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POLÍTICA EDUCACIONAL
II
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explica essa diferença entre a compreensão da relação entre Estado e sociedade
desenvolvida por Marx e a dos demais autores? Senão vejamos.
Acompanhemos a diferença entre os modos de se compreender o que é
característico do humano presente em um grande nome como René Descartes –
relembremos uma de suas sentenças mais célebres: Cogito ergo sum, “Penso, logo
existo”. Aqui a existência humana se enlaça à propriedade do pensamento, dito de outro
modo, o pensamento “explica” o humano.
Na lógica que preside as reflexões marxianas o raciocínio é diferente: a base é
dada pela ação humana. Para compreender melhor relembremos um trecho de uma de
suas obras mais conhecidas, A ideologia alemã: “Podemos distinguir os homens dos
animais pela consciência, pela religião, por tudo o que se quiser. Mas eles começam a
distinguir-se dos animais assim que começam a produzir seus meios de vida...” (MARX
& ENGELS, 1990, p.15). O que significa isso? Em uma palavra: que a explicação para
os fenômenos sociais passa a ser buscada no histórico processo de produção/reprodução
que, individual e coletivamente, homens e mulheres realizam em sociedade.
Pois bem, se tal premissa baliza o pensamento de Marx, então é razoável
imaginar que o Estado não será algo “fora” do quadro social, mas algo que se expressa
dentro de determinadas relações sociais e contexto histórico. Assim, quem ler o famoso
Manifesto Comunista de 1848 encontrará que
Vale comentar esse trecho: notem que existem diferentes interesses no quadro
de uma sociedade, “contradição do interesse particular e do interesse comunitário”, que
o Estado parece se desprender dos laços diretos com os indivíduos, ”assume uma forma
autônoma separado dos interesses reais dos indivíduos e do todo”, mas o Estado tem sua
base na própria realidade social, por isso está assentado “sobre uma base real”.
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o Estado não a partir dele mesmo, mas como algo derivado das relações sociais. Segue o
texto de Marx:
III
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exemplo) e mais a ver com uma produção socialmente realizada (a fabricação de
calçados tendo em vista o mercado). O trabalho humano entra em um complexo
processo de produção e circulação de mercadorias e no qual, é importante reter isso, o
próprio trabalho (ou melhor, a força de trabalho) converte-se em mercadoria.
O dinheiro é a mercadoria que permite expressar o valor das outras, o dinheiro
é um equivalente geral. Marx explica que a forma dinheiro “é um cristal gerado
necessariamente pelo processo de troca, e que serve, de fato, para equiparar os
diferentes produtos do trabalho e, portanto, para convertê-los em mercadorias” (idem,
2006, p.111). Mas, vejam bem, essas mercadorias não entram em movimento sozinhas:
é a sociedade capitalista que oferece as bases para o impulso maior desse processo, a
sociedade capitalista “permite” novas relações sociais.
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Estados Unidos e a indústria agrícola. O referido diálogo se dá entre um agricultor
chamado Sr. Muley que, junto com a esposa e os filhos, espera com a espingarda em
mãos o funcionário de um banco que chega à sede de sua pequena propriedade. Isto por
volta do ano de 1920. O funcionário do banco é que inicia o diálogo:
Muley - Deve ter um presidente, alguém que saiba o que é uma espingarda!
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Atenção, compreender que o Direito e a forma jurídica se expressam e se articulam a determinada forma
social é uma coisa, menosprezar o lugar e a importância do Direito e da forma jurídica é outra. Evitemos
simplificações.
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Capital, Fausto assinala momentos na relação entre Estado, sociedade e o modo de
produção capitalista. A proposição do autor desperta interesse, senão vejamos:
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Referências
BOBBIO, Norberto. Nem com Marx, nem contra Marx. São Paulo: UNESP, 2006.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Centauro, 1990.