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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
NATURAIS E MATEMÁTICA
A ORIGEM DO UNIVERSO

2017
Universidade Federal de Mato Grosso
Secretaria de Tecnologia Educacional
A ORIGEM DO UNIVERSO

Origem dO UniversO

LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA - UAB - UFMT

Cuiabá , 2009
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Ministro da Educação
José Mendonça Bezerra Filho

Reitora UFMT
Myrian Thereza de Moura Serra

Vice-reitor
Evandro Aparecido Soares da Silva

Pro-reitor Administrativo
Bruno Cesar Souza Moraes

Pro-reitora de Planejamento
Tereza Mertens Aguiar Veloso

Pro-reitor de Cultura, Extensão e Vivência


Fernando Tadeu de Miranda Borges

Pro-reitora de Ensino de Graduação


Lisiane Pereira de Jesus

Pro-reitor de Pesquisa
Germano Guarim Neto

Secretário da SETEC/UFMT
Coordenador da UAB/UFMT
Alexandre Martins dos Anjos

Diretor da Educação a Distância UAB/CAPES


Carlos Cezar Mordenel Lenuzza

Diretora do Instituto de Física


Iramaia Jorge Cabral de Paulo

Coord. do Curso de Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática


Marcelo Paes de Barros
A ORIGEM DO UNIVERSO
Origem dO UniversO

Autores

Sérgio Roberto de Paulo


Instituto de Física / UFMT

Irene Cristina de Mello


Depto. de Química / ICET-UFMT

Lydia Maria Parente Lemos dos Santos


Depto. de Química / ICET-UFMT
C o P y R I g H T © 20 09 UAB

COrpO editOrial

• D e n i s e Va r g a s
• C a r l o s r i n a l D i
• i r a m a i a J o r g e C a b r a l D e Pa u l o
• m a r i a l u C i a C a Va l l i n e D e r

P r o J e t o g r á f i C o : PA U L o H . Z . A R R U d A / E d U A R d o H . Z . A R R U d A
r e V i s ã o : d E N I S E V A R g A S
s e C r e ta r i a : N E U Z A M A R I A J o R g E C A B R A L

a P a: :
C apa Carlos
i l u s tGrontijo
a ç ã o P a r a o P e q u e n o P r í n C i P e , D e a n t o i n e D e s a i n t - e x u P e r y .

FICHA CATALOGRÁFICA

P331o Paulo, Sérgio Roberto de


Origem do Universo / Sérgio Roberto de Paulo, Irene Cris-
tina de Mello, Lydia Maria Parente Lemos dos Santos. – Cuiabá
: UFMT/UAB, 2009.
74p. : il. ; color.

Bibliografía: p. 73-74.

1. Universo – Origem. I. Mello, Irene Cristina de. II. Santos,


Lydia Maria Parente Lemos dos. III. Título.

CDU – 524.85

ISBN: 978-85-61819-64-4
No segundo módulo do curso de Licenciatura
em Ciências Naturais e Matemática vamos empreen-
der uma nova aventura. Desta vez, não através da história
da aventura humana na Terra, mas através do espaço, desde o
extremamente grande até o extremamente pequeno. Visitaremos o início
do Universo e a origem da matéria, descobrindo verdades surpreendentes e,
eventualmente, difíceis de serem aceitas diante de nossas percepções do dia-
a-dia, como a expansão do Universo em quatro dimensões. Há muito que se
aprender sobre o Cosmos, o Sistema Solar e a estrutura da Terra, afinal,
trata-se de onde estamos. Quanto mais compreendermos sobre o nosso lócus,
mais entenderemos sobre nós mesmos, de onde viemos, para onde vamos, e o
que devemos fazer (ou deixar de fazer) para sermos mais felizes.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo | vi i


sUmáriO

genesis 1

O r e l at i v O X O absOlUtO 9

n Oçõ esd e g r a n d e z a s t e m p O r a i s e e s pa C i a i s 21
e Unidades de medida

esCalas de te m p O 29

a s n Oçõ es de e s pa ç O -t e m p O 35

r adiaç ãO e m at é r i a : Os ingredientes dO UniversO 57

Os fat O r e s O r g a n i z a d O r e s d O UniversO: 61
as q U at r O f O r ç a s n at U r a i s

referênCias bibliOgráfiCas 73

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do universo| iX


genesis

E m 1923, um advogado estadunidense que havia bati-


do o recorde do salto em altura do estado de Illinois,
trabalhando no observatório do Monte Wilson, no estado da Ca-
lifórnia, mediu a distância da nebulosa de Andrômeda, por meio
da análise de seu brilho aparente e concluiu que ela se situava
fora dos limites de nossa galáxia, a Via Láctea. Tal observação
fez com que os astrônomos revissem o próprio conceito que se
tinha sobre as nebulosas as quais já se sabia serem constituídas
por grupos de estrelas. Os astrônomos então constataram que as
nebulosas são de fato outras galáxias, como a Via Láctea.
Em 1929, o mesmo advogado conseguiu obter um méto-
do para estimar a distância das galáxias em relação à Terra. Ele
constatou que todas as galáxias estão se afastando da Terra e que,
quanto mais longe está a galáxia, maior é a velocidade de afasta-
mento. O nome desse advogado que fez tais descobertas (talvez
as mais importantes da história da astronomia) era Edwin Powell Edwin HubblE no obsErvatório
Hubble. dE MontE w ilson – Foto: ob-
As descobertas de Hubble implicam em questões fundamentais sErvatoriEs oF tHE CarnEgiE
para a humanidade. Afinal, de onde viemos e para onde vamos? Se todas institution oF wasHington
as galáxias estão se afastando da Terra, ou do Sistema Solar, elas estariam
estado juntas no passado, concentradas na região do espaço em que agora
estamos? Estaria a Terra no centro do Universo e no ponto onde ele se originou? Estaríamos voltando à
concepção aristotélica da Terra, ou o sistema solar, no centro do Universo? E, por estarmos no centro ab-
soluto, a humanidade seria única na vastidão do Universo? Seríamos tão absolutos quanto um rei cercado
por seus súditos?
Contudo, essa questão fundamental que, em casos extremos, poderia até ser utilizada como jus-
tificativa para a consolidação de sistemas políticos absolutistas seria contrastada por outra observação
astronômica histórica, que viria a apontar algo totalmente diferente.
Em 1962, dois radio-astrônomos trabalhando nos laboratórios Bell, EUA, Arno Penzias e Ro-

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 1


bert Wilson, estavam tendo
problemas ao utilizar uma
antena “aposentada” de co-
municação por satélite para
detectar a radiação vinda
do espaço entre as galáxias:
um sinal de fundo persis-
tente na faixa do microon-
das (ver quadro O Espec-
tro Eletromagnético) estava
“atrapalhando” a detecção
da radiação do espaço. Os
dois cientistas tentaram de
todas as maneiras alterar a
configuração da velha ante-
na com formato de concha e
do tamanho de um prédio,
acreditando ser um defeito,
contudo, o sinal sempre per-
antEna utilizada por pEnzias E sistiu.
Esse resultado somente foi compreendido à luz de uma hipótese
wilson para dEtECtar a radia-
levantada em 1927 por um padre belga, Georges Lemaitre (1894-1966),
ção dE Fundo
e transformada em teoria em 1948 pelo físico russo-estadunidense, Ge-
orge Anthony Gamov (1904-1968): a idéia que, no passado, toda a ma-
téria e energia estavam concentradas num espaço minúsculo e que o
Universo teria se originado de uma grande explosão, ou seja, a teoria
do Big Bang.
Essa teoria prevê que a radiação produzida originalmente na gran-
de explosão deveria estar ainda chegando à Terra. Nos anos subseqüen-
tes, verificou-se que o perfil (ou espectro) da radiação detectada por
Penzias e Wilson era exatamente aquele que a teoria previa. A partir de
então, as teorias rivais ao Big Bang, como a teoria do Universo estático,
ou a da produção contínua de matéria, foram praticamente abandonadas
pela maioria dos cientistas. O sinal descoberto pelos radio-astrônomos
foi denominado radiação de fundo ou background radiation.
Entretanto um resultado da descoberta de Penzias e Wilson con-
duz a um aspecto desconcertante do Big Bang ao homem comum: ao
apontar a antena para todas as direções do céu, constataram que a radia-
ção de fundo se aproxima de todas as direções. Assim, o Big Bang teria
ocorrido em todos os pontos do Universo? Como isso seria possível? E
como conciliar esse resultado com o obtido por Hubble onde todas as
galáxias se afastam de nós?
Esses fatos somente ganham coerência dentro do âmbito de uma
gEorgE antHony gaMov outra teoria, formulada bem antes, em 1915: a Teoria da Relatividade
(1904-1968) Geral de Einstein.
2 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
at i v i d a d e s

Leia o artigo do Prof. João Steiner, disponível em:


http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n58/20.pdf, e descreva as principais
características das principais concepções de universo formuladas pelo ho-
mem ao longo da história, destacando as principais diferenças entre elas e as
descobertas científicas que as embasaram.

Visite o site do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosférias


da USP (www.astro.iag.usp.br). Clique no link “divulgação” no canto superior
direito da página e em “textos de divulgação”. Leia os artigos sobre astronomia para
crianças. Destaque os principais conceitos científicos desses artigos. Esses artigos são
adequados ao ensino fundamental? Por que?

O q U e é U m a g a l á X i a?

A distribuição de matéria
no Universo não é homogênea. A
força gravitacional faz com que a
matéria se auto-organize em es-
truturas. Assim, as rochas e outros
materiais formam os planetas que,
por sua vez, orbitam em torno de
estrelas, formando os sistemas so-
lares e esses, por seu turno, orbi-
tam em torno de um centro gravi-
tacional, constituindo as galáxias.
As galáxias, então, são estruturas
constituídas por muitas (em geral
centenas de bilhões) estrelas e pla-
netas.
A distribuição espacial de
sistemas solares em uma galáxia é

galáxia dE andrôMEda – iMagEM nasa


UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 3
variável, fazendo com que nem todas tenham o mesmo formato. São típicos o for-
mato “espiral”, como o da galáxia em que vivemos, a Via Láctea, e formatos “elipsoi-
dais”, como a Galáxia Sombrero.
As galáxias também não são estáticas. Além de se moverem em relação à Terra,
também rotacionam. A Via Láctea, por exemplo, executa uma volta completa num
período da ordem de 200 milhões anos, embora esse seja apenas um valor de refe-
rência, uma vez que a parte central da galáxia rotaciona mais rapidamente do que a
parte externa.
No Universo como um todo, estima-se a existência de centenas de bilhões de
galáxias.

galáxia dE soMbrEro – iMagEM nasa.

4 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


COmO s e e s t i m a a v e l O C i d a d e d e a fa s ta m e n t O d e U m a g a l á X i a ?

Você já presenciou um avião a jato passando a baixa altitude? Prestou atenção


ao som que ele faz? Quando ele se aproxima, o som que chega a você é mais agudo
que quando se afasta. Por que é assim?
O som é uma onda, constituída pela vibração das moléculas do ar, que se
propaga a uma velocidade de 340 metros por segundo. A propagação do som se dá
por meio do deslocamento das moléculas, para frente e para trás intermitentemente
e ao longo da direção de propagação, formando micro-regiões onde a quantidade de
moléculas (ou pressão) do ar é maior e outras micro-regiões onde é menor. As micro-
regiões de maior e menor pressão vão se alternando com uma certa periodicidade.
Na figura há uma representação simplificada de uma onda sonora (na verda-
de, qualquer som que ouvimos é muito mais complexo, por ser constituído por uma
superposição de diversas ondas). Observe que há regiões com uma maior concentra-
ção de linhas que outra. Essa é uma maneira de ilustrar as regiões com maior e menor
pressão. Imagine essa seqüência de linhas se propagando para a direita (essa também
é uma simplificação visto que o som se propaga em todas as direções).
Se pensarmos na intensidade da pressão do ar, podemos representar grafi-
camente o seu perfil (nessa nossa abordagem simplificada) na forma de uma curva
(comumente chamada “senoidal” ou “cossenoidal”) constituída por uma sequência de
valores mais altos e mais baixos que são chamados, por diversos autores, “cristas” e
“vales”. Os cientistas tratam essa curva simplesmente como “onda”.
Há três propriedades fundamentais das ondas que necessitamos destacar
por enquanto: a amplitude, que está estritamente relacionada com intensidade do
som, o comprimento de onda (que comumente é representado pela letra grega l
- “lambda”), que é a
distância entre duas
cristas ou dois vales,
e a freqüência, que,
no caso do som, está
relacionada com o
tom, ou seja, se o
som é mais grave
ou agudo. Então é a
freqüência que se al-
tera se o avião esti-
ver se aproximando
ou se afastando.

rEprEsEntação gráFiCa dE uMa onda sonora E da prEssão


ao longo da dirEção dE propagação

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 5


A freqüência é mensurada contando-se quantas cristas ou vales passam por
um determinado ponto por unidade de tempo. Se passa uma crista a cada segundo,
temos um som de 1 Hz (um Hertz) que, na verdade, não conseguimos ouvir (o apare-
lho auditivo humano converte sons em impulsos cerebrais na faixa entre aproximada-
mente 20 e 20.000 Hz). A freqüência sonora de 10.000 Hz corresponde à alternância
intermitente de maior e menor pressão num ponto 10.000 vezes por segundo.
Agora sente-se, relaxe e respire fundo: o que acontece com a freqüência do
som que ouvimos se a fonte se desloca com uma certa velocidade em relação a nós?
Digamos que essa fonte emita um pulso (ou uma crista) a cada segundo. Se ela estiver
se aproximando de nós, no instante que ela emitir o segundo pulso, ela estará mais
próxima, sendo que esse segundo pulso levará menos tempo para chegar ao nosso
ouvido. Assim, chegarão mais pulsos por unidade de tempo. No caso inverso, se a
fonte estiver se afastando, quando emitir o segundo pulso, ela estará mais longe, en-
tão esse demorará mais para chegar e, finalmente, teremos menos pulsos por unidade
de tempo, ou seja, uma freqüência menor (som mais grave). (Agora leia de
novo esse parágrafo e reflita sobre o assunto).
Tal efeito é denominado Efeito Doppler em homenagem ao
físico austríaco Johann Christian Andreas Doppler (1803-1853).
Ora, da mesma forma que o som, a luz se propaga através do
espaço sideral na forma de ondas. Assim, se uma galáxia estiver se
aproximando (e de fato algumas poucas estão), a luz que chega até
nós terá uma freqüência maior e para as que estão se afastando (a
imensa maioria), a freqüência da luz será menor.
Para a luz, a freqüência é a cor. A cor de uma galáxia que se
afasta está deslocada para o vermelho; a de uma que se aproxima, para
o azul. Assim, ao se medir a cor de uma galáxia (não a olho nu, mas
utilizando um aparelho sensível chamado espectroscópio), podemos não
somente dizer se ela se afasta ou se aproxima, mas mais que isso: po-
demos estimar a sua velocidade em relação a nós.

JoHann C. a. dopplEr (1803-1853)

6 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


leitUra de g r áfiCOs

Segundo um velho provérbio, uma imagem vale por mil palavras. Freqüente-
mente, os cientistas fazem juz a esse provérbio utilizando de representações gráficas
para expor de forma condensada e precisa um conjunto de conhecimentos adquiridos.
Comumente, um gráfico corresponde a uma representação gráfica bidimensional que
relaciona duas quantidades, uma das quais com os seus valores expressos no eixo ho-
rizontal do gráfico e outra no eixo vertical. Em termos práticos, tal representação é
útil para expressar a relação entre essas duas quantidades.
No caso do gráfico que vemos nesta página, explicita-se a relação entre os
valores medidos da velocidade (v) de afastamento das galáxias em função da sua dis-
tância (d) até a Terra. v é representada no eixo vertical e d no horizontal. Os pontos
representam, como normalmente acontece com gráficos na ciência, dados experi-
mentais. Cada ponto, portanto, representa um conjunto compreendendo a medida da
velocidade de deslocamento de uma galáxia e a medida da sua distância. Por exemplo,
o ponto situado mais à direita no gráfico corresponde a uma galáxia cuja velocidade
de afastamento é aproximadamente
30.000 quilômetros por segundo e
uma distância de aproximadamente
450 mega parsecs (um mega parsec
é uma unidade astronômica que cor-
responde a aproximadamente 3 x 1022
metros).
A leitura de um gráfico se
processa, normalmente, consideran-
do-se que os valores da variável do
eixo horizontal crescem da esquerda
para a direita, e os valores da variável
do eixo vertical, de baixo para cima.
A seqüência de valores numéricos nos
eixos é chamada escala. Assim, a es-
cala da distância no gráfico vai de 0 a
500 Mpc de 100 em 100. Já a escala gráFiCo rEprEsEntando a rElação EntrE a vE-
da velocidade, de 0 a 40.000 km/s de loCidadE MEdida das galáxias E sua distânCia.
10.000 em 10.000. Embora o proce-
dimento padrão é colocar valores “redondos” nos eixos, não significa que não pode-
mos representar no gráfico valores “quebrados”. Então, não seria de se espantar que o
segundo ponto, da direita para a esquerda, desse gráfico, correspondesse aos valores
v = 21.572 km/s e d = 374 Mpc.
Agora, note a linha reta que passa próxima dos pontos. As linhas contínu-
as representadas nos gráficos normalmente representam uma tentativa humana de
generalização, ou seja, os pontos experimentais parecem se alinhar ao longo de uma

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 7


reta (na verdade, podemos verificar isso sem mesmo traçar a reta — observe atenta-
mente os pontos). Então é razoável supor que a relação entre as duas variáveis (v e d)
seja estabelecida por uma reta. É claro que isso é uma hipótese, mas é uma hipótese
plausível. Ao estabelecer a reta, ou relação linear, entre as duas variáveis, pode-se
fazer extrapolações. Pode-se, por exemplo, inferir que a velocidade de uma galáxia
que se situe 300 Mpc daqui seja cerca de 20.000 km/s, mesmo que não se tenha re-
sultados experimentais para essa distância.
A pretensão dos cientistas vai além disso. O ideal seria transformar a linha
contínua que podemos aproximar aos pontos experimentais numa expressão matemá-
tica. Como a linha contínua que melhor se aproxima dos pontos, nesse caso, é uma
reta, devemos recorrer à equação de uma reta, que seria:
v = H$d
Essa expressão significa que, quanto maior o valor de d, maior o valor de v.
A grandeza H, que aparece no lado direito da equação multiplicando d, é uma cons-
tante. Como o método para se mensurar a distância e a velocidade das galáxias foi
estabelecido por Edwin Hubble, essa constante é denominada constante de Hubble. A
constante de Hubble é considerada pelos cientistas uma constante universal, que vale
aproximadamente 64 km/s/Mpc.
Matematicamente falando, para que a relação entre v e d seja descrita por uma
reta, é necessário que H seja uma reta. A grandeza que estabelece a relação entre duas
variáveis cuja relação é dada por uma reta é chamada também de coeficiente angular.
Quanto maior for o seu valor, mais inclinada para cima será a reta.
Pode-se utilizar a equação acima, para inferir a velocidade de uma galáxia que
esteja a qualquer distância da Terra. Por exemplo, qual seria a velocidade de afasta-
mento de uma galáxia que se encontra a 500 Mpc? Basta multiplicar a constante de
Hubble por essa distância, o que resulta em 64 x 500 = 32.000 km/s (Observe que,
numa expressão matemática, duas grandezas colocadas uma ao lado da outra implica
numa multiplicação do valor de ambas).
Vê-se então que a relação matemática tem o caráter de uma generalização que
permite extrapolações. Contudo, esse procedimento tem um limite. Nada garante
que a velocidade de uma galáxia situada numa distância de, por exemplo, 1000 Mpc
(longe, portanto, do intervalo de valores em que medidas são disponíveis), seja esta-
belecida pela expressão matemática acima.
Se novas medidas, realizadas por aparelhos mais precisos, confirmar que a
velocidade de afastamento de uma galáxia situada a 1000 Mpc da Terra é significati-
vamente maior ou menor que aquela prevista pela equação v = Hd, então saberemos
que a relação não é, de fato, linear e, então, essa relação matemática não mais poderá
ser tida como uma lei universal, mas como uma boa aproximação para o intervalo de
distâncias menores que 500 Mpc.

8 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


O r e l at i v O x O absOlUtO

N as duas primeiras décadas do século XX desenvolveu-se uma teoria capaz de conciliar as


observações astronômicas obtidas na segunda metade desse século: que as galáxias estão
se afastando de nós se dirigindo para todas as direções e a radiação chega até nós a partir de todas as
direções.
Após o estabelecimento da sua teoria da relatividade especial, em 1905, Albert Einstein ficou in-
trigado com a semelhança entre os efeitos produzidos pela gravidade da Terra, ou de outro astro qualquer,
e aqueles manifestados no interior de um móvel cuja velocidade se altera, ou seja, que tenha uma acelera-
ção. De fato, até mensuramos a intensidade da gravidade da Terra (e dos outros astros) por uma grandeza
denominada aceleração gravitacional.
Feche os olhos e imagine a sensação que presenciamos quando estamos num ônibus quando o
motorista pisa no freio. De certo ponto de vista, nós somos puxados para a frente do ônibus. Einstein se
perguntava: existe diferença entre a força que puxa em
direção ao solo um objeto que cai e a força que nos puxa
para a parte dianteira do ônibus?
Ele expressou essa questão imaginando uma
pessoa no interior de um elevador sem condições de
olhar para fora. Se o elevador estiver parado em algum
andar, sentimos o peso de nosso próprio corpo devido
à ação da gravidade da Terra. Contudo, se o elevador
estiver no espaço profundo (vamos tentar imaginar isso
sem nos perguntarmos o que levaria um elevador ao es-
paço sideral), não sentiríamos o nosso peso – estaríamos
flutuando. Contudo, se o elevador for impulsionado por
foguetes acionados, dotando o elevador de uma acelera-
ção de 9,8 m/s2, sentiremos o peso do nosso corpo exa-
tamente da mesma maneira que na Terra.
Da mesma forma, se o elevador estiver lá pelo
centésimo andar de um prédio muito alto e os cabos se
romperem, e, então, despencarmos em queda livre, nos
sentiremos exatamente como no espaço, na ausência de
gravidade. Talvez seja trágico imaginar um elevador

albErt EinstEin (1879-1955)


UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 9
despencando, mas os cientistas, e até
Hollywood, se utilizam desse fato para
simular a ausência de gravidade. Por
exemplo, algumas cenas do filme Apollo
13 foram filmadas no interior de um
avião em queda livre.
Einstein então estabeleceu que a
ação da aceleração é exatamente igual
a ação de uma força externa sobre um
corpo. Colocou isso na forma de um
princípio geral da natureza, que foi cha-
mado Princípio da Equivalência. Ainda,
imaginou que deveria haver algo além
desses fatores que implicaria da equiva-
lência e que isso deveria estar relaciona-
do com a sua teoria de 1905. A teoria da
Relatividade Especial – que é válida so-
mente quando não há aceleração – dita
que tanto espaço quanto o tempo são
grandezas relativas e que a sua medida
depende do referencial em que estiver-
mos. O teórico alemão então supôs que
essas duas quantidades, espaço e tempo,
deveriam estar de certa forma acopladas
e que, na verdade, o tempo deveria ser
algo equivalente ao espaço.
Sabemos que vivemos num espaço
tridimensional, pois é possível medir o
atorEs durantE a FilMagEM dE uMa tamanho de um objeto em três direções independentes: largu-
CEna dE apollo 13 (univErsal piCtu- ra, altura e espessura. Contudo, se o tempo for como o espaço,
rEs), no intErior dE uM avião EM quEda ele seria uma quarta dimensão espacial. Deveríamos, portanto,
livrE. Foto: gEorgE pantalos, salt considerar os fenômenos naturais ocorrendo não simplesmente
lakE astronoMiCal soCiEty. num espaço tridimensional, mas num espaço quadridimensio-
nal.
Entretanto o tempo é medido em segundos e o espaço, em metros, daí são coisas
diferentes. Contudo, podemos multiplicar o tempo por uma constante que tem dimen-
são de velocidade, o resultado seria algo com dimensão espacial. Isso pode ser constata-
do pois a velocidade pode ser medida em metros por segundo (ou seja, metros dividido
por segundo); assim o produto de velocidade com tempo seria o mesmo que pegar o
metro dividir por segundo e multiplicar por segundo, o que anula o tempo, restando
apenas a unidade metro: m $s = m
s

10 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Mas temos que multiplicar o tempo por algum valor fixo de velocidade se não
quisermos que a relação se altere em cada situação. Como o princípio da constância da
velocidade da luz (c) da Relatividade Especial implica na consideração de que c é uma
constante universal, Einstein considerou que o tempo deveria ser multiplicado por c.
Entretanto, isso não estava suficientemente bom. Não percebemos o tempo como
espaço, e isso deveria ser também expresso. Então Einstein multiplicou o tempo por
mais um outro fator: o número imaginário i. Este número é igual a - 1 , um número
que estaria além de nossa percepção, pois não conseguimos definir a raiz quadrada de
um número negativo. Contudo, no começo do século XX, os cientistas já sabiam que
fenômenos que estão além de nossa percepção podem produzir resultados perceptíveis
e que os números imaginários (também chamados complexos) podem expressar esses
fenômenos.
Assim, no delineamento desse espaço tetradimensional, teríamos:

• x como a primeira dimensão;


• y como a segunda dimensão;
• z como a terceira dimensão e
• ict como a quarta dimensão.

O espaço tetradimensional em que vive-


mos é chamado, as vezes, espaço-tempo. Se dois
eventos ocorrem em lugares diferentes e em tem-
pos diferentes, podemos localizá-los no espaço-
tempo através de suas coordenadas, que seria
(x1,y1,z1,ict1) para o evento 1 e (x2,y2,z2,ict2) para
o evento 2.
Para calcular a distância ds, entre dois pon-
tos de uma superfície plana (ver figura), podemos
utilizar o teorema de Pitágoras, que resulta em:

ds2 = dx2 + dy2


distânCia ds, EntrE dois
onde dx é igual à diferença entre x1 e x2 (dx = pontos no plano.
x1 - x2) e dy é igual à diferença entre y1 e y2
(dy = y1 - y2).

Já a distância entre dois pontos no espaço tridimensional é:

ds2 = dx2 + dy2 + dz2

E, finalmente, no espaço-tempo tetradimensional, a distância entre os eventos


mencionados acima, seria:

ds2 = dx2 + dy2 + dz2 + (icdt)2

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 11


onde dt é a diferença entre os instantes de tempo correspondentes aos dois eventos
(dt = t1 - t2), ou:

ds2 = dx2 + dy2 + dz2 - c2 dt2

pois i2 = -1.

O valor de ds para o espaço tetradimensional é chamado métrica do espaço-tem-


po. Note que, nesta última equação, não aparece mais o número imaginário. Isso sig-
nifica que, embora não percebemos o tempo como espaço, há efeitos mensuráveis nas
medidas de distâncias onde o tempo desempenha um certo papel.
Note também que, de certa forma, agora estamos falando em geometria. Esta,
portanto, deve ser uma propriedade do espaço-tempo. Nesse contexto, o tempo não se
apresenta como uma dimensão paralela, como sugerem alguns filmes de ficção cientí-
fica. Ao contrário, forma, junto com o espaço, uma estrutura.
Para conectar tudo o que foi dito, Einstein imaginou que seria a geometria do
espaço-tempo a responsável pelos efeitos equivalentes de forças e acelerações. Já que o
espaço e o tempo determinam a estrutura do espaço-tempo e, segundo a Relatividade
Especial, essas duas grandezas têm os seus valores modificados de acordo com o refe-
rencial em que nos encontramos, segue-se que a “forma geométrica” do espaço-tempo
também pode se alterar. Em particular, ele percebeu que a gravidade “distorceria” o es-
paço-tempo. Como a gravidade é gerada por massas de matéria, o espaço-tempo seria
deformado nas imediações de corpos tais como planetas e estrelas. Quanto maior for a
massa, maior a deformação.
Na época em que
a Teoria da Relatividade
Geral foi publicada (1915),
não se tinha nenhuma evi-
dência experimental segura
que salientasse algum de
seus efeitos. Contudo, os
astrônomos perceberam que
uma evidência experimen-
tal dessa teoria poderia ser
obtida observando-se as es-
trelas num raio de visão em
torno do Sol durante um
eclipse. Se a massa do Sol
deforma significativamente
o espaço-tempo, então a luz
vinda de outras estrelas pas-
sando em suas imediações
seria desviada (ver figura).
EFEito da gravidadE do sol, dEForMando o Espaço-tEMpo, sobrE a luz vinda
dE outras EstrElas. iMagEM: institutE oF astronoMy, x-ray group, CaM-
bridgE univErsity.

12 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


A gravidade exerce uma influência sobre a trajetória
da luz de forma análoga à atração gravitacional. Assim,
ocorreria um efeito semelhante a uma atração parcial da
luz em direção ao Sol. Desta forma, a luz vinda das es-
trelas, ao passar próxima ao Sol, se desviaria ligeiramente
“para dentro”, ou seja, na direção do Sol. Se olharmos em
direção ao Sol (durante um eclipse total, evidentemente,
para não ficarmos cegos), constataremos que a posição apa-
rente das estrelas num raio de visão em suas imediações
estarão um pouco mais afastadas. Tal efeito é as vezes de-
nominado lente gravitacional pelos astrônomos.
Tal efeito foi observado pela primeira vez em 1919,
nas expedições científicas chefiadas pelo astrônomo inglês
Sir Arthur Eddington (1882-1944) à ilha de Príncipe, na
costa oeste da África, e à cidade de Sobral, no Ceará. Re-
gistrou-se a posição das estrelas em fotos durante o eclipse Foto tirada do EClipsE do
comparando-se com suas posições originais. Embora a qualidade das fotos s ol EM sobral, EM Maio dE
1919. Foto: obsErvatório
não fosse de melhor qualidade, os resultados foram aceitáveis na coerência naCional.
com a Teoria da Relatividade.
Contudo, a Teoria da Relatividade estabelece uma equivalência também entre
matéria, energia e quantidade de movimento. Assim, se numa dada região do espaço
houver uma quantidade significativa de qualquer uma dessas grandezas, haverá uma
distorção correspondente do espaço-tempo. Uma versão simplificada da expressão da
intensidade da deformação do espaço-tempo (Get), segundo a Relatividade Geral, pode
ser dada por:

Get = 8rG T
c4

onde c é a velocidade da luz, G é a constante gravitacional universal (igual a


6,67 x 10-11 m3/kgs2) e T é denominado tensor momento-energia, que é uma espécie de
combinação dos valores de energia, massa e quantidade de movimento existente numa
região do espaço.
O fato do valor da constante gravitacional ser baixo faz com que os efeitos de
deformação do espaço-tempo somente sejam significativos no caso de uma concentra-
ção muito grande de massa, energia e/ou quantidade de movimento (ou seja, se T for
grande). Isso acontece no caso de corpos celestes com grande massa, como as estrelas.
No entanto, mesmo na Terra, nos dias de hoje deve-se levar em conta os efeitos da
Relatividade Geral no caso do funcionamento do GPS (Sistema de Posicionamento
Global), por exemplo.
O GPS se baseia numa rede de satélites conectados. Para que funcione correta-
mente, eles necessitam de relógios atômicos sincronizados de maneira muito precisa.
A deformação do espaço-tempo provocado pela massa da Terra faz com que o tempo

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 13


na superfície passe mais lentamente que o tempo nos satélites (que têm uma órbita de
aproximadamente 20.000 km de altitude e, portanto, estão um pouco mais longe do
centro da Terra). Segundo a Relatividade Geral, a diferença no tempo é dada pela
seguinte expressão:

2GM
rc2

onde G, novamente, é a constante gravitacional universal, M, a massa da Terra


(5,97x1024 kg), c, a velocidade da luz e r o raio da órbita dos satélites.
A diferença de tempo é aproximadamente 4 partes por 10 bilhões; muito pequena
para a percepção humana, mas suficientemente grande para provocar um erro de po-
sicionamento de vários quilômetros, se os relógios já não viessem de fábrica com um
ajuste que leva em conta a deformação do espaço-tempo.
Mas, afinal, como isso tudo pode explicar os resultados das observações de Hub-
ble e Penzias e Wilson? A explicação está no fato de que, desde o Big Bang, o Universo
vem se expandindo. O termo “expandindo” não se refere apenas ao fato das galáxias
estarem se afastando, mas à expansão do próprio espaço-tempo.
Isso pode ser entendido por uma analogia. Para isso, vamos pensar numa es-
drúxula teoria formulada por um jornalista russo no início do século XX: Pyotr De-
mianovich Ouspensky. Em 1909 e 1912 — antes, portanto, da publicação da Teoria da
Relatividade Geral de Einstein — Ouspensky concebeu a idéia de que cães, cavalos e
outros animais concebem o mundo em duas dimensões, ou seja, não têm noção de pro-
fundidade. Mais ou menos como os habitantes de planolândia, que são visitados pelo
Dr. Quantum em uma de suas inusitadas aventuras (ver vídeo em http://www.
youtube.com/watch?v=QKF-tvRV6AI). Ao avistar um carro que se aproxima
pela rua, então, os cães, por não ter noção de profundidade, imaginam ser algo
que está mais ou menos sempre à mesma distância dele, mas que cresce (feche os
olhos e imagine a imagem de um carro se aproximando na sua direção). Isso para ele
pode parecer um tanto ameaçador (ou provocativo), daí ele querer morder os pneus.
De fato, a imagem que vemos do mundo que nos rodeia é mais bidimensional
que tridimensional, contudo, temos um cérebro desenvolvido que nos assegura que a
imagem de um carro que aumenta simplesmente indica que ele se aproxima. Mas o
nosso cérebro não é desenvolvido o suficiente para nos permitir ver o mundo tetradi-
mensional descoberto pela Teoria da Relatividade.
Para Ouspensky, as formigas e os insetos de uma maneira geral têm uma per-
cepção do mundo ainda menos desenvolvida. Eles teriam uma percepção unidimen-
sional do mundo. Assim, para uma formiga, existe apenas ir para a frente. Quando ela
encontra um obstáculo ou “perde a trilha”, ela simplesmente “move o corpo” até reen-
contrar o caminho. Por não ter nem uma consciência bidimensional do terreno em que
se move, a trajetória da formiga que observamos é errática. Contudo, para ela, quando
“mexe o corpo”, os obstáculos se vão, ou a trilha “retorna”, e ela segue o seu caminho
reto.

14 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Ouspensky, en-
tão, conclui que os seres
percebem as dimensões espa-
ciais que estão além de nossa percep-
ção como movimento.

Como então devemos compreender o movimento


das galáxias?

Vamos, agora, utilizar outra analogia, mas, desta vez, uma bas-
tante conhecida pelos cientistas: imagine um balão inflável com umas
manchas pintadas em sua superfície. Imagine, também, que o balão está
sendo inflado, ou seja, seu tamanho está crescendo. Sendo feito de borracha,
sua superfície se expandirá e as manchas se afastarão umas das outras. As
galáxias seriam análogas a essas manchas e o balão, ao espaço-tempo.
A diferença é que, em vez de termos um objeto que se expan-
de em três dimensões com manchas inseridas numa super-
fície bidimensional, o Universo se expande em quatro
dimensões com galáxias inseridas num espaço tri-
dimensional. Da mesma forma, a radiação deve
se espalhar pelo Universo em todas as direções.
Assim, uma certa quantidade de radiação em
movimento espalhada pela superfície do
balão deve chegar continuamente a todas
as manchas de todas as direções.
Se um observador minúsculo es-
tiver situado sobre uma das manchas, ele
verá todas as outras se afastando dele, da uM balão inFlan-
mesma forma que vemos as galáxias se do CoM ManCHas EM
sua supErFíCiE. Con-
afastando da Terra. Nessa perspectiva, vemos ForME ElE sE ExpandE,
que a Terra não tem uma importância central no as ManCHas sE aFastaM
Universo. Em qualquer outro planeta do Universo, uMas das outras.

observaríamos as galáxias se afastando de nós. Assim, não existe um movimento em


relação a um ponto absoluto no espaço. Há apenas o movimento relativo a algum ob-
servador que não tem nada de especial em relação a outro. Na imensidão do Universo,
a Terra não é importante.
Após o estabelecimento das Teorias da Relatividade Geral e do Big Bang, uma
das principais questões que os astrônomos se dedicaram a responder é: será que o Uni-
verso se expandirá para sempre ou chegará uma época em que ele voltará a se contrair?
A resposta a essa questão está na forma do espaço-tempo. Se o Universo con-
tiver suficiente massa e/ou energia, sua curvatura será positiva, e então voltará a se
contrair. Mas se ele for torcido como uma sela, sua curvatura será negativa e ele se
expandirá para sempre.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 15


Uma maneira de se medir isso, seria medir a
soma dos ângulos internos de um triângulo situado no
espaço profundo (para evitar distorções locais do espaço-
tempo provocadas pela presença de um planeta ou estre-
la). Se a curvatura do espaço-tempo for positiva, a
soma dos ângulos internos será maior que 180
graus, como no caso de um triângulo pinta-
do sobre a superfície de uma esfera. Se, por
outro lado, a curvatura for negativa (como no
caso de um triângulo pintado sobre uma sela de
possívEis topograFias do univErso cavalo), a soma dos ângulos internos será menos que
rEprEsEntadas CoMo supErFíCiEs
nuM Espaço tridiMEnsional. sE a
180 graus.
Curvatura For positiva, CoMo no Uma maneira de se fazer uma medida da curvatura do
Caso dE uMa EsFEra, a soMa dos
espaço-tempo seria instalar três sondas no espaço capazes de
ângulos intErnos dE uM triângulo
sErá Maior quE 180 graus. no Caso emitir um sinal de luz, uma para a outra, formando um triângulo.
dE uMa sEla, a soMa dos ângulos in- Medindo-se os ângulos entre os raios de luz, saber-se-á se a soma
tErnos sErá MEnor quE 180 graus.
iMagEM: www.visualstatistiCs.nEt. é maior ou menor que 180 graus.
Contudo, esse não é o único
método para se determinar a curvatura do
espaço-tempo. Pode-se simplesmente ava-
liar a quantidade total de matéria e energia
existente. As estimativas atuais indicam que
a quantidade de matéria/energia no Universo
é relativamente pequena, fazendo com que a
curvatura do espaço-tempo seja praticamente
igual a zero.
Mas a natureza, em realidade,
é muito mais misteriosa do que pressupõem
as teorias humanas. Medidas recentes da ve-
locidade de afastamento de galáxias muito
distantes indicam que estas se movem em re-
lação à Terra mais rapidamente do que a pre-
visão da relação de Hubble, como se houvesse
uma pequena componente repulsiva na força
de interação gravitacional entre a matéria do
Universo. Essa é uma questão que uma parte
significativa dos astrônomos tenta responder
nos dias de hoje.

ConCEpção dE uMa possívEl ManEira dE sE MEdir a


Curvatura do Espaço-tEMpo. iMagEM: w ikipEdia.

16 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


at i v i d a d e

Leia o artigo de Carlos Alberto dos Santos, disponível em


http://cienciahoje.uol.com.br/120379. Descreva de maneira objetiva os
motivos pelos quais os relógios do sistema global de GPS devem ser cor-
rigidos devido ao efeito da gravidade da Terra. Calcule qual deverá ser o
atraso no relógio de alguém que faz uma viagem de 14 horas a bordo de um
avião que voa a uma altitude de 10.000 m.

O s i g n i f i C a d O d e U m a e X p r e s s ã O m at e m át i C a

Uma expressão matemática aplicada às Ciências Naturais normalmente


descreve uma relação entre grandezas mensuráveis ou constantes da natureza.
Em geral, é caracterizada por uma igualdade (definida pela presença do sím-
bolo “=”). Quando um único símbolo é colocado do lado esquerdo do símbolo
de igualdade, geralmente pretende-se destacar como a grandeza representada
por esse símbolo depende de outras.

As grandezas cujos símbolos estão no nu-


Com essa expressão matemática,
merador da expressão influenciam direta-
pretende-se enfatizar como a força
mente a grandeza em destaque (no caso a
gravitacional, Fg, entre dois corpos
força gravitacional Fg). Assim, quanto maior
com massa m e M, depende de outras
for o valor da constante gravitacional uni-
variáveis.
versal (G) e as massas dos corpos (m e M),
maior será a intensidade da força gravitacio-
nal.

mM
Fg = G 2
r As grandezas cujos símbolos estão no de-
nominador da expressão influenciam inver-
samente a grandeza em destaque (no caso a
força gravitacional Fg). Assim, quanto maior
for o valor da distância (r), menor será a in-
tensidade da força gravitacional. Há que se
destacar que, nesse caso, r está elevado ao
quadrado, o que significa que a força gravi-
tacional diminui com o quadrado da distân-
cia: se a distância duplica, Fg fica reduzida a
um quarto; se a distância triplica, Fg se reduz
a 1/9.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do universo| 17


1026 m
univErso

a evOlUç ãO dO UniversO
1021 m
v ia láCtEa
A teoria do Big Bang de Gamov, pu-
blicada em 1948, prevê que a história do
Universo passou por estágios numa escala
1013 m de tempo bastante peculiar: Aconteceram
sistEMa solar muitas coisas numa escala de tempo ex-
tremamente curta após o momento em
que o Universo surgiu e, conforme ele foi
se expandindo (lembre-se que a expansão
se dá em quatro dimensões!), novos even-
107 m tos foram se processando mais lentamen-
tErra
te.

Assim, num ínfimo instante de


tempo após seu surgimento (10-32 segun-
1m
dos, ou 0,0000000000000000000000
sEr HuMano
0000000001 s), ocorreram fenômenos
que a ciência ainda pouco compreende
que deram surgimento aos primeiros elé-
10-5 m trons e quarks, as partículas constituin-
Célula típiCa tes de prótons e nêutrons. Nessa “época”,
a temperatura do Universo era de 1027
graus Celsius. Na fase seguinte, até um
10-10 m décimo milésimo de segundo (0,0001 s),
átoMo surgem os prótons e neutrons, numa tem-
peratura de dez trilhões de graus Celcius
(1013 ºC). Até três minutos após o Big
Bang, surgem os primeiros núcleos de hé-
10-15 m
núClEo do átoMo lio, numa temperatura de 100 milhões de

18 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


CoMpriMEnto
FrEquênCia dE onda

105 Hz 103 m
rádio, tv, FM

graus Celsius. Os primeiros átomos, com


elétrons orbitando núcleos, surgem até 3
horas – a temperatura é de 10 milhões 1010 Hz 10-2 m
de graus Celsius. 300.000 anos após a MiCroondas
grande explosão, há átomos emitindo luz
no Universo, que tem uma temperatura
de 10.000 ºC e, após 3 milhões de
anos, as primeiras galáxias se formam,
1013 Hz 10-5 m
quando a temperatura do espaço é da
inFravErMElHo
ordem de grandeza da temperatura
ambiente da Terra nos dias atuais. Nos
dias de hoje, entre 12 e 15 bilhões de
anos após o Big Bang, a temperatu-
ra do espaço é de aproximadamente 1015 Hz 10-7 m
270 ‘C negativos. visívEl

1017 Hz 10-9 m
u ltraviolEta

1020 Hz 10-12 m
raios-x

1024 Hz 10-16 m
gaMa

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 19


n O çõ es de grandezas tempOrais e
e s pa C i a i s e U n i d a d e s d e m e d i d a

G randeza é tudo aquilo que pode ser medido. Como exemplo, temos o tempo, comprimento, vo-
lume, massa, densidade, velocidade. Medir significa comparar quantitativamente uma grande-
za física com uma unidade através de uma escala pré-definida. Nas medições as grandezas sempre devem
vir acompanhadas de unidades.
Espaço e tempo são grandezas físicas. E, como grandezas físicas, devemos atribuir-lhes um valor
numérico e uma unidade. Existem muitas e diferentes (e arbitrárias) unidades de medidas. Fez-se então
necessário a adoção de um sistema de unidades.

O sistema internaCiOnal de Unidades

Um sistema de unidades se caracteriza por um conjunto amplo de unidades de medida, bem como
as regras que as definem e as relacionam. O Sistema Internacional de Unidades (SI), oficial no Brasil, foi
adotado pela 11ª. Conferência Geral de Pesos e Medidas, realizada em 1960 pelos países membros da
Convenção do Metro.
As unidades SI estão divididas em três classes: unidades de base, unidades derivadas e unidades
suplementares.
Na tabela a seguir se encontram as unidades de base. Compreendem um conjunto de sete unidades
perfeitamente definidas, as quais são consideradas dimensionalmente independentes.

Grandeza Nome Símbolo Definição


Distância percorrida pela luz no
 comprimento  metro m vácuo durante um intervalo de
tempo de1/299.792.458 segundo.
A massa é a única unidade ainda
definida como artefato físico
(protótipo internacional do
Massa quilograma kg quilograma). Consiste de um
cilindro de liga platina-irídio
conservado no BIPM em Sèvres,
França.
Duração de 9.192.631.770
períodos da radiação
correspondente à transição entre
 Tempo   segundo s
os dois níveis hiperfinos do estado
fundamental do átomo de césio
133.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 21


Corrente elétrica invariável que,
mantida em dois condutores
retilíneos, paralelos , de
comprimento infinito e de área
de seção transversal desprezível
 Corrente elétrica   ampère A e situados no vácuo a 1m de
distância um do outro, produz
entre esses condutores uma força
igual a 2 x 10-7 Newton , por
metro de comprimento desses
condutores.
Fração 1/273,16 da temperatura
Temperatura
kelvin K termodinâmica do ponto tríplice
termodinânica
da água.
Intensidade luminosa em
uma dada direção, de uma
 Intensidade
 candela cd fonte que emite uma radiação
luminosa
monocromática de freqüência 540
x 1012 hertz.
Quantidade de matéria de um
sistema que contém tantas
 Quantidade de
 mol  mol entidades elementares quantos
matéria
são os átomos contidos em 0,012
quilograma de carbono 12 .   

Essas unidades de base foram escolhidas arbitrariamente, de modo a criar um


sistema de medida coerente. Assim sendo as suas unidades estão relacionadas mutua-
mente somente por meio de regras de multiplicação e divisão, sem quaisquer constantes
de proporcionalidade.
A combinação de unidades de base, por intermédio de leis ou definições que rela-
cionam entre si as grandezas a serem medidas, resulta na formação de novas unidades,
as unidades derivadas.
A tabela seguinte contém algumas unidades derivadas:

Símbolo da Nome da Símbolo para a Definição da


Grandeza
Grandeza unidade SI unidade SI unidade SI
Força F Newton N m kg s-2
Pressão P Pascal Pa m-2 kg

Energia E Joule J m2 kg s-2

Carga elétrica Q Coulomb C As

Indução magnética B Tesla T Kg s-2 A

Como as dimensões do Universo são muito maiores do que as distâncias a que


estamos habituados a usar na Terra, houve a necessidade de definir unidades de medi-
da, que possibilitassem simplificar as distâncias medidas na astronomia. Observando a
tabela abaixo você considera essas unidades como unidades de base ou como unidades
derivadas? Por que?

22 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Grandeza Nome Símbolo Definição
Uma unidade astronômica
Unidade corresponde à distância média da
 comprimento UA
astronômica Terra ao Sol.
1 U.A = 1,4959787 X 1011 m
O ano luz define-se como a
comprimento Ano-luz a.l. distância que a luz percorre num
ano, no vácuo.
Distância à qual se deveria situar
um observador para ver uma
comprimento Parsec pc unidade astronómica (UA), sob
o ângulo de um segundo de arco,
equivalente a 3,08567758 x 1016 m.

Na medida em que formos nos aprofundando nesse fascícu-


lo, Origem do Universo, utilizaremos outras unidades derivadas.
O SI foi elaborado de forma que quaisquer medidas pos-
sam ser expressas em termos de alguma (s) de suas unidades.
Entretanto a magnitude das medidas são muito diversificadas,
chegando a extremos, como por exemplo, a massa de um próton,
0,00000000000000000000000016 g , ou a distância de Marte
ao Sol, 228 000 000 000 m. Para simplificar esses números a
Conferência Geral de Pesos e Medidas tem adotado uma série
de prefixos SI. A tabela abaixo apresenta a lista completa desses
prefixos que englobam os submúltiplos até 10 -24 e os múltiplos
até 1024.

Fator Nome Símbolo Fator Nome Símbolo


10 1
deka da 10 -1
deci d
10 3
Kili k 10 -3
mili m
10 6
mega M 10 -6
micro µ o protótipo intErnaCional do
quilo é Mantido no burEau in-
109 giga G 10-9 nano n
tErnaCional dE pEsos E MEdidas
10 12
tera T 10 -12
pico p (bipM), EM sèvrEs, na França,
10 21
zetta Z 10 -21
zepto z dEsdE 1889.

10 24
yotta Y 10 -24
yocto y

bilhões e bilhões...

Você já deve ter notado que, ao olharmos para o espaço profundo, estamos lidan-
do com números muito grandes. Quantos metros teria, por exemplo, o tamanho da Via
Láctea? Sabemos que a nossa galáxia tem cerca de 100.000 anos-luz de comprimento.
Sendo um ano-luz a distância que a luz percorre num ano e sabendo que a velocidade
da luz é aproximadamente 300.000 quilômetros por segundo, o diâmetro da Via Lác-

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 23


tea seria igual a 100.000 x 300.000 (a velocidade da luz) x 1000 (o número de metros
que se tem num quilômetro) x 60 (número de segundos num minuto) x 60 (número de
minutos numa hora) x 24 (número de horas num dia) x 365 (número de dias num ano),
o que dá a “bagatela” de 946.080.000.000.000.000.000 metros, que se trata de um nú-
mero “difícil” de ser lido. Desta forma, para se evitar a escrita e leitura de um número
excessivo de algarismos, os cientistas adotam outra maneira de escrever os números
muito grandes ou muito pequenos, chamada notação científica.
Assim, podemos simplesmente contar quantos algarismos haveria depois do pri-
meiro que, no caso do número acima, seria 20. Desta forma, pode-se escrever esse
número como 9,4608 x 1020 ou ainda, de uma forma aproximada, 9,5 x 1020. Da mesma
forma, um número muito pequeno, como, por exemplo, 0,0000000000946, pode ser
escrito como 9,46 x 10-11.
Pode-se também afirmar, como regra mnemônica, que, no caso desse último nú-
mero, a “vírgula” teve que se deslocar 11 casas para a direita, daí o expoente da base
10 ser 11 e negativo. Já, no caso do primeiro número, a vírgula foi deslocada da direita
para a esquerda 20 casas, daí o expoente 20.

at i v i d a d e s :

Expresse em notação científica as seguintes grandezas físicas solicitadas:

• o tempo médio mensal, em minutos, que você dedica ao estudo desse Curso;
• a distância, em metros, do seu município até a cidade de Cuiabá (MT);
• a sua altura, em quilômetros.

Em termos de precisão de medida, existe diferença, no que diz respeito ao com-


primento da Via Láctea, quando citamos 9,4608 x 1020 m ou 9,5 x 1020 m ?

Vamos iniciar uma outra reflexão perguntando: podemos nomear essas medidas
como 0,94608 zetta metros e 0,95 zetta metros (utilize da tabela dos prefixos SI ) ?
Ao analisarmos estas medidas, podemos observar com maior clareza que 0,94608
zetta metros é mais precisa que 0,95 zetta metros, já que a primeira nos fornece até
centésimo de milésimo de zetta metro, enquanto a segunda até centésimo de zetta me-
tros. Para a precisão de cada medida tiveram significados os algarismos após a vírgula.
Logo, em 0,95 temos dois algarismos significativos: o 9 e o 5. Em 0,94608 temos cinco
algarismos significativos: o 9, 4, 6, 0, e 8. O zero desse número é significativo, pois não
é apenas um indicador decimal, mas um numeral da medida.

24 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Algarismos significativos são importan- a tividade
tes quando se fazem operações com valores de
diferentes grandezas medidas com precisões Quantos algarismos significativos exis-
diferentes. Considerando a medida do com- tem nessa medida da massa de um próton,
primento da Via Láctea, 0,95 zetta metros (c1)
0,00000000000000000000000016 g ?
e da Galáxia Andrômeda igual a 3,4 zetta me-
tros (c2), qual seria o comprimento total das
duas galáxias? Parece que basta somar os dois E nos seguintes números: 9,808;
comprimentos individuais. Entretanto, deve- 0,3; 0,30; 0,0144 e 402,1?
se ter cautela, pois o último algarismo signifi-
cativo de c1 está na faixa de centésimo de zetta
metro, enquanto o de c2 está na faixa de décimo de zetta metro. Como realizar esta
operação aritmética?
Veremos que existem regras, ao lidar com algarismos significativos, para efetuar
as operações (adição, subtração, multiplicação e divisão). Mas para que isso seja feito é
necessário se conhecer algumas regras de arredondamento de números.

regras de arredOndamentO de númerOs:

1. Quando o algarismo seguinte ao último número a ser mantido é menor que


5, todos os algarismos indesejáveis devem ser descartados, e o último número
é mantido intacto.
Exemplo:
• Ao arredondar o número 3,12 para dois algarismos significativos,
obtém-se 3,1.

2. Quando o algarismo a seguinte ao último número a ser mantido é maior que


5, ou 5 seguido de outros dígitos, o último número é aumentado de 1, e os
algarismos indesejáveis são descartados.
Exemplos:
• ao se arredondar 8,6578 para quatro algarismos significativos, ob-
tém-se 8,658;
• ao se arredondar 2,543 para dois algarismos significativos, obtém-se
2,6.

3. Quando o algarismo seguinte ao último número a ser mantido é um cinco


(“seco”) ou um 5 seguido somente de zeros, há duas possibilidades:
» se o último algarismo a ser mantido for impar, ele é aumentado de 1, e o 5
indesejável (e eventuais zeros) é descartado;
» se o último algarismo a ser mantido for par (zero é considerado par), ele
é mantido inalterado, e o 5 indesejável (e eventuais zeros) é descartado.
Exemplos:
• ao se arredondar o número 9,250 para dois algarismos significativos,
obtem-se 9,2;
• ao se arredondar 8,35 para dois algarismos obtêm-se 8,4.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 25


adiç ãO e sUbtr aç ãO

O resultado de uma soma ou de uma subtração deve conter o mesmo número de


casas decimais que o termo com o menor número de casas decimais.

Vamos resolver a adição dos comprimentos das galáxias?

3,4 + 0,96 = 4,36

fazendo o arredondamento temos para dois algarismos significativos (mesmo número


de casas decimais de 3,4), teremos 4,4.
Colocando a unidade teríamos como comprimento total 4,4 zetta metros.
Outro exemplo

80 – 2,13 = 77,87

fazendo o arredondamento teremos 78.

m U lt i p l i C a ç ã O e d ivisãO :

O resultado de uma multiplicação ou de uma divisão deve ser arredondado para


o mesmo número de algarismos significativos que o do termo com menor número de
algarismos significativos:

6 x 1,5 = 9,0 = 9

6200/3,10 = 2,00 x 103 (repare que nesse exemplo temos como resultado 2000, mas
que deverá aparecer com três algarismos significativos, logo o ideal é que coloquemos
em notação científica).

at i v i d a d e

Existe uma razão lógica para que, numa operação ma-


temática envolvendo dois ou mais números com diferentes
algarismos significativos, o resultado deve ser dado com um
número de algarismos significativos correspondente ao número
que tenha a menor quantidade de algarismos significativos. Qual é
essa razão? Por que deve-se adotar esse procedimento?

26 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


at i v i d a d e

Diante das informações desse


termohigrometro identificar as
grandezas físicas e as suas respec-
tivas medidas. Indicar correta-
mente o tempo em minutos, em
notação científica com 2 algaris-
mos significativos.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 27


esCalas de te m p O

N o Universo nos deparamos com distâncias astronômicas e com distâncias infimamente pe-
quenas. Também com tempos consideravelmente diferentes entre si. Podemos afirmar que os
fenômenos ocorrem em diferentes escalas de tempo. A seguir, é apresentada uma tabela com os tempos
respectivos, numa escala decimal, de diversos eventos:

tEMpo
EvEntos
EM sEgundos
1018 “Idade do Universo”
1015 Época do desaparecimento dos dinossauros
1014 Aparecimento do homem na Terra
109 Duração média da vida humana
106 O maior tempo possível que uma pessoa sobrevive sem comida
104 Período de rotação da terra
103 Tempo levado pela luz do Sol até a Terra
100 Período de um batimento cardíaco
10-1 um piscar de olhos
10-6 Período típico de ondas de rádio
Tempo que um computador demora para executar as instruções de
10-9
um software
10-12 Pulsos mais curtos produzidos por laser
10-15 Período da luz visível
10-18 Tempo que a luz leva para atravessar um átomo
10-20 Período de vibrações nucleares
10-25 Tempo levado pela luz para atravessar um núcleo

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 29


entendendO a esCala deCimal dO tempO.

at i v i d a d e Pela tabela acima a duração média da vida humana tem uma


magnitude decimal de 109 s. Mais precisamente, a expectativa de
Verifique quais eventos
vida do brasileiro tem uma média de 2,25 x 109 s. O valor menciona-
mencionados na tabela corres-
do na tabela então está incorreto? Naturalmente que não, esta é uma
pondem às magnitudes tem-
escala decimal que se aproxima da magnitude decimal das medidas.
porais das seguintes medidas:
Vejamos: 2,25 x 109 está mais próximo de 0,1 x 109 (igual a 108) ou de
• 7,5 x 103 s
1,0 x 109 (igual a 109) ou de 10 x 109 (igual a 1010)? A que valor da
• 9,0 x 10-19 s
escala decimal este número mais se aproxima?

As mulheres brasileiras têm expectativa de vida de 75


anos, e os homens, de 68 anos, segundo o relatório de Es-
tatística Sanitária Mundial 200, divulgado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) durante a 60a Assembléia Mundial da
Saúde, realizada em Genebra.

UtilizandO O métOdO da análise dimensiOnal:

A informação de que a expectativa de vida do brasileiro em média é de


2,25 X 109 s, condiz com os dados da OMS?
Para responder, teremos que converter a notação decimal de 2,25 X 109 s em anos.
Iremos, passo a passo, utilizando do processo de análise dimensional.

q U a n ta s h O r a s t e m 2 , 25 x 10 9 s ?
Sendo 1 hora = 3600 segundos, podemos dizer que o fator de conversão h/s é
1h /3600 s. Logo: 2,25 x 109 s = 2,25 x 109 s x 1h / 3600 s = 6,25 x 10 5 h.

q U a n t O s d i a s e q U i va l e m a 6 ,1 x 10 5 h ?
Tendo 1 dia 24 horas, podemos dizer que o fator de conversão dia/h é
1dia /24 h. Então 6,25 x 105 h = 6,25 x 105 h x 1dia /24 h = 2,60 x 104 dia.

30 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


q U a n t O s a n O s e q U i va l e m a 2 ,6 0 x 10 4 d i a ?
Qual é o fator de conversão ano/dia?
Se você respondeu corretamente, podemos afirmar que
2,60 x 104 dias = 2,60 x 104 dias x 1ano / 365 dias = 7,13 x 101 = 71,3 anos.

Você confirma esta média, levando em consideração a média da expectativa de


vida dos brasileiros (média do tempo de vida de homens e mulheres registrados pela
OMS), e das aproximações das medidas?
Podemos numa só equação utilizando todos os fatores de conversão chegarmos ao
mesmo resultado:

t (anos) = 2,25X109 s x 1 h / 3600 s x 1 dia /24 h x 1 ano / 365 dias = 71,3

Estas operações de conversão de unidades de medida em outras (seja de uma


mesma grandeza ou de uma para outra), utilizando fatores de conversão, é o que, como
já citado, chamamos de Método de Análise Dimensional ou Método dos Fatores de Con-
versão.

at i v i d a d e s

• Calcular quantos segundos existe num ano. Expresse em notação cien-


tífica.
• A velocidade de um atleta disputando a prova dos 100m rasos é de aproxima-
damente 101 m/s. Expresse essa velocidade em quilômetros por hora.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 31


ondE Esta
Ao olharmos para a imensidão do cos-
mos, nos perguntamos o que repre-
sentamos diante da desproporção
de tamanhos. Nosso sistema
solar parece insignifican-
te a quase 30.000 anos-
luz do centro da galá-
xia. O homem parece

tErra s
sol

vEnus

tErra JupitEr saturno


aMos nós?
insignificante perto do tamanho da
Terra, que é insignificante dian-
te do Sol, que é insignificante
diante de Rigel...

rigEl

sol arCturus antarEs


34 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
a s n O çõ es de e s pa ç O -te m p O

Q uestões relativas ao espaço e tempo aparecem, muitas vezes, como sendo do âmbito dos físicos
e dos metafísicos e, desse modo, para os educadores, cria-se uma grande dificuldade ao se
analisar fenômenos espaços-temporais.Por outro lado, para entender tais fenômenos bastaria partir da con-
sideração que o tempo é um elemento da psicologia, da filosofia, da história, da geografia, ou da sociologia?

afinal, a l g U é m p O s s U i U m a n O ç ã O m a i s a C e i ta
d e t e m p O e d e e s pa ç O ?

Como você define o tempo? E o espaço? Escreva o que pensa sobre isso e de-
pois re-escreva a partir do texto abaixo.

va m O s r efletir Um pOUCO. . .

Uma breve revisão na literatura permite encontrar o elemento tempo nas mais diversificadas vesti-
mentas, como: tempo social, tempo geográfico, tempo psicológico, tempo religioso, tempo geo-
lógico, tempo histórico, tempo físico; e assim por diante. O tempo com maior visibilidade na era das
tecnologias da informação e da comunicação é o tempo virtual também chamado de tempo real1.
Desse modo, para cada área, criou-se uma noção de tempo: para a física, criou-se um tempo físico;
para filosofia, um tempo filosófico; para história, um tempo histórico; e assim por diante. Isso demonstra
que diferentes noções de tempo são utilizadas em todas as partes do conhecimento, mas que essencial-
mente é o mesmo tempo2. Para o autor Prigogine3, as noções de passado e futuro desempenham papéis
diferentes em cada área do saber. Assim, os entendimentos são, algumas vezes, divergentes e aplicados nas
mais diversas situações.
1 Lévy, 1996; Mello, 2003.
2 Mello, 2003.
3 PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: Editora da UNESP, 1996.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 35


Para o filósofo Kant (1991), dife-
rentes tempos seriam apenas parte A questão do tempo e do determinismo não se li-
do mesmo tempo. mita, segundo Prigogine1, às ciências naturais, mas está
no centro do pensamento ocidental desde a origem do
que chamamos de racionalismo. Tem-se registro de reflexões sobre a natureza do tempo
já entre os pré-socráticos considerados “os pais da filosofia ocidental ”, que tomam a deno-
minação de período naturalista.

Isso se deve ao fato de que a especulação dos filósofos desse período é voltada
para o mundo exterior, julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de todas
as coisas. Nessa filosofia antiga, revela-se um processo de embate entre a natureza e a
linguagem; entre os quais as coisas são por si mesmas e são ditas em uma linguagem
que apresenta problemas tendo em vista sua convencionalidade. Assim, se aquilo que
se problematiza, a natureza, não tem um caráter estável, mas trata-se de algo em cons-
tante mudança, pode-se entender que o tempo se apresenta sempre como algo ligado a
esse devir dos acontecimentos e o que se pretende com a linguagem é mencioná-lo em
sua permanente transformação.

O filósofo que bem representa esse período naturalista é Heráclito de Efeso, que
disse: “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo”. Tudo seria devir; e esse devir
seria o princípio. E o tempo seria a primeira forma de devir. Considerava o tempo um
processo abstrato, um ser sensível, a essência verdadeira. Como devir, o tempo seria, para
ele, puro transformar-se, um puro conceito, algo simples, harmônico a partir de opos-
tos. Isto é, sua essência seria o ser e o não-ser, colocados em uma mesma unidade e ao
mesmo tempo separados. Assim, seria como se o tempo fosse e não fosse. O tempo
não poderia ser passado e futuro, somente presente, o agora.
Anaximandro de Mileto relacionava a pergunta da totalidade do exis-
tente com o tempo. Para ele, o tempo impõe a ordem, ou seja, permite a exis-
tência do cosmos. Esse filósofo postulava uma teoria da origem do universo
que defendia que este era o resultado da separação de matéria primária.
Sustentava ainda que todas as coisas voltariam com o tempo ao elemento que as
originou.
Entre os pré-socráticos que discorreram sobre o tempo, pode-
mos ainda citar Parmênides de Eléia, que fundou a metafísica ociden-
tal com sua distinção entre ser e não ser. Postulou que a eternidade do
ser não se concebe como um devir infinito, mas precisamente como a
ausência de todo devir, a ausência, em definitiva, do tempo. Parmêni-
des formulou a primeira noção de eternidade quando declarou que o tempo era
contínuo e inteiro. Enquanto, Melisso de Samos, declarou que o ser sempre
é, sempre foi e sempre será, formulando a noção de infinito. (parece que
falta alguma palavra)
Tanto em Parmênides como em Melisso é notório que o problema
parMênidEs dE Eléia do ser aparece juntamente com a questão do tempo e, subjacente a isso,
(530 a.C. - 4 6 0 a.C) aflora a noção de substância que pode ser considerada como presença. Veri-
1 Ilya Prigogine é premio Nobel de Química, professor da Universidade Livre de Bruxelas e da Universidade do Texas, EUA.

36 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


at i v i d a d e
fica-se assim que, já desde os inícios da filosofia, a pergunta pelo Cite alguns fenôme-
sentido do mundo e do ser remete ao tempo. nos naturais que podem ser
Na seqüência dessa reflexão sobre o tempo na filoso- utilizados como contra-argumen-
fia antiga, poderíamos saltar diretamente para as imagens tos da teoria de Anaximandro de
do tempo em Platão, porém parece importante resgatar al- Mileto.
gumas idéias de Sócrates, não propriamente sobre o tempo,
mas no que diz respeito às construções de idéias, de noções, de conceitos, que estão
associadas ao tempo. Além disso, convém ressaltar que com Sócrates a filosofia grega
toma outro rumo, sendo que a preocupação cosmológica deixa de ser predominante,
dando lugar a uma preocupação maior com a experiência humana, o domínio dos va-
lores e o problema do conhecimento.
Sócrates apresenta a idéia de que os conceitos são, a priori, inatos no espírito
humano, de onde têm de ser oportunamente tirados, e sustenta que as sensações cor-
respondentes aos conceitos não lhes constituem a origem, e sim a ocasião para fazê-lo
reviver, relembrar conforme a lei da associação. Platão retoma essa questão e, diver-
samente de Sócrates, dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma base
real, um objeto próprio: as idéias eternas e universais, que são os conceitos, ou alguns
conceitos da mente, personalizados. Platão apresenta uma nova teoria sobre a “idéia’,
dando-lhe um sentido novo. A idéia seria mais do que o ser verdadeiro, ela seria o ser, a
realidade verdadeira. A doutrina central de Platão é a distinção de dois mundos, o dos
reflexos (mundo visível) e o das idéias (mundo invisível). Por sua vez, em seu sucessor,
Aristóteles, essa questão da idéia aparece contrariamente, ou seja, a idéia não teria uma
existência separada. Portanto, as idéias só existem nos seres indivi-
A partir de Platão a
duais.
eternidade deixa de ser
Aparece, ainda, em Platão, a retomada da idéia de vincular
a mera negação da
o ser ao tempo e a presença, para quem o tempo era uma imagem
móvel da eternidade e que se desenvolvia em círculo. Surge aqui a temporalidade para converter-
noção do tempo cíclico. Para Platão, o tempo nasce com o céu, sen- se em seu fundamento.
do que sua medição se dá pelos movimentos dos astros.
Finalizando a contribuição da filosofia antiga no entendimento
das questões temporais, apresenta-se Aristóteles, que suprime a distin-
ção entre a realidade e a aparência do tempo, por acreditar que não te-
ria sentido explicar a natureza por meio de algo que está além dela. E,
enquanto que em Platão a eternidade se corresponde com o suceder do
tempo suscetível de percepção, para Aristóteles, o que dá lugar a percep-
ção do tempo é o movimento. Para abordar a questão do tempo, sua na-
tureza e estrutura, Aristóteles o vincula ao movimento, porém o sepa-
ra desse, já que um movimento pode ser rápido ou lento, enquanto não
teria sentido dizer isso do tempo, uma vez que a rapidez ou a lentidão
dizem respeito a ele próprio. Assim, o tempo seria algo que pertenceria
ao movimento, o número do movimento segundo o anterior-posterior.
O tempo não seria propriamente um movimento, mas não existiria sem
busto dE aristótElEs no MusEu
do louvrE. (384 a.C. - 322 a.C.)

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 37


at i v i d a d e s ele uma vez que somente existirá quando o movimento
1 -A qual dos pensadores você atribui comportar um número.
essa concepção: Aristóteles analisava o tempo com muitas precau-
A ideia de uma cadeira é uma projeção do saber: ções, porque tinha consciência da dificuldade que era
ao verem a cadeira, os olhos, projetam a imagem dessa tratar sobre ele, mas apresentava alguns estudos im-
mesma cadeira, que existe em nós como princípio uni- portantes para entendimento deste, como, por exem-
versal. plo, a noção de instante, ao dizer que o tempo não se
compõe de instantes, da mesma forma que uma linha
2 - Qual seria o entendimento do tempo do não se compõe de pontos, mas ambos os conceitos ex-
deslocamento de um objeto sobre uma mesa segun- pressariam uma noção de limite, no qual se anulariam
do Plantão e segundo Aristóteles. as características próprias do tempo e do espaço (um
instante não dura, como um ponto não tem extensão).
Assim, o instante e o ponto seriam ao mesmo tempo união e separação. Aristóteles cla-
ramente nos apresenta nessa analogia entre o ponto e o instante, assim como na con-
cepção de tempo em função do movimento, a íntima relação entre o tempo e o espaço.
Aristóteles considera a sucessão (estrutura do tempo) e a coexistência (estrutura
do espaço) como contínua e o tempo como infinito (não em ato, mas em potência).
Também, discutiu a questão das relações entre o passado (que já não é), o futuro (que
ainda não é) e o presente que, na medida em que continuamente está fluindo, não pode
deter-se em um instante. Dessa forma, o tempo nos remeteria a paradoxos do uno e
múltiplo, e da identidade e diferença.
Resumidamente, a concepção aristotélica se apresenta como
Notoriamente, com Aristóteles,
uma importante e influente forma de interpretação do tempo, pois
aflora uma nova concepção de
tempo, ou seja, como movimento
o enfoca desde uma perspectiva física (o tempo como medida do
total e infinito, eterno, como marco em movimento) a uma perspectiva psicológica (não haveria tempo
que os acontecimentos particulares, finitos, sem uma alma que o medisse, ou seja, não haveria tempo sem cons-
passam a ser concebidos como partes. ciência).
Vale ressaltar que, mesmo com as contribuições de Aristóteles
para o entendimento da noção de tempo, houve uma longa insistência entre os estóicos
na noção do tempo cíclico.
A noção de tempo vai experimentar uma importante mudança com a consolida-
ção do cristianismo, uma vez que a religião nega a possibilidade de um tempo cíclico.
Aparece então a noção de tempo linear, orientado para o futuro, com origem na
Criação e cume no juízo final, ou seja, nos finais dos tempos. Essa concepção é oriunda
da concepção judia, mas, pelo fato de ter sido edificado sobre influências gregas, ex-
pressa por si só uma tensão entre ambas as concepções de tempo.
Em linhas gerais, pode-se dizer que a concepção cristã de tempo é o resultado de
uma síntese entre as concepções judia, platônica e aristotélica. Assim, tem-se por um
lado o tempo do mundo terreno, criado e, por outro, o tempo de Deus, a eternidade,
pautada na questão de fé.
Encontramos, nas Confissões de Santo Agostinho, uma tentativa de analisar
filosoficamente a essência do tempo. Para ele, a noção de tempo antes da Criação não
teria o menor sentido, uma vez que sem a Criação não poderia haver nenhum ‘antes’,

38 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


ou seja, o tempo só poderia ter surgido juntamente com o cosmos.
Colocado dessa forma, apresenta sua noção de tempo a partir de
uma perspectiva moral.
Na concepção agostiniana, o tempo seria um vestígio de
eternidade e não existiria tempo futuro nem pretérito. A explicação
baseia-se na lógica de entendimento desse monge: se realmente
existem coisas futuras e passadas, onde elas estariam? Porque, em
qualquer parte onde estiverem, aí não são futuras nem pretéritas,
mas presentes. Pois se são futuras, segundo Santo Agostinho,
“ainda lá não estão”; e, se nesse lugar são pretéritas, para ele “já
lá não estão”. O tempo da eternidade então podia ser resumido
em um “já mas ainda não”. Por conseguinte, em qualquer parte
onde estiverem, quaisquer que elas sejam, não podem existir senão
no presente. o priMEiro rEtrato dE
santo agostinHo
Assim, para SantoAgostinho, ainda que narremos os acontecimentos (séCulo vi)
verídicos já passados, a memória relataria não os próprios acontecimentos que
já decorreram, mas sim as palavras concebidas pelas imagens daqueles fatos, os quais,
ao passarem pelos sentidos, gravariam uma espécie de vestígios que, em outras
palavras, refere-se à memória.

eXemplO:

A nossa infância não existe presentemente, mas num passado que já


não é, ou seja, quando evocamos as imagens dessa infância e que de alguma
forma se tornam objetos de descrições, temos o tempo presente, porque ainda está
na nossa memória. Similarmente, Santo Agostinho analisa a questão do tempo futuro
colocando que nós, na maioria das vezes, premeditamos as nossas ações futuras, e essa
premeditação é presente, ao passo que a ação premeditada ainda não existe, porque é
futura. Quando empreendemos e começamos a realizar o que premeditamos, então
essa ação existirá, porque já não é futura, mas presente. De qualquer modo que
suceda este pressentimento oculto das coisas futuras, não podemos ver, senão o que
possui existência. Assim, o que já existe não é futuro, mas presente.

O que claramente é descrito por Santo Agostinho é que não há tempo futuro, nem
pretérito. O que tornaria impróprio afirmar que os tempos são três: passado, presente
e futuro. Para ele, o correto seria dizer que os tempos são os seguintes: “presente
das coisas passadas; presente das coisas presentes; presentes das coisas futuras.”
Dessa forma, para Santo Agostinho, o tempo cíclico seria sinônimo de desespero,
porque somente o modelo de tempo linear e progressivo poderia fundamentar a
esperança que, juntamente com a fé, remeteria ao futuro, o que não existiria se os

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 39


tempos passados e futuros fossem meras
at i v i d a d e
etapas de um ciclo. A concepção de tempo do
Santo Agostinho respondia à indaga- cristianismo e a visão psicológica por parte
ção sobre o que é o tempo da seguinte de Santo Agostinho assemelham-se em alguns
forma: ``se ninguém me perguntar, eu sei; aspectos às concepções de Plotino, ou seja, a
se o quiser explicar a quem me fizer a pergun- análise psicológica do tempo em detrimento da
ta, já não sei’’. Discuta sobre esse comentário a análise física.
cerca da dificuldade de uma definição precisa do Durante a Idade Média, as concepções
tempo.
de tempo variaram entre as concepções
anteriormente visitadas, especialmente com a
invenção e difusão do relógio mecânico, no século XIV, em
CUr iOsidade
que houve uma expansão da noção laica do tempo.
Você sabia que muitos te- Assim, surgiu uma oposição religiosa ao tempo mar-
ólogos criticaram e condenaram o uso cado pelos relógios, utilizando-se da marcação de um tem-
do relógio, por conceberem que essa po eclesiástico, ou seja, baseado nas festas religiosas e nos
máquina usurpava o direito divino da momentos destinados às orações. No mais, a cronologia
medida do tempo? aceita nessa época baseava-se na Bíblia. A próxima trans-
formação importante na noção de tempo, que marca um
início de mudança de paradigma, ocorre a partir de Galileu, com sua noção de tempo
abstrato, concebido como um parâmetro ou uma variável física que vale para todo e
qualquer movimento. A partir de Galileu, a noção de tempo se desvinculará da sua
relação com a alma, numa análise a partir de uma perspectiva física.
Isaac Newton, que nasceu um ano após a morte de Galileu, em 1642, proporcio-
nou uma nova percepção dos movimentos planetários que transformou a cosmologia
numa ciência moderna. Ele apresentou o primeiro modelo matemático para o tempo e
para o espaço em seu Principia Mathematica, publicado em 1687. Newton escreveu no
Principia: “o espaço absoluto, na sua natureza própria, sem relação a algo de externo, fica se-
melhante e imóvel; e o tempo, absoluto, verdadeiro e matemático decorre, por si e pela própria
natureza, igualmente sem relação a algo de externo”.
No modelo de Newton, tempo e espaço constituíam um pano de fundo em que
os eventos ocorriam, mas não eram afetados por eles. O tempo era distinto do espaço
e considerado uma linha única, ou trilho de um trem, infinito em ambas as direções
(Hawking, 2001), conforme pode ser verificado na figura 01. Assim, o tempo era con-
siderado eterno, no sentido de que sempre tinha existido e de que existiria para sempre.
Newton defendia então a idéia de tempo absoluto, um tempo real, separado do espaço
e desvinculado dos acontecimentos. Esse tempo passaria no mesmo ritmo em todos os
lugares do universo, aconteça o que acontecesse.

40 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


eXemplO:
Seria como se um minuto de uma pessoa utilizando a internet no
Japão fosse exatamente igual ao minuto de uma pessoa dormindo no Brasil.
Ou seja, o tempo é o mesmo independente do lugar em que estamos ou da ativi-
dade que estejamos desenvolvendo. Isso significa dizer que o que chamamos de ‘agora’
é o mesmo em todo o universo e que ninguém pode caminhar de modo mais rápido ou
mais lento no tempo.

Para Newton, as nossas medições cotidianas do tempo (hora/dia/ano) eram con-


sideradas tempo comum.

as voltas são CoMplExas ou


sisplEMEntE iMpossívEis?

linHa prinCipal lEvando do


passado ao Futuro

o tEMpo podE pEgar uM dEs-


vio para o passado?

ModElo do tEMpo CoMo uM trilHo dE trEM (Hawking, 2001)

A idéia de tempo absoluto desencadeia a problemática de que precisamos utilizar


acontecimentos reais que nos dêem alguma idéia prática da passagem do tempo, ou seja,
coloca-se a questão: como medir o tempo absoluto? O próprio Newton não conseguiu dar
uma definição apropriada de tempo, pois o simples fato de dizer que ele é absoluto não

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 41


responde a questão. Isso teria impe-
dido Newton de usar o tempo em sua
matemática e em seus estudos sobre
o movimento. Assim, retoma os es-
tudos de Galileu e postula três leis, as
chamadas leis do movimento. A par-
tir daí, demonstra então que as leis do
movimento eram governadas por ou-
tra lei que explicava como a força da
gravidade mantinha tudo junto21. E,
desse modo, ele revolucionou a forma
com as pessoas entendiam o universo.
gottFriEd lEibniz sir isaaC nEwton
(1646 - 1716) (1643 - 1727) Já Leibniz considerava o tempo como
uma relação – tempo relacional (a or-
dem universal das mudanças, a ordem de sucessões). Era contra a concepção realista do
tempo, por isso buscou recuperar um tempo inseparável das coisas ao concebê-lo sim-
plesmente como relação entre coisas não simultâneas; como ordenação entre as mesmas
segundo relações de ‘antes’ e ‘depois’.
Embora seja evidente a polêmica entre a concepção de tempo de Leibniz (relacio-
nista) e de Newton (absolutista), elas compartilham algumas propriedades do tempo,
uma vez que ambas o consideram contínuo, homogêneo, ilimitado, fluente, único e
isotrópico. Muito embora as leis de Newton não explicassem a causa da força da gra-
vidade, não sofreram contestações durante duzentos anos. Até que em 1905, Albert
Einstein derruba por completo a idéia de tempo absoluto além de apresentar uma idéia
que poderia explicar o que causa a gravidade. Assim, Einstein demonstrou que os ob-
jetos em movimento não apenas indicam a passagem do tempo, mas também a torna
mais lenta5.
Ainda na época de Newton, sabia-se que para compreender a natureza do tempo
era essencial o entendimento da natureza da luz. Du-
rante muitos séculos procurou-se entender se a luz
era uma corrente de minúsculas partículas ou uma
série de ondas. Newton defendeu a primeira hipó-
tese durante vários anos, até que as experiências co-
meçaram a indicar que a luz era, de fato, uma forma
de onda. E, como as ondas precisariam de um
meio para se propagar, alguns cientistas
apresentaram a idéia de um éter que
o tEMpo dE preencheria o espaço. A teoria de Einstein demons-
nEwton é sEpara- trou que o éter não existia e que, como a velocidade da
do do Espaço, CoMo luz era constante, ela afetava o tempo. Mostrou ainda
sE FossE uMa FErrovia
que a luz é, ao mesmo tempo, onda e partícula.
quE sE EstEndE até ao
inFinito EM aMbas as
Einstein apresentou uma explicação sobre o
dirEçõEs. funcionamento do universo com duas novas idéias,
(Hawking, 2001). que compõem a teoria da relatividade especial. Primei-
5
Snedden, 1996.

42 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


ra, que as leis da física, o conjunto de regras que traça tal funcionamento era a mesma
para todos os observadores em qualquer ponto do universo. Segunda, que a velocidade
da luz no vácuo é sempre constante. Assim, estaria eliminando a idéia de tempo abso-
luto. A teoria da relatividade especial de Einstein não incluía a gravidade.
Em 1916, Einstein publica a teoria da relatividade geral, que então incluía a gra-
vidade e envolvia a questão do espaço-tempo. Segundo ele, o espaço-tempo é curvado
pelos objetos que estão nele. Quanto maior a massa do objeto, mais o espaço-tempo se curva
ao seu redor.
De acordo com ele, os objetos seguem trajetórias mais curtas possíveis através
do espaço-tempo curvo. Dessa forma, a relatividade geral combina a dimensão tem-
poral com as três dimensões do espaço para formar o que se denomina espaço–tempo
.Como visto, a teoria incorpora o efeito da gravidade, afirmando que a distribuição de
matéria e energia no universo deforma e distorce o espaço-tempo6, fazendo com que
este não seja plano. Os objetos nesse espaço-tempo tentam mover-se em linhas retas,
mas, como o espaço-tempo é curvo, suas trajetórias parecem arqueadas. Eles se movem
como que afetados por um campo gravitacional7 , conforme figura 02. À medida que
na teoria da relatividade tempo e espaço estão intrinsecamente entrelaçados, não se
pode curvar o espaço sem envolver também o tempo. Isso significa dizer então que o
tempo possui uma forma. Segundo Hawking, ao curvar espaço e tempo, a relatividade
geral transforma-os de um pano de fundo passivo contra o qual ocorrem os eventos em
participantes dinâmicos e ativos dos acontecimentos.
A idéia do caráter absoluto do tempo defendido por Newton foi dominan-
te na filosofia moderna, o que inclui o pensamento de Kant, que introduziu
uma nova forma de pensar a questão do tempo.

at i v i d a d e s

• Disserte sobre a abordagem de Einstein da relação intrínseca de


tempo/movimento, tempo/espaço.
• Se num “tribunal histórico” você assumisse a função de um promotor,
sobre a assertiva de que o tempo é absoluto, quais seriam os pontos fortes de
acusação?

Enquanto Newton considerava o tempo eterno, a maioria das pessoas acreditava


que o universo físico tinha sido criado mais ou menos no estado atual apenas alguns
milhares de anos atrás. Isso muito preocupava Kant. Pois em sua lógica, se o universo
foi realmente criado, por que tinha havido uma espera infinita antes da criação? Por
outro lado, se o universo sempre tinha existido, por que tudo que ia acontecer já não
tinha acontecido, de modo que a história tivesse terminado? Além dessas, Kant le-
vantou outras questões sobre essa problemática (Hawking, 2001). E, por parecer uma
contradição lógica, sem solução, Kant denominou esse problema de “uma antinomia da
razão pura” (Kant, 1943; Hawking, 2001).

6
(Hawking, 2001).
7
(Hawking, 2001).

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 43


Em seus ensaios sobre o entendimento hu-
mano, em 1690, John Locke defende que todas
as idéias têm origem na experiência sensível. Seria a
partir dos dados da experiência que, por abstração, o en-
tendimento ou o intelecto produzem idéias. Desse modo,
a razão humana é vista como uma folha em branco sobre a
qual os objetos vão deixar sua impressão sensível que será
elaborada, por meio de certos procedimentos mentais, em
idéias particulares e idéias gerais.
No empirismo Lockiano, todas as nossas idéias pro-
vêm de duas fontes: a sensação e a reflexão. A sensação
apreende impressões vindas do mundo externo, enquan-
to a reflexão seria o ato pelo qual o espírito conhece suas
próprias operações. Visto dessa forma, as idéias podem
ser simples e complexas. As idéias simples seriam aquelas
que se impõem à consciência na experiência sensível e são
irredutíveis à análise e, ao correlacionar idéias simples, o espírito
constituiria as idéias complexas.
a ForMa E dirEção O filósofo escocês David Hume, num aprofundamento des-
do tEMpo, sEgundo
EinstEin sa questão, afirma que as relações são exteriores aos seus termos.
(Hawking, 2001). Seriam modos que a natureza humana tem de passar de um termo
a outro, de uma idéia específica à outra. Para Hume, esses modos são fruto do hábito ou
da crença. Assim, uma criança, ao seguir para a escola todos os dias, poderia assumir
que amanhã também irá para a escola mesmo sendo sábado ou domingo, muito embora
o que observamos seja uma seqüência de eventos, sem nexo casual. O hábito criado por
meio da observação de fatos semelhantes, a partir do que imaginamos que este caso se
comporte da mesma forma que os outros, faz-nos ultrapassar o dado e afirmar mais do
que pode ser alcançado pela experiência. Assim, a única base para as idéias ditas gerais
seria a crença que, do ponto de vista do entendimento, faz uma extensão ilegítima do
conceito.
Influenciado pelas idéias de Hume, Kant procura uma explicação que supere a
dicotomia representada pelo ceticismo empírico e pelo racionalismo. Então, chega à
conclusão de que há duas fontes de conhecimento: a sensibilidade, que nos dá os objetos,
e o entendimento, que pensa esses objetos. E é somente pela conjugação das duas fontes
que seria possível ter a experiência do real.
A partir disso, Kant (1943, 1991) apresenta as formas ou conceitos a priori (anterio-
res à experiência), que seriam as condições universais e necessárias para o aparecimento
de qualquer coisa à percepção humana e para que esse aparecimento se torne progres-
sivamente mais inteligível ao entendimento. As formas são constitutivas de toda nossa
experiência de mundo, de todo nosso conhecimento. Para Kant, isso significa dizer

44 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


que não somos folhas em branco, sobre as quais os objetos deixam
suas impressões, mas, como sujeitos do conhecimento, ajudamos a
construí-lo, colaboramos com nosso modo de perceber e entender
o mundo. A conseqüência disso seria o fato de que só conhecemos
os fenômenos enquanto se relacionam a nós, sujeitos, e não à rea-
lidade em si, tal qual é, independente da relação de conhecimento.
Assim, para Kant, a categoria tempo, juntamente à categoria
espaço, seriam formas a priori ou síntese a priori8 da sensibilidade,
porque a nossa percepção dos objetos sensíveis sempre os relaciona
a um espaço, isto é, os objetos se posicionam mais para frente ou
mais para cima, à direita ou à esquerda de outros objetos que to-
mamos como referência.
Ao mesmo tempo, classificamos essa percepção como sendo
anterior, posterior ou simultânea a outras. Kant (1991) escreve: O
tempo não é um conceito empírico abstraído de qualquer experiência. iMManuEl kant (1724-1804)
Com efeito, a simultaneidade ou a sucessão nem sequer se apresentaria à percepção se a repre-
sentação do tempo não estivesse subjacente a priori. Somente a pressupondo pode-se representar
que algo seja num e mesmo tempo (simultâneo) ou em tempos diferentes (sucessivos).
Ainda Kant (1991): O tempo é uma representação necessária subjacente a todas intui-
ções. Com respeito aos fenômenos em geral, não se pode suprimir o próprio tempo, não obstante
se possa do tempo muito bem eliminar os fenômenos. O tempo é, portanto, dado a priori. Só
nele é possível toda a realidade dos fenômenos. Estes podem todos em conjunto desaparecer,
mas o próprio tempo (como a condição universal da sua possibilidade) não pode ser suprimido.
As formas relacionadas como causa e efeito, substância e atributo, estariam clas-
sificados, segundo Kant, nas formas a priori do entendimento puro . Resumindo, o
tempo para Kant é uma representação necessária que está na base de todas as nossas
intuições. Contrapõe-se aos pensamentos newtoniano e leibniziano, quando nega ao
tempo o caráter de coisa e de relação, respectivamente. Por sua vez, assemelha-se a
essas duas linhas de pensamentos quando considera que o tempo não possui realidade
extramental como coisa em si (Leibniz) e aparece como um marco vazio (Newton).
Assim, o tempo seria uma intuição pura, transcendental da sensibilidade. O tempo
seria transcendentalmente ideal e empiricamente real, como condição de objetividade.
O pós-kantiano e principal filósofo do idealismo alemão, Hegel, não trata em
seus estudos diretamente da questão do tempo, mas descreve
em sua obra, Fenomenologia do espírito, o desenvolvimento de at i v i d a d e
todas as formas possíveis de consciência, até se tornar possí-
vel a consciência não apenas dos fenômenos, mas da realida- O que seria o tempo do movimento
de em si, identificada quer com o conhecimento do absoluto de rotação de um planeta em torno do
quer com o ‘momento’ em que o ‘espírito’ finalmente atinge Sol segundo as concepções de:
o conhecimento de si. Embora esse fim desejado nunca seja • Newton
referido senão em termos muito vagos, a citada obra de Hegel • Kant
8
(Kant, 1943).
9
(Aranha et al, 1992).

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 45


contém análises da fragilidade da autoconsciência e, em especial, do modo como ela
depende do reconhecimento dos outros. Assim, a emergência do ‘espírito’ individual,
que contrasta com a pluralidade de uma multiplicidade de espíritos, é justificada pela
natureza social da autoconsciência. Enfim, Hegel, ao apresentar a idéia de uma supera-
ção das separações entre sujeito e objeto, entre o eu e a natureza, introduz o entendido
em que desaparece a questão do tempo como marco formal dado previamente aos
acontecimentos.
De fato, para Hegel, o tempo é o devir intuído, o princípio mesmo do eu em
mim mesmo; é a pura autoconsciência. A análise hegeliana se vincula ao aristotélico e
destaca a inseparabilidade do espaço e do tempo; porém, no conjunto de sua concepção,
o tempo aparece somente como o desdobramento da idéia, em si mesma atemporal, de
forma que a temporalidade seria somente a manifestação da idéia e do espírito.
Dentre os pensadores que compõem a transição do século XIX para o século XX
e que abordam a questão da temporalidade, destaca-se Henri Bergson (1953, 1971),
com um pensamento fortemente espiritualista, que se inscreve no contexto da crítica
ao positivismo, a psicologia associativa e ao neokantismo. Destaca-se pelo seu enfoque
vitalista e pelo interesse pelo evolucionismo. Assim, era hostil ao materialismo, ao
mecanicismo e ao determinismo, mas aceitava a evolução, embora a concebesse como
algo guiado por uma força criadora, ou impulso de vida original (o elã vital), em vez do
processo cego da seleção natural.
Nas idéias de Bergson, destaca-se a natureza contínua da experiência e a natureza
artificial das divisões que impomos com o intelecto; o fluxo da vida torna-se o datum
primeiro, viciado pelas filosofias partidárias do mecanicismo e do cientificismo. Esse
fluxo seria um processo ativo de mistura, ou um tempo puro, noção muito diferente do
tempo abstrato das ciências naturais. Essa diferença é recorrente na análise bergsonia-
na da memória, segundo a qual esta retém a totalidade do passado no presente, sendo
o cérebro uma espécie de censor que seleciona apenas as apreensões do passado que são
úteis na ocasião presente. De forma análoga, no entendimento de Bergson, as teorias
das ciências naturais, que pretendem ser teorias completas da realidade, deveriam ser
mais rigorosamente encaradas como reflexões parciais e limitadas acerca do modo de
funcionamento da mente.
Bergson toma com ponto de partida
de sua análise sobre a temporalidade a crí-
tica às considerações positivistas acerca dos
fenômenos psíquicos, mostrando como es-
tas prescindem da noção de tempo ou ain-
da a reduz a uma forma de espaço, uma vez
que estuda os estados de consciência como
se fossem fatos exteriores, medindo-os e
tratando-os quantitativamente e, sobretu-
do, ordenando-os da mesma forma como
se organizam as coisas no espaço.
Para Bergson, o tempo quantitativa-
gEorg w. F. HEgEl HEnri bErgson
(1770 - 1831) (1859 - 1941)
46 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
mente expresso em termos de espaço, dividido em instantes, medido na sua ordem de
sucessão, é apenas um aspecto superficial, artificialmente construído pela nossa inte-
ligência. Para ele, a verdadeira essência do tempo seria de caráter qualitativa, seria a
apreensão imediata e intuitiva de um eterno fluir, ou de algo que dura, dentro e fora de
nós. Isto é, o tempo seria essa duração, irredutível a fórmulas e a grandezas mensurá-
veis, apreensível apenas pela intuição.
Desse modo, para Bergson os fenômenos psíquicos possuem um caráter qualitati-
vo e, portanto, não podem ser medidos quantitativamente. Ainda, diz que cada intui-
ção, como qualidade, é irreversível e, portanto, não poderia se ordenar numa instância
reversível e homogênea, uma vez que se fundem formando um fluir único, a duração.
Isso significa, então, uma evidente marcação de Bergson entre o tempo físico, contem-
plado pela ciência (qualificado como falsificado por Bergson) e o tempo autêntico, a
duração da vida interior da consciência. Em outras palavras, o tempo das ciências, para
Bergson, é somente uma forma de espaço, ou seja, é sempre homogêneo, isotrópico e
reversível. Enquanto que o tempo que a intuição capta é heterogêneo e irreversível.
Foi polemizando a filosofia de sua época e num enfrentamento explícito a Eins-
tein que Bergson elabora sua idéia fundamental (núcleo de sua filosofia), isto é, a noção
de duração (Bergson, 1971). Resumidamente, quer dizer que não somente o homem
percebe a si mesmo como duração (durée réelle), como também a realidade inteira é
duração e elã vital. Bergson, ao valorizar a intuição contra o intelecto, considera então
que este último é incapaz de apreender a realidade em seu sentido mais profundo e de
explicar nossa experiência. Utiliza-se dessa distinção para analisar o tempo, o que o
leva a distinguir entre tempo e duração. A duração seria, então, o tempo real, ou seja,
aquele que só poderia ser apreendido intuitivamente e não como sucessão temporal.
Sintetizando, pode-se considerar na tese de Bergson três importantes pontos, de acor-
do com Andrade (1971):

I) como reconhecimento de que a verdadeira essência do tempo, qualitati-


vamente e contínua, não é suscetível de expressão espacial, nem pode ser
medida por unidades descontínuas que traduzem números, quantidades ou
sucessão;
II) como demonstração de que, essencialmente, o tempo é duração, e duração
pura, ou constante fluir que desconhece o instante e a parada, a descontinui-
dade e a limitação;
III) como consagração da importância primordial do tempo em tudo aquilo
que representa vida, movimento, evolução criadora em geral – e, em parti-
cular, atividade consciente e vida mental.

Bergson enfrentou, dentre outras, a oposição do filósofo Gaston Bachelard, que


considera a duração como mera construção mental, pois somente o instante seria apre-
endido psicologicamente. No entanto, para Bergson, a duração seria uma realidade
psicológica. Além desse ponto incomum, alimentava o debate entre ambos a maneira
de apreender a natureza da simultaneidade. Segundo Bachelard (1994), assemelha-se à

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 47


Para Bachelard10, a continui- instantaneidade. Já, para Bergson, à continuidade.
dade seria “o resultado de superposições A idéia da ‘dialética da duração’ representa um as-
temporais”. Como ressalta: “O tempo tem pecto primordial da tese de Bachelard sobre o tempo,
várias dimensões; o tempo tem uma espessura. Só que visa sobretudo à tentativa de entender as experiên-
aparece como contínuo graças à superposição de cias temporais dos humanos. Assim, para este filósofo, a
muitos tempos independentes. Reciprocamente, única realidade temporal é a do instante, ou seja, o tem-
qualquer psicologia temporal unificada é necessa- po é fundamentalmente descontínuo. Dilthey11 também
riamente lacunar, necessariamente dialética”. se ocupa com a problemática do tempo, todavia consi-
derando-o como história. Crítico da explicação casual e
racionalista do positivismo, procurou entender a realidade humana que seria, segundo
ele, essencialmente social e histórica. Assim, a vida seria uma realidade que não pode-
ria prescindir da história, conseqüentemente, o tempo é entendido não somente como
um marco do qual poder-se-á ordenar, analisar e explicar os fatos englobando-os em
etapas históricas ou, ainda, considerá-lo a priori ou a posteriori, mas emergente com a
vida em si mesma em seu acontecer histórico, em sua realidade concreta. Configura-se,
então, como uma tentativa de incluir o tempo como uma livre criação histórica.
Atuando ao mesmo tempo como resposta ao historicismo e ao positivismo, numa-
evidente aproximação com as idéias de Bergson sobre as questões do tempo, apresenta-
se a fenomenologia de Husserl12. A fenomenologia não se interessa por argumentos,
mas sim pela descrição precisa de fenômenos, do que aparece, do que acontece ante a
consciência cognoscitiva.

eXemplO:
Como descrever o computador? Como é que, ao vê-lo, sabemos que é
um computador? O que se passa precisamente neste ato de conhecimento? O
que é que está subentendido nesse reconhecimento, pelo qual podemos dar a
um fenômeno particular o nome de uma essência geral? O que se passa precisa-
mente quando se formula um juízo, quando se diz que isto é aquilo? A fenomeno-
logia só se ocupa das essências, entendidas como o objeto do ato de conhecimento.

Husserl busca o fundamento da filosofia na consciência. Para ele, não se estabe-


lece uma ciência natural da consciência sem uma fenomenologia da consciência, isto é,
uma análise, uma descrição dos fenômenos dados a consciência, ou seja, as vivências.
Baseado nesse pressuposto, Husserl (1964) defende a distinção entre um tempo físico
e um tempo fenomenológico, de forma análoga à defendida por Bergson. O tempo
físico, segundo Husserl, obedece às leis naturais e responde à consideração da natu-
reza física como unidade espaço-temporal conforme o antes e o depois de cada acon-
tecimento. Já o tempo fenomenológico remarcará a unidade das vivências, ou seja, a
duração, tratando-se desse modo do tempo interno da consciência. Isto quer dizer que
10
Bachelard, 1936.
11
Wilhelm Dilthey (1833-1911). Filósofo, crítico literário e historiador alemão.
12
Edmund Gustav Albert Husserl (1859-1938). Matemático alemão e principal fundador da fenomenologia.

48 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


não seria outra coisa senão a vi-
vência, seu fluir continuado.
As vivências em si seriam a
própria temporalidade, que se
mantendo inseparáveis entre
si formam um fluxo do vivido,
ou seja, a duração real. Assim,
para Husserl, a temporalidade
não é algo desconhecido da
consciência, mas ao contrário,
é por ela fornecida.
Dois outros filósofos que
contribuíram para a compreen-
são da noção de tempo e que Martin HEidEggEr MauriCE MErlEau-ponty
(1889 - 1976) (1908—1961)
merecem destaque são: Martin
Heidegger e Maurice Merleau-Ponty. Ambos discípulos de Husserl e que, além de ado-
tarem algumas de suas idéias, criaram uma nova ontologia, superando o realismo e
o idealismo. Tanto Heidegger quanto Merleau-Ponty afirmam que as duas posições
estão equivocadas e que são “erros gêmeos”, cabendo à nova ontologia superá-lo, isto é,
resolver o problema (Heráclito-Parmênides, Platão-Aristóteles e Kant-Husserl)13. Se-
gundo Chauí (2002), a nova ontologia parte da afirmação de que estamos no mundo e
de que o mundo é mais velho do que nós (isto é, não esperou o sujeito do conhecimento
para existir), mas, simultaneamente, de que somos capazes de dar sentido ao mundo,
conhecê-lo e transformá-lo. Assim, seríamos seres temporais, pois nascemos e temos
consciência da morte. A ontologia preocupa-se com as essências antes que sejam fatos
das ciências explicativas, desse modo, enquanto perguntamos: “que horas são?” A onto-
logia indaga: “o que é o tempo? Qual a essência da temporalidade?” 14
Em uma das suas principais obras, Ser e Tempo (Heidegger, 1962; Nunes, 2002),
Heidegger apresenta um afastamento da filosofia do então mestre, na evidente procura
do seu próprio caminho de reflexão sobre o sentido da existência humana, as origens da
metafísica e o significado de sua influência na formação do pensamento ocidental. Ele
pretendia aplicar uma metodologia fenomenológica ao estudo do ser, de seu sentido,
de sua verdade. Procura nessa obra a relação existente entre o ser e o tempo, ou seja,
determinar o sentido do ser mediante a análise fe-
nomenológica das diferentes modalidades de nos- at i v i d a d e
sa presença no mundo (dasein: ser-aí, existência).
Faça um paralelo da concep-
As reflexões de Heidegger sobre a condição
ção da “duração de tempo” segundo
do dasein esbarram com a contingência de seu nas- a teoria de Bergson, Bachelard e Husserl
cimento (passado) e com a inelutabilidade da mor-

13
Chauí, 2002; Merleau-Ponty, 1975.
14
Chauí, 2002.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 49


te (futuro), resultando no sentimento autêntico de finitude, que seria a real condição
humana (Japiassú e Marcondes, 1996). A temporalidade pode, desse modo, abranger o
homem em seu ser como um todo porque se remete (e nos remete) à morte, assumida
contra a tendência para encobri-la no envolvimento do cotidiano. Heidegger traça uma
distinção entre a concepção tradicional de tempo (os acontecimentos se sucedem uns
ao outros), qualificado como uma compreensão vulgar do tempo (por não se tratar de
uma noção que surge da existência) e a temporalidade que tem uma validade como
critério ontológico, que não concebe o tempo como algo preexistente, mas que surge da
própria estrutura do ser-aí. Dessa forma, não caberia, segundo Heidegger, diferenciar
um antes, um agora e um depois (passado, presente e futuro).
Numa vida filosófica notoriamente dedicada às questões da temporalidade e do
ser, Heidegger as tem inclusive no momento do seu enterro, em 1976, aos 87 anos,
quando seu filho lê o poema escrito e escolhido pelo próprio Heidegger para tal fi-
nalidade: “Fecha-se o tempo. Começa a eternidade. Aquele que em vida tanto fora ator-
mentado pelo problema do ser, vê agora – para sempre – o ser supremo” 15. Merleau-Ponty
(apud Chaui, 2002) apresenta um estudo sobre a essência ou o ser do tempo, mos-
trando que estamos acostumados a considerar o tempo como uma linha reta, feita da
sucessão de instantes, ou como uma sucessão de ‘agoras’ que já foi é passado, o ‘agora’
que está sendo é o presente, um ‘agora’ que virá é o futuro.
Ele contesta o realismo, que representa o tempo com a imagem de um rio como
algo que passa sem cessar: a nascente seria o passado, o lugar onde me encontro seria
o presente e a foz seria o futuro. Haveria dois enganos nessa imagem do tempo. O
primeiro, ao utilizar-se de uma imagem espacial para referir-se ao que é temporal. O
segundo, ao dizer que a imagem do rio corresponde ao escoamento do tempo, pois para
assim ser seria necessária que estivesse invertida. Isso significa que, a água que está na
nascente é aquela que ainda não passou onde estou (seria então o futuro para mim) e
a água que está na foz, que já passou pelo lugar que estou, seria então o passado e não
o futuro.
Os idealistas diriam que o tempo é a forma do sentido interno, ou seja, uma for-
ma criada pelo sujeito do conhecimento ou pela consciência reflexiva para organizar
a experiência subjetiva da sucessão. O tempo não existiria, mas seria uma idealidade
produzida pela razão, um conceito subjetivo para estruturar o que é experimentado
como sucessivo.
Nesse caso, também há um engano, pela análise ontológica de Merleau-Ponty,
pois se o tempo fosse um conceito produzido pela consciência reflexiva para organizar
a sucessão, não haveria sucessão a organizar, pois a consciência ou o sujeito do conhe-
cimento opera sempre com o que é atual. Para a reflexão, só existe a simultaneidade e a
sucessão se reduz a uma experiência psicológica ou empírica. E aqui caberia a indaga-
15
Valle, 1996.

50 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


ção: o que é vivenciar o próprio tempo?
Quando vivenciamos o presente, at i v i d a d e
ele se configura como uma situação na
Discuta sobre a seguinte dedução
qual sentimos, fazemos, dizemos, pen-
dessa reflexão: Isso significa dizer que o
samos e atuamos, obtendo experiências
passado não é algo que vem antes do pre-
de uma situação aberta, ou seja, na qual sente, mas algo qualitativamente diferente, pois
muitas coisas são possíveis de acontecer. um é aberto enquanto o outro é fechado (Chauí,
Ao passo que, quando recordamos do 2002).
passado, percebemos que ele se difere do
presente porque o que recordamos não é uma situação aberta, mas fechada e terminada.
Isso significa dizer que o passado não é algo que vem antes do presente, mas algo
qualitativamente diferente, pois um é aberto enquanto o outro é fechado (Chauí, 2002).
Na seqüência da análise, o futuro não é simplesmente o que vem depois do pre-
sente, mas algo diferente a medida que é o que poderá ser, se as aberturas do presente
se concretizarem. Dessa forma, passado e futuro nunca são os mesmos, enquanto o
presente é uma contração temporal que arranca o passado do esquecimento e abre o
futuro para o possível. Numa continua análise ontológica do tempo, Merleau-Ponty
continuaria a indagar sobre o que é recordar (referindo-se ao passado) e o que é esperar
(referindo-se ao futuro). Sendo que no primeiro caso, para ele, recordar é captar no
contínuo temporal uma diferença real entre o que estamos vivendo no presente e o que
estamos vivendo no passado. Por outro lado, esquecer é perder a fisionomia ou o relevo
de um momento do passado. Por sua vez, o esperar é buscar no contínuo temporal uma
diferença possível entre o que estamos vivendo e o que estamos vivenciando do futuro.
Finalmente, Merleau-Ponty, coloca sua noção de tempo que seria entendido da
seguinte forma: como um escoamento interno e externo, um fluir contínuo, que vai
produzindo diferenças dentro de si mesmo; como uma contração e uma dilatação de
si mesmo, um juntar-se a si mesmo e consigo mesmo (na lembrança) e um expandir-
se a si mesmo e consigo mesmo (na esperança). O tempo é a produção de identidade
e da diferença consigo mesmo e, nesse sentido, é uma dimensão do meu ser (não estou
no tempo, mas sou temporal) e uma dimensão de todos os entes (não estão no tempo,
mas são temporais): O tempo não é um receptáculo de instantes, não é uma linha de momen-
tos sucessivos, não é a distância entre um ‘agora’, um ‘antes’ e um ‘ depois’, mas é o movimento
interno dos entes para reunirem-se consigo mesmos (o presente como centro que busca o passado
e o futuro) e para se diferenciarem de sim mesmos (o presente como diferença qualitativa em
face do passado e do futuro (Merleau-Ponty).
Resumidamente, o ser é tempo, conforme já dito por Heidegger. Assumindo a
posição de caráter irreversível do tempo e, portanto, contrapondo-se à ciência clássica,
encontra-se Ilya Prigogine. Segundo esse pensador, a questão do tempo está na encru-
zilhada do problema da existência e do conhecimento e seria a dimensão fundamental
de nossa existência, mas também estaria no coração da física, pois foi a incorporação do

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 51


tempo no esquema conceitual da física galileana o ponto de
partida da ciência ocidental. Se por um lado isso representa
um triunfo do pensamento humano, por outro, segundo Pri-
gogine “ dá origem ao problema do paradoxo do tempo” Tendo
em vista a incorporação do tempo pelas leis fundamentais da
física, da dinâmica clássica de Newton até a relatividade e a
física quântica, Prigogine considera que o tempo só poderia
mesmo ser considerado, como afirmava Einstein, ou seja,
uma ilusão. Essa idéia ainda é a mais aceita, principalmente
entre os físicos, o que coloca a questão em nível da descrição
fundamental da natureza, negando a flecha do tempo.
É nesse sentido que se coloca a crítica de Prigogine:
“Como poderia a flecha do tempo emergir de um mundo
a que a física atribui uma simetria temporal?” De acordo
com Prigogine, esse seria o paradoxo do tempo16, que transpõe
para a física o que ele chama de “dilema do determinismo”.
Desde Boltzmann, a flecha do tempo teria sido relegada ao
ilya prigoginE (1917-2003)
domínio da fenomenologia, mas para Prigogine “a tese de que
a flecha do tempo é apenas fenomenológica torna-se absurda. Não somos nós que geramos a
flecha do tempo. Muito pelo contrário, somos seus filhos”. Assim, enquanto a ciência clássica
fundamenta-se numa noção de reversibilidade do tempo, que dificulta a aliança com as
ciências humanas, a ciência contemporânea considera a irreversibilidade fundamental e
dá uma nova importância para a irreversibilidade temporal, como criadora de novidade
e de diversidade. Resumindo, essa nova ciência desenvolve-se em sentido contrário ao
determinismo clássico e ao reducionismo de todos fenômenos às leis mecanicistas. É
notório, nesse aspecto, a influência do pensamento de Bergson nas idéias de Prigogine,
ou seja, na proposição de uma nova aliança entre as ciências naturais e humanas, que
procura reintroduzir o homem na temporalidade, então excluída na ciência clássica.
A noção de tempo irreversível é relativamente nova, uma vez que nas culturas
antigas predominava a noção de tempo circular, oriundo das constatações do caráter
cíclico das marés, das estações do ano etc. O crescimento, envelhecimento e morte se
constituíam num marco de um tempo cíclico, considerando-se a possibilidade de um
retorno (Eliade, 1969). Em seus estudos sobre alguns ritos e crenças sobre a renovação
do tempo, Eliade (1969) verifica que, na maioria das sociedades primitivas, o ‘ano novo’
equivale à supressão do tabu da nova colheita. Quando se cultivam várias espécies de
cereais ou frutos, cujo amadurecimento é escalonado por diferentes estações, assiste-se
a várias festas do ano novo. Isso significa que, segundo Eliade, os ‘cortes do tempo’
16
O paradoxo do tempo, segundo Prigogine, só foi identificado tardiamente, na segunda metade do século XIX, com os tra-
balhos do físico Ludwig Boltzmann. Este físico acreditava poder seguir o exemplo de Charles Darwin na biologia e fornecer
uma descrição evolucionista dos fenômenos físicos. Sua iniciativa teve, como efeito, pôr em evidência a contradição entre as
leis da física newtoniana, baseadas na equivalência entre passado e futuro, e toda tentativa de formulação evolucionista que
afirme uma distinção essencial entre futuro e passado. Na época, as leis da física newtoniana eram aceitas como a expressão
de um conhecimento ideal, objetivo e completo. Uma vez que, afirmavam a equivalência entre passado e futuro, toda tentativa
de conferir uma significação fundamental à flecha do tempo aparecia como uma ameaça contra esse ideal (Prigogine, 1996).

52 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


são comandados pelos rituais que regem a renovação das reservas alimentares, isto é,
os rituais que asseguram a continuidade da vida. A adoção de muitas durações atri-
buídas ao ano pelos diversos povos, bem como as variações do início do ano novo45, é
relevante por mostrar essencialmente que em todos os países é conferido um fim e um
início de um novo período de tempo, baseados nas observações, numa necessidade de
uma renovação periódica. Isso, segundo Eliade (1969), coloca objetivamente a adoção
de noção cíclica do tempo, de eterna repetição, mas coloca a problemática da abolição
da história. Conforme já foi mencionado, a concepção de tempo cristã coloca o tempo
como real porque teria apenas um sentido, ou seja, a redenção. Assim, Jesus Cristo
histórico só teria morrido pelos nossos pecados uma vez e não repetidas vezes. Deste
modo, o desenrolar da história é então comandado por um fato único, radicalmente
singular. Baseando-se nessa noção, o destino da humanidade, tal como o destino in-
dividual, é decidido apenas uma vez, num tempo concreto e insubstituível, que é o da
história e da vida. Este tempo é irreversível. Essa noção linear do tempo e da história
foi esboçada no século II por Ireneu de Leão, retomada por S. Basílio, S. Gregório e,
finalmente, elaborada por Santo Agostinho (Eliade, 1969), conforme tratado anterior-
mente na questão do tempo no cristianismo.
Essa questão da reversibilidade do tempo retorna, conforme também já comen-
tado, na física clássica, cujas equações expressam a possibilidade de reversibilidade
temporal. Com o segundo princípio da termodinâmica ao postular que em sistemas
isolados a entropia aumenta, cria-se um critério para decidir a orientação temporal. Por
exemplo, se um objeto se romper em uma grande quantidade de fragmentos, aumen-
tando a entropia, jamais poderá voltar a se recompor de forma espontânea. Segundo as
equações físicas, isso acontece dessa forma não porque seja impossível o objeto se refa-
zer (voltar ao passado), mas porque é altamente improvável. O aumento da entropia nos
permitiria então distinguir o passado e o futuro. Essa constatação é conhecida como a
flecha termodinâmica do tempo.
Da forma até então descrita, parece evidente as idas e vindas da noção de tempo
reversível e irreversível ao longo da história. Para encerrar neste fascículo essa questão,
retornamos a Prigogine. Ele destaca o caráter irreversível do tempo fazendo reflexões
na área da Química, especificamente, verificando os processos de não-equilíbrio, que
estuda processos dissipativos, caracterizados por um tempo unidirecional e, com isso,
confere uma nova significação à irreversibilidade. De acordo com Prigogine (1996):
Precedentemente, a flecha do tempo estava associada a processos muito simples, como a difusão,
o atrito, a velocidade. Podia-se concluir que esses processos eram compreensíveis com o auxí-
lio simplesmente das leis da dinâmica. O mesmo não ocorre hoje em dia. A irreversibilidade
não aparece mais apenas em fenômenos tão simples. Ela está na base de um sem-número de
fenômenos novos, como a formação dos turbilhões, das oscilações químicas ou da radiação la-
ser. Todos esses fenômenos ilustram o papel construtivo fundamental da flecha do tempo. E,
assim, Prigogine nos coloca que a irreversibilidade do tempo não depende somente da

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 53


probabilidade de geração de maior entropia, pois o caráter direcional do tempo e sua
irreversibilidade são inerentes.
Conforme as visitas feitas aos muitos pensadores que oferecem uma noção do
tempo, pode-se constatar que se tornaria uma árdua tarefa eleger uma só noção como
totalmente correta. Essa não é a idéia principal, sobretudo porque há uma comple-
xidade nesse aspecto que é preciso ser considerada, ou seja, a noção de tempo nos é
apresentada em diferentes facetas, que de certo modo dificultam uma comparação
linear.
As noções visitas ora são mostradas como um sistema de relações de ordem seja
como simultaneidade, sucessão, antes e depois, continuidade, descontinuidade etc. Por
vezes, apresenta-se como relações métricas, isto é, como intervalos, instantes, momen-
tos e durações. Pode ser considera por um ponto de vista topológico, uma vez que é
considerada linear, circular ou como uma orientação etc. Ainda, surge como devir
relacionando as dimensões temporais, que por sua vez se relacionam com as noções
de reversibilidade e irreversibilidade. E, desse modo, constituindo-se como vivência
subjetiva, que é socialmente e culturalmente mediatizada.
As diferentes noções de tempo, que ora se apresentam como tempo objetivo e
ora como tempo subjetivo formam uma rede hipertextual complexa. Além disso, a no-
ção de espaço encontra-se intimamente ligada à noção de tempo, o que representa
uma complexidade adicional.
Conforme visto, pela teoria da relatividade de Einstein, espaço e tempo estão
interligados. Em velocidades próximas à da luz, a massa de um corpo aumenta de
forma perceptível, o espaço se contrai e o tempo passa mais devagar. O tempo pas-
sa mais devagar? Como é possível isso? Pode o ritmo do tempo alterar sua pulsação
sob determinadas circunstâncias? O tempo, aliás, pulsa realmente? Aqui talvez seja
preciso exemplificar, mesmo que suscite uma relação perigosa entre a noção de tempo
colocado pela física e a interpretação psicológica desse fenômeno, mas o fato é que
em decorrência do entendimento da contração do tempo colocado por Einstein, parece
existir uma forma de perceber essa colocação no âmbito da vida cotidiana, como por
exemplo, ao analisar a nossa impressão do tempo em diferentes fases da nossa vida. Ou
seja, na infância temos a nítida impressão de que o tempo, de fato, passa mais devagar.
Qualquer criança pode relatar o quão demorado é a duração do tempo até o período
de férias chegar; o natal, sempre ansiosamente aguardado, parece um evento que se
repete muito raramente; o dia do aniversário, então, parece mais um golpe de sorte
quando finalmente desponta. À medida que crescemos a história se inverte. Parece que
o tempo se acelera. Mal repetimos nossas imutáveis resoluções definitivas de ano novo
e as semanas e meses já impõem um ritmo veloz. Quando nos damos conta já estamos
prestes a ultrapassar o primeiro semestre, para logo em seguida nos surpreendermos
com os primeiros acordes de um novo ano. Não diferente, a experiência com o tempo
na terceira idade configura-se em outras dimensões, agora, não tão devagar quanto na

54 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


infância e não mais tão veloz quanto na fase jovem. Apesar dessa mudança de percep-
ção, sabemos que as intermináveis horas da infância contêm os mesmos sessenta minu-
tos da fase adulta ou, ainda, da velhice. A mais provável explicação disso está baseada
na nossa experiência com o tempo. Assim, ao que tudo indica numa visão social do
tempo é a vivência do ser humano que muda a partir de certa idade e não o tempo. Isso
mostra que há uma constante reformulação da nossa noção de tempo. Podemos colher
vários outros exemplos dessa relatividade na percepção psicológica do tempo, mas
que será discutida em outra oportunidade. Como afirma o autor Paul Ricoeur (1994):
“a especulação sobre o tempo é uma ruminação inconclusiva...(...)”.
Mas, e o espaço? O que é o espaço? Você pode perceber que juntamente à noção
do tempo aparece também a noção de Espaço. As noções de espaço-tempo estão re-
lacionadas. Desse modo, também a noção de espaço aparece de diferentes formas, em
diferentes áreas: na geografia, na matemática, na física, na arquitetura etc.
Mas algumas questões são importantes para refletir: o espaço é absoluto ou pu-
ramente relacional? O espaço possui uma geometria ou a geometria do espaço é
somente uma convenção? O espaço pode ser medido ou o espaço é parte do sistema
de medida?

algUns d e f i n i ç õ e s p O s s í v e i s d e e s pa ç O :

• Espaço é parte da estrutura fundamental do universo, um conjunto de dimen-


sões na qual os objetos são separados e localizados, têm tamanho e forma, e
através do qual eles pode ser mover.
• Espaço é a parte de uma estrutura conceitual matemática abstrata (junto com o
tempo e os números) dentro do qual comparamos e quantificamos a distância
entre os objetos, seus tamanhos, suas formas e suas velocidades. Nesse sentido,
espaço não se refere a qualquer classe de entidade que é contenedor, na qual
movem-se através dele objetos.

“Para o homem primitivo, a noção de espaço era um mistério incontrolável.


Para o homem da era tecnológica é o tempo que tem esse papel”
(Marshall MacLuhan17)

at i v i d a d e s

1. Proponha uma linha do tempo para a evolução da noção de tempo-espaço,


citando as respectivas teorias e mentores.
2. Cite duas teorias do tempo que possam ser consideradas como grandes
marcos epistemológicos.

17
Sociólogo e comunicólogo canadense (1911-1980).

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 55


r adiaç ãO e m at é r i a :
Os ingredientes dO UniversO

D e que o Universo é feito? A observação de Hubble e a de Penzias e Wilson enfocaram duas


“coisas” de natureza distinta: a matéria das galáxias, que são formadas por estrelas, planetas e
outros astros, e a radiação. Mas o que são essas duas coisas?
A matéria é constituída, em geral, por átomos, mas pode também se manifestar como elementos
constituintes do átomo em separado, como elétrons, prótons, nêutrons e outros constituintes fundamen-
tais. A propriedade mais característica da matéria é a massa. Ou seja, ela pode ser “pesada” e expressa numa
certa quantidade, mesmo que muito pequena, de quilos.
Já a radiação tem uma natureza bastante diferente. Ao contrário da matéria que normalmente se en-
contra concentrada em algum lugar, a radiação não pode ser concentrada em algum lugar, ela está sempre
em movimento, com a velocidade da luz. Na verdade, a luz é uma forma específica de radiação.
A radiação se apresenta normalmente na forma de ondas, ondas eletromagnéticas que são constituídas
por campos elétricos e magnéticos alternantes. Portanto, ela apresenta, como características fundamentais,
as propriedades de onda como freqüência, amplitude e comprimento de onda.
Na realidade, levando-se em consideração resultados da Teoria da Relatividade e da Mecânica Quân-
tica, radiação e matéria não são tão diferentes. A matéria também apresenta as propriedades de onda e
a radiação pode ser vista como partículas. A matéria pode ser tida como energia concentrada. Contudo,
vamos descrever, nessa seção, a matéria e a radiação tais como as percebemos, e não como realmente são.
A matéria se apresenta para nós, em geral, como algo que podemos ver. Exceto, é claro, os materiais
que são muito transparentes; mas eles não são tão comuns, de forma que podemos ver quase todos os tipos
de matéria. Já a energia é difícil de ser observada a olho nu, ela é essencialmente invisível. Há exceções
também, pois podemos ver a luz branca, a vermelha, a verde, a azul, etc. Mas a luz nessas faixas visíveis a
olho nu representa uma parcela extremamente pequena do conjunto total dos tipos de radiação existentes
no Universo. Portanto, quando nos referimos à matéria e a radiação, estamos falando do visível e do invi-
sível.
Assim, particularmente no caso da radiação, existe todo um Universo que está além de nossa percep-
ção. Contudo, o homem é criativo e foi capaz de construir equipamentos que podem ampliar seu campo
de visão. Na atualidade, aparelhos específicos podem detectar a radiação em praticamente todas as faixas
e convertê-la em imagens observáveis. O homem pode, por exemplo, olhar para o céu e enxergar muito

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 57


mais do que poderia se não fos-
sem tais aparelhos.
Essa habilidade adquirida
por meio da tecnologia é parti-
cularmente útil para os astrôno-
mos, que têm à disposição, nos
dias de hoje, equipamento capaz
de perscrutar o espaço sideral em
praticamente todas as faixas do
espectro eletromagnético.
Espectro Eletromagnético é o
nome que se dá ao conjunto de
diferentes tipos de radiações. O
termo eletromagnético vem do
fato de que as radiações que pre-
enchem o Universo e se deslo-
arranJo dE radiotElEsCópios no cam com a velocidade da luz são ondas constituídas por campos
novo Méxido, Eua. elétricos e magnéticos variáveis, que se alternam com uma fre-
Foto: aMEriCan assoCiation oF
variablE star obsErvErs (aavso). qüência específica (descrita em Hertz, Hz). Dependendo do valor
dessa freqüência, tem-se um determinado tipo de radiação com
diferentes características e possíveis aplicações.
Se a freqüência da radiação for menor que aproximadamente 106 Hz a radiação
eletromagnética é chamada onda de rádio. Nessa faixa estão não somente os sinais de
rádio propriamente ditos, como também os de televisão, FM e celular. Entre aproxi-
madamente, 106 e 1011 Hz, estão as microondas. Esse tipo de radiação é de mesma
espécie que aquela que foi descoberta por Penzias e Wilson e preenche o espaço sideral,
como também a radiação gerada pelos fornos de microondas que temos na cozinha.
Esses dispositivos funcionam porque a freqüência de vibração das moléculas de água
está na faixa de microondas. Assim a incidência desse tipo de radiação num material
que contém água faz com que ele se aqueça.
Entre aproximadamente 1011 e 1014 Hz está a radiação infravermelha, que está
associada ao calor e ao efeito estufa. O calor emitido pelo nosso corpo, por exemplo,
bem como o de praticamente todo objeto situado na superfície da Terra é emitido na
forma de radiação infravermelha.
Já a faixa da luz visível está entre aproximadamente 4 x 1014 e 7,5 x 1014 Hz (reflita
como essa faixa é estreita em comparação com todo o espectro). A luz visível pode ser
dividida em várias sub-faixas correspondentes às cores desde o vermelho (4 x 1014 Hz)
ao azul (7,5 x 1014 Hz).
Entre aproximadamente 1015 e 1018 Hz, está a faixa da ultravioleta, associada ao
câncer de pele e à camada de ozônio. Entre 1018 e 1022 Hz aos raios-x e, acima dos
1022 Hz à radiação gama, que é uma radiação nuclear, ou seja, emitida pelo núcleo dos
elementos radioativos.
Há que se destacar que os valores de freqüência associada a cada uma das faixas é

58 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


relativamente arbitrária e os valores citados devem ser considerados apenas como uma
referência. Detalhes mais profundos os fenômenos relativos a cada um dos tipos de
radiação serão tratados em outros fascículos.
Outra distinção importante entre radiação e matéria é o seu grau de organização.
A radiação nos parece desorganizada, caótica, pois ela, em princípio, se propaga em
todas as direções com a velocidade da luz. Já a matéria é organizada na forma de es-
truturas, pois os prótons, neutros e elétrons formam átomos, que, por sua vez formam
as moléculas dos materiais. Os diversos tipos de materiais formam os planetas e estes,
junto com as estrelas, os sistemas solares e, esses, ainda, as galáxias. Mas por que a
matéria se organiza em estruturas enquanto que a radiação não? Isso pode ser explicado
porque a matéria está sujeita à ação das forças naturais.

uMa CoMposição dE iMagEns


EM raio-x (a), rádio (c) E
visívEl (b E d) da galáxia
CEntaurus a, a 11 MilHõEs
dE anos luz.

Créditos das iMagEns:


raio-x (nasa/CxC/M. karovska Et al.);
radio (nrao/vla/J.van gorkoM/sCH-
MinoviCH Et al.) E (nrao/vla/J. Condon
Et al.); ótiCa (digitizEd sky survEy u.k.
sCHMidt iMagE/stsCi)

(d)

(a) (b) (c)

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 59


Os fatOres OrganizadOres dO U niversO :
as q U at r O f O r ç a s n at U r a i s

A s forças naturais são responsáveis por todos os processos dinâmicos observáveis no Universo e
também a formação da estrutura da matéria. Os cientistas classificam as forças naturais em qua-
tro categorias: gravitacional, eletromagnética, nuclear forte e nuclear fraca (embora a teoria de Weinberg-
Salam classifique as forças eletromagnética e nuclear fraca dentro de uma mesma categoria unificada). Tais
forças se diferenciam em suas características principais e quais são os tipos de fonte (ver tabela).
Todas as forças presentes no mundo e no Universo podem ser classificadas numa dessas categorias.
Por exemplo, a força que sentimos quando alguém aperta nossa mão ou pisa em nosso pé. Mas qual dessas
quatro forças corresponde à dor que sentimos devido ao pisão?
Vamos primeiro, analisar as características das quatro forças antes de responder essa questão.

Força Natural Características fundamentais Fonte

A massa de toda matéria


Gravitacional Sempre atrativa
presente no Universo

Cargas de mesmo sinal se repelem,


cargas de sinal oposto se atraem, Cargas elétricas, como as
Elétromagnética
cargas em movimento produzem de elétrons e prótons.
campos magnéticos

Rege a coesão dos núcleos atômicos, Hádrons, como prótons e


Nuclear Forte
o decaimento alfa e a fissão nuclear. nêutrons

Rege o decaimento beta e a conver-


Nuclear Fraca são matéria/energia Léptons, como os elétrons.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Origem do Universo| 61


Das quatro, aquela que é mais óbvia naquilo que presenciamos é a gravitacional.
Ela é responsável pela organização da matéria em planetas, estrelas e galáxias. Suas
características fundamentais foram “decifradas” por Isaac Newton, no final do século
XVII: é gerada por massas, sempre atrativa e inversamente proporcional ao quadrado
da distância que separa duas massas em interação. Ela pode ser expressa por:

Fg = G mM
r2
onde m e M são duas massas que se atraem, r é a distância entre elas e G é a constante
gravitacional universal (= 6,67 x 10-11 m3kg-1m-2).
Assim, quanto maiores forem as massas (ou seja, quanto mais “quilos” corres-
ponderem os corpos) e quanto menor a distância entre elas, maior a força gravitacional.
Contudo, esta força tem uma intensidade relativamente pequena (o valor de G é peque-
no) o que requer grande quantidade de massa para que os seus efeitos sejam perceptí-
veis. Por exemplo, a gravidade da Terra é perceptível devido à sua grande massa (5,97 x
1024 kg). A gravidade na Lua, devido a sua massa menor, é menos intensa que na Terra.
Se a constante gravitacional fosse maior e, conseqüentemente, a força gravitacional fos-
se mais intensa, corpos de menor massa, como duas pessoas que sentam uma do lado da
outra sofreriam uma atração perceptível. Contudo, pela equação da força gravitacional,
a atração entre duas pessoas de 60 kg situadas a 1 metro uma da outra é de apenas 2,4
x 10-7 Newtons (1 Newton equivale à força necessária para erguer um objeto de 100
gramas), ou seja, desprezível.
Entretanto, apesar de menos óbvia, é a força eletromagnética que rege a maior
parte dos fenômenos que influenciam a nossa vida. Como o nome já diz, ela se compõe
de forças elétricas e magnéticas. As características fundamentais da força elétrica foram
“decifradas” por Charles Augustin de Coulomb (1736 - 1806): cargas de mesmo sinal
se repelem e cargas de sinais opostos se atraem com uma intensidade proporcional ao
produto das cargas e inversamente ao quadrado da distância que as separam:

Fe = K qQ
r2
Neste caso, a constante de proporcionalidade, K, é a constante de Coulomb,
igual a aproximadamente 9 x 109 Nm2/c2.
Note que o valor da constante de Coulomb é bem maior que o da constante
gravitacional universal. Isso aliado ao fato de que os valores das massas das partículas
fundamentais, como os elétrons, é menor que o valor de suas cargas faz com que, por
exemplo, a intensidade da força elétrica entre dois elétrons seja 1042 maior que a força
gravitacional entre eles (verifique isso comparando os valores de Fe e Fg calculados pe-
las equações acima, levando-se em conta que a carga do elétron é 1,6 x 10-19 Coulomb
e sua massa 9,1 x 10-31 kg).
Já a força magnética aparece quando cargas elétricas estão em movimento. O
movimento dos elétrons em torno do núcleo pode fazer surgir um campo magnético
em torno de cada átomo, formando um pólo norte e um pólo sul magnéticos em cada

62 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


átomo. Dependendo de como esses pólos estão orienta-
dos (se a maioria tiver uma orientação preferencial), pode
haver um campo magnético que seja significativo no âm-
bito macroscópico, como no caso de um pedaço de ferro
imantado. Outros fenômenos relevantes devido a forças
magnéticas são as manchas solares e a assim chamada
aurora boreal, que é provocada pela interação entre pró-
tons em movimento (vindos principalmente do Sol) com
o campo magnético da Terra.
É importante lembrar também que as substâncias
são constituídas por átomos e que a estrutura dos átomos
é constituída por um núcleo central envolvido pela ele-
trosfera. Como o tamanho do núcleo é cerca de 100.000
vezes menor que o próprio átomo (imagine como é essa
proporção: se o núcleo fosse do tamanho de uma bola de
futebol, o átomo seria do tamanho de uma metrópole!),
significa que as cargas positivas dos átomos estão con-
centradas numa região ínfima no centro, envolvida pela
eletrosfera negativa formada pelos elétrons. Assim, a ca-
mada externa de todo átomo é negativa e, em princípio,
ao aproximarmos dois átomos, a força entre eles seria re-
pulsiva (contudo, a aproximação entre átomos pode vir
a formar moléculas, se o formato da eletrosfera não for
regular, permitindo a atração entre o núcleo de um átomo
e a eletrosfera do átomo vizinho). aurora borEal
Desta forma, ao apertarmos a mão de uma pessoa, sentimos uma certa pressão
sobre nossa mão. Essa pressão se deve à aproximação dos átomos de nossa mão com os
átomos da mão da outra pessoa, o que resulta numa repulsão elétrica provocada pelas
eletrosferas dos átomos. Isso ocorre da mesma maneira com tudo que manipulamos.
Entretanto, nem todos os fenômenos do Universo podem ser explicados apenas
pelas forças gravitacionais e eletromagnéticas. Por exemplo, sabemos que os núcleos
dos átomos são constituídos por prótons e nêutrons, ou seja, por cargas positivas e
neutras. Do ponto de vista eletromagnético, deve haver uma força de repulsão entre os
prótons. Então, o que explicaria a coesão do núcleo? Deve existir, portanto, outra força
que supera a repulsão elétrica e seja responsável pela “cola” de prótons e nêutrons.
Em 1935 o físico japonês Hideki Yukawa (1907-1981) apresentou uma teoria
mostrando que seria possível aos prótons e nêutrons, quando muito próximos uns dos
outros, produzir uma força de atração mil vezes maior do que a força de repulsão ele-
tromagnética – a força nuclear forte. Não apenas os prótons “sentem” e “produzem” a
força nuclear forte, mas também os nêutrons. Dessa maneira, essa força é responsável
pela organização dos prótons e nêutrons em núcleos atômicos, explicando também o
porquê do seu tamanho diminuto.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 63


Já a força nuclear fraca é responsável por um estranho fenômeno que pode ocorrer
com alguns átomos: Existe uma probabilidade dos núcleos de alguns átomos emitirem
elétrons! Mas como, se não há elétrons no núcleo? A força nuclear fraca faz com que
nêutrons (n) eventualmente se transformem em prótons (p+), gerando, no processo, o
aparecimento de um elétron (e-), seguindo o esquema:

n " p+ + e-

Observe que, no processo, a quantidade de cargas se conserva: o nêutron, que não


tem carga, gera uma carga positiva e uma negativa. Então, a soma líquida dos produtos
continua sendo nula.
A interação fraca também propicia outro fenômeno: um próton
pode se transformar num nêutron e um elétron positivo.

p+ " n + e +

O elétron de carga positiva, também conhecido como pósitron, é a anti-matéria


do elétron. O termo “anti-matéria” se refere a partículas que tenham carga elétrica
oposta daquelas referentes à matéria. Por exemplo, o anti-próton é um próton com
carga negativa. Embora as partículas de anti-matéria sejam raras, elas podem aparecer
na reação nuclear descrita acima e também podem ser produzidas em aceleradores de
partículas construídos pelo homem.
Uma característica importante da anti-matéria é que, quanto em interação com
a matéria, pode produzir o fenômeno da aniquilação, que consiste na conversão da mas-
sa das partículas em interação em energia eletromagnética. Isso acontece, por exemplo,
quando um elétron interage com um pósitron:

e + + e- " c

A partícula gama (γ) resultante corresponde a uma quantidade (quantum) de


radiação eletromagnética, cuja energia é dada por uma das relações mais
famosas da ciência:

E = mc2

onde m é a soma das massas do elétron e pósitron e c é a velocidade da luz. Como


a massa do elétron e a massa do pósitron são iguais a aproximadamente 9 x 10-31 kg,
a energia da partícula gama gerada no processo é igual a 1,6 x 10-13 J (verifique essa
conta).
Como pode ser concluído, cada uma das forças naturais tem características pró-
prias e é responsável por fenômenos específicos. Há que se destacar, também,
que as partículas responsáveis pela interação fraca são denominadas léptons,
CErtaMEntE, nEssE MoMEnto, EstE Jo- enquanto que as responsáveis pela interação forte são denomina-
vEM não dEvE Estar pEnsando no quE o das hádrons.
MartElo sobrE o dEdo tEM a vEr CoM o
brilHo do sol.

64 | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Contudo, em algumas situações, elas atuam conjuntamente. Um dos exemplos
mais claros disso são os processos envolvidos nas transformações de energia ocorridas
no Sol. A compreensão do porque o Sol brilha passa pelas características das quatro
forças.
Para entendermos tais processos, vamos, em primeiro lugar, analisar o que
acontece quando um sujeito deixa, inadvertidamente, cair um martelo no dedo.
Certamente haverá dor provocada pela pressão do impacto do martelo, mas, por trás
disso, existe a atuação conjunta de duas forças naturais: a força gravitacional, que
puxa o martelo em direção do centro da Terra e a força eletromagnética, que dá
consistência estrutural ao dedo e resiste ao impacto do martelo.
Durante o impacto, existe uma espécie de “disputa” entre as duas forças:
O dedo não foi completamente esmagado por que as ligações moleculares entre
os átomos do dedo, proporcionada pela força eletromagnética foram “mais for-
tes” que o impacto provocado pela força gravitacional.
Na realidade, a disputa entre as duas forças poderia se dar sem
mesmo acontecer um impacto, como é o caso de um carro cujo pneu pára
sobre o pé de alguém. Talvez o peso de um carro não seja suficiente para es-
magar o pé de alguém, mas, se o objeto tiver uma massa maior, como por
exemplo uma locomotiva, talvez a coesão eletromagnética das moléculas
não seja suficiente para evitar um irreversível achatamento do pé.
Quanto maior for o peso de um corpo sobre um objeto, maior
será a força gravitacional. Contudo, a coesão eletromagnética mole-
cular não aumenta se a massa do corpo aumenta, ela depende apenas do
material com que o corpo e o objeto são feitos. Assim, poderíamos nos
perguntar: quantos elefantes podem ser empilhados uns sobre os outros
sem que o de baixo seja esmagado?
Se tomarmos, agora, um corpo ainda maior, como a Terra,
teremos uma compressão gravitacional ainda maior. Desta for-
ma, o núcleo da Terra suporta uma pressão significativamente maior
do que aquela proporcionada por 10 elefantes empilhados, já que a
massa de nosso planeta é aproximadamente 6 x 1024 kg. O núcleo
da Terra, contudo, é feito de ferro e níquel, metais que constituem
substâncias com uma coesão eletromagnética suficientemente
forte para resistir a tal compressão gravitacional. O mesmo
acontece até para planetas maiores, como Júpiter, que tem
uma massa de aproximadamente 1,9 x 1027 kg (300 vezes maior
que a da Terra).
Contudo, para corpos com uma massa igual ou maior
que a do Sol (2 x 1030 kg, ou 1000 vezes a massa de Júpiter),
a coesão eletromagnética já não pode mais resistir a enorme
compressão gravitacional. O que ocorre, então, é que não
só as moléculas, mas os próprios átomos são esmaga-
dos. Os elétrons passam a não mais orbitar em torno

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Origem do Universo| 65


dos núcleos, mas núcleos e elétrons adquirem movimento independente, formando o
que se conhece por quarto estado da matéria, ou plasma.
Assim, uma vez que a força eletromagnética foi superada, a coesão estrutural do
Sol, bem como da maioria das estrelas, se dá pela disputa entre a força gravitacional e
a força natural que é mais forte que a eletromagnética: a nuclear forte.
De fato, no Sol, a força gravitacional na sua parte central supera parcialmente a
própria força nuclear forte. Isso acontece a partir do fato de que a força gravitacional
comprime os prótons uns contra os outros, até que eles formem núcleos de hélio, cons-
tituindo assim o processo da fusão nuclear.
Há que se destacar que prótons independentes são abundantes no interior do Sol,
uma vez que ele é constituído predominantemente de hidrogênio, o elemento mais
abundante do Universo. Na sua parte central, os átomos de hidrogênio estão descons-
tituídos devido à pressão gravitacional. Assim, o plasma solar é constituído principal-
mente por uma “sopa” de prótons e elétrons em movimento independente.
No processo de fusão no Sol, cada grupo de quatro prótons é comprimido até que
se transformem num núcleo de hélio, que possui dois prótons e dois neutrons. O núcleo
de hélio ocupa um volume muito menor que quatro prótons independentes, caracteri-
zando dessa forma um processo de compressão.
Entretanto, nesse processo, dois prótons têm que se transformar em dois nêutrons.
Como foi visto anteriormente, essa é uma transformação possível proporcionada pela
força nuclear fraca, ocorrendo com a produção de um “resíduo”: o pósitron. Assim,
para cada grupo de quatro prótons que se fundem, gera-se um núcleo de hélio e dois
pósitrons. Fatalmente, esses dois pósitrons se encontram com dois elétrons do plasma
solar e se aniquilam, liberando duas partículas gama, ou seja, dois quanta de energia
eletromagnética.
Desse ponto de vista, a liberação de energia pelo Sol é um processo de aniquilação
matéria/anti-matéria. Contudo, embora essencialmente seja produzida radiação gama
na parte central do Sol, este não é um emissor gama. Se fosse, a vida na Terra não seria
possível, dado o alto caráter carcinogênico desse tipo de radiação.
O que ocorre é que a distância a ser percorrida por uma partícula gama desde o
centro, onde é gerada, até a superfície do Sol é tão grande, que ela perde a maior parte
de sua energia pelo caminho, emergindo da superfície com uma energia corresponden-
te, em maior probabilidade, à parte visível do espectro eletromagnético, predominan-
temente na cor amarela (Ver texto: Como se estima a velocidade de afastamento de uma
galáxia?).
Mas isso não ocorre necessariamente com todas as estrelas. Como elas são muito
variáveis em massa e, conseqüentemente, tamanho, elas apresentam colorações dife-
rentes.
Como vimos, a fusão nuclear numa estrela acontece devido a compressão gravita-
cional proporcionada pela massa da estrela. Assim sendo, corpos com massa semelhan-
te ao Sol, ou maior, jamais poderiam ter estrutura de um planeta. Da mesma forma,
corpos com massa igual a Júpiter, ou menor, jamais poderiam ter estrutura de estrela.
Entre a massa de Júpiter e a do Sol, encontra-se o limite de massa que separa planetas

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de estrelas.
O Sol não tem massa suficiente para uma compressão gravitacional que produza
uma taxa significativa de fusão de hélio em elementos mais pesados. Contudo, estrelas
de maior massa podem fazer isso, produzindo desde átomos de lítio, carbono e oxigê-
nio, como também, no caso das estrelas de primeira grandeza, átomos tão massivos
como o urânio.
Contudo, e se a massa do corpo for muito maior que a do Sol, de forma que nem a
força nuclear forte pode resistir a gravitacional? Nesse caso, não haveria contraposição
à compressão gravitacional e toda a matéria do corpo colapsaria a um único ponto sem
tamanho, simplesmente pelo fato de não existir uma força maior que a nuclear forte
que pudesse oferecer alguma resistência. Por mais absurdo que isso pode parecer, tais
corpos são admitidos pela ciência contemporânea: trata-se dos buracos negros.
Os buracos negros são objetos tão massivos que “sugam” toda a matéria em suas
imediações. Nem mesmo a luz que passa nas suas proximidades escapa. Ao contrário
do que o nome sugere, são os objetos mais brilhantes do Universo, uma vez que a ace-
leração da matéria ao seu redor provoca a emissão de grande quantidade de radiação
eletromagnética.

ConCEpção artístiCa dE uM buraCo nEgro.


iMagEM: nasa - wikiMEdia CoMMons.

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at i v i d a d e s

1. Considere que, num determinado instante, dois elétrons estão a uma distân-
cia um do outro de 10-10 m, calcule as intensidades das forças gravitacional
e elétrica entre eles, levando-se em conta que a carga elétrica de cada um é
1,6 x 10-19 C e a massa, 9 x 10-31 kg. Qual é a força de maior intensidade? Qual
é a razão entre as intensidades das duas forças? Cuidado com os algarismos
significativos.

2. Faça um gráfico da força elétrica entre os elétrons da atividade anterior em


função da distância, r, entre eles. Lembre-se de colocar, nos eixos, valores
“redondos”. Para a distância, utilize valores entre 1 x 10-10 e 9 x 10-10 m. Que
diferenças podem ser destacadas entre o gráfico obtido e aquele que representa
a velocidade de afastamento das galáxias em função da sua distância?

3. Faça um esquema representando todas as etapas da atuação das quatro forças


naturais na geração da radiação solar.

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nUCleOssíntese

Logo após o Big Bang, surgem os prótons, nêutrons e elétrons que podem
se agrupar para formar todos os elementos da Tabela Periódica. Contudo, para que
um átomo seja constituído, é necessário que a densidade de energia do Universo não
seja tão alta – pois as partículas teriam uma energia tão alta que não se manteriam
juntas – e, ao mesmo tempo, as partículas não estejam tão separadas umas das ou-
tras, tornando uma aproximação aleatória um evento extremamente raro. Acontece
que a expansão do Universo foi um processo muito rápido. Na fase de combinação
de prótons, nêutrons e elétrons, o Universo já era tão grande que não permitia mais
um encontro casual de um número grande partículas para formar átomos com vários
prótons e neutrons. De fato, segundo a teoria desenvolvida por George Gamow,
em 1946, apenas se formaram, no Big Bang, átomos de hidrogênio, hélio e porções
extremamente pequenas (numa proporção de 1 para 10 bilhões) de lítio e berílio.
Então, como se formaram os outros átomos, como o de carbono, nitrogênio e oxigê-
nio, que são tão abundantes na Terra ou como os átomos de urânio, que contêm 92
protons?
A resposta a essa questão aponta para o interior das estrelas.
Conforme o texto deste fascículo, o processo de liberação de energia de uma
estrela é provocado pelo fenômeno da fusão nuclear, que, por sua vez, advém da
grande compressão oriunda da atração gravitacional da sua massa. Estrelas de massa
semelhante ao Sol são capazes de fundir núcleos de átomos de hélio. Contudo, exis-
tem estrelas muito maiores que o Sol, capazes de fundir elementos de maior número
atômico (o processo é denominado nucleossíntese), incluindo o urânio (o elemento
estável de maior número atômico), que é gerado em estrelas de primeira grandeza.
Mas é necessário explicar também como tais elementos podem estar presentes
em partes do Universo que não sejam o interior de uma estrela, como na Terra, por
exemplo.
A estrutura de uma estrela não é algo que possa propriamente ser classificada
como em equilíbrio. Ela é constituída por fenômenos complexos em que duas ten-
dências principais estão em contraposição: a gravidade provocada pela massa da es-
trela que comprime toda a sua matéria para o seu centro de massa e a energia liberada
pelo processo de fusão que provoca uma pressão de dentro para fora que se contrapõe
à compressão gravitacional.
Normalmente, numa estrela qualquer, essas duas tendências variam de forma
que o seu tamanho também varia com uma periodicidade não muito regular. Em
alguns momentos, a força gravitacional supera a pressão da radiação e a estrela dimi-
nui ligeiramente de tamanho. Isso provoca o aumento da taxa de fusão, aumentando

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consequentemente a pressão de radiação, fazendo com que a estrela volte a se expan-
dir, diminuindo novamente a pressão de radiação, completando-se o ciclo.
Contudo, uma estrela não pode manter para sempre o mesmo nível de taxa
de fusão. Com o tempo, a matéria que pode sofrer fusão nuclear se esgota. No caso
do Sol, que transforma hidrogênio em hélio, a taxa de fusão diminuirá irremedia-
velmente pelo esgotamento do número de prótons isolados (cada próton constitui o
núcleo de um átomo de hidrogênio). O Sol tem 4,5 bilhões de anos de idade e está
aproximadamente na sua meia idade, restando-lhe outros 4,5 bilhões de anos.
No caso de estrelas
como o Sol, no entanto, no fi-
nal do seu tempo de atividade, a
taxa de fusão aumenta, aceleran-
do o esgotamento dos núcleos de
hidrogênio, o que faz com que a
estrela aumente enormemente de
tamanho, se tornando uma gigante
vermelha. O nome se deve ao fato
de que, além do grande tamanho,
a coloração da estrela passa a ser
vermelho-alaranjada. Antares e Al-
debaran são exemplos de gigantes
vermelhas na atualidade.
Quando o Sol se tornar uma
gigante vermelha, seu tamanho
a ConstElação dE touro, por ultrapassará as órbitas de Mercú-
JoHannEs HEvElius – aldEbarã rio e Vênus e, possivelmente, a da própria Terra.
aparECE Junto ao olHo EsquErdo No caso de estrelas com massa maior que dez vezes à do Sol,
do touro
FontE:wikiMEdia CoMMons o destino pode ser mais trágico. Elas podem explodir, se tornando, du-
rante um certo tempo, corpos tão luminosos quanto uma galáxia intei-
ra. Tal evento é conhecido pelo termo supernova. A explosão de uma supernova lança
elementos de praticamente toda a tabela periódica ao espaço em suas imediações. O
fato de haver urânio na Terra indica que o Sistema Solar se originou da explosão de
uma supernova.
Até hoje, em nossa galáxia, somente foi registrada a ocorrência de três super-
novas: em 1054, 1572 e 1604. A supernova de 1054 deu origem à nebulosa de Ca-
ranguejo e permaneceu claramente visível a olho nu por 23 dias durante o dia e 653
dias durante a noite.

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nEbulo
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