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A gravidade e a curvatura do espaço-tempo: Noções teóricas de relatividade

Universidade de Michigan
A gravidade e a relatividade

Na sua obra mais importante, os Principia, Newton propôs uma teoria que, entre outras coisas, iria
explicar o movimento dos planetas em torno do Sol por meio das órbitas elípticas que Kepler descrevera
com grande cuidado. A teoria que explica este movimento tem duas componentes. Uma deles é a teoria
da dinâmica — a teoria geral de Newton que relaciona os movimentos com as forças que agem sobre os
objectos em movimento. Baseando-se no pressuposto de fundo de que há um espaço absoluto e uma
taxa de tempo absoluta e definida, a teoria incorpora o princípio de Galileu segundo o qual os objectos
que não sofrem a acção de quaisquer forças permanecem num estado constante de movimento
uniforme. Postula depois que a mudança de movimento (aceleração) será proporcional às forças que
agem sobre um corpo e inversamente proporcional à propensão intrínseca de um corpo para resistir a
mudanças de movimento, conhecida por “massa inercial”.

A outra componente da teoria de Newton diz respeito à força responsável pelos movimentos observados
nos corpos astronómicos (e em muitos outros fenómenos, como as marés e a queda dos corpos em
direcção à Terra). Baseando-se uma vez mais na importante observação de Galileu segundo a qual,
pondo de parte a resistência do ar, todos os objectos sofrem uma aceleração uniforme em direcção à
Terra quando estão em queda livre perto da sua superfície, Newton postula uma força geral de
gravidade que actua entre todos os objectos materiais. A gravidade é sempre uma força de atracção.
Considera-se que a magnitude da força exercida entre os corpos é proporcional à massa inercial de cada
corpo e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa. A terceira lei do movimento
de Newton afirma que a força exercida pelo primeiro corpo sobre o segundo será compensada por uma
força com intensidade igual — com a mesma direcção mas sentido oposto — exercida pelo segundo
corpo sobre o primeiro.

O facto de a força aumentar proporcionalmente à massa inercial, mas de a resistência do corpo à


aceleração ser também proporcional à massa inercial, produz imediatamente o resultado obtido por
Galileu de que todos os corpos aceleram de modo idêntico quando estão sujeitos à força gravitacional
exercida por um corpo fixo, caso os objectos experimentais estejam no mesmo lugar relativamente ao
objecto que exerce a força gravitacional. Newton demonstrou que a combinação das leis da dinâmica
com a lei da força gravitacional por ele postulada conduzirá às leis do movimento planetário de Kepler,
ou melhor, a uma versão ligeiramente corrigida dessas leis.

Não é assim surpreendente que Einstein, depois de ter demonstrado que era preciso ter um novo
sistema dinâmico e de o ter construído de uma maneira consistente com o novo espaço-tempo da
relatividade restrita, tenha enfrentado o problema de construir uma nova teoria da gravidade. Esta
teoria, claramente indispensável, tem de ser consistente com as novas ideias sobre o espaço-tempo. A
teoria de Newton, por exemplo, considera que a interacção gravitacional entre os corpos é instantânea,
mas segundo a relatividade todos os sinais se propagam a uma velocidade igual ou inferior à da luz. É
possível construir muitas alternativas à teoria newtoniana compatíveis com o novo espaço-
temporelativista. Na verdade, um programa de investigação contínuo da física experimental consiste em
testar comparativamente essas alternativas, procurando possíveis observações que excluam algumas
das possibilidades. No entanto, a nova teoria gravitacional que enfrentou melhor as experiências
realizadas e a mais elegante teoricamente é a do próprio Einstein. É conhecida por “teoria da
relatividade geral”. É também a teoria que postula uma natureza do mundo de grande interesse para os
filósofos. No que resta desta secção vou esboçar algumas das ideias que conduziram Einstein a esta
nova teoria da gravidade que, como veremos, consiste numa nova teoria sobre a estrutura do
próprioespaço-tempo. Vou esboçar algumas das componentes básicas da teoria e explorar algumas das
suas consequências importantes para os filósofos.

Einstein parte da observação de Galileu segundo a qual a aceleração induzida num objecto pela
gravidade é independente do tamanho do objecto e daquilo de que ele é feito. A gravidade difere de
qualquer outra força por ter este efeito universal. Consideremos o caso em que um objecto que gravita,
localizado suficientemente longe, força o objecto a acelerar, de tal forma que o campo gravitacional é
efectivamente constante no laboratório. Einstein faz notar que um pequeno objecto experimental,
situado num laboratório, ficaria em aceleração em relação a esse laboratório exactamente da mesma
maneira que ficaria se nenhuma força estivesse a actuar sobre ele e se o próprio laboratório estivesse
uniformemente em aceleração na direcção oposta à da aceleração da partícula. No último caso, qualquer
objecto experimental com qualquer massa ou composição pareceria acelerar uniformemente em relação
ao laboratório. É a universalidade da gravidade que nos permite substituir a força gravitacional por uma
aceleração do sistema de referência.

Talvez, sugere Einstein, seja possível reproduzir todos os efeitos da gravidade numa tal aceleração do
laboratório. Isto conduz à hipótese de que a gravidade terá efeitos sobre outras coisas que não a
matéria constituída por partículas. Se emitirmos um feixe de luz que atravesse um laboratório em
movimento de aceleração, é de esperar que o feixe não siga uma trajectória em linha recta
relativamente ao laboratório. Não deverá então a gravidade deflectir os feixes de luz que passam perto
de um corpo que gravite?

Talvez a conclusão de que é de esperar que a gravidade tenha um efeito sobre medições de intervalos
de tempo e de espaço, tal como relógios e réguas idealizados as revelam, seja ainda mais
surpreendente. O argumento a favor do efeito temporal é o mais fácil de seguir e construir. Imagine- se
um laboratório em aceleração que tem um relógio na sua extremidade superior e outro relógio idêntico
na sua extremidade inferior. Enviam-se sinais do relógio inferior para o superior, e compara-se a taxa de
emissão dos sinais, determinada pelo relógio inferior, com a da sua recepção, determinada pelo relógio
superior. Quando um sinal enviado da parte de baixo atinge a parte de cima, o relógio de cima está em
movimento relativamente ao sistema de referência em movimento uniforme onde o relógio de baixo
estava em repouso quando o sinal foi enviado. Quer se argumente a partir do efeito de dilatação do
tempo da relatividade restrita quer a partir do chamado “efeito de Doppler” — que, mesmo na físicapré-
relativista, mostra que um sinal enviado de uma fonte com uma dada frequência parece ter uma
frequência mais baixa quando é observado por alguém em movimento de afastamento relativamente à
fonte — torna-se plausível afirmar que o relógio de baixo parecerá estar a atrasar-se relativamente ao
de cima. Ou seja, a frequência do sinal recebido pelo relógio de cima é, segundo o relógio de baixo,
inferior à frequência do sinal emitido.

Mas considere-se agora um laboratório que não está em aceleração, onde todo o dispositivo está em
repouso num campo gravitacional. Pelo argumento de Einstein (frequentemente conhecido por “princípio
da equivalência”), seria de esperar que o relógio situado mais abaixo no campo gravitacional pareça
atrasar-se, do ponto de vista do relógio situado mais acima. Note-se que isto nada tem a ver com a
força gravitacional sentida pelos dois relógios; ao invés, é determinado por quão abaixo está um relógio
em relação ao outro no “declive” gravitacional. Assim, é de esperar que a gravidade tenha efeitos na
medição de intervalos de tempo. É possível oferecer argumentos semelhantes, mas um pouco mais
complexos, que nos levam a prever que a gravidade também afecta as medições espaciais.

Considerados conjuntamente, estes argumentos conduziram Einstein à sugestão assombrosa de que a


maneira de lidar com a gravidade num contexto relativista é tratá-la não como um campo de forças que
actua no espaço-tempo, mas antes como uma modificação da própria estrutura geométrica do espaço-
tempo. Na presença da gravidade, defendeu Einstein, o espaço-tempo é “curvo”. Para saber o que isto
significa, no entanto, temos de olhar um pouco para a história da geometria tal como esta última é
estudada pelos matemáticos.

gravity5

GEOMETRIA NÃO EUCLIDIANA

Na geometria canónica, tal como Euclides a formalizou, derivam-se todas as verdades geométricas a
partir de um pequeno conjunto de postulados básicos alegadamente auto-evidentes.Embora a
axiomatização da geometria realizada por Euclides não seja realmente completa (isto é, não é suficiente
em si mesma para permitir a realização de todas as derivações sem se pressuporem outras premissas
subjacentes ocultas), é possível completá-la. Durante um longo período de tempo, o postulado de
Euclides conhecido por “postulado da paralela” foi gerador de perplexidade. Este postulado é equivalente
à afirmação de que, passando por um ponto que não esteja numa dada linha, só pode traçar-se uma
única linha que esteja no mesmo plano da linha e ponto dados e que não intersecte a linha dada em
qualquer direcção, por muito que as linhas se prolonguem. Os geómetras consideravam que este
postulado não possuía a auto-evidência das outras hipóteses, que são mais simples (como “Iguais
adicionados a iguais dão iguais” e “Uma linha recta é determinada por dois pontos”). Poderia este
postulado “suspeito” ser derivado a partir dos outros postulados, tornando-se desnecessário enquanto
pressuposto independente? Se pudéssemos mostrar que a negação do postulado da paralela era
inconsistente com os outros postulados, poderíamos mostrar que esta derivação era de confiança pelo
método da reductio ad absurdum. Mas poder-se-ia mostrar tal coisa?

Podemos negar o postulado da paralela de duas maneiras. O postulado diz que existe uma e apenas
uma linha paralela que passa pelo ponto; para negar isto podemos afirmar que não existe qualquer linha
paralela ou que existe mais do que uma. Em 1733, Saccheri mostrou que o postulado da inexistência de
paralelas era realmente inconsistente com os restantes axiomas, pelo menos quando os entendemos da
maneira habitual. Mas foi incapaz de mostrar que a negação do postulado das múltiplas paralelas
também era inconsistente. No século XIX, Bolyai, Lobachevsky e Gauss compreenderam que podemos
construir geometrias consistentes que adoptem os postulados de Euclides, mas que tenham um
postulado de múltiplas paralelas em vez do postulado da paralela. Riemann mostrou então que, se os
outros axiomas forem ligeiramente reinterpretados, poderemos construir uma nova geometria, também
logicamente consistente, onde um postulado da inexistência de paralelas ocupa o lugar do postulado da
paralela. As reinterpretações necessárias são as seguintes: “Uma recta é determinada por dois pontos”
tem de ser lida de maneira a que por vezes mais do que uma linha recta contenha um dado par de
pontos; “Uma linha pode ser prolongada arbitrariamente em ambos os sentidos” tem de ser lida como a
afirmação de que uma linha não encontraria um ponto último se fosse prolongada, mas sem implicar que
uma linha tão prolongadaquanto possível tenha um comprimento infinito.

Mais tarde compreendeu-se que, quando se tomam estas novas geometrias não euclidianas como
geometrias planas bidimensionais, pode-se entendê-las à maneira euclidiana como a geometria das
curvas de menor distância (geodésicas) em superfícies curvas bidimensionais. Em particular, a
geometria axiomática de Riemann era apenas a geometria das figuras construídas por arcos de círculos
máximos (geodésicas) na superfície de uma esfera. Mas essas geometrias não euclidianas,
tridimensionais e logicamente consistentes poderiam ser tomadas como sendo sobre o quê? Ou seria
que, apesar de logicamente consistentes, eram absurdas por outras razões? Gauss levou a geometria
mais longe ao desenvolver uma teoria geral sobre as superfícies bidimensionais arbitrariamente curvas.
Estas caracterizam-se por um número — conhecido por “curvatura gaussiana” — em cada ponto. A
variação desta curvatura em função da distância, tal como é medida ao longo de curvas situadas na
superfície, determina a forma da superfície curva. Segundo Gauss, estas superfícies curvas estão
imersas no espaço euclidiano tridimensional comum. Um resultado importante do seu trabalho, no
entanto, foi o de que se podia caracterizar alguns dos aspectos da curvatura (a curvatura “intrínseca”)
por meio de quantidades que poderiam ser determinadas por uma criatura bidimensional imaginária que
estivesse confinada à superfície curva e que nem sequer se apercebesse da existência do espaço
tridimensional que a envolveria. A partir desta nova perspectiva, verificou-se que se pode entender as
geometrias descritas pelos sistemas axiomáticos anteriores como casos próprios. A geometria euclidiana
bidimensional, a geometria do plano, é a geometria da superfície cuja curvatura de Gauss seja zero em
todo o lado. A geometria de Riemann, a geometria das superfícies bidimensionais das esferas, é apenas
a geometria de uma superfície cuja curvatura de Gauss seja constante e positiva. A geometria de
Lobachevsky-Bolyai é a geometria de uma superfície bidimensional cuja curvatura de Gauss seja
negativa e idêntica em cada ponto. A curvatura negativa caracteriza um ponto como aquele ponto no
centro do desfiladeiro de uma montanha no qual a superfície se curva “em sentidos opostos”, passando
por ele ao longo de trajectórias diferentes.

Riemann foi então mais longe, e generalizou a teoria de Gauss das superfícies curvas a espaços de
qualquer dimensão. Ao passo que Gauss pressupôs que as superfícies em questão estão imersas num
espaço euclidiano plano, Riemann não presumiu tal coisa. Afinal, um dos resultados do trabalho de
Gauss era o de que alguns aspectos da curvatura estavam ao alcance de uma criatura bidimensional que
não soubesse da existência do espaço envolvente. A geometria geral de Riemann lida com estes
aspectos da curvatura, os aspectos intrínsecos. (Não deve confundir-se esta geometria geral de Riemann
de espaços n-dimensionais curvos com a anterior geometria axiomática de Riemann.) O pressuposto
básico desta geometria é o de que o espaço n-dimensional curvo é susceptível de ser aproximado, em
regiões suficientemente pequenas, por um espaço euclidiano plano e n-dimensional. Para superfícies
curvas num espaço não curvo tridimensional, estas superfícies aproximadas podem ser representadas
como planos tangentes à superfície curva num certo ponto; os planos estão também localizados no
espaço tridimensional envolvente. Para um espaço geral de Riemann, curvo e n-dimensional,postula-se a
existência destes “planos tangentes” só no sentido em que, no que diz respeito aos aspectos intrínsecos
n-dimensionais, o espaço curvo n-dimensional pode ser aproximado num certo ponto por um espaço
euclidiano não curvo e n-dimensional.

Quais são alguns dos aspectos dos espaços curvos? Como, por exemplo, poderia uma criatura
tridimensional que vivesse num espaço tridimensional curvo descobrir que o espaço era realmente
curvo? A curvatura intrínseca revela-se na medição de distâncias. Uma criaturan-dimensional pode
realizar medições de distâncias entre pontos em número suficiente para se assegurar de que não há
qualquer possibilidade de esses pontos estarem situados num espaço plano n-dimensional e terem as
distâncias mínimas entre si ao longo de curvas que os pontos da criatura fazem. Uma verificação das
distâncias aéreas mais curtas entre cidades terrestres, por exemplo, pode dizer-nos que a Terra não tem
uma superfície plana, mas antes uma superfície que se aproxima da de uma esfera. Num espaço curvo
n-dimensional, as curvas de menor distância, conhecidas por “geodésicas do espaço”, seriam linhas
rectas caso o espaço fosse plano. Estas linhas são também as linhas de “menor curvatura” do espaço.
Intuitivamente, isto significa que as linhas, embora não possam ser rectas devido à estrutura do espaço,
não diferem das linhas rectas mais do que aquilo que a curvatura do próprio espaço lhes impõe.

A curvatura pode também revelar-se de outras maneiras. Se pegarmos num segmento de recta
orientado (um vector), por exemplo, e o movermos em torno de uma curva fechada num espaço plano,
mantendo-o tanto quanto possível paralelo a si próprio enquanto o movemos, quando regressarmos ao
ponto de origem o vector apontará aí na mesma direcção e sentido do que quando começámos. Mas
num espaço curvo este transporte paralelo de um vector em torno de uma curva fechada irá, de uma
maneira geral, mudar a direcção ou o sentido do vector, de tal forma que no fim do transporte ele
apontará para uma direcção ou sentido diferente da direcção ou sentido que tinha no início do percurso.

Um espaço plano tridimensional tem uma extensão infinita e um volume infinito. Um plano euclidiano
tem uma extensão infinita e uma área infinita. Mas a superfície intrinsecamente curva de uma esfera,
embora não tenha limites, tem uma área finita. Uma criatura bidimensional que vivesse numa superfície
esférica poderia pintar a superfície. Nunca encontraria um limite na superfície, mas depois de um tempo
finito toda a superfície ficaria pintada e o trabalho estaria concluído. Do mesmo modo, uma criatura
tridimensional que vivesse no espaço curvo tridimensional análogo à superfície esférica, vivendo naquilo
a que se chama uma tri-esfera, poderia encher a região com um plástico espumoso. Embora nunca
encontrasse uma parede que limitasse o espaço, concluiria o trabalho num tempo finito, quando todo o
volume do espaço tridimensional ficasse ocupado por uma quantidade finita de plástico espumoso.

Parece assim claro que a noção de espaço n-dimensional curvo, onde se inclui a noção de espaço
tridimensional curvo, além de ser consistente de um ponto de vista lógico, não é, manifestamente,
absurda. Enquanto ficarmos pelas características intrínsecas da curvatura, não estamos a presumir que
o espaço esteja imerso num outro espaço plano envolvente e com mais dimensões. E os aspectos da
curvatura intrínsecos ao espaço podem ser manifestamente determinados por meio de técnicas directas
por uma criatura que viva nesse espaço. Será então que podemos verificar se o verdadeiro espaço
tridimensional do nosso mundo é curvo, e não o espaço plano caracterizado pelos postulados básicos da
geometria euclidiana tridimensional? Estas especulações acompanharam naturalmente a descoberta das
novas geometrias.

O USO DAS GEOMETRIAS NÃO EUCLIDIANAS NA FÍSICA

No século XIX houve alguma especulação sobre a possível realidade do espaço curvo. Clifford, por
exemplo, sugeriu que era concebível que a matéria consistisse realmente em pequenas regiões de
espaço altamente curvo situadas num espaço tridimensional que na sua maior parte não fosse curvo. Era
óbvio que só se podia detectar uma curvatura espacial de grande escala nas escalas de maior dimensão,
ou seja, nas escalas astronómicas, já que séculos de experiência nos tinham mostrado que a geometria
euclidiana não curva tridimensional funcionava bem nas nossas descrições do mundo. Não havia dúvida
de que ela funcionava bem nas medições comuns e até na descrição de coisas como a estrutura do
sistema solar.

No entanto, foi só com a nova teoria relativista da gravidade de Einstein — a teoria da relatividade geral
— que a geometria curva se tornou uma parte essencial de uma teoria física plausível. Vimos que
podemos defender com plausibilidade que a gravidade afecta dinamicamente todos os objectos da
mesma maneira, independentemente do seu tamanho e da sua constituição. Deste modo, um objecto
material que seguisse uma trajectória com direcção e velocidade uniformes na ausência de gravidade ou
de outras forças, seguiria um percurso diferente na presença da gravidade. Mas a mudança de
trajectória depende apenas do campo gravitacional e do lugar e velocidade iniciais do objecto. Não
depende da massa do objecto ou do material de que ele é feito. É esta independência do efeito da
gravidade em relação ao tamanho e à estrutura dos objectos que torna possível uma “geometrização” do
campo gravitacional.

A ideia de tratar a gravidade como uma curvatura torna-se plausível quando a combinamos com os
argumentos a favor de um efeito gravitacional sobre os aspectos métricos do mundo, tal como estes são
determinados por réguas e relógios. No entanto, Einstein não postula um espaço curvo, pelo menos de
maneira fundamental, mas um espaço-tempo curvo. No espaço-tempo de Minkowski da relatividade
restrita, as partículas livres viajam em linhas rectas de tipo temporal, que são as geodésicas temporais
do espaço-tempo. Ora, sugere Einstein, temos de conceber as partículas que só sofrem a acção da
gravidade como partículas “livres” que viajam, não ao longo de linhas rectas de tipo temporal, mas ao
longo de geodésicas curvas de tipo temporal numespaço-tempo curvo. Um resultado fundamental da
geometria de Riemann é o de que por um ponto, numa dada direcção, só passa uma trajectória
geodésica. Nos espaços de Riemann, as geodésicas são simultaneamente as trajectórias de curvatura
mínima e (localmente) de distância mais curta. Com a nova métrica do espaço-tempo, é melhor
considerar como fundamental a definição das geodésicas enquanto linhas de “curvatura mínima”. No
espaço-tempo, se especificarmos uma direcção num certo ponto, estaremos simultaneamente a
especificar uma direcção espacial e uma velocidade em cada direcção. Deste modo, a geodésica de tipo
temporal que passa por um ponto numa dada direcção corresponderá à especificação do lugar inicial e
da velocidade inicial de uma partícula. A trajectória especificada pela geodésica será assim única. E isto
é exactamente o que queríamos para a gravidade porque, dado um lugar e uma velocidade iniciais, a
trajectória de qualquer partícula num campo gravitacional é a mesma. A luz, que na relatividade restrita
segue as geodésicas nulas em linha recta do espaço-tempo de Minkowski, segue agora as geodésicas
nulas do espaço-tempo curvo, que em geral não são linhas rectas.

Podemos determinar a curvatura de um espaço-tempo ao seguir as trajectórias dos feixes de luz e das
partículas “livres”, isto é, das partículas e dos raios luminosos que agem apenas sob a influência da
gravitação, agora vista simplesmente como a curvatura do espaço-tempo. Mas podemos também, pelo
menos em princípio, determinar a estrutura da curvatura realizando um número suficiente de medições
de intervalos temporais e espaciais entre acontecimentos e combinando estas medições no intervalo
espácio-temporal, que define a métrica doespaço-tempo. A relatividade geral postula que o espaço-
tempo assim determinado irá ser consonante com o espaço-tempo determinado ao seguir-se os
movimentos geodésicos das partículas e dos raios luminosos, sendo os relógios e as réguas usados para
efectuar as medições espaciais e temporais que estão também sob a acção do campo gravitacional, no
sentido em que os relógios e as réguas medem convenientemente estas qualidades métricas no espaço-
tempo curvo.

A teoria tradicional da gravidade tinha duas partes: uma que especificava a acção da gravidade sobre
partículas-teste; e outra que especificava o tipo de campo gravitacional gerado por uma fonte de
gravidade. Na teoria mais antiga, a gravidade era uma força que acelerava igualmente todos os objectos
materiais que estivessem num certo lugar de um campo gravitacional. Na nova teoria, a gravidade é a
estrutura do espaço-tempo curvo. Ela afecta partículas e raios luminosos, no sentido em que estes
percorrem agora curvas temporais e geodésicas nulas no espaço-tempo, e afecta instrumentos
idealizados de medição temporal e espacial.

E quanto ao segundo aspecto da teoria, aquele que especifica que tipo de campo gravitacional é gerado
por uma fonte de gravidade? Na teoria mais antiga, qualquer objecto com massa gerava um campo
gravitacional. Na nova teoria relativista, associa-se a gravidade à massa-energia do mundo material. As
equações de campo da relatividade geral têm no seu lado esquerdo uma expressão matemática que
caracteriza a curvatura do espaço-tempo. No seu lado direito têm uma expressão, conhecida por “tensor
das tensões-energia”, que nos diz como a massa energia está distribuída no espaço-tempo. Esta
equação relaciona a gravidade, vista agora comoespaço-tempo curvo, com as suas fontes na massa-
energia não gravitacional. (O “não gravitacional” é importante porque o próprio campo gravitacional, o
espaço-tempo curvo, também possui massa-energia.) Seria um erro pensar que a matéria “causa” o
campo gravitacional num sentido simplista, porque conhecer o lado direito da equação, que diz como
amassa-energia está distribuída pelo espaço-tempo, requer que se postule uma estrutura deespaço-
tempo. A equação diz-nos se um dado espaço-tempo é ou não compatível com uma distribuição
postulada de massa-energia nesse espaço-tempo. O mundo postulado só é um mundo possível à luz da
nova teoria quando a equação é satisfeita tanto pela estrutura postulada de espaço-tempo como pela
distribuição postulada de massa-energia nessa estrutura.

É interessante que a partir da equação de campo se siga a lei dinâmica da gravidade, segundo a qual as
partículas materiais pontuais percorrem geodésicas de tipo temporal quando estão “livres”. Ao contrário
do que se verifica na teoria newtoniana, não é preciso postular a lei dinâmica enquanto lei independente,
já que ela própria é derivável a partir da equação de campo básica.

Se aceitarmos esta nova teoria da gravidade do espaço-tempo curvo, enfrentaremos depois, enquanto
habitantes do mundo, a tarefa de tentar determinar a sua verdadeira estrutura de espaço- tempo. A
teoria diz-nos que a geometria do espaço-tempo deve estar correlacionada com a distribuição de matéria
e energia nesse espaço-tempo. E a estrutura do espaço-tempo em questão revela se em trajectórias
geodésicas curvas de raios luminosos e partículas “livres”, e também em intervalos espaciais e
temporais medidos por réguas (ou por fitas métricas, num mundo curvo) e relógios. Obviamente, se o
espaço-tempo mostrar uma curvatura, isso acontecerá a escalas astronómicas, porque temos uma vasta
experiência empírica que nos assegura de que em medições locais de pequena escala a geometria plana
de Minkowski funciona adequadamente.

Alguns efeitos desta nova compreensão da “gravidade como curvatura do espaço-tempo”revelam- se à


escala do sistema solar. Considera-se que os planetas percorrem geodésicas noespaço-tempo curvado
pela presença da massa do Sol. Isto introduz mudanças ligeiras no movimento kepleriano dos planetas
explicável pela teoria newtoniana. Sabemos que mesmo no sistema solar a curvatura do espaço-tempo é
pequena. As trajectórias dos planetas noespaço-tempo desviam-se pouco das geodésicas em linha recta
(que não devemos confundir com as elipses, obviamente curvas, que eles percorrem). No entanto, o
efeito da curvatura é o de sobrepor pequenos efeitos adicionais às trajectórias elípticas habituais dos
planetas, tal como um movimento (relativo a um sistema inercial fixo no Sol) do ponto de maior
aproximação do planeta ao Sol na sua órbita, um movimento detectável no caso do planeta Mercúrio.

Podem também observar-se outros efeitos métricos da gravidade a uma escala razoavelmente pequena,
em particular no atraso de um relógio relativamente a outro quando o primeiro relógio está mais abaixo
num potencial gravitacional que o segundo. Mas é à grande escala astronómica que a teoria dá origem
às mais interessantes das suas novas previsões e à possibilidade das manifestações mais fascinantes
das consequências observacionais da curvatura do espaço-tempo. Lidamos com modelos altamente
idealizados de universos, em relação aos quais se podem retirar conclusões teóricas. Obviamente, a
esperança é a de que pelo menos algumas destas imagens idealizadas do mundo à escala cosmológica
estejam suficientemente perto da realidade para melhorar a compreensão do mundo que descobrimos
com as observações astronómicas do espaço profundo. Presume-se habitualmente, por exemplo, que se
pode considerar que a matéria do universo está distribuída uniformemente e que a distribuição é a
mesma em todas as direcções espaciais do mundo cosmológico. Este pressuposto está agora sob um
exame observacional intensivo.

Os teóricos têm explorado uma ampla variedade de mundos de espaço-tempo possíveis. Em muitos
deles, a estrutura de continuidade do mundo difere da dos mundos da física newtoniana ou da física da
relatividade restrita. Em alguns mundos, por exemplo, pode haver trajectórias fechadas de tipo
temporal, colecções de acontecimentos tais que quando um observador avança de cada acontecimento
para o que lhe é posterior acaba por regressar ao acontecimento inicial. Outros espaços-tempos, embora
não sejam causalmente tão patológicos, podem estar perto de incluir essas trajectórias causais
fechadas. Outros espaços-tempos peculiares têm uma não orientabilidade inscrita em si; são torcidos,
como a conhecida fita de Möbius — uma superfície bidimensional torcida imersa no tri-espaço.

Num tal espaço não orientável, pode ser impossível fazer uma distinção global entre objectos situados à
esquerda e objectos situados à direita, pois um objecto situado à direita é transformável num objecto
que está à esquerda no mesmo lugar por meio de uma viagem em torno do espaço- tempo. Pode
também haver uma ausência de orientabilidade temporal, o que torna impossível dizer globalmente qual
é a direcção temporal do “passado” e qual é a do “futuro” de um certo acontecimento.

Em alguns espaços-tempos, é possível que os observadores tenham o espaço-tempo dividido em


espaços num certo instante. Isto significa que nesses mundos, para um observador que esteja num
estado de movimento específico, o espaço-tempo pode ser segmentado em espaços de acontecimentos
tridimensionais, sendo possível atribuir a todos eles um instante específico numa ordem temporal que
pode ser globalmente válida. Noutros espaços tempos, é impossível tal segmentação do espaço-tempo
em “segmentos de simultaneidade” de tri-espaços num certo instante. Quando essa divisão do espaço-
tempo em espaços num certo instante é possível, os próprios espaços podem ser espaços
tridimensionais curvos do tipo que Riemann estudou na sua generalização da geometria de Gauss das
superfícies curvas. Num desses universos, o modelo de Einstein, o tempo prolonga-se para sempre tanto
em direcção ao passado como em direcção ao futuro. Para um observador, o mundo espacial existe em
cada instante como uma esfera tridimensional fechada de tamanho finito e constante. Os universos de
Robertson-Walkertêm espaços num certo instante de curvatura constante, mas a curvatura pode ser
positiva, nula ou negativa. O parâmetro de dimensão destes espaços pode mudar com o tempo, o que os
torna modelos plausíveis de universos com Big Bang, onde existe um ponto singular em que toda a
matéria do mundo está comprimida num ponto espacial. À luz da observação, o nosso universo parece
ter esse ponto.

Além disso, a curvatura do espaço-tempo ajuda a explicar os dados possíveis da experiência noutra
área: a descrição das singularidades geradas pela matéria em colapso das estrelas com grandes massas.
Estes são os famosos buracos negros, regiões do espaço-tempo tão curvadas pela presença de matéria
altamente densa que a luz não pode escapar para o espaço-tempo exterior a partir da região deespaço-
tempo interior que está imediatamente em torno do ponto de colapso singular da estrela. Os modelos
destas regiões do espaço-tempo localmente muitíssimo curvas, que correspondem a estrelas em colapso
electricamente carregadas e/ou em rotação, assim como os do tipo original estudado, proporcionam
casos fascinantes para estudar os efeitos peculiares que a gravidade pode ter enquanto curvatura do
espaço-tempo. Embora os dados observacionais sejam ainda inconclusivos, parece que alguns dos
geradores de radiação altamente energética do cosmos, como os quasares e os centros das chamadas
“galáxias activas”, podem muito bem ser buracos negros

ESPAÇO-TEMPO CURVO E GRAVIDADE NEWTONIANA

Ao discutirmos a transição do espaço e do tempo para o espaço-tempo, quando se formularam os


fundamentos da teoria da relatividade restrita, notámos que, depois de se ter construído o espaço-
tempo de Minkowski como o espaço-tempo apropriado para a relatividade restrita, os cientistas
compreenderam que podíamos usar a noção de espaço-tempo para construir umespaço-tempo que em
alguns aspectos era mais apropriado para a física de Newton do que o seu próprio espaço e tempo
absolutos: o espaço-tempo galilaico ou neo-newtoniano. A partir da concepção da gravidade enquanto
espaço-tempo curvo, própria da teoria da relatividade geral,tornou-se claro que mesmo na imagem pré
relativista podemos redescrever a gravidade por meio de um espaço-tempo curvo. Nesta imagem pré-
relativista, a gravidade não tem os efeitos nas medições de tempos e distâncias que tem na versão
relativista, nem se dá qualquer atenção ao efeito da gravidade na luz. Em vez disso, são os efeitos
dinâmicos habituais da gravidade que são transformados na curvatura do espaço-tempo.

Nesta imagem, o tempo é precisamente tal como Newton o concebia. Há um intervalo de tempo
absoluto e definido entre quaisquer dois acontecimentos. Acontecimentos que são todos simultâneos
formam espaços num certo instante. Estes são, tal como o eram para Newton, espaços euclidianos
tridimensionais não curvos. Tal como no espaço-tempo neo-newtoniano, não existe qualquer noção não
relativa de dois acontecimentos não simultâneos estarem no mesmo lugar; logo, neste espaço- tempo
não há a noção newtoniana absoluta de estar no mesmo lugar ao longo do tempo nem de velocidade
absoluta. No entanto, tal como na concepção neo-newtonianaexistem geodésicas de tipo temporal que
correspondem a trajectórias possíveis de partículas em movimento livre, também existem geodésicas de
tipo temporal nesta nova imagem doespaço-tempo. Mas ao passo que as geodésicas de tipo temporal da
imagem neo-newtoniana são as trajectórias em linha recta de partículas em movimento uniforme
(partículas que não sofrem a acção de forças e que, seguindo a lei da inércia, mantêm constante a sua
velocidade), agora as geodésicas de tipo temporal são linhas curvas. Estas são concebidas como
trajectórias de partículas que são “livres” no novo sentido que se tornou conhecido com a teoria da
gravidade de Einstein, isto é, que não sofrem a acção de outras forças que não a da gravidade.
Uma vez mais, elimina-se a força gravitacional da teoria, concebendo-se a gravidade como a curvatura
de geodésicas de tipo temporal, de tal forma que as partículas sofrem o efeito da gravidade não ao ser
deflectidas do seu movimento geodésico pela força do objecto gravitacional, mas antes ao seguir as
trajectórias geodésicas “livres” no espaço-tempo,trajectórias que agora são curvas devido à presença do
objecto gravitacional, que funciona como uma “fonte” da curvatura do espaço-tempo. Tal como na teoria
de Einstein, é só o efeito uniforme da gravidade sobre uma partícula-teste — que consiste no facto de
todos os objectos afectados pela gravidade sofrerem a mesma modificação no seu movimento, seja qual
for a sua massa ou constituição — que permite esta “geometrização” da força gravitacional. Esteespaço-
tempo curvo da gravidade newtoniana não é, como o espaço-tempo de Minkowski ou oespaço-tempo
curvo da teoria da relatividade geral, um espaço-tempo riemanniano (ou melhor,pseudo-riemanniano)
porque, contrariamente aos espaços- tempos da relatividade restrita ou geral, não tem qualquer
estrutura métrica de espaço-tempo. Há um intervalo de tempo definido entre quaisquer dois
acontecimentos. Para acontecimentos simultâneos, há uma separação espacial definida entre quaisquer
dois acontecimentos. Neste sentido, este espaço-tempo tem uma métrica de tempo e uma de espaço.
Mas não há, ao contrário do caso relativista, qualquer intervalo de espaço-tempo entre um par de
acontecimentos. A curvatura revela-se apenas no facto de as geodésicas de tipo temporal não serem
rectas, e não em qualquer característica métrica do espaço-tempo.

RESUMO

O desenvolvimento das elegantes teorias de Einstein, que tentaram fazer justiça aos surpreendentes
factos obtidos pela observação sobre o comportamento da luz, das partículas livres e dos relógios e
réguas, oferece-nos assim duas revoluções nos nossos pontos de vista sobre o espaço e o tempo.

Em primeiro lugar, substitui-se o espaço e o tempo pela noção unificada de espaço-tempo,relativamente


à qual os aspectos temporais e espaciais do mundo se tornam derivados. Em segundo lugar, invoca-se a
noção de curvatura para encontrar um lugar natural para os efeitos da gravidade nessa imagem espácio-
temporal do mundo.

É óbvio que estas revoluções na nossa perspectiva científica sobre o que são realmente o espaço e o
tempo devem traduzir-se numa reapreciação profunda das questões tipicamente filosóficas sobre o
espaço e o tempo. Como deveremos conceber o estatuto das nossas pretensões ao conhecimento da
estrutura do espaço e do tempo num contexto em que, pela primeira vez, se encontram disponíveis para
inspecção científica várias propostas possíveis distintas sobre a estrutura do espaço e do tempo? E que
efeito deverão ter essas novas estruturas sobre o espaço e o tempo nos nossos pontos de vista sobre a
natureza metafísica do espaço e do tempo? Em particular, que efeito deverão ter estas concepções
científicas revolucionárias no debate tradicional entre substantivistas e relacionistas?

Lawrence Sklar
Tradução de Desidério Murcho, Pedro Galvão e Paula Mateus

Retirado de Philosophy of Physics, de Lawrence Sklar (Oxford University Press, 1992).

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