O estudo da qualidade de vida em mulheres com câncer de
mama é de extrema importância, pois, com a eficácia dos tratamentos e o aumento da sobrevida, essas mulheres devem ser estimuladas a levar uma vida social, familiar, conjugal e profissional tão boa ou melhor que antes de serem acometidas pela doença. A qualidade de vida tem importância incontestável tanto em populações saudáveis como em populações portadoras de doença.
Para dar suporte às mulheres que estão passando pela doença,
muitas mulheres que já passaram pelo problema dedicam-se às organizações sem fins lucrativos a fim de auxiliar a amenizar as consequências causadas pelo tratamento. Lutam por uma vida ativa e feliz, servindo de espelho para quem está passando pelo problema, dando apoio psicológico para aliviar o sofrimento de muitas mulheres e alertar toda a população de que o câncer de mama é considerado uma doença de bom prognóstico, se diagnosticada precocemente.
Segundo Veenhoven, inúmeros conceitos, como qualidade de
vida, bem-estar, felicidade são utilizados como sinônimos. O próprio conceito de saúde é usado como sinônimo de qualidade de vida. Sirgy inclui o conceito de qualidade de vida dentro da abrangência de bem-estar subjetivo: felicidade, satisfação com a vida e qualidade de vida percebida.
A preocupação com a qualidade de vida tem se destacado nos
últimos anos, principalmente no que diz respeito à sua avaliação e mensuração. A sobrevida de pacientes acometidos por doenças crônicas aumentou consideravelmente com o avanço da tecnologia e dos tratamentos. De acordo com Laurenti, não somente o aumento da sobrevida por várias doenças, mas também o envelhecimento populacional faz com que a qualidade de vida seja levada em conta, principalmente no que diz respeito à avaliação do nível de vida ou de saúde da população para o estabelecimento de atividades especiais aos idosos.
Na área da saúde, o interesse pelo conceito da qualidade de vida
é relativamente recente e influenciado pelos novos paradigmas das políticas e práticas do setor nas últimas décadas. Consoante à essa mudança de paradigma, a melhoria da qualidade de vida passou a ser um dos resultados esperados, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas públicas para o setor nos campos da promoção da saúde e da prevenção de doenças. Qualidade de vida relacionada à saúde, segundo Guiterras e Bayés, “é a valorização subjetiva que o paciente faz de diferentes aspectos de sua vida em relação ao seu estado de saúde”. Para Cleary et al., “refere-se aos vários aspectos da vida de uma pessoa que são afetados por mudanças no seu estado de saúde, e que são significativos para a sua qualidade de vida”.
Portanto, a expressão qualidade de vida é de difícil definição,
pois envolve um variado potencial de condições que afetam percepção do indivíduo, comportamento, sentimentos, sua condição de saúde, intervenções médicas. REFERÊNCIAS
Landro, Izabel Cristina Rossi Qualidade de vida de mulheres
portadoras de câncer de mama integrantes da Associação Amigas do Peito de Bauru / Izabel Cristina Rossi Landro -- 2010.
Veenhoven R. The four qualities of life-ordering concepts and
measures of the good life. J Happiness Studies. 2000;1:1-39.
Sirgy MJ. The psychology of quality of life. Dordrecht: Kluwer
Academic Press; 2002.
Laurenti R. A mensuração da qualidade de vida. Rev Assoc Med Bras.
2003; 49(4):361-2. Guiteras AF, Bayés R. Desarrolllo de un instrumento para la medida de da calidad de vida en enfermedades crónicas. In: Forns M, Anguera MT, organizadores. Aportaciones recientes a la evaluación psicológica. Barcelona: Universitas; 1993. p. 175-95.
Cleary PD, Wilson PD, Fowler FJ. Health-related quality of life in
HIV-infected persons: a conceptual model. In: Dimsdale JE, Baum A, editors. Quality of life in behavioral medicine research. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates; 1995. p. 191-204. Mastectomia, pós-operatório, autoimagem e autoestima em tempos de culto ao corpo
Matéria por Cláudia Danielle B .Leite
A mastectomia é um dos tratamentos a que a maioria das mulheres
com diagnóstico de câncer de mama é submetida, sabe-se que seus resultados poderão comprometê-las física, emocional e socialmente. A mutilação favorece o surgimento de muitas questões na vida das mulheres, especialmente aquelas relacionadas à imagem corporal e autoestima. Como a mulher percebe e lida com essa nova imagem? Isso afeta a sua existência, inquietando os profissionais de saúde que se propõem prestar uma assistência integral.
Ao receber um diagnóstico de câncer de mama, a mulher passa a ter
muitas dúvidas e questionamentos, muitos destes devido ao estigma da doença, que leva a muito sofrimento e quebra da rotina para o tratamento adequado. Obviamente os sentimentos e as cobranças afloram: Por que comigo? O que eu fiz de errado? O que será da minha vida? Eu achava que jamais aconteceria comigo…
Como em outras doenças estigmatizantes, o câncer de mama é bastante
temido em nosso século, isso porque, na contemporaneidade, vem crescendo impetuosamente devido a inúmeros fatores, entre estes a questão da hereditariedade. Interessante que agora, com o progresso da ciência, cada vez mais nos encontramos em situações conflituosas com relação a nossa tão sonhada qualidade de vida: como a mulher contemporânea poderá administrar os diversos papéis desempenhados sem o corre-corre, os prazos, as cobranças, os anseios? Bem, é visto então que a retórica mens sana in corpore sano do poeta romano Juvenal continua bastante atual.
Observa-se que diante da confirmação do diagnóstico, a mulher passa
a temer o medo do câncer propriamente dito, e a mutilação de um órgão que representa a maternidade, a estética e a sexualidade feminina. Na atribuição de significados para as mamas na cultura ocidental, é ressaltada sua importância como atributo físico e psíquico para o organismo feminino. Além de seu papel importante na vivência e na demonstração da feminilidade, as mamas são, também, órgãos que produzem e carregam o leite, são as fontes simbólicas da vida e da maternidade. A alteração da estética e imagem corporal são aspectos a serem considerados na prática profissional, especialmente quando se pensa em uma assistência preocupada, também, com a dimensão psicossocial.
A experiência de ser portadora de um câncer de mama em nossa
sociedade pode ser compreendida de acordo com a fragilidade com que decaem as funções no desempenho do papel sexual da mulher e como provedora de cuidados familiares. Tornar público esse “comprometimento” de papéis, pode trazer à tona a impossibilidade de voltar a exercer uma dada profissão, prover a família tornando-se um indivíduo excluído e estereotipado por não poder realizar suas funções sociais ou os arquétipos necessários para manter a condição feminina da mulher. O que socialmente representa para a mulher, um de alto prestígio social em que o modo de parecer feminino, se exprime através da voz, rostos, aparências e posturas numa cultura onde ser feminina corresponde a um ideal cultural. A amputação de qualquer parte externa ou mesmo interna do corpo é traumática, podendo produzir mudança radical na aparência, e, assim, a autoimagem corporal deve ser ajustada a essa nova situação. Com essa nova realidade, ao observar que as mulheres passam a enfrentar problemas ligados à mutilação de seu corpo, surgem, para nós, inquietações e indagações sobre como assistir a essa clientela de forma integral, especialmente no retorno ao seu lar, ao seu cotidiano, pois como se trata de vários Sujeitos com experiências, subjetividades, sentimentos e culturas diferentes talvez não se tenha como nos dimensionarmos completamente sobre de como esse processo é vivido e interpretado por elas. Assim questionamo-nos: Como a mulher tem apreendido a experiência de ser “mastectomizada”? Quais as transformações que ocorrem? Como lidar com a nova realidade e implicações?
Importante dizer que a experiência de ser “mastectomizada” e as
implicações com a autoimagem e autoestima ganham novo contexto com a ultrapassagem da barreira da retirada do órgão e, quando indicada, pela reconstrução do órgão, muda-se então o contexto para a experiência de ter se submetido a mastectomia. Implico assim para o poder da palavra e suas implicações a psique do sujeito. A comparação antagônica da mulher que almeja um corpo perfeito e curvilíneo viabilizado pela cirurgia plástica para aplicação de silicone nos seios e daquela submetida à mastectomia e ansiosa pela reconstrução de sua mama destoam.
Após a cirurgia, as mulheres têm como preocupação a continuidade do
tratamento e a reabilitação, surgem então questões relativas à reelaboração da autoestima e da imagem corporal, necessidade de suporte social e de autocuidado. O “já-ter-sido- mastectomizada” revela que as mulheres percorrem trajetórias diferentes quando retornam aos seus familiares e à condução de suas vidas.
No decorrer da história e baseados no marco do voto liberado, a mulher
começou a instruir-se e realmente a se libertar de certas amarras, ela também se profissionalizou, reagiu e batalhou por seu espaço de indivíduo na sociedade assumindo cada vez mais, posições de respeito e importância, re-despertando o mito da Deusa, que em sua supremacia fala do poder do feminino e da sedução expressos no corpo da mulher.
Quando a mulher se vê novamente podada desse poder, em função da
descoberta de um câncer, precisa se reestruturar e são as lágrimas que necessitam ser enxugadas que levam essas mulheres a se reconstruírem e a renascerem. A certeza de outrora dá lugar apenas às dúvidas e indagações e se não tomarem verdadeira consciência de si mesmas e de seus corpos, podem ficar sujeitas às manifestações e arquétipos (padrões de comportamento) ao qual a sociedade impôs e impõe a mulher a cada minuto e sobre os quais podemos nos tornar reféns.