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Magalhães
Departamento de Saúde Coletiva - NESC
Orientador:
Professor Doutor Eduardo Maia Freese de Carvalho
Recife – PE
1999
KÁTIA MAGDALA LIMA BARRETO
Recife – PE
1999
Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE):
um perfil sócio-epidemiológico dos participantes
Banca Examinadora:
Recife – PE
1999
“Há culturas que privilegiam os jovens em detrimento dos idosos,
há outras que fazem o contrário e finalmente,
há culturas que não sabem tratar bem nem dos jovens
nem dos idosos.
Esse parece ser o caso do Brasil, que mudou seu perfil etário sem
se dar conta disso e manteve uma cultura onde não existe espaço
para os jovens e onde se marginaliza de forma cruel os idosos”.
Herbert de Souza (Betinho)
• A minha família – meu porto seguro: meus pais, meus irmãos, meus cunhados e
minhas sobrinhas (Beatriz, Gabriela e Manoela). Espero está contribuindo para que elas
tenham uma velhice tão bela quanto hoje é sua infância.
• A todos que fazem a UFPE, crendo que enquanto instituição pública continue
cumprindo seu papel social e perceba a dimensão e o significado de uma proposta
como a das Universidades Abertas à Terceira Idade.
AGRADECIMENTO
A todos vocês que sabem que construíram essa torre comigo MUITO OBRIGADA!
SUMÁRIO
RESUMO, 14
ABSTRACT, 15
APRESENTAÇÃO, 16
1. INTRODUÇÃO, 18
2. OBJETIVOS, 45
2.1 - Geral, 45
2.2 - Específicos, 45
3. MATERIAL E MÉTODOS, 47
5. DISCUSSÃO, 78
6. CONCLUSÕES, 109
ANEXO, 121
ANEXO 1
Lei nº 8.842/94 – Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, 122
ANEXO 2
Decreto Lei nº 1948/96 – Regulamenta a Lei nº 8842/94,, 129
ANEXO 3
Seções I, III, IV, V e VIII do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS, 137
RELAÇÃO DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS
GRÁFICOS:
GRÁFICO 1: População Idosa (60 anos e mais) de Pernambuco, segundo Faixa Etária e
Sexo. Recife, 1999.
TABELAS:
ANEXOS:
1. INTRODUÇÃO
lenda grega do Hiperbóreo (além do vento norte), uma terra distante onde todos tinham
vidas bastante longas. Acredita-se que, ainda hoje, em algumas partes do Equador, Ucrânia
e Paquistão seja possível encontrar pessoas muito longevas e, por fim, a “fonte da
juventude” capaz de manter e devolver beleza e juventude àqueles que se banharem em
suas águas.
Para GOMES (1994), ainda hoje o homem persiste em sua busca pelo “elixir da
eterna juventude”: “todos querem viver muito, porém, jovens” (p. 1). PAPALÉO NETTO
et al. (1996) complementam essa reflexão fazendo alusão às “fórmulas ‘miraculosas’ que
oferecem a juventude eterna ou o retardo do envelhecimento” (p.5) e chamam atenção de
que não existe ainda eficácias cientificamente comprovadas sobre o assunto.
GUIMARÃES (1989) reforça essa questão, referindo-se aos que se valem dessas
promessas miraculosas como “mercadores de ilusões” (p. 1).
Vários autores trazem reflexões sobre o tema da velhice à luz dos egípcios,
chineses, hindus, judaicos, gregos e romanos, que apresentamos a seguir. Nestes relatos
encontramos referências aos aspectos sociais e biológicos em relação à velhice, observadas
nessas sociedades.
a família como base, foi uma estrutura regulamentada por Confúcio, filósofo e reformador
chinês, que tinha como justificativa para o poder exercido pelos mais velhos a relação
direta entre a idade avançada e a sabedoria. O respeito pelos idosos não se limitava ao seio
da família, estendia-se a todos os idosos. Na cultura praticada na China, exigia-se mais
experiência do que força. A autora destaca também o filósofo chinês Lao-Tsé, fundador do
taoísmo. Para os taoístas a velhice aparece como uma virtude em si mesma. No neotaoísmo
o objetivo maior do homem era a vida longa: “A velhice era, portanto, a vida sob sua
forma suprema” (p. 114). Apesar de existirem relatos relativos à revolta dos jovens e
mulheres contra a opressão por eles vividos, não se observa, segundo a autora, na literatura
chinesa, a velhice retratada como flagelo.
Para GOMES (1998), entre os egípcios, como já foi referido, havia uma
preocupação com o rejuvenescimento e não uma preocupação social nem de saúde em
relação aos velhos, muito embora tenham tido uma medicina avançada. Há sim uma
preocupação em não envelhecer, em manter-se belo, bem cuidado, uma extrema
preocupação com a aparência física observada nos séculos XIII e XII a.C. (dinastia dos
Ramsés). Em relação aos hindus o autor refere que estes, não demonstravam preocupação
social com os velhos, possuíam uma medicina bastante adiantada, destacando-se o médico
Charaka, que dividiu a arte de curar em oito partes, uma delas referia-se ao
rejuvenescimento e à restauração da virilidade.
O povo judaico tinha muito respeito pelos mais velhos, sendo uma sociedade
patriarcal que cultuava os idosos, inclusive, atribuindo a estes idades avançadíssimas como
é o caso de José que segundo as escrituras viveu 110 anos; Moisés, 120; Aaron, 123; Jacó,
140; Abrão, 175; Isaac, 180; Enoque, 365; Noé, 950 e Matusalém, 969 anos.
Provavelmente, essas idades são metáforas que se referem à longevidade ou ao calendário
lunar utilizado naquele tempo. A Bíblia traz inúmeras passagens que reforçam o respeito
21
daquele povo pelos seus velhos que, exerciam, inclusive, uma ação política. Observa-se
entre os judeus uma inserção social. Sob a influência religiosa, a doença era vista como
castigo, porém quanto ao aspecto da saúde, recomendava-se medidas de higiene e a
medicina hebráica tinha como característica, a prevenção. Encontram-se também
recomendações de banhos de vapor seguidos de duchas frias e massagens com óleos para
se manter uma vida longa e saudável (HAYFLIC, 1996; LEME, 1996 e GOMES, 1998 ).
BEAUVOIR (1990), refere que para os gregos honra e velhice estavam ligadas.
Homero associava velhice à sabedoria. A autora cita dois exemplos opostos de concepções
sobre a velhice, Platão e Aristóteles; no primeiro, encontra-se valorização da velhice
relatada em toda sua obra. Platão propõe, inclusive, a gerontocracia. Para ele, não importa
o corpo mas sim a alma e, portanto, o declínio do corpo na velhice não mudava em nada a
vida do homem, a alma podia até tornar-se mais livre deste. Seu pensamento é também
relatado nos seus diálogos com Sócrates e deste com Céfalos; no segundo, a alma e o corpo
estão unidos e o que afeta um, afeta o outro, para se ter uma velhice feliz o corpo deve
estar intacto. Para Aristóteles, após os 50 anos o homem é considerado velho e
enfraquecido e portanto, deve ser afastado do poder.
Segundo GOMES (1998), ainda entre os gregos, em relação à saúde dos idosos,
encontram-se referências nas escolas de medicina de Hipócrates e Aristóteles. O autor
refere que Hipócrates considerava que após os 50 anos se era velho, e que as doenças
resultavam do desequilíbrio dos humores. Muitas de suas observações e ensinamentos
quanto à saúde do idoso permanecem atuais, por exemplo as manifestações clínicas
atípicas, a hipotermia, a cronicidade das doenças e a alteração nas funções intestinais.
Recomendava cuidados de higiene corporal, atividade física e mental e moderação
dietética. LEME (1996) acrescenta que “o método hipocrático de exame incluía uma
observação cuidadosa da aparência do paciente, seu estado emocional, condição
funcional, condição de vida e ambiente, incluindo clima e costumes locais” (p. 17), o que
não difere muito da orientação geriátrica atual.
BEAUVOIR (1990) refere que entre os romanos a condição do velho está ligada à
estabilidade social. O lugar dos velhos estava relacionado ao seu poder político e
econômico e nesse sentido o Senado se sustentava. Esse poder se observava também na
família, o paterfamilias, onde o poder era vitalício e total sobre as coisas e as pessoas.
22
Refere ainda a autora que com a decadência da oligarquia, caem também o prestígio dos
velhos, do Senado e do paterfamilias. É nesse contexto que segundo a autora Cícero,
senador romano, aos 63 anos de idade escreveu De Senectude, de modo a reforçar a
abalada autoridade do Senado. LEME (1996), refere-se a obra de Cícero sob outra ótica.
Relata o autor que Cícero teceu considerações importantes sobre alguns problemas da
velhice como: “memória, perda da capacidade funcional, alterações dos órgãos dos
sentidos, perda da capacidade de trabalho, etc” (p. 17), e exemplifica as recomendações
dadas sobre a importância dos exercícios mentais para a manutenção da memória. O autor
destaca também Galeno, que considerava os quatro humores, a noção de pneuma, o calor
intrínseco e a crença em um só deus e em sua obra, a “Gerontomica”, aborda a necessidade
do idoso manter-se aquecido e umedecido, manter dieta equilibrada, tomar vinho e manter-
se ativo.
BEAUVOIR (1990), refere que no fim do século XIX e início do século XX, já no
capitalismo no mundo ocidental, multiplicam-se as pesquisas em vários países no campo
do envelhecimento. Segundo a autora, a partir de 1930 desenvolveram-se as pesquisa em
Biologia, Psicologia e Sociologia e que nos dias de hoje continuam a se desenvolver cada
vez mais, ampliando as áreas de conhecimento envolvidas. Neste sentido, GUIMARÃES
(1996), alerta que apesar de muitos equívocos terem sido cometidos na antigüidade em
relação ao estudo do envelhecimento, acabaram pois, constituindo-se em contribuições
importantes. A cada dia evoluem as abordagens em relação à saúde dos idosos como por
exemplo, no estudo das manifestações clínicas, do diagnóstico onde se utilizam inúmeros
protocolos e escalas de avaliação, levando a maiores chances de boas intervenções para a
solução dos problemas apresentados. O autor refere ainda os trabalhos de Marjorie Warren
em 1947 e J. H. Sheldon em1948 como fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa
clínica em geriatria. O primeiro, segundo ele, “estabeleceu critérios de avaliação dos
pacientes encaminhados para instituições de longa permanência, lançando desta forma, as
bases da Medicina Geriátrica” (p. 72); o segundo, “lançou as bases da medicina social da
velhice e reportou de maneira sistemática os maiores problemas dos velhos residentes na
comunidade” (p. 72).
DEBERT (1996) discute o fato que do ponto de vista social a maioria dos relatos
referem-se a uma velhice abandonada, solitária e empobrecida, relegada ao segundo plano
nas sociedades industrializadas. Tais relatos, baseiam-se para suas afirmativas na lógica
capitalista da sociedade de consumo. Para a autora, no Brasil, o discurso gerontológico que
construiu uma imagem vitimizada do velho brasileiro, baseou-se em 4 aspectos: a explosão
demográfica da população idosa, que demanda políticas específicas; a crítica ao
capitalismo, cujas consequências se exacerbariam na velhice; a crítica à cultura brasileira
que valoriza o novo e não tem memória e, por último, o Estado. A transformação da
família extensa em família nuclear e a criação do welfare state, onde, com o declínio do
24
envelhecimento era privilégio de poucos, as pessoas morriam em idades tenras; hoje, trata-
se de uma realidade universal.
“Não existe uma definição perfeita para o envelhecimento mas, como ocorre
com o amor e a beleza, grande parte de nós o reconhece quando o sente ou vê”
(Hayflick)
“O que é ser idoso não é uma questão tão simples de ser definida, não obstante a
sua aparente obviedade para a consciência individual de qualquer um de nós” (BIRMAN,
1995, p. 29).
Existem referências de que a maioria dos idosos apresenta boas condições de saúde,
e vive na comunidade, ao contrário do que pensa o senso comum. Segundo KALACHE
(1987) na Inglaterra, cerca de 95% dos idosos vivem na comunidade; RAMOS (1996)
reforça que, na maioria das sociedades, em torno de 90% dos idosos vivem na comunidade,
indicadores de saúde da Espanha (1995) apontam que 74,4% dos idosos são totalmente
independentes para o desempenho das AVDs;
taxas é que levará ao aumento da expectativa de vida de uma população, sendo portanto
entendido o envelhecimento populacional como “o aumento da proporção de pessoas com
idade avançada em uma população, às custas da diminuição da proporção de jovens nesta
mesma população” (p. 4). Acrescenta que a queda da mortalidade antecede a queda da
fecundidade, a esse fenômeno denomina-se de “transição demográfica”.
À medida em que o homem vai ganhando mais anos de vida, cada dia mais
aproxima-se do limite biológico da espécie humana. Para HAYFLIC (1996) esse limite é
115 anos, para KALACHE (1987) o limite é 85 anos, não entrando no mérito dessa
discussão, o consenso é que há um limite biológico para a espécie humana e, por isso, em
um determinado momento a taxa de crescimento da expectativa de vida de uma população
tende a estabilizar-se, e, portanto, poucos ultrapassam esse limite. Há um consenso também
de que o limite biológico de vida para a espécie humana não parece ter se alterado ao longo
dos tempos, o que se observa, na verdade, são mais pessoas chegando próximo a esse
limite (KALACHE, 1987; RAMOS, 1987 & HAYFLIC, 1997). Neste sentido, KALACHE
(1987) refere que não há evidência de que o limite biológico de vida para os homens seja
32
diferente para as diferentes regiões do mundo e, portanto, hoje como em qualquer outro
momento da história, tornar-se um centenário continua sendo um fato excepcional.
forma semelhante à população total, porém da década de 60 para cá, o grupo etário de 60
anos e mais apresenta taxas de crescimento mais altas e sempre mais elevadas que as da
população total e da população jovem. O autor chama atenção para o fato de que “até o
ano 2000 o grupo etário de 0 a 14 anos deverá crescer apenas 14% contra 107% de
crescimento do grupo de 60 anos e mais, e a população como um todo crescerá 56%.
Iniciaremos o próximo século com a população idosa crescendo quase oito vezes mais que
os jovens e quase duas vezes mais que a população total” (p. 215). Para BERQUÓ (1996)
o crescimento da população idosa no Brasil torna-se mais relevante por já superar o da
população total.
quartos dos seus 130 milhões de habitantes viviam em áreas urbanas. Para CARVALHO
(1991) observa-se uma inversão de concentração populacional entre as áreas rural e urbana
no Brasil e estima-se para o ano 2000, que apenas 20,2% da população do país esteja
vivendo em áreas consideradas rurais. Ainda no contexto da urbanização, RAMOS (1987)
refere que este, entre outros fatores, influenciou o comportamento dos padrões
reprodutivos no Brasil. A nova forma de arranjo domiciliar urbano, acaba exigindo uma
limitação do número dos membros da família, além da incorporação da mulher ao mercado
de trabalho aliada à sua adesão aos programas de controle familiar, que, segundo o autor
demonstra não apenas uma necessidade, mas também um desejo de limitação do tamanho
da família. Com isso, a atenção prestada pela família aos seus membros acaba sendo
substituída pela intervenção cada vez maior do estado e de outras alternativas
institucionais, que em geral são inadequadas e mais onerosas.
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
100a e +
60-64a
65-69a
70-74a
75-79a
80-84a
85-89a
90-94a
95-99a
Masc. Fem.
Fonte: Fundação IBGE, Censo Demográfico, 1991.
A Lei nº 8842, de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1994) (Anexo 1), que dispõe
sobre a Política Nacional Idoso regulamentada pelo Decreto Lei nº 1948, de 3 de julho de
1996 (BRASIL, 1996) (Anexo 2), recomenda, no que compete ao Ministério da Educação,
o incentivo à criação de Universidades Abertas à Terceira Idade nas Instituições de Ensino
Superior (inciso III do art. 10). Porém, esta é uma experiência que já se desenvolve no
Brasil, mesmo antes da recomendação acima referida, como veremos a seguir.
Conta hoje com 14 docentes dos diversos Centros e Departamentos da UFPE, com
19 profissionais voluntários não vinculados à UFPE, 15 acadêmicos que atuam como
“monitores” no Programa e em torno de 530 idosos. O fato do Programa permitir que os
idosos freqüentem o Campus Universitário, coloca-os em contato com os alunos jovens e
*
Informações obtidas junto à Coordenação do Programa UnATI/UFPE em 1999.
41
essa convivência é importante pois deve-se ter cuidado para que essas iniciativas não sejam
segregadoras, mas sim proporcionadoras de convivência com seus pares e com outras
gerações.*
*
Informações obtidas junto à Coordenação do Programa UnATI/UFPE.
42
2. OBJETIVOS
Geral:
Específicos:
3. MATERIAL E MÉTODOS
Neste estudo a população alvo está composta pelos idosos que freqüentaram o
Programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE), no ano de 1998.
Vimos como é difícil estabelecer um único critério para definir velhice, por isso
dentre os vários pontos de corte utilizados para tal, para os propósitos deste estudo
decidimos utilizar o critério cronológico, ou seja, são consideradas idosas neste estudo
todas as pessoas com 60 anos ou mais. Este critério além de facilitar a comparação dos
dados é o mais utilizado para fins de investigação e legislação pertinentes. Elegemos o
corte cronológico nos 60 anos por ser o mesmo preconizado pela Organização Mundial de
Saúde - OMS em 1982 (LA SALUD..., 1989) e por estar estabelecido para efeito legal no
Brasil, segundo a Lei Nº 8842 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1994) que dispõe sobre a
Política Nacional do Idoso, onde é considerada idosa no país, a pessoa a partir dos 60 anos
de idade. Este corte estava definido a priori, uma vez que é requisito do Programa
UnATI/UFPE só aceitar pessoas a partir dos 60 anos, porém alguns poucos , no caso duas
48
pessoas, não tinham 60 anos e conseguiram inscrever-se no ano de 1998, estas foram
excluídas deste estudo.
Em relação ao universo do estudo, poderíamos ter optado por uma amostra, porém
avaliando a contribuição que seria dada em contrapartida ao Programa se realizássemos um
censo, decidimos então por fazê-lo, deixamos um banco de dados importante não apenas
para subsidiar o planejamento de ações para a UnATI/UFPE, mas também para a
realização de novos estudos.
A população estudada está composta por 358 idosos que freqüentaram o Programa
UnATI/UFPE no ano de 1998. Inicialmente foram contatados 369 idosos, porém onze
foram considerados perdas. Perda por recusa foram quatro. Tivemos também sete perdas
por não comparecimento do idoso no dia agendado para a entrevista, voltando a não
comparecer após novo agendamento. No total, as perdas representaram 2,68%.
pessoa idosa vive e o seu nível de satisfação com a vida; permite conhecer a situação
pessoal e familiar do idoso;
• A seção IV diz respeito às Atividades de Vida Diária – AVD, num total de seis
perguntas, sendo que a primeira se subdivide em 15 itens que em seu conjunto indicam
graus relativos de autonomia funcional para a realização de atividades da vida diária.
As demais perguntas objetivam constatar a existência de assistência real ou potencial
para estas atividades e identificar a pessoa que mais ajuda o idoso. Uma outra pergunta
também contendo 15 itens, busca avaliar a participação social e as atividades do idoso
em casa e na comunidade.
• A seção V sobre recursos sociais com seis perguntas objetiva buscar informações que
servirão para avaliar aspectos sociais da vida e dimensões da satisfação com a vida de
idoso, incluindo participação social, grau de isolamento social e padrões gerais de
interação familiar e atividades socioculturais;
• A seção VIII refere-se às necessidades e problemas que afetam os idosos e com duas
perguntas que buscam uma indicação mais específica do tipo de necessidades
vivenciadas pelos idosos em suas vidas diárias, como são atendidas estas necessidades,
e os problemas que eles consideram mais importantes. Fornece informações sobre a
relação entre as atitudes dos idosos e uma avaliação objetiva das condições em que
vive.
facilitar para que o mesmo não necessitasse se deslocar mais de uma vez na semana à
UFPE. A entrevista seria realizada ou no início ou no final da aula. Começamos a observar
alguns problemas com essa estratégia nos cursos que terminavam às 17h, devido ao horário
dos transportes, pois tornava-se inconveniente este horário para que retornassem às suas
residências. As entrevistas passaram então a ser agendadas para a sede administrativa do
Programa e a resposta foi positiva.
*
Em Pernambuco esta data faz parte do calendário religioso e cultural, havendo portanto, feriado local.
53
4. – RESULTADOS
14,00%
86,00%
Masc. Fem.
36,31% 35,75%
40,00%
35,00%
30,00%
20,95%
25,00%
20,00%
15,00%
5,59% 1,40%
10,00%
5,00%
0,00%
60-64 65-69 70-74 75-79 80 e +
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
60-69 70-79 80 e +
Homens Mulheres
Jaboatão 3,63%
O linda 12,30%
Recife 82,12%
2,80%
3,07%
11,73%
3,91%
5,58%
6,14%
5,87%
BV CRD EM / IPTG Jd SP CDU / IPSEP RD Jd AT / MD
33,52%
35,00% 29,05%
30,00%
19,55%
25,00%
13,13%
20,00%
15,00% 3,91%
10,00%
5,00%
0,00%
2o.Grau Superior Primário Ginasial Primário
Comp. Incomp.
Estabelecendo uma relação entre o sexo e o nível de escolaridade dos idosos aqui
estudados, notamos que entre as mulheres (2) 0,64% referem não saber ler nem escrever,
enquanto que entre os homens não é referido analfabetismo. Entre os homens (5) 10,00%
possuem o primário completo, (27) 54,00% o segundo grau e (15) 30,00% o nível superior,
entre as mulheres esses valores são (64) 20,77%, (144) 46,75% e (88) 28,57%,
respectivamente (Gráfico 8).
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
.
.
lf.
u
.
m
up
om
ra
na
co
S
G
r .C
A
In
.
2o
r.
P
P
Mulheres Homens
Divorciado 10,30%
Viúvo 39,40%
14,80%
Ñ Casou
100,00%
80,00%
60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
casado nunca vúivo divorciado
casou
Homens Mulheres
Perguntados sobre o fato de terem ou não tido filhos, 83,50% afirmam que sim.
Notamos muita semelhança quanto ao número de filhos, bem como em relação à
distribuição por sexo. A média verificada é de dois filhos e/ou filhas por idoso. Temos,
portanto, em relação ao número total de filhos, uma média de quatro filhos por idoso.
(Gráfico 11).
60
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Um 2a3 4a5 6 e mais
6,42%
15,92%
24,02%
52,80%
10,90%
89,10%
Satisfeito Insatisfeito
Entre os motivos citados pelos (39) 10,90% de idosos que se disseram insatisfeitos
com suas vidas, os mais referidos foram: solidão, falta de autonomia, desvalorização do
povo brasileiro por parte dos órgãos públicos e uma insatisfação geral sem apontar um
motivo específico.
100,00%
80,00%
60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
satisafeito insatisfeito
homem mulher
69,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00% 23,18%
30,00%
20,00% 4,19% 3,35%
10,00%
0,00%
Plan/Saúde Público Particular Outros
10,33%
88,55%
Satisfeito Insatisfeito
5,90% 5,90%
17,30%
42,50%
26,80%
Sobre o uso de remédios, 80,70% dos idosos referem tomar medicação. Destes,
77,40% dizem que esta é prescrita por um médico e 47,50% não declaram dificuldade em
obtê-la. Para os que têm alguma dificuldade, o fator econômico é a principal.(Gráfico 18)
19,30%
80,70%
Quando perguntamos aos idosos se, caso viessem a ficar doentes ou incapacitados,
que pessoa poderia dispensar-lhes “cuidados”, a maioria, 38,30%, acredita ser a filha;
16,50% o cônjuge; 14,00% acreditam que poderia ser uma outra pessoa da família que não
cônjuge e filhos; 13,40%, acreditam que podem contar com os filhos e 10,60%, acreditam
poder contar com alguém fora da família, por exemplo: um profissional de enfermagem
(enfermeiros ou auxiliares) ou ainda um leigo. Essas pessoas seriam contratadas.
Observamos ainda que 4,20% dos idosos referem não poder contar com ninguém e 3,10%
66
não respondem, ou seja, 7,30% dos idosos deste estudo não sabem com quem contar em
caso de uma necessidade desse tipo. (Gráfico 19)
4,20% 3,00%
10,60%
38,30%
13,40%
14,00%
16,50%
e escovar seus cabelos, deitar e levantar da cama sozinho, 100,00% dos idosos, dizem-se
capaz para realizá-las sem ajuda. (Tabela 4)
12,00% dos homens apresentam dificuldade para a realização desta atividade e apenas
5,84% entre as mulheres.
100,00% 97,50%
78,80% 87,20%
80,00%
60,00%
40,00%
5,30% 1,10% 4,70%
20,00%
0,00%
Com quem Amigos Vizinhos
residem
Satisfeito Insatisfeito
Finalizando essa seção perguntamos aos idosos sobre as visitas que haviam
recebido na última semana. A maioria dos idosos costuma receber visita de amigos e
familiares, principalmente dos filhos. (Gráfico 21)
100,00%
69,30%
80,00% 63,40% 56,70%
60,00%
40,00%
20,00% 10,10%
0,00%
Viz/Amigos Filhos Outro Fam. Outros
Sim Não
71
Nesta seção serão mostrados os resultados referentes aos aspectos econômicos tais
como: tipo de trabalho desenvolvido, tempo de trabalho, idade que começou a trabalhar e
há quanto tempo parou, fonte de renda, valor da renda do idoso e da família e algumas
informações sobre o domicílio.
Quando perguntados sobre o tipo de trabalho que realizaram por mais tempo em
suas vidas, é possível observar nos resultados expressos no Gráfico 22, que o trabalho de
dona de casa foi o mais referido, com 34,40%; professor veio em seguida com 14,20%;
funcionário público aparece com 9,80%; costureira representa 5,30% e função
administrativa no setor privado representa 5,02%.
1,67% 2,23%
6,14% 8,65%
18,99% 26,81%
30 e mais 5,02%
16,48%
20 a 29a.
39,94%
10 a 19a.
Quanto à idade em que pararam de trabalhar, verificamos que a maioria dos idosos,
15,36%, parou entre os 55 e 59 anos; 13,41% é o percentual referente tanto àqueles que
pararam entre os 50 e 54 anos quanto dos que ainda trabalham; 9,22% pararam entre os 60
e 64 anos e apenas 2,51% pararam de trabalhar após os 70 anos de idade. (Gráfico 25)
73
16,00%
14,00%
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
Maisde 70a.
Ainda Trab.
55 a 59a.
50 a 54a.
60 a 64a.
65 a 69a.
45 a 49a.
Antes-45a.
Os resultados em relação à renda demonstram que apenas (17) 4,74% dos
entrevistados referem não ter renda própria e todas são mulheres. Entre aqueles que
possuem renda, 66,80% recebem aposentadoria e 38,30%, pensão do cônjuge.
Questionados se essa renda é suficiente para suprir suas despesas, as respostas positivas e
negativas se equivalem, 43,90% dizem que sim e 42,50% que não.
18,21%, renda familiar acima de 20 salários mínimos e apenas 6,19% declaram renda
familiar inferior a um salário mínimo. (Tabela 9)
12,30% 2,50%
8,10%
2,00%
75,10%
40,80%
50,00% 32,40%
26,80%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Melhor Pior A mesma
Outros 17,00%
Filhos/netos 12,00%
Solidão 7,80%
Famil/conflito 3,10%
Moradia 1,40%
Violência 4,70%
Saúde 5,00%
Econ. 14,80%
S/ prob. 33,50%
5. DISCUSSÃO
*
Essas experiências admitem pessoas com menos de 60 anos.
79
BERQUÓ (1992a) também verifica que a proporção maior de mulheres idosas em relação
aos homens idosos é comum tanto no primeiro quanto no terceiro mundo. Para a autora, os
dados apontam para uma associação direta entre o envelhecimento populacional e a
mulher, não só pelos números, mas também pelos cuidados dispensados aos idosos ser uma
função feminina: “tem cabido tradicionalmente e vai continuar cabendo à mulher o
cuidado com a família” (p. 28). A autora chama atenção para as transformações ocorridas
nos arranjos familiares nos últimos tempos e alerta que para que o idoso seja mantido junto
à sua família é preciso, primeiro, que esta exista.
Portanto, qualquer ação destinada à população idosa, seja ela ampla ou não, deverá
considerar o universo feminino na terceira idade e suas peculiaridades, pois como afirma
BERQUÓ (1996), “não cabe dúvida de que a feminização do envelhecimento precisa ser
considerada na atenção que os idosos venham a merecer” (p. 33). Vale ressaltar que,
80
Dressel (1988) apud VERAS (1994, p. 49), afirma que “as desigualdades sociais não
podem ser meramente atribuídas ao sexo, mas também à classe social e à raça, e que esses
dois fatores são estratificadores primários das vidas das pessoas, tanto quanto o sexo. As
mulheres idosas apenas refletem a estratificação e a discriminação da sociedade contra os
idosos”.
que 48% dos participantes tinham entre 60-69 anos, 25% tinham 70 anos e mais,
percebemos que a maioria é de “jovens idosos”; VERAS & KENNETH (1995),
encontraram em pesquisa realizada na UnATI/UERJ que mais de 80% dos participantes
têm menos de 65 anos e quase todos menos de 70 anos;. GOLDMAN (1997) refere em
seus estudos que na experiência de universidade privada, 74,35% têm menos de 70 anos e
na pública esse número de “jovens idosos” cresce para 91,51%, tendência esta também
observada na UNITI (CARNEIRO, 1998), ou seja, os dados aqui apresentados mostraram-
se semelhantes aos da UnATI/UFPE.
encontramos que entre os homens 4% estão nesta faixa, enquanto que entre as mulheres
apenas 0,98% têm 80 anos e mais.
Para PEIXOTO (1997) um dos motivos pelo qual os homens entram em programas
desse tipo mais tarde do que as mulheres, deve-se, provavelmente, à diferença de idade
para aposentadoria, os homens aposentam-se mais tarde.
BERQUÓ (1996), refere que desde a década de 50 até os dias de hoje a população
idosa*, em especial as mulheres, concentra-se em áreas urbanas. Atualmente, segundo a
autora, observa-se que as diferenças entre os idosos em meio urbano e a população total
diminuiu. Refere ainda que, deve-se considerar como motivos para esse fato: a migração
campo-cidade, a alta taxa de mortalidade no meio rural e a mortalidade diferencial por
sexo, motivos que são consonantes com o crescimento da urbanização, a maior
sobrevivência nas cidades e consequentemente com o maior número de idosas nas cidades.
A autora alerta que “na virada do século 82% da população idosa estará vivendo nas
cidades, estas precisam aparelhar-se para poder oferecer recursos de várias ordens
demandados pelos idosos” (p. 33).
*
Aqui considerada pela autora a partir de 65 anos e valerá p/ esta discussão, sempre que aparecer BERQUÓ (1996).
83
bairro de onde mais procedem idosos (11,73%). O Programa hoje atinge 69 bairros do
Recife e Região Metropolitana, reforçando o comentário já feito de que o Programa está
com uma abrangência territorial considerável. O bairro de Santo Antônio apresenta a maior
proporção de idosos, e não está representado no Programa.
BERQUÓ (1992b), referindo-se a dados relativos à década de 80, afirma que 53%
das pessoas entre 60-69 anos são analfabetas e entre aquelas com 70 anos e mais esse
índice é de 44%. A maior parte dos idosos possui pouca educação formal (PRATA &
SAAD, 1992;VERAS, 1994 e BERQUÓ, 1996). No Brasil, segundo VERAS (1994)*,
“50,3% dos homens com 70 anos e mais referiam saber ler e escrever, porém entre estes,
50,4% referiam terem terminado apenas o curso primário” (p. 49). O autor afirma ainda
que, hoje, a faixa onde encontram-se pessoas com maior proporção de alfabetização está
compreendida entre os 29 a 39 anos e onde encontra-se a mais baixa proporção é na faixa
de pessoas acima dos 60 anos.
Observamos que os dados deste censo, relacionando nível de instrução e sexo, são
semelhantes aos encontrados na UnATI/UERJ, referidos por PEIXOTO (1997), onde entre
os homens a maioria possui segundo e terceiro graus e nenhum é analfabeto; para as
mulheres os achados foram, que entre aquelas com 70 anos e mais, o nível de instrução era
proporcionalmente mais baixo. Para as mais jovens, ou seja, até os 69 anos, um terço não
*
Dados relativos à década de 1980.
85
completou o primeiro grau. Segundo a autora “essas mulheres foram socializadas para o
casamento e para cuidarem de maridos e filhos” (p. 61).
Foi possível observarmos ainda que entre os idosos com cônjuges de idade inferior
a 60 anos, (83,30%) são homens e dos (16,67%) de mulheres essa diferença de idade é de
um ou dois anos, já em relação às companheiras femininas as diferenças são maiores,
chegando até a 20 anos. Nesse sentido BERQUÓ (1996), refere que em apenas 9% dos
casais as mulheres eram mais velhas do que seus maridos. Aqui, mais uma questão se
coloca, sendo o cuidado uma função exercida basicamente pelas mulheres, esses homens
mais velhos e casados com mulheres mais jovens, têm em potencial com quem contar caso
necessitem de cuidados, já as mulheres não podem contar com essa possibilidade, essa
reflexão encontra respaldo em BERQUÓ (1996), a autora refere que são muito maiores “as
chances das mulheres viverem as perdas da capacidade física e mental sem apoio do
marido no caso das descasadas e viúvas e sem filhos no caso das solteiras e das sem filhos
86
sobreviventes” (p. 30). VERAS (1994) refere ainda que as chances da viuvez aumentam
para as mulheres à medida que a idade avança e também diminuem as chances de um
segundo casamento, principalmente com homens mais jovens e mesmo não sendo comum
casar-se após os 60 anos, os homens tem mais chance de fazê-lo do que as mulheres, tanto
os viúvos quanto os solteiros. Ainda segundo o autor, outros estudos revelam que homens e
mulheres casados apresentam taxas de mortalidade mais baixas do que homens e mulheres
divorciados, viúvos e solteiros, e portanto sugerem, que “a companhia é um fator positivo
para o prolongamento da vida na idade avançada” (p. 45).
Quanto à relação entre estado civil e gênero é possível percebermos que os dados
por nós encontrados para os idosos da UnATI/UFPE são consonantes aos encontrados por
PEIXOTO (1997) para a UnATI/UERJ.
Várias são as justificativas para esse cenário, sendo possível observar um consenso
entre vários autores e referências. Os autores referem que a maior longevidade das
mulheres, associada a um conjunto de fatos históricos de caráter sócio-culturais que
determinam que as mulheres casem-se com homens mais velhos (em média 3 anos),
acabam favorecendo um maior número de mulheres viúvas, (chegando a 3,6 para 1), além
do que as mulheres descasadas e viúvas recasam-se menos que os homens nas mesmas
situações, o resultado são períodos de solidão mais longos para as mulheres viúvas do que
para os homens viúvos. (VERAS, 1996; BERQUÓ, 1996 e EL ENVEJECIMIENTO...,
1999)
PEIXOTO (1997) refere que a proporção de idosos que mora só aumenta à medida
que avança a idade segundo seus achados para a UnATI/UERJ onde, entre as pessoas de
até 69 anos, 33% moram sós e esse número cresce para 45% para àqueles com 70 anos e
mais.
PEIXOTO (1997) traz uma reflexão importante a partir dos seus estudos na
UnATI/UERJ. Refere que as mulheres que não estão casadas, tem opção de arranjos
domiciliares que variam desde morar com filho ou filha solteiros, com filho casado ou com
outras pessoas não familiares. Já os homens que não estão casados, moram sós ou com
filho solteiro, portanto, têm menos possibilidades de outros arranjos e conclui que “após os
70 anos se não vivem mais com o cônjuge, o destino dos homens é de viver sós” (p. 59).
88
Para a autora esse fato parece justificar-se devido ao forte vínculo afetivo entre mães e
filhos e por isso estes têm mais disponibilidade de cuidar das mães do que dos pais idosos.
Acreditamos que temos também que considerar que, além da questão do vínculo
afetivo ser mais forte com as mães do que com os pais, talvez, no caso dos homens idosos,
sejam mais limitadas as possibilidades de arranjo com os filhos casados, pelo fato de ser
mais difícil encontrar “um lugar” para o homem idoso nessa dinâmica familiar, enquanto
que para a mulher, as funções domésticas são mais facilmente absorvidas e “o lugar” mais
facilmente encontrado. O homem idoso era “chefe” de sua família e de sua casa e,
portanto, dava o tom da dinâmica, é mais difícil para ele também adaptar-se a uma família
à qual não chefia.
Em relação aos dados demográficos para a população geral BERQUÓ (1992 a)*,
refere que 50% das mulheres moram sós e para os homens a condição de morar só é
transitória. A autora (1996) acrescenta ainda que a proporção de mulheres, a partir dos 65
anos de idade, vivendo sozinha aumenta com a idade o que não ocorre com os homens.
RAMOS (1992) refere que os arranjos multigeracionais são mais comuns entre as mulheres
e os viúvos em geral, e entre os viúvos a maioria é mulher.
*
Dados censitários para 1980.
*
A pesquisa foi realizada antes da reforma que hoje regulamenta os planos e/ou seguros de saúde privados.
89
A principal queixa dos idosos em relação aos serviços médicos, tanto público
quanto privados, foi relacionada ao tempo, seja de espera no consultório ou para a
marcação de consultas/exames. A burocracia, a falta de confiança no sistema de saúde e
nos procedimentos médicos, o medo da medicação falsificada e a dificuldade e receio em
realizar alguns exames também foram referidos, nesse último caso os exames que mais
constrangem são os ginecológicos.
Nesse sentido, MARUCI & GOMES (1996) referem dados para a população norte-
americana, onde o grupo etário de 65 anos e mais (11% da população total) consomem
25% dos medicamentos prescritos no país. Entre os idosos norte-americanos, 70%
consomem medicamentos e, entre aqueles não institucionalizados, o consumo é de em
média 4,5 medicamentos. DIAZ (1996) refere que dados semelhantes se observam na
Inglaterra, onde 17% da população é composta por idosos e consomem pelo menos 30%
dos medicamentos. MARUCI & GOMES (1996) chamam atenção para a automedicação,
pois esse comportamento aumenta ainda mais o risco de interações inadequadas além de,
92
continuam as autoras, poder provocar efeitos adversos sobre o estado nutricional dos
idosos. MOSEGUI (1998) encontrou em um estudo com os participantes* da UnATI/UERJ
que 83,8% das idosas referem consumir medicação prescrita por médico, os demais por
vizinhos, amigos, veículos de comunicação, balconistas de farmácias e drogarias. RAMOS
(1995) refere que em um inquérito domiciliar com idosos residentes no município de São
Paulo, 76% dos idosos tomam pelo menos uma medicação regularmente, as mulheres
muito idosas (80 anos ou mais) são quem mais consomem medicamentos, 92% referem
usar drogas prescritas pelo médico e apenas 6% se automedicam.
DIAZ (1996) alerta, ainda, para dois outros problemas em relação ao uso de
medicação em pessoas idosas, um refere-se ao uso inadequado, o outro à não-adesão à
terapêutica medicamentosa. A autora refere os estudos de BODY e col. (1974), onde foi
demonstrado que em pacientes ambulatoriais, a não compreensão do esquema
medicamentoso correspondeu ao uso inadequado das prescrições, sendo que os doentes
com 65 anos ou mais de idade apresentaram o mais baixo nível de compreensão. Este
acaba sendo um problema maior do que mesmo a não-adesão, ocasionando falha na
obediência ao esquema terapêutico. A autora refere ainda que existem outros fatores além
da falta de compreensão que influem na não-adesão ao uso dos medicamentos, como:
fatores técnicos, fatores biológicos, fatores predominantemente psicológicos e sociais e
ainda fatores mistos, alertando que os profissionais de saúde devem estar atentos a essas
questões.
*
Nesse estudo foram investigadas apenas as mulheres.
93
tipo de medicamento, vale relembrar que neste estudo só as mulheres foram estudadas.
Embora em nosso estudo as informações sejam referentes ao uso de medicamentos por
homens e mulheres, não encontramos diferenças importantes, entre os 50 homens (40)
80,00% fazem uso de medicação e entre as 308 mulheres (249) 88,85%.
A figura da filha aparece, para os idosos do nosso censo, como sendo a pessoa
eleita para dispensar-lhes cuidados caso venham a ficar doentes ou incapacitados; o
cônjuge, o filho e outra pessoa da família são citados, porém em menor escala. Quando se
referem a alguém fora da família, trata-se sempre de um profissional, que pode ser de
enfermagem (enfermeiros ou auxiliares) ou ainda um leigo. Esses profissionais são,
obviamente, contratados, sendo portanto externos ao arranjo familiar. MEDEIROS &
KARSCH (1992), encontraram em estudo realizado em um bairro no município de São
Paulo resultados semelhantes aos desse estudo com relação à importância da filha para os
idosos e afirmam: “A filha é a pessoa mais importante para qualquer velho, nesta cidade
ou neste país. É quem ajuda a resolver os problemas de saúde, de doença, de ajuda física”
(p. 36).
concebe, tarefa “natural” da mulher, mas sim uma construção histórico-social, que se dá,
essencialmente, na família. Esta reflexão, continua a autora, “derruba as concepções que
associam o cuidar a uma condição biológica e, portanto, natural” (p. 149).
FELGAR (1998) refere dados relativos a um estudo realizado em São Paulo, com
cuidadores de adultos* com seqüelas de acidente vascular cerebral – AVC, onde encontrou
que mais de 90% dos cuidadores são do sexo feminino.
A maioria dos idosos estudados referiu terem tido filhos. Há uma equivalência de
proporção quanto ao gênero, estes são em média quatro filhos por idoso, indicando um
nível razoável de possível rede de ajuda em caso de doença e/ou dependência. Segundo
LEME & SILVA (1996), a população idosa atual vem de um tempo onde a família, no
caso a família ampliada, com convivência multigeracional (avós, filhos, tios, primos ...)
tinha um papel importante na vida das pessoas e assegurava o cuidado dos seus membros.
Essa referência, creio, se concretiza quando os idosos esperam ser cuidados por membros
da família. Com o declínio da família ampliada e estruturação da família nuclear várias
vezes referidas neste estudo, fica claro que o cuidado em família torna-se cada vez mais
difícil.
*
Adultos a partir dos 50 anos.
95
O tema dos “cuidadores de idosos” tem gerado, por parte dos especialistas e dos
poderes públicos no Brasil, grandes polêmicas. Vários fóruns* nacionais e regionais têm
acontecido no sentido de se chegar a um denominador comum quanto à questão, de modo a
permitir a proposição de políticas públicas que venham a normatizar as ações de cuidados a
idosos no país.
*
I Curso de Aperfeiçoamento. para Instrutores no Cuidado com o Idoso - GO/1998 (Ministério da Previdência e
Assistência Social); I Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Gerontologia - RS/1998 (ANG); Oficicina de
Trabalho para Discussão da Política Nacional de Saúde do Idoso - DF/1999 (Ministério da Saúde).
97
Segundo MENDES (1998) não há clareza nos critérios que se utilizam para definir
os cuidadores, levando a diversas definições, algumas baseadas no vínculo parental, outras
no tipo de cuidado prestado. As dúvidas são de diversas ordens, discutiremos algumas a
seguir.
Encontramos para o total dos idosos estudados (358), que 7,30% ou não sabem com
quem contar em caso de uma necessidade desse tipo ou acreditam não poder contar com
ninguém e vale ressaltar que todos que deram esta resposta são mulheres, isso significa que
entre as 308 idosas entrevistadas 8,44% não sabem com quem contar em caso de doença
e/ou incapacidade, corroborando assim, a discussão já trazida anteriormente, quanto à
chance das mulheres envelhecerem sós e não terem com quem contar para cuidá-las;
diferentemente dos homens que estão em sua maior parte casados e são cuidados, na
maioria das vezes, pela companheira. Aqui temos mais uma questão polêmica, a do papel
do estado, que deve oferecer meios para manter uma rede tal que permita a essa pessoa
permanecer em sociedade ou a alternativa será institucionalização. No caso do Brasil o
caminho mais comum é a institucionalização. Na verdade, não seria o maior problema se
contássemos com um sistema de institucionalização geriátrica, hierarquicamente
organizado, equipado e humanizado, que atendesse ao idoso em suas diversas demandas,
pois em algumas situações, a institucionalização é a intervenção mais adequada, porém ela
se dá muitas das vezes por falta de opção, ou seja, por ainda não termos a implementação
da Política Nacional do Idoso e no caso das instituições, por falta de uma política pública
de orientação, regulação e fiscalização das instituições geriátricas no país.
99
Os resultados deixam bastante claro que os idosos desse estudo são autônomos e
independentes. Mais de (90,00%) deles referem-se com capacidade para desempenhar as
atividades que lhes foram perguntadas, sendo a única exceção, cortar as unhas dos pés
onde (14,20%) declaram-se incapazes para fazê-lo sozinho, dentre estes encontramos que a
maioria é mulher e tem entre 60 e 69 anos de idade; já os poucos homens que referem esta
dificuldade, só a referem em idade mais avançada, têm mais de 70 anos. São resultados
mais satisfatórios do que os encontrados na população geral como já referimos algumas
vezes neste estudo, ou seja, a maioria da população idosa apresenta-se com boa capacidade
funcional e vivendo na comunidade, porém, neste grupo, o nível de independência máximo
está presente, praticamente, na totalidade do grupo.
Com relação à dificuldade para cortar as unhas dos pés é importante esclarecermos
que trata-se de uma atividade com alto nível de complexidade para sua realização. Ao
analisá-la é possível perceber que para sua execução há exigência de habilidade e destreza,
mobilidade corporal, força muscular, coordenação motora, coordenação viso-manual,
manejo de objeto cortante e boa acuidade visual entre outras. Ao mesmo tempo em que o
cuidado com os pés e as unhas do idoso vai além de um princípio básico de higiene, posto
que se constitui em uma condição importante para a sua saúde, pois pés e unhas bem
cuidados auxiliam a boa marcha, evitam cortes em pés diabéticos e/ou com problemas
vasculares, evitam ressecamento e endurecimento maior das unhas que podem encravar e
machucar a pele e em paralelo, cuidar bem dos pés e unhas exige, segundo KNACKFUSS
(1996) a escolha de calçados adequados que não machuquem e que previnam e/ou
possibilitem a correção ou minimizem as deformidades existentes.
a televisão até viagens longas, passando por atividades artísticas, culturais e religiosas.
Verificamos uma menor participação nas atividades relacionadas à prática esportiva, onde
os idosos declararam maciçamente não praticarem esportes. Praticamente todos os idosos
mostraram-se satisfeitos com a ocupação do seu tempo livre. Os que referem alguma
insatisfação dizem-se pouco motivados e sentindo falta de mais atividades, inclusive de
lazer.
A maioria dos idosos desse estudo, encontra-se de algum modo desobrigado das
tarefas do trabalho remunerado ou doméstico, o que segundo FERRARI (1996) lhes
concede um grande período de tempo livre. A autora chama atenção que a ocupação desse
tempo livre, salvo nos casos onde o idoso ingressa numa nova carreira ou busca atividades
remuneradas como forma de complementar o déficit de renda conseqüente à aposentadoria,
tende cada vez mais a ser ocupado com atividades de lazer, ou seja, atividades que
permitem o descanso, divertimento, recreação e entretenimento e ainda, o desenvolvimento
pessoal. Entre as opções de locais que possibilitam essa vivência às pessoas idosas, esta
autora refere as Universidades Abertas à Terceira Idade, onde a possibilidade de
desenvolvimento pessoal coloca-se imperativa. Esta refere ainda que, infelizmente, o lazer
ainda é visto de maneira preconceituosa nas sociedades regidas pela produtividade, daí a
dificuldade de alguns idosos, que viveram todo tempo anterior para o trabalho ou para o
cuidado da casa, em encontrar maneiras de ocupação adequada do tempo livre, além do
desconhecimento do benefício dessa prática para o seu bem estar.
Por tudo que já foi referido, “compreende-se que medir a qualidade de vida na
população idosa supõe uma abordagem de tipo multidimensional, que vá além dos
aspectos de saúde, sejam estes relativos ao bem estar do tipo físico, funcional, emocional
ou mental, para estender-se às circunstâncias sociais, familiares, econômicas e do meio
que rodeiam estas pessoas” (INDICADORES..., 1995, p.115).
102
Os resultados permite-nos verificar que os idosos deste estudo mantêm uma boa
interação social, a maioria mostra-se satisfeito com o relacionamento mantido com as
pessoas com as quais reside, no relacionamento com vizinhos, e onde mais observamos
satisfação é na relação com os amigos.
Ao contrário do que pensa o senso comum, os idosos não são apenas os que
demandam, mas são também provedores e consumidores em potencial, os dados acima
referidos mostram-se consonantes com os apresentados para a população em geral. Os
idosos, independentemente do gênero, participam ativamente da receita doméstica e que
sua renda pode representar até 45% do orçamento familiar, à medida em que a idade
avança, essa participação diminui e perde mais valor a partir dos 75 anos de idade
(TERCEIRA...,1999).
As idosas dos países onde não há um bom sistema de previdência social, estão
fadadas a dependerem economicamente de terceiros, ou seja, dos mais jovens,
principalmente as mais velhas, que como já vimos estarão viúvas com pouca ou nenhuma
escolaridade e que em geral não possuem outros recursos e assim acabam constituindo-se
em um grupo especialmente vulnerável (EL ENVEJECIMIENTO..., 1999). Trata-se de
103
uma situação bastante diferente da experenciada pelos idosos da UnATI/UFPE. Mais uma
vez evidencia-se a particularidade do grupo estudado.
O fato da maioria dos idosos deste estudo ser do gênero feminino e pertencer a uma
coorte onde o papel fundamental da mulher era principalmente o cuidado da casa e da
família, justifica que a função de dona de casa tenha predominado quando perguntamos o
tipo de trabalho exercido a maior parte do tempo em sua vida, com (34,40%) das respostas
para o grupo e (39,40%) para as mulheres. A segunda função mais referida foi a de
professor(a), onde dos 49 idosos que referem esta profissão 47 são mulheres; é um
resultado também previsível, já que entre as mulheres que exerciam algum tipo de trabalho
fora de casa, o magistério era consonante com o papel feminino; outra função também
referida foi a de costureira que era “permitida” à mulher e podia ser exercida em casa.
BOUTIQUE & SANTOS (1996) referem que o período em que o idoso hoje
aposentado esteve inserido no mercado de trabalho, que girou entre a década de 50 e 80,
pode ser descrito como um período onde se consolidou o sistema capitalista no Brasil, sob
o governo Vargas. Só após 1955, é que, segundo as autoras, a mão de obra feminina é
incorporada com algum relevo no mercado de trabalho, porém em atividades que exigiam
pouca escolaridade e experiência. As autoras acrescentam que o número cada dia mais
crescente de trabalhadores oriundos de área rural, sem qualificação profissional, contribuiu
para uma nova composição da classe operária no período compreendido entre 1930 e 1945.
Tanto a renda pessoal* dos idosos desse censo quanto a renda familiar* é elevada
quando comparada à população idosa aposentada e geral, variando para a maioria entre 7 e
10 salários mínimos, seguida de um outro grupo que percebe entre 11 e 20 salários
*
Tomando como parâmetro o salário mínimo que à época da pesquisa era R$ 130,00.
105
estudos e afirma que, para os idosos por ela estudados, o sonho da casa própria foi
alcançado em bairros mais distantes, no subúrbio e também o grupo beneficiou-se do
sistema financeiro de habitação que há tempos atrás era mais justo. A autora reforça que o
fato de terem seu próprio imóvel os torna menos dependentes dos filhos, e assim, procuram
outras formas de status social, como freqüentar uma universidade.
Para os idosos deste censo, suas principais necessidades referem-se, por ordem de
grandeza a questões econômicas, de segurança, de companhia e contato pessoal, de saúde,
de lazer e de transporte, considerando que a metade possui automóvel, a questão de
transporte coloca-se para os demais associada a um sistema de transporte mal planejado, à
distância entre as paradas dos ônibus e à insegurança nos coletivos, além da opção do táxi
também ser insegura e onerosa. A julgarmos pela diferenciação econômica observada
nesse grupo, a questão econômica se coloca, no plano geral, no contexto da crise
econômica do país. A falta de segurança além de estar presente como algo generalizado
nas grandes cidades, para o idoso exacerba-se, pois sentem-se mais vulneráveis, limitando
inclusive, sua participação em atividades noturnas.
de saúde privado e que, portanto, fala de saúde como uma necessidade inerente ao seu bem
estar.
6. CONCLUSÕES
• Aos recursos sociais – são idosos que mantêm boas relações interpessoais com aqueles
com os quais residem, com os amigos e os vizinhos; são em algumas situações
(moradia e finanças), provedoras de suas famílias, destas, recebem companhia e
110
cuidado pessoal com os quais sentem-se muito bem; costumam receber visitas de
familiares, vizinhos e amigos;
• Aos recursos econômicos – a maioria dos idosos estudados possui renda própria
proveniente de aposentadoria e/ou pensão do cônjuge; tanto a renda pessoal quanto a
renda familiar deste grupo é diferenciada em relação à media de rendimentos da
população idosa em geral; residem em imóvel próprio e com boas condições de
moradia, contando com rede de esgotos e energia elétrica;
• Às necessidades e problemas que afetam o entrevistado – são idosos que não relatam
problemas importantes no seu cotidiano, quando referem alguma preocupação diz
respeito aos filhos e netos, pois preocupam-se com sua saúde e seu futuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 8.842, 4 de Janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso,
cria o Conselho Nacional do Idoso e da outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 1994.
_____. O velho e a velhice: dos primeiros tempos ao início da era cristã. Gerontologia,
São Paulo, v. 6, n. 3, p. 145-152, 1998.
MEDEIROS, S., KASCH, U. M. Sistema social de apoio ao idoso no bairro da Lapa. In:
PEREIRA, D. M. Idoso: encargo ou patrimônio?. São Paulo: Proposta Editorial.,
1992.
PEIXOTO, C. De volta às aulas ou de como ser estudante aos 60 anos. In: VERAS,
Renato P. (Org.). Terceira idade: desafios para o terceiro milênio. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará/UnATI-UERJ, 1997. p. 41-74.
_____. et al. Perfil dos idosos residentes na comunidade no Município de São Paulo,
segundo o tipo de domicílio: o papel dos domicílios multigeracionais. In: A
POPULAÇÃO idosa e o apoio familiar. São Paulo: Fundação SEAD, 1991. (Informe
demográfico, n º 24).
_____. Explosão demográfica da terceira idade no Brasil: uma questão de Saúde Pública.
Gerontologia, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 3-8, 1993.
_____. Os fármacos e o idoso. In: GORZONI, M. L., TONIOLO NETO, João (Coords.).
Terapêutica clínica no idoso. São Paulo: Sarvier/Ass. Paulista de Medicina, 1995.
SAYEG, M. A. A vida após os 80 anos de idade. Arq. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro,
p. 5-8, 1996.
119
_____. Considerações sobre desenhos de pesquisa para estudos com população idosa no
Brasil. Rio de Janeiro: UERJ-IMS, 1992. 12p. (Série Estudos em Saúde Coletiva; n .
19).
_____. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro:
Relume Dumará/UERJ, 1994.
_____. et al. Políticas de atenção à saúde na terceira idade. Rio de Janeiro: UERJ-IMS,
1994. 16p. (Série: Estudos em Saúde Coletiva, n. 92).
120
_____. Atenção preventiva ao idoso: uma abordagem de saúde coletiva. In.: PAPALÉO
NETTO, Matheus (Col.) et al. Gerontologia. São Paulo: Atheneu, 1996. p. 383-393.
ANEXO 1
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
Da Finalidade
Art. 1º A Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais
do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade.
Art. 2º Considera-se idoso, para todos os efeitos desta Lei, a pessoa maior de
sessenta anos de idade.
CAPÍTULO II
Dos Princípios e das Diretrizes
Seção I
Dos Princípios
Seção II
Das Diretrizes
Capítulo III
Da Organização e Gestão
Art. 9º (vetado)
Parágrafo único. (vetado)
125
CAPÍTULO IV
Das Ações Governamentais
II – na área de saúde:
a) garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do
Sistema Único de Saúde;
b) prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante programas e
medidas profiláticas;
c) adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e similares,
com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;
d) elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares;
e) desenvolver formas de cooperação entre as Secretarias de Saúde dos Estados, do
Distrito Federal, e dos Municípios e entre os Centros de Referência em Geriatria e
Gerontologia para treinamento de equipes interprofissionais;
f) incluir a Geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públicos
federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais;
g) realizar estudos para detectar o caráter epidemiológico de determinadas doenças
do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação; e
h) criar serviços alternativos de saúde para o idoso.
126
VI – na área da justiça:
a) promover e defender os direitos da pessoa idosa;
b) zelar pela aplicação das normas sobre o idoso, determinando ações para evitar
abusos e lesões a seus direitos.
§ 2.º Nos casos de comprovada incapacidade do idoso para gerir seus bens, ser-lhe-á
nomeado Curador especial em juízo.
§ 3.º Todo cidadão tem o dever de denunciar à autoridade competente qualquer forma de
negligência ou desrespeito ao idoso.
CAPÍTULO V
Do Conselho Nacional
CAPÍTULO VI
Das Disposições Gerais
Art. 19. Os recursos financeiros necessários à implantação das ações afeta às áreas
de competência dos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municípios serão
consignados em seus respectivos orçamentos.
Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de sessenta dias, a
partir da data de sua publicação.
Itamar Franco
Presidente
129
ANEXO 2
DECRETA:
Art. 7º Ao idoso aposentado, exceto por invalidez , que retornar ao trabalho nas
atividades abrangidas pelo Regime Geral de Previdência Social, quando acidentado no
trabalho, será encaminhado ao Programa de Reabilitação do INSS, não fazendo jus a outras
prestações de serviço, salvo às decorrentes de sua condição de aposentado.
Art. 11. Ao Ministério do Trabalho, por meio de seus órgãos, compete garantir
mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto à sua participação no
mercado de trabalho.
Art. 14. Os Ministérios que atuam nas áreas de habitação e urbanismo, de saúde, de
educação e desporto, de trabalho, de previdência e assistência social, de cultura e da
justiça deverão elaborar proposta orçamentária, no âmbito de suas competências,
visando ao financiamento de programas compatíveis com a Política Nacional do
Idoso.
Art. 15. Compete aos Ministérios envolvidos na Política Nacional do Idoso, dentro
das suas competências, promover a capacitação de recursos humanos volatdos ao
atendimento do idoso.
Art. 17. O idoso terá atendimento preferencial nos órgãos públicos e privados
prestadores de serviços à população.
Parágrafo único. O idoso que não tenha meios de prover a sua própria subsistência,
que não tenha família ou cuja família não tenha condições de prover a sua
manutenção., terá assegurada a assistência asilar pela União, pelos Estados, pelo
Distrito Federal e pelos Municípios, na forma da lei.
ANEXO 3
Seções I, III, IV, V, VI e VIII do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS
I. INFORMAÇÕES GERAIS
1. Sexo do Entrevistado:
Entrevistador: indique o sexo da pessoa entrevistada
1. Masculino
2. Feminino
2. Quantos anos o(a) Sr.(a) tem?
.......... anos
98. N.S./N.R.
3. Em que país o(a) Sr.(a) nasceu?
Entrevistador: se 1(Brasil) vá para a Q. 3a., 2 (outros países) vá para Q. 4 e marque N.A. na Q. 3a.
1. Brasil
2. Outros países (especificar) ..............................................................
8. N.S./N.R.
138
........... pessoas
00. Entrevistado(a) mora só (Vá para Q. 10 e marque N.A. na Q. 9a)
98. N.S./N.R.
9a.Quem são essas pessoas?
Entrevistador: para cada categoria de pessoas indicada pelo entrevistado marque a resposta SIM
SIM NÃO NA NS/NR
a. Esposo(a)/companheiro(a) 1 2 7 8
b. Pais 1 2 7 8
c. Filhos 1 2 7 8
d. Filhas 1 2 7 8
e. Irmãos/irmãs 1 2 7 8
f. Netos(as) 1 2 7 8
g. Outros parentes 1 2 7 8
h. Outras pessoas (não parentes) 1 2 7 8
140
26. Quando o Sr.(a) está doente ou precisa de atendimento médico, onde ou a quem o Sr. (a)
normalmente procura ?
Entrevistador: marque apenas uma alternativa.
29. Em geral, quais os problemas que mais lhe desagradam quando o (a) Sr. (a) utiliza os
serviços médicos ?
Entrevistador: não leia para o(a) entrevistado(a) as alternativas listadas. Classifique as respostas nas
categorias listadas, de acordo com as instruções do Manual para esta pergunta. Na dúvida, registre
a resposta do entrevistado no item 08. Outros problemas.
00 . O (a) entrevistado (a) não relata problemas.
01 . O custo dos serviços médicos
02 . O custo dos medicamentos que são prescritos
03 . Os exames clínicos que são prescritos
04 . A demora para a marcação da consulta/exame
05 . O tempo de espera para ser atendido (a) no consultório
06 . O tratamento oferecido pelos médicos
07 . O tratamento oferecido pelo pessoal não médico
08 . Outros problemas ( especificar ) ..............................................
30 . Quando o (a) Sr. (a) necessita de tratamento dentário, onde ou a quem o (a) Sr. (a)
normalmente procura ?
Entrevistador: classifique a resposta do (a) entrevistado e marque apenas uma alternativa.
32b. Em geral qual é o problema ou a dificuldade mais importante que o (a) Sr. (a) tem para
obter os remédios que toma regularmente ?
0 . O (a) entrevistado (a) não tem problema para obter o remédio
1 . Problema financeiro
2 . Dificuldade em encontrar o remédio na farmácia
3 . Dificuldade em obter a receita de remédios controlados
4 . Outro problema ou dificuldade ( especifique ) ................................
7. N.A.
8 . N.S./N.R.
33. No caso do(a) Sr.(a) ficar doente ou incapacitado (a), q. pessoa poderia cuidar do (a)
Sr. (a) ?
0 . Nenhuma
1 . Esposo (a) / Companheiro (a)
2 . Filho
3 . Filha
4 . Outra pessoa da família
5 . Outra pessoa de fora da família ( indique qual )............................
8 . N.S./N.R.
145
37 . O (a) Sr. (a) está satisfeito (a) com as atividades que desempenha no seu tempo livre ?
1. Sim ( Vá para Q. 38 e marque N.A. na Q. 37a. )
2. Não
8. N.S./N.R.
37a. Qual é o principal motivo de sua insatisfação com as atividades que o (a ) Sr. (a)
desempenha no seu tempo livre ?
(Entrevistador : marque apenas uma alternativa)
1. Problema com o custo
2. Problema de saúde que o (a) impede de se engajar em uma atividade
3. Problema com falta de motivação em fazer coisas ( tédio, aborrecimento )
4. Problema de transporte que limita seu acesso aos lugares que deseja ir
5. Outras razões ( especificar ) .............................................................................
7. N.A.
8. N.S./N.R.
V. RECURSOS SOCIAIS
Nesta seção, eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas a respeito de suas relações de
amizade com as outras pessoas e a respeito de recursos que as pessoas idosas podem usar na
sua comunidade.
38. O(a) Sr.(a) está satisfeito com o relacionamento que tem coma as pessoas que moram
com o(a) Sr.(a)?
0. Entrevistado mora só
1. Sim
2. Não
8. N.S./N.R.
148
39. Que tipo de ajuda ou assistência sua família lhe oferece? ( familiares que vivem/ ou
que não vivem com o(a) entrevistado(a)).
Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas.
SIM NÃO NS/NR
a. Dinheiro 1 2 8
b. Moradia 1 2 8
c. Companhia/ cuidado pessoal 1 2 8
d. Outro tipo de cuidado/ assistência 1 2 8
(especificar).........................................................
40. Que tipo de ajuda ou assistência o Sr.(a) oferece para sua família?
Entrevistador: Leia para o entrevistado as alternativas listadas.
43. Na semana passada o(a) Sr.(a) recebeu visita de alguma destas pessoas?
SIM NÃO NS/NR
a. Vizinhos/ amigos 1 2 8
b. Filhos (as) 1 2 8
c. Outros familiares 1 2 8
d. Outros (especificar)............................................. 1 2 8
V. RECURSOS ECONÔMICOS
44.Que tipo de trabalho(ocupação) o(a) Sr.(a) teve durante a maior parte de sua vida?
................anos
97. N.A.
98. N.S.?N.R.
44c. Com que idade o (a) Sr.(a) parou de trabalhar?
00. Entrevistado(a) ainda trabalha.
97. N.A.
98. N.S./N.R
150
48. Por favor, agora eu gostaria de saber o total mensal dos rendimentos das pessoas que
vivem nesta residência. Não preciso saber o valor exato, basta dizer-me o valor
aproximado do rendimento mensal regularmente recebido pelas pessoas.
Entrevistador: se o entrevistado vive sozinho e tem rendimento, repita o valor informado na
Q.47. Se o entrevistado vive sozinho e não tem rendimento, marque N.A. nesta questão e na
Q.48a
..................pessoas
97. N.A.
98. N.R./N.S.
49. Por favor, informe-me se em sua casa/apartamento existem ou estão funcionado em
ordem os seguintes itens:
Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas.
SIM NÃO NS/NR
a. Água encanada 1 2 8
b. Eletricidade 1 2 8
c. Ligação com a rede de esgoto 1 2 8
d. Geladeira/congelador 1 2 8
e. Rádio 1 2 8
f. Televisão 1 2 8
g. Vídeo cassete 1 2 8
h. Computador 1 2 8
i. Telefone 1 2 8
j. Automóvel 1 2 8
152
50. O (a) Sr.(a) é proprietário(a), aluga ou usa de graça o imóvel onde reside?
Entrevistador: para cada uma das três categorias(propriedade, aluguel ou usa de graça/ verifique
em qual o entrevistado se enquadra, Especifique apenas uma alternativa.
1. Propriedade de pessoa entrevistada ou do casal
2. Propriedade do cônjuge do(a) entrevistado(a)
3. Alugado pelo entrevistado
4. Morando em residência cedida sem custo para o entrevistado
5. Outra categoria (especificar) .............................................................
8. N.S./N.R.
51. Em comparação a quando o (a) Sr.(a) tinha 50 anos de idade , a sua atual situação
econômica é:
Entrevistador: leia p/ o entrevistado as alternativas listadas. Marque apenas 1 opção.
1. Melhor
2. A mesma
3. Pior
8. N.S./N.R
52.Para suas necessidades básicas, o que o(a) Sr.(a) ganha:
Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas de 1 a 4. Marque apenas uma
opção.
1. Dá e sobra
2. Dá na conta certa
3. Sempre falta um pouco
4. Sempre falta muito
8. N.S./N.R.
153
77. Atualmente (da lista abaixo), quais são as suas principais necessidades
(carências)?
Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas
correspondentes.
SIM NÃO NS/NR
a. Carência econômica 1 2 8
b. Carência de moradia 1 2 8
c. Carência de transporte 1 2 8
d. Carência de lazer 1 2 8
e. Carência de segurança 1 2 8
f. Carência de Saúde 1 2 8
g. Carência de alimentação 1 2 8
h. Carência de companhia e contato pessoal 1 2 8
78. Para finalizar esta entrevista, eu gostaria que o(a) Sr.(a) me informasse qual o
problema mais importante do seu dia a dia?
Entrevistador: anote apenas uma alternativa.
00. Entrevistado(a) não relata problemas importantes
01. Problema econômico
02. Problema de saúde (deterioração da saúde física ou mental)
03. O medo da violência
04. Problema de moradia
05. Problemas de transporte
06. Problemas familiares (conflitos)
07. Problemas de isolamento (solidão)
08. Preocupação com os filhos/netos
09. Outros problemas (especificar) .........................................................
98. N.S./N.R.