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Lingüística

MÁRIO EDUARDO MARTELOTTA

Costuma-se definir lingüística como a ciência que estuda a linguagem. Essa definição,
além de extremamente curta, é imprecisa, o que torna necessário que se façam alguns
esclarecimentos prévios. O primeiro deles relaciona-se ao significado do termo
linguagem, que costuma variar de acordo com diferentes áreas de estudo, ou mesmo
com diferentes autores. É comum, por exemplo, aparecer em manuais didáticos a noção
segundo a qual linguagem se refere a qualquer processo de comunicação, desde os
gestos, passando pela sinalização de trânsito, até as línguas naturais, como o português,
o inglês ou o russo. Entretanto, os lingüistas (cientistas que estudam a lingüística)
costumam ser mais específicos, estabelecendo uma distinção entre língua e linguagem.
O termo língua é definido como um sistema de signos vocais utilizados por um grupo
social ou comunidade lingüística, enquanto que o termo linguagem é atribuído à
capacidade que apenas os seres humanos têm de se comunicar por meio de uma língua.

A linguagem humana, como capacidade de comunicação verbal, implica uma técnica


articulatória complexa, a serviço de um processo comunicativo que pressupõe a
existência de um grupo finito de elementos e de regras que regem sua combinação em
um conjunto infinito de possibilidades de expressão. Por trás disso, encontra-se: a)uma
base neurobiológica, composta de centros nervosos geneticamente especializados na
comunicação verbal; b) uma base cognitiva, que restringe as relações entre o homem e o
mundo biossocial, e, conseqüentemente, a simbolização, em termos lingüísticos, desse
mundo; c)uma base sociocultural, que atribui à linguagem humana os aspectos variáveis
que ela apresenta; d) uma base comunicativa, que fornece os dados reguladores da
interação entre os falantes.

Nesse ponto, pode-se assinalar uma primeira especificação àquela pequena definição
apresentada acima: lingüística é ciência que estuda a linguagem (a capacidade
exclusivamente humana de expressão por meios verbais), com o objetivo de depreender
os princípios fundamentais que regem essa capacidade. É claro que os lingüistas
também se interessam por estudar as diferentes línguas do mundo e descrever sua
estrutura, mas normalmente o fazem com o objetivo maior de detectar as características
da faculdade da linguagem: o que há de universal e inato, o que há de cultural e
adquirido etc.

Outro ponto da definição que deve ser esclarecido é o fato de que, provavelmente por
ser um fenômeno com implicação em muitas áreas da existência humana, várias outras
ciências se preocupam em estudar a linguagem. A psicologia e a neurologia, por
exemplo, estudam a linguagem, uma vez que o homem precisa possuir uma estrutura
cognitiva e cerebral com determinadas características que permitam o seu exercício. Por
outro lado, a linguagem é também um campo de interesse para a sociologia, por ser
condição para a vida em comunidade. Isso, além de demonstrar a fragilidade da
definição dada acima, dificulta bastante a tarefa de definir lingüística e delimitar seu
campo de atuação.

O problema se agrava, quando se leva em conta que ainda há outras ciências que, ao
contrário das mencionadas acima, interessadas pela linguagem mais como um meio para
compreender seus verdadeiros objetos de estudo, fazem do estudo desse fenômeno a sua
finalidade. Caracterizar estas outras ciências, mais do que uma necessidade para o
esclarecimento do assunto, constitui um útil recurso didático para delimitar, por via
comparativa, a natureza da lingüística, e assim apresentar as tendências de análise,
normalmente associadas a esse campo de estudo.

A semiologia, por exemplo, estuda a linguagem não-verbal (gestos, sinais de trânsito,


etc.), enquanto que a lingüística se ocupa basicamente da linguagem verbal (à exceção
da língua dos sinais, que, ao contrário de outros códigos não-verbais, apresentam
características estruturais semelhantes às línguas faladas). A filologia se preocupa em
descrever a evolução histórica de línguas específicas através basicamente da
reconstituição de textos (sobretudo escritos), produzidos em épocas anteriores mais ou
menos remotas, com o auxílio de dados históricos referentes a essas épocas; ao passo
que a lingüística, por via histórica ou não, busca explicar os aspectos universais que
caracterizam as línguas, cuja estrutura, para os lingüistas, é um reflexo do sistema
cognitivo dos humanos.

Cabe ainda distinguir a lingüística da gramática tradicional, que possui caráter


normativo, na medida em que se define como a disciplina que expressa as normas
indicativas do ideal da expressão correta. Não há, para a lingüística, nada que faça com
que uma forma de expressão seja mais correta do que outra. Qualquer critério de
correção é baseado em dados políticos, culturais, sociais, mas nunca em dados
lingüísticos. Ao contrário, o que os lingüistas constatam, observando o funcionamento
das línguas naturais, é a existência de variedades, normalmente ligadas a grupos
regionais, sociais e etários; a níveis de escolaridade; a marcas de estilo individual de
cada falante; ou mesmo aos diferentes graus de formalidade das situações de
comunicação, que pedem diferentes tipos de expressão lingüística. A função do
lingüista não é reprimir essas variedades, corrigindo a fala dos indivíduos, mas estudá-
las, tentando depreender suas causas e as regularidades que as caracterizam. Para os
lingüistas, as variedades são o reflexo natural da linguagem e, conseqüentemente, do
próprio ser humano.

Tudo o que foi visto até aqui leva à conclusão de que, em virtude da complexidade do
seu objeto de estudo, seria impossível, definir com poucas palavras a ciência lingüística,
ou mesmo enumerar, em termos absolutos, suas tendências de análise, que na prática,
como em qualquer ciência, variam de acordo com diferentes autores ou escolas.
Entretanto, pode-se delinear um conjunto de tendências gerais, normalmente atribuídas
a esse campo de conhecimento: a) embora se interesse pelo estudo das línguas naturais,
a lingüística tem como principal objetivo compreender a linguagem humana, entendida
como capacidade de comunicação verbal; b) apesar de também estudar a escrita, a
lingüística se interessa, sobretudo, pela fala, por ser esta última um reflexo mais natural
das leis que regem a linguagem humana; c) não é eminentemente histórica, embora se
interesse pelas regularidades que caracterizam a mudança das línguas ao longo do
tempo; d) como estuda um fenômeno que apresenta interfaces com outras áreas de
pesquisa, como, por exemplo, a psicologia e a sociologia, a lingüística não busca as
explicações para os fenômenos lingüísticos que analisa apenas em dados gramaticais ou
exclusivamente lingüísticos, mas, também, em dados referentes ao comportamento
humano, que são fornecidos por essas outras ciências, na hipótese de que a linguagem
reflete esses dados.
Mário Eduardo Martelotta é mestre e doutor em lingüística e professor de lingüística
da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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