
um filho que a de um amigo. Pois bem [...], para compreendermos quão grande
foi a dor de Maria na morte do seu Filho, teríamos que conhecer a grandeza do
seu amor por Ele. Mas quem poderá alguma vez medir esse amor?”4
II. ATRAVÉS DE MARIA e de José, as criaturas que mais amou nesta terra,
o Senhor parece ter querido ensinar-nos que a felicidade e a eficácia não estão
nunca longe da Cruz. E se bem que toda a vida de Nossa Senhora esteve,
junto com a do seu Filho, orientada para o Calvário, há contudo um momento
especial em que lhe é revelada com particular clareza a sua participação nos
sofrimentos do Messias, seu Filho. Maria, acompanhada de José, foi ao
Templo para se purificar de uma mancha legal que não tinha contraído e para
oferecer o seu Filho ao Altíssimo. Nessa imolação que fazia de Jesus,
vislumbrou a imensidade do sacrifício redentor, conforme tinha sido
profetizado. Mas Deus quis também revelar-lhe por meio de um homem justo,
Simeão, a profundidade desse sacrifício e a sua participação nele. Movido pelo
Espírito Santo, Simeão disse-lhe: Eis que este menino está posto para ruína e
para ressurreição de muitos em Israel, e para ser sinal de contradição. E uma
espada trespassará a tua alma, a fim de se descobrirem os pensamentos
escondidos nos corações de muitos6.
O Senhor não quis evitar à sua Mãe a aflição de uma fuga precipitada para o
Egipto, quando talvez já estivesse instalada numa modesta casa de Belém e
começasse a gozar, com José, de uma vida familiar em torno de Jesus. Não a
dispensou do exílio numa terra estranha, nem de ter que recomeçar a vida com
as poucas coisas que tinha podido reunir naquela viagem apressada... E
depois de terem regressado a Nazaré, não a poupou da angústia daqueles dias
em que teve de procurar Jesus que se deixara ficar em Jerusalém, à idade de
doze anos! E, mais tarde, os anos do ministério público do Senhor foram para
Ela uma sucessão contínua de preocupações, à medida que tinha notícia da
má vontade e dos ataques dos judeus, numa oposição cada vez mais cerrada...
Por último, sobrevieram os acontecimentos da Paixão, em ritmo alucinante, que
a Virgem acompanhou ou presenciou de coração despedaçado: as
humilhações ao longo do processo, a flagelação, os gritos que pediam a
condenação do seu Filho à morte, a solidão e o abandono em que o vê, o
encontro no caminho do Calvário... Quem poderá jamais compreender a
imensidão da dor que invadiu o coração da Santíssima Virgem?... Ali está
Nossa Senhora... Vê como pregam o seu Filho na Cruz... E depois os insultos,
a longa agonia de um crucificado... Oh! Quão triste e aflita / entre todas a Mãe
bendita, / que só tinha aquele Filho! / Que angústia não sentia / a Mãe piedosa
ao ver / as penas do seu Filho! / Quem poderia não chorar, / contemplando a
Mãe de Cristo / em tão cruel suplício? / Quem não se entristeceria / vendo a
Mãe assim / sofrer com o seu Filho?8
“Por outro lado, Ela recebeu de Jesus na Cruz a missão específica de amar-
nos, de só e sempre amar-nos para nos salvar. Maria consola-nos sobretudo
mostrando-nos o crucifixo e o paraíso [...].
(1) Seqüência da Missa, Hino Stabat Mater; (2) Lam 1, 12; (3) A. Tanquerey, La divinización
del sufrimiento, pág. 108; (4) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, 2, 9; (5) A.
Tanquerey,op. cit., pág. 110; (6) Lc 2, 34-35; (7) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-
1987, n. 16; (8) Hino Stabat Mater; (9) A. Tanquerey, op. cit., pág. 168; (10) cfr. São Josemaría
Escrivá, Caminho, n. 762; (11) João Paulo II, Homilia, 13-IV-1980.