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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CURSO: Letras DISCIPLINA: Português VIII


CONTEUDISTAS: Ana Claudia Machado Teixeira
Luciana Sanchez Mendes
Nadja Pattresi de Souza e Silva
José Carlos Gonçalves

AULA 4 – VARIAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA

META

Nesta aula, refletiremos sobre a variação sociolinguística a que a língua está sujeita.
Apresentamos um panorama geral dos estudos clássicos que identificam o caráter mutável
da língua e como essa mutabilidade está condicionada a fatores específicos de cunho social.

OBJETIVOS

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

1. Reconhecer que a língua é um sistema vivo e que, por essa razão, está sujeita à variação
e mudança;
2. Identificar os principais fatores que condicionam a variação;
3. Refletir criticamente sobre a dicotomia variação e preconceito linguístico.
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INTRODUÇÃO
Apresentar os estudos sociolinguísticos no Brasil requer fazer uma revisão, em primeiro
lugar, dos autores que se destacaram na observação e análise dessa abordagem dos estudos
da linguagem. É importante ressaltar que tais estudos tiveram por estímulo um longo
caminho aberto que foi deixado pelos estudos iniciais da linguística moderna. Na esteira
dessa ideia, é interessante ressaltar que os estudos desenvolvidos pelo pai da linguística
moderna, Ferdinand de Saussure, pretenderam dar conta de um recorte específico: o
sistema, nas palavras do mestre genebrino, a langue (língua). Após este primeiro momento,
outros estudiosos iniciaram pesquisas a partir de outro recorte não estudado por Saussure,
apesar de identificado e refletido em linhas gerais, a parole (a fala).

BOXE
Ferdinand Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857 — Morges, 22 de fevereiro de
1913) é considerado o pai da linguística moderna. Seu famoso livro “Curso de Linguística
Geral” foi publicado postumamente em 1916 por seus alunos Charles Bally e Albert
Sechehaye, com a colaboração de A. Ridlinger, com base em uma compilação de anotações
dos seus cursos de Linguística ministrados na Universidade de Genebra.

Fonte:
FIM DO BOXE

Na definição de Saussure, a língua é um sistema de signos e tem um caráter social, uma vez
que é exterior ao indivíduo. A fala, por sua vez, é um ato individual e, portanto, está sujeita
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a todo tipo de idiossincrasias. Dessa forma, o linguista propõe que a linguística deve
enfocar a língua por ser sistemática e passível de descrição. É importante notar o que
Saussure quer dizer com 'social' quando caracteriza a língua porque a acepção é muito
diferente do que se entende por social na sociolinguística. O aspecto social da língua
descrita por Saussure diz respeito ao caráter abstrato do sistema de regras que a caracteriza,
ou seja, a língua não está na cabeça de um falante, mas é uma abstração das regras e
convenções adotadas por todos os falantes daquela língua.

Outra corrente linguística do século XX bastante influente que não considerou o aspecto
social das línguas naturais foi o gerativismo, proposta por Noam Chomsky. Para Chomsky,
a língua tem um caráter biológico. Ela é um dispositivo inato presente na mente dos seres
humanos e que os diferencia dos demais animais. A tarefa do linguista, segundo essa
perspectiva, é descrever as propriedades da competência do falante que, com um conjunto
abstrato de regras, é capaz de gerar infinitas sentenças. Nesse sentido, o gerativismo se
interessa por uma gramática abstrata. Essa corrente despreza o uso dos recursos dessa
gramática quando colocada em contexto, o chamado desempenho. A dicotomia
chomskyana é definida em competência e desempenho e o linguista, segundo ele, deve se
interessar pela competência.

BOXE
Avram Noam Chomsky (Filadélfia, 7 de dezembro de 1928) é um linguista, filósofo,
cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em
âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna".

Chomsky é professor emérito de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts


(MIT), e é precursor do que ficou conhecido como Teoria Gerativa. Em seus trabalhos
defende que a linguagem humana é uma propriedade inata do cérebro/mente humanos.
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Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido


pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados
Unidos.

Fonte: Wikipedia

FIM DO BOXE

A grande virada nos estudos linguísticos da segunda metade do século XX se deu com as
publicações de William Labov. Labov afirma a importância de uma concepção social da
língua. Seu famoso estudo sobre a estratificação social do /r/ em posição pós-vocálica em
inglês, publicado em 1966 (ver mais detalhes no boxe abaixo), mostrou que é possível
mensurar e explicar a variação. Nesse trabalho, Labov mostrou quais os fatores sociais
condicionantes das possíveis formas de pronúncia de palavras como floor ('andar')
analisando dados coletados em diferentes lojas de departamento em Nova Iorque,
direcionadas a públicos de diferentes faixas de renda.

BOXE
William Labov é um linguista americano nascido no dia 4 de dezembro de 1927 e
reconhecido como o fundador da sociolinguística variacionista. Entre suas publicações mais
citadas estão “The Social Stratification of English in New York City”, de 1966, e
“Sociolinguistic Patterns”, de 1972. Labov ainda atua como pesquisador na Universidade
da Pensilvânia.
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Fonte:
FIM DO BOXE

Nesse sentido, podemos ver que há um sistema que rege a variação por trás da
heterogeneidade dos usos. O famoso linguista Fernando Tarallo, que foi o grande
divulgador da sociolinguística laboviana no Brasil, afirma que a tarefa do sociolinguista
está em processar, analisar, e sistematizar o universo aparentemente caótico da língua
falada (TARALLO, 1985).

No contexto brasileiro, podemos citar, ainda, a importância de Evanildo Bechara na


divulgação da proposta do linguista romeno Eugenio Coseriu de divisão tripartite entre
sistema, norma e fala. Compare com o que foi dito de Saussure e você observará que a
novidade nessa divisão está na inserção da “norma”. Essa concepção é muito importante
quando se trata de variação. A norma de Coseriu não faz referência à norma tradicional,
mas a uma norma fundamentada na descrição dos hábitos linguísticos de uma dada
comunidade de fala. Ou seja, não se trata de uma norma que descreve “como deve ser”,
mas uma norma que descreve “como é”. A norma não é tão invariável quanto o sistema que
descreve o conjunto básico de regras abstratas de uma língua nem tão variável quanto a
fala, que é a manifestação concreta e individual. Nesse sentido, uma língua pode comportar
muitas normas.
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Vemos, portanto, que a constatação de que há variação quando se fala de língua já existia.
No entanto, ela era deixada de lado como se fosse um aspecto impossível de ser estudado
com objetividade. Os estudos de Labov influenciaram muitos outros que enriqueceram as
investigações linguísticas com a pesquisa da variação.

1. A VARIAÇÃO COMO PROPRIEDADE BÁSICA DA LÍNGUA

Você deve ter percebido que existem diferenças entre o modo de falar do português
brasileiro e o do português de Portugal. Quanto às diferenças fonéticas (trata-se da
pronúncia dos sons), o brasileiro diz “eu sei”, o português diz “eu sâi”. Também há
diferenças lexicais ou de vocabulário (trata-se das palavras que existem lá e não existem
aqui, e vice-versa). Os habitantes da zona rural são chamados de “saloio” em Portugal e, no
Brasil, chamamos de caipira, “capiau”, “matutu”. No modo de organizar as frases, orações
e partes que as compõem também há diferenças, são as diferenças sintáticas: no Brasil,
usamos estou falando com você, em Portugal, estou a falar consigo. Quanto ao significado
das palavras, chamadas de diferenças semânticas, cueca, em Portugal, por exemplo, são as
calcinhas das brasileiras, e bichas significam filas.

O caráter variável da língua se baseia, principalmente, na constatação de que a língua é um


organismo vivo. E por que comumente se afirma essa condição básica da língua? Sendo a
língua falada por humanos e estando esses humanos vivos, adquirindo conhecimentos de
toda ordem, trocando impressões, relacionando-se entre grupos, interagindo
comunicativamente, é natural que a maneira de se comunicar se molde a essa realidade.
Uma prova dessa condição é a criação de palavras que se adéquem a novos campos de
conhecimento como, por exemplo, a tecnologia. O verbo deletar é um dos exemplos que
apontamos na aula 03, como parte desse novo léxico.

A Sociolinguística preocupa-se com a linguagem tanto no nível dialetal como no


variacional a partir dos contextos em que esses níveis podem ser observados. É importante,
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então, levar em consideração como a língua funciona em uma comunidade de fala e,


principalmente, quais são os fatores que influenciam mudanças linguísticas.

Pensar, assim, no organismo vivo é tratar da relação entre sociedade e linguagem,


identificando esses fatores. Portanto, a língua varia em função do contexto em que é
utilizada, ou seja, seu uso efetivo promove condições para que sua faceta mutável se
realize. Nesse sentido, a mudança se estabelece de acordo com contextos históricos,
geográficos e socioculturais e dentro de uma comunidade de fala (veja no boxe abaixo uma
definição informal de comunidade de fala.

VERBETE
Para a Sociolinguística, numa comunidade de fala estão agrupados falantes de uma mesma
língua que partilham traços linguísticos que os identificam, ou seja, compõem um grupo
distinto que tem comunicação muito mais ativa entre seus componentes se comparados com
os outros grupos que falam a mesma língua. Isso envolve também o compartilhamento de
normas e atitudes diante do uso da linguagem.
FINAL DO VERBETE

Assim, a linguagem como um fator de ordem social e cultural se constitui como uma
identidade da comunidade a que se refere. A organização social da língua permite que os
indivíduos interajam, uma vez que há regularidade na aparente irregularidade, apesar de
diferenças singulares, de alguma forma, marcarem um estilo. A dinâmica de estabilidade e
de mudança é natural e permite tanto a expressão mais pessoal quanto a coletiva, ligada a
questões identitárias.

Em entrevista para a revista ReVEL (2007), Labov define que o objeto da Sociolinguística
“É a língua, o instrumento que as pessoas usam para se comunicar com os outros na vida
cotidiana. Esse é o objeto que é o alvo do trabalho em Variação Linguística. Existem outros
ramos da Sociolinguística que estão preocupados primordialmente com questões sociais: o
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planejamento linguístico, a escolha pela ortografia oficial e outros que se preocupam com
as consequências das ações de fala”.

BOX PARA SABER MAIS


Nessa mesma entrevista, Labov sugere uma bibliografia básica para se aprofundar na
abordagem sociolinguística que nós reproduzimos aqui: “Entre os estudos mais antigos
importantes, eu acredito que os trabalhos de Peter Trudgill em Norwich, Walt Wolfram em
Detroit e meus próprios estudos em Nova Iorque (que acabaram de aparecer em uma
segunda edição, bem como no livro Sociolinguistic Patterns) deveriam ser conhecidos.
Alguns dos trabalhos mais importantes em variação linguística são feitos no Brasil, e as
pesquisas de Anthony Naro, Marta Scherre, Sebastião Votre, Gregory Guy, Eugenia Duarte
e Fernando Tarallo devem ser vistas. Muitos desses trabalhos têm relação com a pesquisa
em variação em espanhol, nos estudos de Shana Poplack, Richard Cameron e Carmen
Silva-Corvalán. Meu trabalho recente está reportado em dois volumes do Principles of
Linguistic Change (1994, 2001). Por fim, qualquer um que deseja estar atualizado com
pesquisas na área deve ler o periódico Language Variation and Change, onde são
publicados os artigos mais importantes. ”
FIM DO BOX PARA SABER MAIS

A partir da concepção de que um estudo de base sociolinguística pretende descrever


estatisticamente um fenômeno variável, pesquisando e sistematizando as variantes de uma
dada comunidade de fala, há de considerar fatores internos – as possibilidades do sistema
linguístico – e externos – a influência da própria comunidade e do que/quem interage com
ela, a fim de se analisar o cenário em que a variação e/ou mudança ocorre. Dessa forma, a
Sociolinguística se ocupa, principalmente, “[...] das diversidades nos repertórios
linguísticos das diferentes comunidades conferindo às funções sociais que a linguagem
desempenha a mesma relevância que até então se atribuía tão-somente aos aspectos formais
da língua” (BORTONI-RICARDO, 2005, p.20).
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Ademais, ao se caracterizar esse cenário, a análise sociolinguística busca tratar da relação


entre o processo de variação que tem por princípio estudar a língua em um determinado
recorte de tempo (ou seja, sincronicamente) com os processos de mudança que objetivam
dar conta das transformações que acontecem na estrutura da língua ao longo do tempo (por
isso, diacronicamente).

2. VARIAÇÃO ESTÁVEL E MUDANÇA EM PROGRESSO, EM TEMPO REAL E


TEMPO APARENTE

Alguns conceitos importantes derivam dessa relação entre processo de variação e de


mudança, são eles: variação estável e mudança em progresso, relacionados ao primeiro
processo, e mudança em tempo real e tempo aparente, ligados ao segundo. Vamos a eles!

As análises que cobrem as transformações da língua não são estanques, ao contrário,


entendemos tais alterações a partir de um contínuo, pensando que, para se passar de um
lado A para um lado B, passamos por um meio do caminho A/B. Por isso, apesar de
apresentarmos os conceitos separadamente, tais transformações não são dicotômicas, ou
seja, opostas.

Como toda análise sociolinguística tem por base as variáveis sociais, em todos os conceitos
aqui apresentados, é necessário definir um quadro de variação observado a partir da
comunidade de fala. No que se refere ao campo dos processos de variação, dois conceitos
são importantes: o de variação estável e o de mudança em progresso. O primeiro visa a
estabelecer o conjunto de variação que tende a se manter por um tempo mais longo em
função de não haver predominância entre uma e outra variante. Podemos citar como
exemplo o caso de “a gente / nós” para designar a primeira pessoa do plural no sistema de
pronomes, como abaixo:
a) Nós vamos ao cinema.
b) A gente vai ao cinema.
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Como toda variação é contextualizada, é claro que há situações em que uma ou outra forma
de falar/escrever pode ser mais presente. Porém, isso não significa dizer que, pelo menos no
português do Brasil atual, há uma predominância significativa entre elas. Já no caso de “tu /
você”, podemos verificar a predominância de ”você” em relação ao “tu” em grande parte
do português falado no Brasil. Observe:
c) Tu vais ao cinema?
d) Você vai ao cinema?

Nesse último caso, estamos diante de um exemplo de mudança em processo uma vez que o
processo de variação progride para a decisão entre uma ou outra variante. Nesse caso, essa
opção precisa se generalizar sendo, portanto, utilizada pela grande maioria dos falantes de
uma dada comunidade de fala. A outra variante tende a ficar obsoleta, ou seja, cair em
desuso.

Em um estudo sociolinguístico, também se leva em consideração, como mencionamos


acima, outros fatores que possam intervir nessas transformações. Dessa forma, podemos
analisar tais mudanças associando questões como faixa etária, grau de escolaridade, tipo de
registro: oral ou escrito, região geográfica, sexo, etc. Esse detalhamento é necessário para
que se possa identificar se o processo de variação em determinado enquadre se resolve por
uma das variantes em um determinado estrato. Nesse caso, teríamos uma variação estável.

Os dois outros conceitos ligados ao processo de mudança são: mudança linguística em


tempo aparente e em tempo real. Para tanto, consideramos um desenvolvimento no tempo,
pensando em um processo diacrônico. Uma questão interessante de se ressaltar é a
tendência das mudanças verificadas na sincronia, de alguma maneira, poderem ser uma
inferência do que ocorreu diacronicamente. Isso acontece em razão de as mudanças não
serem totalmente aleatórias, ao contrário, possuírem alguma regularidade e sistematicidade.
Estamos diante de um princípio regido pela economia, já que a língua se define pela relação
de fatores linguísticos e sociais.
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Por conta dessa relação, no campo da sociolinguística, “postula-se que a variação


observada sincronicamente em um determinado ponto da estrutura da gramática de uma
comunidade de fala pode refletir um processo de mudança em curso na língua, no plano
diacrônico” (LUCHESI e ARAUJO, 2015). Os dois últimos conceitos apresentados nessa
seção buscam dar conta da análise desse plano diacrônico, e, portanto, tempo real se trata
do tempo efetivamente analisado, ou seja, o decorrer dos anos e séculos em que se pôde
verificar o processo de mudança. Já o tempo aparente é um tipo de projeção porque
refletiria o comportamento linguístico de gerações distintas de falantes em um dado
momento em etapas distintas do desenvolvimento histórico dessa comunidade linguística.
Nas palavras de CHAMBERS e TRUDGILL (1980, p. 165):

“A validade do [tempo aparente] depende crucialmente da hipótese de que a fala das


pessoas de 40 anos hoje reflete diretamente a fala das pessoas de 20 anos há 20 anos atrás
e pode, portanto, ser comparada com a fala das pessoas de 20 anos de hoje, para uma
pesquisa da difusão da mudança linguística. As discrepâncias entre a fala das pessoas de
40 e 20 anos são atribuídas ao progresso da inovação linguística nos vinte anos que
separam os dois grupos.”

O que precisa ficar claro nesse momento é o fato de essa projeção – o tempo aparente –
poder ser muito mais complexa do que uma mera associação. Para isso, os estudos da
sociolinguística se apoiam tanto na sistematicidade / previsibilidade do sistema quanto na
variabilidade / inovação, já que podem se manter fatores sociais ou podem surgir outros
fatores ou fatos que não foram previstos. Sobre isso, ressaltamos as palavras de Luchesi e
Araujo: “nada pode assegurar que uma tendência de mudança identificada pelo linguista
num determinado momento não será revertida num futuro próximo em decorrência de
novos fatos que não estavam presentes no momento em que o linguista fez o seu
diagnóstico”. Em função desse caráter contingencial dos processos históricos, "qualquer
afirmação sobre a mudança [em progresso] é evidentemente uma inferência" (LABOV,
1981, p. 177). Esse prognóstico entre mudança em curso e variação estável baseia-se na
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combinação dos resultados obtidos através da correlação da variável linguística estudada


com as variáveis sociais.

Um exemplo interessante dos estudos de tempo aparente e tempo real foi o realizado
pelos pesquisadores Callou, Moraes e Leite (1998), em que se observou o caso do
apagamento do “r” final no dialeto carioca. A pesquisa concluiu que diante da
necessidade de considerar o fator social “falantes do sexo masculino e do sexo feminino”
e o fator linguístico “verbos e não-verbos” o estudo mostrou a complexidade da mudança
linguística. Ao considerar também que o apagamento incide tanto sobre o material com
conteúdo morfológico como o do fonológico, os pesquisadores enfrentaram problemas
conceituais em função de, no modelo da fonologia lexical, as regras variáveis se
aplicarem no nível pós-lexical, em que as informações morfológicas já não estariam
presentes. Nesse sentido, num modelo de projeção – o tempo aparente – esse fato passa a
ser de atestação. Finalizando a pesquisa, os autores ressaltam que “vale salientar que o
apagamento do R final tem sido considerado um caso de mudança de baixo para cima
que, ao que tudo indica, já atingiu seu limite, e é hoje uma variação estável, sem marca de
classe social”. Para fixar melhor os pontos estudados até agora, vamos fazer uma pequena
atividade.

ATIVIDADE 01

a) Pesquise na internet um caso de mudança a partir da relação tempo aparente e tempo


real. Identifique se há algum fator social ou linguístico que pode ter interferido na análise
dos dados.
b) Com base nas informações apresentadas nessa seção, explique qual o tipo de processo
– variação ou mudança – que ocorreu com Vossa mercê – Você. Busque informações no
link:
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/ALDR-
6SHJUE/a_implementa__o_do_pronome_voc_.pdf?sequence=1
SOBRE A CATEGORIA SOCIAL GÊNERO
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Resposta
a) A ideia é fazer com que você procure nas pesquisas os fatores que contribuíram para
atestar a mudança e que podem, de alguma maneira, fazer com que se tenha mais
dificuldade ou facilidade de analisar os dados de língua em uso.
b) O caso em questão trata-se de mudança em progresso. Mais uma vez, a intenção é
conciliar o estudo do processo de mudança em si e os fatores linguísticos ou
extralinguísticos intervenientes.

A variação linguística pode dar a aparência de um verdadeiro caos. Mas existe


ordem e regularidade nesse caos. Na próxima seção mostramos como se pode
mensurar a variação.

3. COMO MEDIR O CAOS LINGUÍSTICO?

Como vimos, Tarallo (1985) afirma que a tarefa do sociolinguista é sistematizar o caos
linguístico. Nesse sentido, dizemos que o objeto de estudo da sociolinguística é a variação.
O primeiro passo para entender de que forma isso é feito é definindo o que são variáveis e
variantes linguísticas. Entende-se por variável o conjunto constituído pelos diferentes
modos de realizar a mesma coisa, e variante cada uma das formas linguísticas em
coocorrência para realizar a mesma coisa. A manutenção de que seja “a mesma coisa” é
uma exigência de que o significado seja mantido apesar das variantes. A variável é,
portanto, o conjunto das variantes.

O fenômeno linguístico específico a ser estudado é denominado de variável dependente e


os fatores estruturais e sociais que estão envolvidos no fenômeno configuram as variáveis
independentes. Por exemplo, se formos estudar o modo de pronunciar o /-r/ final na
marcação de infinitivo, a variável dependente será a marcação de infinitivo. As variantes
nesse caso são duas: variante 1: pronunciar o /-r/; e variante 2: apagar o /-r/. Esse conjunto
das formas variantes forma o chamado envelope de variação.
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As variáveis independentes são os fatores que podem estar associados a uma ou outra
variante. Do ponto de vista estrutural, há certas propriedades do contexto fônico em que o
verbo aparece que podem influenciar na pronúncia ou apagamento do /-r/ final. Por
exemplo, há uma tendência de marcação maior quando a palavra que vem depois do verbo
começa com uma vogal. Observe a diferença entre 'falar alto' e 'falar demais'. Em 'falar alto'
há uma tendência de que esse /-r/ final seja pronunciado juntando com a palavra seguinte.
Em 'falar demais', por outro lado, o apagamento do /-r/ é mais comum.

Vemos, portanto, que, a despeito do caos linguístico aparente, a variação não é livre. Ela é
estruturada de acordo com as propriedades sistêmicas da língua e deve, portanto, ser
descrita e explicada pelos linguistas.

ATIVIDADE 02
Vamos fixar os termos estudados!
Vamos refletir sobre um fenômeno linguístico de natureza lexical que está em variação no
português. Trata-se da concorrência de nomes para descrever o brinquedo abaixo.

Descreva esse fenômeno em termos de variável e variante, ou seja, qual a variável


envolvida nessa variação? Quais variantes concorrem para a expressão dessa variável? Que
variáveis dependentes e independentes estão envolvidas?
Resposta: 08 linhas
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Resposta:
Variável dependente: palavra utilizada para designar o brinquedo que voa com a força do
vento enquanto é segurado por uma pessoa.
Variantes: pipa, papagaio, cafifa, raia, pandorga.
Variáveis independentes: fatores regionais que influenciam a escolha das variantes, por
exemplo:
− pipa (São Paulo);
− pandorga (Estados do Sul);
− pepeta (Estados do Norte).
FIM DA ATIVIDADE

A variação linguística não é neutra e isenta de significados sociais. Atitudes positivas e/ou
negativas podem estar associadas ao uso das variantes, principalmente por parte de falantes
de outras variantes. Esse assunto será aprofundado na próxima seção.

4. E QUANDO ALGUMA VARIANTE TEM MAIS PRESTÍGIO DO QUE


OUTRAS?

Como vimos, embora a variação seja inerente à língua e haja variantes possíveis para uma
só variável, essa diversidade linguística acaba sendo alvo de avaliação positiva ou negativa
por parte dos falantes. No plano sintático, fonético ou lexical, algumas variantes, por se
associarem a fatores sociais, econômicos e regionais, recebem um tratamento valorativo,
como se fossem distorções de um padrão considerado ideal. Disso surge o que se pode
chamar preconceito linguístico.

Antes de especificar o tema, é útil pensarmos na formação da palavra “preconceito” e


naquilo que ela significa. Unindo a ideia do prefixo “pré” à do substantivo “conceito”, a
palavra diz respeito a algo que se toma a princípio, antes que se estabeleça uma reflexão
ponderada e fundamentada.
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Portanto, em qualquer espécie de preconceito - o de cor, o de gênero, o de classe social, o


de atividade profissional e o linguístico, inclusive - existe uma atitude subjetiva, apoiada
em julgamentos qualitativos, em termos de “certo” e “errado”, “melhor” ou “pior”.

BOXE INFORMATIVO
Essa postura tem a ver com a função unificadora e/ou separatista da língua (Garvin &
Mathiot, 1974), que nos une aos nossos conterrâneos ou membros da nossa comunidade de
fala (os nós) e nos separa ou afasta dos outros falantes de outras comunidades de fala (os
eles). Essa propriedade é o que nos aproxima daqueles que falam a mesma variante (nossa)
e nos afasta, ou distancia daqueles que usam uma variante estranha, ou diferente (deles).
Isso tem a ver com um outro fenômeno interessante, que é o etnocentrismo linguístico e
cultural, que faz com que nos consideremos como o centro, a norma, o correto e vejamos o
outro como o errado, o engraçado, ou estranho. Nós pensamos que não temos sotaque.
Quem tem sotaque é o outro (ou outros).
FIM DO BOXE

Já estudamos, em cursos anteriores, que o ponto de vista da Linguística e, por extensão, o


da Sociolinguística, não é o de qualificar e avaliar os usos da língua. Também não é o de
prescrever nem ditar normas, tal como faz a dita Gramática Normativa, cujo olhar
generalizante e abstrato sobre a linguagem e a língua acaba por negligenciar as
possibilidades de usos linguísticos.

A perspectiva da Sociolinguística será, então, o de descrever e relacionar as variedades


linguísticas de acordo com os fatores internos e externos que as condicionam, sem o
objetivo de determinar que um desses usos seja mais legítimo e mais recomendado que os
demais. Interessa estudar o como, o onde e o porquê da variação.

Além disso, é bom observar que o objetivo da sociolinguística é também explicativo. Não
se trata apenas de uma descrição isenta de preconceitos e dogmatismos. A descrição isenta
e profissional tem como consequência a tomada de consciência e defesa da igualdade de
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direitos linguísticos e culturais dos falantes de comunidades diferentes da maioria social


e/ou escolar dominante. Em outras palavras, a sociolinguística se preocupa com a descrição
linguística isenta de preconceitos e normativismos e, como consequência, se engaja na
promoção do respeito aos direitos linguísticos e culturais das comunidades de fala e seus
falantes, visando à promoção humana e ao empoderamento linguístico e social dos
cidadãos.

O que se vê, em geral, como decorrência das pesquisas sociolinguísticas, é a constatação de


que há usos que são social e culturalmente mais valorizados de acordo com cada época.
Isso, como já sugerimos, menos tem a ver com a função e as propriedades de dado dialeto
ou variação linguística do que com fatores econômicos e sociais a eles atrelados.

Para especificar melhor essa situação, vale mencionar a ideia desenvolvida por Pierre
Bourdieu, sociólogo francês, de que a linguagem funciona como uma espécie de “capital”
cujo valor é dado no e pelo “mercado social da linguagem”. Seria como se o discurso
valesse como signo de riqueza, de autoridade, de dominação etc. e refletisse a própria
estrutura da sociedade.

BOX PARA SABER MAIS


Pierre Félix Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo e professor francês que se dedicou ao
estudo de diferentes temas, entre os quais educação, cultura, arte, linguística, mídia e
política. Em obras como O Que Falar Quer Dizer: a economia das trocas simbólicas, e a A
Economia das Trocas Simbólicas, o autor discute a relação entre o discurso e as estruturas
sociais que lhe atribuem valor.
FIM DO BOX PARA SABER MAIS

Assim, por exemplo, existe a ideia de que as palavras “flagelo” e “claridade”, pronunciadas
como “fragelo” e “craridade” por falantes menos escolarizados têm menor valor e
representam um “erro de português”, já que é alvo de um forte estigma social.
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O julgamento dessas formas acaba resultando da avaliação negativa que se faz dos seus
usuários, daí dizermos que, nesse e em muitos outros casos, o preconceito linguístico é
fruto de outros preconceitos também: o social, o geográfico etc. Como exemplo, temos o
preconceito e estigmatização que existem em relação aos dialetos e falantes nordestinos em
geral. Esse preconceito e estigma ficaram em muita evidência nas redes sociais e na mídia
em razão da cisão política que acometeu o país após o segundo turno das eleições
presidenciais de 2014.

Sob o olhar da Sociolinguística, porém, a análise que se faz desses usos está diretamente
relacionada ao contexto em que é empregada (entre falantes menos escolarizados, por
exemplo) e a possíveis motivações linguísticas e até históricas que a favorecem.

Podemos pensar, por exemplo, que a troca do fonema /l/ pelo /r/, denominada rotacismo,
não é gratuita. Em primeiro lugar, você se lembra da semelhança que há entre os dois
fonemas, ambos produzidos na mesma região articulatória e, por isso, classificados como
laterais?

Em segundo, você sabia que, na história da língua portuguesa, muitas palavras em que hoje
se emprega o “r” são originadas de palavras em que o “l” participava de um grupo
consonantal (“pl”, “bl”, “cl”)? Isso se vê em vários termos latinos que evoluíram para o
português, como “sclavu”, que originou “escravo”; “blandu” que deu “brando” e “flaccu”
que formou “fraco”.

Não é curioso e revelador? Esses e outros casos tipicamente rotulados como “incorreções”
revelam, na verdade, o caráter sistemático e histórico da língua, que tende a se organizar e a
retomar princípios que estão previstos em sua própria evolução. Além disso, não há
nenhum indício no sistema e na organização do português que desautorize essas
ocorrências, afinal elas não alteram o sentido nem a função das palavras em foco.
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Com base nessas reflexões, Marcos Bagno, professor e pesquisador da Universidade de


Brasília, discute as motivações e impropriedades das diferentes manifestações do
preconceito linguístico (Bagno, 2003). Para tanto, o autor lista e questiona alguns “mitos”
sobre a linguagem e a língua portuguesa.

Em resumo, são eles: a ideia de que só existe uma forma “correta” de usar a língua; a de
que o brasileiro não sabe português; a de que o português de uma região é melhor do que o
português de outros lugares; a de que falar certo é falar como se escreve; a de que a norma
culta representada pela gramática representa a norma culta efetivamente usada pelos
falantes; a de que saber as regras da gramática normativa equivale a saber português.

QUIZZ
Vamos rever algumas ideias discutidas até agora. Leia atentamente as afirmações abaixo e
atribua Verdadeiro ou Falso.
1. Uma das grandes contribuições da sociolinguística está em avaliar as V F
variantes e afirmar se são “certas” ou “erradas”. ( ) ( )

2. O objetivo da sociolinguística é descrever e relacionar as variedades V F


linguísticas de acordo com os fatores internos e externos que as ( ) ( )
condicionam. Dessa forma, ela ajuda a explicar o aparente caos de
variedades que encontramos nos fenômenos da linguagem.

3 A língua correta do Brasil é a que se fala no Rio de Janeiro e que se deve V F


usar como modelo. Em todos os outros lugares, encontram-se sotaques que ( ) ( )
não devem utilizados pelos brasileiros letrados.

4. Algumas palavras em que hoje são escritas com “r” são originárias de V F
palavras com encontro consonantal com “l”, como por exemplo “brando” ( ) ( )
que se origina da palavra “blandu”.

5. Para o sociólogo Bourdieu, a linguagem pode ser considerada como se V F


fosse um “capital” de valor que é atribuído pelo um mercado social da ( ) ( )
20

linguagem.
FIM DO QUIZZ

Resposta do Quizz:

Assim, para se combater o preconceito linguístico, é preciso refletir sobre o conceito de


língua, sua função social e sua variedade constitutiva. É preciso partir do princípio de que a
gramática normativa reúne um conjunto de regras abstratas que não representam por
completo a realidade do uso da língua, nem mesmo entre os falantes escolarizados.

Para o professor e o pesquisador da língua, então, cabe o exercício crítico de mostrar a


variedade de usos e de regras que os tornam possíveis, sem a preocupação de estabelecer o
modelo escrito como o único padrão aceitável. Deve-se observar e descrever os usos reais
do português, para que haja o conhecimento da língua como ela é realizada e não apenas de
sua versão idealizada e cristalizada nas gramáticas.

Sob a ótica sociolinguística, devemos pensar em termos do que é possível e do que é


adequado de acordo com os fatores situacionais que afetam o uso da língua, e não mais em
termos do que seja o “certo” e o “errado” absolutos. É preciso, então, substituir os conceitos
de certo e errado, da gramática normativa tradicional, pelos conceitos sociolinguísticos de
adequado/inadequado aos diferentes contextos, situações, gêneros e atos de fala da
comunicação humana e suas diferentes funções e objetivos.

Afinal, em muitos casos, os chamados “erros de português” nada mais são do que questões
de ortografia, que se limitam a um aspecto da escrita e não dizem respeito ao campo da
língua como um todo. Trata-se de uma questão que pode ser facilmente resolvida com a
prática da exposição e do contato com a convenção, a normatização, o que, em geral, não
afeta a finalidade mais ampla da comunicação e da interação de que qualquer falante do
português é capaz.
21

Para desenvolver a capacidade de uso real da língua, então, torna-se importante pensar,
entre outras coisas, em quem fala ou escreve para quem; em que lugar, espaço e momento
isso acontece; sob que circunstâncias materiais e com que finalidade.

Afinal, um adolescente que, sem nenhum propósito ou intenção além de solicitar algo, pede
ao seu melhor amigo que não vá embora de sua casa, dizendo algo como “Por obséquio,
Vossa Excelência se dignaria a permanecer no recinto?” estaria fazendo um uso tão
inadequado da língua quanto um funcionário que se dirigisse ao seu empregador, durante
uma reunião de trabalho, da seguinte forma: “Meu camarada, tudo em cima para a reunião
de amanhã?”.

QUIZZ SOBRE ADEQUAÇÃO


Vamos refletir sobre o conceito de adequação atribuindo os valores de adequado ou
inadequado para os seguintes exemplos de usos.
1. Uso de abreviações, linguagem informal, gíria em chats Adequado Inadequado
e/ou mensagens de facebook. ( ) ( )

2. Uso de abreviações, linguagem informal, gíria em Adequado Inadequado


comunicação dos alunos com seu professor/tutor presencial ( ) ( )
ou Ead

3. Uso de linguagem formal, vocabulário diversificado e Adequado Inadequado


correção gramatical em uma tese de doutorado ( ) ( )

4. Uso de linguagem formal, vocabulário diversificado e Adequado Inadequado


correção gramatical em uma lista de compras ( ) ( )

3. Uso de linguagem formal, vocabulário diversificado e Adequado Inadequado


correção gramatical em um recado rápido deixado colado ( ) ( )
na porta da geladeira para seu melhor amigo
FIM DO QUIZZ

Respostas do Quizz:
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ATIVIDADES 03 e 04
3) Assista ao vídeo da série “Língua, Além Mar”
https://www.youtube.com/watch?v=1ze8FN78glU.
A seguir leia as informações geográficas da língua portuguesa em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa.
Depois responda:
a) Em quais países se fala a língua portuguesa?
b) Em todos os países a língua portuguesa é oficialmente reconhecida?
c) Quais são as diferenças que lhe chamam mais atenção: as do nível lexical, do fonético
(pronúncia), do sintático? Por quê? Cite dois exemplos desse nível.

Respostas:
a) Andorra, Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha (português oliventino na Estremadura
espanhola e galego na Galiza), Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Luxemburgo, Macau,
Moçambique, Namíbia, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Além dos crioulos de
base portuguesa que são línguas maternas da população de Cabo Verde e Guiné-Bissau.

b) Não. É a única língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,


Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. É também uma das línguas oficiais da Guiné
Equatorial (com o espanhol e o francês), de Timor-Leste (com o tétum) e Macau (com o
chinês). É bastante falada, apesar de não ser oficial, em Andorra, Espanha (português
oliventino na Estremadura espanhola e galego na Galiza), Luxemburgo e Namíbia. Crioulos
de base portuguesa são línguas maternas da população de Cabo Verde e Guiné-Bissau.

c) Resposta pessoal. Esperamos que o aluno se posicione de forma crítica.

4) A partir do que você estudou até aqui, faça a leitura do texto de Millôr Fernandes com
atenção, depois responda.
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UNIFICAÇÃO LINGUÍSTICA, QUE CLAREZA!


Estava a conduzir meu automóvel numa azinhaga com um borracho muito gira ao lado,
quando dei com uma bossa na estrada de circunvalação que um bera teve a lata de deixar.
Escapei de me espalhar à justa. Em havendo um bufete à frente, convidei a chavala a um
copo. Botei o chiante na berma e ordenamos ao criado de mesa, uma sande de fiambre em
carcaça eu, e ela um miau. O panasqueiro, com jeito de marialva paneleiro, um chalado da
pinha, embora nos tratando nas palminhas, trouxe-nos a sande com a carcaça esturrada (e
sem caganitas!), e, faltando-lhe o miau, deu-nos um prego duro.”
Fonte: Millôr Fernandes. Revista: Isto é Senhor, 19/06/1991, p.8. Adaptado.

Millôr Fernandes escreve um texto na variante do português de Portugal.


a) Destaque quatro palavras e suas correlatas na variante do português do Brasil.
b) O título já sugere o tema principal do texto? Você concorda com o autor?
c) Há uma variante, no nível sintático, no texto. Qual é?

Respostas:
a) Citamos algumas a seguir:
Azinhaga = rua estreita (ruela);
borracho = pessoa fisicamente atraente, pessoa embriagada;
gira=bonito;
bossa = pequena elevação numa superfície;
circunvalação = via rápida que circunda, total ou parcialmente, uma cidade ou uma área
metropolitana, permitindo o escoamento do trânsito sem atravessá-la;
gira = volúvel, inconstante, amalucado.
Agora é com você, pesquise em dicionários, na internet, toque com amigos.

b) Sim. O título sugere que Millôr Fernandes considera ser difícil a unificação. Esperamos
que você apresente o seu ponto de vista.

c) Estava a conduzir = estava conduzindo


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REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? São Paulo: Parábola,
2015.
BORTONI-RICARDO, S. M. Problemas de comunicação interdialetal. In: Revista Tempo
Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 53-54, p. 9-31, jul/dez. 1986.
CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, Peter. Dialectology. Cambridge: Cambridge University
Press 1980.
CALLOU, Dinah; MORAES, João e LEITE, Yonne. Apagamento do R Final no Dialeto
Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA [online]. 1998, vol.14,
ISSN 1678-460X. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000300006, acessado em
17/12/2015.
LUCHESI, Dante; ARAUJO, Luciana. A Teoria da variação linguística. In: Projeto
Vertentes do português popular da Bahia. Universidade Federal da Bahia. Copyright ©
2015 Projeto Vertentes. Disponível em: http://www.vertentes.ufba.br/livro-o-portugues-
afro-brasileiro, acessado em: 18/12/2015.
LABOV, William. The social stratification of English in New York City. 2 ed. Cambridge:
Cambridge Unyversity Press, 2006 [1966].
LABOV, William. Principles of Linguistic Change, vol. I. Oxford: Blackwell, 1994.
______________. Principles of Linguistic Change, vol. II. Oxford: Blackwell, 2001.
______________. Sociolinguística: uma entrevista com William Labov. Revista Virtual de
Estudos da Linguagem - ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007. Tradução de Gabriel de
Ávila Othero. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br].
TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. São Paulo, Ática, 1985.

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