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COMO OS GRANDES PENSADORES

FELICIDADE PODEM NOS AJUDAR A VIVER MELHOR

Michel Aires de Souza


Sumário

Introdução 3

Ataraxia: em busca da tranqüilidade da alma 5

Conheça-te a ti mesmo 11

Teoria da alma 14

A felicidade como sabedoria prática 17

O destrinchador de Bois 20

Deus é a felicidade porque é a verdade 24

Vinho, canções, música e amor 27

Assim falou Zarathustra 32

A angústia da liberdade, 37

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Introdução

A filosofia foi em toda história o meio de se viver melhor, de sofrer menos, de


enfrentar as adversidades da vida com maior serenidade. Ao contrário do que muitos
pensam, a filosofia não é apenas uma disciplina teórica para se pensar bem, não é
apenas a aquisição passiva de conhecimentos e a análise dos princípios primeiros e
últimos da existência, mas é, antes de tudo, um ensinamento prático de como se viver
melhor. Os grandes pensadores podem nos ensinar a viver bem, pois eles pensaram
profundamente o problema da felicidade, assim como os motivos ocultos das ações
humanas e a relação do homem consigo mesmo. Os Gregos já diziam que é
necessário pensar bem para se viver melhor. Eles entendiam que existia uma íntima
relação entre filosofia e medicina. O grego Epicuro (341-270 a.C) considerava o
discurso filosófico um Pharmacon, um remédio capaz de curar as dores da alma. Para
ele, a filosofia era antes de tudo uma atividade prática que ultrapassava a dimensão
passiva e contemplativa do saber. Era uma atividade que, pelos discursos e
raciocínios, nos leva à vida feliz. Tal como Epicuro, Platão também considerava que
a saúde da alma se daria por meio do discurso filosófico, entendido como um
Pharmacon – remédio, droga, veneno, cosmético. Quando o discurso filosófico fosse
administrada a fim de levar ao conhecimento e ao equilíbrio seria um remédio;
quando mal administrado, seria um veneno. “O pharmakon filosófico é o discurso
terapêutico que busca a autarquia da alma e do corpo, o domínio da dor do corpo e da
alma pela filosofia” (Matos, 2003, p.6).

A filosofia entendida como pharmacon pode nos ensinar a enfrentar os


problemas da vida, como superar o fim de uma relação amorosa, como agir diante de
um problema emocional ou como superar a dor de uma perda. Nossa vida é regida
por ações e atos que se somam. Cada dia é feito de mil e uma ações, cada gesto
sustenta alvos mais longínquos e mais essenciais a nossa felicidade. Cabe a filosofia,
portanto, nos ajudar a fazer uso dos meios que convém para atingir nossos objetivos.

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Nas páginas que se seguem, retomamos a concepção integral do ser humano e o
caráter terapêutico da filosofia, enquanto cuidado de si. A filosofia é apresentada aqui
como um remédio da alma, um Pharmakom, um bálsamo para o espírito.

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Ataraxia: em busca da tranqüilidade da alma

Epicuro nasceu em 341 a.C na Ilha de


Samos. Sua escola ficava em um jardim –
Kespos - cheio de árvores frutíferas, onde seus
discípulos mantinham longas conversas sobre
Epicuro (341-270 a.C)
os mais diversos assuntos. Foi ali que ele
Nasceu na ilha de Samos, em
descobriu os quatro remédios da alma. Seus 341 a.C, na costa da Ásia
quatro “Pharmakom” eram: não há o que temer Menor. Segundo ele, para ser
feliz basta não temer os deuses
dos deuses; não há nada a temer quanto à nem a morte e buscar os
prazeres simples da vida
morte; pode-se suportar a dor; pode-se alcançar
a felicidade. São duas palavras que definem
felicidade para Epicuro: Ataraxia e Hedoné A felicidade consiste na ausência de
preocupações (ataraxia) e no prazer (hedoné). Não é a posse de riquezas ou a
obtenção de cargos ou poder que pode nos tornar feliz, o que nos torna é a ausência
de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito para se manter nos limites
impostos pela natureza. Quando sentimos uma grande dor, tomamos um remédio, a
imediata desaparição da dor produz insuperável alegria. Para Epicuro a alegria é a
essência do bem. Se na maior parte de nossas vidas não tivermos dores ou doenças e
nem desgostos pode-se dizer que fomos felizes. Uma vida sem preocupações e sem
perturbação é o desejo de todo homem, seja ele

Hedonismo: Doutrina que surgiu rico ou pobre.


na Grécia com Aristipo de Cirene
que preconiza o prazer como bem Para Epicuro a plena felicidade só se
soberano e afirma que todas as
ações e desejos podem ser pode alcançar pelo prazer. O prazer é o princípio
medidos em relação ao prazer e a e fim da vida feliz. Não há nada que não se
dor que produzem.
resolva com um pouco de prazer. Com um
pouco de prazer esquecemos até mesmo a dor. É
por isso que para curar as dores do corpo nada

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melhor que os prazeres da alma, assim como, para curar as dores da alma nada
melhor que os prazeres do corpo.

Apesar do prazer ser o princípio e fim da vida feliz, Epicuro afirma nem todos
os prazeres conduzem a felicidade. Há prazeres que causam dor, mas também há
dores que geram um prazer maior. Por exemplo, fumar um cigarro é prazeroso para
quem fuma, mas pode causar grandes dores como problemas respiratórios ou um
câncer. Ter que estudar ou trabalhar num final de semana é um desprazer, mas passar
no vestibular ou ganhar um bom dinheiro dá um grande prazer. Os prazeres são
relativos, por isso devemos saber diferenciar o bom prazer do mau prazer. Sempre
que escolhemos um prazer, devemos nos perguntar, que me sucederá se se cumpre o
que quer o meu desejo? Que acontecerá se não se cumpre? Para saber escolher bem
os prazeres é necessário ter a virtude da prudência. É graças à prudência que o
“sóbrio raciocínio” aprende a selecionar os prazeres que não trazem dores ou aqueles
que trazem dor, mas que, posteriormente, proporcionam um prazer maior. Epicuro
nos ensina que o conhecimento seguro dos desejos nos leva a direcionar toda escolha
e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a
finalidade da vida feliz.

Os estóicos, escola oposta ao epicurismo, também foram grandes pensadores


da felicidade humana. Segundo eles, o mundo é um todo ordenado e harmonioso, há
uma razão ordenadora (Logos) em todo o
universo. Dessa forma, a felicidade consiste em
Estoicismo: doutrina
segundo a qual a felicidade aceitar a lei universal do cosmo, o logos
consiste em vencer a si universal. O homem é feliz quando aceita o que o
mesmo e não ao destino e
em mudar seus desejos e não destino lhe impõe sem reclamar e sem se
a ordem do mundo perturbar. A ética estóica afirma que o homem
(Descartes)
feliz é o homem virtuoso, pois sabe moderar seus
desejos, controlar suas paixões e orientar sua

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vontade. Ele deve ser capaz de educar seu caráter dominando racionalmente seus
apetites, orientando sua ação para o bem e para a felicidade. Não são os bens
materiais, o dinheiro ou a diversão que trazem a felicidade, mas ter moderação,
serenidade, equilíbrio e calma na vida. O maior exemplo de homem virtuoso é do
próprio fundador do estoicismo Zenão de Cítio. Ao perder todo o seu patrimônio em
um naufrágio ele disse ao saber do ocorrido, “O destino queria que eu filosofasse
mais desembaraçadamente”.

O nome da escola de Zenão deriva da palavra grega stoa, pórtico. Ele


ensinava filosofia em um pórtico construído pelos atenienses para celebrar a vitória
na guerra contra os Persas. Três palavras descrevem o estoicismo: materialismo,
monismo e mutação. No universo tudo é material, mesmo o tempo e o pensamento
(materialismo). Tudo que existe possui um
princípio unificador (monismo). Tudo está em
permanente mudança podendo se transformar
em algo diferente do que se é (mutação)
Zenão (333-265 a.C)
Através desses três princípios Zenão construiu
Nasceu no Chipre, mas vivia na
sua doutrina. Seu principal ensinamento era
Grécia. Fundou o estoicismo. Para
afirmar que o ser humano só pode alcançar a ele a única forma do homem ser
feliz é abandonando todas as
plena felicidade se abandonar todos os bens
paixões terrenas, nada receando e
materiais e paixões terrenas, pois eles são os nada esperando, vivendo apenas
em ataraxia.
culpados de todo aborrecimento e
desassossegos aqui na terra. O homem deve
viver em ataraxia, ou seja, sem perturbação da alma que resulta de uma sabedoria
atingida pela moderação.

Outro grande filósofo estóico foi Sêneca (4-65 d.C). Foi conselheiro do
Imperador Nero e tentou orientá-lo para uma política humanista e moral. Contudo,
em 65 d.C foi acusado de ter participado de uma conspiração para matá-lo. Sem

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qualquer julgamento foi obrigado a cometer suicídio. Aceitou com serenidade a
morte com o mesmo ânimo calmo com que filosofava. Dizem que sua morte foi lenta
e cruel. Abriu as veias do braço, mas o sangue
correu muito lentamente. Com isso, cortou as
veias das pernas. Nada adiantou. Tomou então
uma dose de veneno. Enquanto esperava o
veneno fazer efeito ditou um texto a um de seus Sêneca (4-65 d.C.)
discípulos. Como o veneno não surtiu efeito, Filósofo estóico que afirmava ser
tomou banho para aumentar o sangramento. necessário abandonar os bens
materiais e buscar a tranqüilidade
Assim morreu lentamente. da alma, mediante o conhecimento
e a contemplação, para ser feliz.
Para Sêneca, o destino é inexorável. O
homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Se o
aceitar de livre vontade pode ser feliz. Contudo muitos homens desperdiçam seu
tempo com bebidas, mulheres, diversões fugazes e quando se dão conta a vida já
passou. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa. Por isso, Sêneca
pregava a superação das paixões e dos desejos. Ele lamentava que muitos homens
desperdiçassem seu tempo com coisas inúteis. “A insaciável ganância domina um,
outro, desperdiça sua energia em trabalhos supérfluos, um encharca-se de vinho,
outro fica entorpecido pela inércia, um está sempre preocupado com a opinião alheia,
outro, por um irreprimido desejo de comerciar, é levado a explorar terras e mares na
esperança de obter lucro. (...) há aqueles que, voluntariamente, se sujeitam à ingrata
adulação dos superiores. Também há os que se ocupam invejando o destino alheio e
desprezando o seu próprio”. (Sêneca, 2007, p.27). Todos esses comportamentos,
segundo Sêneca, geram apenas desgostos e sofrimento. É comum no dia-a-dia
depararmo-nos com pessoas que todo mês gastam seu dinheiro no shopping, ou
gastam com jogos, bebidas ou mulheres numa eterna compulsão. São pessoas
infelizes que procuram aliviar suas tensões e sofrimentos em algum vício. Os vícios
sufocam os homens deixando-os embriagados e obscurecem a verdade. Eles tornam-

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se incapazes de voltar-se para si mesmo. Seus espíritos estão de tal modo presos as
paixões que são incapazes de achar a tranqüilidade e tudo que conquistam torna-se
pesado. As paixões pelo dinheiro, pela fama e
por mulheres apenas demonstram o espetáculo
patético do sofrimento humano “As riquezas são
pesadas para muitos! A preocupação com a
eloqüência e a necessidade de mostrar talento
tirou o sangue de muitos! Outros enfraqueceram
Marco Aurélio (121-180 d.C)
devido a uma vida de libertinagem!” (Sêneca,
2007, p.28). Dessa forma, Sêneca nos incita a Imperador de Roma e filósofo
estóico que dizia que a felicidade
superar os afetos como a cobiça, a ira, à do homem depende de si mesmo e
que vida é aquilo que nossos
vontade, os desejos e conquistar a paz e a
pensamentos fizeram dela.
tranqüilidade.

Em seu livro “Da tranqüilidade da


alma” Sêneca também ensina-nos como devemos agir na infelicidade. Para ele
todos nós estamos ligados a sorte. Para uns a escravidão é suave e leve, já para outros
é pesada e sofrível. Mas nada disso importa. O que importa é que todos nós somos
eternos prisioneiros. Aqueles que exploram o próximo, também serão explorados.
Aqueles que causam dor, também sentirão dor. Uns estão presos ao dinheiro, outros a
pobreza, uns aos bajuladores, outros a fama e outros ao poder. Toda vida é uma
escravidão. Ninguém está salvo e não adianta reclamar. É preciso não deixar as
oportunidades que a vida oferece escapar. Mesmo que o sofrimento seja descomunal,
sempre a vida oferece algum consolo. Sêneca nos ensina que devemos superar as
dificuldades apelando à razão. Através da razão podemos abrandar o que era pesado,
alargar o que era apertado, e os fardos tornar-se-ão mais leves sobre os ombros que
saberão suportá-los.

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Marco Aurélio (121-180 d.C.), imperador de Roma, também foi considerado
um dos maiores filósofos estóicos da antiguidade. Apesar de ser o homem mais
poderoso do mundo em sua época, ele era simples, humilde e absolutamente sincero
consigo mesmo. Era bondoso e amável. O problema central de sua filosofia não era
descobrir a verdade sobre os fatos ou sobre os princípios últimos e primeiros da
existência, mas descobrir o melhor caminho para se conduzir a vida e viver bem. Em
seu diário pessoal, denominado “Para si mesmo” e que foi parafraseada pela tradição
com o nome “Meditações”, Marco Aurélio escrevia suas secretas conversas íntimas
consigo mesmo. Cortesia, serenidade, piedade, generosidade, simplicidade na vida,
bondade, humanidade são princípios estóicos citado em suas “Meditações” que mais
tarde tornaram-se a base da ética cristã. Ser comedido nos desejos, saber cuidar das
próprias necessidades, cuidar da própria vida e não dar ouvidos à fofocas eram partes
de seus ensinamentos. Ser feliz para ele é viver conforme a natureza e viver
conforme a natureza é viver conforme a razão e a virtude. A razão e a virtude são os
caminhos para a felicidade, pois são os “mais elevados bens”. A vida natural é a
vida controlada pela razão. Pela razão devemos aprender que algumas coisas estão
sobre o nosso poder e outras não, ou seja, devemos nos ocupar apenas daquilo que
efetivamente está sobre o nosso controle. Se estivermos na praia e estiver chovendo,
não adianta reclamar. Revoltar-se contra os fatos não altera os fatos. Se estiver
chuvoso assista um filme, faça um churrasco ou tome uma cerveja com os amigos.
Aceitar a vida tal como ela é, com seus percalços e dificuldades, é fundamental para
sermos felizes. Não podemos pedir que a vida seja como nós queremos, mas devemos
aceitá-la como é. Dessa forma, Marco Aurélio via na Prudência, piedade,
temperança, generosidade e na força moral os produtos e ingredientes da felicidade.

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Fragmentos

Chamamos ao prazer princípio e fim da vida feliz. Com efeito, sabemos que é o primeiro bem, o bem inato, e que dele
derivamos toda a escolha ou recusa e chegamos a ele valorizando todo bem com o critério do efeito que nos produz.

Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e a
bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha
nos limites impostos pela natureza.

A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno o gozo e a alegria são prazeres de movimento,
pela sua vivacidade.

Quando dizemos então que o prazer é fim, não queremos referirmos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos
pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem,
mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.

A imediata desaparição de uma grande dor é o que produz insuperável alegria: esta é a essência do bem, se entendemos
direito, e depois nos mantemos firmes e não giramos em vão falando do bem.

E como o prazer é o primeiro e inato bem, é igualmente por este motivo que não escolhemos qualquer prazer: antes
pomos de lado muitos prazeres quando, como resultado deles, sofremos maiores pesares; e igualmente preferimos
muitas dores aos prazeres, quando, depois de longamente havermos suportado as dores, gozamos de prazeres maiores.
Por conseguinte, cada um dos prazeres possui por natureza um bem próprio, mas não deve escolher-se cada um deles;
do mesmo modo cada dor é um mal, mas nem sempre se deve evitá-las. Convém então valorizar as coisas de acordo
com a medida e o critério dos benefícios e dos prejuízos, pois que, segundo as ocasiões, o bem nos produz o mal e, em
troca, o mal, o bem.

Epicuro - Ética

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Como se portar na infelicidade?

Estamos todos ligados a fortuna. Para uns a cadeia é de ouro e frouxa,para outros é apertada e grosseira. Mas o que
importa? Todos os homens participam do mesmo cativeiro,e aqueles que encadeiam os outros não são menos
algemados.Pois tu não afirmarás,eu suponho,que os ferros são menos pesados quando levados no braço esquerdo. A
honra prendem este,a riqueza aquele outro. Este leva o peso de sua nobreza,aquele o da sua obscuridade. Um curva a
cabeça sob a tirania dos outros,outros sob a sua própria tirania. A este sua permanência em um lugar é imposta pelo
exílio,aquele outro pelo sacerdócio. Toda a vida é uma escravidão. É preciso,pois,acostumar-se à sua
condição,queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela possa oferecer.
Nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre qualquer coisa para consolo. Vê-se
frequentemente um terreno diminuto prestar-se,graças ao talento do arquiteto. As mais diversas e incríveis aplicações e
um arranjo hábil torna habitável o menor canto. Para vencer os obstáculos apele para a razão. Verás abrandar-se o que
resistia,alargar-se o que era apertado e os fardos tornarem-se mais leves sobre os ombros que pensavas não saber
suportá-los.

Sêneca – Da tranquilidade da alma

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Conheça-te a ti mesmo

Sócrates viveu em Atenas no século V a.C. É considerado o pai do


racionalismo ocidental. Nada escreveu em vida. Tudo que sabemos dele foi
graças a seu discípulo Platão. Ao contrário
dos primeiros filósofos gregos, que se
preocupavam com os problemas da natureza,
Sócrates rendeu homenagem aos problemas
morais. Apesar disso, suas idéias foram
assimiladas pelas ciências do mundo
ocidental. Foi com ele que a civilização
ocidental aprendeu que a ciência (epistême) Enquanto aguardava a execução de
sentença, Sócrates discutia com
só tem sentido se é fundamentada em
seus discípulos a respeito da
verdades universais. A verdade deve ter
imortalidade da alma. Antes de
validade em qualquer lugar, em qualquer
morrer afirmou que a filosofia
tempo e para qualquer indivíduo. Graças a vence a dor, a doença e a morte.
ele que a civilização ocidental começou a
valorizar a razão, a verdade e o conceito.

Sócrates era filho de uma parteira e ensinava filosofia em praça


pública. Ele usava uma túnica, costumava caminhar descalço e não tinha o
Socrates
hábito de tomar banho. Ficava as vezes horas parado, imóvel, filosofando
sobre algum problema. Dizia que
Cada homem é um caso, mas há filosofava a serviço de Deus e do
em cada ser humano um deus, o
qual, se tu quiseres, ordenará, em cuidado da alma. A filosofia era
cosmo e em felicidade, o teu caos para ele uma forma de
doloroso.
espiritualismo. Ao questionar
valores, modos de ser e pensar
Sócrates encontrou muitos inimigos. Por isso foi condenado à morte. Foi
acusado de corromper os jovens de Atenas e de questionar os deuses da

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cidade. A história de sua condenação foi contada por seu discípulo Platão
no famoso livro “A apologia de Sócrates”. Este livro descreve a defesa de
Sócrates diante do tribunal de Atenas.

Por meio de perguntas Sócrates interpelava os trausentes em praça


pública e ali discutia os mais diversos assuntos: O que é o bem? O que é a
justiça? O que é a virtude? Toda sua filosofia estava a serviço do
conhecimento do homem e de sua vida moral. Seu espiritualismo afirmava-
se no “conheça-te a ti mesmo”. Essa mensagem estava escrita no templo de
Apolo. O conhecimento de si mesmo implicava o conhecimento de nossas
ações, de nossos desejos e de nossa vida moral. Para ele, a sabedoria
consistia em vencer a si mesmo e a ignorância em ser vencido por si
mesmo. Sua indagação principal era sobre “a justa vida” e o “viver bem”.
Uma vez lhe perguntaram qual lhe parecia à melhor tarefa para o homem.
Ele sem rodeios respondeu: viver bem. Mas viver bem para Sócrates não
era viver dos prazeres e da ociosidade, mas viver da contemplação do
conhecimento e do cuidado de si. Por toda parte Sócrates ia persuadindo a
todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão
ardentemente, com o corpo, a beleza e a riqueza. Dizia que devemos nos
preocupar mais com a alma para que ela seja quanto possível melhor. Ele
identificava a virtude com o conhecimento. Afirma que ninguém faz o mal
porque quer, mas por ignorância. Ninguém erra voluntariamente. Somente
o ignorante não é virtuoso. Todo homem que conhece o bem é virtuoso.
Ser virtuoso para Sócrates “é conhecer as causas e o fim das ações
fundadas em valores morais e identificadas pela inteligência, o que impele
o indivíduo a agir virtuosamente em direção ao bem” (Souza, 1995, p.181).
Por isso, ele defendia a idéia de que a melhor forma de se viver era
cultivando o próprio desenvolvimento ao invés de buscar os prazeres e os
bens materiais. É necessário se conhecer melhor para ser feliz. “Conheça-te

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a ti mesmo”, essa frase emblemática é o fundamento de toda felicidade aqui
na terra. Sócrates aconselhava seus discípulos a se autoconhecerem, pois
somente assim as pessoas sairiam da caverna, das trevas de seus espíritos
para alcançarem a luz, a verdade e a
A alma e a inteligência são Deus felicidade. Quando nos conhecemos
dentro de nós dificilmente agimos por impulso,
dificilmente somos dominados por
nossas paixões, mais resolvidos e determinados somos em nossos objetivos.
Conhecer a si mesmo significava que devemos nos ocupar menos com as
coisas desse mundo, como riquezas, fama e poder, e nos preocuparmos
mais com o cultivo de si, cultivando o conhecimento para contemplar o
bem, o belo e a verdade. Somente assim seremos felizes.

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Defesa de Sócrates

Cidadãos atenienses, eu vos respeito e vos amo, mas obedecerei aos deuses em vez de obedecer a vós, e
enquanto eu respirar e estiver na posse de minhas faculdades, não deixarei de filosofar e de vos exortar ou
de instruir cada um, quem quer que seja que vier à minha presença, dizendo-lhe, como é meu costume: -
Ótimo homem, tu que és cidadão de Atenas, da cidade maior e mais famosa pelo saber e pelo poder, não
te envergonhas de fazer caso das riquezas, para guardares quanto mais puderes e da glória e das honrarias,
e, depois, não fazer caso e nada te importares de sabedoria, da verdade e da alma, para tê-la cada vez
melhor? (...) E isso o farei com quem quer que seja que me apareça, seja jovem ou velho, forasteiro ou
cidadão, tanto mais com os cidadãos quanto mais me sejam vizinhos por nascimento. Isso justamente é o
que me manda o deus, e vós o sabeis, e creio que nenhum bem maior tendes na cidade, maior que este
meu serviço do deus. Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem
exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com
a alma, para que ela seja quanto possível melhor, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas
da virtude vem, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados. Se, falando
assim, eu corrompo os jovens, tais raciocínios são prejudiciais; mas se alguém disser que digo outras
coisas que não essas, não diz a verdade. Por isso vos direi, cidadãos atenienses, que secundado Anito ou
não, absolvendo-me ou não, não farei outra coisa, nem que tenha de morrer muitas vezes.

Platão - Apologia de Sócrates

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Teoria da alma

Platão (428-348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e escreveu trinta


diálogos considerados autênticos. Hoje conhecemos a figura de Sócrates
graças aos seus diálogos, que faziam dele seu personagem principal. Platão
fundou a primeira escola conhecida no mundo ocidental na cidade de
Atenas em 387 a.C, chamada Academia, em homenagem ao seu amigo
Academus. Seu verdadeiro nome era Aristocles, mas foi apelidado de
Platão devido aos seus ombros largos. Era um homem rico e fazia parte da
aristocracia que governava a Grécia. Seu pai, Aristão, tinha o rei Codros
como seu antepassado e sua mãe, Perictione, foi parente de Sólon.

O pensamento de Platão foi muito influenciado pelas filosofias de


Heráclito e Parmênides. Ele procurou reconciliar ambas as posições. Foi
da controvérsia dessas duas filosofias que surgiu a “teoria das idéias”,
núcleo central de sua filosofia. O problema que Platão propõe a resolver é o
conflito “irreconciliável” entre a teoria da mudança em Heráclito e
Parmênides. Para Heráclito no universo não há nada acabado, fixo e
estável, tudo está em permanente mudança. Já para Parmênides as
mudanças e transformações que ocorrem na natureza são uma ilusão de
nossa percepção, pois algo que é não pode deixar de ser, e algo que não é
não pode vir-a-ser; portanto, não há mudança.

Para reconciliar ambas as teorias Platão mostrou-nos que todos nós


estamos sempre em contato com duas realidades: uma inteligível e outra
sensível. A primeira é permanente, universal, nunca se modifica, é o mundo
das idéias. A segunda é o mundo que percebemos por nossos sentidos,
mutável e contingente, o mundo sensível. Platão demonstra que o mundo
tem uma forma apriori, uma estrutura inteligível. “Através dos diálogos,
Platão vai caracterizando essas causas inteligíveis dos objetos físicos que

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ele chama de idéias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis – o que
significa dizer justamente que não está na matéria a razão de sua
inteligibilidade. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmo,
escapando a corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos.
Merecem por isso mesmo, o qualificativo de ‘divinas’ (...). Perfeitas e
imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as
coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam,
pois, tipos ideais, a transcender o plano mutável dos objetos físicos.”
(Pessanha, 1987, XVI-II).

A teoria das idéias de Platão está diretamente ligada a sua teoria da


alma. No livro IV do seu livro “República” Platão concebe o homem
como corpo e alma. Enquanto o corpo modifica-se e envelhece, a alma é
imutável, eterna e divina. A alma inteligente preso ao corpo um dia foi livre
e contemplou o mundo das idéias, mas as esqueceu. É somente através da
busca do conhecimento, através de um processo de recordação, de
reminiscência o homem pode lembrar-se das idéias que um dia contemplou.
A realidade sem forma, sem cor, impalpável só pode ser contemplada pela
inteligência, que é o guia da alma.

Platão divide a alma em três partes. O lado racional está localizado na


cabeça, seu objetivo é controlar os dois outros lados, com ele adquirimos a
sabedoria e a prudência. O lado
O corpo humano é a carruagem, irascível está localizado no coração,
eu, o homem que a conduz, os
pensamentos as rédeas, os seu objetivo é fazer prevalecer os
sentimentos são os cavalos sentimentos e a impetuosidade, com
ele adquirimos a coragem. Por
último, temos o lado concupiscente que está localizado no baixo-ventre,
seu objetivo é satisfazer os desejos e apetites sexuais, com ele adquirimos a
moderação ou a temperança. No Mito do Cocheiro, no diálogo “Fedro”,

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Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um
branco (irascível) e um negro (concupiscível). O corpo humano é a
carruagem, e o cocheiro (Razão) conduz através das rédeas (pensamentos)
os cavalos (sentimentos). Cabe ao homem através de seus pensamentos
saber conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá se guiar no
caminho do bem e da verdade.

Platão afirma que não podemos ser felizes quando somos dominados
pela concupiscência e pela cólera, isso porque as paixões sempre nos
conduz por caminhos perigosos e contraditórios e fazem com que os
desejos e impulsos violentos de nosso corpo tirem nosso bom senso. Já
dizia Sócrates que todo vicio é ignorância. Não há nada mais deprimente do
que uma pessoa que age por impulsos e é dominada pelas paixões. Ter
autocontrole é essencial para sermos felizes. A felicidade só pode ser
alcançada se formos capazes de dominar nossos sentimentos pela razão. A
moderação é uma virtude e ela se realiza quando somos capazes de
controlar a nossa concupiscência. O indivíduo moderado é aquele que não
cede as suas paixões, impulsos e prazeres. Da mesma forma o indivíduo
não se lançara a luta e a agressão indiscriminadamente, uma vez que a
razão deve saber discernir o que é bom e mal para nossa vida, sabendo
dominar a nossa alma irascível. Dessa forma, seremos felizes se através da
razão soubermos controlar nossa vida, pois a virtude natural da razão é o
conhecimento.

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Felicidade como sabedoria prática

Aristóteles (384-322 a.C) nasceu em Estagira (Macedônia). Seu pai


era médico do rei Felipe da Macedônia. É considerado juntamente com
Sócrates e Platão um dos mais influentes filósofos gregos do mundo
ocidental. Foi aluno de Platão e educou Alexandre, o Grande. Criou o
pensamento lógico e a biologia como ciência. “Em suas obras sobre a
natureza, Aristóteles tentou descobrir uma hierarquia de classes e espécies
(...). Ele estava convencido de que a natureza tinha uma finalidade e que
cada traço específico de um animal existia para cumprir uma determinada
função”. (Strathern, 1997, p.24). Dessa forma, Aristóteles foi o primeiro
filósofo a valorizar a observação e a experiência em seus estudos e por isso
pode ser considerado o pai do método científico. Aos 17 anos foi para
Atenas, o maior centro filosófico e artístico de toda antiguidade,
matriculou-se na escola de Platão e lá permaneceu por vinte anos, até 347
a.C. Após a morte de seu mestre fundou sua própria escola, o Liceu. Ao
contrário da Academia, que valorizava o pensamento teórico, o Liceu
privilegiava as ciências naturais. Dirigiu o liceu até 324 a.C. Com a morte
de Alexandre surgiram sentimentos xenófobos antimacedônios em Atenas,
sentindo-se ameaçado Aristóteles fugiu afirmando não permitir que a
cidade cometesse um segundo crime contra a filosofia, assim como
cometerá com Sócrates. Apesar de sua escola ter privilegiados as ciências
naturais Aristóteles também pensou os problemas políticos e sociais de sua
época, assim como se debruçou sobre os problemas éticos e morais. Em
seu livro “Ética e Nicomaco” Aristóteles pensou profundamente sobre a
felicidade humana.

Para Aristóteles a felicidade não está ligada aos prazeres ou as


riquezas, mas a atividade prática da razão. Ele argumenta que a capacidade
de pensar é o que há de melhor no ser humano, uma vez que a razão é

20
nosso melhor guia e dirigente natural. Se o que caracteriza o homem é o
pensar, então esta e sua maior virtude e, portanto, reside nela à felicidade
humana. “Aristóteles, fiel aos princípios de sua filosofia especulativa, e
após ter feito uma análise e um estudo da psicologia humana, verifica que
em todos os seus atos o homem se orienta necessariamente pela idéia de
bem e de felicidade e que nenhum dos bens comumente procurados (a
honra, a riqueza, o prazer) preenche
esse ideal de felicidade. Daí a sua
Quanto à excelência moral, ela é
conclusão: primeiro, a felicidade
produto do hábito, razão pela qual
humana deverá consistir numa seu nome é derivado, com uma
ligeira variação, da palavra hábito.
atividade, pois o ato é superior a
potência; segundo, deverá ser uma
atividade relacionada com a
faculdade humana mais perfeita que é a inteligência (...)”. (Costa,1993,
p.67)

Em sua ética Aristóteles mostra-nos que os homens se tornam o que


são pelo hábito. Os homens se tornam construtores construindo, e se
tornam músicos tocando, da mesma forma um homem torna-se justo
praticando atos justos e mal praticando atos maus. Um homem torna-se um
bom ou mau músico por tocar bem ou mal. Dessa forma para se tocar bem
é necessária a excelência, é necessário o engajamento, é necessário o
hábito. Esse raciocínio serve para todas as atitudes e atividades humanas.
Pelo hábito de sentir receio ou confiança tornamo-nos covardes ou
corajosos. O mesmo se aplica aos desejos e a raiva, algumas pessoas
tornam-se moderadas e amáveis, outras se tornam concupiscentes ou
irascíveis, por se comportarem da mesma forma e do mesmo modo em
todas as circunstâncias. É por isto que devemos fazer uso da razão em

21
nossas escolhas e atividades. Devemos sempre desenvolver nossas atitudes
e atividades de uma maneira predeterminada.

A felicidade para Aristóteles corresponde ao hábito continuado da


prática da virtude e da prudência. Dessa forma, a felicidade está ligada a
uma sabedoria prática, a de saber fazer escolhas racionais na vida. É feliz
aquele que escolhe o que é mais adequado para si. Mas toda escolha exige
uma mediania, um equilíbrio entre o excesso e a falta. Por exemplo, na
vida não podemos ser inconseqüentes e não ter medo de nada e se arriscar
em situações de perigo. Por outro lado, também não podemos ser covardes
e ter medo de tudo deixando que o medo nos domine. É necessário o meio
termo entre esses dois sentimentos, devemos enfrentar os medos e perigos
sabendo a hora de agir. O mesmo raciocínio serve para o gasto de nosso
dinheiro. Não podemos ser esbanjadores gastando com tudo que vemos,
assim como não podemos ser avarentos e jamais gastar o dinheiro sempre
querendo guardá-lo. É necessário saber gastar usando o dinheiro de forma
racional. Esse mesmo raciocínio serve para o orgulho. Na vida não
podemos ser vaidosos preocupando-se apenas com nossas qualidades, sem
jamais aceitar nossos defeitos. Por outro lado, não podemos ser muito
modestos achando que somos inferiores aos outros. É necessário respeito
próprio reconhecendo nossos defeitos e qualidades e não deixando as
pessoas diminuírem nossa auto-estima. Para Aristóteles devemos sempre
escolher o meio termo, sendo moderados em tudo que fazemos na vida.

22
O que é a felicidade?

Se a felicidade é a atividade conforme à virtude, será razoável que ela esteja também em concordância
com a mais alta virtude; e essa será a do que existe de melhor em nós. Quer seja a razão, quer alguma
outra coisa esse elemento que julgamos ser o nosso dirigente e guia natural, tornando a seu cargo as
coisas nobres e divinas, e quer seja ele mesmo divino, quer apenas o elemento mais divino que existe em
nós, sua atividade conforme à virtude que lhe é própria será a perfeita felicidade. Que essa atividade é
contemplativa, já o dissemos anteriormente.

Ora, isto parece estar de acordo não só com o que muitas vezes afirmamos, mas também com a verdade.
Porque em primeiro lugar essa atividade é a melhor (pois não só é a razão a melhor coisa que existe em
nós, como os objetos da razão são os melhores entre os objetos cognoscíveis); e, em segundo lugar, é a
mais contínua, já que a contemplação da verdade pode ser mais contínua do que qualquer outra atividade.
E pensamos que a felicidade tem uma mistura de prazer, mas a atividade da sabedoria filosófica é
reconhecidamente a mais prazerosa das atividades virtuosas; pelo menos, julga-se que o seu cultivo
oferece prazeres maravilhosos pela pureza e pela durabilidade, e é de supor que os que sabem passam seu
tempo de maneira mais prazerosa do que os que perguntam.

(...) Se, portanto, a razão é divina em comparação com o homem, a vida conforme à razão é divina em
comparação com a vida humana. Mas não devemos seguir os que nos aconselham a nos ocupar com
coisas humanas, visto que somos homens, e com coisas mortais, visto que somos mortais; mas, na medida
em que isso for possível, procuremos nos tornar imortais e empregar todos os esforços para viver de
acordo com o que há de melhor em nós; porque, ainda que seja pequeno quanto ao lugar que ocupa,
supera tudo o mais pelo poder e pelo valor.

E pode-se dizer também que esse elemento é o próprio eu do homem, já que é a sua parte dominante e a
melhor dentre as que o compõem. Seria estranho, pois, que não escolhesse a vida do seu próprio eu, mas a
de outra coisa. E o que dissemos atrás tem aplicação aqui: o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o
que há de melhor e de prazeroso para ela; e assim, para o homem a vida conforme à razão é a melhor e
mais prazerosa, já que a razão, mais do que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa
vida é também a mais feliz.

Aristóteles – Ética e Nicômaco

23
O destrinchador de Bois

Chuang-Tsé foi um filósofo chinês taoísta do Século IV a.C. Sua


filosofia ajudou a construir o budismo Zen. Ele viveu por volta de 370 a.C,
no reinado do rei Hui de Liang. “Dizem que se tornou um velhinho
excêntrico e encantador – vestia-se com trapos e seus sapatos rotos eram
enrolados em pedaços de pano. Um discipulo visitou-o logo após a morte
de sua esposa e ficou desconcertado ao encontrá-lo cantando alegremente e
marcado o ritmo de canção numa tigela. Chuang-Tsé explicou seu
comportamento dizendo que chorar e se deixar tomar pela tristeza e o luto
seria manifestar uma ‘ignorância do destino’”. (Strachem, 1998, p.43).

Por que chuang-tse estaria alegre pela morte de sua esposa? Não era
porque ela era uma chata, muito pelo contrário, ele a amava. Este fato tem
uma explicação filosófica. Em sua opinião, a morte não constitui o fim,
mas é parte do processo vital da existência. A natureza é fluxo, devir,
eternamente mudando, eternamente desvanecendo. Chuang Tsé não
distingue a vida da morte, a realidade da irrealidade, o ser do não-ser.
Tudo que existe segue um processo natural. Todos nós, antes da vida,
estavamos mesclados ao universo. Com o tempo veio à transformação e no
bojo da massa desenvolveu-se o espírito, do espírito desenvolveu-se a forma,
da forma desenvolveu-se a vida, e, por sua vez, da vida desenvolveu-se a
morte. Com a morte voltamos à grande, indistinguível e informe massa.
Assim como a natureza tem suas estações, assim também a vida humana
tem suas estações. Dessa forma, a morte é apenas parte do processo e não o
fim do processo.

Chuang-Tsé foi discipulo de Lao-Tsé, o grande criador do taoismo.


A palavra Taoismo tem origem na palavra chinesa Tao, que significa
“caminho”. Em sua filosofia Lao-tsé ensinava o caminho da natureza, que

24
em sua opinião era uma potência mistica e metafísica que controlaria todo
o universo. Foi com Chuang-Tsé que o taoismo se popularizou. Para
Chuang-Tsé tudo na vida segue o processo natural, o caminho do Tao, que
devemos entender como a ordem das coisas de acordo com a lei natural.
Dessa forma a vida deve ser desejada como ela é e não como nós a
queremos. Assim, não devemos precaminar contra a vida ou contra a
morte. Não adianta se lamuriar, pois os fatos não se alteram. Através de
sua filosofia Chuang-Tsé tenta nos mostrar que devemos através do
conhecimento alcançar a tranqüilidade da alma, aceitando a nossa
existência tal como ela é e adaptando-se ao processo universal de mudança
e transformação. No texto “O destrinchador de boi”, Chuang-Tsé mostra-
nos como a experiência, a intuição e o bom-senso pode ser um grande guia
para vivermos a nossa vida

O cozinheiro do príncipe Wen Hui estava a destrinchar um boi. Os


movimentos da mão, os jeitos de ombro, os movimento dos pés, o atirar
do joelho,o som da carne a apartar-se e ser cortada e o zumbido da faca
todos estavam num ritmo perfeito, como se fosse uma dança ou uma
sinfonia.

- É maravilhoso ver como conseguiste dominar a tua técnica ! , comentou


o príncipe.

O cozinheiro pousou a sua faca e disse:

- Procuro agir de acordo com o Tao , a ordem natural das coisas. É


algo que está para além da mera técnica. Quando comecei a talhar, via à
minha frente o boi todo. Mas, depois de três anos de prática, já não os via
como um todo. Via as distinções. E, agora, os meus sentidos param de
funcionar e é o espírito que me guia livremente. Sem um plano, seguindo
o instinto, sigo as fibras naturais deixando a faca encontrar o seu caminho

25
entre as muitas aberturas escondidas, tirando proveito do que lá está, sem
tocar nunca num ligamento ou tendão e muito menos numa articulação
importante.

Um bom cozinheiro muda de faca uma vez por ano, porque sabe
destrinchar, enquanto um cozinheiro medíocre tem que mudar de faca
cada mês, porque só sabe cortar. Pois eu já tenho esta minha faca há
dezanove anos e trinchei milhares de bois com ela. E, no entanto, a lâmina
está tão fresca como quando saiu da pedra de afiar. Há espaços entre as
articulações. E a lâmina da faca, que quase não tem espessura, tem mais
que espaço para passar através desses espaços. E é por isso que, passados
dezanove anos, a minha lâmina está tão afiada como sempre.

É verdade que há articulações mais difíceis. Quando as sinto aproximar,


avalio bem a articulação que surgiu e olho-a com cuidado, mantendo
sempre os olhos no que faço e trabalhando devagar. E então, com um
movimento muito suave da faca, destrincho todo o boi em dois. E ele
desmancha-se como um torrão de terra ao cair no chão. Aí, retiro a faca e
fico parado, com a sensação de ter conseguido algo de muito importante.
Depois, limpo a lâmina e descanço a faca.

- É isso!, disse o príncipe. O meu cozinheiro mostrou-me como devo viver


a minha vida!

Chuang-Tsé ensina-nos neste texto que na vida há uma lógica, há uma


estrutura, há um sentido, assim como há uma relação perfeita nas partes de
um boi. Tudo que existe tem um modo natural de ser. É isso que ele chama
de Tao, a ordem natural das coisas. Dessa forma devemos aprender na vida
como as coisas são, como as pessoas são, como a vida é para podermos
saber como resolver os problemas de modo natural. Devemos analisar os
fatos para que não haja tensão e conflito. Se agirmos conforme as coisas
são, tudo será mais fácil de resolver. É por isso que devemos aceitar o
mundo tal como ele é, sem tentar mudá-lo.

26
O caminhar Feliz

Cada pessoa é o que devia ser e pode viver com igual felicidade enquanto viver ajustada à sua própria
natureza. Não há pessoas que sejam superiores e outras inferiores quanto a isso.
Há pessoas cuja natureza os torna aptos a assumir cargos de chefia, outros cuja natureza faz deles bons
negociantes, bons artesãos ou bons funcionários. Há quem tenha vocação para dedicar a sua vida a ajudar
os outros e quem tenha jeito para pensar ou para investigar tudo.
Desde que respeitem a sua natureza, todas as pessoas podem fazer o que têm a fazer, com igual felicidade
e sucesso no que fizerem.
Mas existe um limite próprio para cada uma a partir do qual tudo mais que possa ser desejado apenas
levará a lamentações. Quem quer mais do que lhe é dado sofre inutilmente sem que ninguém o esteja a
castigar. Quando nos prendemos demasiado às coisas, sentimos perdas e ganhos; e a alegria e o
sofrimento são o resultado de perdas e ganhos. Só quem larga essas amarras se pode sentir
verdadeiramente feliz. A única liberdade a que os homens podem aspirar tem que estar inserida dentro
dos limites naturais da sua condição humana e da sua natureza. Só devemos tentar fazer o que podemos
realmente fazer. A nossa liberdade de ação tem limites.

Quem não gosta do que tem, porque pensa que podia ter melhor, é desagradecido e é estúpido. Abdica da
única liberdade que um Homem pode ter para optar em vez disso pela ansiedade constante de tentar ter o
que nunca vai ter. Quem não gosta do que é, acabará por passar a sua vida frustrado, tentando ser o que
nunca vai ser.

Aqueles que aceitam o curso natural das coisas ficam sempre tranquilos, quer nas ocasiões alegres, quer
nas tristes. Quem apenas gosta da felicidade, sofrerá com a tristeza. Quem aceita com tranquilidade a
inevitabilidade da morte, sabe tirar melhor proveito da vida. De que serve não a aceitar? Querer ter o que
se não pode ter é ficar preso para sempre. Quem apenas gosta da vida, sofrerá com a morte. Quem apenas
gosta do poder, sofrerá com a sua perda.

Chuang Tse - Ensinamentos Essenciais

27
Deus é a felicidade porque é a verdade

A filosofia cristã sempre se esforçou por aproximar as verdades da


razão com as verdades reveladas da fé. O primeiro grande sistema da
filosofia cristã surge no século IV d.C com Santo Agostinho (354-430).
Santo Agostinho teve uma vida devassa, regado a vinho e a mulheres, mas
aos 32 anos converteu-se ao cristianismo. Tornou-se cristão graças aos
ensinamentos de Santo Ambrósio, bispo de Milão. Também foi
influenciado pelas leituras da vida de Santo Antônio do Deserto e de Santo
Atanásio de Alexandria. Sua filosofia se fundamenta a partir das idéias de
Platão. Ele reinterpreta a teoria das idéias de Platão reconciliando-a com o
cristianismo. Para ele Deus teria criado o mundo a partir de idéias
imutáveis. Essas idéias não residiriam num mundo à parte como pensava
Platão, mas na mente de Deus, conforme mostra a bíblia.

Outra grande preocupação de santo Agostinho foi pensar a felicidade


humana. Segundo ele, o maior problema que o homem deve resolver em
sua vida é o problema da felicidade. Por toda vida ele buscou esse objetivo,
primeiro na vida devassa, depois na filosofia, mas foi somente na revelação
cristã que conseguiu uma resposta para sua inquietação. Santo Agostinho
só alcançou a felicidade quando purificou sua alma. Só alcançou a
felicidade através de um encontro pessoal com Deus. “A vida feliz consiste
em nos alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz, e não há
outra”. (Santo Agostinho, 1996, p.282). Mas este encontro só é possível
através da fé. Para ele “é necessário crer para compreender, assim como é
necessário compreender para crer”. O homem feliz é aquele que tem Deus
no coração. A Felicidade é um dom de Deus. “Então, como vos hei de
procurar, Senhor? Quando vos procuro, meu Deus, busco a vida feliz.
Procurar-vos-ei, para que a minha alma viva. O meu corpo vive da minha
alma e esta vive de vós”. (Santo Agostinho, 1996, p.279). O homem deve

28
ser digno de receber a felicidade. A felicidade é um bem eterno alcançado
pela plenitude espiritual. Essa plenitude só pode ser alcançada através da
busca da verdade e a verdade está em Deus. Deus é felicidade porque é a
verdade.

Outro grande filósofo cristão que pensou o problema da felicidade


foi Santo Tomás de Aquino (1225-1274). Nasceu numa família nobre e rica
na cidade de Aquino, perto de Nápoles na Itália. Com cinco anos foi
mandado para o mosteiro Monte Cassino, pois seus pais esperavam que ele
fosse abade daquele mosteiro. Ser abade significava ter muito dinheiro,
poder e prestígio naquela época. Estudou filosofia e teologia na
Universidade de Nápoles e Paris. Em Nápoles conheceu os dominicanos,
que atuavam como mestres de teologia. Aos dezoito anos, contra a vontade
dos pais, juntou-se a Ordem Dominicana. “O ideal de uma vida
contemplativa aliadas aos estudos e atividades intelectuais, que
caracterizava a recém-fundada Ordem de São Domingos, despertou no
jovem estudante o desejo, logo depois transformado em firme resolução de
se fazer frade dominicano” (Costa, 1993, p.27). Após seus estudos tornou-
se professor de teologia na Universidade de Paris. Seu maior feito foi
aproximar a filosofia de Aristóteles do cristianismo, algo impensável e
combatido pela igreja naquela época. Toda sua obra foi construída com os
alicerces do pensamento aristotélico, em particular seu conceito de
felicidade.

Como bom aristotélico Santo Tomas de Aquino afirmava que todo


ser humano se orienta pela idéia de bem e de felicidade. Assim a felicidade
deve estar ligada a um bem infinitamente bom e perfeito: Deus. Esse bem
infinitamente perfeito só pode ser alcançado através da razão. A razão deve
ser o guia da vontade, pois a vontade naturalmente procura o bem para si
mesmo. A razão percebe pela análise que os bens terrenos não satisfazem o

29
homem, pelo contrário muitas vezes os tornam infelizes. Com isso, ela
chega à conclusão que o único bem que pode preencher adequadamente o
ideal de felicidade humana, é Deus. “O homem só alcança a felicidade se
atingir o bem adequado à sua natureza racional. E é através da razão que se
conhece esse bem e os meios para atingi-lo, uma vez que só a razão é capaz
de aprender a realidade objetiva do bem e dos meios que permitem realizá-
lo”. (Costa, 1993, p.70).

Para Tomás de Aquino o animal alcança seu destino e perfeição


através dos instintos. O homem, por sua vez, é um ser racional dotado de
consciência e vontade, dessa forma ele deve se orientar através de sua
razão, de forma livre e voluntária, na busca de sua perfeição e felicidade
aqui na terra. Se Deus é a causa primeira do universo, então “todas as
criaturas estão ordenadas e são conduzidos a seus respectivos fins pela ação
da causa primeira manifestada pela providência divina” (Costa, 1993,
p.67). Dessa forma, a felicidade não se encontra nos bens exteriores, mas
no íntimo de cada homem. O homem que busca a felicidade deve se voltar
para si mesmo, no íntimo de sua alma ele vai encontrar Deus. Nesta ascese,
no íntimo de seu ser, ele vai descobrir que na vida devemos agir conforme
a lei de Deus, de maneira virtuosa e reta, sem nunca nos desviarmos da
verdade, somente assim atingiremos a plena felicidade.

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Confissões

Longe de mim, Senhor, longe do coração deste vosso servo, que se confessa a Vós, o julgar-se feliz, seja
com que alegria for. Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas só àqueles que
desinteressadamente Vos servem: essa alegria sois Vós.

A vida feliz consiste em nos alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz, e não há outra. Os
que julgam que existe outra apegam-se a uma alegria que não é verdadeira. Contudo, a sua vontade jamais
se afastará de alguma imagem de alegria...

Santo Agostinho - Confissões

Felicidade

Existem bens particulares que não possuem relação necessária com a felicidade, visto que se pode
ser feliz sem eles. A tais bens, a vontade não adere necessariamente. Mas existem outros bens que
implicam nessa relação; são aqueles pelos quais o homem adere a Deus, pois é só nele que se acha a
verdadeira felicidade. Todavia, antes que essa conexão seja demonstrada como necessária pela certeza da
visão divina, a vontade não adere necessariamente a Deus nem aos bens que a ele se relacionam. Mas a
vontade daquele que vê Deus em sua essência adere necessariamente a Ele, do mesmo modo como agora
nós queremos, necessariamente, ser felizes. Por conseguinte, é evidente que a vontade não quer, por
necessidade, tudo o que deseja.

São Tomás de Aquino - Suma Teológica

31
Vinho, canções, música e amor

A vida não é um mar de rosas. A experiência nos mostra que pessoas


honestas são perseguidas, que a hipocrisia e a mentira são normas e lei nas
relações sociais, que os idiotas e ineptos são engrandecidos e adulados, que
ter nascido não é uma graça divina, e que a vida é uma escravidão onde
tudo é claustro, frívolo e precário. Quem pensa assim é Omar Kahayyán, o
maior filósofo pessimista da Pérsia, atual Irã. Nasceu por volta do ano
1080 perto da cidade de Nishapur e veio morrer aos oitenta e cinco anos de
idade. Era filósofo, matemático e astrônomo preocupado em entender o
sentido da vida e o enigma do universo. Apesar de enxergar friamente a
vida, tal como ela é, encontrou na poesia, no vinho e nas mulheres a razão
do seu viver. O ocidente o conhece graças as suas poesias. Apesar de ser
um cientista, amava a poesia e as escrevia despreocupadamente como uma
forma de desabafo e de alívio de suas tensões. Seus poemas foram
denominados pela tradição de “Rubaiatas”, plural de Rubaía, cujo
significado é quadra, estrofe de quatro versos. São três os motivos de seus
rubaiatas: a tristeza de se viver neste mundo, à insensatez dos dogmas da
religião, e os prazeres do vinho e da sensualidade.

Omar Kahayyán via a vida como algo contingente, sem sentido,


sem rumo, sem finalidade. Negava a vida e a concebia como um “cárcere
asfixiante”.

Somos joguetes
Nas mãos do Destino
Simples brinquedos,
à nossa custa
diverte-se o universo

Joguetes

32
Que vivem redemoinhando
Ao sabor dos ventos

Não se trata de metáfora,


Nem exagero no que digo:
Esta é a realidade

No passado,
Ingenuamente brincávamos
No tablado da vida.

Seremos hoje
Uns após outros,
Carregados
no féretro do não-ser

Em um de seus poemas Omar Khayyán dizia que se tivessem


consultado sobre sua vinda a terra ele teria dito não. Sentia-se triste por ter
nascido, achava que a vida é um algoz que nos força a aceitar um destino
que não escolhemos. Ele nunca aceitou o fato de ser arremessados neste
mundo sem o seu consentimento. Sentia-se perplexo e desajustado, também
sentia angustia diante da morte, uma vez que somos levados a um
aniquilamento final inexorável.

Khayyám também criticou as crenças e valores de sua época. Achava


impossível ao homem provar a realidade de Deus. Em seus poemas ele
usava a ironia desvelando as contradições dos dogmas religiosos.

O Allah!
Semeaste de armadilhas
E eriçaste de pecados
As curvas do meu caminho!

E depois advertiste:
- Ai de ti se caíres!

33
Sabemos
Que nem um só átomo se esconde
à Tua visão
Em todo o universo

Ora,
Se determinaste
Que assim se me desdobrasse
O percurso da existência
E se tão meticulosamente
Preparaste a minha queda,
Allah!
Por que me chamas
Pecador?

Apesar de seu extremo pessimismo Omár Khayyán cultivava um ideal


hedonista de vida. Incitava seus contemporâneos a renunciar a tudo neste
mundo: poder, fama, cargos e dinheiro.

Desvia teus passos


De todo caminho
Que não te conduza à taberna
Nada peças, nem desejes,
Senão vinho, canções, música, amor!

Dizia que o afeto, o amor e a compreensão são os alicerces da


vida. “A vida é amor e nada mais”. Para ele o importante na existência era
conquistar o quinhão de ventura no decorrer de cada dia e nos entregarmos
a nossa amada com uma taça de vinho nas mãos.
Ele também dizia que devemos ter poucas necessidades. Se
diariamente um homem consegue um pedaço de pão e um pouco de água,
por que ele deveria se por ao serviço de outrem? Por que ele precisaria se
humilhar diante dos demais? Quanto mais necessidades temos, mais dores
e sofrimentos colhemos para o corpo e para a alma. Na vida devemos ser
livres e tranqüilos.

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Um dos requisitos para sermos livres e tranqüilos, segundo ele, é
não molestar, não odiar e não causar dano ou prejuízo a ninguém. Devemos
idealizar uma vida serena, em quietude e devemos suportar risonho as
ofensas e todo horror das calúnias. Também não devemos culpar o destino
pelo mal de que padecemos e não devemos agradecer os céus pelos bens
que desfrutamos. Toda fatalidade, alegria ou tristeza que temos surge à
revelia. Tudo que ocorre no mundo é casual.
Diante das tristezas e percalços da vida aconselhava-nos a beber
vinho. O vinho é exaltado e enaltecido em quase a metade de suas poesias.
O vinho nos abre as portas da percepção e não nos deixa alheios a vida,
fazendo com que satisfaçamos nossos instintos mais primordiais. Ele nos
liberta da dor, do sofrimento e nos propicia alegria e prazer

Bebe vinho dourado


É repouso para o espírito
Bálsamo providencial
Para alma e coração ferido

Se fores assediado
Por um dilúvio de tristeza
Se te vires,
Por todos os lados,
Acometidos de pesares

Agarra-te, sem receio,


Ao delicioso vinho dourado

É o barco da salvação.

Omar Khayyán só encontrou consolo no vinho e nas mulheres.


Sentia-se perplexo diante da incógnita da existência, era uma alma
torturada em busca da verdade. Não encontrou respostas as suas
indagações, sentiu depressão, angústia, desespero e acabou por se

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desiludir. O vinho não era uma fuga ou apenas um simples prazer dos
sentidos, muito pelo contrário, era um instrumento de êxtase místico para
se atingir a verdade. Uma verdade que ele nunca encontrou.

36
Renuncia a tudo
Neste mundo
Fortuna, poder, honrarias

Desvia teus passos


De todo caminho
Que não te conduza à taberna
Nada peças, nem desejes,
Senão vinho, canções, música, amor!

Nobre e formoso mancebo,


Apanha o odre
E empunha a taça

Bebe
Mas, cuidado!
Não seja frívolo,
Não fales em vão

Rubáiyát – Omar Khayyám

37
Assim falou Zarathustra

Nietzsche pode ser considerado um dos filósofos mais importantes do


mundo contemporâneo, sendo o grande responsável pela “crise da
modernidade”. Nasceu em Roecken (1844), na Prússia, estudou filologia
em Bonn e Leipzig, tornou-se professor de filologia clássica na
Universidade de Basiléia, na Suíça, em 1869. Foi influenciado pela
filosofia pessimista de Schopenhauer e tornou-se amigo do músico Richard
Wagner, com quem depois rompeu relações.

Nietzsche foi um crítico mordaz dos valores do racionalismo iluminista


e dos valores morais e religiosos de nossa época. Ele constatou que noções
como verdade, justiça, razão, bem, mal, virtude, Deus foram relativizados
no mundo moderno como conseqüência do progresso técnico e científico.
Dessa forma, segundo o professor Oswaldo Giacóia, ele “dedicou sua vida
a realizar três tarefas: compreender a lógica desse movimento contraditório
ao longo do qual o progresso do conhecimento leva à perda de consistência
dos valores absolutos; a partir daí, denunciar todas as formas de
mistificação pelas quais o homem moderno oblitera sua visão dos perigos
de sua condição; por fim, destruídos os falsos ídolos – e esses são os
valores mais venerados pelo homem moderno -, assumir corajosamente o
risco de pensar novos valores, abrir novos horizontes para a experiência
humana na história.” (Giacóia, 2000, p.17).

Nietzsche é considerado o filósofo do poder e da vontade de


potência, sendo inimigo do “amolecimento moderno dos sentimentos” e
condenando o homem moral, fraco e religioso. Ele se propôs a si mesmo
fazer uma crítica dos valores morais, colocando em questão o próprio valor
desses valores. Com isso, identificou a razão e a racionalidade com a
decadência e o ódio aos instintos. A racionalidade desde o nascimento da

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filosofia tornou a razão (logos) o paradigma para o mundo ocidental,
fundamentado nas categorias éticas que têm orientado os homens ao longo
da história, reprimindo os instintos de vida celebrados pela tragédia grega,
em nome de uma vida ética e consciente. O “logos” subjugou os instintos
criadores. O homem de rapina que age guiado pelos instintos foi
substituído pelo homem racional. A vida foi subjugada pela razão.

A filosofia de Nietzsche é uma filosofia dos afetos, das paixões e


desejos, que contempla o individualismo, a força, a abundância e os
instintos de vida. Para ele filosofar não era uma atitude teórica e
contemplativa, mas uma atitude prática que se enraíza na vida, um ato de
libertação de toda subjugação e um ato de afirmação da vida e da vontade.
Sua filosofia se personifica em um dos seus personagens: Zarathustra.
Publicado entre 1883 e 1885, “Assim falou Zarathustra”, é considerado um
dos seus principais livros, nele, de forma poética, está condensado toda sua
filosofia. Através de Zarathustra Nietzsche críticou os valores morais de
sua época, desconstruiu a metafísica, denunciou o atraso da educação e
cultura alemã, criticou o estado e a política. Mas o que nos interessa em
Zarathustra são seus ensinamentos. Ele nos ensina que a dor e o sofrimento
é parte integral da vida, que viver é um processo contínuo de libertação e
que toda alegria e felicidade aqui na terra depende da nossa vontade. É
sobre este personagem que trataremos.

Afinal, o que Zarathustra nos ensina?

Zarathustra é o além do homem (Übermensch), pois ele viu muitas


coisas, sofreu muito, amou, odiou, foi guerreiro, experimentou a morte,
comemorou a vida. Em seu caminho cheio de pedras ele superou a si
mesmo. Em sua Odisséia ele superou muitos monstros, muitos dragões até
tornar-se ele próprio, até tornar-se Zarathustra. O que Zarathustra nos

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ensina é tornar-se “si mesmo”. Essa é sua principal sabedoria. É isso que
devemos aprender com ele, devemos aprender a ser nós mesmos. Não
devemos seguir ninguém, não devemos seguir ídolos, nem mesmo a
Zarathustra . Ele nos exorta a comer muito sal, a aprender com a pedra, que
ela é dura, a saber que na dor há esperança e que o destino somos nós que
fazemos. Quem nunca sentiu dor não sabe o que é a vida. Todos nós temos
Zarathustra dentro do coração, mas também temos um dragão que impera
com suas regras e normas. Para fazer surgir uma estrela que dance devemos
quebrar muitas tábuas de leis. Quem quiser nadar que entre na água. Quem
quer, mas não age, apenas deseja e sofre.

Foi muito difícil a Zarathustra tornar-se si mesmo, foi preciso


muita coragem, foi preciso engolir muito sal. Ele soube reconhecer seu
destino. Ele soube viver sua vida. A maior parte dos homens não vive sua
vida, não cumpre seu destino. Temos que aprender a coisa mais difícil
desse mundo: aprender a viver. Viver é saber qual é o nosso destino. O
destino não pode ser imposto de fora, ele deve ser puro como o mais fino
brilhante, ele vem de dentro de nossos corações, devemos identificá-lo.
Quem reconheceu seu destino quer cumpri-lo. Quem deseja amar, que
ame. Quem deseja a liberdade, que se liberte.
No destino há dor, mas também há esperança. É na dor que
aprendemos qual é o nosso destino. A dor nos ensina a viver. Devemos
respeitá-la e amá-la como algo necessário. Muitos homens não respeitam
sua dor, não aprendem nada com ela. Muitos nem ao menos sabem por que
sofrem. Acham que a dor é causada pela falta de dinheiro, falta de amor,
falta de emprego. Estão sempre se lamentando e maldizendo a vida. Não
percebem que é seu destino que reclama dentro de seus corações. Os
homens sufocam seu destino e é na dor que o destino grita por socorro.

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O mundo não é culpado pela nossa dor. Os problemas que temos é
culpa nossa. Nós somos os culpados. A dor que nos faz infeliz somos nós
que a criamos. Não é o mundo que nos faz sofrer, somos nós mesmos que
nos fazemos sofrer. O namorado mata a namorada, o filho mata o pai, o
pedestre espanca o motorista, o desempregado se suicida. Tudo isso por
quê? Porque o indivíduo desconhece sua dor. Se ele tentasse entendê-la
tudo seria mais fácil. A violência gratuita no mundo é um alivio de tensão
causada pela falta de entendimento da dor. Nós perceberíamos que essa
dor não é causada pelo mundo, mas é uma dor pessoal causada pela
insatisfação, causada pelo desejo de viver, causada pelo desejo de
liberdade, de amor e esperança. É o destino em nossos corações que
reclama a vida.
Zarathustra nos ensina que falta obstinação ao homem. Falta
personalidade. Temos que viver conforme o nosso coração. A verdade está
em nós mesmos. Não devemos seguir o rebanho. Temos que deixar de ser
gregários. Temos que adquirir perspectivas pessoais. Temos que ser frios e
corajosos. Temos que fazer sofrer para sermos felizes. Tudo que existe
carrega a seu telos (finalidade). O telos do pássaro é voar. O telos do peixe
é nadar. O telos do homem é descobrir o seu destino. Temos que descobrir
o nosso destino, a nossa lei interna. Só assim nos tornamos crianças. A
criança é um espírito livre. Ela segue seu sentido interno. Ela faz o que
quer, faz porque gosta. Temos que fazer as coisas porque gostamos e não
porque nos é imposta.
Para Zarathustra o destino do homem é crescer enquanto indivíduo.
O sentido interno do homem está ligado a sua vontade de potência, a sua
vontade de crescimento. O que importa é a nossa força interna, a força
vital. O importante é cumprir o nosso destino individual. Enquanto seres
gregários não temos individualidade. A individualidade é algo que temos
que adquirir através do nosso destino pessoal. Temos que viver

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autenticamente a vida. Temos que ser nós mesmos. O indivíduo só se torna
o que se é por suas próprias forças, ou seja, por sua vontade de potência. “E
onde há sacrifício, serviço e olhar de amor há também vontade de ser
senhor. Por caminhos secretos desliza o mais fraco até a fortaleza, e até
mesmo ao coração do mais poderoso, para roubar o poder. E a própria vida
me confiou este segredo. ‘Olha - disse – eu sou o que deve ser superior a si
mesmo’”.(Nietzsche, 2004,p.96-7) O que Zarathustra nos ensina é ser
senhor de si mesmo, pois aquele que é senhor de si mesmo é senhor do
mundo.

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Liberdade

Pois o que é a liberdade? Ter a vontade de responsabilidade própria. Manter firme a distância que nos
separa. Tornar-se indiferente a cansaço, dureza, privação, e mesmo à vida. Estar pronto a sacrificar à sua
causa seres humanos, sem excluir a si próprio. Liberdade significa que os instintos viris, que se alegram
com a guerra e a vitória, têm domínio sobre outros instintos, por exemplo, sobre o da ‘felicidade’. O
homem que se tornou livre, e ainda mais o espírito que se tornou livre, calca sob os pés a desprezível
espécie de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros
democratas. O homem livre é um guerreiro. (...) Primeiro princípio: é preciso ter necessidade de ser forte:
senão nunca se chega a isso. Aquelas grandes estufas para a espécie forte, para a mais forte espécie de
homem que houve até agora, as comunidades aristocráticas ao modo de Roma e Veneza, entendiam
liberdade exatamente no sentido em que eu entendo a palavra liberdade: como algo que se tem e não se
tem , que se que, e que se conquista...

Nietzsche – Crepúsculo dos Ídolos

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A angústia da liberdade

Jean Paul Sartre nasceu em Paris, em 21 de junho de 1905. Em 1924


cursa filosofia e psicologia na Escola Normal Superior. Após a faculdade
tornou-se professor de escolas secundárias, os Liceus, nunca querendo
seguir carreira universitária. Contudo, jamais deixou de escrever. Começa
a criar sua obra nos anos 30 e após a segunda guerra mundial sua filosofia
torna-se moda em toda europa: a moda existencialista. Ser existencialista
significava tomar uma atitude de rebeldia contra os valores vigentes,
significava tomar uma atitude de provocação e indisciplina. Podemos
tranquilamente associar o existencialismo como precursor dos movimentos
de contracultura e rebeldia da década de 50 e 60, como dos beat e dos
hippes.

Em 1945 Sartre realiza uma palestra para explicar o conceito de


existencialismo para leigos e procura também defender sua filosofia das
críticas que lhe eram feitas. Ele começou sua palestra explicando o
fundamento de sua filosofia, ou seja, a idéia de que a existência precede a
essência. Para isso, ele usou um exemplo simples, de como um objeto é
feito. Vamos imaginar que queremos produzir um objeto qualquer, por
exemplo, um corta-papel. Para produzirmos teremos antes que planejar
como ele será feito, ou seja, temos que ter uma idéia de sua forma, seu
tamanho, suas características. Neste caso podemos dizer a essência precede
a existência.

Segundo Sartre este raciocinio não se aplica a existência humana. O


existencialismo de Sartre é ateu. Ele defende a tese de que a existência
precede a essência. Não há um Deus criador, um demiurgo, que antes
planejou o ser humano a partir de uma idéia prévia, assim como o escultor
produz sua obra a partir da matéria bruta. O ser humano simplesmente

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existe e só define sua essência a partir do que ele fizer de si mesmo. Não
existe uma natureza humana pronta, acabada e pré-definida. O homem é
livre para fazer aquilo que ele quer de si mesmo. Isso significa que o
homem está condenado à liberdade. Não existe destino, o destino somos
nós que fazemos. É por isso que o existencialismo tornou-se precursor dos
movimentos de liberdade e de rebeldia dos anos cinquenta e sessenta.

O existencialismo de Sartre postula que o homem não é em-si, não é


um objeto inanimado como as coisas no mundo. Só as coisas são em-si. O
homem é um ser para-si, pois tem consciência de si mesmo. Para ele o
homem é um ser da liberdade, da escolha. É aquele que deseja e escolhe o
que deseja. Contudo, “não se trata de ‘obter o que ser quer’ mas de querer
autonomamente, ‘determinar-se a querer por si mesmo’ (querer aqui,
evidentemente, não só no sentido de voluntário, reflexivo, mas no sentido
largo, que envolve toda ação humana)” (Moutinho, 2003, p.73). Apesar
disso ser uma verdade, o homem moderno não escolhe autenticamente a
vida que quer levar. Ele durante toda sua vida assume compromissos
sociais, morais e religiosos que não pode cumprir. Por escolher mal ele
paga um preço muito alto, pois não consegue se libertar de suas escolhas e
fica angustiado. “A angústia (...) resulta da revelação da nossa própria
liberdade sem peias, limitada apenas por si mesma, fonte absoluta de todo
sentido. Entretanto, se a angústia decorre da descoberta individual da
liberdade plena, ela só pode ser, como salienta Sartre

Hoje em dia nós vemos uma grande parte dos casais vivendo juntos sem
amor, apenas se suportando. Isso por causa dos filhos, por causa dos bens
ou mesmo por dependência psíquica em relação ao outro. A vida torna-se
insuportável. O resultado são as brigas, as traições, o consumo exagerado, a
ansiedade, as compulsões e as neuroses. Também há profissionais que
fazem a mesma atividade e odeiam o que fazem, são incapazes de mudar de

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profissão. Ficam no mesmo emprego por anos a fio, mesmo odiando o
ambiente de trabalho. É um desperdício das capacidades físicas e
intelectuais e da criatividade. Há também indivíduos que reclamam de seus
vizinhos, mas são incapazes de mudarem de casa. Vivem dez, vinte, trinta
anos no mesmo local. A explicação de Sartre para estes problemas está na
angústia da escolha. O homem tem medo da liberdade. Para muitos seres
humanos a liberdade gera a angústia. Muitos não suportam esta angústia e
para não assumir a liberdade da escolha, fogem dela. São incapazes de
escolher. São homens da má-fé. Para ele a má-fé é a atitude característica
do homem que não é capaz de escolher. Este tipo de homem aceita
passivamente sua situação, pensa que sua vida é assim porque Deus quis e
que ele não pode mudar seu destino. Ele aceita os valores, normas e regras
da tradição passivamente sem nunca refletir sobre eles. Ele engana a si
mesmo e pensa que é dono de seus atos.

No amor a atitude da má-fé acontece quando o indivíduo está com


alguém que não ama, mas por questões morais, religiosas ou por gratidão,
fica assim mesmo com a pessoa. Ele não a ama, mas dissimula para si
mesmo que a ama. Ele não quer fazer uma escolha pela qual teria que se
responsabilizar. O indivíduo recusa a dimensão do para-si e torna-se em-si.
Ele é um objeto, uma coisa, o puro nada. É o homem responsável que
recusa sua liberdade e se torna um ser conformado.

Para Sartre a união amorosa é um conflito incurável, já que assimila


a própria individualidade e a do outro em uma mesma transcendência. Em
conseqüência disso, implica o desaparecimento do caráter de um dos dois.
Quem ama limita a liberdade alheia, apesar de respeitá-la. Daí surge a má-
fé e a angústia de quem é incapaz de escolher entre a vida conjugal e a
liberdade.

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O homem condenado a ser livre

Dostoievski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Eis o ponto de partida do
existencialismo. De fato, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está
desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar, não
encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por
referência a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o
homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens
que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no
reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa.

Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre.
Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no
mundo, é responsável por tudo o que faz. O existencialismo não acredita no poder da paixão. Ele jamais
admitirá que uma bela paixão é uma corrente devastadora que conduz o homem, fatalmente, a
determinados atos, e que, conseqüentemente, é uma desculpa. Ele considera que o homem é responsável
por sua paixão. O existencialista não pensará nunca, também, que o homem pode conseguir o auxílio de
um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois considera que é o próprio homem quem decifra o sinal
como bem entende. Pensa, portanto, que o homem, sem apoio e sem ajuda, está condenado a inventar o
homem a cada instante.

Sartre – O existencialismo é um Humanismo

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Bliografia

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