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Resumo: Este trabalho teve como objetivo refletir sobre questões extremamente importantes e imbricadas
entre si: investigou a trajetória da mulher e o surgimento do feminismo no mundo e posteriormente, no
Brasil. Como não seria possível separar a política dos movimentos feministas, buscou-se conhecer como
se dá este processo no Brasil, com a análise de dados de eleições passadas até a de 2014. De posse desses
dados realizou-se uma análise dos mesmos à luz das teorias culturais e pós-colonialistas.
Palavras-chave: mulher; política e subalternidade; pós-colonialismo.
Abstract: This study aimed to reflect on extremely important issues and overlapping one another,
investigated the history of women and the rise of feminism in the world and later in Brazil. As it would
not be possible to separate the politics of feminist movements, he sought to know how is this process in
Brazil, with data analysis of past elections until 2014. With this data conducted an analysis of the same in
the light of cultural theories and post-colonialists.
Keywords: women; political and subordination; postcolonialism.
Introdução
Meu interesse por tudo que se relaciona às mulheres, sendo eu mulher, está ligado a
muitos e diferentes fatores, principalmente pela mudança de hábitos culturais ocorridas nas
sociedades ocidentais, a partir do século XX, como maior abertura para questionar papéis que lhe
eram impostos pelos padrões socioculturais existentes até então, e como apesar destas mudanças
ainda existe um padrão de inferioridade, referente à cultura colonialista / pós-colonialista, de que
ainda somos reféns.
Por isso, este trabalho tem como objetivo analisar as concepções presentes nos estudos de
gênero – o feminino, relacionando-os com a subalternidade oriunda do pós-colonialismo e seu
resultado na participação política feminina, apontando de que forma se compõe a experiência de
subalternidade das mulheres neste campo. Para dar conta desta proposta será feita uma revisão
teórica que contemplará, inicialmente a história de trajetória do gênero feminino, explicitando a
política e a participação da mulher, mostrando como ela é vista na cultura pós-colonialista e os
resultados desta interrrelação.
A literatura nos mostra que houveram diferentes deslocamentos teóricos relativos ao
gênero feminino, ocorridos a partir de questões políticas, econômicas, ideológicas, sociais e
culturais nos diversos contextos históricos. Desde a Grécia Antiga até o Renascimento, das
concepções de um único sexo (isomorfismo), à de dois sexos (dismorfismo), o que se constata é
que até 1950, no século XX, as questões relativas às diferenças sexuais sempre convergiram para
um ponto central – o da inferioridade da mulher em relação ao homem.
Questões de Gênero e a trajetória feminina
2
[..] homem e mulher não seriam definidos por uma diferença intrínseca em
termos de natureza, de biologia, de dois corpos distintos , mas, apenas em
termos de um grau de perfeição [...] os órgão reprodutivos vistos como iguais
em essência e reduzidos ao padrão masculino (Laqueur, 1987 Apud
ROHDEN,1998, p.128 - 129).
1
Para Aristóteles a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que ele chamava de filosofia prática.
Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa com a felicidade coletiva da pólis. Sendo assim, é tarefa
da política investigar e descobrir quais são as formas de governo e as instituições capazes de garantir a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de
investigar a constituição do estado.
3
2
As Ordenações Filipinas, ou Código Filipino, são uma compilação jurídica que resultou da reforma do código manuelino, por Felipe II de
Espanha (Felipe I de Portugal), durante o domínio castelhano . Ao fim da União Ibérica (1580-1640), o Código Filipino foi confirmado para
continuar vigendo em Portugal por D. João IV. A exposição de motivos da Lei de 5 de junho de 1595 (Versão digitalizada da edição de Cândido
Mendes das Ordenações Filipinas, pela Universidade de Coimbra, com erros: há duas páginas 144 e falta a 145, no Título LXVI, do Livro I (Dos
Vereadores)) , publicada em Madrid , é uma manifestação do absolutismo de direito divino, paternalista, repleto de referências autoelogiosas.
4
3
O Código Civil de 1916 foi elaborado por Clovis Beviláqua e regulava as relações civis e jurídicas e perdurou até sua reformulação em 1988.
Disponível: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6583&revista_caderno=14 Acesso 30/12/2014
5
Saffioti (2004) chama a atenção para o fato de que essas relações de dominação foram
não só reproduzidas, mas apropriadas, reconfiguradas e ampliadas pelas sociedades capitalistas e
pelo seu modo de produção. Desta forma “[...] o conceito de patriarcado também é importante, já
que aí estão presentes as relações hierarquizadas entre seres socialmente desiguais. (SAFFIOTI,
2001, p. 38)”, mas alerta que:
Mundiais, entre tantas outras), o feminismo ganha destaque reivindicatório e força de expressão
ao se unir aos partidos políticos – nos quais obtiveram o espaço que precisavam para suas
reivindicações. (ALVES e PITANGUY, 1991; TELES, 1993; e PINTO, 2010, 2003.)
O Pós Colonialismo, o feminismo e a subalternidade
O pós-colonialismo é visto por muitos estudiosos, grosso modo, como um conjunto de
teorias que analisa os efeitos políticos, filosóficos, artísticos e literários, deixados pelo
colonialismo nos países colonizados. Tendo como uma das obras fundadoras o livro
“Orientalism” de Edward Said, a teoria pós-colonial tornou-se parte dos recursos dos críticos nos
anos 1970. Como teoria literária ou abordagem crítica trabalha com a literatura produzida nas
outrora colônias de outros países, principalmente dos colonialistas europeus como a Grã-Bretanha,
França e Espanha, mas pode em alguns contextos abarcar países ainda em situação colonial e seus
cidadãos. Inclui uma nova forma de crítica, de forma especial a literária (destacam-se os
romances) produzidos por nativos das colônias com ênfase nas do Império Britânico, que
frequentaram universidades britânicas, cujo acesso à educação, ainda indisponível nas colônias,
motivou estas escritas.
indígenas e outros grupos “oprimidos como as mulheres”. (PRASAD, 2003, apud LIMA e
GERMANO, 2012)
Lima e Germano (2012) chamam a atenção para autores que se destacam como principais
representntes do pós-colonialismo: o palestino Edward Said e os indianos Homi Bhabha e Gayatri
Spivak, que “ao retomarem a análise colonial trazem à tona novas temáticas, que estão na órbita
desse discurso: orientalismo, imperialismo, feminismo, hibridismo, nacionalismo, identidades,
vozes subalternas, entre outros.
Referindo-se ao subalterno Rosa, e Alcadipani (2013) mencionam a origem dos estudos a
partir de um grupos de estudos precursosr na área.
Ao falar das subalternidades, Spivak (1988), aponta para as mulheres que, segundo ela,
sofrem o que denomina de dupla colonização, pelo fato de serem mulheres e por terem nascido
em uma (ex)colônia. Esta afirmativa leva à análise sobre a opressão que as mulheres sofrem: na
relação com o patriarcalismo, todas as mulheres são afetadas; e com o colonialismo, apenas as
mulheres do chamado “Terceiro Mundo”.
No Brasil, o patriarcalismo está diretamente relacionado ao período colonial da formação
brasileira, que predominou no período imperial e na primeira república, quando predominou um
modelo de organização familista, que era a expressão máxima da organização social da época.
Nos anos seguintes as mulheres brancas, ricas e alfabetizadas iniciaram o processo de
emancipação feminina. “Desafiaram a dicotomia entre público e privado, conquistaram direitos
como cidadãs, constituíram-se como indivíduos. O individualismo patriarcal foi abalado e a
igualdade entre homens e mulheres colocou-se como possibilidade social” (VAITSMAN, 2001, p.
16). Mas ainda hoje, a mulher que não é privilegiada com estas condições, aquela de menor
condição social, a negra ou a índia, é a mulher subalterna que amarga as dificuldades que lhe são
impostas.
Mulher e Política – trajetória da história à atualidade
9
Os estudos feministas apontam que já em 1405, Christine de Pisan (viúva e mãe de três
filhos) realizou um protesto veemente contra a discriminação e o preconceito contra a mulher
através do livro que escreveu “ La Cité des Dames", tentando em pleno século XV reformular o
papel da mulher na sociedade. As manifestações e os protestos realizados pelas mulheres
aconteciam de forma espontânea e isolada; não havia um movimento organizado. As primeiras
manifestações feministas tiveram como tema reivindicatório o acesso à instrução. Marie de
Gournay, em 1622, não só propôs a igualdade entre homens e mulheres, mas também destacou a
importância da instrução como fator preponderante na luta pela conquista de seus direitos. Um
dos primeiros periódicos (jornal) femininos de que se têm notícias é intitulado Lady’s Mercury,
publicado na Inglaterra, no ano de 1693, e como órgão de imprensa feminina, foi considerada
uma leitura só de amenidades, tendo contribuído muito pouco com a causa libertária. (DIAS,
2003, p. 1-2)Em 1792 Mary Wollstonecraft 4 publica "Em Defesa dos Direitos da Mulher
(Vindication of the Rights of Woman)", ensaio a favor da emancipação, em que lança as bases
do feminismo moderno. O livro, escrito em seis semanas, reinvindicava um destino próprio ao
sexo feminino, desatrelando a mulher do marido e dos filhos. Nísia Floresta5, brasileira, defendia
uma melhor educação e posição social para as mulheres desde 1931, quando começou a escrever
no Jornal "Espelho das Brasileiras", dirigido às senhoras pernambucanas, em que durante trinta
números colabora com artigos que tratam da condição feminina em diversas culturas.
Inspirada na feminista inglesa, Wollstonecraft, em 1832, a brasileira Nísia Floresta
publica aos 22 anos em Recife (PE) o livro "Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens", no
qual a autora brasileira não faz uma tradução (ela tem acesso à versão francesa do livro de
Wollstonecraft), mas produz texto próprio no qual "aponta os principais preconceitos existentes
no Brasil contra seu sexo, identifica as causas desse preconceito, ao mesmo tempo em que
desmistifica a idéia dominante da superioridade masculina." A obra de Nísia Floresta é a primeira
de que se tem notícia no Brasil tratando dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho,
exigindo que as mulheres sejam reconhecidas como seres inteligentes, merecedoras de respeito
pela sociedade, num momento em que a grande maioria das mulheres brasileiras vivia
enclausurada em preconceitos, sem qualquer direito que não fosse o de ceder e aquiescer sempre
à vontade masculina.
Nísia Floresta se apropria do conhecimento produzido por Wollstonecraft no estrangeiro,
assimilando suas concepções e acomodando-as ao cenário nacional, transformando-as através de
sua experiência pessoal, em que cada palavra escrita é resultado de suas vivências, "mediatizadas
pelo intelecto".
4
Mary Wollstonecraft era um fenômeno. Desde jovem, trabalhou como tradutora, educadora e jornalista, mantinha-se a si mesma. Em 1972,
interessada nos tumultos revolucionários que estavam acontecendo em Paris, contagiada pela polêmica social e pela luta em favor da liberdade de
pobres e oprimidos, foi para lá como correspondente de uma gazeta londrina. A revolução de 1789, num repente, escancarara as portas da
emancipação para todos os tolhidos e oprimidos: dos escravos aos loucos. Porque ficariam elas de fora? "
(http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/2004/11/08/000.htm).
5
Educadora, escritora e poetisa nascida em 12 de outubro de 1810, em Papari, Rio Grande do Norte. Em 1831, ela publica em um jornal
pernambucano uma série de artigos sobre a condição feminina. http://www.memoriaviva.com.br/nisia/
10
Os estudos sobre as mulheres apontam sua trajetória de luta e seu ingresso e figuração
em novos quadros sociais, no exercício de atividades profissionais até então exercidas pelos
homens, das novas condições e papéis assumidos em seus diferentes meios nas sociedades
modernas. Em 1967 foi elaborada a primeira Constituição Brasileira após a Declaração Universal
dos Direitos Humanos que garante a igualdade legal, sem distinção de sexo. A década de setenta
constituiu um marco para o movimento de mulheres no Brasil, que apesar da ditadura política,
vão às ruas reivindicando a redemocratização do país e a melhoria nas condições de vida e de
trabalho da população brasileira.
Na sociedade brasileira, a década de 70 foi marcada, de um lado, pela política ditatorial
dos governos militares e, por outro, pelo surgimento de diversos movimentos populares, dos
quais surgiram novos atores sociais e novos temas políticos. As mulheres saem do cenário
doméstico e ingressam em movimentos sociais contra a carestia, na luta por creches, pela anistia,
enfim buscando seus direitos e melhorias sociais. Elas lutam pela criação de políticas públicas,
muitas das quais oriundas ou decorrentes do movimento feminista e, com isso, entram no cenário
político de forma coletiva, pelo menos em relação às lutas feministas anteriores.
Na década de oitenta, o movimento se amplia e se diversifica, ocupando os espaços
políticos, sindicatos e associações de bairro. O Estado Brasileiro (o governo em todos os seus
níveis) tem acolhido propostas do movimento feminista na Constituição Federal, elaborando
políticas públicas voltadas para enfrentar e superar as desigualdades, discriminações e opressões
vivenciadas pelas mulheres, o que permite na década de noventa a ampliação do movimento e o
surgimento de inúmeras ONGs (organizações não-governamentais) com o objetivo de defender
os direitos das mulheres, além de uma imensa quantidade e pluralidade de projetos, estratégias,
temáticas e formas de organização.
A participação das mulheres na política tem sido estudada por diversas organizações
mundiais e esses estudos mostram um cenário em que existe uma sub-representação das mulheres
nesse campo social em que o Brasil ocupa uma posição ruim no ranking estabelecido. De 189
países estudados, de acordo com a Inter-Parliamentary Union6, apenas 20 países apresentam mais
de 30% de mulheres no parlamento (minoria influente), e neste mesmo estudo, em termos
regionais somente os países Nórdicos apresentam 40% de mulheres nos parlamentos. Nesta lista o
Brasil ocupa a 102ª posição, situado em último lugar na América do Sul e melhor posicionado na
América Latina apenas em relação aos países da Guatemala (105ª) e Haiti (129ª). Existe uma
grande preocupação com a mudança deste cenário no mundo, constatada pela adoção de
legislação de cotas por sexo ou para mulheres feita por 98 países. 7 Em uma análise da
6
Classificação disponível no site www.ipu.org/wmn-e?classif.htm . Acesso em 17/06/2008.
7
A informação é do projeto Global Database of Quotas for Women, desenvolvido pelo IDEA - Internacional Institute for Democracy and
Electoral Assistence e a Universidade de Estocolmo que classifica essas legislações segundo tipo (constitucional, eleitoral ou partidária). Ver
especificação dos países por tipo de cota em www.quotaproject.org/country.cfm . Copyright 2006, International IDEA and Stockholm University |
Acesso em 27/06/2014.
11
participação feminina nas eleições de 2006, em comparação com as eleições de 2002, Rodrigues8
constata que não houve crescimento significativo desta participação9. Embora os movimentos das
mulheres e a crítica feminista com relação aos limites da democracia política brasileira venha
sendo incansável, segundo Camurça10 (2007), "a cultura política hegemônica que ainda produz
interdições, obstáculos e mesmo bloqueios à participação das mulheres na política, um monopólio
dos homens até pouco tempo" faz com que a representatividade das mulheres neste campo ainda
seja pequena. A Assessoria de Imprensa do CFEMEA11 permite a comprovação do pensamento
de Camurça ao analisar as eleições 2006 e as mulheres que concorreram ao pleito e foram eleitas,
ao afirmar que:
A análise mostra que, neste período, das candidatas à Presidência da República nenhuma
chegou ao segundo turno, não tendo sequer grande representação na votação no primeiro turno.
As mulheres concorreram ao Governo do Estado em 18 unidades da Federação e não ganharam
em 1º turno em nenhuma delas, tendo alcançado votação expressiva e disputado o 2º turno em
apenas 5 Estados12.
O Senado Federal renovou 1/3 de seus/as integrantes nas eleições de 2006 e as mulheres
concorreram em 19 unidades da Federação tendo se elegido como representantes em apenas 4
delas. Já as vagas na Câmara dos Deputados foram disputadas por mulheres em todas as unidades
da Federação e os 29 partidos apresentaram candidatas em algum dos Estados, tendo sido eleitas
46 deputadas federais, por 20 Estados e por 13 partidos políticos representando 8,97% das
8
RODRIGUES, Almira - Mulheres e Eleições 2006 no Brasil. Esta análise constitui uma das ações do Projeto A participação política das
Mulheres nas Eleições 2006, desenvolvido pela socióloga e pesquisadora do CFEMEA, com o apoio da Embaixada da Finlândia que apoiou o
CFEMEA em projeto anterior, sobre as Eleições Municipais de 2004 e a discussão da Reforma Política no Brasil.
9
Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são 125.913.479 eleitores/as, sendo 51,53% de mulheres e 20,42% de jovens (16 a 24
anos). As mulheres somam quatro milhões de votos a mais em todo o País. Ainda de acordo com o Tribunal, são mais de 18 mil candidatos/as
oriundos de 29 partidos políticos.
10
CAMURÇA, Sílvia. As mulheres na política e a reforma política. SOS Corpo e AMB - CFEMEA, março de 2007. Disponível no endereço
http://www.cfemea.org.br/. Silvia Camurça é socióloga e educadora popular, integra a equipe do SOS Corpo Instituto Feminista para a
Democracia, em Pernambuco, e a Secretaria Executiva Colegiada da Articulação de Mulheres Brasileiras.
11
Mulheres eleitas em 2006: o desafio é cada vez maior. Dados atualizados. CFEMEA - Assessoria de Imprensa em 27 de outubro de 2006. As
análises e dados estão disponíveis em: www.cfemea.org.br
12
Ana Júlia de Vasconcelos Carepa (PT-PA); Denise Frossard Loschi (PPS-RJ); Roseana Sarney Murad (PFL-MA); Wilma Maria de Faria (PSB–
RN); e Yeda Rorato Crusius (PSDB-RS). Todas essas mulheres têm uma trajetória política consolidada: Ana Júlia e Roseana são senadoras e têm
a continuidade do mandato por terem sido eleitas em 2002; Denise e Yeda são deputadas federais e terão seus mandatos findos nesta 52ª
Legislatura; e Wilma está disputando a reeleição como Governadora e terá sua gestão finda em 31 de dezembro de 2006. É interessante observar
que as cinco candidatas são de diferentes partidos do espectro político e também de diferentes regiões do País. Em 2002, foram eleitas duas
governadoras: Wilma M. de Faria no 2º turno e Rosinha Garotinho no 1º turno. Dados disponíveis em www.cfemea.org.br.
12
cadeiras da Câmara Federal. Em nível estadual, o total de mulheres eleitas diminuiu em relação
às Eleições de 2002. 13
O número de mulheres eleitas em 2006 é pequeno e não se ampliou de forma expressiva
com relação às eleições de 2002. Os resultados para as Assembléias e Câmaras Legislativas são
preocupantes pois o número de mulheres eleitas decresce em 10 cadeiras, significando uma
queda de 12,56 para 11,61% a proporção de mulheres eleitas para este cargo em todo o País em
2002. Os dados para candidaturas de mulheres às Assembléias já vinha apontando este fenômeno
da retração o que se manteve quanto às mulheres eleitas.14 Entre as conclusões a que a Assessoria
de Imprensa do CFEMEA chegou, está a de que: “Os partidos políticos têm um papel essencial
na promoção da participação política das mulheres e podem desenvolver ações afirmativas
independentemente de legislação federal, [...] adoção de cotas por sexo para a composição de
suas direções e destinação de percentuais do fundo partidário”, destacando ainda que “É
importante a difusão de campanhas na mídia de promoção cotidiana da participação política das
mulheres, visando combater a mentalidade patriarcal que reserva aos homens o território da
política representativa”
A influência da mídia e as relações entre mídia e política no Brasil ganham destaque na
medida em que se refletem fortemente na opinião pública e criam representações sobre os
candidatos. “Assim, aquilo que a mídia [...] veicula ou deixa de veicular é significativo do ponto
de vista da percepção da realidades social que está acessível à população.” (MIGUEL apud
FINAMORE e CARVALHO, 2006, p.351). O discurso da mídia é um discurso social, que de
acordo com Fairclough (2001) constitui uma prática que representa, significa, constitui e constrói
o mundo, e que pode tanto promover mudanças quanto reforçar a realidade vigente.
Caldas (2005) aborda o papel da mídia na construção coletiva da história e reflete sobre a
responsabilidade da mídia na elaboração do imaginário popular e na reconstrução da história,
abordando as relações de poder e o processo de produção da informação, bem como as
manipulações, conscientes ou não, nele envolvidas. Falando sobre a memória coletiva e a
influência dos meios de comunicação de massa que ocorre na formação / deformação da opinião
pública, a autora afirma que acontece "a destruição da temporalidade provocada pela mídia em
suas múltiplas formas de representação da realidade, da polissemia das vozes, de simulacro do
real" (CALDAS, 2005, p.139). Segundo ela, a formação do imaginário social embasado na
"aldeia global" permite a articulação de tudo "em teias multimídias com informações
fragmentárias, destituídas de contexto, sem uma perspectiva histórica" o que traz consigo a
necessidade de uma reflexão crítica que permita "o retorno de uma utopia social que substitua a
práxis e a lógica do consenso fabricado pelo sujeito histórico, comprometido com a sociedade em
que vive" (Caldas, 2005, p.141). Esse fato ocorre com maior ênfase no discurso político.
13
Neste pleito, foram eleitas 123 deputadas estaduais/distritais, representando 11,61% do total de cadeiras que é de 1059 em todo o País (TSE –
6/10/2006). Há quatro anos, foram eleitas 133 deputadas estaduais/distritais, totalizando 12,56%.
14
Assessoria de Imprensa CFEMEA, 2006.
13
Mesmo nesse cenário ainda está presente a luta das mulheres para ocuparem um espaço
neste campo social. Manuela D'Ávila (PCdoB), candidata mais votada para a Câmara dos
Deputados nas últimas eleições no Rio Grande do Sul, disse que o ambiente político é visto como
masculino e há um "machismo" que procura constantemente descaracterizar a competência das
mulheres. "A Rita Camata, que dá o nome a uma das leis mais importantes deste país, era
apresentada como a musa do Congresso. Quando falam de minha votação também se referem a
uma suposta beleza. Isso é preconceituoso e procura desqualificar a vitória das mulheres", disse
Manuela.15
15
Matéria publicada no jornal O Globo. OLIVEIRA, Chico. Yeda: corrupção inibe presença feminina - Para governadora eleita do Rio Grande do
Sul, moralização aumentaria participação. Fonte: Jornal O Globo - 04 Data: 11/12/2006. Também disponível em SENADO NA MÍDIA -
SEPOPhttp://www.senado.gov.br/sf/noticia/senamidia/principaisJornais/verNoticia1.asp?ud=20061211&datNoticia=20061211&codNoticia=2112
07&nomeOrgao=&nomeJornal=O+Globo&codOrgao=2729
16
Centro Feminista de Estudos e Assessoria - CFEMEA - é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos.
17
http://agenciapatriciagalvao.org.br/politica/
14
Considerações
O referencial teórico construído mostra a trajetória e a luta feminina pelo reconhecimento
no mundo e no Brasil. Essa luta pelo reconhecimento enquanto ser humano, não é diferente da
luta iniciada em outros países, na Europa, e depois, mundo afora.
Da mulher como propriedade do homem no patriarcado, ainda hoje existem resquícios
em diferentes instâncias sociais. É certo que a mulher avançou em sua luta pela liberdade e
reconhecimento, especialmente depois de vincular os movimentos feministas aos partidos
políticos, seja no campo pessoal, seja no profissional, Mas este avanço não é pleno e enm
tampouco é igual para todas as mulheres. Conforme o texto, mulheres brancas, economicamente
privilegiadas tem muito mais possibilidades de obter reconhecimento e lugar de fala como ser
social, enquanto que as menos privilegiadas ainda se vêem atreladas aos resquícios da cultura
colonial.
A exposição dos dados das pesquisas no texto mostram a existência de comportamentos
subalternos da mulher, com relação à sua própria representação política: os próprio partidos
políticos não cumpres as leis de coras estabelecidas, fato que mostra a necessidade de muitos
outros estudos e reflexões acerca do para que seja possível estabelecer uma sociedade mais digna
e mais justa.
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