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F o t ó gr a f o s V i a j a n t e s

& viagens de fotógrafos *

“O viajante, no seu movimento incessante, vê tudo à distância.

* Ainda para ti, passeante dilecto no mundo.


António Julio Duarte / Caio Reisewitz / Cristina Ataíde / Silhuetas recortadas contra a paisagem. Imagens arquitectur-
Marcelo Moscheta / Mariana Viegas / Ynaiê Dawson ais se destacando no horizonte. Pessoas e lugares que pretende
encontrar depois da próxima curva. A viagem é produção de
simulacros, de um mundo puramente espectral erguido à beira
curadoria de Fátima Lambert da estrada.” 1

“Será que o drama contemporâneo não vem do fato de que o


desejo de errância tende a ressurgir como substituição, ou con-
tra o compromisso de residência que prevaleceu durante toda
Plataforma Revólver - Lisboa - 29 de setembro a10 de novembro 2011 a modernidade?” 2

Em registo fotográfico, presentificam-se as imagens de existências, encenações e/ou simulacros com tópicos de genuinidade. Assim se demonstram subjectividades de autores nos territórios
estéticos da fotografia.
Numa fotografia, supostamente, congela-se o tempo e o espaço. Congelam-se as figuras individuadas no tempo pois deixam de ser pessoas e talvez sejam, transitoriamente, personagens. Estas
localizam-se ou ausentam-se, consoante os casos e as estratégias estéticas dos autores. Inequívoca é a decisória presença do fotógrafo-viajante, aquele que concretiza acto e obra. Não é verdade?
“Em minha opinião, não há nenhum [caminho] mais atraente do que andar no encalço das próprias ideias, tal como o caçador persegue a caça, sem procurar manter um dado caminho.” 3
O próprio fotógrafo-viajante torna-se visível – em proposição de auto-retrato – ou oculto, consoante sua intencionalidade ou desejo. Mas é a sua afirmação de sujeito/agente artístico que deter-
mina a produção das fotografias que o “antecedem”, o estimulam e o acompanham a posteriori. Através do seu acto, que concebe e concretiza obra, mantém laços com as imagens fotográficas,
conferindo-lhes – ad simultaneum – autonomia e projecção. Os fotógrafos-viajantes cativam pessoas e lugares, convertendo-os, respectivamente, em figuras/personagens e em paisagens.
“A paisagem não se entrega. O que você vê não se fotografa.” 4
As paisagens, com alguma frequência, correspondem a tempos de respiração, quer do pensamento, quer da acção/actividade do fotógrafo. O ritmo da viagem decide os intervalos na paisagem,
as consequências de sobrevivência de ideias ou de substâncias. Fragmentos, parcelas ou secções presidem às escolhas espontâneas ou morosamente destinadas pelo autor em jornadas, camin-
hadas e transportando-se. O veículo em que desloca condiciona o ritmo da captação de imagens; os momentos em que dispõe uma paragem ou a continuidade do seu movimento. As tomadas
de vistas são distantes, conforme o viajante as realiza enquanto condutor de um automóvel (p.ex.) ou não. Assim, está-se perante tomadas de vista com ponto de fuga numa estrada ou encarada
na lateral, esperando aquilo que se vai descortinando. Se a deslocação ocorre num comboio, a ambiguidade relativa entre a paisagem (aparentemente em movimento) e a ilusão hierática do via-
jante, gera imagens de uma cativação insustentável e precária. A paisagem que é consequente da mobilidade da viagem anatomofisiológica assume pressupostos diferenciados de uma viagem
de indexação psicofisiológica…e assim por diante. A viagem preenche, recheia ou esvai a paisagem, propiciando uma reentrado no si mesmo do fotógrafo-viajante:
“A paisagem em volta esvaziada de sentido, reflectindo-se nos meus olhos, brotava dentro de mim…” 5
Definitivamente as pessoas alocam-se a lugares – mesmo que estes se possam configurar, teoricamente, enquanto “não-lugares” (seguindo Marc Augé) e, consequentemente, os espaços efec-
tivos transcendem o tempo real, expandindo-se e adquirindo uma simbologia transfiguradora – independentemente de seu índice ou percentualidade documental.
“Julgamos que nos libertamos dos lugares que deixamos para trás de nós. Mas o tempo não é o espaço e é o passado que está diante de nós.
Deixá-lo não nos distancia. Todos os dias vamos ao encontro daquilo de que fugimos.” 6
Seja um deambulador, flâneur, Wanderer, peregrino, caminhante… et allie… uma qualquer, entre as distintas tipologias de viajantes…os fotógrafos asseguram para nós a autenticidade, tanto
quanto nos garantem uma gestante ilusão. Marcam, estipulam ou estabelecem com rigor – que pode oscilar entre o topográfico e o metafísico - lugares e territórios específicos, onde as con-
fluências de imaginário e real definem o humano, onde paisagem e natureza entrelaçam vidas.
“Dans un voyage, on évolue, on change, on se transforme. Et souvent, on rentre et tout est annulé par le retour.” 7
Agosto de António Júlio Duarte resultou de um percurso, curiosamente, desenvolvido em Portugal, se atendermos às latitudes e longitudes das viagens do autor que, com maior frequência, o
conduzem pelo Oriente e aí o estabilizam por períodos de duração significativa.
“O vazio “em si” e em conotações, o “nada”, o branco, o espaço em branco, o silêncio, a pedra, a impossibilidade, a solitude, o desconhecido, as potencialidades, etc.
e seus valores criativos na filosofia e na estética do extremo oriente (e comparativamente, alhures).” 8
O display em dípticos orienta o meu olhar as dicotomias, ambiguidades e/ou consolidações, evidenciáveis durante uma viagem. A força de um rosto, a morfologia de elementos afastados ou
próximos ao espectador propiciam um jogo quase de cena (parafraseando o título do filme de Eduardo Coutinho). Entenda-se, a flexibilidade manifesta no acto de recepção estética, gerida pela
efabulação perceptiva-afectiva-conceptual, pertença de cada um, exercendo sua identidade pessoal sobre o produto de artístico de outrem - interpretação falar-se-á, mas não apenas…Assim,
sabe-se que a definição imaginal de díptico conduz a um “diálogo do visível”, parafraseando René Huyghe, pois o confronto de referenciais “identificados” (diferente de se saberem “reconhecidos”
ou “parecidos”) é pura sedução e volúpia para as relacionalidades ressaltarem. As notas identitárias patentes em cada uma das unidades que constituem os 15 dípticos abordam elementos visu-
ais que cativaram pessoas, objetos, fragmentos de paisagem; oscilando entre o afastamento do “alvo” fotografado e sua proximidade; propondo reconhecimentos ou conduzindo para equivoci-
dades percetivas visuais, ricas em pensamento e afeto. É inevitável a emergência de certa avidez para “reconhecer”, de buscar o parecido dentro dessa caixa de memória (desse arquivo mental/
imagético) que cada espectador transporta em si; é acto intuitivo, semi-inconsciente e/ou implícito na “apropriação estética” que advém das fotografias enquanto tal.
A vasta obra de fotografia de Caio Reisewitz organiza-se em séries específicas, refletindo uma identidade documental que se apropria da paisagem, plasmando-a em imensidão que estreita
a alma do autor com os espectadores. A dimensão sublime que se desprende de suas fotografias é de uma evidência subjetivante e, em simultâneo, glosando os parâmetros conceituais que
Kant, depois de Edmund Burke, soube definir. Sublime dinâmico e sublime grandioso (ou matemático) pontuam, nalguns casos uma mesma imagem, noutros um privilegia e expande-se sobre
o outro. Mamangua enfrenta aquele que vê e sabe contemplar, demorando-se na paisagem adentro. À semelhança de outras séries do fotógrafo, o elemento| matéria dominante é a água,
estabilizando o recorte, na vegetação, através de uma afirmação “terra” que nos lembra as reflexões sobre a imaginação poética desenvolvida por Gaston Bachelard. Mas a dominante, no caso
da fotografia de grande formato, presente nesta mostra é a água. A água tranquila e parada que não se confunde com estagnação numa acepção castradora ou à qual esteja arredada a vida
pulsátil. Seria impossível não associar as significações matriciais que, com frequência, reverberam no respeitante a este elemento (em termos cosmogónicos e cosmológicos). Mas, a imagem
ultrapassa mais e mais, assegurando uma experiência estética única para cada um, quanto sabemos seja um dos tópicos adstritos a definição de sublime. A presença do espetador ausenta-se
num mundo onde evanescência e lucidez são cúmplices; onde a dimensão estética, a artisticidade é a efetividade imprescindível de uma natureza consciente e em causa sócio-cultural. A cor-
renteza que se queda muda, expondo em visbilidade o silêncio, atinge o âmago de uma memória circular filogenética, quanto também ontogenética. O espelho de água absorveu a ausência
ou a presença do humano, desde os tempos primordiais: nós ficamos nesse tempo de suspensão, interpelados e vigiando para que o mundo seja um Cosmos ordenado e redimido de ações
irreversíveis.
continua na pág seguinte

notas de rodapé António Julio Duarte -www.antoniojulioduarte.com


1. Nelson Brissac Peixoto – “Miragens”, Cenários em ruínas – a realidade imaginária contemporânea, Lisboa, Gradiva, 2010, p.137 Nasceu em Lisboa (Portugal), 1965. Vive e trabalha em Lisboa
2. Michel Maffesoli, Sobre o Nomadismo, Rio de Janeiro, Record, 2001, pp.23-24
3. Xavier de Meistre, Viagem à roda do meu quarto, Lisboa, & etc, 2002, p.25 Caio Reisewitz www.lucianabritogaleria.com.br
4. Bernardo de Carvalho, Mongólia, São Paulo, Companhia das Letras, 2003, p.41, p.115 Nasceu em São Paulo (Brasil), 1967. Vive e trabalha em São Paulo
5. Yukio Mishima, O templo dourado, Lisboa, Assírio & Alvim, 1985, p.148
6. Carlos Drummond de Andrade – “Mãos dadas”, Antologia Poética, Lisboa, Dom Quixote, 2002, p.149 Cristina Ataíde - www.cristinataide.com
7. Raymond Depardon, Errance, Paris, Seuil, 2000, p.56. Nasceu em Viseu (Portugal), 1951. Vive e trabalha em Lisboa
8. Pedro Xisto – Lumes, uma antologia de Haikais, SP, Berlendis & Vertecchia, 2007, p.17
9. Bernardo de Carvalho, Mongólia, São Paulo, Companhia das Letras, 2003, p.41, p.115 Marcelo Moscheta - www.marcelomoscheta.art.br
10. Mariana Viegas, excerto inédito, Agosto 2011. Nasceu em São José do Rio Preto (Brasil), 1976. Vive e trabalha em Campinas
11. Idem, ibidem
12. “Nesse contexto, a fotografia é tida não como representação, mas sim expressão. Expressão da multiplicidade de sensações ou intensi- Mariana Viegas - www.marianaviegas.com
dades de um sujeito, expressão de uma paisagem interior que encontra-se em constante processo de transformação, sempre a (re)criar-se a Nasceu em Lisboa (Portugal), 1969 . Vive e trabalha em Lisboa e Berlim
partir do apre(e)nder as forças das paisagens.” Ynaiê Dawson, excerto inédito, Julho 2011.
13. Rêves d’errances - Pierre Givodan in Raymond Dépardon, Errance, Paris, Seuil, 2000, p.181. Ynaiê Dawson - www.ynaiedawson.blogspot.com
14. João Guimarães Rosa - A terceira margem do rio, Primeiras Estórias, Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, (1962), 2004, p.80 Nasceu em São Paulo (Brasil), 1979. Vive e trabalha em Londres e Rio de Janeiro

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António Julio Duarte My Unknown friends, todas as presentificações pessoais que Cristina Ataíde cativou durante uma de suas muitas per-
manências na Índia, foca-se na complementaridade intrínseca do que sejam as diferentes componentes constitutivas de
“fotografar” e “fotografia”. Em locais específicos, dentro de um cenário que é o real envolvente em sua potência extrema, a
artista fotografou aqueles que exerciam seu acto de fotografar outrem e, por outro lado, tornou os “anónimos” em sujeitos
identificados na sua pose convertendo-os em retratados. O retrato passa a alojar um sujeito, estando comprometido - ele
mesmo e precisamente - por relação de sujeito: implica um sujeito suposto, por referência a si. O sujeito do retrato é o sujeito
que é o próprio retrato. No caso de uma das sequências da série de
Cristina Ataíde, verifica-se existir um desdobramento, pois a artista Marcelo Moscheta
fotografa aqueles que exercendo o ato de fotografar…; propiciando
e expandindo concatenações intersujetivas entre retratados, retra-
tos e aqueles que retratam (que concebem e autorizam o retrato…).
Tal afirmação não equivale àquilo que possa ser “tachado” de exces-
Sem título, da série Agosto, Portugal, 2000, fotografia, provas de cor so subjetivado. Não, ao que me refiro é à inevitabilidade. A fotografia
cromogénea 20X20 cm (cada) - Cortesia Módulo - Centro Difusor de Arte Lisboa é soberana, decide, alimentando-se e consubstancializando-se no
domínio da inevitabilidade. O sujeito no retrato que fica da pais-
agem, lembrando Bernardo de Carvalho que assinalou:
“Você não está procurando um lugar. Está procurando uma pessoa.” 9
Em 2009, Marcelo Moscheta desenvolveu uma residência artística em Cerveira (norte de Portugal). Daí resultaram diferentes
séries de trabalhos, posteriormente concretizados, entre os quais os registos fotográficos emancipados, subsumados na séria
Tracked Pictures. Nas imediações da casa onde ficou alojado, o artista brasileiro foi pesquisando pormenores, detalhes e deles to-
mou posse. Daí resultaram imagens fotográficas, reveladoras de uma cúmplice proximidade que o próprio sabia encontrar e que
os demais tomam como lugar inominado e não-reconhecido, atendendo à subtil decisão de tomada de vista, enquadramento
e intencionalidade. As imagens, tomadas por um dispositivo digital foram trabalhadas a posteriori. A sequência de intervenções Da série Tracked pictures (crvr 002), 2009-2011, fotografia,
39,5X53cm
mínimas, que o fotógrafo realizou, traduziu-se em séries gráficas, de quase equações encriptadas, espécie de relato dos procedi-
mentos para quem saiba decifrar essa “escrita” que ladeia a fotografia, uma a uma.
Moscheta, de forma rigorosa, tem pretendido marcar as coordenadas de locais que regista ou de onde desloca materiais, através de códigos GPS.
Caio Reisewitz
Esse método equivale a opções estéticas, de pensamento artístico que direcionam para a realização de ações a converter finalmente em obra. O
bucolismo destes excertos de paisagem que de estranha lhe passou a ser familiar, progride numa acepção de viagem que sedentariza transitoria-
mente o autor a um lugar de destino. O questionamento do que se entende seja a duração na transitoriedade semântica e pragmática da viagem,
coincidem numa experiência prolongada na resistência da obra fotográfica. Tempos distintos cohabitam e as memórias antecipam-se no ato de
virem a ser, não devendo confundir-se com “lembranças”. Os locais de paisagem dentro das fotografias de Moscheta podem ser seguidos por nós,
numa busca intermedial entre algo é remetido para um destinatário e a possibilidade deste fazer o rastreio progressivo da sua localização até ao
momento em que o irá receber…
Mariana Viegas desenvolve presentemente um projeto de pesquisa que concilia literatura e fotografia, ganhando corporalidade através do display
das suas peças. A partir de Walden ou a Vida nos Bosques, de Henry David Thoreau… O livro foi escrito quando o autor americano - de vocação tran-
scendentalista – passou a habitar uma cabana em Walden Pond (Massachusetts) abandonando a cidade onde vivia. Esta tensão para a transição,
envolve a condição de viagem. Tanto efetiva deslocação, pois trasladação de sua pessoa para assumir “uma vida nos bosques”, com todas as conse-
quências daí advindas, que recordam as tradições ingenuista e utopistas, desde o Emile de Rousseau até às ideologizações de Taine, Proudhon…
propugnando uma estética doutrinária de cariz sociológico utópico e operativo…permitindo-me certas extrapolações. Essa densidade da escrita
decisória que domina a vida, num quotidiano que não é destino de viagem mas é, por deliberação, uma permanência, desdobram-se um dos scrolls
O livro representa a paisagem ideal – interpretada conceptualmente como um lugar que encontramos quando nos focamos no que temos diante dos
nossos olhos: o tempo presente – representando para mim, desta forma, o momento fotográfico.O processo de trabalho combina a leitura do texto com a
experiencia da natureza que se encontra na vida de todos os dias. Neste contexto serão realizadas fotografias de um lugar nas imediações da Arrábida que
Mamanguá, 2007, c-print sobre diasec, tenho vindo a fotografar ao longo dos anos e outras, no lugar onde vivo actualmente.10 A artista procura transpor em imagens as vivências narradas pelo
240X190cm escritor, interrelacionando-as às suas experiências pessoais, transcrevendo excertos, “compostos a partir do original mas apresentando pequenas fissuras
que provocam uma nova leitura do mesmo, abrindo a leitura para uma realidade actual e mundana.11
Nos apontamentos alusivos à Ynaiê Dawson na Série Linhas de Passagem, a fotógrafa refere:
Interessa-me a idéia da viagem como processo, como metáfora da própria vida, um trilhar de caminhos sem destino certo, em Mariana Viegas
busca de (auto-)conhecimento. Não importa aqui de onde se partiu e com que destino, importa apenas o estar ‘entre’. O que
se descobre ou se revela ao longo desse ‘caminhar’, contínuo interseccionar das paisagens interior e exterior, contínuo fluxo de
sensações a nos tomar conta da alma? A fotografia, em si mesma sempre um ‘entre’ – pressupõe um antes e um depois, temporal
e espacial – e que por excelência conserva, busca aqui conservar apenas o desejo latente que desencadeou a produção de cada
imagem e que continua latente nela, sempre se transformando, renovando, devindo desejo a cada vez que se estabelece um novo
contacto entre as fotografias e um sujeito.12
Cristina Ataíde A concatenação de imagens fotográficas apresentadas, gerem inter-
valos que correspondem a etapas de jornadas empreendidas pela
artista nos 2 últimos anos. Paralelamente a um trabalho académica
em decurso, as viagens verificavam-se imprescindíveis.
As reflexões que Ynaiê Dawson procurou em autores emblemáticos
da filosofia, sociologia, estética e literatura precisavam seu espelha- Da série Walden, 2011 , díptico imagem/texto, 150x380cm
mento nos atos de conceber as viagens e, obvio, de as concretizar.
[De várias conversas com Ynaiê, por motivos de sua investigação, surgiu precisamente a proposta, que me foi endereçada, para que
esta curadoria fosse delineada.]
Atendendo à história e estética da fotografia no séc. XX, depara-se com casos paradigmáticos de fotógrafos que desenvolveram
viagens, com um ritmo quase compulsivo, sendo os produtos de suas deslocações, permanências e trânsito consubstancializados
em fotografias incomparáveis.
Entre os muitos autores que se poderiam mencionar, reduziria a citação a Raymond Depardon, Bernard Plossu, Luc Delahaye…
Com frequência os fotógrafos publicam livros com imagens fotográficas associadas a narrativas e/ou reflexões aprofundadas sobre
os seus projetos, permitindo assim a um público mais vasto o conhecimento de suas fundamentações, ideias e realizações em obra.
My unknown friends #1, 2011, fotografia impressão Lambda, “La quête du « lieu acceptable » est la quête du « moi acceptable ». C’est à dire d’une vie assumée comme sienne. L’homme qui s’exprime
50X70cm ainsi est un voyageur, un nomade, un photographe, un cinéaste etc. Mais d’abord un individu qui se cherche et qui ne trouve pas. Ou
plutôt qui définit un angle, un cadre, un sujet (la route), une perspective, celle du chemin justement.” 13
A busca de lugares, passíveis de serem denominados, quanto eventualmente “reconhecidos” pela vida do espectador, quase se pro-
jecta naqueles lugares (aparentemente) anónimos, propostos pelo fotógrafo. Promovendo extrapolações geográficas que galgam Ynaiê Dawson
países e regiões…o “exotismo” adentro de uma paisagem portuguesa ou de uma qualquer e outra radicação, providencia, trans-
forma e concretiza, de modo intenso, a ânsia de viagem de e para um público – doseando ou expandindo seus desejos ou demandas.
Ou seja, e podendo aplicar-se a uma certa teorização da (por assim a designar) acção dos fotógrafos-viajantes, entendo como um dos
denominadores comuns entre os 6 casos patentes (e em muitos outros que poderia referir) a constatação de certa gula de imagens
em devir, convertidas em potenciais alvos de fixação por parte de um fotógrafo-autor.
Ao longo do friso imaginário que – para mim – o ver os dítpticos implica, confrontam-se aproximações e afastamentos, detalhes,
pormenores e dissidências antropológicas e societárias que a poiésis subjacente, sabe ser coerente…, pois a vida, o mundo se con-
stituem a partir de dissemelhanças, de similitudes, de ausências ontológicas mesmo quando todo aquele “material” que se converte
em visibilidade aparentemente expandida, cujos conteúdos semânticos viabilizam campos perceptivos e argumentativos infindos.
A decisão de “enxergar” na imagem fotográfica determinado fragmento do suposto “real” surge conotado com a circunstância do
artista (lembre-se Ortega y Gasset). Talvez quando se viaja, se permaneça no mesmo “lugar”, pensando com Guimarães Rosa:
“Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio,
sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais.” 14
Mª de Fátima Lambert Da série Linhas de Passagem, 2010, fotografia impressão
c-type, 40X60cm
RJ | BR, Agosto, Setembro 2011
(vide notas na pág anterior)

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