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BACIA HIDROGRÁFICA
1. GENERALIDADES
Embora a quantidade de água existente no planeta seja constante, e por isso o ciclo global
possa ser considerado fechado, os estudos de hidrologia se aplicam quase sempre a unidades
hidrológicas que devem ser tratadas como sistemas abertos. Assim, na prática, nos estudos
envolvendo a questão da disponibilidade de água, das enchentes e inundações, dos
aproveitamentos hídricos para irrigação, da geração de energia, etc., adota-se a Bacia
Hidrográfica como unidade hidrológica, principalmente pela simplicidade que oferece para a
aplicação da equação do balanço hídrico.
1.1 Definição
A bacia hidrográfica é a área definida topograficamente, drenada por um curso d’água
ou um sistema conectado de cursos d’água, de modo que toda a vazão efluente seja
descarregada através de uma saída simples. Constitui-se no sistema físico ou área coletora da
água da precipitação, que a faz convergir para uma única seção de saída, denominada exutória,
foz ou desembocadura.
Nas aplicações da equação do balanço hídrico em que o volume de controle é a bacia
hidrográfica, o volume da água precipitada corresponde à quantidade de entrada, enquanto que a
saída é a soma do volume de água escoado pela seção exutória com os volumes correspondentes
às perdas intermediárias decorrentes da evaporação e transpiração. Ainda, dependendo da
aplicação que se faz, as quantidades infiltradas profundamente podem ser tratadas como perdas
(saídas) ou incorporadas no termo de armazenamento.
1
No interior de uma bacia hidrográfica podem existir picos isolados de cotas superiores às da linha de cumeada.
2 Os escoamentos através de uma seção qualquer do curso d’água são provenientes das contribuições naturais
subterrâneas, somadas às águas de chuva que se escoam superficialmente.
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Figura 2 – Bacia hidrográfica e seu sistema de drenagem (Fonte: Agência Nacional de Água – ANA)
b) Densidade de drenagem
A densidade de drenagem de uma bacia hidrográfica, λd, dá uma boa indicação do grau
de desenvolvimento do sistema. É obtida dividindo-se o comprimento total dos cursos d’água da
bacia hidrográfica, incluindo-se os perenes, intermitentes e efêmeros, pela área de drenagem.
Numa representação matemática,
∑ Li
λd = . (03)
A
Os valores deste índice para as bacia naturais encontram-se, geralmente, compreendidos
na faixa de 0,5 km-1 a 3,5 km-1, sendo que o limite inferior caracteriza as bacias com drenagem
pobre e o limite superior aplica-se a bacias excepcionalmente bem drenadas.
É importante destacar, ainda, que a densidade de drenagem que se obtém com o emprego
da Eq. (03) depende muito da escala do mapa topográfico utilizado na sua determinação. Mapas
com escalas reduzidas “escondem” detalhes e levam a uma sub-avaliação do comprimento total
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dos cursos d’água. Assim, é importante fornecer juntamente com a densidade de drenagem a
escala do mapa empregado na sua determinação. A bacia do rio do Carmo é muito bem drenada
e apresenta densidade de drenagem λd = 2,43 km-1, determinada na escala 1:50.000.
Figura 4 – Transformação da bacia em bacia retangular para a obtenção do percurso médio do escoamento
superficial
3
Quando as declividades incluem várias ordens de grandeza, pode ser necessário empregar-se uma escala
logarítmica nas ordenadas do gráfico da Figura 4.
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Tabela 1 – Declividades da bacia do rio Capivari obtidas pelo método das quadrículas, para o problema
exemplo 2
0,727 0,253 0,177 0,139 0,117 0,096 0,082 0,066 0,048 0,029 0,000 0,000
0,587 0,250 0,176 0,138 0,116 0,096 0,082 0,066 0,048 0,028 0,000 0,000
0,564 0,248 0,173 0,138 0,115 0,096 0,081 0,065 0,048 0,028 0,000 0,000
0,554 0,243 0,173 0,137 0,115 0,095 0,081 0,065 0,047 0,028 0,000 0,000
0,508 0,241 0,167 0,137 0,114 0,095 0,080 0,064 0,047 0,027 0,000 0,000
0,483 0,241 0,167 0,137 0,114 0,094 0,080 0,064 0,046 0,027 0,000 0,000
0,474 0,236 0,164 0,135 0,113 0,094 0,079 0,062 0,046 0,027 0,000 0,000
0,434 0,232 0,162 0,135 0,113 0,093 0,079 0,062 0,046 0,027 0,000 0,000
0,429 0,232 0,161 0,133 0,111 0,093 0,079 0,062 0,046 0,027 0,000 0,000
0,385 0,230 0,161 0,132 0,111 0,092 0,078 0,062 0,045 0,027 0,000 0,000
0,380 0,224 0,160 0,131 0,111 0,092 0,077 0,061 0,045 0,027 0,000 0,000
0,372 0,221 0,160 0,130 0,111 0,091 0,077 0,061 0,045 0,026 0,000 0,000
0,371 0,221 0,160 0,130 0,110 0,091 0,077 0,061 0,042 0,026 0,000 0,000
0,369 0,219 0,158 0,129 0,109 0,091 0,077 0,061 0,041 0,026 0,000 0,000
0,366 0,218 0,157 0,129 0,108 0,090 0,076 0,061 0,041 0,025 0,000 0,000
0,365 0,218 0,157 0,128 0,108 0,090 0,076 0,061 0,041 0,024 0,000 0,000
0,363 0,216 0,156 0,128 0,107 0,090 0,074 0,060 0,040 0,024 0,000 0,000
0,361 0,216 0,156 0,126 0,105 0,090 0,074 0,059 0,039 0,023 0,000 0,000
0,349 0,216 0,156 0,126 0,105 0,090 0,073 0,059 0,038 0,023 0,000 0,000
0,349 0,212 0,154 0,124 0,105 0,089 0,072 0,059 0,038 0,022 0,000 0,000
0,322 0,211 0,152 0,124 0,105 0,088 0,072 0,058 0,037 0,021 0,000 0,000
0,320 0,209 0,152 0,122 0,104 0,088 0,072 0,058 0,037 0,021 0,000
0,318 0,209 0,151 0,122 0,102 0,088 0,071 0,057 0,036 0,021 0,000
0,316 0,208 0,149 0,122 0,102 0,088 0,071 0,055 0,036 0,020 0,000
0,307 0,205 0,147 0,121 0,100 0,087 0,071 0,054 0,035 0,020 0,000
0,281 0,205 0,146 0,121 0,100 0,086 0,071 0,053 0,035 0,017 0,000
0,281 0,204 0,146 0,121 0,100 0,086 0,070 0,053 0,034 0,016 0,000
0,281 0,201 0,145 0,121 0,100 0,086 0,070 0,053 0,034 0,012 0,000
0,280 0,200 0,145 0,120 0,099 0,085 0,069 0,052 0,034 0,000 0,000
0,273 0,196 0,145 0,120 0,099 0,085 0,069 0,051 0,033 0,000 0,000
0,271 0,189 0,143 0,119 0,099 0,084 0,069 0,050 0,033 0,000 0,000
0,269 0,187 0,142 0,118 0,099 0,084 0,068 0,049 0,032 0,000 0,000
0,267 0,186 0,141 0,118 0,098 0,084 0,068 0,049 0,032 0,000 0,000
0,261 0,185 0,140 0,118 0,098 0,083 0,067 0,049 0,031 0,000 0,000
0,259 0,184 0,139 0,118 0,096 0,083 0,066 0,049 0,030 0,000 0,000
0,254 0,184 0,139 0,117 0,096 0,082 0,066 0,049 0,029 0,000 0,000
0,8
0,7
0,6
declividade (m/m)
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
freqüência acumulada (%)
Figura 5 – Representação gráfica da distribuição de freqüência das declividades da bacia do rio Capivari.
d = ∑ fi ⋅ di , ( ) (08)
onde d i representa o valor médio da declividade do i-ésimo intervalo de classe e fi é a
freqüência correspondente. Com os dados do problema exemplo 2, constrói-se a Tabela 3. O
resultado da Eq. (08) é encontrado somando-se a última coluna da Tabela 3: d ≅ 0,113.
Tabela 3 – Elementos para o cálculo da declividade média da bacia do rio Capivari com base na Eq. (08)
declividade freqüência
intervalo de classe média, relativa, fi × di
das declividades
di fi
[0,7270; 0,6543[ 0,69065 0,00240 0,001656
[0,6543; 0,5816[ 0,61795 0,00240 0,001482
[0,5816; 0,5089[ 0,54525 0,00480 0,002615
[0,5089; 0,4362[ 0,47255 0,00719 0,003400
[0,4362; 0,3635[ 0,39985 0,02158 0,008630
[0,3635; 0,2908[ 0,32715 0,02158 0,007061
[0,2908; 0,2181[ 0,25445 0,05995 0,015255
[0,2181; 0,1454[ 0,18175 0,11751 0,021357
[0,1454; 0,0727[ 0,10905 0,32614 0,035565
[0,0727; 0,0000[ 0,03635 0,43645 0,015865
soma = 1,00000 0,1129
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Solução: Com base nos procedimentos sugeridos no item 3.4.2, constrói-se a Tabela 5, onde se
representam as áreas relativas e áreas relativas acumuladas (3a e 4a colunas).
A curva hipsométrica é construída lançando-se, nas abscissas, os valores das áreas relativas
acumuladas da 4a coluna da Tabela 5, em função das cotas correspondentes (limites inferiores da
1a coluna da Tabela 5), nas ordenadas, e traçando-se uma linha suave pelos pontos. Esta curva,
para a bacia hidrográfica do rio Capivari do problema exemplo 3, é mostrada na Figura 6.
A elevação mediana, zmed, é estimada do gráfico da Figura 6, a partir da leitura da cota
correspondente à área relativa acumulada de 50%. Desta Figura resulta zmed ≅ 840m, o que indica
que 50% da área de drenagem da bacia encontra-se acima (e abaixo) da cota 840m.
A elevação média, z , pode ser estimada segundo
z = ∑ (A i ⋅ z i ) ,
1
(09)
A
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onde Ai é a área compreendida entre duas curvas de nível consecutivas e z i é a média aritmética
das cotas destas curvas de nível. Com os dados das colunas 5 e 6 da Tabela 5, e com a Eq. (09),
obtém-se
z = ∑ (A i ⋅ z i ) =
1 703.436 ,50
= 816,5 m.
A 861,56
1200
1100
1000
900
cota, (m)
800
700
600
500
400
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
áreas relativas acumuladas (%)
Figura 6 – Curva hipsométrica da bacia do rio Capivari do problema exemplo 5.
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Figura 7 – Retângulo equivalente de uma bacia hidrográfica hipotética – os zi’s indicam as cotas das curvas de
nível.
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Às vezes, é considerado como aquele de maior comprimento.
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linha e a abscissa seja igual à área compreendida entre a curva do perfil e a abscissa. A área sob a
curva do perfil pode ser determinada diretamente por métodos gráficos, ou analiticamente somando-
se as áreas de elementos trapezoidais, conforme indicado na Figura 9. Designando-se a área abaixo
da linha do perfil por Ap,
(z + z foz ) ⋅ (x 1 ) + (z 2 + z1 ) ⋅ (x 2 − x 1 ) + L + (z cabeceira + z n )(L − x n )
Ap = 1 , (17)
2
onde zfoz e zcabeceira são as elevações do álveo na foz e cabeceira, e z1, z2, ... zn são as cotas de pontos
intermediários que distam x1, x2, ... xn da foz, respectivamente. A declividade S2 pode ser obtida da
igualdade:
A p = [z foz + (z foz + S 2 ⋅ L )]⋅ L = (2z foz + S 2 ⋅ L ) ⋅ L
1 1
2 2
donde
Ap z
S 2 = 2 2 − 2 foz . (18)
L L
Figura 9 – Perfil longitudinal do rio principal e elementos para a obtenção da declividade média S2
Li
T = ∑ ti = ∑ . (20)
K S
i i
Para o canal de declividade equivalente constante S3,
L L L
T= = = , (21)
V C R H ⋅ S3 K S3
onde L = Σ Li = comprimento do canal. Identificando as Eqs. (20) e (21), e desconsiderando os
efeitos de rugosidade e de forma do canal, tem-se
Li
L
S3
=
∑
S
i
,
ou,
L2
S3 = 2
. (22)
L i
∑
i
S
5
Água de chuva que fica retida nas folhagens e troncos.
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EXERCÍCIOS
balanço hídrico e características físicas da bacia hidrográfica
1o) Discorrer brevemente sobre o ciclo hidrológico na natureza, enunciando suas fases básicas, a fonte de
energia e a principal força atuante.
2o) Definir bacia hidrográfica. Como se demarcam os seus limites e se determina sua área?
3o) O desmatamento em uma bacia hidrográfica pode ser causa de assoreamento nos rios? Pode ser causa de
inundações. Justifique.
4o) O sistema de abastecimento de água de uma cidade de 250.000 habitantes deverá utilizar como manancial
um curso d’água natural cuja área de drenagem, relativa à seção de captação, é igual a 100km2. A
precipitação média anual na região é de 1200mm e as perdas anuais por evapotranspiração são estimadas em
800mm. Sabendo-se que o consumo médio é de 200l/(hab.dia), verifique se esse manancial tem capacidade
para abastecer a cidade.
7o) Para o cálculo da declividade de um curso d’água natural, é dado o seu perfil longitudinal, conforme
tabela abaixo.
8o) Para o estudo das características fisiográficas de duas bacias foram efetuados levantamentos topográficos
que produziram os resultados dados na tabela abaixo. Com base nestes elementos, calcular a densidade de
drenagem, o coeficiente de compacidade e o fator de forma da bacia hidrográfica. Interpretar os resultados.
parâmetro bacia A bacia B
área de drenagem (km2) 320 450
perímetro da bacia hidrográfica (km) 71 120
comprimento do rio principal (km) 22 63
comprimento total dos cursos d’água na bacia (km) 112 315
9o) Na Figura 11 encontra-se representado, em escala, o retângulo equivalente de uma bacia hidrográfica.
Com base nas propriedade deste retângulo e considerando a escala do desenho, pede-se:
a) construir a curva hipsométrica da bacia;
b) calcular as altitudes média e mediana da bacia;
c) calcular o coeficiente de compacidade da bacia.
10o) Utilizando o critério de Horton-Strahler, estabelecer a ordem do curso d’água principal da bacia
representada na Figura 10 da 5a Questão.
BIBLIOGRAFIA
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