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INTRODUÇÃO
1.1. Crescimento econômico e oportunidade para empreendedorismo
Governos do mundo inteiro sabem que estão atravessando uma fase sem precedentes.
Na conjuntura: tendências políticas divergentes; emergência de uma economia mundial mais
aberta; avanço tecnológico em direção a um mundo digitalizado; e, preocupações comuns
com as conseqüências ecológicas. Estes são apenas os primeiros indicativos de mudança, que
apontam à necessidade um novo caminho para as organizações em um ambiente global.
No Brasil, recentemente, uma constatação da premência da economia global sobre as
ações governamentais é a implementação de políticas públicas nacionais para impulsionar o
crescimento do produto interno. Percebe-se que, a despeito de toda teoria de livre comércio, a
preoc1upação dos governos é fomentar o mercado e produtores nacionais para protegê-los da
ameaça representada pela competitividade internacional.
Paul Krugman (2001) traz à discussão que políticas comerciais agressivas, ou seja, o
cerceamento do livre-comércio, podem, às vezes, aumentar o bem-estar da nação como um
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Doutor em Engenharia de Produção - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, 2004.
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Mestrando em Ciências da Administração – Universidade Federal de Santa Catarina.
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todo. Bruno Ratti (2006) ratifica a tese levantada afirmando que entraves ao livre-comércio
não são incompatíveis com o desenvolvimento de economias nacionais.
Assim, no período de 1996 a 2002 percebeu-se o crescimento acentuado no número de
micro e pequenas empresas, 60% para as primeiras e 40% para as outras, segundo Santos
(2009). A despeito de toda a burocracia brasileira nas áreas fazendárias, previdenciária e
registros, civis e mercantis, este crescimento manteve-se por toda primeira década do século
XXI.
Portanto, percebe-se o intuito das políticas de Estado implantadas no Brasil desde
meados da última década de 90: o de propiciar condições para promover e perenizar novos
empreendedores no País, sobretudo aos micro e pequenos.
1.2. Compras públicas e Lei 8.666
Com a Constituição Federal de 1988 a licitação passou a ser de observância
obrigatória pela Administração Pública direta e indireta de todos os poderes da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. No inciso XXI do art. 37 está previsto que:
“ressalvados os casos específicos na legislação, as obras, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública”.
Em 1993 a licitação passou a ser regulamentada pela Lei 8.666. Esta disciplinou toda a
forma de contratação junto a Administração Pública em consonância com a previsão do inciso
constitucional acima citado.
Ainda sobre as previsões da Constituição Federal, o artigo art. 170, inciso IX,
reclamava tratamento favorecido para as empresas brasileiras de pequeno porte, EPP,
constituídas sob as leis brasileiras e que tivessem sede e administração no País. Também outro
artigo, o de nº 179, previa, por meio de Lei Complementar, tratamento jurídico diferenciado,
simplificado e com redução de obrigações tanto para as empresas de pequeno porte, EPP,
quanto para as microempresas, ME.
1.3. Vendas à Administração
Segundo o portal do governo federal, Comprasnet, vinculado ao Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, as compras de produtos e bens e a contratação de serviços
comuns realizadas pelo governo federal, nos nove primeiros meses do ano de 2010, chegaram
a R$ 32,3 bilhões. O volume é 18,5% maior que o registrado no mesmo período de 2009.
Estes dados divulgados no dia 25 de novembro de 2010, em evento realizado pelo Sebrae
Nacional, 3º Fomenta.
O quadro abaixo mostra a monta dos dispêndios geral com compras públicas no ano de
2004.
Esfera governamental Valor das compras (R$ milhões)
Municipal 64.901,55
Estadual 47.963,56
Federal 45.060,19
Estatais 96.928,11
Total 254.853,41
SIASG 2004, Balanço Geral da União e Balanços Estaduais e Municipais
O montante mostra o potencial das compras públicas, que se configura como
oportunidade para que empresários aumentem sua carteira de clientes, sobretudo os MPEs.
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acordo com recente estudo sobre fatores condicionantes e taxa de mortalidade das MPEs,
realizado pelo SEBRAE (2007), os próprios empresários apontam problemas com carga
tributária elevada como o principal fator para que a empresa encerre sua atividade, seguido
por problemas na administração de capital de giro.
A primeira razão apontada é externa à empresa, enquanto a outra é inerente à gestão
financeira de curto prazo. Em razão das suas peculiaridades, as MPEs enfrentam problemas
bem específicos, em geral diferentes ou em proporções distintas quando comparados àqueles
vivenciados pelas grandes empresas. Às vezes as MPEs são atrativas do ponto de vista de
rentabilidade, porém, devido às deficiências na gestão financeira de curto prazo, operam em
alto risco de liquidez, o que as deixam suscetíveis a toda sorte de adversidades.
Dados governamentais apontam ainda que a maior dificuldade das micro e pequenas
empresas é o insuficiente preparo gerencial de proprietários ou dirigentes, destacando que as
estratégias dessas empresas são estabelecidas confiando puramente em informações e
experiências vivenciadas pelos seus administradores, confirmando um fator predominante nas
decisões financeiras de curto prazo.
Faria, Ferreira e Santos, citando diversos autores em artigo publicado em 2009, listam
outras questões que dificultam a gestão financeira nas micro e pequenas empresas:
Deficiência no planejamento prévio à abertura da empresa; má gestão; problemas
particulares; problemas entre os sócios, para Neves e Pessoa (2006 apud FARIA,
FERREIRA E SANTOS, 2009).
Para Biléssimo (2002 apud FARIA, FERREIRA E SANTOS, 2009) a
informalidade dificulta o mapeamento de indicadores de desempenho da gestão
financeira.
A contabilidade tradicional, muitas vezes única fonte de informação de micro e
pequenas empresas, não fornece bases suficientes para a tomada de decisão. É o
que afirma Gazzoni (2003 apud FARIA, FERREIRA E SANTOS, 2009).
Já para Cher, a falta de recursos financeiros e dificuldades na obtenção de créditos,
financiamentos e investimentos de terceiros, isto porque investidores raramente
sentem-se atraídos por empresas de menor porte (1990apud FARIA, FERREIRA E
SANTOS, 2009).
A manutenção de maus pagadores, falta de disciplina, responsabilidade e
organização são também considerados por Neves e Pessoa (2006 apud FARIA,
FERREIRA E SANTOS, 2009) neste rol.
A falta de controle, que ocasiona dificuldade para análise e avaliação de decisões
tomadas, quando da exposição da empresa ao ambiente de negócios, é lembrada
por Gazzoni (2003 apud FARIA, FERREIRA E SANTOS, 2009).
A situação de perda de liquidez quando os prazos de compra são impostos pelos
fornecedores e os de venda pelos clientes, ocasionados pelo relacionamento freqüente com
grandes fornecedores ou grandes clientes torna efetiva a possibilidade de falência do pequeno
negócio.
Na sequência este trabalho apresentará como os prazos alongados de recebimento
tendem dificultar a gestão financeira das micro e pequenas empresas que participam de
licitações públicas. Com impacto em todas as operações, os reflexos mais observados, no
entanto, tem sido a perda de crédito na praça e o socorro a empréstimos com taxas de juros
muito elevadas, deteriorando ainda mais as operações empresariais.
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METODOLOGIA
Este artigo define-se como uma pesquisa descritiva na classificação de Gil (2006) e
Marconi e Lakatos (2006), pois procura características específicas comuns a empresas com
dificuldades financeiras e operacionais por aumento da receita de vendas.
O presente estudo coletou informações em órgãos estatais e para-estatais, como
Ministérios e SEBRAE, em artigos de sítios na internet para chegar a um perfil de micro e
pequenas empresas adequado ao objetivo traçado. Portanto trata-se também de uma pesquisa
descritiva.
Para Cervo (1983) a pesquisa descritiva observa, registra , analisa e correlaciona fatos
ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Busca conhecer as diversas situações e relações
que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento
humano, tanto do individuo tomado isoladamente como grupos e comunidades complexas.
Ainda de acordo com Cervo (1983) a pesquisa bibliográfica procura explicar um
problema a partir de referencias teóricas publicadas em documentos. Pode ser realizada
independentemente ou como parte da pesquisa descritiva experimental. Em ambos os casos,
buscam conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado existentes
sobre um determinado assunto, tema ou problema. Já para Lakatos e Marconi (2005), “a
pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao estudo e
com a finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que já foi dito sobre
determinado assunto”.
Neste trabalho, foi realizada a pesquisa sobre a caracterização das MPE´s, as compras
públicas via licitações, e a principal causa de falência das MPE´s. A pesquisa documental
também é necessária, pois representa o melhor entendimento do estudo em questão além do
levantamento bibliográfico e para corroborar evidências coletadas por outros instrumentos e
fontes, possibilitando a confiabilidade de achados, conforme as idéias de Martins (2006).
O levantamento de dados secundários foi feito por meio de material publicado por
diversas instituições, através da análise de relatórios, estudos e dados estatísticos divulgados
pelos mesmos, entre os anos de 2004 a 2010, além do confronto destas fontes com os
conceitos encontrados na pesquisa bibliográfica.
FUNDAMENTAÇÃO
3.1. Administração Financeira;
Compete ao profissional de finanças planejar, coordenar e controlar todas as atividades
referentes à geração de informações financeiras necessárias à administração que incluem
registros contábeis e fiscais, estoques, custos, fluxos de caixa, orçamentos financeiros e bens
patrimoniais. O objetivo final dos profissionais de finanças é criar valor para os acionistas no
longo prazo, ou seja, na empresa o volume de recursos gerados deve superar os recursos
consumidos (GITMAN, 2004).
Dentre os vários profissionais da área financeira, destaca-se o gestor financeiro, que é
responsável por importantes decisões relacionadas a investimento, financiamento, alocação
dos recursos gerados e controle das operações financeiras operacionais (de curto prazo). No
longo prazo, uma empresa não pode ser viável economicamente, ou seja, eficiente do ponto de
vista operacional, e inviável financeiramente. Empresas que não conseguem gerir bem seus
próprios recursos estão fadadas à extinção.
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Nesta estrutura acima o CGL é positivo, indicando que contas de longo prazo
financiam os ativos de curto prazo. Aqui as próprias operações geram recursos para se
financiar (NCG = 0) e há excedente financeiro (ST = 20).
De alto risco.
operacional + financeiro
AC 120 = 80 + 40
PC 155 = 60 + 95
CGL -35 = 20 (NCG) + -55 (ST)
Já nesta estrutura, o CGL é negativo, indicando que contas do ativo de longo prazo são
financiadas por passivos de curto prazo. As operações não conseguem gerar recursos para se
financiar (NCG = 20) e há necessidade de recursos de instituições financeiras para financiar
as operações de curto prazo (ST = -55).
3.1.5. Efeito Tesoura
Como visto na estrutura de alto risco, a necessidade de capital de giro pode conduzir
ao aumento do saldo negativo de tesouraria, implicando na captação de recursos financeiros
para bancar tal necessidade. O crescimento da necessidade de capital de giro (NCG) superior
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ao aumento do capital de giro líquido (CGL) faz com que ocorra o Efeito Tesoura como
ilustra a figura abaixo.
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Índices de liquidez são em número de quatro: geral, corrente, seca e imediata. Estes
índices mostram a capacidade da empresa em honrar os compromissos assumidos. Para um
diagnóstico completo acerca da liquidez é preferível a utilização do conjunto dos indicadores
citados para acurar a conclusão.
Índices de Liquidez
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Liquidez geral 1,91 1,94 1,96 1,98 2,00
Liquidez corrente 2,21 2,23 2,25 2,27 2,29
Liquidez seca 1,68 1,70 1,72 1,73 1,74
Liquidez imediata 0,32 0,32 0,32 0,32 0,33
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Índices de Rotatividade
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
do estoques 3,72 3,72 3,72 3,72 3,72
de duplicatas a receber 1,85 1,85 1,85 1,85 1,85
de fornecedores 4,13 4,13 4,13 4,13 4,13
do ativo circulante 1,43 1,43 1,43 1,43 1,43
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Mesmo havendo melhorias na gestão de estoques não são suficientes para impedir o
colapso nas operações.
CONCLUSÃO
O novo estatuto nacional das MPE trouxe diversas medidas a fim incentivar a
participação destas organizações na economia brasileira. Muito especialmente concedeu
incentivos na seleção de propostas para as compras públicas.
Dados governamentais colhidos entre empresários mostram as causas da mortalidade
de empresas relacionadas com deficiências na gestão financeira dos negócios.
Tendo em vista os problemas de liquidez como o principal causa da falência de MPEs,
este artigo evidenciou a importância da gestão financeira de curto prazo. É sabido que a saúde
financeira da organização é determinada por inúmeras variáveis, especialmente em micro e
pequenas empresas. Como forma de simplificar a análise dos dados produzidos pela
contabilidade este artigo também mostrou um ponto crucial na gestão de curto prazo: capital
de giro líquido sempre superior às necessidades de capital de giro. Este conceito se
corretamente entendido, pode auxiliar o micro e pequeno empresário a restabelecer o rumo
dos negócios mesmo que haja aumentos excessivos em alguma das contas patrimoniais.
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