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PARFOR/LETRAS
LOCAL: CAMETÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITARIO DO FACULDADE DE LINGUAGEM
TOCANTINS/CAMETÁ-PARÁ
DISCIPLINA: CÓDIGO:
SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA PARLP024
I EMENTA:
Conceitos básicos em semântica e pragmática: sentido e referência, expressões referenciais e
predicados, dêixis, relações de sentido e relações lógicas; a teoria da enunciação, a teoria dos atos
de fala e implicaturas conversacionais.
II OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL: Oferecer uma visão geral dos estudos da significação perpassando por suas
modificações no decorrer dos estudos lingüísticos
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Desenvolver a capacidade de percepção dos sentidos embasada em vários
teóricos;
• Instigar a dialética entre teoria e prática no que tange à significância de mundo;
• Proporcionar uma observação da relação linguagem, mundo e sentido.
III CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Todo o conteúdo será debatido em sala de aula, tendo como ponto de partida a leitura prévia dos
textos adotados da bibliografia indicada. Poderão ser solicitadas atividades (individuais ou em
duplas), em conformidade com os assuntos apresentados. Para tanto, devemos desenvolver as
seguintes atividades: aulas expositivas, leitura dirigida e compartilhada, produção de resumos e
prova escrita final.
V AVALIAÇÃO
A avaliação será realizada com uma ótica de ação continuada e dialética do processo educacional.
Serão considerados, principalmente, os seguintes elementos: participação ativa nas aulas e postura
acadêmica, o que corresponderá a 20% da avaliação, leitura dos textos em sala de aula ou não e
realização de exercícios sobre os conteúdos discutidos na disciplina, voltados para o
desenvolvimento de atividades didáticas sobre o tema 40% e exposição oral 40%. A média final
resultará da soma dos valores adquiridos em cada atividade.
VI REFERÊNCIAS:
ANDRADE, Antônio Carlos Siqueira de. Semântica e Estilística. Universidade Castelo Branco. Rio
de Janeiro: UCB, 2008. - 36 p.: il.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica. Noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012.
CUNHA, Ana Lygia Almeida; PESSOA, Fátima Cristina da Costa. Estudos de Enunciação. Textos
didáticos do Curso de Licenciatura em Letras – Habilitação em Língua Portuguesa – Modalidade a
Distância. Belém: EDUFPA, 2007 v. 1.
OLIVEIRA, Jair Antônio de. O contexto da Pragmática. UNILETRAS 22, dezembro 2000.
Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/uniletras . Acessado em: 20 de novembro de
2015.
TEIXEIRA, Sylvia Maria Campos. Aspectos estilísticos e pragmáticos da língua portuguesa. Ilhéus,
Bahia: Editus, 2014. 115 p. il. (Letras – módulo 6 – volume 4 – EAD).
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
Semântica
A vida só tem sentido se o sentido da vida for compreendido.
Não se trata de um jogo (banal) de palavras. Não é por acaso que o estudo do
significado das palavras tenha ficado para o último dos instrucionais de
Língua Portuguesa. Ele segue a grade curricular do Curso de Letras que,
sensível à importância do assunto, o coloca no final como que para ressaltar o
valor semântico das pala- vras, que se sobrepõe a qualquer nível gramatical.
Afinal a língua é, antes de tudo, a forma mais completa de veicular
significados.
1 . CONCEITO E CONCEITUALIZAÇÃO
Usamos os signos para falar sobre coisas no mundo (entre outras coisas!). Por
isso, temos a palavra (signo) ‘mesa’ para falar sobre esta mesa à qual estamos
sentados para escrever este texto. Mas isso não quer dizer que o significado
do signo ‘mesa’ deve ser identificado com esta mesa no mundo sobre a qual
falamos. E nem que o significante de ‘mesa’ deve ser identificado com os
sons (ou gestos) que usamos para pronunciar a palavra.
Ou seja, tanto o uso da palavra ‘calvo’, quanto o uso da palavra ‘careca’, nas
sentenças acima, nos levam ao conceito relativo à propriedade que alguém
tem de não ter cabelo.
Qual é o conceito que formamos quando ouvimos uma sentença como essa,
fora de contexto? Em termos bem intuitivos, formamos o conceito de um
objeto físico que serve para marcar o ponto de entrada ou saída de uma sala, e
o de que esse objeto físico não está obstruindo nem a entrada, nem a saída de
ninguém dessa sala.
Entretanto, algumas outras correntes teóricas não aceitam a divisão tão rígida
entre o âmbito de estudo da Semântica, de um lado, e da Pragmática, de
outro. Para essas outras correntes, a construção de todas as conceitualizações
que fazemos está associada a nossa experiência no mundo, e sempre depende,
em maior ou menor grau, do contexto de fala. A divisão entre estudos
semânticos e estudos pragmáticos, para essas teorias, é apenas uma divisão
didática. Neste curso, nós vamos seguir essas correntes que consideram que o
objeto de estudo da Semântica e da Pragmática é o mesmo: os conceitos e a
conceitualização. No item seguinte, vamos entender o que é esse objeto de
estudo.
1
Embora as relações entre signo, conceito e categoria sejam muito próximas, elas são bem diferentes. Um
signo é a união entre um conceito (significado) e um significante. Um conceito é um princípio de
categorização. E uma categoria é um conjunto de entidades (que podem ser objetos, eventos, situações,
relações ou conceitos) que têm algo em comum. Vamos grafar os signos entre aspas: 'pássaro'; os conceitos
entre colchetes: [PÁSSARO]; e as categorias em maiúsculo: PÁSSARO.
‘ter’, nem conceitos expressos por preposições, como ‘de’, ‘com’ ̧etc. Por
menos concretos que esses conceitos possam ser, todo falante de português
sabe bem a diferença que existe entre eles. Vamos tomar, como exemplo, as
expressões em (6) e (7) abaixo:
Vimos, acima, que não é possível fazer uma imagem pictórica do conceito de
uma preposição. Entretanto, quando nos deparamos com exemplos como os
em (6) e (7), sabemos que a relação que se estabelece entre médico e Chico
em (6) é diferente da relação entre médico e Chico em (7). Isso mostra que os
conceitos que temos das preposições ‘de’ e ‘com’ nos ajudam a fazer
categorizações adequadas a respeito das relações entre entidades. Ou seja, por
causa dos conceitos que temos das preposições ‘de’ e ‘com’, colocamos as
relações expressas nas sentenças (6) e (7) em categorias diferentes.
2. SEMÂNTICA
Antônio Carlos Siqueira de Andrade
Exemplo:
Todo homem é mortal.
João é homem.
Logo, João é mortal.
Pé do morro
Coração da floresta
Pulmões da cidade
Metonímia
A transferência do nome de um objeto ou ação a outro objeto se dá a
partir de relações objetivas de causa/efeito ou continente/conteúdo.
Etimologia
A Etimologia tem um papel fundamental para a Se- mântica, pois estuda
as relações de significado que uma palavra conserva com outra palavra mais
antiga e da qual se origina.
Ambiguidade
É a situação em que um segmento sonoro, uma construção ou uma
palavra apresenta duplicidade de sentido. Pode ser:
Fonética:
Ela ficou como herdeira da família. Vou dar uma olhadinha no jogo. Aquela é
a Miss Java.
Gramatical:
Eu vi o acidente do carro.
Camelô vende pirata no centro (a elipse de produto favorece a ambiguidade).
Político reclama que mídia quer destruir sua imagem.
Lexical – pode se dar através da:
Polissemia: uma mesma palavra nomeia coisas diferentes. E cada sentido é
percebido como extensão de um sentido básico. A vantagem da polissemia é
que uma mesma palavra nomeia coisas diferentes, evitando a sobrecarga, isto
é, a memorização de uma palavra para nomear cada coisa di- ferente; por
outro lado, pode causar ambiguidade.
Sinonímia
Em
3. É difícil encontrar esse livro.
e
4. 4. Este livro é difícil de encontrar. As estruturas sintáticas se
equivalem.
Em
Antonímia
Expressões Idiomáticas
Recursos Lexicais
ATIVIDADES
1) Ilari (2003: 151) afirma que a polissemia afeta a maioria das construções
gramaticais, dando como exemplo o aumentativo – Paulão – que pode ser
interpretado como “pessoa grande” “pessoa alta”, “pessoa grosseira”,
“desajeitada” ou até mesmo “uma pessoa com quem todos se sentem à
vontade”.
Teste essa afirmativa, dando as possíveis ou possível interpretação para os
aumentativos abaixo: 1.1. Minhocão (viaduto) 1.2. Carrão 1.3. Mulherão
1.4. Jogão 1.5. Bobão
2) Aponte se os sufixos das palavras abaixo indicam dimensão ou afetividade
(sentimento positivo ou nega- tivo):
2.1. Gatinha (garota)
2.2. Gatinha (animal)
2.3. Mulherzinha
2.4. Sujeitinho
2.5. Roupinha (de neném)
2.6. Roupinha (básica)
3.6. “Jogar luz em” é o mesmo que focar; focalizar; esclarecer; ensinar.
4) Dê exemplo de:
6.1. touro – 6.4. pavão – 6.7. raposa – 6.10. lesma – 6.13. abelha – 6.16. leão
–
6.2. porco – 6.5. formiga – 6.8. burro – 6.11. camaleão – 6.14. baleia – 6.17.
cavalo –
6.3. tartaruga – 6.6. cobra – 6.9. cordeiro – 6.12. boi – 6.15. lebre – 6.18. rato
–
Coloque ao lado das palavras que se seguem as formas corretas e, sempre que
possível, explique a associação entre elas:
A investigação do significado
CANÇADO, Márcia
A investigação linguística
Semântica e Pragmática
Provavelmente, você nunca ouviu essa sentença antes, mas, ainda assim,
você pode facilmente entender seu conteúdo. Como isso é possível? A
experiência de se entender frases nunca escutadas antes parece muito com a
experiência de se somar números que você nunca somou antes:
f) Os papéis temáticos:
g) Os protótipos e as metáforas:
(18)Este problema está sem solução: não consigo achar o fio da meada.
h) Os atos de fala:
Referência e representação
Um terceiro ponto a ser estudado por uma teoria semântica diz respeito à
natureza do significado. Existe uma divisão sobre essa questão: para alguns
linguistas, o significado é associado a uma noção de referência, ou seja, da
ligação entre as expressões linguísticas e o mundo; para outros, o significado
está associado a uma representação mental.
As teorias que tratam do significado sob o ponto de vista da referência
são chamadas de Semântica Formal, ou Semântica Lógica, ou Semântica
Referencial, ou ainda Semântica de Valor de Verdade. Os fenômenos
semânticos que serão tratados dentro dessa perspectiva teórica estão nos
capítulos “Implicações”, “Outras propriedades semânticas”, “Ambiguidade e
vagueza” e “Referência e sentido”. Portanto, um ponto relevante a ser
investigado por uma teoria linguística é a relação entre a língua e o mundo: o
significado externo da língua, segundo Barwise e Perry (1983). Por exemplo,
certas palavras fazem referência a determinados objetos, e aprender o que
significam essas palavras é conhecer a referência delas no mundo:
Exercícios
§ Exemplifique linguisticamente e explique os dois tipos de
conhecimento que estão envolvidos no significado do que é dito.
§
§ Faça uma relação entre seus exemplos e as noções de menção, uso,
língua-objeto e metalinguagem.
§
§ Explique as propriedades básicas da linguagem que teorias semânticas
devem abordar.
§
. 1 “Sentença (S) pode ser definida, sintaticamente, pela presença de um verbo
principal conjugado e, semanticamente, pela expressão de um pensamento
completo” (Pires de Oliveira, 2001: 99).
. 2 Existem algumas correntes teóricas que não acreditam em tal divisão, ou
fazem essa divisão de uma maneira distinta (Lakoff, 1987; Langacker, 1987).
Veja discussão mais detalhada em Levinson (1983) e Mey (1993).
. 3 Quando a expressão aparece entre aspas simples ou em itálico (geralmente
dentro do texto), isso significa que é a menção da expressão que está sendo
utilizada. A utilização de aspas duplas indica o proferimento da sentença, ou
seja, a ação realizada, o uso da sentença.
O QUE É PRAGMÁTICA
Sylvia Maria Campos Teixeira
porque:
‘A pragmática aborda a linguagem como fenômeno
simultaneamente discursivo, comuni- cativo e social’
(JACQUES apud ARMENGAUD, 2006, p. 11 – grifos
da autora).
a)‘Eu batizo este barco o Queen Elisabeth’ – quando se quebra uma garrafa
no casco do navio (p. 41).
b) ‘Eu doo e lego meu relógio a meu irmão’ – como se pode ler em um
testamento (p. 41).
Exemplo:
a) Vou ficar por pouco tempo.
Pode ser um compromisso, um desafio, um pedido de permissão etc.
- Ato de Fala Ilocucionário – a frase se constitui ela própria a ação que ela
enuncia.
Se eu digo:
Você quebrou o vaso!
O simples fato de proferir a frase é um ato locucionário. O ato
ilocucionário realizou a ação: protestar/chamar a atenção. O ato
perlocucionário é a influência que é exercida sobre o outro para que não volte
a praticar a ação de quebrar qualquer objeto.
Preste atenção: a força ilocucionária do enunciado está na forma como é
pronunciado, em quais circunstâncias, obrigando o ouvinte a responder.
Continuando...
Como adverte, Austin fez uma divisão exploratória da força
ilocucionária dos atos de fala:
Exemplos: a) Prometo que não farei mais isto!, disse a criança chorando.
b) Garanto que vou chegar na hora certa!
O CONTEXTO DA PRAGMÁTICA
Abstract: The dependence from its context is one of the central points in
many pragmatic boardings (the language study from the point of view of their
users). But the basic requirements to establish a notion of context aren’t
absolutely determined, although affect in a considerable way all forms of
interactions. Thus, it is necessary to change the perspective that the notion is
tradictionaly considered.
2. O contexto
Situação 1:
Situação 2:
A e sua esposa B estão em sua casa. É domingo. A tem nas mãos o caderno
imobiliário de um jornal. Repentinamente pergunta:
Embora seja a mesma sentença, (1) e (2) têm sentidos pragmáticos total-
mente diferentes de acordo com o contexto em que são produzidas e os
variados propósitos envolvidos. Digamos que B, no exemplo (1),
acompanhando o olhar do marido em direção aos portões do presídio
responda:
(1)’ B: Vamos ter que ajudá-lo. Ou no exemplo (2), B, responda: (2)’ B:
Vamos ter que ajudá-lo.
(3) ‘B: Quando é que você vai parar de implicar com papai? ...........Não seja
implicante! ...........Pare com isto! ...........Chato!
(...) naquele império, a arte da Cartografia alcançou tal perfeição que o mapa
de uma só província ocupava toda uma cidade e o mapa do império toda uma
província. Com o tempo, esses mapas desmensurados não satis- faziam mais
e os Colégios de Cartógrafos levantaram um mapa do império que tinha o
tamanho do império, e coincidia exatamente com ele.
3. O“lugar”docontexto
No entanto, jamais deve se perder de vista a “origem” dos termos, não nos
referimos aqui à etimologia, mas como diz Mey14 , “de quem é a linguagem
que usa- mos?” Afinal, as coisas são criadas, e isto inclui os acontecimentos,
através da utili- zação de um vocabulário.
Referências bibliográficas
A enunciação
Amanhã: do latim vulgar maneana, i. e., hora -, ‘em hora matinal’. Adv. 1. no
dia seguinte àquele em que estamos: Hoje é feriado, mas amanhã irei
trabalhar; “Amanhã traga Juventina para nossa casa” (José Carlos Cavalcanti
Borges, O Assassino, p. 42). 2. Mais tarde; para o futuro: Amanhã sofrerão o
resultado dessa dívida extravagante. Sm. 3. O dia seguinte: “Não deixes para
amanhã o que podes fazer hoje” (provérbio). 4. A época vindoura; o futuro:
os homens de amanhã; “Fundiste espaço e tempo em luz e geometria, / o
amanhã e o passado.” (Valdemar Lopes, Elegia para Joaquim Cardoso, p. 5).
Depois de amanhã. Após o dia imediatamente seguinte ao de amanhã.
Veja que, mesmo em uma acepção fora de qualquer contexto, como as que
encontramos nos dicionários, certos significados da palavra “amanhã” fazem
referência à situação de comunicação em que a palavra é utilizada, como na
passagem “no dia seguinte àquele em que estamos”.
Já deve ter ficado claro, pela leitura dos textos anteriores, que, quando
interagimos, não estamos apenas trocando informações com os demais
interlocutores. Quando interagimos, tentamos agir sobre o outro, de modo a
convencê-lo a acreditar naquilo em que acreditamos ou a fazer aquilo que
queremos. Para alcançar esses objetivos, estamos atentos, constantemente, à
nossa imagem diante dos demais, assim como a imagem que os outros nos
apresentam de si. Desse modo, ainda considerando como exemplo as relações
entre pais e filhos, nossas trocas verbais com nossos filhos e com os demais
que participam da mesma situação de interação irão ajudar a compor uma
imagem de pais compreensivos ou autoritários, a depender também da
imagem que construímos a respeito de nossos filhos, se crianças ou jovens
obedientes ou se crianças ou jovens inconseqüentes. Essas imagens são
sempre monitoradas ao longo de nossas trocas verbais, de modo que estão a
serviço de nossas estratégias para alcançarmos os objetivos que temos em
vista.
A primeira ocorrência seria usada com alguém com quem estamos à vontade
para dar uma ordem e de quem não aceitaríamos facilmente uma recusa. A
segunda ocorrência seria usada com quem não temos intimidade para ordenar
e de quem aceitaríamos uma recusa, desde que justificada.
EXERCÍCIO
O emprego das formas, parte necessária de toda descrição, tem dado lugar a
um grande número de modelos, tão variados quanto os tipos lingüísticos dos
quais eles procedem. A diversidade das estruturas lingüísticas, tanto quanto
sabemos analisá-las, não se deixa reduzir a um pequeno número de modelos,
que compreendem sempre somente os elementos fundamentais. Ao menos
dispomos assim de certas representações muito precisas, construídas por
meio de uma técnica comprovada.
O discurso, dir-se-á, que é produzido cada vez que se fala, esta manifestação
da enunciação, não é simplesmente a “fala”? – É preciso ter cuidado com a
condição específica da enunciação: é o ato mesmo de produzir um enunciado,
e não o texto do enunciado, que é nosso objeto. Este ato é o fato do locutor
que mobiliza a língua por sua conta. A relação do locutor com a língua
determina os caracteres lingüísticos da enunciação. Deve-se considerá-la
como o fato do locutor, que toma a língua por instrumento, e nos caracteres
lingüísticos que marcam esta relação.
Este grande processo pode ser estudado sob diversos aspectos. Veremos
principalmente três.
Mas imediatamente, desde que ele se declara locutor e assume a língua, ele
implanta o outro diante de si, qualquer que seja o grau de presença que ele
atribua a este outro. Toda enunciação é, explícita ou implicitamente, uma
alocução, ela postula um alocutário.
(...).
No texto “O aparelho formal da enunciação”, de Émile Benveniste, se
estabelece uma oposição entre as condições de emprego das formas e as
condições de emprego da língua. À primeira caberia a descrição das regras
responsáveis pela organização sintática das frases. Essa descrição permite a
construção de modelos que possam dar conta das possíveis combinações
entre os constituintes das frases. No entanto, esses modelos não conseguem
abranger a grande complexidade do processo de interação por meio da
linguagem, pois, para Benveniste, colocar a língua em funcionamento implica
ao locutor marcar em seu discurso a sua presença e a presença de seu
interlocutor – as marcas da intersubjetividade - e, do mesmo modo,
estabelecer uma relação com o mundo por meio da linguagem – as marcas da
referenciação -, por meio das categorias de pessoa, de espaço e de tempo,
fundamentais na enunciação.
EXERCÍCIO
de McCleary e Viotti
6.1 Introdução
A dêixis, ou a ação de apontar por meio do uso da língua, pode ser de três
tipos:
• dêixis de lugar: ocorre quando usamos palavras como aqui, aí, lá, este, esse,
aquele, trazer, levar, vir, ir
(53) O João disse à Maria: --Eu quero me casar com você. E Maria
respondeu: --O problema é que eu não quero me casar com você.
Vejam, então, que o significado pleno dos pronomes eu e você (e também nós
e vocês) varia a cada enunciação. Ou seja, em cada situação de fala, esses
pronomes vão fazer referência a diferentes pessoas.
(54) Ontem choveu no fim da tarde e refrescou um pouco. Mas hoje já está
quente de novo. Parece que hoje não vai chover. O noticiário disse que
chuva, de novo, só amanhã.
(55) O Pedro diz para a Ana: --Aqui tá muito frio. Como tá o tempo aí? A
Ana responde: --Aqui tá frio também. Mas ontem eu fui pra o litoral, e lá tava
bem quente.
Entretanto, quando Ana usa a expressão aqui, será que ela está se referindo a
Curitiba? Não, ela está se referindo a São Paulo, porque ela, que é a pessoa
50
que está falando desta vez, está em São Paulo. Vejam, então, que, apesar de
aqui significar o lugar em que está a pessoa que fala, a cada enunciação sua
referência vai variar.
Vejam, também, que, quando Ana faz referência ao litoral, ela usa o advérbio
lá. Por que? Porque nem a Ana (que é a pessoa que fala), nem o Pedro (que é
seu interlocutor) estão no litoral, e lá é justamente o advérbio que usamos
para fazer referência a um local distante do local em que estão a pessoa que
fala e seu interlocutor.
(56) O Pedro diz: --Quando você vier, você poderia trazer alguns cobertores?
A Ana responde: --Sim, quando eu for pra aí, eu levo todos os cobertores.
51
Nesta seção, vamos reforçar a idéia que vimos desenvolvendo desde o início
do curso, de que, para entender totalmente o significado das expressões
lingüísticas, precisamos levar em consideração não só seu significado
semântico (ou “literal”), mas também o nosso conhecimento de mundo, e o
contexto em que as expressões são usadas. Nós vamos ver que, no uso, a
língua sempre serve para alguma coisa. Ela é sempre um ato (e é por isso que
a seção é chamada atos de fala!). Para termos um maior entendimento do
significado das expressões lingüísticas, precisamos ver para o quê elas estão
servindo, em um determinado contexto.
Essa idéia de que a língua em uso é um ato se deve ao filósofo John L.
17
Austin . Foi Austin quem primeiro enfatizou a idéia de que a análise da
significação de qualquer ato comunicativo lingüístico não pode deixar de
levar em conta o fato de que, ao realizar esse ato, o falante tem a intenção de
obter algum efeito. Desse modo, por um lado, esse ato tem um significado
literal, ou seja, um significado propriamente semântico, que descreve uma
situação ou um evento no mundo, mas tem também um outro significado que
está associado ao que queremos que aconteça em conseqüência daquele ato
comunicativo. Esse outro significado é chamado ato ilocucionário.
Para entender mais, vamos voltar à sentença com a qual começamos nosso
curso:
Vocês já sabem que essa sentença tem um significado literal, ou seja, ela é a
descrição de uma situação em que a porta está aberta. Trata-se apenas de uma
constatação. Entretanto, como ato ilocucionário, ela apresenta várias
possibilidades, dependendo do contexto em que ela é usada, como vimos na
Unidade 1: ela pode ser um convite a sair ("Eu convido vocês a sair da sala");
pode ser um convite a entrar ("Eu convido vocês a entrar na sala"); pode ser
um pedido para que a porta seja fechada por causa do barulho ("Eu peço que
você feche a porta para diminuir o barulho"); pode, ainda, ser uma
justificativa ("Eu justifico o barulho pelo fato de a porta estar aberta").
52
Esse ato de comunicação pode ser desmembrado em suas duas facetas. Por
um lado, ele expressa o significado literal do enunciado, ou seja, ele é apenas
uma constatação do fato de que o aluno não vai descer para o recreio. Mas ele
é também um ato ilocucionário, e, nesse sentido, ele realiza uma ação: trata-
se de uma ameaça para o aluno. É como se disséssemos algo como "Eu estou
te ameaçando: você não vai descer para o recreio se você não parar!"
Será que, nesse caso, temos uma mera constatação? Não! A pessoa está
oferecendo uma justificativa para ter entrado na sala. Portanto, ela está
realizando uma ação.
Austin, então, tem razão quando diz que o estudo do significado das
expressões lingüísticas não pode se limitar à parte propriamente semântica da
significação, devendo incluir sempre a parte ilocucionária dos enunciados.
Tomando por base os exemplos que acabamos de estudar, podemos, pelo
menos, ver que, tecnicamente, existe a possibilidade de separação dos dois
tipos de significados. Mas Austin mostrou que existe um tipo de enunciado
que não tem uma parte constativa, ou seja, que não faz uma descrição de uma
situação ou de um evento. Ele é a própria realização de uma ação. Esse tipo
de enunciado é chamado performativo. Observem as seguintes sentenças:
53
Para que essa idéia fique mais clara, comparem as sentenças acima com as
seguintes sentenças:
As sentenças entre (66) e (70) são, essas sim, descrições de situações em que
houve um lamento, um juramento, uma promessa, uma declaração e uma
aposta. Elas não podem ser entendidas como atos de lamentação, de
juramento, etc. Quaisquer que sejam seus significados ilocucionários – ou
seja, quaisquer que sejam os motivos pelos quais um falante tenha resolvido
usar esses enunciados, eles sempre vão ter uma parte que é a descrição de um
estado-de-coisas. Não é isso o que acontece nas sentenças entre (61) e (65):
elas criam um lamento, um juramento, uma promessa, uma declaração, uma
aposta.
Nesses casos, estamos realizando uma proibição e uma autorização, sem dizer
"Eu te proíbo de sair", ou "Eu autorizo os alunos a fazer a prova em casa".
54
6.4 Conclusão
Nesta Unidade, vimos alguns tipos de expressões lingüísticas que não têm
significação plena fora de contexto. Primeiramente, estudamos os dêiticos. É
na enunciação que os dêiticos se instauram e apontam para uma pessoa, um
tempo ou um lugar. A seguir, apresentamos as idéias de Austin, que
considera que expressões lingüísticas usadas em atos comunicativos são
ações. Vimos que os enunciados têm uma faceta ilocucionária, ou seja,
servem para a realização de uma ação. Vimos, também, que os enunciados
performativos são um exemplo extremo de ação realizada por meio da língua.
Sem língua, não há promessas, juramentos, declarações, etc.
ESPÍNDOLA, Lucienne C.
TEXTOS COM QUEBRAS DE MÁXIMAS – IMPLICATURAS
CONVERSACIONAIS (QUEBRA CONSCIENTE)
1 – MAXIMA DA QUANTIDADE
3- MAXIMA DA RELAÇAO
4 – MAXIMA DO MODO
FICHA
Deve haver algum tipo de regra que permita a um falante transmitir algo
além da frase e a um ouvinte entender esta informação extra.
Para compreender os atos de fala indiretos
A conversação é governada por um princípio de cooperação, que exige
que cada enunciado tenha um objeto e uma finalidade.
Só se percebe o objeto ou o propósito de um enunciado quando se
entendem os implícitos
O princípio de cooperação
As máximas conversacionais
Quantidade Máxima da Quantidade
1. Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido.
2. Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido.
Máxima de Quantidade
Conserto de um grande pianista numa cidade do interior. De olho nas pernas
da vizinha, o cavalheiro gentilmente se aproxima e ensaia uma abordagem
tímida:
- A senhorita entende de música?
- Sim, um pouco.
- E o que ele está tocando agora?
- Piano.
Máxima da Relação
Seja relevante
Máxima de Modo
☼ Máximas:
Evite obscuridade de expressão.
Evite ambigüidades
Seja breve
Seja ordenado
ROUBO HISTÓRICO
Contam que um ladrão foi roubar galinha na casa do célebre Rui
Barbosa. Ao vê-lo, o ilustre jurista começou um discurso:
- Não é pelo bico de bípede, nem pelo valor intrínseco do galináceo, mas por
ousares transpor os umbrais de minha residência. Se for por mera ignorância,
perdôo-te, mas se for para abusar de minha alta prosopopéia, juro pelos
tacões metabólicos dos meus calçados que te darei tamanha bordoada que
transformarei sua massa cefálica em cinzas cadavéricas.
O ladrão sem graça, perguntou :
- Como é, “ Seu Rui “ eu posso levar a galinha ou não ?
OS LIMITES DA SEMÂNTICA E DA PRAGMÁTICA
As considerações feitas por Ilari e Geraldi (1985:66) focalizam a importância dos fenômenos
da dêixis – ato de mostrar através de palavras – que garantem a distinção entre a “linguagem
humana de linguagens artificiais; tornando-a apropriada para o uso em situações correntes”,
ou seja, as palavras e formas dos dêiticos permitem interpretações estritamente ligadas a
determinadas situações, analisadas pragmaticamente.
É pelo uso efetivo da língua, como ação tipicamente humana, social e intencional que
Austin tenta estabelecer critérios para definir o caráter performativo da linguagem, ou seja, o
poder que esta faculdade humana tem de praticar ações através dos atos de fala. Percebendo a
dicotomia existente entre os performativos e os constatativos e a deficiência dos critérios
lógicos de verdade e falsidade, Austin formula uma distinção entre constatativos e
performativos, designando, respectivamente, os enunciados que constituem apenas
afirmações e os enunciados através dos quais realiza-se uma ação.
1. Eu abro a porta.
Quando digo (estando dentro de uma sala) “tá frio hoje!” e alguém – neste caso meu
interlocutor – se dirige até a porta para fechá-la, é um exemplo de performatividade,
provocada não pelo verbo, mas sim pelo ato de fala. Tal situação remete à percepção do não-
dito, do que estava (talvez) implícito na minha fala.
Para o filósofo Paul Grice a linguagem é um instrumento para o locutor comunicar ao seu
destinatário suas intenções e é nessas intenções que está embutido o sentido. É também
graças a essa intencionalidade que Grice concebe um sujeito psicológico, individual,
consciente, retomando, segundo Guimarães (1995: 31) a proposta psicológica do sujeito
abandonada por Saussure .
Para dar conta de sua teoria, Grice estabelece um conjunto de regras que devem reger o ato
conversacional. São as máximas conversacionais, reunidas sob o Princípio da Cooperação,
em que os integrantes se engajam na conversa e contribuem de acordo com as exigências da
troca conversacional. A partir deste princípio, sob as categorias de Quantidade, Qualidade,
Relação e Modo, Grice formula as máximas e estabelece as implicaturas conversacionais,
geradas quando há violação das regras. Elas descrevem um conjunto de raciocínios que o
ouvinte faria, para deduzir, concluir ou interpretar o sentido do que o locutor disse. O ouvinte
procura um sentido para o enunciado que esteja de acordo com as máximas estabelecidas
anteriormente, considerando o que a informação literal pode estar dizendo de cooperativo,
verdadeiro, relevante para uma determinada situação discursiva. Caso não haja um sentido
literal, então é preciso encontrar um sentido que responda tais princípios.
Fortemente influenciado por de Austin e Grice, Ducrot também parte de uma definição
inicial de enunciação como a atividade de linguagem exercida por aquele que fala no
momento em que fala. O sujeito aqui também ainda possui os traços do sujeito de
Benveniste: homogêneo, indivisível, etc.
O autor modifica sua pesquisa ao longo dos anos, e passa a considerar a enunciação como o
acontecimento constituído pelo aparecimento do enunciado, descentralizando o sujeito, de
maneira a não investi-lo de poder absoluto sobre a linguagem. Para Ducrot, o sujeito não é a
fonte do sentido.
Ducrot faz várias distinções entre ‘as cadeias enunciativas’. A primeira distinção é entre
"locutor" – aquele que profere o discurso – e o sujeito falante – o ser empírico. Esses sujeitos
podem coincidir ou não, sendo irrelevante para ele a noção de empirismo. O que lhe interessa
é a noção de locutor, que é o ser do discurso, alguém a quem se deve imputar a
responsabilidade do enunciado.
Com base neste pensamento é que podemos avaliar a questão do pressuposto na construção
dos discursos. Os pressupostos vêm satisfazer as exigências discursivas, além daquelas que já
são dadas pelo posto. O posto e o pressuposto, neste caso, são as ferramentas utilizadas pelos
locutores para resgatar os referentes comuns entre os interlocutores.
Segundo Ducrot (1972), a função dos pressupostos na atividade da fala é garantir a coesão do
discurso como "condição de coerência", definida por ele como "a obrigação de se situarem os
enunciados num quadro intelectual constante", constituindo, desse modo, um só discurso e
não um "emaranhado de frases sem nexo" ou enunciações independentes. Para isso, é
necessário que o discurso manifeste uma espécie de "redundância", assegurada pelo
reaparecimento ou retomada regular de certos conteúdos ou elementos semânticos no
decorrer do discurso. Como no exemplo:
É interessante observar na história acima o impasse provocado pela frase “tudo o que quiser”.
Na tentativa de satisfazer os desejos dos clientes o garçom sugere que naquele
estabelecimento há tudo o que as pessoas quiserem para comer, beber, etc. Porém o
personagem Eddie Sortudo não compreende o que estava implícito na fala do garçom e
interpreta que “tudo o que quiser” seja, talvez, um dos pratos do menu.
Referências Bibliográficas