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CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
CURSO DE GEOGRAFIA
VITÓRIA – ES
2017
CAIQUE SOUZA SILVA
LEONARDO VIANA VALIM
LOURIENE GONÇALVES DOS SANTOS
VINÍCIUS VIEIRA PONTINI
VITOR SILVA DE MIRANDA
VITÓRIA – ES
2017
CAIQUE SOUZA SILVA
LEONARDO VIANA VALIM
LOURIENE GONÇALVES DOS SANTOS
VINÍCIUS VIEIRA PONTINI
VITOR SILVA DE MIRANDA
COMISSÃO EXAMINADORA
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_________________________________________
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Eu, Leonardo, agradeço primeiramente a Deus, pois sem ele nada disso seria
possível. À minha família por todo o apoio que me deram, em especial à minha
querida mãe, que sempre me incentivou desde criança aos estudos, que sempre
esteve presente me cobrando e até escutando minhas explicações sobre diversos
assuntos. Eu te amo mãe e sou eternamente grato a você. Agradeço também à
minha noiva Thalita (a mulher da minha vida) que me apoiou em todos os
momentos, dando conselhos e até mesmo puxando minha orelha. Eu te amo e
também sou eternamente grato a você por tudo que fez por mim. Por fim e não
menos importante, agradeço a todos os amigos desse grupo e da turma pelos
momentos de felicidade e de tristeza também, que nossa amizade possa transpor os
portões da UFES.
Eu, Vinícius, agradeço à minha mãe, Maria Aparecida e ao meu pai, Valmir pelo
amor incondicional e por sempre terem me mostrado, desde criança, a importância
de estudar para ascender socialmente, estimulando-me a isto desde então e
compartilhando comigo os bons frutos que os estudos têm me proporcionado. À
minha família pelo apoio e, especialmente, à minha tia, Martha e ao Marcéus por
terem aberto meus olhos para voltar a trilhar meu caminho pela Licenciatura. A/à
todos/as os/as professores/as que contribuíram com a minha formação enquanto
estudante e humano, da Pré-Escola à Universidade, em especial aos professores
Vilmar José Borges, José Américo Cararo, Soler Gonzalez, André Luiz Nascentes
Coelho e Luiz Machado Filho. Agradeço aos meus parceiros e parceira de TCC pela
realização desse trabalho. Por fim, agradeço aos presentes que a Geografia me deu
nessa trajetória na UFES pelos afetos, auxílios e conselhos e pelas amizades,
conversas, risadas e piadas que tornaram meu dia a dia na Universidade mais
suportável e leve: Arthur, Emanuel, Gusmar, Isys, Leonardo, Louriene, Talita e Vitor.
Este trabalho também é de todos vocês. Muito obrigado por tudo!
Eu, Vitor, agradeço primeiramente a Deus, pela força e coragem, à minha mãe
Valdivia, ao meu pai Ribamar e à minha tia Ângela por todo amor, incentivo e zelo
concedido a mim. Desprezando a ordem de importância, agradeço aos professores
Soler Gonzalez, pelos aprendizados durante as aulas e pela orientação deste
trabalho, André Luiz Coelho e Antônio Celso Goulart pelo incentivo de iniciação à
pesquisa. Aos meus amigos pessoais, ouvintes dos meus devaneios geográficos,
aos colegas da turma 2014/1 e aos amigos e às amigas de curso que me
alicerçaram nas conversas diárias e tornaram os meus dias acadêmicos melhores:
Arthur, Emanuel, Ester, Felipe, Louriene, Pablo, Isys e Talita, e sem esquecer dos
meus geo-irmãos Leonardo e Vinícius. Gratidão eterna pela amizade, conselhos,
trocas de conhecimento e demais vivências que tivemos.
Figura 3 – Construção do Ginásio Jones dos Santos Neves, 1962, com o Morro
Jesus de Nazareth ao fundo...................................................................................... 27
Figura 4 – Imagem antiga com destaque ao Morro de Bento Ferreira, atual Jesus de
Nazareth e à algumas construções, além do processo de aterro no bairro Praia do
Suá, ao fundo ............................................................................................................ 28
Figura 8 – Capa do DVD da primeira temporada da série Cidade dos Homens ...... 60
ES – Espírito Santo
SUMÁRIO
PALAVRAS INICIAIS
Neste caso, a partir desta concepção freireana de educação, que é política e ética,
questionamos: quais são os saberes geográficos dos/as educandos/as? Esses
saberes dialogam com os saberes instituídos em documentos e materiais didáticos e
curriculares? O que podem as narrativas e a cartografia, enquanto componente
curricular da Geografia, relevar sobre o imaginário espacial dos/as estudantes e
suas leituras de mundo?
muito comum a sua não utilização. Quando é usado, normalmente é apenas para
apontar de maneira genérica uma área, constituindo-se muito mais um elemento
decorativo do que didático.
1
Figura 1. Localização da EMEF Edna de Mattos Siqueira Gaudio no bairro Jesus de Nazareth. Elaborado pelos autores .
1
Os elementos cartográficos e fontes são citadas nos Capítulos 1 e 3.
19
Uma das motivações para a realização deste trabalho nesta escola foram os temas
inseridos no plano de curso que a professora de Geografia trabalharia no último
trimestre: fluxos migratórios, território e cultura. Ressaltamos que esses temas foram
ao encontro ao propósito da nossa pesquisa e subsidiaram as atividades
desenvolvidas com os/as escolares, complementando o trabalho da professora com
os/as mesmos na sala de aula e oferecendo uma alternativa pedagógica ao
desenvolvimento desses temários, contextualizando-os a partir da escala do bairro.
Além de não serem divididos/as por séries, os/as estudantes se reúnem em grupos
para estudar várias disciplinas concomitantemente, tendo os/as professores/as como
orientadores/as dos ciclos. Nós optamos por desenvolver as atividades com os/as
estudantes do Ciclo 4, com faixa etária média de 13-14 anos, pois os/as mesmos/as
estão em seus anos finais no ensino fundamental e pretendíamos contribuir com sua
formação antes que saíssem da escola.
Por fim, ressaltamos que este trabalho é também composto por narrativas dos/as
estudantes sujeitos/as da pesquisa, entre aspas e recuadas à direita ao longo do
texto e por imagensnarrativas, de autoria do próprio grupo e dos/as escolares, além
de imagens oriundas de sítios eletrônicos e da monografia de Silva (2013),
explicitada a seguir. As imagens de autoria do grupo e estudantes não possuem
chamadas no texto e legendas. Justificamos essa opção por acreditarmos que as
imagens também são narrativas e, assim, abrem margem à múltiplas leituras,
rompendo com o engessamento e a redução de interpretações que as chamadas e
legendas propiciam. Os rostos dos/as estudantes presentes nas imagens foram
desfocados para preservar suas identidades.
21
Que saberes geográficos são esses, que não se escrevem, acontecem, nos
encontros e (des)encontros com o lugar? Como esses saberes geográficos do bairro
atravessam os cotidianos escolares e o ensino de Geografia? São problematizações
que apresentaremos neste capítulo com um estreito diálogo com a monografia de
Douglas Bonella da Silva, intitulada “Geohistória do bairro Jesus de Nazareth2”,
defendida em 2013 pelo Departamento de Geografia da UFES.
2
Para maiores detalhes acerca da temática, consulte a monografia do autor, disponível em:
http://www.geo.ufes.br/sites/geografia.ufes.br/files/field/anexo/Dug.pdf.
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Quais os atrativos do bairro? Como são as relações entre o morro e o asfalto e como
essas relações atravessam a vida comunitária? Como essas geografias menores
(OLIVEIRA JR., 2009) atravessam a comunidade e o cotidiano escolar da pesquisa?
Quais as contribuições políticas e pedagógicas dessas outras geografias no ensino e
na formação de professores e professoras? São problematizações que alimentam
nossos percursos teóricos e metodológicos da pesquisa, assim como as paisagens
naturais, culturais, sonoras, afetivas e olfativas.
3
Figura 2. Localização do bairro Jesus de Nazareth . Elaborado pelos autores.
3
A imagem de satélite é da série DigitalGlobe, com data de passagem em 03 out. 2015; os planos de informação limite de bairro e limite municipal são
oriundos do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN, 2012, 2009) e o plano de informação limite estadual é oriundo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2015).
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Segundo a pesquisa realizada por Silva (2013) o limite do bairro com a Baía de
Vitória foi um grande atrativo para a habitação daquele espaço, já que as pessoas
que precisavam habitá-lo estavam em situação de vulnerabilidade social, às
margens da sociedade, segregadas principalmente por sua condição
socioeconômica. Morar próximo ao mar apresenta vantagens imediatas como a
atividade pesqueira, mas além da pesca, a área conhecida como Prainha ou
Castanheira era a única de todo o morro que possuía água potável. Por conta da
proximidade do mar, da beleza da paisagem e da água, este foi o local em que se
iniciou a ocupação em Jesus de Nazareth.
O fato de só haver poucos pontos de água potável no morro acabou por dificultar o
processo de ocupação.
Isso daqui não era bairro, meu filho. Era umas casinhas que tinha por aqui.
Aqui, nessa casa, já morava meu cunhado, aí foram eles que partiram um
pedaço do terreno e vendeu pra nós... Alí era uma torneira pública... aqui na
Átila. Quando faltava água aqui a gente buscava lá na Sarandi perto do
Vitória (Clube de Futebol). Seu Remi... ele me pagava pra eu botar água na
casa dele de madrugada. Eu carregava 12 latas de água, quando
amanhecia, o tonel já tava cheio de água, até em cima (SILVA, 2013, p. 39).
O mesmo ano foi marcante para a história do bairro Jesus de Nazareth, ainda
conhecido como Morro de Bento Ferreira. Além da torneira pública que facilitou o
acesso à água potável, a prefeitura de Vitória criou em 1965 uma lei para assegurar
o acesso à energia elétrica. Antes disso, os moradores iluminavam as suas
residências com lamparinas que, de acordo com Silva (2013) foram utilizadas
pelos/as moradores/as por muito tempo. Contam, inclusive, que muitos barracos
foram construídos de noite, com iluminação de lamparinas para fugir da fiscalização
da prefeitura.
Assim, a partir de 1965 o bairro Jesus de Nazareth começa a receber uma atenção
mínima da PMV por meio de alguns serviços públicos básicos, como rede elétrica e
acesso “facilitado” à água. Com o projeto de Lei nº 1.305 o bairro efetivamente
começa a receber edificações para o acesso dos moradores aos serviços públicos
básicos, como educação e saúde (Tabela 1).
Figura 3. Construção do Ginásio Jones dos Santos Neves, situado no bairro Bento Ferreira em 1962,
com o Morro Jesus de Nazareth ao fundo. Fonte: Geohistória do bairro
Jesus de Nazareth (SILVA, 2013).
Figura 4. Imagem antiga com destaque ao Morro de Bento Ferreira, atual Jesus de Nazareth e à
algumas construções, além do processo de aterro no bairro Praia do Suá, ao fundo. Fonte:
Geohistória do bairro Jesus de Nazareth (SILVA, 2013).
Dona Djalma também relatou ter sofrido muito com os fiscais públicos, por
terem ameaçado derrubar a sua casa, teve que resistir para se manter no
local, não soube dizer o motivo do atrito, contudo afirmou que o morro
passou a ser chamado de morro do contestado a partir do assassinato de
um fiscal da prefeitura no momento em que foi desocupar uma residência
para demolição do barraco (SILVA, 2013, p. 39).
Fica claro com esta narrativa que os conflitos eram intensos e gravíssimos. O
posicionamento dos/as habitantes em resistir às ordens de despejo da prefeitura e
defender, muitas vezes a qualquer custo, a sua moradia, possibilitou o
reconhecimento da comunidade como parte da cidade. Por outro lado, na pesquisa
de Silva (2013) encontramos pistas que indicam que havia, contudo, um diálogo
entre a prefeitura e os moradores da comunidade.
31
4
A vassoura de bruxa é uma doença provocada por um fungo que afeta a cultura do cacau, sendo
responsável por grandes perdas na produção da fruta.
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onde o Poço de Dona Djalma distribuía água potável para o restante dos/as
moradores/as.
Figura 5. Torres, Vila dos Baianos e Castanheira ou Prainha. Fonte: Geohistória do bairro Jesus de
Nazareth (SILVA, 2013).
As 150 famílias migrantes que deram origem a Vila dos Baianos ou Invasão vieram,
em sua maioria, do distrito de Pimenta, município de Mascote, Bahia. A narrativa da
Senhora Noêmia nos ajuda a entender este processo.
Por conta dessa forte relação entre os/as migrantes, que eram em sua maioria
parentes, amigos ou conhecidos, pode-se imaginar um fortalecimento do processo
de migração e ocupação dessas pessoas no morro Jesus de Nazareth. Como relata
Silva (2013) existe uma relação muito forte ainda hoje entre a Vila dos Baianos e o
distrito de Pimenta no município de Mascote no Sul da Bahia.
Todo ano, sem exceções, são alugados ônibus de excursão e parte dos
moradores vai comemorar a festa da cidade natal, momento em que
aproveitam para levar aos parentes que ficaram, presentes, roupas e
eletrodomésticos. O retorno temporário dos conterrâneos se tornou um
evento de grande importância no distrito de Pimenta, o local não dispõe de
hotel ou pousadas e os parentes se organizam para receber os visitantes.
No bairro os moradores já se acostumaram com as viagens e alguns
capixabas também vão junto com os migrantes para aproveitar a festa
(SILVA, 2013, p. 47).
Esta provocação nos ajuda a entender quem são os sujeitos e as sujeitas que
produzem aquela parcela do tecido urbano, que criam suas histórias e geografias, e
como suas vidas cotidianas são recheadas de resistências. Eles/as são os que vêm
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das margens, vistos pelos olhares hegemônicos, tidos como subalternos, ou até
mesmo inferiores.
Agora, neste momento da reflexão, nos cabe pensar a respeito de outro elemento
que compõem a realidade de Jesus de Nazareth: a sua paisagem. Singularíssimo, a
nosso ver, este é o elemento mais particular de toda complexidade que envolve a
comunidade de Jesus de Nazareth. É claro que toda paisagem é particular, única e
muitas vezes representativa, como as paisagens urbanas, mas na comunidade em
questão a paisagem dita natural se sobressai e deixa boquiaberto qualquer
espectador.
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Para entendermos melhor essas questões dialogaremos com Milton Santos (2008,
p. 21), que nos diz que como “tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão
alcança [...]. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores,
movimentos, odores, sons [...]”.
Assim, toda a morfologia urbana compõe a paisagem cultural. A questão que nos
interessa, neste momento, é entendermos de que maneira a paisagem cultural,
resultado de uma complexa rede de relações e de poder presentes no território,
pode representar um grupo identificado com ela, que a considera parte de si, ou
melhor, que considera a si mesmo parte do meio que se apresenta enquanto
paisagem.
Figura 6. Membro do Cine Kbça finalizando grafite que retrata o abuso e a exploração sexual de
5
crianças e adolescentes .
O grafite enquanto elemento da paisagem cultural da periferia pode ser visto como
um meio através do qual a subjetividade coletiva se manifesta, seja em forma de
autoafirmação, de protesto, resistência ou de medo. Assim como em outros bairros
periféricos, o grafite e a pichação se mostram muito presentes na paisagem cultural
5
Disponível em: https://cinekbca.wordpress.com/author/cinekbca/page/9/
42
de Jesus de Nazareth. Não nos cabe aqui fazer análises espessas dos grafites e da
subjetividade que nele está contida. Pretendemos, isto sim, apresentar a rica
dinâmica social e simbólica presente no território e suas diferentes formas de
manifestação.
Deste modo, analisando os aspectos geográficos e históricos do bairro, por meio das
histórias, memórias e acontecimentos narrados e vividos, podemos identificar como
elemento da paisagem sonora os tipos musicais que os/as moradores/as escutam,
os sons do mar, a buzina das grandes embarcações na Baía de Vitória e os tipos de
festas na comunidade.
Neste território, influenciado diretamente pelo mar, boa parte dos habitantes são
pescadores ou filhos de pescadores. O cheiro do mar, dos pescados, do barco e a
brisa da água salgada ajudam a compor a paisagem olfativa. Fica claro, deste modo,
que a complexidade da paisagem de Jesus de Nazareth vai muito além do que os
olhos podem ver.
Vimos até aqui algumas especificidades do bairro Jesus de Nazareth, tais como seu
processo de ocupação, a vida cotidiana, os diferentes lugares, toponímias,
memórias e acontecimentos. Iremos neste momento do texto problematizar o que
acontece na vida cotidiana, nas micropolíticas dos micro lugares do bairro e do
território.
Para esse diálogo conversamos com o geógrafo Rogério Haesbaert, que nos diz que
o território enquanto espaço-tempo vivido, é sempre múltiplo, diverso e complexo, ao
contrário do território unifuncional proposto pela lógica capitalista hegemônica
(HAESBAERT, 2004). A comunidade de Jesus de Nazareth é uma das expressões
desse território diverso e complexo, onde podemos encontrar uma grande variedade
de fazeres e saberes, pois estes produzem de forma sistemática uma identidade
específica no/a sujeito/a, que tende a estar de acordo a valores estéticos, éticos e
morais dos poderes hegemônicos da sociedade capitalista.
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Trazemos à baila, mais uma vez, os/as sujeitos/as que produzem o lugar de Jesus
de Nazareth e como o lugar também os/as produzem, numa inter-relação. Já
caracterizados como trabalhadores/as com baixo poder aquisitivo e muitas vezes em
situação de vulnerabilidade social, nos cabe a questão: quais são os fazeres
desses/as sujeitos/as e suas especificidades?
Estamos tão influenciados pelos diferentes poderes que definem o currículo que
estudamos que acabamos caindo na ingênua crença de que existe um
conhecimento mais verdadeiro que o outro. Não há verdade. Estudar a climatologia
a partir dos especialistas em climatologia ou dos pescadores só se dá de modo
diferente por levar-se em conta hoje os conhecimentos que a sociedade julga
superiores, e isso como fruto dessas relações de poder. Esta é a dinâmica em que
os poderes e saberes hegemônicos condenam a subalternidade o que é diferente
dele. O que é estudado na escola como verdade é apenas uma expressão dessa
luta entre poderes e saberes, em que os conhecimentos a respeito dos fazeres dos
menos favorecidos economicamente são condenados à subalternidade.
possui especificidades que lhe atribuem grande valor, entre elas, e talvez o mais
significativo, é a multidisciplinaridade. A Geografia é uma ciência atravessada por
várias outras, o que lhe dá uma variedade enorme de olhares e de perspectivas de
análises. De todas as ciências, talvez a Geografia seja a que possui maior
diversidade de possibilidade de reflexão e análise, pois tem a sua disposição
ciências como a Geomorfologia, a Climatologia e a Antropologia.
Esse pensamento, infelizmente, adentra com facilidade nos livros didáticos, nos
múltiplos contextos e espaçostempos formativos e de ensino, influenciando também
a sociedade, a cultura, a informação e a vida cotidiana, reforçando uma “verdade”
inquestionável sobre o espaço e, consequentemente, do mapa. A criação,
imaginação e intervenção dos/as leitores/as são limitados à apresentação espacial
que é imposta. Assim, “cai-se na armadilha de ver mapas como a realidade espacial
manifesta, o que é limitante na medida em que se fecha para outras realidades”
(GIRARDI et al., 2011, p. 5).
[...] o mapa nunca está pronto, mas constantemente sendo refeito, ora de
modo mais lento, ora de modo mais brusco. O que impulsiona mudanças no
mapa são fluxos de intensidades que promovem a desterritorialização, já
que, se o território não é mais o mesmo, o mapa também não pode ser. O
novo mapa revela uma reterritorialização, que já é territorialização (pois se
estabiliza), que pode ser novamente desterritorializada, e assim por diante
(GIRARDI, 2012, p. 40).
52
6
Para maiores detalhes acerca de mapeamento colaborativo, consulte a dissertação da autora,
intitulada “Estudantes-cartógrafos: mapas colaborativos, celulares e tecnologias de informação e
comunicação na escola”. Disponível em:
http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_10337_Dissertacao_Estudantes_Cartografos_PSLC.pdf.
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Quem são essas pessoas que vêm das margens? Que histórias e
conhecimentos trazem? Como chegam ali, como permanecem e como
saem de um curso...? [...] A exposição pública da trajetória escolar e
pessoal dos que vêm das margens, elaborada por eles mesmos, contribui
para se entender e teorizar sobre a educação contemporânea brasileira?
(REIGOTA, 2010, p. 3).
7
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NPuL51MSdgU&t=1542s.
60
Exibida originalmente entre 2002 e 2005 pela Rede Globo, Cidade dos Homens
(Figura 8) foi uma série de televisão que teve como protagonistas Laranjinha (Darlan
Cunha) e Acerola (Douglas Silva), dois adolescentes amigos e moradores de uma
favela na cidade do Rio de Janeiro, o Morro da Sinuca, que enfrentam situações
próprias do local onde vivem, como o tráfico de drogas e a violência, além das
circunstâncias inerentes à vida adolescente, como os namoros, a relação com a
escola e a transição à vida adulta, entre outros.
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8
Figura 8. Capa do DVD da primeira temporada da série Cidade dos Homens .
Os dois amigos não conseguem entregar uma carta enquanto exercem a função de
carteiros na comunidade e descem o morro para tentar devolvê-la ao remetente, em
um bairro de classe média alta. Com o apoio de um dono de banca de revistas que
lhes entrega um mapa, os adolescentes são instruídos a chegarem até o endereço,
tendo que passar por ruas e avenidas de nomes “difíceis” e “compridos” (Figura 9).
Ao chegar ao destino, Laranjinha e Acerola descobrem que o “Seu Paulo”, que
8
Disponível em: https://filmow.com/cidade-dos-homens-1a-temporada-t40336/.
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achavam que era o autor da carta, na verdade, era “São Paulo” e, no insucesso da
entrega da carta, se desfazem da mesma jogando-a em um córrego e tentam
mascarar o ocorrido, dos traficantes locais que trabalham para Birão, “chefe” do
morro.
Figura 9. Capturas de tela do episódio que mostram os amigos tentando se orientar no mapa.
Contudo, a mentira dos dois é descoberta e, como castigo, os amigos são forçados
a mapearem toda a favela onde residem, com nomes dos criminosos. Os
adolescentes desenham o mapa em um papel e instalam algumas placas nos becos
e vielas do morro, mas o mapa é confiscado pela polícia e utilizado em uma
posterior invasão à favela. Como forma de contornar a situação, as placas são
trocadas por outros adolescentes (Figura 10), confundindo e dificultando a ação dos
militares. Todavia, Birão é preso pela polícia e os seus funcionários assumem o
comando do morro, para alívio da dupla de carteiros que acharam que estariam
encrencados pela prisão do traficante.
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Figura 10. Capturas de tela do episódio que mostram adolescentes fazendo a troca das placas.
Ponderamos que na vida real nossas relações espaciais cotidianas estão presentes
em várias situações e experiências, assumindo a Geografia um papel de destaque
no entendimento desses aspectos. Nesse sentido, algumas questões nos parecem
relevantes: como o ensino de Geografia se relaciona com a nossa vida cotidiana?
Pensamos geograficamente diante de nossas relações sociais e cotidianas? Que
geografias são essas? De acordo com Cavalcanti (2012)
“Por que será, que o Laranjinha e o Acerola acharam confuso o mapa que o homem
da banca entregou a eles? Como está representado no mapa o morro onde eles
moram? Qual foi a tática dos amigos para enganarem a polícia que confiscou o
mapa que eles produziram?”
Nesse encontro e nos diálogos que emergiram com a turma após a exibição do
vídeo também nos deparamos com as chamadas geografias menores (OLIVEIRA
JR., 2009), que margeiam a “geografia maior”, dos Estados, institucionalizadas, e
que permitem uma expansão das formas de se pensar o espaço, valorizando as
geografias dos indivíduos, da população, que muitas vezes são deixadas de lado e
tidas como menos importantes. Tais geografias menores
Será que o que se ensina na escola, nos livros didáticos, currículos e conteúdos
programáticos têm alguma relação com as experiências geográficas e cartográficas
vividas pelos/as estudantes? Observamos, a princípio, que os mapas e as
geografias considerados maiores são predominantes nos imaginários dos/as
estudantes, nos espaçostempos de formação, nos cotidianos escolares e nas
práticas docentes.
66
Uma vez que Jesus de Nazareth partilha semelhanças com o Morro da Sinuca, com
a presença de becos e vielas (possivelmente sem uma nomenclatura oficial) e a
carência de infraestrutura urbana, questionamos à turma, se a chegada das cartas e
correspondências se dava de forma similar ao que foi visto no episódio. Eles/as
responderam que não, já que há a presença de carteiros formais no bairro, que
entregam o conteúdo que carregam sem nenhum empecilho com os endereços, bem
como com a localização oficial. Assim, superamos nossos (pré)conceitos sobre essa
questão.
9
A imagem de satélite é da série DigitalGlobe, com data de passagem em 03 out. 2015; os planos de
informação limite de bairro e arruamento são oriundos do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN,
2012, 2009).
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A turma identificou a escola no mapa e constatou que a mesma não está nos limites
político-administrativos do bairro Jesus de Nazareth. Explicamos que a escola,
segundo a própria Prefeitura Municipal de Vitória, se localiza em Bento Ferreira,
bairro vizinho. Uma vez que a maioria dos estudantes daquela instituição é
proveniente de Jesus de Nazareth e, portanto, intrínseca ao cotidiano do bairro, esse
limite político-administrativo tem pouca importância. A escola é do bairro!
Também foram provocadas reflexões acerca das relações de poder que o(s)
mapa(s) promoviam. Nesse sentido, Raffestin (2011) faz uma interessante
abordagem do termo poder.
Provocamos a turma: “por que no mapa que foi entregue à dupla de amigos os
morros identificados não estavam plenamente mapeados, com seus becos e vielas?”
Novamente, a tática adotada pelos amigos para enganarem a polícia, trocando as
placas, foi resgatada para explanar o poder que o mapa tinha naquela ocasião. Em
virtude do tempo, esse momento foi breve e a turma não participou em demasia.
Contudo, todo o grupo estava atento, e, o silêncio, – que aqui também pode ser
interpretado como uma resposta –, por que não, de concordância com tudo o que foi
dito?
Ainda na escola, todos fomos instruídos pelo Fernando sobre a atividade a ser
desenvolvida. Em seguida caminhamos até uma quadra de esportes próxima à
escola, onde os professores da escola e os/as estudantes foram organizados/as em
dois grupos, cada um com quatro estudantes, uma professora e dois membros do
nosso grupo, sendo que um dos graduandos ficou responsável pelos registros
fotográficos durante o percurso.
71
Tão breve o usuário obtenha acesso à Internet, o mesmo consegue exportar tais
pontos para posteriores confecções de mapas e visualizar o local exato onde foram
registrados os pontos, em um mapa disponível no próprio aplicativo, que informa os
logradouros, os municípios, os estados e os países. Frisamos que o uso desse
aplicativo vai para além de uma instrumentalização do mesmo: exploramos a
produção de sentidos, de aprendizagens, de relações. Registrou-se um total de doze
pontos de parada (Tabela 2), cujas descrições são nossas.
11
Por aplicativo, entende-se que é um software caracterizado por ser ágil e ser de acesso mais amplo
aos usuários, sobretudo nos smartphones. Logo, o mesmo possui um tamanho reduzido dos
softwares de uma plataforma, de modo que os dispositivos eletrônicos moveis não fiquem
sobrecarregados quando os usuários estiverem os utilizando.
12
Abreviação do inglês global positioning system, que em tradução livre para o português significa
sistema de posicionamento global.
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Tão breve a nossa caminhada e desbravamento pelo bairro começou, notamos que
os grupos se entrelaçaram, se uniram, se encontraram e conversaram,
apresentando suas descobertas e curiosidades, tornando a prática pedagógica
coletiva e dialógica.
Os grupos se misturaram, alguns ficaram mais à frente, outros para trás, cada um
em sua temporalidade e envolvimento com a paisagem e com o lugar, criando
singularidades. Os celulares compartilhados com os grupos específicos circularam,
unindo grupos, criando entrelaçamentos. Aqueles que possuíam o aparelho o
levaram e utilizaram. Não intervimos e deixamos essa opção incorporar a prática do
trabalho, e era assim que deveria ser. Além dos registros fotográficos produzidos
pelos/as estudantes, nós também fizemos os nossos.
74
Nosso desejo com essa prática pedagógica e cartográfica foi de criar experiências,
encontros, estranhamentos, outros sentidos, desconstruir e problematizar os clichês
sobre o lugar, permitindo a descoberta do desconhecido, silenciado, não comentado,
que está na história da vida comunitária e social do bairro, desses sujeitos da
história, de suas leituras de mundos e de suas outras geografias, menores,
desfocando pontos de vistas que estão fora dos cartões-postais tradicionais da
cidade e de suas representações, utilizando como ferramenta o ato de fotografar.
Conversamos aqui com Lopes e Pontuschka (2009) e seu estudo do meio, atividade
pedagógica que se materializa “pela imersão orientada na complexidade de um
determinado espaço geográfico, do estabelecimento de um diálogo inteligente com o
mundo, com o intuito de verificar e produzir novos conhecimentos.”
Nossa aposta se justifica pelo fato de que registrar uma fotografia é um ato
totalmente subjetivo, uma vez que é feita uma pré-seleção por quem fotografa,
daquilo que deseja ou não fotografar. Logo, um outro Jesus de Nazareth,
invisibilizado e às margens da produção visão e social externa dos seus limites, foi
sendo revelado e fotografado no decorrer dos percursos intensivos e dos encontros
e conversas com a paisagem.
75
“A gente tá aqui!”
Para o autor, esses sujeitos que vêm das margens têm uma ampla contribuição
política e pedagógica.
Ao fim do tour, fomos conduzidos pelo guia Fernando de volta à escola, onde o
mesmo colheu as nossas assinaturas em seu caderno de registros. Agradecemos a
ele e a turma, pelo dia imensamente produtivo e repleto de aprendizados e
ressaltamos que continuaríamos as nossas atividades na semana seguinte.
13
Para ter acesso às fotografias via Google Drive, envie um e-mail para tccgeoufes2017@gmail.com
com o assunto “FOTOGRAFIAS”, identificando-se no assunto.
82
Figura 11. Jesus de Nazareth visto da Baía de Vitória, em 1991. Fonte: Geohistória do bairro Jesus
de Nazareth (SILVA, 2013).
Morro, aterro, arrabalde, manguezal e ocupação foram algumas palavras que vieram
à tona. Aprendemos que a ocupação do bairro começou pela Praia da Castanheira,
impulsionada pelos aterros da Praia do Suá e de Bento Ferreira, e que Jesus de
Nazareth se chamava Morro de Bento Ferreira, que o bairro sediou um canteiro de
construção naval do Porto de Vitória e que com a chegada de aparatos públicos,
como o INCAPER e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER),
atual prédio da Superintendência Regional do DNIT, houve impulsão para a
ocupação do bairro.
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“Dona Djalma!”
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Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R9lveg-aB6Y.
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“Olha, a Christiane!”
Percebe-se que a religiosidade e a ligação com as raízes baianas são tão fortes que
perpassam as fronteiras escolares e passam a ser o seu cotidiano, uma vez que a
mesma não luta contra esses movimentos, e sim se a eles, segundo a fala da
professora. Evocamos Ferraço (2007), que nos diz que
Antes que os/as alunos/as chegassem à sala de aula, distribuímos na parte central
das fileiras de mesas e cadeiras os objetos a serem utilizados na atividade: mapa
em tamanho A1 de Jesus de Nazareth, utilizado no primeiro momento, com a adição
dos pontos de paradas registrados pelo aplicativo GPS Essentials e alocados no
software ArcGIS 10.2, e, de um retângulo para a nomenclatura dos itens da legenda,
lápis de cor, canetas hidrocor, cola bastão, barbante azul, tachinhas, isopor,
canetas, tiras de papel, 35 fotografias coloridas e de tamanho pequeno, pré-
selecionadas, e que foram tiradas pelos estudantes durante o tour, e papel sulfite em
tamanho A4.
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Esta expressão deriva da escolha do título do mapa feita pelos/as alunos/as, que será detalhada a
seguir, que ajudou a compor parcialmente o título desse movimento e desse trabalho.
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Explicamos que as fotos dispostas na mesa foram tiradas durante o tour pelos
próprios/as alunos/as, e que o nosso objetivo era localizá-las no mapa de Jesus de
Nazareth, em tamanho A1, nos lugares onde eles/as achavam que as mesmas
foram registradas, criando, assim, os já discutidos fotomapas.
Salientamos que quem não participou do tour também poderia participar e auxiliar
nessa tarefa, uma vez que os/as mesmos/as detêm conhecimentos, experiências e
memórias do bairro. Para tanto, poderiam utilizar as tachinhas para fixar as
fotografias no mapa, sobreposto ao isopor, para melhor fixação das mesmas,
podendo colocar duas ou mais fotografias sobrepostas. Também ressaltamos que
não havia um jeito certo ou errado de identificar as fotografias no mapa, afinal, o que
importava era a percepção espacial dos/as escolares, suas geografias menores,
cotidianas.
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Por fim, pedimos que os/as estudantes escrevessem, nas folhas de papel sulfite,
sobre o bairro Jesus de Nazareth e as suas percepções e apreensões das ações
desenvolvidas por nós. Após esse momento de fala, iniciamos a nossa produtiva
manhã de quinta-feira.
Assim que todas as fotografias foram alocadas no mapa, com o auxílio das
tachinhas, os/as estudantes se organizaram em tarefas diversas: uma aluna auxiliou
no processo de retirada das tachinhas das fotografias, onde algumas ficaram
sobrepostas, para a posterior inserção das fotografias nos locais indicados pelos/as
escolares, mas não totalmente sobrepostas, de modo que todas pudessem ser
visualizadas, ainda que parcialmente.
Quando a aluna finalizou tais ações, a mesma se juntou aos/às demais estudantes
para a produção das narrativas sobre o bairro e as atividades desenvolvidas por nós.
Ao mesmo tempo, solicitamos que a turma desse um título ao mapa. Um aluno
exclamou: “coloca aí, Família JN”, e todos prontamente concordaram. Um outro
aluno escreveu o título na tira de papel e cuja escolha foi unânime, posteriormente
colocada nos fotomapas. Pedimos para incluírem o porquê da escolha desse título
nas suas produções escritas.
“Esse nome, ‘Família JN’, é porque aqui todo mundo se conhece e se gosta.”
“A gíria ‘família’ vem do nome comunidade, essa gíria quer expressar a mesma
coisa, só que com palavras diferentes.”
Percebemos que a percepção de “família” vai além dos laços de sangue. Família
não se restringe aos pais, irmãos e irmãs, avôs e avós, tios e tias, ou primos e
primas. Ela abarca os amigos, colegas, conhecidos, onde o que importa são os
laços de afetividade, o estar juntos, a comunidade. Às palavras de outro aluno: “por
que é chamado de Família JN? Porque todo mundo que mora na favela é familiar.”
cria trincheiras a partir das quais se promove uma política do cotidiano, das
relações diretas entre os indivíduos, que por sua vez exercem efeitos sobre
as macro-relações sociais. Não se trata, aqui, de buscar as grandes
políticas que nortearão os atos cotidianos, mas sim de empenhar-se nos
atos cotidianos. Em lugar do grande estrategista, o pequeno "faz-tudo" do
dia-a-dia, cavando seus buracos, minando os espaços, oferecendo
resistências (GALLO, 2002, p. 175).
A mesma aluna que nos ajudou no processo de colagem das fotografias e escrita da
legenda também nos auxiliou, junto com outra aluna, na demarcação do nosso
trajeto no tour, tendo como orientação os pontos de parada demarcados nos
fotomapas e com o auxílio das tachinhas e de um barbante de cor azul. Com o
término dessa etapa, nossos fotomapas estavam construídos.
Por mais que nossos fotomapas possuam elementos que remetam à cartografia
técnica e institucionalizada, como a base em uma imagem de satélite, legenda e
título, o que importa aqui é a nova forma de produção do mapa. Produção essa que
prezou e valorizou as percepções e expressões estéticas dos/as estudantes, a partir
de suas narrativas vividas, de seus saberes geográficos e de suas vidas cotidianas,
em detrimento de convenções cartográficas convencionais.
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Para maiores detalhes acerca dos procedimentos de participação, inclusão e tradução em práticas
cartográficas, consulte o artigo dos autores supracitados, intitulado “Cartografar é traçar um plano
comum”. Disponível em: http://www.periodicoshumanas.uff.br/Fractal/article/view/1109/870.
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mapa.” A fala da estudante nos revela um importante paradigma, pois ver e olhar, no
caso, o mapa, são processos diferentes. O ver remete àquilo que a visão permite,
àquilo que todos/as visualizam. Logo, ver o mapa se restringe à captura visual das
informações nele dispostas, sem complexificá-lo ou questioná-lo. O olhar se
distingue do ver, pois traz à tona as múltiplas subjetividades que oportunizam “[...] ler
o mundo de maneira mais plural, complexa e que ultrapasse o senso comum
hegemônico conservador” (KAERCHER, 2014, p. 79).
“Eu achei muito bom e instrutivo. Descobri vários lugares que nunca tinha
conhecido, descobri várias histórias legais sobre meu bairro, vi como era meu bairro
a muito tempo atrás, conheci pessoas que fundaram o bairro e etc.”
“Eu achei boa a caminhada e foi bom rever a Torre, foi bom discutir sobre como
chegar no local. [...] Foi bom discutir sobre a história do bairro, [...] foi bom discutir
vários lugares onde eu caminhei e etc.”
O horário de saída dos estudantes chegou, e mais uma vez agradecemo-nos pelas
enormes contribuições naquela manhã. Despedimo-nos da turma e da professora
Mariana, mas permanecemos em sala para concluir a demarcação do trajeto do tour,
com as tachinhas e o barbante, que foi feita posteriormente, bem como a sua
indicação na legenda. Levamos o mapa com o isopor à sala da pedagoga Izabella,
que o guardou com muito zelo sobre um armário.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
em: <https://leandromarshall.files.wordpress.com/2012/05/deleuze-gilles-guattari-
fecc81lix-mil-platocc82s-vol-1.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2017
<http://www.200.19.105.203/index.php/percursos/article/view/2759/2196>. Acesso
em: 01 nov. 2017.
pesquisa e o plano do comum. Porto Alegre: Sulina, pp. 15-41, 2014. Disponível em:
<http://www.periodicoshumanas.uff.br/Fractal/article/view/1109/870>. Acesso em: 22
dez. 2017.
LOPES, C. S.; PONTUSCHKA, N. N. Estudo do meio: teoria e prática. Geografia
(Londrina) v. 18, n. 2, 2009.
em: <http://www.vitoria.es.gov.br/noticia/inovacao-em-emef-de-jesus-de-nazareth-e-
reconhecida-pelo-ministerio-da-educacao-20261>. Acesso em: 22 set. 2017.