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estudos, Goiânia, v. 41, n. 1, p. 151-163, jan./mar. 2014.
ria das tendências e após das propostas pedagógicas para educação matemática (SIL-
VA, 2012). As mesmas se apresentam com potencial educacional enorme, mas acabam
sendo de uso reduzido nas práticas docentes por grande parte dos professores, em
decorrência da formação que possivelmente receberam na licenciatura na qual também
muito é falado quanto a necessidade de alterar o quadro, tanto do desempenho escolar
dos alunos em matemática quando na forma de apresentar os conteúdos matemáticos
aos alunos.
Para Silva (2012), o professor continua sendo o detentor do conhecimento e o
aluno nesse processo é considerado o sujeito passivo, carente de pensamento crítico e
criativo, sendo julgado incapaz de raciocinar ou lidar com seu próprio conhecimento,
mesmo com intervenção do professor. O autor ainda enfatiza que, a escola oferece um
ensino pautado num modelo de educação “bancária”, visando à formação de alunos
passivos, prontos para receberem o que o professor determina, tanto o conteúdo quan-
to ao modelo a ser seguido. Essa metodologia de ensino não consegue responder as
demandas do mundo atual, necessitando de novas metodologias no ensino da matemá- 153
tica, as quais levem a compreender os avanços da ciência e da tecnologia. Assim, Silva
(2012, p.174) defende que, “para atuar no mundo, hoje, faz-se necessária uma nova
postura, um novo paradigma, uma revisão teórica que tenha como objetivo central a
organização/reformulação/compreensão da base teórica e prática que permeie a ação
pedagógica dos educadores”.
Fiorentini (1995) cita que as mudanças começaram a acontecer na década de
1960, meados do século XX, fase que marca o crescimento dos movimentos favoráveis
à incorporação de fatores de natureza social e cultural atrelados ao estudo, ao ensino da
matemática e da ciência. As novas propostas referiam-se à necessidade da incorpora-
ção das realidades até então desconsideradas. E, até então, as experiências sociais eram
desestruturadas, politicamente instáveis, economicamente não desenvolvidas, tecnolo-
gicamente atrasadas e não eram objetos de estudo no espaço escolar.
A ruptura da forma tradicional do ensino da Matemática se iniciou nos anos
1980 da década passada, de lá pra cá, tem tentado modificar a maneira de ensinar a
matemática, potencializando o processo de ensino-aprendizagem de forma que o aluno
tenha condições de aprender mais e melhor e que esse aprendizado tenha reflexões em
suas opções diárias de consumo e vida tornando-se cada vez mais uma pessoa cons-
ciente dos problemas da sociedade e que esse aprendizado matemático seja importante
mesmo ás pequenas decisões que são tomadas no cotidiano.
Conforme apresenta Fiorentini (1995), no decorrer da revolução industrial, apa-
receram novas necessidades para o ensino, pois a sociedade vivenciava a expansão de
um novo modo de produção, assentado na mercadoria. Daí a necessidade de um ensino
embasado no conhecimento, na ciência e na técnica. Contudo, esta ação pedagógica
estava voltada quase que exclusivamente para treinamento e “adestramento”, tendo em
vista a adaptação da criança à escolaridade formal necessária ao modo de produção
industrial. Segundo o autor (1995), Com o desenvolvimento da sociedade industrial,
os países capitalistas acabaram acentuando diferenças entre classes, isto é, burguesia
e proletariado. Por esta razão, entre as décadas de 50 e 70 as orientações das políticas
de educação pública começaram a provocar mudanças na educação, transferindo-a, do
estudos, Goiânia, v. 41, n. 1, p. 151-163, jan./mar. 2014.
eixo das diferenças individuais para o eixo das diferenças sócio-culturais. Assim, as
crianças das classes populares passaram a ser considerada, com uma cultura inferior.
Daí a necessidade da escola “suprir” as carências culturais.
Segundo o especialista Ferreira (2004), depois do fracasso da matemática mo-
derna, na década de 70, entre os educadores matemáticos surgiram diversas correntes
educacionais, voltadas para a melhoria no ensino da matemática, que tinha como ca-
racterística comum: a unificação de um mesmo currículo e contra a forma de impor
e apresentar a matemática, sendo um conhecimento universal e marcado por divulgar
verdades e valores absolutos, e no currículo não havia espaço na matemática para a
valorização do conhecimento do cotidiano do aluno, proveniente do seu meio social.
A partir da década de 80, começaram a encontrar metodologias alternativas para
o ensino-aprendizagem da Matemática, o surgimento da etnomatemática e da mode-
lagem. Apresentam as contradições entre aprendizagem da matemática na escola e as
soluções buscadas pelos indivíduos no cotidiano, dentro de contexto relacionado à
vida e ao trabalho. Conforme menciona Fiorentini (1995. p.26), 154
O conhecimento deixa de ser visto como faziam as tendências formalistas, como
um conhecimento pronto, acabado e isolado do mundo, ao contrario, passa a
ser visto como um saber prático relativo, não-universal e dinâmico, produzido
histórico-culturalmente nas diferentes praticas sociais, podendo aparecer sistema-
tizado ou não. Esta forma cultural-antropologica de ver e conceber a matemática
e sua produção/divulgação, proporcionada pela etnomatemática, trouxe também
profundas transformações no modo de conceber e tratar a Educação Matemática.
Por trás de cada modo de ensinar, esconde-se uma particularidade sobre con-
cepção de aprendizagem, de ensino, de matemática e de educação e sofre influências:
dos valores, das finalidades que o professor atribui ao ensino da matemática, de forma
como concebe a relação professor-aluno, além da visão que tem de mundo, de socie-
dade e de homem, conforme descreve Silva (2012, p. 197):
Um dos papéis mais importantes a ser desenvolvido pela escola e seus elementos é
o de proporcionar uma alfabetização contínua. Uma alfabetização que possa habi-
litar o aluno a compreender a realidade ao seu redor, no sentido natural e social,
participando de forma avaliativa e consciente dos debates e decisões que permeiam
a sociedade na qual está inserido. E, para isso, acredito que novos enfoques tenham
que ser dados para o trabalho em sala de aula. É primordial, para a população em
geral, que a escola possa fornecer base sólida para que a construção dos conheci-
mentos seja cada vez mais reflexiva, numa sociedade em continua transformação.
efetuar uma revisão crítica do trabalho realizado com o intuito de conferir o resultado e
o raciocínio utilizado, isto é, examinar se a solução obtida está correta, se existe outra
maneira de resolver o problema e se é possível utilizar este método para solucionar ou-
tros problemas. Tais procedimentos é que oportunizam que se alcance aquilo que para
D´Ambrósio (1986, p. 44) é “o verdadeiro espírito da Matemática”, que é:
As aplicações são empregos das noções e teorias da matemática para obter resul-
tados, conclusões e previsões em situações que vão desde problemas triviais do
dia a dia a questões mais sutis que surgem noutras áreas, quer científicas, quer
tecnológicas, quer mesmo sociais. As aplicações constituem a principal razão pela
qual o ensino da matemática é tão difundido e necessário, desde os primórdios
da civilização até os dias de hoje e certamente cada vez mais no futuro. Como as
entendemos, as aplicações do conhecimento matemático incluem a resolução de
problemas, essa arte intrigante que, por meio de desafios, desenvolve a criatividade,
nutre a autoestima, estimula a imaginação e recompensa o esforço de aprender.
Para que as pessoas melhorem suas condições de vida social, cultural e econô-
mica, estas precisam ter conhecimento das mudanças tecnológicas produzidas pelo
conhecimento cientifico a disposição da sociedade. As tecnologias se fazem presentes
na sociedade, mas para isso as pessoas precisam estar alfabetizadas e letradas cienti-
ficamente para poder ter o mínimo de condições para opinar ou julgar sobre as ques-
tões inerentes ao seu contexto social, com a finalidade de melhorar, contribuir com a
transformação social. Segundo Vaz, Fagundes e pinheiro (2009, p. 107), “a sociedade,
em geral tende a acreditar que, quando maior for a produção cientifica, maior será a
produção tecnológica, o que aumenta a geração de riquezas para o país e, em consequ-
ência o bem estar social.” 160
Skovsmose (2001) assinala três tipos de conhecimento matemáticos que com-
portam a constituição dos indivíduos. O primeiro se refere ao conhecimento mate-
mático, ou seja, ao conhecimento que relaciona as aprendizagens das habilidades e
das ferramentas matemáticas que são ensinadas aos alunos. O segundo diz respeito
ao conhecimento tecnológico, em que a matemática, é apresentada como superfície
para compreensão das tecnológicas e ferramenta para construção dessas, através de
modelos matemáticos. E, por fim, o terceiro conhecimento, chamado de conhecimento
reflexivo, se relaciona justamente com matemática enquanto ciência e ferramenta de
desenvolvimento tecnológico.
A ciência, a tecnologia e a proposta da Educação Matemática devem estar a
serviço da sociedade, no intuito de resolver ou de melhorar as condições de vida da
humanidade. Nesse sentido, houve uma evolução histórica do desenvolvimento da tec-
nologia e do conhecimento, pois enquanto se estuda os conceitos da ciência se vê tam-
bém como as vidas mudaram ao longo dos tempos, com isso também se ampliam as
capacidades e aptidões para a vida conectando-se no mundo, mas sem esquecer-se de
refletir sobre as implicações e daí tomar decisões para o exercício da cidadania, onde
o principal é a pessoa e o seu ambiente.
CONSIDERAÇÕES
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TRENDS IN MATHEMATICS EDUCATION AND ITS RELATIONS WITH CTS
Abstract: this study aimed to understand the contribution of pedagogical trends of
Mathematics Education for Science, Technology and Society (STS) and check which
of those trends are emphasized more and which contribute to literacy and scientific
literacy of students. The research methodology is qualitative in nature through a bib-
liographic study.
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