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HISTORIA DE

MOÇAMBIQUE-I
UNIDADE I

1. PERIODIZAÇÃO DA HISTORIA DE MOÇAMBIQUE


2. FONTES DA HISTORIA DE MOÇAMBIQUE

UNIDADE II

1. OS ESTADO DE ZIMBABWE
2. OS ESTADO DE MWENEMUTAPA
3. OS ESTADO DE MARAVE

UNIDADE III

1. EXPANSAO BANTU
2. AS SOCIEDADES MOÇAMBICANAS APOS A
FIXACAO BANTU

UNIDADE IIII

1. A PENETRAÇAO MERCANTIL ARABE


2. PENETRACAO MERCANTIL PORTUGUEZA
3. PENETRACAO COLONIAL
PERIODIZAÇÃO DA HISTORIA DE MOÇAMBIQUE

Periodização: é a divisão dos acontecimentos


históricos em grandes épocas, destacando-se as
características que distinguem um período do outro.
Exemplo: antiguidade – do 4º milénio a.C ao século V
d.C, idade média – do século V aos meados do século
XV, idade Moderna – dos meados do século XV ao fim
do século XVIII e idade Contemporânea – dos finais
do século XVIII aos nossos dias. Cronologia é a
organização dos acontecimentos históricos por
ordem no tempo. Exemplos: 1400-1450 fundaçào do
império de Muenemutapa, 1450-1500 auge do
Mwenemutapa, 1561 o mwenemutapa reinante é
baptizado com o nome de Dom Sebastião.

Observações: No período mercantil (800-1886),


a aquisição de riquezas em Moçambique fazia-
se sem que os mercadores interviessem
directamente na produção ou investissem em
sectores produtivos. A troca desigual era o
método pelo qual os mercadores estrangeiros
acumulavam lucros.
FONTES DA HISTORIA DE MOÇAMBIQUE
Se existem as fontes escritas sobre a África
então, os problemas gerais residem na falta
de estudos das fontes escritas da África. No
domínio da África negra há fontes clássicas,
árabes e fontes propriamente africanas
embora a interpretação destas fontes tem
limitações e interferências conforme a língua
e o posicionamento do historiador.
Moçambique, assim como muitos países em
desenvolvimento, enfrenta o problema da
falta de pesquisa e registo de fontes orais,
assim como a sequente ausência de fontes
escritas. Pensamos que a aposta na recolha
de depoimentos poderá contribuir para dar
resposta a essas preocupações e contribuir
para a consolidação de conhecimentos
escolares, particularmente nos currículos
educativos locais onde são reservados 40 por
cento do tempo lectivo para a realidade
próxima do aluno.
Pois, quando as fontes estiverem processadas e
preservadas, mais facilmente poderão ser usadas para
diversas finalidades. Desse modo, o esforço contribuiria na
criação de acervos das identidades culturais particulares
em Moçambique. Identidade cultural entendida como um
conjunto de valores, tradições, códigos transmitidos de
gerações mais velhas para as mais novas, como também
as formas de governação e da história recente de
Moçambique.Em Moçambique, onde há ainda diversos
grupos etnolinguísticos, as identidades de cada grupo
formam, por semelhança, a identidade do país e, ao
mesmo tempo, as diferenças fortalecem, ainda de forma
particular, esses grupos. Isso faz com que os participantes
que actuam em cada campo específico procurem preservar
o que os identifica, podendo se destacar a sua relação com
o meio ambiente, preservação de recursos escassos,
resolução de conflitos de posse de terra, etc. Dessa forma,
a fortificação das identidades particulares se manifesta
pela diferenciação ou semelhança com o outro. Esse
sentimento de identidade é tão forte que as pessoas
procuram mostrar que acumularam valores culturais ao
longo da sua vida,
além daquilo que as identifica como parte de um todo:
cultura nacional. Há um exemplo importante em
Moçambique dessa resistência identitária que se situa na
região norte de Moçambique, concretamente em Nampula.
Nessa região, as mulheres são consideradas as mais
bonitas do país, por possuírem características fenotípicas
associadas às origens bantu-arábicas. Conscientes disso,
elas se produzem de forma a mostrar a sua meiguice,
mestiçagem, para que sejam vistas e tratadas como
diferentes das do resto do país. Suas roupas, penteados,
tratamento da pele, etc., são fantasiados no sentido de
marcarem fronteira com outras mulheres de Moçambique.
Estabelece-se entre elas um forte sentido de unicidade e
cultivam hábitos que as identificam em qualquer lugar do
território. Outro exemplo de diferença e semelhanças,
também visível em Moçambique, é o das demonstrações
de manifestações culturais, por exemplo festivais, que têm
lugar no intervalo de dois no país. O encontro de grupos
culturais, especialmente de canto e dança, nesses festivais,
mostra claramente as diferenças e semelhanças e suas
interacções com a comunidade. Nota-se a exuberância de
cada grupo no sentido de marcar sua particularidade
ancestral.
A relação entre as identidades particulares dos grupos
sociais em Moçambique é importante para o
desenvolvimento e a afirmação do país como um todo. Ou
melhor, o reconhecimento dessas diversidades
etnolinguísticas é para Moçambique um elemento
importante para a unidade nacional. Quer dizer, a cultura
deverá ser tomada como chave para “cimentar ou
cristalizar” a identidade histórica, social e nacional partindo
dessa diversidade. Somos de opinião que trabalhar com as
fontes orais poderá contribuir para se encontrar possível
unidade política, que poderá consolidar a nação, onde o
cruzamento e a partilha das entidades culturais tenderão
para uma maior harmonia social e cultural. Pois a
nacionalidade do povo moçambicano como entidade
nacional cultural, ainda se encontra fortemente
influenciada pela imposição exógena.É nesta perspectiva
que convidamos as instituições de ensino superior a
participar nesta reflexão e contribuir na grande mudança
que urge no país — conhecer e compreender a diversidade
cultural da sociedade moçambicana.
Para isso, a disponibilidade de fontes orais já tratadas ou
transcritas e editadas em livros de temas etnográficos
locais será de extrema importância quer para os
professores quer para os alunos.Como se sabe, uma das
discussões a levar em conta quando se trata de pesquisa
social em África são a tradição oral e as fontes orais. De
modo particular, as sociedades da África meridional são
predominantemente de tradição oral. Em Moçambique,
assim como em outros países da região, tais fontes
constituem o principal instrumento de comunicação e de
pesquisa. A escrita é ainda um privilegio dos grandes
centros urbanos, o que não quer dizer que as cidades
estejam isentas da tradição oral. Nestes países, a tradição
oral constitui o veículo que permite a transmissão de
conhecimentos de geração para geração. Amadou
Hampâté Ba (1977), afirma que quando falamos de
tradição oral em relação à história africana, referimo-nos à
tradição oral e nenhuma tentativa de penetrar na história e
no espírito dos povos africanos terá validade se não (a
menos que) se apoiar nessa herança de conhecimentos de
toda espécie, pacientemente transmitidos de boca a
ouvido, de mestre ao discípulo.
Por esse motivo, manifestações da tradição oral dos grupos
sobre os quais se debruçará e estudará ao longo das
pesquisas que os cientistas sociais vierem a desenvolver
deverão ter sempre em conta produzir fontes históricas
que permitam contribuir para se escrever e estudar a
história recente de Moçambique, porém, é importante
salientar que os materiais a produzir, provenientes de
entrevistas e outras formas de recolha de informação (as
entrevistas), estarão voltados também, e necessariamente,
para o estudo e a valorização do papel da tradição oral.
Para se entender como a tradição é incontornável quando
se estudam as sociedades humanas, vale a pena
reflectirmos sobre a tradição oral e sua importância no
contexto do continente africano. Para algumas sociedades
africanas, o tempo divide-se segundo dois registos
diferentes: mítico e social. O tempo “mítico” é
caracterizado pela representação fantástica do passado.
Esse passado é fundamentado pela inexistência de
fronteiras ou delimitações do período em que os factos
ocorreram. As épocas são datadas como referência aos
eventos que as caracterizaram. Não há, segundo esse
registo, o rigor cronológico.
Já o tempo social é representado pela história vivida pelo
grupo ao longo do tempo. A história é transmitida por
representantes ou personagens que simbolizam o poder,
como patriarcas, chefes de clã ou o rei. Muitas vezes esse
poder está relacionado a representações simbólicas cujo
valor é passado de geração para geração. Acrescentam
ainda que o próprio carácter social da concepção africana
da história lhe dá uma dimensão histórica incontestável,
porque a história é vida crescente do grupo. O tempo não é
a duração capaz de dar ritmo a um destino individual; é o
ritmo da colectividade. Não se trata de um rio que corre
num sentido único a partir de uma fonte conhecida até
uma foz conhecida. Por estas razões, a história não é
história, mas memória, e o tempo da história quando vier
será de outro modo que não o das sociedades ocidentais,
infelizmente paradigma das universidades e dos estudos
em grande parte de África.A complexidade da tradição oral
leva quase sempre ao questionamento da sua legitimidade
como fonte histórica. Isso não acontece apenas com a
tradição oral em África, mas em todas as outras sociedades
onde predomina a oralidade.
No entanto, a principal característica das sociedades de
tradição oral é o comprometimento dos seus membros em
relação aos “factos da fala”. Nas sociedades da escrita, ao
contrário, os compromissos são fechados de acordo com
documentos oficiais autenticados pelos serviços dos
notários e com carimbos ou selos fiscais. Porém, nas
sociedades de tradição oral, a palavra substitui todo esse
complexo. A palavra é valiosa e não contém apenas o valor
moral, como também é associada à divindade, às forças
que actuam fora da vontade do indivíduo. Nessas
sociedades “o homem está ligado à palavra que profere.
Está comprometido por ela. Ele é a palavra, e a palavra
encerra um testemunho daquilo que ele é. A própria
coesão da sociedade repousa no valor e no respeito da
palavra” (Hampâté Ba,1977). Neste sentido, a tradição oral
não se limita a histórias e lendas ou mesmo a relatos
mitológicos ou históricos; os gritos estão longe de ser seus
únicos guardiões e transmissores qualificados: “A tradição
oral é a grande escola da vida, dela recupera e relaciona
todos os aspectos”.
As tradições orais são obras literárias que deveriam ser
estudadas do modo como acontecem no meio social. Para
o caso de Moçambique, sabemos que o canto e o conto
encontram-se embutidos na literatura oral. Por isso, o
registo de depoimentos sobre práticas e saberes culturais
inclui, ao mesmo tempo, expressões poéticas que valem a
pena ser preservadas devido ao seu valor e a história
dessas sociedades é a história dos seus cantos e contos e
do seu conteúdo. Muitas vezes, a sua interpretação exige
profundo conhecimento da sua origem. Pois, as tradições
orais africanas abrangem o vasto universo da literatura oral
(provérbios, orações, mitologias, lendas, expressões
idiomáticas, etc.), aspectos que não poderão ser excluídos
nos depoimentos a ser pesquisados pelo investigador
sociocultural, ou seja, o que Maurice Halbwach (2008)
designou de memória histórica. As tradições particulares
são as que pertencem a cada grupo e a sua preservação é
feita ao nível mais restrito, incluindo a família. Os grupos e
instituições reconhecem o valor singular dessas tradições.
É neste sentido que insistimos, uma vez mais, para as
instituições de pesquisa do país envidarem esforços no
intuito de treinar técnicos e colaboradores capazes de
discutir os mecanismos, aprofundar e cruzar
conhecimentos locais, de modo a recolher informações que
mereçam ser preservadas para a posteridade
UNIDADE II
OS ESTADO DE ZIMBABWE
O Estado de Zimbabwe existiu, aproximadamente
entre 1250 e 1450.a classe dominante fez rodear as
suas habitações de amuralhas de pedra conhecidos
por Madzimbabwe (singular Zimbabwe). Essas
amuralhadas não traduziam apenas uma ostensiva
demonstração de poder, mas também tinham a
função de protegê-la militarmente. Na capital,
grande Zimbabwe concentrou-se grande parte do
poder político e económico. Havia aí vários recintos
circundados por pedra, na planície e na colina,
igualmente grande cidade de caniço, cujos vestígios
arqueológicos cobrem hoje uma importante
superfície. Além do grande Zimbabwe, são
conhecidos vários centros regionais igualmente
circundados por muros de pedra como Manyikeni.
Situado a 50Km da Baia de Vilanculos e a 450 do
Grande Zimbabwe, Manyikeni insere-se pela sua
arquitectura, materiais arqueológicos e datações
absolutas. As investigações mostraram que foi
continuamente habitado entre 1170-1610. A
construção de amuralhado data do século XIII.
Entre os séculos XVI e XVII, Manyikeni fazia parte do
território de Sedanda, o qual segundo a tradição oral fora
um estado satélite do Império dos Muenemutapas.
Manyikeni constituía a sede de uma dinastia e entreposto
comercial, controlava a Baia de Vilanculos e assegurar um
rápido escoamento de mercadorias. Entre os produtos
importados por Manyikeni contavam-se missangas de vidro
colorido, porcelanas, louça vidrada e finas garrafas de
vidro. De possível manufactura local foram enxadas,
pregos, machados, um elegante gongo, contrapesos de
roca feitos de barro para fiação do algodão e consideráveis
quantidades de olaria. Todos esses produtos
assemelhavam-se aos dos centros regionais e aos do
próprio grande Zimbabwe. Verifica-se uma relativa
concentração de bens de prestígio (gongo – instrumentos
muitas vezes ligados ao poder real na África central:
missangas, porcelanas, lamas e vidros) reservados a classe
dominante. O abandono ou marginalização de Manyikeni,
nos séculos XVI-XVII está relacionado com a implantação
da autoridade político-militar portuguesa em Sofala (1505)
e na Ilha de Moçambique (1507), bem como com a
fragmentação do Zimbabwe nos Estados Bútua e
Muenemutapa a partir do sECULO XV.
OS ESTADO DE MWENEMUTAPA
Falar Mwenemutapa ou Muenemutapa é falar da mesma
coisa. Que a grafia não confunda a mente dos leitores. Por
volta de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado pela
maior parte dos seus habitantes. O Estado de
Muenemutapa é formado a partir de um movimento
migratório do Grande Zimbabwe, dos povos Caranga-
Chona, para a região do vale do Zambeze, na sequência da
invasão e da conquista por exércitos dirigidos por
Nhatsimba Mutota, ocorrida por volta de 1440-1450.
Desenvolveu-se entre, os rios Mazoe e Luia, o centro de um
novo Estado chefiado pela dinastia dos Muenemutapa, que
dominou e subordinou a população pré-existente. A capital
do império era Dande. O grosso dos efectivos do grupo
invasor deu origem no vale do Zambeze a uma etnia
denominada pelos povos locais porMacorecore.
Constituíram excepção da subordinação os Tonga,
matrilineares porque não falavam a língua Chona.
Limites do Estado Muenemutapa
Norte – rio Zambeze; Sul – Rio Limpopo; Este – Oceano
Índico; Oeste – deserto de Kalahari.
O núcleo central que a dinastia governava directamente
entre, os rios Mazoe e Luia, era circundado por uma cintura
de Estados Vassalos cujas classes dominantes constituídas
por parentes dos Muenemutapas e opor estes a rebelar-se
quando o poder central enfraquecia. Entre os Estados
vassalos do Estado de Muenemutapa encontravam-se
Sedanda, Quissanga, Quiteve, Manica, Bárrué e Maungwe.
Os seus chefes pagavam tributo ao Muenemutapa reinante
e eram confirmados por este quando subiam ao poder. Os
Muenemutapas dominaram a sul do Zambeze até finais do
século XVII, perdendo depois a sua posição em favor da
dinastia dos Changamires, cujo papel no levante armado
contra a penetração mercantil portuguesa. Nos seus traços
mais gerais, a sociedade Chona caracterizava-se pela
coabitação no seu seio de dois níveis sócio-económicos
distintos: de um lado a comunidade aldeã, designada por
Musha ou Incube, relativamente autárcica e estruturada
pelas relações de parentesco; do outro lado a aristocracia
dominante (que se confundia com a família que reinava e
esta com o Estado), que controlava o comércio a longa
distância e dirigindo a vida das comunidades.
A comunidade aldeã
A actividade produtiva essencial das comunidades aldeãs
Chona baseava-se na agricultura. Os principais cereais
cultivados eram aMapira, a mexoeira, o naxemim e o
milho. Ao longo dos rios e sobretudo na zona costeira e
solos aluvionares, cultivava-se oarroz, usualmente para
venda. O nível das forças produtivas ainda era baixo.
Nos trabalhos agrícolas utilizavam a enxada de cabo curto
e a agricultura praticava-se sobre queimadas. A pecuária, a
pesca, a caça, bem como o artesanato surgiram como
apêndices complementares da agricultura, submetendo-se
aos imperativos do ciclo agrícola.
O trabalho nas minas aparecia como imposição do exterior
(da aristocracia dominante ou de comerciantes
estrangeiros), não fazendo parte integrante da actividade
produtiva normal. Com o decorrer do tempo, a penetração
árabo-persa e portuguesa trouxe novas necessidades (bens
de prestígio), as quais voluntária ou coercivamente
levavam a população das comunidades a praticar a
mineração do ouro em escala considerável.
O ouro localizava-se nas regiões como: Chidima, Dande,
Butua e Manica
As Mushas que integravam no geral uma família no sentido
lato ou um grupo de famílias com o mesmo antepassado, o
muri, viviam num regime de auto-subsistência e estavam
fundamentalmente orientadas para a produção de valores
de uso. Todas as relações entre os membros da sociedade
Chona, ao nível das Mushas, eram fundadas no parentesco.
Acima das Mushas, como entidade superior erguia-se a
aristocracia dominante.
Aristocracia dominante
Na sociedade Chona, o Estado era personificado na pessoa
do soberano, o Mambo, que devia desligar-se da sua
origem terrena para conferir à realeza, um carácter
sagrado. Tornava-se assim o representante supremo de
todas as comunidades, o símbolo da unidade de interesses
dessas comunidades. Para quebrar todas as ligações com a
sua linhagem, e se tornar representante de toda a
sociedade, indiferente às rivalidades familiares, o Mambo
cometia no momento da sua entronização, o incesto com
uma parente próxima, infringindo desse modo o mais
absoluto interdito. Daí que a principal mulher do
Monomotapa era a sua própria irmã.
A autoridade efectiva do Mambo processava-se através dos
seus subordinados territoriais que integravam um
complexo aparelho de Estado.
Esquematicamente a estrutura político administrativa
pode ser representada da seguinte maneira:
1. Mambo: chefe supremo.
2. Mazarira, Inhahanca e Nambuiza: três principais
esposas do soberano com importantes funções na
administração.
3. Nove altos funcionários: responsáveis pela defesa,
comércio, cerimónias mágico-religiosas, relações
exteriores, festas, etc.
4. Fumos ou Encosses: chefes provinciais
5. Mukuru ou Mwenemusha: chefes das comunidades
aldeãs ou das Mushas.
6. As Mushas

O mambo possuía alguns funcionários subalternos:


Mutumes (mensageiros) e os Infices (guarda pessoal do
soberano – Mambo).
Há que notar aqui que elegia-se Fumo a quem tivesse
maior riqueza material. Depois que ficara pobre, a
comunidade destituía-o através de uma cerimónia pela
qual lhe eram atribuídos certos símbolos de prestígio (um
bordão e um chapéu de palha). O fumo deposto passava a
pertencer ao grupo dos “grandes” por mérito. Salientar que
semelhante controlo não operava ao nível dos Mambos,
geralmente oriundos da aristocracia invasora descendente
de Mutota, na qual a transmissão do poder se fazia por via
hereditária. Articulação entre a aristocracia dominante e as
comunidades Mushas A articulação entre a aristocracia
dominante e as comunidades aldeãs encerrava relações de
dominação/subordinação e exploração do homem pelo
homem, materializadas pelas obrigações e direitos que
cada uma das partes tinha para com a outra. As
comunidades aldeãs (Mushas) sob direcção dos
Mwenemushas, garantiam com o seu trabalho a
manutenção e reprodução da aristocracia dominante e esta
concorria para o equilíbrio e reprodução social de toda a
sociedade Shona com o desenvolvimento de inúmeras
actividades não directamente produtivas.
Obrigações das Mushas
– Prestar 7 dias de trabalho mensais nas machambas do
Mambo;
– Construção de casas para os membros da classe
dominante (ZUNDE);
– Mineração do ouro para alimentar o comércio a longa
distância que garantia a importação de produtos para a
sociedade Shona, os quais ascendiam a categoria de bens
de prestígio (missangas, tecidos, louça, porcelana, vidros,
etc).
– Pagamento de imposto em primícias das colheitas
(tributo simbólico) e uma parte da produção agrícola
(regular); – Entrega de marfim, peles de animais e penas
de algumas aves;
– Entrega de materiais de construção de residências da
Classe dominante, como pedras, estaca, palha, etc.
Obrigações da Classe dominante
– Orientar as cerimónias da invocação da Chuva;
– Pedir aos Muzimos reais (espíritos dos antepassados
reais) a fertilidade do solo, o sucesso das colheitas;
– Garantir a segurança das pessoas e dos seus bens;
– Assegurar a estabilidade política e militar no território; –
Servir de intermediário fiel entre os vivos e s mortos;
– Orientar as cerimónias mágico-religiosas contra as
cheias, epidemias e outras calamidades.
Os mambos eram garantes da fecundidade da terra e
depositários da ordem do território e constituíam os
antídotos mais eficazes contra o caos. A sua morte
significava a perda da estabilidade. Quando morria um
Mwenemutapa e até a eleição do novo mambo, o poder era
exercido por um personagem que usava o nome de
Nevinga. Sem ser portador de qualquer atributo régio, era
morto logo após a eleição de um mambo de direito. A
eleição do verdadeiro mambo, constituía motivo de festa
porque se acreditava ter a ordem sido reposta com o
importantíssimo papel de mambo vivo, que tamanha
admiração e entusiasmo causa aos seus crédulos
adoradores. Papel das crenças mágico-religiosas ou
aparato ideológico dos Mwenemutapa As crenças mágico-
religiosas sempre jogaram um papel muito importante para
a manutenção do poder e da coesão social. Praticavam
cultos dedicados aos espíritos dos antepassados. Existiam
alguns termos que serviam para designar Deus: Mulungu,
utilizado nas terras marítimas, ao longo do vale do
Zambeze e a nordeste do planalto zimbabueano e Mwari a
sul do planalto. Entre os Muzimu mais temidos eram os dos
reis.
Esta prática regular as classes dominantes do estado dos
Muenemutapas e dos estados satélites contactarem
regularmente com os seus Muzimu através de especialistas
médiuns designados por Pondoros ou Mondoros (leões). O
Muenemutapa Matope, o segundo da dinastia declarou que
o seu espírito era imortal, esse metamorfoseava num Leão,
pelo que matar um Leão era considerado um crime
imperdoável. Os médiuns (Swikiros) estavam estreitamente
associados ao poder político e especialmente às sucessões.
Deviam conhecer profundamente a História genealógica e
na sua maioria eram estrangeiros, para assegurar
imparcialidade em caso de arbitragem nos conflitos
sucessórios. Os Swikiros constituíam os suportes das
classes dominantes e estas as executoras das ordens dos
antepassados, mortos em vida e vivos na morte. Todo esse
aparato ideológico contribuía para assegurar a reprodução
social Chona e das desigualdades sociais existentes.
Porém, o poder dos Muenemutapas e dos mambos em
geral, não advinha apenas das rendas e dos tributos que
recebiam regularmente. O comércio a longa distância
(ouro) era a outra fonte do poder dos mambos.
A fixação portuguesa fez-se inicialmente no litoral, com a
fundação da feitoria de Sofala em 1505 e na ilha de
Moçambique em 1507. Esperavam através de Sofala,
controlar as vias de escoamento do ouro e do marfim em
pequena escala do interior. Muito antes da chegada dos
mercadores portugueses em Moçambique, os Swahili-
Árabes se encontravam na região, controlando o ouro vindo
do império de Muenemutapa através do rio Zambeze até
aos portos de Quelimane e Angoche. A partir de 1530, os
portugueses penetraram no vale do Zambeze fundando as
feitorias de Sena e Tete em 1530 e a do Quelimane em
1544. Trata-se agora de não controlar as vias de
escoamento do ouro, mas sim do próprio acesso as zonas
produtoras do ouro, entrando em contradição com os
Swahili-Árabes. Na sua penetração, os portugueses
utilizaram a religião cristã católica, organizando assim em
1561 uma expedição missionária a corte do Mwenemutapa
reinante chefiada pelo padre Jesuíta Gonçalo da Silveira
com o objectivo de converter a classe dominante à religião
católica tendo conseguido baptizar o Mwenemutapa e a
sua família com o nome de D. Sebastião.
Para os portugueses ter o Muenemutapa e a sua família
baptizados serviria de trampolim para a concretização dos
seus planos:
– Marginalizar os mercadores asiáticos;
– Influenciar as decisões políticas do imperador em seu
benefício;
– Monopolizar o comércio do ouro;
– Promover manobras no sentido de se alargar o período
que os camponeses dedicavam á produção de valores de
troca (ouro) em detrimento da produção de valores de uso
e consumo (agricultura).
O padre Gonçalo da Silveira é acusado de feiticeiro e é
morto e como retaliação aos acontecimentos de 1561, os
portugueses enviam uma expedição militar chefiada por
Francisco Barreto em 1571 com o objectivo de conquistar
as zonas produtoras do ouro e punir o imperador reinante.
Devido a grande coesão no seio da classe dominante e as
doenças tropicais explicam em grande medida a derrota
que sofreram. A primeira década do século XVII, marcou o
início de uma nova era no estado dos Muenemutapas. A
classe dominante encontrava-se envolvida em profundas
contradições e lutas intra e interdinásticas.
Gatsi-Lucere, imperador sentindo-se militarmente
impotente para debelar a revolta comandada por
Mathuzianye, viu-se obrigado a solicitar o apoio militar
português. Como recompensa, o Muenemutapa reinante
prometeu em 1607 a concessão aos portugueses de todas
minas do estado. Com a morte de Lucere, em 1627, o
imperador Capranzina que representava uma facção
oposta aos interesses mercantis portugueses foi deposto e
substituído por seu Tio Mavura. Os portugueses baptizaram
Mavura pelo nome de Filipe. O processo do
comprometimento do novo imperador culminou com a
assinatura no mesmo ano (1629) do tratado, designado por
tratado de Mavura que transformou o império num estado
vassalo de Portugal. Por este tratado, a aristocracia de
Muenemutapa ficou obrigada a:
– Permitir a livre circulação de homens e mercadorias
isentas de qualquer tributo;
– A obrigatoriedade de o Muenemutapa consultar o capitão
português antes de tomar qualquer decisão importante;
– Não exigir aos funcionários e mercadores portugueses a
observância das regras protocolares quando recebidos por
autoridades e altos dignatários da corte (descalçar os
sapatos, tirar o chapéu, bater palmas, ajoelhar, etc);
– Não obrigar os mercadores portugueses a pagarem
impostos inerentes a sua actividade;
– Aceitar uma força constituída por 50 soldados
portugueses na corte;
– Expulsar os mercadores asiáticos do império;
– Permitir a construção de igrejas no território.
O imperador com o tratado de vassalagem deixou de
representar e executar a vontade dos antepassados para
agir como um simples intermediário entre os interesses do
capital mercantil português e as comunidades aldeãs. Os
camponeses das muchas eram obrigados a trabalharem
mais tempo na mineração do ouro em prejuízo da
agricultura. A fome, as epidemias, a morte de mulheres e
crianças nas minas passaram a caracterizar a sociedade
Shona.O fim da presença portuguesa no império de
Muenemutapa deu-se em 1693 quando Changamire
Dombo, chefe de Bútua levou a cabo a uma expedição
militar contra os portugueses, tendo em dois anos
expulsado os portugueses e obrigando-os a atravessar o rio
Zambeze e se fixarem na margem esquerda, marcando
assim o fim da fase do ouro e início da fase de marfim.
Causas da decadência do império de Muenemutapa
– Fixação dos mercadores portugueses na costa;
– Lutas pela sucessão;
– Falta de um exército permanente;
– A interferência dos estrangeiros, sobretudo dos
portugueses nos assuntos internos do estado;
– Invasão dos Ngunis;
– Alianças dos sucessores dos Muenemutapa reinante aos
portugueses.
OS ESTADO MARAVE
Os Estados Marave formaram-se com a chegada a
sul do Malawi, a partir de camadas sucessivas de
emigrantes oriundos da região de Luba do Congo,
liderados pelo clã Caronga-Phiri, entre 1200 à 1400,
situados entre-os-rios Chire e Luangua, a norte do
rio Zambeze. Conflitos dinásticos levaram a
segmentação do clã original, dando origem a novas
linhagens que posteriormente se estabeleceram a
oeste, sul e sudeste do território ocupado pelos
Caronga. Assim, Undi irmão de Caronga moveu-se
para oeste e estabeleceu a hegemonia da sua
linhagem sobe os povos de língua Cheua e Nsenga,
abrangendo a norte da província de Tete. Por outro
lado, Kaphwiti e Lundu lograram dominar as
populações do vale do Chire. Diferentemente dos
Mwenemutapas a sul do Zambeze, os Maraves a
norte dominaram o seu território através da
absorção e adaptação da ideologia local,
acompanhado com o casamento com mulheres
nativas, promovendo o controlo sobre a esfera
ideológica.
Limites Norte: Malawi Sul: rio Zambeze Este: Rio
Luangua Oeste: Rio Chire
Assim, o Estado o estado Marave passou a ter como
estados satélites: Undi, Lundu, Kaphwiti e Biwi. Todos estes
estados onde o aparelho do Estado se confundia com a
família reinante, eram governados por membros oriundos
do clã original Phiri. O termo Marave designa várias
formações etnolinguísticas.
Principais actividades económicas
A principal actividade económica dos povos Maraves era a
agricultura e o comércio a longa distância. Pode-se aceitar
que a Mapiraera o cereal mais cultivado entre o Chire e
Luangua. Cultivava-se o milho, mexoeira, amendoim,
leguminosas, etc. A agricultura era itinerante sobre
queimadas, sendo a enxada de cabo curto como único
instrumento utilizado. No estado Marave, para a produção
agrícola havia uma forma de cooperação entre os
camponeses designada por Dima, que previa entre outros
aspectos garantir maior produção e productividade. É certo
que os Maraves produziam e comercializavam as enxadas
da metalurgia. Por outro lado, havia uma produção
considerável de tecidos de algodão para troca, designadas
por “Machiras”. Um outro produto saído do território
Marave era o Sal e há evidências de que ele era adquirido
por mercadores Ajauas e Bisa.
Tal como sucedia no império de Mwenemutapa e das
linhagens satélites, as classes dominantes dependiam
para a sua reprodução de duas fontes: Tributos
diversos como o comércio do marfim, o qual
representava para os soberanos Maraves o mesmo que
o ouro para os soberanos Chona. No caso do estado
dos Undi, a classe dominante recebia tributos regulares
e tributos rituais. Os súbditos eram obrigados a
trabalhar regularmente nas terras dos chefes, a
construir casas para a classe dominante e assegurar a
manutenção da capital. Como tributos rituais, havia as
primícias das colheitas e as taxas devidas ao facto de
os chefes orientarem as cerimónias mágico religiosas.
Ainda no Estado Undi, os súbditos eram obrigados a
cultivar produtos para o interesse geral conhecidos por
“Munda ya Chiweta”.Com o produto do sobretrabalho
dos súbditos o Undi sustentava visitantes e Litigantes,
entretinha jogos e danças e socorria os necessitados.
Recebiam igualmente tributos de vassalagem que
incluíam penas vermelhas de certos pássaros, marfim,
peles de leão e de leopardo, partes comestíveis de
outros animais, tributo de trânsito dos comerciantes
designado por Mororo e primícias das colheitas.
Estrutura sócio-política e administrativa
O aparelho político do Estado Marave era complexo.
Porém, tomemos o exemplo do Estado Undi, cujos
territórios abrangiam a actual província de Tete. Undi:
Chefe máximo do Estado Mambo: Chefe dos territórios
conquistados Mwene Dziko: Chefe Territorial Mwene
Mudzi ou Fumo: Chefe da aldeia Todavia, há que
salientar que cada chefe era servido por um conjunto
de conselheiros os mbili, singular ambili. Havia
igualmente um corpo de funcionários subalternos como
mensageiros e guarda do chefe.
No Estado Marave, todos os chefes estavam ligados por
laços de parentesco. Os membros da aldeia, os Mwene
Mudzi eral geralmente membros seniores das
matrilinhagens locais, sendo o núcleo matrilinear básico
designado por bele, formado pela mulher, por suas irmãs
casadas e ou solteiras, filhos não casados, filhos das irmãs
e por incorporação pelo marido da mulher e pelos maridos
das filhas da mulher.
Papel das crenças mágico-religiosas
As crenças mágico-religiosas do Estado Marave eram
destinadas a evocação das chuvas, a fertilidade das terras,
ao controlo das cheias. Esses cultos eram dedicados a
entidades supremas como era o culto do Muári ou Muáli, o
culto de Chissumpi, que era a veneração de espíritos
naturais e o culto de Makewana. A penetração dos
Caronga-Phiri não foi violenta de tipo militar. Foi no entanto
seguida de absorção gradual dos cultos nativos. O gradual
domínio dos territórios através da absorção e adaptação da
ideologia local, foi acompanhado pela prática de
casamentos com mulheres dos clãs nativos. Em alguns
casos, o Undi casava com a irmã do chefe local, dando-lhe
em troca uma das suas irmãs para ser esposa.
Assim, podemos concluir que enquanto a sul do Zambeze a
ocupação territorial de Nhatsimba Mutota foi
essencialmente de natureza militar, a norte do Zambeze a
ocupação territorial dos Maraves se fez pela conquista da
esfera ideológica expressa nos santuários e nos rituais. a
aristocracia dominante Caronga era obrigada a casar-se
com as mulheres saídas do clã Banda (clã originário da
região ocupada pelos Caronga).
Decadência do Estado Marave
O declínio das rotas comerciais Marave que iam até à
costa, substituídas desde fins do século XVI por duas rotas
controladas pelos mercadores Ajauas pode ter constituído
um dos factores que minou o poder das dinastias Phiri,
juntamente com dissensões dinásticas e uma
fragmentação linhageira intensa. Por outro lado a
decadência dos Estados Marave, no século XVI foi
intensificada pela penetração de mercadores no fim do
século XVIII. Alguns deles acabaram casando-se com a filha
de Undi reinante e começou a sua vida como prospector de
Ouro, utilizando mulheres escravas. Há que ter ainda em
conta a invasão dos Nguni provenientes do movimento
Mfecane,
continua NERINHO CALISTO MARTINHO AUATE

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