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Assim, desde o final da Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações
Unidas e a proclamação da carta denominada Declaração Universal dos Direitos Humanos,
em 10 de dezembro de 1948, consentiram todos os Estados nacionais que aderiram à ONU,
desde o início ou posteriormente, que o fator de unidade e de convívio pacífico das nações no
âmbito das relações internacionais finca suas raízes na vigência dos direitos humanos no
interior de cada Estado nacional.
A fronteira política situa-se, desde então, na obediência dos Estados aos ditames dos direitos
humanos, tornando relativas às potências derivadas das divisões territoriais, das
determinações econômicas ou do poderio militar de cada governo, de tal modo que, ainda que
seja importante a preservação da autodeterminação política de cada nação, e a ONU,
corretamente, defenda este princípio, ela não pode ser reclamada por um governo que, em
seu nome, mantenha um regime político opressivo, em que os valores humanitários essenciais
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Edmar Roberto Prandini é graduado em filosofia, com Mestrado em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - campus de Araraquara. É Gestor Governamental do Governo do Estado de Mato Grosso, desde 2013.
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O que tornou ainda mais exigente a necessidade de adaptação dos Estados nacionais no que
diz respeito à cobertura em toda a sua extensão do conjunto de direitos humanos,
demandando forte expansão, ao menos:
Com efeito, nestas sete décadas da Declaração Universal dos Direitos Humanos, observou-se
a resistência de muitos regimes de governo de grande parte, senão de todos os Estados
signatários, em agir de forma coerente com as consequências emanadas da adesão a este
instrumento. Muitas foram as guerras; as formas de repressão políticas e ideológicas
proliferaram e sofisticaram-se; disseminaram-se governos ditatoriais; implementaram-se, para
além das antes já existentes, novos regimes de segregação racial ou políticas de genocídio
por razões religiosas ou étnicas; etc..
Ao longo das décadas, observou-se muita oscilação nos movimentos da política internacional,
ora vigorando a predominância de agrupamentos mais progressistas, ora mais conservadores.
Estes, conservadores, especialmente mediantes agências de financiamento interestatais ou
privadas, tenderam, majoritariamente, a propagar imposições políticas que, por vezes,
produziram grandes tensões sociais e desordens econômicas, comumente e curiosamente
denominadas de “ajustes”, em que, quase sem exceção, os ajustes denotavam tanto a
restrição de acesso aos direitos quanto a garantia da vigência das desigualdades econômicas
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Obedientes aos “ajustes”, muitos foram os países conduzidos a crises econômicas e sociais
de grandes proporções, com enorme erosão da capacidade de atuação dos governos
nacionais na prestação dos serviços públicos, erodindo, em consequência, os direitos
humanos e sua universalidade. Cresceram os números dos moradores de rua, dos refugiados,
dos despejos por conta de endividamento bancário, dos desempregados. Por vezes, o meio
ambiente também sofreu violentas ações devastadoras.
A grande crise mais recente, iniciada em 2008, teve como epicentro o sistema bancário dos
Estados Unidos e dos países mais ricos e supostamente mais desenvolvidos do planeta, de
onde irradiou-se por todos os segmentos daquelas economias, ocasionando enormes
impactos derivados na economia internacional, recrudescendo os valores e os volumes de
comercialização de bens e serviços, mas afetando de forma mais virulenta os bens mais
essenciais, as chamadas commodities, em que classificam-se os alimentos in natura e os
minérios, dentre quais aqueles mais essenciais para a oferta de energia às sociedades.
Sabe-se bem que as commodities são produzidas pelos países mais pobres, em sua maioria,
e que tem maior peso relativo em suas economias do que nas economias dos países mais
desenvolvidos, de onde resulta que as crises recentes, de natureza financeira e econômica,
acentuaram as desigualdades internacionais.
3. A terceira afirmação não terá o condão de manifestar uma síntese, como seria de se
esperar se pudéssemos obedecer à sistematização da dialética de Hegel. Diversamente, a
realidade política e econômica contemporânea não permite vislumbrar uma síntese entre a
afirmação dos direitos humanos e as modelagens da ordem econômica e social que estão
predominando na ordem internacional. Ao contrário, as ocorrências evidenciam a
intensificação da tensão entre os dois campos: fortalecimento dos extremismos políticos e da
xenofobia; ênfase nas políticas anti-migratórias em escala internacional; expulsão dos
trabalhadores considerados “ilegais” dos países centrais; rompimento dos sistemas de
integração nacionais construídos depois da Segunda Guerra Mundial (p.ex.: Brexit);
acentuação das políticas de guerra comercial em detrimento dos países mais pobres; reversão
dos modelos políticos de inclusão social em diversos países da América Latina, inclusive o
Brasil.
Neste contexto, a construção de uma “economia solidária” representa menos o quadro de uma
concertação internacional de solidariedade capaz de disseminar os benefícios da grande
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Bons exemplos dessa rede de movimentos de economia solidária podem ser encontrados em
organizações de “Comércio Solidário”, relativamente frequentes na Europa, que ocupam-se da
oferta de partes da produção agrícola dos pequenos produtores dos países latino-americanos
e africanos, especialmente, ou da indústria têxtil de países como Bangladesh, Sri Lanka, Índia
ou Malásia, por exemplo. Outra experiência interessante nesta direção está presente em
cooperativas e associações de produtores liderados por integrantes do Movimento Sem Terra,
em que, inclusive, desenvolvem-se “bancos de sementes”, para preservação de espécimes
não transgênicas, contra a apropriação dos recursos necessários à segurança alimentar
exclusivamente pelas empresas transnacionais.
O que une os movimentos de economia solidária aos movimentos que lutam pelos direitos
humanos é o fato de que um dos direitos humanos fundamentais é o direito ao trabalho. E, o
fato de que o trabalho livre é condição de preservação de autonomia econômica e política. O
trabalhador, assalariado ou autônomo, ao extrair do seu trabalho parte do resultado econômico
produzido, mantém, de forma livre, os seus interesses, responsabilizando-se por sua família,
por sua saúde, por seu lazer, por suas decisões religiosas, políticas e ideológicas. Pode dispor
por sua própria escolha dos caminhos que pretende seguir. Pode decidir os percursos dos
quais pretende afastar-se. E, suas decisões, de unir-se ou de afastar-se, com suas
consequências, resultam-lhe responsável, no sentido de que pode responder por cada opção,
sendo, nestas condições, desalienado e sujeito ético.
Em sociedades com mercados regidos por legislações muito restritivas, crescem as atividades
informais, algumas delas por constituírem-se em atividades nitidamente ilegais; outras delas,
pela mera incapacidade dos trabalhadores de atenderem aos dispositivos legais para a
formalização de suas atividades. No Brasil, recentemente, durante os governos Lula e Dilma,
com participação do SEBRAE e consultoria da OIT - Organização Internacional do Trabalho,
desenvolveram-se mecanismos de simplificação das condições de formalização econômica e
de redução dos custos tributários e processuais dos empreendimentos individuais e das micro
e pequenas empresas.
O segundo grupo de experiências, também muito conhecido, refere-se àquele dos “Bancos
Comunitários de Desenvolvimento”, originários da replicação, na medida do possível, da
experiência original do “Banco Palmas”, constituído em Fortaleza (Ceará), a partir de 1997. A
originalidade do modelo do Banco Palmas pode ser afirmada por três características
principais:
Ainda que tendo um início em condições bastante difíceis, os ganhos políticos (para a
Associação de Moradores), econômicos (através da moeda social, na forma de poupança em
reais, crédito em moeda social e estímulo à atividades comerciais e produtivas no próprio
bairro) e sociais (postos de trabalho gerados ou mantidos no próprio bairro e valorização e
resultante da ampla e crescente divulgação da iniciativa), retroalimentavam-se mutuamente e,
em pouco tempo, surgia o Instituto Palmas, na forma de uma OSCIP, para aumentar a
identidade do projeto e sua continuidade. isolando os desafios derivados pela origem na
Associação de Moradores do bairro.
Com a vitória eleitoral de Luis Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2002 e a
constituição, sob pressão dos movimentos de economia solidária agregados desde o Fórum
Social Mundial de 2002, o novo governo Lula, empossado em 2003, deu início às articulações
que resultaram na constituição da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), para
qual nomeou-se um condutor ao mesmo tempo forjado nas lutas sociais e na trajetória
acadêmica e intelectual, o Professor Paul Singer.
Referências Bibliográficas
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho de; SILVA JUNIOR, Jeová Torres; RIGO, Ariádne
Scaldon. Solidarity finance through community development banks as a strategy for
reshaping local economies: lessons from Banco Palmas. Revista de Administração
(FEA-USP) , v. 47, p. 500-515, 2012.
MARIA GOMEZ, José. Política e Democracia em Tempos de Globalização. Petrópolis:
Vozes e Buenos Aires: CLACSO, 2000.
SCHERER-WARREN, Ilse. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da
globalização. São Paulo: Hucitec, 1999.