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A epistemologia do ensino da arte frente

aos parâmetros curriculares nacionais:


confluências e oposições conceituais

Art education epistemology and the


national guidelines: confluences and
conceptual oppositions

Carolina Betioli Ribeiro FISCH*

Resumo: O presente trabalho apresenta um panorama das correntes teóricas do Ensino


da Arte e propõe uma reflexão sobre as confluências e oposições entre as mesmas, com
o objetivo de oferecer subsídios para análise da posição epistemológica dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte. Concluiu-se que o documento, apesar de oferecer uma
proposta muito abrangente e buscar resgatar os conhecimentos específicos da área,
apresenta ao longo do texto de fundamentação trechos nos quais se entrecruzam noções
com bases teóricas diferenciadas ou mesmo incompatíveis. Assim, ficam comprometi-
das a coerência e a finalidade de oferecer ao professor de arte fundamentos teóricos
sólidos para embasarem sua prática pedagógica.

Palavras-chave: arte-educação. epistemologia. parâmetros curriculares nacionais - Arte.

Abstract: This article presents the scenario of Art Education theoretical guidelines and
proposes a reflection about the confluences and oppositions among the guidelines. This
is done in order to offer subsidies to the analyses of the epistemological position of the
National Guidelines. Despite the fact that the article offers a comprehensive approach
and an attempt to recover specific knowledge of the area it presents throughout the
theoretical material sections in which notions with differentiated or even incompatible
theories are linked. Thus, coherence and the aim of offering a solid theoretical basis so
that art teachers can inform their practice is affected.

Keywords: art education. epistemology. National Guidelines.

*
Licenciada em Educação Artística e Bacharel em Artes Plásticas. Email:
carolbetioli@gmail.com

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006. 159


INTRODUÇÃO dos documentos para a realidade, tan-
to por razões históricas - amplamente
O Ensino da Arte1, no Brasil, en- abordadas por Barbosa (2002c) -
contra-se em situação vergonhosa. A quanto por questões práticas,
prática em sala de aula mostra que o observáveis no dia-a-dia da sala de
professor que ensina Arte – que de- aula.
nominamos hoje Arte-Educador – não Os Parâmetros Curriculares Naci-
possui convicções teóricas que pos- onais – documento federal que teve
sam embasar sua prática educacional, sua última versão publicada em 1998
o que traz conseqüências funestas – foram formulados com o intuito de
para a área (BARBOSA, 2002a). regulamentar a prática educacional de
Podemos destacar como princi- professores de todas as áreas
pais conseqüências negativas da fal- curriculares, do ensino fundamental
ta de embasamento teórico de profes- ao médio. Através de suas suges-
sores de Arte na prática educacional: tões2, formuladas a partir de biblio-
a falta de clareza em relação aos obje- grafia especializada e atualizada em
tivos do ensino da Arte na escola (que cada área por teóricos conceituados
benefícios traz ao educando) e, con- pela comunidade científica em Edu-
seqüentemente, o desenvolvimento cação, os educadores têm a oportuni-
de atividades sem objetivos definidos dade de fundamentar sua prática pe-
(ALMEIDA, 2001). dagógica, buscando uma melhor qua-
A área, que foi considerada desde lidade de ensino. O documento reco-
sempre como componente curricular nhece que há falta de fundamentação
de menor importância perante outras teórica por parte dos Arte-Educado-
matérias de maior “peso” por alunos, res e, portanto, a
professores das demais áreas e até necessidade de estabelecimento de um
pelos próprios Arte-Educadores, hoje, quadro de referências conceituais soli-
através de documentos federais (os damente fundamentado dentro do cur-
quais serão abordados mais adiante rículo escolar, focalizando a especi-
no presente trabalho) é considerada ficidade da área e definindo seus con-
como essencial na formação plena do tornos com base nas características ine-
rentes ao fenômeno artístico (BRA-
indivíduo.
SIL, 1998, p.22).
No entanto, observa-se através de
pesquisas na área que tais consta- O documento se apresenta como
tações raramente extrapolam as linhas uma opção para a solução do proble-

1
Neste texto, o termo “arte” apresenta-se grafado com letra minúscula quando se refere à
área do conhecimento humano, e com maiúscula quando essa área é componente curricular.
2
Designamos como sugestões as constatações dos Parâmetros Curriculares Nacionais por
sua aplicação não ser obrigatória no ensino.

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ma da ausência de referências a importância do Ensino da Arte na
conceituais de professores de todas Educação, de acordo com os referi-
as áreas. Porém, no caso específico dos Parâmetros Curriculares?
do Ensino da Arte, objeto deste tra- Diante disso, percebemos a neces-
balho, tanto na rede pública de ensi- sidade de refletirmos a respeito da(s)
no, quanto na rede privada, as propo- linha(s) teórica(s) de Arte-Educação
sições apresentadas pelos PCN/Arte3 adotada(s) no documento. Para tan-
não se refletem na prática do Arte- to, procuraremos apresentar um pa-
Educador: “... os PCN estão resultan- norama epistemológico do Ensino da
do muito pouco. (...) No Brasil, como Arte para que, a partir desta síntese
vemos, nem a mera obrigatoriedade de idéias, possamos ter parâmetros de
nem o reconhecimento da necessida- diálogo entre as principais teorias que
de são suficientes para garantir a exis- podem ser encontradas nos PCN.
tência da Arte no currículo”. (BAR- Nessa reflexão, consideramos as
BOSA, p. 14, 2002a). concepções de ensino de Arte
Focando o presente trabalho nos especificadas a seguir como pré-ca-
professores do Ensino Fundamental tegorias de análise. Entendemos as
(5ª a 8ª Série) da Rede Pública Estadu- categorias, como propõe Gomes
al de Ensino, sabemos que o referido (1994), como ferramentas para esta-
material (PCN/Arte), teoricamente4, belecer classificações, ou seja: “agru-
encontra-se disponível em todas as par elementos, idéias ou expressões
U.E. (Unidades de Ensino) da rede em torno de um conceito capaz de
pública para eventuais consultas, abranger tudo isso” (p. 70). No caso
além de ser amplamente utilizado em de nossa investigação, os conceitos
reuniões pedagógicas e capacitações em questão seriam as concepções de
de professores. A partir desse con- ensino de Arte mais relevantes no
texto, nos perguntamos por que, ten- meio educacional.
do disponível tal material teórico, pro-
fessores não se pautam nos PCN/Arte MATERIALE MÉTODO
para estabelecer seus objetivos edu-
cacionais, e por que não utilizam o Através de pesquisa bibliográfica
documento para determinar suas con- e conseqüente diálogo promovido en-
vicções sobre em qual corrente ideo- tre diversas propostas de classifica-
lógica se encontram inseridos. Con- ções das concepções do ensino da
seqüentemente, nos indagamos: qual Arte, determinamos algumas posições

3
Estaremos, a partir daqui, assim nos referindo aos Parâmetros Curriculares Nacionais/
Arte, 1998 – Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries.
4
Queremos dizer, com este termo, que esta é a informação oficial mas que, no entanto, não
podemos garantir que ocorra na prática.

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filosóficas que sintetizam as idéias dos DISCUSSÃO
autores consultados, explicitando nos-
so posicionamento frente a essas idéi- 1 CONTEXTUALISMO E
as e colocando nossa própria propos- ESSENCIALISMO
ta.
Cumpre ressaltar que, além de ha- A proposta de classificação das
ver inúmeras propostas metodológicas concepções de ensino de Arte em
no que concerne ao Ensino da Arte, a essencialista e contextualista é citada
maneira como tais propostas podem por vários pesquisadores da área de
ser classificadas entre si constitui, tam- Arte-Educação. Com isso, a teoria de
bém, um outro nível de classificação. Elliot Eisner se coloca como uma das
Assim, para podermos colocar tal con- mais importantes a serem considera-
fluência de idéias de forma organizada das no presente trabalho.
e apreensível ao leitor, optamos por ini- Elliot Eisner, um dos precursores
ciar o diálogo epistemológico pela clas- de DBAE5 (em Português, Arte-Edu-
sificação da classificação das concep- cação como Disciplina), programa
ções do ensino da Arte, a partir de Cas- desenvolvido nos Estados Unidos
tanho (1982) e, a seguir, explicitaremos pelo Getty Center for Education in the
as concepções de Ensino de Arte pro- Arts (California, EUA), propõe tal clas-
priamente ditas com base na divisão sificação do ensino da Arte. Eisner
proposta por Eisner (2002a). formulou essa divisão a partir das
Tal divisão se constrói a partir de posturas filosóficas postas no meio
pesquisas do Ensino de Arte nos Es- educacional dos Estados Unidos em
tados Unidos. No entanto consi- relação ao ensino da Arte. O autor
deramo-la apropriada para analisar- coloca a importância de se considerar
mos, também, o ensino de Arte no Bra- a Arte como disciplina tão importante
sil, pois teoricamente essas pesquisas como as demais no currículo, com
foram fundamentadas em pressupos- contornos próprios e conteúdos es-
tos construídos por autores reno- pecíficos a oferecer (EISNER, 2002b).
mados desse campo do saber e que Tal postura teórica se opõe à visão
são bastante citados em bibliografia da do ensino de Arte como mera experi-
área no Brasil e no mundo: o próprio mentação de materiais, momento de
Elliot Eisner, Rudolf Arnhein, Viktor relaxamento e/ou meio para se obter
Lowenfeld, Sir Herbert Read, John outros benefícios educacionais “ex-
Dewey, Ernest Gombrich, Pierre tra-arte”.
Francastel, Vincent Lanier, entre ou- Na divisão proposta por Eisner, a
tros. corrente contextualista se propõe a

5
Discipline-Based Art Education.

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utilizar a Arte como um meio para se certa forma considerada inferior, por
atingir objetivos instrumentais não di- estar ligada “à magia, à inspiração, à
retamente ligados à arte, mas sim às sensibilidade, um campo em que a
necessidades dos educandos (con- humanidade pode livrar-se da
texto psicológico) e da sociedade desumanização acarretada pelas ou-
(contexto social). Já a corrente tras atividades ‘sérias’” (CASTA-
essencialista entende que a arte edu- NHO, 1982, p. 71). Segundo a autora,
ca enquanto arte, trazendo benefíci- tal concepção de ensino utiliza como
os ao educando próprios e exclusi- práticas em sala de aula o desenvol-
vos da área (EISNER, 1972). vimento da auto-expressão do edu-
Para Castanho (1982), à época de cando, a preocupação com o desen-
sua pesquisa, a proposta de Eisner não volvimento das potencialidades e não
seria suficiente para englobar a diver- a formação de artistas, a valorização
sidade existente de concepções edu- do processo e não do produto artísti-
cacionais de ensino de Arte, por não co, e o desinteresse pelo desenvolvi-
explicitar os critérios que levaram o mento da apreciação artística. Tais
autor a essa classificação. Coloca ser práticas, no Brasil, sofrem forte influ-
a divisão contextualismo-essencia- ência da teoria de Viktor Lowenfeld,
lismo “falsa”, por não considerar o que autor que caracterizou, do ponto de
realmente importa para o educador, que vista da psicologia, os estágios regu-
seria “a maneira como a arte pode con- lares no desenvolvimento da expres-
tribuir, no que lhe é específico, para o são artística do ser humano.
desenvolvimento do comportamento A arte como informante do real
humano, em seus aspectos intelectu- seria a posição que vê a arte como for-
ais, emocionais, sociais, etc” (p.70). ma de conhecimento e, como tal, en-
Entendemos que, para a autora, o mais tende que ela deve ser incluída no âm-
relevante em uma possível classifica- bito educacional. Considera a existên-
ção das concepções de ensino da Arte cia de um pensamento plástico, que
seria deixar claro, através dela, as con- pode e deve ser desenvolvido como
tribuições que, dentro da perspectiva forma de explorar a realidade. Nessa
de tal ou tal opção, a Arte possa trazer concepção de ensino as convicções
ao educando em seu desenvolvimen- decorrentes seriam a valorização da
to enquanto indivíduo. Neste apreciação artística, a idéia de que a
contexto,Castanho apresenta sua pró- arte se ensina (não é um “dom”), a va-
pria proposta de classificação das cor- lorização da pesquisa em Arte-Educa-
rentes teóricas em arte como intuição ção e a proposta de desenvolvimento
sensível e como “informante” do real. de um pensamento visual (a partir da
A arte como intuição sensível teoria de Pierre Francastel).
seria a posição em que a arte é sepa- Almeida (2001), em seus estudos a
rada das outras formas de saber, de respeito das concepções e práticas ar-
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tísticas presentes na escola, cita as cando que as escolhas conceituais dos
concepções essencialista e contex- educadores acabam por definir suas
tualista de ensino. Afirma que a posi- práticas metodológicas.
ção contextualista é a mais comumente Compartilhamos a posição de Cas-
assumida por professores da educa- tanho (1982), ao entender que a divi-
ção infantil e básica, quando eles con- são proposta por Eisner não é sufici-
sideram a Arte como um fator de de- ente para englobar as opções con-
senvolvimento emocional e social dos ceituais existentes em Arte-Educação.
alunos. Cita Vincent Lanier como de- Ao admitirmos que tais posturas de-
fensor da concepção essencialista, terminam os objetivos metodo-lógi-
pois tal autor reafirma os benefícios que cos empregados na prática escolar,
o ensino da arte por si só traz à educa- observamos que muitas dessas práti-
ção. A autora se coloca apenas parci- cas possuem características
almente favorável à posição de Lanier, contextualistas e essencialistas.
ao afirmar que simpatiza mais com as Apesar de os demais autores cita-
idéias dos autores contextualistas, dos não se colocarem contra a propos-
pois, para estes, “o ensino das artes ta de Eisner, observamos que nenhum
na escola não deveria se preocupar deles utiliza as categorias propostas
apenas com o desenvolvimento das pelo referido teórico para classificar as
habilidades, conhecimentos e valores práticas educacionais analisadas em
exclusivos da área artística, mas tam- suas investigações. Além disso, ao uti-
bém com a formação geral dos alunos” lizarmos como base os três princípios
(ALMEIDA, 2001, p.13). Ao assumir de classificação para estabelecermos
uma postura diante da classificação de os conjuntos de categorias (GOMES,
Eisner (2002a), entendemos que a au- 1994, p. 72), estaríamos fugindo do prin-
tora não se opõe à mesma. cípio de que “as categorias do conjun-
Ao discorrer sobre os caminhos to devem ser mutuamente exclusivas,
metodológicos em Arte-Educação, ou seja, uma resposta não pode ser
Rizzi (2002, p. 65) também cita a classi- incluída em mais de uma categoria”.
ficação proposta por Eisner, ressaltan- A partir de todas essas conside-
do ser ele um dos autores de maior in- rações, apresentaremos a nova propos-
fluência no debate conceitual do ensi- ta de classificação das concepções do
no da arte. A autora afirma que adep- ensino da Arte dada por Elliot Eisner
tos dessa categoria “sempre debate- em The Arts and the creation of mind
ram e até mesmo brigaram a respeito (2002a). Cumpre ressaltar que não es-
da importância do ensino da Arte, seus taremos apresentando a classificação
objetivos e métodos de maneiras às da classificação dessas concepções,
vezes ainda sectária”. Rizzi (2002) se mas dispondo-as de forma inteligível
insere na discussão da epistemologia ao leitor sem organizá-las – ainda – em
que envolve o ensino da Arte, desta- categorias mais gerais, como seria o

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caso de classificá-las em essencialistas cada pelo autor, de que nem sempre os
ou contextualistas. No entanto, como propósitos de uma área são definidos
já havíamos informado no presente tex- por seus pares. É dado como exemplo
to, não consideramos tal opção o ensino da matemática, que pode aten-
satisfatória para categorizar as menci- der a diversos objetivos. Também op-
onadas concepções. ções diversas existem no ensino da
Não encontramos, em produções Arte, pois os objetivos educacionais
nacionais, citações de tal, obra pro- designados para a área podem variar
vavelmente por se tratar de publica- de acordo com o contexto sócio-histó-
ção bastante recente (2002) e, princi- rico em que forem analisados.
palmente, por ainda não haver uma Com isso, Eisner (2002a) se pro-
versão em Português. Tal proposta põe - além de se ater aos aspectos
configurou-se a partir de pesquisas cognitivos do Ensino da Arte - a des-
do autor feitas nos Estados Unidos; crever separadamente algumas das
mas, com as devidas adaptações, acre- visões de Arte-Educação de acordo
ditamos que possam se aplicar ao en- com seus objetivos, sem o intuito (de-
sino de Arte no Brasil, já que as teori- clarado) de estabelecer níveis de pre-
as do autor e as dos autores nos quais ferência entre elas.
se embasa já são referência para di- A seguir apresentamos nossa in-
versas obras aplicadas à Arte-Educa- terpretação das idéias expressas por
ção de nosso país, conforme já havía- Eisner, o que o autor chama de
mos ressaltado anteriormente no pre- “Visions and versions of Arts
sente texto. Education”, algo como Visões e ver-
sões da Arte-Educação. Paralelamen-
2 NOVA PROPOSTA DE ELLIOT te, estaremos colaborando com nos-
EISNER sa visão pessoal e inserindo informa-
ções que permitam ao leitor relacio-
Eisner coloca, em The Arts and the nar as informações apresentadas com
creation of mind (2002a), que o mais o Ensino de Arte no Brasil.
importante em qualquer campo de atu-
ação são as forças sociais que criam 2.1 DISCIPLINE-BASED ART
condições para que certos propósitos EDUCATION
sejam adequados a certos momentos.
Com isso entendemos que a importân- Esta visão, que em português se
cia dada a determinadas áreas do en- aproxima de Arte-educação como dis-
sino se altera, do ponto de vista polí- ciplina, busca desenvolver nos alu-
tico-educacional, de acordo com con- nos condições de adquirirem algumas
venções sociais e momentos históri- competências consideradas necessá-
cos em que se encontram. Com isso rias para terem uma performance de
fica claro o porquê da afirmação, colo- alta qualidade em Arte. De acordo com
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esta concepção, para que tais compe- va fazer com que o aluno seja capaz
tências sejam adquiridas, os alunos de decodificar os valores e idéias mas-
precisam desenvolver sofisticadas carados no que se pode chamar de
formas de pensar (2002a, p. 26). Essa cultura popular tão bem quanto nas
perspectiva de Ensino tem como ob- artes ditas “maiores”.
jetivos desenvolver a habilidade dos De acordo com esta concepção de
estudantes em criar e perceber a arte, ensino, aprender a ler as mensagens
e entender os contextos histórico e presentes em um texto visual (ima-
cultural em que as obras de arte se gem) é uma maneira de o indivíduo
inserem e se infiltrarem nas questões proteger seus direitos. A leitura de
filosóficas da estética. imagens pode proporcionar meios de
No Brasil, podemos considerar a ajudar a reverter situações de injusti-
Proposta Triangular de Ana Mae Bar- ça social, à medida que desvela os
bosa como uma precursora das idéias interesses que estão sendo privilegi-
do DBAE, uma vez que propõe o en- ados pelas imagens que nos cercam.
sino de Arte calcado na apreciação, Além disso, pode desenvolver a ca-
fruição e contextualização da arte, in- pacidade de usar a Arte como meio de
terligadas entre si (2002b). Tal propos- entendimento dos valores e condi-
ta, apresentada inicialmente pela au- ções de vida daqueles que vivem em
tora através do livro A imagem no situações culturais diversas.
Ensino da Arte, hoje se encontra bas- Tal perspectiva de ensino,
tante difundida no meio educacional. permeada pelo contexto social da arte,
No entanto, nem sempre está presen- permite o uso da mesma como meio
te na prática, configurando apenas para se compreender e desvelar códi-
uma “história documentada”. Ou seja, gos culturais diversos, promovendo
acontece apenas nos documentos dessa forma, a interpretação de signi-
escritos (EZPELETA; ROCKWELL, ficados como uma análise social e po-
1986), não correspondendo ao cotidi- lítica.
ano escolar “não documentado”. Podemos fazer uma ponte entre
tais idéias e as concepções mul-
2.2 VISUAL CULTURE ticulturais6 de ensino, as quais são
amplamente difundidas por
Tal concepção defende o uso da Mason7(2001). A autora coloca-se
Arte como promotora do entendimen- como contextualista, ao afirmar que o
to da “cultura visual”. Ou seja, objeti- Ensino da Arte deve contemplar di-

6
O multiculturalismo na escola pode ser entendido como “... a visão de que a variação
cultural deve ser representada e transmitida no sistema escolar para que as crianças aceitem-
na em qualquer sociedade” (MASON, 2001).
7
A autora revela que, atualmente, raramente utiliza o termo multiculturalismo por considerá-
lo ambíguo (p. 13).

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versos códigos culturais em sua apre- ser “encarado”, entendemos que as
sentação, promovendo o entendimen- oposições conceituais entre elas des-
to/aceitação da variação cultural atra- tacam-se no que diz respeito às ex-
vés da Educação. Assim, através da pectativas em relação à produção ar-
diversificação cultural do currículo de tística dos alunos. Enquanto, na pro-
Arte, pode-se detectar o eurocentrismo posta do DBAE, é exigida uma alta
presente nas suas concepções bem performance do aluno, na abordagem
como a parcialidade no estabelecimen- da Cultura Visual o processo crítico
to do que são as Artes “maiores”, pon- que envolve a produção artística é
do em questão os “princípios estéti- mais valorizado.
cos universais” (p. 12) pretensamente
existentes. 2.3 CREATIVE
Com isso, é posta abaixo a crença PROBLEMSOLVING
de que a “melhor” arte é aquela advinda
da expressão pessoal (herança das ar- Nesta perspectiva de ensino, a arte
tes de vanguarda), a “arte de ateliê”, é utilizada como ferramenta na “reso-
podendo-se incluir, ao conceito de arte, lução criativa de problemas8” no cam-
as artes populares, o folclore e as no- po do design. O autor cita como prin-
vas tecnologias. cipal exemplo desta concepção os
Pode-se, com isso, observar uma pressupostos da escola Bauhaus, que
clara oposição entre tais convicções e ofereceu um programa de estudos na
as propostas do DBAE, pois as habili- Alemanha,no período compreendido
dades tradicionais da arte, como o de- entre 1919 a 1930. Os objetivos dos
senho e a pintura, perdem seu lugar membros desta linha se pautavam no
privilegiado. Para Mason (2001, p, 13): uso da máquina como modelo para se
A arte-educação pós-moderna favo- criar uma estética “limpa”, exploran-
rece as abordagens contextualistas, do as características naturais dos
instrumentalistas, de fronteiras de materiais com os quais o designer tra-
cultura e interdisciplinar para o estu- balhava. A Bauhaus preparava e de-
do da arte; ela traz questões internas senvolvia em seus alunos condições
assim como externas para a discussão para que se tornassem “solucio-
da qualidade artística e não considera
nadores criativos de problemas”, sen-
a forma como único conteúdo da arte.
do as qualidades estéticas dos pro-
Ainda que tais abordagens pos- dutos criados consideradas muito
suam também pontos de confluência, importantes.
como a importância dada ao contexto O autor relata que tal perspectiva
histórico, político e social da arte na de ensino ainda possui seguidores
maneira como o objeto artístico deva

8
Do inglês “creative problemsolving”.

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nos Estados Unidos. No Brasil, a in- Cumpre ressaltar que a confluên-
fluência da escola Bauhaus não é di- cia de pressupostos entre a Bauhaus
retamente observada. No entanto, e as concepções de Desenho difun-
podemos destacar como tendo pon- didas por Rui Barbosa no Brasil resu-
tos em comum, com algumas ressal- me-se apenas na utilização do dese-
vas, as tendências educacionais do nho para fins industriais. A proposta
ensino de Arte difundidas por Rui da Bauhaus valorizava a criatividade
Barbosa em meados de 1882/83,os do aluno, possuindo cânones estéti-
quais revelam as influências do libe- cos próprios, enquanto Smith dava ao
ralismo e da revolução industrial na desenho geométrico status de base
política nacional (BARBOSA, 2002c). para a realização de qualquer dese-
Para Rui Barbosa, o Desenho9 de- nho, inclusive o artístico. Seu méto-
veria ter destaque no currículo secun- do de ensino consistia na apresenta-
dário e, especialmente, no primário. ção, pelo professor, de modelos e es-
Com o intuito de enriquecer economi- quemas para a realização de desenhos
camente o país através do desenvol- pelos alunos, sem que estes pudes-
vimento industrial, considerava que sem utilizar sua criatividade.
isso só seria possível através da edu-
cação técnica e artesanal do povo 2.4 CREATIVE SELF-EXPRESSION
(BARBOSA, 2002c, p. 44-45). Inspira-
do no modelo Americano de ensino Esta quarta visão da Arte-Educa-
da Arte, acreditava que a implantação ção, articulada por Viktor Lowenfed e
do Desenho na educação secundária Sir Herbert Read, se propõe a desen-
poderia render os mesmos frutos – a volver a arte através da auto-expres-
produção de bons desenhos de pro- são criativa do aluno. Os autores em
dutos industriais – obtidos nos Esta- questão formularam suas teorias em
dos Unidos. As medidas instituídas contrapartida ao sistema educacional
por Rui Barbosa contribuíram para a opressor existente no período da Se-
proliferação de Liceus de Artes e Ofí- gunda Guerra Mundial na Alemanha.
cios no Brasil, e as suas idéias sobre Ambos acreditam que maneiras de
Educação Artística – pautadas em expressão não são “ensináveis”, e que
Walter Smith – passaram a ser defen- qualquer tentativa de se oferecer téc-
didas como sustentáculo do progres- nicas ou padrões no ensino acaba
so, educando o povo para o trabalho produzindo inibições e frustrações à
industrial (BARBOSA, 2002c, p. 53). capacidade criadora. Tal perspectiva

9
O termo “desenho” apresenta-se grafado com letra minúscula quando se refere ao ato
genérico de desenhar, e com maiúscula quando se refere a um componente curricular.

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se pauta na psicologia, sofrendo in- educativa da experiência, enfatizando
fluências de Carl Jung e de Freud a sua importância no processo de
partir das visões de Read e Lowenfeld, aprendizagem (FUSARI; FERRAZ,
respectivamente. Os dois autores 2001, p. 36).
acreditam que os impulsos criativos Castanho (1982), ao discorrer a
encontram-se no inconsciente e que respeito da influência da obra de
é dever do professor, especialmente Lowenfeld no Brasil, atenta para o fato
do arte-educador, estimular seu de que o campo da arte-educação, por
afloramento sem, no entanto, interfe- ser de discussão científica ainda
rir no seu processo natural. A função incipiente10, pode sofrer mais facil-
do professor, nesse caso, seria aten- mente influências de construções te-
der, guiar, inspirar, dar apoio psicoló- óricas bem acabadas e, com isso, ga-
gico ao educando. nhar adeptos desavisados (CASTA-
Viktor Lowenfeld via a Arte como NHO, 1982, p. 82).
“meio para se compreender o desen- Apesar das visões de Bauhaus, e
volvimento individual em suas dife- Lowenfeld, e de Read e Dewey se pau-
rentes fases e como desenvolvimen- tarem na criatividade, apresentam
to da consciência estética e criadora abordagens totalmente distintas. En-
do indivíduo” (FUSARI e FERRAZ, quanto a primeira se foca na solução
2001, p. 38). Desenvolveu, através de de problemas práticos utilizando ma-
suas pesquisas, oito critérios para a teriais diversos, a segunda encoraja
classificação da criatividade. crianças a esculpir e pintar, buscando
No Brasil, a auto-expressão no extrair expressões criativas de suas
ensino da Arte ainda possui muitos experiências pessoais, incluindo suas
adeptos, sendo a mais enfatizada na fantasias infantis. A influência do pro-
educação escolar brasileira até a dé- fessor é mínima, com pouca ou ne-
cada de 90. Popularizou-se através nhuma atenção ao contexto histórico
do movimento conhecido por da arte. No entanto, uma idéia domi-
Escolanovismo ou Escola Nova, prin- nante nas duas abordagens é consi-
cipalmente a partir de 1930 (FUSARI, derar que a criança e sua arte se de-
FERRAZ, 2001). senvolvem muito mais de dentro para
John Dewey, um dos idealizadores fora do que de fora para dentro
da Escola Nova, representou, junta- (EISNER, 2002a, p.33).
mente com Lowenfeld e Read, influ- A crença, ainda muito difundida
ência marcante na transformação da no Brasil, na “virgindade expressiva”
prática do Ensino de Arte no Brasil. da criança, é altamente combatida por
Dewey alertava para a função alguns autores, em especial por Ana

10
À época de sua pesquisa – 1982 – tais discussões eram ainda mais escassas do que
atualmente, e a Arte ainda não era considerada área do saber e sim “atividade escolar”.

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Mae Barbosa. A autora afirma ser a ção para o trabalho é a mais persuasi-
contextualização da obra de Arte ex- va existente, com o argumento de que
tremamente importante, principalmen- a experiência estética pode ser de al-
te por combater a idéia de os cânones guma valia, porém há meios de ser
artísticos serem neutros. Afirma ain- assegurada fora da escola. Já a pre-
da que a criança, mesmo não escola- paração para o trabalho é algo que
rizada, possui juízos de valor forma- será um dia necessário a todo estu-
dos a partir de sua criação familiar, dante.
pelos meios de comunicação a que
tem acesso e pela cultura local. Sen- 2.6 THE ARTS AND COGNITIVE
do assim, a orientação estética do pro- DEVELOPMENT
fessor de Arte não estaria, de forma
alguma, violando seu pretenso poten- Esta visão enfatiza as conseqüên-
cial criador puro de influências, pois cias cognitivas do trabalho com Arte,
este não existe. ao acreditar que contribui no desen-
volvimento de complexas e sutis for-
2.5 ART EDUCATION AS mas de pensamento. Ironicamente,
PREPARATION FOR THE WORLD segundo Eisner (2002a), nem sempre
OF WORK a Arte esteve ligada à cognição.
Num tempo em que o desenvolvi-
A quinta visão da Arte-Educação mento das habilidades mentais é par-
proposta por Eisner usa a Arte para ticularmente importante e, segundo o
desenvolver as habilidades e atitudes autor, em que as escolas devem pre-
necessárias ao ambiente de trabalho. parar pessoas para trabalharem com
Muito se fala sobre a melhora da mais de uma ocupação durante a vida,
escola para que isso fortaleça a a presença de um programa que ado-
competitividade econômica de um te a flexibilidade, promova a tolerân-
país frente à economia mundial. Nos cia pela ambigüidade e dependa do
Estados Unidos tal concepção é mui- exercício do julgamento, numa esfera
to forte, atingindo até mesmo o ensi- de regras escolares pode ser um valo-
no da Arte. roso recurso.
Os que assumem acreditam que a Eisner coloca que o modo como
experiência em Arte desenvolve a ini- experienciamos o mundo é influenci-
ciativa e a criatividade, estimula a ima- ado pela cultura, pela linguagem e
ginação, desenvolve a capacidade pelas crenças e, ao mesmo tempo,
criadora e, em alguns campos da arte, moderado pela nossa individualida-
ajuda os jovens a aprenderem a tra- de, nossa própria maneira de apreen-
balhar em grupo. der a realidade. O autor explica que,
Para muitos, a justificativa de se através da representação podemos
utilizar a Arte como forma de prepara- tornar concretas as imagens ou idéi-

170 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006.


as que produzimos através das nos- ta concepção Rudolph Arnhein e Ulric
sas experiências. A representação, Neisser, que também viam a percep-
para Eisner, é um evento cognitivo que ção como um evento cognitivo.
se dá através da gravação O autor enfatiza que qualquer tra-
(inscription), da edição (editing), da balho de qualidade em arte requereria
comunicação (comunication) e da sutis e sofisticadas formas de pensa-
surpresa (surprise). A inscrição seria mento, mas há abordagens mais apro-
o modo de se preservar a idéia ou ima- priadas para promover o desenvolvi-
gem tida (nunca da exata forma em que mento cognitivo. Exemplifica com pro-
foi originalmente experienciada) em gramas que fazem o estudante
algo durável e concreto. Através da contextualizar seus próprios propósi-
edição prestamos atenção às rela- tos nas formas artísticas com as quais
ções, aos detalhes; ela é, pois, um vai trabalhar, programas que fazem o
aspecto crucial do processo criativo, aluno refletir a respeito de seu pró-
um meio de eliminarmos as falhas. A prio processo de criação e aqueles que
comunicação, terceira função encorajam o aluno a articular suas
cognitiva da representação, transfor- produções com seus julgamentos so-
ma a consciência em uma forma públi- bre arte.
ca. A surpresa, que, segundo o autor, A chave desta abordagem é dese-
seria a principal recompensa de todo nhar o currículo com base nas formas
trabalho criativo, torna possível que de cognição e entendimento que se
uma seja possível pessoa se surpre- pretende desenvolver.
enda com algo feito por si mesma, e
que não saiba como repeti-lo da mes- 2.7 USING THE ARTS TO
ma forma (EISNER, 2002a, p. 6 -8). PROMOTE ACADEMIC
Para Eisner (2002a), a comunica- PERFORMANCE
ção propicia trocas de contribuições
entre indivíduos, configurando uma Esta sétima versão está relaciona-
relação simbiótica. É através dessas da à justificação do Ensino da Arte
relações que nos desenvolvemos, tro- pela sua (possível) contribuição no
camos experiências com o outro. As- auxílio a outras matérias ditas bási-
sim, a educação deve propiciar tais cas11. Como já havia sido menciona-
relações simbióticas para que possa- do, a receptividade da sociedade pe-
mos desenvolver habilidades distin- los objetivos de um campo de estudo
tas e complementares às nossas. Po- está altamente relacionada com o que
demos citar como representantes des- realmente se consegue executar des-

11
Aqui o autor se refere às disciplinas de Ciências e Matemática, o que, no Brasil, poderia ser
transposto para Português e Matemática.

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006. 171


ses objetivos. Este é certamente o diretamente relacionadas com o bom
caso de se tentar usar a arte para auxi- desempenho no referido teste. Pon-
liar na performance acadêmica dos do de lado a adequação da pesquisa
estudantes. Isso envolve a premissa descrita, o objetivo proposto por esta
de que quanto mais cursos de arte visão é usar a arte como um meio para
crianças e jovens tiverem, melhores aprimorar o que alguns consideram
serão suas performances na escola. mais importante: notas maiores em
Na área de música temos o que é cha- Matemática e Ciências.
mado “Mozart Effect”. (RAUSCHER; Para Eisner (2002a), as razões para
SHAW apud EISNER, 2002a). Bebês tal objetivo parecem por demais cla-
e crianças em idade pré-escolar expos- ras. Tantos esforços têm sido feitos
tas à música clássica várias vezes na para melhorar a performance acadêmi-
semana se saem melhor em testes de ca dos estudantes, que se está per-
habilidade espacial do que outras cri- dendo a razão em busca disso. Depois
anças não expostas. Alguns acredi- de diversas tentativas frustradas du-
tam que esse resultado possa signifi- rante os anos oitenta15, tem-se a sen-
car que a música torna as pessoas sação de que nenhum desses esfor-
mais “espertas”12. ços surtiu efeito. A partir dessas cir-
Outro dado, proveniente de uma cunstâncias, as pessoas se perguntam:
pesquisa em maior escala, mostra que “Por que não tentar a arte?”.
estudantes matriculados em cursos de Eisner (2002a) afirma que, para al-
arte no segundo grau13 conseguem guns arte-educadores, principalmente
notas significativamente maiores no os que se sentem profissionalmente
SAT (Scholastic Achievement Test14) marginalizados, essa nova utilidade da
do que os que não os fazem: quanto arte serve como um bote salva-vidas.
mais cursos de arte, maior a nota no O autor coloca algumas questões à luz
SAT. No entanto, mais cursos em qual- das seguintes considerações:
quer campo do saber podem ser as- · Pode um campo do saber fazer
sociados com um alto desempenho em sua contribuição mais importante atra-
avaliações. Na verdade, disciplinas vés da busca de resultados que ou-
relacionadas às áreas de Ciências e tros campos deveriam atingir por si
Matemática são consideradas mais sós?

12
Do inglês smarter.
13
Nos EUA, os estudantes que cursam o equivalente ao segundo grau no Brasil podem optar
por algumas das matérias que desejam cursar.
14
Teste similar ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) do Brasil, pois são realizados
por estudantes em idade escolar próxima.
15
São aqui descritas pelo autor diversas políticas norte-americanas de tentativas de aprimo-
ramento dos índices de performance escolar.

172 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006.


· Seria possível obter dados que classes sociais, assim como poder-se-
comprovem os efeitos da arte na ia resgatar a literatura da época. O
performance de outras disciplinas? objetivo é aprofundar a amplitude do
· O que acontece com as razões entendimento do aluno através da
para a existência de um campo do sa- utilização de materiais relacionados ao
ber na escola, se uma pesquisa mos- período histórico estudado que, ao
tra que seus objetivos estão desa- final, podem falar mais do que meros
tualizados, ou que seus pressupos- textos escritos. Portanto arte, música,
tos são fracos, ou que outra proposta literatura e história unem-se ao redor
de aprimoramento da performance de um período histórico particular.
escolar seja considerada mais eficien- Uma segunda forma de integração,
te? esta no âmbito da própria arte, pre-
Diante de tais questionamentos, tende auxiliar os alunos a identifica-
é clara a postura crítica de Eisner quan- rem as similaridades e as diferenças
to à referida visão de ensino. entre as diversas formas de arte. Por
exemplo, todas as artes estão relacio-
2.8 INTEGRATED ARTS nadas à criação de formas expressi-
vas, mas os meios utilizados para atin-
Outra visão da Arte-Educação gir tal objetivo não são os mesmos
concebe o currículo em Arte como in- em cada uma delas. A partir desta pro-
tegrante do currículo de outras artes posta, os estudantes têm a oportuni-
e outras áreas. Esta concepção, de- dade de descobrir o que as artes têm
nominada por Eisner (2002a) de em comum e também o que as distin-
“integrated arts” (artes integradas), é gue entre si.
comumente usada como forma de apri- Uma terceira abordagem é identi-
moramento da experiência educacio- ficar um tema ou idéia gerador(a) que
nal do estudante. O Currículo de “Ar- possa ser explorado(a) através do tra-
tes Integradas” é tipicamente organi- balho não somente com arte, mas tam-
zado a partir de uma possibilidade bém com outras áreas do saber. O con-
curricular dentre quatro estruturas ceito de metamorfose, por exemplo,
possíveis. pode ser ilustrado pelo modo como
Primeiramente, a arte é utilizada uma melodia é alterada em uma sinfo-
como ferramenta no entendimento de nia ou pela mudança em uma seqüên-
um momento histórico particular ou cia de imagens em um filme.
cultura. Por exemplo, o estudo de uma Uma quarta estrutura para a
guerra civil poderia incluir as fotogra- integração das artes está relacionada
fias da época (se houver) ou a música à prática de solução de problemas. Os
e arquitetura do período. Poderiam ser alunos podem ser convidados a defi-
exploradas as formas de vestimenta nir um problema que requisite a parti-
de pessoas pertencentes a diferentes cipação de diversas disciplinas, in-
Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006. 173
cluindo a arte. Por exemplo, a monta- te a tais conceitos; todavia, fica clara
gem de uma peça teatral na qual preci- a posição das autoras ao se estende-
sem determinar a construção e desen- rem na definição do conceito de
volvimento dos objetivos, aspectos fí- transdisciplinaridade. Podemos notar
sicos dos materiais, roteiro, aspectos as similaridades entre tais propostas
estéticos que serão considerados, etc. e a visão da Arte integrada de Eisner
Em outras palavras, o problema em si (2002a), pois ele propõe, grosso modo,
terá múltiplas perspectivas que preci- trocas e complementações entre as
sarão ser integradas num todo para que áreas do saber, de forma a enriquecer
a peça possa acontecer com sucesso. a aprendizagem do aluno. É interes-
Tal perspectiva, no Brasil, possui sante também observar que as auto-
similaridades com as propostas de ras se “pré-defendem” da acusação
ensino por projetos e interdisci- de estarem colaborando com um mo-
plinaridade, como procuraremos de- dismo, ao citarem uma frase de
monstrar a seguir. Antes, é importan- Ubiratan D’Ambrósio que diz, da
te lembrar que termos pluridisci- transdisciplinaridade: “Nem é, como
plinaridade, interdisciplinaridade e alguns insistem em mostrá-la, um mo-
transdisciplinaridade são hoje encon- dismo” (apud PEREIRA; HANNAS,
trados com significados próprios. Se- 2000, p. 181).
gundo Pereira e Hannas: A pedagogia de projetos é defini-
· a pluridisciplinaridade ou da não somente como a “escolha de
multidisciplinaridade refere-se às dis- um tema para trabalhar em todas as
ciplinas específicas; áreas”, mas reflete “uma visão da edu-
· a interdisciplinaridade refere-se à cação escolar, na qual a experiência
correlação entre os conteúdos das dis- vivida e a cultura sistematizada
ciplinas; interagem, na medida em que os alu-
nos vão estabelecendo relações en-
· a transdisciplinaridade transcende as
tre os conhecimentos construídos em
disciplinas, levando em conta não so-
mente sua abordagem, mas sobretu- sua experiência escolar e na vida ex-
do, propondo uma abertura de todas tra-escolar” (Brasil, 1998, p.61). Tal
para o que ocorre nelas e além delas. A definição, encontrada nos Cadernos
abordagem transdisciplinar é aberta da TV Escola, material disponibilizado
para o que vai além do campo das ci- na Internet pela Secretaria do Estado
ências exatas, reconciliando-as com as da Educação de São Paulo, reflete as
humanidades, ciências sociais, litera- tendências de ensino defendidas hoje
tura, arte, poesia, experiência interior
pelo estado. Podemos perceber com
(PEREIRA; HANNAS, 2000, p.
clareza a proximidade entre tais ten-
180).
dências e a Prática de Soluções de
Cumpre ressaltar que nosso intui- Problemas observada por Eisner
to não é o de nos posicionarmos fren- (2002a), na qual alunos e profes-

174 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006.


sor(es) mobilizam-se sobre um tema inseridos nos Parâmetros Curriculares
e, através dele, podem desenvolver Nacionais de Arte, ainda que de for-
atividades que abracem diversas áre- ma não declarada. Com isso, a aceita-
as do saber, promovendo um ambien- ção/adoção dos PCN por parte do pro-
te de aprendizagem que contemple fessorado a que se destina pode acon-
uma pluralidade de dimensões. tecer de forma mais consciente e críti-
ca, atendendo à objetivos educacio-
RESULTADOS nais específicos com os quais o edu-
cador deseja se comprometer.
Através da apresentação e con- Assim, estaremos apresentando
seqüente diálogo entre as propostas de forma sintética a análise dos
de concepções vigentes do ensino de Parâmetros Curriculares Nacionais/
Arte, procuramos levantar pré-cate- Arte para os 3° e 4° Ciclos do Ensino
gorias de análise que pudessem ser Fundamental com base nas categori-
utilizadas na classificação das concep- as eleitas em nosso estudo, bem como
ções de ensino de Arte presentes nos evidenciando as confluências e opo-
PCN/Arte. Elegemos a classificação sições conceituais a que fazemos re-
do teórico Elliot Eisner (2002a) como ferência no título do presente texto.
parâmetro para nosso estudo, por se
tratar de um teórico amplamente cita- 1AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DO
do em bibliografia da área. ENSINO DAARTE E SEUS REFLE-
Assim, elegemos como possíveis XOS NOS PCN/ARTE
pré-categorias:
1.2ARTE-EDUCAÇÃO COMO DIS-
I. Arte-Educação como Disciplina CIPLINA
II. Arte como Cultura Visual
III. Arte para o Desenho técnico Como já havíamos especificado
IV. Arte como Auto-Expressão Cri- no presente texto, a linha conceitual
ativa da Arte-Educação como Disciplina
V. Arte para o mercado de traba- tornou-se conhecida no Brasil atra-
lho vés da Proposta Triangular de Ana
VI. Desenvolvimento cognitivo Mae Barbosa (advinda das idéias da
através da Arte Discipline Based Art-Education), a
VII. Arte como promotora da qual propõe o ensino da arte calcado
Performance Acadêmica no fazer artístico, na história da arte e
VIII. Arte integrada na análise de obras de arte (BARBO-
Tal classificação pode ser utiliza- SA, 2002b).
da como instrumento conceitual A proposta metodológica dos
facilitador na compreensão dos pres- PCN/Arte fundamenta-se basicamen-
supostos teóricos que se encontram te na Proposta Triangular, estabele-
Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006. 175
cendo três eixos de aprendizagem lares, no meio ambiente.
norteadores: “produzir, apreciar e Contextualizar é situar o conheci-
contextualizar” (BRASIL, 1998, p. 49). mento do próprio trabalho artístico,
É claramente observável a correspon- dos colegas e da arte como produto
dência entre as seguintes propostas: social e histórico, o que desvela a exis-
fazer artístico/produzir, história da tência de múltiplas culturas e subjeti-
arte/contextualizar e análise de obras vidades” (Grifo nosso, BRASIL,
de arte/apreciar. 1998, p. 50).
A adesão dos PCN aos pressu- Portanto, as propostas dos
postos teóricos da Proposta Triangu- Parâmetros Curriculares Nacionais de
lar já se manifesta na Introdução do Arte para 5ª a 8ª séries estão submeti-
documento, ao assumir que o desen- das à orientação geral apresentada na
volvimento da cultura de arte do alu- primeira parte do documento “Arte no
no se dá “[...] fazendo, conhecendo e ensino fundamental” (p. 19-54), cujas
apreciando produções artísticas” diretrizes fundamentam-se nos eixos de
(BRASIL, 1998, p.19), e se confirma, aprendizagem da Proposta Triangular
principalmente, no subtítulo “Carac- e devem ser estendidas às diversas lin-
terização geral e eixos de aprendiza- guagens artísticas: artes visuais, mú-
gem” (p. 49), onde os chamados “ei- sica, teatro e dança. Contudo, são ob-
xos de aprendizagem” são definidos servadas também influências de outras
um a um: concepções teóricas do ensino da arte
Produzir refere-se ao fazer artístico em alguns trechos do documento.
(como expressão, construção, repre-
sentação) e ao conjunto de informa- 1.3ARTE COMO CULTURAVISUAL
ções a ele relacionadas, no âmbito do
fazer do aluno e do desenvolvimento A perspectiva conceitual da Arte
de seu percurso de criação. O ato de como Cultura Visual manifesta-se am-
produzir realiza-se por meio da expe-
plamente nas propostas dos PCN, di-
rimentação e uso das linguagens artís-
ticas. luída na maioria dos tópicos aborda-
dos.
Apreciar refere-se ao âmbito da re- A questão da importância de se
cepção, incluindo percepção, enfatizar as diferenças culturais das
decodificação, interpretação, fruição
múltiplas sociedades humanas por
de arte e do universo a ela relaciona-
do. A ação de aprender abrange a pro- meio do ensino da arte é sugerida em
dução artística do aluno e a de seus diversos momentos, além do compro-
colegas, a produção histórico-social metimento que a arte deve ter em au-
em sua diversidade, a identificação de xiliar o aluno a interpretar a diversida-
qualidades estéticas e significados ar- de de valores presente na sociedade,
tísticos no cotidiano, nas mídias, na combatendo preconceitos e a exclu-
indústria cultural, nas práticas popu- são social, ou seja, contribuindo para

176 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006.


que o aluno possa defender seus di- ta corrente teórica nos PCN/Arte.
reitos e proporcionando meios de aju- Apesar de haver muitas menções no
dar na reversão de situação de injus- documento a respeito da criatividade
tiça social. no processo de criação artística, o
Podemos exemplificar isso com os próprio documento critica a justifica-
seguintes trechos dos PCN: ção da arte no currículo apenas com o
Produzindo trabalhos artísticos e co- intuito de desenvolvê-la (a criati-
nhecendo essa produção nas outras vidade):
culturas, o aluno poderá compreen- [...] muitos dos objetivos arrolados nos
der a diversidade de valores que planejamento dos professores de arte
orientam tanto seus modos de pensar poderiam compor outras disciplinas
e agir como os da sociedade (Grifo do currículo, como desenvolver a
nosso, p. 19). criatividade, a sensibilidade, o
Além disso, os alunos tornam-se ca- autocontrole, etc (BRASIL, 1998, p.
pazes de perceber sua realidade 22).
cotidiana mais vivamente, reconhe-
cendo e decodificando formas, sons, 1.5 ARTE COMO AUTO-EXPRES-
gestos, movimentos que estão à sua SÃO CRIATIVA
volta (Grifo nosso, p.19).
A área de Arte contribui, portanto, A ênfase na emoção, na intuição,
para ampliar o entendimento e a na sensibilidade, na personalidade do
atuação dos alunos ante os proble- artista denota influências das corren-
mas vitais que estão presentes na tes teóricas que enfatizam a livre-ex-
sociedade de nossos dias (Grifo nos-
pressão. Com isso há uma certa misti-
so, BRASIL, 1998, p. 38).
ficação da obra de arte que, segundo
Identificar, relacionar e compreender Penna e Alves (2001),
a arte como fato histórico
[...] em nada contribui para a compre-
contextualizado nas diversas cul-
ensão da arte ou de seu ensino, pois
turas conhecendo, respeitando e po-
os fatores que, segundo esta concep-
dendo observar as produções presen-
ção, determinam a atividade artística,
tes no entorno, assim como as demais
independem totalmente de uma ação
do patrimônio cultural e do universo
pedagógica.
natural, identificando a existência de
diferenças nos padrões artísticos e Em seus estudos sobre a funda-
estéticos de diferentes grupos cul- mentação teórica dos PCN de Arte do
turais (Grifo nosso, p. 48). Ciclo I (1ª a 4ª séries), Penna e Alves
concluíram haver uma grande influ-
1.4 ARTE PARA O DESENHO TÉC- ência da concepção romântica de arte:
NICO Nos PCN-Arte para as séries iniciais,
a forte influência da concepção român-
Não encontramos influências des- tica de arte é bastante evidente: há uma

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006. 177


supervalorização da emoção, com ên- a arte contribui para o fortalecimento
fase na sensibilidade inventiva (...) do conceito de grupo. O aluno pode
(2001). compreender o outro intelectual e
afetiva-mente e pode ter atitudes co-
Os autores destacam ainda a influ-
operativas nos grupos de trabalho
ência do romantismo nas correntes da
(BRASIL, 1998, p. 61).
arte-educação que enfatizam a livre
expressão, “repudiando qualquer in- Não consideramos essa influên-
terferência no desenho da criança e cia marcante nas concepções teóricas
defendendo uma visão romântica da dos PCN/Arte, pois a mencionada
infância” (PENNA e ALVES, 2001). menção a “grupos de trabalho” pode
Há vários trechos nos PCN/Arte ser interpretada como grupos de tra-
de 5ª a 8ª séries onde podemos encon- balho escolares.
trar traços da influência da livre-expres-
são criativa, com ênfase na personali- 1.7 DESENVOLVIMENTO COG-
dade do artista e na sua emoção: NITIVO ATRAVÉS DAARTE
O motor que organiza esse conjunto é
a sensibilidade, a intuição, a ima-
Enfatizando as conseqüências
ginação, os conhecimentos, a emo- cognitivas do trabalho com Arte e
ção, que desencadeiam o dinamismo acreditando que a arte contribua no
criador do artista (Grifo nosso, BRA- desenvolvimento de complexas e su-
SIL, 1998, p. 34). tis formas de pensamento, esta cate-
Diante de uma obra de arte, intuição, goria assume a representação como
raciocínio e imaginação atuam tanto um evento cognitivo.
no artista como no espectador (p. 33). Para Eisner, a representação se dá
através de processos denominados
Assim, a fundamentação dos
gravação, edição, comunicação e sur-
PCN/Arte possui marcas da tendên-
presa. Essa forma de ver a arte não
cia da livre-expressão criativa, cujas
apenas como área de conhecimento,
bases teóricas são incompatíveis com
mas como promotora de eventos
os pressupostos expostos na primei-
cognitivos unicamente provenientes
ra categoria.
da representação artística não está
presente nos PCN/Arte.
1.6 ARTE PARA O MERCADO DE
TRABALHO
1.8 ARTE COMO PROMOTORA
DAPERFORMANCEACADÊMICA
Há apenas uma menção à possí-
vel contribuição da arte para o merca-
Esta perspectiva do ensino da arte
do de trabalho nos PCN/Arte para o
tem como ponto chave justificar a pre-
Ciclo II:
sença da arte no currículo pela possí-
A ação artística também costuma en-
vel contribuição as outras disciplinas
volver criação grupal: nesse momento
consideradas “básicas”.
178 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006.
A proposta dos PCN considera a temple uma pluralidade de dimensões.
Arte como disciplina com conteúdos A proposta dos PCN/Arte para o
próprios e importância em si: tratamento dos temas transversais
[...] a atual legislação brasileira reco- através da arte considera a área como
nhece a importância da arte na forma- “campo privilegiado” para essa incum-
ção e desenvolvimento de crianças e bência, contribuindo para a
jovens, incluindo-a como componen- contextualização dos referidos temas.
te curricular obrigatório da educação No tópico “Arte e questões soci-
básica. No ensino fundamental a Arte ais da atualidade: os temas transver-
passa a vigorar como área de conheci-
sais” (BRASIL, 1998, p. 37), são
mento e trabalho coma as várias lin-
guagens e visa à formação artística e
sugeridas formas de os temas trans-
estética dos alunos (BRASIL, 1998, versais serem trabalhados através da
p. 19). arte e em conjunto com as outras áre-
as do conhecimento. Os temas pro-
No entanto, a possível contribui-
postos são:
ção é destacada:
ética, meio ambiente, orientação se-
[...] ao fazer e conhecer arte, o aluno
xual, saúde, trabalho, consumo e cida-
percorre trajetos de aprendizagem que
dania, comunicação e tecnologia
propiciam conhecimentos específicos
informacional, pluralidade cultural,
sobre sua relação com o mundo. Além
além de outros temas locais definidos
disso, desenvolvem potencialidades
na organização escolar” (BRASIL,
(como percepção, observação, imagi-
1998, p. 38).
nação e sensibilidade) que podem con-
tribuir para a consciência do seu lugar A correspondência entre a pro-
no mundo e para a compreensão de posta para os temas transversais e a
conteúdos de outras áreas do cur- categoria Arte integrada é clara ao
rículo (Grifo nosso, p. 43). considerar a arte como condutora de
Assim, apesar de não considerar- um projeto de trabalho no qual são
mos marcante esta influência teórica contempladas várias áreas do currí-
nos PCN/Arte, salientamos mais uma culo em torno de um tema comum.
vez a presença de noções com bases
teóricas incompatíveis no documento. 2 CONFLUÊNCIAS CONCEITUAIS

1.9 ARTE INTEGRADA As categorias eleitas possuem


suas especificidades, mas têm também
Nesta perspectiva de ensino, alu- pontos em comum. Podemos tomar
nos e professor(es) mobilizam-se so- como exemplo as categorias Arte-Edu-
bre um tema para que possam desen- cação como Disciplina e Arte como
volver atividades que abracem diver- Cultura Visual, pois ambas contem-
sas áreas do saber e promovam um plam a importância de se considera-
ambiente de aprendizagem que con- rem os contextos social e histórico da

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):159-182, 2006. 179


arte no ensino. No caso da categoria mentação, apresentam trechos onde
Arte-Educação como Disciplina per- se entrecruzam noções com bases te-
cebe-se a importância dada à valori- óricas diferenciadas ou mesmo incom-
zação da contextualização das produ- patíveis.
ções artísticas. Já na categoria Arte A opção teórica dos PCN/Arte foi
como Cultura Visual observa-se a a de embasar os eixos norteadores na
importância dada às diferenças de Proposta Triangular, havendo, no en-
códigos culturais presentes nas pro- tanto, trechos onde são observadas
duções, diferenças essas ocasionadas influências de teorias distintas e mes-
pelas variações sociais e históricas mo opostas, o que compromete seu
existentes entre as diversas socieda- entendimento e realização.
des que produzem arte. Não estamos aqui desconsi-
derando a importância dos PCN/Arte,
3 OPOSIÇÕES CONCEITUAIS pois colaboram na legitimação da pre-
sença da arte na escola e são uma ten-
Os PCN/Arte possuem suas ba- tativa de redirecionamento do seu
ses teóricas fundamentadas na Pro- ensino, ao qual trazem grandes con-
posta Triangular. No entanto, apre- tribuições.
sentam também influências de outras Entretanto, concluímos haver a
linhas teóricas, por vezes incompatí- necessidade de rever as noções teó-
veis. ricas utilizadas no documento, para
Consideramos como principal que a sua finalidade – oferecer funda-
oposição conceitual presente nos mentos teóricos para embasarem a
PCN/Arte a que existe entre a visão prática pedagógica dos professores
da arte como livre expressão criativa, de arte – possa ser mais facilmente
expressa em trechos nos quais se atingida.
enfatiza a emoção, a intuição e a per-
sonalidade do artista, e a da arte como REFERÊNCIAS
conhecimento, defendida pela Pro-
posta Triangular. ALMEIDA, C. M. de C. Os modelos tra-
dicionais de Ensino em Arte e a emergên-
CONSIDERAÇÕES FINAIS cia de novas metodologias. Núcleo de
publicações CED, Florianópolis, n. 01.
Apesar de apresentarem uma pro- UFSC, 2001.
posta muito abrangente e buscarem ________. Concepções e práticas artísti-
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