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UNIVERSIDADE​ ​ESTADUAL​ ​PAULISTA

“JÚLIO​ ​DE​ ​MESQUITA​ ​FILHO”

“O​ ​APRENDIZ​ ​DE​ ​VIOLÃO:


A​ ​metodologia​ ​de​ ​ensino​ ​por​ ​meio​ ​da​ ​internet”

HELOISA​ ​GERVAZONI​ ​CARBONERA

São​ ​Paulo​ ​-​ ​SP


2017
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO​ ​………………………………………………………………………………3
METODOLOGIA​ ​…………………………………………………………………………….5
DESENVOLVIMENTO
……………………………………………………………………...6
1. Educação​ ​e​ ​tecnologia​ ​……………………………………………………………..6
2. Contexto​ ​violonístico​ ​……………………………………………………………….8
a. Histórico​ ​e​ ​realidade​ ​cibernética​ ​………………………………………….8
b. Avaliação​ ​do​ ​material​ ​encontrado​ ​online​ ​……………………………….25
3. Solução​ ​da​ ​nova​ ​problemática​ ​…………………………………………………..31
4. Retomada​ ​à​ ​pergunta​ ​que​ ​motivou​ ​o​ ​trabalho​ ​…………………………………33
CONSIDERAÇÕES​ ​FINAIS​ ​………………………………………………………...…...35
REFERÊNCIAS​ ​BIBLIOGRÁFICAS​ ​………………………………………………...…..38
INTRODUÇÃO

PEQUINI (2016) afirma que “a sociedade contemporânea, por inúmeras


razões, nos últimos anos sofreu mudanças significativas”, e assume a importância
dos avanços tecnológicos nesse quadro. Por esta razão, a tecnologia vem se
tornando objeto de pesquisa de muitos acadêmicos, que a investigam, em vários
planos,​ ​em​ ​associação​ ​ao​ ​meio​ ​educacional.
Entretanto, o autor cita SANTOMÉ (2013) ao afirmar sua preocupação acerca
do fato de que a sociedade utiliza intensamente a tecnologia no cotidiano, mas o
emprego da mesma no ambiente escolar ainda é discreto. Ou seja, há um
“desequilíbrio entre o uso da tecnologia nos processos de ensino e aprendizagem e
o uso da tecnologia na sociedade”. Mesmo com tal disparidade, percebe-se que há
um esforço para que haja a introdução da tecnologia na realidade escolar. Afinal, a
legislação brasileira insere, no Plano Nacional de Educação (PNE - Lei nº 13.005,
de 25 de junho de 2014), vigente até 2024, diretrizes de ações estratégicas que
abordam​ ​o​ ​uso​ ​da​ ​tecnologia​ ​na​ ​educação.
No âmbito musical, em especial no que se refere ao violão, o esforço
mencionado é o mesmo, ou seja, o intuito de inserir a tecnologia na metodologia de
ensino parece ser um objetivo em comum. Com base nisso, o presente trabalho se
propõe a analisar portais ​on-line ​que realizam o fomento do processo de ensino e
aprendizagem, em busca de responder à questão: se o aprendizado autodidata se
justifica​ ​como​ ​ensino​ ​à​ ​distância.
Desta forma, o desenvolvimento deste trabalho é dividido em quatro partes. A
primeira avalia o cenário da educação na contemporaneidade, analisando em
primeiro plano as diferentes modalidades da educação, e em segundo plano,
observando o papel da tecnologia na inserção da metodologia do ensino à distância.
Neste panorama, surge uma nova problemática, que será desenvolvida adiante. A
segunda parte realiza observações acerca dos métodos de cordas dedilhadas
publicados e do histórico do violão no Brasil, contextualizando-nas com a realidade
tecnológica contemporânea; ademais, é na segunda parte que o presente trabalho
descreve e analisa os portais escolhidos, além de compará-los com a metodologia
tradicional do ensino de violão, caracterizada como ensino formal. Na terceira parte,
é discutida, de maneira contextualizada ao recorte violonístico, a problemática
surgida anteriormente, que se refere à mediação do conteúdo visualizado pelo aluno
iniciante quando este é um autodidata em busca de informações na internet; assim,
é sugerida uma possibilidade de ação para suavizar a problemática mencionada.
Por fim, a quarta parte retoma os assuntos discutidos no corpo deste trabalho, de
maneira​ ​que​ ​a​ ​pergunta​ ​inicial,​ ​que​ ​motivou​ ​este​ ​trabalho,​ ​seja​ ​respondida.
METODOLOGIA
O presente trabalho assumiu uma abordagem qualitativa, que se diferencia
da abordagem quantitativa devido ao aprofundamento da primeira “no mundo dos
significados das ações e relações humanas” (MINAYO apud TOZONI-REIS, 2010).
Isso se deve, segundo TOZONI-REIS, porque discussões acerca de tais
abordagens “reafirmam a pesquisa qualitativa como referencial metodológico para a
pesquisa​ ​em​ ​educação”.
Em conjunto com a abordagem mencionada, o caráter da pesquisa é
bibliográfico. Assim, foi realizada a seleção e a leitura de materiais bibliográficos
acerca dos temas que envolviam a pesquisa, e além disso, foram realizados
levantamento, observação e análise de portais online fomentadores do ensino
musical de violão. Tais portais foram escolhidos mediante restrição de localização:
deveriam ser brasileiros. Em seguida, as metodologias dos portais foram
comparadas entre si e relacionadas ao ensino tradicional de violão, de forma que se
chegasse a uma conclusão acerca da questão que motivou o presente trabalho: se
o​ ​aprendizado​ ​autodidata​ ​se​ ​justifica​ ​ou​ ​não​ ​como​ ​ensino​ ​à​ ​distância.
DESENVOLVIMENTO
1. Educação​ ​e​ ​tecnologia
Ao iniciar uma pesquisa que se refere à educação, mesmo que outras áreas
estejam envolvidas, é importante que haja uma reflexão acerca do ambiente
educacional. TOZONI-REIS (2010) aborda duas concepções da educação, que
coincidem com as de Giulio Girardi, em seu livro “Educar para qual sociedade?”,
sendo elas: “a educação como instrumento de reprodução da sociedade” (educação
integradora, cuja função é de integrar o indivíduo na sociedade, com um papel nada
crítico ou questionador) e “a educação como instrumento de transformação da
sociedade” (educação libertadora). Em consenso com a autora, que instiga a
reflexão acerca da educação como primeiro passo para a realização de uma
pesquisa na área, ideia justificada pela intenção de promover a educação crítica da
segunda concepção mencionada, visualiza-se a necessidade de observar as
diferentes maneiras que o conhecimento se propaga, inseridas nas diferentes
modalidades​ ​de​ ​educação.
Dessa forma, há uma educação formal que “compreenderia instâncias de
formação, escolares ou não, onde há objetivos educativos explícitos” (LIBÂNEO,
1999, apud PEQUINI, 2016); uma “educação não-formal seria a realizada em
instituições educativas fora dos marcos institucionais, mas com certo grau de
sistematização e estruturação”; e, por fim, uma educação informal que
“corresponderia às ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente
sociocultural,​ ​e​ ​que​ ​se​ ​desenvolve​ ​por​ ​meio​ ​das​ ​relações​ ​com​ ​os​ ​indivíduos”.
Segundo PEQUINI (2016), a educação informal é a que mais possibilita o uso
da tecnologia, enquanto a educação formal, que ainda depende da utilização de
livros didáticos, ainda não adotou satisfatoriamente o uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs). Essa diferenciação entre a educação informal e
a formal em relação ao uso das TICs acontece devido à característica da primeira
de​ ​incentivar​ ​a​ ​busca​ ​do​ ​conhecimento.
As Tecnologias da Informação e Comunicação vêm experimentando
constantes mudanças nos últimos anos, e a expansão da internet permitiu a
mudança do analógico ao digital, até possibilitar o surgimento do termo “era
pós-digital”, que define a vivência atual dos indivíduos, na qual a tecnologia se
apresenta assimilada ao cotidiano e a relação entre concreto e virtual se apresenta
de forma indissociável. Entretanto, PEQUINI (2016) afirma que o uso das TICs no
cotidiano individual é ainda muito mais complexo que na área da educação, e
aponta que o cotidiano tecnológico precisa ser inserido no âmbito formal de sala de
aula. Uma pequena parte dessa demanda tecnológica na educação vem sendo
proporcionada na modalidade de ensino à distância. NEVES (2003) aponta a
importância da modalidade EAD, afirmando ser “um meio de democratizar o acesso
ao conhecimento e de expandir oportunidades de trabalho e de aprendizagem ao
longo da vida”. Além disso, afirma que a educação à distância, em oposição à
presencial, permite que o aluno construa conhecimento e desenvolva
“competências, habilidades, atitudes e hábitos relativos ao estudo, à profissão e à
sua​ ​própria​ ​vida,​ ​no​ ​tempo​ ​e​ ​local​ ​que​ ​lhe​ ​são​ ​adequados”.
No âmbito musical, a tecnologia vem proporcionando ferramentas que
facilitam a produção, a distribuição e o consumo de cultura, continua PEQUINI
(2016). A tecnologia permitiu a diminuição do poder de mediação das grandes
gravadoras, que eram as únicas que possuíam os equipamentos e a experiência
para produzir e distribuir o material que obtivessem, de forma que hoje há a
possibilidade acessível de gravar e publicar os materiais produzidos, mesmo que
amadoristicamente, o que resulta em um maior número de artistas. Além disso, a
internet tornou viável a distribuição em massa, de download de arquivos até a
ferramenta de ​streaming​, ou seja, a transmissão online e em tempo real de
multimídia​ ​(CARDOSO,​ ​2010).
Considerando o avanço tecnológico, KEEN (apud PEQUINI, 2016) argumenta
que o acesso à internet permite ao usuário, profissionalmente especializado ou leigo
acerca do assunto, postar e/ou compartilhar informações indiscriminadamente. Em
seguida, demonstra preocupação sobre a mediação do conhecimento compartilhado
e questiona: “Quem fará a mediação do conhecimento? Quem validará um conteúdo
como verdadeiro ou falso; correto ou equivocado?”. Afinal, um iniciante ao realizar
uma busca de conhecimento através da internet não tem as ferramentas
necessárias para avaliar a qualidade do material encontrado, e é por isso que, no
ensino formal, há a figura de uma instituição que reafirma a importância do
professor​ ​neste​ ​processo.
Tal questionamento é também válido na comunidade violonística. Afinal, o
ensino tradicional de violão se mantém, muitas vezes, afastado da realidade
tecnológica; e quando há certa integração e a propagação do conhecimento é
realizada mediante TICs, problemas podem ser encontrados. O terceiro capítulo
tratará de um possível caminho para que possamos lidar com essa nova
problemática.

2. Contexto​ ​violonístico
a. Histórico​ ​do​ ​violão​ ​e​ ​sua​ ​contemporaneidade​ ​cibernética
Diversos autores e pesquisadores, como Marcia Taborda e Fábio Zanon,
apontam o violão como um instrumento ligado à identidade cultural brasileira. Tanto
ZANON (2006), em seu artigo “O violão no Brasil depois de Villa-Lobos” quanto
COSTA (2006), em sua monografia intitulada “O violão de seis cordas na sua função
de instrumento acompanhador do samba urbano no Rio de Janeiro” afirmam que um
instrumento da mesma família do violão, a viola, foi introduzida no Brasil por
intermédio dos jesuítas portugueses, e tinha grande utilização na catequese dos
índios.
Assumindo ambos os instrumentos mencionados sob a denominação de
“cordas dedilhadas”, NOGUEIRA apresenta um panorama dos conteúdos
abordados no ensino tradicional de violão ao analisar a historiografia musical
brasileira, afirmando que “a interpretação de uma obra musical antiga depende,
primeiramente, de seu registro escrito”, e citando a importância, mesmo que não
exclusiva, dos tratados histórico-musicológicos no estudo dos instrumentos similares
ao​ ​atual​ ​violão.
Segundo a autora, os instrumentos de cordas dedilhadas do século XVI na
Europa se dividiam entre os de produção musical cortesã, realizada com a vihuela
na península ibérica e o alaúde na região central de língua anglo-saxã; e os
instrumentos de raízes populares, que não foram incluídos nos estudos
musicológicos, mesmo com produção também escrita, e por isso seus processos de
decodificação se perderam. Além disso, NOGUEIRA (2008) afirma que alguns
“códigos convencionais (específicos) de escrita musical caíram em desuso”, de
forma que “diversos manuscritos de outros instrumentos daquela família foram
encontrados, mas não foram analisados pelos historiadores de música”, e pontua
que​ ​tal​ ​cenário​ ​só​ ​se​ ​manteve
“porque a institucionalização das cordas dedilhadas como
instrumento ‘popular de fácil execução’ deixou um legado de ensino
oral e, muitas vezes, marginalizado, como consequência, seus
instrumentistas se ocuparam da formação mínima necessária para
tocá-lo, deixando o interesse pela música [...] para os outros”
(NOGUEIRA,​ ​2008)
Entretanto, os materiais remanescentes servem hoje como análise e como
referência do que era realizado à época, e o ensino formal de violão se remete a
estes métodos nas aulas tradicionais presenciais. Cita-se aqui um histórico de
algumas das diversas publicações para cordas dedilhadas, como: as tablaturas mais
antigas encontradas, alemãs, que “fazem parte do manuscrito da ​Deutsche
Staatsbibliothek - Berlim (Ms. Germ. Qu. 719)”, escritas no período de 1464 a 1469;
as tablaturas italianas, uma encontrada no “manuscrito localizado na ​Biblioteque
Nationale ​de Paris sob registro ​Mus. Ms. 27​”, datada de 1505, e outra denominada
“​Intabolatura de Lauto, Libro I de Francesco Spinacino, Veneza (1507)”; as
tablaturas francesas, representada pelo manuscrito ​Jane Pickering Lute Book​,
publicado em 1616; e as tablaturas espanholas, exemplificadas pela publicação de
Luís​ ​Milán​ ​em​ ​1535​ ​do​ ​livro​ ​El​ ​Maestro​,​ ​para​ ​vihuela​ ​(NOGUEIRA,​ ​2008,​ ​p.​ ​87-102).
Outras publicações incluem as obras de Francesco Corbetta, ​La Guitarre
Royale (1671), de Gaspar Sanz, ​Instruccion de musica sobre la guitarra española
(1674), de Nicolas Deroisier, ​Lês Príncipes de la guitarre ​(1696), de Minguet y Yrol,
Reglas​ ​y​ ​advertencias​ ​para​ ​tañer​ ​la​ ​guitarra​ ​(Madrid,​ ​1774).
NOGUEIRA (2008, p. 151) afirma ainda que “a partir de 1830, já se torna de
uso comum a ​encordatura simples”, ou seja, os instrumentos de cordas dedilhadas
deixam de lado a utilização de cordas duplas, e a partir daí se desenvolve ao técnica
do​ ​atual​ ​violão,​ ​ou​ ​guitarra​ ​clássica.
Neste formato, há outras publicações, de autores como Fernando Sor, Matteo
Carcassi, Ferdinando Carulli, Dionisio Aguado, Francisco Tárrega e Rodriguez
Arenas. No Brasil, temos como exemplo os métodos dos violonistas Isaías Sávio e
Henrique Pinto. As tabelas abaixo realizam uma comparação entre os assuntos
abordados em cada método, de forma a servir como base do ensino tradicional de
violão, mesmo que eventualmente tais métodos não sejam apresentados
integralmente em aulas particulares, apesar da recorrente utilização de partes
avulsas​ ​encontradas​ ​neles.
Nome​ ​do Nome Notação Leitura
Ano/local autor Nome​ ​da​ ​publicação das​ ​notas musical Compasso rítmica

Estudo​ ​de​ ​Guitarra​ ​em​ ​que


se​ ​expoem​ ​o​ ​meio​ ​mais​ ​fácil
Lisboa, Antonio​ ​da para​ ​aprender​ ​a​ ​tocar​ ​este
1796 Silva​ ​Leite instrumento x x x x
Ferdinando
Milão,​ ​1810 Carulli Metodo​ ​completo​ ​per​ ​chitarra x
Ferdinand
Paris,​ ​1830 Sor Méthode​ ​pour​ ​la​ ​guitare
Dionisio
Madri,​ ​1843 Aguado Nuevo​ ​método​ ​para​ ​guitarra x x
Mario
Buenos Rodriguez
Aires,​ ​1923 Arenas La​ ​escuela​ ​de​ ​la​ ​guitarra x x x x
São​ ​Paulo,
1947 Isaías​ ​Sávio Escola​ ​moderna​ ​do​ ​violão x
São​ ​Paulo, Henrique Iniciação​ ​ao​ ​violão​ ​(princípios
1978 Pinto básicos​ ​e​ ​elementares)
Tabela​ ​1​ ​-​ ​Assuntos​ ​abordados​ ​referentes​ ​ao​ ​ensino​ ​de​ ​teoria​ ​musical
A primeira tabela toma como objeto de estudo, nos métodos específicos de
cordas dedilhadas, a apresentação da definição de alguns conteúdos de teoria
musical. Todos apresentam tais informações, mas apenas Arenas e Leite explicam
detalhadamente cada objeto. Já a segunda tabela mostra os assuntos abordados no
início do estudo ao instrumento, já aplicando os conceitos teóricos e facilitando a
prática. Geralmente, o primeiro assunto a se tratar nos métodos são os posturais,
afinal o iniciante precisa saber como e onde se sentar, além de como posicionar o
instrumento em seu corpo. Então, o estudo parte para diversas possibilidades:
alguns métodos utilizam a apresentação de exercícios de cordas soltas, outros
apresentam a realização de escala. Entretanto, independente da ordem do assunto
tratado, todos os métodos nivelam o aluno com base em exercícios simples, cuja
dificuldade é aumentada progressivamente, e só no fim apresentam um repertório
que o aluno consiga tocar. Alguns métodos estudados, como o dos autores Sor,
Aguado e Sávio nem apresentam repertório: mantêm o aluno iniciante nos estudos
fáceis.
Notas
Nome​ ​do Cordas Ataque​ ​da Qualidade simultânea
autor do​ ​violão Postura mão​ ​direita do​ ​som Escalas Arpejos s Repertório
Antonio
da​ ​Silva
Leite x x x x x
Ferdinand
o​ ​Carulli x x x x x x x
Ferdinand
Sor x x x x x
Dionisio
Aguado x x x x x
Mario
Rodriguez
Arenas x x x x x x x x
Isaías
Sávio x x x x x
Henrique
Pinto x x x x x x
Tabela​ ​2​ ​-​ ​Assuntos​ ​abordados​ ​no​ ​início​ ​do​ ​estudo​ ​ao​ ​violão
Logo, percebe-se que o método tradicional de violão se baseia na explicação
clara e teórica do assunto, antes da prática, apesar de ambos serem concomitantes
ao aprendizado do aluno. A análise dos portais que será realizada no decorrer deste
trabalho​ ​terá​ ​como​ ​comparativo​ ​os​ ​métodos​ ​históricos​ ​apresentados​ ​aqui.
Retomando o histórico do violão no Brasil, alguns acontecimentos, como: a
popularização da viola nas viagens de bandeirantes ao interior do país, a marcada
diferença cultural das classes sociais na época e a confusão entre a viola e o violão,
fizeram com que o instrumento recebesse uma má fama, sendo associado à vida
boêmia e à marginalidade. Assim continuou, até que em meados do século XIX “os
primeiros defensores sérios do violão como instrumento de concerto [...] se
sujeitaram ao ridículo público ao se apresentaram, por exemplo, no Clube Mozart,
centro musical da elite carioca”, como afirma ZANON (2006), iniciando um processo
de​ ​mudança​ ​de​ ​tal​ ​visão​ ​preconceituosa.
Essa quebra de paradigma se estendeu quando, em 1916, o violonista e
compositor paraguaio Agustín Barrios (1885-1947) se apresentou no Rio de Janeiro,
rendendo assim uma crítica positiva no jornal “O Estado de São Paulo”. Deste ano
em diante, o violão passou a ser visto pela imprensa como um instrumento de
concerto, e violonistas como a espanhola Josefina Robledo (1897-1972) e Américo
Jacomino (1880-1928), mais conhecido como Canhoto tiveram a experiência de se
estabelecer​ ​em​ ​meio​ ​ao​ ​cenário​ ​violonístico​ ​brasileiro.
Heitor Villa-Lobos também contribuiu muito neste cenário com suas
composições - a série de ​Choros e os ​12 estudos para violão​, compostos em 1929,
dedicados para o violonista Andrés Segovia, e os ​5 prelúdios​, compostos em 1940,
além do ​Concerto para violão e orquestra​, de 1951. Ficou marcada a distinção entre
o violão de concerto e o violão popular, já que o trabalho de Villa-Lobos era
completamente diferente do que Attilio Bernardini (1888-1975) e Dilermando Reis
(1916-1977),​ ​por​ ​exemplo,​ ​compunham.
Um esforço na intenção de enfraquecer as distinções entre música clássica e
popular foi realizado por Radamés Gnatalli (1906-1988), que compôs extensamente
para​ ​violão,​ ​inclusos​ ​cinco​ ​concertos​ ​para​ ​violão​ ​e​ ​orquestra.
Em 1928, surgiu a revista “O Violão”, no Rio de Janeiro, o que demonstra um
interesse vasto do público no instrumento à época. Entretanto, havia ainda a
necessidade de uma metodologia de ensino de violão satisfatória, suprida pelo
uruguaio Isaías Sávio (1902-1977) e mencionada nas tabelas 1 e 2 do presente
trabalho, que se estabeleceu em São Paulo nos anos 30 e realizou concertos,
promoveu o instrumento, criou cursos oficiais de violão em conservatórios e em
universidades, publicou métodos e arranjos, além de ter sido professor de uma
geração de violonistas de destaque, como Antonio Rebello, Marco Pereira,
Toquinho,​ ​Henrique​ ​Pinto​ ​e​ ​Carlos​ ​Barbosa​ ​Lima.
ZANON (2006) continua, afirmando que a vida musical no país durante a
ditadura militar foi complicada, já que compositores a favor do regime não
conseguiram convencer autoridades a manter o ensino musical, enquanto
compositores opostos ao regime se refugiaram como docentes em universidades e
desenvolveram processos composicionais codificados. Entretanto, a música popular
brasileira manteve participação ativa no processo de abertura do regime militar, o
que resultou na sobra de posição secundária para compositores clássicos,
mantendo até a atualidade um certo desinteresse da imprensa pela produção de
concertos.
Nesse novo cenário musical, o violão atuou mais uma vez como mediador
entre música clássica e popular, como foi o caso de intérpretes como o duo Assad,
que tiveram formação clássica mas hoje estão inseridos na fronteira entre o clássico
e a música instrumental brasileira. Desde então, compositores vêm produzindo
obras memoráveis em conjunto com concertistas de atuação local, o que resulta
num quadro de atividade extensa e frenética. Entretanto, alguns compositores
clássicos contemporâneos têm dificuldades para publicação, distribuição e registro
fonográfico de suas obras, e por isso ficam radicados nas universidades, nas
sociedades e nos festivais de música contemporânea, pois há certa dependência do
interesse​ ​continuado​ ​dos​ ​intérpretes.
Atualmente, as editoras mantêm interesse nas obras que relacionam o
clássico, o jazz e o instrumental brasileiro, e o público consumidor desses produtos
é composto por estudantes ou amadores sérios, ou seja, público que carece de
ampla cultura musical. Isso determina a ampla aceitação de
compositores-violonistas como Sérgio Assad e Paulo Bellinati, que mantêm a
híbrida​ ​relação​ ​entre​ ​o​ ​clássico​ ​e​ ​o​ ​popular.
Dessa forma, o histórico violonístico exposto por ZANON (2006) nos ajuda a
avaliar o fomento de atividade musical. Nos dias atuais, parte considerável do
conhecimento musical é propagado ainda por meio de aulas particulares, realizadas
tanto em conservatórios e escolas de música, com curso regular presencial
estruturado e baseado na estratégia de ensino formal, quanto na residência do
professor, como é o caso de violonistas clássicos com renome (Fábio Zanon,
inclusive, é um exemplo da veracidade desta afirmação). Além disso, vários
professores, no âmbito do ensino informal, utilizam-se de ​softwares que realizam
chamadas​ ​de​ ​vídeo,​ ​como​ ​o​ ​Skype​,​ ​e​ ​realizam​ ​aulas​ ​particulares​ ​à​ ​distância.
Entretanto, o presente trabalho objetiva analisar o espaço ocupado pela
internet no cenário do ensino de violão, já que o cotidiano dos alunos é preenchido
por itens tecnológicos, e por este motivo houve a observação de diversos portais, no
cenário ​on-line​, que propagam o conhecimento musical focado no violão, que
seguem:
● violao.org:
É o maior fórum brasileiro de violão com enfoque no estudo clássico do violão
de concerto. Possui membros amadores, violonistas (estudantes e profissionais de
carreira), luthiers e simpatizantes da área, já que a participação no fórum é realizada
mediante cadastro gratuito. Não oferece aulas, mas permite o contato entre
membros através de mensagens privadas, além de posts gerais no qual
profissionais renomados podem emitir opiniões e pontos de vista importantes para
os​ ​iniciantes.

Imagem​ ​1​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​fórum​ ​violao.org


Na seção lateral direita (Imagem 1), pode-se visualizar os tópicos criados
mais recentemente, de forma a tornar fácil o acesso a informações acerca de
eventos (recitais, palestras, defesas de teses de mestrados e doutorados, etc.) e
fomentar a participação em massa, permitindo contato além do virtual. Já na seção
central de Debates, os milhares de tópicos de conversa são separados em três
grandes áreas: “Violão”, que tem como destaque posts para divulgação de
gravações antigas e atuais de violonistas consagrados ou de novos prodígios, para
divulgação de eventos como festivais, encontros, concursos, recitais, palestras,
defesas e masterclasses, e posts com assuntos diversos, como pedidos de
indicação de professores e o transporte do violão em viagens de avião;
“Instrumentos e Acessórios”, que abrange tópicos de informações sobre as
estruturas internas do violão, sobre encordoamento, sobre o envelhecimento das
madeiras que formam o tampo do violão, etc.; e “Composições e Gravações dos
Usuários do Fórum”, que funciona como o espaço de compartilhamento de áudio e
vídeo​ ​dos​ ​próprios​ ​usuários​ ​do​ ​fórum.

● cifraclub.com.br:
É o maior portal com enfoque em música popular. O site disponibiliza a
visualização das músicas com cifras, às vezes com tablatura e com vídeo-aulas. É
possível também participar de um fórum amador, com parcas publicações que
abrangem o universo erudito. Entretanto, sua maior utilização é ainda a busca de
cifras de músicas de estilos pop, rock, gospel, sertanejo e mpb. Possui também ​links
de notícias gerais sobre cultura. Não requer cadastro para acesso geral das cifras,
mas torna-se obrigatório para a participação no fórum e no envio de cifras. É
gratuito.

Imagem​ ​2​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​portal​ ​cifraclub.com.br


O ​printscreen ​apresentado (Imagem 2) permite a visualização da página
inicial, que oferece ​links de acesso para as músicas e os artistas mais procurados,
além de disponibilizar uma ferramenta de buscas, que possibilita o aprendizado
rápido de uma nova música, desde que haja conhecimento musical prévio. No menu
exibido no canto superior esquerdo, as músicas são catalogadas também por
“estilo”, que definem o gênero musical, e na seção “Aprenda” (imagem 3) é onde
são encontradas as videoaulas, que abrangem desde itens básicos, como as
questões “Qual violão comprar?” e “Como afinar?”, até videoaulas que ensinam a
tocar​ ​músicas​ ​específicas,​ ​do​ ​início​ ​ao​ ​fim.
Ainda no menu há uma outra seção, denominada “Apps”, que apresenta os
aplicativos do cifraclub disponíveis na ​App Store ​e na ​Google Play​, que são lojas de
distribuição digital de aplicativos, jogos, músicas, filmes, livros, etc. para uso em
dispositivos eletrônicos como celulares, ​tablets e até mesmo em ​notebook​. Os
aplicativos mencionados são quatro: afinador, metrônomo, cifraclub (que permite a
visualização das cifras e a pesquisa de músicas para performance) e dicionário de
acordes. No mesmo menu ainda há a seção “Notícias”, que abrange posts que
oferecem informações diversas, “Fórum Cifra Club”, que redireciona a página para o
fórum já mencionado, e a seção “Forme Sua Banda”, que permite, mediante
cadastro,​ ​contato​ ​com​ ​diferentes​ ​profissionais​ ​de​ ​várias​ ​localizações.

Imagem​ ​3​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​site​ ​cifraclub.com.br,​ ​na​ ​seção​ ​“aprenda”
Em relação ao Fórum Cifra Club, a página inicial (forum.cifraclub.com.br)
apresenta milhares de tópicos divididos em diferentes áreas (Imagem 4), como
“Guitarra”, “Violão”, “Amplificadores”, “Bateria”, “Canto”, “Música Erudita”, etc. Em
certos aspectos, os comentários são de músicos claramente iniciantes: perguntas
como “o que significa a sigla BWV que antecede a todas as composições de J. S.
Bach?”, realizada por um usuário em um tópico de título “A genialidade de J. S.
Bach” demonstram exatamente o amadorismo dos internautas cadastrados.
Contudo, o interessante é que há algumas respostas informadas, e o fórum também
permite​ ​a​ ​troca​ ​de​ ​informações​ ​até​ ​mesmo​ ​por​ ​meio​ ​do​ ​uso​ ​de​ ​hiperlinks​.

Imagem​ ​4​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​portal​ ​fórum.cifraclub.com.br

● aprendaviolao.net:
É um site gratuito, focado no ensino básico para violonistas iniciantes. A
página inicial é didática, com imagens e explicações sobre como começar o estudo
no violão, e apresenta dicas para a performance em público e vídeo-aulas. Há
enfoque​ ​em​ ​música​ ​popular​ ​e​ ​não​ ​há​ ​necessidade​ ​de​ ​cadastro.
O didatismo da página inicial é expressado pelo texto de apresentação do
portal (Imagem 5) e pelo início do estudo que se acontece com os nomes das partes
do instrumento (Imagem 6). Observando abaixo, ainda na página inicial, o portal
ensina como segurar o violão e como posicionar a mão esquerda no braço do
instrumento. Além disso, a página já explica de início a diferença entre nota e
acorde, facilitando assim o decorrer do curso. Dessa forma, a página demonstra um
certo nivelamento de estudo, do iniciante ao avançado, permitindo que o
aprendizado​ ​seja​ ​realizado​ ​por​ ​partes,​ ​sem​ ​que​ ​uma​ ​etapa​ ​seja​ ​pulada.

Imagem​ ​5​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​portal​ ​aprendaviolao.net

Imagem​ ​6​ ​-​ ​printscreen​ ​da​ ​página​ ​inicial​ ​do​ ​portal​ ​aprendaviolão.net
Uma seção importante do portal é a “Mais Populares”, encontrada numa lista
de ​hiperlinks à direita da principal. Tal seção direciona o aluno a tirar dúvidas
referentes à escolha de um violão, ao medo de tocar em público, etc. O interessante
em tal área é a última postagem, que pode ser vista na Imagem 6, cujo título é “Dom
vs Prática - qual o mais importante?”, que desmistifica a noção de que bons
violonistas nascem aptos para o aprendizado, fazendo com que o aluno iniciante
que ler tenha um bom incentivo ao estudo árduo, já que é a única maneira de sair
do​ ​status​ ​de​ ​iniciante​ ​e​ ​chegar​ ​no​ ​avançado.

● iniciantesdoviolao.com:
É focado no ensino popular iniciante e requer cadastro, mas permite o acesso
gratuito apenas para a versão reduzida do curso. As vídeo-aulas são recebidas via
e-mail e para continuar o aprendizado neste portal, recebendo as outras aulas e
apostilas,​ ​há​ ​a​ ​necessidade​ ​de​ ​realizar​ ​pagamento.
A página inicial do portal (Imagem 7) apresenta um vídeo de introdução ao
curso, no qual o professor se apresenta e explica o andamento do curso,
incentivando a realização de cadastro. Após o cadastro, a inscrição é confirmada
(Imagem 8), e ao clicar em “Eu Quero Ser um Aluno Vip de Violão Agora”, outra
página​ ​é​ ​aberta,​ ​com​ ​mais​ ​um​ ​vídeo​ ​de​ ​apresentação.

Imagem​ ​7​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​portal​ ​iniciantesdoviolao.com.br


Contudo, o professor faz algumas afirmações de maneira errônea e falaciosa,
que soam como informações técnicas e válidas para um iniciante do violão, como
quando diz que “o cérebro do violonista se divide principalmente em duas partes
enquanto ele está tocando violão”, sendo “uma em fazer ritmos e batidas e outra em
colocar acordes e notas na outra mão”. Além disso, no vídeo da Imagem 9, o
professor afirma que, com o curso apresentado por ele, o aluno não precisará “ficar
se preocupando com revistinhas chatas e livros que [...] não ajudam em nada”, além
de afirmar que os métodos convencionais do ensino de violão são ruins, e que o
professor deste portal pode revelar “segredos que a maioria das escolas de música
odiariam que você soubesse”, como se houvesse alguma informação específica
secreta​ ​que​ ​apenas​ ​o​ ​professor​ ​deste​ ​canal​ ​fosse​ ​revelar.

Imagem​ ​8​ ​-​ ​printscreen​ ​da​ ​tela​ ​de​ ​confirmação​ ​de​ ​inscrição​ ​do​ ​portal​ ​iniciantesdoviolao.com.br

Imagem​ ​9​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​vídeo​ ​do​ ​canal​ ​iniciantesdoviolao.com.br


Observa-se, em tais argumentos falaciosos, o questionamento realizado por
Keen (apud PEQUINI, 2016), sobre a mediação do conhecimento, já que as
afirmações deste professor no portal iniciantesdoviolao.com.br devem parecer
corretas aos olhos do aprendiz de violão. Este trabalho avalia o portal
iniciantesdoviolao.com.br com extrema preocupação, porque induz os alunos a
acreditarem nas informações falaciosas não embasadas, e induz o pensamento de
que​ ​o​ ​progresso​ ​no​ ​aprendizado​ ​violonístico​ ​é​ ​rápido​ ​e​ ​fácil,​ ​quando​ ​não​ ​o​ ​é.

● violaodeboa.com.br:
É um curso pago de violão popular, realizado por um professor formado em
licenciatura em música. Com uma assinatura de R$55, há a possibilidade de acesso
às vídeo-aulas por seis meses, com download de apostilas em pdf, tira-dúvidas via
e-mail​ ​e​ ​aulas​ ​por​ ​live-streaming​.

Imagem​ ​10​ ​-​ ​printscreen​ ​da​ ​página​ ​inicial​ ​do​ ​portal​ ​violaodeboa.com.br
Entretanto, o portal permite o acesso limitado a alguns itens sem a realização
de pagamento, que funciona como propaganda do método do professor. Dessa
forma, foi possível acessar uma quantidade reduzida de videoaulas, como na seção
lateral direita “Novas Postagens”, na página inicial (Imagem 10), que possui um ​link
de redirecionamento para uma página que oferece o ensino da música “Trevo”, do
duo​ ​popular​ ​Anavitória​ ​(Imagem​ ​11).
Nota-se, neste exemplo, que o primeiro vídeo não se configura como
videoaula, já que o professor utiliza como método de ensino a própria performance.
Entretanto, a página contém a letra da música acompanhada da tablatura, além de
outros​ ​três​ ​vídeos​ ​explicando​ ​o​ ​uso​ ​da​ ​mão​ ​direita​ ​e​ ​da​ ​mão​ ​esquerda​ ​na​ ​música.
Imagem​ ​11​ ​-​ ​printscreen​ ​de​ ​uma​ ​seção​ ​de​ ​videoaula​ ​do​ ​portal​ ​violaodeboa.com.br
Ademais, fica claro que o professor tem uma metodologia diferente, por
utilizar números para identificar as notas que devem ser tocadas, ao invés de utilizar
cifras, como ocorre no portal cifraclub. A seção “Novas Postagens” presente na
Imagem 10 contém o link
“Porque uso o código das
notas?”​, que também
realiza o redirecionamento
do aluno para uma nova
página (Imagem 12), onde
o professor explica o
funcionamento e o
passo-a-passo para o uso
de tais códigos no ensino
de pequenos solos, além
de expor a sua motivação
por​ ​trás​ ​do​ ​uso​ ​deles.

Imagem​ ​12​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​vídeo​ ​que​ ​oferece​ ​explicação​ ​para​ ​o​ ​uso​ ​de​ ​códigos
Continuando a análise, o portal apresenta alguns problemas, por exemplo: o
professor não foi capaz de afinar ou de verificar a afinação segundo o padrão do
próprio instrumento na vinheta gravada que antecede a videoaula da música
“Garota de Ipanema”, de Tom Jobim; a propagação irreal da ideia de que é possível
aprender a tocar bem o instrumento de maneira rápida, na intenção específica de
vender o curso; e a afirmação não embasada na literatura de que o uso dos códigos
das​ ​notas​ ​é​ ​realmente​ ​mais​ ​eficiente​ ​para​ ​o​ ​aluno​ ​iniciante.
Entretanto, apesar de todas essas problemáticas, o portal ainda parece obter
êxito no ensino devido ao didatismo do portal: a cada música que o professor se
propõe a ensinar, há um cuidado na escrita da letra do objeto de estudo em
conjunto com a tablatura, além da apresentação dos vídeos, também didáticos, que
apresentam uma performance de simples execução que é realizada também de
maneira mais lenta, facilitando o entendimento do aluno. Não obstante, o professor
separa, no ensino, a realização da mão esquerda da batida, e explica a execução
de​ ​maneira​ ​satisfatória.

● conservatoriodigital.com.br:

Imagem​ ​13​ ​-​ ​printscreen​ ​do​ ​portal​ ​conservatoriodigital.com.br


É um portal pago que oferece diversos cursos, entre eles os de violão
popular, violão clássico e guitarra. Requer cadastro para acessar o conteúdo, com o
custo de R$29,90 por módulo (cada módulo possui 10 vídeoaulas), e os professores
são​ ​formados,​ ​técnicos​ ​ou​ ​bacharéis.
A página inicial apresenta um vídeo introdutório que realiza uma propaganda
do curso oferecido pelo portal, bem como um ​chat​, no canto inferior esquerdo da
página, no qual é possível entrar em contato com os professores do Conservatório
Digital. Além disso, o portal apresenta uma frase (Imagem 13) que, da mesma forma
que os portais anteriores fizeram, induz ao aluno a ideia de que o aprendizado de
um​ ​instrumento​ ​musical​ ​é​ ​fácil​ ​e​ ​rápido.
É possível acessar uma videoaula grátis de cada curso disponibilizado no
portal mesmo sem a realização do cadastro. No caso do curso de Violão Clássico
(Imagem 14), a professora faz uma apresentação rápida do curso e de si mesma,
além de apresentar alguns conceitos e afirmar a necessidade de acessórios, além
do​ ​violão,​ ​como​ ​um​ ​apoio​ ​para​ ​o​ ​pé​ ​e​ ​uma​ ​cadeira​ ​sem​ ​braço.

Imagem​ ​14​ ​-​ ​printscreen​ ​da​ ​seção​ ​de​ ​violão​ ​clássico​ ​do​ ​portal​ ​conservatoriodigital.com.br
Um item interessante apresentado neste portal é a possibilidade de visualizar
com antecedência o planejamento de aulas, que facilita ao aluno sua própria
programação de realização. Desta forma, verifica-se que o início do repertório
trabalhado tem como base a utilização de músicas folclóricas. Entretanto, é apenas
no fim do quinto módulo que a professora apresenta uma peça encontrada no livro
“Iniciação ao Violão”, de Henrique Pinto, que funciona como aprendizado primário
em​ ​aulas​ ​no​ ​ensino​ ​formal​ ​presencial​ ​de​ ​violão.
Um item importante a se ressaltar é que este é o único portal que apresenta
uma formação musical ao aluno dentro dos parâmetros formais de ensino, e ainda
assim, a professora não questiona os conhecimentos que transmite. Tal afirmação
pôde ser feita com base na observação de que, durante a leitura em notação
musical realizada, a docente explica a possibilidade de tocar a nota lá 2 em diversos
locais do braço do violão e afirma que a partitura apontará a precisão dessa
informação; assim, há uma falha ao mencionar mas não aderir à utilização da
tablatura em sua função de notação precisa para iniciantes, além de não mencionar
sua importância histórica devido à utilização nos manuscritos mencionados
anteriormente​ ​sobre​ ​cordas​ ​dedilhadas.

Assim, observa-se que, não apenas neste portal, há uma reprodução de


conhecimentos sem criticidade, transmitidos sem questionamento, o que nos remete
às concepções de TOZONI-REIS (2010) e de Giulio Girardi, de educação
integradora, que funciona como instrumento de reprodução da sociedade, o que nos
faz concluir que, caso não haja uma mudança na exposição dos conteúdos por
parte dos docentes, o ensino musical de violão vai permanecer alienado às
contextualizações históricas e, consequentemente, a falta de questionamento se
tornará​ ​concomitante​ ​a​ ​toda​ ​e​ ​qualquer​ ​forma​ ​de​ ​ensino​ ​de​ ​violão.

b. Avaliação​ ​do​ ​material​ ​encontrado​ ​online


Após a análise individual dos portais apresentados, o presente trabalho
observa de maneira conclusiva que vêm surgindo diversos esforços no sentido de
modernizar e associar o ensino de violão à realidade tecnológica vivida pelos
usuários, de forma a apostar no bom-senso do uso das ferramentas disponibilizadas
por parte dos alunos. Entretanto, os portais mencionados não apresentam a mesma
metodologia do ensino tradicional de violão, que, segundo FELIPE (2014), é
composto por procedimentos que incluem um plano de estudo elaborado, bem como
o “conhecimento de partituras e notação musical, técnicas de execução específicas
para violão, teoria complementar, solfejo, leitura métrica, etc.” Apesar disso, o autor
apresenta o argumento de que o aluno que chega ao ambiente de ensino
tradicional, ou seja, o ensino formal, já pôde adquirir elementos musicais em meio
ao​ ​ensino​ ​informal,​ ​através​ ​da​ ​imitação​ ​e​ ​da​ ​percepção​ ​auditiva.
Dessa forma, a análise dos portais apresentados passa a ter outro viés: a
observação de quais portais apresentados incluem os procedimentos supracitados,
e​ ​quais​ ​não​ ​incluem,​ ​conforme​ ​tabelas​ ​e​ ​análises​ ​abaixo.

Portal​ ​analisado Possui​ ​elaboração​ ​de​ ​plano​ ​de​ ​ensino?

Fórum​ ​violao.org Não

cifraclub.com.br Não

Iniciantes​ ​do​ ​violão Sim

Violão​ ​de​ ​boa Sim

Conservatório​ ​Digital Sim


Tabela​ ​3​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​à​ ​realização​ ​de​ ​plano​ ​de​ ​estudo
De acordo com o que se observa acima (tabela 3), o primeiro portal,
violao.org, não apresenta plano de ensino. Isso se deve ao fato de ter aspecto de
fórum ao invés de portal de ensino mediante aulas particulares com utilização da
internet. Assim, a proposta deste portal é inteiramente diversa dos demais, não
havendo a necessidade de realizar o processo de ensino-aprendizagem de maneira
direta, ou seja, com videoaulas. Tal fato não impede o portal de ser extremamente
útil na evolução do conhecimento do aluno, principalmente por tornar possível uma
grande concentração de informações num único ambiente virtual. Já o portal
cifraclub tem como função primária o ensino de músicas específicas, deduzindo um
mínimo conhecimento musical por parte do aluno no acesso às cifras. Entretanto, as
videoaulas de caráter básico e introdutório não possuem uma linha de evolução
clara, de forma que os vídeos de assuntos específicos sejam apresentados sem
ordenação satisfatória dos itens. Os outros portais, em compensação, possuem um
plano de ensino, mas, no caso do portal iniciantesdoviolão.com.br questiona-se a
qualidade do material apresentado, mesmo que possua certa sistematização. Os
casos dos últimos dois portais são interessantes, por aparentarem efetividade de
acordo​ ​com​ ​a​ ​proposta​ ​individual​ ​de​ ​cada​ ​portal.
Portal​ ​analisado Demonstra​ ​conhecimento​ ​de​ ​partituras?

Fórum​ ​violao.org Sim

cifraclub.com.br Não

Iniciantes​ ​do​ ​violão Não

Violão​ ​de​ ​boa Não

Conservatório​ ​Digital Sim


Tabela​ ​4​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​ao​ ​ensino​ ​da​ ​leitura​ ​de​ ​partituras
Em relação à Tabela 4, que se refere ao uso de partituras, apenas dois dos
portais mencionados oferecem informações acerca de tal informação. O portal
violao.org não apresenta o ensino da leitura devido à sua característica como Fórum
de Violão, mas apresenta ​hiperlinks postados pelos usuários em tópicos variados.
Em paralelo, o portal Conservatório Digital realiza o ensino da leitura de partitura em
seus cursos de Violão Clássico e de Teoria Musical, mas isto não se aplica ao curso
de Violão Popular. Todos os outros portais mencionados deixam a desejar no
sentido da leitura de partituras no violão, e tal fato coincide com o dado de que tais
portais focam o processo de ensino-aprendizagem no aspecto do violão popular.
Entretanto, a amostragem tomada nesta pesquisa não nos permite assumir
conclusões​ ​acerca​ ​de​ ​tal​ ​análise.
A tabela seguinte (tabela 5) se refere ao ensino e à utilização de outras
formas de notação musical que não a de partituras. Os portais Cifraclub e
Conservatório Digital apresentam, por exemplo, a notação musical por meio do uso
de tablaturas, e explica o funcionamento e a utilização da mesma. Já o portal Violão
de Boa apresenta uma notação diferenciada, similar à tablatura renascentista alemã
mas substituindo os signos da época pela numeração de dois dígitos, a saber: o
primeiro dígito representa em qual corda a nota será tocada, sendo 1 a mais aguda
e 6 mais grave, enquanto o segundo dígito representa a casa em que a nota será
tocada.​ ​No​ ​mais,​ ​os​ ​outros​ ​portais​ ​não​ ​apresentam​ ​notação​ ​musical​ ​diferenciada.

Portal​ ​analisado Apresenta​ ​outras​ ​formas​ ​de​ ​notação​ ​musical?

Fórum​ ​violao.org Não


cifraclub.com.br Sim

Iniciantes​ ​do​ ​violão Não

Violão​ ​de​ ​boa Sim

Conservatório​ ​Digital Sim


Tabela​ ​5​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​ao​ ​ensino​ ​através​ ​de​ ​outras​ ​formas​ ​de​ ​notação​ ​musical

Portal​ ​analisado Apresenta​ ​técnicas​ ​de​ ​execução​ ​do​ ​violão?

Fórum​ ​violao.org Sim

cifraclub.com.br Sim

Iniciantes​ ​do​ ​violão Sim

Violão​ ​de​ ​boa Sim

Conservatório​ ​Digital Sim


Tabela​ ​6​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​à​ ​apresentação​ ​de​ ​técnicas​ ​de​ ​execução​ ​do​ ​violão
A tabela 6 discute a apresentação de técnicas de execução do violão, e todos
os portais apresentados possuem, de alguma maneira, tal item. O primeiro portal,
violao.org, apresenta técnicas de execução do violão no formato de publicação e
comentários nos tópicos do fórum, baseada na opinião individual dos usuários. Já
os portais Cifraclub, Iniciantes do Violão, Violão de Boa e Conservatório Digital
apresentam conteúdos de técnica inseridas no formato de videoaulas, mas ao
mencionar a postura corporal do violonista, os portais falham por não abrangerem o
assunto da posição da mão esquerda, discutido desde 1830 por Fernando Sor em
sua​ ​publicação​ ​Méthode​ ​pour​ ​la​ ​Guitare
Em relação ao ensino conjunto de Teoria Complementar (tabela 7), oferecido
em todos os métodos de aprendizagem das cordas dedilhadas desde o século XVI,
os únicos portais que oferecem aulas são o portal Cifraclub, que apresenta uma
única videoaula intitulada de “Introdução à Teoria Musical”, que apresenta alguns
dados errôneos, como a informação de que o “semitom é a menor distância entre
duas notas musicais” (Imagem 15); o portal Violão de Boa, que apresenta uma
página relativamente desorganizada devido à presença de itens não relacionados à
teoria musical, mas com um vídeo, por exemplo, no qual o professor explica bem,
de maneira historicamente informada, a diferença entre Monofonia, Polifonia e
Homofonia; e o portal Conservatório Digital, por meio de um curso, de três módulos,
separado​ ​das​ ​aulas​ ​de​ ​violão.

Portal​ ​analisado Apresenta​ ​ensino​ ​de​ ​Teoria​ ​Complementar?

Fórum​ ​violao.org Não

cifraclub.com.br Sim

Iniciantes​ ​do​ ​violão Não

Violão​ ​de​ ​boa Sim

Conservatório​ ​Digital Sim


Tabela​ ​7​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​ao​ ​ensino​ ​conjunto​ ​de​ ​teoria​ ​complementar

Imagem​ ​15​ ​-​ ​printscreen​ ​da​ ​aula​ ​de​ ​teoria​ ​musical​ ​do​ ​portal​ ​Cifraclub
Na Tabela 8 observa-se a importância dada pelos portais em relação ao
estudo de solfejo, que no ensino tradicional está historicamente atrelado à prática do
instrumento. Todos os portais falharam em relação ao ensino, mas o Fórum
violão.org possui publicações e comentários que se referem ao solfejo como parte
indispensável no estudo do violonista, como o do usuário e violonista Fábio Zanon,
que afirma ter chegado à conclusão de que a falta do estudo de solfejo e harmonia
se reflete “na lentidão com que a pessoa aprende músicas novas”, atrapalhando
assim o progresso do aluno. No mais, os outros portais sequer mencionam solfejo
como​ ​um​ ​item​ ​que​ ​deve​ ​ser​ ​estudado.

Portal​ ​analisado Apresenta​ ​a​ ​importância​ ​do​ ​Solfejo?


Fórum​ ​violao.org Não

cifraclub.com.br Não

Iniciantes​ ​do​ ​violão Não

Violão​ ​de​ ​boa Não

Conservatório​ ​Digital Não


Tabela​ ​8​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​ao​ ​ensino​ ​da​ ​realização​ ​de​ ​solfejo

Portal​ ​analisado Elabora​ ​método​ ​de​ ​leitura​ ​rítmica?

Fórum​ ​violao.org Não

cifraclub.com.br Não

Iniciantes​ ​do​ ​violão Não

Violão​ ​de​ ​boa Sim

Conservatório​ ​Digital Sim


Tabela​ ​9​ ​-​ ​Análise​ ​dos​ ​portais​ ​referente​ ​à​ ​realização​ ​leitura​ ​rítmica​ ​e​ ​métrica
Por fim, a tabela 9 apresenta dados referentes à elaboração do estudo de
leitura rítmica nas aulas realizadas pelos portais. O fórum violão.org não apresenta
método de ensino devido à característica de fórum. Dos outros portais, que têm
como foco o processo de ensino-aprendizagem, apenas os portais Conservatório
Digital e Violão de Boa apresentam um método de leitura rítmica, devido à utilização
de​ ​apostilas​ ​em​ ​conjunto​ ​com​ ​as​ ​aulas​ ​do​ ​instrumento.
Com o objetivo de complementar a análise realizada até aqui, devemos nos
reportar às tabelas 1 e 2, apresentadas anteriormente. Os portais com foco no
processo de ensino-aprendizagem mencionados não realizam a mesmo
metodologia que os métodos históricos de cordas dedilhadas, ou seja, explicar
alguns temas iniciais ao aluno e realizar exercícios bem fáceis antes de partir à
execução de repertório. NOGUEIRA (2008, p. 215-216) apresenta uma conclusão
que se aplica com plena acurácia na avaliação realizada por este trabalho, quando
afirma​ ​que
“O imediatismo do enfoque dado ao ensino se tornou
inversamente proporcional à qualidade alcançada. O objeto de
estudo se tornou a reprodução ou imitação grosseira de sequências
de sons, por mais das vezes, alienada de qualquer cunho artístico.
Confundiu-se​ ​formação​ ​com​ ​habilidade​ ​de​ ​imitação.”
Com tais dados, adquiridos na comparação realizada entre os portais
analisados e o método tradicional do ensino de violão, chega-se à conclusão que,
nos canais de propagação de conhecimento acerca do violão selecionados são
encontradas desinformação e inverdades. Entretanto, alguns portais conseguem
alcançar resultados, mesmo que pequenos, geralmente atingidos mais pela imitação
dos instrumentistas nas videoaulas, como ocorre também nas aulas presenciais, do
que pelos conteúdos realmente difundidos. Ainda há muito o que refletir, pesquisar e
analisar no que se refere ao uso das TICs no ensino de violão, mas já constata-se o
processo de democratização do acesso que essa modalidade oferece, além da
aproximação do aprendiz do alcance de seus objetivos. FELIPE (2014) afirma que,
muitas vezes, o aprendizado em conjunto, ou seja, quando o ensino formal e o
informal se complementam, é a maneira mais efetiva no processo de aprendizagem
do aluno iniciante, principalmente devido à “imersão na música e nas práticas
musicais do meio ambiente natural do indivíduo” (GREEN, 2010 apud FELIPE,
2014).
Não sendo viável o aprendizado do aluno iniciante através do ensino formal,
o aluno que se volta à educação à distância se depara com o cenário descrito na
análise acima, e ​i​sso nos faz voltar à problemática apontada por KEEN (apud
PEQUINI, 2016), por entender que os frequentadores dos portais mencionados, se
violonistas iniciantes, não têm meios de avaliar a qualidade do material que é
encontrado de maneira ​on-line​, e por isso há a necessidade de um mediador para
atestar​ ​a​ ​veracidade​ ​e​ ​a​ ​qualidade​ ​do​ ​conteúdo​ ​exibido.

3. Possível​ ​caminho​ ​para​ ​a​ ​nova​ ​problemática


O presente projeto realiza aqui uma reflexão sobre essa problemática
apontada por Keen e reiterada por Pequini. Indica-se a necessidade, para uma
melhoria no processo de ensino e aprendizagem voltado ao violão erudito, da
criação de um blog que realize um levantamento dos canais EAD (dentro da
abordagem de educação informal) disponíveis, com uma análise crítica de cada um,
mais elaborada que as realizadas neste trabalho, para que seja proporcionado ao
internauta um instrumento que o ajude a realizar uma avaliação crítica dos
conteúdos acessados por ele, como Siemens (apud PEQUINI, 2016) acredita que
seja​ ​seu​ ​papel.
A mesma proposta pode ser justificada pelo argumento de Isaura Botelho, em
seu texto “As dimensões da cultura e o lugar das políticas públicas”. Voltada ao
campo da cultura, a pesquisadora menciona equívocos ocorridos quando as
decisões acerca da produção cultural são realizadas por um grupo preocupado com
o marketing das empresas patrocinadoras de determinada expressão cultural, sem
que haja diálogo com a comunidade. Assim, dependentes de capital privado, os
projetos têm grandes chances de não atingirem o plano do cotidiano da comunidade
na qual se inserem. O presente projeto entende essa problemática ao associar as
produções na área da cultura com as da área da educação, já que ambos são
conhecimentos produzidos em coletividade, como defende Tozoni-Reis (2010) ao
afirmar que “o processo de elaboração de conhecimento sobre o mundo não é um
processo individual”. Assim, essa mesma problemática da falta de diálogo entre o
pesquisador em educação e a comunidade, seja entre a política pública patrocinada
e a comunidade ou entre o pesquisador em educação e a comunidade, impele a
presente pesquisa a reiterar a aplicação prática da criação de um blog, citada
anteriormente, desde que realizada em conjunto com a comunidade violonística
através​ ​de​ ​uma​ ​pesquisa-ação,​ ​como​ ​mencionado​ ​e​ ​explicado​ ​por​ ​Tozoni-Reis.
Trata-se de “uma modalidade nova de conhecimento coletivo do
Mundo e das condições de vida de pessoas, grupos e classes
populares” (BRANDÃO, 1981, p. 9) ou, ainda, uma modalidade
alternativa de pesquisa qualitativa que coloca a Ciência a serviço da
emancipação social. Esse tipo de pesquisa traz desafios como: o de
pesquisar e participar, e o de investigar e educar, realizando, nesse
processo educativo, a articulação radical entre teoria e prática
(DEMO,​ ​1992).​ ​(TOZONI-REIS,​ ​2010,​ ​p.​ ​32)

Nesse tipo de pesquisa, os participantes deixam de ser “objetos” de


estudo para serem pesquisadores, sujeitos produtores de
conhecimentos sobre sua própria realidade. O sujeito que vive a
realidade social em estudo é, portanto, um pesquisador-parceiro das
investigações definidas participativamente, um pesquisador
comunitário que constrói e produz conhecimentos sobre essa
realidade em parceria com aquele que seria identificado, em uma
outra modalidade de pesquisa, como o pesquisador, na
pesquisa-ação definido como pesquisador acadêmico.
(TOZONI-REIS,​ ​2010,​ ​p.​ ​33)
Um terceiro argumento que confirma a mesma necessidade é referente à
conclusão realizada acerca da questão levantada: “o estudo por meio da internet se
justifica como ensino à distância?” Na extensão da pesquisa realizada, os trabalhos
que utilizaram a temática do ensino à distância, em especial o documento de Neves
(2003), que se encontra na página do MEC, se referiam a tal modalidade como um
processo pedagógico de ensino-aprendizagem mediado pela tecnologia mas com
dependência de um professor, com possibilidade da realização de contato
recíproco; alguns dos portais mencionados têm tal estruturação e permitem esta
classificação,​ ​como​ ​o​ ​conservatório​ ​digital.
Em contraponto, o estudo autodidata é correspondente ao ensino à distância
apenas no que se refere ao interesse próprio do aluno e à autonomia do indivíduo
em relação à escolha dos conteúdos e do horário dedicado, mas os itens principais,
que fazem observar na modalidade à distância aspectos da educação formal, ou
seja, contar com professores capacitados, com ciência acerca da legislação que
regula a modalidade EAD e com plano de ensino estrito, não são encontrados na
busca autodidata de conhecimento, e o acesso a portais como o fórum de violão
(que nem chega a caracterizar o processo de ensino-aprendizagem, apesar de ser
uma fonte de diversas informações acerca da comunidade violonística) demonstra
bem​ ​tal​ ​realidade.
Desta forma, o estudo autodidata não possui mediação, o que nos faz voltar
à problemática de Keen (apud PEQUINI, 2016), já que falta a um aluno iniciante
certa​ ​capacidade​ ​crítica​ ​de​ ​avaliar​ ​a​ ​qualidade​ ​do​ ​material​ ​apresentado​ ​a​ ​ele.

4. Retomada​ ​à​ ​pergunta​ ​que​ ​motivou​ ​o​ ​trabalho


Discutida a nova problemática, o presente trabalho se volta à questão inicial.
Os portais apresentados se caracterizam, em sua maioria, no âmbito do ensino de
música popular, e alguns deles até oferecem cursos relativamente estruturados e
podem ser considerados como ensino à distância. Afinal, NEVES (2003) se refere à
EAD como um canal de acesso à informação de maneira estruturada, que segue a
legislação vigente e possui contato direto com o professor, com possibilidades de
tirar​ ​dúvidas​ ​através​ ​de​ ​certo​ ​vínculo.
Este é o caso dos portais ​violaodeboa.com.br ​e ​conservatoriodigital.com.br​,
que se diferem dos demais pelo contato disponível entre docente e discente e pela
estruturação aparente do curso, com desenvolvimento de apostila para o aluno
iniciante, além das vídeo-aulas. Já os outros canais de ensino de música popular
não podem se enquadrar senão como portais de disseminação de conhecimento e
informação, que o violonista interessado pode acessar por meios autodidatas,
justamente porque tais canais não possuem o contato professor-aluno de maneira
eficiente e recíproca. Por último, mas não menos importante, o fórum ​violão.org se
apresenta com muitas possibilidades de aprendizado devido às opiniões publicadas
por violonistas renomados, mas se limita por não oferecer apoio óbvio aos
aprendizes​ ​de​ ​nível​ ​iniciante.
CONSIDERAÇÕES​ ​FINAIS

Este trabalho, com caráter de pesquisa bibliográfica, tomou como ponto de


partida as áreas da educação, da tecnologia e da música. Dessa forma, foi realizada
uma análise dos processos de ensino e aprendizagem e foi observada a influência
das Tecnologias da Informação e Comunicação no cenário atual; em seguida, tais
dados foram contextualizados com a realidade violonística. Além disso, esta
pesquisa teve como objetivo responder ao questionamento: "o aprendizado
autodidata se justifica como ensino à distância?" e, para tanto, realizou o
levantamento, observação e análise de métodos históricos de cordas dedilhadas,
tomados como publicações do ensino formal, e de portais online de propagação do
conhecimento​ ​acerca​ ​do​ ​violão,​ ​tomados​ ​como​ ​informais.
No início do desenvolvimento, deparou-se com uma problemática,
encontrada na pesquisa bibliográfica e aplicada ao panorama do ensino musical
específico de violão. Tal problema se tratava da mediação do conteúdo encontrado
via internet, já que o aluno iniciante não se preocupa quando tem um mentor,
professor ou mestre para acompanhá-lo nas descobertas realizadas; entretanto, ao
estudar de maneira autodidata e buscar conhecimento online, o leigo não tem meios
para avaliar se o conteúdo acessado tem inverdades ou afirmações capciosas. Nas
especificidades do meio musical, em especial à metodologia proposta por este
trabalho, foi proposto um caminho possível e viável para que tais preocupações
fossem amenizadas, de forma que a criação de um blog que avaliasse de maneira
crítica os portais online que realizam a propagação do conhecimento acerca do
cenário​ ​do​ ​violão,​ ​disponibilizando​ ​assim​ ​uma​ ​mediação​ ​para​ ​os​ ​alunos​ ​iniciantes.
Retomando o assunto que motivou esta pesquisa, o violão foi apresentado de
maneira contextualizada, trazendo um histórico dos métodos de cordas dedilhadas,
desde o século XVI, e tratando da importância da notação musical em tablatura e
em partitura, além de trazer o histórico do violão no Brasil, na intenção de realizar
um recorte espacial e restringir o objeto de estudo do trabalho. A partir daí, foi
possível diagnosticar o panorama do violão e aplicar o uso das TICs à análise, onde
se inserem os portais online que realizam a propagação de conhecimento musical
do​ ​violão.
Foram observados seis portais, sendo o primeiro um fórum de discussões, o
segundo um portal famoso de busca de músicas com cifras, os dois seguintes que
propõem o ensino de violão gratuito, e os dois últimos escolas pagas com um certo
nível de estruturação do método de ensino. Da análise realizada, observou-se que
todos os portais apresentam problemas nas apresentações de conteúdo, que variam
de induções simples de marketing, que vendem o método como o melhor e mais
fácil meio de aprender violão, até informações errôneas e falaciosas preocupantes,
que remetem esta pesquisa à problemática apresentada na primeira parte do
trabalho.
Desta forma, foi possível concluir que os professores dos portais, sem
exceção, têm a tendência de reproduzir sem questionar os ensinamentos recebidos,
de maneira que vários problemas podem decorrer desta ação. Apesar disso,
também se pode reconhecer os esforços, importantíssimos para a democratização
do acesso ao conhecimento (e aqui não se confunde com o conceito de
democratização da cultura, como explicado por CANEDO, 2007) da área musical,
em​ ​específico​ ​de​ ​violão.
A última análise foi realizada com base na comparação dos métodos de
cordas dedilhadas com as metodologias apresentadas pelos portais, e foi observado
que os portais online não realizam tantos exercícios ou apontam muitos caminhos
metodológicos teóricos antes de se remeter à prática intensiva de repertório. Assim,
conclui-se que há um imediatismo da prática no ensino de violão, dado pela
imitação do professor, que prejudica a qualidade alcançada na própria performance,
alienando-se​ ​o​ ​cunho​ ​artístico​ ​do​ ​hábito​ ​de​ ​tocar​ ​violão.
Já o questionamento que baseou o presente trabalho foi respondido com
base na legislação vigente que se refere à modalidade de Ensino à Distância.
Realizou-se uma análise lógica de dados, a saber que tal modalidade requer um
acompanhamento de um docente em um curso estruturado. Os portais que
apresentam tais dados são dois, coincidente com os que cobram pelo acesso, e os
demais se configuram, mesmo com relativa eficiência, como portais de
disseminação de conhecimento e informação, que podem ser acessados como

meios​ ​autodidatas​ ​pelo​ ​violonista​ ​iniciante​ ​e​ ​ainda​ ​leigo.


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