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Florianópolis, outubro de 2010.

EFEITO TESOURA E OVERTRADING: UMA RECOMENDAÇÃO AOS


OPTANTES DO SIMPLES NACIONAL NAS VENDAS A ÓRGÃOS PÚBLICOS

Gilberto de Oliveira Moritz*


Leonardo Studzinski de Souza**
RESUMO
Os micro e pequenos negócios representam a maior parte dos empregadores formais
do Brasil. Também provêm estes 26% dos recursos para consumo das famílias. Tamanha é a
importância deste setor para a economia que a Constituição Federal de 1988 prevê a edição de
leis incentivando o poder público à contratação de serviços e fornecimento de bens
provenientes destas empresas.
O objetivo deste artigo é ser uma recomendação técnica aos micro e pequenos
empresários fornecedores de bens e serviços aos órgãos públicos. Estes empresários,
favorecidos pela nova redação da Lei 8.666 e pela Lei Complementar 123, podem ter suas
operações aumentadas, porém, por desconhecerem as boas práticas da gestão financeira, mais
acentuadamente ainda as nuances das finanças de curto prazo, fazem deste incremento início
de problemas.
Por meio de estudo teórico e análise de dados estatísticos oficiais o trabalho apresenta
os equívocos mais comuns observados na gestão financeira de curto prazo em empresas que
têm como parceiro comercial o setor público. Por fim, são postas recomendações para antever
problemas de liquidez e rentabilidade capazes de afetar o equilíbrio nas contas dos micro e
pequenos empresários.

PALAVRAS-CHAVES: Finanças de curto prazo, Efeito Tesoura, Overtrading,


Simples Nacional, Licitações.

INTRODUÇÃO
1.1. Crescimento econômico e oportunidade para empreendedorismo
Governos do mundo inteiro sabem que estão atravessando uma fase sem precedentes.
Na conjuntura: tendências políticas divergentes; emergência de uma economia mundial mais
aberta; avanço tecnológico em direção a um mundo digitalizado; e, preocupações comuns
com as conseqüências ecológicas. Estes são apenas os primeiros indicativos de mudança, que
apontam à necessidade um novo caminho para as organizações em um ambiente global.
No Brasil, recentemente, uma constatação da premência da economia global sobre as
ações governamentais é a implementação de políticas públicas nacionais para impulsionar o
crescimento do produto interno. Percebe-se que, a despeito de toda teoria de livre comércio, a
preoc1upação dos governos é fomentar o mercado e produtores nacionais para protegê-los da
ameaça representada pela competitividade internacional.
Paul Krugman (2001) traz à discussão que políticas comerciais agressivas, ou seja, o
cerceamento do livre-comércio, podem, às vezes, aumentar o bem-estar da nação como um

1*
Doutor em Engenharia de Produção - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, 2004.
**
Mestrando em Ciências da Administração – Universidade Federal de Santa Catarina.

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todo. Bruno Ratti (2006) ratifica a tese levantada afirmando que entraves ao livre-comércio
não são incompatíveis com o desenvolvimento de economias nacionais.
Assim, no período de 1996 a 2002 percebeu-se o crescimento acentuado no número de
micro e pequenas empresas, 60% para as primeiras e 40% para as outras, segundo Santos
(2009). A despeito de toda a burocracia brasileira nas áreas fazendárias, previdenciária e
registros, civis e mercantis, este crescimento manteve-se por toda primeira década do século
XXI.
Portanto, percebe-se o intuito das políticas de Estado implantadas no Brasil desde
meados da última década de 90: o de propiciar condições para promover e perenizar novos
empreendedores no País, sobretudo aos micro e pequenos.
1.2. Compras públicas e Lei 8.666
Com a Constituição Federal de 1988 a licitação passou a ser de observância
obrigatória pela Administração Pública direta e indireta de todos os poderes da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. No inciso XXI do art. 37 está previsto que:
“ressalvados os casos específicos na legislação, as obras, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública”.
Em 1993 a licitação passou a ser regulamentada pela Lei 8.666. Esta disciplinou toda a
forma de contratação junto a Administração Pública em consonância com a previsão do inciso
constitucional acima citado.
Ainda sobre as previsões da Constituição Federal, o artigo art. 170, inciso IX,
reclamava tratamento favorecido para as empresas brasileiras de pequeno porte, EPP,
constituídas sob as leis brasileiras e que tivessem sede e administração no País. Também outro
artigo, o de nº 179, previa, por meio de Lei Complementar, tratamento jurídico diferenciado,
simplificado e com redução de obrigações tanto para as empresas de pequeno porte, EPP,
quanto para as microempresas, ME.
1.3. Vendas à Administração
Segundo o portal do governo federal, Comprasnet, vinculado ao Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, as compras de produtos e bens e a contratação de serviços
comuns realizadas pelo governo federal, nos nove primeiros meses do ano de 2010, chegaram
a R$ 32,3 bilhões. O volume é 18,5% maior que o registrado no mesmo período de 2009.
Estes dados divulgados no dia 25 de novembro de 2010, em evento realizado pelo Sebrae
Nacional, 3º Fomenta.
O quadro abaixo mostra a monta dos dispêndios geral com compras públicas no ano de
2004.
Esfera governamental Valor das compras (R$ milhões)
Municipal 64.901,55
Estadual 47.963,56
Federal 45.060,19
Estatais 96.928,11
Total 254.853,41
SIASG 2004, Balanço Geral da União e Balanços Estaduais e Municipais
O montante mostra o potencial das compras públicas, que se configura como
oportunidade para que empresários aumentem sua carteira de clientes, sobretudo os MPEs.

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1.4. Participação das Micro e Pequenas Empresas - MPEs


O conjunto destes fatores deu impulso para que fosse criada, em 2006, a Lei
Complementar 123, para regular os pequenos negócios, e por decorrência, criando um
ambiente de incentivo ao empreendedor de menor capital.
Tal Lei atualizou, em verdade, a legislação existente reimplantando o Simples Federal
como Simples Nacional, um sistema de tributação simplificado, cuja adesão pode ser feita
apenas por pessoas jurídicas. Mediante único recolhimento mensal, paga-se diversos impostos
e contribuições à seguridade social.
Para Azevedo (2007) esta Lei funde num só instrumento regras jurídicas dispostas em
duas legislações (Leis 9.317/96 e 9.841/99), sendo mais abrangente que as anteriores, dando
preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos aos micro e pequenos
empresários.
A inovação do legislador, no que interessa o tema das finanças de curto prazo, está
estampada no Capítulo V da Lei. Dentre vários detalhes, prescreve a possibilidade de a
Administração realizar processo licitatório:
 destinado exclusivamente à participação de ME e EPP, quando a contratação for
de valor até R$ 80.000,00;
 em que se exija dos licitantes a subcontratação de ME ou EPP, desde que o
percentual máximo do objeto a ser subcontratado não exceda a 30% do total
licitado; e,
 em que se estabeleça cota de até 25% do objeto para a contratação de ME e EPP,
em certames para a aquisição de bens e serviços de natureza divisível.
Exige-se, contudo, que o valor a ser licitado nessas condições não exceda a 25% do total
licitado em cada ano civil pelo órgão.
Há ainda a criação de uma modalidade de desempate entre concorrentes durante
procedimento licitatório, favorecendo a contratação dos pequenos. Entende-se empate aquelas
situações nas quais as propostas apresentadas pelas MPE sejam iguais ou até 10% (dez por
cento) superiores á proposta mais bem classificada de outras empresas. Na modalidade
pregão, o intervalo percentual será de até 5% (cinco por cento) superior ao menor preço.
Para o gerente nacional de Políticas Públicas do SEBRAE, Bruno Quick, em
informações divulgadas no sítio do órgão na internet, antes da aprovação da Lei
Complementar 123/06, a participação das micro e pequenas empresas em compras
governamentais registrava, em média, 17% do volume total. A partir da vigência da legislação
supracitada, esse percentual subiu para 30%. Só em 2009, o governo federal movimentou em
compras públicas de bens e serviços comuns o montante de R$ 49,7 bilhões. Desse total, R$
14,6 bilhões resultaram de operações realizadas por micro e pequenas empresas.
1.5. Micro e Pequenas Empresas no Brasil
As micro e pequenas empresas compõem importante parcela da economia nacional e
mundial. De acordo com o SEBRAE (2005), essas empresas, no Brasil, respondem por 99,2%
dos negócios formais, por 57,2% dos empregos e por 26% da massa salarial. Um dos papéis
designados a elas é a oferta de produtos e serviços que, devido ao elevado grau de
customização, proximidade e agilidade no fornecimento, só são rentáveis quando produzidos
por este tipo de organização.
Apesar de serem um dos pilares da economia nacional, ainda segundo o SEBRAE
(2005), aproximadamente 60% das MPEs se extinguem até o quarto ano de existência. De

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acordo com recente estudo sobre fatores condicionantes e taxa de mortalidade das MPEs,
realizado pelo SEBRAE (2007), os próprios empresários apontam problemas com carga
tributária elevada como o principal fator para que a empresa encerre sua atividade, seguido
por problemas na administração de capital de giro.
A primeira razão apontada é externa à empresa, enquanto a outra é inerente à gestão
financeira de curto prazo. Em razão das suas peculiaridades, as MPEs enfrentam problemas
bem específicos, em geral diferentes ou em proporções distintas quando comparados àqueles
vivenciados pelas grandes empresas. Às vezes as MPEs são atrativas do ponto de vista de
rentabilidade, porém, devido às deficiências na gestão financeira de curto prazo, operam em
alto risco de liquidez, o que as deixam suscetíveis a toda sorte de adversidades.
Dados governamentais apontam ainda que a maior dificuldade das micro e pequenas
empresas é o insuficiente preparo gerencial de proprietários ou dirigentes, destacando que as
estratégias dessas empresas são estabelecidas confiando puramente em informações e
experiências vivenciadas pelos seus administradores, confirmando um fator predominante nas
decisões financeiras de curto prazo.
Faria, Ferreira e Santos, citando diversos autores em artigo publicado em 2009, listam
outras questões que dificultam a gestão financeira nas micro e pequenas empresas:
 Deficiência no planejamento prévio à abertura da empresa; má gestão; problemas
particulares; problemas entre os sócios, para Neves e Pessoa (2006 apud FARIA,
FERREIRA E SANTOS, 2009).
 Para Biléssimo (2002 apud FARIA, FERREIRA E SANTOS, 2009) a
informalidade dificulta o mapeamento de indicadores de desempenho da gestão
financeira.
 A contabilidade tradicional, muitas vezes única fonte de informação de micro e
pequenas empresas, não fornece bases suficientes para a tomada de decisão. É o
que afirma Gazzoni (2003 apud FARIA, FERREIRA E SANTOS, 2009).
 Já para Cher, a falta de recursos financeiros e dificuldades na obtenção de créditos,
financiamentos e investimentos de terceiros, isto porque investidores raramente
sentem-se atraídos por empresas de menor porte (1990apud FARIA, FERREIRA E
SANTOS, 2009).
 A manutenção de maus pagadores, falta de disciplina, responsabilidade e
organização são também considerados por Neves e Pessoa (2006 apud FARIA,
FERREIRA E SANTOS, 2009) neste rol.
 A falta de controle, que ocasiona dificuldade para análise e avaliação de decisões
tomadas, quando da exposição da empresa ao ambiente de negócios, é lembrada
por Gazzoni (2003 apud FARIA, FERREIRA E SANTOS, 2009).
A situação de perda de liquidez quando os prazos de compra são impostos pelos
fornecedores e os de venda pelos clientes, ocasionados pelo relacionamento freqüente com
grandes fornecedores ou grandes clientes torna efetiva a possibilidade de falência do pequeno
negócio.
Na sequência este trabalho apresentará como os prazos alongados de recebimento
tendem dificultar a gestão financeira das micro e pequenas empresas que participam de
licitações públicas. Com impacto em todas as operações, os reflexos mais observados, no
entanto, tem sido a perda de crédito na praça e o socorro a empréstimos com taxas de juros
muito elevadas, deteriorando ainda mais as operações empresariais.

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METODOLOGIA
Este artigo define-se como uma pesquisa descritiva na classificação de Gil (2006) e
Marconi e Lakatos (2006), pois procura características específicas comuns a empresas com
dificuldades financeiras e operacionais por aumento da receita de vendas.
O presente estudo coletou informações em órgãos estatais e para-estatais, como
Ministérios e SEBRAE, em artigos de sítios na internet para chegar a um perfil de micro e
pequenas empresas adequado ao objetivo traçado. Portanto trata-se também de uma pesquisa
descritiva.
Para Cervo (1983) a pesquisa descritiva observa, registra , analisa e correlaciona fatos
ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Busca conhecer as diversas situações e relações
que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento
humano, tanto do individuo tomado isoladamente como grupos e comunidades complexas.
Ainda de acordo com Cervo (1983) a pesquisa bibliográfica procura explicar um
problema a partir de referencias teóricas publicadas em documentos. Pode ser realizada
independentemente ou como parte da pesquisa descritiva experimental. Em ambos os casos,
buscam conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado existentes
sobre um determinado assunto, tema ou problema. Já para Lakatos e Marconi (2005), “a
pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao estudo e
com a finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que já foi dito sobre
determinado assunto”.
Neste trabalho, foi realizada a pesquisa sobre a caracterização das MPE´s, as compras
públicas via licitações, e a principal causa de falência das MPE´s. A pesquisa documental
também é necessária, pois representa o melhor entendimento do estudo em questão além do
levantamento bibliográfico e para corroborar evidências coletadas por outros instrumentos e
fontes, possibilitando a confiabilidade de achados, conforme as idéias de Martins (2006).
O levantamento de dados secundários foi feito por meio de material publicado por
diversas instituições, através da análise de relatórios, estudos e dados estatísticos divulgados
pelos mesmos, entre os anos de 2004 a 2010, além do confronto destas fontes com os
conceitos encontrados na pesquisa bibliográfica.

FUNDAMENTAÇÃO
3.1. Administração Financeira;
Compete ao profissional de finanças planejar, coordenar e controlar todas as atividades
referentes à geração de informações financeiras necessárias à administração que incluem
registros contábeis e fiscais, estoques, custos, fluxos de caixa, orçamentos financeiros e bens
patrimoniais. O objetivo final dos profissionais de finanças é criar valor para os acionistas no
longo prazo, ou seja, na empresa o volume de recursos gerados deve superar os recursos
consumidos (GITMAN, 2004).
Dentre os vários profissionais da área financeira, destaca-se o gestor financeiro, que é
responsável por importantes decisões relacionadas a investimento, financiamento, alocação
dos recursos gerados e controle das operações financeiras operacionais (de curto prazo). No
longo prazo, uma empresa não pode ser viável economicamente, ou seja, eficiente do ponto de
vista operacional, e inviável financeiramente. Empresas que não conseguem gerir bem seus
próprios recursos estão fadadas à extinção.

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Harold Rose, professor emérito de Finanças na London Business School, em artigo


publicado em uma coletânea de artigos Financial Times, em 1999, divide a administração
financeira em três áreas: a da estratégia, mediante o estabelecimento de critérios financeiros
para as decisões sobre o aumento de capital; a da administração de risco; e a das operações,
para assegurar que haja recursos suficientes, seja na forma de excedente de tesouraria ou
linhas de crédito par cobrir eventuais déficits de caixa.
Esta última informação destaca mais uma vez o tema central do artigo. Mais ainda,
introduz a idéia de gestão do saldo de tesouraria com vistas a garantir a liquidez da
organização. Temática esta que será esmiuçada na sequência.
3.1.1. Administração do Capital de Giro;
A administração do capital de giro abrange a administração das contas circulantes da
empresa, incluindo ativos circulantes e passivos circulantes. É um dos aspectos mais
importantes da administração financeira já que os ativos circulantes representam cerca de
50% do ativo total e perto de 30% do financiamento total é representado por passivos
circulantes nas empresas industriais. Portanto uma empresa precisa manter um nível
satisfatório de capital de giro de modo a cobrir estes passivos circulantes com certa margem
de segurança.
Para Matias (2006) a gestão do capital de giro pode ser dividida em gestão do capital
de giro operacional, gestão do capital de giro financeiro e gestão integrada do capital de giro.
Shilling (1996) afirma que manter a liquidez corporativa significa efetivamente
gerenciar o capital de giro de modo a ajustar as mudanças no nível de atividade das empresas
causas por fatores como rápido crescimento, ciclo econômico e eventos aleatórios.
Para entendimento inicial do assunto é importante a noção do que venha a ser Ciclo
Operacional. Assaf Neto (2005) definem ciclo operacional como o processo repetitivo que se
inicia na aquisição da matéria-prima para a produção e tem fim no recebimento pela venda do
produto final. Para Marion (1998), o ciclo operacional começa pela entrada de matéria-prima
e termina com o recebimento de dinheiro por meio de vendas à vista e a prazo.
Para que o gerenciamento do capital de giro possa ser eficaz numa empresa, é
necessário que se possa avaliar toda a movimentação realizada no ciclo operacional. Assim,
será possível estabelecer o quanto a empresa precisa de capital de giro para investir em
elementos patrimoniais.
Conforme Assaf Neto e Silva (2005), para que o ciclo operacional da empresa gire a
curto prazo, é necessário que haja uma união de esforços de administradores da empresa, a
fim de que recursos sejam mais bem aproveitados de forma a maximizar o retorno financeiro.
Por sua vez Ciclo Econômico ou de Produção é o intervalo de tempo entre a aquisição
de matéria prima e insumos até a venda efetiva do produto final. Os estoques de matéria
prima, de produtos em processos e produtos acabados até a entrega do produto final ao cliente
pertencem ao ciclo produtivo e econômico da empresa. Está ligado a idéia advinda do
princípio contábil da competência e afastados dos eventos de natureza estritamente financeira.
Já o Ciclo Financeiro representa as entradas e saídas de caixa de um período. Abrange
o período entre o desembolso pelas compras até o efetivo recebimento das vendas. O ciclo
financeiro ocorre em um intervalo de tempo diferente do ciclo de produção, já que, na maioria
das vezes, a compra de matéria prima é realizada a prazo e é em muitas vezes concedido um
prazo ao cliente.

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3.1.2. Capital de Giro Operacional e a Necessidade de Capital de Giro.


As origens de recursos operacionais para capital de giro provêm dos fornecedores e
contas a pagar, tais como salários, encargos sociais, impostos. Já as aplicações do capital de
giro operacional são verificadas nas contas a receber e estoques.
Ocorre que dificilmente os pagamentos efetuados pelas empresas são sincronizados
com os recebimentos, saídas e entradas de caixa. Assim, a falta de sincronismo entre
pagamentos, produção, vendas e recebimentos pode fazer com que o ciclo operacional não
gere recursos em montante e prazo suficientes para sustentar a atividade operacional da
empresa acarretando em necessidade de capital de giro (NCG).
A NCG envolve as contas operacionais, do ativo e passivo circulante, conforme já
destacado anteriormente. Representa a diferença entre o ativo circulante operacional e o
passivo circulante operacional. Ou seja: NCG = AC operacional – PC operacional
A NCG aumenta quando ocorre aumento nos estoques, nas contas a receber, ou com a
diminuição dos fornecedores, contas a pagar. Por outro lado, ocorre diminuição da NCG
quando houver diminuição das contas dos ativos ou aumento dos passivos operacionais.
No entanto, Matias (2006) afirma que ter necessidade de capital de giro não representa
nada negativo para a organização, desde que ela tenha como financiar esta necessidade e com
ela gere valor.
Este é o ponto nevrálgico do artigo: a monitoração da necessidade de capital de giro e
o impacto no resultado da empresa por conta deste suprimento extra de capital. A intenção é a
de aclarar e comentar esta situação, muito comum aos micro e pequenos empresários em
momento de aumento nas vendas.
Se as origens operacionais de giro, que correspondem ao passivo operacional, não
forem suficientes para financiar as aplicações operacionais de giro, que correspondem ao
ativo operacional, a empresa terá NCG e deverá recorrer a recursos externos a sua atividade
operacional. Tais recursos de cobertura poderão ser oriundos dos proprietários, capital de giro
próprio, ou de terceiros, instituições financeiras.
3.1.3. Capital de Giro Financeiro e Saldo de Tesouraria
No que diz respeito às finanças de curto prazo há ainda a Gestão do Capital Financeiro
focaliza as origens e aplicações de recursos financeiros para capital de giro. São origens de
recursos financeiros os financiamentos bancários, duplicatas descontadas; aplicações de
recursos financeiros são caixa e bancos e aplicações financeiras de curto prazo.
Como anteriormente descrito, não existe plena integração dos prazos de vencimento
das contas do capital de giro. Assim, raramente a necessidade de capital de giro é igual a zero.
Dessa forma, ou existe necessidade de capital de giro ou sobra de recursos de giro para ser
aplicada financeiramente.
Surge então um conceito importante na gestão de capital de giro financeiro: Saldo de
Tesouraria. Este item integra a captação e a aplicação de recursos financeiros para o giro.
O saldo de tesouraria, ST, envolve as contas financeiras do ativo e passivo circulante.
Este saldo corresponde à diferença entre o ativo circulante financeiro e o passivo circulante
financeiro. Temos então: ST = AC financeiro – PC financeiro
O aumento do passivo circulante financeiro, devido, por exemplo, a sucessivos
empréstimos bancários ou descontos de duplicatas, pode acarretar aperto financeiro e
conseqüente aumento do risco financeiro, isto é, da empresa tornar-se insolvente.

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Portanto, a gestão do capital de giro financeiro está intimamente ligada à liquidez da


empresa, isto é, sua capacidade de pagamento.
3.1.4. Gestão integrada do Capital de Giro
Como exposto nos itens precedentes, o desequilíbrio entre a geração e a aplicação de
recursos operacionais, no qual o ativo circulante operacional não pode ser totalmente
financiado pelo passivo circulante operacional, faz com que a empresa tenha necessidade de
capital de giro.
Esta necessidade (NCG) obriga a empresa a buscar recursos externos ao ciclo
operacional para financiar o capital de giro. Tais recursos podem ser recursos próprios ou
recursos de terceiros. Os recursos de terceiros são, normalmente, empréstimos bancários de
curto prazo, fazendo parte do capital de giro financeiro. Os recursos próprios advêm do
patrimônio líquido não imobilizado ou não investido a longo prazo, ou seja, do capital de giro
próprio.
Capital de Giro Líquido = Necessidade de Capital de Giro (NCG) + Saldo de
Tesouraria (ST)
A partir desta relação pode-se identificar dois tipos extremos de estrutura financeira:
De baixo risco:
oper fin
+
acional anceiro
A 1
= 80 + 40
C 20
P 1
= 80 + 20
C 00
C 2 0 20
= +
GL 0 (NCG) (ST)

Nesta estrutura acima o CGL é positivo, indicando que contas de longo prazo
financiam os ativos de curto prazo. Aqui as próprias operações geram recursos para se
financiar (NCG = 0) e há excedente financeiro (ST = 20).
De alto risco.
operacional + financeiro
AC 120 = 80 + 40
PC 155 = 60 + 95
CGL -35 = 20 (NCG) + -55 (ST)

Já nesta estrutura, o CGL é negativo, indicando que contas do ativo de longo prazo são
financiadas por passivos de curto prazo. As operações não conseguem gerar recursos para se
financiar (NCG = 20) e há necessidade de recursos de instituições financeiras para financiar
as operações de curto prazo (ST = -55).
3.1.5. Efeito Tesoura
Como visto na estrutura de alto risco, a necessidade de capital de giro pode conduzir
ao aumento do saldo negativo de tesouraria, implicando na captação de recursos financeiros
para bancar tal necessidade. O crescimento da necessidade de capital de giro (NCG) superior

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ao aumento do capital de giro líquido (CGL) faz com que ocorra o Efeito Tesoura como
ilustra a figura abaixo.

Figura 1: Crescimento da NCG > crescimento da CGL Matias (2006)


A área 1 na ilustração representa o período em que o capital de giro líquido foi
superior à necessidade de capital de giro, indicando a existência de passivos de longo prazo
financiando a necessidade de capital de giro, o que é desejável em termos de liquidez.
Já a área 2, entre os gumes da tesoura, representa o período em que ocorreu
desequilíbrio na gestão do capital de giro da empresa: a NCG cresceu a taxas maiores do que
o CGL, implicando em saldos de tesouraria cada vez mais negativos (mais empréstimos
bancários), o que aumenta o risco de falta de liquidez.
Nem sempre o Efeito Tesoura é prejudicial aos negócios, principalmente em termos de
rentabilidade. Por exemplo, se a empresa consegue captar recursos (empréstimos) a 1,5% ao
mês e com as vendas a prazo consegue obter 4% ao mês (contas a receber). O Efeito Tesoura
não é prejudicial para a condição econômica da empresa, apesar de prejudicial em termos de
liquidez (capacidade de pagamento).
3.1.6. Overtrading
Para Matias (2006) overtrading significa fazer negócios superiores à capacidade de
financiamento da necessidade de capital de giro deste mesmo negócio. Portanto, overtrading é
a condição de impossibilidade de financiamento do Efeito Tesoura. Nesta condição a
organização não consegue obter recursos para sustentar sua necessidade de capital de giro.
As razões pelas quais uma empresa busca aumentar seu volume de vendas são
variadas. Algumas vezes, o fato de a empresa dispor de certo nível de ociosidade da
capacidade instalada de produção pode levá-la a dinamizar suas vendas, admitindo
inicialmente que a diluição dos custos fixos por maior volume de produção fará com que os
custos fixos por maior volume de produção faça o custo unitário seja reduzido, e portanto
aumente seu lucro. Ou ainda, o overtrading pode ser a situação na qual a empresa,
normalmente iludida com o sucesso de venda de seus produtos e serviços, expanda sua
produção e venda acima de sua capacidade para cobrir a necessidade de capital de giro.
Entretanto, quando o aumento de vendas provoca maior volume de investimentos em
duplicatas a receber, estoques ou outros ativos circulantes operacionais, de modo que o
crescimento dos passivos operacionais mais a geração adicional de recursos operacionais não
sejam capazes de compensar os investimentos, dependendo da magnitude do crescimento da
NCG frente ao crescimento do CGL, temos uma tendência de overtrading.

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Nesta situação a NCG cresce mais do que a o CGL, conforme demonstrado na


ilustração do Efeito Tesoura, conduzindo a empresa a uma expansão da captação de recursos
junto a terceiros, normalmente bancos, já que a geração de recursos financeiros é inferior a
esse aumento de NCG. O Overtrading é uma das principais causas da ocorrência do Efeito
Tesoura.
CASO PRÁTICO
Na seqüência são apresentados formas para avaliar a gestão financeira de curto prazo
das micro e pequenas empresas bem como propostas de ações para evitar-se o Efeito Tesoura
e Overtrading.
Para tanto, o raciocínio será conduzido com base na empresa fictícia de pequeno porte,
EPP, Vende Fácil, fornecedora de material de consumo, tais como água em bombonas, copos
plásticos, pó de café, papel toalha. Serão apresentados dois cenários: o primeiro com
incremento de anual de 10% nas receitas líquidas; o segundo, contemplando as mudanças da
Lei Complementar 123/06, com incremento de 30%. Outras premissas serão informadas no
devido momento.
4.1. Caracterização de Microempresa e de Empresa de Pequeno Porte
O segundo capítulo da Lei Complementar 123/06 trata do enquadramento legal destas
empresas. De acordo com o art. 3º, caput, considera-se ME em EPP a sociedade empresária, a
sociedade simples e o empresário, este conforme o art. 966 do Código Civil, registrados
devidamente no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas,
conforme cada caso, desde que:
a) No caso das ME, aufira-se em cada ano-calendário receita bruta igual ou inferior a
R$ 240.000,00;
b) No caso das EPP, aufira-se receita bruta, da mesma forma, entre R$ 240.000,00 e
R$ 2.400.000,00, não podendo ultrapassar esse valor, sob pena de descaracterizar-se.
A lei considera receita bruta toda a quantia adquirida pela venda de bens e serviços,
nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e também o resultado nas
operações em conta alheia, art.3º, §1º.
A EPP Vende Fácil obteve no ano de 2006, para facilitar, receita bruta igual a receita
líquida de R$ 300.000,00, portanto enquadra-se na alínea “b” acima descrita.
Tendo sido constituída com a intenção, dentre outras, de fornecer material de consumo
para administração pública em sentido amplo, a Vende Fácil participa tanto quanto possível de
processos licitatórios. Tem logrado êxito em diversas oportunidades e a maior parte de seu
faturamento, 60%, é atrelada a este setor.
Inicialmente cumpre observar o balanço patrimonial, a demonstração de resultado do
exercício, e índices financeiros relacionados com faturamento normal de vendas da EPP.
Entende-se, para fins desta recomendação, como faturamento normal aquele obtido no
primeiro cenário descrito acima: cujo incremento de receitas líquidas se dá a taxa de 10% ao
ano.
A análise das demonstrações contábeis tem como objetivo fornecer informações de
natureza econômica e financeira aos usuários da contabilidade para tomada de decisão. Para
Oliveira (2007) “a análise das demonstrações visa relatar, com base nas informações dos
demonstrativos contábeis, a posição econômico-financeira atual, as causas que determinaram
a evolução apresentada e as tendências futura. É possível, assim, extrair informações sobre o
passado, o presente e o futuro (projeções) da empresa”

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EPP Vende Fácil


Balanço Patrimonial (R$ 1.000,00)
31/dez/2006 31/dez/2007 31/dez/2008 31/dez/2009 31/dez/2010
1. Caixa 10,00 11,00 12,10 13,31 14,64
2. Bancos 20,00 22,00 24,20 26,62 29,28
3. Clientes 130,00 143,00 157,30 173,03 190,33
4. Estoques 50,00 55,00 60,50 66,55 73,21
ativo circulante 210,00 231,00 254,10 279,51 307,46
5. ARLP 10,00 11,00 12,10 13,31 14,64
6. Imobilizado 30,00 27,00 24,00 21,00 18,00
ativo não circulante 40,00 38,00 36,10 34,31 32,64
Total ativo 250,00 269,00 290,20 313,82 340,10

7. Salários 20,00 22,00 24,20 26,62 29,28


8. Tributos a recolher 20,00 22,00 24,20 26,62 29,28
9. Fornecedores 45,00 49,50 54,45 59,90 65,88
10. Empréstimos 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00
passivo circulante 95,00 103,50 112,85 123,14 134,45
11. Financiamentos 20,00 21,40 22,90 24,50 26,22
12. Patrimônio Líquido 135,00 144,10 154,45 166,18 179,44
PL + passivo não circulante 155,00 165,50 177,35 190,69 205,65
Total passivo 250,00 269,00 290,20 313,82 340,10

O balanço patrimonial e a demonstração de resultado do exercício são as principais


demonstrações analisadas. A existência de demonstrações comparadas, com valores de
exercícios anteriores, ou projetados, como neste caso, é de suma importância para a correta
avaliação da situação econômico financeira da empresa.
EPP Vende Fácil
Demonstração de Resultado do Exercício (R$ 1.000,00)
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Vendas Líquidas 300,00 330,00 363,00 399,30 439,23
Tributos s/ receita 20,52 22,57 24,83 30,11 33,12
Receita líquida 279,48 307,43 338,17 369,19 406,11
CMV 186,00 204,60 225,06 247,57 272,32
Lucro Bruto 93,48 102,83 113,11 121,63 133,79
Despesas vendas 27,00 29,70 32,67 35,94 39,53
Despesas operacionais 18,40 21,53 23,93 23,79 26,43
depreciação 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00
Despesas financeiras 36,18 39,50 43,15 47,17 51,58
Lucro Operacional
8,90 9,10 10,35 11,73 13,25
Líquido

Diante destas demonstrações relativas ao primeiro cenário, alheio ao incentivo, pode-


se retirar algumas informações úteis ao estudo, e que serão mais facilmente entendidas
mediante o uso de índices financeiros.

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Florianópolis, outubro de 2010.

Índices de liquidez são em número de quatro: geral, corrente, seca e imediata. Estes
índices mostram a capacidade da empresa em honrar os compromissos assumidos. Para um
diagnóstico completo acerca da liquidez é preferível a utilização do conjunto dos indicadores
citados para acurar a conclusão.
Índices de Liquidez
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Liquidez geral 1,91 1,94 1,96 1,98 2,00
Liquidez corrente 2,21 2,23 2,25 2,27 2,29
Liquidez seca 1,68 1,70 1,72 1,73 1,74
Liquidez imediata 0,32 0,32 0,32 0,32 0,33

Conclui-se ser possível à empresa saldar seus compromissos: imediatos e de curto e


longo prazo. Percebe-se ainda elevada monta de recursos no circulante operacional. Isso se
deve a atividade comercial, muito semelhante a atacadista, fazendo necessário quantidades
grandes de estoques, ou elevado giro destes, para rapidamente atender pedidos.
Para Matias (2006), os indicadores de liquidez dinâmica indicam a evolução da
capacidade de pagamento da empresa, notadamente pelas alterações do capital de giro líquido,
da necessidade de capital de giro e do saldo de tesouraria.
Índices de Liquidez Dinâmica
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Capital de giro líquido 115,00 127,50 141,25 156,38 173,01
Necessidades de capital de giro 95,00 104,50 114,95 126,45 139,09
Saldo de tesouraria 20,00 23,00 26,30 29,93 33,92

Percebe-se, pela tabela acima, o crescimento do Capital de Giro Líquido a taxas


maiores que a Necessidade de Capital de Giro. Com o crescimento controlado das vendas não
ocorre o Overtrading tampouco o Efeito Tesoura.
Os índices de rentabilidade selecionados nesse trabalho mostram, por exemplo, o
retorno que a empresa está proporcionando sobre o capital próprio. Entende-se que o capital
próprio corresponde ao valor investido no negócio pelos proprietários, o lucro acumulado e as
respectivas reservas. Além da rentabilidade sobre o patrimônio líquido é possível verificar a
rentabilidade do ativo, o giro do ativo total e a margem líquida proporcionada pela
comercialização das mercadorias.
Conforme Zdanowicz (1998) “rentabilidade é comumente utilizada no meio
empresarial, para referir-se ao desempenho econômico da organização”.
Índices de Rentabilidade
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Giro do ativo 1,20 1,23 1,25 1,27 1,17
Margem líquida 2,97% 2,76% 2,85% 2,94% 3,02%
Rentabilidade do ativo 3,56% 3,38% 3,57% 3,74% 3,90%
Rentabilidade do PL 6,59% 6,32% 6,70% 7,06% 7,39%

Em um ambiente de alta competitividade analisa-se a importância do controle dos


ativos e principalmente dos itens que formam o ativo circulante do negócio. Segundo Braga
(1999) a análise da rotatividade “visa determinar o giro dos recursos aplicados pela empresa,
tendo como último objetivo o estabelecimento de condições e dias na rotação desses
recursos”.

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Florianópolis, outubro de 2010.

Índices de Rotatividade
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
do estoques 3,72 3,72 3,72 3,72 3,72
de duplicatas a receber 1,85 1,85 1,85 1,85 1,85
de fornecedores 4,13 4,13 4,13 4,13 4,13
do ativo circulante 1,43 1,43 1,43 1,43 1,43

Como se pode observar os índices de rotatividade acima são constantes ao longo do


período avaliado. Isso se deve ao incremento constante das contas patrimoniais bem como das
de resultado. Na prática isso dificilmente aconteceria. No entanto pode-se concluir como
satisfatório o desempenho econômico da EPP Vende Fácil no período em análise.
As demonstrações a seguir são relativas ao segundo cenário: incremento das receitas
líquidas à taxa de 30% ao ano; a mesma taxa serve de base para a conta clientes, tributos a
recolher e fornecedores. Outras contas, porém, não têm aumento na mesma proporção: os
financiamentos a longo prazo, conquanto constituam-se de capital barato a financiar o
circulante, crescem a taxas suficientes para manter as atividades, mas resultam em maiores
despesas; as disponibilidades, comprometidas para pagamentos diários, não podem ser
suprimidas em detrimento dos financiamentos, tampouco podem crescer como o ativo
circulante operacional.
A causa desta situação é fruto do aumento desproporcional da conta clientes e do prazo
com que estes saldam seus compromissos com a Vende Fácil. Anota-se ainda que o mesmo
processo pode ocorrer com os fornecedores desta ME.
EPP Vende Fácil
Balanço Patrimonial
31/dez/2006 31/dez/2007 31/dez/2008 31/dez/2009 31/dez/2010
1. Caixa 10,00 10,50 11,03 11,58 12,16
2. Bancos 20,00 21,00 22,05 23,15 24,31
3. Clientes 130,00 169,00 219,70 285,61 371,29
4. Estoques 50,00 57,50 66,13 76,04 87,45
ativo circulante 210,00 258,00 318,90 396,38 495,21
5. ARLP 10,00 11,00 12,10 13,31 14,64
6. Imobilizado 30,00 27,00 24,00 21,00 18,00
ativo não circulante 40,00 38,00 36,10 34,31 32,64
Total ativo 250,00 296,00 355,00 430,69 527,85

7. Salários 20,00 22,00 24,20 26,62 29,28


8. Tributos a recolher 20,00 26,00 33,80 43,94 57,12
9. Fornecedores 45,00 58,50 76,05 98,87 128,52
10. Empréstimos 10,00 13,00 16,90 21,97 28,56
passivo circulante 95,00 119,50 150,95 191,40 243,49
11. Financiamentos 20,00 45,69 83,56 138,18 210,70
12. Patrimônio Líquido 135,00 130,81 120,49 101,12 73,66
PL + passivo não circulante 155,00 176,50 204,05 239,30 284,36
Total passivo 250,00 296,00 355,00 430,69 527,85

EPP Vende Fácil

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Florianópolis, outubro de 2010.

Demonstração de Resultado do Exercício


31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Vendas Líquidas 300,00 390,00 507,00 659,10 856,83
Tributos s/ receita 20,52 26,68 38,53 54,57 71,63
Receita líquida 279,48 363,32 468,47 604,53 785,20
CMV 186,00 241,80 314,34 408,64 531,23
Lucro Bruto 93,48 121,52 154,13 195,88 253,96
Despesas vendas 27,00 46,80 60,84 79,09 102,82
Despesas operacionais 18,40 27,30 35,49 46,14 59,98
depreciação 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00
Despesas financeiras 36,18 48,61 65,13 87,03 115,62
Lucro Operacional Líquido 8,90 -4,19 -10,33 -19,37 -27,45

O resultado da má gestão financeira de curto prazo tem reflexos danosos à


organização. O lucro líquido cai ano a ano e o patrimônio líquido também é consumido, a
despeito do aparente sucesso dado pelo volume crescente de receitas líquidas.
Índices de Liquidez
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Liquidez geral 1,91 1,63 1,41 1,24 1,12
Liquidez corrente 2,21 2,16 2,11 2,07 2,03
Liquidez seca 1,68 1,68 1,67 1,67 1,67
Liquidez imediata 0,32 0,26 0,22 0,18 0,15

Nada preocupa se analisados isoladamente os índices de liquidez. Conquanto fictícios,


tais índices se assemelham aos de muitas empresas no mundo real, ou até seriam desejáveis!
Índices de Liquidez Dinâmica
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Capital de giro líquido 115,00 138,50 167,95 204,99 251,72
Necessidades de capital de giro 105,00 129,00 159,08 196,88 244,54
Saldo de tesouraria 20,00 18,50 16,18 12,76 7,90

Aqui, novamente, encontra-se o cerne deste artigo: a possibilidade de diagnóstico de


problemas na gestão de giro financeiro por meio de simples indicadores. Resta claro o
descompasso entre o crescimento do capital de giro líquido e a necessidade de capital de giro.
Isso se confirma pelo decréscimo do saldo de tesouraria
Índices de Rentabilidade
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10
Giro do ativo 1,20 1,32 1,43 1,53 1,62
Margem líquida 2,97% -1,07% -2,04% -2,94% -3,20%
Rentabilidade do ativo 3,56% -1,41% -2,91% -4,50% -5,20%
Rentabilidade do PL 6,60% -3,20% -8,57% -19,16% -37,27%

Os índices de rentabilidade comprovam quão insustentável passa a ser o


empreendimento pós-surto de vendas ocasionados pelas vendas à Administração sem o
correto planejamento.
Índices de Rotatividade
31/dez/06 31/dez/07 31/dez/08 31/dez/09 31/dez/10

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Florianópolis, outubro de 2010.

do estoques 3,72 4,21 4,75 5,37 6,07


de duplicatas a receber 1,85 1,85 1,85 1,85 1,85
de fornecedores 4,13 4,13 4,13 4,13 4,13
do ativo circulante 1,43 1,51 1,59 1,66 1,73

Mesmo havendo melhorias na gestão de estoques não são suficientes para impedir o
colapso nas operações.

CONCLUSÃO
O novo estatuto nacional das MPE trouxe diversas medidas a fim incentivar a
participação destas organizações na economia brasileira. Muito especialmente concedeu
incentivos na seleção de propostas para as compras públicas.
Dados governamentais colhidos entre empresários mostram as causas da mortalidade
de empresas relacionadas com deficiências na gestão financeira dos negócios.
Tendo em vista os problemas de liquidez como o principal causa da falência de MPEs,
este artigo evidenciou a importância da gestão financeira de curto prazo. É sabido que a saúde
financeira da organização é determinada por inúmeras variáveis, especialmente em micro e
pequenas empresas. Como forma de simplificar a análise dos dados produzidos pela
contabilidade este artigo também mostrou um ponto crucial na gestão de curto prazo: capital
de giro líquido sempre superior às necessidades de capital de giro. Este conceito se
corretamente entendido, pode auxiliar o micro e pequeno empresário a restabelecer o rumo
dos negócios mesmo que haja aumentos excessivos em alguma das contas patrimoniais.

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Florianópolis, outubro de 2010.

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