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INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………3
METODOLOGIA …………………………………………………………………………….5
DESENVOLVIMENTO
……………………………………………………………………...6
1. Educação e tecnologia ……………………………………………………………..6
2. Contexto violonístico ……………………………………………………………….8
a. Histórico e realidade cibernética ………………………………………….8
b. Avaliação do material encontrado online ……………………………….25
3. Solução da nova problemática …………………………………………………..31
4. Retomada à pergunta que motivou o trabalho …………………………………33
CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………………………………………………...…...35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………...…..38
INTRODUÇÃO
2. Contexto violonístico
a. Histórico do violão e sua contemporaneidade cibernética
Diversos autores e pesquisadores, como Marcia Taborda e Fábio Zanon,
apontam o violão como um instrumento ligado à identidade cultural brasileira. Tanto
ZANON (2006), em seu artigo “O violão no Brasil depois de Villa-Lobos” quanto
COSTA (2006), em sua monografia intitulada “O violão de seis cordas na sua função
de instrumento acompanhador do samba urbano no Rio de Janeiro” afirmam que um
instrumento da mesma família do violão, a viola, foi introduzida no Brasil por
intermédio dos jesuítas portugueses, e tinha grande utilização na catequese dos
índios.
Assumindo ambos os instrumentos mencionados sob a denominação de
“cordas dedilhadas”, NOGUEIRA apresenta um panorama dos conteúdos
abordados no ensino tradicional de violão ao analisar a historiografia musical
brasileira, afirmando que “a interpretação de uma obra musical antiga depende,
primeiramente, de seu registro escrito”, e citando a importância, mesmo que não
exclusiva, dos tratados histórico-musicológicos no estudo dos instrumentos similares
ao atual violão.
Segundo a autora, os instrumentos de cordas dedilhadas do século XVI na
Europa se dividiam entre os de produção musical cortesã, realizada com a vihuela
na península ibérica e o alaúde na região central de língua anglo-saxã; e os
instrumentos de raízes populares, que não foram incluídos nos estudos
musicológicos, mesmo com produção também escrita, e por isso seus processos de
decodificação se perderam. Além disso, NOGUEIRA (2008) afirma que alguns
“códigos convencionais (específicos) de escrita musical caíram em desuso”, de
forma que “diversos manuscritos de outros instrumentos daquela família foram
encontrados, mas não foram analisados pelos historiadores de música”, e pontua
que tal cenário só se manteve
“porque a institucionalização das cordas dedilhadas como
instrumento ‘popular de fácil execução’ deixou um legado de ensino
oral e, muitas vezes, marginalizado, como consequência, seus
instrumentistas se ocuparam da formação mínima necessária para
tocá-lo, deixando o interesse pela música [...] para os outros”
(NOGUEIRA, 2008)
Entretanto, os materiais remanescentes servem hoje como análise e como
referência do que era realizado à época, e o ensino formal de violão se remete a
estes métodos nas aulas tradicionais presenciais. Cita-se aqui um histórico de
algumas das diversas publicações para cordas dedilhadas, como: as tablaturas mais
antigas encontradas, alemãs, que “fazem parte do manuscrito da Deutsche
Staatsbibliothek - Berlim (Ms. Germ. Qu. 719)”, escritas no período de 1464 a 1469;
as tablaturas italianas, uma encontrada no “manuscrito localizado na Biblioteque
Nationale de Paris sob registro Mus. Ms. 27”, datada de 1505, e outra denominada
“Intabolatura de Lauto, Libro I de Francesco Spinacino, Veneza (1507)”; as
tablaturas francesas, representada pelo manuscrito Jane Pickering Lute Book,
publicado em 1616; e as tablaturas espanholas, exemplificadas pela publicação de
Luís Milán em 1535 do livro El Maestro, para vihuela (NOGUEIRA, 2008, p. 87-102).
Outras publicações incluem as obras de Francesco Corbetta, La Guitarre
Royale (1671), de Gaspar Sanz, Instruccion de musica sobre la guitarra española
(1674), de Nicolas Deroisier, Lês Príncipes de la guitarre (1696), de Minguet y Yrol,
Reglas y advertencias para tañer la guitarra (Madrid, 1774).
NOGUEIRA (2008, p. 151) afirma ainda que “a partir de 1830, já se torna de
uso comum a encordatura simples”, ou seja, os instrumentos de cordas dedilhadas
deixam de lado a utilização de cordas duplas, e a partir daí se desenvolve ao técnica
do atual violão, ou guitarra clássica.
Neste formato, há outras publicações, de autores como Fernando Sor, Matteo
Carcassi, Ferdinando Carulli, Dionisio Aguado, Francisco Tárrega e Rodriguez
Arenas. No Brasil, temos como exemplo os métodos dos violonistas Isaías Sávio e
Henrique Pinto. As tabelas abaixo realizam uma comparação entre os assuntos
abordados em cada método, de forma a servir como base do ensino tradicional de
violão, mesmo que eventualmente tais métodos não sejam apresentados
integralmente em aulas particulares, apesar da recorrente utilização de partes
avulsas encontradas neles.
Nome do Nome Notação Leitura
Ano/local autor Nome da publicação das notas musical Compasso rítmica
● cifraclub.com.br:
É o maior portal com enfoque em música popular. O site disponibiliza a
visualização das músicas com cifras, às vezes com tablatura e com vídeo-aulas. É
possível também participar de um fórum amador, com parcas publicações que
abrangem o universo erudito. Entretanto, sua maior utilização é ainda a busca de
cifras de músicas de estilos pop, rock, gospel, sertanejo e mpb. Possui também links
de notícias gerais sobre cultura. Não requer cadastro para acesso geral das cifras,
mas torna-se obrigatório para a participação no fórum e no envio de cifras. É
gratuito.
Imagem 3 - printscreen do site cifraclub.com.br, na seção “aprenda”
Em relação ao Fórum Cifra Club, a página inicial (forum.cifraclub.com.br)
apresenta milhares de tópicos divididos em diferentes áreas (Imagem 4), como
“Guitarra”, “Violão”, “Amplificadores”, “Bateria”, “Canto”, “Música Erudita”, etc. Em
certos aspectos, os comentários são de músicos claramente iniciantes: perguntas
como “o que significa a sigla BWV que antecede a todas as composições de J. S.
Bach?”, realizada por um usuário em um tópico de título “A genialidade de J. S.
Bach” demonstram exatamente o amadorismo dos internautas cadastrados.
Contudo, o interessante é que há algumas respostas informadas, e o fórum também
permite a troca de informações até mesmo por meio do uso de hiperlinks.
● aprendaviolao.net:
É um site gratuito, focado no ensino básico para violonistas iniciantes. A
página inicial é didática, com imagens e explicações sobre como começar o estudo
no violão, e apresenta dicas para a performance em público e vídeo-aulas. Há
enfoque em música popular e não há necessidade de cadastro.
O didatismo da página inicial é expressado pelo texto de apresentação do
portal (Imagem 5) e pelo início do estudo que se acontece com os nomes das partes
do instrumento (Imagem 6). Observando abaixo, ainda na página inicial, o portal
ensina como segurar o violão e como posicionar a mão esquerda no braço do
instrumento. Além disso, a página já explica de início a diferença entre nota e
acorde, facilitando assim o decorrer do curso. Dessa forma, a página demonstra um
certo nivelamento de estudo, do iniciante ao avançado, permitindo que o
aprendizado seja realizado por partes, sem que uma etapa seja pulada.
Imagem 6 - printscreen da página inicial do portal aprendaviolão.net
Uma seção importante do portal é a “Mais Populares”, encontrada numa lista
de hiperlinks à direita da principal. Tal seção direciona o aluno a tirar dúvidas
referentes à escolha de um violão, ao medo de tocar em público, etc. O interessante
em tal área é a última postagem, que pode ser vista na Imagem 6, cujo título é “Dom
vs Prática - qual o mais importante?”, que desmistifica a noção de que bons
violonistas nascem aptos para o aprendizado, fazendo com que o aluno iniciante
que ler tenha um bom incentivo ao estudo árduo, já que é a única maneira de sair
do status de iniciante e chegar no avançado.
● iniciantesdoviolao.com:
É focado no ensino popular iniciante e requer cadastro, mas permite o acesso
gratuito apenas para a versão reduzida do curso. As vídeo-aulas são recebidas via
e-mail e para continuar o aprendizado neste portal, recebendo as outras aulas e
apostilas, há a necessidade de realizar pagamento.
A página inicial do portal (Imagem 7) apresenta um vídeo de introdução ao
curso, no qual o professor se apresenta e explica o andamento do curso,
incentivando a realização de cadastro. Após o cadastro, a inscrição é confirmada
(Imagem 8), e ao clicar em “Eu Quero Ser um Aluno Vip de Violão Agora”, outra
página é aberta, com mais um vídeo de apresentação.
Imagem 8 - printscreen da tela de confirmação de inscrição do portal iniciantesdoviolao.com.br
● violaodeboa.com.br:
É um curso pago de violão popular, realizado por um professor formado em
licenciatura em música. Com uma assinatura de R$55, há a possibilidade de acesso
às vídeo-aulas por seis meses, com download de apostilas em pdf, tira-dúvidas via
e-mail e aulas por live-streaming.
Imagem 10 - printscreen da página inicial do portal violaodeboa.com.br
Entretanto, o portal permite o acesso limitado a alguns itens sem a realização
de pagamento, que funciona como propaganda do método do professor. Dessa
forma, foi possível acessar uma quantidade reduzida de videoaulas, como na seção
lateral direita “Novas Postagens”, na página inicial (Imagem 10), que possui um link
de redirecionamento para uma página que oferece o ensino da música “Trevo”, do
duo popular Anavitória (Imagem 11).
Nota-se, neste exemplo, que o primeiro vídeo não se configura como
videoaula, já que o professor utiliza como método de ensino a própria performance.
Entretanto, a página contém a letra da música acompanhada da tablatura, além de
outros três vídeos explicando o uso da mão direita e da mão esquerda na música.
Imagem 11 - printscreen de uma seção de videoaula do portal violaodeboa.com.br
Ademais, fica claro que o professor tem uma metodologia diferente, por
utilizar números para identificar as notas que devem ser tocadas, ao invés de utilizar
cifras, como ocorre no portal cifraclub. A seção “Novas Postagens” presente na
Imagem 10 contém o link
“Porque uso o código das
notas?”, que também
realiza o redirecionamento
do aluno para uma nova
página (Imagem 12), onde
o professor explica o
funcionamento e o
passo-a-passo para o uso
de tais códigos no ensino
de pequenos solos, além
de expor a sua motivação
por trás do uso deles.
Imagem 12 - printscreen do vídeo que oferece explicação para o uso de códigos
Continuando a análise, o portal apresenta alguns problemas, por exemplo: o
professor não foi capaz de afinar ou de verificar a afinação segundo o padrão do
próprio instrumento na vinheta gravada que antecede a videoaula da música
“Garota de Ipanema”, de Tom Jobim; a propagação irreal da ideia de que é possível
aprender a tocar bem o instrumento de maneira rápida, na intenção específica de
vender o curso; e a afirmação não embasada na literatura de que o uso dos códigos
das notas é realmente mais eficiente para o aluno iniciante.
Entretanto, apesar de todas essas problemáticas, o portal ainda parece obter
êxito no ensino devido ao didatismo do portal: a cada música que o professor se
propõe a ensinar, há um cuidado na escrita da letra do objeto de estudo em
conjunto com a tablatura, além da apresentação dos vídeos, também didáticos, que
apresentam uma performance de simples execução que é realizada também de
maneira mais lenta, facilitando o entendimento do aluno. Não obstante, o professor
separa, no ensino, a realização da mão esquerda da batida, e explica a execução
de maneira satisfatória.
● conservatoriodigital.com.br:
Imagem 14 - printscreen da seção de violão clássico do portal conservatoriodigital.com.br
Um item interessante apresentado neste portal é a possibilidade de visualizar
com antecedência o planejamento de aulas, que facilita ao aluno sua própria
programação de realização. Desta forma, verifica-se que o início do repertório
trabalhado tem como base a utilização de músicas folclóricas. Entretanto, é apenas
no fim do quinto módulo que a professora apresenta uma peça encontrada no livro
“Iniciação ao Violão”, de Henrique Pinto, que funciona como aprendizado primário
em aulas no ensino formal presencial de violão.
Um item importante a se ressaltar é que este é o único portal que apresenta
uma formação musical ao aluno dentro dos parâmetros formais de ensino, e ainda
assim, a professora não questiona os conhecimentos que transmite. Tal afirmação
pôde ser feita com base na observação de que, durante a leitura em notação
musical realizada, a docente explica a possibilidade de tocar a nota lá 2 em diversos
locais do braço do violão e afirma que a partitura apontará a precisão dessa
informação; assim, há uma falha ao mencionar mas não aderir à utilização da
tablatura em sua função de notação precisa para iniciantes, além de não mencionar
sua importância histórica devido à utilização nos manuscritos mencionados
anteriormente sobre cordas dedilhadas.
cifraclub.com.br Não
cifraclub.com.br Não
cifraclub.com.br Sim
cifraclub.com.br Sim
Imagem 15 - printscreen da aula de teoria musical do portal Cifraclub
Na Tabela 8 observa-se a importância dada pelos portais em relação ao
estudo de solfejo, que no ensino tradicional está historicamente atrelado à prática do
instrumento. Todos os portais falharam em relação ao ensino, mas o Fórum
violão.org possui publicações e comentários que se referem ao solfejo como parte
indispensável no estudo do violonista, como o do usuário e violonista Fábio Zanon,
que afirma ter chegado à conclusão de que a falta do estudo de solfejo e harmonia
se reflete “na lentidão com que a pessoa aprende músicas novas”, atrapalhando
assim o progresso do aluno. No mais, os outros portais sequer mencionam solfejo
como um item que deve ser estudado.
cifraclub.com.br Não
cifraclub.com.br Não
BOTELHO, Isaura. As dimensões da cultura e o lugar das políticas públicas. São
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CARDOSO, Felipe Cesar. Conceitos de rede virtual privada para streaming seguro
de vídeo. Monografia, Universidade São Francisco, Itatiba-SP, 2010. Disponível em:
<http://lyceumonl ine.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1891.pdf>. Acesso em: 1 de
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FELIPE, Marcelo de Assis. APRENDER A TOCAR VIOLÃO: Estudo e prática formal
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NARDI, Jean Baptiste. Cultura, identidade e língua nacional no Brasil: uma utopia?.
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NOGUEIRA, Gisela Gomes Pupo. A Viola con anima: uma construção simbólica.
2008. Tese (Doutorado em Interfaces Sociais da Comunicação) - Escola de
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<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-15052009-140811/pt-br
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