Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Foi recentemente publicada a Lei n. 12.683/2012, que altera a Lei de Lavagem de Dinheiro para tornar
mais eficiente a persecução penal no caso desses crimes.
Vamos aprender sobre essa importante novidade legislativa, conhecendo antes um pouco mais a respeito
do crime de lavagem de dinheiro.
Desse modo, a criminalização da lavagem de dinheiro está diretamente relacionada com o combate ao
tráfico de drogas, ao crime organizado, aos crimes contra a ordem tributária, aos crimes contra o sistema
financeiro, aos crimes contra a administração pública e a outros delitos que geram para seus autores
lucros financeiros.
O objetivo, portanto, é o privar as pessoas dedicadas a certos crimes do produto de suas atividades
criminosas e, assim, eliminar o principal incentivo a essa atividade.
Nesse contexto, o Brasil assinou um tratado internacional no qual se comprometeu a reprimir a lavagem
de capitais. Trata-se da chamada Convenção de Viena:
www.dizerodireito.com.br
1
- provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal
- com o intuito de parecer que se trata de dinheiro de origem lícita.
Em palavras mais simples, lavar é transformar o dinheiro “sujo” (porque oriundo de um crime) em
dinheiro aparentemente lícito.
Pena: reclusão de três a dez anos e multa. Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
Crime antecedente
O delito de lavagem de dinheiro é previsto no art. 1º, da Lei n. 9.613/98.
A lavagem de dinheiro é classificada como um crime derivado, acessório ou parasitário, considerando que
se trata de delito que pressupõe a ocorrência de uma infração penal anterior. A doutrina chamava essa
infração penal anterior de “crime antecedente”.
A lei alterada afirma que a lavagem de dinheiro depende de uma infração penal antecedente. Infração
penal é um gênero que engloba duas espécies: crime e contravenção. Logo, a lavagem depende agora de
uma “infração penal antecedente”.
www.dizerodireito.com.br
2
INOVAÇÃO 1:
ANTES: somente havia lavagem de dinheiro se a ocultação ou dissimulação fosse de bens, direitos ou
valores provenientes de um crime antecedente.
AGORA: haverá lavagem de dinheiro se a ocultação ou dissimulação for de bens, direitos ou valores
provenientes de um crime ou de uma contravenção penal. Desse modo, a lavagem de dinheiro
continua a ser um crime derivado, mas agora depende de uma infração penal antecedente, que pode
ser um crime ou uma contravenção penal.
Alguns países preveem um único crime como antecedente, outros trazem uma lista de delitos e há ainda
aqueles que estabelecem que a ocultação ou dissimulação dos ganhos de qualquer infração penal pode
configurar lavagem de dinheiro.
Com base nessas diferenças entre as diversas leis, a doutrina construiu a ideia de que existem três
“gerações” de leis sobre lavagem de dinheiro no mundo:
Primeira geração:
São os países que preveem apenas o tráfico de drogas como crime antecedente da lavagem.
Recebem a alcunha de primeira geração justamente porque foram as primeiras leis no mundo a
criminalizarem a lavagem de dinheiro.
Somente previam o tráfico de drogas como crime antecedente porque foram editadas logo após a
“Convenção de Viena” que determinava que os países signatários tipificassem como crime a lavagem ou
ocultação de bens oriundos do tráfico de drogas.
Segunda geração:
São as leis que surgiram posteriormente e que, além do tráfico de drogas, trouxeram um rol de crimes
antecedentes ampliando a repressão da lavagem.
Como exemplos desse grupo podemos citar a Alemanha, Portugal e o Brasil (até a edição da Lei n.
12.683/2012).
Terceira geração:
Este grupo é formado pelas leis que estabelecem que qualquer ilícito penal pode ser antecedente da
lavagem de dinheiro.
Em outras palavras, a ocultação ou dissimulação dos ganhos obtidos com qualquer infração penal pode
configurar lavagem de dinheiro.
É o caso da Bélgica, França, Itália, México, Suíça, EUA e agora o Brasil com a alteração promovida pela Lei
n. 12.683/2012.
www.dizerodireito.com.br
3
Desse modo, vamos sintetizar essa inovação:
INOVAÇÃO 2:
ANTES: a lei brasileira listava um rol de crimes antecedentes para a lavagem de dinheiro fazendo com
que o Brasil, segundo a doutrina majoritária, estivesse enquadrado nas legislações de segunda geração.
AGORA: qualquer infração penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro. A legislação brasileira
de lavagem passa para a terceira geração.
www.dizerodireito.com.br
4
crimes antecedentes referidos no artigo anterior, infrações penais antecedentes, ainda que
ainda que praticados em outro país; praticados em outro país, cabendo ao juiz
competente para os crimes previstos nesta Lei a
decisão sobre a unidade de processo e julgamento;
Comentários:
Para que seja recebida a denúncia pelo crime de lavagem, deve haver, no mínimo, indícios da prática da
infração penal antecedente.
Registre-se que não se exige condenação prévia da infração penal antecedente para que seja iniciada a
ação penal pelo delito de lavagem de dinheiro.
Por essa razão, o julgamento da infração penal antecedente e do crime de lavagem não precisa ser feito,
necessariamente, pelo mesmo juízo.
Exemplo: Jaime, traficante internacional de drogas, envia o lucro decorrente do comércio ilícito de drogas,
por meio de doleiros, para um paraíso fiscal.
Quantos crimes Jaime praticou?
Tráfico transnacional de drogas (art. 33 c/c art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006);
Evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86);
Lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei n. 9.603/98).
Para que seja oferecida a denúncia por lavagem de dinheiro não é necessário que haja condenação prévia
por tráfico ou evasão de divisas (infrações penais antecedentes), bastando que existam indícios de sua
prática.
Outra pergunta: é necessário que esses três crimes sejam julgados pelo mesmo juízo? O julgamento das
três infrações precisará ser em conjunto?
NÃO. O julgamento da lavagem de dinheiro não precisa ser, necessariamente, feito pelo mesmo juízo que
irá julgar a infração penal antecedente.
A intenção original da Lei n. 9.603/98 era consagrar uma autonomia absoluta entre o processo e
julgamento do crime de lavagem de dinheiro e o da infração penal antecedente.
Ocorre que a jurisprudência afirmou que essa autonomia é relativa, ou seja, é o juiz quem irá analisar se é
conveniente ou não a reunião dos processos, de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
A Lei n. 12.683/2012, ao alterar o inciso II do art. 2º da Lei de Lavagem, deixou claro o que a jurisprudência e a
doutrina majoritárias já sustentavam: o julgamento do crime de lavagem de dinheiro e da infração penal
antecedente podem ser reunidos ou separados, conforme se revelar mais conveniente no caso concreto,
cabendo ao juiz competente para o crime de lavagem decidir sobre a unidade ou separação dos processos.
INOVAÇÃO 3:
ANTES: a Lei de Lavagem afirmava que havia uma autonomia entre o julgamento da lavagem e do crime
antecedente, não esclarecendo se esta autonomia era absoluta ou relativa nem o juízo responsável por
decidir a unificação ou separação dos processos.
AGORA: a alteração deixou claro que a autonomia entre o julgamento da lavagem e da infração penal
antecedente é relativa, de modo que a lavagem e a infração antecedente podem ser julgadas em
conjunto ou separadamente, conforme se revelar mais conveniente no caso concreto, cabendo ao juiz
competente para o crime de lavagem decidir sobre a unidade ou separação dos processos.
www.dizerodireito.com.br
5
Art. 2º, § 1º da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
§ 1º A denúncia será instruída com indícios § 1º A denúncia será instruída com indícios
suficientes da existência do crime antecedente, suficientes da existência da infração penal
sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda antecedente, sendo puníveis os fatos previstos
que desconhecido ou isento de pena o autor nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de
daquele crime. pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração
penal antecedente.
Comentários:
Como já dito, a lavagem de dinheiro é classificada como um crime derivado, acessório ou parasitário,
considerando que se trata de delito que pressupõe a ocorrência de uma infração penal antecedente.
Em outras palavras, é necessário que o dinheiro, bens ou valores ocultados ou dissimulados sejam
provenientes de algum crime ou contravenção já praticado.
Para que se caracterize o crime de lavagem, entretanto, não se exige condenação prévia da infração
antecedente. Segundo o art. 2º, II e § 1º da Lei, a simples existência de indícios da prática da infração penal
antecedente autoriza a instauração de ação penal para apurar a ocorrência do delito de lavagem de
dinheiro, não sendo necessária a prévia punição dos autores do ilícito antecedente.
“(...) 5. O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro é regido pelo Princípio da Autonomia,
não se exigindo, para que a denúncia que imputa ao réu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada
apta, prova concreta da ocorrência de uma das infrações penais exaustivamente previstas nos incisos I a
VIII do art. 1º do referido diploma legal, bastando a existência de elementos indiciários de que o capital
lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas.
6. A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenação, independente da
existência de processo pelo crime antecedente.
7. É o que dispõe o artigo 2º, II, e § 1º, da Lei nº 9.613/98(...)
8. A doutrina do tema assenta: “Da própria redação do dispositivo depreende-se que é suficiente a
demonstração de indícios da existência do crime antecedente, sendo desnecessária a indicação da sua
autoria. Portanto, a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente não constitui óbice ao
ajuizamento da ação pelo crime de lavagem. (...) Na verdade, a palavra ‘indício’ usada na Lei de Lavagem
representa uma prova dotada de eficácia persuasiva atenuada (prova semiplena), não sendo apta, por si só,
a estabelecer a verdade de um fato, ou seja, no momento do recebimento da denúncia, é necessário um
início de prova que indique a probabilidade de que os bens, direitos ou valores ocultados sejam
provenientes, direta ou indiretamente, de um dos crimes antecedentes. (...) De se ver que, no momento do
recebimento da denúncia, a lei exige indícios suficientes, e não uma certeza absoluta quanto à existência
do crime antecedente” (in Luiz Flávio Gomes - Legislação Criminal Especial, Coordenador Luiz Flávio Gomes
e Rogério Sanches Cunha, Lavagem ou Ocultação de Bens – Renato Brasileiro, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009, p. 588/590). (...)
(HC 93368, Relator: Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011)
www.dizerodireito.com.br
6
E se houver a extinção da punibilidade pela prescrição quanto à infração penal antecedente?
A Lei n. 9.683/98, em sua redação original, não dispunha expressamente a esse respeito, falando apenas
que haveria lavagem ainda que desconhecido ou isento de pena o autor da infração antecedente.
Apesar de não haver previsão expressa na redação original da Lei n. 9.683/98, o STJ já tinha decidido que a
extinção da punibilidade pela prescrição quanto aos crimes antecedentes NÃO atrapalhava o
reconhecimento da tipicidade do delito de lavagem de dinheiro (Quinta Turma. HC 207.936-MG, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 27/3/2012).
A Lei n. 12.683/2012 alterou o § 1º do art. 2º da Lei de Lavagem para estabelecer, de modo taxativo, que
poderá haver o crime de lavagem ainda que esteja extinta a punibilidade da infração penal antecedente.
INOVAÇÃO 4:
ANTES: a Lei n. 9.683/98 não explicitava se havia o crime de lavagem no caso de estar extinta a
punibilidade da infração penal antecedente.
AGORA: a alteração trouxe regra expressa no sentido de que poderá haver o crime de lavagem ainda
que esteja extinta a punibilidade da infração penal antecedente. Vale ressaltar que já havia julgado do
STJ nesse sentido, a despeito da omissão legal. A inovação, contudo, é produtiva para que não haja
qualquer dúvida quanto a esse aspecto.
Comentários:
O CPP prevê o seguinte rito no procedimento comum ordinário:
O Ministério Público oferece a denúncia;
O juiz analisa se é caso de receber ou rejeitar a denúncia;
Se o magistrado receber a denúncia, ele determina a citação do acusado para responder à acusação,
por escrito, no prazo de 10 dias (art. 396 do CPP);
Em regra, a citação do acusado é feita pessoalmente, por meio de mandado de citação, que é cumprido
pelo Oficial de Justiça;
O que acontece, no entanto, se o réu não for encontrado para ser citado pessoalmente, mesmo tendo
se esgotado todos os meios disponíveis para localizá-lo (buscou-se, sem sucesso, o endereço atual do
acusado em todos os bancos de dados)?
Nessa hipótese, ele será citado por edital, com o prazo de 15 dias (art. 361 do CPP).
www.dizerodireito.com.br
7
Se o acusado é citado por edital, mesmo assim o processo continua normalmente?
O art. 366 do CPP estabelece o seguinte:
- se o acusado for citado por edital e
- não comparecer nem constituir advogado
- o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos,
- podendo o juiz determinar apenas a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
- se for o caso, decretar prisão preventiva do acusado.
O objetivo do art. 366 é garantir que o acusado que não foi pessoalmente citado não seja julgado à revelia.
Segundo previsão expressa do art. 2º, § 2º da Lei n. 9.613/98, o art. 366 do CPP não se aplica no caso do
processo pelo crime de lavagem de dinheiro. Por quê?
Trata-se de mera opção legislativa. O legislador entendeu que, para os crimes de lavagem de dinheiro, deve
haver um tratamento mais rigoroso ao réu, não se aplicando a suspensão do processo:
“A suspensão do processo constituiria um prêmio para os delinquentes astutos e afortunados e um
obstáculo à descoberta de uma grande variedade de ilícitos que se desenvolvem em parceria com a
lavagem ou a ocultação.” (item 63 da Exposição de Motivos 692/MJ).
Vale ressaltar que a vedação de que seja aplicado o art. 366 do CPP aos processos por crime de lavagem
existe desde a redação original da Lei n. 9.613/98. O que a Lei n. 12.683/2012 fez foi apenas melhorar a
redação do art. 2º, § 2º deixando claro que, além de não se aplicar a suspensão de que trata o art. 366 do
CPP, o juiz nomeará defensor dativo para fazer a defesa técnica do réu e o processo irá prosseguir
normalmente até o seu julgamento.
A alteração foi necessária porque a doutrina criticava o fato do art. 2º, § 2º dizer que não se aplicava o art.
366 do CPP, mas não explicar qual seria o procedimento a ser adotado então. Com a nova Lei está,
portanto, corrigida essa falha.
INOVAÇÃO 5:
ANTES: a Lei n. 9.683/98 afirmava simplesmente que o art. 366 do CPP não se aplicava aos processos
de lavagem de dinheiro, sem explicar qual seria o regramento a ser adotado.
AGORA: a alteração reafirmou que não se aplica o art. 366 do CPP à lavagem de dinheiro, deixando
claro que, se o acusado não comparecer nem constituir advogado, será nomeado a ele defensor dativo,
prosseguindo normalmente o feito até o julgamento.
www.dizerodireito.com.br
8
Art. 3º da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
Art. 3º Os crimes disciplinados nesta Lei são Artigo revogado.
insuscetíveis de fiança e liberdade provisória e, em
caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em
liberdade.
Comentários
A revogação desse artigo foi extremamente acertada, considerando que ele não estava em sintonia com as
recentes alterações promovidas no CPP pela Lei n. 12.403/2011, além de se encontrar contrário à
jurisprudência do STF.
Fiança:
A Lei n. 12.403/2011 recrudesceu a importância da fiança no processo penal, consagrando-a como medida
alternativa à prisão, além de ter estipulado novos valores, consentâneos com a realidade atual.
A fiança é instrumento de grande relevância podendo ser utilizada como garantia de futuro ressarcimento
pelos prejuízos causados.
Além disso, a fiança serve para minimizar o poderio econômico das organizações criminosas que, para
conseguir a liberdade de seus líderes, terão que desembolsar grandes quantias.
A fiança, se prestada em grande valor, serve para redistribuir o ônus do tempo do processo fazendo com
que o réu também se preocupe com a duração razoável do processo, considerando que deseja ser ter de
volta a quantia dada em fiança.
Vale ressaltar, por fim, que o STF entende que, mesmo o crime sendo inafiançável, é possível a concessão
de liberdade provisória sem fiança (HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012). Logo, atualmente,
no Brasil é praticamente inútil e improdutivo a lei estabelecer que determinado crime é inafiançável.
Liberdade provisória:
O STF considera que é inconstitucional toda e qualquer lei que vede, de forma genérica, a concessão de
liberdade provisória. Nesse sentido, decidiu recentemente o STF no caso do HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar
Mendes, 10.5.2012, no qual se declarou inconstitucional o art. 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte em que
proíbe a liberdade provisória para os crimes de tráfico de drogas.
Logo, este art. 3º, apesar de não ter sido declarado pelo STF, era igualmente inconstitucional, tendo sido
em boa hora revogado.
www.dizerodireito.com.br
9
Art. 4º, caput, da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público, ou representação da autoridade Ministério Público ou mediante representação do
policial, ouvido o Ministério Público em vinte e delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em
quatro horas, havendo indícios suficientes, poderá 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios
decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a suficientes de infração penal, poderá decretar
apreensão ou o seqüestro de bens, direitos ou medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores
valores do acusado, ou existentes em seu nome, do investigado ou acusado, ou existentes em nome
objeto dos crimes previstos nesta Lei, procedendo- de interpostas pessoas, que sejam instrumento,
se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei nº produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de ou das infrações penais antecedentes.
Processo Penal.
Uma das formas mais eficazes de combater o crime organizado e a lavagem de dinheiro é buscar, ainda
durante a investigação ou no início do processo, a indisponibilidade dos bens das pessoas envolvidas, o que
faz com que elas tenham menos poder econômico para continuar delinquindo.
A experiência mostra que a prisão preventiva sem a indisponibilidade dos bens é de pouca utilidade nesse
tipo de criminalidade porque a organização criminosa continua atuando. Os líderes, mesmo presos,
comandam as atividades de dentro das unidades prisionais ou então a organização escolhe substitutos que
continuam a praticar os mesmos crimes, considerando que ainda detêm os recursos financeiros para a
prática criminosa.
Desse modo, é indispensável que sejam tomadas medidas para garantir a indisponibilidade dos bens e
valores pertences ao criminoso ou à organização criminosa, ainda que estejam em nome de interpostas
pessoas, vulgarmente conhecidas como “laranjas”.
O art. 4º da Lei de Lavagem trata justamente dessas medidas assecuratórias destinadas à arrecadação
cautelar e, posterior confisco dos bens, direitos ou valores do investigado, do acusado ou das interpostas
pessoas.
A Lei n. 12.683/2012 não trouxe mudanças substanciais no caput do art. 4º, tendo sido apenas aprimorada
a redação original, que era menos clara que a atual.
INOVAÇÃO 6:
Tornou mais clara a redação do art. 4º da LLD, que trata sobre as medidas assecuratórias de bens, direitos
ou valores:
A redação original da Lei mencionava que o juiz poderia decretar a apreensão ou o sequestro de bens,
direitos ou valores. Por conta dessa menção restrita à apreensão e ao sequestro, havia divergência na
doutrina se seria possível o juiz determinar também a hipoteca legal e o arresto. A nova Lei acaba com
a polêmica considerando que afirma que o juiz poderá decretar medidas assecuratórias, terminologia
mais ampla que pode ser vista como um gênero que engloba todas essas espécies de medidas
cautelares.
A nova Lei deixa claro que podem ser objeto das medidas assecuratórias os bens, direitos ou valores
que estejam em nome do investigado (antes da ação penal), do acusado (após a ação penal) ou de
interpostas pessoas.
A nova Lei deixa expresso que somente podem ser objeto de medidas assecuratórias os bens, direitos
ou valores que sejam instrumento, produto ou proveito do crime de lavagem ou das infrações penais
antecedentes.
www.dizerodireito.com.br
10
Art. 4º, § 1º da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
§ 1º As medidas assecuratórias previstas neste § 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para
artigo serão levantadas se a ação penal não for preservação do valor dos bens sempre que
iniciada no prazo de cento e vinte dias, contados da estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração
data em que ficar concluída a diligência. ou depreciação, ou quando houver dificuldade para
sua manutenção.
Comentários:
O § 1º do art. 4º previa que o sequestro e a apreensão deveriam ser levantadas (perderiam eficácia) se a
ação penal não fosse proposta pelo Ministério Público no prazo de 120 dias. Essa previsão foi retirada pela
Lei n. 12.683/2012. Isso significa que não existe mais prazo para intentar a ação penal, salvo se a medida
assecuratória implementada foi o sequestro porque nesse caso o Código de Processo Penal estabelece
prazo de 60 dias, dispositivo que deverá ter aplicação no caso dos processos por crime de lavagem
considerando que não há mais regra específica na Lei n. 9.613/98:
CPP:
Art. 131. O sequestro será levantado:
I - se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias, contado da data em que ficar concluída a
diligência;
INOVAÇÃO 7:
ANTES: a Lei previa que o sequestro e a apreensão deveriam ser levantadas se a denúncia não fosse
oferecida no prazo de 120 dias.
AGORA: foi revogada essa previsão. No caso do sequestro, o CPP prevê que ele será levantado se a
ação penal não for intentada no prazo de 60 dias. Essa regra agora deve ser aplicada também aos
processos de lavagem de dinheiro.
Comentários:
O § 1º, com a nova redação dada pela Lei n. 12.683/2012, trata agora sobre a possibilidade de alienação
antecipada dos bens que são arrecadados por medidas assecuratórias.
Como visto acima, é muito importante para o sucesso do combate à lavagem de dinheiro que sejam
tomadas medidas para tornar indisponíveis os bens, direitos e valores pertencentes às pessoas envolvidas
nos crimes ainda durante a investigação ou logo no início da ação penal.
Ocorre que após tornar indisponíveis os bens dos investigados, acusados ou interpostas pessoas, surge um
problema prático para o Poder Público: o que fazer com tais bens enquanto não ocorre o trânsito em julgado
de uma sentença condenatória, quando então haveria o perdimento desses bens em favor da União?
No Brasil, o trânsito em julgado de uma sentença condenatória por lavagem de dinheiro demora às vezes
10, 12 anos ou até mais. Nesse período, os bens que foram objeto de medidas assecuratórias ficam
perecendo e, ao final do processo, não valem nada ou têm seu valor reduzido absurdamente. Tome-se
como exemplo um automóvel que seja apreendido. Este veículo, ao final do processo, ou seja, ao longo de
12 anos em que ficou sem manutenção, valerá muito pouco.
A solução que tem sido defendida pelos estudiosos para esses casos, sendo, inclusive, recomendada pelo
Conselho Nacional de Justiça (Recomendação n. 30/2010), é a alienação antecipada dos bens.
www.dizerodireito.com.br
11
O que é a alienação antecipada de bens?
A alienação antecipada é
- a venda,
- por meio de leilão,
- antes do trânsito em julgado da ação penal,
- dos bens que foram objeto de medidas assecuratórias e
- que estão sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação,
- ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
A alienação antecipada é inconstitucional por violar o princípio do devido processo legal, o princípio da
presunção de inocência e o direito de propriedade?
NÃO.
O devido processo legal não é afrontado, considerando que a constrição sobre os bens da pessoa não é
feita de forma arbitrária, sendo, ao contrário, prevista na lei que traz os balizamentos para que ela possa
ocorrer.
Não há violação ao princípio da presunção de inocência, considerando que este não é absoluto e não
impede a decretação de medidas cautelares contra o réu desde que se revelem necessárias e proporcionais
no caso concreto. Nesse mesmo sentido, não é inconstitucional a prisão preventiva, o arresto, o sequestro,
a busca e apreensão etc.
O direito de propriedade, que também não é absoluto, não é vilipendiado porque o réu somente irá perder
efetivamente o valor econômico do bem se houver o trânsito em julgado da condenação.
www.dizerodireito.com.br
12
Qual é o procedimento da alienação antecipada na Lei de Lavagem?
A Lei n. 12.683/2012 acrescentou o art. 4ºA prevendo o procedimento da alienação antecipada nos
processos envolvendo lavagem de dinheiro.
Este novo art. 4º A é de fundamental relevância na prática, não sendo, contudo, de grande importância
para fins de concurso público.
Art. 4ºA. A alienação antecipada para preservação de valor de bens sob constrição será decretada pelo juiz,
de ofício, a requerimento do Ministério Público ou por solicitação da parte interessada, mediante petição
autônoma, que será autuada em apartado e cujos autos terão tramitação em separado em relação ao
processo principal.
§ 1º O requerimento de alienação deverá conter a relação de todos os demais bens, com a descrição e a
especificação de cada um deles, e informações sobre quem os detém e local onde se encontram.
§ 2º O juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos apartados, e intimará o Ministério Público.
§ 3º Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença,
homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão ou pregão,
preferencialmente eletrônico, por valor não inferior a 75% (setenta e cinco por cento) da avaliação.
§ 4º Realizado o leilão, a quantia apurada será depositada em conta judicial remunerada, adotando-se a
seguinte disciplina:
§ 5º Mediante ordem da autoridade judicial, o valor do depósito, após o trânsito em julgado da sentença
proferida na ação penal, será:
I - em caso de sentença condenatória, nos processos de competência da Justiça Federal e da Justiça do
Distrito Federal, incorporado definitivamente ao patrimônio da União, e, nos processos de competência da
Justiça Estadual, incorporado ao patrimônio do Estado respectivo;
II - em caso de sentença absolutória extintiva de punibilidade, colocado à disposição do réu pela instituição
financeira, acrescido da remuneração da conta judicial.
www.dizerodireito.com.br
13
§ 7º Serão deduzidos da quantia apurada no leilão todos os tributos e multas incidentes sobre o bem
alienado, sem prejuízo de iniciativas que, no âmbito da competência de cada ente da Federação, venham a
desonerar bens sob constrição judicial daqueles ônus.
§ 8º Feito o depósito a que se refere o § 4o deste artigo, os autos da alienação serão apensados aos do
processo principal.
§ 9º Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões proferidas no curso do
procedimento previsto neste artigo.
§ 10. Sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, o juiz decretará, em favor,
conforme o caso, da União ou do Estado:
I - a perda dos valores depositados na conta remunerada e da fiança;
II - a perda dos bens não alienados antecipadamente e daqueles aos quais não foi dada destinação prévia; e
III - a perda dos bens não reclamados no prazo de 90 (noventa) dias após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé.
§ 11. Os bens a que se referem os incisos II e III do § 10 deste artigo serão adjudicados ou levados a leilão,
depositando-se o saldo na conta única do respectivo ente.
§ 12. O juiz determinará ao registro público competente que emita documento de habilitação à circulação e
utilização dos bens colocados sob o uso e custódia das entidades a que se refere o caput deste artigo.
§ 13. Os recursos decorrentes da alienação antecipada de bens, direitos e valores oriundos do crime de
tráfico ilícito de drogas e que tenham sido objeto de dissimulação e ocultação nos termos desta Lei
permanecem submetidos à disciplina definida em lei específica.
Essa nova disciplina estabelecida pela Lei n. 12.683/2012, relativa à Lavagem de Dinheiro, poderá ser
aplicada aos demais delitos?
SIM. Entendo que esse § 1º do art. 4º, assim como o art. 4º A, da Lei n. 9.613/98 poderão ser aplicados,
por analogia, a todos os demais crimes.
A alienação antecipada, ao contrário do que pode parecer a princípio, é medida menos gravosa ao réu
porque transformado o valor de seu bem em dinheiro, que será depositado em conta sujeita à correção
monetária, ele não irá sofrer os prejuízos decorrentes da desvalorização natural da coisa.
Tome-se novamente o exemplo de um automóvel. Se em 2012 é apreendido o veículo de um réu, é bem
melhor que esse veículo seja vendido logo, preservando seu valor de mercado, do que se fique aguardando
10 anos até que haja o trânsito em julgado.
Ainda que o réu seja absolvido, ele preferirá receber o valor do carro vendido, com a devida correção
monetária, do que a ele ser devolvido um veículo velho e desvalorizado.
INOVAÇÃO 8:
ANTES: não havia previsão expressa de alienação antecipada para os processos de lavagem de dinheiro.
AGORA: a Lei de Lavagem de Dinheiro passou prever, de forma expressa e ampla, a possibilidade de
alienação antecipada sempre que os bens objeto de medidas assecuratórias estiverem sujeitos a
qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para a sua manutenção.
www.dizerodireito.com.br
14
Art. 4º, § 2º da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
§ 2º O juiz determinará a liberação dos bens, § 2º O juiz determinará a liberação total ou parcial
direitos e valores apreendidos ou sequestrados dos bens, direitos e valores quando comprovada a
quando comprovada a licitude de sua origem. licitude de sua origem, mantendo-se a constrição
dos bens, direitos e valores necessários e
suficientes à reparação dos danos e ao pagamento
de prestações pecuniárias, multas e custas
decorrentes da infração penal.
Comentários
O novo § 2º tem agora duas partes:
1ª parte: O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e valores quando
comprovada a licitude de sua origem, (...)
Essa primeira parte, em sua essência, já existia no texto original.
Após o juiz ter decretado a constrição de bens, direitos e valores, a pessoa prejudicada
poderá formular ao juiz um pedido de restituição, mas somente conseguirá a liberação
antecipada (antes da sentença) se conseguir provar que têm origem lícita.
Por isso, alguns autores afirmam que se trata de uma inversão da prova, considerando que é
a parte lesada (e não o MP) que terá que provar que o bem, direito ou valor possui origem
lícita para que seja liberado antes do trânsito em julgado.
Vale ressaltar que mesmo se o bem tiver ficado apreendido durante todo o processo sem
que o interessado consiga provar sua origem lícita, ao final, se ele for absolvido, a liberação
ocorre por força dessa sentença absolutória. Em outras palavras, essa inversão do ônus da
prova ocorre somente para a liberação antes do trânsito em julgado.
2ª parte: (...) mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à
reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes
da infração penal.
A novidade está nesta segunda parte.
Mesmo que a parte lesada consiga provar a origem lícita, ainda assim a constrição
continuará a incidir sobre os bens, direitos e valores necessários e suficientes para arcar com
a reparação dos danos causados pelo crime e para o pagamento de prestações pecuniárias,
multas e custas decorrentes do processo.
INOVAÇÃO 9:
ANTES: se a parte prejudicada conseguisse provar que os bens, direitos ou valores apreendidos ou
sequestrados possuíam origem lícita eles deveriam ser restituídos.
AGORA: mesmo se a parte conseguir provar que os bens, direitos ou valores constritos possuem origem
lícita, ainda assim eles podem permanecer indisponíveis no montante necessário para reparação dos
danos e para o pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal.
Em outras palavras, o simples fato de ter origem lícita não autoriza a liberação de bens apreendidos.
www.dizerodireito.com.br
15
Art. 4º, § 3º da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
§ 3º Nenhum pedido de restituição será conhecido § 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido
sem o comparecimento pessoal do acusado, sem o comparecimento pessoal do acusado ou de
podendo o juiz determinar a prática de atos interposta pessoa a que se refere o caput deste
necessários à conservação de bens, direitos ou artigo, podendo o juiz determinar a prática de atos
valores, nos casos do art. 366 do Código de necessários à conservação de bens, direitos ou
Processo Penal. valores, sem prejuízo do disposto no § 1º (obs: o §
1º trata da alienação antecipada).
Comentários:
Quando o investigado/acusado ou a pessoa interposta tem seus bens apreendidos por ordem judicial, ela
tem a possibilidade de obtê-los de volta mesmo antes do resultado final do processo formulando um
pedido de restituição dirigido ao juiz.
Conforme vimos no § 2º acima, neste pedido de restituição, o interessado deverá provar que o bem, direito
ou valor que foi tornado indisponível possui origem lícita. Além disso, o interessado que formula o pleito de
restituição deverá comparecer pessoalmente em juízo, sob pena do pedido não ser nem conhecido (não ter
seu mérito analisado).
Desse modo, se determinado réu encontra-se foragido e, por intermédio de advogado, formula pedido de
restituição de seus bens apreendidos, o juiz nem irá examinar esse pleito, a não ser que o acusado
compareça pessoalmente em juízo.
Enquanto o réu não comparecer pessoalmente para solicitar a restituição de seus bens, direitos e valores, o
juízo deverá determinar a prática de atos para conservá-los.
A Lei n. 12.683/2012 mantém essa mesma regra, melhorando, contudo, a redação do dispositivo ao retirar
a menção que era feita ao art. 366 do CPP. Essa remissão causava inúmeras confusões considerando que a
Lei de Lavagem dizia, já em sua redação original, que não se aplicava o art. 366 do CPP. Tal polêmica,
contudo, é passado tendo em vista que o novo § 3º não faz qualquer referência ao dispositivo, deixando
ainda mais claro que ele não se aplica aos processos por crime de lavagem.
Outro ponto digno de nota é que o novo § 3º reafirma a possibilidade do juiz determinar a alienação
antecipada dos bens apreendidos e que não forem restituídos.
Assim, por exemplo, se o réu foragido formula pedido de restituição de um carro e não comparece
pessoalmente ao processo, o juiz não irá conhecer do pedido e, como forma de preservar o valor
econômico do automóvel, determinará a sua alienação antecipada em leilão, depositando a quantia
apurada em conta judicial.
www.dizerodireito.com.br
16
Art. 4º, § 4º da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
§ 4º A ordem de prisão de pessoas ou da apreensão § 4º Poderão ser decretadas medidas assecuratórias
ou sequestro de bens, direitos ou valores, poderá sobre bens, direitos ou valores para reparação do
ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, dano decorrente da infração penal antecedente ou da
quando a sua execução imediata possa prevista nesta Lei ou para pagamento de prestação
comprometer as investigações. pecuniária, multa e custas.
A ação controlada “consiste no retardamento da intervenção policial, que deve ocorrer no momento mais
oportuno do ponto de vista da investigação criminal ou da colheita de provas” (LIMA, Renato Brasileiro de.
Manual de Processo Penal. Vol. 1, Niterói: Impetus, 2012, p. 1278).
INOVAÇÃO 10:
ANTES: não havia previsão expressa de constrição de bens para custear a reparação dos danos
decorrente da infração ou para pagamento de prestação pecuniária, multas e custas, o que gerava
divergências na doutrina e jurisprudência.
AGORA: há previsão expressa de que sejam decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou
valores para reparação do dano decorrente da infração penal antecedente ou do crime de lavagem ou
ainda para pagamento de prestação pecuniária, multa e custas do processo.
www.dizerodireito.com.br
17
Art. 7º, inciso I, da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
Art. 7º São efeitos da condenação, além dos Art. 7º São efeitos da condenação, além dos
previstos no Código Penal: previstos no Código Penal:
I - a perda, em favor da União, dos bens, direitos e I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos
valores objeto de crime previsto nesta Lei, casos de competência da Justiça Estadual -, de
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de todos os bens, direitos e valores relacionados,
boa-fé; direta ou indiretamente, à prática dos crimes
previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para
prestar a fiança, ressalvado o direito do lesado ou
de terceiro de boa-fé;
Comentários:
A redação original desse art. 7º, I era completamente desnecessária considerando que esse efeito já era
previsto, de forma genérica, ou seja, para todos os crimes, no art. 91, II, do CP:
Art. 91. São efeitos da condenação:
(...)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a
prática do fato criminoso.
INOVAÇÃO 11:
ANTES: o art. 7º, I, previa, como efeito da condenação, o perdimento de bens, direitos e valores que
tinham sido objeto de lavagem de dinheiro.
AGORA: a nova redação do art. 7º, I é mais ampla e prevê, como efeito da condenação, o perdimento
de bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática de lavagem de dinheiro,
inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança. A nova Lei aumenta, assim, as possibilidades de
perdimento.
INOVAÇÃO 12:
ANTES: o art. 7º, I, previa que o perdimento dos bens, direitos e valores objetos de lavagem de dinheiro
ocorria sempre em favor da União.
AGORA: a nova redação do art. 7º, I prevê que o perdimento dos bens, direitos e valores relacionados
com a lavagem de dinheiro pode ocorrer em favor da União ou do Estado.
O perdimento será em favor da União se o crime de lavagem, no caso concreto, for de competência federal.
Por outro lado, o perdimento será revertido para o respectivo Estado se o processo criminal por lavagem,
na situação específica, for de competência da Justiça Estadual.
www.dizerodireito.com.br
18
Art. 7º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 9.613/98
ANTES da Lei n. 12.683/2012 DEPOIS da Lei n. 12.683/2012
Não havia § 1º no art. 7º. § 1º A União e os Estados, no âmbito de suas
competências, regulamentarão a forma de
destinação dos bens, direitos e valores cuja perda
houver sido declarada, assegurada, quanto aos
processos de competência da Justiça Federal, a sua
utilização pelos órgãos federais encarregados da
prevenção, do combate, da ação penal e do
julgamento dos crimes previstos nesta Lei, e,
quanto aos processos de competência da Justiça
Estadual, a preferência dos órgãos locais com
idêntica função.
Não havia § 2º no art. 7º. § 2º Os instrumentos do crime sem valor
econômico cuja perda em favor da União ou do
Estado for decretada serão inutilizados ou doados a
museu criminal ou a entidade pública, se houver
interesse na sua conservação.
Comentários:
Como vimos acima, o perdimento dos bens, direitos e valores ocorre em favor da União (nos casos de
processos de competência federal) e em favor dos Estados (nas hipóteses de competência estadual).
A Lei acrescenta esse § 1º ao art. 7º afirmando que a União e os Estados poderão editar atos infralegais
disciplinando para onde serão destinados os bens, direitos e valores cujo perdimento houver sido declarado.
A própria Lei, contudo, limita a discricionariedade do regulamento afirmando que deverá ser assegurada a
utilização de tais bens, direitos e valores pelos órgãos encarregados da prevenção (ex: COAF), do combate
(ex: Polícia Federal), da ação penal (ex: Ministério Público) e do julgamento (ex: varas especializadas) de
lavagem de dinheiro.
O § 2º também foi acrescentado ao art. 7º não havendo, contudo, qualquer comentário digno de registro,
sendo o dispositivo muito claro.
www.dizerodireito.com.br
19
Comentários
Para que haja um eficiente combate à lavagem de dinheiro é necessário que o Poder Público tenha certo
registro e controle sobre as seguintes atividades, considerando que elas podem ser utilizadas
indevidamente como mecanismo destinado à lavagem de capitais:
Captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros;
Compra e venda de moeda estrangeira;
Compra e venda de ouro como ativo financeiro ou instrumento cambial;
Quaisquer espécies de negócios envolvendo títulos ou valores mobiliários.
Logo, a Lei determinava, neste art. 9º, que as pessoas jurídicas que desenvolvessem essas atividades,
estariam sujeitas a obrigações previstas nos arts. 10 e 11. Os arts. 10 e 11, que veremos mais a frente,
trazem uma série de obrigações relacionas com a identificação e o registro dos indivíduos que se utilizam
desses serviços. É o caso, por exemplo, de uma casa de câmbio que é obrigada a exigir o nome, o CPF e a
assinatura de toda e qualquer pessoa que compre dólar em sua loja.
INOVAÇÃO 12:
ANTES: a Lei previa esta obrigação para as pessoas físicas apenas em algumas situações específicas,
como as trazidas pelos incisos IX a XII do parágrafo único do art. 9º.
AGORA: a Lei prevê, de forma genérica, que todas as pessoas físicas que trabalham com as atividades
listadas no art. 9º estão sujeitas às obrigações previstas nos arts. 10 e 11.
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações: Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
(...) (...)
X - as pessoas jurídicas que exerçam atividades de X - as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam
promoção imobiliária ou compra e venda de atividades de promoção imobiliária ou compra e
imóveis; venda de imóveis;
(...) (...)
XII - as pessoas físicas ou jurídicas que XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem
comercializem bens de luxo ou de alto valor ou bens de luxo ou de alto valor, intermedeiem a sua
exerçam atividades que envolvam grande volume comercialização ou exerçam atividades que
www.dizerodireito.com.br
20
de recursos em espécie. envolvam grande volume de recursos em espécie;
(...) (...)
Não havia esse inciso XIII. XIII - as juntas comerciais e os registros públicos;
Não havia esse inciso XIV. XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem,
mesmo que eventualmente, serviços de assessoria,
consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento
ou assistência, de qualquer natureza, em operações:
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos
comerciais ou industriais ou participações societárias
de qualquer natureza;
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros
ativos;
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de
poupança, investimento ou de valores mobiliários;
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de
qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou
estruturas análogas;
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre
contratos relacionados a atividades desportivas ou
artísticas profissionais;
Não havia esse inciso XV. XV - pessoas físicas ou jurídicas que atuem na
promoção, intermediação, comercialização,
agenciamento ou negociação de direitos de
transferência de atletas, artistas ou feiras,
exposições ou eventos similares;
Não havia esse inciso XVI. XVI - as empresas de transporte e guarda de valores;
Não havia esse inciso XVII. XVII - as pessoas físicas ou jurídicas que
comercializem bens de alto valor de origem rural ou
animal ou intermedeiem a sua comercialização; e
Não havia esse inciso XVIII. XVIII - as dependências no exterior das entidades
mencionadas neste artigo, por meio de sua matriz no
Brasil, relativamente a residentes no País.
Comentários
Além das pessoas físicas e jurídicas elencadas no caput do art. 9º, o parágrafo único do mesmo artigo prevê
um rol de pessoas físicas e jurídicas que também possuem as obrigações previstas nos arts. 10 e 11 da Lei
de Lavagem.
O que fez a Lei n. 12.683/2012 com relação ao elenco de pessoas obrigadas previsto no parágrafo único do
art. 9º?
A nova Lei atualizou a redação de três incisos (I, X e XII) com o objetivo de abranger mais pessoas que
desenvolvam tais atividades.
www.dizerodireito.com.br
21
Além disso, a nova Lei acrescentou 6 novos incisos incluindo novas hipóteses em que pessoas
físicas/jurídicas também obrigadas a prestar as informações de que tratam os arts. 10 e 11.
Para fins de concurso é extremamente importante conhecer e memorizar os incisos que foram
acrescentados.
A inclusão de algumas atividades gerará intensa polêmica e, certamente, será objeto de ações de
inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
É o caso, por exemplo, do novel inciso XIV. Pela redação do dispositivo, pode ser incluído como obrigado
um advogado ou escritório de advocacia que tenha prestado assessoria a determinado empresário para a
constituição de uma offshore no exterior.
Desse modo, o Governo exigirá que o advogado preste as informações de que tratam os arts. 10 e 11 e o
advogado certamente alegará sigilo profissional para não fornecer os dados. Surgirá o conflito: direito ao
sigilo profissional X direito do Estado de prevenir a prática de ilícitos.
Sem me alongar muito, até porque o tema é profundo e exige considerações substanciosas sobre a
relatividade dos direitos, entendo que não há qualquer inconstitucionalidade na previsão, considerando
que as obrigações de que tratam os arts. 10 e 11, conforme se verá adiante, são proporcionais e não
aniquilam o sigilo profissional, mas simplesmente estabelecem limitações legítimas a esse direito, que não
é absoluto e que não pode servir como escudo para a prática de atividades ilícitas.
INOVAÇÃO 13:
AGORA: os incisos I, X e XII do parágrafo único do art. 9º tiveram sua redação modificada e foram
incluídas seis novas atividades (incisos XIII a XVIII) cujas pessoas que as exercem passam a ter as
obrigações previstas nos arts. 10 e 11 da Lei de Lavagem.
III - deverão atender, no prazo fixado pelo órgão III - deverão adotar políticas, procedimentos e
judicial competente, as requisições formuladas pelo controles internos, compatíveis com seu porte e
Conselho criado pelo art. 14, que se processarão volume de operações, que lhes permitam atender
em segredo de justiça. ao disposto neste artigo e no art. 11, na forma
disciplinada pelos órgãos competentes;
www.dizerodireito.com.br
22
IV - deverão cadastrar-se e manter seu cadastro
atualizado no órgão regulador ou fiscalizador e, na
falta deste, no Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf), na forma e condições por eles
estabelecidas;
Comentários
Conforme explicado, as pessoas de que trata o art. 9º, caput e parágrafo, devem cumprir as obrigações
previstas nos arts. 10 e 11 da Lei.
O inciso III foi modificado e os incisos IV e V foram inseridos pela Lei n. 12.683/2012.
INOVAÇÃO 14:
A Lei ampliou as obrigações previstas no art. 10 da Lei de Lavagem e que devem ser cumpridas pelas
pessoas de que trata o art. 9º.
II - deverão comunicar, abstendo-se de dar aos II - deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de dar
clientes ciência de tal ato, no prazo de vinte e ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive
quatro horas, às autoridades competentes: àquela à qual se refira a informação, no prazo de 24
(vinte e quatro) horas, a proposta ou realização:
Não havia esse inciso III. III - deverão comunicar ao órgão regulador ou
fiscalizador da sua atividade ou, na sua falta, ao
Coaf, na periodicidade, forma e condições por eles
www.dizerodireito.com.br
23
estabelecidas, a não ocorrência de propostas,
transações ou operações passíveis de serem
comunicadas nos termos do inciso II.
Comentários
As alterações promovidas neste artigo não foram profundas e mostram-se sem muita relevância para fins
de concurso. Pode ser cobrada, no entanto, a nova redação dos dispositivos.
Comentários
Alteração sem tanta relevância para fins de concurso. Pode ser cobrada, no entanto, a nova redação do
dispositivo.
II - multa pecuniária variável, de um por cento até o II - multa pecuniária variável não superior:
dobro do valor da operação, ou até duzentos por a) ao dobro do valor da operação;
cento do lucro obtido ou que presumivelmente b) ao dobro do lucro real obtido ou que
seria obtido pela realização da operação, ou, ainda, presumivelmente seria obtido pela realização da
multa de até R$ 200.000,00 (duzentos mil reais); operação; ou
c) ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de
reais);
www.dizerodireito.com.br
24
das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;
§ 2º A multa será aplicada sempre que as pessoas § 2º A multa será aplicada sempre que as pessoas
referidas no art. 9º, por negligência ou dolo: referidas no art. 9º, por culpa ou dolo:
III - deixarem de atender, no prazo, a requisição III - deixarem de atender, no prazo estabelecido, a
formulada nos termos do inciso III do art. 10; requisição formulada nos termos do inciso V do art. 10;
Comentários
As alterações promovidas neste artigo não foram profundas e mostram-se sem tanta relevância para fins
de concurso. Pode ser cobrada, no entanto, a nova redação dos dispositivos.
Comentários
As alterações promovidas neste artigo não foram profundas e mostram-se sem tanta relevância para fins
de concurso. Pode ser cobrada, no entanto, a nova redação dos dispositivos.
www.dizerodireito.com.br
25
CAPÍTULO X
DISPOSIÇÕES GERAIS
Foi acrescentado um novo capítulo à Lei n. 9.713/98 (Capítulo X – Disposições Gerais) com cinco novos
artigos. Vejamos cada um deles:
Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as disposições do Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941
(Código de Processo Penal), no que não forem incompatíveis com esta Lei.
Comentários:
Desse modo, em caso de lacunas e omissões, o CPP é aplicado nos processos que envolvam os crimes de
lavagem de dinheiro.
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso, exclusivamente, aos dados cadastrais
do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de
autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas instituições
financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartão de crédito.
Comentários:
Apesar da redação do artigo não ser das melhores, o que quis dizer o dispositivo foi o seguinte:
- O delegado de polícia e o membro do Ministério Público
- poderão requisitar diretamente (ou seja, sem necessidade de autorização judicial),
- das empresas de telefonia, das instituições financeiras, dos provedores de internet e das
administradoras de cartão de crédito e da Justiça Eleitoral,
- os dados cadastrais do investigado
- que contenham a sua qualificação pessoal, filiação e endereço.
Desse modo, o art. 17-B é um dispositivo que trará grande agilidade às investigações criminais, eliminando
o longo e desnecessário tempo de tramitação deste requerimento em juízo.
A fim de garantir a plena efetividade da nova regra, defendo que, se o delegado de polícia ou o membro do
MP, apesar do art. 17-B, formular pedido ao juiz para que este requisite tais dados cadastrais, o magistrado
não deverá conhecer do pleito por falta de interesse de agir, salvo se a autoridade policial ou o Parquet
comprovarem que houve recusa no atendimento do requerimento direto.
Os referidos dados cadastrais estão protegidos por alguma espécie de sigilo que somente possa ser
afastado pelo Poder Judiciário? O acesso aos dados cadastrais é cláusula de reserva de jurisdição?
A resposta é NÃO. Os dados cadastrais, como endereço, qualificação, filiação e número de telefone dos
investigados não estão abrangidos pelo sigilo das comunicações telefônicas previsto no inciso XII do art. 5º
da CF. Nesse sentido confira-se os seguintes precedentes do STJ:
www.dizerodireito.com.br
26
(...) Não estão abarcados pelo sigilo fiscal ou bancário os dados cadastrais (endereço, n.º telefônico e
qualificação dos investigados) obtidos junto ao banco de dados do Serpro. Embargos parcialmente
acolhidos, com efeitos infringentes, para dar parcial provimento ao recurso.
(EDcl no RMS 25.375/PA, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 18/11/2008, DJe 02/02/2009)
(...) frise-se que o inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal assegura o sigilo das comunicações
telefônicas, nas quais, por óbvio, não se inserem os dados cadastrais do titular de linha de telefone celular.
(HC 131.836/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 04/11/2010, DJe 06/04/2011)
Desse modo, entendo que não há qualquer mácula no dispositivo inserido. Ao contrário, trata-se de
previsão racional e consentânea com a necessária tendência de se desjudicializar diversos procedimentos.
Ressalte-se, contudo, que o dispositivo trata especificamente de dados cadastrais, não abrangendo os
registros telefônicos (chamadas efetuadas e recebidas). Assim, os registros telefônicos não estão incluídoas
na autorização desse artigo.
Uma última observação: entendo que esta previsão do art. 17-B pode ser estendida para as investigações
de outros crimes que não apenas os de lavagem de dinheiro, sendo comando de caráter geral, não havendo
qualquer sentido em se proibir sua aplicação aos demais delitos.
Art. 17-C. Os encaminhamentos das instituições financeiras e tributárias em resposta às ordens judiciais
de quebra ou transferência de sigilo deverão ser, sempre que determinado, em meio informático, e
apresentados em arquivos que possibilitem a migração de informações para os autos do processo sem
redigitação.
Comentários:
Imaginemos que o Delegado de Polícia Federal representa ao juiz pela quebra do sigilo bancários dos
últimos cinco anos de três empresas pertencentes ao investigado.
O juiz defere a quebra e determina às diversas instituições bancárias nas quais as empresas tinham contas
que forneçam as informações à autoridade policial.
Este Delegado irá receber muitas centenas de documentos e o perito da Polícia Federal levará vários meses
para conseguir ler todas as páginas enviadas e preparar seu laudo.
Pensando nessa grande dificuldade prática, a Lei, de forma muito sábia, determinou que as instituições
financeiras e tributárias, ao cumprirem as ordens judiciais de quebra ou transferência de sigilo deverão,
sempre que assim determinado, encaminhar as respostas em meio informático, em arquivos digitais que
possibilitem copiar as informações que tenham nos arquivos para um editor de texto. Ex: os bancos
deverão encaminhar os extratos bancários em formato pdf copiável, ou seja, pdf que reconheça os
caracteres escritos e permita sua copia.
Trata-se de medida destinada a facilitar o trabalho dos órgãos de investigação, do Ministério Público e do
próprio Poder Judiciário.
De igual modo, aqui também entendo que este art. 17-C deve ser aplicado para as investigações de outros
crimes que não apenas os de lavagem de dinheiro.
www.dizerodireito.com.br
27
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração
e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu
retorno.
Comentários:
Reputo que esta previsão é inconstitucional.
Indiciamento é o ato do Delegado de Polícia apontando alguém como possível autor do delito que está
sendo investido, devendo este indiciamento ser comunicado ao investigado, salvo se estiver ausente
injustificadamente, ocasião em que o indiciamento será indireto.
O CPP menciona a palavra indiciado em alguns momentos. Apesar disso, não disciplina como deveria ser a
formalidade do ato de indicamento, seus requisitos etc. Algumas polícias regulamentam internamente as
formalidades para o indiciamento, mas em outros locais, devido à ausência de lei, trata-se de ato
amplamente discricionário da autoridade policial.
Como no inquérito policial, segundo a concepção majoritária, não existe contraditório nem ampla defesa, a
pessoa investigada não sabe, formalmente, de antemão, que pode vir a ser indiciada não dispondo de
qualquer meio de se defender desse ato ou de tentar refutar esta intenção da autoridade policial.
Vale ressaltar que o Ministério Público não está em nada atrelado ao indiciamento, podendo, por exemplo,
requerer o arquivamento do inquérito policial em relação à pessoa indiciada pelo delegado, ajuizando a
ação penal contra outro indivíduo que não havia sido indiciado.
O indiciamento, assim, diante de todas essas circunstâncias que o cercam, sempre teve pouca ou nenhuma
relevância jurídica.
Além do indiciamento ser circunstância extremamente precária, pode acontecer de o referido servidor
possuir um cargo que nada tem a ver com o suposto crime de lavagem que teria cometido. Logo, seu
afastamento geraria prejuízo ao interesse público até mesmo porque não haveria nenhum risco de ele
continuar trabalhando.
A melhor solução legal seria o juiz, ao receber a denúncia, diante do pedido expresso do Ministério Público
com a demonstração da necessidade, decidir se seria caso de afastar cautelarmente ou não o servidor
público que fosse acusado de lavagem de dinheiro. Essa foi aliás, a opção adotada pela Lei de Drogas (art.
56, § 1º, da Lei n. 11.343/2006).
Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservará os dados fiscais dos contribuintes pelo
prazo mínimo de 5 (cinco) anos, contado a partir do início do exercício seguinte ao da declaração de
renda respectiva ou ao do pagamento do tributo.
Alteração sem tanta relevância para fins de concurso. Pode ser cobrada, no entanto, a nova redação do
dispositivo.
www.dizerodireito.com.br
28
BIBLIOGRAFIA
BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes federais. 7ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.
BARROS, Marco Antonio de. Lavagem de capitais e obrigações civis correlatas - com comentários, artigos
por artigos, à Lei 9.613/98. 2ª ed., São Paulo: Malheiros, 2007.
BRASILEIRO, Renato. Lavagem ou ocultação de bens. Lei 9.613, 03.03.1998. In: GOMES, Luiz Flávio; CUNHA,
Rogério Sanches (Coord.). Legislação Criminal Especial. São Paulo: RT, 2009.
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro (Lavagem de ativos provenientes de crime). Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9.613/98. 1ª ed., São Paulo: Malheiros. 1999.
MORO, Sérgio Fernando. Crime de lavagem de dinheiro. São Paulo: Saraiva, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5ª ed., São Paulo: RT, 2010.
www.dizerodireito.com.br
29