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Resumo: Neste trabalho objetivamos investigar os discursos que se insurgem contra o Internetês,
materializados especialmente no âmbito virtual, que se revestem do status de preconceito linguístico.
Analisando/descrevendo os enunciados/discursos (re)produzidos em duas comunidades do Orkut,
pudemos (entre)ver a retomada de discursos seculares como os da pureza linguística, da preservação
da língua sob os quais se ancoram às representações sociais acerca do domínio da fala/escrita.
Vinculados à norma culta/padrão, eleita pelos “iluminados” mestres da Gramática, os dizeres que
sustentam o preconceito na verve das práticas sociais cotidianas, ditas “reais”, agora migram para o
âmbito ciberespacial. Vindo à tona na/pela internet, esses discursos se transmutam e passam a integrar
a prática discursiva dos sujeitos, mesmo imersos nesse “novo” mundo. As discussões ora travadas
obedecem prioritariamente às orientações teórico-metodológicas oriundas da Análise do Discurso do
de matriz francesa a partir de Foucault (1998, 2005), Pêcheux (1999) e Orlandi (1999). Ajudam a
encorpar as nossas discussões as contribuições advindas Bagno (2003, 2007), Faraco (2007),
Marcuschi (2004) e Possenti (2002, 2006), dentre outros. Nossas análises, embora minimante
ilustrativas apontam para a disseminação de práticas discursivas preconceituosas no Orkut, em co-
extensão às práticas instadas na esfera não-digital, embora se possam ver também, timidamente,
lampejos de Contra-discursos emergindo dos interstícios mesmo de tais práticas.
Abstract: In this paper we investigate the discourses about the Internetês, especially in virtual
space, which status are of linguistic prejudice. Analyzing / describing the statements / speeches (re)
produced in two communities in Orkut, we have seen the revival of secular discourse as linguistic
purity and preservation of the language upon which are anchored to the social representations about
the domain of speech / writing. Linked to norms / standard, elected by the masters of Grammar, the
speeches that sustain this prejudice in the everyday social practices, called "real" now migrate to the
cyberspace context. In the Internet, these speeches are transmuted and become part of the discursive
practice of even immersed in this "new" world. The discussions are based on approaches theoretical
and methodological derived from the Discourse Analysis of the French by Foucault (1998, 2005),
Pêcheux (1999) and Orlandi (1999). We also use contributions given by Bagno (2003, 2007), Faraco
(2007), Marcuschi (2004) and Possenti (2002, 2006) and others. Our analysis point for spreading of
prejudiced discourses practices in Orkut, as co-extension of practices encouraged in non-digital space,
though we could also see shyly flashes of discourses others in such practices.
O ‘internetês’ nada mais é do que uma espécie de taquigrafia. É apenas um modo de grafar a
língua que se tornou necessário nos chamados chats. Quando escrevemos, não conseguimos
acompanhar o ritmo da fala. Por isso, inventamos esses sistemas taquigráficos, estenográficos e
assemelhados. Foi exatamente o que aconteceu nas conversas na Internet (FARACO, 2007, p.
17).
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Dizemos supostamente porque é cediço que um usuário, seja ele idealizador ou não do tópico do/no fórum,
pode, sem quaisquer problemas, postar seus comentários, réplicas e tréplicas quantas vezes se lhes aprouver.
A hipótese inicial levantada neste trabalho, ao que nos parece, fora confirmada. O
preconceito linguístico de que é alvo o Internetês, conforme nos revela(ra)m os dados
observados, advém de um processo de constituição discursiva. De fato, a polêmica relação
estabelecida entre este e a Língua Portuguesa concebida em sua modalidade culta se origina e
se sustenta via discurso.
No centro deste embate, encontra-se o internetês, modalidade de linguagem que, por
se distanciar em muitos aspectos da língua portuguesa tomada em sua matriz tradicional
vinculada a norma culta padrão e aos extensos compêndios normativos gramaticais, figura
como vilão, como desertor da língua. Essa visão é insidiosamente sustentada por discursos
institucionalizados, sobretudo o escolar (BAGNO, 2003, 2007; POSSENTI, 2006); discurso
secular, fruto de uma vontade de verdade (FOUCAULT, 2005) que dá mostras de sua força
ainda hoje. Os apelos dos que dizem “odiar o internetês” ou que o acusam a ele ─ e logo aos
Referências
Recebido em 24/10/2010.
Aprovado em 09/12/2010.