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AN

5. RSÁ
IV
E
º RIO
Pela objetiva de... Alexandre Manuel Foto-Aventura Peru À La Minute Mude de estação do ano

PRÁTICA
100%
NACIONAL

N.º 21 | Dezembro/Janeiro/Fevereiro 2015 | apenas €3.20 Portugal [Cont.]


Fotografar
a magia do nevoeiro
O tempo frio chegou e vai
durar alguns meses. Que tal
aproveitar para sair da cama
bem cedo para fotografar
com nevoeiro?

CONHEÇA OS PRINCIPAIS MODELOS E DESCUBRA DE QUE FORMA


ELES PODEM AJUDÁ-LO A TORNAR UMA MONTANHA OU PLANÍCIE
BANAIS, NUMA PAISAGEM DE CORTAR A RESPIRAÇÃO.
NOVIDADE
Já nas bancas!
100%
N.º 2 | Novembro/Dezembro 2014 NACIONAL

€2,50 Portugal [Cont.]

NOVA

Facebook especial
ok
Publicação Bimestral

> Crie uma página para o seu negócio no Facebo


book
> Pare a reprodução automática dos vídeos no Face
> Use o chat do Facebook de forma anónima
io Google
> Sincronizar Eventos do Facebook com o Calendár

Teste o seu antivírus


para saber se está
a funcionar bem

Truques para o
Internet Explorer
e Chrome

Converse e ainda...
e partilhe ficheiros > Inserir logotipo nas mensagens
do Gmail
numa sala secreta > Personalize o menu de contexto
do Windows
> Filtros no Instagram sem publicar
as fotos
Dicas e Truques para o > Sincronize calendários e contactos
do Google com Windows Phone
CLICK

FICHA TÉCNICA editorial


zOOM n.º 21
or vezes, o tempo passa panhar, sugerindo, participando,
[Dez./Jan./Fev. 2015]

DIRECTOR
Maurício Reis
P devagar. Outras, depressa
demais. Se lhe dissermos
que passaram cinco anos,
criticando.

Nesta edição o nosso grande


cinco!, desde que nasceu a destaque vai para um dos
REDAÇÃO
zOOm, acredita? acessórios mais importantes
Cláudio Silva, Marcos Fernandes,
Parece que foi ontem que vimos para quem fotografa paisagem:
Paulo Jorge Dias, Pedro Portela
os primeiros exemplares filtros. Se sempre quis saber mais
MARKETING/CIRCULAÇÃO chegarem às bancas. Foi com sobre o assunto, sente-se e leia
Sandra Mendes orgulho, satisfação e, porque o artigo que escrevemos espe-
ARTE/GRAFISMO não dizê-lo, alguma emoção cialmente para si. Foto da capa: Maurício Reis
+ideias design que recebemos os primeiros
IMPRESSÃO telefonemas, e-mails e comen- Depois temos as habituais entre-
Lidergraf, S.A tários em fóruns e nas redes vistas, fotografias dos leitores e
DISTRIBUIÇÃO sociais sobre a nova revista de aventuras fotográficas por esse
Vasp, SA fotografia, que acabava de mundo fora. Junte ainda um
PROPRIEDADE chegar ao mercado. guia prático para fotografar com
MR Edições e Publicações, de Prometemos continuar a dar o nevoeiro.
Maurício José da Silva Reis | nosso melhor e esperamos
Contribuinte 175282609 | poder tê-lo aí para nos acom- Inspire-se e... boas fotografias.
REDAÇÃO|PUBLICIDADE
Rua da Escola, 35 - Coselhas,
Apartado 97, 3001-902 Coimbra |
Tel.: 239081925 | E-mail(s):
conteúdo
zoom.fotografiapratica@gmail.com
zoomfp@zoomfp.com 04 Em Foco podia ser partilhada nestas páginas, lá
Fotografar a cidade a qualquer hora é a mais para a frente...
proposta do “Bom dia, Lisboa”, um pro-
jeto criado pelo fotógrafo Carlos 28 Destaque
Depósito legal: 305470/10 Reveles. Peça a um fotógrafo uma lista com 3
Registado na E.R.C. n.º 125761 ou 4 acessórios indispensáveis e de
Periodicidade: Trimestral 06 Livros certeza que os filtros lá estarão. E se há
Tiragem: 12.500 exemplares Mais quatro excelentes sugestões que género fotográfico em que eles são
[ Está interdita a reprodução de textos e deve ter em conta se quer investir num
livro de fotografia. O novo do fotógrafo
determinantes é na fotografia de paisa-
gem. Conheça os principais modelos e
4
imagens por quaisquer meios, a não ser Em Foco
João Pina, já entrevistado pela zOOm, descubra de que forma eles podem
com a autorização por escrito da
"Condor", não pode mesmo faltar na ajudá-lo.
empresa editora ] sua estante.
34 Pela objetiva de...
08 À La Minute Alexandre Manuel recebeu, graças às
Vamos dar-lhe um poder que nunca suas fotografias, importantes distinções
imaginou: ser capaz de mudar a internacionais. Estivemos à conversa e
estação do ano às suas fotografias. ficámos a conhecer um pouco melhor
http://www.zoomfp.com Saiba como nesta edição. o seu amor pela fotografia. Já Joel Silva
descobriu a fotografia "por acaso",
10 Prática numa altura mais difícil da sua vida. Mas 28
Explicamos tudo o que sempre quis depressa se apaixonou e entregou à Destaque
saber para fotografar bem a magia do fotografia da vida selvagem.
https://www.facebook.com/ nevoeiro. Mas não se esqueça que tem
zoomfotografiapratica
de sair da cama cedo... 50 Conhecer
Mais dois fotógrafos internacionais cujo 38
14 Exposição do leitor trabalho pode (e deve) acompanhar Pela objetiva de...
Algumas das fotograficas mais espeta- com regularidade.
culares que os leitores nos enviaram.
www.flickr.com/photos/revistazoom 51 Fotografias com histórias por
20 Foto-Aventura detrás da lente
Cláudia Duarte viajou até ao Peru e João M. Gil, fotógrafo, escreve sobre as
trouxe imagens deslumbrantes. E suas aventuras fotográficas e o que o
http://twitter.com/revista_zoom
histórias. Muitas. Tanta aventura só levou a registar aquele momento.

PUBLICIDADE

Foto Tours
PARIS
Lisboa & Bruxelas

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 3


A zOOm EM LISBOA

4 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


4Nikon D5000 . 40mm . f/8 . 1/60" . ISO 200

“LISBOA É UMA CIDADE ROMÂNTICA


E ESTE É O MEU ROMANCE COM ELA”
FOTOGRAFAR A CIDADE A QUALQUER HORA É A PROPOSTA DO “BOM DIA, LISBOA”, UM PROJE-
TO CRIADO PELO FOTÓGRAFO CARLOS REVELES. PARTIU DA NECESSIDADE DE COMPREENDER
O FASCÍNIO PELA CIDADE E ACABOU POR SE TORNAR NUMA HISTÓRIA DE AMOR POR LISBOA E
AQUELA LUZ QUE REALÇA AS CORES DOS PRÉDIOS E FAZ DELA UM LUGAR TÃO FOTOGÉNICO.
ual a melhor hora do dia para fotografar Lisboa? A baixa e a luz incide diretamente nas fachadas realçando as cores

Q resposta não é pacífica. Mas Carlos Reveles gosta espe-


cialmente de fotografá-la ao final da tarde, o que em dias
com nuvens garante imagens espetaculares, ou ao nascer-do-
de prédios de todas as idades e criando contrastes muito inte-
ressantes, ou dos monumentos históricos, dos turistas, das
gentes locais, dos negócios tradicionais, da arquitetura histórica
sol, onde o nevoeiro pode criar uma atmosfera fantástica. e moderna lado a lado”, explica o fotógrafo.
“Mas o que eu prefiro mesmo é fotografar as ruas da baixa ao Ora, sendo Carlos Reveles um apaixonado pela cidade, muito
cair da noite. É certo que as fotos perdem algum fator de provavelmente será ele a pessoa ideal para aconselhar todos os
espetacularidade de que todos gostam, mas é quando me sinto outros fotógrafos que chegam à capital de câmara na mão:
mais em casa”, revela o fotógrafo, que é responsável pelo projeto “Fujam dos clichés. Não queiram que as vossas fotos sejam
“Bom dia, Lisboa”. fotocópias. Retratem a vossa própria visão”. Isto sem esquecer
A iniciativa consiste em fotografar a cidade a qualquer hora e de incluir na imagem o fator humano e de transmitir emoções.
reúne um conjunto de imagens impressionantes de Lisboa. Mas “Acima de tudo, mantenham uma relação com Lisboa (ou com
sem limitar a fotografia das ruas e lugares alfacinhas a “algo a vossa cidade, vila ou aldeia) e não tenham preconceitos em a
meramente documental”. A ideia, diz Carlos Reveles, é “transmitir tornar pública!”, finaliza o fotógrafo.
emoções através das imagens que partilho”. A emoção que mais > http://www.carlosreveles.com/Projectos/Bom-dia-Lisboa/
rapidamente salta à vista é a paixão do fotógrafo pelo sítio onde
vive, que o próprio descreve assim: “Lisboa é uma cidade
romântica e este é o meu romance com ela”.
De onde vem todo este amor? O fotógrafo gostava de o saber
e espera responder a essa pergunta com este projeto: “O
propósito é conseguir um conjunto de imagens que me permita
compreender e explicar melhor o fascínio por esta cidade”.
A fotografia é, para Carlos Reveles, “um meio de me levar de
volta até aquele local, naquele momento”. E se há lugar onde é
possível fotografar Lisboa em todo o seu esplendor é o
miradouro de Nossa Senhora do Monte. É um dos spots preferi-
dos do fotógrafo por ser “aquele onde é possível ter uma maior
variedade de imagens de vários pontos da cidade”.
Mas, afinal, o que é que Lisboa tem que as outras não te-
nham? “Posso falar na luz, quando o Sol está numa posição mais

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 5


National Geographic Around the World in 125 Years
Fotos Arquivo da National Geographic | Taschen | 1404 páginas | €399

Júlio Verne precisou história da fotografia na imprensa já que


de 80 dias. A National atravessou praticamente todos os perío-
Geographic passou dos dos das publicações ilustradas, incluindo
125 e promete continu- as décadas áureas dos ensaios fotográfi-
ar, que o mundo está cos, dos anos 30 aos 60 – é destas
em mudança eterna e, décadas a maior parte das fotografias
quiçá, nem tudo o que publicadas no livro –, e seguiu a evolução
é prístino foi descober- tecnológica, com imagens a preto-e-
to. Desde o ano em que branco, autochromes, kodachromes e
foi criada, em 1888, a National fotografia digital.
Geographic Society publica a revista da Reuel Golden, antigo editor do British
moldura amarela, que difunde conheci- Journal of Photography, teve acesso ao
mento científico e educacional sobre vasto arquivo da National Geographic e
geografia, ambiente e cultura histórica e escolheu 1400 fotografias sobre pais-
humana, passo a redundância. E desde os agens, vida animal, arqueologia, quotidi-
primeiros tempos que se faz valer da anos e história. Muitas imagens nem ti-
fotografia para potenciar o espírito de nham chegado a ter espaço nas páginas
Capa do volume III
janela para o mundo, que a revista sem- da revista. São agora publicadas nesta
pre teve. Para além do stafe de fotógrafos, obra da Taschen, dividida por três volu- suportes de leitura. Também tem optado
contou com colaborações de peso, como mes, que separam o globo em áreas por edições limitadas, como é o caso
James Nachtwey ou Steve McCurry. Aliás, geográficas. desta obra, confinada a 125 mil cópias.
este último é o autor de uma das E agora a parte chata: 399 euros. É Mas... Mas... Mas, claro está, tudo é relati-
fotografias icónicas da nossa cultura visu- curioso notar que a Taschen surgiu com vo. Com Around the World in 125 Years
al e, certamente, a capa mais famosa da o ideal de publicar livros de arte que fos- damos a volta ao mundo, e no tempo,
National Geographic: a menina afegã, na sem acessíveis mas desleixou-se nesse sem esperar em aeroportos, sem jet lag, e
edição de Junho de 1985. A revista tam- mote. Na secção de fotografia tem anda- sem deixar a sala lá de casa. É um boca-
bém é, de alguma forma, um dos ele- do em grandes aventuras, com livros de dinho mais confortável e fica mais em
mentos que permitem acompanhar a dimensões colossais vendidos com conta.

Antibodies
© Antoine D’Agata / Magnum Photos

Fotos Antoine D’Agata | Prestel | 560 páginas | €70

“O que vemos não é o


que vemos, senão o que
somos”, escreveu
Fernando Pessoa e cita
Antoine D’Agata a páginas
tantas de Antibodies. É
uma frase entre aspas no
final de um dos muitos
textos em que D’Agata fala das suas
experiências sexuais, de consumo de
drogas, em que faz deambulações exis-
tencialistas ou meramente descreve bor-
deis e outros locais dos quais faz casa.
D’Agata é um dos autores mais contro-
versos e mais reveladores da actualidade.
Nómada – o site da Magnum Photos diz
que ele não tem casa desde 2005 –, viaja
pelos cantos mais díspares do globo e Nuevo Laredo, 2005
pelos recantos mais marginalizados e de
aura funesta. Passa semanas com grupos dade? Antibodies venceu o prémio de esmagadora maioria das fotografias está
de indigentes, prostitutas, toxicodepen- melhor livro nos Rencontres d’Arles, em tremida – os quartos escuros forçam a
dentes e sem-abrigo, onde trava 2013. O livro junta várias séries de longas exposições mas também se nota
amizades e, ao fim de algum tempo, Antoine D’Agata, fotógrafo francês, inter- que as velocidades lentas combinadas
acaba por fotografar. D’Agata foi aluno de calando trabalhos fotojornalísticos em com flash são uma opção de estilo –, re-
Nan Goldin e de Larry Clark, dois fotó- zonas de conflito com séries pessoais da presentando os movimentos lascivos e
grafos conhecidos por terem documenta- “vida noturna”. O livro contém 2500 dando, simultaneamente, o mínimo de
do as suas vidas também nas franjas da fotografias a cores e a preto-e-branco, e é pudor. Aqui não há pornografia. Mas, cer-
sociedade, com relatos pessoais de sexo, de um realismo atroz, que pode ferir tamente, também não existem tabus.
drogas e violência. Será mera curiosi- algumas susceptibilidades. Ainda assim, a

6 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


LIVROS
por Marcos Fernandes

Condor
Fotos João Pina | Tinta da China | 246 páginas | €39,90

á uma

H carcaça
de um
velho avião de
grandes dimen-
sões exibida no
alto, junto a um
armazém de
materiais de construção, nos arredores de
Buenos Aires, Argentina. O avião serve
hoje de enorme cartaz publicitário, mas
esconde em si um historial de voos até o
oceano Atlântico e ao rio La Plata para
atirar militantes esquerdistas torturados
pela ditatura. A legenda da fotografia
esclarece tudo. Noutras imagens não
necessitamos de texto para ficarmos
inquietos. É mais clara a suspeita de que
o que nos é mostrado não augura boa
coisa: salas escuras e manchadas, retratou dissidentes políticos do Estado crimes contra a humanidade. Tudo é
ossadas dispersas, colchões no chão com Novo e as penas que pagaram por isso. complementado com documentos
lençóis listados a lembrar as roupas nos Com o seu segundo livro, Condor – O escritos e imagens de época.
campos de concentração nazis. No Plano Secreto das Ditaduras Sul- É bom ver que ainda é possível fazer
primeiro caso é uma sala de tortura, no Americanas, João Pina faz um tributo às ensaios fotojornalísticos aprofundados, de
terceiro uma prisão e no outro os restos vítimas da operação secreta que tentou longo termo. Ainda melhor quando o
de dois corpos de prisioneiros políticos eliminar a oposição política nos regimes autor é português. João Pina angariou
num laboratório à espera de serem iden- militares de direita que marcaram o Brasil, mais de 20 mil euros em crowdfunding
tificados. Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e para financiar inúmeras viagens à
João Pina regressa a um tema que lhe Uruguai, nos anos 70. Com a operação América Latina, ao longo de nove anos.
é caro e pessoal, a memória e as marcas Condor morreram cerca de 60000 pes- O resultado está à vista: a edição de um
em vítimas de regimes ditatoriais. Já o soas... João Pina retrata vítimas e famili- livro em três línguas e a promessa de
tinha feito no seu primeiro livro, em 2007, ares, salas de tortura e prisões, e antigos uma exposição.
Por Teu Livre Pensamento, obra em que militares nos recentes julgamentos por
© William Klein

Brooklyn
Fotos William Klein | Contrasto | 120 páginas | €35

William Klein é hoje com cenas tremi-


visto como um dos das noutras. Anos
fotógrafos que marcou depois aplicaria
a ruptura com a visão fórmulas seme-
poética e humanista lhantes quando se
que dominava a lançou na
fotografia após a fotografia de
Segunda Guerra moda.
Mundial, ao retratar A caminho dos
uma sociedade urbana 90 anos de idade,
de forma irónica, por vezes cínica. Seria, talvez William
afinal, apenas um espelho do mundo? Klein tenha perdi-
Quem sabe... Ele e Robert Frank são, por do certas virtudes,
ventura, os nomes mais associados ao ou simplesmente Certo, certo, é que a ironia kleiniana
espírito da reportagem subjetiva que do- já não sejam tão surpreendentes e ino- sobrevive, para nosso gáudio. Ele, que
cumentou a América que vivia a paranóia vadoras, mas conserva muito do seu cresceu em Manhattan, diz que teve
de ataques, em plena Guerra Fria. vigor. Algumas fotografias já não parecem sempre Brooklyn como mistério. E este
Iconoclasta, Klein granjeou fama com um tão espontâneas como outrora mas a livro parece ser a sua viagem de
estilo bastante vincado: fotografias a idade desculpa-o. E o preto-e-branco descoberta, com o próprio William Klein a
preto-e-branco granulosas, contrastadas, cheio de grão deu lugar às cores no CCD. começar o ensaio com uma fotografia da
close-ups de pessoas nas ruas feitos com Brooklyn foi uma encomenda da Sony e, ponte de Manhattan e ao terminar com
grandes-angulares, flash excessivamente pela primeira vez, William Klein usou outra da ponte de Brooklin, as principais
forte em algumas imagens e luz natural exclusivamente uma máquina digital. vias que ligam ambos os bairros.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 7


À LA MINUTE
ORIGINAL

Mude de estação
do ano
com o Photoshop
Cada uma das estações do ano oferece a sua própria paleta
de cores. Na primavera e verão temos cores frescas e brilhantes,
com muitos verdes; o inverno é quase monocromático e o ou-
tono... bem, para nós o outono é especialmente espetacular,
com os seus vermelhos, castanhos e dourados.
Infelizmente, o outono é uma daquelas estações em que,
num piscar de olhos, perdemos o melhor da festa. E a janela da
oportunidade para capturar árvores cheias de laranjas e verme-
lhos e amarelos pode-se fechar numa noite se existir um forte
vento. Se por acaso isto acontecer, não terá de esperar mais um
ano para conseguir a fotografia: em vez disso, pode sempre ten-
tar converter uma das suas imagens de verão no Photoshop.
Numa questão de minutos, pode transformar os verdes em tons
mais condizentes com o outono, recorrendo apenas a umas
(poucas) barras e opções.

Abra a imagem e
1 crie uma camada
(Layer) Hue/Saturation
clicando no respetivo
ícone no fundo da
janela ‘Layers’ e deslo-
cando-se no menu até
encontrar a opção
‘Hue/Saturation’. Surge
uma nova camada por
cima da imagem, pre-
servando o detalhe ori-
ginal.

Na janela de pro- Mova a barra ‘Hue’


2 priedades da opção
‘Hue/Saturation’, clique
3 para a esquerda, até
meio, sensivelmente, ou
no menu onde, por à volta de -50 pixeis.
defeito, tem ‘Master’ e Não notará uma grande
selecione ‘Greens’, já diferença nesta fase,
que é esta a cor que pelo que deve selecio-
queremos editar para nar a ferramenta ‘Add to
atingir a folhagem. Sample’ (pipeta com
Assegure-se que a sinal +) e clique numa
opção ‘Colorize’ não área verde que ainda
está selecionada, mas não tenha sido modifi-
que a ‘Preview’ está, cada.
para que possa ver o
progresso da edição.

8 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


IMAGEM FINAL
Poucos cliques
e aqui tem, as
impressionan-
tes tonalidades
do outono!

Feito isto, o tom Se tiver dispersão de


4 verde passa a um
razoável alaranjado.
5 cor à volta das fo-
lhas, que a pipeta não
Agora pode ajustar as conseguiu selecionar,
opções ‘Hue’ e remova estas “franjas”
‘Saturation’ para aperfei- movendo ligeiramente
çoar as cores. O efeito a seta assinalada na
está praticamente con- barra cinzenta a meio
cluído, mas não dê já do espetro de cores. Se
por terminado, já que não conseguir remover
ainda não finalizámos. a totalidade, não se pre-
ocupe, pois mesmo no
outono, em algumas
folhas podem ficar res-
tos da cor verde.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 9


PRÁTICA

FOTOGRAFAR
A MAGIA
DO NEVOEIRO
O TEMPO FRIO CHEGOU E VAI DURAR ALGUNS MESES. QUE TAL APROVEITAR PARA SAIR DA
CAMA BEM CEDO PARA FOTOGRAFAR COM NEVOEIRO? PARECE POUCO SENSATO, NÃO É? MAS
OS RESULTADOS SERÃO BEM GRATIFICANTES, ACREDITE...

24 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Fotos © Maurício Reis

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 25


PRÁTICA

Não há volta a dar. Quando a paisagem fotografia final. Quantos mais, melhor.
fica envolvida pelo nevoeiro, não há fotó- Alguns cenários que melhor se adap-
grafo de paisagem que consiga resistir. tam à fotografia com nevoeiro podem
Nem que tenha de sair da cama quente, incluir, por exemplo, uma fileira de
a horas impróprias, na maior parte das árvores, uma torre de igreja, ou um mo-
vezes ainda de noite, para fotografar o numento interessante e com impacto.
acontecimento. O nevoeiro apresentar-se-á no seu
A resposta para esta loucura pode até máximo um pouco antes e logo depois
ser bem simples: o nevoeiro oferece um do nascer do sol. Nesta altura do dia, os
certo grau de mistério às imagens. níveis de luz são baixos e as velocidades
Reduzindo a cor e o contraste, este fenó- de obturação são, caracteristicamente,
meno simplifica a aparência dos objetos lentas, pelo que o uso do tripé é essen-
na paisagem, dando mais ênfase ao con- cial.
teúdo e forma. Pode também levar consigo um par de
Se nunca fotografou nesta condições, objetivas, que cubram uma vasta gama
nem sabe muito bem como começar, ou de distâncias focais. Enquanto as grandes
se, por outro lado, já tentou, mas nunca angulares oferecem bons resultados, as
correu como pretendia, talvez este teleobjetivas também já provaram que se
pequeno guia prático seja uma boa ajuda. dão muito bem com este estado do
O outono e inverno são tradicional- tempo. As distância mais longas, entre
mente as melhores alturas do ano para 70-200mm, encurtam a perspetiva e
fotografar nevoeiro, pelo que convém, a potenciam ainda mais o nevoeiro.
partir de agora, estar atento à meteorolo- Também permitem isolar pontos de
gia, podendo socorrer-se dos inúmeros interesse na paisagem – por exemplo,
sites que disponibilizam informação umas ruínas que emergem do nevoeiro...
importante sobre o estado do tempo para Tal como se fotografam grandes
os dias seguintes. Mas pode ser um espaços abertos quando está nevoeiro,
pouco difícil antecipar quando e onde se também sugerimos que dê um saltinho
formará o nevoeiro. até uma floresta. Nem imagina as
Só para ajudar e oferecer um pouco de fotografias que de lá conseguirá subtrair.
conhecimento, existem diferentes tipos Por fim, alguns conselhos que poderá
de névoa e nevoeiro, mas o mais levar em conta: vista roupa quente e pre-
fotogénico é o “nevoeiro de radiação”, pare-se para trabalhar rápido – por vezes
que se forma quando o solo arrefece o o nevoeiro desaparece tão rápido como
suficiente para levar o ar ao ponto de apareceu. Tenha também sempre ao pé
condensação, fazendo crescer o nevoeiro de si um pano para ir limpando a objetiva
lentamente. É vulgar em noites claras, – facilmente a condensação arruinará as
calmas, em áreas onde haja muita humi- suas fotografias.
dade, como vales com rios, lagos e por-
tos. Ou seja, já tem aqui uma excelente
dica.
Por isso, quando estiver a ver a meteo-
rologia, esteja atento às noites limpas e
frias. Se disponível na informação, veri-
fique o estado da visibilidade. Se esta
diminuir, existe uma forte possibilidade de
ser presenteado com nevoeiro pela
manhã.
Comece por colocar o alarme do des-
pertador para bem cedo, para que possa
chegar ao local com algum tempo de
antecedência. Por vezes pode ser compli-
A previsão do tempo apontava para
cado decidir que locais visitar com
nevoeiro, já que pode não ter a certeza 1 uma ténue possibilidade de existir
nevoeiro na manhã seguinte. Com o sol a
absoluta onde e quando se vai formar, ou
que densidade terá. nascer bem perto das 7h00, o desperta-
Mas, mais uma vez, a nossa ajuda dor ficou programado para as 6h00,
poderá fazer diminuir estas incertezas. tempo suficiente para vestir e chegar ao
Normalmente, o ideal será optar por um local, escolhido uns dias antes. Mas, se
ponto de vista elevado, como o topo de fosse mais longe, ou obrigasse a andar
uma colina ou vale, podendo colocá-lo muito a pé, o alarme tocaria muito
acima do próprio nevoeiro. Como já refe- tempo antes. Ou seja, não se levante à
rimos, valerá a pena dar corda aos sapa- justa, nem sem saber para onde ir. O
tos e visitar alguns potenciais lugares, risco de perder o melhor é muito
mesmo antes de saber como vai ficar a grande...

12 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Fotografar fogo de artifício

Acordar cedo tem destas


coisas: pode presenciar e
fotografar fenómenos
atmosféricos como o
nevoeiro.

Já no local, o nevoeiro preenchia a O nevoeiro confunde o fotómetro da Por último, experimente composições
2 imagem por completo. Selecionámos
uma distância focal maior para dar algum
3 câmara. Isto acontece porque foi
desenhado para assumir que os objetos
4 e distâncias focais diferentes. Fique
ainda para assistir e, claro, fotografar, às
destaque ao elemento que queríamos na imagem representam 18% de cinzento variações que ocorrem no nevoeiro e no
fotografar. Recorrendo a um tripé, a – funciona como uma bitola, digamos cenário. O mesmo pode ficar radical-
focagem foi efetuada manualmente assim. Assim, tende a subexpor objetos mente diferente quando fotografado com
recorrendo ao LiveView. Definimos a pri- claros, como o nevoeiro ou a neve. uma hora de intervalo. Quando a luz já
oridade à abertura, com abertura em f/13. Analise o histograma com regularidade. for muito forte e o nevoeiro tiver disper-
A câmara calculou o tempo de Se o gráfico está mais encostado à sado, está na hora de arrumar o material
exposição, mas o resultado saiu escuro esquerda, compense a exposição positi- e ir para casa tomar o pequeno-almoço.
(subexposto). vamente. Neste caso particular, aumentá-
mos praticamente um stop à compen-
sação por forma a clarear a imagem.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 13


Marco Andrade
Lagoa do Fogo Amanhecer: “Esta foto está mais ligada à paciên-
cia e perseverança, do que propriamente à técnica. A Lagoa de Fogo,
em S.Miguel, é conhecida por estar naturalmente encoberta devido à
nebulosidade alta. Neste dia em particular, consegui tirar esta foto no
Pico da Barrosa, com o nascer do sol privilegiado da vista da lagoa
descoberta.”
Nikon D7000 . 11mm . f/11 . 1/25” . ISO 100

12 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Exposição
do leitor !
AS VOSSAS MELHORES IMAGENS

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 13


Carla Brito José Pinto

«
http://www.carlabrito.com This is Furadouro beach: “Agosto, mês rei das férias e da praia
«

Espalha brasas: “Depois de se escolher devidamente o local, esta é uma para muitos. Para mim, um mês especial uma vez que tenho mais um
técnica muito divertida de concretizar. Lá diz o ditado ‘Quem brinca tempo para explorar novas técnicas e foi isso que fiz. Utilizei um filtro
com o fogo, queima-se!’” E, de facto, ele saiu com uma pequena ND 10 stops e ND gradiente para captar esta foto na bela Praia do
queimadura na mão. Pequenos sacrifícios que me valeram boas fotos!” Furadouro, em Ovar.”
Canon 600D . 10mm . f/4 . 4” . ISO 100 Canon 7D . Sigma 10-20mm . 10mm . f/16 . 20” . ISO 100

14 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Ricardo Serra
http://www.flickr.com/photos/95039633@N08/
Um pouco de vermelho: “Depois de um longo inverno, a primavera
finalmente faz-se sentir no Alentejo. Uma paisagem tipicamente alente-
jana.”
Canon 450D . 10mm . f/11 . 1/250” . ISO 200

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 15


Sérgio Barão Vasco Ribeiro
«

«
Espelho de Água: “Fotografia captada na Albufeira do Pedrógão.” Infinito: “Uma das mais bem guardadas relíquias da monarquia do
Canon 600D . 18mm . f/13 . 1/100” . ISO 100 Rei D. Carlos. Escadas do Farol dos Capelinhos.”
Canon 600D . Sigma 10-20mm . 13mm . f/5.6 . 1/15” . ISO 400

14 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Paulo Benjamim Luis Patacão
«

Stopped in time http://luispatacao.wix.com/fotografia

«
Nikon D3100 . 10mm . f/8 . 271” . ISO 200 Welcome to my world: “Demorei vários meses a conseguir este resulta-
do de dramatismo com foco no Cristo Rei.”
Nikon D7000 . 10mm . f/10 . 35” . ISO 100

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 15


FOTO-AVENTURA

10 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Peru

PERU: COSTA,
MONTANHA, SELVA
DEZASSEIS DIAS, UMA MOCHILA. O PRINCIPAL MOTIVO DA VIAGEM AO PERU: MACHU PICCHU.
CLÁUDIA DUARTE APANHOU O AVIÃO PARA A AMÉRICA DO SUL COM A IDEIA FIXA DE
FOTOGRAFAR ESSE LUGAR EMBLEMÁTICO. E ACABOU POR DESCOBRIR UM PAÍS ONDE O QUO-
TIDIANO APAIXONA QUEM GOSTA DE FOTOGRAFIA.

4Canon 550D . 18mm . f/3.5 .


1/2000" . ISO 200

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 11


4Canon 550D . 18mm . f/10 .
1/250" . ISO 200

orque há imagens que ficam connosco. Porque quando vi

P pela primeira vez numa revista passou a estar inevitavel-


mente na minha lista de sítios a visitar um dia. Uma
fotografia pode mesmo influenciar na decisão de um destino de
viagem. Esse dia chegou este ano.
Já que vamos atravessar o Atlântico, o melhor é juntar mais
destinos à lista, ainda que se concentrem todos no mesmo país.
Umas semanas antes da partida ainda nos faltavam preencher
dias da viagem e decidimos arriscar e conhecer a Selva
Amazónica, partindo de Puerto Maldonado. Isto levou a uma
logística de última hora no que respeita a várias vacinas e
medicamentos a levar na bagagem. As restantes paragens
definidas eram Lima e Cusco, sabendo conscientemente que
ficaria ainda muito Peru de fora!
Procurámos ir na época seca, minimizando risco de chuva,
apesar de ser inverno daquele lado do hemisfério. Nos prepara-
tivos para a viagem, não podia deixar de pensar que seriam qua- objetivas Canon 50mm f/1.4 e Sigma 18-200mm; duas baterias;
tro noites em acampamento de montanha sem energia elétrica. e três cartões de memória. Para trás ficou a Canon 70D, nova
Atormentava-me a questão das baterias. De quanto tempo em folha; flash externo; tripé. Quanto ao tripé, afastei essa
durariam em condições de temperaturas negativas. Quantas hipótese logo antes de partir.
seriam suficientes? Havia também a adaptação à altitude. Como Não levei mochila especial para transportar o equipamento
reagiria eu? E, principalmente, como iriam reagir as baterias? fotográfico, até porque neste tipo de viagem a máquina não
Acrescidos a estes dias teríamos também três noites de selva, pode andar arrumada às costas. Tem que estar à mão de
calor e humidade num eco lodge. Aqui a energia a tempo semear. Pronta. E para quem viaja de mochila às costas, um saco
inteiro está à distância de 45 minutos de barco e o carregar das especial para equipamento fotográfico, além de muito visível – o
baterias anda ao sabor do gerador, que se desliga às 22h00. E, que me preocupava um bocadinho –, ocupa muito volume.
para dezasseis dias num país novo, com costa, montanha e Tinha um impermeável para vestir, outro para a mochila...
selva, nunca sabemos bem quantos cartões de memória vamos esperava que a época seca fizesse jus ao seu nome. Comecei
precisar. por Lima. Cinzento. Nuvens baixas, o que pode fazer parecer
Resumindo. Na mala de mão, já que me parecia impensável chuva miudinha. Pouca luz. Inverno. Algum receio de andar na
perder a mala de porão, viajavam comigo: uma Canon 550D; rua com a máquina a tiracolo, embora existam bairros seguros.

22 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


FOTO-AVENTURA
4Canon 550D . 18mm . f/3.5 .
1/1250" . ISO 200
Peru

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 23


4Canon 550D . 18mm . f/10 .
1/125" . ISO 100

Aqui uma compacta, que dê menos nas vistas, pode ser uma ali-
ada fora das zonas menos turísticas. Dei comigo a fotografar em
algumas situações de telemóvel.
Seguiu-se Cusco e os seus 3400m de altitude. Dois dias para
aclimatização e conhecer o Vale Sagrado dos Incas e arredores
de Cusco. Ambos em passeios organizados. Aqui não restam
também grandes hipóteses de andar por nossa conta.
A visita a alguns locais decorreu em horas de péssimas
condições de luz. Ou por falta, ou por excesso! Tentar registar o
que via numa imagem foi um grande desafio. Tive, em alguns
casos, a sensação de frustração fotográfica. Sentia que não esta-
va a conseguir o que pretendia. Aclimatizados, estávamos pron-
tos para o Caminho Salkantay. Levei a 50mm f/1.8 mas nem
sempre conseguia parar o tempo necessário para mudar de
lente, para fazer experiências, para tirar a fotografia que queria.
Na noite que seria a mais fria, abdiquei das minhas luvas e foi
aí que protegi as baterias. Bem, a partir daquele momento deixou de existir e, devido à
Caminhar a pé a 4200 m de altitude, pelas seis da manhã, amolgadela resultante da pancada, ficou impossível retirar o anel
pode ser frio. Fotografava em andamento. Nem me atrevia a plástico. Próximo passo, ligar o botão e disparar. Funcionava!
parar muito tempo e perder o ritmo imposto pelo grupo. Ainda Respirei então.
assim fui parando. Não podia permitir que aquela paisagem me Não sei o que mais me irá acontecer. O melhor é rapidamente
escapasse. Estranhamente, cheguei ao primeiro local com eletri- ir para o hotel. Afinal a alvorada é às quatro da manhã, para
cidade e a máquina não dava sinal de falta de bateria. Fotografei chegar antes das multidões. Cerca de 2500 pessoas dão entrada
pouco. Talvez... diariamente. Mas informações não oficiais contam registos de
Em véspera de subir ao tão desejado destino, senti que o cerca de três a quatro mil entradas. É inevitável o nervoso miu-
coração me saltava da boca quando ouço um som seco a bater dinho na fila de acesso ao controlo da entrada. São proibidos
nas pedras seguido do som de vidros a partir. Tinha acabado de bastões de caminhada para Machu Pichu, por isso tripés estarão
deixar cair a máquina ao chão. Aqueles segundos até pegar nela fora de questão.
e verificar os danos tornaram-se intermináveis. Felizmente, o Quando se chega ao local mais emblemático, aquele que
vidro partido era apenas o protector da objetiva. É para isso que vemos em todos os guias turísticos e que é a imagem de marca
ele lá está, certo? de Machu Picchu, a visão é incrível. A imponência do lugar
Nikon D800 . 28mm . f/11 . 1/100” . ISO 100

24 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


FOTO-AVENTURA
4Canon 550D . 50mm . f/2.8 .
1/320" . ISO 800
Peru

arrepia. Desconcentra. Queremos fotografar mas queremos ver e


sentir. Se, por vezes, as pessoas nas fotografias atrapalham,
noutras servem para dar ainda mais ênfase à imensidão da pai-
sagem que só os olhos captam.
Aqui sim, a bateria acusou sinais de uso! Tirei muitas fotos.
Para cada lado que me virava havia uma perspetiva diferente.
Imagens fora da imagem clássica mais conhecida de Macchu
Picchu. O que ainda me fascinava mais.
Custou-me virar costas. Parecia que não tinha visto tudo. Ao
mesmo tempo tinha visto tanto que não conseguia ainda assi-
milar e tinha a sensação de não ter captado tudo. E se me
tivesse passado despercebido um cenário incrível!?! Depois de
Macchu Picchu achei que pouco mais haveria que me surpreen-
desse. Estava redondamente enganada.
Aterrei em Puerto Maldonado. Um bafo que cola as roupas ao
corpo assim que pomos pé em terra firme. Em Apostarai andei
deslumbrada, surpreendeu-me em tudo. Mesmo nas viagens umas moedas, havia a verdadeira alma peruana. As mulheres
feitas de autocarro, e que ligam localidades, não conseguia com tranças unidas nas costas e chapéus. Os filhos a tiracolo.
dormir. Tinha “medo” de perder alguma coisa, cenários incríveis, Sorrisos sinceros. Olhares tímidos. Simpatia. Um quotidiano que
histórias de gente fora dos locais mais turísticos. Viajava de apaixona quem gosta de fotografia. Tem cor, conta a história de
máquina ao colo, pronta a apontar e disparar com uma veloci- um povo. A mim apaixonou-me.
dade alta. Faltou-me levar a minha máquina nova. Uma objectiva que
Se o condutor fosse mais destemido pior ainda. Na impossibi- me permitisse fotografar mais de longe, mas com aberturas con-
lidade de parar quando queria, restava-me esperar que as curvas vidativas ao retrato, porque ainda me falta um bocadinho de
do caminho me pusessem bem posicionada. coragem para fotografar pessoas muito de perto. Além de que,
Já há algum tempo que utilizo a máquina no modo ‘Manual’, o noutras situações, é impossível chegar mais perto, porque não
que dificulta estes ajustes rápidos de luz. Juntar velocidade, queremos poses, queremos a vida tal como ela é.
abertura, ou sai bem, ou a oportunidade foi-se. Não usei filtros. Não usei flash. Tive que subir muitas vezes o
Não estava nas minhas mãos parar quando quisesse. Fora dos ISO. Nem sempre consegui colocar as cores que via na foto. A
centros, onde as pessoas se vestem de trajes típicos acompa- imensidão dos locais não cabe numa fotografia, principalmente
nhadas de lamas e alpacas, para serem fotografadas em troca de a vista que se tem do topo da montanha de Wayna Picchu. >>>

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 25


Será difícil uma fotogradia mostrar fielmente o quanto é Comi Apalca, Cuy (Porquinho da Índia), legumes e cereais que
impressionante. Parece que não cabe tudo na máquina! nunca tinha provado. O famoso chá de folhas de coca, uma
Agradeço ter visto o nascer no sol em Machu Picchu e na constante diária na vida em altitude. Enfim uma experiência rica.
Amazónia. Custa acordar às quatro da manhã, mas compensa. Um verdadeiro desafio aos sentidos.
Animais em vida selvagem são um autêntico desafio. São Ainda que não tenha sido uma viagem fotográfica, superou as
demasiado rápidos. Estão longe. A vegetação é demasido densa. minhas expetativas. Mas importa ter presente que parte de uma
Nos cenários nocturnos a luz é apenas de uma lanterna e vai viagem fica na memória e essa é reavivada quando vemos as
variando na proporção das várias lanternas que o grupo tenha. imagens que trouxemos.
Além de tudo é importante: absorver; olhar e ver; entregar a
alma; sentir. Não resistir a fotografar gastronomia. É tudo dife-
https://www.facebook.com/truecolorsfotografia
rente no Perú.

24 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


FOTO-AVENTURA
Peru

4Canon 550D . 18mm . f/3.5 .


1/320" . ISO 200

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 25


28 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA
DESTAQUE

FILTROS
PARA PAISAGEM

PEÇA A UM FOTÓGRAFO UMA LISTA COM 3 OU 4 ACESSÓRIOS INDISPENSÁVEIS E DE CERTEZA


QUE OS FILTROS LÁ ESTARÃO. E SE HÁ GÉNERO FOTOGRÁFICO EM QUE ELES SÃO DETERMI-
NANTES É NA FOTOGRAFIA DE PAISAGEM. CONHEÇA OS PRINCIPAIS MODELOS E DESCUBRA DE
QUE FORMA ELES PODEM AJUDÁ-LO A TORNAR UMA MONTANHA OU PLANÍCIE BANAIS, NUMA
PAISAGEM DE CORTAR A RESPIRAÇÃO.

ma rápida pesquisa nos sites da fotografia de paisagem. Pode usá-los tanto individualmente como

U especialidade vai revelar-lhe uma


imensidão de filtros para todo o
tipo de efeitos. Mas descanse que não vai
Filtro de densidade neutra (ou ND), de
densidade neutra em gradiente (ND Grad)
e polarizador. São estes os nomes que
em conjunto, de forma a tirar o máximo
partido possível do cenário que está a
fotografar.
precisar de os comprar a todos. Aliás, convém fixar se está a dar os primeiros Vamos então saber do que cada um
bem vistas as coisas, com jeitinho preci- cliques na fotografia de paisagem. E há deles é capaz.
sará apenas de uns três para fazer ainda os filtros ND de 10 e... 16 stops!

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 27


DESTAQUE

Filtro de Densidade
Neutra (ou ND)
A sua função é reduzir a quantidade de 0.9 (em alguns modelos 8x), que exige
luz que penetra na objetiva, sem alterar o três stops de aumento de exposição,
equilíbro das cores – pelo menos em seguido do 1.2 (16x) com um aumento de
teoria, pois os filtros de algumas marcas quatro stops. E este é o valor mais eleva-
podem adicionar tonalidade de cor quan- do entre os filtros ND convencionais,
do usados, principalmente se mais do sendo que pode ainda assim combinar
que um. Fazem um efeito semelhate ao dois ou mais filtros ND para conseguir
dos de Densidade Neutra em gradiente, efeitos ainda mais arrojados. Por exemplo,
mas em vez de afetarem apenas uma juntos o 0.6 e o 0.9 requerem um
parte da imagem – normalmente o céu aumento de exposição na ordem dos
–, estes ND têm um efeito uniforme em cinco stops.
toda a imagem. Mas pode ir ainda mais além, se recor-
Os filtros de Densidade Neutra aumen- rer a filtros ND menos convencionais,
tam a exposição necessária para uma cujas densidades podem atingir os 1.8
imagem, de modo a que possa usar a (seis stop) ou mesmo mais. É um tipo de
velocidade de disparo para registar o filtro que foi concebido originalmente
movimento. O mais conhecido dos para fotografar processos industriais que
exemplos são as cascatas, onde o movi- envolvessem brilho intenso, mas que ao
mento da água é captado de forma longo do tempo têm sido adoptados
suave, mas a verdade é que os filtros ND pelos fotógrafos de outras áreas.
são capazes de adicionar movimento em Permitem exposições de vários minutos
qualquer tipo de sujeito. à luz do dia, havendo casos como o do
Sejam eles multidões na rua, o trânsito modelo de 3.0 ND que implica aumentos
na estrada, as árvores sacudidas pelo de exposição de 10 stops, ou seja, mil
vento, as ondas a baterem nas rochas, vezes mais do que uma exposição que Usar um filtro ND permite que use
exposições um pouco mais longas,
enfim, se uma cena tiver movimento não use filtro. mesmo durante o dia, sendo o
então é este o filtro que deve escolher. É companheiro ideal para fotografar
cascatas e percursos de água
o ideal para funcionar em condições de
grande luminosidade, quando o ISO mais
baixo e a abertura mais pequena não são
o suficiente para a velocidade de disparo Tabela de exposição
que o leitor pretende.
Neste tipo de filtros, a densidade é Se o leitor usar filtros ND de menor
provavelmente o elemento mais impor- capacidade – com uma densidade até
tante. O aumento de exposição num filtro 1.2 – a medição TTL da sua câmara vai
de Densidade Neutra depende da sua conseguir dar-lhe uma leitura mais pre-
densidade, sendo que o mais fraco que cisa da exposição quando tiver o filtro
deve adquirir é o modelo 0.6 (em deter- acoplado à objetiva. Acima desses va-
minadas marcas 4x), que precisa de um lores, pode deparar-se com situações
aumento de exposição na casa dos dois de sub-exposição uma vez que a den-
stops. Curiosamente, o filtro polarizador sidade do filtro irá enganar o sistema
também requer aumentos de exposição de medição.
de (sensivelmente) dois stops, o que per- Para evitar estes erros de exposição,
mite que seja usado como um filtro ND Com um filtro ND foi possível aumentar
recomendamos que faça uma medição
o tempo de exposição de modo a arrastar
de 0.6. o movimento das pessoas, tornando sem o filtro ND na objetiva, depois cal-
O modelo seguinte a ter em conta é o a imagem um pouco mais original

30 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Filtros para paisagem

Sem filtro 0.6 ND 0.9 ND 1.2 ND


cule a exposição que será necessária quando tiver 1/500 segs. 1/125 segs. 1/60 segs. 1/30 segs.
colocado o filtro e introduza manualmente os va- 1/250 segs. 1/60 segs. 1/30 segs. 1/15 segs.
lores obtidos. 1/125 segs. 1/30 segs. 1/15 segs. 1/8 segs.
A pergunta que se segue é “como calcular esses va- 1/60 segs. 1/15 segs. 1/8 segs. 1/4 segs.
lores”. Existem aplicações para smartphone que o 1/30 segs. 1/8 segs. 1/4 segs. 1/2 segs.
ajudam a fazer as contas – a mais usada é a ND 1/15 segs. 1/4 segs. 1/2 segs. 1 seg.
Calc para o iPhone – mas pode sempre fazer as 1/8 segs. 1/2 segs. 1 seg. 2 segs.
coisas à mão, recorrendo à tabela que publicamos 1/4 segs. 1 seg. 2 segs. 4 segs.
ao lado. Não esqueça que, para as exposições acima 1/2 segs. 2 segs. 4 segs. 8 segs.
dos 30 segundos, é necessário definir a câmara para 1 seg. 4 segs. 8 segs. 16 segs.
o modo Bulb (B) e marcar a exposição usando o 2 segs. 8 segs. 16 segs. 32 segs.
temporizador da câmara, ou com um disparador 3 segs. 16 segs. 32 segs. 1 min.
remoto. 4 segs. 32 segs. 1 min. 2 mins.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 31


DESTAQUE

Filtro de Densidade Com filtro

Neutra em gradiente
solução ideal para resolver este problema
é o uso de um filtro ND em gradiente.
Este acessório carateriza-se por ser
cinzento na metade superior (que é a
parte de densidade neutra) e mais claro
na parte inferior. O objetivo é que a parte
cinzenta dos tons gradientes reduza o
O céu não brilho do céu, de modo a que, quando
voltará a ser o mesmo fizer a exposição para a paisagem, o céu
com eles. Muitos de nós, fotógrafos, já fique também corretamente exposto e
passámos por essa infeliz experiência que não completamente “estoirado” como
é compor uma fotografia formidável, com acontece quando não se usam estes fil-
um céu cheio de dramatismo. Mas tros.
depois, quando chegamos a casa e abri- Eles são, por isso, determinantes na
mos a imagem no computador descobri- exposição. Antes da medição multizona,
mos que a paisagem até ficou bem, mas as leituras da exposição tinham de ser
o céu ficou sobre-exposto (isto é, muito feitas e definidas manualmente na
claro, muitas vezes sem detalhe, ou câmara antes da colocação de um filtro
mesmo branco). ND em gradiente. Caso isto não fosse
Até podemos pensar que vamos a feito, o resultado seria a sobre-exposição
tempo de resolver o problema no progra- da imagem.
ma de edição, mas a verdade é que, na No entanto, os sistemas de medição
maior parte das vezes, o céu fica sobre- evoluiram ao ponto de, nos dias de hoje,
exposto ao ponto de não ficar registado ser possível fazer a composição, alinhar o
nenhum detalhe. filtro e fazer a medição já com ele na
Claro que os fotógrafos mais experi- objetiva. Isto porque o padrão multizona
entes vão optar por tirar duas fotografias, regista um determinado número de
à cautela. Uma com a exposição do céu, medições da exposição em diferentes
outra da parte de terra. Depois, é tudo áreas da imagem. Desse modo, a área ESCOLHER A DENSIDADE CERTA
uma questão de trabalhar ambas no escura do filtro não influencia a Outro grande desafio neste género de fil-
Photoshop, de modo a criar apenas uma. exposição final definida no lado negativo. tros é a escolha da densidade correta.
Mas isso significa que o leitor vai perder Tudo isto ajuda a câmara a obter uma Existem três tipos principais de densi-
mais algum tempo sentado em frente ao leitura mais precisa pois, quando o filtro dade: 0.3; 0.6; e 0,9. Basicamente, a dife-
computador e, na verdade, todos preferi- ND em gradiente está encaixado, a parte rença entre eles é que cada um reduz o
mos que a fotografia saia da câmara o ND do filtro escurece a área do céu, de brilho do céu em um, dois e três stops,
mais próximo possível do resultado final. maneira a que seja reduzido o contraste respetivamente. Também há marcas que
Por essas e por outras razões é que a entre o céu e o parte inferior da imagem. comercializam filtros ND em gradiente
com densidades de 1.2, o que quer dizer
que reduzem o brilho do céu em 4 stops.
Atenção ao alinhamento do filtro ND De todos eles, o 3.0 ND é o mais “fraco” e
Grad, principalmente o de transição
dura. Nesta imagem ficou a meio do deve ser usado quando for preciso dar
céu e não alinhado no horizonte. um efeito muito subtil. Já o 0.9 ND desti-
na-se ao nascer do dia e ao entardecer,
alturas em que o céu está bastante claro,
mas a luz não incide diretamente na pai-
sagem. Finalmente, o 0.6 ND é uma
espécie de todo-o-terreno, com um uso
mais geral.
Um truque para saber qual deles usar: tire
uma fotografia de teste, usando o 0.6 ND,
e verifique como ficou a imagem no ecrã
da sua câmara. Se notar que o efeito não
está correto, mude para o 0.3 ND ou o
0.9 ND, dependendo da maior ou menor
necessidade de reduzir o brilho.

32 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Sem filtro
Filtros para paisagem

Soft ou Hard?

Temos dois tipos de filtros de densi-


dade neutra em gradiente: hard e soft.
Ou seja, um mais duro e outro mais
suave. Tem a ver com a forma como a
parte cinzenta do filtro (de Densidade
Neutra) faz a graduação até à parte
mais clara.
No caso dos filtros “hard”, a mudança
é bastante súbita, enquanto no caso
dos “soft”, como o nome indica, essa
transição será bastante mais progressi-
va.
Estes últimos são, para os menos
experientes, os mais fáceis de usar
visto que, se forem alinhados de forma
incorreta, é menos provável que se
veja a linha do gradiente na imagem.
Por outro lado, os filtros “hard” propor-
cionam um efeito bem mais definido
pelo que são a escolha mais acertada
se quiser uma fotografia mais con-
seguida e se tiver já alguma experiên-
cia.

Soft

Para um fotógrafo
de paisagem um filtro
ND Gradiente
é um acessório essencial

0.3 0.6

Hard

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 33


DESTAQUE

Filtro Polarizador
Há dois aspetos onde este filtro é Sem filtro Com filtro
imbatível: aumentar o impacto das cores
e reduzir os reflexos. Antes de mais, há
que ter em conta que, quando a luz
atinge uma superfície, os seus raios dis-
persam-se em todas as direções, tornan-
do-se polarizada.
Isso provoca um clarão que, por sua
vez, reduz os reflexos e a saturação da
cor, em especial nas superfícies mais bri-
lhantes, como é o caso das pinturas e fo-
lhas. Ora, os filtros polarizadores impe-
dem que isto aconteça, permitindo que
penetrem no objetiva apenas os raios de
luz que se desloquem numa só direção.
Isto para que a luz polarizada seja real-
mente bloqueada.
Este efeito traz três tipos de vantagem
para a fotografia de paisagem. A primeira
delas – e a mais óbvia – é o céu azul
torna-se mais profundo, uma vez que
contém uma grande quantidade de luz
polarizada. O uso de um filtro polarizador
permite-lhe adicionar impacto visual às
imagens, assegurando um pano de fundo
azul forte e arrebatador. polarizada à volta, eles podem igual- zoom com uma distância focal mais
Uma outra vantagem tem a ver com o mente ser usados em tempo mais nubla- ampla do que 24mm (ou 16 mm nos
clarão em superfícies não metálicas. O do, com o objetivo de remover clarões e sensores APS-C). Nestes casos, o céu
polarizador reduz esse clarão, de forma a reflexos. poderá ficar mais escuro numas partes do
que as cores numa cena pareçam mais No outono, quando há muita madeira que nas outras. Pode corrigir o problema
ricas e saturadas. A terceira vantagem é a espalhada pela paisagem, a fotografia mais tarde, no Photoshop, mas não é fácil
eliminação de reflexos, permitindo que as sairá enriquecida se utilizar um polari- e é coisa para dar luta.
suas fotografias deixem ver para dentro zador, o que irá reduzir os clarões e o Quanto ao brilho, tenha em atenção
de janelas e da água dos rios. brilho. As cores mais ricas da folhagem e que o filtro só irá removê-lo nas superfí-
Ao contrário do filtro anterior, os polari- dos ramos irão sobressair com impacto. cies não metálicas, tais como plásticos,
zadores são de uso bastante fácil, dado Uma chamada de atenção: quando pintura e folhas. Se o quiser remover de
que o efeito é visível simplesmente usar um filtro polarizador para tornar o superfícies como a água e vidro, o ângulo
rodando devagar o filtro no seu céu azul mais profundo, mantenha entre a superfície reflexiva e o eixo da
encaixe, ao mesmo tempo o sol no ângulo correto da objetiva deve rondar os 30º. Isto é facil-
que olha pelo visor da câmara, para que possa mente perceptível se o leitor fizer vários
câmara. Durante esse apontar na direção de ajustes na sua posição e depois rodar o
movimento, o céu uma zona de céu onde filtro polarizador.
azul escurece e as corra a polarização Os filtros polarizadores podem ainda
nuvens realçam- máxima e assim garan- dar às suas fotografias uma aparência le-
se, os reflexos vão tir um efeito mais forte. vemente azulada quando usados em dias
e vêm e o clarão Já se fotografar com de sol e com algum brilho. Para eliminar
desaparece. o sol atrás de si – ou se este efeito, deve ajustar as definições do
Quando achar que fotografar virado para ele balanço de brancos ou corrigir essa matiz
tem o efeito pre- – o filtro polarizador não azulada quando processar o ficheiro RAW
tendido, pare de rodar fará grande diferença. Além no seu computador.
o filtro polarizador e disso, a polarização no céu Relativamente à exposição, os filtros
fotografe. melhora quando o sol está mais polarizadores reduzem em dois stops a
Claro que há situações em que os me- baixo. O que faz do amanhecer e do quantidade de luz que entra na objetiva.
lhores resultados possíveis só se con- entardecer os melhores momentos para Ou seja, se tiver uma exposição de 1/125
seguem obter com uns quantos procedi- usar este filtro. segundos a f/11 sem um polarizador
mentos extra. Por exemplo, os filtros Outro dado a reter: no céu, a polariza- colocado, a exposição cairá para os 1/30
polarizadores funcionam melhor, em ção é irregular. Daí serem necessários segundos a f/11 mal o leitor instale esse
geral, quando há sol e brilho. Mas, desde cuidados especiais quando fotografar filtro.
que haja uma maior quantidade de luz com objeticas ultra grande angular ou Esta perda de luz é registada pela

34 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Filtros para paisagem

Dê nova vida aos céus azuis


e aumente o impacto
das suas paisagens recorrendo
a um filtro polarizador.

câmara automaticamente, não sendo Quer isto dizer que aumenta o risco da stops). Por exemplo, quando fotografa
por isso necessário compensar a perda. imagem sair tremida. uma cascata, o polarizador permite
Mas deve ter sempre em conta esta A quebra de luz pode traduzir-se uma velocidade de disparo mais lenta
alteração, ao fotografar, uma vez que a numa vantagem quando quiser usar de modo a tornar a água num manto
velocidade de disparo pode tornar-se uma velocidade de disparo mais baixa, leitoso, mas também remove os refle-
mais lenta, quando usa um polarizador, visto que o polarizador atua como um xos da água e o brilho nas rochas e
mesmo quando o sol está mais forte. filtro ND (de densidade neutra) de 0.6 (2 vegetação.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 35


DESTAQUE

Filtro ND de 10 stops
1/8
Sem filtro segs.

2
É uma espécie de “peso pesado” dos fil- Com filtro ND de 10 stops min.
tros. O filtro ND de 10 stops é tão denso
que (quase) não é possível ver através
dele. As imagens captadas à luz do dia,
quando ele está colocado na câmara,
apresentam uma luminosidade mil vezes
menor do que se não tivesse o filtro.
Para o usar são, por isso, necessários
cuidados adicionais: comece por montar
a câmara num tripé, compor a cena,
definir a focagem para “Manual” (a opção
“Automática” não resulta com este tipo de
filtro), alinhe o filtro ND em gradiente no
suporte – isto se estiver a usar um, claro
– e depois posicione o filtro ND de 10
stops.
Nas câmaras mais recentes, o LiveView
poderá ser suficentemente sensível para ses valores, mas terá de definir a câmara diversos minutos, adicionando um fortís-
lhe permitir ver através deste filtro tão para o modo Bulb, de modo a manter o simo sentido de movimento à imagem.
denso. Por isso, se for necessário alterar a obturador aberto. Mas o cenário favorito do ND de 10
composição ou mover a câmara para Para explorar certos efeitos criativos, stops é mesmo a paisagem costeira. O
fotografar de outra posição, pode fazer alguns fotógrafos tentam manter as mar está em constante movimento, o
tudo isso sem ter de remover o filtro ND exposições abaixo dos 30 segundos, que quer dizer que, ao fim de uns quan-
de 10 stops – mas, dependendo da altura alargando a abertura ou aumentando o tos minutos, qualquer textura da sua
do dia, principalmente ao amanhecer e ISO. Mas isso irá sempre desvirtuar todo o superfície desaparece, dando lugar a uma
depois do sol se pôr, poderá não con- processo, uma vez que os melhores superfície de aspeto leitoso e suave, que
seguir ver nada, nem através do óculo, efeitos conseguem-se com exposições contrasta sublimemente com elementos
nem do LiveView... de vários minutos. mais estáticos, como rochas, anco-
Claro que os fotógrafos mais experi- O filtro ND de 10 stops é o mais indica- radouros, pontões, cais ou faróis.
entes fazem questão de o remover para do para todos as cenas que incluam Se quiser ser mesmo ousado, tente um
poderem olhar através do visor. Nestes movimento. A começar pelo céu, com as cenário completamente diferente:
casos, o filtro Big Stopper da Lee é bem nuvens que, nos dias de vento, podem fotografia urbana com um filtro ND de 10
mais versátil do que o B+W que tem de ser transformadas em contornos fantas- stops. Enquanto o obturador estiver aber-
ser enroscado e desenroscado da objeti- magóricos. O mais fantástico é que antes to, tudo o que se mexer na imagem –
va, ao contrário do anterior que pode ser do final da exposição não sabemos ao pessoas, carros, etc – não ficará registado.
removido do suporte sem interferir com certo o que vai ficar registado na O que quer dizer que será capaz de
tudo o resto. fotografia. fotografar o que dificilmente consegue
Se usar a velocidade de disparo progra- Também as árvores e a relva são óti- fazer a olho nu e à luz do dia: ruas com-
mada pela sua câmara, a exposição mais mos candidatos a este tipo de fotografia. pletamente desertas (ou quase).
longa que vai conseguir será de 30 Com a ajuda de uma ligeira brisa, ga- Quanto ao “parceiro” mais
segundos. Recorrendo a um filtro ND de nharão ambos uma aparência completa- recomendável para este tipo de filtro, as
10 stops poderá ir muito mais além des- mente distinta quando expostos por grande angular são, em regra, mais efi-

36 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Filtros para paisagem

Para quem gosta de fotografia Tabela de exposição


de paisagem, é quase impossível
sair de casa sem levar um filtro
de ND de 10 stops. Na tabela que se segue mostramos-
lhe o aumento dos tempos de
exposição quando se usa um filtro de
Densidade Neutra de 10 stops. Não é
recomendável que utilize o sistema
de redução de ruído em longas
exposições, uma vez que esta função
leva o mesmo tempo que a
exposição. Ou seja, se usar uma
exposição de dois minutos, terá de
esperar outros dois até que a imagem
fique registada. O nosso conselho é
que desative a função e trabalhe o
ruído no programa de edição de
imagem.

Sem filtro 3.0 ND (10 stops)


1/500 segs. 2 segs.
1/250 segs. 4 segs.
1/125 segs. 8 segs.
1/60 segs. 16 segs.
1/30 segs. 32 segs.
1/15 segs. 1 min.
1/8 segs. 2 mins.
1/4 segs. 4 mins.
1/2 segs. 8 mins.
1 seg. 16 mins.
2 segs. 32 mins.
3 segs. 48 mins.
4 segs. 1 hora

PROTEJA OS SEUS FILTROS


Os filtros, principalmente
os de marca, não são
propriamente
baratos, podendo
cazes do que as teleobjetivas. Isto porque dias de tempestade, podem resultar em
os da Lee, por
são capazes de dar um outro ênfase ao imagens plenas de dramatismo, graças ao
exemplo, derrubar
céu e à parte de terra, que são as partes maior movimento no céu e no mar. Por
uma conta
onde há maior movimento. Aproxime-se seu lado, nos dias mais nublados a luz
bancária.
de um elemento parado, na parte do suave e tons mais gentis dão origem a
Curiosamente, até
chão e contraste-o com a água em imagens simples, mas com um ótimo
há bem pouco tempo
movimento. Ou isso, ou então baixe ao impacto visual.
não havia nada no mercado que per-
nível do solo com uma grande angular e Quanto à cor, é natural que fotografe a
mitisse proteger eficazmente os nos-
aponte para o céu. cores mas fique desde já avisado que
sos filtros. Pois bem, em Portugal
Mas cuidado com o sol. A luminosi- este tipo de filtro resulta lindamente a
nasceu uma empresa, a Terrascape
dade que ele produz reduz e muito a preto e branco. Outro conselho: trabalhe
(www.terrascape.pt), que criou uma
eficácia do ND de 10 stops, uma vez que o céu e os restantes elementos como
bolsa (ou melhor, três) para proteger
se trata de uma luz mais dura e plana. partes separadas e, depois, aplique níveis
filtros e ainda transportar tudo o que
Além disso, os níveis de luminosidade e curvas no programa de edição. Isso irá
lhes diga respeito, como anéis,
elevados não lhe vão permitir exposições realçar todo o drama e contraste da
suportes, panos de limpeza, etc.
especialmente longas, mesmo com a imagem.
No seu desenvolvimento não foi apli-
objetiva “fechada” e o ISO no mínimo. Esteja preparado para que o resultado
cado qualquer material de origem
Quer isto dizer que o amanhecer e o final tenha pouco a ver com a imagem
metálica, para evitar a oxidação e o
entardecer são as partes do dia mais indi- original. Mas não se preocupe que isso
aparecimento de ferrugem derivada
cadas para fotografar o céu, podendo não é grave. É apenas uma consequência
da chuva ou do sal do mar.
prolongar-se pelas primeiras horas da do uso deste tipo de filtro que, dizem os
Poderá utilizar a sua bolsa presa ao
manhã, ou antecipar-se para os finais da entendidos, nos afasta da realidade a par-
cinto das calças ou ao tiracolo à
tarde, quando o sol está mais baixo e a tir do momento que o instalamos na
altura do seu peito, permitindo um
luz está mais agradável. objetiva.
acesso cómodo aos seus filtros.
Já o tempo chuvoso, ou mesmo os

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 37


pags_38_39_40_41_42_43_zOOm FP 07-10-2014 11:53 Page 2

“QUASE NÃO POSSO


FOTOGRAFAR
SEM MÚSICA, ELA
GUIA-ME SEMPRE.”
É UM APAIXONADO PELA COSTA ALGARVIA E FOTOGRAFOU-A COMO MUITO POUCOS. O SEU
ESTILO, MUITO PARTICULAR, E AS COMPOSIÇÕES ONDE A PRESENÇA HUMANA ESTÁ LÁ, MAS
MUITO DE FUGIDA, JÁ LHE VALERAM IMPORTANTES DISTINÇÕES INTERNACIONAIS. EIS
ALEXANDRE MANUEL, O FOTÓGRAFO QUE RETRATA A PAISAGEM AO SOM DA MÚSICA.

34 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


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PELA OBJETIVA DE... Alexandre Manuel

4Black swell
Canon 60D . 24mm
. f/4.5 . 1/6400” .
ISO 200
zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 35
pags_38_39_40_41_42_43_zOOm FP 07-10-2014 11:53 Page 4

PELA OBJETIVA DE... Alexandre Manuel

4Path to the end


Canon 60D . 19mm . f/14 .
170” . ISO 100

Qual é o seu lugar favorito para fotografar? Costa algarvia área da semiótica visual. Em que medida essa formação
ou Nova Iorque? académica influencia ou condiciona o seu trabalho?
O meu lugar favorito é sem dúvida a costa portuguesa, princi- Sim, eu lecionei em várias áreas da semiótica na Universidade
palmente a costa algarvia porque conheço cada recanto. Mas mas deixei tudo pela produção fotográfica. A prática e a técnica
vou cada vez mais longe fotografar e fico cada vez mais espan- da fotografia aprendi sozinho, se bem que frequentei clubes de
tado com a beleza do nosso país. Gosto muito de viajar fora e fotografia analógica, na Universidade. A Teoria Visual e a História
tenho já alguns projetos fotográficos, nomeadamente no Japão da Arte foram parte integrante da minha formação, que teve
que tem uma natureza muito bonita e um contraste forte e duas influencias. A primeira, como o meu doutoramento con-
interessante com as cidades, mas não precisamos de ir muito centrou-se na análise do paradigma comunicacional das
longe para encontrar paisagens fabulosas. Existem à porta, no grandes catástrofes e, principalmente, nas informações car-
nosso próprio país. regadas de emoções, de tristeza e de horror, decidi orientar-me
no oposto: no silêncio, na contemplação e na paz de espírito. A
Grande parte dos fotógrafos que entrevistamos é autodida- segunda influência é diretamente afetada pela teoria semiótica.
ta. O Alexandre, pelo contrário, tem um doutoramento na Trabalho muito mais a composição do que a própria técnica,

40 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


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4Dancing silhouettes 4Loving silhouettes


Canon 60D . 28mm . f/9 . Canon 60D . 24mm . f/11 .
202” . ISO 100 140” . ISO 100

“O ELEMENTO CHAVE É SEM DÚVIDA O SILÊNCIO. TALVEZ EU PREFIRA


CONCENTRAR-ME NA CONTEMPLAÇÃO, EM VEZ DE CONTAR HISTÓRIAS
CONCEPTUAIS. ESTOU SEM DÚVIDA MUITO ATRAÍDO PELO VAZIO,
QUE PARADOXALMENTE ME PREENCHE.”

dedico muito tempo à articulação do espaço e tento sempre na “Sony World Photography Awards” e no “px3 Prix de la
fazer dialogar os elementos constitutivos da estrutura visual Photographie Paris 2014”. Há alguma fórmula mágica para
(contrastes, formas, texturas, direções...) e os elementos do con- lá chegar?
teúdo da própria natureza. Acho que não existe fórmula mágica, mas certamente é preciso
Não sei se o estudo de autores de arte teve influência indireta paciência e tentar submeter fotografias. Não esperava nada
ou inconsciente mas acho importante conhecer e nos interes- chegar aos finalistas, acho que eles procuram sempre fotografias
sarmos pelo que constituiu a arte. Pessoalmente gosto muito do inovadoras, mas a fotografia é arte e portanto sujeita a subjetivi-
trabalho de Marc Rodko, Jackson Pollock, Francis Bacon, Philip dade. O principal é fazer o que gostamos, o que realmente nos
Glass e sou fã incondicional de Andy Goldsworthy, talvez esse encanta. Acho também importante as conexões entre medium:
último teve maior influência na minha perceção da paisagem. a influência do expressionismo abstrato na fotografia por exem-
plo, que pode nos orientar em vários caminhos, várias hipóteses
Em que momento percebe que a fotografia vai, em definiti- de trabalho na fotografia abstrata em termos de grafismo por
vo, fazer parte da sua vida? exemplo.
Acho que foi mesmo gradualmente que percebi que a fotografia
ia acompanhar-me ao longo da minha vida. Já nos primeiros O elemento humano aparece muito fugazmente na sua
anos da Universidade, com a minha melhor amiga, íamos cons- fotografia. Porquê?
tantemente fotografar os sítios destruídos, fábricas e antigas E verdade, o elemento humano é invisível, longe em silhueta ou
estações de comboios. Nessa altura, a Criação fazia parte do após seu aparecimento, com vestígios das suas criações. Nunca
nosso dia-a-dia, fazíamos pintura, “happenings”, experimen- aparece claramente, já me perguntaram várias vezes se eu tirava
tações musicais e radiofónicas, a fotografia chegou nesse as pessoas, se eu não queria fazer casamentos... Talvez o exces-
momento como uma ferramenta de criação que podia levar so de pathos e de dramatização da minha tese de doutoramen-
para qualquer sítio. Nessa altura era analógica e fazia sépias e to tenha algo a ver com isso e também o facto de gostar da
preto e branco. solidão, do silêncio... Também deve estar relacionado com o
facto de eu viver numa zona lindíssima onde só se aposta no
Do seu curriculum, saltam à vista distinções importantes – turismo maciço. No verão a região transforma-se completa-

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 41


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4Touch me 4Enter the quantum 1


Canon 60D . 24mm . f/13 . Canon 60D . 28mm . f/7.1 .
130” . ISO 100 50” . ISO 100

4Enter the quantum 2 4The line


Canon 60D . 65mm . f/9 . Canon 60D . 18mm . f/8 .
67” . ISO 100 131” . ISO 100

mente: erguem-se novos hotéis e emergem todos os tipos de mente. Aliás, o preto e branco torna-se muito mais difícil porque
divertimento turístico e, com eles, a extinção da vida selvagem e justamente temos de imaginar o mundo que vemos da maneira
os montes de lixo deixados. Quanto ao mar, torna-se numa que ele seria em P&B.
autêntica autoestrada e as praias enchem-se até não haver nen- O P&B é uma opção artística, um universo à parte onde a cria-
hum espaço tranquilo. A confusão é tanta que os muitos resi- tividade pode expressar-se sem limites. A minha opção é o
dentes fogem nessa época! Por isso é que nas fotografias prefiro grafismo, portanto posso mesmo “brincar” sem limites com as
realçar a paisagem por si própria e, assim, insistir no fato de que linhas, formas, os contrastes, os degradê, as texturas, as tonali-
a paisagem é intemporal e nós somos efémeros. dades...

Porquê a opção pelo preto e branco? Qual é o elemento chave da sua fotografia?
Comecei a fotografia com o preto e branco e sépia. Quando O elemento chave é sem dúvida o silêncio. Talvez eu prefira
adquiri a primeira máquina digital, comecei a tirar a cores mas concentrar-me na contemplação, em vez de contar histórias
depois de algum tempo cansei-me, porque as cores são muita conceptuais. Estou sem dúvida muito atraído pelo vazio, que
informação e já existem na nossa realidade visual. Há quem diga paradoxalmente me preenche. Gosto muito de realçar o que
que quando se faz fotografia a preto e branco é porque há algo chamamos, em termos técnicos, o espaço negativo e pô-lo em
que não está bem na foto a cores, coisa que refuto completa- primeiro plano na observação.

42 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


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PELA OBJETIVA DE... Alexandre Manuel

Vasculhando agora o seu saco de fotografia, diga- E agora, a pergunta a que ninguém escapa. Na
nos qual é a peça de equipamento favorita. fotografia todos temos um episódio divertido para
Na minha mochila há uma peça que não me posso contar. Uma queda, um esquecimento, um inci-
esquecer porque ajuda-me bastante na criação e no dente engraçado... conte-nos o seu.
estudo da composição: o meu iPod. Um dia fui fotografar a zona alentejana, demorei
A música faz parte integrante do meu trabalho. Quase tempo sem fim para preparar tudo e combinar essa
não posso fotografar sem música, ela guia-me sem- pequena viagem. Estavam reunidas boas condições
pre. Quando não oiço a música do leitor, oiço a músi- ALEXANDRE atmosféricas, uma belíssima luz difusa, uma maré
ca do mar ou dos pássaros. Transporta-me numa MANUEL muito alta como eu queria... Pronto estava tudo OK,
Lagos
dimensão onde posso concentrar-me nos elementos PROFISSIONAL condições ótimas, raríssimas consoante tudo o que
presentes para trabalhar, para poder assim aproveitar EQUIPAMENTO queria. Cheguei ao local depois de três horas de
Canon 7D
do potencial que está à minha frente. É mais uma Canon 60D
viagem, já tinha tudo instalado, tripé, máquina, fil-
questão de concentração para não me distrair do Canon EF-S 10-22mm f/3.5-4.5
Canon EF 24-105mm f/4 L
tros… quando percebi que tinha-me esquecido das
“mundo exterior”. Filtros Densidade neutra ND4- baterias em casa. Pois elas estavam a carregar. A sen-
8-64-500
Filtros ND Gradiente ND4-8 sação foi como alguém que fuma estar no meio do
Filtro IR
A sua primeira câmara. Lembra-se qual foi? Tripé nada com cigarros mas sem lume!
Comando disparador com
Já não me lembro muito bem qual foi, mas sei que intervalómetro
era uma Canon analógica, de formato 35mm, talvez Se a sua câmara falasse? O que diria ela?
uma Ti. “Deixa-me dormir mais um pouco... só mais 5 minutos”.
www.alexandrephotography.com
como foi feita

Pego do Altar
Para esta fotografia, já conhecia o local. Já tinha vindo uma poder apagar o horizonte. Como estou muito ligado às técni-
vez para tirar fotografias das árvores ao nascer do sol, mas cas “old school” e não gosto usar Photoshop, queria mesmo a
nunca tinha ficado completamente satisfeito e, consequente- ajuda da chuva do último plano e assim foi.
mente, nunca tinha tido uma fotografia desse local que Tive de calçar umas botas de água, proteger-me com um
pudesse usar. guarda-chuva grande orientado contra o vento, que nesse dia
Trata-se de um local bem conhecido na fotografia. Há alguns era fraco. Instalei o meu tripé na água e registei várias
spots mais ou menos famosos na comunidade fotográfica de fotografias, parando quando a chuva parava e começando de
paisagem, o Pego do Altar é um deles. Já vi milhares de novo quando a chuva começava. Estive sempre a limpar a
fotografias desse local, muitas delas são muito lindas, o local é lente por causa da chuva ou da humidade. Mas, como acon-
realmente maravilhoso. Portanto já há muito tempo que tece muitas vezes, só um registo ficou mesmo como eu que-
andava à procura de algo diferente para fazer nesse local e já ria.
tinha um esboço na mente. É assim que costumo trabalhar De edição, a conversão em preto e branco realizou-se com
por vezes, em projeto esboçados. filtro de contraste vermelho. Os contrastes são puxados como
Eu queria apanhar essas árvores sozinhas, isoladas do resto do sempre no meu trabalho, os tons cinza médio são diminuídos
mundo, de maneira a realçá-las. A altura certa foi depois de no histograma e os tons escuros mais intensificados. O crop já
uma grande época de chuva, portanto andei anos à espera estava feito quando tirei diretamente em formato 1/1 e a com-
desse clique. Queria que a água da barragem subisse e posição simplificada já a tinha na cabeça há muito. Pequenos
cobrisse um pouco a relva para que pudesse formar uma ilha detalhes como a altura da água combinada com a chuva
pequena, onde as três árvores pudessem repousar. podem, por vezes, levar anos a realizar. Mas esses projetos é
O projeto concretizou-se no inverno passado, depois de que me fazem mesmo sentir a vibração e a satisfação da real-
vários dias de chuva. Fui ao local num dos últimos dias de ização!
chuva, porque queria aproveitar essa chuva miudinha para

4Árvores encantadas
Canon 60D . 10mm . f/8 .
170” . ISO 100

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 43


4Canon 20D . 500mm . f/7.1 .
1/250" . ISO 800
34 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA
PELA OBJETIVA DE... Joel Silva

A FOTOGRAFIA
“É A MINHA TERAPIA,
O MEU PSICÓLOGO
E O MEU ESCAPE”

JOEL SILVA DESCOBRIU A FOTOGRAFIA QUANDO RECU-


PERAVA DE UM PROBLEMA DE SAÚDE. FOTOGRAFA A VIDA
SELVAGEM E, MESMO SEM EQUIPAMENTO TOPO DE GAMA,
O SEU TRABALHO DÁ NAS VISTAS. SONHA TORNAR-SE
PROFISSIONAL MAS, ACIMA DE TUDO, O QUE O MOVE
VERDADEIRAMENTE É A PAIXÃO PELA FOTOGRAFIA E POR
ESPÉCIES COMO A TREPADEIRA-AZUL.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 35


4Canon 30D . 150mm . f/5 . 1/500" . ISO 320

Com o Universo inteiro à sua disposição para fotografar, o ciso uma coisa má para descobrir este meu gosto pela fotografia
Joel optou pela natureza. Porquê? de natureza (Vida Selvagem)! Em 2011 tive um problema de
Eu acho que é daquelas coisas que já nascem connosco. A saúde, que me obrigou a parar a minha atividade laboral durante
fotografia de natureza, em especial de vida selvagem, apresenta 17 meses. Como não sou pessoa de ficar quieto em casa e
uma série de desafios muito particulares. Ter que passar horas a vendo-me naquela situação, onde até para calçar umas meias
estudar os comportamentos, hábitos e habitats dos animais. precisava de ajuda, comecei a entrar numa fase de revolta…
Suportar horas a fio de calor infernal, ou frio dentro de abrigos. Lembro-me de um primo meu, que também partilhava este
Levar umas picadas de insetos que dão uma comichão tremen- gosto, convidar-me para ir com ele fotografar. Foram 30 minutos
da. E chegar a casa com o cartão de memória cheio de nada. dentro do abrigo, pois as minhas costas não permitiram mais.
Faz com que muitas pessoas optem por não entrar nesta ver- Mas foram aqueles 30 minutos que me meteram de novo na
tente da fotografia. Para quem, como eu, ama a natureza isso linha. Mesmo depois de ter sido submetido a uma cirurgia,
são apenas efeitos secundários, que são muito rapidamente quando o meu filhote me pedia colo e eu não lhe podia dar, era
ofuscados por aqueles momentos em que tudo se conjuga e se na fotografia que me refugiava e acalmava a alma. Hoje é a
produzem imagens espetaculares. Além disso, há coisa melhor minha terapia, o meu psicólogo e o meu escape!
do que os cheiros do campo? Do que o chilrear dos pássaros?
Do que o próprio som do silêncio da natureza? E depois, há O que é que não pode nunca faltar dentro do seu saco?
aquela sensação indescritível que temos e que faz o nosso Bem, já me faltou de tudo! Mas se tivesse que escolher uma
coração bater mais depressa, quando a cortina do obturador coisa que me chateasse mesmo, talvez fosse o meu caderno de
fecha e, mesmo sem ver, sabemos que temos ali uma boa foto! campo. Porque isto de fotografar vida selvagem não é só car-
É por isto que optei por fotografar a natureza… regar no botão e disparar. Muitos de nós também apontamos o
que observamos. Desde espécies, comportamentos e localiza-
Pela descrição que faz na sua página, a fotografia entra na ções.
sua vida como uma espécie de terapia.
Sim, é verdade… Na brincadeira até costumo dizer que foi pre- Utilizando um equipamento que não é topo gama, con-

46 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


PELA OBJETIVA DE... Joel Silva

4Canon 20D . 370mm .


f/6.3 . 1/250" . ISO 800

segue fazer fotografias de vida selvagem bastante interes- 4Canon 1000D .


santes. Para si, o olhar é mais importante do que câmara e 500mm . f/5.6 .
1/500" . ISO 400
acessórios?
Obrigado por gostarem. Eu não sou da opinião que o fotógrafo
é mais importante do que o equipamento ou vice-versa. Sou da
opinião de que ambos se complementam. Para que serve um
equipamento topo de gama, se vais fotografar sempre em
Automático e em JPEG? Certo que a qualidade está lá, mas será
que a vais usar? Como depois temos o reverso da medalha. Até
podes ter jeito para a fotografia, mas se não tiveres um bom
corpo e um bom vidro (objetiva), nunca vais conseguir aquela
nitidez e aqueles contrastes que se conseguem com material
topo de gama. E eu encontro-me no reverso da medalha. A
paixão eu tenho-a. O jeito, há quem diga que também o tenho.
Agora o equipamento, acho que nunca o vou ter. A não ser que
alguém o ofereça ou eu o ganhe. Porque para o comprar, pura e
simplesmente não tenho dinheiro e além do mais tenho outras
prioridades na vida.

E quanto à edição? Ocupa-lhe muito tempo?


Nesse aspeto não sou um puritano que acha que não se deve
mexer em nada da fotografia. Vivemos na era digital e, como tal,
tendo tantas tecnologias para nos ajudar na edição, porque não
usá-las!? Se é para melhorar a foto, não vejo razão nenhuma

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 47


4Canon 1000D . 500mm . 4Canon 20D . 500mm .
f/5.6 . 1/350" . ISO 200 f/6.3 . 1/250" . ISO 800

EU NÃO SOU DA OPINIÃO QUE O FOTÓGRAFO É MAIS IMPORTANTE


DO QUE O EQUIPAMENTO OU VICE-VERSA. SOU DA OPINIÃO
DE QUE AMBOS SE COMPLEMENTAM.
para não o fazer. Só não concordo é com a manipulação de noitibó da europa, o torcicolo e os abelharucos. Estes últimos
fotos em que o resultado final nada tem a ver com a foto tirada. avistei-os quatro vezes este ano no Alentejo, mas não deixaram
Na edição dos meus trabalhos uso o Photoshop 6 e o fazer mais que um simples registo.
Lightroom que, em abono da verdade, ocupa-me mais tempo
do que gostaria. Em parte pelo equipamento que uso, que me Imagino que tenha algum local especial para fotografar.
faz perder tempo com ruídos e falta de nitidez. E porque tam- Qual é?
bém na edição sou autodidata, o que por vezes me faz demorar Na verdade são dois os lugares especiais. O primeiro é o “meu
mais um bocadinho. quintal”, onde passo muito tempo a fotografar as minhas meni-
nas. Fica situado no monte da Nossa Srª da Assunção, o parque
Qual a espécie mais “fotogénica” com que se deparou? E o de lazer da Nossa Srª de Valinhas. O segundo é na margem do
modelo mais difícil de todos? rio Ave, na Trofa. Pena que nestes dois lugares as câmaras
A mais fotogénica – quem acompanha o meu trabalho sabe – é municipais não criem infraestruturas para as pessoas poderem
sem dúvida alguma a trepadeira-azul. Por isso é que carinhosa- desfrutar melhor da vida selvagem que por lá existe. Na minha
mente as chamo de “minhas meninas”. As mais difíceis são todas opinião, todos os sítios são bons, desde que tenham vida. Mas
as outras. Na verdade, há espécies que se tornam mais difíceis se por perto houver uma fonte de água potável será certamente
de serem fotografadas, quer pela escassez de indivíduos, quer bem melhor.
pelos seus hábitos de vida. Lembro-me assim de momento do

48 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


PELA OBJETIVA DE... Joel Silva

O que é que se imagina a fotografar, dentro de 10 histórias e muitas outras. Mas há uma que ainda hoje
anos? lhe sinto o cheiro! Sim, é verdade, o cheiro…
Apesar de nestes últimos tempos ter abraçado novos Há uns dois anos atrás andava eu entretido no
projetos, como fotografar alimentos, mais concreta- campo, atrás de umas alvéolas. Quando, sem saber
mente doçaria, gostava de continuar a fotografar vida como nem porquê, dei comigo enterrado até aos
selvagem, ainda que de modo mais profissional. E se joelhos em estrume de vaca! Haviam de ver aqui o
pudesse viver da fotografia seria ainda melhor. menino a sair de “fininho” do campo, na esperança
JOEL SILVA que ninguém me tivesse visto! E fotografias, nem vê-
Trofa
Chegamos à pergunta incontornável. Todos já AMADOR las…
vivemos uma história “para mais tarde recordar”. EQUIPAMENTO
Um daqueles incidentes que lembramos sempre, Canon 1000D
Canon 30D
Se a sua câmara falasse? O que diria ela?
num misto de embaraço e diversão. Qual foi o Canon 40D Chiça! Ainda bem que não fala… Muito provavel-
Canon 35-105mm f/3,5-4,5
seu? Sigma 150-500mm f/5-6,6 mente pedia a reforma. Para ser mais calmo a dis-
Teleconversor Kenko Pro 2x
Não sei porquê, mas os fotógrafos de vida selvagem 2 Flash Yn-565 parar. Verdade seja dita, já merecia! Todas as minhas
Tripés
têm sempre grandes histórias. Onde entram abrigos e Redes de camuflagem máquinas contam com uns valentes milhares de
Cadeira abrigo
camuflados, lentes de grande alcance e casais de fotos. Mas é para isso que elas foram feitas… E acho
namorados! Mas essas não são para aqui chamadas, que também me agradeciam, pelos lindos momentos
até porque isto é uma revista de respeito! Eu como http://joelcsilva22.wix.com/ que vimos e registamos juntos.
joelsilvafotografia
fotógrafo de vida selvagem também tenho dessas
como foi feita

4Canon 20D . 500mm .


f/6.3 . 1/320" . ISO 800

A alimentação da cria
Já há algum tempo que queria mostrar às pessoas os cuidados dos progenitores com as suas crias! Na minha cabeça começava a
surgir uma imagem… Uma ave a alimentar a sua cria ficava bem. Se conseguisse mostrar o alimento ainda melhor.
O cenário estava escolhido. O abrigo do amigo Tomás, lá seria mais ou menos fácil de a conseguir. Meia dúzia de disparos e estava
feito.
Depois foi chegar a casa, descarregar as fotos para o computador, escolher a melhor e ajustar cores e nitidez. Estava assim con-
cretizada uma imagem que tinha em mente, onde se mostra que até os animais são mais cuidadosos com as suas crias do que
alguns humanos.

zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA | 49


CONHECER

Inspire-se com as imagens de alguns dos melhores fotógrafos do


mundo. Porque também se aprende (e muito) sobre fotografia a... ver.
© Drew Gardner

Drew Gardner são irrepreensíveis. Os prémios, esses, vão chegando a cada ano
É bastante agradável quando temos contacto com que passa. Foi um dos finalistas do “Hasselblad Masters Awards”,
boas fotografias, como são as do fotógrafo Drew que praticamente dispensa palavras. Mas Drew Gardner não
Gardner. Poucos são os que têm a sua mente criativa guarda os conhecimentos para si, disponibilizando-os em DVD –
e respetiva técnica. Quase sempre as suas imagens ver blogue (área ‘Shop’) do autor para comprar se lhe interessar.
contam histórias que, mesmo sem narrativa, são percetíveis por http://www.drewgardner.com
todos. É bom quando isto acontece. Tecnicamente as suas fotos

Gregor Halenda
© Gregor Halenda

Halenda nasceu em 1965 e


cresceu no Colorado, EUA. A
sua experiência em fotografia
começou quando atingiu os 8
anos. Aos 12 anos recebeu o seu primeiro
dinheiro graças às suas fotos. E foi assim
que pagou os seus estudos. As suas ima-
gens eram usadas pelo jornais das esco-
las por onde passou. O fotojornalismo foi
mesmo o seu veículo de entrada no
mundo que sempre desejou. Mudou-se
para Nova Iorque em 1992, acabando por
trabalhar com Gregory Heisler. A sua
experiência em digital começa em 1993,
mas os sistemas de então ainda eram
algo “rudimentares”. Poucos anos depois
adquire a sua primeira Hasselblad e
começa a fotografar motas, outra das
suas paixões. Contra o excesso de pós-
produção, recorre a métodos tradicionais
para produzir as suas espetaculares ima-
gens.
http://gregorhalenda.com

50 | zOOm - FOTOGRAFIA PRÁTICA


Fotografias com histórias
por detrás da lente
© TEXTO E FOTOGRAFIA DE JOÃO M. GIL

“Flash – a-ah – Isso veio mesmo a calhar!”


stou num excecional bosque de carva-

E lhos, sobreiros, pilriteiros, medronhei-


ros, loureiros e velhas oliveiras que há
mesmo no meio da cidade de Leiria. É já
noite. Sente-se e ouve-se o buliço da
cidade, mas eu sinto algo mais – tinha já
sido dada partida, havia largos minutos, para
um dos trails noturnos que a cidade tem
recebido – sinto um nervoso de adrenalina,
para estar no sítio certo à hora certa. Queria
registar fotografias com os atletas, originais,
criativas e, se calhar mais importante, que
me satisfizessem na cada vez maior neces-
sidade e exigência de contribuir com algo
distinto. Era fundamental explorar a ligação
dos corredores, no seu difícil esforço,
naquela magnífica floresta em ambiente
noturno.
Escolhera um sítio onde a composição
das árvores em contraluz com a luz da
cidade, o trilho e os corredores, jogassem
com longas exposições. Já tinha montado
um flash externo no meu tripé, à minha
esquerda. Podia mover-me à vontade. Não
só o tinha feito pela questão fotográfica, dos dos impactos e torções. Sinto-me um ideia de movimento, de uma passagem
mas também porque não queria correr o oportunista e calculista. Metafórica e relati- curta, intrigantes e mais impessoais. Na
risco de encadear e assustar os corredores, vamente, eu estava sentado numa poltrona fotografia desta história, identifica-se muito
com disparos frontais. Eu estava no meio da a fumar um charuto, de perna cruzada, bem o chip no dedo, na mão de alguém a
escuridão, quase nos arbustos. Não me pas- depois de ter calculado os comportamentos lutar com o equilíbrio. Há como que uma
sava pela cabeça influenciar em nada a cor- e armado tudo para a execução final. Se dança verde, atrás do braço. Uma dança
rida, assustando os corredores com fosse sádico, só me faltava dizer “Deixa-os turbulenta e contorcida. O mistério é
“flashadas” no escuro. Armei o flash para a posar”, de “posar” para a fotografia, em resolvido com o chip a ser uma pista
segunda-cortina, para brincar com as longas analogia sádica ao quase homógrafo verbo importante sobre o contexto. Vê-se também
exposições de vários segundos, para registar “pousar”, da anedota. onde o atleta teve mais dificuldades com a
os percursos dos frontais dos corredores e Faço vários ciclos – atleta, disparo, segun- lama, com o frontal a oscilar insistente-
para deixar que a sua luz pintasse o ambi- dos, flash, revisão, ajustes, atleta, disparo, mente quase no mesmo ponto.
ente, com a sua própria roupa e os arbustos segundos, flash, revisão e ajustes. Começo a Uns perguntavam-me “Eh pá. Isto é para
à volta. capturar as fotografias que tinha imaginado, onde, agora?”. Eu nem sabia, muito menos
Já tinha feito os testes, corrigindo com- com a preocupação mais comum de regis- me queria enganar, nem queria beneficiar
posição e exposição. Já tinha estudado o tar os atletas dentro da composição, mas uns em relação aos outros. Limitava-me a
solo à volta dos meus pés, para não me também de verificar que não os afetava na dizer, “Não sei! Houve uns que foram por
arriscar cair ou magoar-me. Tinha também sua corrida. Ia dizendo-lhes “Boa sorte!”, ali”. Mas senti-me mais útil e satisfeito quan-
verificado a minha distância ao próprio per- “Força!”, para genuinamente os incentivar, do, depois dum disparo do flash a banhar
curso, para não ter um corredor a vir para especialmente naquele local que era tão toda aquela escuridão com uma luz sal-
cima de mim e do material. Agora era só difícil. Iam respondendo “Obrigado!”, “Ok. vadora e miraculosa, ouço um dos atletas
esperar. Boas fotos!”, no meio de algumas quedas. E dizer: “Eh pá! Obrigado. Isso veio mesmo a
Começam a aparecer uns frontais, no tudo começou a ficar mais engraçado, com calhar!”. Era umas das cenas do filme “Flash
topo da colina. Tremem. Sobem e descem. cada vez mais atletas a chegar: havia fotos Gordon”, em que do céu vem um clarão (de
Ziguezagueiam no meio das sombras e vão que ficavam só com os registos luminosos um flash!), a salvar todos. O flash ajudava a
gradualmente descendo, aproximando-se dos frontais e das cores do equipamento a salvar aqueles “Terráqueos”, que fugiam e
de mim. Demoram, porque o percurso está flutuarem acima do trilho enlameado, sem sofriam no meio da terra e da lama. E, ainda
cheio de lama, é escorregadio e escuro. registo do corpo dos atletas; noutras sentado no sofá, na minha cabeça ouvia-se
Sinto-me quase como um caçador furtivo, à ficavam os rastos de uns corredores, com o a banda-sonora do filme: “Flash – a-ah –
espera do disparo no momento certo. É flash a congelar o corpo de outros; noutras, saviour of the universe”.
nestas situações que me aproximo o máxi- as feições faciais ficavam mais definidas, no
João M. Gil
mo que consigo de tal prática de caça e meio duma festa de luz e cores. Gostei Interessou-se pela fotografia desde os seus 10 anos. Foi fotó-
matança, de que não gosto. Enquanto se especialmente das fotos em que os corre- grafo amador até 2007. Depois de 10 anos noutra carreira,
escolheu ser fotógrafo profissional, de Paisagens, Gentes e
aproximam, ouço os seus suspiros, as respi- dores estão só parcialmente dentro do Culturas. É praticante do montanhismo e amante da Natureza,
rações profundas, os palavrões e os gemi- enquadramento, transmitindo ainda mais a no usufruto e na forma de viver.
www.alma-lux-photographia.com

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