Sunteți pe pagina 1din 11

A questão penal e o direito de resistência: Controle e Ressocialização1

André Luiz Augusto da Silva 2


Denildes Amaro da Silva 3

Modalidad de trabajo: Resultados de investigaciones


Eje temático: Políticas Sociales y desarrollo en el contexto neoliberal y
los desafíos para el Trabajo Social
Palabras claves: Questão penal, Direitos, Ressocialização

O pensamento expresso na criminologia, sobre a evolução das penas, esboça


claramente uma tentativa não só de compreensão das ocorrências dos delitos ou
crimes tipificados nas normas existentes durante as várias quadras históricas que
perpassaram até o momento a história do homem, mas encontraremos nesta
apreensão realizada pela criminologia, também a preocupação de como intervir e
equacionar a questão, bem como a forma de lidar mais diretamente com o agente
causador do dano e com a vítima, seja esta individual ou coletiva.

É fato que essa abordagem criminológica determina de forma científica a


compreensão do real, objetivado na humanidade nesse universo de análise; não
obstante expressar em sua interpretação ou visão de contexto, várias formas de
pensamento ou de juízos, contudo, mister se faz que no argumento desse artigo,
pensemos conforme a verificação da criminologia crítica.

Nesse sentido, nos reportando ao contexto histórico, variadas foram às formas de


lidar com tal questão, não vetante sempre percebemos ao longo da história humana
uma inequívoca tendência de utilização do cárcere como estratégia de enfrentamento
político e de imposição ideológica.

No prefácio do livro Cárcere e Fábrica dos professores Dário Melossi e Massimo


Pavarine, o presidente do Instituto de Criminologia e Política Criminal do Paraná,
professor Juarez Cirino (2004, p. 5) nos diz que:

1
Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la
coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica
Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009.
2
Graduado em serviço Social (UFPE), Especialista em Segurança Pública (PUC-RS), Mestre em Serviço Social (UFPE),
Doutorando em Serviço Social (UFPE) Brasil, Especialista do Departamento Penitenciário Nacional, Especialista da SDS-
PE.
3
Graduada em Direito (UBC-SP), Especialista em Direito Educacional, Mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social da (UFPE) Brasil.

1
[...] Rusche e Kirchhheimer em Punishment and Social Structure (1939), demonstrou a
relação mercado de trabalho/prisão e propôs a tese de que cada sistema de produção
descobre o sistema de punição que corresponde às suas relações produtivas.

Caminhando para a contemporaneidade, as técnicas desenvolvidas mais


recentemente, demonstram mais do que nunca o embricamento da disputa política e
ideológica com o cárcere, uma vez que estas irão se confundir com a punição e a
busca de confissões, ou seja, caracterizando-se como tortura a fim de que o torturado
diga aquilo que o torturador deseja ouvir.

Nesse sentido, fica clara a necessidade de produção de prova pelo Estado, que
para legitimar a norma nem sempre segue esta mesma norma, fato este que, como
veremos adiante, define o comportamento das populações carcerárias no Brasil. Assim,
já indicamos um conflito ético/moral entre o Estado e seus tutelados do sistema
prisional.

Notemos, as técnicas antigas tinham a finalidade à morte com sofrimento,


buscando a garantia da norma ou lei pelo medo da punição e exemplificação do castigo
imposto. Nos tempos atuais esse objetivo transformou-se, vários países não adotam a
pena de morte oficialmente, outros só as toleram em caso de guerra como o Brasil e
mesmo os que a praticam possuem um mecanismo bastante burocrático para a sua
efetivação, o que acaba estabelecendo uma tortura psicológica terrível, que pode durar
mais de uma década, uma vez que não raro os condenados a morte ficam presos por
longos períodos esperando a execução; imaginemos a intensa aflição mental.

Todo o debate sobre a materialização da norma, através de costumes sociais que


formam uma ética, que entendemos ser o conjunto de valores que determinam a
conduta do homem entre si e com o meio ao qual ele pertence não se apresenta
distante das conseqüências de descumprimento da mesma. Por isso é imperativa a
análise de cunho ideológico que perpassa toda a concepção criminológica, como
também de execução penal.

A pena, amplamente determinada para sustentar a norma 4, é claramente defendida


pelos contratualistas, porém os debates mais profícuos sobre a evolução das penas

4
Esse efeito da prevenção geral às vezes não funcionava, pois a pena vis corpolis na antiguidade e no feudalismo muita
das vezes serviam de espetáculo e turismo.

2
ocorrem com a participação e produção de autores que se por um lado desenvolviam o
pensamento criminológico, por outro determinavam os fundamentos do liberalismo.

Nesse contexto, fica clara a derivação ideológica de teorias como o pensamento


lombrosiano 5 aplicado ao criminoso nato e às características peculiarmente
encontradas nos “modelos” de seres humanos não derivados do padrão branco
europeu. Ou mesmo na Eugenia e a fundamentação Malthusiana 6 e no dawrinismo 7
social da seleção natural das espécies, onde o homem que não se sustentar, não só
pode padecer como deve.

A fundamentação precípua da pena na legitimação do modelo societário vigente,


que segundo Melossi (2004, p.127):

[...] não é à toa que, para as teorias jurídicas do Iluminismo, uma das maiores dificuldades
seja representada pela solução do problema da origem da propriedade privada,
juntamente com o problema do pacto-social; a razão iluminista deveria aqui forçosamente
perder-se na irracionalidade e na pura intuição se não quisesse ir para além de si
mesma.

Ora, se estamos tratando de forma crítica a interfluência óbvia da ideologia política-


social na contextualização de execução penal, nos parece também óbvio o surgimento
de elementos de contraposição e até mesmo de resistência, principalmente quando se
submete populações numerosas aos tratamentos aqui expostos. Não só o fato do
tratamento, como referido anteriormente, mas o descumprimento da própria norma por
parte do Estado, quando este justifica exatamente através do descumprimento da
norma a condução de pessoas ao cárcere.

Em Beccaria, veremos a defesa das leis como instrumento capaz de proporcionar


um bem-estar para a maioria; contudo, este autor nos afirma que:

5
Não obstante este juízo encontrar-se superado - pelo menos no discurso oficial - ainda podemos encontrar propostas
multifacetadas derivadas e inspiradas nesse pensamento nas instituições carcerárias ou de implementação de suas
políticas.
6
“[...] Há um direito que geralmente se pensa que o homem possui e que estou convicto de que não possui nem pode
possuir: o direito de subsistência, quando seu trabalho não provê devidamente”. (Cf: Malthus apud Elaine Rossetti Behring,
In: Fundamentos de Política Social. 2000, p. 6. Disponível em: http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto1-
1.pdf. Acesso em 08 de agosto de 2007.)
7
Charles Darwin publicou A Origem das Espécies em 1859, texto no qual discutia a trajetória de animais e plantas em
termos: das leis da hereditariedade, da variabilidade, do aumento populacional, da luta pela vida e da seleção natural, que
implica a divergência de caráter e a extinção das formas menos aperfeiçoadas. Darwin, portanto, buscava analisar a origem
e desenvolvimento da vida: “[...] A maneira pela qual um nervo poderia a vir se tornar sensível à luz interessa-nos tanto
quanto a resposta à indagação sobre a origem da própria vida” (1994, p.159). Os darwinistas sociais fazem uma
transposição das descobertas de Darwin para a história humana. Segundo Herbert Spencer, por exemplo, a intervenção do
Estado no “organismo social” seria contrária à evolução natural da sociedade, onde os menos aptos tenderiam a
desaparecer (Bottomore, 1988: 97; Sandroni, 1992: 85).

3
Percorramos a História e constataremos que as leis, que deveriam constituir convenções
estabelecidas livremente entre homens livres, quase sempre não formam mais do que o
instrumento das paixões da minoria, ou fruto do acaso e do momento, e nunca a obra de
um prudente observador da natureza humana, que tenha sabido orientar todas as ações
da sociedade com esta finalidade única: todo o bem-estar possível para a maioria.
(Beccaria, 2003, p. 15-16).

Para ele, em uma sociedade ocorre sempre uma tendência em se concentrar num
menor número os privilégios, o poder e a felicidade, deixando à maioria, miséria e
sofrimento. Percebendo a necessidade de vida social para além da horda de destruição
e caos, este autor determina que os homens fatigados em viver a meio de temores e
contendas, sacrificam parte da liberdade que possuem para que sejam repassados à
nação o poder e a legitimidade de legislar e punir quem descumprir a lei.

[...] eram necessários meios sensíveis e muito poderosos para sufocar esse espírito
despótico, que logo voltou a mergulhar a sociedade em seu antigo caos. Tais meios foram
às penas estabelecidas contra os que infligiam às leis. (Beccaria, 2003, p. 19)

O direito de punir ou para o jusnaturalismo 8 o jus puniendi, ocorre quando todos


cederam às parcelas de liberdade que possuíam em função de um Estado que nos
direcione para uma liberdade civil e organizada com direitos igualmente protegidos,
portanto seria uma espécie de depósitos de bens 13 socialmente definidos que carecem
de proteção, e para Beccaria (2003, p. 19-20), “[...] Todo exercício do poder que deste
fundamento se afastar constitui abuso e não justiça, poder de fato e não de direito,
constitui usurpação e jamais um poder legítimo”.

Nesse sentido, o significado de direito está mais ligado à força do que sob a
égide das leis, e sempre para proveito da maioria, sendo a justiça entendida como o
mecanismo capaz de estabelecer os liames de forma estável dos interesses
particulares dos homens. (Beccaria, 2003). Assim, o cidadão deve cumprir com
determinadas obrigações para com a sociedade, esta também tem que cumprir para
com o cidadão. A falta dessa sintonia e os privilégios de poucos levam a sociedade ao
desequilíbrio e ao caos.

Notaremos nos ensaios de Montesquieu, que a lei possui uma relação muito
singular com a natureza das coisas, estabelece-se, portanto, uma relação com as

8
É uma teoria que postula a existência de um direito cujo conteúdo é estabelecido pela natureza e, portanto, é válido em
qualquer lugar. A expressão "direito natural" é por vezes contrastada com o direito positivo de uma determinada sociedade,
o que lhe permite ser usado, por vezes, para criticar o conteúdo daquele direito positivo. Para os jusnaturalistas (isto é, os
juristas que afirmam a existência do direito natural), o conteúdo do direito positivo não pode ser conhecido sem alguma
referência ao direito natural. A teoria do direito natural abrange uma grande parte da filosofia de Tomás de Aquino,
Hobbes, Hugo Grócio, Locke, etc., e exerceu uma influência profunda no movimento do racionalismo jurídico – séc. XVIII,
quando surge a noção dos direitos fundamentais.

4
ciências experimentais ou empíricas; para esse pensador, era possível encontrar-se
certa regra ou uniformidade nos comportamentos e organizações da humanidade do
mesmo modo em que se percebem tais relações exatas entre os corpos físicos.

Tal autor é de singular importância uma vez que pensa na lei positiva, esta é
determinadora das instituições e das leis que regem as relações entre os homens. A
sua análise verifica que nas leis que se referem à natureza dos governos, existe um
singular imbricamento com as relações entre suas instâncias de poder e como ele se
difunde na sociedade. De tal modo, é com Montesquieu que ocorre a libertação da
política no que se refere à teologia, pois, antes desse pensador, as leis derivavam de
um entendimento de que existia certa ordem natural, nesse sentido tal concepção
explicava essa ordem a partir de Deus.

È, portanto, óbvio que se as leis - e isto também é pacífico – são produto de


relações sociais e institucionais no contexto de instituírem-se ideologias de formação
societária, elas são produto de disputa de controle, destarte esse controle apresentar-
se como consenso da maioria para a efetivação e manutenção de um modo peculiar de
existir em sociedade.

Caminhando para a concepção federalista – Hamilton, Madison e Jay – notaremos


que no entendimento sobre a natureza humana, estes compreendem que o governo é
materializado e executado por homens e em assim sendo, é imperioso a existência de
mecanismos que possam impedir a transformação dos governos para as práticas
tirânicas e arbitrárias.

Para esses autores, o governo existe exclusivamente por uma necessidade humana,
pois o governo é um reflexo da natureza humana e ele é necessário porque os homens
não são anjos e carecem de regulamentações nas suas relações sociais e
institucionais.

Com os federalistas, é importante percebermos que todos os homens não são anjos
e nesse sentido os que governam também não o são, por isso devem existir
instrumentos de controle para que não cheguemos à tirania. Parece-nos, portanto, que
outrora como hoje os tratamentos ofertados no cárcere são pura opressão, realizada
pelo Estado e legitimada pelo modelo societário vigente, que estabelece uma política

5
de controle social a partir da marginalização da miséria e pobreza, criando bolsões de
exclusão direta e segregação, com tendências e práticas materializadas mais não
oficializadas da Eugênia.

Rousseau, o amante da liberdade, que a tem como o supremo bem nos propunha:

Unamo-nos para defender os fracos da opressão, conter os ambiciosos e assegurar a


cada um, a posse daquilo que lhe pertence, instituamos regulamentos de justiça e paz,
aos quais todos sejam obrigados a conformar-se, que não abram exceção para ninguém e
que, submetendo igualmente a deveres mútuos o poderoso e o fraco, reparem de certo
modo os caprichos da fortuna. (1954, p. 177)

Rousseau constata que em toda a parte o homem encontra-se prisioneiro, defende


dessa forma um pacto verdadeiro, com as circunstâncias estabelecidas de forma geral
e este geral, não estaria apenas no discurso, mas se materializaria, o homem que
perde a liberdade natural receberia em seu favor a liberdade civil. Para este pensador,
“[...] Se há, pois escravos por natureza é porque os há contra a natureza; a força
formou os primeiros, e a covardia os perpetuou.” (Rousseau, 2004, p. 25).

Com Locke, observaremos que a propriedade antecede o contrato e neste sentido,


após o trabalho do homem entrar em contato com a natureza e transformá-la, esse
produto passa a ser sua propriedade e o Estado não pode interferir, pois se existe
anteriormente a ele é um direito natural. Os autores do contrato social em geral
alinham-se na concepção da existência de um estado de natureza e que era preciso
sair desse contexto, é importante registrar que a composição desse estado não é ponto
pacífico, mas é comum aos autores sua existência. Nesse sentido, passam a entender
a formação da sociedade civil a partir de um pacto social, para que este garanta a
existência do Estado e, portanto, de suas vidas.

Para Locke, o direito de resistência se estabelecerá quando, na relação entre o


governo e a sociedade, a lei é violada e sua violação atenta contra a propriedade, é
importante notar que a vida é uma propriedade natural do homem e defendida também
dentro do jusnaturalismo. Nesse sentido, o governo estaria deixando de cumprir com
sua finalidade, com seu destino de existência, e, portanto, tornando-se ilegal e tirano.

Dessa forma, encontramos a partir deste referencial teórico, a concepção de que a


questão penitenciária - embora presente na história do homem de forma e objetivos

6
diversos - na sociedade capitalista se apresenta como uma conseqüência das relações
humanas fundadas nos seus valores.

Assim, Marx (1818), Dário Melossi (2004), apontam em vários textos, uma
abordagem referente ao tema da questão penitenciária, a exemplo do oitavo capítulo da
Sagrada Família (2003), nas Glosas Críticas ao Programa de Gotha (1965), nos
Manuscritos Econômicos Filosóficos (1963) entre outros. Contudo, é no texto de O
Capital (1988), que se vê, a partir da investigação das origens do sistema produtivo
capitalista, uma análise histórica, com a qual, Marx apresenta a acumulação primitiva
como instrumento central do desenvolvimento da estrutura criminal balizada pela
burguesia. Conforme afirma Marx:

[...] o processo que cria a relação-capital não pode ser outra coisa que o processo de
separação do trabalhador da propriedade das condições da realização do trabalho, um
processo que transforma, por um lado, os meios sociais de subsistência e de produção
em capital e, por outro, os produtores diretos em trabalhadores assalariados. A assim
chamada acumulação primitiva é, portanto, nada mais que o processo histórico da
separação entre produtor e meio de produção. Ela aparece como primitiva porque
constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde (1984, p.
262).

A construção de estratagema encontra-se imbricada com a dominação e violência,


pois que sobre a origem remota da produção capitalista no contexto que estamos
desenvolvendo, veremos em A História da Riqueza do Homem, Leo Huberman (1981)
discorrer sobre o comércio existente entre a Itália e o Oriente citando Marx, o qual
discorre da seguinte forma:

[...] A descoberta de ouro e prata na América, a extirpação, escravização


e sepultamento, nas minas, da população nativa, o início da conquista e saque das Índias
Orientais, a transformação da África num campo para a caça comercial aos negros,
assinalaram a aurora da produção capitalista. Esses antecedentes idílicos constituem o
principal impulso da acumulação primitiva.” (Marx apud Huberman, 1981, p. 169)

Nessa perspectiva, ao realizarmos uma análise da formação social burguesa,


constatamos que na origem do modelo de produção capitalista, através da então
chamada acumulação primitiva, o trabalho carcerário fora utilizado de forma
estratégica, e assim continuou ao longo dos anos; todavia, com os avanços
tecnológicos e o desenvolvimento do capital, essa mão-de-obra, perdeu seu significado
produtivo e disciplinador, apresentando-se hoje apenas com importância para a
manutenção das realidades de gestão dos estabelecimentos penais e um controle da
população pobre que comete crimes embevecidos pela lógica consumista e de
acumulação de bens.

7
Aqui estamos estabelecendo a análise do sistema prisional dentro do modelo estatal
vigente, numa outra perspectiva - que se desnuda a cada dia – como a da privatização,
este homem encarcerado, será transformado em matéria prima para a indústria da
pena. Ora, se tomarmos como pressuposto a perspectiva do jus puniendi incorporada
pela instância estatal na regulação do sistema carcerário, podemos encontrar aspectos
de fascismo, ditadura e exercício arbitrário da força, o que nos remete a considerar
como válido o argumento de Poulantzas quando diz:

[...] a lei é parte integrante da ordem repressiva e da organização da violência exercida


por todo o Estado. O Estado edita a regra, pronuncia a lei, e por ai instaura um primeiro
campo de injunções, de interditos, de censura, assim criando o terreno para a aplicação e
o objeto da violência (...) a lei é neste sentido, o código da violência pública organizada
(1981, p. 86).

Também averiguamos, na composição da ressocialização como programa de


governo, que a princípio dever-se-ia adotar estratégias qualificadas, principalmente nas
áreas de alta complexidade como a aplicação penal, com corpo administrativo e técnico
qualificado e de notório saber e domínio do tema, levando-se em consideração o
caráter de pesquisa e cientificidade técnica nas ações e nunca pressupostos
militarizantes ou doméstico partidário. Ao lado dessas condições, destacamos o
universo das práticas sociais no cárcere, salientando que tudo acontece como se não
houvesse incongruência entre a impunidade dos corruptos que se misturam dentro da
administração do Estado 9 e a punição dos criminosos subalternizados.

Portanto, partimos da hipótese, que a ressocialização é fundamentalmente uma


metodologia institucionalizada de controle e punição das populações carcerárias,

9
A título de nota, é exemplar o debate promovido recentemente no Brasil com a produção cinematográfica que retrata a
violência generalizada no Rio de Janeiro, através do filme de José Padilha, denominado Tropa de Elite, o qual apresenta
uma versão institucionalizada da violência, sob a ótica policial, justificada pela ideologia retributivista. Nesta perspectiva,
verifica-se uma ideologia de criminalização da pobreza mais uma vez, levando a comportamentos e opiniões que tentam
fundamentar a ruptura da norma por uma “boa causa”, assim a população pode sentir-se no direito de linchar um bandido e
dizerem que bandido bom é bandido morto, uma apologia sem saber quem é, e porque alguém é bandido. Apologia que
nos conclama a pedir mais BOPE e menos direitos humanos e, de novo, fazer o jogo da burguesia, que quer exterminar os
pobres, que só criam problemas e ainda por cima não contam na sociedade de consumo, ou seja viva Malthus (1776). Já
estamos vivendo a realidade das milícias e devemos nos lembrar que a mensagem boa na produção cinematográfica, é a
escancarada marca corrupta e fascista do sistema, que nem o BOPE, apresentado como imune, está livre, muito mais
envolvido poderá estar se decide quem vive ou morre (Homem de preto, qual é sua missão? é invadir favela e deixar corpo
no chão). Perguntamos então, é possível entrar na água sem roupa alguma e não se molhar? Os heróicos "homens de
preto", demonstram a ineficácia das instituições policiais e apresenta a solução através de grupos especializados, uma
perigosa tentação para o processo de privatização da segurança pública e da justiça. Em uma coisa temos que concordar,
qual seja, o refrão do BOPE, "Tropa de Elite, Osso duro de roer, Pega um, pega geral. Também vai pegar você!", da mesma
forma como nos disse Montesquieu (1689): “A injustiça que se faz a um é ameaça que se faz a todos” (Cf: Montesquieu
apud Paulo Sérgio Scarparo. In: Discurso de posse do Desembargador Scarparo no TJRS.
http://www.tj.rs.gov.br/site_php/noticias/mostranoticia.php?assunto=1&categoria=21&item=38621), Acesso em 12 de
setembro de 2007.

8
claramente constituídas de indivíduos que são a expressão da questão social, além de
legitimar-se com uma forma fetichizada de discurso humanitário, hoje como outrora, na
passagem para o modo de produção capitalista, a pena constitui-se no aprendizado da
disciplina da nova situação para o camponês expropriado e para as populações
subalternizadas que pela axiologia liberal no anseio da posse de bens para a
satisfação, liberdade e felicidade individual, rompem as estruturas legais e dão vazão a
estes valores através da violência urbana.

Não obstante terem como pressupostos tudo o que apresentamos neste artigo, -
elementos filosóficos e políticos que determinam a igualdade e a subordinação de todos
inclusive do Estado às leis, nas mais variadas formas de construção do pensamento de
diversos autores, exposição de tratamentos carcerários incompatíveis com a dignidade
da pessoa humana, construção da axiologia e fundamentação capitalista baseada na
violência e rapina e estreita relação do controle e da disputa de poder com o cárcere –
as populações carcerárias no processo de luta que estabelecem contra o Estado não
estão exercendo o seu direito de resistência, mesmo quando sobre a custódia do
Estado são vítimas do desrespeito as leis, estão antes de tudo, buscando o
enfrentamento dentro da lógica capitalista, na busca de alcançarem as benesses do
capital, realizam um movimento - que talvez pela sua característica de pouco
conhecimento intelectual, pois são anteriormente como veremos com Gramsci, vítimas
das instituições do Estado ampliado e, portanto da escola ou de sua falta – que se
aproxima da barbárie e que vem cada vez mais criando adeptos intramuros e
extramuros.

Para nós, a necessidade de cumprimento da Lei por todos e de um acesso


igualitário à justiça, é fator preponderante para a garantia dos direitos, sejam quais
forem, e a única legitimidade de imposição da norma a quem quer que seja eis aqui a
legitimação do jus puniendi10.

10
O direito de punir do Estado.

9
Bibliografia

ALBUQUERQUE J. A. GUILHON. Montesquieu: sociedade e poder. In: WEFFORT,


Francisco C. (Org.). Os Clássicos da Política 1. Serie Fundamentos, n. 62. 10. ed.
Volume I. São Paulo: Ática, 1998, p. 111-121.

BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Direitos Humanos: Coisa de Polícia. Rio Grande do


Sul: Edições CAPEC, Gráfica e Editora Berthier, 2003.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das Penas. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo:
Martin Claret, 2003.

HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Trad.Walter Dutra. Rio de Janeiro:


Zahar, 1981.

LOCKE, J. Segundo Tratado Sobre o Governo. Trad. Alex Marins. São Paulo: Martin
Claret, 2002.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I, Vol. I. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2002.

_______. O 18 de Brumário e Cartas a Kugelmann. 7ª Edição. Trad. Leandro Konder


e Renato Guimarães. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2002.

_______. O Capital: Crítica da Economia Política. (os economistas). Livro I. Trad.


Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. 3 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

_______. O capital. Livro I. São Paulo, Editora Abril, 1983.

_______. A Questão Judaica. São Paulo: Impresso na Tipografia - A União LTDA,


1978.

_______. Manuscritos Econômicos e Filosóficos. Trad. Alex Marins. São Paulo:


Martin Claret, 2001.

MARX, Karl. & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Teses sobre Feuerbach . São
Paulo, Hucitec, 1993.

_______._______. A sagrada família. São Paulo: Boitempo, 2003.

MELOSSI, Dario. A questão Penal em O capital. In: Revista Margem Esquerda: São
Paulo: Boitempo, p. 124-140, 2004.

MELOSSI, D. E PAVARINI M. Cárcere e Fábrica. As origens do sistema


penitenciário (séc. XVI – XIX). Rio de Janeiro: Editora Renavan S.A., 2006.

MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Tradução: Jean Melvile. São Paulo: Martin
Claret, 2004.

10
RIBEIRO, Renato Jeanine. Thomas Hobbes. O medo e a esperança. In: WEFFORT,
Francisco C. (Org.). Os Clássicos da Política 1. Serie Fundamentos, n. 62. 10. ed.
Volume I. São Paulo: Ática, 1998, p. 51-89.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato social. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo:
Martin Claret, 2004.

_________. Du contrat social. Paris, Pléiade, 1954, t. III, p. 177.

RUSCHE Georg. e KIRCHHEIMER Otto. Punição e estrutura social. Trad. Gizlene


Neder. Rio de Janeiro: Revan, 2004, p. 281.

SILVA, André Luiz A. Ressocialização ou controle? Uma análise do trabalho


carcerário. Dissertação de Mestrado, Recife: UFPE, 2006.

WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, 1991, v.1.

11

S-ar putea să vă placă și