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META
Nesta aula, refletiremos sobre a variação sociolinguística a que a língua está sujeita.
Apresentamos um panorama geral dos estudos clássicos que identificam o caráter mutável
da língua e como essa mutabilidade está condicionada a fatores específicos de cunho social.
OBJETIVOS
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
1. Reconhecer que a língua é um sistema vivo e que, por essa razão, está sujeita à variação
e mudança;
2. Identificar os principais fatores que condicionam a variação;
3. Refletir criticamente sobre a dicotomia variação e preconceito linguístico.
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INTRODUÇÃO
Apresentar os estudos sociolinguísticos no Brasil requer fazer uma revisão, em primeiro
lugar, dos autores que se destacaram na observação e análise dessa abordagem dos estudos
da linguagem. É importante ressaltar que tais estudos tiveram por estímulo um longo
caminho aberto que foi deixado pelos estudos iniciais da linguística moderna. Na esteira
dessa ideia, é interessante ressaltar que os estudos desenvolvidos pelo pai da linguística
moderna, Ferdinand de Saussure, pretenderam dar conta de um recorte específico: o
sistema, nas palavras do mestre genebrino, a langue (língua). Após este primeiro momento,
outros estudiosos iniciaram pesquisas a partir de outro recorte não estudado por Saussure,
apesar de identificado e refletido em linhas gerais, a parole (a fala).
BOXE
Ferdinand Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857 — Morges, 22 de fevereiro de
1913) é considerado o pai da linguística moderna. Seu famoso livro “Curso de Linguística
Geral” foi publicado postumamente em 1916 por seus alunos Charles Bally e Albert
Sechehaye, com a colaboração de A. Ridlinger, com base em uma compilação de anotações
dos seus cursos de Linguística ministrados na Universidade de Genebra.
Fonte:
FIM DO BOXE
Na definição de Saussure, a língua é um sistema de signos e tem um caráter social, uma vez
que é exterior ao indivíduo. A fala, por sua vez, é um ato individual e, portanto, está sujeita
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a todo tipo de idiossincrasias. Dessa forma, o linguista propõe que a linguística deve
enfocar a língua por ser sistemática e passível de descrição. É importante notar o que
Saussure quer dizer com 'social' quando caracteriza a língua porque a acepção é muito
diferente do que se entende por social na sociolinguística. O aspecto social da língua
descrita por Saussure diz respeito ao caráter abstrato do sistema de regras que a caracteriza,
ou seja, a língua não está na cabeça de um falante, mas é uma abstração das regras e
convenções adotadas por todos os falantes daquela língua.
Outra corrente linguística do século XX bastante influente que não considerou o aspecto
social das línguas naturais foi o gerativismo, proposta por Noam Chomsky. Para Chomsky,
a língua tem um caráter biológico. Ela é um dispositivo inato presente na mente dos seres
humanos e que os diferencia dos demais animais. A tarefa do linguista, segundo essa
perspectiva, é descrever as propriedades da competência do falante que, com um conjunto
abstrato de regras, é capaz de gerar infinitas sentenças. Nesse sentido, o gerativismo se
interessa por uma gramática abstrata. Essa corrente despreza o uso dos recursos dessa
gramática quando colocada em contexto, o chamado desempenho. A dicotomia
chomskyana é definida em competência e desempenho e o linguista, segundo ele, deve se
interessar pela competência.
BOXE
Avram Noam Chomsky (Filadélfia, 7 de dezembro de 1928) é um linguista, filósofo,
cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em
âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna".
Fonte: Wikipedia
FIM DO BOXE
A grande virada nos estudos linguísticos da segunda metade do século XX se deu com as
publicações de William Labov. Labov afirma a importância de uma concepção social da
língua. Seu famoso estudo sobre a estratificação social do /r/ em posição pós-vocálica em
inglês, publicado em 1966 (ver mais detalhes no boxe abaixo), mostrou que é possível
mensurar e explicar a variação. Nesse trabalho, Labov mostrou quais os fatores sociais
condicionantes das possíveis formas de pronúncia de palavras como floor ('andar')
analisando dados coletados em diferentes lojas de departamento em Nova Iorque,
direcionadas a públicos de diferentes faixas de renda.
BOXE
William Labov é um linguista americano nascido no dia 4 de dezembro de 1927 e
reconhecido como o fundador da sociolinguística variacionista. Entre suas publicações mais
citadas estão “The Social Stratification of English in New York City”, de 1966, e
“Sociolinguistic Patterns”, de 1972. Labov ainda atua como pesquisador na Universidade
da Pensilvânia.
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Fonte:
FIM DO BOXE
Nesse sentido, podemos ver que há um sistema que rege a variação por trás da
heterogeneidade dos usos. O famoso linguista Fernando Tarallo, que foi o grande
divulgador da sociolinguística laboviana no Brasil, afirma que a tarefa do sociolinguista
está em processar, analisar, e sistematizar o universo aparentemente caótico da língua
falada (TARALLO, 1985).
Vemos, portanto, que a constatação de que há variação quando se fala de língua já existia.
No entanto, ela era deixada de lado como se fosse um aspecto impossível de ser estudado
com objetividade. Os estudos de Labov influenciaram muitos outros que enriqueceram as
investigações linguísticas com a pesquisa da variação.
Você deve ter percebido que existem diferenças entre o modo de falar do português
brasileiro e o do português de Portugal. Quanto às diferenças fonéticas (trata-se da
pronúncia dos sons), o brasileiro diz “eu sei”, o português diz “eu sâi”. Também há
diferenças lexicais ou de vocabulário (trata-se das palavras que existem lá e não existem
aqui, e vice-versa). Os habitantes da zona rural são chamados de “saloio” em Portugal e, no
Brasil, chamamos de caipira, “capiau”, “matutu”. No modo de organizar as frases, orações
e partes que as compõem também há diferenças, são as diferenças sintáticas: no Brasil,
usamos estou falando com você, em Portugal, estou a falar consigo. Quanto ao significado
das palavras, chamadas de diferenças semânticas, cueca, em Portugal, por exemplo, são as
calcinhas das brasileiras, e bichas significam filas.
VERBETE
Para a Sociolinguística, numa comunidade de fala estão agrupados falantes de uma mesma
língua que partilham traços linguísticos que os identificam, ou seja, compõem um grupo
distinto que tem comunicação muito mais ativa entre seus componentes se comparados com
os outros grupos que falam a mesma língua. Isso envolve também o compartilhamento de
normas e atitudes diante do uso da linguagem.
FINAL DO VERBETE
Assim, a linguagem como um fator de ordem social e cultural se constitui como uma
identidade da comunidade a que se refere. A organização social da língua permite que os
indivíduos interajam, uma vez que há regularidade na aparente irregularidade, apesar de
diferenças singulares, de alguma forma, marcarem um estilo. A dinâmica de estabilidade e
de mudança é natural e permite tanto a expressão mais pessoal quanto a coletiva, ligada a
questões identitárias.
Em entrevista para a revista ReVEL (2007), Labov define que o objeto da Sociolinguística
“É a língua, o instrumento que as pessoas usam para se comunicar com os outros na vida
cotidiana. Esse é o objeto que é o alvo do trabalho em Variação Linguística. Existem outros
ramos da Sociolinguística que estão preocupados primordialmente com questões sociais: o
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planejamento linguístico, a escolha pela ortografia oficial e outros que se preocupam com
as consequências das ações de fala”.
Como toda análise sociolinguística tem por base as variáveis sociais, em todos os conceitos
aqui apresentados, é necessário definir um quadro de variação observado a partir da
comunidade de fala. No que se refere ao campo dos processos de variação, dois conceitos
são importantes: o de variação estável e o de mudança em progresso. O primeiro visa a
estabelecer o conjunto de variação que tende a se manter por um tempo mais longo em
função de não haver predominância entre uma e outra variante. Podemos citar como
exemplo o caso de “a gente / nós” para designar a primeira pessoa do plural no sistema de
pronomes, como abaixo:
a) Nós vamos ao cinema.
b) A gente vai ao cinema.
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Como toda variação é contextualizada, é claro que há situações em que uma ou outra forma
de falar/escrever pode ser mais presente. Porém, isso não significa dizer que, pelo menos no
português do Brasil atual, há uma predominância significativa entre elas. Já no caso de “tu /
você”, podemos verificar a predominância de ”você” em relação ao “tu” em grande parte
do português falado no Brasil. Observe:
c) Tu vais ao cinema?
d) Você vai ao cinema?
Nesse último caso, estamos diante de um exemplo de mudança em processo uma vez que o
processo de variação progride para a decisão entre uma ou outra variante. Nesse caso, essa
opção precisa se generalizar sendo, portanto, utilizada pela grande maioria dos falantes de
uma dada comunidade de fala. A outra variante tende a ficar obsoleta, ou seja, cair em
desuso.
O que precisa ficar claro nesse momento é o fato de essa projeção – o tempo aparente –
poder ser muito mais complexa do que uma mera associação. Para isso, os estudos da
sociolinguística se apoiam tanto na sistematicidade / previsibilidade do sistema quanto na
variabilidade / inovação, já que podem se manter fatores sociais ou podem surgir outros
fatores ou fatos que não foram previstos. Sobre isso, ressaltamos as palavras de Luchesi e
Araujo: “nada pode assegurar que uma tendência de mudança identificada pelo linguista
num determinado momento não será revertida num futuro próximo em decorrência de
novos fatos que não estavam presentes no momento em que o linguista fez o seu
diagnóstico”. Em função desse caráter contingencial dos processos históricos, "qualquer
afirmação sobre a mudança [em progresso] é evidentemente uma inferência" (LABOV,
1981, p. 177). Esse prognóstico entre mudança em curso e variação estável baseia-se na
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Um exemplo interessante dos estudos de tempo aparente e tempo real foi o realizado
pelos pesquisadores Callou, Moraes e Leite (1998), em que se observou o caso do
apagamento do “r” final no dialeto carioca. A pesquisa concluiu que diante da
necessidade de considerar o fator social “falantes do sexo masculino e do sexo feminino”
e o fator linguístico “verbos e não-verbos” o estudo mostrou a complexidade da mudança
linguística. Ao considerar também que o apagamento incide tanto sobre o material com
conteúdo morfológico como o do fonológico, os pesquisadores enfrentaram problemas
conceituais em função de, no modelo da fonologia lexical, as regras variáveis se
aplicarem no nível pós-lexical, em que as informações morfológicas já não estariam
presentes. Nesse sentido, num modelo de projeção – o tempo aparente – esse fato passa a
ser de atestação. Finalizando a pesquisa, os autores ressaltam que “vale salientar que o
apagamento do R final tem sido considerado um caso de mudança de baixo para cima
que, ao que tudo indica, já atingiu seu limite, e é hoje uma variação estável, sem marca de
classe social”. Para fixar melhor os pontos estudados até agora, vamos fazer uma pequena
atividade.
ATIVIDADE 01
Resposta
a) A ideia é fazer com que você procure nas pesquisas os fatores que contribuíram para
atestar a mudança e que podem, de alguma maneira, fazer com que se tenha mais
dificuldade ou facilidade de analisar os dados de língua em uso.
b) O caso em questão trata-se de mudança em progresso. Mais uma vez, a intenção é
conciliar o estudo do processo de mudança em si e os fatores linguísticos ou
extralinguísticos intervenientes.
Como vimos, Tarallo (1985) afirma que a tarefa do sociolinguista é sistematizar o caos
linguístico. Nesse sentido, dizemos que o objeto de estudo da sociolinguística é a variação.
O primeiro passo para entender de que forma isso é feito é definindo o que são variáveis e
variantes linguísticas. Entende-se por variável o conjunto constituído pelos diferentes
modos de realizar a mesma coisa, e variante cada uma das formas linguísticas em
coocorrência para realizar a mesma coisa. A manutenção de que seja “a mesma coisa” é
uma exigência de que o significado seja mantido apesar das variantes. A variável é,
portanto, o conjunto das variantes.
As variáveis independentes são os fatores que podem estar associados a uma ou outra
variante. Do ponto de vista estrutural, há certas propriedades do contexto fônico em que o
verbo aparece que podem influenciar na pronúncia ou apagamento do /-r/ final. Por
exemplo, há uma tendência de marcação maior quando a palavra que vem depois do verbo
começa com uma vogal. Observe a diferença entre 'falar alto' e 'falar demais'. Em 'falar alto'
há uma tendência de que esse /-r/ final seja pronunciado juntando com a palavra seguinte.
Em 'falar demais', por outro lado, o apagamento do /-r/ é mais comum.
Vemos, portanto, que, a despeito do caos linguístico aparente, a variação não é livre. Ela é
estruturada de acordo com as propriedades sistêmicas da língua e deve, portanto, ser
descrita e explicada pelos linguistas.
ATIVIDADE 02
Vamos fixar os termos estudados!
Vamos refletir sobre um fenômeno linguístico de natureza lexical que está em variação no
português. Trata-se da concorrência de nomes para descrever o brinquedo abaixo.
Resposta:
Variável dependente: palavra utilizada para designar o brinquedo que voa com a força do
vento enquanto é segurado por uma pessoa.
Variantes: pipa, papagaio, cafifa, raia, pandorga.
Variáveis independentes: fatores regionais que influenciam a escolha das variantes, por
exemplo:
− pipa (São Paulo);
− pandorga (Estados do Sul);
− pepeta (Estados do Norte).
FIM DA ATIVIDADE
A variação linguística não é neutra e isenta de significados sociais. Atitudes positivas e/ou
negativas podem estar associadas ao uso das variantes, principalmente por parte de falantes
de outras variantes. Esse assunto será aprofundado na próxima seção.
Como vimos, embora a variação seja inerente à língua e haja variantes possíveis para uma
só variável, essa diversidade linguística acaba sendo alvo de avaliação positiva ou negativa
por parte dos falantes. No plano sintático, fonético ou lexical, algumas variantes, por se
associarem a fatores sociais, econômicos e regionais, recebem um tratamento valorativo,
como se fossem distorções de um padrão considerado ideal. Disso surge o que se pode
chamar preconceito linguístico.
BOXE INFORMATIVO
Essa postura tem a ver com a função unificadora e/ou separatista da língua (Garvin &
Mathiot, 1974), que nos une aos nossos conterrâneos ou membros da nossa comunidade de
fala (os nós) e nos separa ou afasta dos outros falantes de outras comunidades de fala (os
eles). Essa propriedade é o que nos aproxima daqueles que falam a mesma variante (nossa)
e nos afasta, ou distancia daqueles que usam uma variante estranha, ou diferente (deles).
Isso tem a ver com um outro fenômeno interessante, que é o etnocentrismo linguístico e
cultural, que faz com que nos consideremos como o centro, a norma, o correto e vejamos o
outro como o errado, o engraçado, ou estranho. Nós pensamos que não temos sotaque.
Quem tem sotaque é o outro (ou outros).
FIM DO BOXE
Além disso, é bom observar que o objetivo da sociolinguística é também explicativo. Não
se trata apenas de uma descrição isenta de preconceitos e dogmatismos. A descrição isenta
e profissional tem como consequência a tomada de consciência e defesa da igualdade de
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Para especificar melhor essa situação, vale mencionar a ideia desenvolvida por Pierre
Bourdieu, sociólogo francês, de que a linguagem funciona como uma espécie de “capital”
cujo valor é dado no e pelo “mercado social da linguagem”. Seria como se o discurso
valesse como signo de riqueza, de autoridade, de dominação etc. e refletisse a própria
estrutura da sociedade.
Assim, por exemplo, existe a ideia de que as palavras “flagelo” e “claridade”, pronunciadas
como “fragelo” e “craridade” por falantes menos escolarizados têm menor valor e
representam um “erro de português”, já que é alvo de um forte estigma social.
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O julgamento dessas formas acaba resultando da avaliação negativa que se faz dos seus
usuários, daí dizermos que, nesse e em muitos outros casos, o preconceito linguístico é
fruto de outros preconceitos também: o social, o geográfico etc. Como exemplo, temos o
preconceito e estigmatização que existem em relação aos dialetos e falantes nordestinos em
geral. Esse preconceito e estigma ficaram em muita evidência nas redes sociais e na mídia
em razão da cisão política que acometeu o país após o segundo turno das eleições
presidenciais de 2014.
Sob o olhar da Sociolinguística, porém, a análise que se faz desses usos está diretamente
relacionada ao contexto em que é empregada (entre falantes menos escolarizados, por
exemplo) e a possíveis motivações linguísticas e até históricas que a favorecem.
Podemos pensar, por exemplo, que a troca do fonema /l/ pelo /r/, denominada rotacismo,
não é gratuita. Em primeiro lugar, você se lembra da semelhança que há entre os dois
fonemas, ambos produzidos na mesma região articulatória e, por isso, classificados como
laterais?
Em segundo, você sabia que, na história da língua portuguesa, muitas palavras em que hoje
se emprega o “r” são originadas de palavras em que o “l” participava de um grupo
consonantal (“pl”, “bl”, “cl”)? Isso se vê em vários termos latinos que evoluíram para o
português, como “sclavu”, que originou “escravo”; “blandu” que deu “brando” e “flaccu”
que formou “fraco”.
Não é curioso e revelador? Esses e outros casos tipicamente rotulados como “incorreções”
revelam, na verdade, o caráter sistemático e histórico da língua, que tende a se organizar e a
retomar princípios que estão previstos em sua própria evolução. Além disso, não há
nenhum indício no sistema e na organização do português que desautorize essas
ocorrências, afinal elas não alteram o sentido nem a função das palavras em foco.
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Em resumo, são eles: a ideia de que só existe uma forma “correta” de usar a língua; a de
que o brasileiro não sabe português; a de que o português de uma região é melhor do que o
português de outros lugares; a de que falar certo é falar como se escreve; a de que a norma
culta representada pela gramática representa a norma culta efetivamente usada pelos
falantes; a de que saber as regras da gramática normativa equivale a saber português.
QUIZZ
Vamos rever algumas ideias discutidas até agora. Leia atentamente as afirmações abaixo e
atribua Verdadeiro ou Falso.
1. Uma das grandes contribuições da sociolinguística está em avaliar as V F
variantes e afirmar se são “certas” ou “erradas”. ( ) ( )
4. Algumas palavras em que hoje são escritas com “r” são originárias de V F
palavras com encontro consonantal com “l”, como por exemplo “brando” ( ) ( )
que se origina da palavra “blandu”.
linguagem.
FIM DO QUIZZ
Resposta do Quizz:
Afinal, em muitos casos, os chamados “erros de português” nada mais são do que questões
de ortografia, que se limitam a um aspecto da escrita e não dizem respeito ao campo da
língua como um todo. Trata-se de uma questão que pode ser facilmente resolvida com a
prática da exposição e do contato com a convenção, a normatização, o que, em geral, não
afeta a finalidade mais ampla da comunicação e da interação de que qualquer falante do
português é capaz.
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Para desenvolver a capacidade de uso real da língua, então, torna-se importante pensar,
entre outras coisas, em quem fala ou escreve para quem; em que lugar, espaço e momento
isso acontece; sob que circunstâncias materiais e com que finalidade.
Afinal, um adolescente que, sem nenhum propósito ou intenção além de solicitar algo, pede
ao seu melhor amigo que não vá embora de sua casa, dizendo algo como “Por obséquio,
Vossa Excelência se dignaria a permanecer no recinto?” estaria fazendo um uso tão
inadequado da língua quanto um funcionário que se dirigisse ao seu empregador, durante
uma reunião de trabalho, da seguinte forma: “Meu camarada, tudo em cima para a reunião
de amanhã?”.
Respostas do Quizz:
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ATIVIDADES 03 e 04
3) Assista ao vídeo da série “Língua, Além Mar”
https://www.youtube.com/watch?v=1ze8FN78glU.
A seguir leia as informações geográficas da língua portuguesa em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa.
Depois responda:
a) Em quais países se fala a língua portuguesa?
b) Em todos os países a língua portuguesa é oficialmente reconhecida?
c) Quais são as diferenças que lhe chamam mais atenção: as do nível lexical, do fonético
(pronúncia), do sintático? Por quê? Cite dois exemplos desse nível.
Respostas:
a) Andorra, Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha (português oliventino na Estremadura
espanhola e galego na Galiza), Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Luxemburgo, Macau,
Moçambique, Namíbia, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Além dos crioulos de
base portuguesa que são línguas maternas da população de Cabo Verde e Guiné-Bissau.
4) A partir do que você estudou até aqui, faça a leitura do texto de Millôr Fernandes com
atenção, depois responda.
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Respostas:
a) Citamos algumas a seguir:
Azinhaga = rua estreita (ruela);
borracho = pessoa fisicamente atraente, pessoa embriagada;
gira=bonito;
bossa = pequena elevação numa superfície;
circunvalação = via rápida que circunda, total ou parcialmente, uma cidade ou uma área
metropolitana, permitindo o escoamento do trânsito sem atravessá-la;
gira = volúvel, inconstante, amalucado.
Agora é com você, pesquise em dicionários, na internet, toque com amigos.
b) Sim. O título sugere que Millôr Fernandes considera ser difícil a unificação. Esperamos
que você apresente o seu ponto de vista.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? São Paulo: Parábola,
2015.
BORTONI-RICARDO, S. M. Problemas de comunicação interdialetal. In: Revista Tempo
Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 53-54, p. 9-31, jul/dez. 1986.
CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, Peter. Dialectology. Cambridge: Cambridge University
Press 1980.
CALLOU, Dinah; MORAES, João e LEITE, Yonne. Apagamento do R Final no Dialeto
Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA [online]. 1998, vol.14,
ISSN 1678-460X. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000300006, acessado em
17/12/2015.
LUCHESI, Dante; ARAUJO, Luciana. A Teoria da variação linguística. In: Projeto
Vertentes do português popular da Bahia. Universidade Federal da Bahia. Copyright ©
2015 Projeto Vertentes. Disponível em: http://www.vertentes.ufba.br/livro-o-portugues-
afro-brasileiro, acessado em: 18/12/2015.
LABOV, William. The social stratification of English in New York City. 2 ed. Cambridge:
Cambridge Unyversity Press, 2006 [1966].
LABOV, William. Principles of Linguistic Change, vol. I. Oxford: Blackwell, 1994.
______________. Principles of Linguistic Change, vol. II. Oxford: Blackwell, 2001.
______________. Sociolinguística: uma entrevista com William Labov. Revista Virtual de
Estudos da Linguagem - ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007. Tradução de Gabriel de
Ávila Othero. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br].
TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. São Paulo, Ática, 1985.