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O mais influente jurista desta primeira fase do humanismo foi o italiano Andrea Alciato
(Alciatus). Ele era trinta anos mais jovem do que Zazius mas publicou três pequenas
obras, que fizeram seu nome, no mesmo ano da obra deste. Foi a Paradoxa (que
expunha objeções a opiniões recebidas) que teve o maior impacto. Nascido em Milão,
Alciatus estudou direito em Pavia sob os mestres do método bartolista, Jason de
Mayno e Filippus Decius, mas ao mesmo tempo foi tomado de entusiasmo pela
atraente doutrina humanista. Ele propôs a si mesmo a tarefa de combinar estudos
jurídicos e humanistas, começando pela reconstrução das instituições políticas
romanas, não apenas sob um ponto de vista histórico, mas também jurídico.
Alciatus ensinou em Avignon de 1518 a 1522 e introduziu a nova abordagem na
França, onde foi aceita com entusiasmo e ficou conhecida como mos gallicus, em
contraste com a tradicional abordagem bartolista, agora denominada mos itallicus. A
partir de 1529 Alciatus ensinou em Bourges, que se tornou o principal centro do
humanismo. Bourges era um baluarte huguenote e quase todos os humanistas
franceses proeminentes eram protestantes. De fato o movimento se enfraqueceu
seriamente após o massacre de São Bartolomeu em 1573, quando muitas de suas
figuras proeminentes foram assassinadas. Há um claro paralelo entre seu pensamento
jurídico e teológico. Da mesma maneira que os reformadores da Igreja contestavam a
autoridade dos clérigos e propunham um retorno à palavra pura das sagradas
escrituras, também os juristas humanistas queriam fazer reviver o verdadeiro direito
de Justiniano, recorrendo à pureza das palavras de seus textos.
O maior humanista crítico dos textos foi Jacques Cujas (Cujacius). Ele reconheceu a
importância do manuscrito florentino, mas percebeu que não se devia simplesmente
seguir a interpretação do melhor manuscrito disponível; diversamente, devia-se ter em
conta a conclusão à qual essa interpretação levava e considerar se, em todas as
circunstâncias, o jurista romano em questão provavelmente teria escrito isso. Para
Cujacius isso significava contrastar a leitura do manuscrito com a ratio iuris, ou o
princípio por trás da norma. Para lograr fazer isto, era necessário ter tanto um
conhecimento jurídico enciclopédico dos textos do Corpus Iuris, quanto dos estudos
humanísticos sobre a literatura antiga. Cujacius foi insuperável neste sentido e seus
trabalhos são ainda citados na interpretação dos textos justinianeus. Ele e seus colegas
iniciaram o estudo de interpolações nos textos do Digesto.
Tanto a crítica humanista aos textos de direito romano quanto sua ênfase no
relacionamento entre o direito romano e a sociedade romana antiga minaram a
veneração a que Corpus Iuris Civilis estivera sujeito. A maioria dos humanistas
reconheceu que, para se chegar a soluções racionais e equitativas sobre problemas
perenes, o trabalho dos juristas romanos não tem rival. Eles se sentiam livres, porém,
pela primeira vez, para criticar a forma como essas disposições eram transmitidas. As
dificuldades para se descobrir o que era o antigo direito romano haviam se agravado
pela forma obscura na qual os textos do Corpus Iuris estavam organizados. Nem o
Digesto nem o Codex possuíam uma ordem racional e eles continham muitas
repetições e antinomias. O resultado era que havia muito espaço para interpretações
contraditórias e, na mente dos simples cidadãos, os juristas do direito civil adquiriram
uma reputação derivada dos complexos argumentos que utilizava, os quais serviam
como um convite à chicania.